Sei sulla pagina 1di 19

MAGF

Magistratura Federal

CURSO EXTENSIVO

Direito Penal
Introdução à teoria geral do crime

MATERIAL DE APOIO

coordenadores:

Marcio André Lopes Cavalcante

Luís Felipe Pimentel da Costa


1. CONCEITOS DE CRIME

O Brasil adotou a teoria bipartida da infração penal (infração penal é gênero, do qual são
espécies o crime e a contravenção penal). De acordo com a Lei de Introdução ao Código Penal,
crime é a “infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer
alternativa ou cumulativamente com a pena de multa”. Já contravenção é a “infração penal a que a
lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou
cumulativamente”.

Entretanto, esse conceito de crime é extremamente precário, cabendo à doutrina seu


desenvolvimento.

O crime possui três conceitos principais: material, formal e analítico.

a) CONCEITO MATERIAL: crime seria toda a ação ou omissão humana que lesa ou expõe a
perigo de lesão bens jurídicos protegidos pelo Direito Penal, ou penalmente tutelados. De acordo
com o STF, O CONCEITO MATERIAL DE CRIME É FATOR DE LEGITIMAÇÃO DO DIREITO
1
PENAL, pois, de acordo com a Corte, não será toda conduta que será penalmente criminalizada,
mas somente aquelas condutas mais relevantes (princípio da adequação social);

b) CONCEITO FORMAL OU JURÍDICO: é aquilo que a Lei chama de crime. Está definido no
art. 1º da Lei de Introdução do Código Penal. Crime é “infração penal que a lei comina pena de
reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de
multa”. De acordo com este conceito, a diferença seria apenas quantitativa, relativa à quantidade da
pena;

c) CONCEITO ANALÍTICO: aqui se analisa todos os elementos que integram o crime. Crime
é todo fato típico, antijurídico (aqui, é melhor utilizar o termo ilícito, apesar de não fazer tanta
diferença, porque o CP e as leis especiais utilizam o termo “excludentes de ilicitude”) e culpável
(alguns autores não consideram a culpabilidade como elemento do crime, e sim como pressuposto
da pena). Apesar de ser indivisível, o crime é estudado de acordo com essas três características
para facilitar sua compreensão. Elas serão analisadas mais adiante, após vermos as classificações
de crime existentes.

2. CLASSIFICAÇÃO DAS INFRAÇÕES PENAIS


2.1. CRIME DOLOSO, CULPOSO OU PRETERDOLOSO (OU PRETERINTENCIONAL) E DE
ÍMPETO

a) CRIME DOLOSO: é o crime em que o agente quis ou assumiu o risco de produzir o


resultado. A regra geral é que todo crime seja doloso.

b) CRIME PRETERDOLOSO: é o crime em que o resultado delitivo é mais grave do que o


querido pelo agente. O agente deseja praticar uma ação e produzir um resultado (como dolo,
portanto), mas, por imperícia, imprudência ou negligência, produz um resultado mais grave. Há dolo
na ação e culpa no resultado. Deve haver uma expressa previsão legal do resultado culposo mais
grave (como ocorre para o crime de homicídio, por exemplo). Se não houver, apenas o crime doloso
será punido.

Não se admite tentativa em crimes preterdolosos, porque é a tentativa é inconcebível para


resultados culposos.

Todos os crimes preterdolosos são qualificados pelo resultado, porém, nem todo crime
qualificado pelo resultado é preterdoloso, porque o resultado qualificador pode ter sido
desejado (e crimes preterdolosos exigem resultado culposo). O crime qualificado pelo 2
resultado é gênero, do qual o crime preterdoloso é espécie.

RESULTADO AGRAVADOR DOLOSO OU


CRIMES QUALIFICADOS PELO RESULTADO
CULPOSO

RESULTADO AGRAVADOR
CRIMES PRETERDOLOSOS
NECESSARIAMENTE CULPOSO

Bitencourt também propõe outra diferenciação. Indica que crimes qualificados pelo
resultado lesam bens jurídicos que diversos do bem jurídico que se deseja atingir
inicialmente. Nos crimes preterdolosos, no entanto, o bem jurídico lesado pelo resultado
culposo é da mesma espécie ou gênero do bem jurídico que o agente desejava atingir
inicialmente.

São elementos do crime preterdoloso:

1. Conduta dolosa visando um resultado (lesão corporal);

2. Resultado culposo mais grave que o desejado inicialmente (seguida de morte);

3. Nexo causal (artigo 129, § 3º, CP);


4. Previsão da modalidade culposa para o crime cometido.

Quando o resultado mais grave advém de caso fortuito ou força maior não se imputa a
agravação ao agente, porque não há nexo causal. O resultado mais grave tem que ser pelo menos
culposo, e a culpa deve ser demonstrada no caso concreto para configuração do crime preterdoloso.
É dizer, o versari in re illicita não vale para os crimes preterdolosos. Esse brocardo é usado para
defender que aquele que quem se envolve em coisa ilícita (crime antecedente) deve também
responder pelo resultado fortuito (resultado agravador consequente), independente da demonstração
de culpa.

