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ABORDAGENS, MODELOS E MODALIDADES DA

EXTENSÃO RURAL 1

Marcelo Miná Dias 2

De que forma a extensão rural acontece, na prática? Ao longo de sua história a ação extensionista
foi influenciada por diversas teorias que forneceram referências para orientar as práticas profissionais com
agricultores e produtores rurais3. Em sua origem, a extensão rural foi concebida como uma atividade de
transmissão de conhecimentos científicos para agricultores, no âmbito de ações de modernização agrícola4.
Com o passar do tempo, a partir da análise dos processos de interação, as limitações identificadas em
relação aos aportes teóricos e aos resultados parciais das ações, em termos de alcance de mudanças,
provocaram a busca de alternativas e o surgimento de uma diversidade de experiências que ampliaram os
campos de atuação e objetivos das práticas extensionistas5. A ação extensionista se tornou mais complexa,
passando a abranger temas para além dos objetivos de mudanças na base técnica agropecuária, vincu-
lando-a, cada vez mais, às demandas pela promoção do desenvolvimento socioeconômico dos espaços
rurais, para além da preocupação original – e praticamente exclusiva – com o desenvolvimento agrícola6.
Neste quadro de referências diversificadas à atuação profissional na extensão rural, é importante
compreendermos as diferentes formas de intervenção e interação que a ação extensionista assume nos
contextos locais e em situações específicas. A diferenciação das práticas diz respeito, em parte, à avaliação
das experiências à luz das teorias científicas, dos objetivos dos financiadores da extensão rural e da per-
cepção dos extensionistas e agricultores/produtores sobre a experiências realizadas. Estas diferentes for-
mas de “fazer extensão” são denominadas de “modalidades”. Por modalidade compreendo o modo como a
ação extensionista é estruturada em termos de concepção da prática que se expressa em um modo, maneira
ou método de trabalho, possibilitando a intervenção e a interação com os agricultores ou produtores.
Consideramos que as modalidades da ação extensionista se constituem historicamente a partir do
conjunto de experiências práticas e da referência a duas abordagens teóricas da extensão rural: a) a abor-
dagem diretiva ou linear; e b) a abordagem interativa ou participativa7.
A abordagem diretiva ou linear é assim denominada porque geralmente caracteriza intervenções
em que a difusão ou a transferência de conhecimentos, procedimentos, técnicas ou tecnologias ocorre a

1 Texto elaborado para utilização como material didático da disciplina ERU-451 (Extensão Rural), oferecida pelo Departamento de Economia Rural da Universidade

Federal de Viçosa (DER-UFV). Esta versão foi publicada online em março de 2019.
2 Professor Associado do DER-UFV (http://lattes.cnpq.br/2282213279382586).
3DAVIS, K., SULAIMAN V, R. Overview of extension philophies and methods. In: GFRAS. Global Forum for Rural Advisory Services. What Works in rural
advisory services? Global good practices notes. Swittzerland: GFRAS, 2018. Pp. 3-6.
4 COELHO, F. M. G. A arte das orientações técnicas: concepções e métodos. 2ª versão, rev. ampl. Viçosa: Suprema, 2014.
5Uma boa síntese destas mudanças, elaborada a respeito do caso asiático, pode ser encontrada nesta coletânea de estudos: van den BAN, A. W., SAMANTA,
R. K. (Eds). Changing roles of agricultural extension in Asia Nations. New Delhi: B. R. Publishing Coerporation, 2006.
6TRUJILLO, F. S. P. Extensión agraria y desarrollo rural: sobre la evolución de las teorias y práxis extensionistas. Madrid: Ministerio de Agricultura, Pesca y
Alimentación, 1996.
7Para fins da elaboração das duas abordagens utilizamos a proposta de: ROGERS, A. A extensão rural de terceira geração: em direção a um modelo alternativo.
Revista Atualização em Agroecologia, n.28, p. 9-11, jul. 1995.
partir de uma fonte (pesquisa científica, que representa o lugar legítimo da produção do conhecimento con-
siderado válido), difunde-se por um meio de comunicação (operacionalizado pela extensão rural) e chega
ao receptor (agricultor/produtor), que, no papel de receptor, adota as recomendações. Este percurso linear
busca caracterizar o processo de inovação, conforme ilustrado na Figura 1. Esta abordagem tem como
principal referência a teoria da difusão de inovações. Esta teoria concebe a inovação como um processo de
mudança baseado em uma decisão individual, resultado da comunicação bem-sucedida, realizada pelo ex-
tensionista, direcionada ao convencimento para a adoção de tecnologias8.

