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127-139)
Apresentamos aqui ideias e sugestões que têm como base estudos e experiências de sucesso na
escola pública (..) e que partem dos seguintes pressupostos:
- A escola é um contexto complexo formado por uma grande diversidade de participantes,
interesses, posicionamentos, objetivos e anseios; (p. 127)
- Todos os participantes da comunidade escolar (pais, alunos, funcionários, professores,
supervisores) têm o que ensinar e o que aprender (p. 127)
- A escola é um lugar que deve promover experiências de aprendizagem exitosas e relevantes
para todos (p. 127)
- A escola deve promover o direito à fruição e o exercício da cidadania, e ambos podem ser
desenvolvidos nas aulas de línguas; (p. 127)
Nos referimos aqui ao objeto de ensino da disciplina curricular “Língua estrangeira” não como língua
estrangeira, mas como língua adicional (p. 127)
Temos em conta que o espanhol e o inglês, as duas línguas adicionais oferecidas nas escolas da rede
pública estadual, são de fato as duas principais línguas de comunicação transnacional, o que significa
que muitas vezes estão a serviço da interlocução entre pessoas de diversas formações socioculturais
e nacionalidades, de modo que é comum não ser possível identificar claramente nativos e estrangeiros.
(p. 127-128)
Falar de uma língua adicional em vez de língua estrangeira enfatiza o convite para que os educandos
(e os educadores) usem essas formas de expressão para participar na sua própria sociedade. (p.
128)
Optar pela promoção da educação linguística como principal objetivo do ensino de línguas
significa adotar uma perspectiva de compromisso mutuo entre as disciplinas de línguas adicionais
(espanhol e inglês), língua portuguesa e literatura, e assim criar oportunidades para que os
educadores reflitam sobre questões relevantes para a vida de todos os participantes da
comunidade escolar, com vistas a participar colaborativamente dos encontros educacionais e
aprender a transitar com mais desenvoltura e confiança em contextos novos e conhecidos. (p.128)
Não são raras as vozes que apontam o insucesso do ensino de línguas adicionais nas escolas
públicas brasileiras e uma descrença generalizada entre pais, professores e alunos quanto à
possibilidade de aprender uma língua no sistema regular de ensino, seja em escolas de rede
pública ou privada. (p. 129)
Quando se discute o ensino de línguas adicionais, é comum a ideia de uma proficiência para usar
essa língua em todas as situações em que usamos a língua que aprendemos quando crianças. (p. 129-
130)
É preciso refletir sobre as expectativas que podemos e devemos ter em relação ao aprendizado
de línguas adicionais na escola. Para essa reflexão, é preciso considerar que o espaço dedicado
ao ensino de línguas adicionais hoje na grade curricular, em geral, é de duas horas-aula
semanais, totalizando nesse caso algo em torno de 80 horas-aula de instrução por ano. Tal reflexão
deve também contemplar o fato de que o ensino de línguas adicionais na escola regular precisa
se dar em meio a preocupações de formação do cidadão, não meramente de um falante de
línguas. Por isso, propomos aqui que pensemos o ensino de uma língua adicional com vistas às
práticas sociais, sobretudo às práticas sociais letradas, exigidas do cidadão na contemporaneidade.
(p. 130)
Se considerarmos que se está sempre aprendendo e que se pode aprender a cada novo contato
com uma língua em situações relevantes, em que faz sentido envolver-se com essa língua, a sala
de aula passa a ser um espaço privilegiado para novas oportunidades de aprendizagem. (...) Isso
quer dizer que a sala de aula pode ser um espaço para os participantes interagirem e, na busca
por soluções, para alcançarem os objetivos propostos, lançarem mão de recursos linguísticos já
conhecidos e aprenderem outros à medida que se fazem necessários. (p. 130)
Aprender uma língua adicional desvincula-se da ideia de aprender a língua para usar depois, em
outro lugar e num futuro distante. Na aula de língua, se aprende a usar a língua para agir ali
mesmo, com os outros já presentes, e realizar atividades individuais e coletivas para reconhecer-
se e ser reconhecido como integrante do grupo do qual participa ou do qual quer participar. Na
perspectiva de aprendizagem adotada aqui, portanto, aprender uma língua adicional na escola é
poder participar de atividades que façam sentido para os educandos desde o princípio. (p. 131)
2. Por que aprender uma língua adicional na escola? Commented [S.3]: Nana
Cidadão que recebe, na sua educação linguística em Língua Portuguesa e em Línguas Adicionais,
aquilo que Bourdieu (1998) chama de capital cultural, isto é, o repertório de conhecimentos cultivados
por certos grupos humanos, reconhecido como necessário para diversas práticas sociais desses
grupos. (p. 131)
O que estamos apontando aqui como objetivos da educação linguística, portanto, diz respeito a criar e
manter condições para aprender línguas adicionais neste estágio da nossa história, em que
temos quase todos na escola, o mundo se apresenta cada vez mais vasto, e a diversidade se faz
presente e bem-vinda na vida cotidiana, começando na própria sala de aula e se estendendo por
todos os espaços públicos da vida social. (p. 132)
Assim, diante deles (os alunos) pode ser difícil sustentar a necessidade de aprender línguas adicionais
com argumentos de que isso lhes será importante para oportunidades na vida adulta. O que propomos
aqui é que a justificativa para o ensino de línguas adicionais está no que elas podem oportunizar
de ampliação dos espaços de participação no aqui e agora da sala de aula e da vida cotidiana.
