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“A Cabeça e a Coroa: atuação da Câmara de Alagoas do Sul frente a Coroa Portuguesa”

(1711-1780).
Arthur Almeida Santos de Carvalho Curvelo*

Resumo:
Dentro dos debates recentes que vem sendo feitos na historiografia nacional sobre a
política e administração colonial, o Estado de Alagoas tem carecido de engajamento. É nesse
sentido, de lançar novos olhares sobre o passado colonial em Alagoas, que se busca fazer uma
discussão acerca da atuação da Câmara de Santa Maria Magdalena d'Alagoas do Sul, cidade
escolhida para sediar a administração da Comarca, diante da Coroa Portuguesa. Para tanto, a
documentação do Conselho Ultramarino, enquanto fonte pouco explorada tem se mostrado
bastante rica. É a partir da análise de tal documentação, mais especificamente das cartas dos
oficiais da mesma Câmara, que se busca a compreensão das principais negociações e barganhas
dessa câmara dentro do contexto político, e estratégico desta vila, buscando também desvendar
quais as suas principais aspirações frente a comarca.

Palavras-Chave: câmara; colônia; alagoas

Primeiras Palavras

Desde os finais do século XX, a historiografia brasileira tem passado por uma forte revisão
de seus conceitos sobre poder e administração colonial. Essas mudanças que vem sendo realizadas
em nível internacional são encabeçadas por historiadores como António Manuel Hespanha, Nuno
Gonçalo Monteiro e Pedro Cardim, e a nível nacional, são marcadas pelos esforços de historiadores
como Maria Fernanda Bicalho, João Fragoso, Maria de Fátima Gouvêa e Vera Lúcia Ferlini. Com
essa geração, espraiaram-se os campos de análise historiográfica, para a análise das estruturas
jurídico-administrativas, como as ouvidorias e as câmaras municipais. Contudo essas novas
discussões ainda não tiveram uma repercussão significativa no Estado de Alagoas. Por isso, busca-
se nesse trabalho fazer a análise de uma das principais câmaras municipais da Comarca de
Alagoas, conciliando os frutos teóricos dessas novas abordagens com uma documentação ainda
pouco explorada pela historiografia local: a documentação do Conselho Ultramarino, que através
do Projeto Resgate, disponibilizou um Cd de documentos relativos à comarca de Alagoas. Assim,
procura-se contribuir para a construção de uma história local, dentro dessas novas temáticas, que
serão mais bem situadas a seguir.
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Graduando em História Bacharelado pela Universidade Federal de Alagoas, colaborador PIBIC.
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Câmaras e Historiografia