EXEMPLOS:

i. Um indivíduo, em uma boate, discute e dá um soco em alguém, que cai e bate a cabeça,
morrendo em seguida. Que crime foi cometido pelo autor do soco? Lesão corporal seguida de morte,
na forma prevista no art. 129, § 3º, CP. Veja que o resultado agravador morte ocorreu por conta da
ação do agente, logo há nexo causal, e que o resultado morte era previsível (era possível imaginar
o resultado morte naquelas condições).

ii. Durante as Olimpíadas, numa luta, um lutador se sentiu prejudicado pelo árbitro e deu um 3
pontapé na cabeça dele. Ele não chutou para matar, queria apenas lesionar, mas o árbitro, por acaso,
bateu a cabeça num prego que estava no tatame próprio para luta, e morre unicamente em
decorrência do choque de sua cabeça contra o prego. Ora, a existência do prego naquele local não
era previsível (não é razoável exigir que o agente saiba que poderia haver um prego ali), logo é um
caso fortuito ou de força maior, não sendo possível imputar o resultado morte.

c) CRIME CULPOSO: é o crime que o agente deu causa por imprudência, negligência ou
imperícia, não havendo em si qualquer desejo de praticar o resultado juridicamente reprovável. O
crime culposo só é possível em tipos penais que expressamente o prevejam, como no homicídio.
Quase de forma absoluta, não se admite a tentativa nos crimes culposos.

d) CRIME DE ÍMPETO: é o praticado sem premeditação. A vontade delituosa é repentina,


sem preceder deliberação, como ocorre com o homicídio praticado sob domínio de violenta emoção.

2.2. CRIME COMISSIVO, OMISSIVO PRÓPRIO OU COMISSIVO POR OMISSÃO

a) CRIME COMISSIVO: crime comissivo é aquele em que o agente realiza uma ação positiva
visando a um resultado ilícito. Crime comissivo não se confunde, por evidente, com crime material,
já que pode não haver qualquer resultado naturalístico. Por exemplo, é comissivo o crime de injúria,
mas não é material. O fator determinante de um crime comissivo é a existência de uma conduta de
uma pessoa livre e consciente que lhe retire do estado de inércia.

b) CRIME OMISSIVO PRÓPRIO OU PURO: são crimes em que a própria omissão já é


prevista no tipo penal, sendo ela uma elementar, ou seja, a única forma de se realizar aquela
conduta criminosa.

Nesses crimes omissivos, basta uma abstenção do agente para a configuração do crime, ou
seja, é suficiente a mera desobediência ao dever de agir para que o delito se consume. O resultado
que eventualmente surgir dessa omissão será irrelevante para a consumação do crime, podendo
configurar apenas uma majorante ou qualificadora.

Nos crimes omissivos, a norma prevê subentendida no tipo uma conduta mandamental, que
o agente não cumpre. Por exemplo, no crime de “deixar o médico de notificar doença...”, o tipo penal
MANDA ao médico notificar a doença, sob pena de cominar à sua omissão uma sanção penal.

c) CRIME COMISSIVO POR OMISSÃO, OMISSIVO IMPRÓPRIO OU IMPURO: são os


crimes em que o agente produz o resultado pela própria omissão, quando tinha o dever e a
possibilidade de evitar aquele resultado. É previsto no § 2º do artigo 13 do Código Penal, segundo o 4
qual “a omissão é penalmente relevante quando o agente devia e podia agir para evitar o resultado.
Poderão ser tanto dolosos quanto culposos e admitem tentativa (são comissivos e seus atos podem
ser divididos).

Nos crimes omissivos próprios ou puros, a omissão é sempre considerada penalmente


relevante, porque é prevista no tipo penal (incrimina expressamente essa omissão). No entanto, nos
crimes omissivos impróprios, a omissão só é relevante quando presente os seguintes
pressupostos (caso, contrário, a omissão do agente será um irrelevante penal):

1. PODER DE AGIR: o agente precisa ter a possibilidade física de agir.

2. EVITABILIDADE DO RESULTADO: a conduta omitida pelo agente deve ser causa do


resultado, de modo que, se não o agente não agisse daquela determinada maneira, o resultado não
teria ocorrido. Se, mesmo com a conduta do agente, o resultado ocorreria, não há que se falar em
evitabilidade e a omissão será irrelevante.

3. DEVER DE IMPEDIR O RESULTADO: aqui surge a figura do GARANTIDOR: além do


poder de agir e da evitabilidade do resultado, é necessário que o agente tenha o dever de agir.

Esse dever de agir “específico” não se confunde com o dever “genérico”. Assim, se A e B
observam uma criança se afogar e nada fazem para evitar o resultado, responderão de maneira
diversa se A é o pai dessa criança (tem dever “específico”) e B é apenas um transeunte (tem dever
“genérico”, e responderá apenas por omissão de socorro, prevista no art. 135, CP).

Haverá dever “específico” nos seguintes casos, expressamente previstos no CP (adoção do


critério legal para definição do dever de agir):

• Quando o agente tem, por Lei, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância, como no
caso do dever do policial (mesmo fora de serviço, segundo o STF) e do dever de
mútua assistência entre os cônjuges.

• Quando o agente, de outra forma, assume a responsabilidade de impedir o aquele


resultado.

• Quando o agente cria, com seu comportamento anterior, o risco da ocorrência do


resultado, ou agrava um risco já existente, e não o evita. O comportamento do agente
pode ser lícito, ou até mesmo involuntário, e ainda assim estará caracterizado o dever
de cuidado.

2.3. CRIME INSTANTÂNEO, PERMANENTE, INSTANTÂNEO DE EFEITOS PERMANENTES,


5
EVENTUALMENTE PERMANENTE E DE FUSÃO

a) CRIME INSTANTÂNEO: é o crime que se consuma num momento único e determinado do


tempo, sem se protrair. Por exemplo, invasão de domicílio, injúria etc.

b) CRIME PERMANENTE: são os crimes que se perpetuam, protraem durante o tempo,


mesmo que esse tempo seja curto. É o caso do sequestro, estelionato previdenciário praticado pelo
próprio segurado etc. Admitem flagrante enquanto não interrompida a consumação.

c) CRIME INSTANTÂNEO DE EFEITOS PERMANENTES: é aquele crime que se consuma


num momento determinado, mas seus efeitos perduram no tempo (por exemplo, homicídio).

