Sei sulla pagina 1di 116

Dívida Pública, Perfil,

Sustentabilidade e seu Impacto


Económico e Social em Moçambique

POR UM ENDIVIDAMENTO PÚBLICO RESPONSÁVEL E


SUSTENTÁVEL

Novembro de 2016
Grupo Moçambicano da Dívida

Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e


seu Impacto Económico e Social em
Moçambique

POR UM ENDIVIDAMENTO PÚBLICO RESPONSÁVEL E SUSTENTÁVEL

Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique


Grupo Moçambicano da Dívida

Ficha Técnica
Título: Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique
Coordenação e Supervisão Técnica:
Eufrigina dos Reis Manoela
Humberto Tobias Zaqueu
Equipa Técnica:
Egas Daniel
Arranjo Gráfico: Grupo Moçambicano da Dívida
Impressão: MEGAMIND
Propriedade: Grupo Moçambicano da Dívida
Tiragem: 500 Exemplares
Sob No de Registo: 4466/RLIND/2005
Ano: 2016

Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique


Grupo Moçambicano da Dívida

LISTA DE ACRÓNIMOS
AR – Assembleia da República
BAD- Banco Africano para o Desenvolvimento
BADEA- Banco Árabe para o Desenvolvimento Africano
BC- Banco Central
BLUE – Best Linear Unbiased Estimator (Melhor Estimador Linear não-Enviesado)
BT´s-Bilhetes do Tesouro
BM- Banco de Moçambique
CGE – Conta Geral do Estado
CP- Contabilidade Pública
CPIA – Country Policy and Institutional Assessment (Índice de Avaliação das Políticas e
Instituições Nacionais)
DNT-Direcção Nacional do Tesouro
DRI-Alívio da Dívida Internacional
EIB-Banco Europeu de Investimento
EMATUM – Empresa Moçambicana de Atum
FMI- Fundo Monetário Internacional
FMO – Fórum de Monitoria do Orçamento
GMD- Grupo Moçambicano da Dívida
HIPC – Heavily Indebted Poor Countries (Países Pobres Altamente Endividados)
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano
IESE – Instituto de Estudos Sociais e Económicos
INE – Instituto Nacional de Estatística
IPH- Índice de Pobreza Humana
IDA-Associação para o Desenvolvimento Internacional
IIFC-Cooperação Financeira Internacional
ICSID-Centro Internacional para Resolução de Disputas de Investimento
IBRD-Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
MAM – Mozambique Assets Management (Gestão de Activos de Moçambique)
MDRI – Multilateral Debt Relief Initiative (Iniciativa de Alívio da Dívida Multilateral)
i
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique
Grupo Moçambicano da Dívida

MEF – Ministério da Economia e Finanças


MF – Ministério das Finanças
MPD – Ministério de Planificação de Desenvolvimento
MQGV – Mínimos Quadrados Generalizados Viáveis
MQO – Mínimos Quadrados Ordinários
MIGA- Agência Multilateral de Garantia do Investimento
ODM – Objectivos de Desenvolvimento do Milénio
ODS – Objectivos de Desenvolvimento Sustentável
OE – Orçamento do Estado
ONGs- Organizações Não Governamentais
OT´s- Obrigações do Tesouro
PRE-Programa de Reabilitação Económica
PAES- Programa de Ajustamento Estrutural
PRES- Programa de Reabilitação Económica e Social
PARPA- Programa de Redução da Pobreza Absoluta
PGR – Procuradoria-Geral da República
PIB- Produto Interno Bruto
PIBpc – Produto Interno Bruto per capita
PII – Plano Integrado de Investimento
PNB- Produto Nacional Bruto
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
RPCGE - Relatório e Parecer da Conta Geral do Estado
SADC – Southern Africa Development Community (Comunidade para o Desenvolvimento dos
Países da África Austral)
SISTAFE- Sistema de Admnistracçâo Financeira do Estrado
TA- Tribunal Administrativo
VAL – Valor Actual Líquido
VIF – Variance Inflation Factor (Factores de Inflação da Variância)

ii
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique
Grupo Moçambicano da Dívida

ÍNDICE

LISTA DE ACRÓNIMOS .................................................................................................................... i


SUMÁRIO EXECUTIVO................................................................................................................ viii
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 1
1.1 Objectivos do Estudo ............................................................................................................. 2
1.1.1 Geral ............................................................................................................................... 2
1.1.2 Específicos ..................................................................................................................... 2
1.2 Relevância do tema ................................................................................................................ 2
1.3 Metodologia ........................................................................................................................... 3
2 REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................................... 5
2.1 Principais conceitos e definições ........................................................................................... 5
2.1.1 Dívida Pública ................................................................................................................ 5
2.2 Forma de contrair divida externa ........................................................................................... 8
2.2.1 Desenvolvimento Sócio-Económico e Redução da Pobreza.......................................... 9
2.3 As Teorias Económicas referentes a Dívida Pública ........................................................... 12
2.4 Sustentabilidade da Dívida Pública ..................................................................................... 14
2.4.1 Análise Crítica dos Indicadores de Sustentabilidade da Dívida ................................... 19
2.4.2 Limitações dos Indicadores de Análise da Sustentabilidade da Dívida ....................... 21
2.5 Debate teórico e empírico sobre o impacto Económico e Social da Dívida Pública ........... 22
2.5.1 Estudos teóricos............................................................................................................ 22
2.5.2 Estudos empíricos ........................................................................................................ 24
3 DÍVIDA PÚBLICA DE MOÇAMBIQUE E SEU IMPACTO ECONÓMICO E SOCIAL
(1999-2016) ........................................................................................................................................ 27
3.1 Antecedentes ........................................................................................................................ 27
3.2 Evolução da Dívida Pública período de 1999-2015 ............................................................ 28
3.3 Evolução dos indicadores de Sustentabilidade da Dívida Pública Moçambicana ............... 32
3.3.1 Sustentabilidade da Dívida Pública Total .................................................................... 32
3.3.2 Sustentabilidade da Dívida Pública Interna ................................................................. 37
3.3.3 Sustentabilidade da Dívida Pública Externa ................................................................ 40
3.4 Factores que propiciaram a deterioração do endividamento público .................................. 44
3.4.1 Factores de natureza económica ................................................................................... 44
3.4.2 Factores de natureza Político-Institucional .................................................................. 48
3.5 Dívida Pública e Evolução dos Sectores Sociais e Económicos ......................................... 50
3.5.1 Evolução do serviço da dívida e impacto no financiamento dos sectores sociais em
Moçambique ............................................................................................................................... 50
3.5.2 Relação entre a aplicação da Dívida Pública evolução dos sectores económicos e
sociais em Moçambique .............................................................................................................. 52
iii
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique
Grupo Moçambicano da Dívida

3.5.3 Custo de oportunidade social das dívidas ocultas ........................................................ 61


3.5.4 Outros custos das dívidas ocultas ................................................................................. 65
3.6 Dívida pública e equilíbrio económico regional .................................................................. 66
3.7 Análise empírica da relação dívida pública, desenvolvimento sócio-económico e redução
da pobreza. ..................................................................................................................................... 72
3.7.1 Especificação do modelo .............................................................................................. 72
3.7.2 Dados e métodos de estimação ..................................................................................... 73
3.7.3 Estimação dos resultados ............................................................................................. 74
3.7.4 Testes de diagnóstico dos modelos .............................................................................. 78
4 CONCLUSÕES .......................................................................................................................... 85
5 RECOMENDAÇÕES ................................................................................................................. 87
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................... 91
ANEXOS ............................................................................................................................................ 96

iv
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique
Grupo Moçambicano da Dívida

Índice de Tabelas

TABELA 2.1: TEORIAS DE ABORDAGEM SOBRE DÍVIDA PÚBLICA ...................................................................................................... 13


TABELA 2.2: INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE DA DÍVIDA PÚBLICA ............................................................................................ 18
TABELA 3.1: EVOLUÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA (INTERNA, EXTERNA E TOTAL) DE MOÇAMBIQUE (1998-2015) ......................................... 31
TABELA 3.2: EVOLUÇÃO DA PERCENTAGEM DO STOCK DA DÍVIDA/PIB DE MOÇAMBIQUE (1998-2015) .............................................. 32
TABELA 3.3: EVOLUÇÃO DA RECEITA CORRENTE/PIB DE MOÇAMBIQUE (1998-2015) ...................................................................... 33
TABELA 3.4: EVOLUÇÃO DO SERVIÇO DA DÍVIDA/RECEITA CORRENTE DE MOÇAMBIQUE (1998-2015) ................................................ 35
TABELA 3.5: EVOLUÇÃO DAS RECEITAS/PIB E SERVIÇO DA DÍVIDA/PIB DE MOÇAMBIQUE (1998-2015) .............................................. 36
TABELA 3.6: EVOLUÇÃO DO STOCK DA DÍVIDA INTERNA/PIB DE MOÇAMBIQUE (1998-2015) ........................................................... 37
TABELA 3.7: EVOLUÇÃO DO STOCK DA DÍVIDA INTERNA/ RECEITAS CORRENTES DE MOÇAMBIQUE (1988-2015) ................................... 38
TABELA 3.8: EVOLUÇÃO DO SERVIÇO DA DÍVIDA INTERNA/ RECEITAS CORRENTES DE MOÇAMBIQUE..................................................... 39
TABELA 3.9: EVOLUÇÃO DA SUSTENTABILIDADE DA DÍVIDA PÚBLICA EXTERNA (2010-2015) .............................................................. 41
TABELA 3.10: TAXA DE CRESCIMENTO DAS VARIÁVEIS DE SUSTENTABILIDADE DA DÍVIDA (2010-2015).................................................. 42
TABELA 3.11: SUSTENTABILIDADE DA DÍVIDA PÚBLICA CONSIDERANDO AS NOVAS DÍVIDAS .................................................................. 43
TABELA 3.12: SUSTENTABILIDADE DA DÍVIDA PÚBLICA EXTERNA DE MOÇAMBIQUE CONSIDERANDO O EFEITO CAMBIAL (2015) .................. 48
TABELA 3.13: TENDÊNCIA DA ALOCAÇÃO ORÇAMENTAL NOS SECTORES PRIORITÁRIOS EM MOÇAMBIQUE (2010-2015) ........................... 50
TABELA 3.14: TENDÊNCIA DA ALOCAÇÃO DA DESPESA PÚBLICA EM MOÇAMBIQUE NOS MINISTÉRIOS CONSIDERADOS (2010-2014) .......... 51
TABELA 3.15: TENDÊNCIA QUINQUENAL DA PARTICIPAÇÃO DOS SECTORES A AGRICULTURA, MANUFACTURA E COMÉRCIO NO PIB DE
MOÇAMBIQUE (2000-2014) ........................................................................................................................................ 53
TABELA 3.16: CRESCIMENTO MÉDIO DOS SECTORES DE INDÚSTRIA EXTRACTIVA, ACTIVIDADES FINANCEIRAS E CONSTRUÇÃO EM MOÇAMBIQUE
(2000-2014)............................................................................................................................................................. 56
TABELA 3.17: PROJECTOS COM FINANCIAMENTO EXTERNO VIA CRÉDITO GARANTIDO PARA O INVESTIMENTO PÚBLICO EM MOÇAMBIQUE ... 60
TABELA 3.18: DESCRIÇÃO DOS DADOS DO MODELO ECONOMÉTRICO ............................................................................................... 74

v
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique
Grupo Moçambicano da Dívida

Índice de Gráficos

GRÁFICO 2.1: CURVA DA RELAÇÃO ENTRE DÍVIDA PÚBLICA E CRESCIMENTO DO PIB .......................................................................... 25
GRÁFICO 3.1: EVOLUÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA (INTERNA, EXTERNA E TOTAL) DE MOÇAMBIQUE (1998-2015) ....................................... 31
GRÁFICO 3.2: EVOLUÇÃO DA PERCENTAGEM DO STOCK DA DÍVIDA/PIB DE MOÇAMBIQUE EM RELAÇÃO AO LIMITE DE SUSTENTABILIDADE
(1998-2015)............................................................................................................................................................. 33
GRÁFICO 3.3: EVOLUÇÃO DA RECEITA CORRENTE/PIB DE MOÇAMBIQUE EM RELAÇÃO AO LIMITE DE SUSTENTABILIDADE (1998-2015)...... 34
GRÁFICO 3.4: EVOLUÇÃO DO SERVIÇO DA DÍVIDA/RECEITA CORRENTE DE MOÇAMBIQUE EM RELAÇÃO AO LIMITE DE SUSTENTABILIDADE
(1998-2015)............................................................................................................................................................. 35
GRÁFICO 3.5: EVOLUÇÃO DAS RECEITAS/PIB E SERVIÇO DA DÍVIDA/PIB DE MOÇAMBIQUE (1998-2015) ............................................ 36
GRÁFICO 3.6: EVOLUÇÃO DO STOCK DA DÍVIDA INTERNA/PIB DE MOÇAMBIQUE EM RELAÇÃO AO LIMITE DE SUSTENTABILIDADE (1998-2015)
................................................................................................................................................................................ 38
GRÁFICO 3.7: EVOLUÇÃO DO STOCK DA DÍVIDA INTERNA/ RECEITAS CORRENTES DE MOÇAMBIQUE EM RELAÇÃO AO LIMITE DE
SUSTENTABILIDADE (1988-2015) .................................................................................................................................. 39
GRÁFICO 3.8: EVOLUÇÃO DO SERVIÇO DA DÍVIDA INTERNA/ RECEITAS CORRENTES DE MOÇAMBIQUE EM RELAÇÃO AO LIMITE DE
SUSTENTABILIDADE (1998-2015) .................................................................................................................................. 40
GRÁFICO 3.9: EVOLUÇÃO DO SERVIÇO DA DÍVIDA EXTERNA/EXPORTAÇÕES DE MOÇAMBIQUE EM RELAÇÃO AO LIMITE DE SUSTENTABILIDADE
(1998-2015)............................................................................................................................................................. 40
GRÁFICO 3.10: EVOLUÇÃO DO SERVIÇO DA DÍVIDA EXTERNA/ RECEITAS CORRENTES DE MOÇAMBIQUE EM RELAÇÃO AO LIMITE DE
SUSTENTABILIDADE (1998-2015) .................................................................................................................................. 41
GRÁFICO 3.11: EVOLUÇÃO DO PERÍODO MÉDIO DE MATURIDADE DA DÍVIDA PÚBLICA EXTERNA DE MOÇAMBIQUE (1998-2014) ............... 45
GRÁFICO 3.12: EVOLUÇÃO PERCENTAGEM MÉDIA DO ELEMENTO DONATIVO DA DÍVIDA PÚBLICA EXTERNA DE MOÇAMBIQUE (1998-2014) 46
GRÁFICO 3.13: EVOLUÇÃO DA DEPENDÊNCIA EXTERNA EM MOÇAMBIQUE (DONATIVOS E CRÉDITOS EXTERNOS) DE 2012 A 2015 .............. 46
GRÁFICO 3.14: TENDÊNCIA DO ENDIVIDAMENTO PÚBLICO NÃO-CONCESSIONAL EM MOÇAMBIQUE (2010-2014) .................................. 47
GRÁFICO 3.15: TENDÊNCIA DA TAXA DE JURO MÉDIA DA DÍVIDA PÚBLICA EXTERNA EM MOÇAMBIQUE(1998-2012) ............................... 47
GRÁFICO 3.16: TENDÊNCIA DA TAXA DE CÂMBIO EM MOÇAMBIQUE (MT/USD) DE 1998 A 2015 ...................................................... 48
GRÁFICO 3.17: PARTICIPAÇÃO MÉDIA DOS SECTORES ECONÓMICOS E SOCIAIS NO PIB DE MOÇAMBIQUE (2000-2014) ........................... 52
GRÁFICO 3.18: TENDÊNCIA DA PARTICIPAÇÃO DOS SECTORES DA AGRICULTURA, MANUFACTURA E COMÉRCIO NO PIB DE MOÇAMBIQUE
(2000-2014)............................................................................................................................................................. 53
GRÁFICO 3.19: TENDÊNCIA DA PARTICIPAÇÃO DOS SECTORES SOCIAIS (EDUCAÇÃO, SAÚDE E ÁGUA) NO PIB DE MOÇAMBIQUE (2000-2014)
................................................................................................................................................................................ 54
GRÁFICO 3.20: CRESCIMENTO MÉDIO ANUAL DOS SECTORES DA AGRICULTURA, MANUFACTURA E COMÉRCIO EM MOÇAMBIQUE (2000-2014)
................................................................................................................................................................................ 55
GRÁFICO 3.21: CRESCIMENTO MÉDIO DOS SECTORES SOCIAIS (EDUCAÇÃO, SAÚDE E ÁGUA) EM MOÇAMBIQUE (2000-2015) ................... 56
GRÁFICO 3.22: PARTICIPAÇÃO MÉDIA DOS SECTORES NO PIB DE MOÇAMBIQUE (2000-2014) ........................................................... 57
GRÁFICO 3.23: PERCENTAGEM DO INVESTIMENTO PÚBLICO COM RECURSO AO ENDIVIDAMENTO PÚBLICO ALOCADO AOS DIFERENTES SECTORES
ECONÓMICOS E SOCIAIS EM MOÇAMBIQUE (2014) ............................................................................................................ 59
GRÁFICO 3.24: CUSTO DE OPORTUNIDADE MEDIDO EM TERMOS DE NÚMERO DE CENTROS DE SAÚDE NÃO CONSTRUÍDOS COM AS DÍVIDAS
OCULTAS .................................................................................................................................................................... 62
GRÁFICO 3.25: CUSTO DE OPORTUNIDADE MEDIDO EM TERMOS DE NÚMERO DE SALAS DE AULAS NÃO CONSTRUÍDOS COM O VALOR DAS
DÍVIDAS OCULTAS ......................................................................................................................................................... 63
GRÁFICO 3.26: CUSTO DE OPORTUNIDADE MEDIDO EM TERMOS DE NÚMERO DE ALUNOS QUE PODIAM BENEFICIAR-SE DAS SALAS DE AULAS . 64
GRÁFICO 3.27: CUSTO DE OPORTUNIDADE MEDIDO EM TERMOS DE NÚMERO DE FUROS DE ÁGUA QUE PODERIAM TER SIDO CONSTRUÍDAS COM
O VALOR DAS DÍVIDAS OCULTAS ....................................................................................................................................... 65

vi
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique
Grupo Moçambicano da Dívida

GRÁFICO 3.28: CUSTO DE OPORTUNIDADE MEDIDO EM TERMOS DE NÚMERO DE PESSOAS QUE PODERIAM BENEFICIAR-SE DOS FUROS ......... 65
GRÁFICO 3.29: PARTICIPAÇÃO MÉDIA NO PIB POR REGIÃO EM MOÇAMBIQUE (2000-2014) ............................................................. 66
GRÁFICO 3.30: PARTICIPAÇÃO MÉDIA DAS PROVÍNCIAS NO PIB DA REGIÃO NORTE DE MOÇAMBIQUE (2000-2014) ............................... 67
GRÁFICO 3.31: PARTICIPAÇÃO MÉDIA DAS PROVÍNCIAS NO PIB DA REGIÃO CENTRO DE MOÇAMBIQUE (2000-2014) ............................. 67
GRÁFICO 3.32: PARTICIPAÇÃO MÉDIA DAS PROVÍNCIAS NO PIB DA REGIÃO SUL DE MOÇAMBIQUE (2000-2014) .................................... 67
GRÁFICO 3.33: COMPARAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO NO PIB ENTRE MAPUTO CIDADE, MAPUTO PROVÍNCIA E NAMPULA COM AS RESTANTES
PROVÍNCIAS (2000-2014) ............................................................................................................................................ 68
GRÁFICO 3.34: COMPARAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO NO PIB ENTRE MAPUTO CIDADE E MAPUTO PROVÍNCIA COM AS RESTANTES PROVÍNCIAS
(2000-2014)............................................................................................................................................................. 68
GRÁFICO 3.35: EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO REGIONAL NO PIB DE MOÇAMBIQUE (2000-2014) ....................................................... 68
GRÁFICO 3.36: PERCENTAGEM DO VALOR DE INVESTIMENTOS PÚBLICOS FINANCIADOS PARA CADA REGIÃO DE MOÇAMBIQUE COM RECURSO A
CRÉDITO EXTERNO ........................................................................................................................................................ 69
GRÁFICO 3.37: DISTRIBUIÇÃO DOS PROJECTOS DE INVESTIMENTO DO PII PELO PAÍS (REGIÕES E PROVÍNCIAS DE MOÇAMBIQUE) ................. 70
GRÁFICO 3.38: RELAÇÃO ENTRE PARTICIPAÇÃO NO PIB E O VOLUME DE PROJECTOS FINANCIADOS PARA PROVÍNCIA DE MOÇAMBIQUE ........ 71

vii
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique
Grupo Moçambicano da Dívida

SUMÁRIO EXECUTIVO

O presente estudo analisa o perfil, a sustentabilidade da evolução da dívida pública de Moçambique


no período de 1999 a 2016 e o seu imapcto económico e social. Tal deve-se ao facto de, no período
em análise, ter-se observado um aumento acelerado do endividamento público, principalmente entre
2011 e 2016. Este aumento, por sua vez, era suposto ser acompanhado por uma melhoria
proporcional dos indicadores sociais de desenvolvimento sócio-económico e redução da pobreza,
tais como: os Índices de Educação e Saúde (ambos do Índice do Desenvolvimento Humano).
Assim, o estudo pretendeu, primeiro, identificar e explicar as razões que levaram ao aumento
acelerado da dívida pública no país, observando os seus limites de sustentabilidade e, segundo,
medir o impacto económico e social deste aumento (no desenvolvimento sócio-económico e na
redução da pobreza).
Os resultados alcançados mostram que, em 2016, o endividamento público de Moçambique é
insustentável, assim como a evolução dos seus indicadores, de 2011 a 2016, é também
insustentável. A aceleração do endividamento público em Moçambique rumo a insustentabilidade é
explicada por factores como: a deterioração das condições do crédito contraído (grau de
concessionalidade, período de graça e de maturidade, taxa de juros e taxa de câmbio); maior
facilidade de crédito de algumas agências financeiras internacionais que não levam em conta as
prioridades da população dos países credores; expectativa positiva de futuro aumento das receitas
do estado gerada pela indústria extractiva; e fraca implementação das leis existentes associada a
fragilidade de algumas Instituições do Estado (AR, PGR, TA).
Adicionalmente, com base na análise empírica da dívida pública em relação aos indicadores sociais,
concluiu-se que a dívida pública não teve impacto significativo no desenvolvimento sócio-
económico e na redução da pobreza no período 1999 a 2016. Sendo assim, é imperioso para o
governo estabelecer uma matriz de prioridades para o endividamento público dos próximos anos,
por forma a, por um lado, retomar a situação de sustentabilidade estática e dinâmica do
endividamento público e, por outro, contrair dívidas para projectos de viabilidade e prioridades
consensuais entre a maioria dos actores de desenvolvimento, olhando para a sua ligação com o
desenvolvimento sócio-económico e redução da pobreza em Moçambique.
Palavras-chaves: Dívida Pública, Desenvolvimento Sócio-Económico, Pobreza e Sustentabilidade

viii
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique
Grupo Moçambicano da Dívida

1 INTRODUÇÃO

Moçambique, na década 80/90, observou um crescimento acelerado do endividamento


público, atingindo níveis fora do controle das autoridades em termos de cumprimento das
obrigações de pagamento do respectivo serviço. Contudo, o país beneficiou de alívio através
do reescalonamento da dívida no âmbito do Clube de Paris e posteriormente das iniciativas
dos Países Pobres Altamente Endividados (HIPC) e de Alívio da Dívida Multilateral (MDRI)
que terminou em 2006.

A partir daquele ano (2006), era de se esperar que o endividamento público do país nos anos
subsequentes fosse mais moderado (longe do limiar da insustentabilidade), e que servisse
para atender as prioridades de redução da pobreza e maior estímulo ao desenvolvimento
sócio-económico com base nos sectores chaves de educação e saúde e construção de infra-
estruturas económicas e sociais produtivas.

Porém, a realidade mostra que o endividamento público tem vindo a crescer de forma
galopante, sendo que, entre 2006 a 2016, o stock de dívida mais do que quadruplicou,
expandindo a uma taxa média anual de 15%, duas vezes maior que a do crescimento do PIB,
tendo atingido um cerca de 130% do PIB, em finais de 2016, Para além disso, o
endividamento público em Moçambique tem suscitado debate sobre o seu impacto sócio-
económico. Discute-se o facto de este não gerar recursos financeiros suficientes para honrar
com os compromissos assumidos e não convergir para aquilo que são as prioridades da
redução da pobreza no país. Dados indicam para uma estagnação dos níveis de pobreza no
país (que aumentou ligeiramente segundo o PARPA II de 54,1% para 54,7% de 2003 para
2009), e a consequente permanência dos grandes problemas de qualidade na educação,
escassez de medicamentos e exiguidade de pessoal, equipamentos e infra-estruturas na saúde,
limitada cobertura do abastecimento de água, entre outros direitos básicos de afirmação
humana no país.

É neste contexto que nasce o presente estudo, para abordar sobre o perfil e a sustentabilidade
da dívida pública, procurando entender as motivações que estão por detrás deste
endividamento crónico e analisar o seu impacto económico e social no país a médio e longo
prazos.

1
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 1
Grupo Moçambicano da Dívida

Nesta assunção, o presente estudo analisa a problemática da dívida pública do País, seu
impacto e apresenta algumas sugestões, julgadas de grande utilidade, se forem partilhadas
com a sociedade.

1.1 Objectivos do Estudo

1.1.1 Geral

Analisar o perfil, a sustentabilidade e Impacto Económico e Social da dívida pública em


Moçambique, no período de 1999 a 2016

1.1.2 Específicos

 Descrever a tendência e a situação do endividamento público em Moçambique para o


período em análise;

 Identificar os factores que causaram o crescimento acelerado do endividamento


público em Moçambique;

 Avaliar o impacto do endividamento público na melhoria dos sectores prioritários


(educação e saúde) e na redução da pobreza; e

 Partilhar recomendações para a maximização da utilidade económica e social da


dívida pública em Moçambique.

1.2 Relevância do tema


O presente estudo surge da necessidade de uma análise mais recente sobre a dívida pública,
atendendo os contornos alarmantes que esta tem mostrado na actualidade.

Os resultados deste estudo serão importantes para consciencializar os fazedores de políticas


sobre o possível risco que o país corre de sobreendividamento público. Na falta duma acção
urgente que possa travar a tendência actual e promover maior responsabilidade nos políticos e
governantes, a situação poderá cair rapidamente fora do controle, destruir os esforços de
desenvolvimento que foram envidados após o fôlego do perdão da dívida com HIPC e
MDRI1 e comprometer os investimentos públicos futuros bem como reduzir a capacidade de
o país de responder aos desafios das mudanças climáticas que já estão a afectar de forma
severa a população mais miserável. Ademais, o país também não terá a capacidade de
implementar a nova abordagem de Parcerias Público-Privadas, no âmbito dos Objectivos de
1
Iniciativa de Perdão da Dívida Multilateral que, depois de HIPC, Moçambique beneficou-se em 2006.
2
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 2
Grupo Moçambicano da Dívida

Desenvolvimento Sustentável (ODS’s) assumidos em Addis Abeba, em Julho 2015, em


substituição dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM’s), que obrigam os
Governos a assumirem primordialmente o custo dos investimentos públicos, reorientando ao
sector privado a missão de gestão e promoção de eficiência operacional.

1.3 Metodologia

O presente estudo envolveu a pesquisa bibliográfica, que permitiu a identificação e consulta


das obras e documentos escritos sobre o processo de endividamento público e sua
importância no crescimento e desenvolvimento económico, enquanto o trabalho do campo
permitiu a obtenção de informações que ajudaram a desenvolver algumas sugestões a volta
do tema. Foram também usadas informações e dados documentais em artigos de revistas
especializadas, alguns deles encontrados nos sites de internet, jornais (publicações).

