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“HELL YEAH!”
Fortaleza
2009
2
“HELL YEAH!”
Por uma Filosofia do Rock e do Metal a partir do
Pensamento Estético-Musical de Nietzsche
Fortaleza
2009
3
Data da Defesa:____/____/____
Banca Examinadora:
José Maria Arruda ___________________________________________
Universidade Federal do Ceará
Curso de Filosofia
Ao Público Headbanger
5
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
This work tries to explicitate the notions of the metaphysics of the art and the esthetics
of the existence of Nietzsche, linking them to two contemporary musical styles, Rock
and Metal, respectively. The study develops a hypothesis that the history oh the
evolution of the Rock musical style can be better comprehended connect with the study
of the evolution of Nietzsche’s musical thought.
The work points, in a first moment, to the correspondences between the metaphysics of
the artist and the Rock music through a problematization of the notions of dissonance,
chaos and unmeasurement. In a second moment, the research shows the Metal style as a
music that condenses, on a singular manner, the notions of a esthetics of the existence,
when it revolts itself against the usual forms of rationality, converting the experience of
the absurd, of the conflict and the tragic in a esthetical manifestation.
The study points, this way, to a comprehension of Rock and Metal as forms of
solidification of thee esthetical and musical thought of Nietzsche nowadays.
Keywords: Metaphysics of the Art, Esthetics of the Existence, Rock and Metal
9
CW – O Caso Wagner.
EH – Ecce Homo.
GC – A Gaia Ciência.
GM – Genealogia da Moral.
NT – O Nascimento da Tragédia.
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 11
CONCLUSÃO ...................................................................................................... 62
BIBLIOGRAFIA.................................................................................................. 64
ANEXO ................................................................................................................. 69
11
INTRODUÇÃO
3
“O Metal forma parte do Rock. Tocar como nós tocamos é energia pura. Buscar uma definição para o
que fazemos me parece desnecessário. Tentar classificar um grupo em um estilo é limitá-lo”.
(TRUJILLO, 2009, p.22).
14
encontro às condições históricas distintas que separam nosso pensador dos estilos de
música tratados.
15
CAPÍTULO 1
De fato, Sócrates alegava não compreender a tragédia, daí seu desinteresse por
ela, pois sua concepção de virtude estava atrelada à dialética, a uma crença num
princípio de inteligibilidade de onde derivaria o valor de todas as coisas. A consolação
metafísica que a música proporciona é substituída pela valorização do diálogo e da
palavra, como expressões da consciência, resultando no conceito estético de que tudo
deve ser consciente para ser belo, configurando assim, o chamado socratismo estético,
antítese máxima da arte dionisíaca.
Nietzsche, inconformado, propõe uma volta, um resgate da tragédia, para que,
desse modo, venha a se criar a possibilidade de seguir adiante com uma arte alemã já
refeita, realimentada, fortalecida pelo que existia de mais nobre na cultura grega. Deve-
se reconhecer na música a verdadeira postura estética frente à existência do homem,
pois é ela a única capaz de exprimir e capturar a essência do mundo.
De seu culto originou-se a tragédia, gênero dramático que tem como origem a
festa do vinho novo em Atenas e em toda Ática onde os participantes, assim como os
companheiros de Baco, disfarçavam-se de sátiros, tidos pela imaginação popular como
“Homens-Bode”. Outras versões contam que se sacrificava um bode em sua honra, pois
conforme uma lenda, Dioniso teria se transmutado naquele animal para fugir dos Titãs.
Daí o surgimento da palavra Tragédia: tragos, bode e oidé, canto4.
A tragédia será então vista por Nietzsche como a manifestação dramática que
melhor representa o emparelhamento de Apolo e Dionísio sem primazia de uma ou
outra força. Segundo ele, o problema reside no predomínio do elemento apolíneo como
a máxima verdade do mundo fenomênico, quando de fato essa mesma realidade traz em
si um elemento dionisíaco por si só amorfo não esgotado somente em bases apolíneas.
Abaixo desse véu, um princípio de ímpeto, caos e força anseia por vir à tona.
