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EXPRESSO (HTTPS://WWW.NEXOJORNAL.COM.BR/EXPRESSO/)
A publicação de diálogos privados da Operação Lava Jato completa um mês nesta terça-feira (9). As conversas
vazadas começaram a vir a público a partir de reportagens (https://theintercept.com/series/mensagens-lava-
jato/) do site The Intercept Brasil em 9 de junho de 2019 e mostram diálogos no aplicativo Telegram
atribuídos a:
Sergio Moro, hoje ministro da Justiça de Jair Bolsonaro e na época das conversas juiz
responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância em Curitiba
As reportagens começaram com o Intercept, mas o site posteriormente fechou parcerias com o jornal Folha de
S.Paulo, com a revista Veja e com o jornalista Reinaldo Azevedo, da rádio BandNews FM. Esses veículos de
comunicação também atestaram a autenticidade das mensagens e passaram a fazer apurações conjuntas com
o Intercept.
O Nexo resume abaixo quais são os trechos mais importantes dos diálogos vazados pelo Intercept e seus
parceiros. As conversas sugerem uma atuação enviesada do ex-juiz, de modo próximo com o lado da acusação
— algo que ele nega.
DESEMPENHO DE PROCURADORA
Em 13 de março de 2017 (https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/06/21/Os-
di%C3%A1logos-dos-acusadores-da-Lava-Jato-sobre-Laura-Tassler), Moro envia a Dallagnol
a seguinte mensagem: “Prezado, a colega [procuradora da Lava Jato] Laura Tessler de vocês
é excelente profissional, mas para inquirição em audiência, ela não vai muito bem. Desculpe
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/07/08/O-que-dá-para-concluir-dos-diálogos-vazados-da-Lava-Jato 2/10
dizer isso, mas com discrição, tente dar
13/07/2019 O queuns conselhos
dá para a diálogos
concluir dos ela, para o próprio
vazados da Lava bem dela.Jornal
Jato - Nexo Um
treinamento faria bem. Favor manter reservada essa mensagem”. Dallagnol então afirma
“ok” e passa a combinar com outro procurador um modo de lidar com o tema. No dia da
mensagem de Moro havia ocorrido uma audiência com o ex-ministro Antonio Palocci, preso
pela Lava Jato.
MENÇÃO A FHC
Em 13 de abril de 2017 (https://theintercept.com/2019/06/18/lava-jato-fingiu-investigar-
fhc-apenas-para-criar-percepcao-publica-de-imparcialidade-mas-moro-repreendeu-
melindra-alguem-cujo-apoio-e-importante/), Moro pergunta a Dallagnol: “tem alguma coisa
mesmo séria do FHC [ex-presidente Fernando Henrique Cardoso]? O que vi na TV pareceu
muito fraco”. O então juiz então questiona se as suspeitas contra o tucano, que se referiam a
fatos de 1996, já não teriam prescrito. O procurador afirma que o caso foi enviado à Justiça
Federal de São Paulo sem se analisar a prescrição, “talvez para passar recado de
imparcialidade”. Moro então diz: “ah, não sei. Acho questionável pois melindra alguém cujo
apoio é importante”.
MENÇÕES AO SUPREMO
Em vários momentos, os diálogos apontam menções de Moro ou de procuradores a ministros
do Supremo Tribunal Federal. Por exemplo, Dallagnol diz a um grupo de procuradores em 13
de julho de 2015 (https://veja.abril.com.br/politica/dallagnol-vibrou-por-encontro-com-
ministro-aha-uhu-o-fachin-e-nosso/): “caros, conversei 45 minutos com o [ministro do
Supremo Edson] Fachin. Aha uhu o Fachin é nosso”. Em outubro de 2015
(https://veja.abril.com.br/brasil/moro-retardou-inclusao-de-prova-que-levaria-caso-para-o-
stf/), Moro pediu que a Polícia Federal demorasse para anexar a um processo um arquivo que
tiraria o caso de Curitiba e o remeteria ao Supremo, nas mãos do então ministro Teori
Zavascki. Em 22 de abril de 2016
(https://twitter.com/TheInterceptBr/status/1138950243549175810), Moro diz a Dallagnol
após este relatar uma conversa com o ministro Luiz Fux: “in Fux we trust” (“confiamos em
Fux”).