As abordagens foram: qualitativa, para informações não quantificáveis e também por ser mais
adequada a situações em que se deseja construir teorias; e quantitativa para dados numéricos.
O método de análise e interpretação dos mesmos dados foi de estatística descritiva com
recurso a Excel para a construção de gráficos e tabelas estatísticas para diferentes indicadores
que foram usados na análise.

Em relação as variáveis que foram usadas, a divida pública, juntamente com variáveis
auxiliares de medição da sustentabilidade (Exportações, PIB, receitas, Serviço da Dívida),
estas foram obtidas para o período em análise (1999-2015) com base na Conta Geral do
Estado dos diferentes anos (1998 a 2015). A outra variável de análise, desenvolvimento sócio-
económico,foi adquirida na base de dados do PNUD e medida pelo Índice de
Desenvolvimento Humano. Os dados sobre pobreza foram obtidos no INE nos 4 relatórios do
IOF (1996, 2002, 2008 e 2014) e foi usado especificamente o coeficiente de gini para a
análise da evolução da pobreza com base na distribuição do rendimento ou desigualdade
social.

Para analisar a sustentabilidade da dívida pública em Moçambique, foram usados os


indicadores e limites de sustentabilidade propostos pelo Banco Mundial e FMI (dentro e fora
do contexto da iniciativa HIPC), os propostos por Johnson (2001:12) e a meta de
endividamento público acordado pelos países da SADC para a convergência macroeconómica

3
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 3
Grupo Moçambicano da Dívida

no contexto da integração económica regional. A análise de sustentabilidade da dívida


pública foi feita olhando também para a sua desagregação em interna e externa.

No que diz respeito aos factores que contribuíram para a rápida evolução da dívida pública,
foi analisada a tendência, ao longo do tempo, das condições do endividamento público (taxas
de juro, períodos de maturidade e de graça, elemento donativo e taxa de câmbio), assim como
foram analisados alguns factores de ordem política e institucional do país.

Por fim, para medir o impacto económico e social da dívida pública no país, foi feita uma
análise da relação entre o endividamento e financiamento aos sectores sociais e económicos,
a avaliação da aplicação do endividamento público no contexto de assimetrias regionais no
País e o custo de oportunidade social associado a alguns projectos da dívida pública.
Adicionalmente, fez-se uma análise empírica para medir a direcção e a magnitude do efeito
do crescimento da dívida pública sobre variáveis como o Índice de Desenvolvimento
Humano e Coeficiente de Gini, por forma a avaliar o seu papel no desenvolvimento sócio-
económico e na redução da pobreza.

No que concerne as limitações, o estudo deparou-se com divergência de alguns dados


estatísticos fornecidos pelo Banco de Moçambique, Ministério de Economia e Finanças,
Tribumal Administrativo. A outra dificuldade deveu-se ao facto de não existirem, numa
mesma fonte, dados estatísticos completos (cobrindo todo o período em análise) referentes as
variáveis macroeconómicas em estudo (dívida, PIB, Receitas, Exportações, etc.) de
Moçambique.

4
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 4
Grupo Moçambicano da Dívida

2 REVISÃO DA LITERATURA
Este capítulo desenvolve os diferentes conceitos em torno da dívida pública e das variáveis
sócio-económicas por ela afectadas (crescimento económico, desenvolvimento económico e
redução da pobreza), bem como teorias que abordam sobre o impacto económico e social
desta variável, incluindo estudos passados, seus resultados e implicações destes na
abordagem do tema.

2.1 Principais conceitos e definições


Os principais conceitos e difinições do presente estudo são:

2.1.1 Dívida Pública

O termo ―dívida pública‖ é utilizado frequentemente para designar ―conjunto das situações
passivas que resultam para o Estado do recurso ao crédito público (Franco, 1996: 247). De
acordo com este autor, a dívida pública pode ser vista no sentido restrito como aquela que
corresponde apenas às situações passivas de que o Estado é titular em virtude do recurso a
empréstimos públicos e no sentido amplo, a que abrange o conjunto de situações derivadas,
não só do recurso ao empréstimo público, mas também da prática de outras operações de
crédito, como sejam os avales, os débitos resultantes do crédito administrativo, vitalício,
empresarial ou monetário, e da assunção de onerações em contrapartida de atribuições
patrimoniais.

Já o Perreira (2012: 541-546) relaciona a dívida pública com o conceito de défice orçamental.
Segundo este autor, quando se regista um défice orçamental (o Estado não tem receitas
suficientes para cobrir as suas despesas), ele é forçado a recorrer ao crédito através da
emissão de títulos de dívida, pelo que, a dívida pública vai englobar o conjunto de títulos
emitidos e não amortizados pelos subsectores das administrações públicas no mercado de
capitais.

Fernando (1987) considera a dívida pública como resultado das operações de crédito
realizadas pelos órgãos do sector público com o objectivo de antecipar as receitas
orçamentais ou atender desequilíbrios orçamentais e financiamento de obras e serviços
públicos. Este autor traz alguns elementos adicionais a ter em conta no endividamento
público, como o facto de que este pode surgir como antecipação das receitas orçamentais do

5
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 5
Grupo Moçambicano da Dívida

Estado ou para o financiamento de obras ou infra-estruturas económicas e sociais que podem


gerar receitas para honrar com a dívida contraída.

Para efeitos do presente estudo, será considerado conceito da dívida pública constante da
CGE (2012, 12), segundo o qual ―a dívida pública compreende as obrigações financeiras
assumidas com entidades públicas e privadas, dentro ou fora do território nacional, em
virtude de leis, contractos, acordos e realização de operações de crédito, pelo Estado.‖

Tendo em conta a residência dos agentes envolvidos na contratação do empréstimo, a divida


pode ser interna ou externa, sendo a dívida interna os instrumentos de divida emitidos pelos
governos centrais, enquanto a divida externa, surgem quando o governo ou agentes
económicos privados tem responsabilidades de pagamento sobre o exterior. Para ambos os
casos pode-se encontrar divida pública e privada.

Divida pública Interna, aquela que é contraída pelo Estado com entidades de direito público
ou privado, com residência ou domiciliadas no País, e cujo pagamento é exigível dentro do
território nacional;

Grande parte dos países em via de desenvolvimento, o termo divida interna está associado a
uma expressão abreviada para instrumentos da divida emitidos pelo governo central.
Normalmente a dívida pública interna é emitida em moeda nacional ou local, havendo casos
em que possam ser emitidos títulos em moeda local mas adquiridos por não residentes. Além
disso, os governos podem converter uma dívida doméstica cujos portadores são residentes,
numa divida em moeda estrangeira (por exemplo, obrigações expressas em USD). Nestes
casos, os governos deverão ter em conta os riscos cambiais que poderão decorrer das
variações de cotações de diferentes moedas, pois os encargos destas passam a depender da
taxa de juro e da taxa de câmbio (Johnson, A 2001:2)

 Dívida pública Externa, aquela que é contraída pelo Estado com outros Estados,
organismos internacionais ou outras entidades de direito público ou privado, com
residência ou domicilio fora do país, cujo pagamento é exigível fora do território
nacional.

Considerando este tipo de dívida na óptica do credor, a mesma pode ser Bilateral,
Multilateral e ou Comercial dependendo da instituição que concedeu o financiamento.

6
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 6
Grupo Moçambicano da Dívida

 Bilateral, quando os contratos de empréstimos são rubricados ou estabelecidos entre


governos, isto é, de governo para governo, e os valores são normalmente concedidos
ou garantidos por governos ou agências governamentais.

 Multilateral, quando os contratos de empréstimos são estabelecidos por um governo


a instituições financeiras internacionais, tais como: Banco mundial, Banco Africano
de Desenvolvimento, Fundo Internacional Monetário e outras instituições que
resultem de uma associação de governos ou supranacionais. Isto vai significar que
indirectamente o país devedor está se relacionar com vários governos ao mesmo
tempo. De referir que a dívida a estas instituições, tem um tratamento preferencial na
amortização dos empréstimos e não entram nos usuais delineamentos de
reestruturação e perdão da divida dos países. (Grupo moçambicano da divida. Divida
Pública de Moçambique 2004:4)

 Comercial, quando uma instituição, empresa e até mesmo governos recorrem a um


banco comercial internacional para a solicitação de um adiantamento em dinheiro
para fazer face a uma determinada necessidade financeira, cujas condições de
pagamentos são comerciais (taxa de juro do mercado e prazo de amortização).

Ainda sobre os conceitos da divida publica, de salientar que:

 Divida Externa Pública implica uma subtracção aos recursos disponíveis para o
consumo no país devedor (Samuelson 2005: 714)

 Um défice e uma Dívida Pública elevada em períodos de pleno emprego têm


consequências graves, incluindo a redução da poupança e do investimento nacionais e
um menor crescimento económico em longo prazo (Samuelson 2005:710).

Estas definições oferecem a ideia de que uma Dívida representa um uso de capitais alheios
mediante algumas condições previamente acordadas entre as partes e sempre inclui o
reembolso do valor em causa adicionado ao juro.

No entanto, importa referir que a Dívida Pública Externa traz consigo algumas vantagens e
desvantagens a saber:

7
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 7
Grupo Moçambicano da Dívida

Vantagens

 Aumento de recursos para financiamento do investimento nacional;


 As poupanças são encaminhadas para uma economia onde o nível de poupança
interna é baixo, contribuindo para um rápido crescimento económico;
 Aumento da disponibilidade de divisas para o país devedor;
 Contribui para financiamento dos défices na balança de transacções correntes e
um aumento das reservas externas da autoridade cambial;
 Juros baixos em empréstimos concessionais;
 Menos onerosa comparada à Dívida Pública Interna;
Desvantagens

 Serviço da dívida (capital e juros) externa implica sempre uma saída de divisas;
 País endividado fica sujeito a pressões de outros Estados credores ou Instituições
externas;
 A acumulação de dívida externa é uma saída crescente de divisas do país devedor
com reflexos negativos na balança de transacções correntes (pagamento de juros)
e na balança de capitais (amortização do capital).
 Agravamento da dívida devido à inflação e depreciação da moeda nacional tendo
em conta que serão necessárias mais unidades de moeda nacional para pagar juros
e o capital em moeda externa;
 A soberania e autonomia do país devedor ficam em risco.

2.2 Forma de contrair divida externa


1. Os bancos internacionais simplesmente emprestam dinheiro a empresas ou Governos
que se aproximam junto destes para solicitarem financiamento para a realização de
vários projectos de investimento novos e correntes.

2. Os Governos dos países necessitados quando emitem e vendem títulos de tesouro a


agentes económicos não residentes, na promessa de pagar o valor recebido mais tarde e
acrescido de juros.

3. A importação à crédito de determinados bens, na qual o país ou a empresa se


compromete a pagar após um certo período, também se considera como empréstimos
comerciais.
8
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 8
Grupo Moçambicano da Dívida

4. Os Governos fazem empréstimos, por vezes como ajuda, a taxas de juro baixas. Durante
muito tempo, os países credores concediam tais financiamentos, muitas vezes, ligados à
compra de produtos específicos no país de origem do financiamento (conhecidos como
fundos tied).

5. As instituições financeiras internacionais concedem aos países de baixa renda


empréstimos monetários, algumas vezes a taxas de juro baixas com períodos de graça e
de pagamento longos para:

a) Projectos de desenvolvimento.

b) Financiar o défice ou parte das despesas do Governo.

Para o caso concreto de Moçambique, o processo de contratação de créditos externos tem


três etapas, segundo a informação facultada pelo Ministério de Finanças:

i. Negociação, na qual estão envolvidas as seguintes instituições: Ministério


de Finanças (MF), o Banco de Moçambique (BM), e os sectores
beneficiários (isto é, um representante do ministério envolvido, por
exemplo, um do ministério da educação, se trata de um crédito para a
educação, ou um do ministério da saúde se trata de um crédito para a
saúde);

ii. Ratificação é feita pelo Conselho de Ministros em nome da República de


Moçambique;

iii. Opinião legal é dada pela Procuradoria-Geral da República para validar o


acordo.

2.2.1 Desenvolvimento Sócio-Económico e Redução da Pobreza

Segundo Teixeira (2005: 24) o desenvolvimento económico corresponde à ampliação das


possibilidades de escolha, principalmente àquelas que dependem de factores socioculturais
como saúde, educação, comunicação, direitos e liberdade.

Para Khan (1993: 40), o desenvolvimento pode ser entendido como um processo colectivo no
qual as preocupações e interesses de toda a população são levados em conta. O fruto do
desenvolvimento é equivalente partilhado por todos. Em termos fundamentais,
9
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 9
Grupo Moçambicano da Dívida

desenvolvimento é um processo de transformação que tem lugar numa sociedade quando as


condições circundantes, de natureza, politica, económica e cultural, são favoráveis a tal
transformação.

É importante notar que a literatura sobre desenvolvimento usa diversas vezes os conceitos de
―desenvolvimento económico‖ e ―desenvolvimento social‖ como sinónimos, convergindo
para a definição acima proposta por Khan. Contudo, foi possível perceber que os autores
empregam cada um destes conceitos dependendo do enfoque no qual cada um deles pretende
que desenvolvimento assente.

O desenvolvimento social seria, assim, aquele que foca mais nos processos não económicos
de desenvolvimento como: a redução da vulnerabilidade, inclusão, participação política,
liberdade, segurança. Está fundamentalmente associado a realização dos direitos humanos
básicos, relações formais e informais de poder, igualdade entre indivíduos e grupos ao seio da
sociedade Browne et al. (2015).

Já o conceito de desenvolvimento humano nasceu definido pelo PNUD2 como um processo


de ampliação das escolhas das pessoas para que elas tenham capacidades e oportunidades
para serem aquilo que desejam ser. A abordagem de desenvolvimento humano procura olhar
directamente para as pessoas, suas oportunidades e capacidades. Foi uma mudança de
perspectiva: com o desenvolvimento humano, o foco é transferido do crescimento
económico, ou da renda, para o ser humano em si.

Para efeitos do presente estudo, será usado o conceito de ―desenvolvimento sócio-


económico‖ pelo facto de este conjugar os 2 enfoques referidos acima (económico e social).
Trata-se de uma abordagem de articulação das políticas económicas e sociais que visem à
efectiva redistribuição de renda, forjando-se, assim, um modelo de desenvolvimento capaz de
promover maior justiça social. O enfoque articulador das dimensões económica e social do
processo de desenvolvimento implica concepção de políticas sociais que são, ao mesmo
tempo, promotoras de desenvolvimento económico (aumento em qualidade e quantidade dos
factores de produção, desenvolvimento do capital humano, infra-estruturas económicas e
sociais, maior competitividade regional, etc. (Lampreia, 1995:17)

2
http://www.pnud.org.br/idh/DesenvolvimentoHumano.aspx?indiceAccordion=0&li=li_DH

10
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 10
Grupo Moçambicano da Dívida

A análise quantitativa do desenvolvimento sócio-económico será feita com recurso ao Índice


de Desenvolvimento Humano, pois, para além de ser geralmente aceite na literatura para
medir o desenvolvimento económico, ele considera conjuntamente as principais dimensões
económica e social através do PIB per capita e características sociais (Educação e Saúde) que
influenciam a qualidade da vida humana. Adicionalmente, o índice é calculado anualmente
desde 1990 em cerca de 166 países, pelo que, a sua série histórica possibilita uma análise de
tendências e comparação internacional.

A redução da pobreza está intimamente ligada ao conceito de desenvolvimento sócio-


económico. Enquanto este último refere-se a melhoria das múltiplas dimensões da vida
humana (bem-estar), a redução da pobreza é a diminuição das pessoas que vivem privados
deste bem-estar. Num enfoque mais geral, a pobreza existe quando as pessoas não possuem
capacidades relevantes para alcançarem um nível adequado de rendimento, de boa saúde e
educação, de segurança, de auto-confiança e de liberdade de expressão, entre outros (Sen,
1999) citado pelo MPD (2010:3).

Face o objectivo da redução da pobreza expresso no Plano de Acção para a Redução da


Pobreza Absoluta 2011-2014 (PARP), este define a pobreza como ―a impossibilidade por
incapacidade, ou por falta de oportunidade de indivíduos, famílias e comunidades de terem
acesso as condições mínimas, segundo as normas básicas da sociedade (PARP, 2011).

Para a medição da pobreza é geralmente usado o indicador de linha de pobreza, que se refere
a cesta média de consumo das famílias pobres num certo espaço geográfico. Se a linha de
pobreza é 10 e a família consome bens e serviços com um valor total superior a 10 per capita,
então essa família não é considerada pobre. Da linha de pobreza resulta o índice de incidência
da pobreza, Po, é a proporção de pessoas cujo consumo (per capita) está abaixo da linha de
pobreza. Este índice também pode ser expresso matematicamente como Po = q / n, onde q é o
número de pessoas pobres e n é a população total de interesse. Neste caso, a medida oferece a
proporção de famílias ou indivíduos na população classificados como pobres MPD (2010: 5-
6).

O presente estudo associa a redução da pobreza ao crescimento pró-pobre, aquele capaz de


gerar significativa redução da pobreza, beneficiando os pobres e incrementando seu acesso a
oportunidades. Apesar das eventuais discrepâncias a volta do significado de crescimento pró-

11
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 11
Grupo Moçambicano da Dívida

pobre, pode-se compreendê-lo como um tipo de crescimento que habilita os pobres a


participarem da actividade económica e faz com que o aumento generalizado da renda os
beneficie proporcionalmente mais que os não-pobres. O crescimento económico pró-pobre
faz referência à inclusão dos pobres na geração do crescimento económico e usufruto de seus
resultados3.

Para efeitos deste estudo, a redução de pobreza, por estar associada ao crescimento pro-pobre
(redução da desigualdade social ou maior distribuição da renda), será medida pelo coeficiente
de Gini4.

2.3 As Teorias Económicas referentes a Dívida Pública

Ao longo da história, vários foram os autores que se destacam na sua abordagem em relação a
dívida pública. No século XVIII e XIV tem-se o Adam Smith (economista clássico) e Karl
Marx, respectivamente, que no geral, posicionavam-se de forma contrária ao endividamento.
A concepção de Smith (1988c: 175-179) é de que a dívida pública não beneficia a sociedade,
pois desvia o fundo produtivo dos privados para o sustento da capacidade improdutiva do
Estado. Por isso defende o equilíbrio das contas governamentais e a necessidade da formação
de um fundo de amortização da divida pública, ainda que considerasse que os Estados não
podem evitar a utilização dos empréstimos públicos como mecanismo auxiliar de
financiamento das suas despesas extraordinárias.
Marx (1985: 288), em sua obra ―O capital‖, considera a dívida pública como um mecanismo
de antecipação da acumulação de capital, pelo Estado, por meio de um artifício financeiro, a
criação de quase-dinheiro5
Por sua vez, Ricardo (1982: 114), na sua teoria sobre equivalência ricardiana, refere que a
diferença do financiamento público por impostos ou pelo endividamento é irrelevante. Esta

3
Ribeiro, Eduardo Pontual & Junior, Sabino da Silva Porto (2004). Crescimento pró-pobre no Brasil – uma
análise exploratória in http://www.anpec.org.br/encontro2004/artigos/A04A047.pdf
4
É um parâmetro que varia entre 0 a 1 usado para medir a desigualdade da distribuição de uma determinada
variável entre a população. Neste estudo será usado para medir a distribuição do PIB per capita entre a
população das diferentes províncias
5
(…) o capital, do qual o pagamento feito pelo Estado considera-se um fruto (juro), permanece capital ilusório,
fictício. A soma que foi emprestada ao Estado já não existe ao todo. A dívida pública torna-se uma das mais
enérgicas alavancas da acumulação primitiva. Tal como o toque de uma varinha mágica, ela dota o dinheiro
improdutivo de força criadora e o transforma, desse modo, em capital, sem que tenha necessidade para tanto de
se expor ao esforço e perigo inseparáveis da aplicação industrial e mesmo usurária. Os credores do Estado, na
realidade, não dão nada, pois a soma emprestada é convertida em títulos da dívida, facilmente transferíveis, que
continuam a funcionar em suas mãos como se fossem a mesma quantidade de dinheiro sonante.
12
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 12
Grupo Moçambicano da Dívida

teoria considera que a dívida actual contraída para financiar a despesa equivale aos impostos
futuros a serem cobrados para o pagamento da mesma.
Depois seguiram-se os neoclássicos, onde de acordo com Caracas (2006: 4), tal como os
keynesianos, não possuem uma fundamentação teórica sobre a dívida pública. Essas duas
correntes de pensamento concentram o debate em relação aos efeitos do déficit público,
consequentemente, da dívida sobre o equilíbrio económico.
Os neoclássicos, que assentam os seus posicionamentos na crença auto-regulação de mercado
que conduz a equilíbrios automáticos e de pleno emprego, argumentam não ser necessário o
endividamento, pois, é necessário buscar um equilíbrio nas contas públicas e eliminar-se os
déficits orçamentários por causarem inflação por serem financiados por emissão monetária
(Caracas, 2006: 4).
Já Keynes (1985: 198), na sua obra ―A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda‖
citado por CARVALHO (1995), critica a concepção neoclássica de equilíbrio com pleno
emprego dos factores de produção. Para Keynes, a economia pode estar em equilíbrio, mas
em geral, abaixo do pleno emprego pelo que, há necessidade de o estado intervir para
conduzir a economia ao pleno emprego. Nisso, a teoria keynesiana atribui ao Estado um
papel anti-cíclico, de carácter permanente, onde através da dívida pública para aumentar os
gastos, é possível reverter situações de desemprego, melhorar as expectativas sobre
actividade económica, motivando, assim, a recuperação dos investimentos privados.
A tabela 2.1 mostra diferentes concepções, teorias ou abordagens da dívida pública ao longo
da história pelos diferes autores (Garselaz, 2000):
Tabela 2.1: Teorias de Abordagem sobre Dívida Pública

Defende a expansão das despesas públicas como forma de movimentar a economia.


Escola Nesta linha de pensamento encontra-se James Denham Stewart (1712-1780) que foi
Mercantilista um dos primeiros defensores da dívida pública como meio de financiamento do
desenvolvimento económico.
Posiciona-se contrariamente ao endividamento, alertando para o fato de que em uma
Escola economia baseada na moeda com lastro metálico, existe efectivamente o risco da
Clássica bancarrota pública. Um de seus principais próceres, Adam Smith, afirmava que o
endividamento reduz a propensão a poupar e incentiva o consumo.
Aceita o endividamento unicamente como condição para o desenvolvimento
Escola
económico. Considera como actividades financiáveis pelo endividamento as guerras,
Histórica
os investimentos rentáveis e as despesas não-regulares, como obras de infra-

13
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 13
Grupo Moçambicano da Dívida

estruturs que propiciem elevação da receita tributária.


Defende o endividamento como financiador do déficit público, como forma de
Escola
movimentar a economia e provocar a geração de empregos, combatendo a
Keynesiana
estagnação e o desemprego.
Posiciona-se contrária à utilização do crédito público como financiador do
Escola desenvolvimento. Entende ser o crédito público a realização, no presente, de receitas
Neoliberal tributárias futuras, transformando o Leviatã probabilístico em Leviatã eterno, pois
transforma em certeza a possibilidade de majoração dos tributos no futuro.
Fonte: Formulação própria com dados constantes em: GARSELAZ, Paulo da Silva.(2000). Dívida pública:
Uma abordagem teórica, um relato histórico e o caso do Rio Grande do Sul.

2.4 Sustentabilidade da Dívida Pública

A literatura económica apresenta várias abordagens sobre a sustentabilidade da dívida


pública. Segundo Costa (2009: 89), o entendimento do termo sustentabilidade da dívida
começa-se por se discutir num mundo determinístico, no qual uma dívida é dita sustentável
quando o valor presente do fluxo futuro de receitas menos despesas do devedor é suficiente
para pagar tudo o que está contratualmente definido. Isso pode ser definido através da
restrição orçamentária inter-temporal do governo como a condição de que o valor presente
dos superávits primários seja igual ao valor da dívida.

Considerando 2 períodos teremos:

( ) (1),

onde é o valor da dívida do governo no momento t; é o valor da taxa de juros em t; e


e são as receitas e as despesas do governo em t, respectivamente

Isolando a equação dívida ( ) para o período t, resulta no seguinte:

( ) (2)

Considerando n períodos, com operações matemáticas simples, resulta que:

∑ ( )
∏ ( )

Note que, com a equação 3, em um mundo sem incerteza, a condição de sustentabilidade da


dívida pública é exactamente aquilo que se pode esperar: que o governo em algum momento
14
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 14
Grupo Moçambicano da Dívida

do tempo arrecade o suficiente não somente para pagar seus gastos correntes, mas também
para honrar com os seus compromissos acrescidos dos devidos juros, ou seja, a crença de que
uma dívida é sustentável é satisfeita se se puder demonstrar que o seu valor não é maior que o
valor presente dos superavits primários esperados no futuro.

As receitas, que dependem, por sua vez, do nível de actividade económica (R=tY), onde Y é
o produto, vão justificar o porquê de os indicadores de sustentabilidade girarem em torno do
Valor Presente ou Serviço da Dívida em Relação ao PIB ou em relação as Receitas. Fica
evidente, na equação 3, que a sustentabilidade da dívida, dependerá da capacidade de o
estado arrecadar, ao longo do tempo, receitas para fazer face ao serviço da dívida que, por sua
vez, essas receitas dependem do nível de actividade económica (PIB).

Quando se tratar de um modelo em economia aberta, uma nova variável ganha importância
(exportações) na análise da sustentabilidade da dívida, pois esta espelha a capacidade do país
devedor de gerar moeda externa para fazer face às obrigações decorrentes do seu nível de
endividamento.

Hermann (2002: 12), citando Minsky (1982: 67) e o seu modelo de fragilidade financeira6,
refere que a solvência financeira de qualquer devedor depende de duas condições básicas:

a) Da relação entre o fluxo de despesas financeiras assumidas e seu fluxo de receita


líquida (após os gastos não financeiros);
b) De sua capacidade de refinanciamento no mercado, isto é, de obtenção de novos
créditos, em complemento ou em substituição à receita líquida, que lhe permitam
manter os pagamentos devidos.

A visão de Minsky (1982), segundo Hermann (2002), é de que ―em economias com sistemas
de crédito bem organizados e desenvolvidos, o equilíbrio financeiro de um devedor não se
define por sua capacidade de liquidar totalmente as suas dívidas, mas sim de honrar,
sistematicamente, com os compromissos financeiros assumidos, dentro dos prazos previstos.
Isto pode ser alcançado com recursos próprios ou de terceiros‖.

6
A Teoria da Instabilidade Financeira de Minsky relaciona o investimento e o endividamento. Segundo esta
teoria, a fragilidade financeira das unidades depende da relação entre os fluxos de caixa esperado de seus activos
e dos compromissos de pagamentos referentes ao endividamento (juros, dividendos, serviços da dívida, etc).
15
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 15
Grupo Moçambicano da Dívida

Para efeitos do presente estudo, o conceito de sustentabilidade da dívida está relacionado a


capacidade de um país cumprir com todas as responsabilidades relativas ao serviço da dívida
– externa e doméstica, publica e privada, de longo e de curto prazo — sem afectar os seus
objectivos de desenvolvimento económico e social (GMD, 2004 citando Banco Mundial e
FMI).

A análise de sustentabilidade da dívida, segundo o Ministério de Economia e Finanças


(2015:11), na sua Estratégia de Gestão da Dívida Pública 2015-2018, é uma ferramenta que
orienta as decisões relacionadas com o processo de contratação de créditos para fazer face as
necessidades financeiras e perspectivar a capacidade para responder ao serviço da dívida,
através de uma avaliação pormenorizada da carteira da dívida pública, tendo em conta o
contexto macroeconómico nacional e o impacto de novos financiamentos. Ainda de acordo
com aquela instituição, o principal objectivo da análise de sustentabilidade da dívida é avaliar
e monitorar os níveis de endividamento, através de um estudo comparativo entre a evolução
da dívida e os limites dos indicadores de sustentabilidade. Estes indicadores são
representados por rácios, sendo que o resultado de cada rácio é comparado ao limite de
sustentabilidade estabelecido em conformidade com a classificação dos países determinada
pela Avaliação de Políticas e Instituições de Países7

A iniciativa HIPC estabeleceu alguns parâmetros, entre os quais, a não superação do nível de
200% na relação Stock da Dívida/PIB, a obtenção de uma proporção de 17% ou 18% das
receitas relativamente ao PIB e o tecto máximo de 25% do montante do serviço da dívida
relativamente à receita orçamental (Franco, 2002).

