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Módulo II: Atenção a Pessoas com Transtorno Mental e


Usuários de Álcool e Outras Drogas

Unidade 2: Práticas Sistematizadas

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Créditos
Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra,
desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial. A
responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é da Secretaria
de Estado de Saúde de Minas Gerais. O conteúdo desta publicação foi desenvolvido e
aperfeiçoado pela equipe do Canal Minas Saúde e especialistas do assunto indicados
pela área demandante do curso.

Ficha Catalográfica
_______________________________________________________________________
MINAS GERAIS. Canal Minas Saúde. Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Curso
de Extensão Novo Olhar para a Saúde Mental - Módulo II: Atenção a Pessoas com
Transtorno Mental e Usuários de Álcool e Outras Drogas - Unidade 2: Práticas
Sistematizadas. Belo Horizonte, Minas Gerais, 2013.

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Olá! Este é o seu Material de Referência que contempla todo o conteúdo da


Unidade de forma mais aprofundada. Nosso intuito é agregar mais conhecimento a sua
aprendizagem, por isso, leia-o com atenção!

Mas, antes de iniciar, conheça os objetivos de aprendizagem previstos para esta


Unidade. Boa leitura!

Objetivos de Aprendizagem

Reconhecer os diversos pontos da rede de atenção


psicossocial: organização, dinâmica e funcionamento.
Entender o conceito de matriciamento e sua aplicação no
campo da saúde mental.
Reconhecer a importância da intersetorialidade na atenção
em saúde mental.

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Introdução

“O mais importante e bonito do mundo é isto: que as


pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram
terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam
ou desafinam.” “Riobaldo Tatarana” - Grande Sertão
Veredas
João Guimarães Rosa

Nesta Unidade, percorreremos os diversos pontos que compõem a rede de


atenção psicossocial em saúde mental, álcool e outras drogas, tendo como referência as
modalidades de dispositivos que são ofertados. Busca-se caracterizar cada ponto e os
princípios que norteiam as práticas das equipes de trabalho. Teremos, também, a
oportunidade de conhecer experiências municipais de implantação desses pontos de rede
que levam em consideração a realidade local e as saídas construídas.

1. Pontos da Rede de Atenção Psicossocial

As práticas sistematizadas na atenção


psicossocial surgem de modelos inventados pelos
trabalhadores de saúde mental para prescindir o
modelo asilar de tratamento em Saúde Mental;
como nos diz Pedro Gabriel, “práticas a céu aberto,
desamparadas”, em que os conceitos de
acolhimento, cotidiano, rede, território e autonomia
devem ser considerados. Práticas pautadas na
ética da liberdade e da inclusão social, onde as
tradições clínicas, com suas teorias e técnicas podem dialogar entre si, com outros
saberes interdisciplinares e outros setores, na direção da construção da rede intersetorial.

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Breve histórico da construção de novos dispositivos em saúde mental, álcool e


outras drogas

A Reforma Psiquiátrica Brasileira teve início nos anos 90 a partir de dois marcos
históricos: o III Congresso Mineiro de Psiquiatria, em Belo Horizonte, em 1979 e o II
Encontro de Trabalhadores, Usuários e Familiares de Saúde Mental de Bauru, em 1987,
quando floresceu o “Movimento Nacional da Luta Antimanicomial”.

É neste contexto que surge o primeiro modelo de serviço especializado em saúde


mental, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), criado pela Portaria nº 336/GM, de 19
de fevereiro de 2002. Os CAPS são serviços abertos e funcionam dentro da lógica do
cuidado em liberdade, de base territorial e comunitária.