d) CRIME EVENTUALMENTE PERMANENTE: é o delito instantâneo que, em caráter


excepcional, pode se realizar de modo a lesionar o bem jurídico de maneira permanente. Por
exemplo, lesão corporal de natureza grave com resultado de deformidade permanente (art. 129, §
2º, IV, CP).

e) CRIME DE FUSÃO: é o crime que pressupõe a prática de outro, como nos casos dos
crimes de lavagem de dinheiro e de receptação, que exigem a ocorrência de um crime prévio para
que possam ser cometidos.
2.4. CRIME DE DANO E DE PERIGO

a) CRIME DE DANO: crime em que é necessário haver uma efetiva lesão ao bem jurídico
(lesão perceptível no mundo fático) para se caracterizar, como no caso do furto.

b) CRIME DE PERIGO: crime em que a simples ameaça ao bem jurídico já é abominada,


justificando, assim, sua penalização. Por exemplo, dirigir embriagado. O perigo da conduta é
presumido por Lei.

Subdivide-se em crime de perigo concreto, crime de perigo abstrato e crime de perigo


concreto-abstrato.

1. CRIMES DE PERIGO ABSTRATO: Nos crimes de perigo abstrato, como o perigo não é
elemento do tipo, não se precisa provar. Só se tem de provar o que é elementar do crime e o perigo
não é elementar do crime porque ele não é requerido no tipo pelo legislador. A doutrina tradicional
costuma dizer que, nesse tipo de crime, o legislador prevê, de forma absoluta, a existência de perigo,
sendo desnecessária sua comprovação concreta. Consequência: basta praticar a ação e se presume
que ela é sempre perigosa. Haveria então uma presunção iure et de iure de perigo pela simples
realização da conduta tipificada na norma. É o caso de dirigir embriagado em via pública. 6
2. CRIMES DE PERIGO CONCRETO: e os crimes de perigo concreto? Neles o legislador faz
referência no tipo ao perigo. Normalmente a forma de redigir um tipo de perigo concreto é assim:
“expor a perigo iminente”. O perigo, então, é elementar do tipo e, por isso, tem que ser provado.
Nesses crimes será possível que a conduta se realize e o perigo não seja causado.

Para Luis Greco, o que diferencia crimes de perigo abstrato de crimes de perigo concreto é o
momento da verificação do perigo. Nos crimes de perigo concreto, exige-se a constatação do
perigo ex post (verificação do perigo posterior à conduta realizada). Já nos crimes de perigo
abstrato, haverá também a constatação do perigo (ele não será absolutamente presumido,
como afirma a doutrina tradicional), mas esta constatação será ex ante (verificação do perigo
enquanto a conduta é realizada). A ideia é colocar um hipotético terceiro observador que analisará
a conduta enquanto ela é realizada. Se esse terceiro observador, durante a conduta, enxergar o
perigo, configura o crime de perigo abstrato, ainda que depois de praticada a conduta se verifique
que não houve um perigo de fato.

Crime de perigo Perigo não é elementar do tipo – NÃO DEVE ser


abstrato provado

Crime de perigo
concreto
Perigo é elementar do tipo – DEVE ser provado
3. CRIMES DE PERIGO CONCRETO-ABSTRATO, CRIMES DE INIDONEIDADE, CRIMES
DE PERIGO IDÔNEO OU CRIMES DE PERIGO HIPOTÉTICO: essa classificação é originária da
doutrina do espanhol Angel Torío Lopéz. São classificados assim os crimes que não exigem dano
nem perigo de dano a bens jurídicos, mas a simples execução de uma ação que, por suas
características, pode caracterizar uma situação de perigo ao bem, de modo que, ainda que não se
traduza em um perigo efetivo, será considerada criminosa porque um juízo prévio considerou elevada
a probabilidade de aquela ação produzir algum dano. A conduta é analisada ex ante pelo legislador,
que a considerada perigosa ao bem jurídico segundo um juízo de probabilidade do dano. Não se
exige a efetiva demonstração de nenhum risco ao bem, dado que o perigo é simplesmente um
“motivo” ponderado pelo legislador no momento de decidir sobre a criminalização do comportamento.

Não há uma diferença muito grande para os crimes de perigo abstrato. Nos dois, há ponto
comum: periculosidade geral. A diferença é que, nos crimes de perigo abstrato-concreto, essa 7
periculosidade geral é estabelecida pela probabilidade de dano analisada ex ante pelo legislador.
Nos crimes de perigo abstrato, o legislador não faz esse juízo de probabilidade.

2.4.1. CRIMES DE PERIGO ABSTRATO: APROFUNDAMENTOS2

Aqui será desenvolvido tema específico.

Apesar da existência de ampla controvérsia doutrinária, os crimes de perigo abstrato


podem ser identificados como aqueles em que não se exige nem a efetiva lesão ao bem
jurídico protegido pela norma nem a configuração do perigo em concreto a esse bem jurídico.

Nessa espécie de delito, o legislador penal não toma como pressuposto da criminalização a
lesão ou o perigo de lesão concreta a determinado bem jurídico. Baseado em dados empíricos, o
legislador seleciona grupos ou classes de ações que geralmente levam consigo o indesejado perigo
ao bem jurídico.