A Comunidade dos Países da África Austral (SADC) estabeleceu, em 2004, indicadores de


convergência para os seus países membros a manter a dívida pública sustentável num limiar
de 60% do PIB.

Para a análise de sustentabilidade da dívida pública interna são normalmente empregues os


seguintes indicadores (Johnson 2001:2):

 Serviço da dívida / receitas orçamentais: mede a capacidade do Governo de fazer face


ao serviço da dívida (soma juros e capital) a partir das receitas internas.

7
Country Policy and Institutional Assessment (CPIA) e uma classificação de países realizada anualmente pelo
Banco Mundial, contra um conjunto de 16 critérios agrupados em quatro grupos: gestão económica, políticas
estruturais, políticas para inclusão social e equidade e gestão do sector público e das instituições.
16
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 16
Grupo Moçambicano da Dívida

 Valor actual líquido / receitas orçamentais: mede o custo actual do serviço da dívida
em relação a capacidade do Governo em efectuar o reembolso.
 Juro / receitas orçamentais: mede o peso dos juros de dívida interna nas receitas
mobilizadas internamente.
 Stock de dívida / PIB: mede o nível de endividamento em relação à actividade
económica do País. Demonstra a proporção da produção global do País que seria
necessária para reembolsar todo o stock de dívida.
 Stock da dívida / receitas orçamentais: mede o nível de endividamento interno
relativamente à capacidade do Governo de efectuar o reembolso. Demonstra o número
de anos necessários para efectuar o reembolso de todo o Stock de dívida.

Contudo, estes indicadores são considerados estáticos porque referem-se à situação da dívida
num determinado período de tempo. Para análise da dinâmica da dívida ou como os rácios de
dívida se movem com o tempo, avalia-se a relação entre as taxas de juros (custo efectivo de
pedido de empréstimo) e a taxa de crescimento das receitas internas. Por exemplo se a taxa de
juros for superior a taxa de crescimento das receitas públicas, há evidências de uma carga
crescente do serviço da dívida, caso contrário pode se esperar uma redução da carga do
serviço da dívida nas receitas internas (Johnson 2001:2).

Por outro lado, a partir de 2005, as instituições Breeton Woods definiram um quadro de
indicadores de sustentabilidade da dívida externa com limiares baseados no desempenho, que
tomam em consideração o resultado empírico de que os níveis de dívida que um país de
rendimento baixo pode sustentar, aumentam com a qualidade das suas políticas e instituições
(GMD, 2010:16).

A qualidade das políticas e instituições de um país é calculada com base na média trienal do
Índice de Avaliação das Políticas e Instituições Nacionais (CPIA) do Banco Mundial, o qual
classifica Moçambique como um ―país de desempenho médio‖.

Sendo assim, os limiares de endividamento externo indicativos para países nesta categoria
são os seguintes:

 VAL do rácio dívida/exportações de 150%;


 VAL do rácio dívida/receitas de 250%;
 VAL do rácio dívida/PIB de 40% e

17
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 17
Grupo Moçambicano da Dívida

 Rácios serviço da dívida/exportações e serviço da dívida/receitas de 20 e 30%.

Para a dívida externa, a análise dinâmica (médio e longo prazo) da sua sustentabilidade será
verificada sempre que a taxa de endividamento (novos empréstimos) for menor que a taxa de
crescimento das exportações e do próprio PIB. Países com altas taxas de crescimento no seu
PIB poderão rapidamente responder a um elevado volume de dívida externa e de serviço da
mesma, enquanto os menos desenvolvidos enfrentam elevados problemas para cumprir com
as suas responsabilidades tornando-se o seu nível de endividamento insustentável (GMD
2004). A análise dinâmica da sustentabilidade da dívida pública em Moçambique será feita
comparando as taxas de crescimento médio anual do serviço da dívida pública com as das
receitas, exportações e PIB. Será considerada evolução insustentável do endividamento
público se o crescimento do serviço da dívida for superior ao das receitas, exportações ou do
PIB. Por outro lado, a análise estática da sustentabilidade do endividamento público (em
determinados pontos no tempo dentro do período em análise) será feita a luz dos seguintes
indicadores e limites (Tabela 2.2):

Tabela 2.2: Indicadores de Sustentabilidade da Dívida Pública

Indicadores de Sustentabilidade da Dívida Pública Total


Limiar de
Descrição sustentabilidade
Indicadores de Sustentabilidade da Dívida Pública Total
Stock da Dívida/PIB 60%-200%
Ñão deve se situar
Receita Corrente/PIB abaixo de 17%-18%
Serviço da Dívida/Receita Corrente 25%

Indicadores de Sustentabilidade da Dívida Publica Externa


Valor Actual da Dívida/PIB 40%
Valor Actual da Dívida/Exportações 150%
Valor Actual da Dívida/Receitas 250%
Serviço da Dívida Externa/Exportações 20%
Serviço da Dívida Externa/Receitas 30%
Indicadores de Sustentabilidade da Dívida Pública Interna
Stock da Dívida Interna/PIB 20%-25%
Serviço da Dívida Interna/ Receitas Públicas 28%-63%
Stock de Dívida/Receitas Públicas 92%-167%
Fonte: MEF (2014), FMI (2014), GMD (2006) e Johnson (2001)

18
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 18
Grupo Moçambicano da Dívida

2.4.1 Análise Crítica dos Indicadores de Sustentabilidade da Dívida

Segundo o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), anualmente é realizada pela


Agência Internacional de Desenvolvimento (IDA) do Banco Mundial (BM) e pelo Fundo
Monetário Internacional (FMI), uma Avaliação da Sustentabilidade da Dívida Externa (ASD)
para Moçambique, e o instrumento usado para fazer esta análise é denominado Quadro de
Análise da Sustentabilidade da Dívida para Países de Baixo Rendimento (LIC DSF) 8, o qual
adopta como indicadores de sustentabilidade os seguintes rácios:

 Serviço da dívida/exportações (ou receitas fiscais);


 Valor Actual da Dívida (VAL) /exportações (ou receitas fiscais)
 VAL da dívida/Produto Interno Bruto (PIB)

Serviço da dívida/exportações (ou receitas fiscais);

Este indicador foi adoptado como um proxy da capacidade do país devedor de gerar moeda
externa para fazer face às obrigações decorrentes do seu nível de endividamento. O primeiro
problema com este indicador deve-se ao facto deste negligenciar outras fontes de mobilização
de moeda externa para além das exportações, como por exemplo, os donativos e o
Investimento Directo Estrangeiro (IDE) que, no caso de Moçambique, representam fontes
importantes das divisas que são usadas para o país.

Valor Actual da Dívida (VAL) /exportações (ou receitas fiscais)

Esta indicadora não toma em consideração a condição de sustentabilidade da dívida externa


patente na definição adoptada pelo FMI e o pelo Banco Mundial, que requer um nível de
endividamento para o qual ―o país pode responder totalmente às suas obrigações actuais e
futuras de serviço da dívida, sem recurso à recalendarização do pagamento, ou acumulação
de atrasados e sem comprometer o crescimento económico‖. Esta definição implica que para
ser considerado numa situação de endividamento sustentável o país deve ser capaz de
mobilizar recursos suficientes em todos períodos, não só para responder às obrigações
decorrentes da sua dívida externa, como também, para fazer face a todas as outras despesas
necessárias para o seu crescimento.

8
Sigla da língua inglesa para Low Income Countries Debt Sustainability Framework

19
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 19
Grupo Moçambicano da Dívida

Desta forma, fica evidente que no rácio serviço da dívida/exportações falta a referência às
outras despesas para além da dívida. Implícito na adopção deste rácio e dos valores limiares
de sustentabilidade para o mesmo, está o pressuposto de que existe um valor da dívida
proporcional ao volume de exportações que não gera efeitos negativos sobre o crescimento
do país devedor. Olhando concretamente para o caso do rácio serviço da dívida/exportações e
para o seu valor limiar de sustentabilidade de 20% aplicado ao caso de Moçambique, este
equivale a dizer que uma fracção de 20% das exportações pode ir para o serviço da divida
sem constranger o crescimento económico. Em outras palavras, isto significa que 80% do
valor das exportações (considerado como a única fonte de divisas) é suficiente para realizar
as restantes despesas em divisas necessárias ao crescimento do país.

Um outro argumento para o uso deste rácio seria a ideia de que as exportações representam
uma aproximação razoável da capacidade do país de gerar recursos em divisas para servir a
sua dívida e para sustentar o seu crescimento. Ou seja, as exportações não estariam a ser
consideradas a única fonte de divisas nem que elas apenas financiam o serviço da dívida, mas
sim que a sua tendência é similar ao fluxo líquido de divisas (as entradas de divisas menos as
despesas efectuadas pelo país excluindo o serviço da dívida para sustentar o seu desempenho
económico). Desta forma, apesar do valor limiar de sustentabilidade continuar a ser
inadequado, a evolução do rácio daria uma ideia de como evolui a capacidade do país de
sustentar a sua dívida

Similarmente à análise desenvolvida para o rácio serviço da dívida/exportações, no caso do


rácio serviço da dívida/receitas fiscais, a pergunta imediata que surge é porquê receitas
consignadas e juros de activos do governo não são incluídas para avaliar a capacidade do
Governo de gerar receitas? Adicionalmente, seguindo o mesmo raciocínio desenvolvido para
o caso do rácio dívida/exportações quando são consideradas as despesas que são efectuadas
para sustentar o crescimento, veremos que, de acordo com as projecções da ASD 2007-2027,
o défice primário deverá manter-se a uma média de 2,1% do PIB. Isto significa que em
termos absolutos o défice primário vai crescer. Tendo em conta que a ASD projecta um
crescimento do stock da dívida externa nominal (de 0,9 biliões de USD em 2007, para 2,1 em
2012 e 4,2 em 2027) teremos que o défice de receitas fiscais em relação as despesas
necessárias para sustentar o seu crescimento e servir a dívida vai crescer ao longo do período.

20
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 20
Grupo Moçambicano da Dívida

VAL da dívida/Produto Interno Bruto (PIB)

O ponto passado mostra que o valor do PIB per pouco diz sobre quanto da riqueza gerada é
retida no país e pode ser usada para servir a dívida e sustentar as despesas para o crescimento
futuro. Sobre o uso do Valor Actual Liquido, para além das divergências em relação ao valor
da taxa que é usada para actualizar a dívida nominal e do facto de não ser claro que o VAL da
dívida, ao invés do valor nominal, seja o valor que os agentes económicos consideram e que
despoleta o problema do debt overhang, existe um problema mais óbvio. O VAL mede o
valor que o devedor teria de pagar se quisesse saldar totalmente a sua dívida no presente ou,
conforme colocado pelo IDA-IMF (2004:15), o valor que o devedor teria de reservar hoje
para cobrir os seus serviços de dívida futuros. Obviamente que a primeira questão não é
relevante para países de baixo rendimento com necessidades persistentes de contrair novas
dívidas. Para a segunda questão ser relevante, teríamos de aceitar que o Governo acredita que
é mais fácil gerar capacidade futura de fazer face à sua dívida acumulando reservas do que
investindo na economia, e isto contraria toda a lógica da contracção da dívida.

2.4.2 Limitações dos Indicadores de Análise da Sustentabilidade da Dívida

 Os rácios medem o impacto da capacidade do país de gerar receitas externas e


governamentais independentemente, quando na verdade estes se influenciam
mutuamente. Com efeito, quanto maior for o défice de moeda externa por parte do
Governo, maior será a pressão sobre as suas receitas em moeda doméstica e vice-
versa.; e quanto menores as receitas externas e/ou governamentais, menor a
capacidade de realização de despesas que geram crescimento e receitas externas e
governamentais futuras.

 A análise da sustentabilidade da dívida externa PPG não considera o impacto que a


dívida pública doméstica e a dívida privada não publicamente garantida têm sobre a
primeira, tendo em consideração de que o crescimento descontrolado da dívida
pública doméstica tem um impacto sobre a capacidade do Governo de fazer face às
suas despesas e às suas obrigações com respeito à dívida externa, mas também é
provável que numa situação de insustentabilidade da dívida privada, o Governo seja
obrigado a intervir sob pena de a perda de credibilidade do sector privado gerar
instabilidade e redução da actividade económica que, obviamente, teriam impacto
sobre a capacidade do Governo de responder às suas próprias obrigações.

21
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 21
Grupo Moçambicano da Dívida

2.5 Debate teórico e empírico sobre o impacto Económico e Social da Dívida


Pública

O Estado, no exercício das suas 3 funções referenciadas por Musgrave (1974)


designadamente: alocativa, distributiva e estabilizadora, necessita de recursos financeiros
para investimentos, de modo a promover o desenvolvimento económico-social e redução da
pobreza, adoptando políticas públicas que garantam um nível máximo de emprego,
disponibilização de infra-estruturas sociais e económicas, de equipamentos para saúde,
educação, abastecimento de água, segurança, habitação, energia, comunicações e transportes.
Estes recursos, quando não conseguidos apenas com os impostos, o Estado recorre ao
endividamento público para financiar os seus objectivos de desenvolvimento e redução da
pobreza.

Assim, o crédito público constitui uma importante fonte de recursos para o desenvolvimento
dos países, mas desde que a sua utilização seja adequada ao alcance deste objectivo, pois,
conforme salienta Garselaz (2000: 19), a utilização indiscriminada e sem qualquer critério
lógico dessa modalidade de financiamento tem levado as economias em desenvolvimento a
uma inegável e concreta situação de dependência em relação aos países financiadores, ao
ponto de se constituir em verdadeira tutela económica e financeira e, em alguns casos, em
tutela política. Nesses casos, a busca do desenvolvimento e redução da pobreza por meio de
endividamento pode resultar numa situação completamente inversa daquela inicialmente
almejada, ou seja, a dependência económica, financeira e política em relação aos organismos
financeiros internacionais que representam os países financiadores.

2.5.1 Estudos teóricos

O impacto da dívida pública na economia, tem sido desagregado por muitos autores
desagregado o impacto entre curto e longo prazo, onde no curto prazo o impacto mostra-se
positivo e no longo prazo negativo.

Elmendorf e Mankiw (1999) citado por Boas (2014:3) faz uma análise de curto prazo
assumindo que as despesas públicas em bens e serviços são constantes, mas as receitas via
impostos sofrem uma redução. A redução dos impostos aumenta o rendimento disponível das
famílias e a sua própria riqueza. Dado este facto, há uma tendência para as famílias

22
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 22
Grupo Moçambicano da Dívida

aumentarem o consumo de bens e serviços, que estimula a procura agregada e o aumento do


PIB, que é uma condição necessária para o desenvolvimento económico e redução da
pobreza.

Já no longo prazo, os autores acima baseiam-se na seguinte expressão:

S+ (T-G) = I+NFI, (5)

onde S – Poupança Privada , (T-G) – Poupança pública, I-Investimento nacional, NFI-


Investimento no exterior; que significa que as Poupanças Nacionais (privada e pública) são
usadas para financiar o Investimento nacional e no estrangeiro. Assumindo, tal como no
curto, a redução dos impostos e gastos do governo constantes, para a equação 5 continuar em
equilíbrio são observáveis 3 cenários (Elmendorf e Mankiw, 1999):

i) Aumento das poupanças privadas,


ii) Diminuição do investimento nacional
iii) Diminuição do investimento no estrangeiro.

De acordo com (Boas, 2014:3), os autores acima adoptaram a visão convencional de que o
aumento da poupança privada não compensa a queda da poupança pública, pelo que, com
base nos 3 cenários acima, a redução dos impostos levaria a uma diminuição do investimento
total (doméstico e no estrangeiro). A redução do investimento doméstico resultará num
menor stock de capital doméstico e, consequentemente, terá um efeito negativo no PIB no
longo prazo. O menor nível de capital doméstico também levará ao aumento das taxas de
juro, e à diminuição da produtividade do trabalho e dos salários. A nível externo, a
diminuição do investimento no estrangeiro levará à retracção das exportações líquidas,
provocando um aumento do défice da Balança Comercial.

Outra vertente da análise do impacto económico e social da dívida pública é olhar no volume
ou limite do endividamento, uma vez que a dívida por si não constitui problema. Muitas
teorias atestam que a partir de um certo limite, o endividamento pode ter um efeito nocivo
sobre a economia. Segundo (Clements et al.,2003), os argumentos são de que, depois de um
certo ponto, o excesso de endividamento desincentiva os investidores, por acreditarem que os
seus lucros serão fortemente tributados para fazer face ao alto endividamento. Por outro lado,

23
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 23
Grupo Moçambicano da Dívida

com o alto serviço da dívida limita a quantidade de recursos à disposição do governo que
poderiam ser usados para influenciar positivamente a actividade económica. o aumento dos
níveis de endividamento gera incerteza aos investidores sobre políticas e acções do governo o
que, portanto, desencoraja o investimento (Greenidge, 2012:9).

Loko, Mlachila, Nallari e Kalonji (2003) citados por Akram (2016: 749) concluíram que a
pobreza não é só afectada pelos impactos negativos da dívida pública sobre o crescimento,
mas também pelo efeito crowding –out da dívida sobre as despesas sociais. A alocação dos
gastos do governo em sectores sociais como educação, saúde, protecção social, água e
saneamento ficam comprometidas com o alto serviço da dívida, pois, a história já provou
diversas vezes que para o governo, é mais fácil cortar despesas sobre os sectores socias em
relação as despesas.

Concluindo, a literatura sugere que há uma tendência para o endividamento afectar


negativamente o crescimento, principalmente no longo-prazo. Por outro lado, a literatura
refere-se do impacto negativo da dívida pública na economia a partir de um certo montante
(Dívida/PIB) depois do qual o aumento do endividamento reduz o crescimento económico.

Em geral, não existem modelos que apresentem resultados consistentes entre estas duas
variáveis dívida, crescimento económico, desenvolvimento e redução da pobreza, pelo que, a
escolha desse tema tem a pretensão de reduzir o défice existente na análise entre dívida,
desenvolvimento e redução da pobreza.

2.5.2 Estudos empíricos

A estimativa de um limite de endividamento adequado para não afectar negativamente o


crescimento e o desenvolvimento económico norteia a maior parte dos estudos empíricos. Por
outro lado, a literatura, para além de só medir a magnitude do impacto da dívida pública
sobre o crescimento económico, concentra-se também nos canais através dos quais se
efectiva este impacto. Segundo Kumar e Woo (2010), são várias as formas através das quais
um elevado nível de dívida poderá afectar o desempenho da actividade económica, não só na
vertente de curto prazo como na lógica de longo prazo.

Schclarek (2004) citado por Boas (2014:4), inspirado no impacto que a insustentabilidade
financeira provocou na Argentina (1999-2002), efectuou um estudo onde pretendia aferir o
24
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 24
Grupo Moçambicano da Dívida

impacto da dívida externa total no desenvolvimento económico, utilizando para tal uma
amostra de 83 países (59 em desenvolvimento e 24 industrializados) e dados do período de
1970 a 2002. Os resultados sugerem um impacto negativo da dívida externa pública apenas
nos países em desenvolvimento. Já para a amostra de países desenvolvidos os resultados
foram estatisticamente não significativos, demonstrando que o nível de dívida não está
associado ao desenvolvimento dos países.

Usando um histograma composto por dados de 2 séculos para 44 países, Reinhart e Rogoff
(2010) citado por Greenidge et al., (2012:9), encontraram uma fraca relação entre a dívida
pública e o crescimento a partir 90% do rácio Dívida/PIB. Um limite mais baixo de 60% foi
encontrado para a dívida externa (pública e privada) para o PIB das economias de mercado
emergentes.

Um estudo desenvolvido por Greenidge (2012) trouxe resultados que validaram a noção de
que as economias emergentes enfrentam limites mais baixos de dívida em relação ao PIB
(Reinhart e Rogoff, 2010) e que os elevados níveis de endividamento, especialmente para
países em desenvolvimento, podem ter efeitos negativos sobre o crescimento e
desenvolvimento económico. Os resultados obtidos por este autor indicam que a dívida
contribui positivamente para o crescimento quando está abaixo de 30% do PIB, mas torna-se
uma preocupante quando está além dos 55% do PIB. No intervalo dos 30% a 55% do PIB, o
impacto marginal da dívida para o desenvolvimento diminui e a partir de 55%, torna-se
negativo (Gráfico abaixo)

Gráfico 2.1: Curva da Relação entre Dívida Pública e Crescimento do PIB

Fonte: Adaptado pelo autor com base em: Greenidge et al. (2012:19)

25
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 25
Grupo Moçambicano da Dívida

De acordo com Greenidge (2012), a conclusão lógica é que os países com rácios da dívida
acima de 55% do PIB devem procurar alcançar níveis de dívida que não impedem o seu
crescimento e desenvolvimento, através da adopção de políticas de redução do endividamento
rumo a ao limite dos 55%. Os governos devem procurar estar abaixo dos limites máximos de
endividamento estimados para fazer face a períodos de recessão, onde o estado pode precisar
de crédito para estimular a economia.

Segundo Boas (2014:5), outro canal através do qual a dívida pública elevada poderá provocar
efeitos adversos no crescimento de médio e longo prazo é o aumento das taxas de juro de
longo prazo. Baldacci e Kumar (2010), citado por Boas (2014:5), analisam o impacto dos
défices e da dívida pública nas taxas de juro de longo-prazo e concluíram que quanto maior o
nível de dívida pública, maiores serão as taxas de juro de longo prazo, sendo que a magnitude
desse aumento dependerá de condições específicas de cada economia (exemplo: taxa de
poupança privada, demografia e qualidade das instituições). Os resultados empíricos
demonstraram que um aumento do rácio dívida/PIB em um ponto percentual está associado a
um aumento das taxas de juro entre 2 a 7 pontos-base.

Em geral, a literatura empírica concentra-se mais, tal como a literatura teórica, no efeito da
dívida pública sobre o crescimento económico e muito pouco sobre o desenvolvimento e
redução da pobreza. Contudo, o presente estudo analisa, explícita e implicitamente, o papel
da dívida pública sobre o desenvolvimento sócio-económico e redução da pobreza para o
caso de Moçambique, visto que, como se percebeu, os resultados obtidos são diversos e nem
sempre aplicáveis a todo o conjunto de países constituintes da amostra, por ser, como refere
Presbitero (2012), impossível estimar um coeficiente de dívida que seja replicável para todos
os países.

26
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 26
Grupo Moçambicano da Dívida

3 DÍVIDA PÚBLICA DE MOÇAMBIQUE E SEU IMPACTO


ECONÓMICO E SOCIAL (1999-2016)
Este capítulo traz uma análise detalhada da evolução da dívida pública (externa e interna) e
da sua sustentabilidade e, por fim, avalia o papel do endividamento público para o
desenvolvimento económico e redução da pobreza através de uma análise quantitativa e
qualitativa da sua aplicação, complementada por uma a análise empírica entre dívida pública,
desenvolvimento sócio-económico e redução da pobreza.

3.1 Antecedentes
Com a introdução da economia centralmente planificada ou dirigida adoptado pelo Governo
de Moçambique logo após independência, coincidiu com várias mudanças conjunturais e
políticas que eram agravadas pela falta de bases sustentáveis para aplicação daquele tipo de
economia que provocaram algumas mudanças com destaque para:

 Êxodo da maioria dos quadros técnicos e empresários, a maioria dos quais de


origem portuguesa.
 Abandono da direcção de algumas unidades de produção por parte de quadros
insatisfeitos com a independência política e económica alcançada por
Moçambique, numa altura em que o País ainda não disponha de quadros para
assegurar a gestão de diversas unidades económicas.
 A nacionalização dos principais sectores económicos (indústria, agricultura,
serviços.)

Aliado a estes factores, as calamidades naturais cíclicas começaram e o recrudescimento da


guerra civil (1976-1992) contribui grandemente para a redução da produção e da
produtividade das unidades económicas. Devido a economia ora vigente o orçamento geral de
Estado aumentava de forma significativa e o Estado começou a ser incapaz de suportar os
encargos de algumas empresas estatais que estavam abrangidas na política de subsídio.
Algumas empresas estatais acabaram encerrando, provocando um grande desequilíbrio
económico e social, daí o recurso a dívida pública.

Em geral, a dívida pública de Moçambique tem a sua origem em créditos externos contraídos
principalmente nas décadas 70 e 80 e outros contraídos posteriormente. A redução das

27
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 27
Grupo Moçambicano da Dívida

exportações, resultante de fenómenos endógenos e exógenos tornou a dívida pública


insustentável.

No ano de 1982 o Governo moçambicano decidiu tirar 100% das reservas do País para
amortizar dívida e como consequência, após a utilização de todas as reservas o país, perdeu a
capacidade de importar pelo menos bens de consumo. Na sequência desta crise em finais de
1982, o Governo declarou pública e internacionalmente a sua incapacidade em sustentar a
dívida.

Para evitar um prolongado declínio, o governo moçambicano iniciou uma mudança na sua
política, no sentido de uma liberalização da economia como forma de evitar quedas mais
acentuadas.

Com o objectivo de tornar a dívida sustentável, Moçambique beneficiou de alívio através do


reescalonamento da dívida, no âmbito do Clube de Paris e posteriormente das iniciativas dos
Países Pobres Altamente Endividados (HIPC) e de Alívio da Dívida Multilateral (MDRI).

O país foi qualificado, em 1998 para iniciativa HIPC e alcançou o ponto de conclusão em
2001 dentro do HIPC reforçado. Antes da iniciativa HIPC, o stock nominal da dívida publica
moçambicana aumentava a um ritmo acelerado, tendo atingido, em 1998, a cifra mais alta de
mais de seis biliões de dólares, montante que representava 153% do Produto Interno Bruto
(PIB) daquele ano, cerca de 13 vezes as receitas do Estado e 25 vezes as exportações de
1998.

Isto significa que, se o país tivesse que fazer face ao serviço da divida, era necessário
mobilizar 43% das exportações, 23.5% das receitas do Estado e 2.7% do Produto Interno
Bruto de 1998.

3.2 Evolução da Dívida Pública período de 1999-2015

A dívida pública de Moçambique em 1999, essencialmente externa, era avaliada USD 5,65
mil milhões, menor do que os USD 6,12 mil milhões de 1998, devido ao início da
implementação do HIPC (1999-2001) que visava o perdão da dívida para os países pobres
que apresentavam níveis insustentáveis de endividamento.

28
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 28
Grupo Moçambicano da Dívida

De acordo com a tabela 3.1 e o gráfico 3.1 (página 31), a dívida pública durante e depois do
HIPC mostra uma tendência decrescente. No total, segundo GMD (2006: 17), Moçambique
beneficiou do compromisso de alívio da dívida no âmbito do HIPC I (1999) de USD 3.7 mil
milhões do stock nominal da dívida, correspondentes a USD 1.716milhões em termos de
valor presente líquido e, em 2001, o país atingiu o ponto de conclusão no âmbito do HIPC
reforçado ou HIPC II com perdão de USD 600 milhões do stock nominal da dívida,
equivalente a USD 306 milhões em termos de valor presente líquido.

A partir de 2002, apesar da iniciativa HIPC, a tendência do endividamento público foi


ligeiramente crescente até 2006, ano em que o país beneficiou, no âmbito da iniciativa
MDRI9, da redução dos USD 4925 milhões em 2006 antes MDRI, para USD 1554 milhões
depois do MDRI.

