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REVISÃO
Alisson Guimbala dos Santos Araujo, M.Sc. Ft.*, Cristhine Görgen, Ft.**, Mariana Calazans da Silva, Ft.**
*Supervisor do Ambulatório de Disfunções Músculo-Esquelética da Faculdade Guilherme Guimbala - FGG, Especialista em Ortope-
dia e Traumatologia-FGG, **Faculdade Guilherme Guimbala-FGG
Resumo Abstract
Pessoas com doença arterial periférica têm como uma das sinto- Patients with peripheral arterial disease have as one of the symp-
matologias a claudicação intermitente, a qual diminui a autonomia e toms the intermittent claudication, which reduces the autonomy
nível de atividade física. O exercício físico tem se mostrado eficaz na and performance of physical activity. Physical exercise has shown to
maioria dos casos de doença arterial obstrutiva periférica (DAOP). O be effective in most cases of peripheral arterial obstructive disease
objetivo deste estudo foi verificar quais protocolos são mais utilizados (PAOD). The aim of this study was to verify which protocols are
no tratamento da insuficiência arterial periférica em que há presença most used on the treatment of the peripheral arterial insufficiency
de claudicação intermitente. Foi realizada pesquisa bibliográfica nas with intermittent claudication. A literature review was performed
bases de dados eletrônicas, Pubmed e Scielo, a partir dos termos in- on electronic data bases, Pubmed and Scielo, using the terms inter-
termittent claudication, exercise, peripheral arterial obstructive disease, mittent claudication, exercise, peripheral arterial obstructive disease and
exercise therapy. Os resultados encontrados foram 60 artigos, dos exercise therapy. Thirteen out of 60 articles were found with control-
quais apenas 13 apresentavam ensaios clínicos controlados, e foram led clinical trials and were analyzed methods, variables and changes.
analisadas a metodologia, as variáveis e a mudança. Conclui-se que We concluded that patients with PAOD doing aerobic exercises, in
indivíduos com DAOP que realizam exercícios aeróbicos, de uma general, improve gait capacity and consequently functional activity.
forma geral, atingem benefícios sob a capacidade deambulatória e Key-words: intermittent claudication, physical activity, peripheral
consequentemente aumentando a funcionalidade desse indivíduo arterial disease.
na sociedade.
Palavras-chave: claudicação intermitente, exercício físico, doença
arterial periférica.
Em relação ao tempo de duração da intervenção através dois tipos de exercícios podem ser benéficos.
de exercícios, esta variou de seis semanas a 48 semanas. Três Assim obtiveram-se estudos [16,23] comparando o exercí-
estudos [21,24,26] demonstraram duração de seis, oito e vinte cio com ou sem supervisão. O primeiro pode ter a supervisão
semanas, respectivamente, dois estudos [17,24] realizaram o de um profissional (médico, educador físico ou fisioterapeuta),
treinamento por doze semanas, seis estudos [11,15,17-19,22] ou apenas a orientação médica, e os exercícios realizados por
demonstraram duração de 24 semanas, e o treinamento de 48 si mesmo, a qual é a maneira mais utilizada por haver baixo
semanas foi executado em dois estudos [23,25]. custo. Entretanto, na maioria dos casos há o insucesso por
No que se refere à modalidade dos exercícios, a maioria falta de comprometimento do mesmo [10]. Dessa forma,
dos trabalhos envolvidos exibia treino aeróbico [15,18-26] para que os benefícios adquiridos sejam mantidos é preciso
como única modalidade de exercício, sendo a caminhada e continuar com o programa de treinamento, caso contrário
cicloergômetro os mais utilizados. Contudo, um estudo [20] esses poderão ser perdidos.
apresentou atividade combinada, ou seja, exercício aeróbico O estudo de Gardner et al. [18] observou as intensida-
associado a exercício resistido. Já em um grupo do estudo de do exercício físico, submetendo os grupos a exercícios
de Degischera et al. [16] apresentaram terapia por exercício aeróbicos supervisionados, 3 vezes na semana. O grupo de
aeróbico associado à administração de medicamento, clopi- baixa intensidade cessava quando estivesse em 40% da dor
dogrel 75mg. e o grupo de alta intensidade em 80%. Concluindo-se que
A frequência de treinamento prescrita variou de duas até a eficácia dos exercícios de baixa intensidade é semelhante
sete vezes por semana, e mais de 50% realizaram o treina- ao de alta intensidade melhorando assim os marcadores de
mento por três vezes, variando de baixa a alta intensidade. independência funcional em pacientes com DAOP limitada
Geralmente o exercício era realizado até sua dor de claudicação pela claudicação intermitente, aumentando a taxa de adesão
intermitente absoluta. De acordo com Araújo et al. [27], os ao exercício terapêutico, já que muitos pacientes desistem por
pacientes com claudicação intermitente devem ser estimu- causa do desconforto ao realizar o mesmo.