Assim, os tipos de perigo abstrato descrevem ações que, segundo a experiência, produzem
efetiva lesão ou perigo de lesão a um bem jurídico digno de proteção penal, ainda que concretamente

2
Extraído do voto do Min. Gilmar Mendes prolatado no HC 104.410/RS.
essa lesão ou esse perigo de lesão não venham a ocorrer. O legislador, dessa forma, formula uma
presunção absoluta a respeito da periculosidade de determinada conduta em relação ao bem
jurídico que pretende proteger. O perigo, nesse sentido, não é concreto, mas apenas abstrato.
Não é necessário, portanto, que, no caso concreto, a lesão ou o perigo de lesão venham a se efetivar.
O delito estará consumado com a mera conduta descrita no tipo. Com isso, NÃO É DIFÍCIL
ENTENDER AS CARACTERÍSTICAS E OS CONTORNOS DA DELICADA RELAÇÃO MANTIDA
ENTRE OS DELITOS DE PERIGO ABSTRATO E OS PRINCÍPIOS DA EXCLUSIVA PROTEÇÃO
DE BENS JURÍDICOS, DA LESIVIDADE OU OFENSIVIDADE, OU MESMO DA CULPABILIDADE
E DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA, OS QUAIS, NÃO HÁ DÚVIDA, ESTÃO INTRINSECAMENTE
RELACIONADOS COM O PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE.

A atividade legislativa de produção de tipos de perigo abstrato, por isso, deve ser objeto de
rígida fiscalização a respeito da sua constitucionalidade; especificamente, sobre sua adequação ao
princípio da proporcionalidade. A criação de crimes de perigo abstrato não representa, por si só,
comportamento inconstitucional por parte do legislador penal. A tipificação de condutas que
geram perigo em abstrato, muitas vezes, acaba sendo a melhor alternativa, ou a medida mais
eficaz, para proteção de bens jurídico-penais supraindividuais ou de caráter coletivo, como o
meio ambiente, por exemplo. A antecipação da proteção penal em relação à efetiva lesão torna 8
mais eficaz, em muitos casos, a proteção do bem jurídico. Portanto, pode o legislador, dentro de suas
amplas margens de avaliação e de decisão, definir quais as medidas mais adequadas e necessárias
para a efetiva proteção de determinado bem jurídico, o que lhe permite escolher espécies de
tipificação próprias de um direito penal preventivo. Apenas a atividade legislativa que, nessa
hipótese, transborde os limites da proporcionalidade, poderá ser tachada de inconstitucional.

Cabe ao Supremo Tribunal Federal exercer o controle de constitucionalidade dessa atividade


legislativa em matéria penal, de acordo com os parâmetros a seguir delineados.

Em primeiro lugar, no âmbito de análise segundo a máxima da adequação, é possível


constatar que não serão idôneos para a proteção de determinado bem jurídico os atos
legislativos criadores de tipos de perigo abstrato que incriminem meras infrações
administrativas, as quais não têm aptidão para produzir, sequer potencialmente, qualquer
perigo em concreto para o bem jurídico em questão. Isso quer dizer que os crimes de perigo
abstrato devem restringir-se aos comportamentos que, segundo os diagnósticos e prognósticos
realizados pelo legislador com base em dados e análises científicas disponíveis no momento
legislativo – e daí a importância da verificação de fatos e prognoses legislativos em sede de controle
judicial de constitucionalidade – geralmente configuram perigo para o bem jurídico protegido, estando
descartados aqueles que apenas de forma excepcional podem ensejar tal perigo.
Conforme as lições de Aguado Correa:

Como conclusión, podemos afirmar que serán idóneos los delitos de peligro abstracto para
la protección de bienes jurídicos cuando, según la forma y la intensidad de los ataques, sea
necesaria su protección frente a peligros abstractos; cuando se trate de prohibir
comportamientos que no afectan de modo alguno al bien jurídico correspondiente serán
inidóneos. Por otra parte, únicamente será idónea la prohibición penal de acciones
peligrosas en abstracto cuando las distintas formas de actuación que se prohiben
normalmente supongan un peligro para el bien jurídico protegido y no cuando tan
solamente em casos excepcionales puede suponer un peligro para el mismo.

Nesse sentido, segundo a máxima da necessidade, QUANDO HOUVER MEDIDAS MAIS


EFICAZES PARA A PROTEÇÃO DO BEM JURÍDICO-PENAL, PORÉM MENOS GRAVOSAS
PARA OS DIREITOS INDIVIDUAIS EM JOGO, OS CRIMES DE PERIGO ABSTRATO SERÃO
CONTRÁRIOS AOS PRINCÍPIOS DA SUBSIDIARIEDADE E DA OFENSIVIDADE E, DESSA
FORMA, AO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. Meros ilícitos que são objeto de
responsabilização jurídica eficaz por meio do Direito Civil ou do Direito Administrativo tornam
desnecessária a intervenção do Direito Penal, que deve operar apenas como ultima ratio.

Assim, como explica Aguado Correa:

“Para que los delitos de peligro abstracto resulten compatibles con el principio de 9
ofensividad es necesario: por una parte, que a través de los mismos se intente proteger
bienes jurídicos merecedores de pena, es decir, constitucionalmente legítimos y dotados de
una especial relevancia social, puesto que implican una ampliación muy importante de la
tutela penal; por otra parte, que a través de los delitos de peligro abstracto se tipifiquen
aquellas conductas que aparezcan como generalmente peligrosas para el bien jurídico que
se trata de proteger, y no aquellas conductas que sólo en algunos casos aparecen como
peligrosas; en último lugar, que en el caso concreto el comportamiento sea efectivamente
peligroso para el bien jurídico protegido”.

