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Concluinte do curso de Psicologia do Centro Universitário Jorge Amado, Salvador/Bahia.
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Docente do curso de graduação em Psicologia do Centro Universitário Jorge Amado – UNIJORGE.
Bacharel e Mestre em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia (2004). Especialista na área de
Psicologia do Desenvolvimento.
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Introdução
A partir do tema, “A influência dos super-heróis no processo de
diferenciação do Self em crianças”, este artigo foi elaborado como
trabalho de conclusão do curso de Psicologia do Centro Universitário
Jorge Amado. O tema não é amplamente abordado em artigos,
revistas ou publicações acadêmicas, embora esteja constantemente
presente no cotidiano de várias famílias.
A diferenciação de Self consiste na capacidade do sujeito em
separar seu funcionamento intelectual e emocional do de sua
família de origem, permitindo que o mesmo se auto-referencie,
distinguindo-se como indivíduo. Esse processo tem início na infância
e perdura durante a vida, pois se trata de uma gradativa separação
da originalidade, não existindo alguém completamente individuado,
mas sim em constante processo (BOWEN, 1988).
O indivíduo que vai de encontro ao seu Self é tangido por
uma energia desprendida, que o leva a individuação, desde a
dissolução da maneira como se apresenta à sociedade, até a
resolução de conflitos familiares.
Por volta dos dois anos de idade, a criança começa a desenvolver
esse senso de Self. Logo no início deste processo, ela apresenta
noções de Self bastante concretas, como características físicas e
de gênero. Contudo, no decorrer de seu desenvolvimento, a criança
começa a integrar os traços internos - as qualidades, e apresentar
uma ideia geral de autoavaliação.
O objetivo desse trabalho consistiu analisar como a identificação com
os super-heróis influencia as crianças no processo de diferenciação de
Self. Para isso foi analisada também a vinculação das crianças aos super-
heróis, entendendo que a mídia tem papel importante nesse processo.
Foi necessário também explanar o conceito de Self, trazido por Bowen
(1988), identificando como esse processo se apresenta em crianças.
O presente estudo se justifica pelo interesse na compreensão
do processo de individuação de crianças e as influências ocorridas
no mesmo. A contribuição do trabalho está no fato de se buscar
aprofundar a reflexão sobre a temática, tendo em vista que a
literatura disponível a respeito do tema se mostra insuficiente.
Justifica-se também pela articulação entre a Teoria de diferenciação
de Self trazida por Bowen e explanada em outros teóricos, e a Teoria
do apego de Bowlby e seus postulados, visando o diálogo entre as
teorias, promovendo a divulgação do assunto.
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Revisão de literatura
Esta revisão teórica está baseada na ideia de que os super-heróis
influenciam as crianças no seu processo de diferenciação do Self, que
os comportamentos advindos do super-heróis, por meio de imitação,
funcionam para a criança como um modo de se diferenciar da família
de origem, e ir ao encontro de seu self pessoal, tendo em vista
também o papel da mídia na formação do apego infantil a esses heróis.
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Pelo vínculo formado com o super-herói, a criança absorve os aspectos
do mesmo nesse processo de diferenciação de sua família de origem. O
papel da mídia no apego infantil a esses heróis é ativo, pois a maneira
como a mesma veicula a imagem desses ídolos infantis, os associando
aos efeitos especiais, jingles, cores fortes e explosões, cria na criança
um apelo à imitação de comportamento, que pode ser internalizado e
integrado como um traço da identidade na infância. (FLORES, 2003).
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indiferenciação surge uma terceira pessoa como mecanismo para
redução da ansiedade na relação indiferenciada (MCGOLDRICK;
GERSON, 1995; ANDOLFI, 2002).
O conceito de massa indiferenciada do eu familiar consiste
na aglomeração e fusão entre selves�, se referindo a um estilo
transacional caracterizado por um sentimento de pertencimento
que requer uma máxima renúncia de autonomia. Neste sentido:
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um self corporal. Conforme Michael (2006), o senso de self infantil
inicia-se pelos autoconceitos concretos que a criança tem de si, ela
tende a focalizar em suas características visíveis e suas competências
em atividades físicas, desenvolvendo também o conceito de gênero,
tanto em si como no outro.
Em dois estudos feitos por Lewis e Brooks com bebês (BEE,
2003), foi percebido que o senso de autoconsciência começa a se
desenvolver juntamente com o de autoreconhecimento. No primeiro
estudo, puseram-se bebês de frente ao espelho, inicialmente
deixando-os à vontade para que interagissem com sua imagem;
após algum tempo, se finge limpar o rosto do bebê e coloca-se uma
mancha em seu nariz. Já no segundo estudo, defronte aos bebês
foram apresentadas fotos deles mesmos. Foi percebido que os bebês
que tocaram em si mesmos quando viram a mancha e os bebês que se
referiam a eles mesmos nas fotos por seus nomes, tinham faixa etária
superior ou igual a 21 meses, ou seja, tinham em desenvolvimento
a noção de autoconceito e autoreconhecimento em paralelo.