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/07/08/O-que-dá-para-concluir-dos-diálogos-vazados-da-Lava-Jato 3/10
Mensagens
13/07/2019 trocadas em diferentes momentos
O que dá parade 2016
concluir dos diálogos vazados da Lava Jato - Nexo Jornal
(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/06/lava-jato-desconfiou-de-empreiteiro-pivo-
da-prisao-de-lula-indicam-mensagens.shtml) entre procuradores da Lava Jato indicam que
eles viam com desconfiança o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, que estava tentando
negociar um acordo de delação premiada. Segundo os diálogos atribuídos a eles, o
empresário “falava pouco”, não estava “valendo a pena” e dizia que não havia crime no caso
tríplex, envolvendo Lula. As negociações foram congeladas em agosto daquele ano. Já em
abril de 2017, Léo Pinheiro depôs nesse processo e incriminou Lula, mencionando
pagamento de propina numa conta clandestina em troca de benefícios da Petrobras — ou
seja, mudou a versão. Esse depoimento foi crucial para basear a condenação do ex-
presidente. O Ministério Público Federal então pediu a redução da pena do empresário, o que
veio a ser concedido por Moro depois. Léo Pinheiro nega ter alterado a versão
(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/07/em-carta-empreiteiro-que-incriminou-lula-
trata-de-triplex-e-sitio-leia-integra.shtml) por pressão da Lava Jato em incriminar Lula e
reafirma o teor do seu depoimento no caso tríplex. A delação do empresário segue parada
(https://epoca.globo.com/por-que-ninguem-quer-ouvir-que-leo-pinheiro-tem-dizer-
23782865) na Procuradoria-Geral da República.
MORO E A VENEZUELA
Em 5 de agosto de 2017 (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/07/lava-jato-e-moro-
atuaram-para-expor-dados-sigilosos-sobre-venezuela-mostram-mensagens.shtml), Moro diz
a Dallagnol: “talvez seja o caso de tornar pública a delação da Odebrecht sobre propinas na
Venezuela. Isso está aqui [em Curitiba] ou na Procuradoria-Geral da República?”. O
procurador então concorda, mas afirma que haveria críticas e que a medida violaria as regras
do acordo com a empreiteira, que havia relatado esquemas em 11 países estrangeiros,
inclusive a Venezuela. Após a sugestão de Moro, procuradores discutem a possibilidade em
um grupo interno do Telegram. Seria uma forma de expor politicamente o governo de Nicolás
Maduro, embora sem validade jurídica da Lava Jato sobre autoridades do país vizinho. Em
outubro daquele ano, tornou-se público o depoimento sigiloso de um ex-diretor da Odebrecht
implicando o governo venezuelano — a origem desse vazamento ainda está sendo
investigada.
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/07/08/O-que-dá-para-concluir-dos-diálogos-vazados-da-Lava-Jato 4/10
A força da Lava Jato
13/07/2019 O que dá para concluir dos diálogos vazados da Lava Jato - Nexo Jornal
A Lava Jato é a maior operação contra a corrupção da história brasileira. A principal e primeira força-tarefa
foi montada em Curitiba, com o Ministério Público e a Polícia Federal, inicialmente para apurar esquemas
ligados à Petrobras — existem operações apelidadas de Lava Jato em outras cidades, como Rio de Janeiro e
São Paulo.
Ao expor grandes empresários e os maiores partidos do Brasil, a Lava Jato criou um desgaste público com
figuras tradicionais e incentivou um clima antipolítica na sociedade brasileira, ajudando o Congresso
Nacional a ter um alto índice de renovação (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/com-reeleicao-
abaixo-de-50-camara-tera-renovacao-recorde.shtml) em 2018.
Iniciada em março de 2014, a Lava Jato de Curitiba condenou até aqui cerca de 160 pessoas
(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/03/apos-5-anos-lava-jato-soma-controversias-2294-anos-de-
penas-e-159-condenados.shtml), entre empresários, políticos sem mandato e operadores financeiros. Foram
mais de 400 denúncias criminais.
O principal condenado foi o ex-presidente Lula, preso em Curitiba desde abril de 2018 por corrupção passiva
e lavagem de dinheiro no caso tríplex (https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/04/05/Entenda-o-
caso-do-apartamento-tr%C3%ADplex). Quem condenou o petista na primeira instância foi Moro, uma
decisão confirmada depois pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) na segunda instância e pelo
Superior Tribunal de Justiça. Lula é o ex-presidente brasileiro que mais cumpriu tempo preso
(https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/04/06/Lula-o-mais-longo-tempo-de-um-ex-presidente-na-
cadeia) em toda a história do país.