No âmbito da proporcionalidade em sentido estrito, deverá ser verificado se a restrição a


direitos fundamentais como resultado da incriminação de comportamentos perigosos em abstrato
pode manter uma relação de proporcionalidade com a proteção do bem jurídico em questão
alcançada pela medida normativa de caráter penal. Em outros termos, quanto maior for a
intervenção penal em direitos fundamentais dos afetados, maior deverá ser a efetiva proteção
do bem jurídico por ela almejada. Nas palavras de Aguado Correa:

el tercer nivel del principio de proporcionalidad em sentido amplio pretende ser un control
de signo opuesto de aquellas medidas que han sido consideradas idóneas y necesarias, en
el sentido de si los medios utilizados, que son los que causan esa restricción de derechos
fundamentales en los afectados, se encuentran en una relación de proporción con la
protección del bien jurídico que a través de los mismos se pretende alcanzar. Este examen
puede llevar a la conclusión de que un medio en principio idóneo y necesario para la
protección del bien jurídico, no debe ser utilizado porque el menoscabo de derechos
fundamentales del afectado que conlleva supera el aumento de protección del bien jurídico,
de manera que la utilización de dicho medio de protección puede ser reputado
desproporcionado. Ello implica que bajo determinadas circunstancias se deja de proteger
legítimamente el bien jurídico porque, de lo contrario, se produciría um menoscabo
desproporcionado de los derechos fundamentales.

2.5. CRIME MATERIAL, FORMAL E DE MERA CONDUTA OU DE ATIVIDADE

a) CRIME MATERIAL: é o crime cujo tipo penal descreve uma conduta e um resultado, o qual
necessariamente deve ser verificado, sob pena de se constituir em mera tentativa. É o caso do
homicídio. A conduta é matar e o resultado é a morte. Caso a vítima não morra, não existe homicídio.

b) CRIME FORMAL OU DE CONSUMAÇÃO ANTECIPADA: é o crime em que, mesmo sendo


possível um resultado naturalístico que lese o bem jurídico, o tipo penal adianta a punição aos atos
de consumação, de modo que o resultado não é necessário para que o delito seja considerado
consumado (a consumação é antecipada). É o caso da extorsão: a simples prática da constrição já
faz o delito se consumar, independentemente de a pessoa auferir ou não a vantagem indevida.

c) CRIME DE MERA CONDUTA OU DE ATIVIDADE: nesses crimes, não só não há resultado


naturalístico como é impossível que este aconteça. Exemplo clássico é o porte de arma sem
autorização. O simples portar arma em nada modifica o mundo real (não há qualquer resultado
naturalístico). Geralmente, os crimes de mera conduta são absorvidos por crimes de resultado, como
o homicídio mediante uso de arma, pois o crime de mera conduta será um antefato necessário.
10

2.6. CRIME UNISSUBJETIVO E PLURISSUBJETIVO

a) CRIME UNISSUBJETIVO: é o crime que pode ser praticado por qualquer pessoa, sozinha
e sem auxílio. Em regra, todo crime é unissubjetivo. Veja, crimes unissubjetivos podem ser
realizados por mais de uma pessoa, mas também podem ser realizados por uma pessoa
sozinha.

b) CRIME PLURISSUBJETIVO: é o crime que exige pelo menos duas pessoas para a sua
realização, como a bigamia e a formação de associação criminosa. Pode ser de condutas
convergentes (ações que tendem a se encontrar, como na bigamia), contrapostas (ações dirigidas
um contra os outros, como na rixa) ou paralelas (duas condutas com o mesmo objetivo). Os crimes
plurissubjetivos são, NECESSARIAMENTE, realizados por mais de uma pessoa.

2.7. CRIME UNISSUBSISTENTE, PLURISSUBSISTENTE E PLURIOFENSIVO

a) CRIME UNISSUBSISTENTE: é o crime cuja consumação ocorre mediante um único ato,


não sendo admitido seu fracionamento, sendo impossível a tentativa. A conduta se esgota com a
concretização do delito. É o caso da injúria, calúnia e difamação na forma verbal. Nesses crimes,
não há um iter criminis perfeito, a pessoa não tem a possibilidade de arrependimento eficaz. Os
crimes unissubsistentes são, NECESSARIAMENTE, realizados com um único ato.

b) CRIME PLURISSUBSISTENTE: é o crime para cuja consumação podem ser realizados


mais de um ato, como no homicídio. Veja que os crimes plurissubsistentes podem ser realizados
com apenas um ato, mas é possível sua divisão em mais de um. Exatamente por isso, a conduta
pode ser fracionada, permitindo a tentativa.

c) CRIME PLURIOFENSIVO: é o que lesa ou expõe a perigo de dano mais de um bem


jurídico.

2.8. CRIME COMUM, PRÓPRIO, PRÓPRIO IMPURO, BIPRÓPRIO, DE MÃO PRÓPRIA E DE


ACUMULAÇÃO

a) CRIME COMUM: é o crime que pode ser praticado por qualquer pessoa,
independentemente de alguma qualidade especial que ela tenha.

b) CRIME PRÓPRIO: é o crime que somente pode ser praticado por uma pessoa que detenha
determinada característica, como no caso do peculato, em que o agente deve, necessariamente, ser
11
servidor público.

Também é possível analisar a propriedade do crime com base numa característica especial
do sujeito passivo. São chamados de crimes especiais próprios. Se for exigida característica
especial tanto do agente quanto da vítima, fala-se em crime duplamente próprio ou crime
bipróprio.

c) CRIME PRÓPRIO IMPURO: o crime próprio impuro é aquele que, se desaparecer a


qualidade particular do agente (que é exigida para configuração do crime próprio), desaparece
também o crime especial e ocorrerá uma desclassificação da conduta para outro delito, que terá
natureza diversa. No crime próprio impuro, a falta da qualidade do sujeito ativo torna o crime
apenas relativamente atípico, porque a conduta se encaixa em outro tipo. São também
chamados de crimes especiais impróprios, porque existe uma correspondência com um delito
comum, quer dizer, existe um delito comum que tipifica a mesma conduta prevista no delito especial,
mas sem exigir a qualidade pessoal requerida por este. O crime de peculato previsto no art. 312, §
1º, do CP é um exemplo de crime especial impróprio, uma vez que se o agente não for funcionário
público, o crime se amolda ao previsto no art. 155 do CP, o furto.