Ao abrigo de MDRI, instituições financeiras como Fundo Monetário Internacional, Banco


Africano de Desenvolvimento (BAD) e Banco Mundial acordaram no cancelamento da
divida de 18 países pobres. Moçambique fez parte deste grupo, devido ao ―bom desempenho
no cumprimento do seu programa de reformas‖. Com o FMI foi cancelado o valor de 154
milhões de dólares, o total da divida contraída e desembolsada ate 31 de Dezembro de 2004.
Por outro lado, o Banco Mundial concedeu um alívio de cerca de 1,2 bilião de dólares. Este
valor e referente a dívida contraída e desembolsada até 31 de Dezembro de 2003. O BAD
cancelou um montante estimado em cerca de 500 milhões de dólares, referente a divida
contraída e desembolsada ate 31 de Dezembro de 2004.

De 2006 a 2010, a dívida pública comportou-se de forma estável, com um aumento ligeiro de
8,37%, que reflectiu basicamente o aumento da dívida interna. A dívida pública interna, antes
de 2010 e no período de 1999 a 2002, tendeu a crescer linearmente, até que, no intervalo de
2003 a 2004, registou um decréscimo de USD 217.10 milhões de USD 107.10 milhões.

9
A iniciativa MDRI (Multilateral Debt Relief Initiative) surge no contexto em que, apesar dos vários programas
de alívio da dívida e quase uma década de implementação da iniciativa HIPC, países pobres como Moçambique
continuaram a despender parte dos recursos que poderiam ser alocados para elevar a qualidade de vida dos seus
povos no pagamento do serviço da dívida. Assim, em Junho de 2005, o grupo dos oito países mais
industrializados propôs à instituições multilaterais - Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial e o Fundo
Africano de Desenvolvimento - o cancelamento de 100% dos passivos dos países que atingiram ou irão
eventualmente atingir o ponto de conclusão no âmbito do HIPC reforçado. Pela primeira vez, as instituições
financeiras internacionais aceitaram avançar para uma abordagem de cancelamento total da dívida. O MDRI
pode ser compreendido como uma extensão do HIPC dado que o país se torna elegível após alcançar o ponto de
conclusão no âmbito do HIPC (GMD, 2006:19).
29
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 29
Grupo Moçambicano da Dívida

Tendo-se verificado novamente uma descida, de 2007 a 2008, de USD 337.60 milhões para
USD 292.00 milhões. De 2009 em diante, verificou-se um crescimento linear mais acentuado.

A partir de 2010, o país tornou-se elegível a contrair créditos não concessionais10, dado o
desempenho positivo das políticas económicas e o aumento das oportunidades de
investimentos nos demais sectores da economia, como forma de colmatar o défice de
financiamento ao desenvolvimento (MEF, 2015).

Inicialmente, os empréstimos não-concessionais foram contraídos tendo em conta os limites


de endividamento para este tipo de créditos, que garantissem a sustentabilidade da dívida
pública externa. Contudo, para além de o Governo, na sua estratégia de mobilização de
recursos de financiamento priorizar as receitas internas, donativos, créditos concessionais e
usar, em casos excepcionais, os créditos não concessionais, partiu para o recurso
indiscriminado a créditos comerciais sob forma de dívida, para financiar projectos públicos
de infra-estruturas não baseados em estudos de viabilidade e sem observância da capacidade
de geração de rendimento destes projectos. Foi assim que aconteceu com o caso polémico da
EMATUM avaliado em USD 850 milhões, responsável pelo aumento da dívida pública em
mais de 13% contabilizado na Conta Geral do Estado em 201411.

De 2010 a 2015, a Dívida Pública moçambicana cresceu a uma taxa anual superior a 23%,
tendo atingido um valor nominal de, pelo menos, USD 8,2 mil milhões em 2014 e USD
10,81 mil milhões em 201512. O montante contabilizado em 2015 inclui as dívidas não
declaradas no momento da sua contracção em 2013 e 2014, resultantes da avalização, pelo
Estado, da dívida contraída pelas empresas EMATUM (USD 850 milhões), Proindicus (USD
622 milhões) e Mozambique Asset Management-MAM (USD 535 milhões), e pouco mais de
USD 221 milhões para ordem e segurança, totalizando cerca de USD 2,2 mil milhões. Este
montante é equivalente a 15% do PIB, 19% do stock de dívida pública total e cerca de 45%
do stock de dívida pública externa comercial.

Em geral, a dívida pública de Moçambique em 2015, corresponde ao dobro daquela que


levou a crise da dívida de 1998, que acabou sendo aliviada mercê a campanha nacional e

10
Em termos simples, os créditos concessionais são ―não comerciais‖, ou seja, aqueles acedidos em condições
mais favoráveis: ou sem taxas de juro ou com taxas de juro abaixo das praticadas no mercado de capitais e com
prazos de pagamento bastante largos. Estes créditos são mais favoráveis aos Estados para o cumprimento de
objectivos de desenvolvimento social.
11
Relatório do Fórum Internacional sobre a Dívida Pública in www.divida.org.mz
12
Dados da CGE (2010-2015).
30
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 30
Grupo Moçambicano da Dívida

internacional para o perdão da dívida. A evolução da dívida pública no período em análise


reflectiu, essencialmente, a evolução da dívida pública externa, por ela representar em média
86,20% da dívida total, pelo que, pouco se reflectiu o alto crescimento médio anual da dívida
interna, em cerca de 36%, sobre o crescimento da dívida total de 5%, entre 1999 e 2015. De
referir que, a taxa de crescimento médio anual da dívida pública total foi negativa (-2%), de
1999 a 2010, e positiva (23%), de 2011 a 2015.

Tabela 3.1: Evolução da Dívida Pública (interna, externa e total) de Moçambique (1998-2015)

Milhões de USD (10^6)


Descrição 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Dívida Pública Total 6,120.70 5,652.42 4,808.40 4,989.11 3,645.18 3,842.90 4,572.69 4,726.00 3,590.00
Dívida Pública Interna 0.00 4.72 49.20 33.81 77.18 205.00 350.67 235.00 267.00
Dívida Externa Pública 6,120.70 5,647.70 4,759.20 4,955.30 3,568.00 3,637.90 4,222.02 4,491.00 3,323.00

Descrição 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Dívida Pública Total 3,644.80 3,928.60 4,992.00 3,890.50 5,156.80 5,636.40 6,794.50 8,170.70 10,810.56
Dívida Pública Interna 337.60 292.00 467.80 571.70 768.20 807.20 996.20 1,105.50 1,731.58
Dívida Externa Pública 3,307.20 3,636.60 4,524.20 3,318.80 4,388.60 4,829.20 5,798.30 7,065.20 9,079
Fonte: (CGE 1998-2015) e RPCGE (1998-2014)

Gráfico 3.1: Evolução da Dívida Pública (interna, externa e total) de Moçambique (1998-2015)

Evolução da Dívida Pública de Moçambique (milhões de USD)


12.000

10.000

8.000

6.000

4.000

2.000

.000
1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014

Dívida Pública Total Dívida Pública Interna Dívida Externa Pública

Fonte: CGE (1998-2015)

31
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 31
Grupo Moçambicano da Dívida

3.3 Evolução dos indicadores de Sustentabilidade da Dívida Pública


Moçambicana

A análise de sustentabilidade dos diferentes indicadores ao longo do tempo foi feita com base
nos indicadores estabelecidos pelo HIPC e SADC para a dívida pública total, Johnson (2001)
para dívida pública interna e FMI/Banco Mundial para a dívida pública externa.

3.3.1 Sustentabilidade da Dívida Pública Total

A iniciativa HIPC estabeleceu alguns indicadores de sustentabilidade da dívida pública total:


Stock da Dívida/PIB dos países beneficiários não devia ser superior a 200%, o rácio Receitas
Correntes/PIB deve se situar acima dos 18% e, por fim, o montante do serviço da dívida
relativamente à receita orçamental deve estar num tecto máximo de 25%.

Em relação ao primeiro indicador, Stock da Dívida Pública/PIB, que mede o nível de


endividamento em relação à actividade económica do País, desde 1998, dispôs-se de forma
sustentável (153%) em relação ao limiar de 200% estabelecido pelo HIPC, e apresentou uma
tendência decrescente, tendo atingido o seu melhor resultado (maior sustentabilidade) em
2010, com 39% do PIB. A partir de 2010, começou a mostrar uma tendência crescente até
2015, mas sem ultrapassar o limite de 200%. Contudo, este indicador, quando analisado em
relação as metas de convergência macroeconómica estabelecido pela SADC, de que para
2004, 2012 e 2018 o Stock da Dívida/PIB dos seus países membros não deve ultrapassar os
60% do PIB, é insustentável para o ano 2015, com 73% do PIB, 13% acima da meta
estabelecida (Vide a tabela 3.2 e o gráfico 3.2).

Tabela 3.2: Evolução da Percentagem do Stock da Dívida/PIB de Moçambique (1998-2015)

Milhões de USD (10^6)


Descrição 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Dívida Pública Total 6,120.70 5,652.42 4,808.40 4,989.11 3,645.18 3,842.90 4,572.69 4,726.00 3,590.00
PIB 3,898.40 4,086.58 3,890.43 3,568.93 3,597.19 4,307.09 7,387.25 6,328.00 7,444.00
Stock da Dívida/PIB 157 138.3 123.6 139.8 101.3 89.2 61.9 74.7 48.2

Descrição 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Dívida Pública Total 3,644.8 3,928.6 4,992.0 3,890.5 5,156.8 5,636.4 6,794.5 8,170.7 10,810.7
PIB 8,456.6 9,382.3 10,332.7 9,857.5 12,784.5 13,952.4 15,452.4 17,857.0 14738.8
Stock da Dívida/PIB 43.1 41.9 48.3 39.5 40.3 40.4 44 45.8 73.35
Fonte: (CGE 1998-2015) e RPCGE (1998-2014)

32
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 32
Grupo Moçambicano da Dívida

Gráfico 3.2: Evolução da Percentagem do Stock da Dívida/PIB de Moçambique em relação ao limite de


sustentabilidade (1998-2015)

Percentagem do Stock da Dívida/PIB em relação ao


seu limite de sustentabilidade (%)
250

200

150

100

50

00
1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014

Stock da Dívida/PIB Limite do HIPC Limite da SADC

Fonte:CGE (1998-2015)

Outro indicador, referenciado pelo HIPC, é o rácio Receitas Correntes/PIB, que devia ser
superior a 18%. Este indicador, por sua vez, mostra uma evolução favorável de 11,5% em
1998 e, em 2010, consegue atingir essa meta do HIPC registando 19,2%. No ano seguinte,
registou uma redução para 16,7% (abaixo da meta), mas voltou a recuperar rapidamente
atingido um pico de 27,3% em 2014. Em 2015, último ano da série, ele apresentou uma
redução de 1,4pp, mas sem estar abaixo da meta estabelecida pelo HIPC (vide a tabela 3.3 e o
gráfico 3.3).

Tabela 3.3: Evolução da Receita Corrente/PIB de Moçambique (1998-2015)

Milhões de USD (10^6)


Descrição 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Receita Corrente Total 449.23 488.58 494.68 440.98 479.48 611.11 856.99 866.00 1,023.00
PIB 3,898.40 4,086.58 3,890.43 3,568.93 3,597.19 4,307.09 7,387.25 6,328.00 7,444.00
Receita Corrente/PIB 11.5 12 12.7 12.4 13.3 14.2 11.6 13.7 13.7

Descrição 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Receita Corrente Total 1,369.60 1,468.60 1,800.10 1,895.90 2,138.60 3,287.90 4,111.70 4,871.40 3,822
PIB 8,456.60 9,382.30 10,332.70 9,857.50 12,784.50 13,952.40 15,452.40 17,857.0 14738.8
Receita Corrente/PIB 16.2 15.7 17.4 19.2 16.7 23.6 26.6 27.3 25.93
Fonte: (CGE 1998-2015) e RPCGE (1998-2014)

33
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 33
Grupo Moçambicano da Dívida

Gráfico 3.3: Evolução da Receita Corrente/PIB de Moçambique em relação ao limite de sustentabilidade (1998-2015)

Evolução da Receita Corrente em Relação ao PIB (%)


30

25

20

15

10

05

00
1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014

Receita Corrente/PIB Marco de sustentabilidade

Fonte:CGE (1998-2015)

Um dos indicadores mais importantes de sustentabilidade da dívida pública total é o Serviço


da Dívida em relação as Receitas correntes, que mede a capacidade de o Governo fazer face
ao serviço da dívida (soma juros e capital) a partir das receitas internas. Este indicador, com
um limiar de 25%, mostra melhoria significativa depois do HIPC e MDRI, caindo dos 23,5%
em 1998 para 5,7% em 2009. Contudo, a partir de 2010 este indicador subiu rapidamente
ultrapassando, pela primeira vez, o limiar da sustentabilidade em 2012, com 32,1%. Nos dois
anos consecutivos, reduziu para 21,1%, mas voltou a atingir o pico da insustentabilidade com
cerca de 34,6 %, cerca de 10 pp acima do limiar do HIPC.

A análise dinâmica deste indicador permite aferir que do período HIPC e MDRI até 2009, o
indicador evoluiu de forma sustentável com taxa de crescimento média anual das receitas
superior a taxa de crescimento do serviço da dívida (14,4% conta 10,4%). Todavia, nos
últimos 5 anos em análise, o mesmo indicador evoluiu de forma insustentável, pois a
crescimento médio anual do serviço da dívida foi 4 vezes superior ao das receitas correntes
(69,1% contra 15,5%) (vide a tabela 3.4 e o gráfico 3.4).

34
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 34
Grupo Moçambicano da Dívida

Tabela 3.4: Evolução do Serviço da Dívida/Receita Corrente de Moçambique (1998-2015)

Milhões de USD (10^6)


Descrição 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Receita Corrente Total 449.23 488.58 494.68 440.98 479.48 611.11 856.99 866.00 1,023.00
Serviço da Dívida Total 105.37 84.44 26.08 44.63 98.20 92.00 126.00 117.00 107.00
Serviço da
Dívida/Receita Corrente 23.5 17.3 5.3 10.1 20.5 15 14.7 13.5 10.5

Descrição 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Receita Corrente Total 1,369.60 1,468.60 1,800.10 1,895.90 2,138.60 3,287.90 4,111.70 4,871.40 3,822
Serviço da Dívida Total 101.00 115.90 102.00 275.80 311.10 1,054.20 1,201.10 1,029.30 1,324
Serviço da
Dívida/Receita Corrente 7.4 7.9 5.7 14.5 14.5 32.1 29.2 21.1 34.65
Fonte: (CGE 1998-2015) e RPCGE (1998-2014)

Gráfico 3.4: Evolução do Serviço da Dívida/Receita Corrente de Moçambique em relação ao limite de


Sustentabilidade (1998-2015)

Evolução do rácio Serviço da Dívida/Receita Corrente (%)


40
35
30
25
20
15
10
05
00
1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014

Serviço da Dívida/Receita Corrente Limiar de Sustentabilidade

Fonte:CGE (1998-2015)

Outros indicadores de controlo que podem ser considerados na análise de sustentabilidade da


dívida pública, embora sem limites de sustentabilidade estabelecidos neste estudo, são a
proporção das receitas correntes em relação a dívida e o Serviço da Dívida sobre o PIB. O
primeiro indicador mostra uma evolução favorável ao longo de quase toda série, reflectindo o
aumento da capacidade das receitas para fazer face a Dívida Pública. A maior redução
observou-se em 2015, reflectindo a redução das receitas e aumento da dívida. O segundo
indicador, não menos importante, mostra uma trajectória favorável (sustentável) até 2010.
Contudo, tal como os outros indicadores já analisados anteriormente, o Serviço da

35
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 35
Grupo Moçambicano da Dívida

Dívida/PIB mostra um aumento significativo a partir de 2010, saindo dos 2,4% em 2011 para
9% em 2015 (vide a tabela 3.5 e o gráfico 3.5).

Tabela 3.5: Evolução das Receitas/PIB e Serviço da Dívida/PIB de Moçambique (1998-2015)

Milhões de USD (10^6)


Descrição 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Receita Corrente Total 449.23 488.58 494.68 440.98 479.48 611.11 856.99 866.00 1,023.00
Dívida Pública Total 6,120.70 5,652.42 4,808.40 4,989.11 3,645.18 3,842.90 4,572.69 4,726.00 3,590.00
Receita/Dívida 7.3 8.6 10.3 8.8 13.2 15.9 18.7 18.3 28.5
Serviço da Dívida Total 105.37 84.44 26.08 44.63 98.20 92.00 126.00 117.00 107.00
PIB 3,898.40 4,086.58 3,890.43 3,568.93 3,597.19 4,307.09 7,387.25 6,328.00 7,444.00
Serviço da Dívida/PIB 2.7 2.1 0.7 1.3 2.7 2.1 1.7 1.8 1.4
Descrição 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Receita Corrente Total 1,369.60 1,468.60 1,800.10 1,895.90 2,138.60 3,287.90 4,111.70 4,871.40 3,822
Dívida Pública Total 3,644.80 3,928.60 4,992.00 3,890.50 5,156.80 5,636.40 6,794.50 8,170.70 10,810.56
Receita/Dívida 37.6 37.4 36.1 48.7 41.5 58.3 60.5 59.6 35.35
Serviço da Dívida Total 101.00 115.90 102.00 275.80 311.10 1,054.20 1,201.10 1,029.30 1,324
PIB 8,456.6 9,382.3 10,332.7 9,857.5 12,784.5 13,952.4 15,452.4 17,857.0 14738.8
Serviço da Dívida/PIB 1.2 1.2 1 2.8 2.4 7.6 7.8 5.8 8.98
Fonte: (CGE 1998-2015) e RPCGE (1998-2014)

Gráfico 3.5: Evolução das Receitas/PIB e Serviço da Dívida/PIB de Moçambique (1998-2015)

Evolução das Receitas /Dívida e Serviço da Dívida/PIB (%)


70 10
09
60
08
Serviço da Dívida/PIB

50
Receitas/Dívida

07
40 06
05
30 04
20 03
02
10
01
00 00
1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014

Receitas Correntes/Dívida Serviço da Dívida/PIB

Fonte:CGE (1998-2015)

Em geral, a dívida pública total mostra-se sustentável em alguns indicadores e insustentável


em outros. Até 2015, o Stock da Dívida sobre PIB só se mostra insustentável em relação a
meta de convergência da SADC. O Serviço da Dívida em relação as Receitas é também
insustentável para o mesmo ano (2015), e apenas o indicador Receitas Correntes sobre o PIB
36
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 36
Grupo Moçambicano da Dívida

é que está dentro dos parâmetros definidos pelo HIPC (acima dos 18%). A análise dinâmica
mostra que, nos primeiros 10 anos (1999-2009), a Dívida Pública total evoluiu de forma
sustentável (o crescimento do serviço da dívida foi inferior ao das receitas), enquanto nos
últimos 5 anos (2010-2015), a dívida pública total evoluiu de forma insustentável (com
crescimento do serviço da dívida superior ao crescimento das receitas).

3.3.2 Sustentabilidade da Dívida Pública Interna

A dívida pública interna, que em 2015 é de apenas 13,5% da dívida pública total e 7,1% do
PIB, cresceu 46 vezes de 2001 a 2015, expandindo a uma média anual de 35%, ou 2 vezes
mais depressa que as Receitas Correntes. O serviço da dívida pública interna, em 2015, foi de
83% em relação ao serviço da dívida total, tendo apresentado uma participação média na
dívida pública total de 2001 a 2015 de 62%.

Em termos de evolução dos indicadores de sustentabilidade da dívida pública interna, o Stock


da Dívida doméstica sobre PIB saiu de 1% entre os anos 1999 a 2001, para 11,7% em 2015
do qual, grosso modo observou-se entre 2008 a 2015,com um aumento em 8,6pp. Contudo,
em relação ao limiar proposto por Johnson (2001), de 20% a 25%, o indicador permanece a
níveis sustentáveis até 2015 (vide a tabela 3.6 e o gráfico3.6).

Tabela 3.6: Evolução do Stock da Dívida Interna/PIB de Moçambique (1998-2015)

Milhões de USD (10^6)


Descrição 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Dívida Pública Interna 0.00 4.72 49.20 33.81 77.18 205.00 350.67 235.00 267.00
PIB 3,898.40 4,086.58 3,890.43 3,568.93 3,597.19 4,307.09 7,387.25 6,328.00 7,444.00
Stock da Dívida
Interna/PIB 0.00 0.12 1.26 0.95 2.15 4.76 4.75 3.71 3.59

Descrição 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Dívida Pública Interna 337.60 292.00 467.80 571.70 768.20 807.20 996.20 1,105.50 1,731.58
PIB 8,456.6 9,382.3 10,332.7 9,857.5 12,784.5 13,952.4 15,452.4 17,857.0 14738.8
Stock da Dívida
Interna/PIB 3.99 3.11 4.53 5.80 6.01 5.79 6.45 6.19 11.75
Fonte: (CGE 1998-2015) e RPCGE (1998-2014)

37
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 37
Grupo Moçambicano da Dívida

Gráfico 3.6: Evolução do Stock da Dívida Interna/PIB de Moçambique em relação ao limite de sustentabilidade
(1998-2015)

Evolução do Stock da Dívida Interna/PIB (%)


30

25

20

15

10

0
1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014

Stock da Dívida Interna/PIB Limite de sustentabilidade

Fonte:CGE (1998-2015)

Em relação ao Stock da Dívida Interna/Receitas, que mede o nível de endividamento interno


relativamente à capacidade do Governo de efectuar o reembolso, este indicador evoluiu de
forma bastante estável, tendo atingido os picos em 2004 e 2015, com de 40,9% e 45,3%,
respectivamente. Esta percentagem está longe de atingir o limiar proposto por Johnson
(2001,12) de 92% a 167% (vide a tabela 3.7 e o gráfico 3.7)

Tabela 3.7: Evolução do Stock da Dívida Interna/ Receitas correntes de Moçambique (1988-2015)

Milhões de USD (10^6)


Descrição 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Dívida Pública Interna 0.00 4.72 49.20 33.81 77.18 205.00 350.67 235.00 267.00
Receita Corrente Total 449.23 488.58 494.68 440.98 479.48 611.11 856.99 866.00 1,023.00
Stock de Dívida/Receitas 0.00 0.97 9.95 7.67 16.10 33.55 40.92 27.14 26.10

Descrição 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Dívida Pública Interna 337.60 292.00 467.80 571.70 768.20 807.20 996.20 1,105.50 1,731.58
Receita Corrente Total 1,369.60 1,468.60 1,800.10 1,895.90 2,138.60 3,287.90 4,111.70 4,871.40 3,822
Stock de Dívida/Receitas 24.65 19.88 25.99 30.15 35.92 24.55 24.23 22.69 45.31
Fonte: (CGE 1998-2015) e RPCGE (1998-2014)

38
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 38
Grupo Moçambicano da Dívida

Gráfico 3.7: Evolução do Stock da Dívida Interna/ Receitas correntes de Moçambique em relação ao limite de
sustentabilidade (1988-2015)

Evolução do Stock da Dívida Interna em Relação as


Receitras Correntes (%)

200

150

100

50

0
1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014
Stock de Dívida Interna/Receitas Públicas Lmite de sustentabilidade
Fonte:CGE(1998-2015)

Quanto ao Serviço da Dívida Interna /Receitas, indicador que melhor espelha a


sustentabilidade da dívida em termos de o seu pagamento não por em causa o financiamento
dos sectores económicos e sociais com base nas receitas internas, este mostra-se sustentável
em 2015, em relação ao limite de sustentabilidade proposto por Johnson (2001). Contudo,
uma análise dinâmica deste indicador revela uma insustentabilidade a médio e longo prazo na
medida em que a taxa média anual de crescimento do serviço da dívida pública interna a
partir de 2010 (107,5%) é 6,9 vezes superior ao crescimento médio anual das receitas
(15,6%) (vide atabela 3.8 e o gráfico 3.8).

Tabela 3.8: Evolução do Serviço da Dívida Interna/ Receitas Correntes de Moçambique

Milhões de USD (10^6)


Descrição 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Serviço da Dívida Interna 0.00 0.00 8.33 22.53 63.89 49.16 73.75 66.00 46.00
Receita Corrente Total 449.23 488.58 494.68 440.98 479.48 611.11 856.99 866.00 1,023.00
Serviço da Dívida Interna/
Receitas 0.0 0.0 1.7 5.1 13.3 8.0 8.6 7.6 4.5

Descrição 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Serviço da Dívida Interna 52.20 67.00 50.80 220.10 248.20 958.60 1,057.50 854.80 1,039.27
Receita Corrente Total 1,369.60 1,468.60 1,800.10 1,895.90 2,138.60 3,287.90 4,111.70 4,871.40 3,822
Serviço da Dívida Interna/
Receitas 3.8 4.6 2.8 11.6 11.6 29.2 25.7 17.5 27.2
Fonte: (CGE 1998-2015) e RPCGE (1998-2014)

39
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 39
Grupo Moçambicano da Dívida

Gráfico 3.8: Evolução do Serviço da Dívida Interna/ Receitas Correntes de Moçambique em relação ao limite de
sustentabilidade (1998-2015)

Evolução do Serviço da Dívida Interna em Relação as


Receitas Correntes (%)
80

60

40

20

Serviço da Dívida Interna/ Receitas Públicas


Limite de dustentabilidade

Fonte: CGE (1998-2015)

3.3.3 Sustentabilidade da Dívida Pública Externa

Os indicadores de sustentabilidade da dívida (serviço da dívida sobre exportações e serviço


da dívida sobre receitas) melhoraram significativamente a sua sustentabilidade, de acordo
com os gráficos 3.9 e 3.10. Ambos os indicadores, que estavam no limite da
insustentabilidade em 1998, apresentaram tendências decrescentes (melhoria da
sustentabilidade) até 2010, ano em que mudaram de tendência (deterioração da
sustentabilidade), tal como os indicadores anteriormente analisados na dívida pública total e
interna.
Gráfico 3.9: Evolução do Serviço da Dívida Externa/Exportações de Moçambique em relação ao limite de
sustentabilidade (1998-2015)

Evolução do Serviço da Dívida Externa em Relação as


Exportações (%)
25
20
15
10
5
0
1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014
Serviço da Dívida Externa/Exportações Limite de s=Sustentabilidade

Fonte: CGE (1998-2015)

40
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 40
Grupo Moçambicano da Dívida

Gráfico 3.10: Evolução do Serviço da Dívida Externa/ Receitas Correntes de Moçambique em relação ao limite de
sustentabilidade (1998-2015)

Evolução do Serviço da Dívida em relação as Receitas


(%)
40

30

20

10

0
1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014

Serviço da Dívida Externa/Receitas Limite de Sustentabilidade

Fonte: CGE (1998-2015)

Para alguns indicadores (os propostos pelo FMI), a análise de sustentabilidade da dívida
pública externa foi feita apenas de 2010 a 2015, pelo facto de, primeiro, terem sido
introduzidos recentemente em relação aos demais indicadores (foram propostos em 2005) e,
segundo, a base de dados usada para analisar a sustentabilidade da dívida pública (CGE e
pareceres desta pelo Tribunal Administrativo) só os reportam a partir de 2010. Outro factor é
o de que a separação da análise entre a dívida total e externa é mais relevante para os últimos
anos ( a partir de 2008/9), período em que a dívida interna ganhou peso significativo em
termos de stock e serviço da dívida. O estágio destes indicadores bem como os seus limiares
constam da tabela 3.9.

Tabela 3.9: Evolução da Sustentabilidade da Dívida Pública Externa (2010-2015)

Descrição Limites 2010 2011 2012 2013 2014 2015


Valor Actual da Dívida/PIB 40 24,8 22,2 29,5 29,6 37 39,9
Valor Actual da Dívida/Exportações 150 67 87,2 116,7 90,9 98 143,4
Valor Actual da Dívida/Receitas 250 111,9 103,7 116,4 113,4 129 158,1
Serviço da Dívida Externa/Exportações 20 1,7 2,4 3,4 3,4 4 8,2
Serviço da Dívida Externa/Receitas 30 2,9 2,9 3,4 4,3 5 9,1
Fonte: MEF (2015)

O VAL do rácio da dívida pública relativamente ao PIB regista uma tendência crescente ao
longo do intervalo patente na tabela acima. Dos 24,8% em 2010 passa 39,9% em 2015,
exactamente no limiar da sustentabilidade de 40%.