Emergindo da própria natureza, o dionisíaco possibilita a união com o chamado Uno-
Primordial provocando, através da música, o êxtase e o entusiasmo. Para Nietzsche:
4
(BRANDÃO, 1985, p. 10)
21
tempos fortes ou fracos. Para que esse encaixe fosse adequado, levava-se em
consideração o aspecto rítmico, associado à matemática – outra importante ferramenta
para o estudo e composição musical. Conforme os pitagóricos, os números são o próprio
constitutivo ordenador do cosmos e ordenar numericamente a música a partir das séries
harmônicas tinha como fundamento tornar o mundo, em sua totalidade, cognoscível.
Organizar numérica e harmonicamente os sons era uma maneira para a disciplinarização
da desordem do mundo. Assim, os pitagóricos inauguram, na Grécia Antiga, uma
concepção de arte intimamente ligada à esfera da episteme, com a fruição e valoração da
música atrelada ao seu modo de entendimento, culminando com a perspectiva platônica
da relação entre ethos e os modos musicais.
No Livro III da República, Platão irá atribuir à música uma importante função
ético-educativa na formação da sociedade como um todo, compondo uma ligação
indissociável entre harmonia, palavras e ritmo. Em nome de um princípio regulador da
ordem da pólis, ritmos pulsantes e determinadas séries harmônicas passavam a ser
proibidos, tidas como transgressoras tendo em vista o ordenamento sonoro como
espelho para o ordenamento social. Tal modelo incluía a proibição de determinados
instrumentos musicais como a flauta, atribuído à figura do deus Dionísio, e que impedia
a expressão do canto e do conceito. Conforme Miranda, isso explicita “a cisão que irá
traspassar épocas e lugares, entre a música das alturas, cívica, normativa, harmoniosa e
música rítmica, popular, pulsante, ruidosa, extática” (2005, p. 08).
Esse modelo irá reverberar na Idade Média em sua preocupação de unir o
conhecimento musical grego e hebraico aos ritos eclesiásticos. Nesse período, valoriza-
se ainda mais a música vocal, atribuindo-lhe a função de instrumento de propagação da
fé. Tanto para os gregos quanto para os medievos, a música é compreendida enquanto
detentora de um caráter moral, e será isso que durante a época de Nietzsche será posto
em questão. A relação matemática na música refletiria a própria ordem do cosmos,
concepção que, gestada pelos pitagóricos, será mantida pelos cristãos, valorizando ainda
mais os sons consonantes (apolíneos) em detrimento dos dissonantes (dionisíacos)
(MIRANDA, 2005).
Assim, determinados sons passaram a ser proibidos sob a acusação de
despertarem impulsos mais voluptuosos ou atribuídos a uma sonoridade “demoníaca”.
Como exemplo, determinadas relações intervalares dentro da escala diatônica tinham
sua harmonia e consonância comprometidas com a introdução do trítono, um intervalo
de três tons inteiros entre o dó e o fá# (também conhecido como diabolus in musica)
23
que ao gerar uma tensão passou a ser proibido durante a Idade Média (MIRANDA,
2008, p. 79). A aceitação desse intervalo só viria a acontecer no século XVI, ainda
como momento de passagem, com o surgimento do tonalismo, afinação uniforme dos
instrumentos e equalização dos 12 semitons da escala ocidental empreendida por Bach.
Nesse período, a época moderna e a confiança sem precedentes nas possibilidades da
razão dentro do século das luzes inauguram uma nova compreensão do fenômeno
musical.
5
O debate em torno dessa questão não é consensual, conforme comentário de Giaccoia acerca do
fragmento póstumo Nr. 12[1], da primavera de 1871:“ Por conseguinte, também para o jovem Nietzsche,
a despeito de seus vínculos com a metafísica de Schopenhauer, a ‘vontade’ não é essência do mundo, o
seu ‘em si’, mas unicamente a forma mais universal da aparência. Por essa razão, penso que não é
possível identificar o Uno-Primordial de O Nascimento da Tragédia a partir do espírito da música – e
também presente neste texto – com a vontade metafísica de que trata Schopenhauer”. (NIETZSCHE
Fragmento Póstumo Nr. 12[1], 2007, p. 170-171).
