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A Teoria do Conhecimento de São Isaque, o Sírio (São Justino Popovich) [Parte 1/2]

Introdução
Na filosofia europeia, o homem sempre aparece, em maior ou menor grau, fragmentado. Em nenhum
lugar ele é visto em sua totalidade, em sua plenitude e integridade; está sempre dividido ou em
fragmentos. Não há qualquer sistema filosófico no qual o homem não esteja dividido em partes;
nenhum pensador jamais foi capaz de levar em conta sua totalidade. Por um lado, o realismo
ingênuo reduz o homem aos sentidos, e então, dos sentidos para as coisas, para matéria, de modo que
o homem não mais pertence a si mesmo, disperso entre as coisas. Por outro lado, o racionalismo separa
o homem de sua compreensão, considera-se a razão a principal fonte da verdade e o critério supremo
de tudo o que é, atribuindo-lhe todo o mérito, tornando-a um absoluto e transformando-a em um ídolo,
enquanto, ao mesmo tempo, subestima-se e despreza-se todas as outras faculdades psíquicas e físicas
do homem. O pensamento crítico, por sua vez, não é mais do que uma apologia ao racionalismo e ao
sensualismo que, em última análise, reduz o intelecto - e com isso o homem em sua integridade -
ao nível dos sentidos. Quanto ao panteísmo, como todos os sistemas monistas, consideram o mundo e
o homem como uma totalidade de opostos contraditórios que nunca poderão constituir uma única
unidade lógica. Todos esses sistemas filosóficos têm o mesmo resultado: uma compreensão superficial
e fenomenalista do homem e do mundo.

Na filosofia fenomenalista - filosofia que sempre é relativista - o homem permanece privado de um eixo,
de um centro. Onde o mundo se fundamenta? E o homem? Qual é o fundamento do intelecto e do
conhecimento? O homem tenta explicar-se em termos das coisas, mas não consegue; explicando-se em
termos das coisas, o próprio homem, por fim, é reduzido a uma coisa, a matéria. Por mais que se esforce,
o homem da filosofia fenomenalista não está em posição de atestar a realidade objetiva das coisas. Ainda
menos é capaz de mostrar que as coisas possuem verdade. Ao tentar explicar o homem pelo homem, a
filosofia alcança um resultado bizarro: apresenta uma imagem espelhada de uma imagem espelhada.
Em última análise, essa filosofia, seja qual for o seu caminho, é centrada na matéria e no homem. E uma
coisa resulta de tudo isso: a impossibilidade de qualquer conhecimento verdadeiro do homem ou do
mundo.

Este resultado compele o espírito filosófico do homem a fazer conjecturas que transcendem o homem e
a matéria. Através do idealismo, ele dá um salto para o sobrenatural. Mas esse salto, por sua vez, lhe
conduz ao ceticismo, pois o idealismo filosófico considera o homem como uma realidade metafísica,
que não pode ser nem descrita nem comprovada.

O homem, conforme compreendido na filosofia relativista, está sujeito a um destino trágico: demonstra-
se que a verdade transcende tanto o homem quanto a matéria. Há um abismo intransponível entre o
homem e a verdade. O homem está de um lado do abismo e não consegue chegar ao outro lado, onde a
Verdade transcendente pode ser encontrada. Mas o poder da Verdade, do outro lado, responde à
impotência do homem em seu lado. A Verdade transcendente atravessa o abismo, chega ao nosso lado
e revela a Si mesma - na pessoa de Cristo, o Deus-homem. Nele a Verdade transcendente torna-se
imanente no homem. Ele prova a Verdade revelando a Si mesmo. Ele a revela, não pelo pensamento ou
razão, mas pela vida que é Sua. Ele não só possui a verdade, Ele mesmo é a Verdade. Nele, Ser e Verdade
são um. Portanto, Ele, em Sua pessoa, não só define a Verdade, mas mostra o caminho para ela: aquele
que permanece Nele conhecerá a Verdade, e a Verdade o libertará (cf. João 8:32) do pecado, da mentira
e da morte .
Na pessoa do Deus-homem, Deus e o homem estão indissoluvelmente unidos. A razão do homem não
é rejeitada, mas é renovada, purificada e santificada. É aprofundada e divinizada, tornando-se capaz de
compreender as verdades da vida à luz do Deus-feito-homem. No Deus-homem, a Verdade absoluta foi,
em sua totalidade, transmitida de forma real e pessoal. É por isso que Ele, sozinho, entre os que
nasceram na terra, possui o conhecimento integral da Verdade e pode transmiti-lo. O homem que anseia
conhecer a Verdade precisa apenas de uma coisa: tornar-se um com o Deus-homem, tornar-se uma só
carne com Ele, tornar-se membro do Seu Corpo divino e humano, a Igreja (cf. Ef. 5:30, 3:6). Tornando-
se tal, o homem adquire "a mente de Cristo" (I Cor. 2:16), pensando, vivendo, sentindo em Cristo, e
assim alcançando o conhecimento integral da Verdade. Para o homem em Cristo, as antinomias da
razão não irreconciliáveis; são simplesmente rupturas causadas pela revolta do pecado original no
homem. Unindo-se a Cristo, o homem sente em si mesmo a reunião das partes fragmentadas, à medida
que a mente se cura, torna-se inteiro, completo e, portanto, se qualifica para o conhecimento integral.