41
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 41
Grupo Moçambicano da Dívida

O Valor Actual da dívida/exportações encontra-se nos 143,4%, bastante próximo do limiar de


150%, sendo que grande parte do aumento verificou-se de 2014 para 2015, onde variou
45,4pp.

Os outros indicadores (Valor actual da Dívida/Receitas, Serviço da Dívida/Exportações e


Serviço da Dívida/Receitas) mostraram-se sustentáveis até 2015, contudo, os 3 indicadores
apresentaram uma tendência crescente no período em análise, com o aumento em 46,2pp,
6,5pp e 6,2pp, respectivamente. Os 2 últimos destacam pelo facto de terem quase duplicado
em um intervalo de apenas 1 ano (de 2014 a 2015).

A análise dinâmica dos mesmos 2 primeiros indicadores é bastante crítica, pois a sua
tendência crescente e o facto de estarem quase no limite máximo de sustentabilidade, torná-
lo-ás, em poucos anos, insustentáveis, diferentemente do terceiro indicador, que mostra uma
evolução menos insustentável.

Os 2 últimos indicadores, ainda com recurso a análise dinâmica, mostram-se uma evolução
insustentável e médio e longo prazo, na medida em que o Serviço da Dívida (numerador nos
dois rácios) cresce mais do que os denominadores (exportações e receitas) conforme mostra a
tabela 3.10.

Tabela 3.10: Taxa de crescimento das variáveis de sustentabilidade da dívida (2010-2015)


Designação 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Média anual
Serviço da Dívida 8,8% 12,9% 52,0% 50,2% 21,5% 63,2% 34,8%
Receitas 5,3% 12,8% 53,7% 25,1% 18,5% -21,6% 15,6%
Exportações 21,1% 23,8% -54,1% 222,5% -4,8% -13,7% 32,5%
Fonte: Cálculos do autor com base na CGE (2010-2015)

Sendo assim, há evidências de uma carga crescente do serviço da dívida que não é
compensada pelo aumento das receitas e nem com a entrada de divisas, tornando a dívida
pública externa insustentável no longo prazo.

Por outro lado, é discutível a sustentabilidade trazida pela tabela do Ministério de Economia e
Finanças 2015, pelo facto dela, embora já leve em conta a garantia emitida pelo Estado a
favor da EMATUM de USD350 milhões em 2013, não leva em conta as novas garantias

42
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 42
Grupo Moçambicano da Dívida

recentemente descobertas (2016), emitidas para ProÍndicos e MAM13, em 2013 e 2014,


respectivamente.

Para se fazer a análise tendo em conta estas 2 garantias, foi calculado o valor presente das 2
dívidas em função das condições de cada endividamento como se segue:

ProÍndicos

Dados

Empréstimo: USD 622 milhões; Período de pagamento: n=5 anos; Taxa de juro: r=3,75%;
Valor da Prestação: USD 119 milhões.

Resolução

( ) ( )
Valor Presente = = = 533,5

MAM

Empréstimo: USD 535 milhões; Período de pagamento: n=5 anos; Taxa de juro: r=7,795%;
Valor da Prestação: USD 178 milhões

( )
Valor Presente = =714,6

Os valores presentes quando somados (533,5 +714,6 = 1248), correspondem a


aproximadamente 8,47% do PIB, 36,95% das Exportações e 32,66% das Receitas, pelo que,
os indicadores de sustentabilidade VAL da Dívida/PIB e VAL da Dívida/Exportações
tornam-se insustentáveis em 2015, conforme mostra a tabela 3.11.

Tabela 3.11: Sustentabilidade da Dívida Pública considerando as novas dívidas

Descrição Limites 2015 2015 (considerando ProÍndicos e EMATUM)


Valor Actual da Dívida/PIB 40 39,9 39,9+ 8,5 = 48,4 (Insustentável)
Valor Actual da Dívida/Exportações 150 143,4 143,4+36,95=180,4 (Insustentável)
Valor Actual da Dívida/Receitas 250 158,1 158,1+ 32,7=190,8 (Sustentável)
Fonte: CGE (1998-2015)

13
Veja o Mapa dos novos desembolsos da Dívida Pública para 2015
43
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 43
Grupo Moçambicano da Dívida

Em geral, a análise estática da sustentabilidade dívida pública externa, olhando para os dados
do MEF (2015), mostra que todos indicadores são sustentáveis com excepção do VAL da
Dívida/PIB que está exactamente no limite. Contudo, quando consideradas as garantias
emitidas para Pro-Índicos e MAM, os indicadores VAL da Dívida/PIB e VAL da
Dívida/Exportações tornam-se insustentáveis para o mesmo ano. A análise dinâmica, por sua
vez, revela que o crescimento anual do serviço da dívida de 2010 a 2015 é insustentável em
relação ao crescimento das receitas e exportações.

3.4 Factores que propiciaram a deterioração do endividamento público


O aumento significativo do endividamento público na última década e principalmente nos
últimos 5 anos de análise pode ser explicado por factores que se dividem em económicos e
político-institucionais, como a seguir são apresentados:

3.4.1 Factores de natureza económica

Os factores de ordem financeira que contribuíram para o deterioramento do endividamento


público foram (GMD, 2016)14:

 Tendência crescente da maturidade (duma média de 37 anos, em 2005, para uma


média de 22 anos, em 2012, e menos de 20 anos, em 2015);
 Tendência decrescente do período de graça da dívida pública externa (duma média
de 10 anos, em 2005, reduziu para uma média de 6 anos, em 2012, e inferior a 5
anos, em 2015);
 Tendência decrescente do elemento donativo (duma média de 80%, em 2005,
reduziu para cerca de 52%, em 2012, e menos de 40% em 2015);
 Tendência crescente das taxas de juros (duma média de 0,6%, em 2005, aumentou
para mais de 2,4%, em 2012);
 Depreciação do metical (duma média de 22MT/USD, em 2005, passou para
28MT/USD, em 2012, e um aumento significativo pra acima de 40MT/USD, em
2015).

Segundo mostra o gráfico 3.11, tanto a maturidade como o período de graça (em termos
médios globais), tendem a reduzir, com uma queda mais forte para a maturidade. Isto mostra

14
Relatório do Fórum Internacional sobre a Dívida Pública in www.divida.org.mz

44
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 44
Grupo Moçambicano da Dívida

que, apesar da dívida de longo prazo estar a incrementar em relação à dívida de curto prazo,
os prazos da dívida de longo prazo são cada vez mais curtos. Isto é importante ter em conta
quando se aborda a questão de sustentabilidade da dívida pública externa a longo prazo.

Gráfico 3.11: Evolução do período médio de maturidade da dívida pública externa de Moçambique (1998-2014)

Tendência do período de graça e do período de maturidade


(anos)
50

40

30

20

10

0
1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014

Período médio de Graça da Dívida Pública Externa


Período Médio de Maturidade da Dívida Pública Externa

Fonte: Banco Mundial, 2016 (Data and Indicators - Topic 9)

Por sua vez, em termos médios, o elemento donativo está a cair de forma significativa, como
mostra o gráfico 3.12. De 80% em 1998, caiu para 70% em 2009 e para 52% em 2012, ano
em que atingiu a sua máxima queda. A verdade é que o grau de consessionalidade é cada vez
mais reduzido, o que claramente causa algum desconforto ao se abordar o futuro do
endividamento público externo, e considerando o crescimento contínuo das dívidas, ano após
ano.

45
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 45
Grupo Moçambicano da Dívida

Gráfico 3.12: Evolução percentagem média do elemento donativo da dívida pública externa de Moçambique (1998-
2014)

Tendência do Elemento Donativo da Dívida Pública Externa (%)


90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014

Fonte: Banco Mundial, 2016 (Data and Indicators - Topic 9)

O gráfico 3.13 mostra também uma tendência da redução dos donativos em relação aos
créditos externos de 18,1% em 2012, passaram para 9% em 2015.

Gráfico 3.13: Evolução da dependência externa em Moçambique (donativos e créditos externos) de 2012 a 2015

Fonte: FMO (2016), CGE (2012 e 2013) e OE (2015)

O gráfico 3.14 mostra que o crescimento galopante da dívida pública nos últimos cinco anos
foi acompanhado por uma mudança de estrutura, passando de uma composição
predominantemente concessional para outra não concessional. Isso significou maior peso da
dívida na estrutura económica e orçamental do país, que se traduz na redução da capacidade
de endividamento do país.

46
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 46
Grupo Moçambicano da Dívida

Gráfico 3.14: Tendência do endividamento público não-concessional em Moçambique (2010-2014)

Fonte: Ministério da Economia e Finanças, 2015. Declaração de Riscos Fiscais, pág. 10


NB: Não foram incluídos nos cálculos do gráfico acima os dados sobre a dívida da EMATUM e Proindicus.

Também em termos médios, e numa perspectiva de longo prazo, as taxas de juro tendem a
aumentar (gráfico 3.15), o que em si deteriora as condições de contratação da dívida externa
e também contribui para o receio em relação ao futuro, no contexto de endividamento
crescente.

Gráfico 3.15: Tendência da taxa de juro média da dívida pública externa em Moçambique(1998-2012)

Evolução da taxa de juro média da Dívida Pública


Externa (%)
3
2.5
2
1.5
1
0.5
0
1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014

taxa de juro média da Dívida Pública Externa

Fonte: Banco Mundial, 2016 (Data and Indicators - Topic 9)

A tendência da depreciação do metical em relação ao dólar tem afectado de forma


significativa os indicadores de sustentabilidade da dívida pública na sua vertente externa (o
peso da dívida pública em moeda externa sobre a total desta vem aumentando de 85,7%, em
2013, 87,2%, em 2014 para 94,5%, em 2015. A depreciação do metical reduz o valor das
Receitas e do PIB do País, quando são convertidos em dólares para efeitos de análise de
sustentabilidade da dívida pública (gráfico 3.16)

47
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 47
Grupo Moçambicano da Dívida

Gráfico 3.16: Tendência da taxa de câmbio em Moçambique (MT/USD) de 1998 a 2015

Evolução da Taxa de Câmbio Mt/USD


50

40

30

20

10

0
1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014

Fonte: Banco Mundial, 2016 (Data and Indicators - Topic 9)

Por exemplo, em 2015, com recurso a Análise de Sustentabilidade do MEF (2015), o efeito
cambial reflectiu-se no aumento de 8pp do Valor Presente da Dívida/PIB, deixando-o no
limiar da sustentabilidade de 40%, assim com o aumento de 31pp do Valor Presente da
Dívida/Exportações, deixando-o também bastante próximo do limite de sustentabilidade.
Outros indicadores de sustentabilidade também deterioraram com depreciação, conforme se
pode observar na tabela 3.12.

Tabela 3.12: Sustentabilidade da dívida pública externa de Moçambique considerando o efeito cambial (2015)

Descrição Limites 2015 2015 (Efeito cambial)


Valor Actual da Dívida/PIB 40 31,9 39,9
Valor Actual da Dívida/Exportações 150 112,1 143,4
Valor Actual da Dívida/Receitas 250 124,8 158,1
Serviço da Dívida Externa/Exportações 20 7,5 8,2
Serviço da Dívida Externa/Receitas 30 8,7 9,1
Fonte: MEF (2015)

3.4.2 Factores de natureza Político-Institucional

Segundo GMD (2016)15, os factores políticos que podem explicar o endividamento em


Moçambique são:

 Governação frágil;
 Facilidade de crédito de algumas agências financeiras internacionais que não levam
em conta as prioridades da população dos países devedores;
 Fraca implementação das leis existentes ou Instituições do Estado fracas.

15
Relatório do Fórum Internacional sobre a Dívida Pública in www.divida.org.mz
48
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 48
Grupo Moçambicano da Dívida

Primeiro, a governação frágil é sustentada pela falta de planos claros e consistentes, objecto
do recurso indiscriminado à dívida pública. Alguns créditos foram contraídos sem constarem
de nenhum plano de investimento do governo e sem se acautelar o risco financeiro que os
mesmos podiam representar para as finanças do Estado. Por exemplo, a garantia emitida pelo
Estado a favor da dívida da EMATUM fez com que, por consequência da falta de pagamento
da primeira prestação pela própria empresa, o Estado desembolsasse USD 200 milhões em
2015, correspondentes a 15% do serviço total da dívida e 70% da dívida externa daquele ano.
A fraca governação está também aliada a falsa expectativa dos governantes de que a indústria
extractiva irá gerar ganhos suficientes para pagar as dívidas, sem se olharem para o contexto
de excessivos incentivos fiscais e vulnerabilidade a choques externos aliado aos grandes
projectos do sector extractivo.

Segundo, o alto endividamento foi precipitado pela facilidade no acesso ao crédito dos
parceiros emergentes (Brasil, China e Índia)16, mas também pelo surgimento da janela de
financiamento de alguns bancos europeus, que não olham para as prioridades de
desenvolvimento dos países credores como Moçambique. Foram essas janelas que levaram
Moçambique a contrair duma só vez, em 2013 e 2014, USD 850 milhões da EMATUM, USD
622milhões da ProÍndicos e USD 535 milhões da MAM, que deterioram a situação de
endividamento público do país.

Terceiro, o incumprimento das leis pelo executivo, e a falha do actual quadro jurídico-legal
em garantir a funcionalidade do princípio democrático basilar da separação de poderes. Nisto
enquadram-se os endividamentos como EMATUM, ProÍndicos e MAM, que foram feitos
pelo executivo à margem da Lei, ignorando as competências da Assembleia da República e
de quaisquer outras instituições e actores relevantes na matéria de endividamento público, e
não observou mesmo a Estratégia de Gestão da Dívida que o próprio Governo teria concebido
e aprovado.

16
Veja em anexo os projectos de financiamento garantido.
49
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 49
Grupo Moçambicano da Dívida

3.5 Dívida Pública e Evolução dos Sectores Sociais e Económicos


Este subcapítulo analisa como é que o endividamento público afecta o desempenho dos
sectores económicos e sociais chaves como a educação, saúde, água, agricultura e
manufactura.

3.5.1 Evolução do serviço da dívida e impacto no financiamento dos sectores sociais em


Moçambique

A dívida pública afecta o financiamento da despesa pública no momento do pagamento do


serviço da dívida. Quanto maior for o serviço da dívida, maior será a pressão sobre o
orçamento do estado, reduzindo a capacidade de financiamento dos sectores, no geral, e dos
sectores prioritários, em particular. Isto porque o alto serviço da dívida leva a uma menor
disponibilidade de opções orçamentais para implementar políticas de desenvolvimento
orientadas para mais investimentos em sectores sociais (saúde, educação, água e saneamento,
protecção social, etc.).

A análise de sustentabilidade feita no capítulo anterior mostrou que o crescimento do serviço


da dívida pública, tanto interna como externa, é superior ao crescimento da produção e das
receitas do país nos últimos 5 anos analisados. Sendo assim, a partir do ano 2010 até 2015, a
realização dos direitos sociais em Moçambique foi comprometida pelo crescimento galopante
da dívida pública externa em condições de pagamento desfavoráveis, que elevou o serviço da
dívida mais do que a capacidade do estado gerar receitas neste período.

A evidência disto é de que, com a tendência crescente do serviço da dívida, a proporção de


despesa afecta aos chamados ―sectores prioritários‖ tem registado uma ligeira redução nos
últimos 4 anos, conforme resulta da tabela 3.13, tendo saído de 67% da despesa total, em
2012, para cerca de 59%, em 2015, uma redução de 8pp
Tabela 3.13: Tendência da alocação orçamental nos sectores prioritários em Moçambique (2010-2015)
Sector/Ano 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Descrição Percentagem em relação a Despesa Total
Educação 19.74% 12.93% 20.13% 19.33% 18.63% 23.99%
Saúde 8.33% 7.24% 11.76% 12.73% 8.70% 10.52%
Infra-estruturas 16.34% 18.07% 16.15% 16.31% 13.88% 12.39%
Agricultura e Desenvolvimento Rural 4.25% 3.35% 8.64% 8.26% 6.06% 6.52%
Outros Sectores Prioritários 11.37% 11.00% 10.77% 12.47% 13.52% 5.85%
Despesa Total nos sectores Prioritários 60.03% 52.59% 67.46% 69.10% 60.79% 59.26%
Despesa Total17 100.00% 100.00% 100.00% 100.00% 100.00% 100.00%
Fonte: Cálculos do autor com base nos dados da CGE (2010-2015)

17
Excluindo os Encargos da Dívida
50
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 50
Grupo Moçambicano da Dívida

Por outro lado, analisando as despesas do Ministérios considerados na tabela abaixo, observa-
se que a maior proporção das mesmas é composta pela Presidência da República que passou
de 14,9% para 24,8% de 2010 para 2014, com uma média de 24,2%. A seguir, o outro
gigante da despesa pública é o Ministério de Obras Públicas e Habitação que, embora não
tenha aumentado de 2010 a 2014, consumiu em média 22,1%. Destaca-se ainda o facto de o
Ministério da Defesa nacional, de 2013 para 2014, ter passado de 6,3% para 17,7% a custa da
redução do orçamento de Ministérios chaves como o da Saúde que passou de 18,5% para
11,1%, o de Educação e Cultura que reduziu de 16,9% para 14,5% e o da Agricultura que
passou de 4% para 3,6%, no mesmo período (tabela 3.14).

Tabela 3.14: Tendência da alocação da despesa pública em Moçambique nos Ministérios considerados (2010-2014)
Percentagem no total da despesa (on-budget) dos sectores considerados
Anos 2010 2011 2012 2013 2014
Presidência da República 14,90% 26,20% 27,40% 27,80% 24,80%
Ministério da Defesa Nacional 5,10% 5,90% 5,90% 6,30% 17,70%
Ministério do Interior 6,20% 6,70% 6,60% 7,40% 7,30%
Ministério da Agricultura 5,50% 4,80% 3,70% 4,00% 3,60%
Minist. Obras Públicas e Hab. 24,30% 24,80% 21,40% 19,10% 21,00%
Mini. da Educação e Cultura 31,10% 19,80% 17,80% 16,90% 14,50%
Ministério da Saúde 12,90% 11,80% 17,20% 18,50% 11,10%
Total dos sectores considerados 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%
Fonte: Cálculos do autor com base nos dados do MF (2014)

As tendências acima revelam o sacrifício dos sectores chaves de Educação, Saúde e


Agricultura nos últimos 5 anos, período em que a dívida pública disparou (aumentou em mais
de 100%) para financiar Ministério como da Defesa e das Obras Públicas e Habitação que
elevou o serviço da dívida, impondo desafios de financiamento ao desenvolvimento
económico e social bem como a redução da pobreza.

51
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 51
Grupo Moçambicano da Dívida

3.5.2 Relação entre a aplicação da Dívida Pública evolução dos sectores económicos e
sociais em Moçambique

Este subcapítulo analisa a tendência da evolução dos principais sectores económicos e sociais
no período de 2000 a 2014 em comparação com os demais, para depois aferir como é que a
aplicação da dívida pública, através de crédito contraído para financiar vários projectos
referenciados no Plano Integrado de Investimentos (2013-2017), pode explicar as diferentes
tendências de evolução desses sectores e a sua relação com o desenvolvimento sócio-
económico e redução da pobreza.

Começando com o peso de cada sector no PIB, o gráfico 3.17 mostra que os sectores com
maior participação na economia do país são a Agricultura, Manufactura e Comércio, com
21,38%, 12% e 9,3% respectivamente

Os sectores sociais, por sua vez, têm uma contribuição mais reduzida, sendo a Educação
(6,3%), Saúde (1,5%) e Água (0,17%). Comparando os sectores ainda no gráfico 3.18, resulta
que o sector da Agricultura tem uma contribuição quase 2 vezes maior que o segundo com
maior contribuição (o da Manufactura), o que revela a grande importância deste sector para
economia do país e justifica o facto de este empregar, pelo menos, 70% da população activa.

Gráfico 3.17: Participação média dos sectores económicos e sociais no PIB de Moçambique (2000-2014)

Participação média dos sectores no PIB


Comércio, Saúde e Acção
Educação, Social, 1.50%
Reparação de
6.34%
Veículos
Automóveis, Captação,
9.33% Tratamento e
Distribuição
de Água
,0.166%

Manufactura, Agricultura,
11.98% 21.76%

Fonte: INE
Não obstante a alta participação dos sectores de Agricultura e Manufactura e consequente
relevância destes para o desenvolvimento da economia do país e do combate a pobreza, ao
longo do período em análise, estes dois sectores observaram redução da sua participação para
o PIB do país ao longo do tempo, contrariando a importância que estes representam para a
economia do país (gráfico 3.18).

52
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 52
Grupo Moçambicano da Dívida

Gráfico 3.18: Tendência da participação dos sectores da agricultura, manufactura e comércio no PIB de Moçambique
(2000-2014)

Evolução da participação dos Sectores de Agricultura,


Manufactura e Comércio
25%

20%

15%

10%

5%

0%
2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014

Agricultura Manufactura Comércio, Reparação de Veículos Automóveis

Fonte: INE

O sector da Agricultura caiu da média de 22,5%, nos primeiros dois quinquénios (2000-2010)
para 20,2% no último quinquénio (2010-2014), e o da Manufactura, nos mesmos intervalos,
caiu duma média de 13,5% para 9,7%. Por seu turno, o Sector de Comércio regista uma
ligeira subida de 8,3%, no primeiro quinquénio, para 10,6% , no último quinquénio (tabela
3.15). Se a Agricultura e a Manufactura, que são sectores que produzem e dão o valor
acrescentado aos produtos nacionais para abastecer o mercado através do comércio, estão a
reduzir em termos de participação, como é que a participação do comércio aumentou? A
explicação do aumento da participação do sector do comércio pode ser sustentada pelo
aumento das importações que, uma vez não compensadas pelas exportações, trazem um
benefício líquido negativo, através da deterioração da Balança Comercial18

Tabela 3.15: Tendência quinquenal da participação dos sectores a agricultura, manufactura e comércio no PIB de
Moçambique (2000-2014)

Sectores com maior participação no PIB 2000-2004 2005-2009 2010-2014


Agricultura 22,56% 22,53% 20,18%
Manufactura 13,51% 12,73% 9,69%
Comércio, Reparação de Veículos Automóveis 8,29% 9,26% 10,45%
Fonte: INE

18
Em cada 1 dólar que o país exporta, em contrapartida importa 3 dólares (discurso do Governador do Banco de
Moçambique, aquando da realização da III Conferência sobre a Dívida Pública) in:
www.divida.org.mz/publicacoes_e_relatorios_rdp
53
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 53
Grupo Moçambicano da Dívida

De referir que, não só a participação dos sectores de agricultura (primário) e manufactura


(secundário) no PIB está a reduzir, mas também, de acordo com o gráfico 3.19, a participação
dos sectores sociais, com destaque para o da Saúde (de 1,57% para 1,42%), de 2000 a 2014.
O sector da educação, embora apresente um ligeiro aumento ao longo da série, observa-se
uma tendência contrária a partir de 2012 até 2014, saindo de 7,2% para 6,8%.

Gráfico 3.19: Tendência da participação dos sectores sociais (Educação, Saúde e Água) no PIB de Moçambique
(2000-2014)
Evolução da participação dos sectores sociais no PIB

8%

6%

4%

2%

0%
2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014

Educação Saúde e Acção Social Captação, Tratamento e Distribuição de Água

Quanto ao ritmo de crescimento dos sectores com maior contribuição média para o PIB ao
longo da série, o gráfico 3.20 mostra que os 2 primeiros (de maior contribuição: agricultura e
manufactura) mostram uma tendência decrescente. O sector da Agricultura, embora tenha
observado um aumento do seu crescimento do primeiro no segundo quinquénio (de 4,2% para
8,3%), voltou a observar uma queda para uma taxa média inferior a do primeiro quinquénio
(2,5%), anulando o anterior esforço de crescimento, sendo que, o crescimento médio deste
sector de 2000 a 2014 foi de 5%.

A manufactura foi a que observou a maior queda comparada a agricultura, sendo que, da
média do primeiro quinquénio de 17,8%, passou para 1,1% no segundo quinquénio, com uma
ligeira recuperação no último para 2,4%. Durante todo período em análise, o crescimento
médio anual deste sector foi de 7,1%, maioritariamente pela alta performance do primeiro
quinquénio.

Já o sector de comércio registou um aumento do seu crescimento ao longo do período em


análise, passando de taxa média anual do primeiro quinquénio de 7,8% para 10,9% no

54
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 54
Grupo Moçambicano da Dívida

segundo quinquénio, e uma ligeira redução para 10,7% no último quinquénio. Assim, no
grupo dos sectores com maior participação, este foi o que observou maiores taxas de
crescimento ao longo do período, resultado num crescimento médio anual de 2000 a 2014 de
9,8%.

Gráfico 3.20: Crescimento médio anual dos sectores da agricultura, manufactura e Comércio em Moçambique (2000-
2014)

Crescimento dos sectores com maior participação no PIB


20%

15%

10%

5%

0%
2000-2004 2005-2009 20010-2014
Agricultura Manufactura Comércio, Reparação de Veículos Automóveis

Fonte: INE

Os sectores sociais, de acordo com o gráfico 2.21, também mostraram redução do seu
crescimento médio anual, com destaque para Educação e Saúde. O sector de Educação, por
sinal o que tem mais participação comparados aos outros sectores sociais, tendeu a cair em
todos os 3 quinquénios, apresentando taxas de 10,7%, 9,9% e 7,5%, respectivamente. O
sector da saúde, observou um crescimento do primeiro ao segundo quinquénio (de 7,9% para
9,9%), porém, tal crescimento foi diluído completamente pela queda observada no último
quinquénio para 4,8%. O sector de Água, cresceu significativamente do primeiro para o
segundo quinquénio, 2,3% para 11,8%, mas veio a cair no último quinquénio para 6,1%. Em
média, os 3 sectores observaram redução das suas taxas de crescimento no último
quinquénio, evidenciado graficamente pela mudança da tendência de todos os 3 sectores (vide
o gráfico 3.21).

55
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 55
Grupo Moçambicano da Dívida

Gráfico 3.21: Crescimento médio dos sectores sociais (educação, saúde e água) em Moçambique (2000-2015)

Crescimento dos sectores sociais


14%
12%
10%
8%
6%
4%
2%
0%
2000-2004 Educação 2005-2009 20010-2014
Saúde e Acção Social
Captação, Tratamento e Distribuição de Água

Fonte: INE

Sendo que, em termos de participação e crescimento, tanto os sectores sociais assim como os
de maior importância para a economia, tendem a deteriorar ao longo do tempo,
principalmente para o último quinquénio de 2010-2014, então que sectores sustentam o alto
crescimento do PIB real de Moçambique (com média anual de 7,5% no período em análise)?

A resposta pode ser encontrada olhando os 3 sectores que observaram maiores taxas de
crescimento económico entre 2000-2014. Neste caso, em primeiro lugar, está a indústria
extractiva, com uma média de crescimento anual de 27,1 %. Em segundo, está o sector das
actividades financeiras, com uma média anual de crescimento no período em análise de
24,2%. E em terceiro lugar, está o sector de construção com 10,3%. De notar que o
crescimento do sector extractivo é 3 vezes maior que o sector de construção (Vide a tabela
3.16).

Tabela 3.16: Crescimento médio dos sectores de indústria extractiva, actividades financeiras e construção em
Moçambique (2000-2014)

Sectores com maior participação no PIB 2000-2004 2005-2009 2010-2014


Indústrias Extractivas 37,35% 12,70% 31,35%
Actividades Financeiras 30,72% 21,21% 20,63%
Construção 6,64% 15,51% 8,76%
Fonte: INE

O facto interessante é de que, os sectores cujo crescimento foi exponencial, indústria


extractiva e actividades financeiras, são os que tiveram, em média, menores participações

56
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 56
Grupo Moçambicano da Dívida

para o PIB durante o período em análise. Em contrapartida, os sectores com maior


participação, agricultura e manufactura, observaram baixas taxas de crescimento, pouco
compatíveis com o seu contributo significativo para a economia.