Desde o começo, a Lava Jato é questionada por políticos, advogados e juristas que enxergam nela um uso
indevido e excessivo de estratégias como a delação premiada
(https://www.nexojornal.com.br/explicado/2015/12/11/Dela%C3%A7%C3%A3o-o-instrumento-que-mexe-
com-a-Rep%C3%BAblica), vazamentos de informações
(https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/06/10/Como-vazamentos-ajudaram-e-agora-emparedam-
a-Lava-Jato) à imprensa ou mesmo uma suposta seletividade, representada por um direcionamento das
investigações contra o PT, em detrimento de outros partidos.
Segundo o ministro, que tem recebido apoio público do presidente, trata-se de uma tentativa de anular
condenações criminais de corrupção. Outro ponto do discurso de Moro
(https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/06/19/Di%C3%A1logos-vazados-como-mudou-a-
rea%C3%A7%C3%A3o-de-Moro-e-procuradores), já usado em mais de uma oportunidade, é pôr em dúvida a
credibilidade jornalística do Intercept, chamando-o de “sensacionalista
(https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/07/03/Como-Moro-investe-contra-quem-revelou-
di%C3%A1logos-da-Lava-Jato)”.
A força-tarefa em Curitiba, formada por procuradores e policiais federais, também não reconhece
(http://www.mpf.mp.br/pr/sala-de-imprensa/noticias-pr/lava-jato-procuradores-prestam-esclarecimentos-
sobre-publicacao-de-revista) a veracidade das conversas divulgadas, diz que a Lava Jato mirou partidos
diversos e de posições distintas no espectro ideológico, defende a isenção e reafirma que as decisões judiciais
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/07/08/O-que-dá-para-concluir-dos-diálogos-vazados-da-Lava-Jato 5/10
da operação foram revalidadas por outras
13/07/2019 O que dáinstâncias
para concluir da
dos Justiça, com da
diálogos vazados independência e sem que a posição
Lava Jato - Nexo Jornal
acusatória do Ministério Público prevalecesse sempre. Afirma ainda que foram vítimas de uma invasão
criminosa de aparelhos e isso deve ser esclarecido.
O direito à ampla defesa depende, obviamente, de um juiz capaz de analisar com imparcialidade os
argumentos e as provas de cada uma das partes. Se o juiz se alia a um dos lados, a defesa prévia, a
contestação, a inquirição de testemunhas, as perícias, as alegações finais, tudo é reduzido a mera encenação.
O conluio entre juiz e acusador, ao final das contas, tornou o caso impossível de ser ganho pela defesa. O
devido processo legal foi uma farsa e à defesa foi relegada a missão impossível de convencer um juiz que, em
verdade, era acusador.
Por isso, deveria ser reconhecida a suspeição de Moro em casos nos quais agiu em conluio com a acusação. Na
prática, isso significa anular os atos de Moro como juiz no caso – desde despachos de produção de provas até
sentenças.
LUIZA NAGIB ELUF Sergio Moro alega “montagem” dos diálogos. Não sabemos se houve manipulação, mas o
conjunto das conversas aliado aos fatos indicam o firme propósito de punir. A parcialidade fica evidente.
Estou analisando friamente, sem me deixar levar por interesses político-partidários. O PT fez uma festa com o
dinheiro do povo brasileiro e não acho que os fins justificam os meios, mas os juízes têm por obrigação a
imparcialidade. Quem quer ser parcial deve prestar concurso para o Ministério Público e, mesmo assim,
quem fala em nome de toda a sociedade deve ser “parte imparcial”, o que pode parecer um contrassenso, mas
não é.
acusador no caso de Lula, mas outras conversas podem ser reveladas indicando a parcialidade de Moro em
outros casos. Por exemplo, já foram divulgadas conversas nas quais Moro orienta os membros do Ministério
Público Federal a não investigarem o ex-presidente Fernando Henrique (PSDB) e outra em que sugere um
não acordo de colaboração com Eduardo Cunha, na época do PMDB. Há conversas entre Procuradores
relacionando os feitos da Operação com uma agenda política anti-PT.
A seletividade sempre foi apontada como uma fragilidade da Lava Jato, em razão do direcionamento
buscando a criminalização de um partido político. Com as conversas, abre-se a suspeita de que tenha sido
uma forma pensada de interferir na política nacional e obter um determinado resultado. Quando o juiz que
faz isso se torna Ministro, tudo fica ainda mais grave.
Mas não estamos falando apenas de seletividade. No caso da condenação de Lula, sobre o tríplex no Guarujá,
as conversas mostram uma interferência direta e decisiva de Moro, colaborando com a acusação.