A verdade é objetivamente transmitida na pessoa de Cristo, o Deus-homem. Mas a maneira pela qual
isso se torna subjetivo - isto é, o lado prático da teoria cristã do conhecimento - foi plenamente
desenvolvida pelos Pais, filósofos experientes, santos e evangélicos. Entre os mais notáveis desses
santos filósofos se encontra o grande asceta, São Isaque, o Sírio. Em seus escritos, com uma rara
compreensão baseada na experiência, ele traça o processo de cura e purificação dos órgãos do
conhecimento do homem, seu desenvolvimento na compreensão e seu caminho progressivo através da
experiência para a aquisição da Verdade eterna. Na filosofia de São Isaque, o Sírio, baseada na
experiência da graça, os princípios e a metodologia da teoria Ortodoxa do conhecimento encontra uma
das suas expressões mais perfeitas. Agora tentarei esboçar essa teoria do conhecimento, ou gnosiologia.
A Doença dos Órgãos do Conhecimento

O caráter do conhecimento é condicionado pela disposição, natureza e estado de seus órgãos do


conhecimento. Em todos os níveis, o conhecimento depende intrinsecamente dos meios de
compreensão. O homem não cria a verdade; o ato de compreender é um ato de tornar própria uma
verdade que já é objetivamente dada. Essa integração tem um caráter orgânico: é semelhante a um
enxerto feito numa videira (cf. João 15: 1-6). A compreensão é, portanto, um fruto na árvore da pessoa
humana. Assim como é a árvore, assim são seus frutos; assim como são os órgãos do conhecimento,
assim é o conhecimento que engendram.

Analisando o homem através de seus dons empíricos, São Isaque, o Sírio, descobre que seus órgãos do
conhecimento estão doentes. O mal é uma doença que afeta a alma e, portanto, todos os órgãos do
conhecimento. O mal tem seus próprios sentidos - as paixões - e essas são "as doenças da alma". O mal
e as paixões não pertencem à natureza da alma; são acidentes, adições não naturais à alma.

O que são as paixões em si mesmas? Elas são "uma certa rigidez ou insensibilidade do ser". Suas causas
são encontradas nas coisas da própria vida. As paixões são o desejo de riqueza e acumulação de bens,
de bem-estar e conforto corporal; são sedentas pela honra e exercício de poder; são luxo e frivolidade;
são o desejo de glória dos homens e o medo do próprio corpo. Todas essas paixões têm um nome comum
- "o mundo". "O mundo significa conduta e mente carnal". As paixões são os ataques do mundo contra
o homem por meio das coisas do mundo. A graça divina é o único poder capaz de afastá-las. Quando as
paixões fazem seu lar no homem, elas desenraízam sua alma. Elas confundem a mente, enchendo-a de
formas fantásticas, imagens e desejos, a fim de que os pensamentos sejam confusos, cheios de fantasia.
"O mundo é uma prostituta", que, por meio de seus desejos destruidores, seduz a alma, enfraquece suas
virtudes e destrói sua castidade dada por Deus. Assim, a alma, tornando-se impura e uma prostituta,
dá à luz ao conhecimento impuro.
Uma alma debilitada, um intelecto enfermo, um coração e uma vontade enfraquecida - em suma,
órgãos do conhecimento doentes - só podem gerar, moldar e produzir pensamentos, sentimentos,
desejos e conhecimento doentes.
A Cura dos Órgãos do Conhecimento