Aos poucos, outros serviços de atenção voltados às pessoas em sofrimento mental


foram surgindo, como os Centros de Convivência e Cultura e os Serviços Residenciais
Terapêuticos. Entretanto, devemos considerar que a Unidade Básica de Saúde já existia,
e para alguns municípios constituía a única referência de serviço de saúde, incluindo
cuidados em saúde mental. A partir da implantação da Estratégia Saúde da Família e de
Equipes de Agentes Comunitários de Saúde, a Unidade Básica de Saúde se torna o ponto
de maior potencial e abrangência desta rede de cuidados, particularmente nos pequenos
municípios. Nos últimos anos, novos serviços foram surgindo, principalmente no campo
da atenção em Álcool e Outras Drogas, como os Serviços de Referência Hospitalar, as
Unidades de Acolhimento e os Consultórios na Rua.

Na atualidade, há um significativo aumento desses serviços pautados no paradigma


da atenção psicossocial que se materializam na construção de um novo modelo de rede
assistencial em saúde mental, álcool e outras drogas, incluindo pontos de referência para
os diversos serviços e suas práticas de cuidados.

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1.1 A Atenção Primária à Saúde

A Atenção Primária à Saúde (APS) constitui o primeiro nível de atenção e é a porta


de entrada do sistema de saúde. São seus principais atributos: primeiro contato,
longitudinalidade (acompanhamento do usuário ao longo da vida), integralidade das ações
e dos sujeitos, coordenação de ações e serviços essenciais, orientação para a
comunidade (conhecimento de suas necessidades), centralidade na família
(conhecimento dos seus membros e seus problemas de saúde) e competência cultural
através do reconhecimento das diferenças dos grupos populacionais (GIOVANELLA; e
MENDONÇA, 2008).

Ela se caracteriza como ponto privilegiado de atenção para a construção de saídas


possíveis pelo sujeito face ao seu sofrimento, sua circulação pela cidade, a melhoria do
seu convívio familiar, pensar na sua reinserção ou inserção no trabalho e na cultura,
através dos vários campos, na arte, no esporte, no lazer. Enfim, corresponsabilizar-se
pela atenção psicossocial dos moradores do seu território de abrangência tem sido o
grande desafio.

Neste ponto, estão compreendidos os seguintes serviços da Rede de Atenção


Psicossocial:

Unidade Básica de Saúde

Através da Estratégia Saúde da Família (ESF), a Unidade Básica de Saúde


constitui a principal porta de entrada no sistema de saúde para as pessoas com
sofrimento ou transtorno mental e/ou com necessidades decorrentes do uso de álcool e
outras drogas. Sabemos que nem todos os municípios podem ter um CAPS ou mesmo
necessitam desse dispositivo. Para os municípios de pequeno porte que não têm uma
população mínima para credenciamento, a saída encontrada tem sido a pactuação
regional entre os municípios, até atingir o mínimo populacional (15.000 habitantes) para
se criar um CAPS, o que implica em dificuldades de várias ordens, como o acesso dos
usuários destes municípios aos serviços especializados.

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Assim, mesmo que o sujeito seja acolhido num CAPS de referência em uma crise,
seu projeto terapêutico singular pode não acontecer de forma adequada, como uma
proposta de hospitalidade diária semanal. Isso faz com esses municípios pequenos
encontrem formas criativas de cuidar na atenção em saúde mental, álcool e outras
drogas, através de equipes de saúde da família.

A APS, através da Unidade Básica de Saúde, pode fazer toda a diferença neste
cuidado, compartilhado ou não com um CAPS. Um acolhimento humanizado, uma escuta
atenta, a inclusão do usuário nos procedimentos coletivos da unidade, mesmo e
preferencialmente em grupos heterogêneos, como os de caminhada, funcionam como
ótimos dispositivos de fortalecimento de vínculos, estabilização clínica e criação de laços
sociais.

Importante

É fundamental o desejo de acolher, incluir,


cuidar e escutar. A capacitação da equipe de trabalho
deve ser considerada como estratégia prioritária para
superação de fragilidades da formação quando
pretendemos efetivamente buscar esses objetivos.

