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Resumo
A produção omnilateral é a que objetiva o homem completo pelo trabalho produtivo e pela
vida em sociedade e a produção unilateral é a que visa somente a preparação do homem para
o trabalho alienado. Na atualidade a educação escolar abrange grande diversidade de aspectos
que fortalecem esta dicotomia porque são, na maioria das vezes, contraditórios entre a
formação humana para a vida e para o trabalho. O âmbito escolar, as atividades formativas
limitam-se a preparação do homem para ingresso no mercado de trabalho, mediante domínio
de uma técnica e de conhecimentos desconectados de sua vida, portanto, apolíticos e
alienantes. Apesar de Marx e Engels não haverem elaborado uma teoria da educação, em suas
análises filosóficas conjunturais sobre economia e política, encontramos importantes e
esclarecedoras orientações sobre educação e ensino. Nosso objetivo neste texto é apresentar
indicações sobre como deveria ser a educação na perspectiva marxista. Acreditamos que a
análise histórica fundamentada na perspectiva marxista de educação e de trabalho como
princípio educativo, permite-nos caracterizar como é a produção do homem unilateral, pelo
trabalho dividido especializado e a onilateral pelo trabalho produtivo e pela relação entre
educação e sociedade. Fundamentamos nossa discussão, principalmente, nos escritos de Marx
e Engels, quando tratam do trabalho e da vida em sociedade como elementos da aquisição da
humanidade pelo homem; Kosik quando trata da produção e reprodução da vida em sociedade
pelo homem; Vázquez quando caracteriza o homem como ser histórico, social e práxico; e
Manacorda que define a onilateralidade. Acreditamos a produção do homem completo
somente se dará, e nisso mais uma vez, firmamos a teoria marxista, quando o trabalho
produtivo e a relação entre educação e sociedade efetivamente produzam o homem o
profissional e cientificamente.
Introdução
Porque buscarmos nos escritos de Marx e Engels as idéias sobre educação se estes
filósofos-economistas não se dedicaram profundamente a esta temática? O que encontramos
em seus escritos que contribui para a superação da produção unilateral do homem derivada da
divisão e especialização do trabalho, promovida pelo modo de produção capitalista? Que
orientações Marx e Engels trariam para a produção do homem omnilateral na atualidade?
Para darmos algumas indicações, mesmo que sumárias, apresentamos, primeiramente,
as características básicas da educação na atualidade, e depois, como seria para Marx e Engels
a produção do homem completo. A princípio vejamos qual é, objetivamente, a realidade a que
nos referimos.
Partimos da identificação do seguinte problema: a escola é a instituição social
responsável pela educação, contudo, não tem cumprido seu papel mediante as transformações
econômicas, políticas, sociais e culturais do mundo contemporâneo. Estas transformações são
derivadas dos avanços tecnológicos, da reestruturação do sistema de produção e
desenvolvimento, modificações do papel e função do Estado, das mudanças no sistema
financeiro, na organização do trabalho e nos hábitos de consumo.
Conforme as características da sociedade capitalista atual, o homem vive entre
homogeneidades e heterogeneidades, entre globalização e individuação. Realidade que afeta
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os sentidos e significados dos indivíduos e grupos e cria inúmeras culturas, relações e sujeitos
portadores de dimensões física, cognitiva, afetiva, social, ética e estética. Sentidos e
significados situados em contextos socioculturais, históricos e institucionais.
Diante desta multiplicidade de fatores, a educação unilateral forma somente sujeitos
para o mercado de trabalho. Frente a esta realidade, o desafio da educação e da escola - uma
organização socialmente construída -, na sociedade contemporânea, é a produção do homem
completo, omnilateral. Como prática social, a educação é fenômeno essencialmente humano
e, portanto, histórico. Em relação às orientações pedagógicas gerais, antropológicas,
sociológicas e políticas, “[...] os dois teóricos do materialismo histórico [Marx e Engels]
esboçam uma proposta educativa que se desenvolve em torno do papel fundamental atribuído
ao trabalho no âmbito escolar” (CAMBI, 1999, p. 484).