São Isaque dá um diagnóstico preciso da doença da alma e dos seus órgãos do conhecimento, e
claramente conhece o remédio, oferecendo-o categoricamente e com convicção. Uma vez que as paixões
são uma doença da alma, a alma só pode ser curada pela purificação das paixões e do mal. As virtudes
são a saúde da alma, assim como as paixões são a sua doença. As virtudes são os remédios que
progressivamente eliminam a doença da alma e dos órgãos do conhecimento. Este é um processo lento
que exige muito esforço e grande paciência.

A alma torna-se desregrada pelas paixões, mas pode recuperar sua saúde se fizer uso das virtudes como
o caminho para a sobriedade. As virtudes, no entanto, estão inteiramente entrelaçadas com tristezas e
aflições. São Isaque diz que toda virtude é uma cruz, e até mesmo que as dores e aflições são a fonte das
virtudes. Ele, portanto, defende expressamente o amor à opressão e à tristeza, para que, através disso,
o homem possa ser libertado das coisas deste mundo e ter uma mente desapegada da confusão do
mundo. Pois o homem deve primeiramente libertar-se do mundo material para nascer de Deus. Tal é a
economia da graça e, portanto, a economia do conhecimento.

Se o homem resolve tratar e curar sua alma, primeiro ele deve se submeter a um exame cuidadoso de
todo o seu ser. Ele deve aprender a distinguir o bem do mal, as coisas de Deus daquelas do diabo, pois
"o discernimento é a maior das virtudes". A aquisição das virtudes é um processo progressivo e
orgânico: uma virtude segue outra. Uma depende da outra; uma nasce da outra: "Toda virtude é a mãe
da próxima". Entre as virtudes, não há apenas uma ordem ontológica, mas também cronológica. A
primeira delas é a fé.

É pela ascese da fé que o tratamento e a cura da alma enferma pelas paixões é iniciado. Uma vez que a
fé começa a viver no homem, as paixões começam a ser desenraizadas da alma. Mas "até que a alma se
torne intoxicada com fé em Deus, até que sinta o poder da fé", ela não pode ser curada das paixões nem
superar o mundo material. O lado negativo da fé consiste na libertação da matéria pecaminosa e o lado
positivo, a união com Deus.

A alma, que estava dispersa pelos sentidos entre as coisas deste mundo, é recolhida em si mesma pela
ascese da fé, pelo jejum das coisas materiais e pela dedicação constante a lembrança de Deus. Este é o
fundamento de todas as coisas boas. Libertação da escravização à matéria pecaminosa é essencial para
o avanço na vida espiritual. O início deste novo modo de vida constitui-se na concentração dos
pensamentos em Deus, em uma reflexão incessante sobre o palavras de Deus e em uma vida de pobreza.

Através da fé, a mente, que antes estava dispersa entre as paixões, é concentrada, liberta da
sensualidade e dotada de paz e humildade de pensamento. Vivendo pelos sentidos em um mundo
sensível, a mente está doente. Com a ajuda da fé, no entanto, a mente é liberta da prisão deste mundo,
onde esteve sufocada pelo pecado, e entra na nova era, onde respira um novo ar maravilhoso. "O sono
da mente" é perigoso como a morte e, portanto, é essencial despertar a mente pela fé através da
realização das obras espirituais, pelas quais o homem se superará e expulsará as paixões. "Afaste-se de
si mesmo, e o inimigo será expulso de seu lado."
Na ascese da fé, o homem é convidado a agir de acordo com uma antinomia que ultrapassa o
entendimento: "Esteja morto para sua vida e você viverá após a morte". Pela fé, a mente é curada e
adquire sabedoria. A alma torna-se sábia quando pára de "se envolver descaradamente com
pensamentos promíscuos". "O amor pelo corpo é um sinal de incredulidade". A fé liberta o intelecto das
categorias dos sentidos e o torna sóbrio através do jejum, pela reflexão em Deus e pelas vigílias.

A intemperança e o estômago cheio obscurecem a mente, distraí-a e a dispersa entre fantasias e paixões.
O conhecimento de Deus não pode ser encontrado em um corpo que ama o prazer. É da semente do
jejum que a grama de um conhecimento saudável cresce - e é da saciedade que a devassidão provém e
a impureza do excesso.

