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EM CÃES
RONALDO LUCAS
secagem. Os proprietários de animais fre- etário ou o clínico consigam evidenciar a
qüentemente utilizam-se de produtos ina- presença de pulgas ou carrapatos. O ve-
dequados para os banhos dos animais, terinário não deve se limitar somente à
Foto1: cadela, SRD, de 5 anos de idade,
podendo afetar fatores como hidratação pergunta direta se o proprietário obser-
apresentando rarefação pilosa e discro-
da pele, e alterar o pH, com conseqüên- vou ou não o parasita, a busca deve in- mia de pelame em quadro de DAPE.
cias perigosas, principalmente perda da vestigar todos os ambientes freqüentados
barreira de proteção da pele, importante pelo animal e verificar se os contactantes
no cão atópico. apresentam ou não o parasita. O veteri-
nário deve avaliar se está sendo realizado
3) Hábitos – são importates na determi- um controle para pulgas, além de avaliar
nação de várias enfermidades, como se este controle está sendo feito correta-
exemplos podem-se citar o acesso à rua, mente e com produtos adulticidas de con-
mesmo aquele animal sem contactantes tato, onde o parasita não precisa se ali-
em casa, pode ter contato com outros ao mentar “picar” para que seja eliminado(6,9).
sair à rua, podem também, ter acesso a
ambientes infestados por ectoparasitas, 2.3. Exame físico
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como praças e parques freqüentados por
Somente após toda a identificação e
outros animais. Nestes casos; a escabio-
anamnese, a despeito da insistência do pro-
se, cheyletiellose, pediculose, puliciose e
prietário, o clínico irá proceder ao exame Foto 2: cão, SRD, de 6 anos de idade, apre-
ixodidiose (e conseqüentemente a DAPE) sentando eritema periocular (blefarite) e
mais detalhado das lesões de pele e ca-
devem ser consideradas. perilabial (queilite), em quadro de hiper-
racterizá-las, para que se consiga unir
4) Alimentação – outro elemento impor- sensibilidade alimentar.
todas as informações e propor um ou
tante na anamnese, é a determinação da mais diagnósticos.
dieta do animal uma vez, que a nutrição A inspeção direta é a principal orien-
influencia muito na qualidade da pele e tação do dermatologista veterinário para
pelame, e existem doenças intimamente a elaboração do diagnóstico. As diferen-
ligadas à alimentação, como no caso da tes características e particularidades das
hipersensibilidade alimentar. lesões cutâneas são importantes e indis-
pensáveis para a caracterização de um
Contactantes – Verificar que espécies de quadro dermatológico, e uma pequena nu-
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contactantes o animal examinado pode ance de uma lesão para outra pode mu-
apresentar, pois estes podem ser vistos dar o rumo de um diagnóstico(5).
como sentinelas do processo desenvol- Quando um cão apresenta quadro pru- Foto 3: cão, poodle, de 4 anos de idade,
vido pelo paciente em questão. O animal riginoso, pode-se evidenciar diferentes apresentando eritema e hiperpigmenta-
pode apresentar um quadro que vem sen- graus de perdas de pêlos, desde rarefa- ção periocular (blefarite) em quadro de
do desenvolvido por outros animais de ção pilosa (foto1) até mesmo alopecia atopia.
uma mesma propriedade, esta informa- (foto 6) de grandes áreas corpóreas, de-
ção encaminha o diagnóstico para as do- correntes do auto-traumatismo. Além dis-
enças infecto-contagiosas, porém se o so, o clínico pode evidenciar diferentes
processo for crônico e afetar exclusiva- tipos morfológicos lesionais, como(5):
mente um animal, mesmo que este tenha Alterações de coloração: eritema (fo-
contato com outros, os quadros passí- tos 2 e 5), em quadros agudos e hiper-
veis de disseminação são praticamente pigmentação (fotos 7, 8 e 9) em quadros
eliminados da estratégia de diagnóstico, crônicos.
