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Campus Sorocaba
Sorocaba
Junho de 2018
1. INTRODUÇÃO
Desde os primórdios do estágio atual da humanidade, do homem racional, capaz de se
expressar pela escrita, busca-se explicações para os fenômenos observados e também
informações que permitam à humanidade entender suas origens, bem como de todo o
universo.
Diversas teorias sobre a origem do Universo foram formuladas ao longo desses quase seis
mil anos do homo sapiens, na forma como hoje nos apresentamos.
Diversas civilizações criaram teorias que englobam o que chamamos de “criacionismo”,
na qual tudo veio a existir por meio da ação de um Criador, sendo o universo e o homem
entidades totalmente passivas nesse processo. Esses ensinamentos sempre foram
dominados pelas religiões e se mantiveram distantes das descobertas científicas.
Uma teoria pouco conhecida cuja descrição e escrita se atribui a Abraão, que por sinal é
um personagem bíblico que deu origem ao povo judeu, é o Livro da Formação (Sefer
Yestzirah), escrito em aramaico e que descreve a criação da Terra a partir de energias
ligadas aos astros, sete. Interessante que embora se mencionem ali o princípio masculino e
feminino, não descreve a criação nos mesmos termos que a Bíblia ao mencionar Adão e
Eva. Fala de várias dimensões e portais que podem muito bem relacionarem-se com os
conceitos em estudo das teorias modernas. O próprio relato bíblico da criação pode ser
entendido como um código, que de modo alguns contraria a Ciência, podendo até mesmo
complementá-la. Mas essa teoria não é escopo deste trabalho. Está sendo mencionada
apenas para ilustrar o grande leque de conceitos e ideias existentes, mas que podem vir a
convergir no futuro para um mesmo conhecimento, quando o homem entender melhor seus
objetivos e o objetivo de tudo que existe.
Os gregos, mais abertos sobre as deidades, não se restringindo a apenas uma, propuseram
teorias de formação do universo a partir de quatro elementos: água, terra, fogo e ar. Foi
deles também a ideia de uma partícula mínima que comporia toda a matéria do universo, a
qual chamaram de átomo. Suas ideias tinham um alto valor filosófico, mas necessitavam
do embasamento teórico para serem consideradas científicas.
A Ciência como pesquisa, elaboração de conceitos, experimentação e organizadora de
conhecimentos, passou a criar forma a partir do século XVI, com Nicolau Copérnico e sua
teoria heliocêntrica, Brahe, medindo as posições dos planetas no céu, século XVII com
Galilleu, que começou a observar os céus usando um telescópio, fabricado por ele mesmo.
Também nesse século outros nomes despontaram, como Kepler e suas leis sobre os
movimentos planetários e Newton com sua Lei da Gravitação Universal. Nos séculos
seguintes houve grande evolução do entendimento de funcionamento do Universo, quando
Einstein propõe no início do século XX, sua teoria da Relatividade Geral, que lançou a
base para as teorias mais modernas da origem do Universo, como a do Big Bang. Conforme
veremos, diversas descobertas posteriores deram corpo a essa teoria, tornando-a hoje uma
das mais aceitas. Paralelamente às descobertas cosmológicas durante o século XX, a física
das partículas, que investigava a composição da matéria, também evoluiu no que
identificamos como Mecânica Quântica. (HEWITT, 2002).
A teoria quântica não conversa com a Teoria da Relatividade Geral de Einstein no que diz
respeito à natureza e comportamento da força gravitacional e, isso, incentivou a elaboração
de novas teorias que venham a unificar esses conhecimentos, mas que ainda não puderam
ser comprovadas. Entre elas estão as teorias das cordas, das supercordas e a teoria M, entre
outras (HAWKING, 2001).
Nos itens a seguir, vamos apresentar os aspectos teóricos da Física envolvida nas Teorias
de Origem do Universo, descrevendo as teorias do Universo Eterno (estado estacionário),
a Teoria da Cosmologia do Plasma, o Modelo de Eddington, a Cosmologia Cíclica e,
finalmente, a Teoria do Big-Bang, nos atendo mais a ela, face ao seu desenvolvimento com
agregações importantes à sua comprovação.