6
(NIETZSCHE, BM, p. 33).
7
“Em outras palavras, precisamos ser menos confiantes quanto a nossa compreensão teórica da
linguagem e mais – isto é, devidamente – confiantes quanto a nossa compreensão da música” (RIDLEY,
2008, p. 73).
25
8
“A Série dodecafônica foge à recorrência melódica, harmônica, rítmica, através de uma organização
simultaneísta de todos os materiais sonoros, de natureza polifônica e descentrada; o minimalismo é uma
música francamente interativa, baseada na repetição de motivos melódicos e pulsos rítmicos que passam
por processos de defasagem” (WISNIK, p. 162).
27
9
“O rythm and blues aparece aí como o gênero dionisíaco adequado, estabelecendo um contraponto com
as apolíneas modalidades do jazz moderno” (BARBOSA & MACHADO, 1998, p.96).
10
Não é longínqua, portanto, a hipótese que o nome blues possa ter surgido a partir de uma referência
depreciativa feita à música pratica por esses grupos (“Blue’ songs”).
29
11
Sobre esse tipo de postura, Nietzsche indaga: “A Moral não seria uma ‘vontade de negação da vida’,
um instinto secreto de aniquilamento, um princípio de decadência, apequenamento, difamação, um
começo do fim?” (NT, p. 20).
12
“Assim, a indústria cultural está sempre criando necessidades ao consumidor, que deve contentar-se
somente com o que lhe é oferecido, permanecendo sem chance de questionar sua condição passiva de
mero consumidor, de objeto manipulado” (MENDONÇA, 1999, p. 31).
30
Tal como Dionísio, tardiamente acolhido na pólis grega face aos demais
deuses, o Rock, fruto de uma camada social marginalizada, não é facilmente aceito no
modelo de sociedade erigida sobre rígidos preceitos morais. Assim como Baco, suas
metamorfoses jogam com os rígidos modelos identitários que visam inserir as
13
Conforme Wisnik: “O ruído é aquele som que desorganiza outro, sinal que bloqueia o canal, ou
desmancha a mensagem, ou desloca o código” (1989, p. 29).
31
14
Conta-se que a origem do grupo de Punk Rock Sex Pistols, teve origem com a visão de Malcom
McLaren – futuro empresário do grupo – de uma camisa de John Lydon com os Dizeres “eu odeio Pink
Floyd”.
34
CAPÍTULO 2
15
Trabalhamos a noção de ágon conforme Roberto Machado, segundo o qual “Ágon é o combate
individual que dá brilho à existência, tornando a vida do indivíduo digna de ser vivida não pela busca da
felicidade, como acontecerá a partir de Sócrates, mas pela busca do kleos, da glória” (MACHADO, 2006,
p. 204).
38
Assim, por meio de uma tipologia baseada na distinção entre fortes e fracos,
Nietzsche demonstra em A Genealogia da Moral como a perspectiva moral se faz
presente nas relações humanas e sobretudo na linguagem. Para Nietzsche, o tipo forte
utiliza-se de pressupostos descritivos na apreciação de fatos do mundo, enquanto o fraco
irá empreender sua avaliação baseado em uma perspectiva moral. Assim, enquanto a
oposição do primeiro se dá entre bom e ruim, o fraco empreende sua distinção a partir
das noções de bom e mau. Nietzsche equipara a noção de forte ao homem nobre –
nobreza esta que não está necessariamente ligada à determinada condição
39
socioeconômica – cuja postura irá se contrapor ao mundo limitado dos fracos, ou dos
escravos. O tipo nobre é aquele que mais se aproxima de uma postura de afirmação da
vida, visto que:
A moral nobre, a moral dos senhores, tem suas raízes num triunfante
dizer-sim a si – é auto-afirmação, autoglorificação da vida, necessita
igualmente de sublimes símbolos e práticas, mas apenas “porque o
coração lhe está muito cheio” (NIETZSCHE, CW, p. 44).