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formado em tal relação. Para Bowlby, os bebês nascem com um
comportamento inato de criar elos emocionais com seus cuidadores;
essas relações são formadas por um instinto de sobrevivência, pois
o bebê em início de vida não possui aptidões para resistir sem
cuidados externos.
A teoria do apego, hoje, se divide em dois períodos: o clássico
e o contemporâneo.
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ou sorrindo; ele responde ao ser tomado ao colo acalmando-se
[...]. Os pais por sua vez, entram nessa dança [...] pegam o
bebê quando ele chora, esperam seu sinal de fome ou outra
necessidade, sorriem para ele quando ele sorri (BEE, 2003, p.
351).
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formação subjetiva de algumas crianças.
A relação entre criança e televisão é intensa, as mesmas colocam o
televisor como peça importante no seu dia-a-dia. A televisão é percebida
pelas crianças como uma série de imagens pelas quais elas entendem a
realidade. Sendo o televisor uma tecnologia que transforma a imaginação
infantil em um objeto mágico, um depósito de possibilidades para
felicidade, combatendo o mal com o bem. (FLORES, 2003).
É notória a participação da mídia na vida de crianças. Ela
tem o poder de formar opiniões, criar paradigmas e influenciar
comportamentos. Principalmente durante as férias, época em que
a maior parte das crianças tem acesso à televisão ou à Internet,
passando mais tempo se dedicando aos programas de televisão ou
aos jogos eletrônicos do que fazendo outras atividades, como prática
de esportes, brincadeiras ao ar livre e leitura (BORDIEU, 1997).
Pensar em diferenciação de self é pensar em individuação, em
diferenciação da família de origem e conhecimento do mundo ao
redor, sendo que esse conhecimento em grande parte é colocado
atualmente pela mídia televisiva. Assim, o processo de diferenciação
está amplamente ligado à maneira de atuação da mídia. O efeito
que a televisão exerce sobre a criança é extenso, envolvendo
fatores psicossociais e culturais. Os programas assistidos fornecem
“roteiros” de comportamentos perante situações do cotidiano,
gerando um processo de imitação e modelagem pelas crianças,
(MARTINS, 2008) sendo algumas vezes até naturalizado pela família,
como algo comum e normal à idade.
De acordo com Sodré (2006), por trás do divertimento infantil
proporcionado pela mídia, há uma verdadeira indústria construindo a
consciência de crianças, que estão sendo reduzidas a consumidores.
De seres humanos livres e capazes de ter opinião própria, vão
passando a ter necessidades criadas pela mídia, tornando-se,
assim, governadas pelos meios de comunicação. Isso explica por
que a publicidade está se direcionando mais a este público, com o
objetivo de promover a necessidade de consumir roupas, brinquedos
e acessórios. É suficiente observar o modo como as crianças dançam,
se comportam e se vestem para se ter uma noção do quanto a mídia
as influencia.
A publicidade usa a criança como ponto de venda, como um
símbolo de uma das fases do ciclo de vida. A aquisição de uma roupa
ou brinquedo do herói preferido representa muito mais que uma
vontade da criança, mas sim, um objeto simbólico pelo qual ela pode
alcançar a “realidade” que se apresenta associada no momento da
vinculação. (ALVES, 2010).
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A maneira como a imagem dos heróis é passada às crianças gera
elementos de imitação, pois os mesmos propõem um mundo lúdico e
de magia, com personagens caracterizados como fortes e guerreiros,
traços e cores peculiares juntamente com o jingle no momento em
que aparecem despertam a atenção das crianças e a manutenção das
mesmas em frente a tela (MUNARIM, 2004). Como no caso dos Power
Rangers, a aparição dos heróis é acompanhada por explosões, cores
fortes e grande apelo visual, conforme apresentado na figura abaixo.
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O super-herói: um caminho no processo de individuação
[...] não podem ser desligados de sua época, bem como seu
desenvolvimento e destino. Os Super-heróis surgiram numa
época de demanda imaginária provocada pelos problemas sociais,
mas também se aproveitando das necessidades imaginárias
permanentes existentes em nossa sociedade.
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A identificação na infância com um herói também tem benefícios.