Figura 1. Representação da abordagem diretiva ou linear da extensão rural.

A abordagem diretiva ou linear é também denominada de top-down (“de cima para baixo”), uma
referência ao aparente caráter impositivo da alternativa (conhecimento, procedimento, técnica ou tecnolo-
gia), que é apresentada ao agricultor/produtor como solução ao problema que enfrenta. Desta maneira, na
origem do processo de intervenção há uma alternativa já selecionada, pronta a ser difundida, relativizando
ou tornando desnecessária a possibilidade de participação (em termos de tomada de decisão) dos agricul-
tores/produtores na definição de soluções, escolha entre possibilidades viáveis, adequação da proposta ao
contexto ou interferência no rumo da intervenção.
Considerando estas características gerais, esta abordagem desconsidera ou minimiza a importância
da escolha de alternativas mais viáveis ou adequadas, de acordo com as características do contexto e as
condições dos agricultores/produtores. Da mesma forma, tornam-se desimportantes os esforços de adapta-
ção ou adequação da solução escolhida a condições socioeconômicas ou agroambientais específicas, prin-
cipalmente se estas condições forem desfavoráveis à implantação da tecnologia definida para difusão 9. Por
esta razão, destaca-se com frequência a atribuição, por esta abordagem, de um papel passivo ao agricul-
tor/produtor, limitando (ou impedindo) sua capacidade de informar ou influenciar as demandas por pesquisa
e desenvolvimento, que incluiria a necessidade de produção de novas técnicas e tecnologias mais adapta-
das à sua realidade10. Devemos considerar, por fim, que esta é a abordagem que mais interessa a grandes
corporações emprenhadas em vender tecnologias (fertilizantes, defensivos, sementes, maquinário), consi-
deradas “imprescindíveis” ao alcance de “bons resultados produtivos”, pois há uma definição prévia das
tecnologias a ser difundidas, adotadas e consumidas11.
A abordagem interativa ou participativa, ao contrário, conceitua-se como aquela em que as inter-
venções e interações têm como ponto de partida o diagnóstico do contexto (caracterização das condições

8 ROGERS, E. Diffusion of innovations. 5th ed. New York: Free Press, 2003.
9 BUNCH, R. Duas espigas de milho: uma proposta de desenvolvimento agrícola participativo. Rio de Janeiro: AS-PTA, 1994.
10 CHAMBERS, R. Whose reality counts? Putting the first last. London: Practical Action Publishing, 1997.
11 van der PLOEG. Camponeses e impérios alimentares: lutas por autonomia e sustentabilidade na era da globalização. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008.

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agroecológicas e socioeconômicas) e os conhecimentos acumulados pelos agricultores/produtores na con-
dução dos seus sistemas de produção. Este ponto de partida coloca o agricultor/produtor como protagonista
dos processos de mudança12 e orienta a definição coletiva das melhores alternativas (conhecimentos, pro-
cedimentos, técnicas ou tecnologias) para enfrentar os problemas diagnosticados13.
Nesta abordagem não há uma fonte única de produção de conhecimentos, e sim a necessidade de
produção de conhecimentos sobre a realidade em que ocorre a ação (diagnóstico) e identificação participa-
tiva de alternativas que se adequem aos contextos e aos sujeitos que buscam por mudanças ou inovações.
Pesquisadores, extensionistas e agricultores/produtores são estimulados a participar de uma rede de circu-
lação de informações e conhecimentos, em que o diálogo e a interação são imprescindíveis à construção
de novos conhecimentos sobre a realidade em questão (Figura 2). Estes novos conhecimentos possibilitam
a identificação das alternativas mais adequadas a cada situação, a cada contexto, fundamentando proces-
sos decisórios sobre a mudança ou inovação. A ênfase nos conhecimentos presentes nas diversas frentes
de interação destaca o papel dos processos educativos e coloca os agricultores/produtores no centro do
processo participativo.