d) CRIME PRÓPRIO PURO: A falta de uma elementar torna o crime próprio puro
absolutamente atípico.
e) CRIME BIPRÓPRIO: aquele que exige uma especial qualidade tanto do sujeito ativo como
do sujeito passivo do delito.

f) CRIME DE MÃO PRÓPRIA: é o crime em que o agente deve possuir uma qualidade
especial e, ainda, deve praticar a execução diretamente, não se admitindo coautoria (admitem
participação), não se admitindo a prática por interposta pessoa. É o caso da bigamia, prática de
atos obscenos, e falso testemunho.

g) CRIMES DE ACUMULAÇÃO: fruto de uma controversa tendência de política criminal


voltada à prevenção de ilícitos. Neles, o legislador incrimina uma conduta que, individualmente
considerada, não encerra um risco jurídico ao bem tutelado, mas se vier a ser praticada por
um conjunto grande de indivíduos, efetivamente lesará tal bem. O que importa não é o desvalor
da conduta individual em si, mas apenas a probabilidade de que, em virtude da acumulação dessas
condutas, haja ofensa ao bem penalmente tutelado. Aquelas ações, quando praticadas por um
grande número de pessoas, de forma cumulada, presumivelmente provocarão um resultado danoso
para o bem jurídico coletivo. Clássico exemplo ocorreria no crime ambiental: matar um espécime de
peixe considerado exótico não deveria ser penalmente relevante., porém, caso tal conduta não fosse
penalizada, todos os indivíduos estariam autorizados a praticar a conduta, o que poderia levar, no
12
somatório das condutas individuais, à extinção da espécie.

2.9. CRIME IMPOSSÍVEL E PUTATIVO

a) CRIME IMPOSSÍVEL, QUASE-CRIME, TENTATIVA INIDÔNEA OU TENTATIVA


INADEQUADA: ocorre quando o agente se utiliza de meio ABSOLUTAMENTE INEFICAZ ou objeto
ABSOLUTAMENTE IMPRÓPRIO para consumar o crime. É o caso da tentativa de homicídio dando-
se um copo de água à vítima na expectativa de que ela venha a morrer (meio absolutamente ineficaz)
ou quando se tenta furtar a carteira de uma vítima que não trazia a carteira no bolso (objeto
absolutamente impróprio, já que não há como furtar aquele objeto).

A relativa ineficácia do meio e a relativa impropriedade do objeto não afastam a


configuração do crime, geralmente dando azo à forma tentada, porque é ainda possível que
um meio relativamente ineficaz ou um objeto relativamente impróprio produzam dano. O crime
impossível deve ser analisado somente após a realização do fato, visto que algo aparentemente
inofensivo (como um objeto relativamente impróprio) pode ter o efeito de efetivamente gerar o crime.

Sobre o crime impossível há três teorias:


1. TEORIA OBJETIVA PURA: não distingue entre absoluta ou relativa impropriedade do
objeto ou ineficácia do meio. Segundo a teoria objetiva pura, não interessa saber, por exemplo, se a
arma não funcionou porque nunca funcionaria, ou a arma não funcionou naquele caso porque, por
azar do autor, ela emperrou. Tanto um, quanto em outro caso, se estaria diante de um crime
impossível. NÃO É ADOTADA NO BRASIL.

2. TEORIA OBJETIVA TEMPERADA: prima pela distinção entre absoluta ou relativa


impropriedade do objeto ou ineficácia do meio. Essa teoria sustenta que só há perigo ao bem
jurídico apto a fundamentar a punibilidade do crime tentado quando o objeto ou o meio forem, em
tese, aptos à produção do resultado, ainda que circunstancialmente não se consiga produzi-lo. Ou
seja, em tese, para a teoria objetiva temperada, só seria caso de se reconhecer o crime impossível
após a arma utilizada para um roubo ser periciada. Se a perícia chegar à conclusão de que a arma
que foi acionada não disparou e nunca dispararia por ser defeituosa (ineficácia absoluta do meio),
seria caso de crime impossível. Porém, se essa arma, uma vez apreendida e submetida à perícia,
for revelada como apta a produzir disparos, tendo o insucesso do roubo decorrido unicamente de
seu emperramento episódico, o meio será relativamente ineficaz, merecendo o agente, pois, punição
pela tentativa. ESSA FOI CLARAMENTE A OPÇÃO ADOTADA PELO LEGISLADOR
BRASILEIRO. 13

3. TEORIA SINTOMÁTICA OU SUBJETIVA: defende que o agente deve ser punido, mesmo
em caso de crime impossível, porque demonstrou periculosidade, disposição para agredir um bem
jurídico. Nesse caso, ele seria punido pela intenção, e não por algum fato. NÃO É ADOTADA NO
BRASIL.

b) CRIME PUTATIVO (DELITO DE ALUCINAÇÃO): no crime putativo, o agente pratica uma


conduta acreditando estar praticando um ilícito penal, quando, de fato, sua ação não está tipificada.
Por exemplo, ocorre quando o agente trai a esposa com o fito de cometer crime (o adultério não é
mais considerado ilícito penal em nosso ordenamento, logo, não há crime). O crime putativo pode
ocorrer nas seguintes hipóteses:

1. Crime putativo por erro de proibição: o agente acredita ofender uma lei penal que não existe
realmente. A existência da lei incriminadora só existe na mente do agente, recaindo o erro,
portanto, sobre a ilicitude do fato. Esse é o caso do exemplo do agente que trai a esposa com
o fito de cometer crime (não há norma incriminando o adultério).