(p. 132)
Apreensão do valor simbólico do objeto “língua adicional”, “espanhol”, “inglês”, pois é difícil,
se não impossível, aprender o que não se valoriza, ainda mais quando essa aprendizagem é
custosa. A educação em línguas adicionais no sistema regular de ensino pode desenvolver esse
capital simbólico nos alunos como parte integrante de sua formação do cidadão participante, consciente
e crítico, isto é, letrado. (p. 133)
O ensino de línguas adicionais na escola serve para o desenvolvimento da reflexão sobre si mesmo
e sobre a sua condição mediante o encontro com o outro, em outras palavras, para que o educando
possa compreender a si mesmo e o mundo em que vive (autoconhecimento), para compreender
e refletir sobre o uso da linguagem e o cruzamento intercultural (inclusive em língua portuguesa)
na sua própria cultura, compreender valores atribuídos às línguas na sociedade em que vive.
Portanto, serve para promover oportunidades de letramento do educando no mundo mais amplo,
para mais além das suas identidades e comunidades locais de atuação e de interação, para, em última
análise, poder redimensionar o que já conhece e valoriza e, então, crítica e conscientemente, promover
mudanças. (p. 133)
Quem sou eu neste mundo? Quais são os limites do meu mundo? Quais são as minhas
comunidades de atuação? Onde está essa língua que o currículo me proporciona estudar? De
quem é essa língua? Para que serve essa língua? O que é que essa língua tem a ver comigo? (p.
134)
A sala de aula de línguas adicionais é um bom lugar para descobrir quem se é, porque se está
necessariamente encontrando um “outro” nessa língua “outra”. (p. 134)
O ensino de línguas adicionais pode ser organizado com base em textos que circulam na sociedade
e que tratam dessas temáticas de forma a propiciar, através de experiências (ler, ouvir, falar e
escrever) motivadoras e bem-sucedidas com a língua, a confiança, o autoconhecimento e a
inserção do educando em uma maior variedade de práticas sociais em espanhol, inglês e também
em língua portuguesa, em suas próprias comunidades e em outras que se apresentem como
relevantes. Nos termos desta proposta, trata-se de garantir prioritariamente que os educandos
sejam apresentados a esses textos e, em vez de se virarem de costas para eles, se engajem com
eles e possam tomar conhecimento das práticas culturais de grupos humanos diversos que
reconhecem os discursos em torno desses textos como necessários às atividades dos seus
integrantes. (p. 134)
Dessa forma, e tendo como base as orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais – ensino
fundamental (PCN) (BRASIL, 1998) e, mais recentemente, das Orientações Curriculares para o ensino
médio (OCEM) (BRASIL, 2006), o ensino de línguas adicionais na escola – ensino fundamental e
ensino médio – serve, mais amplamente, ao letramento, isto é, objetiva promover a participação
em diferentes práticas sociais que envolvem a leitura e a escrita na língua adicional e também
na língua portuguesa. (p. 134)
Isso quer dizer que a aula de língua adicional deve criar condições para que o educando possa
engajar-se em atividades que demandam o uso dessa língua para refletir sobre temas relevantes
ao seu contexto e ampliar sua atuação através da compreensão da sociedade em que vive, da
circulação segura por diferentes gêneros do discurso e da possibilidade de expressar o que
quer dizer. Pensar em educação linguística como algo voltado a promover o letramento significa
colocar o ensino de línguas adicionais a serviço de garantir as condições para que os
educandos tenham elementos para perceber os limites que os seus recursos linguísticos podem
impor à sua atuação e também as condições para que possam superar esses limites. (p. 134-
135)
Significa promover a participação em práticas sociais que envolvem o uso das línguas adicionais
em diferentes cenários da vida e que podem possibilitar a circulação do aluno em gêneros do
discurso (orais e escritos) em diversos campos de atuação de modo seguro, autônomo, autoral
e crítico (p. 135)