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2.4.1. Testes de detecção
quantitativa de IgE
Foto 5: Cão Labrador, de 4 anos de idade, Estes testes são indicados para con-
com eritema interdigital em quadro de
atopia.
firmação de diagnóstico de DAPE, hiper-
sensibilidade alimentar e atopia, são con-
troversos e algumas considerações devem
ser feitas:
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DAPP – os antígenos envolvidos nesta
dermatopatia, estão presentes como an-
tígenos completos e como haptenos, na
Foto 9: cadela, Poodle, de 8 anos de ida- saliva de pulgas. As dúvidas pairam na
de com hiperqueratose e hiperpigmenta-
natureza e obtenção dos antígenos pelo
ção em região perianal e perivulvar em
caso de atopia. laboratório, quantidade e proporção, uma
............................................................................. vez que já foram identificados mais de
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bilateral - foto 4), patas (com orientação I com envolvimento de IgE, mesmo as-
interdigital - foto 5), régião lombo-sacro- sim os testes são quantitativos, e alguns
Foto 8: cão Shar pei, de 2 anos de idade, coccígea (fotos 1, 6 e 7), ventre (inclu- autores já determinaram que nem todos
com hiperpigmentação em caso de ato- indo axilas e virilha - foto 8) e períneo os animais atópicos apresentam maiores
pia com malasseziose secundária. (foto 9). quantidades de IgE no soro. Sendo as-
sim, mesmo nos casos onde o clínico que os quadros alérgicos são muito se- rer aos exames laboratoriais na tentativa
suspeita de atopia, o diagnóstico por es- melhantes, senão idênticos quando da de elucidar qual dermatopatia alérgica está
tes métodos torna-se contestável(6,8,9). abordagem clínica. A questão mais incô- sendo atendida. No nosso meio pode-se
Resumindo a utilização dos testes, vale moda para o dermatologista veterinário disponibilizar de testes alérgicos soroló-
ressaltar uma frase de Scott et al (2001): de qualquer nacionalidade é: “como fe- gicos de detecção de IgE no soro de pa-
“...deve ser enfatizado que os testes la- char o diagnóstico definitivo das derma- cientes. Estes testes são controversos e
boratoriais nunca devem substituir uma tites alérgicas”? a maioria dos autores concorda que têm
anamnese cautelosa, um meticuloso exa- Há um consenso entre diferentes au- valia apenas nos pacientes com atopia que
me físico e a completa eliminação dos tores de diferentes latitudes(5,6,7,8,9) que a o clínico quer tratar com imunoterapia
demais diagnósticos. Devido à pouca es- atopia é a mais freqüente entre os cani- (hipossensibilização). Todos os autores
pecificidade dos testes in vitro, eles não nos, sendo apontado como presente em consultados concordam em afirmar que
devem ser utilizados para o diagnóstico 10-15% da população canina, dependen- estes testes não são efetivos para o diag-
da atopia...”(9). do do autor consultado. Como a segunda nóstico definitivo de DAPP, HÁ ou ato-
O testes de detecção de IgE poderiam dermatopatia alérgica mais freqüente, pia. (veja as considerações no item 2.4.1)
ser utilizados para confecção e vacinas autores indicam a DAPE, estima-se que Agrupando as informações, constata-se
de imunoterapia, quando esta modalida- 50% dos animais com ectoparasitas po- que:
de terapêutica é escolhida pelo clínico, dem desenvolver a doença. A hipersensi- 1. as lesões dermatológicas são as mes-
ressalte-se que a efetividade desta moda- bilidade alimentar é a menos freqüente, mas.
lidade terapêutica é muito limitada (mais representando aproximadamente 10% dos 2. não há predisposição etária, racial ou
detalhes no próximo número). Finalmen- animais com dermatopatias alérgicas. sexual.
te a maioria dos autores acredita que o Estes números não levam em considera- 3. não há exame laboratorial que permita
teste intradérmico ou o teste de puntura ção o fato de muitas vezes estas derma- a diferenciação.