2. Crime putativo por erro de tipo: o crime imaginário se verifica quando o autor acredita
ofender uma lei penal incriminadora, mas os fatos revelam faltar uma elementar do tipo. Ou seja, a
lei penal existe, entretanto, o fato não foi típico porque o agente não realizou todas as elementares.
Aqui, há um erro sobre uma circunstância fática, e não sobre uma questão jurídica. Por
exemplo, ocorre quando o agente quer cometer um crime tributário declarando erroneamente dados
na DCTF; porém, ao invés de preencher a DCTF, ele preenche um formulário de cadastro no show
do milhão.

3. Crime putativo por obra do agente provocador: denominado também de crime de ensaio,
crimes de laboratório, ou crime de experiência, ocorre quando uma pessoa induz o agente a
cometer uma conduta criminosa e, simultaneamente, adota medidas para impedir a consumação.
Aqui, incide a Súmula 145 do STF, que trata do flagrante preparado ou provocado: “Não há crime,
quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação”.

2.10. CRIME VAGO, REMETIDO, EXAURIDO, HABITUAL E HABITUALIDADE CRIMINOSA

a) CRIME VAGO, MULTIVITIMÁRIOS OU DE VÍTIMAS DIFUSAS: crime praticado contra


uma coletividade sem personalidade jurídica. Por exemplo, o crime de racismo.

b) CRIME REMETIDO: ocorre quando a sua definição se remete a outros crimes, que passam
a integrá-lo. É o caso do art. 304 (fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados a que
se referem os arts. 297 a 302). 14
c) CRIME EXAURIDO3: é aquele já consumado nos termos da lei, mas que o agente leva a
desdobramentos posteriores que não influenciam no fato típico. Nele, o agente, mesmo após ter
consumado o delito, produz consequências mais lesivas. Ocorre o exaurimento, por exemplo, na
extorsão, quando o agente obtém a vantagem indevida, que é desnecessária para a consumação do
crime.

d) CRIME HABITUAL: é aquele crime que exige uma sequência de atos para se consumar.
Tem uma duração contínua, geralmente indefinida e casuística. É exemplo o rufianismo. Ao contrário
do que se defende em algumas doutrinas, esses crimes admitem sim o flagrante, quando a prisão é
feita após já se ter verificado o implemento da habitualidade e a configuração criminosa.

1. Habitual próprio: habitual próprio é aquele crime cuja tipicidade depende da reiteração de
condutas. No habitual próprio, um único ato não é suficiente a dar tipicidade à conduta, pois a
tipicidade decorrerá do somatório dos atos típicos praticados.

3 Exaurimento é a produção do resultado lesivo a bem jurídico após o delito já estar consumado, ou seja, é o
esgotamento da atividade criminosa, implicando outros prejuízos além dos já atingidos pela consumação. Em
regra, o exaurimento tem como consequência a exasperação da pena.
2. Habitual impróprio ou acidentalmente habitual: é aquele crime que, não obstante a regra
seja sua perpetuação no tempo para se configurar, permite que um único ato seja suficiente
para a consumação, em casos extremos, como ocorre no crime de gestão fraudulenta, em que um
único ato pode dar causa à quebra de uma instituição financeira, atingindo diretamente o SFN (vide
HC 89.365/PR). Não constituirá pluralidade de crimes a repetição de atos. Nesse tipo de crime,
a caracterização do crime habitual há de ser analisada perante o caso concreto.

e) HABITUALIDADE CRIMINOSA: a habitualidade criminosa ocorre quando o agente faz do


delito seu meio de vida, sem que ele tenha em mente que um crime seja tido por continuação do
outro (caso contrário haveria continuidade delitiva). Inclusive, o STJ reiteradamente tem decidido que
a habitualidade criminosa impede o reconhecimento do benefício da continuidade delitiva, já que
totalmente incompatível com o comportamento social do réu, que merece maior reprimenda. Nesse
sentido:

PENAL. HABEAS CORPUS. ROUBOS CIRCUNSTANCIADOS. CONCURSO MATERIAL.


PLEITO DE RECONHECIMENTO DE CONTINUIDADE DELITIVA. ENTENDIMENTO DAS
INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS NO SENTIDO DE QUE AS AÇÕES SÃO DISTINTAS.
REEXAME DE PROVAS. INVIABILIDADE NA VIA ELEITA. PACIENTE CONTUMAZ NA
PRÁTICA DE CRIMES. HABITUALIDADE CRIMINOSA COMPROVADA.
15
1. Infirmar os fundamentos das instâncias ordinárias, que afastaram a hipótese de
continuidade delitiva por se tratar de ações distintas, pressupõe a necessidade de dilação
probatória, incabível na via eleita do habeas corpus.

2. Ainda que superado esse óbice, esta Corte tem reiteradamente decidido que a
habitualidade delitiva comprovada por meio da extensa folha de antecedentes
criminais impede o reconhecimento da continuidade delitiva.

3. Ordem denegada.

(STJ, HC 131.121/PR, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado
em 22/08/2011, DJe 05/09/2011)

2.11. CRIME DE ESPAÇO MÍNIMO, CRIME DE ESPAÇO MÁXIMO OU PLURILOCAL E CRIME


À DISTÂNCIA

a) CRIME DE ESPAÇO MÍNIMO: aquele que é cometido e consumado em um mesmo lugar.

b) CRIME PLURILOCAL: aqueles cometidos em território de duas ou mais comarcas ou


seções judiciárias de um mesmo país. A comarca responsável pelo julgamento será, em regra,
aquela onde ocorreu o resultado (teoria prevalente no processo penal), salvo nos casos em que a lei
determinar o contrário (como nos crimes de menor potencial ofensivo ou tentados, casos em que a
competência é fixada pelo local da conduta).
c) CRIME À DISTÂNCIA OU DE ESPAÇO MÁXIMO: relacionado ao direito internacional, é
aquele em que se pratica a conduta num país e ocorre o resultado num outro.