Consultório na Rua

Os consultórios na rua são constituídos por equipes que atuam de forma itinerante,
ofertando ações e cuidados de saúde para a população em situação de rua em geral,
pessoas com transtornos mentais e usuários de crack, álcool e outras drogas, incluindo
ações de redução de danos, considerando suas diferentes necessidades.

No âmbito da Rede de Atenção Psicossocial é responsabilidade da Equipe do


Consultório na Rua ofertar cuidados em parceria com equipes das Unidades Básicas de

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Saúde e de outros pontos de atenção da rede de saúde, como os CAPS, Prontos-


Socorros, entre outros. Quando necessário, o recurso à utilização das instalações das
Unidades Básicas de Saúde do território para cuidado dos sujeitos está previsto.

Centro de Convivência e Cultura

Trata-se de uma unidade pública, articulada às Redes de Atenção à Saúde, em


especial à Rede de Atenção Psicossocial, onde são oferecidos à população em geral
espaços de sociabilidade, produção e intervenção na cultura e na cidade. Os Centros
de Convivência e Cultura são estratégicos para a inclusão social das pessoas com
transtornos mentais e pessoas que fazem uso de crack, álcool e outras drogas, através da
construção de espaços de convívio e sustentação das diferenças na comunidade e em
variados espaços da cidade.

Os Centros de Convivência e Cultura constituem em espaços de expressão e


criação, propiciadores de inclusão social e formação de laços. Trata-se de um dispositivo
de atenção psicossocial pautado na oferta de atividades criativas, diferenciadas e
relacionadas à cultura, tendo nas oficinas seu elemento organizador.

As experiências municipais bem sucedidas de implantação de Centros de


Convivência e Cultura apontam algumas possibilidades e efeitos para os sujeitos:

1. Constituem espaços de resignificação das histórias de vida e busca de sentidos.


2. Propiciam a externalização dos desejos, vontades, sentimentos e escolhas dos
sujeitos.

3. Promovem a circulação do sujeito.


4. Contribuem para a mudança de postura do sujeito, de sua família e comunidade
frente ao sofrimento vivenciado.

5. Possibilitam aos sujeitos adotarem uma atitude positiva frente às situações do


cotidiano.

6. Contribuem para a redução significativa da permanência-dia dos usuários nos


CAPS.
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7. Auxilia na melhoria das habilidades indispensáveis para o desempenho das


atividades de vida diária, para o autocuidado, para o cuidado com a casa e para a
convivência familiar.

8. Melhora da autoestima, da autoconfiança e da responsabilidade.

Face às suas potencialidades, este dispositivo da APS pode se constituir em


importante dispositivo da atenção psicossocial, trabalhando articulado a equipes de ESF
ou aos serviços especializados.

O Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF)

O NASF foi criado para apoiar as equipes das unidades básicas de saúde, ou
equipes de saúde da família a serem definidas pela gestão municipal, segundo critérios
populacionais e territoriais, através da inclusão de profissionais de saúde de distintas
áreas de conhecimento segundo a realidade local.

Em seu componente “atenção à saúde mental”, o trabalho da equipe profissional do


NASF compreende atividades clínicas, de apoio às equipes de APS e de articulação com
os demais pontos da rede. Compreendem:

1. O cuidado compartilhado junto às equipes a ele vinculadas e a construção do


projeto terapêutico articulando os conceitos de sujeito, rede, território e autonomia.

2. O suporte ao manejo da atenção dos sujeitos em sofrimento mental e em uso


abusivo de álcool e outras drogas no território.

3. Construção de saídas para enfrentamento dos problemas em parceria com os


usuários, familiares e comunidade.

4. As discussões particularizadas dos casos com suas equipes de referência da


atenção primária e equipes de atenção especializada.

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5. Atividades de inclusão e reabilitação de usuários no seu território de abrangência e


na cidade.

6. Visitas e atendimentos compartilhados com membros da equipe de saúde da


família e ou serviços especializados.