Figura 2. Representação da abordagem interativa ou participativa da extensão rural.

É comum denominar esta abordagem de bottom-up (de baixo para cima), uma referência ao seu
caráter democrático e construtivista, ressaltando a ênfase na participação dos envolvidos. A eficácia do
processo de mudança ou inovação depende da qualidade da participação dos envolvidos na construção de
diagnósticos, definição de alternativas e planejamento da implantação destas soluções no cotidiano dos
sistemas socioprodutivos. Destaca-se, portanto, o protagonismo dos agricultores/produtores na interação
com os extensionistas, os educadores e os pesquisadores. Além disso, a produção do conhecimento é vista
como um processo em que a ciência resulta da interação entre distintos conhecimentos que buscam viabili-
zar alternativas para enfrentamento de problemas que afetam os sujeitos sociais em seu trabalho cotidiano14.
Estas duas abordagens gerais – diretiva e interativa – possuem enorme diversificação interna, influ-
enciado o surgimento de vários modelos específicos de extensão rural (transferência de tecnologias, treino
e visita, campesino a campesino etc.). Para os objetivos deste texto nos interessa compreender melhor a

12CHAMBERS, R., PACEY, A., THRUPP, L. A. (Eds.). Farmers first: farmer innovation and agricultural research. London: Intermediate Technology Publications,
2009.
13 CHAMBERS, R. The origins and practice of participatory rural appraisal. World Development, v. 22, n.7, p. 953-969, 1994.
14 GUIVANT, J. Heterogeneidade de conhecimentos no desenvolvimento rural sustentável. Cadernos de Ciência & Tecnologia, v.14, n.3, p. 411-446, 1997.

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diferenciação da extensão rural em modalidades, ou seja, em maneiras diferenciadas de estruturação do
trabalho ou fazer extensionista. A modalidade da ação extensionista diz respeito, portanto, à forma e ao
método que a ação extensionista assume em determinada situação para alcançar seus objetivos de mu-
dança sociotécnica.
Uma modalidade se configura e se diferencia pela presença de algumas características essenciais:
a) Foco: cada modalidade define a ênfase em uma parte do processo de intervenção ou prioriza
um tema que ganha destaque na estruturação da ação extensionista.
b) Objetivo da ação extensionista: é a definição sobre o que a ação extensionista deve obter ou
proporcionar como resultado de um processo de intervenção.
c) Papel do extensionista: a prática profissional é fundamentada em teorias, referências ou orien-
tações práticas sobre como interagir com os agricultores/produtores. Este conjunto de referên-
cias, de acordo as duas abordagens anteriormente descritas, nos permite identificar o papel atri-
buído ao extensionista em cada uma das modalidades.
A análise histórica das ações extensionistas em diversos contextos15 nos permitiu identificar seis
modalidades distintas: a) difusão de informações; b) comunicação dialógica; c) educação/capacitação; d)
assistência ou orientação técnica; e) assessoramento/consultoria; e f) articulação/facilitação.
Com base nas três características essenciais, apresentamos na sequência as características prin-
cipais de cada uma das modalidades.