Os pensamentos e desejos da carne são como uma chama inquieta no homem, e o caminho para a cura
é mergulhar o intelecto no oceano dos mistérios da Sagrada Escritura. A menos que seja liberta das
possessões terrenas, a alma não pode ser liberta de pensamentos inquietantes, nem sentir a paz de
espírito sem antes morrer para os sentidos. As paixões escurecem os pensamentos e cegam a mente. Os
pensamentos agitados e caóticos surgem de um abuso do estômago.

O pudor e o temor de Deus estabilizam o tumulto da mente; a ausência dessa vergonha e temor perturba
o equilíbrio do conhecimento, tornando-o inconstante e instável. A mente encontra-se numa base firme
somente se mantiver os mandamentos do Senhor, tornando-se pronta para suportar sofrimento e
aflição. Se for escravizada pelas coisas da vida, torna-se escurecida. Recolhendo-se pela fé, o homem
desperta seu intelecto em relação a Deus e, pelo silêncio orante, purifica sua mente e vence as paixões.
A alma é restaurada à saúde pelo silêncio. Portanto, é necessário treinar-se no silêncio - e este é um
labor que traz doçura ao coração. É através do silêncio que o homem alcança a paz de pensamentos
indesejados.

A fé traz a paz ao intelecto e, ao trazê-la, elimina os pensamentos rebeldes. O pecado é a fonte de


inquietação e conflito nos pensamentos, e também é a fonte da luta do homem contra o céu e contra
outros homens. "Esteja em paz consigo mesmo, e você trará paz para o céu e para a terra". Até que a fé
apareça, o intelecto estará disperso entre as coisas deste mundo; é pela fé que esta fragmentação do
intelecto é superada. A errância dos pensamentos é provocado pelo demônio da prostituição, assim
como a errância dos olhos é causado pelo espírito da impureza.

Pela fé, o intelecto é estabelecido no pensamento de Deus. O caminho da salvação é o da constante


lembrança de Deus. O intelecto separado da lembrança de Deus é como um peixe fora da água. A
liberdade do homem verdadeiro consiste na sua liberdade das paixões, na sua ressurreição com Cristo
e na alegria da alma.

As paixões só podem ser vencidas pela prática das virtudes, e toda paixão deve ser combatida até a
morte. A fé é a primeira e principal arma na luta contra as paixões, pois a fé é a luz da mente que afasta
a escuridão das paixões e a força do intelecto que expulsa a doença da alma.

A fé contém dentro de si não só seu próprio princípio e substância, mas o princípio e a substância de
todas as outras virtudes - desenvolvendo como fazem uma a partir da outra, organicamente, como os
anéis do tronco de uma árvore. Se pode se dizer que a fé tem uma linguagem, essa linguagem é a oração.
Oração

É pela ascese da fé que o homem supera o egoísmo, ultrapassa os limites de si mesmo e entra em uma
nova realidade transubjetiva e transcendente. Nesta nova realidade, novas leis governam; as coisas
velhas passam e tudo se faz novo. Submerso nas profundezas desconhecidas desta nova realidade, o
asceta da fé é conduzido e guiado pela oração; ele sente, pensa e vive pela oração.

Traçando esse caminho da fé no intelecto do homem, São Isaque observa que o intelecto é guardado e
guiado pela oração, todo bom pensamento é transformado pela oração em uma reflexão sobre Deus.
Mas a oração também é uma luta difícil, ela põe em movimento toda personalidade do homem. O
homem crucifica-se na oração, 69 crucificando as paixões e pensamentos pecaminosos que se apegam
à sua alma. "A oração é a destruição dos pensamentos carnais da vida carnal do homem".

A perseverança na oração é para o homem uma ascese muito difícil, a negação de si mesmo. Isso é
fundamental para a obra da salvação. A oração é a fonte da salvação, e é pela oração que todas as outras
virtudes - e todas as coisas boas - são adquiridas. É por isso que o homem de oração é atacado por
tentações monstruosas, das quais se defende por meio da oração.
O mais seguro guardião do intelecto é a oração. Ela afasta as névoas das paixões e ilumina o intelecto
trazendo sabedoria para a mente. A permanência contínua na oração é o sinal da perfeição.

