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JULGAMENTO DE CRISTO E SUAS IRREGULARIDADES.

INTRODUÇÃO. IRREGULARIDADES: LEI


MOSAICA X PROCESSO DE JESUS CRISTO.
JULGAMENTO DE CRISTO POR PÔNCIO
PILATOS. CONCLUSÃO.

Durvalina Maria de Araújo. Advogada associada ao


Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM).

1 INTRODUÇÃO

A polêmica do filme dirigido por Mel Gibson sob o titulo “A Paixão de Cristo” nos chama atenção para o
absurdo e o excessivo flagelo imposto a Jesus. Assim, analisaremos os fatos expostos no filme e demonstraremos as
irregularidades ocorridas, desde a prisão de Cristo até sua crucificação.
O Julgamento de Jesus de Nazareth, réu no processo, se deu na plena vigência da Lei Mosaica, norma esta,
compilada por Moisés advinda de usos e costumes, normas religiosas e civis e do Velho Testamento, sendo
transportada para o povo hebraico com vistas a regular a conduta social do seu povo. Conhecida por sua objetividade
perdura até os nossos dias com brilhantismo.
É importante ressaltar sua perpetuidade destacada pelo estadista bíblico Moisés que utilizava o velho
testamento dividido em cinco livros: Gênese, Êxodo, Números, Levítico e Deuteronômio, sendo este último de maior
importância, encerra a última fase legislativa.
O Deuteronômio (segundas leis – 1400 a 1300 a. C) representa uma consolidação dos quatro livros
anteriores, determina a destruição dos ídolos, condena os falsos profetas, especifica os animais limpos e os imundos,
fala nos deveres dos Juízes, fala nas testemunhas, nas disposições sobre penas corporais, nas regras para os pesos e
medidas e outras imposições.
É cediço que os hebreus por ser um povo extraordinário conservou sua história, crenças e instituições na
Bíblia até nossos dias, apesar de todas as perseguições, a ignorância e o desamor dos povos sobre eles derramaram
através dos tempos. No processo penal observavam-se três tribunais: o Tribunal dos Três, Tribunal dos Vinte e Três e
o Sinédrio.
O Tribunal dos Três, referido no Deuteronômio como criado por Moisés antes de sua morte, instituído às
portas das cidades, e que conheciam de alguns delitos, com recurso para o Tribunal dos Vinte e Três. Este Tribunal
existia em todas as cidades cuja população fosse superior a 120 famílias, e tinha competência originária, além da
recursal já referida, quando a pena imposta fosse a de morte. Do Tribunal dos Vinte e Três, podia recorrer para o
Sinédrio, tribunal este composto de 70 juízes (daí chamar-se, também, Tribunal dos Setenta), similar ao Tribunal do
Júri na sociedade contemporânea, com o número elevado de jurados, cuja sede era o Templo, e exercia funções
políticas e judiciárias.
A competência à época sempre se apresentava em relação à população destinatária da justiça e a espécie do
crime cometido.
Nesse sentido, o Sinédrio, além de comportar-se como Tribunal de Terceira Instância, julgava
originariamente os profetas, os chefes militares e as tribos acusadas de rebeldia – foi o tribunal que julgou Jesus de
Nazaré, tido como falso profeta. Com a dominação romana era permitido aos judeus utilizarem-se do processo
vigente naquele tempo ou do processo hebreu.
Feita esta analise fática inicial passaremos a examinar tecnicamente as irregularidades do mais famoso
julgamento.