a) Difusão de informações
O foco desta modalidade é o processo de comunicação. O objetivo da ação extensionista é difundir
informações consideradas interessantes e úteis aos produtores/agricultores. O extensionista assume o pa-
pel de comunicador. Suas atribuições incluem: i) identificar informações que possam interessar e ser úteis
aos produtores/agricultores; ii) adaptar estas informações à capacidade de compreensão e utilização pelos
produtores/agricultores; iii) selecionar os meios de comunicação mais adequados aos seus objetivos de
difusão das informações; e iv) realizar a divulgação pelos meios escolhidos.
O termo “difusão” (e, por derivação, a expressão “difusionismo”) é comumente utilizado para des-
crever os processos unidirecionais de transmissão de informações, de uma fonte (ativa) a um receptor (pas-
sivo). Neste caso, na relação estabelecida com os agricultores, o papel do extensionista se limita a comuni-
car resultados/práticas desenvolvidas em universidades/centros de pesquisa e inovação. É uma situação
em que maior importância é conferida aos instrumentos ou meios de comunicação, visto que o elemento
humano é considerado mero receptor de algo que lhe é transmitido.
Esta modalidade requer do extensionista habilidades para compreender a informação técnica/cien-
tífica, produzir material de comunicação e difundi-la de maneira simplificada e objetiva, tornando a informa-
ção imediatamente acessível, com potencial de aplicação nos processos cotidianos que se desenvolvem
nos sistemas socioprodutivos. No cotidiano do trabalho, as atividades que possibilitam a difusão de informa-
ções incluem: produção de textos escritos, apresentações audiovisuais, programas de rádio e/ou televisão,
conteúdo para Internet, folders, cartilhas, boletins informativos, material didático, dentre outros.

15O trabalho de Trujillo (1996, já citado) é uma referência importante para identificação destas modalidades, visto que o autor apresenta uma análise dos objetivos
da ação extensionista em 12 países europeus. No entanto, a classificação das modalidades aqui apresentada é original, e ainda em processo de aprimoramento
teórico, por ser inédita nos estudos brasileiros sobre o tema.

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b) Comunicação dialógica
O foco desta modalidade é o processo de interação. O objetivo da ação extensionista é proporcionar
interação e diálogo entre sujeitos sociais e conhecimentos distintos. O extensionista assume o papel de
mediador, posicionando entre distintos conhecimentos presentes em processos de interação com produto-
res / agricultores. Suas atribuições incluem: i) identificar os distintos conhecimentos, interesses ou objetivos
presentes entre os sujeitos que interagem; ii) viabilizar espaços para que as distintas percepções presentes
se expressem livremente; iii) utilizar meios e metodologias para que a comunicação de informações e co-
nhecimentos circule nos espaços de interação, tornando-os compreensíveis e aderentes aos objetivos dos
participantes; e iv) facilitar processos de circulação de conhecimentos, tomada de decisão e aprendizado
coletivo.
As informações e conhecimentos são a base para o diálogo (troca de informações, conhecimentos
e saberes) acerca de mudanças a serem empreendidas pelos agricultores sob orientação dos extensionis-
tas. Nesta modalidade, quando utilizamos a expressão “comunicação” geralmente nos referimos a proces-
sos em que as mensagens, informações ou conhecimentos tornam-se parte de uma conversação, de um
intercâmbio multidirecional de significados, que ocorre como resultado da interação entre agentes que bus-
cam construir uma compreensão compartilhada sobre determinado assunto. Neste caso, o elemento hu-
mano é central para o processo comunicativo.
Para viabilizar este processo, o extensionista é responsável pela identificação, seleção, tratamento
e difusão/comunicação de informações, conhecimentos, como também de técnicas ou tecnologias que se-
jam consideradas interessantes e/ou úteis aos agricultores. O seu trabalho como comunicador requer a
adequação do conteúdo à capacidade de compreensão e de utilização pelos agricultores envolvidos na
interação. Da mesma forma, para estabelecer relações dialógicas, o extensionista, como comunicador, deve
adentrar e compreender o universo do seu interlocutor, interessando-se pela incorporação de sua visão de
mundo ao conteúdo da conversação estabelecida. Isto significa que o diálogo somente ocorre entre sujeitos
que participam reciprocamente da troca de informações e/ou conhecimentos. A difusão, ao contrário, pode
ocorrer sem que haja diálogo ou sujeitos comunicantes.
Esta modalidade requer do extensionista habilidades para coordenar processos participativos, ne-
gociar conflitos, orientar a construção de acordos, e facilitar a interação por meio do diálogo. Empatia, cor-
dialidade, disposição para ouvir, discernimento, capacidade de síntese, dentre outras características, são
qualidades pessoais e profissionais desejadas ao extensionista facilitador da comunicação dialógica. No
cotidiano do trabalho, as atividades que possibilitam a comunicação dialógica incluem: coordenação de reu-
niões, encontros, espaços para a capacitação, diagnósticos e planejamentos participativos, dentre outros.