16
De fato, a influência e as inovações introduzidas por Wagner no panorama estético-musical de sua
época, pode ser equiparada, nos dias de hoje, segundo Malcom Dome, ao grupo de Hard Rock Deep
Purple tamanha a inovação e densidade de sua música (DOME, entrevista In: Metal: A Headbanger`s
Journey, 2005)
17
Conforme Dias: “O segundo volume de Humano, Demasiado Humano é assim porta-voz de um
deslocamento do centro de gravidade da filosofia de Nietzsche sobre a arte – a passagem da reflexão
sobre as obras de arte para uma reflexão bem particular, a vida mesma considerada como arte. E desse
modo Nietzsche diminui ainda mais a separação entre arte e vida, torna-a determinante na construção de
belas possibilidades de vida” (2000, p. 18).
18
A ópera Parsifal será o representante máximo dessa nova fase de crítica ao romantismo, o qual deixa de
ser compreendido como um período histórico-cultural específico e passa a ser descrito como um modo de
composição doente, à serviço de um sentido, da castidade e veículo para uma postura religiosa.
43
19
Por outro lado, apesar das duras críticas empreendidas ao seu antigo ídolo Nietzsche reconhece a
importância influência que Wagner exerceu em sua juventude e no contexto musical alemão: “Ainda hoje
eu procuro uma ópera duma fascinação tão perigosa, tão infinitamente terrível e doce como o Tristão;
procuro-a em todas as artes, porém inutilmente. As mais formosas e estranhas concepções de Leonardo da
Vinci perdem o atrativo diante dos primeiros acordes de Tristão. Essa obra é realmente o Nec plus ultra
de Wagner” (EH, p. 59).
44
20
Nesse período há uma aproximação de Nietzsche ao compositor Bizet através da ópera Carmen. Essa
mudança, em face da relevância de Wagner para história da música, é algo incompreensível para
determinados musicólogos.
21
A própria crítica à Wagner é empreendida sob forma de uma fina ironia e sarcasmo, a exemplo do título
“Crepúsculo dos Ídolos”: uma paródia em relação ao título da ópera wagneriana Götterdämmerung
(“Crepúsculo dos deuses”).
45
22
É importante ressaltar que uma das vertentes do Metal, o White Metal, utiliza-se da música como
veículo de propagação da mensagem cristã, com vistas à evangelização e disseminação das idéias das
Escrituras. Ainda que seja categorizado com um subgênero do Metal, sua aceitação não se dá de forma
homogênea dentre os adeptos do estilo. Dada a quantidade de bandas, fãs e espaços específicos dedicados
ao referido subgênero ser relativamente menor do que as demais vertentes da música Metal, o White
Metal não invalida os propósitos originais do estudo de pensar o Metal enquanto criação de si mesmo a
partir de uma crítica à esfera transcendente.
47
pela primeira vez no livro marco da geração Beat intitulado “O Almoço Nu”, de
William S. Burroughs. No que diz respeito ao aspecto musical, alguns estudiosos
atribuem à canção You Really Got Me do grupo The Kink’s o título de primeira música
no estilo musical Heavy Metal por utilizar em sua estrutura sonora os Power Chords,
técnica a partir da qual a nota mais grave ou tônica é tocada apenas com a dominante.
Em todo caso, dentro do contexto de profusão de ritmos musicais, a expressão “Heavy
Metal” mostrou-se bastante útil à imprensa da época pois permitia designar com um
único termo bandas que não se encaixavam nos padrões do Rock de até então e que
eram mais pesadas que os grupos de Rock Psicodélico.
O contexto social de criação do estilo musical Metal está intimamente atrelado
ao contexto sócio-econômico da Inglaterra, no início da década de 1970, sobretudo nas
cidades operárias ao norte daquele país, coincidindo com o fim das utopias da década
anterior (ilustrado emblematicamente com a frase de John Lenon: “o Sonho acabou”).