2 IRREGULARIDADES: lei mosaica x processo de Jesus Cristo.

Os absurdos gritantes expostos pelo filme em comento retratam a crueldade imposta ao acusado Jesus de
Nazaré e expõe o rol de irregularidades das normas vigentes à época.
Com escopo de melhor entendermos essas contradições, faz-se necessário algumas considerações acerca do
procedimento adotado para averiguações de crimes à luz da lei hebraica. Naquele período tal como no atual direito
era prevista uma instrução criminal a qual cabia: investigação, acusação, interrogatório e julgamento pelo Tribunal
competente, em que era dado o direito ao réu de ter conhecimento do crime que lhe era atribuído e a apresentação de
sua defesa. Além disso, era imparcial e justa a lei que não permitia à confissão do réu, salvo corroborada por duas
testemunhas.
A lei proibia a acusação mediante traição. Neste julgamento em análise, Judas foi subornado por trinta
moedas para entregar Jesus aos Sacerdotes violando preceitos vigentes.
Assim, diante dessas observações, apresentamos quadro síntese comparativo da Lei Mosaica e o processo de
Jesus:

LEI MOSAICA
PROCESSO DE JESUS
(HEBRAICA OU JUDAICA)
Traição A traição era banida. Foi através da traição de Judas que o suposto
acusado foi apresentado.
Prisão Não era prevista a Prisão Preventiva, somente a Jesus foi procurado e preso ilegalmente à noite,
Prisão em Flagrante Delito. sem qualquer mandado de prisão.
Investigação Previa investigação e acusação, sendo Não existiu qualquer investigação.
necessário ter conhecimento do crime que lhe
era atribuído.
Interrogatório O interrogatório era previsto no Tribunal. Houve interrogatório ilegal por Anás (já não
era Sumo-Sacerdote do Sinédrio).
Confissão A confissão era proibida, porém se associada a O presidente do Tribunal – Caifás - vendo o
duas testemunhas formavam as provas. tumulto entre os conselheiros resolveu interrogar
Jesus (pela ordem hebraica era obrigatório
responder sob juramento de testemunho), o que
não ocorreu.
Testemunhas Imprescindível, no mínimo, duas testemunhas Foram aliciadas 08 testemunhas, porém tão
desde que não houvesse contradição. contraditórias que os membros do Tribunal a
dispensaram, sendo convocadas mais duas que
também não foram concordes.
Julgadores Os membros do Tribunal tinham que ser Foram convocados com urgência no meio da
notificados oficialmente. noite, e ainda, somente àqueles que já tinham se
reunido para decidir sobre a prisão de Jesus.
Impedimentos Havia proibição de que qualquer parente amigo Os membros do Tribunal eram inimigos.
ou inimigo do acusado o julgasse.
Julgamento Nos dias nefastos eram proibidos qualquer A prisão e julgamento de Cristo foram na
prisão ou julgamento. véspera da sábado de Páscoa.
Rito As assembléias e Comissões dos Tribunais No julgamento de Cristo foram desrespeitadas
tinham datas oficiais para julgar, sempre as exigências legais ocorrendo na sexta-feira.
segundas e quintas feiras.
Competência Para o tipo de crime (BLASFÊMIA) atribuído a Pôncio Pilatos julgou-se incompetente em
Jesus o Tribunal dos Setenta-Sinédrio era o ratione materiae (crime de blasfêmia) e ratione
competente. loci (Cristo sublevava o povo, ensinando-o
domicílios diversos - Nazaré na Galiléia) e
passa para Herodes (Governador da Galiléia)
que também não vê culpa.
Prazo Em crimes de pena capital o julgamento que O Julgamento de Jesus foi inferior a 24 horas.
condenasse não poderia ser concluído no mesmo
dia.
Tipificação Era preciso para caracterizar a Blasfêmia que Caifás pergunta a Jesus – És o Cristo, o Filho de
Cristo pronunciasse a palavra DEUS. Deus? – e ele respondeu - Em verdade vos digo:
doravante vereis o filho do homem sentado à
direita do Todo Poderoso, não ocorrendo a
conduta típica deflagrada.
Veredicto Quando o veredicto é unânime pela Concluído o interrogatório por unanimidade
condenação resulta em absolvição. proferiram o veredicto: É réu de morte.