1.2 Atenção Psicossocial Especializada

A Atenção Psicossocial Especializada se caracteriza por serviços de maior


complexidade tecnológica e de recursos. Esse ponto da rede é responsável pela atenção
à crise e pela estabilização dos transtornos graves e persistentes, dentre eles, neuroses e
psicoses graves, muitas vezes em estado de abandono social e em processo de
cronificação.

Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)

O tratamento oferecido pelo CAPS deve configurar-se por estratégias e objetivos


múltiplos, preocupando-se com a atenção integral aos usuários em crise, o que exige não
somente ações no âmbito da clínica, mas também ações intersetoriais: de assistência
social, cultural, educacionais, judiciais, habitacionais, trabalho, etc.. As atividades de
inclusão social em particular devem ser parte integrante dos projetos terapêuticos.

Para tanto, é necessária a constituição de estrutura física adequada que contemple


espaços para atendimento às crises, para desenvolvimento de oficinas terapêuticas, para
hospitalidade diária, para promoção de debates, assembleias, reuniões e demais
atividades em grupo.

A equipe técnica é composta por diversos profissionais: assistentes sociais,


enfermeiros, farmacêuticos, psicólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais,
fonoaudiólogos, pedagogos, técnicos de enfermagem, técnicos administrativos,
oficineiros, dentre outros que devem atuar sempre de forma interdisciplinar e permitindo
um enfoque ampliado dos problemas.

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Importante
No momento em que um paciente é acolhido e
admitido para tratamento num CAPS, desde o início é
preciso que se pense na sua saída, do contrário, este
CAPS vai ultrapassar sua capacidade de atendimento, ou
no mínimo, virar um grande ambulatório, comprometendo
a qualidade da atenção prestada aos usuários em crise,
sua nobre missão.

São ações centrais do processo assistencial dos CAPS:

1. Acolhimento do usuário durante todo o período de funcionamento do serviço e


como elemento ordenador das ações que se seguirão para formulação do projeto
terapêutico de cada caso.

2. Elaboração de Projeto Terapêutico Singular, de acordo com o comprometimento


psíquico dos usuários e a possibilidade da hospitalidade diurna ou 24 horas.

3. Atendimento individual de enfoque medicamentoso, psicoterápico, de orientação e


apoio, inserção, inclusão, entre outros.

4. Atendimento em grupos de psicoterapia, grupo operativo, atividades de suporte


social e inclusivas.

5. Atendimento em oficinas terapêuticas executadas por profissional de nível


superior ou médio, tanto individualmente como em grupos e cujo tema é adaptado
de acordo com a necessidade dos usuários.

6. Visitas e atendimentos domiciliares, também conforme necessidade dos usuários


e suas respectivas famílias.

7. Atendimento à família, considerada parte integrante e crucial do tratamento, na


forma de grupos ou individualizada.

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8. Atividades comunitárias enfocando a integração na família, na escola e na


comunidade ou quaisquer outras formas de inserção social que se mostrem
eficazes para a boa evolução dos casos atendidos.

9. Ações intersetoriais para garantia de direitos sociais.

10. Estabelecimento de vínculo com instituições de ensino e pesquisa para


capacitação constante dos profissionais.

De acordo com a Portaria Ministerial nº 3.088, de dezembro de 2011, os Centros de


Atenção Psicossocial estão organizados nas seguintes modalidades:

CAPS I: atende pessoas com transtornos mentais graves e persistentes e


também com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas
de todas as faixas etárias; indicado para municípios com população acima de
15.000 habitantes.

CAPS II: atende pessoas com transtornos mentais graves e persistentes,


podendo também atender pessoas com necessidades decorrentes do uso de
crack, álcool e outras drogas, conforme a organização da rede de saúde local;
indicado para municípios com população acima de 70.000 habitantes.

CAPS III: atende pessoas com transtornos mentais graves e persistentes.