c) Educação/capacitação
O foco desta modalidade é o produtor/agricultor como sujeito de um processo de ensino-aprendiza-
gem. O objetivo é o desenvolvimento de capacidades para gestão de sistemas socioprodutivos em todas as
suas dimensões (técnica, econômica, social e ambiental), incluindo decisões sobre inovações, gestão de
produtos e/ou processos, articulação política etc. O extensionista assume o papel de um educador, respon-
sável pela condução pedagógica de processos de ensino-aprendizagem. Seu trabalho pode envolver uma
gama diversa de enfoques e práticas: treinamentos, capacitações, educação para a cidadania, conscienti-
zação crítica, emancipação etc. Deste modo, suas atribuições incluem: i) identificar os conteúdos de

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aprendizagem demandados em cada situação por meio de diagnósticos; ii) organizar, pedagogicamente, o
processo de intervenção/interação em que estes conteúdos serão abordados; iii) viabilizar espaços, meios
e métodos para que favoreçam o aprendizado; e iv) desenvolver as potencialidades identificadas nos agri-
cultores/produtores a partir do(s) tema(s) do processo de interação.
No caso desta modalidade, há uma gama diversa de enfoques e práticas: treinamentos, capacita-
ções, educação para a cidadania, conscientização crítica, emancipação etc., que podem ser mobilizados
pelo extensionista para orientar e fundamentar sua interação com os agricultores16. As distintas concepções
de educação possibilitam fundamentar as práticas desta modalidade com base em abordagens muito dife-
renciadas e, por vezes, contraditórias. A educação informal como “treinamento” pode estar vinculada à ide-
ologia capitalista, buscando inserir os agricultores em relações de subordinação e dependência a regras
mercantis que beneficiam grandes empresas e corporações, como é o caso da agricultura familiar integrada
a agroindústrias, por exemplo. A educação informal como “emancipação”, por outro lado, tem o potencial de
promover o empoderamento do agricultor/produtor para seu posicionamento em relações mercantis que lhe
sejam mais justas, assegurando poder decisório (autonomia relativa) quanto a sua inserção ou não em redes
ou mercados. Desta forma, a ação extensionista na modalidade educação/capacitação, a depender do con-
texto em que se insere, pode assumir feições diferenciadas quanto aos objetivos e modelos de desenvolvi-
mento.
As habilidades profissionais requeridas envolvem principalmente a competência pedagógica, isto é,
o domínio da capacidade de conduzir de modo eficiente processos de ensino-aprendizagem. No cotidiano
do trabalho, as atividades organizadas pelos extensionistas como educadores incluem: palestras, oficinas,
dias de campo, demonstrações técnicas, projetos de educação ambiental, produção de textos didáticos,
dentre outras.