são superiores tanto na detecção dos aler- topatias apresentarem-se associadas umas
genos desencadeantes de atopia, como às outras, complicando em parte a análi- Portanto a dúvida continua: “como fe-
para orientação da imunoterapia, mas es- se de freqüência de ocorrência(1,5,6,7,8,9,10). char o diagnóstico definitivo das derma-
tes testes ainda não são rotineiros no Bra- Não há predisposição racial confirma- tites alérgicas”? Ainda o meio mais efeti-
sil(6). da, nem sexual ou etária. Sabe-se como vo e que é apontado por diferentes auto-
já foi citado que as três dermatopatias res de diferentes(1,5,6,7,8,9) países é a elimi-
2.4.2. Citologia alérgicas acometem animais adultos jo- nação racional de cada uma das possibili-
Este exame pode fornecer rápidos re- vens, sendo que a maioria dos casos dades, como será proposto:
sultados, que podem ser importantes na ocorre entre dois e cinco anos de idade. Quando um cão se apresenta com um
orientação do diagnóstico ou muitas ve- Animais que apresentam o quadro muito quadro pruriginoso, e frente a abordagem
zes podem determinar o diagnóstico de- jovens sugerem atopia, animais com mais diagnóstico o veterinário já descartou os
finitivo de diferentes enfermidades. Não de sete anos que nunca apresentaram outros grupos de dermatopatias, ficando
é utilizado para a diferenciação entre os quadro pruriginoso, dificilmente apresen- apenas com a possibilidade de um qua-
quadros alérgicos, mas pode revelar a tarão atopia(6,8,9). dro alérgico, os passo a serem seguidos
existência de infecções subjacentes, que Finalmente, o clinico poderia recor- são (quadro 1):
devem ser controladas antes de se defi-
nir qual tipo de alergopatia está ocorren-
do(5).
A coloração mais utilizada no exame
citológico é o método de coloração rápi-
da para hematologia, que proporciona que
o exame seja coletado, corado e analisa-
do em poucos minutos. É um método que
pode ser utilizado em diferentes derma-
topatias de etiologia inflamatória, neoplá-
sica ou infecciosa. Pode-se evidenciar,
tipos celulares, morfologia celular, bac-
térias, fungos além de seu número e dis-
tribuição (5).
3. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
DAS DERMATITES ALÉRGICAS
Avaliando-se questões como identifi-
cação etária, racial e sexual, presença de Quadro 1: seqüência de diagnóstico na abordagem de cães com quadros de
prurido, resposta terapêutica e, ainda, dermatites alérgicas.
poucos testes específicos, constata-se
1. Avaliar a possibilidade de presença de ção”, que deve conter uma fonte de pro- sido utilizadas para este fim. Estas rações
pulgas, quer por constatação do parasita, teína que o animal nunca comeu (geral- não podem ser utilizadas para o fecha-
de suas fezes ou ainda por dados de ana- mente o autor utiliza a carne de coelho mento do diagnóstico de HA, podem tal-
mnese que sugiram sua presença, vale ou carneiro) e uma fonte de carboidratos vez ser utilizadas após a confirmação do
lembrar que cerca de 30% dos animais (geralmente arroz integral ou batata cozi- diagnóstico com dieta caseira ou com
com DAPE, nunca apresentaram pulgas da), na proporção de 60 e 40% respecti- proteínas hidrolizadas. Para que se esta-
ou carrapatos, na óptica do proprietário. vamente. Esta dieta deve ser realizada por beleça o diagnóstico de hipersensibilida-
Se os animais apresentarem parasitas, 8 a 13 semanas e o cão não pode ter aces- de alimentar o animal deve apresentar re-
estas devem ser eliminadas, com produ- so a nenhum outro tipo de alimentação, missão dos sintomas com a dieta de eli-
tos parasiticidas de contato, ou seja deve- vale lembrar que este procedimento, mais minação e posteriormente o clínico deve
se optar por produtos que eliminem as que uma dieta é um teste diagnóstico. “liberar” a antiga alimentação e observar
parasitas, antes mesmo que estes se ali- Outra possibilidade de dieta de elimina- o recrudescimento do quadro em 10-14
mentem, há algumas possibilidades no ção são as rações de proteína de soja hi- dias. Caso o cão não melhore após a die-
mercado e o autor utiliza, neste primeiro drolizada, que apresentam em sua for- ta(6,8,9,10),
momento (por 40-60 dias) estes produ- mulação proteínas hidrolizadas em labo- 3. Fica estabelecido o diagnóstico de ato-
tos a cada 15 dias (uma freqüência maior ratório que pesam menos que 16000 dal- pia.