Pena Para os crimes capitais o Tribunal poderia A pena foi de morte, porém o Sinédrio não tinha
infligir quatro tipos de pena de morte: competência para executá-la. Somente o
lapidação, abrasamento, decapitação e Governador – Procurador Pôncio Pilatos é quem
estrangulamento. tinha o poder.

3 JULGAMENTO DE CRISTO POR PÔNCIO PILATOS

Pôncio Pilatos - Governador de Jerusalém e procurador Imperial - tinha o dever de rever todas as evidências
e procedimentos nos casos capitais trazidos pelos líderes Judeus, já que, o primeiro julgamento fora feito pelo
Sinédrio, sendo necessário a sua revisão. Portanto, coube a ele passar para a história como o julgador final de Cristo.
Assim, os sacerdotes levaram Jesus à presença da autoridade Romana que os recebeu dizendo: “...que
acusação trazeis contra este homem?”. Os sacerdotes sabiam da importância da pergunta, então responderam
indiretamente: “Se não fosse um malfeitor, não te entregaríamos”.
Em verdade, havia na afirmativa dos sacerdotes uma tentativa de limitar a jurisdição e induzi-lo a agir de
acordo com a vontade deles. Isso o irritou e ele revidou: “Levai-o vós, e julgai-o segundo a vossa lei!”. Os sacerdotes
foram então forçados a admitir: “A nós não nós é lícito matar pessoa alguma”.
Se os sacerdotes apresentassem Jesus como um homem condenado por blasfêmia com o depoimento de
apenas duas testemunhas que não concordaram entre si, Pilatos reverteria o veredicto. Se eles apresentassem Jesus
como alguém condenado por sua própria confissão, Pilatos também dispensaria o veredicto. E, é claro, se eles
informassem que Jesus havia sido condenado por votação unânime, Pilatos entraria com um veredicto de absolvição,
porque assim dizia a lei hebraica.
Então, os maliciosos sacerdotes apresentaram Jesus a Pilatos sob uma nova acusação inventada naquele
momento: traição a César. "Havemos achado este, pervertendo a nossa nação", disseram eles, "proibindo dar o tributo
a César, e dizendo que ele mesmo é Cristo, o rei”.
Essa acusação se apresentava como sedição (revolta, motim, crime contra o Estado) que era menos odiosa
que a traição. Ela exigia a prova de uma motivação corrupta para a condenação, mas ainda nenhum motivo maldoso
se pode provar que existira em Jesus.
Após várias tentativas de Pilatos em se esquivar de sua responsabilidade e aplicar a lei, não houve outra
alternativa, por covardia e receio de perder seu prestígio junto ao Imperador e por estar protegendo alguém que era
considerado pelos mais influentes de seus conterrâneos como culpado de traição. Pilatos não teve a coragem de lutar
pela justiça contra esses sacerdotes coléricos.
Diante disso, como era costume durante a Páscoa libertar um prisioneiro escolhido pelo povo, através de
voto popular, escolhendo dentre àqueles sentenciados à morte, o que teria o benefício, Pilatos perguntou aos
sacerdotes: "Qual quereis que vos solte? [Jesus] Barrabás, ou Jesus chamado Cristo?". Eles clamaram, é claro, pela
libertação de Barrabás, o notório ladrão e assassino. "Que farei então de Jesus, chamado Cristo?", perguntou Pilatos.
A resposta é por demais conhecida. Enfraquecido e temeroso de retaliações do imperador César, diante
daquela ferocidade implacável, entregou Jesus para a crucificação. Mandando trazer água lavou suas mãos diante da
multidão e anunciou: “Estou inocente do sangue deste justo: considerai isso”.
Assim, Jesus fora sentenciado à crucificação contrariando as leis romanas e hebraicas.
Não se pode olvidar que esse julgamento guarda semelhanças com o atual instituto do júri, por seus atos
coletivos e votação pelo povo e seus juízes leigos.
Com a evolução do homem e o surgimento de novas relações houve a necessidade de modernizar o direito e
adaptá-lo a cada sociedade visando impedir os excessos e não permitindo que erros profundos ocorridos no passado
se repitam com tal brutalidade e insensatez.