Conforme pode ser visto no gráfico 3.22, a agricultura e a manufactura, que tem uma
participação de 22% e 12 %, respectivamente, apresentaram taxas de crescimento médio
anual durante o período em análise de 5% e 7%, respectivamente, no entanto, os dois sectores
que observaram maior crescimento durante o período em análise (indústria extractiva e
actividades financeiras), tem uma participação média de apenas 1,5% e 3,1%,
respectivamente.

Em outras palavras, a agricultura, que tem uma participação 15 vezes maior que o da
indústria extractiva, teve apenas 1/5 do crescimento que a indústria extractiva observou.

Em geral, temos um crescimento da economia moçambicana a ser sustentada por sectores


com menor participação para geração de riqueza do país, com efeito multiplicador bastante
limitado, como é o caso da indústria extractiva, que usa mão-de-obra especializada, que o
país não possui, e o produto daí extraído não lhe é acrescentado nenhum valor (exportado a
Gráfico 3.22: Participação média dos sectores no PIB de Moçambique (2000- bruto), devido ao fraco
2014)
Indústrias Participação dos sectores no PIB crescimento dos outros
Extractivas, sectores (como a
Actividades
1.50%
Financeiras, Construção, Agricultura, manufactura e a agricultura)
3.05% 1.64% 21.76%
Comércio, que, por sinal, são os sectores
Reparação
de Veículos que mais contribuem para a
Automóveis,
economia do país.
9.33%
Manufactur
a, 11.98%
O alto crescimento destes
sectores foi em sacrifício de
Fonte: INE sectores chaves como a
agricultura, manufactura, educação, saúde, água. A fragilidade dos sectores, reduz a
probabilidade de o financiamento públicos de projectos com recurso ao endividamento,
converta-se em benefícios económicos para a maioria dos moçambicanos assente no
desenvolvimento sócio-económico e redução de pobreza.

57
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 57
Grupo Moçambicano da Dívida

De salientar que, a redução da participação e do crescimento dos sectores como a agricultura,


manufactura, educação, saúde e água foi mais notável de 2010 a 2014, sendo que, mesmo
aqueles que vinham mostrando tendência positiva (comércio e água), a partir de 2010,
reverteu-se a sua tendência. A pergunta que surge é, como é que o endividamento público, em
termos do destino da sua aplicação, explica estas tendências?

O facto é de que, a partir de 2010, ano que o país fica eleito a contrair créditos não
concessionais, o alto endividamento começou. Houve a aceleração do investimento na
redução de custos e riscos para o grande capital do complexo mineral-energético, em especial
nas infra-estruturas gigantes e especializadas, segurança e serviços vários e avalização de
empréstimos privados que tornaram a economia cada vez mais afunilada e mais centrada na
produção de produtos primários e semi-primários para exportação e dependente de
importações, aumentando a sua vulnerabilidade à volatilidade dos mercados financeiros e de
mercadorias internacionais e à inflação importada, e mais incapaz de articular processos
produtivos domésticos e de gerar emprego decente (IESE, 2016).

Conforme ilustra o gráfico abaixo, o investimento público com recurso ao crédito externo
(endividamento) aplicado na Agricultura, considerada a base de produção nacional, foi
apenas de 3% to total dos créditos contraídos com financiamento garantido para o
Investimento Público, composta pela reabilitação dos regadios de Chokwe e Limpopo assim
como barragem de Chipembe.

Em contrapartida, de acordo com o gráfico abaixo, foi priorizado o Sector de Defesa e


Segurança (33%) que pouca é a relação que possui com o desenvolvimento e a redução da
pobreza, sendo que este sector comparticipa com apenas 4,8% no PIB para o período em
análise, entretanto, foi o quarto (4o) sector que mais cresceu na economia nos últimos 15
anos, depois da Indústria Extractiva, Actividades Financeiras e Construção. Por outro lado, o
sector de defesa e segurança não produz directamente recursos financeiros para honrar com
os compromissos assumidos com os credores, mas sim depende do pleno funcionamento dos
outros sectores que possam precisar dos serviços de segurança.

O alto investimento em serviços de segurança avalizado estado foi justificado pela


expectativa de, as grandes indústrias ligadas ao sector extractivo como ANADARCO, no
início das suas operações, precisarem destes serviços. Dois aspectos foram ignorados, o
primeiro, a volatilidade dos preços internacionais dos recursos a serem explorados por estas

58
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 58
Grupo Moçambicano da Dívida

empresas que determinariam a redução do investimento do sector extractivo e, o segundo, o


facto de, a indústria extractiva dificilmente traduzir-se em benefícios para o desenvolvimento
sócio-económico e redução da pobreza enquanto a economia não apostar uso dos produtos
daí provenientes como matéria-prima para impulsionar outros sectores (agricultura e
manufactura). O investimento no sector de Segurança demonstra políticas assentadas na
indústria extractiva, que já vem crescendo exponencialmente, em detrimento de sectores
chaves (agricultura, manufactura, educação, saúde, etc) que registaram baixo crescimento no
período em análise.

Por outro lado, a aposta na Defesa e Segurança está consubstanciada no conflito político-
militar entre o Governo e Renamo que começou em 2013 que, embora tenha cessado com a
assinatura do acordo de sessação de hostilidades pouco antes das eleições, retomou no início
de 2015, com o abandono dos mediadores na mesa de negociações, depois de mais de 100
rondas sem consenso.

Outro sector que mereceu investimento duvidoso em termos de retorno, foi o da pesca,
através da EMATUM que desde a sua criação em 2013, ainda não conseguiu gerar recursos
financeiros para pagar aos credores. Uma vez tendo sido avalizado pelo Estado, o país viu-se
obrigado a pagar a primeira tranche de 200 milhões de dólares saído directamente dos cofres
do Estado. O pagamento dessa tranche representou perda da capacidade de o Estado financiar
outras despesas e pressionou a balança de pagamento pela saída de divisas que aliás, no final
de 2015, o Ministério de Economia e Finanças solicitou ao FMI um financiamento de 282
milhões de dólares para o ajustamento da BOP.
Gráfico 3.23: Percentagem do Investimento Público com recurso ao endividamento público alocado aos diferentes
sectores económicos e sociais em Moçambique (2014)
Investimento Público em diferentes sectores com recurso a crédito
externo (%)
Saúde
2.07% Agricultura Pesca Produção e
3.01% 6.15% Distribuição de
Admin Pública, Electricidade e Gás
Defesa e Segurança 3.94%
Social Obrigatória Captação,
32.85% Tratamento e
Distribuição de
Água
8.75%

Actividades Imob,
Alug e Serviços Transportes
Prestados às 42.40%
Empresas
0.83%
Fonte: PII (2014) e MF (2014)

59
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 59
Grupo Moçambicano da Dívida

O gráfico 3.23 mostra ainda que foi o sector de transportes que mereceu maior atenção no
âmbito dos investimentos públicos, com cerca de 42% do valor total financiado. Os projectos
de relacionados com este sector, por sinal um sector de maior importância para impulsionar
os demais sectores, com destaque para a agricultura, são, de certa forma, pouco estratégicos
para desempenhar este papel de impulsionador, ou para contribuírem para a redução da
pobreza e desigualdade e promoção de um desenvolvimento sócio-económico no país. Isto
deve-se ao facto de, a maior parte dos investimentos neste sector não estarem relacionados
com o impulsionamento da agricultura como sector base do desenvolvimento, com a
excepção, segundo a tabela 3.17 , da reabilitação das estradas Cuamba-Mandimba-Lichinga,
Machipanda e Beira, Tica-Buzi-Nova Sofala e Nampula Namitil, que juntos perfazem 45,6%
do Investimento com financiamento garantido no sector de transportes. Pelo menos estes
investimentos irão permitir a viabilização e escoamento da produção agrícola rural, reduzir os
custos de transacção, e permitir maior dinâmica no sector agrário para a criação de uma base
da economia mais alargada.

Contudo, mais que a metade dos investimentos (54,4%) do sector de transportes estão ligadas
a criação de facilidades para circulação nas zonas urbanas (Ponte Maputo Catembe e Estrada
para Ponta de Ouro que consome 30,1% do investimento no sector e Circular de Maputo que
consome 12,4%).

Tabela 3.17: Projectos com financiamento externo via crédito garantido para o Investimento Público em
Moçambique

Infra-estrutura de transporte Valor ( $ 106) %


Expansão do Porto de Nacala (Cidade) 112,67 4,67%
Ponte Maputo-Katembe e Estrada para Ponta de Ouro 725,80 30,09%
Reabilitação da Estrada N6 entre Machipanda e Beira nas
433,00 17,95%
Províncias de Manica e Sofala
Circular de Maputo (inclui a Ponte da Macaneta) 298,94 12,39%
Estrada N13: Cuamba-Mandimba-Lichinga 291,60 12,09%
Estrada N104-Nampula Namitil 75,40 3,13%
Estrada Corredor Nacala III: Muita-Mandimba- Lichinga 150,19 6,23%
Reabilitação da Estrada do Tica-Buzi-Nova Sofala 149,72 6,21%
Aeroporto Internacional de Nacala 144,00 5,97%
Terminal de carga do Porto da Beira 31,00 1,29%
Total 2412,32 100,00%
Fonte: PII (2014)

Portanto, na priorização dos projectos de financiamento garantido através de crédito para os


Investimento Públicos, pouco foram tomados em consideração factores de reversão dos

60
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 60
Grupo Moçambicano da Dívida

benefícios destes investimentos a favor da maioria da população para o desenvolvimento


sócio-económico e redução da pobreza, pelo que:

 Foram ignorados elementos de reforço da infra-estrutura económica e social, aumento


da actividade económica quando investiu-se significativamente na Defesa e
Segurança;
 Foi ignorado o equilíbrio da balança de pagamentos pela avalização ou contracção de
créditos não concessionais com viabilidade duvidosa, em que alguns (ex: EMATUM)
começaram a ser pagos antes dos investimentos começarem a gerar lucros para pagar
a dívida
 Foi ignorado a integração ou ligação dos projectos pela excessiva concentração
(directa ou indirecta) na indústria extractiva, sem antes criar-se a base de absorção
para todos os moçambicanos, dos benefícios advenientes deste sector;
 Foi ignorada a questão de assimetrias regionais pela excessiva concentração na zona
sul e principalmente, Cidade de Maputo e Maputo Província.
 Foi ignorado o uso racional e aproveitamento de recursos nacionais devido ao pouco
investimento direccionado ao sector da agricultura para um país abundante em terra
arável.

3.5.3 Custo de oportunidade social das dívidas ocultas19

Se alguns créditos contraídos, conforme mostrou-se no subcapítulo anterior, a sua aplicação


não satisfaz cabalmente o objectivo de desenvolvimento económico e social bem como a
redução da pobreza, quais são os benefícios não obtidos ou sacrificados, considerando certos
sectores socias? Esta análise foi feita em relação as dívidas ocultas (EMATUM, ProÍndicos,
MAM e a dívida a favor do Ministério de Interior), pelo facto de ser controverso a relevância
da aplicação das mesmas para o desenvolvimento de Moçambique (GMD, 2016).

As dívidas ocultas, que correspondem a cerca de USD 2,2 mil milhões20, poderiam ter maior
utilidade para o país se tivessem sido mobilizadas para financiar alguns sectores sociais, cuja
miserável quantidade e qualidade de infra-estruturas e serviços determinam, em grande
medida, o nível de pobreza em que ainda vive mais de metade da população moçambicana.

19
Dívidas ocultas, ilegais ou descobertas: designação geralmente usada para referir os créditos avalizados pelo
Estado a favor de empresas EMATUM, MAM, ProÍndicos assim como o crédito feito a favor do Ministério do
Interior, cuja informação não foi tornada pública no momento da contratação dessas dívidas
20
GMD (2016)
61
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 61
Grupo Moçambicano da Dívida

O custo de oportunidade social a seguir consiste na comparação sobre quanto teria sido
possível o governo moçambicano financiar na educação, saúde, água e saneamento, caso
usasse o valor das dívidas ocultas, em detrimento de financiar empresas privadas em
equipamento de defesa e segurança ligados a exploração dos recursos naturais.

Sector de Saúde

O gráfico 3.24 mostra que o Estado perdeu a oportunidade de construir mais de 3 000
Centros de Saúde do tipo 2 com o valor 2,2 milhões de dólares americanos das dívidas
ilegais. Destes, a EMATUM participa com 1100 Centros de Saúde, a MAM com 800, a
ProÍndicos com 700 Centros de Saúde. Com a dívida de 221 milhões do Ministério do
Interior, perdeu-se a oportunidade de se construir 300 Centros de Saúde do tipo 2.

Por outro lado, o somatório de todas dívidas ilegais poderia comprar cerca de 44 560
ambulâncias e cerca de 92800 técnicos superiores de saúde, num contexto em que o país tem
um défice de mais de 20 000 profissionais de saúde (GMD, 2016)

Gráfico 3.24: Custo de oportunidade medido em termos de número de centros de saúde não construídos com as
dívidas ocultas

Nr de Centros de Saúde do Tipo 2 que poderiam ser


construídas com as dívidas ilegais

Nr de Centros de Saúde do Tipo 2 3,000


($750 000 p/CS)

1,100
800 700
300

EMATUM MAM ($622 PROINDICOS Ministério do Total


($850 milhões) ($535 Interior ($221
milhões) milhões) milhões)
Fonte de dados: MEF (2016) e FMO (2015)

Sector de Educação

O sector de educação conta com mais de 6 milhões de alunos desde a 1ª a 12ª classe, entre os
quais cerca de 500 mil alunos estudam ao ar livre ou por baixo das árvores (Jornal Notícias:
27/2/2014 citado por GMD, 2016). Sendo assim, o estado precisa de cerca de USD 58
milhões para acabar com turmas ao relento‖ (Jornal O Pais: 14 de Maio de 2015 citado por
GMD, 2016)

Contudo, só a divida da MAM, supera em 10 vezes o valor necessário para eliminar as turmas

62
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 62
Grupo Moçambicano da Dívida

ao ar livre. Os USD 58 milhões perfazem apenas 6,8% do valor da EMATUM, 9,3% da


dívida da MAM, 17,8% da ProÍndicos e 26,2% da dívida do Ministério do Interior.
Globalmente, seria necessário apenas 2,6% das dívidas ilegais para financiar a construção de
salas de aulas de forma a eliminar o recurso a árvores como salas de aulas.

Gráfico 3.25: Custo de oportunidade medido em termos de número de salas de aulas não construídos com o valor das
dívidas ocultas

Nr de salas de aulas de 25 alunos que poderiam ter sido construídas


com as dívidas ilegais

186 000

Salas de aulas ($12 000 p/sala)

71 000
52 000 45 000
18 000

EMATUM ($850 MAM ($622 PROINDICOS Ministério do Total


milhões) milhões) ($535 milhões) Interior ($221
milhões)

Fonte de dados: MEF (2016) e FMO (2015)

Por outro lado, considerando que a construção de uma sala de aulas com capacidade para 25
alunos, custa 12 000 dólares, com o valor da dívida da EMATUM, o Estado poderia construir
71 000 salas de aulas beneficiando cerca de 1,8 milhões de alunos, 52000 salas com o valor
da MAM beneficiando 1,3 milhões de alunos, 45 000 salas com o da ProÍndicos beneficiando
1,1 milhões de alunos e 18000 salas com a dívida alocada no Ministério do Interior que
beneficiariam 500 mil alunos. No total, com as dívidas ocultas, poderiam ter sido construídas
cerca de 186000 salas de aulas que beneficiariam um total de 4,6 milhões de alunos (gráfico
3.26).

63
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 63
Grupo Moçambicano da Dívida

Gráfico 3.26: Custo de oportunidade medido em termos de número de alunos que podiam beneficiar-se das salas de
aulas

Nr de alunos que poderiam beneficiar das salas construídas

4,600,000

Número de crianças beneficiárias (25 alunos p/sala)

1,800,000
1,300,000
1,100,000
500,000

EMATUM ($850 MAM ($622 PROINDICOS Ministério do Total


milhões) milhões) ($535 milhões) Interior ($221
milhões)

Fonte de dados: MEF (2016) e FMO (2015)

Sector de Água

O Estado precisa de um pouco mais de 50021 milhões de dólares para financiar programas de
expansão da rede de abastecimento de água e reduzir o actual défice de cobertura em todo o
país, que se situa em 49%, com uma grande disparidade entre a cobertura urbana (80%) e a
cobertura rural (35%)22.

Só a dívida da MAM, de 535 milhões, seria suficiente para lograr este intento do governo de
expandir a rede de abastecimento de água. Com a EMATUM, perdeu-se a oportunidade de
abertura de 2400 furos de água que beneficiariam 730 mil pessoas; Com a ProÍndicos,
poderiam ter sido abertos 1 500 furos para beneficiar 460 mil pessoas, assim como com a
dívida do Ministério do Interior, perdeu-se 600 furos para abastecer 190 mil pessoas
(Gráficos 3.27 e 3.28).

21
Segundo o ministro das Obras Públicas e Recursos Hídricos (04 Fevereiro 2016 08:42) In:
http://www.macauhub.com.mo/pt/2016/02/04/mocambique-precisa-de-500-milhoes-de-dolares-para-expandir-
rede-de-abastecimento-de-agua /
22
http://www.unicef.org.mz/nosso-trabalho/o-trabalho-do-unicef/water-sanitation-hygiene/
64
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 64
Grupo Moçambicano da Dívida

Gráfico 3.27: Custo de oportunidade medido em termos de número de furos de água que poderiam ter sido
construídas com o valor das dívidas ocultas

Nr de furos de água que poderiam ter sid abertas com


as dívidas ilegais
6400

Nr de furos de água ($350 000 p/furo)

2400
1800
1500
600

EMATUM MAM ($622 PROINDICOS Ministério do Total


($850 milhões) milhões) ($535 milhões) Interior ($221
milhões)

Fonte de dados: MEF (2016) e FMO (2015)

Gráfico 3.28: Custo de oportunidade medido em termos de número de pessoas que poderiam beneficiar-se dos furos

Nr de pessoas que seriam beneficiárias dos furos


construídos

Nr de pessoas beneficiárias dos furos de água 1 910 000


(300 pessoas p/furo)

730 000
530 000 460 000
190 000

EMATUM MAM ($622 PROINDICOS Ministério do Total


($850 milhões) ($535 Interior ($221
milhões) milhões) milhões)

Fonte de dados: MEF (2016) e FMO (2015)

3.5.4 Outros custos das dívidas ocultas

Segundo IESE (2016)23, a credibilidade financeira da economia moçambicana nos mercados


internacionais foi reduzida drasticamente, ao mesmo tempo que aumentaram os riscos para os
investidores, por causa da velocidade e insustentabilidade do endividamento, dos termos
comerciais da nova dívida, da ilegalidade de parte da dívida, do peso que o serviço de dívida
exerce sobre a economia e da reavaliação das expectativas sobre as probabilidades de a
economia conseguir honrar os compromissos de dívida. As agências internacionais de rating,

23
IESE (2016). Introdução à problemática da dívida pública: contextualização e questões imediatas, Maputo ,
30 de Maio de 2016 Boletim Nº 85, IDEIAS
65
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 65
Grupo Moçambicano da Dívida

como a Standard & Poor’s, a Moody’s e a Fitch, que informam mercados financeiros sobre
risco financeiro, reduziram o rating de Moçambique de B+ para CCC, em pouco mais de dois
anos, resultando no aumento das taxas de juro24 da dívida e de futuros empréstimos, tornando
a economia mais cara e a dívida mais insustentável. O acesso ao sistema financeiro
internacional tornou-se mais difícil, mais caro e mais discriminatório a favor do grande
capital multinacional focado no investimento de alto retorno, como, por exemplo, a
especulação com recursos energéticos estratégicos.

3.6 Dívida pública e equilíbrio económico regional


Este tópico analisa a distribuição do rendimento a nível regional/ provincial, para ver até que
ponto a contracção da dívida para financiar projectos públicos concorre para o equilíbrio
regional em termos de produção, desenvolvimento e redução da pobreza.

Primeiro, é importante notar que para o período em análise neste tópico, 2000 a 2014, metade
da produção esteve concentrada no Sul do País (47%), a seguir Centro com 30% e, por fim,
Norte com 22%. O desequilíbrio regional é significativo tal que a região Sul participa no PIB
com um pouco mais do que o dobro da participação da região Norte. (Vide o gráfico 3.29)

Gráfico 3.29: Participação média no PIB por região em Moçambique (2000-2014)

Participação média por região no PIB

Norte
Sul 22%
47%

Centro
31%

24
Por exemplo, quando o actual governo decidiu renegociar a dívida da EMATUM, avalizada pelo Estado,
informou o parlamento que pretendia alcançar a redução das taxas de juro e o alargamento do período de
reembolso, para reduzir o peso do seu serviço no orçamento do Estado. A redução do serviço da dívida foi
conseguida por via do adiamento do reembolso do capital para 2023, mas à custa do aumento das taxas de juro
em três pontos percentuais. Com o reescalonamento desta dívida, o governo terá de pagar: USUSD 78 milhões
por ano em juros, nos próximos sete anos, e o capital em dívida numa única prestação, em 2023, no valor de
USUSD 731 milhões. Antes do reescalonamento, haviam sido pagos USUSD 132 milhões. Logo, este
empréstimo. de USUSD 850 milhões custará, ao Estado, cerca de USUSD 1,4 mil milhões – excluindo os
prejuízos operacionais da empresa que, só em 2015, foram de USUSD 20 milhões, e os custos de mobilização e
remuneração de parcerias para viabilizar o projecto (IESE, 2016).
66
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 66
Grupo Moçambicano da Dívida

Gráfico 3.30: Participação média das províncias no PIB


da região Norte de Moçambique (2000-2014)
Analisando as províncias de cada região, o Participação das províncias da Região
cenário de desequilíbrio mantém-se. Para o caso Norte no PIB regional

da zona Norte, Nampula participa com 65%, a Nampula Niassa


65% 14%
seguir Cabo Delgado (21%) e depois Niassa
Cabo
com apenas 14%. A produção média de Delgado
21%
Nampula durante o período em análise é
aproximadamente 5 vezes o de Niassa e 3 vezes Fonte: INE

o de Cabo Delgado (gráfico 3.30).


Gráfico 3.31: Participação média das províncias no PIB da
região Centro de Moçambique (2000-2014)
A região Centro mostra menos desequilíbrio em comparação com a Norte. As províncias de
Sofala e Zambézia têm quase a mesma
Zona Centro
participação (36 e 31%, respectivamente). Ficam Sofala Zambézia
36% 31%
para trás as províncias de Manica e Tete com
14% e 19%, respectivamente, onde ambas
precisariam somar as suas participações para
fazer frente com as províncias de Sofala e Manica
14%
Tete
Zambézia (gráfico 3.31).
19%
Fonte: INE
A zona Sul mostra também um desequilíbrio
Gráfico 3.32: Participação média das províncias no PIB da
região Sul de moçambique (2000-2014)
significativo, com Maputo Província e Cidade de Zona Sul Inhambane
Maputo 16%
Maputo, ambas a participarem com 73% no PIB cidade
40% Gaza
da região. Inhambane participa com apenas 16%
11%
assim como Gaza com 11%. (gráfico 3.32)
Maputo
provincia
Por outro lado, a participação da Cidade de 33%

Maputo no PIB quando somada com a de Fonte: INE


Maputo Província é de 34% (gráfico 3.34), significando que 1/3 da produção nacional é
gerada por 2 províncias (ambas do Sul do país). A participação no PIB destas 2 províncias é
superior a da região Norte (34% > 22%) e a região Centro (34% > 32%).

67
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 67
Grupo Moçambicano da Dívida

Se se adicionar Nampula, Maputo Cidade e Maputo Província, tem-se que apenas 3


províncias são responsáveis por metade da produção nacional, sendo que, as restantes 8
províncias são as que geram a outra metade. (Vide o gráfico 3.33)

Gráfico 3.34: Comparação da participação no PIB entre Gráfico 3.33: Comparação da participação no PIB entre
Maputo Cidade e Maputo Província com as restantes Maputo Cidade, Maputo Província e Nampula com as
províncias (2000-2014) restantes províncias (2000-2014)

Participação de Maputo Cidade, Maputo Participação de Maputo Cidade, Maputo


Província em relação a outras províncias Província e Nampula em relação a outras
no PIB províncias no PIB

Maputo Maputo
Cidade e Outras cidade,
Maputo Maputo
Províncias
Outras Província provincia e
51%
Províncias 34% Nampula
66% 49%

A tendência da participação regional no PIB, segundo o gráfico 3.35, mostra-nos que, ao


longo do período em análise, a região Sul foi ganhando maior robustez em relação as regiões
Centro e Norte. A tendência do aumento do desequilíbrio ficou mais evidente a partir de
2006, com a região Sul a aumentar de 44% a 48%.

Gráfico 3.35: Evolução da participação regional no PIB de Moçambique (2000-2014)

Evolução da participação regional no PIB


60%
50%
40%
30%
20%
10%
00%
1999 2004 2009 2014

Fonte: INE Norte Centro Sul

Por outro lado, olhando para o crescimento médio do PIB por região, a zona Sul, ora com
maior participação no PIB, apresenta igualmente a maior taxa de crescimento médio anual
(8,5%) em relação as outras regiões (Centro com 6,99% e Norte com 8,1%). Tal explica a

68
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 68
Grupo Moçambicano da Dívida

tendência de aumento do desequilíbrio regional em termos de participação no PIB a favor da


região Sul observado no gráfico acima.

Até que ponto o endividamento público


contribui para o crescimento e
desenvolvimento equilibrados da economia
moçambicana? Para responder a essa pergunta,
recorreu-se aos investimentos com
financiamento garantido constantes do Plano
Integrado de Investimentos, para analisar os
diferentes pontos onde foram alocados.

De acordo com o mapa a ilustração1, onde os


pontos vermelhos indicam o destino dos
investimentos em análise, observa-se um
desequilíbrio da distribuição do número de
investimentos ao nível das 3 regiões: A região
Sul, em particular Maputo (província e cidade)

Ilustração 1: Mapa da alocação dos projectos do PII apresenta maior número de projectos
Fonte: PII (2014) e MEF (2016)
financiados (43%), seguido da Região Norte
(35%) e, por fim, a região Centro com 22%.

Por outro lado, analisando a distribuição dos


Gráfico 3.36: Percentagem do Valor de Investimentos
investimentos em termos do seu valor (USD públicos financiados para cada região de Moçambique com
recurso a crédito externo
investidos), a situação de desequilíbrio Projectos de Financiamento garantido
deteriora ainda mais. Para além de a região Sul Norte
24%
comportar maior número de investimentos, os
Sul
mesmos tem, em média, maior valor em 56%

termos monetários do que os investimentos


feitos noutras regiões. Conforme ilustra o Centro
20%
gráfico 3.36, a região Sul comporta mais da Fonte: PII(2014) e MEF (2015)

metade (56%) do valor total de investimentos financiados no PII, o dobro de cada uma das
regiões (Norte com 24% e Centro com 20%).

