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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


12ª CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

Registro: 2014.0000373029

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº


0036283-30.2007.8.26.0114, da Comarca de Campinas, em que é apelante
EDENÍLSON FERNANDES DA SILVA (JUSTIÇA GRATUITA), é apelado
UNIÃO ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDA.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 12ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:Deram
provimento em parte ao recurso. V. U., de conformidade com o voto da relatora, que
integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores JACOB VALENTE


(Presidente) e CERQUEIRA LEITE.

São Paulo, 25 de junho de 2014.

Márcia Cardoso
Relatora
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
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12ª CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

Apelação Cível (com revisão) nº 0036283-30.2007.8.26.0114


Comarca: Campinas (6ª Vara Cível)
Processo nº 114.01.2007.036283-9
Apelante: EDENÍLSON FERNANDES DA SILVA (justiça gratuita)
Apelado: UNIÃO ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDA.
Juiz: Gilberto Luiz Carvalho Franceschini
Voto nº 1032

Consórcio Ação de rescisão de contrato c.c. indenização


Consumidor que foi vítima de golpe praticado pelo parceiro
comercial de administradora de consórcio
Reconhecimento de responsabilidade objetiva e solidária
Contrato rescindido por culpa da ré Danos materiais e
morais configurados Ação procedente em parte. Recurso
parcialmente provido.

Cuida-se de Apelação Cível objetivando a


reforma da respeitável sentença (fls. 213/215) que, em ação de rescisão
contratual c.c. indenização, julgou improcedente o pedido inicial,
condenando o autor ao pagamento das custas processuais e verba
honorária de 10% sobre o valor da causa, ressalvado o disposto no artigo
12 da Lei nº 1.060/50.

Apela o autor (fls. 221/229), pretendendo


reforma do julgado para reconhecer a responsabilidade da ré pelos fatos
narrados, condenando-a ao pagamento de danos materiais e morais, além
dos honorários advocatícios e demais cominações de estilo.

Sustenta: a) Os documentos acostados nos


autos não permitem o entendimento de que o Sr. José Ricardo Franco
não seria o preposto da ré (fls.: 14 verso, 15/16, 30, 44, 46, 47, 61/63,
185, 189). O “Sr. Franco” sempre se apresentou como vendedor da ré,
inclusive nas tratativas relacionadas com o pagamento e transferências;

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b) O “Sr. Franco”, na qualidade de funcionário da ré, ofertou outra


carta de crédito à parte autora, sendo prometido ao adquirente
determinados valores para aquisição de imóvel e abatimento dos
pagamentos do consórcio inicial, mas restou da promessa apenas
prejuízo ao autor; c) Por fim, destaca aplicação dos seguintes
dispositivos ao caso: artigos 139, II, e 932, III, do Código Civil; artigos
4º, 6º e 29 do Código de Defesa do Consumidor.

Não houve apresentação de contrarrazões (fls.


236).

Recurso tempestivo e isento de preparo ante a


gratuidade processual concedida ao autor (fls. 53).

É o relatório.

O autor alegou que, em 12/12/2005, celebrou


com a ré “contrato de adesão a grupo de consórcio para aquisição de
bens imóveis” nº 120955 (fls. 14/18 e 21/26), no valor de R$
30.000,00, mediante pagamento inicial de R$ 916,91 e 120 parcelas de
465,00. Na primeira semana da adesão ao contrato, ofereceu lance de R$
12.000,00 com esperança de adquirir sua casa própria. Contudo, como o
imóvel interessado não possuía “habite-se”, a ré negou a concessão do
crédito consorciado. Na sequência, os representantes da ré,
especialmente o Sr. José Ricardo Franco de Oliveira, insistiram para
uma nova aquisição de Carta de Crédito Imobiliário junto à Caixa
Econômica Federal, a qual restou aderida (fls. 32/33 em 03/02/2006),
com pagamento inicial de R$ 12.000,00 (parte do pagamento da carta de
crédito) mais R$ 600,00 para despesas, e a promessa de transferir a sua
quota do primeiro consórcio a outra pessoa com a devolução das
quantias pagas. Entretanto, o contrato firmado não corresponde com as
tratativas anteriores, pois acabou perdendo os direitos sobre o primeiro
consórcio ante a inadimplência. Além disso, o valor de R$12.000,00,

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entregue aos prepostos da ré, não foi abatido do montante objeto do


novo contrato de consórcio.

Inconformado, o autor, ora apelante, requereu a


condenação da ré ao pagamento de indenização por danos morais e
materiais.

Pois bem.

DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA E
SOLIDÁRIA DA RÉ:

A ré, em sua contestação (fls. 56/73), não nega


que o Sr. José Ricardo Franco de Oliveira é seu vendedor, de modo a
corroborar as alegações iniciais e as cópias dos instrumentos contratuais
(fls. 16 e 32/33) que contém a indicação do nome desse parceiro em
ambos os contratos, além dos recibos de pagamento de fls. 28/29.

Assim, ante a teoria da aparência, acolhe-se a


versão de que o autor foi vítima de golpe praticado pelo parceiro
negocial da ré, pois aos olhos do consumidor o vendedor age como se
fosse a própria administradora de consórcio.

A legislação consumerista, nos termos do artigo


34, estabelece que “o fornecedor do produto ou serviço é solidariamente
responsável pelos atos de seus prepostos ou representantes autônomos”,
de forma que a ré, ora apelada, responde objetiva e solidariamente pelos
danos ocorridos com o consumidor.

Confira-se:

“Solidariedade e deveres de boa-fé: O parágrafo único do


art. 7º traz a regra geral sobre a solidariedade da cadeia de fornecedores de produtos e

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serviços. O art. 34 repete a ideia do sistema geral do direito civil, de que o empregador é
responsável pelos atos de seus prepostos (art. 932, III, do CC/2002, antigo art. 1.521, III,
do CC/1916), mas inova ao visualizar uma cadeia de fornecimento solidariamente
responsável (todos e cada um por todos) entre o preposto (com vínculo trabalhista) ou o
representante autônomo (sem vínculo trabalhista) e o fornecedor principal de produto e
serviço, ou organizador da cadeia de fornecimento de produtos e serviços. O CDC impõe a
solidariedade mesmo àqueles que teoricamente são independentes, tendo em vista o fim
comum, que é fornecer o produto e o serviço. Segundo o parágrafo único do art. 7º, tendo
mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos
previstos nas normas de consumo, norma que vem repetida no art. 25, § 1º. A consequência
da norma do art. 34 é que os deveres de boa-fé, de cuidado, de cooperação, de informação,
de transparência, de respeito à confiança depositada pelos consumidores serão imputados a
todos estes fornecedores diretos, indiretos, principais ou auxiliares, e caberá a escolha,
contra quem acionar ou a quem reclamar, somente ao consumidor” (Cláudia Lima
Marques, Antônio Herman V. Benjamin, Bruno Miragem, “Comentários ao Código de
Defesa do Consumidor”, 3ª. ed. rev., São Paulo, Editora dos Tribunais, 2010, p. 708).

Outrossim, reporto-me ao seguintes julgados:

“AÇÃO DE COBRANÇA C.C. INDENIZAÇÃO POR


DANOS MORAIS E MATERIAIS - Consórcio de bem móvel - Autora que aderiu ao grupo
em razão de ter sido vítima do golpe da venda da “cota contemplada” Provas dos autos
que demonstram a veracidade dos fatos narrados na inicial - Rescisão do contrato com a
devolução imediata do valor pago - Pretensão à devolução das parcelas pagas quando do
encerramento do grupo e abatimento dos valores relativos à taxa de administração e seguro -
Inadmissibilidade no caso por não se tratar de desistência do grupo ou exclusão da
consorciada - Recurso improvido.” (14ª Câmara de Direito Privado, Apelação
nº0121262-15.2008.8.26.0008, rel. Des. Ligia Araújo Bisogni, j. 5 de junho de 2013).

“Contrato. Consórcio. Alegação de que representante da


Administradora de Consórcios ofertou cota contemplada, apurando-se mais tarde que a
informação não estava correta. Rescisão contratual mantida. Dano moral e material
configurados. Recurso desprovido.” (20ª Câmara de Direito Privado, Apelação
0006066-84.2009.8.26.0000, rel. Des. Luis Carlos de Barros, j. em 26/03/2012).

“APELAÇÃO. Ação anulatória de contrato cumulada com


pedido de reparação de danos julgada improcedente. Consórcio. Bem móvel. Adesão a
grupo em andamento, sob promessa de rápido recebimento de carta de crédito
contemplada. Negócio firmado com base em informações imprecisas, desprovidas da devida
transparência e publicidade que devem nortear os contratos de consumo. Circunstâncias
indicativas de que houve irregularidade na captação do negócio. Hipótese que não se
confunde com mera desistência ou exclusão de consorciado. Restituição imediata dos
valores acolhida. Dano moral não caracterizado. Sentença reformada. Recurso

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parcialmente provido.” (21ª Câmara de Direito, Apelação 0142087-24.2010.8.26.0100, rel.


Des. Silveira Paulilo, j. em 15/02/2012).