LUIZA NAGIB ELUF Moro, ao que tudo indica, não era simpático ao PT, e reconheço que o PT de fato errou
muito, muito. Mas juiz não pode tomar partido e não deve orientar os membros do Ministério Público. Apesar
de tudo, as decisões de Moro foram baseadas em fatos reais, não houve “prova inventada”. Além disso, as
sentenças de Moro foram confirmadas pelos tribunais superiores.
LUIZA NAGIB ELUF Ao aceitar as delações premiadas, Moro agiu dentro da lei. Essa novidade (a delação), que
não existia em nosso direito, mas foi copiada das leis americanas recentemente, permite desvendar crimes
que, sem ela, nunca seriam descobertos. Entendo que Moro agiu dentro dos limites da lei brasileira e não há
motivos para temer uma anulação geral da prova produzida. Moro atendeu ao clamor do povo ao demonstrar
a importância de se colocar o Brasil no caminho da seriedade.
As mensagens sugerem uma busca da Lava Jato por aliados no Supremo e uma
tentativa de evitar que processos saíssem das mãos de Moro. Como isso pode
influenciar as futuras decisões do Supremo sobre a Lava Jato?
ELOÍSA MACHADO DE ALMEIDA Há dois pontos a serem enfrentados aqui. O primeiro se refere à competência
de Moro versus Supremo. Uma das decisões iniciais da Operação Lava Jato, enquanto Teori Zavascki ainda
era o ministro relator, determinou que o Supremo deveria avaliar, a cada caso, a existência ou não de foro por
prerrogativa de função de investigados. Pela decisão de Teori, caso os juízes de primeira instância
encontrassem qualquer menção a possíveis investigados com foro, deveriam enviar tudo ao Supremo. Foram
constantes os embates entre Teori e Moro. No episódio da divulgação da interceptação da conversa telefônica
entre Lula e Dilma, ainda Presidente da República, Teori alertou que Moro, ao agir onde não poderia,
colocava a Lava Jato em risco.
Um segundo ponto se refere à competência de Moro em razão dos processos envolvendo Petrobrás, sempre
alvo de crítica pela falta de comprovação de nexo em muitos dos casos. Hoje, com as conversas divulgadas é
possível perceber que havia um complô para manter casos com Moro, mesmo ele não sendo o juiz
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/07/08/O-que-dá-para-concluir-dos-diálogos-vazados-da-Lava-Jato 7/10
competente.
13/07/2019 Isso é muito grave, poisOrompe com
que dá para o princípio
concluir dovazados
dos diálogos juiz natural e mostra
da Lava Jato interesse descabido do
- Nexo Jornal
juiz.
LUIZA NAGIB ELUF Sabemos que os tribunais superiores sempre foram procurados pelas partes nos processos
(advogados e procuradores) e que os ministros costumam ouvir as teses de cada um. Isso é necessário para
formar o convencimento dos julgadores. Na verdade, não seria o caso de considerá-los “aliados “ no Supremo,
mas sim pessoas convencidas da adequação das medidas tomadas pela Operação Lava Jato e da necessidade
de ser recuperada a nossa dignidade nacional. Até o momento, não vejo possibilidade de anulação de
processos sem que se provoque uma insurreição de sérias consequências.
LUIZA NAGIB ELUF Moro é ministro da Justiça. A Polícia Federal é subordinada a ele. A existência de uma
apuração sobre determinado fato é prevista em lei e não fere direitos. Quando há investigação é porque há
suspeita de alguma irregularidade que precisa ser verificada. Investigar é conduta lícita, mantidos os limites
da lei e dos direitos constitucionais.
LUIZA NAGIB ELUF A Justiça brasileira sai fortalecida do episódio Lava Jato. Acredito que aprendemos muito
sobre o que fazer e como fazer. E podemos ter esperança de um futuro melhor.
VEJA TAMBÉM
EXPRESSO
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https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/07/08/O-que-dá-para-concluir-dos-diálogos-vazados-da-Lava-Jato 8/10
13/07/2019 O que dá para concluir dos diálogos vazados da Lava Jato - Nexo Jornal
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/07/08/O-que-dá-para-concluir-dos-diálogos-vazados-da-Lava-Jato 9/10
13/07/2019 O que dá para concluir dos diálogos vazados da Lava Jato - Nexo Jornal
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/07/08/O-que-dá-para-concluir-dos-diálogos-vazados-da-Lava-Jato 10/10