A oração espiritual se transforma em êxtase, no qual são revelados os mistérios da Santíssima Trindade,
e o intelecto entra na esfera do não-saber sagrado que é mais elevado que o conhecimento.

Começando pela fé, a cura dos órgãos do conhecimento continua por meio da oração. Os limites da
personalidade humana se expandem cada vez mais, e o egocentrismo gradualmente dá lugar ao
teocentrismo.

Amor

"O amor nasce da oração" 78, assim como a oração nasce da fé. As virtudes provém de uma só substância
e, portanto, nascem uma da outra. O amor a Deus é um sinal de que a nova realidade, na qual o homem
é levado pela fé e oração, é muito maior do que a realidade anterior. O amor a Deus e pelo homem é
obra da oração e da fé; verdadeiramente, o verdadeiro amor pelo homem é impossível sem a fé e oração.
Pela fé, o homem transforma o mundo: ele se move do mundo limitado para o ilimitado, onde ele não
mais vive pelas leis dos sentidos, mas pelas leis da oração e do amor. São Isaque dá grande ênfase à
convicção de que ele alcançou por meio de sua experiência ascética: o amor a Deus vem da oração:

"O amor é fruto da oração". É possível que se receba o amor de Deus através da oração, mas não é
possível, de modo algum, adquiri-lo sem a luta da oração. Uma vez que o homem alcança o
conhecimento de Deus através da fé e da oração, torna-se estritamente verdade que "o amor nasce do
conhecimento".
Através da fé, o homem renuncia à lei do egoísmo; renuncia à sua alma pecaminosa. Embora ame sua
alma, ele abomina o pecado que está nela. Através da oração, ele se esforça para substituir a lei do
egoísmo pela lei de Deus, para substituir as paixões pelas virtudes, para substituir a vida humana pela
vida divina e assim curar a alma do pecado. É por isso que São Isaque ensina que "o amor de Deus
encontra-se no auto-controle da alma".

A impureza e a doença da alma são adições não naturais à alma; não fazem parte de sua natureza criada,
pois "a pureza e a saúde são o reino da alma".Uma alma debilitada pelas paixões é um terreno
apropriado para o cultivo do ódio e "o amor só é adquirido pela cura da alma."

O amor é de Deus, "porque Deus é amor" (I João 4: 8). "Aquele que adquire o amor, veste-se do próprio
Deus". Deus não tem limites, e o amor é, portanto, infinito e ilimitado, de modo que "aquele que ama a
Deus e em Deus ama todas as coisas igualmente, sem distinções", São Isaque diz sobre o homem que
alcançou a perfeição. Como exemplo do amor perfeito, São Isaque cita o desejo do santo Abba Agathon
de "encontrar um leproso e trocar de corpo com ele".

No reino do amor, as antinomias da razão desaparecem. O homem que se esforça no amor goza de uma
antecipação da harmonia do Paraíso em si mesmo e no mundo de Deus ao seu redor, pois ele saiu de
seu inferno egoísta e solipsista e entrou no paraíso dos valores divinos e da perfeição. Nas palavras de
São Isaque: "O paraíso é o amor de Deus, onde está a doçura de todas as bênçãos". O inferno é a ausência
do amor de Deus e "aqueles torturados no inferno são torturados pelo flagelo do amor". Quando um
homem adquire perfeitamente o amor de Deus, ele adquire a perfeição. Portanto, São Isaque
recomenda: "É necessário primeiro adquirir amor, que é a forma original da contemplação do homem
da Santíssima Trindade".

Libertando-se das paixões, o homem se desprende gradualmente da auto-absorção que caracteriza o


humanismo. Ele abandona a esfera do antropocentrismo perverso e entra na esfera da Santíssima
Trindade. Aqui ele recebe a paz divina em sua alma, onde as oposições e as contradições que surgem
das categorias de tempo e espaço perdem seu poder de morte e onde ele pode perceber claramente sua
vitória sobre o pecado e a morte.

Humildade

A fé tem sua própria maneira de pensar, porque tem seu próprio modo de vida. O cristão não apenas
vive pela fé (II Cor. 5: 7), mas também pensa pela fé. A fé apresenta uma nova categoria de pensamento,
através da qual toda a atividade gnoseológica do homem que crê é revelada. Essa nova categoria de
pensamento é a humildade. Dentro da infinita realidade da fé, o intelecto humilha-se diante dos
inefáveis mistérios da nova vida no Espírito Santo. O orgulho do intelecto dá lugar à humildade, e a
modéstia substitui a presunção. O asceta da fé, protege todos os seus pensamentos por meio da
humildade, assegurando assim o conhecimento da Verdade eterna.