Nem se alegue que o dano mencionado na


inicial seria decorrente de uma “negociação particular” (fls. 61) entre o
Sr. José Ricardo Franco e o autor, quando este (ou sua esposa) firmou
outro contrato de consórcio com a Caixa Consórcios.

O Sr. José Ricardo Franco de Oliveira, preposto


da ré, após intermediar a contratação do consórcio por ela administrado,
ofereceu ao autor a pactuação de novo consórcio, agora administrado
pela Caixa Consórcios e com carta de crédito já contemplada. Para tanto,
recebeu do autor a quantia de R$12.000,00 (fls. 28) comprometendo-se a
providenciar o abatimento desse montante do saldo devedor do novo
ajuste. Porém não cumpriu o prometido. Veja-se que o instrumento de
cessão de direitos (assinado pelo próprio José Ricardo, na qualidade de
procurador do cedente fls. 32, 189) menciona a existência de carta de
crédito de R$31.200,00 e de saldo devedor equivalente a R$35.084,96.
Nada nos autos demonstra que tenha sido abatido o valor de
R$12.000,00 do saldo devedor junto à Caixa Consórcios. Ainda, não
houve a prometida transferência da sua quota do primeiro consórcio a
outra pessoa com a devolução das quantias pagas.

A aquisição do novo consórcio não ocorreu de


forma isolada, mas sim como um dos componentes da transação
indicada e intermediada pelo parceiro negocial/vendedor da ré.

Importante ressaltar que as alegações


constantes da inicial são verossímeis, corroboradas pelos documentos
que a instruem. Cabível, assim, a inversão do ônus da prova em favor do
consumidor (artigo 6ª, VIII, CDC) no que se refere às condições da
negociação oferecida e intermediada pelo parceiro da ré.

DA RESCISÃO DO CONTRATO e DOS


DANOS MATERIAIS E MORAIS:

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Responde a ré pela devolução ao autor dos


seguintes valores: a) - R$ 12.000,00, entregues ao parceiro da empresa
ré para abatimento do saldo devedor junto à Caixa Consórcios (fls. 28);
b) - R$ 916,91, referentes ao pagamento da primeira parcela do
consórcio administrado pela ré (fls. 58).

Quanto às despesas no valor de R$ 600,00,


restou comprovado o pagamento feito pela Srª Maria da Paz da Silva
(fls. 29), terceira que não faz parte da lide. No mesmo sentido, a
pretensão ao recebimento de indenização referente aos aluguéis não
merece guarida, posto que não demonstrada efetiva possibilidade de
aquisição da casa própria pretendida.

Patente é, no presente caso, o sofrimento


injusto do autor, vítima da ação de falsários e lesado em seu patrimônio,
situação que não pode ser considerada como um mero dissabor, mas sim
apta a causar aborrecimentos que extrapolam o limite do razoável, o que
configura dano moral indenizável e que não necessita de demonstração,
na medida em que se trata de fenômeno que afeta qualquer pessoa com
um mínimo de preocupação e apreço por sua honra e dignidade.

No que tange a fixação ao valor do dano moral,


deve-se observar que seu arbitramento levará em conta as funções
ressarcitória e punitiva da indenização, bem como a repercussão do dano
e a possibilidade econômica do ofensor, não podendo o dano moral
representar procedimento de enriquecimento para aquele que se pretende
indenizar.

Assim, considerando-se a situação descrita nos


autos e os dissabores relatados, a indenização deve ser fixada no valor de
R$ 6.000,00 (seis mil reais), quantia que se mostra adequada para
compensar o exacerbado grau de transtorno suportado pelo apelante.

Conforme a Súmula 362 do C. STJ, o valor ora

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arbitrado a título de danos morais será corrigido monetariamente a


contar da data da publicação deste acórdão e acrescido de juros de mora
a partir da citação, de acordo com o disposto no artigo 405 do Código
Civil.

Por fim, ante a sucumbência mínima do autor,


responde a ré integralmente pelas verbas de sucumbência.

Ante o exposto, dá-se parcial provimento ao


recurso a fim de julgar a ação parcialmente procedente para: a) -
declarar a rescisão do contrato de consórcio por culpa da ré (fls. 14/27);
b) - condenar a ré a devolver os valores desembolsados pelo autor (R$
12.000,00 e R$ 916,91 fls. 28 e 58), observando-se correção monetária
desde o desembolso e juros moratórios legais a partir da citação; c) -
condenar a ré ao pagamento de indenização por danos morais fixada em
R$6.000,000, montante a ser corrigido a partir da publicação deste
acórdão e acrescido de juros moratórios legais desde a citação; d)
condenar a ré ao pagamento de custas, despesas processuais e honorários
advocatícios, estes fixados em 10% sobre o valor da condenação.

MÁRCIA CARDOSO
Relatora

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