Há uma proporção educativa na imagem dos super-heróis,
principalmente no aspecto de valores morais. Entendendo educação
não somente como método em sala de aula, o processo de imitação
dos comportamentos apresentados pelo ídolo também é um processo
de aprendizagem para a criança. (FOGAÇA, 2003).
1º momento - Apresentação
- Socialização
2º momento - Distribuição de canetas coloridas,
tintas e papel em branco
- Desenho de si e sua família
- Desenho do herói
3º momento - Criação da fantasia do herói escolhido
- Apresentação do herói a turma.
Participantes e local
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o mesmo as influenciam o processo de diferenciação do seu self. O
ambiente das entrevistas foi de acordo com a localidade onde os
participantes se encontravam – uma sala da escola, e os instrumentos
aplicados foram os mesmos em todos os participantes.
A entrevista fundou-se em uma entrevista semiestruturada com
perguntas semiabertas, tendo como foco principal investigar as
questões levantadas de modo flexível, sem se enquadrar em um
momento específico, ocorrendo durante todo processo investigativo.
As entrevistas-conversa semiestruturadas deram espaço para a
opinião e argumentos dos participantes perante o tema abordado,
sendo um fator indispensável para um eficiente resultado. Essas
entrevistas tiveram como foco principal o processo de individuação
vivido atualmente pela criança. Assim, analisou-se o processo de
diferenciação de self na criança e o apego ao herói.
Foram usados nos momentos lúdicos da pesquisa instrumentos,
como desenhos, dramatizações e fantasias do herói, criadas pelas
crianças com os materiais oferecidos pelo pesquisador, sempre se
relacionando com a formação da identidade na infância, para que,
assim, pudesse se entender como as crianças se colocam diante de
situações de identificação com heróis de escolha.
O roteiro da entrevista e as dramatizações foram cuidadosamente
preparadas e realizadas em três momentos distintos como mostra
o quadro 1. Como instrumento de pesquisa utilizou-se os materiais
lúdicos, canetas coloridas, folhas de papel, tintas, fita colorida e
tecido kami.
No primeiro momento, se fez a apresentação do entrevistador
perante os participantes e vice-versa, sendo este um procedimento
necessário para o estabelecimento de vínculo com as crianças;
no segundo momento, os participantes usaram os instrumentos
lúdicos para desenharem a si e sua família e, posteriormente, seu
herói escolhido; e por fim, no terceiro momento, produziram uma
fantasia de seu herói e apresentaram a toda turma. A estrutura dos
momentos mencionados visou a oferecer a possibilidade de uma
identificação da criança com o personagem escolhido, tendo em
vista que o mundo lúdico faz parte da construção da visão de mundo
que a criança possui. (DELGADO; MÜLLER, 2005).
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participantes, se considerando também a diferenciação entre
gêneros por categoria apresentada. Os dados coletados foram
mensurados e relacionados com o referencial teórico apresentado
no estudo.
Os sub-temas trabalhados foram:
• Existência do herói.
• Importância do herói.
• Comportamentos de semelhança ao herói escolhido e mudança
de comportamento advinda do contato com o mesmo.
• Objetos do herói.
• Grau de contato com o herói por veículos de comunicação.
A relação de tais categorias com o gênero permitiu verificar
especificamente os resultados obtidos entre meninos e meninas.
Considerações éticas
Resultados e discussão
Os resultados e discussões aqui expostos estão baseados nosdados
obtidos com seis crianças, três meninos e três meninas apresentados
aqui como: Tiago com seis anos de idade, mora com seu pai, mãe
e irmão; Lucas com seis anos também, mora com seus pais e dois
irmãos; Caio com cinco anos, mora com o pai, mãe, um irmão e
uma irmã; Vanessa com cinco anos, mora com os pais e uma irmã;
Cecília com cinco anos, mora com seu pai, mãe e irmã e Ana com
seis anos, mora com pai, mãe e um irmão. Todos os entrevistados
estudam na mesma sala de uma escola privada na cidade do Salvador
e cursam o segundo ano do Ensino Fundamental.
Os dados coletados foram categorizados em função dos temas
apresentados anteriormente, estratégia que possibilitou chegar às
seguintes conclusões:
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Existência do herói
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Importância do herói
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e aceitação entre as crianças.
A importância do herói para meninos e meninas não difere,
mesmo as meninas apresentando ídolos com traços diferentes dos
meninos a importância dos mesmos segue igual. No tópico, “O que
menos gosta nele [o herói escolhido]?”, nenhuma criança menciona
algo que lhe desagrade, apresentando assim uma forte identificação
com esse ídolo, que possui uma conduta que não desabona a criança.
Objetos do herói
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maior. (MOTA, 2003).