Extraindo sua força da oração, a humildade continua crescendo e avançando sem fim. São Isaque
ensina que a oração e a humildade estão sempre equilibradas, e que o progresso na oração significa
também progresso na humildade e vice-versa. A humildade é uma força que complementa o coração e
impede que ele se dissipe em pensamentos orgulhosos e desejos libidinosos. A humildade é sustentada
e protegida pelo Espírito Santo, e não só atrai o homem para Deus, mas também Deus para o homem.
Além disso, a humildade foi a causa da encarnação do Filho de Deus, a união mais íntima de Deus com
o homem: "A humildade fez de Deus um homem na terra". A humildade é "o adorno da divindade, pois
o Verbo encarnado falou conosco através do corpo humano com o qual ele mesmo assumiu."

A humildade é um poder misterioso e divino que é dado apenas aos santos, aos que são aperfeiçoados
nas virtudes, e é dado pela graça. "Contém todas as coisas dentro de si". Pela graça do Espírito Santo
"os mistérios são revelados aos humildes" e são aperfeiçoados na sabedoria. "A humilde é a fonte dos
mistérios da nova era".

A humildade é temperança, e "as duas preparam na alma uma promessa para a Santíssima Trindade".

A temperança deriva da humildade, e é pela humildade que o intelecto é curado e feito pleno. "Da
humildade fluem uma mansidão e lembrança que é a temperança dos sentidos". "A humildade adorna
a alma com temperança".

Voltando-se ao mundo, o homem humilde revela toda a sua personalidade através da humildade,
imitando assim Deus encarnado. "Assim como a alma é desconhecida e invisível aos olhos do corpo,
assim o homem humilde é desconhecido entre os homens". Ele não só busca passar despercebido pelos
homens, mas também recolher-se em si mesmo quanto possível, tornando-se "como alguém que não
existe na terra, que ainda não veio a ser, e que é completamente desconhecido até pela sua própria
alma." Um homem humilde se despreza diante de todos os homens, mas Deus, por esse motivo, o
glorifica, pois "onde a humildade floresce, lá a glória de Deus brota abundantemente", e a planta da
alma produz uma flor imperecível.

Graça e Liberdade

A pessoa de Cristo, o Deus-homem, apresenta em si a imagem ideal da personalidade e do conhecimento


humano. A pessoa de Cristo em si mesma traça e define o caminho da vida de um cristão em todos os
sentidos. Nele encontra-se a realização mais perfeita da união mística de Deus e do homem, ao mesmo
tempo em que revela a obra de Deus no homem e do homem em Deus.

A sinergia Deus-homem é uma característica essencial da atividade do cristão no mundo. O homem


trabalha com Deus e Deus com os homens (cf. I Cor. 3: 9). Trabalhando interiormente e ao redor de si
mesmo, o cristão se entrega inteiramente à ascese, mas ele faz isso, e é capaz de fazê-lo, somente através
da incessante atividade do poder divino que é a graça. Para o cristão nenhum pensamento, nenhum
sentimento, nenhuma ação pode vir do Evangelho sem a ajuda da graça de Deus. O homem, por sua
vez, traz o desejo, mas Deus dá a graça, e é dessa atividade mútua, ou sinergia, que a personalidade
cristã nasce.

Em cada degrau da escada da perfeição, a graça é essencial para o cristão. O homem não pode realizar
nenhuma virtude evangélica sem a ajuda e o apoio da graça de Deus. Tudo no cristianismo se dá por
meio da graça e do livre arbítrio, pois tudo é a obra comum de Deus e do homem. São Isaque enfatiza
particularmente este trabalho comum da vontade do homem e da graça de Deus em toda a vida do
cristão. A graça abre os olhos do homem para o discernimento do bem e do mal. Isso fortalece o
sentimento de Deus dentro dele, abre-lhe o futuro e o preenche de luz mística.
Quanto mais graça Deus dá ao homem de fé, mais Ele revela a ele os abismos do mal no mundo e no
homem. Ao mesmo tempo, Ele permite que haja maiores tentações para atacá-lo, para que possa testar
o poder da graça dada por Deus e que possa sentir e aprender que é somente com a ajuda da graça que
ele pode superar as tentações cada vez mais temíveis e escandalosas. Pois, assim que a graça percebe
que a alma do homem está se tornando auto-suficiente, deixando-o bem aos seus próprios olhos, ela lhe
abandona e permite que as tentações o ataquem até que ele tome consciência de sua enfermidade e
humildemente se refugie em Deus.