Proporciona serviços de atenção contínua, com funcionamento 24 horas,
incluindo feriados e finais de semana, ofertando retaguarda clínica e acolhimento
noturno a outros serviços de saúde mental, inclusive CAPS Ad; indicado para
municípios ou regiões com população acima de 150.000 habitantes.

CAPS AD: atende adultos ou crianças e adolescentes, considerando as


normativas do Estatuto da Criança e do Adolescente, com necessidades
decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas. Serviço de saúde mental
aberto e de caráter comunitário, indicado para municípios ou regiões com
população acima de 70.000 habitantes.

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CAPS AD III: atende adultos, crianças e adolescentes, considerando as


normativas do Estatuto da Criança e do Adolescente, com necessidades de
cuidados clínicos contínuos. Serviço com no máximo 12 leitos para observação e
monitoramento, de funcionamento 24 horas, incluindo feriados e finais de
semana; indicado para municípios ou regiões com população acima de 150.000
habitantes.

CAPS i: atende crianças e adolescentes com transtornos mentais graves e


persistentes e os que fazem uso de crack, álcool e outras drogas. Serviço aberto
e de caráter comunitário indicado para municípios ou regiões com população
acima de 70.000 habitantes.

1.3 Atenção Residencial de Caráter Transitório

Constituída principalmente enquanto modalidade de atendimento de inúmeros


pontos da rede psicossocial, como atenção primária, especializada e hospitalar, a atenção
residencial também se apresenta como um dispositivo de atenção formalizado pelo
Ministério da Saúde para cuidados contínuos de saúde. Fazem parte da atenção
residencial transitória os seguintes serviços:

A Unidade de Acolhimento tem como objetivo oferecer acolhimento voluntário e


cuidados contínuos para pessoas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool
e outras drogas, em situação de vulnerabilidade social e familiar e que demandem
acompanhamento terapêutico e protetivo. Atuam diretamente ligadas às equipes dos
centros de atenção psicossocial apresentam-se em duas modalidades: para adultos e
população infanto-juvenil.

Os Serviços de Atenção em Regime Residencial são os serviços de saúde de


atenção residencial transitória que oferecem cuidados para adultos com necessidades

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clínicas estáveis decorrentes do uso de álcool, crack e outras drogas. As Comunidades


Terapêuticas são entendidas como espécie do gênero Serviços de Atenção em Regime
Residencial; fazem parte desse ponto da rede de atenção psicossocial; devem trabalhar
integradas aos demais pontos da rede e pautadas pelos mesmos princípios que regem a
atenção psicossocial.

1.4 Atenção Hospitalar

Tem por objetivo aperfeiçoar o modelo de assistência à saúde mental no município


a partir da organização do cuidado hospitalar de maneira articulada com o SAMU, Pronto
Socorro, serviços especializados e de atenção domiciliar, possibilitando a ampliação do
cuidado, com internações em leitos de saúde mental, álcool e outras drogas em hospitais
gerais e constituindo retaguarda noturna, de finais de semana e feriados para os usuários
dos CAPS que necessitam de cuidados contínuos.

A implantação deste ponto evita o encaminhamento de pacientes que necessitam


de um cuidado contínuo para internação nos hospitais psiquiátricos e eleva o grau de
resolutividade das ações desenvolvidas.

De acordo com a Portaria nº 3.088, o Serviço Hospitalar de Referência, enquanto


componente da rede de atenção psicossocial, deverá oferecer suporte hospitalar, por
meio de internações de curta duração que deverão estar em consonância com a
legislação em vigor.

São algumas das exigências para seu funcionamento:

1. A construção de projetos terapêuticos singulares.


2. A vinculação a um CAPS ou serviço de referência em saúde mental, álcool e outras
drogas no município.

3. A existência de uma equipe especializada em saúde mental, álcool e outras


drogas.