d) Assistência ou orientação técnica


O foco desta modalidade é a técnica ou a tecnologia. O objetivo é oferecer assistência ou orientação,
geralmente individual, direcionada à utilização correta e eficiente (conforme prescrição de quem a produziu)
de determinada técnica ou tecnologia (seja um produto ou processo). A assistência ou orientação técnica
visa gerar destrezas ou habilidades para o manejo tecnológico ou gestão de um sistema socioprodutivo.
Para alcançar estes objetivos, torna-se importante a obtenção de um comportamento disciplinado do agri-
cultor / produtor, ressaltando a autoridade do profissional na designação de tarefas, procedimentos e rotinas
a serem cumpridos.
O extensionista assume o papel de um tutor, especialista na técnica, tecnologia ou sistema de ma-
nejo/gestão. Seu objetivo é garantir – por meio de orientação e/ou treinamento – a eficiência da técnica ou
tecnologia, modificando o comportamento do usuário (produtor / agricultor) de acordo com os requisitos do
artefato por ele utilizado (máquina, insumo, processo). Suas atribuições incluem: i) pleno domínio da técnica
ou tecnologia em que se baseia sua relação com o produtor/agricultor; ii) identificação dos requisitos da
tecnologia em termos de comportamentos (do agricultor/produtor) a serem adotados, orientados e supervi-
sionados; e iii) planejar o cronograma de assistência e orientação de modo a garantir a realização do poten-
cial da técnica, tecnologia, processo ou sistema de gestão.
Nesta modalidade, o produtor/agricultor assume um papel subordinado à técnica, à tecnologia ou
ao processo, devendo obediência às normas, recomendações e/ou orientações que lhes são repassadas

16 GOHN, M. G. Educação não formal e o educador social: atuação no desenvolvimento de projetos sociais. São Paulo: Cortez, 2010.

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pelo extensionista. As habilidades profissionais requeridas incluem: conhecimento técnico especializado,
capacidade de comunicação, de ensino/treinamento, de liderança e exercício de autoridade. Suas atividades
práticas no dia-a-dia do trabalho incluem visitas técnicas para assistência ou orientação, organização de
atividades para treinamento e capacitação (dias de campo, demonstrações técnicas), dentre outras.

e) Assessoramento/consultoria
O foco desta modalidade é a gestão de processos produtivos ou organizativos. O objetivo é a pres-
tação de serviços de orientação/aconselhamento sob demanda do produtor/agricultor. O assessora-
mento/consultoria é definido como um processo colaborativo em que o extensionista propõe caminhos e
estratégias para enfrentar problemas ou limitações enfrentadas pelo produtor/agricultor. Este possui auto-
nomia para acatar ou não as propostas, desencadeando o acompanhamento (no caso de as propostas
serem colocadas em prática) ou busca de alternativas (quando o proposto foi recusado).
O extensionista assume o papel de orientador das decisões a serem tomadas pelo produtor/agricul-
tor. Trata-se de um processo de colaboração entre o assessorado e o assessor, baseado em uma interação
em que a cooperação é elemento-chave. Suas atribuições incluem: i) domínio do tema da assessoria/con-
sultoria que baseia sua relação com o produtor/agricultor; ii) conhecimento do sistema de produção objeto
da assessoria/consultoria; e iii) constituição de uma rede de contatos que possibilite apoio em seu trabalho.
Nesta modalidade, o produtor/agricultor se posiciona como sujeito de conhecimentos, interesses,
demandas e limitações. O assessor/consultor posiciona-se como sujeito de conhecimentos, capacidades
profissionais e limitações. Estas limitações são relativas à impossibilidade de ele dominar todos os assuntos
ou temas da assessoria. Por este motivo, estabelece redes de cooperação com profissionais que podem ser
acionados para ofertar respostas e/ou alternativas às demandas dos produtores / agricultores.
O extensionista é geralmente um especialista no tema de sua assessoria/consultoria e se coloca a
serviço do agricultor/produtor, preocupando-se com inserção da inovação no sistema socioprodutivo. Notem
que, ao contrário de um serviço de assistência técnica, a ação extensionista ocorre sob demanda do agri-
cultor/produtor ou da organização a qual está vinculado. Trata-se, portanto, de uma modalidade de presta-
ção de serviços em que a colaboração entre o assessorado e o assessor é um elemento-chave para o
alcance de bons resultados17.
Diferente da assistência técnica, não se trata de o agricultor recorrer a um especialista para “fazer
para ele” ou resolver um problema ou tomar decisões em uma situação em que não se sente capaz para
fazê-lo, mas, ao contrário, diz respeito a uma atitude de apoio, trabalho conjunto, cooperação para aprendi-
zado mútuo e solução de problemas. O agricultor se posiciona como sujeito de conhecimentos e limitações,
assim como o assessor (que deve ser reconhecido como um especialista que tem algo a contribuir). Nesta
situação, a mudança ou inovação se dá pelo aprendizado e não pela obrigação, como é geralmente o caso
da relação de assistência técnica.
Nesta modalidade de ação, o extensionista interage constantemente com o agricultor, elabora diag-
nósticos, disponibiliza informações, orienta, desenvolve capacidades necessárias e apoia processos deci-
sórios que concorram à eficiência socioeconômica do sistema produtivo. As habilidades profissionais reque-
ridas incluem: tolerância, abertura ao diálogo, empatia com os produtores/agricultores, liderança, domínio
técnico dos temas em questão, habilidades para constituição e gestão de redes de relacionamento profissi-
onal, dentre outras. Suas atividades no dia-a-dia incluem visitas individuais, reuniões, organização de