4 CONCLUSÃO

Traçar o regime jurídico e as irregularidades do julgamento de Jesus de Nazaré, a partir do estudo de sua
expressão histórica até sua dogmática coeva, é estabelecer a natureza jurídica dos institutos pertinentes ao assunto.
Em verdade, conforme notas introdutórias, esta pesquisa foi elaborada com o escopo de analisar o rito e a atuação dos
seus operadores perante as formas jurídicas e suas distinções diante dos ensinamentos respeitantes.
Sobre o ordenamento jurídico pertinente a espécie, percebe-se a escassez doutrinária sobre o assunto e a
dificuldade de entendimento técnico sem qualquer influência religiosa.
Destarte, justifica-se que este compacto estudo buscará contribuir para o exame das formas processuais
existentes a cada sociedade e os desvios patrocinados pelos homens que deveriam cumprir as leis.
Finalmente, de tudo que foi cuidadosamente analisado, firmamos nossas conclusões a respeito do título
proposto:
1 A Lei Mosaica era tida como imparcial e meticulosa. Acaso tivessem seguido os preceitos nela contidos,
não teria havido condenação por ausência de conduta típica do acusado Jesus.
2 Houve um julgamento por interesse político-jurídico contrariando as regras mosaicas, não diferenciando
da influência externa que pode tocar no magistrado contemporâneo e subverter o tecnicismo aplicável à
espécie.
3 O julgamento de Cristo não houve sentença formal, revelando mais uma vez todo o manto de ilegalidade
cometida pelos julgadores. No direito pátrio, seguindo o rito processual penal, após o julgamento é
elaborada formalmente a sentença contendo: preâmbulo, relatório, fundamentação, decisão, parte
autenticada e publicação.
4 A sentença moderna visa amparar decisões justas, almejando impedir qualquer injustiça ao réu,
enquanto a sentença romana que condenou Jesus, estaria nula mesmo em sua época, em total absurdo
aos padrões do direito e da justiça.
5 No momento em que o Estado evolui, passa por transformações em que busca o atendimento das
necessidades coletivas com o fito de lograr mais eficiência na prestação jurisdicional e combater as
injustiças, faz-se necessário estabelecer, portanto, rigorosas formas processuais com magistrados
voltados a técnica e a ética na manifestação dos seus atos.
6 Nota-se imperioso que a justiça atual, espelhada nos erros do passado, busque considerar as
condicionantes sociais, permitindo concluir ser um sistema frágil quando aplicado por profissionais
despreparados e sem formação moral. Em síntese, toda perquirição empreendida parece revelar a
necessidade de se robustecer uma formação ética, plúrima e equilibrada dos julgadores.

Da perspectiva abordada podemos ver que o assunto não se esgota neste compacto estudo, requerendo uma
constante diligência e análise profunda dos reclames da sociedade como forma de solução de seus conflitos.
Em últimas palavras, emerge a necessidade de aprimoramento do tecnicismo jurídico aplicado à entrega da
prestação jurisdicional, apoiado nos princípios éticos e no regime legal da matéria.

BIBLIOGRAFIA

BARBOSA, Mário Figueiredo. No cotidiano dos fatos e das pessoas. Belo Horizonte: Nova Alvorada, 1998

CONDENAÇÃO e morte de Jesus. Disponível em: < http://www.lobocom.es/~lgalvan/s7.htn >. Acesso em


30.10.2001

O JULGAMENTO de Jesus. Disponível em: < http://www.jurisdictionary.com/Essays/Trial_of_Jesus.htm. > Acesso


em 30.10.2001.

MARCHER, José Lisboa da Gama. Manual de processo penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1999.

TCHÁPEK, Karel. Histórias apócrifas. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994.

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