Segundo Vera Lúcia Amaral Ferlini (FERLINI, 2009), existem três correntes
historiográficas brasileiras que permitem três olhares distintos acerca das Câmaras Municipais,
reconhecendo seu papel importante na construção de uma governabilidade colonial. A primeira
delas começa com Capistrano de Abreu, e se desdobra nas interpretações clássicas de Caio Prado
Junior e Vitor Nunes Leal que tendem a compreender as câmaras basicamente a nível local,
enquanto instituições que estabelecem e concretizam o poder de mando e os interesses das elites
locais, ou da nobreza da terra, dotadas de esplendida autonomia frente à Coroa portuguesa
(FERLINI, 2009: 389-390).
A segunda é representada pela figura de Raymundo Faoro, em seu clássico “Os Donos do
Poder”, que vê as câmaras de um ponto de vista completamente diferente, afirmando que as
mesmas são a expressão clara do poder régio, responsáveis pela afirmação da soberania portuguesa
em suas conquistas.
A terceira representa os debates mais recentes da historiografia nacional, encabeçados
segundo ela, por Maria Fernanda Bicalho, Avanete Pereira de Souza, Pedro Puntoni e Maria
Aparecida Borrego (FERLINI, 2009: 390). Tendendo a revisar esses conceitos afim de ampliá-los.
Para estes, as Câmaras passam a ser entendidas enquanto espaços de articulação entre o poder régio
e os diversos poderes locais com os quais convive, sendo instrumentos de afirmação do poder real
através do cumprimento de determinações e da legislação emanadas do reino em nível local.
Tal articulação é forjada com o intuito de estabelecer a soberania portuguesa sobre as
conquistas e a boa ordem social, através de “pactos” firmados entre as elites das conquistas e a
própria coroa. Esse movimento de concessão de mercês e graças, por parte do rei às elites das
conquistas afim de se estreitarem os laços de pertença e submissão à autoridade portuguesa –
legitimando-a de tal forma – é chamado por Maria Fernanda Bicalho de “economia política de
privilégios” (BICALHO, 2001:221). Sendo essa elite constituída de “homens bons” – estrato social
a quem é permitida a ocupação dos cargos camarários, bem como os demais cargos públicos –
agem segundo um princípio dual: são colonos que agem em prol da colonização – ou seja,
dominados pelos interesses lusos, agiram em prol de sua manutenção, o que no mais das vezes
permitiu-lhes legitimar frente a coroa portuguesa os seus próprios (FERLINI, 2009: 391-394).
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Sendo esta terceira a corrente interpretativa que procurarei seguir daqui a diante, é
interessante fazer uma breve análise de um daqueles historiadores ingleses mais conhecidos como
“brasilianistas”, cuja compreensão do Império Ultramarino Português permite a essa historiografia
contemporânea revisitar alguns conceitos acerca de colonização: Charles Ralph Boxer. Em seu
clássico “Império marítimo português” (BOXER, 2002) Boxer dedicou um capítulo
especificamente às Câmaras Municipais e às Casas de Misericórdia, que segundo ele “garantiam
uma continuidade que os governadores, os bispos e os magistrados transitórios não podiam
assegurar” (BOXER, 2002: 286). Tal afirmação pode ser entendida como uma das bases
conceituais que fundamentam essa renovação historiográfica, no sentido de compreender
estruturalmente, quais os mecanismos que permitiram a coroa portuguesa estabelecer sua soberania
sobre as conquistas por séculos. A compreensão de tais estruturas permite acima de tudo dosar o
grau de predomínio dos interesses portugueses frente aos das elites locais, evidentemente com a
devida atenção às conjunturas sócio-econômico-culturais de cada localidade e de cada época em
que as mesmas se fizeram presentes. Dito em outras palavras, como o poder de mando dessas elites
– estabelecido através do direito não oficial – conviveu e se articulou frente às autoridades régias e
ao direito oficial, ora, mais rígidas, ora mais flexíveis a esses interesses.
Boxer procura nesse texto, compreender como a instituição concelhia, transplantada do
medievo português acomodaram-se às diversas realidades locais nos quatro cantos do império
português, constituindo o elo de manutenção da unidade imperial, pensando-as em nível local e
ultramarino a partir do exame e comparação de algumas câmaras principais.
A nível local, segundo ele, as Câmaras tinham diversas atribuições, sendo as principais:
lançar e coletar impostos, fixar os preços de algumas mercadorias, articular o policiamento das
vilas, bem como zelar pela manutenção das construções públicas e sediar o tribunal de primeira
instância. Com tantas competências atuavam em quase todos os setores da dinâmica urbana, sendo,
portanto a menor das células da administração colonial, vitais para a manutenção da soberania dos
interesses portugueses.
Pensando-as em nível ultramarino, as câmaras foram instituições responsáveis por acatar e
aplicar as decisões que vinham do reino. E assim, a coroa, encontrava diversas formas de explorá-
las. A principal delas foi a imposição dos “donativos”. Estes eram taxas absurdas que tinham por
intuito financiar alguns eventos que ocorriam na Europa, e provavelmente, gerar alguma renda a
mais na receita. Foram elas: o casamento de Catarina de Bragança com Carlos II, que perdurou até