2. ENUNCIADO DOS CONCEITOS FÍSICOS E MATEMÁTICOS
Falar deste assunto do ponto de vista científico não é tão simples, pois, apesar de toda
evolução e descobertas nessa área nos últimos 150 anos, ainda não se tem uma teoria que
possa se chamar de conclusiva sobre a origem do universo.
Alguns cientistas defendem a ideia de que o universo é eterno, ou seja, não teve inicio e
nem terá fim. Outros acreditam que houve um início, mas ainda não conseguem descrever
cientificamente como ele se deu. Abordaremos a seguir algumas teorias e sempre que
possível indicaremos os pontos comuns e divergentes entre elas.
A Figura 1 ilustra um evento atual onde o telescópio Hubble detectou a luz proveniente
de uma estrela sofrendo a ação da deformação do espaço-tempo, conforme proposto
por Einstein.
Figura 1: Ilustração que mostra como a gravidade de uma anã branca deforma o espaço-tempo e curva a luz de uma estrela
localizada atrás dela. Imagem obtida da página: https://veja.abril.com.br/ciencia/einstein-estava-certo-cientistas-pesam-
estrela-usando-gravidade, consultado em 26/06/2018.
Quando formulou sua Teoria Geral da Relatividade, Einstein deu corpo à ideia de que
o universo não é estático, pois, ao se deformar o que ele chamou de espaço-tempo, os
corpos se aproximam ou se afastam. Sua crença no universo estacionário era tão intensa
que ele modificou suas equações iniciais para incluir um efeito compensador da
gravidade, que ele chamou de constante cosmológica.
A equação formulada por Einstein pode ser escrita como:
onde Rik é o tensor espaço-tempo, gik são as componentes do tensor métrico e dependem
do sistema de coordenadas usado e da unidade da coordenada temporal, Tik é o tensor
momentum-energia, que depende da distribuição e movimento das massas e do campo
eletromagnético, é a constante cosmológica, que pode ser nula, e é a constante
gravitacional de Einstein (OLIVEIRA F, 2018).
A ideia de universo estacionário foi deixada de lado, quando se verificou com grande
precisão que as galáxias estão em movimento de afastamento umas das outras. Essa
expansão do universo será descrita com maiores detalhes no item 2.5. O próprio
Einstein considerou um erro precipitado descrever uma constante cosmológica para
justificar um Universo estático, pois suas equações originais ajustavam-se
perfeitamente ao universo em expansão então observado. Entretanto, pesquisas atuais
Mostram um retorno da constante cosmológica associada à energia escura, a qual ainda
está em estudo e que é considerada como uma energia negativa que contrabalança a
energia positiva da matéria que curva o espaço-tempo, de modo a manter o balanço
energético no nível cosmológico. (NEVES, O Eterno Retorno, 2013)
Figura 4: Ilustração de dois filamentos de plasma de dimensões galácticas interagindo e emitindo um pulso de radiação
sincrotron que dura 4 milhões de anos ou mais
O Universo de Plasma pode ser eterno e infinito, o que contradiz a Teoria do Big Bang, que
abordaremos no capítulo 2.5, que é a mais aceita atualmente. A beleza dessa teoria é que
ela elimina os paradoxos e os nós existentes em outros modelos como a energia escura que
até o momento ainda não se consegue definir e, que no universo de plasma é desnecessária,
pois as forças eletromagnéticas de atração e repulsão que atuam no plasma são muito mais
intensas que a força gravitacional. Há ainda outras questões antigas que não fazem sentido
num universo de plasma, e que remontam à época de Newton, conhecida como paradoxo
de Olbers ou paradoxo da noite escura. Esse paradoxo questiona a impossibilidade de noites
escuras caso o universo fosse infinito e estático. Qualquer linha de visão encontraria uma
estrela e o céu brilharia constantemente. No modelo de plasma, esse paradoxo desaparece,
pois, as radiações abrangem todo o espectro eletromagnético associado a um corpo negro
e ao nascimento, vida e morte de uma estrela e não apenas à faixa da luz visível. (PERATT,
1992)
Um dos problemas dessa teoria é que as simulações e experimentos realizados em
laboratórios são ambientes controlados e haveria paredes no universo? Talvez sim, mas
muito ainda precisa ser investigado. (PERATT, 1992).
o opaco e impedindo que a luz brilhe. Cerca de 379 mil anos depois, a temperatura cai para
2970K, os íons combinam-se com os elétrons formando os átomos e os fótons podem agora
viajar longas distância sem interagir com a matéria. A radiação de fundo que será descrita
mais à frente, refere-se a esse período. Os átomos de hidrogênio e hélio começam a se
aglomerar formando as nuvens cósmicas de gases que darão início às estrelas e galáxias.