lados a caminhar dez vezes a distância de sua claudicação De acordo com Thompson et al. [28], a atividade física que
intermitente por dia. utiliza vários grupos musculares, como a atividade aeróbica,
As variáveis predominantes nos estudos foram distância tem a capacidade de produzir determinadas adaptações cardio-
de claudicação intermitente inicial, distância de claudicação vasculares, as quais irão aumentar a capacidade do exercício, a
intermitente absoluta, índice tornozelo-braquial e qualidade resistência e a força muscular esquelética, o que em pacientes
de vida. Estas avaliadas, em sua maioria, obtiveram bons com presença de arterosclerose demonstra grande benefício,
resultados. Os estudos analisados tentam buscar o melhor não somente ao risco de progressão, mas também às funções
tipo de exercício físico para os indivíduos com DAOP, que miocárdicas e das artérias, ocorrendo vasodilatação e tonici-
são padronizados e poucos chegaram a alguma conclusão. dade vascular. Além disso, fatores químicos que auxiliam na
Porém o que se tem demonstrado é que esse tipo de exercício formação dos trombos são reduzidos com a prática do exercício
em conjunto ou de maneira isolada demonstra a melhora físico regular, ou seja, haverá aumento da resistência à insulina,
da qualidade de vida, diminuição da taxa de mortalidade e maior intolerância à glicose, diminuição de lipoproteína de alta
melhora no desempenho da caminhada. densidade e aumento de lipoproteína de baixa densidade, e por
Estudos demonstram que exercícios aeróbicos melhoram fim a diminuição em até 72 horas dos triglicérides séricos, este
o desempenho de caminhar, tanto na distância da claudicação último sob efeito de exercício físico rigoroso.
inicial como na distância da claudicação absoluta. No entanto, Contudo, Câmara et al. [6] prescrevem treinamento com
os exercícios resistidos melhoram a distância da claudicação exercício resistido como terapêutica para DAOP. Relata que
inicial e força muscular, melhorando a capacidade de subir e a principal vantagem desse método é o adequado controle
descer escadas [12]. Porém Bendermacher et al. [17] baseiam- de todas as variáveis do movimento (posição, postura, velo-
-se em seu estudo uma combinação com exercício aeróbico cidade, amplitude e intensidade). Este promove o aumento
e resistido em 24 semanas obtendo resultados de distância da frequência cardíaca, aumento da pressão arterial sistólica
de claudicação intermitente e absoluta de 187% e 240%, e diastólica, sendo esta última considerada fator de proteção
respectivamente, demonstrando assim como a junção desses cardiovascular, pois favorece o fluxo coronariano, aumento
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aporte de oxigênio ao miocárdio, tendo como consequência a deambulação e consequentemente a melhora da qualidade
diminuição dos incidentes isquêmicos e arrítmicos. Thomp- de vida, aumentando assim a funcionalidade deste indivíduo.
son et al. [28] ainda comenta que a atividade física pode ser Porém há uma perspectiva para que outros tipos de exercícios
a opção de terapia primária para indivíduos que apresentam sejam inseridos para os portadores da doença arterial periféri-
claudicação intermitente, desde que esta seja a principal ca, assim se faz necessário que mais estudos sejam feitos para
limitação funcional. comprovar a eficácia dos mesmos.
Nos estudos de Silva et al. [29], o exercício físico além
de condicionar melhor o indivíduo com DAOP, também Referências
está diretamente relacionado à diminuição de problemas
que envolvem dependência, como tabagismo, e melhoram a 1. Burihan E, Baptista-Silva JCC. O exame vascular. In: Pitta
sensação de bem estar como também a qualidade de vida dos GBB, Castro AA, Burihan E editores. Angiologia e cirurgia
pacientes. Neste estudo foram analisadas mulheres ativas em vascular: guia ilustrado. Maceió: Uncisal/Ecmal & Lava; 2003.
2. Dias RMR, Salvador EP, Wolosker N, Marucci MFN. Novas
relação ao exercício físico regular e as não ativas, observando
tendências no tratamento de indivíduos com claudicação in-
que as não ativas apresentavam 93% menos percepção positiva termitente por meio de exercício físico. Rev Bras Ciênc Mov
em relação à qualidade de vida, diferentemente do grupo das 2006;14(2):57-62.
mulheres ativas. 3. Arain FA, Cooper LT Jr. Peripheral arterial disease: diagnosis
No estudo de Garg et al. [30] foi avaliada a atividade física and management. Mayo Clin Proc 2008;83(8):944-9.