17 MONEREO, C., POZO, J. I. A prática de assessoramento educacional. Porto Alegre: Artmed, 2007.

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atividades para capacitação dos produtores / agricultores (oficinas, cursos, intercâmbios etc.).

f) Facilitação de processos
O foco desta modalidade é a interação social. O objetivo é potencializar a ação coletiva (associati-
vismo, representação de interesses...), gerando capacidades para que os produtores/agricultores e suas
organizações possam adquirir capacidades ao interagir com agentes sociais diversos.
O extensionista assume o papel de articulador e facilitador de interesses distintos que estão em
cena em determinada situação ou contexto. Seu objetivo é possibilitar a construção de acordos e definição
de objetivos comuns a uma ação coletiva. Suas atribuições incluem: i) elaboração de diagnósticos sobre a
situação ou contexto em que ocorre sua ação; ii) domínio de métodos, metodologias e técnicas de mediação,
organização coletiva, negociação de conflitos e comunicação organizacional; iii) habilidade para construção
de relacionamento interpessoais; e iv) propiciar um ambiente em que os distintos agentes envolvidos em
processos consigam chegar a um entendimento sobre a cooperação e a ação em busca de objetivos co-
muns.
O objetivo do extensionista é gerar capacidades para que os agricultores e suas organizações pos-
sam obter bons resultados ao interagir com agentes externos. Como estes processos geralmente compor-
tam agentes com interesses distintos, nem sem há objetivos comuns. É papel do extensionista orientar a
construção de acordos sobre estes objetivos: cumprir leis (Código Florestal, segurança alimentar, leis traba-
lhistas) e regras (produção de orgânicos, regras para acesso a mercados específicos), implementar soluções
a problemas ou viabilizar capacidades que não dependem apenas da ação individual. Seu trabalho requer
domínio de métodos, metodologias e técnicas de mediação, organização coletiva, negociação de conflitos
e comunicação organizacional. No trabalho cotidiano, sua ação visa disponibilizar informações que sejam
relevantes à tomada de decisões e ao aprendizado sobre a ação coletiva. Seu trabalho inclui propiciar um
ambiente em que os distintos atores ou organização consigam chegar a um entendimento sobre a coopera-
ção e ação em busca de objetivos comuns, estando intimamente relacionado ao trabalho de articulação
política.
Estas seis modalidades da ação extensionista são inter-relacionadas. Não é tarefa simples encon-
trar uma experiência concreta que corresponda exatamente às características de apenas uma modalidade.
Talvez a difusão de informações seja a que mais encontre correspondência entre a descrição teórica aqui
apresentada e a realidade de uma prática extensionista, visto que é a mais básica. As demais vão sempre
conter uma ou outra característica compartilhada. Todas estabelecem algum tipo de referência à comunica-
ção e à educação como campos de conhecimentos necessários à prática profissional. O objetivo desta tipo-
logia, apresentada em formato de modalidades, é permitir uma melhor compreensão do conceito de ação
extensionista, quando consideramos a diversidade real das atuais práticas de extensão rural em nosso país.

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