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1723, o donativo para o casamento dos príncipes de 1729 até 1754, e o mais longo de todos, o
donativo para a reconstrução de Lisboa após o terremoto avassalador de 1775, que durou até 1822,
segundo Boxer (BOXER, 2002: 296). Podem, portanto ser entendidas em três aspectos: enquanto
elos de manutenção da unidade imperial através da aplicação do direito oficial; instrumentos de
exploração local da coroa, e das próprias elites que as dirigiam; e por fim, como espaço de
representação de interesses da população local, livre, e dos cidadãos frente à coroa, que por sua vez
recebia tais solicitações através de órgãos tais quais o Conselho Ultramarino, e por ele deferia a
melhor solução que conviesse aos seus interesses.
No Brasil, um dos grandes nomes que vem guiando a historiografia colonial por essas novas
tendências, é Maria Fernanda Bicalho. Para a coletânea que escreveu juntamente com João Fragoso
e Maria de Fátima Gouvêa, o “Antigo Regime nos Trópicos” (GOUVÊA, FRAGOSO &
BICALHO: 2001) publicou um artigo voltado ao debate sobre as Câmaras. Seguindo alguns dos
novos conceitos que vem sendo desenvolvidos no Brasil e no Ultramar, Bicalho busca
primeiramente caracterizar o poder camarário espaço-temporalmente.
Ela afirma que as Câmaras foram instauradas enquanto instituições quase homogêneas, como
“uma estratégia de Lisboa no sentido de civilizar - ou seja submeter aos princípios da ordem legal e
régia – aqueles súditos remotos” (BICALHO, 2001: 202), concordando portanto com Boxer, que
afirma sua importância para a construção de uma unidade imperial. Ora, a relação entre poder régio
e poderes locais, pode-se arriscar, é a essência da dinâmica imperial, bem como de sua unidade.
Nesse aspecto é interessante abrir um parêntese para Pedro Cardim, que em texto publicado para a
coletânea organizada por Vera Lúcia Ferlini e Maria Fernanda Bicalho, “Modos de Governar”
(CARDIM, IN: FERLINI & BICALHO, 2005: 45-68) faz algumas considerações sobre as noções
de administração, afirma que a Coroa é um agregado de órgãos e interesses pouco articulados entre
si, cuja ação administrativa centralizadora coexiste com muitas administrações de caráter
coorporativo. Por sua vez, essa ação centralizadora, é levada a cabo por alguns oficiais régios de
certa importância, tais quais os juízes de fora e os ouvidores gerais, que estabelecem a imposição
do direito oficial, em espaços públicos do exercício do poder, ou seja, veiculados justamente pelas
câmaras, que fornecem esse espaço.
Assim, o nível de autonomia das câmaras coloniais pode ser também buscado no raio de
atuação desses oficiais régios nos quatro cantos das conquistas. Segundo ela, as câmaras que
gozavam de mais autonomia, eram as do extremo oriente do império português – principalmente
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Macau – justamente pela distância oceânica que separava-as de Lisboa. Estando assim “as demais
câmaras coloniais, a oriente e a ocidente, subordinavam-se mais estreitamente aos diferentes
funcionários régios com jurisdição em seus territórios” (BICALHO, 2001: 196). Evidentemente, os
graus de autonomia dos senados das câmaras variaram bastante ao longo do tempo. O auge de tal
autonomia deu-se no séculos XVI até meados do XVII, quando a estas, cabiam diversas
competências concedidas pela coroa em favor dos poucos recursos que dispunha para estabelecer
um suporte e um controle mais rígido. Isso se deve em linhas gerais à conturbada conjuntura
política européia, é o período da União Ibérica, logo, Espanha está a empreender guerras contra
Flandres e a França, e os Flamengos por sua vez, investem pesadamente contra os domínios
ultramarinos das coroas unidas. Estes, por sua vez, se vêem forçados a arcar com a restauração de
seus domínios, e para tanto, a coroa, concedeu-lhes tantos privilégios.
Todavia, com a paz com Flandres, e posteriormente com a restauração da dinastia dos
Bragança, ou seja finais do século XVII e início do XVIII, a coroa passa a tomar algumas medidas
mais eficazes com fins de cercear a autonomia camarária, criando para tanto o cargo de Juiz de
Fora, que quando não tinha completo domínio sobre sua jurisdição era amparado, como em
Alagoas, por um Ouvidor-geral. Outra estratégia avassaladora para a autonomia das câmaras foi a
transferência para a Provedoria da Fazenda Real de algumas de suas atribuições principais
relacionadas a impostos, e à venda do direito de arrecadação das fintas que era, até então, uma das
principais fontes de receita das câmaras.
Assim, tendo por base as possibilidades que a documentação do projeto Resgate fornece,
buscarei trabalhar com o século XVIII, quando o sul da Capitania de Pernambuco é elevado à
categoria de Comarca das Alagoas, conseqüentemente, com o período de declínio do poder
autônomo das câmaras. Entendendo estas a nível local enquanto espaços de negociação dos
interesses dos súditos ultramarinos residentes na dita comarca, com os da Coroa portuguesa,
buscarei também perceber quais estratégias a câmara da vila das Alagoas articulou para manter a
ordem social, e uma governabilidade frente aos interesses reinóis, mas principalmente, o que a
documentação pode revelar acerca das aspirações e iniciativas frente ao resto da comarca.
A Cabeça e a Coroa