Nos Estados Unidos, a representação do que viria a se constituir como o Metal se dava
através de grupos como Iron Butterfly e Blue Cheer, pioneiras no uso das distorções
exacerbadas e formas de se portar no palco como conhecemos hoje: headbanging
(batendo cabeça), em que os músicos movimentam a cabeça para frente e para trás. Essa
postura se tornaria, mais tarde, marca registrada do modo de interação entre os amantes
do estilo e suas bandas favoritas.
Em termos sonoros, o estilo musical será marcado pela proeminência da
guitarra e dos pedais de distorção. Guitarristas virtuosos exibiam solos ricamente
elaborados e inseridos em estruturas musicais arranjadas, grande parte, a partir de riffs
(sequências de notas) seguindo escalas modais e cromáticas23. O trítono, outrora
condenado na Idade Média é incorporado sem restrição ao processo de composição
juntamente com diferentes escalas e modos condenados desde Platão em seu projeto de
cidade ideal.
23
Confira: http://encyclopedia.thefreedictionary.com/Heavy+metal+music#endnote_rf-8 Acessado em:
20 mai. 2009.
48
24
Dentro desse âmbito, o grupo estadunidense Cannibal Corpse já teve as capas dos álbuns Eaten Back to
Life (“Devorado de Volta à Vida”), Butchererd at Birth (“Esquartejado ao Nascer”) e Tomb of the
Mutilated (“A Tumba dos Mutilados”) censuradas na Alemanha e na Nova Zelândia. O banda foi
obrigada também a refazer tais capas na Austrália. (SLAGEL, Entrevista In: Metal: A Headbanger`s
Journey, 2005)
25
Nas palavras de Nietzsche “(...) o cristianismo, que desprezava o corpo, foi até agora a maior desgraça
da humanidade” (CI, p. 97).
51
26
“Quando jovem era a música que representava a minha comunidade, a comunidade que eu me
identificava e fiz questão de pertencer. Eram os headbangers. Sujeitos estranhos, quase sempre cabeludos,
arredios, inteligentes acima da média. Ainda sinto quase a mesma emoção” (BRUCE, ver anexo).
27
Conforme Leite Lopes: “Ao converter símbolos religiosos associados ao domínio ontológico do mal
por tradições religiosas majoritárias – logo símbolos tidos como dados constituintes da realidade pelas
mesmas - em convenções artísticas questionadoras, muitas vezes positivadas e pertencentes ao domínio
do construído, o heavy metal gera desconforto entre os que não compreendem essa operação, e tem por
resposta preconceito e evitação por grande parte dos não adeptos”. (2006, p. 185)
52
28
Prazer Infernal - Não há terra prometida /Nenhum lugar melhor para viver / Esse é nosso dia de glória /
Aqui e agora é nosso inferno / Eu sou meu próprio Deus / Eu sou meu próprio escravo /Não há salvador /
Que me veja durante o dia / Prazer infernal– prazeres da carne/ Prazer infernal – indulgência até a morte.
Todas as traduções das letras de bandas são de autoria de Felipe Ferreira
53
porque o ideal ascético foi até agora senhor de toda a filosofia, porque
a verdade foi entronizada como Ser, como Deus, como instância
suprema, porque a verdade não podia em absoluto ser um problema
(GM, p. 140).
29
O Filosófo – O que soa mais mentalmente estimulante/ É como você faz sua escolha/Então você prega
sobre/ Como eu deveria ser/ Você ainda não conhece sua própria sexualidade/ As mentiras alimentam seu
julgamento/ Observe como os cegos guiam uns aos outros/ O filósofo/ Você sabe muito sobre coisa
alguma.
54
Within my eyes
There is devastation an fury
You can't understand
In my fight
Win by attrition
I bring it with that I fucking am
Attitude is my addiction
I live life with no regret
Unlike you it's my affliction
That creates the template of all that I am
30
“Vindo das negras matas do norte o Mortificy lança seu 1º registro composto por cinco odes ao caos e
ao conflito” (RICARDO, Tadeu, 2006. p. 36) .