2.12. CRIMES DE TENDÊNCIA (INTENÇÃO ESPECIAL OU INTENSIFICADA) E CRIMES DE


TENDÊNCIA INTERNA TRANSCENDENTE (CRIMES DE INTENÇÃO)

CRIMES DE TENDÊNCIA OU DE INTENÇÃO ESPECIAL OU INTENSIFICADA: neles, o tipo


penal requer o ânimo de realizar a própria conduta legalmente prevista, sem necessidade de
transcender tal conduta. É aquele que condiciona a sua existência à intenção do sujeito,
devendo necessariamente ser analisado um aspecto subjetivo. Em outras palavras, não se exige
que o autor do crime deseje um resultado ulterior ao previsto no tipo penal, mas, apenas, que confira
à ação típica um sentido subjetivo não previsto expressamente no tipo, mas dedutível da natureza
do delito. Exemplo dado por LFG: pessoa chama um policial de “caro”. Se o sentido que ela quis dar
à palavra é de que o policial é corrupto, configura-se a injúria. Se o sentido desejado era tratar o
policial como uma pessoa querida, não há crime.

CRIMES DE TENDÊNCIA INTERNA TRANSCENDENTE OU CRIMES DE INTENÇÃO: são


delitos de tendência interna transcendente, no sentido de que o autor busca um resultado
16
compreendido no tipo, mas que não precisa necessariamente alcançar (porque o crime é formal). É
que exige do autor uma finalidade (intencionalidade) no sentido de causar um resultado
transcendente (ulterior) que está previsto, mas que não é exigido pelo tipo objetivo para a
consumação do delito.

Nesses crimes, é punida a mera periculosidade da conduta, sendo desnecessária a


ocorrência do resultado efetivo, já que se consumam em momento anterior à lesão ou perigo
de lesão ao bem jurídico protegido4.

De acordo com LFG,

Os delitos de intenção especial não se confundem com os delitos de intenção


transcendental. O furto, por exemplo, é um delito de intenção especial (exige o animus
furandi: intenção de ter a coisa para si ou para outrem), mas não de intenção
transcendental. Não há no furto, uma finalidade especial de causar um ulterior resultado,
situado além do tipo objetivo. No furto a intenção (o animus) do agente ilumina o dolo e está
dirigida a um resultado que faz parte da consumação do crime. No furto, em suma, exige-
se dolo com animus furandi. Na extorsão a intenção transcendental do agente vai além do
dolo (porque visa a causar um resultado ulterior, não exigido para a consumação do crime).
A clássica doutrina penal (naturalista ou ontologicista/finalista) diria que o furto é crime
material enquanto a extorsão é crime formal.

4
PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal brasileiro, vol.1: parte geral, arts. 1º a 120/ Luiz Régis
Prado. – 7ª ed. ver. atual. ampl. - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001. p. 374
Os delitos de resultado cortado são aqueles onde o agente deseja que um resultado
externo ao tipo se produza, porém, sem sua intervenção direta. Um exemplo é a extorsão mediante
sequestro, tipificada no artigo 159 do CP, em que o agente sequestra a vítima para outrem pague
pelo resgate. Nesses tipos penais, o legislador corta a ação em determinado momento do processo
executório, consumando-se o crime independentemente de o agente haver atingido o resultado
pretendido.

Os delitos mutilados de dois atos (ou vários atos) são aqueles nos quais o autor quer
alcançar, após ter realizado o tipo, o resultado que fica fora dele e que depende de um ato próprio
seu. O autor realiza esse delito já pensando em praticar outro. Pode ser ilustrado com o exemplo do
crime de associação criminosa, em que se forma a quadrilha para praticar crimes.

2.13. CRIME ACESSÓRIO OU PARASITÁRIO

É o crime que pressupõe, para a consumação, a prática de outro, como a receptação, o


favorecimento real e a lavagem de dinheiro.

2.14. CRIME TRANSEUNTE E NÃO TRANSEUNTE


17
É classificação adotada para os crimes que deixam ou não vestígios. Se deixarem vestígios,
é não-transeunte; não deixando, é transeunte. Como exemplo de crimes não-transeuntes, tem-se
a apropriação indébita previdenciária, cujo vestígio é exatamente a diminuição da arrecadação de
contribuição previdenciária do empregado. Crime transeunte clássico é a invasão de domicílio.

2.15. CRIME DE CONSUMAÇÃO ATÍPICA IMPUNÍVEL

Diz-se consumação atípica impunível quando o fato consumado é indiferente penal e a forma
tentada é punida pelo ordenamento jurídico.

Embora possa parecer ilógico, à primeira vista, prever a punição abstrata de fato menos grave
(tentativa) e desconsiderar a forma consumada, há razão para tal. Na Lei de Segurança Nacional
(Lei 1.170/83), os artigos 9º (Tentar submeter o território nacional, ou parte dele, ao domínio ou à
soberania de outro país.), 11 (Tentar desmembrar parte do território nacional para constituir país
independente), 17 (Tentar mudar, com emprego de violência ou grave ameaça, a ordem, o regime
vigente ou o Estado de Direito) e 18 (Tentar impedir, com emprego de violência ou grave ameaça, o
livre exercício de qualquer dos Poderes da União ou dos Estados) são exemplos de crimes em que
somente se pune a forma tentada.
Ao analisar detidamente os tipos penais referidos, verifica-se que se o agente conseguir seu
intento, não será punido porque a alteração e subversão da ordem jurídica acabará por lhe favorecer,
haja vista que passará a integrar outro Estado que ajudou a formar (arts. 9º e 11), ou porque se
tornou um poderoso ditador após a realização de Golpe de Estado (arts. 17 e 18).

Não confundir delito de atentado (em que a forma tentada é punida com a mesma pena da
forma consumada), visto que nestes há também punição da figura consumada.

18

Potrebbero piacerti anche