do que aquela proposta pelos fabrican- tons, pois atualmete sabe-se que as pro-
tes). O veterinário deve lembrar do con- teínas que podem funcionar como antí- Deve-se observar atentamente que
trolole parasitário nos contactantes e no genos na HA pesam entre 18000 e 36000 para se estabelecer o diagnóstico diferen-
ambiente. Após este procedimento nos daltons. O clínico deve saber que mes- cial das dermatites alérgicas dos cães, o
retornos de avaliação, havendo melhora mo uma ração comercial de “carne de veterinário deve seguir “algumas regras”:
do quadro lesional e do prurido, confir- frango” contém diferentes fontes de pro- a. Eliminar as infecções presentes, tra-
ma-se o diagnóstico de DAPE, caso não teína, sendo a troca de um marca de ra- tando a piodermite ou Malasseziose se
haja melhora, o segundo passo deve ser: ção para outra na tentativa de elucidar um estiverem presentes.
2. Alterar a dieta do animal. Para tal, o caso de HA é definitivamente incorreta. b. Nunca tentar diagnosticar HA ou ato-
veterinário deve conhecer detalhadamente Há outras rações no mercado que têm pia na presença de parasitas.
os hábitos alimentares do paciente em como fonte de proteína o carneiro ou c. Não utilizar corticóides nos passos 1
questão e propor uma “dieta de elimina- proteínas de diferentes peixes e que têm e 2, quais sejam, durante a eliminação dos
parasitas e durante a dieta de eliminação, mentos serão abordados no próximo nú- 7. NESBITT, G.H.; ACKERMAN, L.J. Cani-
pois não será possível elucidar se a me- mero). ne and feline dermatology. New jersey, Vete-
rinary learning systems, 1998, 517p.
lhora do quadro foi conseqüência da me-
8. SCOTT, D.W.; MILLER Jr.,W.H.; GRIFFIN,
dicação ou da eliminação do fator que se Prof. Dr. Ronaldo Lucas C.G. Small animal dermatology. Philadelphia:
está investigando. Professor de Clínica Médica da Saunders, 1995, 1213p.
d. Se o quadro for extremamente agres- Universidade Anhembi Morumbi.
9. SCOTT, D.W.; MILLER Jr.,W.H.; GRIFFIN,
sivo e o clínico tiver que recorrer aos Proprietário da Dermatoclínica
C.G. Small animal dermatology. Philadelphia:
corticóides (contrariando o ítem b), op- www.dermatoclínica.com.br
Saunders, 2001, 1528p.
tar pelo uso de predniso(lo)na, por via 10. WILKINSON, G.T; HARVEY, R.G. Small
oral na menor dose e, exclusivamente nos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Animal Dermatology – a guide to diagnosis.
primeiros sete dias de eliminação das pul- 2aed. London, Mosby-Wolf Publishing, 1994,
gas e carrapatos ou nos primeiros sete 1. ETTINGER, S.J. Texbook of Veterinary In- 304p.
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pode apresentar mais que uma dermatite 2. GOTTHELF, L.N. Small Animal Ear Disea- canine atopic dermatitis. Veterinary Derma-
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alérgica associada.
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Quando o proprietário do animal é pre- 3. GRIFFIN, C.E.; KWOCHKA, K.W.; MACDO- Cyclosporin in the treatment of severe Atopic
viamente orientado acerca dos motivos NALD, J.M. Current veterinary dermatology. Dermatitis: A retrospective Study. Annals Aca-
deste procedimento, geralmente o executa Missouri: Mosby year book, 1993, 378p. demy of medicine, v.33, n.3, 2004.
com dedicação. O clínico deve ter sem- 4. GUAGUÈRE, E.; PASCAL, P. A pratical gui- 13. STEFFAN, J.; ROHLFS, A. Cyclosporin A
pre em mente que caso os diagnósticos de to Feline Dermatology. Merial, 2000. 315p. pharmacokinetics and efficacy in the treatment
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trata-se de doença incurável e de difícil lesions and pruritus in dogs with atopic dermati-
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