69
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 69
Grupo Moçambicano da Dívida Gráfico 3.37: Distribuição dos projectos de investimento do
PII pelo país (regiões e províncias de Moçambique)

Em termos de distribuição destes investimentos Projectos Garantidos Cabo


Delgado
ao nível das províncias em cada região 8%
(gráficos 3.37), na zona Norte, maior parte Nampula
39%
destes estão concentrados na província do Niassa
53%
Niassa, facto plausível olhando para a baixa
participação desta província no PIB do país Fonte: PII (2014) e MEF (2015)
(3,1%), embora Cabo Delgado precise do Projectos Garantidos Zambézia
mesmo estímulo que Niassa, por ter uma 10%
Manica
Tete
31%
participação no PIB de apenas 4,8%. 2%

Na região Centro, a província de Sofala aparece


Sofala
beneficiando-se de mais da metade de 57%
Fonte: PII (2014) e MEF (2015)
investimentos (57%), depois segue Manica
Inhamba Projectos Garantidos
(31%) e como sacrificados, aparecem Zambézia ne
0% Gaza
(10%) e Tete (com apenas 2%). 6%

A região Sul comporta um maior desequilíbrio


pela existência de uma província (Inhambane) Maputo
Província Maputo
sem nenhum investimento, mas com Maputo 48% Cidade
46%
(cidade e província) a participarem com 94% Fonte: PII(2014) e MEF (2015)
no PIB da região. Financiamento de projectos

O valor dos projectos alocados em Maputo Outras Maputo


Províncias Cidade e
(Cidade e Província) perfaz mais da metade 48% Maputo
Província
(52%) do valor total dos projectos das demais 52%

províncias

Fonte: PII(2014) e MEF (2015)

Em geral, o endividamento público não concorre a redução do equilíbrio das diferentes


regiões e províncias no país. As regiões com baixa participação no PIB e com potencial para
contribuir mais na economia do país (Centro e Norte) recebem menos prioridade em
beneficiar de projectos que alavancariam as suas economias locais.

O gráfico 3.38 permite visualizar que as regiões ou províncias com maior participação na
economia nacional são as mais estimuladas pelo investimento público em infra-estruturas

70
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 70
Grupo Moçambicano da Dívida

económicas e sociais, em detrimento daqueles que apresentam baixa produção e que precisam
de maior estímulo, facto que justifica a tendência observada nas análises anteriores de
agravamento do desequilíbrio regional em Moçambique.

Por exemplo, a Cidade e Província de Maputo, são o locais que, embora tendo maior
participação no PIB nacional (34%), tiveram maior financiamento a projectos (52% do valor
total). Tal facto observa-se para as províncias de Sofala e Nampula que, tendo a participação
de 11,2% e 14,5% no PIB do país, beneficiaram de 11,4% e 9,6% do valor total do
investimento, respectivamente.

Do mesmo modo, as províncias com baixa participação na economia têm menor volume de
investimento, como por exemplo: as províncias de Gaza e Cabo Delgado, com 4,95% e 4,7%
de participação, tiveram apenas 3,5% e 1,9% do valor total de investimento, respectivamente.
A boa excepção é a província de Niassa onde, com participação de apenas 3,1%, beneficiou
de 12,7% do total do valor de Financiamento a projectos, para reabilitação ou asfaltagem de
importantes infra-estruturas de galvanização da produção local (agricultura e comércio) como
a estrada Cuamba-Lichinga e Madimba-Lichinga (vide o gráfico 3.38).

Gráfico 3.38: Relação entre Participação no PIB e o volume de projectos financiados para província de Moçambique

Maputo Província
Maputo Cidade
Gaza
Inhambane
Manica
Sofala
Tete
Zambézia
Nampula
Niassa
Cabo Delgado

00% 05% 10% 15% 20% 25% 30%

Participação no PIB Volume de financiamento a projectos

Fonte: PII (2014) e MEF (2015)

71
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 71
Grupo Moçambicano da Dívida

3.7 Análise empírica da relação dívida pública, desenvolvimento sócio-


económico e redução da pobreza.
Conforme a revisão da literatura empírica mostrou, a relação entre dívida pública,
desenvolvimento sócio-económico e redução da pobreza está implícita nos modelos que
relacionam a dívida pública com o crescimento económico. Sendo assim, este subcapítulo
dedica-se a testar a relação entre dívida pública e desenvolvimento assim como dívida
pública e redução da pobreza de forma separada, partindo do modelo de dívida pública com o
crescimento económico

3.7.1 Especificação do modelo

A relação entre a dívida pública com cada uma das variáveis (desenvolvimento e pobreza) foi
testada por meio de 3 modelos econométricos principais, sendo que, o primeiro estuda a
relação entre a dívida pública e o crescimento económico, como condição necessária para
alcançar o desenvolvimento sócio-económico e redução da pobreza. Assim, os restantes 2
modelos econométricos estudam de forma separada o efeito do endividamento público sobre
o desenvolvimento sócio-económico e sobre a redução da pobreza.

A medida do desenvolvimento sócio-económico, tal como referenciado nos capítulos


anteriores, será o índice de desenvolvimento humano e a redução da pobreza, que está
associada a redução da desigualdade da distribuição do rendimento, será medida através
coeficiente de Gini.

A estimação baseia-se nos modelos de Akram (2016: 750-755), que contém a seguinte forma
reduzida:

Primeiro modelo:

Onde yt é a taxa de crescimento do PIB, Dívida – é a variável dívida pública, as restantes


variáveis de controlo estão congregadas no termo representado pelo ( ) e o Ut é o termo de
erro do modelo (erro estocástico).

Segundo modelo :

72
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 72
Grupo Moçambicano da Dívida

Onde IDH é o Índice de Desenvolvimento Humano e representa as restatantes variáveis de


controlo mantêm-se.

Terceiro modelo:

Onde Gini é o coeficiente de desigualdade na distribuição do rendimento

3.7.2 Dados e métodos de estimação

Para testar a relação entre a dívida pública e desenvolvimento sócio-económico assim como
dívida pública e redução da pobreza foram usados dados de Moçambique referentes aos anos
1998 a 2015 (vide a Tabela 1 do Anexo 4)

Os métodos de estimação usados para regressão dos modelos foram: Método dos Mínimos
Quadrados Generalizados Viáveis para o primeiro modelo, que relaciona dívida e
crescimento económico e Método de Mínimos Quadrados Ordinários para os restantes 2
modelos, que relacionam dívida, desenvolvimento e pobreza. O nível de significância
considerado é de 5% e foi comparado com o P-value correspondente aos diferentes testes de
hipóteses.

A colecta de dados combinou diferentes bases: os dados sobre Índice de Desenvolvimento


Humanos foram obtidos nos relatórios sobre o desenvolvimento humano do PNUD, de 1998
a 2014, tendo sido feita uma interpolação geométrica para o IDH 2015 pelo facto de ainda
não estar disponível até ao momento da realização deste estudo. A mesma interpolação foi
feita em relação aos dados sobre ao coeficiente de Gini obtidos nos relatórios de Pobreza em
Moçambique (1996, 2002 e 2008) feitos pelo Instituto Nacional de Estatística, pelo facto de
reportarem valores desta variável apenas para os anos da realização dos Inquéritos ao
Orçamento Familiar. Outros dados obtidos no INE são os referentes a contabilidade nacional
(PIB, População, Taxa de crescimento económico, Formação Bruta de Capital Fixo,
Exportações, Importações IPC/Inflação). Por fim, os dados sobre dívida púbica foram obtidos
no Ministério de Economia de Finanças através das Contas Gerais do Estado (1998-2015).
(Vide a descrição dos dados na Tabela 3.18)

73
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 73
Grupo Moçambicano da Dívida

Tabela 3.18: Descrição dos dados do modelo econométrico

Nr Nome da variável Fonte Descrição


1 IDH(idh) PNUD O IDH é um indicador que mede o nível de
desenvolvimento dos países baseando-se em 3 dimensões a
saber: PIB per capita, Educação e Saúde. Este indicador
assume valores entre 0 e 1 e quanto mais próximo o país
estiver de 1, maior é o seu índice de desenvolvimento
humano.
2 Gini (gini) INE Este indicador mede a desigualdade social ou o nível de
distribuição do rendimento num determinado grupo de
pessoas (neste caso dos moçambicanos). O indicador foi
apenas reportado para os anos em que correu o IOF (1996,
2002 e 2008, sendo que, os restantes dados foram obtidos
por meio de interpolação geométrica. Este indicador varia,
tal como o anterior, de 0 a 1, contudo, para este, quanto
mais próximo de 1, maior é a situação de desigualdade
social, pelo que, maior será a pobreza.
3 Taxa de INE Trata-se da evolução anual do PIB real, medida em taxas
crescimento do PIB de crescimento económico
(cpir)
4 Formação Bruta de INE A formação bruta de capital fixo (FBCF) refere-se ao
capital fixo (kpib) aumento de investimentos em capital num determinado
período (ex: compra de novos equipamentos) será medido
em % em relação ao PIB
5 Taxa de abertura ao INE Esta variável foi obtida com base em (Exportações
Exterior (xmpib) +Importações) /PIB*1000, mede o grau de abertura da
economia de um país em relação ao exterior
6 Inflação (inf) INE A variável inflação foi calculada com base o Índice de
Preço ao Consumidor (variação do IPC)
7 Dívida Externa MEF/CGE Esta variável mede Stock da Dívida como Percentagem o
(depib) Produção total de uma economia (Dívida Externa/PIB)
8 Serviço da Dívida MEF/CGE Esta variável mede a proporção do Serviço da Dívida
Externa (spex) Externa em relação às Exportações (Serviço da Dívida
Externa/PIB)
9 Dívida Pública MEF/CGE Essa variável foi obtida com base na comparação entre a
Externa (depib) dívida pública externa e o PIB (Dívida externa/PIB)

3.7.3 Estimação dos resultados

Os modelos estimados obedeceram ao proposto por Akram (2016), tendo sido empregue as
mesmas variáveis de controlo propostas por esse autor. Depois de se estimar cada regressão,
fez-se a interpretação dos resultaos olhando para o R2; teste F; significância dos coeficientes;
sinais dos coeficientes; magnitude dos coeficientes e, por fim, olhou-se para os problemas
que surgem na aplicação do modelo de regressão linear.

74
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 74
Grupo Moçambicano da Dívida

3.7.3.1 Dívida Publica e Crescimento Económico

O primeiro modelo serviu para testar a relação entre o endividamento público influencia e o
crescimento económico, tendo assumido as seguintes hipóteses:

Ho: O endividamento público não influencia o crescimento

H1: O endividamento público influencia o crescimento económico

O modelo estimado foi a seguinte:

Onde: kpib-participação do capital no PIB, xmp- taxa de abertura, inf –inflação, depib-divida

externa sobre PIB, dipip-divida interna sobre PIB.

Os resultados da regressão pelo MQGV são:

ep (3,485) (0,076) (0,063) (0,088) (0,273) (0,206)

n=18 R2 = 0,6765 SSE=33,299

O dados da regressão acima, quando analisados tendo em conta a tabela dos resultados do
Anexo 7 (primeiro modelo), sugerem que o modelo é estatisticamente significativo, com base
no teste do teste F de significância global (o valor do P-value é inferior ao nível de
significância de 5%, pelo que, rejeita-se a hipótese nula da insignificância global). Por outro
lado, todos os coeficientes das variáveis explicativas são estatisticamente significativas para o
nível de significância de 5%, com seus valores de P-value inferiores a 0,05, com sinal
negativo para ―kipb‖, ―inf‖ e ―dipib‖.

A implicação destes resultados, é de que a dívida pública tem 2 vertentes de influência do


crescimento económico. Na sua vertente externa, ela influencia positivamente na taxa de
crescimento económico, equanto na vertente interna ela influencia negativamente. O
coeficiente negativo do ―kpib‖, significa que o aumento da participação da Formação Bruta
do Capital Fixo no PIB reduz a taxa de crescimento económico, enquanto que o coeficente
positivo ―xmpib‖ mostra que o aumento da abertura ao comércio externo tem impacto

75
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 75
Grupo Moçambicano da Dívida

positivo sobre o crescimento económico. O coeficiente negativo de ―inf‖ significa que o


aumento da inflação tem um impacto negativo sobre o crescimento económico.

Em geral, os resultados rejeitaram a hipotese nula de que a dívida pública não influencia o
crescimento económico. Contudo, a direcção dessa infuência depende do tipo de categoria da
dívida, será negativa, quando se tratar de dívida interna e positiva, quando for dívida externa.

1.1.1.1 Dívida Pública e Desenvolvimento Sócio-Económico

O segundo modelo, usado para testar a relação desenvolvimento sócio-económico e dívida


pública, assumiu as seguintes hipóteses:

Ho: O endividamento público não tem impacto sobre o desenvolvimento sócio-económico

H1: O endividamento público tem impacto sobre o desenvolvimento sócio-económico

O modelo usado foi o seguinte:

Devido a alta correlação entre algumas variáveis explicativas, (vide mais detalhes no tóprico
de diagnóstico do modelo), modelo final estimado foi o seguinte:

ep (0,0246) (0,00104) (0,00250) (0,000165)

n=18 R2 = 0,8539 SSE=0,00554

Sendo o modelo estatisticamente significativo, os resultados dos coeficientes sugerem um


impacto negativo do endividamento público externo sobre o desenvolvimento sócio-
economico, dado que o coeficiente associado a esta variável ―depip‖ é estatisticamente
significativo ao nível de significância de 5%. O endividamento público interno e a inflação
não tem nenhum impacto sobre o desenvolviemento sócio-económico (os coeficientes das
suas variáveis são estatisticamente insignificantes, com valores P-values > 0,05 (Veja na
tabela de regressão do segundo modelo do Anexo 7).

Em geral, de acordo com os resultados, o aumento da dívida pública em Moçambique poderá


compromete o desenvolvimento sócio-economico. O coeficiente estatisticamente

76
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 76
Grupo Moçambicano da Dívida

significativo no modelo mostra que, o aumento do rácio dívida externa/PIB impacta


negavtivamente no índice de desenvolvimento humano em 0,000964.

1.1.1.2 Dívida Pública e Redução da Pobreza

O terceiro modelo visava estudar a relação entre o endividamento público e redução da


pobreza, pelo que, as hipoteses consideradas foram as seguintes:

Ho: O endividamento público não tem impacto sobre a redução da pobreza

H1: O endividamento público tem impacto sobre a redução da pobreza.

Para tal, usou-se um modelo contendo as mesmas variáveis explicativas do modelo anterior
(kpib, xmpib, pibpc, depib, dipib), contudo, devido a alta correlação entre algumas delas e a
busca da melhor especificação do modelo (veja mais detalhes no tópico de diagnóstico deste
modelo), foi, no final, estimado o seguinte modelo:

ep (0,622) (0,0112) (0,0262) (0,00523) (0,0652)

n=18 R2 = 0,7994 SSE=2,931

Considerando que o modelo é estatisticamente significativo (porque o P-value do teste é


0,0002 < 0,05), os resultados acima sugerem que a relação entre a dívida pública, tanto
interna como externa, não tem influência sobre a redução da desigualdade social, dada a
insignificância estatística dos coeficientes associados as variáveis ―dipip‖ e ―depip‖. É
igualmente estatisticamente insignificante a formação bruta de capital fixo, o que quer dizer
que esta não tem impacto sobre a redução da pobreza.

A inflação mostra-se ser negativa na redução da pobreza, pois o seu coeficiente é


estatisticamente significativo. O aumento da inflação em 1pp, aumenta a desigualdade social
ou o coeficiente de gini em 0,112.

Em geral, os resultados da estimação dos 3 modelos sugeridos mostram que a dívida pública,
embora influencie positivamente no crescimento económico na sua vertente externa (1o
modelo), tal não se converte no desenvolvimento sócio-económico e que o aumento da dívida
pode comprometer ligeiramente o desenvolvimento (2o modelo). A regressão do 3o modelo

77
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 77
Grupo Moçambicano da Dívida

mostra que, tal como para o desenvolvimento, a dívida pública não é favorável para redução
da pobreza (a dívida pública não influencia na redução da desigualdade social).

3.7.4 Testes de diagnóstico dos modelos

Com vista a analisar a confiabilidade das estimativas, foram realizados 5 testes para cada
modelo designadamente: multicolinearidade, forma funcional, heteroscedasticidade,
autocorrelação, normalidade dos erros.

O teste da heteroscedasticidade ajuda a mostrar se a variância do erro é ou não constante para


diferentes observações. Quando não for constante (erros heteroscedásticos), os estimadores
de variâncias [var(bj)] são enviesados, tornando inválidas as estatísticas t e F. A
heterosdasticidade será testada nos modelos estimados com base no teste de Breuch-Pagan.

O teste de correlação serial faz-se para aferir a correlação entre membros de séries de
observações ordenadas no tempo. Se esta correlação for estatisiticamente significativa,
embora os estimadores de MQO continuem lineares, não viesados, consistentes e
assintoticamente normais, estes não serão mais eficientes (BLUE), pelo que as variâncias
estimadas serão viesadas (em geral, subestimadas). Este teste será realizado com base no
proposto por Breuch-Godfrey.

O teste de multicolenearidade serve para ver a existência forte de correlação entre duas (ou
mais) variáveis independentes. A alta multicolinearidade torna os erros padrão muito grandes,
fazendo com que os coeficientes não sejam estimados com exactidão. O grau da
multicolinearidade neste estudo será medido pelo tamanho do VIF (factores de inflação da
variância), seguindo a seguinte classificação:

 VIF < 5 indica baixa multicolinearidade;


 VIF > 5 indica multicolinearidade moderada;
 VIF > 10 indica alta multicolinearidade.

O teste da forma funcional é feito para se saber se não houve omissão de uma variável
relevante no modelo. A má especificação do modelo será testada com base no teste RESET
(regression specification error test - teste de erro de especificação regressão) proposto por
Ramsey (1969).

78
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 78
Grupo Moçambicano da Dívida

O teste da normalidade dos erros é importante pois, os resultados da regressão linear só são
válidos se seus resíduos forem normalmente distribuídos. A violação deste pressuposto afecta
os intervalos de confiança; testes t e F. Para os modelos estimados será usado o teste de
normalidade de Shapiro-Wilk

1.1.1.3 Modelo dívida pública e crescimento económico

O modelo da dívida pública e crescimento foi primeiramente estimado pelo método dos
MQO, onde, embora não sofrendo de heterescedasticidade, foi detectado que sofria do
problema da correlação serial. Para corrigir o problema, mudou-se o método de estimação
para MQGV, que elimina o problema da auto-correlação. Outros teste de diagnóstico do
modelo são apresentados a seguir.

Teste de heteroscedasticidade

O teste de heteroscendasticidade não rejeitou a hipótese nula de variância constante ao nível


de significância de 5% (P-value > 0,5578), segundo o resultado abaixo:

. hettest

Breusch-Pagan / Cook-Weisberg test for heteroskedasticity


Ho: Constant variance
Variables: fitted values of cpibr

chi2( 1) = 0.34
Prob > chi2 = 0.5578

Teste de multicolinearidade

Quanto ao problema da multicolinearidade, a variável ―xmpib‖, ―depib‖ e ―kpib‖ apresentam


uma vif’s superiores a 5, com mais gravidade para ―xmpib‖, o que compromete a magnitude
das estimativas dos coeficientes destas variáveis (veja a tabela dos vif’s abaixo). Contudo,
como o modelo foi estimado apenas para obter a relação (previsão) entre as variáveis divida e
crescimento, a multicolinearidade não afecta este aspecto. Por outro lado, o uso do modelo
em Prais Winstem aumentou significtivamente a significância estatística do modelo assim
como dos coeficientes individuais.

79
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 79
Grupo Moçambicano da Dívida

. vif

Variable VIF 1/VIF

xmpib 12.43 0.080450


depib 6.17 0.161968
kpib 5.53 0.180872
dipib 3.00 0.333695
inf 1.22 0.819817

Mean VIF 5.67

Teste da forma funcional do modelo

Quanto ao teste da forma funcional do modelo, este não rejeitou a hipótese nula da não
omissão de variáveis relevantes no modelo ao nível de significância de 5%, pelo que, o
modelo foi bem especificado. (veja os resultados deste teste abaixo) Especificação do modelo

. estat ovtest

Ramsey RESET test using powers of the fitted values of cpibr


Ho: model has no omitted variables
F(3, 9) = 2.54
Prob > F = 0.1220

Teste da normalidade dos erros

O teste da normalidade do erros resulta mostra que os erros são normalmente distribuidos (o
P-value é inferior a 0,05, pelo que, não se rejeita a hipótese nula da distribuição normal dos
resíduos ao nível de significância de 5%).

. swilk residuos

Shapiro-Wilk W test for normal data


Variable Obs W V z Prob>z

residuos 18 0.94633 1.180 0.331 0.37033

1.1.1.4 Modelo dívida pública e desenvolvimento sócio-económico

Como um dos modelos principais do estudo, buscou-se fazer uma avaliação mais rigorosa do
mesmo, de modo a conferir maior confiabilidade e precisão das estimativas dele resultantes.
Para tal, foram feitos os seguintes testes:

Teste de heteroscedasticidade

Este teste mostra que o modelo não sofre do problema da heteroscedasticidade. O P-value >
0,05, pelo que, não se rejeita a H0 da homoscedasticidade ao nível de significância de 5%.

80
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 80
Grupo Moçambicano da Dívida

. hettest

Breusch-Pagan / Cook-Weisberg test for heteroskedasticity


Ho: Constant variance
Variables: fitted values of idh

chi2( 1) = 0.05
Prob > chi2 = 0.8218

Teste de auto-correlação

O teste de auto-correlação mostra que tal não constitui um problema para o modelo dado que
não se rejeitou a H0 da não existência da correlação serial ao nível de significância de 5% (P-
value > 0,05).

. estat bgodfrey

Breusch-Godfrey LM test for autocorrelation

lags( p) chi2 df Prob > chi2

1 0.094 1 0.7585

H0: no serial correlation

Teste de multicolinearidade

A escolha das variáveis explicativas (de controlo) do modelo final estimado foi feito tendo
em conta também o grau de correlação entre as mesmas, buscando eliminar aquelas que
estivessem altamente correlacionadas com as demais, desde que não fossem as relevantes
para análise que este trabaho propôs-se a realizar. Com base nas correlações abaixo, foram
eliminadas variáveis ―xmpib‖, ―urpop‖ e ―sdex‖.

. corr kpib xmpib sdex dipib depib inf urpop


(obs=18)

kpib xmpib sdex dipib depib inf urpop

kpib 1.0000
xmpib 0.6475 1.0000
sdex 0.1109 -0.3916 1.0000
dipib 0.3546 0.7852 -0.3164 1.0000
depib -0.0292 -0.7155 0.6637 -0.7002 1.0000
inf -0.4022 -0.2095 -0.4939 -0.1631 -0.0451 1.0000
urpop 0.4373 0.8788 -0.3853 0.8937 -0.8098 -0.3224 1.0000

Assim, a muticolinearidade passou a não constituir um problema para o modelo com vif’s
abaixo (inferiores a 5), conferindo a confiabilidade exigida para inferir a luz dos sinais e
magnitudes dos coeficientes estimados.

81
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 81
Grupo Moçambicano da Dívida

. vif

Variable VIF 1/VIF

dipib 2.12 0.471804


depib 2.07 0.483714
inf 1.08 0.923650

Mean VIF 1.76

Teste da forma funcional

Não obsatnte tenham sido eliminadas algumas variáveis no modelo para reduzir o grau da
multicolinearidade, o teste da forma funcional feito posteriormente demonstrou que o modelo
não omitiu nenhuma variável relevante, dado que não se rejeitou a hipótese nula da não
omissão de variáveis relevantes ao nível de significância de 5%, de acordo com o teste de
RESET proposto por Ramsey (veja a seguir).

. estat ovtest

Ramsey RESET test using powers of the fitted values of idh


Ho: model has no omitted variables
F(3, 11) = 1.12
Prob > F = 0.3842

Teste da normalidade dos resíduos

Por fim, foi feito o teste da normalidade dos erros, onde ao nível de significância de 5%, o
teste de Shapiro-Wilk mostrou que os erros são normalmente distribuídos.

. swilk r

Shapiro-Wilk W test for normal data


Variable Obs W V z Prob>z

r 18 0.91382 1.894 1.279 0.10050

1.1.1.5 Modelo Dívida Pública e Redução da Pobreza

A especificação deste modelo, tal como o anterior, foi feita de conferir maior confiabilidade
as estimativas, pelo que, algumas variáveis que envidenciavam multicolinearidade foram
eliminadas, sem prejuízo da forma funcional correcta do modelo que não sofresse de
heteroscedasticidade nem de correlação serial. Assim,foram feitos os seguintes testes:

Testes de heteroscedasticidade e correlação serial

82
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 82
Grupo Moçambicano da Dívida

O teste de heteroscedasticidade não rejeitou a H0 da homocesdasticidade ao nível de


sinifcância de 5%, pelo que pode-se observar abaixo que o P-value é maior que 0,05.

. hettest

Breusch-Pagan / Cook-Weisberg test for heteroskedasticity


Ho: Constant variance
Variables: fitted values of gin

chi2( 1) = 0.73
Prob > chi2 = 0.3935

Do mesmo modo que não se observou o problema da correlação serial (com base no teste de
Breuch-Godfrey, não se rejiata a hipótese nula de ausência da correlação ao nível signicância
de 5% porque o P-value é maior que 0,05).

. estat bgodfrey

Breusch-Godfrey LM test for autocorrelation

lags( p) chi2 df Prob > chi2

1 0.518 1 0.4718

H0: no serial correlation

Teste de multicolinearidade

O teste de multicolineariade, feito depois de se eliminar as variáveis altamente


correlacionadas e com observância do princípio de parcimónia, mostra que o modelo não
sofre de multicolinearidade, com todos vif’s inferiores a 5 e uma média dos vif’s de 1,85.

. vif

Variable VIF 1/VIF

dipib 2.54 0.393719


depib 2.23 0.448497
kpib 1.43 0.697629
inf 1.21 0.826054

Mean VIF 1.85

Testes da forma funcional e normalidade dos erros

O teste da forma funcional do modelo mostrou não ter havido omissão de variáveis relevantes
no modelo por não ter rejeitao, ao nível de significância de 5%, a hipótese do teste de ramsey
abaixo.

83
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 83
Grupo Moçambicano da Dívida

. ovtest

Ramsey RESET test using powers of the fitted values of gin


Ho: model has no omitted variables
F(3, 10) = 0.24
Prob > F = 0.8669

Por fim, os erros deste modelo mostram-se normalmente distribuídos ao nível de


significância de 5%, dado que P-value é maior que 0,05, com base no teste de normalidade
dos erros de Shapiro-Wilk.
. swilk residuos

Shapiro-Wilk W test for normal data


Variable Obs W V z Prob>z

residuos 18 0.97048 0.649 -0.866 0.80671

84
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 84
Grupo Moçambicano da Dívida

4 CONCLUSÕES
Depois de Moçambique ter observado a crise de endividamento público em 1998, a partir de
1999, com a implementação das iniciativas HIPC entre 1999 a 2001 e MDRI em 2006, a
dívida pública praticamente mostrou tendência decrescente em termos de volume e
sustentabilidade no intervalo de 1999 a 2006. Findos estes programas sucessivos de perdão da
dívida, observou-se uma relativa estabilidade no crescimento do endividamento público
assim como da sua sustentabilidade de 2006 até 2009. Contudo, a partir de 2010, tendo o país
se tornado elegível a contrair créditos não concessionais, assistiu-se então uma corrida a este
tipo de financiamento e uma aceleração do endividamento público de 37% do PIB em 2013
para 49% em 2014 e, em 2015, atingiu um pouco mais de 73% do PIB, incluindo as novas
dívidas descobertas. Dado o crescimento acelerado do endividamento público, a sua
sustentabilidade também começou a ficar comprometida. A análise estática de
sustentabilidade em 2015, quando incluídas as novas dívidas descobertas, revela que a dívida
pública moçambicana é insustentável. A análise dinâmica com base nos últimos 5 anos
(2010-2015), também mostra um crescimento insustentável do endividamento público, pois,
o aumento do valor presente da pública assim como do seu serviço não é compensada pelo
aumento das receitas, exportações e nem do PIB.