55
31
Catalisador – “Atitude é meu vício/ Eu vivo a vida sem arrependimento/ A não igualdade é a minha
convicção/ Que me separa do resto/ Eu vivo pela competição/ Seu cinismo só me faz ficar mais forte/
Eu sou a culminação/ Determinando o padrão que todos seguirão/ Eu vivo isto diariamente/ Não conheço
outra forma/ Dentro dos meus olhos/ Há devastação, uma fúria/ Você não consegue compreender/ Em
minha luta/ Venço por atrito/ Eu a trago com a porra daquilo que eu sou/ Você nunca lidou com tal
rejeição/ Lambendo suas feridas que não vão curar/ Você nunca viu tanta agressão/ Eu sou o grito para a
porra do seu silêncio/ Eu vivo isto diariamente/ Não conheço outra forma/ Atitude é meu hábito /Eu vivo
a vida sem arrependimento/ Ao contrário de você, é a minha aflição/ Que cria o modelo de tudo que eu
sou/Você sabe que eu sei/ Não importa o que você diga/ Você será batido hoje/ Como qualquer outro dia/
Algo sobre você/ Não o deixa partir/ De obsessões capengas/ Construídas dentro de você/ Esqueça as
conjeturas/ Você está iniciando junto à fonte/ Fitando em meus olhos/ Você verá que não há remorso/
Pois esta é a minha guerra/ O dia todo e todos os dias/ O conflito está em toda parte/ É!/ Traga a
competição/ Seu pessimismo só me faz ficar mais forte/ Eu sou a culminação/A porra do Padrão que
todos seguirão/ Eu vivo isto diariamente/ Não conheço outra forma”. Grifo meu.
56
32
“Do que falam então os versos do Black Metal? Ódio, dor, raiva, escuridão, sofrimento, angústia,
guerra... Até então sem problemas, afinal, muitos destes elementos não pertencem somente ao estilo em
questão” (FERREIRA. “Satanismo e Black Metal”. In: Whiplash,
http://whiplash.net/materias/opinioes/088015.html Acesso em: 23 abr. 2009)
57
33
Demigod - “Ouça-me! Oh verme! /Como pudeste cair a tão baixo nível?/ Redenção pela
negação!/Restrição se torna um pecado /Humanidade! Tão pura... /Castro vosso impotente Deus /Vomito
a blasfêmia /E para sempre venceremos”
34
“Escolhi para mim mesmo: individualidade, afirmação da vida, ambição, determinação e virtude,
musicalmente são pura energia, e toda vez que escuto o tema de abertura eu vejo as guerreiras, furiosas e
inderrotáveis legiões romanas”.
58
35
Determinados grupos de Death e Black Metal não passam imunes a anacronismos no que diz respeito à
compreensão nietzscheana de Deus, entendido aqui como um nome que simboliza qualquer noção de
absoluto a partir do qual o real é justificado. Ainda que estes assumam uma postura crítica ao ideal cristão
e seguidores de uma postura calcada no elemento humano/materialista, verifica-se ainda a afirmação de
um Deus – leia-se: em um princípio absoluto a partir do qual suas ações tornam-se justificadas.
Personificando na imagem de Satã (um ente transcendente e além-mundo) algumas letras dessas bandas
revelam o descompasso entre um discurso que prega a liberdade mas que, por outro lado, reproduz a
servidão a uma entidade da qual se afirmam discípulos e seguidores – ainda que contraposta ao Deus
cristão. Um bom exemplo é o grupo Hellhammer no trecho da música Maniac de 1983 de Tom Warrior.
(...)/ Midnight - Satan claims my soul/ Feels right - Mayhem is my goal/ Twelve times - Tolls the deadly
bell/ Moonrise - Messenger of hell/ I'm a maniac, fight for hell/ Devil's on my back, obey him well/
(…)
(Meia-noite – satã clama por minha alma/ Sinto bem - mutilação é meu objetivo/ Doze vezes – badala o
sino mortal/ O nascer da lua – mensageiro do inferno/ Eu sou um maníaco, luto pelo inferno/ O diabo é
meu próximo, devo obedecê-lo).