Nesta perspectiva, Marx e Engels (1979) compreendiam o homem como ser real, de
ação em condições objetivas de existência, tanto as que se encontram prontas quanto as que
são produzidas. A omni ou onilateralidade é a
Como ser natural, vivente, ativo, repleto de forças, disposição, capacidade e instinto, o
homem é um ser sensível e objetivo que padece, sofre condicionamentos e limitações de
objetos existentes externa e independentemente. O homem necessita destes objetos, que lhe
são essenciais, indispensáveis para a efetivação de suas forças essenciais, ou seja, para torná-
lo naturalmente humano. Necessidade apontada por Marx, porque acreditava que “o homem
[...] é historicamente alienado pela organização capitalista do trabalho e, ao mesmo tempo,
pelas ideologias que ela exprime, mas é também um “ente” ativo que, por meio do trabalho e
da sua dialética revolucionária, prepara seu próprio resgate” (CAMBI, 1999, p. 483).
A efetivação da essência humana se dá pelo trabalho. Neste, o homem “põe em
movimento as forças naturais de seu corpo - braços e pernas, cabeça e mãos -, a fim de
apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana” (MARX,
2008, p. 211). Pelo trabalho “o homem alcança [...] a objetivação, e o objeto é humanizado.
Na humanização da natureza [promovida pelo trabalho] e na objetivação (realização) dos
significados, o homem constitui o mundo humano [e constitui-se humanamente]. O homem
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vive no mundo (das próprias criações e significados) [...]” (KOSIK, 2002, p. 203. Grifo do
autor).
Marx (2008, p. 211) definiu o trabalho como o “[...] processo de que participam o
homem e a natureza, processo em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona,
regula e controla seu intercâmbio material com a natureza”. Dissemos, então que “o trabalho é
um processo que permeia todo o ser do homem e constitui a sua especificidade” (KOSIK,
2002, p. 199. Grifo do autor).
espaço (função extensiva) como dimensões essenciais da existência humana, isto é, formas
específicas do movimento do homem no mundo” (KOSIK, 2002, p. 204).
Pelo trabalho o homem confirma a própria realidade em uma atividade objetiva. Ou
seja,
[...] consciência geral é apenas a figura lógica daquilo cuja figura viva é a
comunidade real, o ser social, enquanto hoje em dia a consciência geral é uma
abstração da vida efetiva e como tal a enfrenta como inimiga. Por isso também a
atividade de minha consciência geral – como tal – é minha existência teórica
enquanto ser social (MARX, 1978a, p. 10. Grifo do autor).
Marx (1979, p. 36), foi além da ação objetiva do homem sobre o objetivo e esclareceu
que pelo trabalho produtivo “a consciência [se torna], pois um produto social e continuará a
sê-lo enquanto houver homens”.
O único ato da consciência é o saber, ou seja, o “saber é seu único comportamento
objetivo” (MARX, 1978a, p. 42), de maneira que “o homem só conhece a realidade na
medida em que ele cria a realidade humana e se comporta antes de tudo como ser prático”
(KOSIK, 2002, p. 28. Grifo do autor) e somente “[...] supera (transcende) originariamente a
situação não com a sua consciência, as intenções e os projetos ideais, mas com a praxis”
(KOSIK, 2002, p. 240. Grifo do autor). Significa que, somente quando a prática humana é
guiada pela teoria que a embasa, torna-se práxis consciente, e possivelmente, revolucionária.
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De outro modo, a finalidade do homem para Marx e Engels (1978, p. 53) é “[...] o
enobrecimento da humanidade e dele próprio [...]” pela via que determinar para educar-se a si
mesmo e a sociedade. Por não ser abstração individual, “[...] a essência humana [...] em sua
efetividade é o conjunto das relações sociais” (MARX, 1978b, p. 52). Marx e Engels (1978)
advertiram que nem sempre o homem consegue adotar a carreira que lhe interessa, e que, as
relações que estabelece com a sociedade iniciam-se antes de poder determiná-las. Como
conjunto de relações, “a sociedade é, pois, a plena unidade essencial do homem com a
natureza, a verdadeira ressurreição da natureza, o naturalismo acabado do homem e o
humanismo acabado da natureza” (MARX, 1978a, p. 9).
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Enquanto as circunstâncias em que vive este indivíduo lhe não permitem senão o
desenvolvimento unilateral de uma faculdade à custa de todas as outras e lhe não
fornecem senão a matéria e o tempo necessários ao desenvolvimento desta única
faculdade, este indivíduo só atingirá um desenvolvimento unilateral e mutilado
(MARX; ENGELS, 1978, p. 62. Grifo do autor).
