Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Por que Deus diz "façamos o homem à nossa imagem"? Um pouco mais
à frente é dito: "E fez o homem à imagem de Deus."(Gn 1,26.27). Para
Agostinho, Deus diz à nossa imagem para marcar que não somos imagem só do
Pai, ou só do Filho ou só do Espírito Santo. Somos imagem da Trindade, mas
essa mesma Trindade é apenas um só Deus, daí porque o Gênesis logo diz "e
fez o homem à imagem de Deus". Mas o que significa dizer que fomos feitos à
imagem e semelhança de Deus?
com o que Deus se parece, nós precisamos olhar para a nossa própria alma."
Ora, vimos que o homem exterior é o que se norteia pelos sentidos,
enquanto o homem interior é o que procura fundar seus pensamentos e ações na
inteligência e na contemplação das verdades eternas. Portanto, será somente o
homem interior que poderá deter a imagem de Deus, uma vez que somente ele é
capaz de se voltar a si mesmo, buscando conhecer a Deus, sendo que, para isso,
passará antes pelo conhecimento de sua própria alma.
Contudo, seguindo a explanação de Agostinho no DT, X,3,5, vemos que
a busca do conhecimento da alma por si mesma baseia-se não num
desconhecimento, mas num conhecimento já dado, pois a alma:
110
"Portanto, tudo o que existe é bom e possui alguma semelhança com o sumo Bem, embora de
modo longínquo." De Trin. XI, 5, 8
123
111
"Embora a alma humana não seja da mesma natureza que a de Deus, contudo a imagem
dessa natureza _ a mais sublime que se possa pensar _, é preciso procurá-la e encontrá-la em
nós, lá onde nossa natureza possui o que há de mais excelente." DT. . XIV, 8,11
125
substância essas três realidades consideradas 112 e propõe, então, uma segunda
trindade exterior: a imagem do objeto que está na memória, a visão interna e a
vontade que une as duas. Apesar de se dar toda dentro da alma,113, esta é ainda
uma trindade exterior porque teve sua origem em estímulos externos.114
Somente no livro XIV, Agostinho volta à trindade memória, inteligência e
vontade, aquela que ele julga melhor refletir a imagem trinitária divina no
homem. Como nos diz a Ir. Nair de Assis:" O elemento que gera (gignem) é a
memória; o que é gerado (genitum) é o pensamento inteligente (cogitatio). E a
dileção é a vontade, o terceiro termo que une o primeiro ao segundo".115 É nessa
operação da mente, de se debruçar sobre si mesma, que se deve procurar a
imagem de Deus no homem:
112
"Ora, não se dá apenas clara diferença exterior entre as três realidades mas também
diversidade de natureza entre elas." DT. XI, 2,2
113
"Nesse caso ainda, isto é, nesta segunda tríade, realiza-se certa unidade de três realidades,
mas que não são distintas entre si por diversidade de natureza, mas sim possuindo uma só e
mesma substância, pois tudo isso se encontra no interior da alma e tudo é uma só e mesma
alma." ibid. XI, 4,7
114
"Entretanto, descobriu-se que esta trindade diz respeito ainda ao homem exterior, porque
teve sua origem nos objetos percebidos exteriormente."ibid XV,3,5
115
ibid. nota 19 do livro XV
126
116
DT.. nota 27 do livro XIV
117
Ir. Nair de Assis, ibid. nota 50 do livro XIV
127
porque o que lhe é próprio não é o fato de ser divina, mas sim a possibilidade de
se aproximar do divino, para conhecê-lo. Este aspecto permite entender sua
concepção de que a alma, não divina, mas criada segundo à imagem de Deus,
deverá contudo estar sempre buscando aprimorar-se de modo a tornar-se mais e
mais próxima de Deus. É o que nos mostra todo o capítulo 2 do livro XV do De
Trinitate a partir do preceito que diz:"Alegre-se o coração dos que buscam o
Senhor. Procurai a Deus e sede fortes, buscai sempre a sua face. "(SL 104,3.4)
Agostinho se pergunta por que é que não é dito: alegre-se o coração dos que
encontram, mas sim dos que buscam o Senhor. Com base neste salmo e em
outras passagens escriturais é que ele formula sua dialética do espírito, em que a
alma está em permanente movimento, sempre buscando um bem perene,
porque, como ele mesmo diz:
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9816028/CB
coisas temporais, ainda que pela parte direcionada para a verdade, ela
permaneça imagem de Deus, todavia pela parte que se ocupa na ação
em coisas inferiores ela não é imagem de Deus. E quanto mais se
elevar para as coisas eternas tanto mais vai se formando à imagem de
Deus. (DT, XII, 7,10)
118
Uso evolucionista aqui remetendo à idéia de progresso, que está na base do pensamento de
Agostinho.