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o próprio comportamento, elas trazem como suas as características
internalizadas do herói.
Outra importante análise é a influência do herói no processo
de individuação diante da família de origem vivida pela criança.
Quando solicitado ao participante Tiago para desenhar a si e sua
família, ele desenha o herói ao seu lado e desenha-se como o Flash
na família, se colocando como diferente do restante dos membros,
se diferenciando. Nota-se assim, a influência do herói no processo de
identidade. Conforme o desenho abaixo, o menino se identifica com
a imagem do herói, o destacando e diferenciando de toda família.
Considerações finais
O trabalho trouxe à tona questões perenes sobre o processo de
diferenciação do self em crianças e como os heróis de identificação
das mesmas as influenciam nesse processo. Embora não se encontre
muitas publicações sobre o tema, o mesmo é presente no cotidiano
de várias famílias e discutido por pais e educadores que em sua
maioria acreditam que os comportamentos agressivos advindos
das crianças vêm da influência da agressividade apresentada pelos
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heróis, visto que os jogos e brincadeiras infantis de hoje se mostram
bastante violentos.
Os achados apontaram para a interinfluência da identificação
com os super-heróis e o processo de construção da autonomia das
crianças participantes desse estudo, quando se toma a relação
com suas famílias de origem. É comum o uso do herói nessa
fase do desenvolvimento humano (dos cinco aos dez anos) como
metáfora das relações mais próximas que a criança forma com as
pessoas mais significativas, como sua família. Foi entendido que as
características identificadas no herói, assim, como suas ações são
internalizadas pelas crianças que passam a se comportar como eles,
isso leva a compreensão da necessidade, em um dado momento do
desenvolvimento, de figuras mesmo que imaginárias, como forma
de descolamento dos pais.
Foi percebido pelo contato com as crianças que a existência
do herói é comum a infância e que as mesmas possuem uma
identificação intensa com os ídolos da mesma faixa etária, sendo
que os meninos se identificam com o estereótipo masculino e as
meninas com o feminino. O super-herói é usado como um meio de
socialização entre as crianças, um meio de interação e aceitação
entre as mesmas, pois a partir desse contato a criança se fortalece,
canaliza seus sentimentos e lida com os dilemas do dia-a-dia. Os
aspectos vistos como positivos no herói de escolha são trazidos
pelas crianças como delas, em uma tentativa de internalizá-los,
elas aderem aos comportamentos que desejam possuir do herói,
como no caso da pesquisa a característica de ser “rápido” e vencer
as corridas na escola.
Vale ressaltar que, na construção desse trabalho, alguns entraves
surgiram como forma de redirecionamento da pesquisa. Um ponto
principal refere-sea escassez de articulação teórica Boweniana
com os achados de pesquisa, o que sugere novos apontamentos
para os estudos que contemplam esta temática, além de contribuir
para preencher lacunas no que tange a relação entre vivência de
momentos do desenvolvimento e construção da personalidade da
criança, o outro ponto é a inclusão da família das crianças, visto
que se tornou difícil essa inserção pela escassez de tempo.
Outro aspecto que este trabalho traz como contribuição,
em contraposição ao corriqueiro foco negativo que a Psicologia
atribuía as vivências de relações com os pais, refere-se ao foco
mais otimista para a construção da autonomia em crianças; no que
tange a coleta de dados, ficou a necessidade de aprofundamento a
partir de novos contatos com as crianças, visto que há limitações
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nos dados coletados pela impossibilidade de novos encontros. Esse
trabalho vem trazer como ponto positivo a autorização das vozes
das crianças, quando a maioria das pesquisas foca na percepção
dos pais, bem como a utilização de uma metodologia adequada ao
imaginário infantil, como desenhos, estórias e fantasias.
Acredito que a pesquisa apresentada seja um bom questionamento
para trabalhos futuros, visto que o herói é necessário a criança nessa
fase do desenvolvimento, sendo uma forte figura de imitação e
contato com o self pessoal. Sendo um tema cotidiano, é importante
sua pesquisa e divulgação. Fica a necessidade da inclusão da família
de origem como forma de compreensão integral no processo de
autonomia de crianças, podendo ser este um trabalho base para
futuras investigações a respeito dessa temática.
Referências
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FLORES, T. M.. Que televisión quieren los niños. In Congresso
Iberoamericano de comunicação e educação. 2003, Argentina. Disponível
em <http://www.redsistemica.com.ar/tele1.htm>. Acesso em:15 Out. 2010.
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identidade como um processo dramático. 2006. 269f. Tese (Doutorado) –
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
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de curso) - Universidade de São Paulo, Departamento de Administração,
São Paulo.
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