Para a compreensão da atuação da câmara de Alagoas do Sul, ou Santa Maria Magdelena


d’Alagoas do Sul, faz-se necessário lançar um olhar rápido sobre sua posição estratégica. Segundo
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Manuel Diegues Junior, o povoamento do atual território alagoano inicia-se ainda nos finais do
século XVI a partir de três núcleos de Povoamento iniciais: Porto Calvo, ao norte do estado,
Alagoas do Sul, ao centro, e Penedo ao extremo Sul. As duas primeiras, são organizadas até hoje
em torno da economia açucareira, e Penedo, em torno da pecuária, justamente pelo fracasso dos
engenhos de cana-de-açúcar nesta região devido ás cheias do Rio São Francisco, que destruíram as
plantações. Sendo todas as três elevadas à categoria de vila na terceira década do século XVII
(DIEGUES JUNIOR, 2006: 43). Logo, estava Alagoas do Sul no meio das outras duas.
Em 1706, decidiu-se elevar a região à categoria de Comarca, passando a funcionar
juridicamente enquanto tal em 1711, quando é nomeado para a localidade um ouvidor-geral, José
da Cunha Soares. Inicialmente, havia-se escolhido a cidade de Penedo para sediar a ouvidoria-
geral, afirmava uma ordenação de 08 de Agosto de 1710:
Por ordem de Sua majestade de 8 de agosto de 1710 foi criado de novo o lugar de
Ouvidor Geral da Comarca da vila do São Francisco, vila das Alagoas, e vila do Porto
Calvo por ser conveniente ao serviço de Deus e de Sua Majestade para se administrar a
justiça aos vassalos, e se evitarem as mortes, e mais delitos, que nos ditos lugares se
cometem, e ter melhor arrecadação o Tabaco, que nelas se cultiva com declaração de
ser a cabeça da correção, e principal residência na vila do Rio de São Francisco, aonde
é mais precisa a administração da justiça, por estar mais metida ao Sertão, e ser o
domicílio ordinário dos delinqüentes, como tudo consta da dita ordem pela qual foi
provido no dito lugar o Doutor Jozé da Cunha Soares com 300$000 rs de ordenado por
ano, pagos pela Provedoria da Fazenda Real de Pernambuco, como até o presente se
observa, e principiou a cobrar o dito Doutor em 26 de Julho de 1711. (BIBLIOTECA
NACIONAL, 1906 :461).

Logo, percebe-se que inicialmente, a Coroa teve por intenção diante das solicitações de seus
agentes, escolher para a sede da ouvidoria geral a vila de São Francisco, Penedo, justamente por ser
a mais distante da jurisdição da Capitania de Pernambuco. Segundo aponta o documento, a
localidade gozava de pouca segurança pública, e atividade legal, o que se leva a pensar que se
implantaria em tal localidade da sede da ouvidoria afim de melhor controlar esses problemas.
Entretanto, a instalação da ouvidoria na dita vila, teria como corolário a deficiência no atendimento
dos moradores da vila de Porto Calvo, e Alagoas justamente pela distância. Assim, em 1712 a sede
da ouvidoria-geral foi estabelecida em Alagoas do sul, segundo os argumentos dos oficiais da
Câmara da mesma vila:
O dito ministro reside nesta vila, como cabeça da comarca, aonde tem tomado posse na
Câmara dela, conforme a carta de vossa majestade de selo pendente, tanto por ser esta
vila a mais populosa, como por ficar no meio das duas anexas, que distam ambas
igualmente vinte e sete léguas pouco mais ou menos desta vila das Alagoas, e sendo a
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sua residência no Rio de São Francisco1, como nos insinua uma carta de crença de
vossa majestade, escrita pelo o seu conselho ultramarino. Ficava sendo este favor e
mercê de nos conceder Ouvidor Geral para esta villa, redundando em grande prejuízo
dos moradores da vila de Porto Calvo, pois estes tinham seu recurso de apelações e
agravos mais perto e sendo para os rios de São Francisco, ficasse mais longe o recurso
por distar daquela vila do Rio de São Francisco cinqüenta e tantas léguas maiormente,
que nesta vila das Alagoas se acha. (AHU, ALAGOAS AVULSOS, Documento 10, cx.1).