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4. A constituição de equipe interdisciplinar de assistência.


5. A adoção do marco teórico da redução de danos na atenção aos usuários.

1.5 Estratégias de Desinstitucionalização

Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT)

Os Serviços Residenciais Terapêuticos foram criados a partir da efetivação da


reforma psiquiátrica, do fechamento progressivo dos leitos psiquiátricos e da necessidade
de suporte psicossocial e moradia para os pacientes egressos de internações
psiquiátricas de longa duração. Hoje, essa necessidade se apresenta diante de outros
casos de vulnerabilidade e desamparo familiar e social e mesmo diante da ineficácia de
determinadas redes desarticuladas e desatentas.

As residências funcionam articuladas aos outros pontos da Rede de Atenção


Psicossocial e não prescindem deles. Existem residências de maior ou menor
complexidade de acordo com o nível de autonomia dos usuários.

Programa de Volta para Casa

Esse programa atende egressos de longas internações em saúde mental e visam o


fortalecimento do processo de desinstitucionalização, que implica na reinserção social de
sujeitos em sofrimento mental com garantia de assistência.

1.6 Reabilitação Psicossocial

São consideradas ações de reabilitação psicossocial, as iniciativas de geração de


trabalho e renda, bem como, empreendimentos solidários e cooperativas sociais. Essas
ações deverão ser articuladas intersetorialmente.

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2. O Matriciamento na Atenção Psicossocial

O Matriciamento é uma
metodologia de trabalho em
redes de serviços que tem como
objetivo reorientar as ações de
saúde através da retaguarda
assistencial e suporte técnico-
educacional às equipes de
atenção primária.

Na Atenção Psicossocial em saúde mental, álcool e outras drogas, o matriciamento


constitui em uma importante ferramenta para capacitar, dar suporte às ações e fortalecer
equipes de atenção primária nos cuidados, ampliando as possibilidades de atendimento
de forma integral. Também constitui uma forma de intervenção nas crises e em quadros
estabilizados, evitando os ciclos de internações hospitalares com garantia de
acompanhamento longitudinal.

Segundo Campos e Domitti (2007), o apoio matricial pressupõe a construção de


projetos terapêuticos integrados, e para tanto, pressupõe uma articulação das equipes em
três planos:

a) atendimentos e intervenções conjuntas junto aos sujeitos, famílias e comunidade.


b) programação de atendimentos especializados e acompanhamento complementar
da equipe de atenção primária.

c) troca de conhecimentos e orientações para condução do caso na atenção primária.

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Muitos são os caminhos de aproximação entre as equipes especializadas e


equipes de cuidados primários para que se efetive uma prática sistematizada de
matriciamento. Alguns passos podem auxiliar as equipes nessa tarefa:

1. Realização de seminário ou fórum com o objetivo de introduzir o tema e formalizar


a implantação da nova proposta.

2. Construção coletiva de debates com todos profissionais da APS sobre os


problemas relacionados ao cuidado primário em saúde mental, álcool e outras
drogas.

3. Discussão dos casos através das visitas de profissionais dos serviços


especializados às unidades com frequência definida e decisão compartilhada sobre
a condução dos casos.

4. Visitas das equipes de atenção primária aos serviços especializados e de atenção


hospitalar para discussão de casos.

5. Incentivo e suporte à criação de grupos de acolhimento na unidade básica ou outro


espaço comunitário no território de abrangência, realizados de maneira
compartilhada entre os técnicos dos dois serviços. Os grupos de acolhimento
podem se efetivar enquanto porta de entrada da atenção psicossocial na atenção
primária na medida em que são abertos à comunidade, e as pessoas acolhidas
podem retornar, tornando-os também como espaços terapêuticos e de criação de
laços sociais.