Pelo trabalho conjunto da graça de Deus e de sua vontade, o homem por meio da fé se aperfeiçoa. Isso
acontece gradualmente, pois a graça entra na alma "pouco a pouco", sendo dada antes de tudo aos
humildes. Quanto maior a humildade, maior a graça, e sabedoria que está contida dentro da graça. "Os
humildes são dotados de sabedoria pela graça"

A sabedoria cheia de graça revela gradualmente os mistérios aos humildes, um após o outro,
culminando no mistério do sofrimento. Os humildes sabem por que o homem sofre, pois a graça revela-
lhes o significado do sofrimento. Quanto maior a graça que o homem possui, maior é a compreensão do
significado e propósito do sofrimento e da tentação. Se ele afasta a graça dele devido a indolência e o
pecado, o homem expulsa de si mesmo o único meio que ele possui de encontrar o significado e a
justificação para seus sofrimentos e tentações.

A Purificação do Intelecto

Por uma renovação incessante de si mesmo através de um ascetismo cheio de graça, o homem
gradualmente afasta o pecado e as paixões de todo o seu ser e de seus órgãos do conhecimento, de modo
a curá-los dessas doenças mortais. A cura dos órgãos do conhecimento do pecado e das paixões é ao
mesmo tempo sua purificação. Especial cuidado deve ser tomado com o principal órgão do
conhecimento, o intelecto, pois ele tem um papel particularmente importante no domínio da
personalidade humana.

Em nada mais a vigilância é tão vital como no trabalho de purificação do intelecto. Para essa tarefa, o
asceta da fé deve lutar com todas as suas forças, de modo que, com a ajuda das virtudes evangélicas
cheias de graça, ele possa renovar e transformar seu intelecto. São Isaque nos oferece sua rica
experiência nisso.

Segundo ele, a impureza e o caráter grosseiro do intelecto vêm de um estômago cheio. O jejum é,
portanto, o principal meio de purificar o intelecto. O intelecto é, por natureza, fino e delicado, enquanto
que a grosseria é uma adição não natural introduzida pelo pecado. É através da oração que o intelecto
torna-se refinado e claro, transparente. Trabalhando sobre si mesmo, o homem rompe a crosta rígida
de pecado de seu intelecto, o refina e o torna capaz de discernimento.

Transformando-se com a ajuda do esforço ascético cheio de graça, o homem adquire a pureza do
intelecto, e com este intelecto purificado "passa a ver os mistérios de Deus". "A purificação do corpo
produz um estado que rejeita a mácula da impureza da carne. A purificação da alma liberta-a das
paixões secretas que surgem na mente. A purificação do intelecto ocorre através da revelação dos
mistérios".
Somente a mente que foi purificada pela graça pode oferecer um conhecimento puro e espiritual. "Até
que a mente seja liberta de seus múltiplos pensamentos e se torne completamente pura, ela não pode
receber conhecimento espiritual". Os homens deste mundo "não podem purificar suas mentes por causa
de seu mau conhecimento e aceitação da perversidade. Poucos são capazes de retornar à pureza original
da mente do homem."

A perseverança na oração purifica o intelecto, ilumina-o e o preenche com a luz da verdade. As virtudes,
lideradas pela compaixão, dão ao intelecto paz e luz. A purificação do intelecto não é uma atividade
dialética, discursiva e teórica, mas um ato da graça através da experiência e é ética em todos os aspectos.
O intelecto é purificado pelo jejum, vigílias, silêncio, oração e outras práticas ascéticas.