Com o consentimento da Coroa, pode-se supor que esta estava interessada além de manter a
ordem social, em cercear o poder camarário, através da introdução do ouvidor. Logo, se a
ouvidoria permanecesse estabelecida em Penedo com a jurisdição para as outras duas, o raio de
abrangência do ouvidor talvez não fosse tão eficiente. Estabeleceria-se em princípio, aos olhos da
coroa, a imposição da ordem em Penedo, mas Porto Calvo e Alagoas do Sul continuariam a gozar
de uma relativa autonomia. Assim, provavelmente, a Coroa, buscando um melhor controle sobre a
região, consente em estabelecer em Alagoas do Sul, a vila do meio, a sede da ouvidoria geral, pois
assim, cercearia tanto o poder da Câmara de Porto Calvo quanto o de Penedo, pela eqüidistância de
ambas da nova sede da ouvidoria.
Mas, poderíamos nos perguntar agora, sendo a dinâmica imperial baseada em barganhas, o
que a Câmara de Alagoas do Sul ganharia com a nomeação de um ouvidor para a sua vila? A
resposta: poder. Numa época em que o poder das câmaras declinava, poderia parecer interessante
às elites locais ter perto de si um homem poderoso, com o qual pudessem se aliar afim de
alcançarem privilégios, ou até mesmo, em termos mais palpáveis, uma maior eficácia da
administração, afinal, se antes teriam que recorrer a Olinda para solver suas apelações, passaram
então a ter quem os resolvesse mais próximo de si.
Observando-se agora de um ponto de vista quantitativo, talvez seja possível através da análise
da quantidade de cartas dos oficiais das câmaras das três supracitadas vilas, identificar um pouco
seus graus de autonomia e correspondência com a Coroa Portuguesa. Entre 1711 e 1780, a
quantidade de cartas que os oficiais da câmara das três vilas dirigiram à Coroa foram
respectivamente as seguintes: Porto Calvo não endereçou nenhuma diretamente2, Alagoas do Sul,
endereçou oito e Penedo 11.

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Em Alagoas, existem uma série de designações diferentes para as vilas, logo é comum encontrar Penedo sendo
chamada de São Francisco, afinal, o mesmo rio a margeia. Referem-se portanto a mesma vila.
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Consta apenas a menção de uma única, que mesmo assim, não consta na documentação do conselho Ultramarino,
sendo a mesma dirigida ao Ouvidor-geral.
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Quanto a quantidade de cartas observemos algumas conclusões pertinentes. Primeiramente,


a total ausência de correspondência entre a Câmara de Porto Calvo e a coroa portuguesa. Tal fator
pode ser atribuído a algumas hipóteses: ou a Câmara sujeitou-se mais à jurisdição emanada de
Pernambuco; ou a mesma Câmara esteve mais ligada à Ouvidoria-Geral, ou à da Câmara das
Alagoas para o atendimento de suas apelações; ou talvez a mais palpável de todas: a ausência de
documentação indica uma inoperância da mesma . Contudo, para uma conclusão mais sensata
acerca dessa consideração, é necessário o acesso à documentação da mesma câmara, algo que está
fora do alcance no momento, frente a grande possibilidade da dispersão da documentação, ou
mesmo sua destruição frente às dificuldades de armazenamento.
Agora, pensando na natureza da documentação de Alagoas do Sul e Penedo, percebemos
que ambas lidam com questões semelhantes, voltadas para a manutenção da ordem social. Tratam-
se de documentos solicitando freqüentemente o alívio de impostos e fintas, destacando sempre a
pobreza da população local, bem como a necessidade da construção cadeias e obras públicas. Logo,
indica-se inicialmente a condição de pobreza da região. Com uma população pobre, gera-se
também um clima de insatisfação, o qual as mesmas câmaras tentaram ao longo do tempo
controlar, pedindo alívio de donativos e concessão de privilégios econômicos.
Outro fator em comum entre as duas câmaras são suas justificativas para terem acesso aos
privilégios de reconhecimento de outras câmaras, segundo Boxer:
Houve municipalidades que foram fundadas com a permissão da Coroa, segundo um
modelo metropolitano específico, as que não o foram, mais cedo ou mais tarde
reinvidicaram seus privilégios e alvará idêntico ao de determinada municipalidade
portuguesa (BOXER, 2002: 291).