Vázquez (1977, p. 3) define “[...] práxis como atividade material do homem que
transforma o mundo natural e social para fazer dele um mundo humano”. Neste sentido, “a
relação entre teoria e praxis é para Marx teórica e prática; prática, na medida em que a teoria,
como guia da ação, molda a atividade do homem, particularmente a atividade revolucionária;
teórica, na medida em que essa relação é consciente” (VÁZQUEZ, 1977, p. 117). Deste
modo, “a superação positiva da propriedade privada como apropriação da vida humana é por
isso a superação positiva de toda alienação, isto é, o retorno do homem da religião, da família,
do Estado, etc., ao seu modo de existência humano, isto é, social” (MARX, 1978a, p. 9. Grifo
do autor).
A determinação exercida nos homens pelas condições reais em que vivem é devida ao
fato de que, as condições objetivas de vida refletem aquilo que são. “O que são coincide
portanto, isto é, tanto com aquilo que produzem como com a forma como produzem. Aquilo
que os indivíduos são depende portanto das condições materiais da sua produção” (MARX;
ENGELS, 1979, p. 19. Grifo do autor). Então, podem ser seres unilaterais ou omnilaterais,
parciais ou completos.
Ao invés da formação unilateral,
[...] o homem se aliena, e apenas ele, porque é o produto do que ele próprio faz, de
seu trabalho; justamente porque ele faz seu ser – em poucas palavras, por ser um
ente histórico -, o homem se encontra num processo de produção de si mesmo, isto
é, de humanização, dentro do qual pode encontrar-se em níveis humanos tão ínfimos
como o do homem alienado ou coisificado.
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Marx e Engels (1978, p. 111), já na segunda metade do século XIX, fizeram uma
avaliação crítica da situação alienante da sociedade da época e, em contrapartida,
apresentaram a proposta de
Para Marx e Engels (2004, p. 32. Grifo do autor) “a objetivação da essência humana,
tanto no sentido teórico como no prático, é, pois, necessária tanto para tornar humano o
sentido do homem como para criar o sentido humano correspondente à riqueza plena da
essência humana e natural”. A criação do sentido humano deriva-se do fato de que “[...] com
o seu agir o homem inscreve significados no mundo e cria a estrutura significativa do próprio
mundo” (KOSIK, 2002, p. 241. Grifo do autor).
A orientação geral de Marx e Engels (2003, p. 149) para a produção do homem
omnilateral parte da afirmação de que
Mas como posso ser virtuoso, se não sou? Como posso ter boa consciência, se não
sei nada? Tudo isto está fundado na essência da alienação: cada uma aplica-me uma
medida diferente e oposta, a moral aplica-me uma e a economia política outra,
porque cada uma destas é uma determinada alienação do homem e [...] fixa um
círculo particular da atividade essencial alienada; cada um delas se relaciona de
forma alienada com a outra alienação [...].
O homem, então, será livre quando superar as circunstâncias impostas pela sociedade
capitalista. Neste sentido, “a liberdade não é um estado; é uma atividade histórica que cria
formas correspondentes de convivência humana, isto é, de espaço social” (KOSIK, 2002, p.
241).
Considerações Finais
REFERÊNCIAS
KOSIK, Karel. Dialética do concreto. 7 ed. Tradução de Célia Neves e Alderico Toribio. São
Paulo: Paz e Terra, 2002.
MARX, Karl. Teses sobre Feuerbach. Tradução de José Carlos Bruni. In: Manuscritos
econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. Traduções de José Carlos Bruni. 2 ed. São
Paulo: Abril Cultural, 1978b.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã: crítica da filosofia alemã mais recente
na pessoa dos seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão na
dos seus diferentes profetas. Tradução de Conceição Jardim e Eduardo Lúcio Nogueira. 3 ed.
v. 1. Brasil: Martins Fontes, 1979.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A sagrada família ou A crítica da Crítica crítica contra
Bruno Bauer e consortes. Tradução e notas de Marcelo Backes. São Paulo: Boitempo, 2003.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. In: BOGO, Ademar
(org) Teoria da organização política: escritos de Engels, Marx, Lênin, Rosa, Mao. São Paulo:
Expressão Popular, 2005.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Textos sobre educação e ensino. Tradução de Rubens
Eduardo. São Paulo: Centauro, 2004.
VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Filosofia da praxis. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1977.