(HALLIDAY, RESNICK, & WALKER, 2012).
Quando foi proposta inicialmente, essa teoria não ganhou grande aceitação entre os físicos.
Entretanto, atualmente ela é bastante aceita em função principalmente de duas descobertas
que se mostram incontestáveis entre os físicos: a expansão do universo e o ruído cósmico
de fundo.
2.5.1. Expansão do Universo
Em 1912, ao observar galáxias, os físicos Slipher e Pease, perceberam um desvio das
linhas espectrais para o vermelho (z), em relação à emissão espectral de comprimento
de onda padrão (variação é positiva, indicando aumento do comprimento
de onda medidoEntão:
∆𝜆
𝑧=
𝜆𝑜
(INSTITUTO ASTRONÔMICO E GEOFISICO, 1991)
No final da década de 1920, o físico Edwin P. Hubble, afirmou que o universo estava
em expansão, contrariando a ideia de Einstein de um universo estático. As pesquisas de
Hubble evoluíram nos anos seguintes e confirmaram o afastamento das galáxias com
velocidades (v) que podiam ser calculadas por uma lei, chamada Lei de Hubble, na qual:
𝑣 = 𝐻𝑅
Onde R é a distância da galáxia até nós e H é a constante de Hubble e vale
aproximadamente 71km/s.Mpc = 21,8mm/s.anos-luz17x10-3m/s.anos-luz. Utilizando
essa constante na equação acima, podemos calcular a idade do Universo (T)
(HALLIDAY, RESNICK, & WALKER, 2012).
𝑅 𝑅 1
𝑇= = = = 13,8. 109
𝜐 𝐻𝑅 𝐻
Ou seja, o universo teve início há 13,8 bilhões de anos. Posteriormente, cálculos mais
precisos chegaram ao valor de 13,7 bilhões de anos.
A expansão do Universo é detectada a partir da observação de um desvio da luz emitida
pelas galáxias para o vermelho, o que é chamado em inglês de “redshift”. A relação
entre esse desvio e a conclusão de que o universo está em expansão pode ser explicada
pelo efeito doppler. Embora estejamos tratando de ondas eletromagnéticas, esse efeito
pode ser muito bem percebido também para ondas sonoras. Por exemplo quando uma
ambulância com a sirene acionada se aproxima de nós, percebemos seu sinal mais
agudo, ou seja, frequências mais altas e consequentemente, comprimentos de onda
menores. Quando ela começa a se afastar, o som fica mais grave, o que indica
comprimentos de onda maiores. Observe a Figura 6.
Figura 6: Efeito doppler para uma onda sonora ff é a frequência da fonte e fo é a frequência do observador.
(extraída do site https://educacao.uol.com.br/disciplinas/fisica/efeito-doppler-calcule-a-frequencia-sonora-
percebida-pelo-observador.htm acesso em 26/06/2018)
Figura 7: Fotografia do universo nos primordios de sua existência mapeada pela radiação cósmica de fundo. Essa
seria a visão de um observador que olhasse em todas as direções. As manchas luminnosas são aglomerados de
átomos, mas galáxias e estrelas ainda não se formaram. (imagem divulgada pela WMAP Science Team/NASA)
HEWITT, P. G. (2002). Física Conceitual 9a. Edição. (M. H. Gravina, Trad.) Porto Alegre: Bookman.
WEINBERG, S. (1980). Os Três Primeiros Minutos, uma discussão moderna sobre a origem do universo.
(A. Macedo, Trad.) Rio de Janeiro: Guanabara Dois S.A.