Sendo que segundo ele, na maioria das vezes, as câmaras solicitavam os privilégios iguais
aos da cidade do Porto, ironicamente, copiados dos de Lisboa. Mantinha-se assim preservado o
modelo homogêneo das câmaras. As Câmaras de Alagoas do Sul e Penedo pedem seus privilégios
tomando como referência cidades diferentes. Penedo em 1755 solicitava privilégios iguais aos da
cidade do Porto, enquanto Alagoas do Sul, pede os privilégios iguais aos da Câmara de Olinda em
1732, e em 1751 pediam privilégios iguais aos da Bahia. (AHU, ALAGOAS AVULSOS, cx. 1
Doc. 74, cx. 2 doc. 136, e 137, e 147). Na carta de 1732 solicitavam para os oficiais:
e porque experimentam algumas vexações porque sendo no da serventia dos seus cargos
por ausência [corroído] e por dívidas, que não lhe ordenem os crimes, os prendem,
[corroído] cadeias e enxovais, e como vemos este povo. [corroído] queixoso, pedimos a
vossa majestade nos queira conceder os mesmos privilégios e graças que vossa
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majestade foi servido conceder a câmara da vila de Olinda” .(AHU, ALAGOAS


AVULSOS, cx. 1 Doc. 74,).

Com tal solicitação, evidencia-se o interesse de uma elite em legitimar seus poderes através
da concessão de privilégios por parte da Coroa, fortalecendo assim seu vínculo de pertença e
submissão à soberania régia.
As cartas dos Oficiais das Câmaras, revelam um panorama interessante da realidade
alagoana do século XVIII, marcado pela pobreza de seus moradores, como ilustram as solicitações
de redução de fintas, pela constante preocupação com a guerra contra o Quilombo dos Palmares,
uma das principais justificativas para a manutenção das tropas, e pela concretização de uma
Nobreza da terra, que através do espaço concelhio passa a afirmar e legitimar seus interesses frente
a Coroa Portuguesa. Caracterizando assim, a construção de uma governabilidade na região
analisada, partindo provavelmente das intenções centralizadoras da vila de Alagoas do Sul, cabeça
da comarca e sede da ouvidoria.
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Referências Bibliográficas

BICALHO, Maria Fernanda. As câmaras ultramarinas e o governo do império. In: FRAGOSO,


João; BICALHO, Maria Fernanda & GOUVÊA, Maria de Fátima(Orgs.). O Antigo Regime nos
trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séc. XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2001.

BOXER, Charles R. O império marítimo português(1415-1825).São Paulo: Companhia das Letras,


2002.

CARDIM, Pedro. “Administração” e “Governo”: uma reflexão sobre o vocabulário do antigo


regime. In: FERLINI, Vera Lúcia & BICALHO, Maria Fernanda(Orgs.). Modos de Governar. São
Paulo: Alameda, 2005.

DIEGUES JÚNIOR, Manuel. O bangüê nas Alagoas. Maceió, EDUFAL: 2006.

FERLINI, Vera Lúcia Amaral. O município no Brasil Colonial e a configuração do poder


econômico. In: SOUZA, Laura de Mello e; FURTADO, Júnia Ferraira & BICALHO, Maria
Fernanda (Orgs). O Governo dos Povos. São Paulo: Alameda, 2009.

Fontes Impressas

ANAIS DA BIBLIOTECA NACIONAL. Rio de Janeiro: BN, Volume 28, 1906.

Fontes documentais

Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa. Alagoas Avulsos, Documentos 004, 010, 065, 066, 069,
070, 071, 072, 073, 074, 113,116, 117, 134, 136, e 137, 147, 148, 161, 179 e 182.

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