119
"Nenhum cristão duvida que nós morremos na alma e no corpo: na alma, pelo pecado, e no
corpo, como pena do pecado", DT, IV, 3,5
120
"Segundo esta imagem do Filho, à qual nos conformamos no corpo pela imortalidade, é que
fazemos também o que diz o mesmo Apóstolo [...] acreditemos com fé verdadeira e esperança
certa e firme que, após termos sido mortais segundo Adão, seremos imortais segundo
Cristo.Assim, desde agora, podemos levar a sua imagem não ainda em visão, mas na fé; ainda
não em realidade, mas em esperança." ibid. XIV, 18, 24
121
"Com efeito, ela [a imagem] não pode restaurar-se a si mesma, como pôde deformar-se a si
mesma."ibid. XIV, 16,22
130
Então, é no homem interior que a graça atua, o que quer dizer que o
percurso da interioridade necessita ser palmilhado pela graça de Deus, para que
132
122
Epist. ad Gal. expos. 38:PL 35, 2132, citado por Capánaga, op. cit. p. 210
123
"Pelágio faz consistir esta misericórdia e esta ajuda medicinal do Salvador somente no
perdão dos pecados cometidos e nega a necessidade da ajuda para se evitarem os futuros."
Agostinho in A natureza e a graça, cap. XXXIV 38
124
"Já teria escrito esse livro, onde defende claramente a doação da graça de Deus conforme
nossos merecimentos...?" Agostinho, in A graça de Cristo e o pecado original, cap. XXII, 23
125
`" Portanto Deus cura não somente apagando os pecados, mas também agindo para evitarmos
o pecado."in A nat. e a graça, XXVI, 29
133
126
Enarrat. in ps. 70 sermão 2,2 (PL 36,892), citado por Capánaga, op. cit. p. 101
134
127
"Seu objetivo é anular a graça de Cristo ao proclamar a natureza como auto-suficiente para
alcançar a justificação." in A natureza e a graça, L, 56
128
Enarrat. in ps 46,13 (PL 38,437), citado por Capánaga op. cit. p.111
129
In Epist. Io tr. 3,13 (PL 35,2004), citado por Capánaga p. 110
135
Foi o grito de Deus que acordou Agostinho, Deus que já estava dentro
dele mas ele não via. Se Deus não o houvesse chamado como poderia vê-lo e
como poderia reconhecer que Ele já lhe estava dentro?
Outra interseção entre aspectos éticos e epistemoló gicos se pode
observar a partir das colocações de Agostinho em EL, em que ele se refere à
passagem de João que diz: "Ora, a vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti,
o Deus único e verdadeiro e aquele que enviaste, Jesus Cristo"(Jo 17,3). A vida
eterna, promessa da salvação, é definida como conhecimento de Deus. E esta
promessa não aponta para bens terrenos e temporais, tal como no Antigo
Testamento, mas sim, agora,
É este o papel da graça na nova Aliança: é ela a dádiva de Deus que nos
possibilita resgatarmos a salvação perdida pelo pecado, mas inscrevendo-se no
coração dos homens, pois como diz Agostinho, "...em vão o operário
multiplicará seus esforços exteriormente, se o Criador não operar secretamente,
no interior." (CJ,18,22) Eis como opera a graça, internamente, nos corações do
homem, pois é "...Deus quem opera em nós o querer e o agir." (GC, Livro I,
25,26)
Finalmente, é importante mencionar a sentença que, segundo Kirwan,
tanto escandalizou os pegalianos, quando leram nas Conf.: "...Concede-me o
que ordenas e ordena-me o que quiseres. " (Conf. X,29,40) Este é o sentido da
humildade em Agostinho, o da entrega total àquele de quem recebeu o ser e a
existência, e não uma subserviência medrosa. O maior inimigo desta humildade
é a soberba, que Agostinho identifica como o maior de todos os males, pois ele
sabe que se ela se estampa em nossos corações, não estaremos no caminho da
ascese espiritual que a salvação demanda. Pos isso também a graça não é dada
pelas boas obras, mas é gratuita130, pela bondade de Deus; ela não premia as
boas obras, antes ela restaura na natureza humana a possibilidade da salvação,
perdida com a queda:"...a graça não foi negada pela natureza, mas sim a
natureza foi restaurada pela graça." (EL, XXVII, 47)
130
"Mas esta graça,[...] não é dada em consideração aos merecimentos, mas gratuitamente..."in
A nat. e a graça, IV, 4
137
a esse conhecimento, isso não quer dizer que todos o percorram. É a graça,
operando internamente em cada um, que possibilitará a busca desse caminho,
uma busca possível devido a uma natureza já dada. Ou seja, o que possibilitará a
salvação será menos a obediência e o apego a signos externos tais como boas
obras ou mesmo, os sacramentos, mas a graça interior de Deus. Por isso Cary
(1994:349) diz que "...a graça é o poder divino que cura nosso olho interior, de
modo que se possa, novamente, ver, amar e desfrutar da Verdade que estava lá,
dentro de nós, todo o tempo."