59
36
“Não importando o ponto de vista filosófico em que nos situemos hoje: o caráter errôneo do mundo
onde acreditamos viver é a coisa mais firme e segura que nosso olho ainda pode apreender” (BM, p. 38).
37
Segundo Cavalcanti: “A música desempenha, assim, um papel central na reflexão nietzscheana sobre o
processo de criação. Ela representa o estado indeterminado, sem objeto definido, que caracteriza o mundo
interno e ao mesmo tempo, o princípio criador, associado à natureza e às pulsões artísticas, a partir dos
quais são engendrados imagens e símbolos” (2007, p. 193).
60
They scratch me
They scrape me
They cut and rape me
38
Falido Fatigado e Ferido – Você sobe, você cai, você está por baixo e então você sobe novamente/ O
que não te mata te torna mais forte/ Você sobe, você cai, você está por baixo e então você sobe
novamente/ O que não te mata te torna mais forte/ Sobe, cai, por baixo, sobe novamente/ O que não te
mata te torna mais forte/ Sobe, cai, por baixo, sobe novamente/ O que não te mata te torna mais forte/
Através de dias negros/ Através de noites negras/ Através de soturnos vislumbres/Quebrando seus dentes
na dura vida que te chega/ Mostre suas feridas/ Cortando seus pés na dura terra que tu corres/ Mostre suas
feridas/ Quebrando sua vida, falido, fatigado e ferido/ Mas nós morremos com honra/O alvorecer, a
morte, a luta até o último suspiro/ O que não te mata te torna mais forte/Alvorecer, morte, luta, último
suspiro/ O que não te mata te torna mais forte/Eles me arranham/ Eles me raspam/ Eles me cortam e me
estupram/ Quebrando seus dentes na dura vida que te chega/ Mostre suas feridas/ Cortando seus pés na
dura terra que tu corres/ Mostre suas feridas/ Sua alma sangra numa estória de má sorte/ Mostre suas
62
feridas/ Derramando seu sangue na glória de um sol escaldante/ Mostre suas feridas/Quebrando sua vida,
falido, fatigado e ferido/ Mas nós morremos com honra.
39
“Da escola da guerra da vida – O que não me mata me fortalece” (CI, p. 10).
63
CONCLUSÃO
40
Ao contrário da música erudita, que exige o silêncio e o bom comportamento da platéia, o rock
pressupõe a troca, ou melhor, a integração do conjunto ou do vocalista com o público procurando
estimulá-lo a sair de sua convencional passividade perante os fatos (CHACON, 1985, p. 12).
64
BIBLIOGRAFIA
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
DOCUMENTOS SONOROS
METALLICA. Broken, Beat and Scared. In: Death Magnetic. Manaus, Vertigo/
Universal, 2008. 1 CD. Faixa 03.
BEHEMOTH. Demigod. In: Demigod. Manaus, Century Media, 2004. 1 CD.
Faixa 02.
UNLEASHED. Helljoy. In: Sworm Allegiance. Manaus, Century Media, 2004.
1 CD. Faixa 05.
SLAYER. Catalyst. In: Christ Illusion. Manaus, American, 2006. 1 CD. Faixa
02.
HELLHAMMER. Maniac. In: Demon Entrails. Paranoid Records, 2008 2 CD.
Faixa 05.
DEATH. The Philosopher. In: Individual Thought Patterns. Manaus, Century
Media, 1993. 1 CD. Faixa 10.
70
ANEXO
Metal é menos preso a dogmas, padrões de mídia, apesar de dentro dele existir os
padrões a certo ponto. Não é limitado e capaz de se expandir sem se acomodar aos
simples fatos de um momento ou moda tão comum em outros estilos.
música Clássica, por exemplo. Inteligente, pensante e algumas vezes chutando o pau da
barraca de forma descontraída e irônica. Quero dizer que o diferencial é um processo
individual, independente dos outros, mesmo que estejamos em grupos.