de forma contínua ao longo de 7 dias e foram acompanhados 4. Gardner AW, Montgomery MS, Parker DE. Physical activity is
anualmente por até 4 anos, percebendo então que quanto a predictor of all-cause mortality in patients with intermittent
maior o nível de atividade física menor são os processos infla- claudication. J Vasc Surg 2008;47(1):117-22.
matórios associados na doença arterial periférica (DAP). Essas 5. Cunha-Filho IT, Pereira DAG, Carvalho AMB, Campedeli L,
alterações fisiológicas e metabólicas associadas com atividade Soares M, Freitas JS. Reliability of walking tests in claudicating
patients: a pilot study. J Vasc Bras 2008;7(2):106-11.
física pode explicar a associação de maior atividade física com
6. Câmara LC, Santarém JM, Wolosker N, Dias RMR. Exercícios
menor declínio funcional em pessoas com DAP. resistidos terapêuticos para indivíduos com doença arterial
Segundo Cassady [31], o exercício físico regular também obstrutiva periférica: evidências para a prescrição. J Vasc Bras
a influencia na angiogênese, formando a circulação colateral, 2007;6(3):247-57.
além de mencionar que o próprio melhora a vasodilatação do 7. Locatelli EC, Pelizzari S, Scapini KB, Leguisamo CP, Silva AB.
endotélio tanto nos vasos periféricos como nos coronarianos. Exercícios físicos na doença arterial obstrutiva periférica. J Vasc
Da mesma forma, Yang et al. [8] descrevem que a hipóxia Bras 2009;8(3):247-54.
muscular é o estímulo provável nas adaptações vasculares do 8. Yang HT, Prior BM, Lloyd PG, Taylor JC, Li Z, Laughlin MH,
músculo isquêmico. Ainda há os efeitos no tecido muscular, et al. Training-induced vascular adaptations to ischemic muscle.
J Phys Pharmac 2008;59(7):57-70.
o qual aumenta a produção de adenosina trifosfato (ATP) e a
9. Hankey GJ, Norman PE, Eikelboom JW. Medical treatment of
atividade mitocondrial e diminui produção de lactato. peripheral arterial disease. JAMA 2006;295(5):547-53.
Treesak et al. [11] realizaram um estudo comparando o 10. SBACV - Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.
custo benefício entre o exercício físico e o procedimento ci- Diretrizes. J Vasc Bras 2005;4(4):234-8.
rúrgico de angioplastia transluminal percutânea, no segmento 11. Treesak C, Kasemsup V, Treat-Jacobson D, Nyman JA, Hirsch
ilíaco. A conclusão desde estudo foi que o exercício, realizado AT. Cost-effectiveness of exercise training to improve claudica-
por seis meses, é mais eficaz e tem menor custo em relação ao tion symptoms in patients with peripheral arterial disease. Vasc
procedimento cirúrgico. Med 2004;9(4):279-85.
Norgren et al. [32] relatam que a claudicação intermitente 12. McDermott MM, Ades P, Guralnik JM, Dyer A, Ferrucci
é um sintoma da doença arterial periférica, a qual limita o L, Liu K, et al. Treadmill exercise and resistance training in
patients with peripheral arterial disease with and without in-
paciente na sua capacidade de andar e como resultado um de-
termittent claudication a randomized controlled trial. JAMA
clínio no desempenho do exercício. Uma vez que a claudicação 2009;301(2):165-74.
é estabelecida como o principal sintoma limitar do exercício, 13. Grams ST, Damiano AP, Monte FG, Mandelli MB, Carva-
o objetivo principal do tratamento através do exercício para lho T. Marcha de pacientes com doença arterial obstrutiva
a claudicação intermitente é aliviar os sintomas durante o periférica e claudicação intermitente. Rev Bras Med Esporte
andar e melhorar o desempenho do exercício e das atividades. 2009;15(4):255-9.
14. Durazzo AES, Sitrângulo Junior CJ, Presti C, Silva ES, Luccia
Conclusão N. Doença arterial obstrutiva periférica: que atenção temos
dispensado à abordagem clínica dos pacientes? J Vasc Bras
2005;4(3):255-64.
Devido aos inúmeros protocolos disponíveis para o trata-
15. Wolosker N, Nakano L, Rosoky RA, Pucch-Leão P. Evaluation
mento dos indivíduos com doença arterial periférica, percebe-
of walking capacity over time in 500 patients with intermittent
-se que ainda a caminhada é o exercício mais utilizado para a claudication who underwent clinical treatment. Arch Intern
promoção dos benefícios como a melhora da capacidade de Med 2003;163(19):2296-2300.
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16. Degischer S, Labs KH, Hochstrasser J, Aschwanden M, Tschoe- 24. Crowther RG, Spinks WL, Leicht AS, Sangla K, Quigley F,
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