Embora essa metodologia se apresente como uma inovação nas relações entre
profissionais de diferentes pontos da rede, ela vivencia alguns impasses que devem ser
considerados, tratados, cuidados, e não encarados como impedimentos. Alguns pontos já
levantados são: a dificuldade em conciliar as agendas dos técnicos dos CAPS com as
agendas das equipes de saúde da família; a expectativa da equipe de saúde da família,
ou da unidade de saúde, principalmente das ACS, de que os profissionais dos serviços
especializados irão resolver todos os problemas dos “pacientes da saúde mental”, a partir
da expectativa da “cura” e do encaminhamento aos CAPS.

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3. A Intersetorialidade na Atenção Psicossocial

A intersetorialidade em saúde
mental, semelhante à
interdisciplinaridade, é o campo das
interfaces, cujas bordas nem sempre
estão nitidamente delineadas, a
princípio, mas que se tocam, ora se
aproximam, ora se distanciam, mas
que se movimentam.

A Atenção Psicossocial, por sua complexidade, é um dos campos que mais aciona
esta articulação sempre pontual, diante de casos particulares, ou enquanto espaços de
interlocução e proposição de políticas públicas, como os fóruns intersetoriais
permanentes.

A intersetorialidade engloba as políticas sociais e faz interface com outras


dimensões da cidade, como sua infraestrutura e meio ambiente, que influenciam a
maneira como se dão as relações entre os diversos segmentos sociais.

Ela requer mecanismos de envolvimento da sociedade na construção de projetos


terapêuticos singulares e na construção de espaços coletivos para inserção social.
Implica, também, no permanente exercício do diálogo e busca de parcerias, integrando os
diversos setores: educação, cultura, habitação, assistência social, esporte, trabalho e
lazer, organizações não governamentais (ONGs), visando à melhoria da qualidade de
vida, a inclusão social e a construção da cidadania de sujeitos em sofrimento mental e em
uso abusivo de álcool e outras drogas.

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Conclusão
Nesta Unidade, foi realizada uma breve exposição sobre os diversos pontos que
compõem a rede de atenção psicossocial hoje e seus respectivos dispositivos. Também,
foram apresentadas as principais metodologias que articulam esses pontos: a
intersetorialidade nas ações e serviços e o matriciamento para fortalecimento do cuidado.
Contudo, sabemos que as realidades locais apresentam particularidades, fazendo com
que a organização da rede seja sempre única para cada município. Cabe aos
profissionais que atuam nessas redes e gestores locais, aliados aos movimentos sociais,
sustentarem uma prática pautada na singularidade dos sujeitos, na construção de
cidadanias e laços sociais.

Conteudistas

Juliana Meirelles Motta


Moema Pereira Guerra

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM Nº 3.088, DE 23 DE DEZEMBRO DE 2011 –


MS - Institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno
mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no
âmbito do Sistema Único de Saúde. Reedição de 21 de maio de 2013. Disponível em:
<http://www.brasilsus.com.br/legislacoes/legislacoes-recentes/legislacoes/gm/119156-
3088>.. Acesso em: 27ago. 2013.

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CAMPOS, G. W. ; DOMITTI, A. C. Apoio matricial e equipe de referência: uma


metodologia para gestão do trabalho interdisciplinar em saúde. Cad. Saúde Pública,
23(2): 399-407, 2007.

GIOVANELLA, L. ; MENDONÇA, M. H. M. Atenção Primária à Saúde. In: GIOVANELLA,


L. (Org.) Políticas e sistema de saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008. p. 575-625.

JUNQUEIRA, L. Novas Formas de Gestão na Saúde: Descentralização e


Intersetorialidade. Rev. Saúde e Soc Online, 6(2):31-46. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo>. Acesso em: 25 maio 2011.

SOARES, M. Centros de Convivência: Saídas e invenções - Espaço Saúde Mental.


Disponível em: <http/:www.espacosaudemental.esp.mg.gov.br/wp-
content/uploads/2011/texto referência-Marta Soares.pdf>. Acesso em: 26 maio 2013.

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