"O que é pureza do intelecto? A pureza do intelecto é a realização, através da luta pelas virtudes, da
iluminação divina". É fruto do esforço ascético pelas virtudes. A prática das virtudes aumenta a graça
no homem, e ao trazer a graça ao intelecto purifica-o dos pensamentos impuros. É através do ascetismo
que o intelecto de um santo torna-se puro, claro e discernente. "A pureza da alma era um carisma
original de nossa natureza. Até que tenha sido purificada das paixões, a alma não está curada da doença
do pecado e não é capaz de alcançar a glória que perdeu devido a sua transgressão. Se o homem se torna
digno de purificação - da saúde da alma - seu intelecto verdadeiramente recebe em si a alegria através
da consciência espiritual, pois ele se torna um filho de Deus e um irmão de Cristo".

Se ele supera as paixões, o homem alcança a pureza da alma. O "obscurecimento do intelecto" provém
da falta de compaixão e da indolência. As virtudes são "as asas do intelecto", as quais o ajudam a subir
aos céus. Cristo enviou o Espírito Santo aos Seus apóstolos, e o Espírito Santo purificou seus intelectos
e os fez perfeitos, mortificando neles o velho homem das paixões e trazendo vida ao homem novo e
espiritual".
Fragmentado por pensamentos pecaminosos e impuros, o intelecto se recolhe através da oração, do
silêncio e das outras práticas ascéticas. Quando o intelecto se liberta através arrependimento de sua
estreita ligação com as paixões, no primeiro momento é como um pássaro que teve as suas asas cortadas.
Ele se esforça para se elevar acima das coisas terrenas por meio da oração, mas não consegue, estando
amarrado à terra. A capacidade de voar só é possível depois de uma longa luta pelas virtudes, pois é
então que ele se recolhe e aprende a voar.

O amor de Deus é um poder que conduz o intelecto a si mesmo. A leitura de hinos e salmos, a reflexão
sobre a morte e a esperança da vida futura são "coisas que recolhem o intelecto e o protegem da
fragmentação". O intelecto é destinado a reinar sobre as paixões, dominar os sentidos, e controlá-los.

O propósito de todas as leis e mandamentos de Deus é a pureza de coração. Deus fez-se carne para
purificar nossos corações e almas do mal e trazê-los de volta ao seu estado original. Mas há uma certa
diferença entre pureza de coração e pureza do intelecto. São Isaque escreve: "Em que a pureza do
intelecto difere da pureza do coração? A pureza do intelecto é uma coisa, mas a pureza do coração é
outra. Pois o intelecto é um dos sentidos da alma, mas o coração inclui os sentidos interiores e os
governa. Ele é a raiz deles. E se a raiz é santa, então os ramos também são santos. Se, então, o coração
é purificado, claramente todos os sentidos são purificados".
O coração adquire a pureza por meio de muitas provações, tribulações, lágrimas e pela mortificação de
tudo o que é do mundo. As lágrimas purificam o coração da impureza. À pergunta: qual é o sinal pelo
qual se pode saber se o homem alcançou a pureza de coração, São Isaque responde: "Quando ele vê
todos os homens como bons, e ninguém lhe parece ser impuro ou profano".

A pureza do coração e do intelecto é adquirido através do ascetismo. "O ascetismo é a mãe da santidade".
A prática silenciosa da virtude corporal purifica o corpo da matéria que ali se encontra. Entretanto, o
"esforço físico extenuante, sem a pureza do intelecto, é como um útero estéril e seios murchos. De tal
maneira não é possível aproximar-se do Conhecimento de Deus, fatiga-se o corpo, mas não erradica-se
as paixões do intelecto. Assim, não há proveito".

O sinal da pureza é: regozijar com aqueles que se regozijam e chorar com os que choram; sofrer com os
doentes e chorar com os pecadores; alegrar-se com o arrependido e participar da agonia daqueles que
sofrem; criticar ninguém e, na pureza da própria mente, ver todos os homens como bons e santos.

O intelecto não pode ser purificado nem pode ser glorificado com Cristo se o corpo não sofre com e por
Cristo; a glória do corpo é a "submissão comedida diante de Deus, e a glória do intelecto é a verdadeira
visão de Deus". A beleza da temperança é alcançada pelo jejum, pela oração e pelas lágrimas. A pureza
do coração e do intelecto, a cura do intelecto e dos outros órgãos do conhecimento, tudo isso é fruto de
um longo esforço sob a graça, no ascetismo. No intelecto puro do asceta da fé, brota aquela fonte de luz
que derrama doçura sobre o mistério da vida e do mundo.

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