Na aula de língua, os textos e as tarefas propostos são oportunidades para contatos, para usar
esses métodos e refletir sobre eles. (p. 135)
A partir das discussões do texto e de posicionamentos em relação a eles, que podemos refletir sobre o
que é dito e o que não está dito; o que está explicitado e o que é pressuposto; as convenções implícitas
e compartilhadas, cruciais para a participação em qualquer comunidade de práticas. Tais (p. 135-136)
Sendo assim, as tarefas com textos em que comparecem elementos de uma língua adicional
constituem desafios particularmente importantes para os educandos, uma vez que esses textos
têm muita possibilidade de estarem a exigir de seus leitores alguma intimidade com a língua adicional
e os universos simbólicos a ela associados. (p. 136)
Um texto majoritariamente em língua portuguesa, no qual algum termo, expressão ou passagem
expressa na língua adicional seja crucial, pode constituir material relevante para o desenvolvimento
de tarefas pedagógicas no ensino de línguas adicionais. (p. 136)
Um currículo somente se torna educação efetivamente vivida através das ações construídas em
conjunto pelos participantes na interação. Afirmar isso é dizer que são os participantes, professores
e alunos, que definem conjuntamente, em ações complementares e recíprocas, momento a momento,
o que estão fazendo em conjunto. Para tanto, é preciso a ambição de construir uma comunidade
colaborativa de aprendizagem. (p. 136)
Pedagogia que tem como objetivo a educação linguística fundamentada na conversão dos princípios
e conceitos em práticas pedagógicas que priorizam ações conjuntas de professores e alunos para
construir aprendizagem. Entre essas práticas, destacam-se: tarefas significativas e
contextualizadas, trabalho transdisciplinar, prática e reflexão sobre pluralidade, variedade de
tarefas, interlocução contínua na realização das atividades e publicidade dos produtos do trabalho
pedagógico, além de dinâmicas variadas (trabalhos individuais, em pequenos grupos e coletivos) e
docência com discência. (p. 137)
Para que uma turma de alunos e seus professores funcione como uma comunidade colaborativa de
aprendizagem, será preciso respeito mútuo e organização dos participantes. Muitas vezes, para
que o trabalho em grupos proceda organizada e produtivamente, talvez a turma tenha que se ocupar
antes disso com atividades dedicadas a desenvolver a disciplina necessária para o cumprimento
das tarefas em vez de, tendo iniciado o trabalho em grupo, interrompê-lo a cada oportunidade de fazer
disciplinamento. (p. 137)
Ampliar a circulação do educando por diferentes gêneros do discurso significa, portanto, criar
oportunidades, em sala de aula, para o uso da língua adicional e da língua portuguesa de modo
contextualizado e para a reflexão sobre como pode se dar (ou não) a inserção dos indivíduos
em diferentes grupos e práticas sociais, levando em conta os valores vigentes; significa
compreender e ampliar o leque de escolhas possíveis para enfrentar os desafios de novas práticas
sociais e para adaptar-se, quando desejado ou necessário, a diferentes usos da linguagem. (p. 138)
Lidar com textos autênticos significa, como já foi dito, criar oportunidades, em aula, para usar a
língua em contextos relevantes e para refletir sobre como pode se dar (ou não) a inserção do
educando em diferentes grupos e práticas sociais, por meio do debate sobre valores vigentes e
escolhas possíveis para o enfrentamento de novos desafios de participação. Entendemos por texto
autêntico a materialização (o produto) de práticas de uso da linguagem, construídas em conjunto
pelos participantes para alcançarem determinados propósitos sociais. (p. 138)
Portanto, é preciso sempre ter em conta que um texto é escrito por alguém para a interpretação do
outro, com determinados propósitos sociais. (p. 138-139)
Espera-se que outros projetos, mais relacionados ao contexto da comunidade escolar e à atua-
lidade, propostos pelos alunos em conjunto com professores de língua e de outras disciplinas,
orientem o trabalho coletivo da escola a cada ano letivo que se inicia. (p. 139)