Distinguem-se factores de natureza económica e político-institucionais que contribuíram para


a deterioração do endividamento público em Moçambique até 2015. Dos económicos
destacam-se: a corrida do Governo a opção por créditos não-concessionais (74% das dívidas
contraídas desde 2012 não são concessionais); o deterioramento das condições do
endividamento externo (o elemento donativo reduziu duma média de 80%, em 2005, para
cerca de 52%, em 2012, e menos de 40% em 2015; período de graça caiu duma média de 10,
em 2005, para uma média de 6 anos, em 2012, e inferior a 5 anos, em 2015; o período de
maturidade reduziu duma média de 37 anos, em 2005, para uma média de 22 anos, em 2012,
e menos de 20 anos, em 2015). Dos factores políticos destacam-se: a governação frágil
caracterizada pela falta de planos claros e consistentes sobre o recurso e a aplicação do
crédito público externo; a facilidade de crédito de algumas agências financeiras
internacionais que não levam em conta as prioridades da população dos países devedores e;
fraca implementação das leis existentes devido a fraqueza das Instituições do Estado (AR,
PGR e Tribunal Administrativo), que permitiram que algumas dívidas (EMATUM, MAM, e
ProIndicos) fossem contraídas a margem da lei.

85
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 85
Grupo Moçambicano da Dívida

Devido a deterioração da sustentabilidade da dívida pública nos últimos 5 anos, a realização


dos direitos sociais em Moçambique foi comprometida, sendo que, a proporção de despesa
afecta aos chamados ―sectores prioritários‖ e aos Ministérios chaves (Educação, Saúde,
Agricultura) tem registado uma ligeira tendência decrescente nos últimos 4 anos, impondo
sérios desafios de financiamento ao desenvolvimento económico e social e a redução da
pobreza no País. Por outro lado, uma análise dos investimentos públicos em infra-estruturas
com financiamento a crédito garantido inscritos do Plano Integrado de Investimentos (2014-
2017) e juntando com os investimentos das ―dívidas ocultas‖, mostra que pouco foram
tomados em consideração factores de reversão dos benefícios destes investimentos a favor da
maioria da população para o desenvolvimento sócio-económico e redução da pobreza, na
medida em que foram ignorados elementos de viabilidade dos projectos financiados
(EMATUM, MAM e ProÍndicos), elementos de ligação intersectorial (excessiva
concentração directa ou indirecta no sector extractivo, sem ligação com os restantes sectores);
foi ignorada a questão de assimetria regional pela concentração dos projectos na zona sul, e
principalmente, na Cidade e Província de Maputo; e foi também ignorado o aproveitamento
do potencial agrícola que o país possui, considerado sector chave para o desenvolvimento,
devido ao pouco investimento direccionado a este sector.

A análise empírica, como complemento da análise do impacto económico e social da dívida


pública, veio mostrar que, embora o endividamento público tenha contribuído para o
crescimento económico no período em análise, o mesmo não se converteu em
desenvolvimento sócio-económico e nem na redução da pobreza. Os resultados indicaram o
aumento do rácio Dívida Pública Externa/PIB influencia, embora numa magnitude muito
baixa, negativamente no índice de desenvolvimento humano. Quanto a pobreza, os resultados
mostraram que, tanto a dívida pública externa como interna, não tem nenhuma ligação com a
redução da pobreza através da melhoria na distribuição do rendimento.

86
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 86
Grupo Moçambicano da Dívida

5 RECOMENDAÇÕES
Em geral, é imperioso, para o Governo, estabelecer uma matriz de prioridades para o
endividamento dos próximos anos, por forma a, por um lado, retomar a situação de
sustentabilidade estática e dinâmica do endividamento público e, por outro lado, contrair
dívidas para projectos de viabilidade e prioridade consensuais entre a maioria dos actores de
desenvolvimento, olhando para sua ligação com o desenvolvimento sócio-económico e
redução da pobreza em Moçambique.

Especificamente recomenda-se:

 Que qualquer financiamento de cariz não concessional de novos projectos seja


considerado caso a caso, com base na rentabilidade económica, impacto na
sustentabilidade da dívida e efeitos potenciais nas decisões de financiamento dos
doadores e credores concessionais;

 Para o futuro, é necessário, para a sustentabilidade da dívida, ter se em conta as


prioridades e viabilidade das dívidas em benefício das empresas que contraem-nas sob
o aval do Estado;

 Que sejam implementados novos procedimentos de validação e reconciliação da base


de dados da dívida bem como a preparação da análise de sustentabilidade da dívida,
considerando os últimos contornos das dívidas ocultas;

 Que seja melhorada/revista a actual estratégia de endividamento público, uma vez que
a actual está desactualizada, por não levar em conta as dívidas ocultas recentemente
descobertas;

 Que as contas relacionadas com empréstimos públicos, sejam periodicamente


auditadas;

Para o contexto da actuais dívidas ocultas, é preciso que o governo tome medidas como:

 A realização de uma auditoria forense sobre as Dívidas;


 O não aumento de impostos;
 O não ao corte das despesas nos sectores prioritários;
 Corte sobre o excesso de mordomias das elites políticas;

87
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 87
Grupo Moçambicano da Dívida

 Que o governo através da Assembleia da República tome medidas urgentes para se


reduzir o crescente fluxo ilícito de capitais no País através da evasão fiscal, (nos
últimos anos , Moçambique apresentou o registo de exportação da madeira para o
mercado mundial de 260 384 m3 mas a China sozinha apresentou um registo de 450
000 m3 de importação da madeira de Moçambique);

 Que haja revisão urgente dos tratados de dupla tributação com foco para questões de
aproveitamento e uso abusivo pelos investidores;

 Haja revisão da legislação que favorece incentivos fiscais as empresas Multinacionais


e aos cidadãos influentes, por outro lado, o parlamento moçambicano crie
mecanismos para melhorar a monitoria aos grandes projectos criando bases para
apresentação dos relatórios de contas pelas companhias na Assembleia da República.

Outras recomendações importantes para o governo podem ser resumidas no seguinte:

 É necessáio publicar regularmente sobre o que se passa ou acontece em volta do


problema da dívida, o ponto de situação da auditoria internacional que esta sendo feita
no país , assim como das investigações que estão sendo feitas no país através de
comissões específicas do Parlamento;

 Sugere-se também que ao invés de contrair dividas para comprar armamentos que só
estimula mais violência, exorta se uma reconciliação mais pacifica por via de diálogo
e não por via de guerra para resolver os problemas da nação; para que o país tenha
uma divida sustentável e um desenvolvimento sustentável é necessário que o país
esteja em Paz, pelo que, deve haver a cessação imediata e definitiva do conflito
militar;

 Na comunidade internacional, é necessário que se encontrem formas necessárias para


que Moçambique recupere a sua imagem e a confiança perante a comunidade
internacional, através da melhoria nos aspectos de boa governaçao: transparência na
colecta e gestão dos recursos públicos;

 Recomenda-se também a revisão dos instrumentos que guiam a Nação, e


responsabilizar os contratantes das dívidas ocultas, de forma também a garantir que a
comunidade internacional possa retomar a confiança para o povo moçambicano;

88
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 88
Grupo Moçambicano da Dívida

 O governo deve também auxiliar-se dos vários estudos e análises feitas pelos vários
actores de desenvolvimento para o incremento de subsídios na implementação das
suas políticas;

 Os relatórios e outros documentos produzidos pelo Governo sobre a Dívida, devem


ser mais acessíveis ao público e não se limitarem apenas na pagina electrónica; É
preciso que a informação sobre a Dívida chegue até as províncias e os distritos, e não
estar muito centralizada como se tem verificado actualmente;

 Os mecanismos e instrumentos existentes para o engajamento da sociedade civil no


processo de contratação da Dívida são deficitários, mesmo os outros espaços criados
fora do âmbito da Dívida ( tais como Concelhos Consultivos, entre outros) não se tem
verificado o seu funcionamento de forma eficaz, havendo assim a necessidade de uma
maior coordenação e revisão dos mecanismos e instrumentos de participação pública.
Nisso, os espaços de diálogo como Observatório de Desenvolvimento estão
―moribundos‖ em algumas províncias. É preciso revitalizar e aproveitar melhor estes
espaços porque têm mostrado resultados plausíveis;

 Embora existam normas e leis que permitem a auditoria das Contas Públicas, contudo,
os legítimos representantes (legisladores), devem exercer melhor o seu papel de
fiscalização para um maior controlo dos processos, tendo em conta que os
parlamentares têm mostrado fragilidades perante a matéria de gestão de finanças
públicas.

Para a Sociedade Civil e o GMD, vão algumas recomendações:

 É preciso incluir os deputados na formação sobre a matéria de Dívida, porque nota-se


uma maior fragilidade no tratamento desses assuntos na Assembleia da República
(recomendação dos deputados);

 Que a semelhança das experiencias dos outros países e da primeira campanha da


Dívida, da qual o GMD foi líder do processo, uma das principais estratégias para o
sucesso da presente campanha da dívida é ter acções focalizadas e massificadas em
grupos representativos (ex: Camponeses, Religiosos, Académicos, Estudantes ,
Mulheres, Jovens etc.).

89
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 89
Grupo Moçambicano da Dívida

 O GMD deve reforçar os seus mecanismos e instrumentos de disseminação de


informação e capacitação sobre a matéria actual da Dívida ao nível das províncias
abrangendo os distritos e localidades visto que as populações locais são elas que
sofrem mais dos impactos da situação actual da Dívida e são elas que pagam também
uma ―fatia‖ desta dívida.

 Deve-se criar um grupo de trabalho entre GMD, Parlamento e Governo para definir
uma estratégia de comunicação no âmbito da Dívida;

 Pode-se criar também parcerias globais para influenciar os credores e os


parlamentares dos países credores para a renegociação das Dívidas e maior
responsabilização sobre as Dívidas ilegítimas, por forma a minimizar os efeitos sobre
as populações mais pobres.

90
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 90
Grupo Moçambicano da Dívida

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Baldacci, E. & Kumar, M. S. (2010). Fiscal deficits, public debt, and sovereign bond
yields. IMF Working Paper, 184, Agosto.
2. Boas, B.M.N. (2014). Impacto da Dívida Pública no Crescimento Económico: uma
abordagem aos PIIGS. Dissertação (Mestrado em Economia) –ISEG, Lisboa.
3. Browne, E. & Millington, K. A. (2015). Social development and human development:
Topic guide. Birmingham / Oxford: GSDRC, University of Birmingham / HEART.
4. Caracas, Venezuela (2006), O papel e o significado da dívida pública na reprodução
do capital.
5. Carvalho, D. (1995). Economic Policies for Monetary Economies: Keynes’s
economic policy proposals for an unemployment-free economy. Texto para Discussão
IEI-UFRJ, nº 331, Fevereiro.
6. Castel-Branco, Carlos Nuno Moçambique Perspectivas Económicas-1994.
7. Clements, B., Bhattacharya, R., and Nguyen, T. Q. (2003). External Debt, Public
Investment, and Growth in Low-income Countries. IMF Working paper WP/03/249
(Washington: International Monetary Fund).
8. Craigwell, R., Thomas, C. & Drakes, L. (2012). Threshold Effects of Sovereign Debt:
Evidence from the Caribbean Kevin Greenidge.
9. Da Costa, Carlos Eugênio Ellery Lustosa (2009). A Sustentabilidade da Dívida
Pública. In: Silva, Anderson Caputo; Carvalho, Lena Oliveira de; Medeiros, Otavio
Ladeira de (s/d). Dívida Pública: A Experiência Brasileira. Brasília: Secretaria do
Tesouro Nacional.
10. Elmendorf, D.W, e Gregory Mankiw (1999). ―Government debt‖. Handbook.
11. Figueiredo, António Manuel, Pessoa, Argentino e Silva, Maria Rui-Crescimento
Economico, Editora Escolar.
12. FMO, Fórum de Monitoria do Orçamento (2016). Indignação em relação a dívida
pública de Moçambique. Maputo.
13. Franco, Sousa (1996). Finanças Públicas e Direito Financeiro. 4ª Edição. Coimbra
Editora.
14. Garselaz, Paulo da Silva (2000). Dívida pública: Uma abordagem teórica, um relato
histórico e o caso do Rio Grande do Sul. Dissertação (mestrado em Administração) –
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Administração, Rio Grande do
Sul.

91
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 91
Grupo Moçambicano da Dívida

15. GMD, Grupo Moçambicano da Dívida (2004). Dívida Pública em Moçambique: O


endividamento externo e interno e considerações sobre suas ligações com a pobreza e
desenvolvimento. Maputo, Moçambique.
16. GMD, Grupo Moçambicano da Dívida (2006). Divida Interna e Externa de
Moçambique. Maputo.
17. GMD, Grupo Moçambicano da Dívida (2010), Divida Pública e Privada de
Moçambique. Maputo. in: www.divida.org.mz/publicacoes_e_relatorios_rdp
18. GMD, Grupo Moçambicano da Dívida (2015). Relatório da III Conferência sobre a
Dívida Pública, Maputo, 20 de Dezembro de 2015. Maputo, Moçamnbique em:
www.divida.org.mz/publicacoes_e_relatorios_rdp
19. Grupo Moçambicano da Dívida (2016). Relatório do Fórum Internacional sobre a
Dívida Pública. Maputo. em: www.divida.org.mz/publicacoes_e_relatorios_rdp
20. Grupo Moçambicano da Dívida-GMD (2016). Relatório do Primeiro Fórum de
Diálogo rumo a Campanha sobre a Gestão da Dívida Pública. Maputo em:
www.divida.org.mz/publicacoes_e_relatorios_rdp
21. Governo de Moçambique/Ministério do Plano e Finanças. (2002). Lei nº. 09/2002 -
Sistema de Administração Financeira do Estado (SISTAFE). Maputo.
22. Governo de Moçambique (2011). Plano de Acção para Redução da Pobreza 2011-
2014. Maputo.
23. Governo de Moçambique/Ministério da Economia e Finanças (2015). Estratégia de
médio prazo para Gestão da Dívida Pública 2015 – 2018. Maputo.
24. Governo de Moçambique/ Ministério do Plano e Finanças: Conta Geral do Estado
(1998 – 2015). Maputo.
25. Governo de Moçambique/Ministério da Planificação e Desenvolvimento/Direcção
Nacional de Estudos e Análise de Políticas (2010). Pobreza e Bem-Estar em
Moçambique: Terceira Avaliação Nacional. Maputo.
26. Governo de Moçambique/Ministério das Finanças (2014). Relatório de Análise de
Sustentabilidade da Dívida Pública, Maputo.
27. Herman, J. (2002). A macroeconomia da dívida pública: notas sobre o debate teórico
e a experiência brasileira recente (1999-2002). Rio de Janeiro: Fundação Konrad
Adenauer, (Cadernos Adenauer; v.3, n.4).

92
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 92
Grupo Moçambicano da Dívida

28. IESE, Instituto de Estudos Económicos e Sociais (2016). Introdução à problemática


da dívida pública: contextualização e questões imediatas, Maputo: IDEIAS, 30 de
Maio de 2016 Boletim Nº 85.
29. INE, Instituto Nacional de Estatística (2010). Inquérito Sobre Orçamento Familiar
2008/2009. Maputo: Instituto Nacional de Estatística.
30. Keynes, John Maynard (1985). A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. 2ed.
São Paulo: Nova Cultural.
31. Johnson, A. (2001). Aspecto Chave para Análise da Sustentabilidade da Dívida
Interna. London: Debt Relief Internatinal.
32. Khan, Mohammad Mohabbat (1993). Desenvolvimento: Significado, Estratégias e
Metas: In: Qualidade de Vida e Desenvolvimento- Rev. Lua Nova, nr 31.
33. Kumar, M., & Woo, J. (2010). Public debt and growth. IMF Working Papers, 174,
Julho.
34. Lampreia, Luiz Felipe (1995). Relatório brasileiro sobre desenvolvimento social.
Estudos Avançados (24).
35. Lei 9/2002 de 12 de Fevereiro. Lei do Sistema de Administração Financeira do Estado
(SISTAFE).
36. Loko, B., Mlachila, M., Nallari, R., &Kalonji, K. (2003). The impact of external
indebtedness on poverty in low-income countries (working paper No. 3/06): IMF.
37. Franco, A.S (2002). Manual de Finanças Públicas. Gabinete de Estudos, Ministério
do Plano e Finanças, Imprensa Universitária, Maputo, Moçambique, Setembro 2002.
38. Marx, Karl (1985) O Capital. Livro 1, Vol. II, 2ed. São Paulo: Nova Cultural.
39. Madeiros, Eduardo Raposo, Economia Internacional, 5ª edição, Lisboa
40. Minsky, H. (1986). Stabilizing an unstable economy. New Haven: Yale University.
353p.
41. Musgrave, R. A. (1974). Teoria das finanças públicas. São Paulo: Atlas.
42. Naeem Akram (2016). Public debt and pro-poor economic growth evidence from
South Asian countries, Economic Research-Ekonomska Istraživanja, 29:1, 746-757,
DOI: 10.1080/1331677X.2016.1197550. Para aceder a ligação deste artigo clica em:
http://dx.doi.org/10.1080/1331677X.2016.1197550
43. Navalha, A problemática da dívida externa, Staff Paper Nr. 16, Banco de
Moçambique 2002.

93
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 93
Grupo Moçambicano da Dívida

44. Perreira, P.T. (2012), Economia e Finanças Públicas. 3 Edição. Lisboa: Escolar
Editora.
45. Presbitero, A. F. (2012), Total public debt and growth in developing countries.
European Journal of Development Research.
46. Reinhart, C. M., & Rogoff, K. S. (2010), Growth in a time of debt. American
Economic Review.
47. Ribeiro, Eduardo Pontual & Junior, Sabino da Silva Porto (2004). Crescimento pró-
pobre no Brasil – uma análise exploratória in
http://www.anpec.org.br/encontro2004/artigos/A04A047.pdf
48. Ricardo, D. (1982). Princípios de Economia Política e Tributação. São Paulo: Abril
Cultural.
49. Samuelson, Paul, et al. Economia-18ª Ediçcao, Mc Graw Hill
50.
51. Schclarek, A. (2004), Debt and economic growth in developing and industrial
countries. Lund University Department of Economics Working Paper, 34, Dezembro.
52. Sen, Amartya. (1999). Development as Freedom, Oxford, Oxford University Press.
53. Silva Fernando (1987). Finanças Publicas. 3edição. São Paulo: atlas, Smith, A.
(1988). A riqueza das nações, Vol. I. São Paulo: Nova Cultural.
54. Teixeira, N.G. (2005). Desenvolvimento Económico: Notas sobre o seu
Financiamento. 2ed. São Paulo: Revista Desenbahia.

Lista de Websites
<http://www.macauhub.com.mo/pt/2016/02/04/mocambique-precisa-de-500-milhoes-de-
dolares-para-expandir-rede-de-abastecimento-de-agua/ > Acesso a 2 de Março de 2016, 20
horas e 10 minutos
< http://www.divida.org.mz/publicacoes_e_relatorios_rdp > Acesso a 16 de Julho de 2016,
15 horas e 16 minutos
<http://dx.doi.org/10.1080/1331677X.2016.1197550> Acesso a 28 de Abril de 2016, 22
horas e 17 minutos
<http://www.anpec.org.br/encontro2004/artigos/A04A047.pdf> Acesso a 15 de Abril de
2016, pelas 16 horas e 5 minutos
< http://www.ine.gov.mz/ > Acesso a 16 de Julho de 2016, 16 horas e 13 minutos.

94
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 94
Grupo Moçambicano da Dívida

< http://www.imf.org/external/country/MOZ/ > Acesso a 16 de Julho de 2016, 17 horas e 37


minutos.
< http://www.worldbank.org/pt/country/mozambique > Acesso a 16 de Julho de 2016, 18
horas e 13 minutos.
< http://www.fmo.org.mz/.../INDIGNACAO-SOCIEDADE-CIVIL-CRISE-DA-DIVIDA.pdf
> Acesso a 30 de Setembro de 2009, 14 horas e 37 minutos.
< http://www.undp.org/content/brazil/pt/home.html > Acesso a 16 de Julho de 2016, 19 horas
e 13 minutos.
< http://www.mpd.gov.mz/ > Acesso a 16 de Julho de 2016, 20 horas e 13 minutos.
< http://www.ta.gov.mz/ > Acesso a 16 de Julho de 2016, 22 horas e 37 minutos.
<http://www.unicef.org.mz/nosso-trabalho/o-trabalho-do-unicef/water-sanitation-hygiene/>
Acesso a 2 de Agosto de 2016, 20 horas e 22 minutos.

95
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 95
Grupo Moçambicano da Dívida

ANEXOS

96
Dívida Pública, Perfil, Sustentabilidade e seu Impacto Económico e Social em Moçambique 96
Anexo 1: Dados sobre Dívida Pública (Milhões de USD)
Descrição 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Dívida Pública Total 6,120.70 5,652.42 4,808.40 4,989.11 3,645.18 3,842.90 4,572.69 4,726.00 3,590.00
Dívida Pública Interna 0.00 4.72 49.20 33.81 77.18 205.00 350.67 235.00 267.00
Dívida Externa Pública 6,120.70 5,647.70 4,759.20 4,955.30 3,568.00 3,637.90 4,222.02 4,491.00 3,323.00
Serviço da Dívida Total 105.37 84.44 26.08 44.63 98.20 92.00 126.00 117.00 107.00
Serviço da Dívida Interna 0.00 0.00 8.33 22.53 63.89 49.16 73.75 66.00 46.00
Serviço da Dívida Externa 105.37 84.44 17.75 22.11 34.31 42.84 52.25 51.00 61.00
Receita Corrente Total 449.23 488.58 494.68 440.98 479.48 611.11 856.99 866.00 1,023.00
PIB 3,898.40 4,086.58 3,890.43 3,568.93 3,597.19 4,307.09 7,387.25 6,328.00 7,444.00
Exportações (Bens e Serviços)* 528.20 654.90 816.60 703.10 679.30 1,043.90 1,503.90 1,745.00 2,381.00
Exportortações (Grandes Projectos) 34.30 75.90 127.20 440.50 468.00 680.90 1,048.50 1,263.00 1,689.00

Descrição 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Dívida Pública Total 3,644.80 3,928.60 4,992.00 3,890.50 5,156.80 5,636.40 6,794.50 8,170.70 10,810.56
Dívida Pública Interna 337.60 292.00 467.80 571.70 768.20 807.20 996.20 1,105.50 1,731.58
Dívida Externa Pública 3,307.20 3,636.60 4,524.20 3,318.80 4,388.60 4,829.20 5,798.30 7,065.20 9,079
Serviço da Dívida Total 101.00 115.90 102.00 275.80 311.10 1,054.20 1,201.10 1,029.30 1,324
Serviço da Dívida Interna 52.20 67.00 50.80 220.10 248.20 958.60 1,057.50 854.80 1,039.27
Serviço da Dívida Externa 48.80 48.90 51.20 55.70 62.90 95.60 143.60 174.50 285
Receita Corrente Total 1,369.60 1,468.60 1,800.10 1,895.90 2,138.60 3,287.90 4,111.70 4,871.40 3,822
PIB 8,456.60 9,382.30 10,332.70 9,857.50 12,784.50 13,952.40 15,452.40 17,857.00 14738.808
Exportações (Bens e
Serviços)* 2,412.10 2,653.30 1,852.60 2,243.10 2,776.30 1,275.30 4,112.60 3,916.40 3377.9876
Exportortações (Grandes
Projectos) 1,843.50 1,851.10 1,265.00 1,668.10 2,015.30 2,194.50 2,325.40 2,429.50 1914.0661
Fonte: (CGE 1998-2015) e RPCGE (1998-2014)

Anexo 2 : Dados sobre sustentabilidade da Dívida Pública


Tabela 1: Indicadores de Sustentabilidade da Dívida Pública Total (%)
Indicador 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Stock da Dívida/PIB 157 138.3 123.6 139.8 101.3 89.2 61.9 74.7 48.2
Serviço da Dívida/PIB 2.7 2.1 0.7 1.3 2.7 2.1 1.7 1.8 1.4
Receita Corrente/PIB 11.5 12 12.7 12.4 13.3 14.2 11.6 13.7 13.7
Receitas
Correntes/Dívida 7.3 8.6 10.3 8.8 13.2 15.9 18.7 18.3 28.5
Serviço da
Dívida/Receita Corrente 23.5 17.3 5.3 10.1 20.5 15 14.7 13.5 10.5

Indicador 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Stock da Dívida/PIB 43.1 41.9 48.3 39.5 40.3 40.4 44 45.8 73.35

Serviço da Dívida/PIB 1.2 1.2 1 2.8 2.4 7.6 7.8 5.8 8.98

Receita Corrente/PIB 16.2 15.7 17.4 19.2 16.7 23.6 26.6 27.3 25.93

Receitas Correntes/Dívida 37.6 37.4 36.1 48.7 41.5 58.3 60.5 59.6 35.35
Serviço da Dívida/Receita
Corrente 7.4 7.9 5.7 14.5 14.5 32.1 29.2 21.1 34.65
Fonte: Cálculos do autor com base (CGE 1998-2015) e RPCGE (1998-2014)

97
Tabela 2: Indicadores de Sustentabilidade da Dívida Publica Externa (%)
Indicador 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Valor Actual da Dívida/PIB 24.8 22.2 29.5 29.6 37 39.9
Valor Actual da Dívida/Exportações 67 87.2 116.7 90.9 98 143.4
Valor Actual da Dívida/Receitas 111.9 103.7 116.4 113.4 129 158.1
Serviço da Dívida
Externa/Exportações 2.8 1.7 2.4 3.4 3.4 4 8.2
Serviço da Dívida Externa/Receitas 2.8 2.9 2.9 3.4 4.3 5 9.1
Exportações/Stock da Dívida
Externa 40.9 67.6 63.3 26.4 70.9 55.4 37.2
Divida Externa /PIB 43.78526 33.668 34.32751 34.61197 37.52362 39.56544 61.59912
Fonte: Cálculos do autor com base (CGE 1998-2015) e RPCGE (1998-2014) e MEF (2016)

Tabela 3: Indicadores de sustentabilidade da dívida pública interna (%)


Indicador 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Stock da Dívida Interna/PIB 0.00 0.12 1.26 0.95 2.15 4.76 4.75 3.71 3.59
Serviço da Dívida Interna/ Receitas
Públicas 0.0 0.0 1.7 5.1 13.3 8.0 8.6 7.6 4.5
Stock de Dívida/Receitas Públicas 0.00 0.97 9.95 7.67 16.10 33.55 40.92 27.14 26.10
Serviço da Dívida Interna/PIB 0.00 0.00 0.21 0.63 1.78 1.14 1.00 1.04 0.62

Indicador 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Stock da Dívida Interna/PIB 3.99 3.11 4.53 5.80 6.01 5.79 6.45 6.19 11.75
Serviço da Dívida Interna/ Receitas
Públicas 3.8 4.6 2.8 11.6 11.6 29.2 25.7 17.5 27.2
Stock de Dívida/Receitas Públicas 24.65 19.88 25.99 30.15 35.92 24.55 24.23 22.69 45.31
Serviço da Dívida Interna/PIB 0.62 0.71 0.49 2.23 1.94 6.87 6.84 4.79 7.05

Fonte: Cálculos do autor com base (CGE 1998-2015) e RPCGE (1998-2014)

Tabela 4: Mapa sobre dívida pública de Moçambique 2015

98
Anexo 3 : Dados sobre o PIB
Tabela 1 : PIB por sector de actividade (em milhões de meticais)
Ramos de Actividade 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Agricultura 38,120 33,118 36,636 41,057 43,454 45,841 49,229 55,051
Pesca, Aquacultura e Actividades dos serviços relacionados 2,006 2,103 2,115 2,139 2,323 2,328 2,349 2,529
Indústrias Extractivas 537 857 949 1,221 1,418 2,433 2,450 3,132
Manufactura 14,109 16,246 21,883 23,796 27,852 31,529 32,204 33,155
Produção e Distribuição de Electricidade e Gás 3,091 2,833 3,113 3,437 3,810 4,470 5,271 5,978
Captação, Tratamento e Distribuição de Água 280 257 282 311 309 309 321 343
Construção 1,992 2,251 2,402 2,661 2,918 2,714 3,073 3,394
Comércio, Reparação de Veículos Automóveis 11,652 12,023 14,118 14,762 15,742 16,857 18,896 22,923
Transportes, Armazenagem e Comunicações 12,842 13,182 14,087 15,266 15,714 17,230 18,599 20,541
Alojamento, Restaurantes e Similares 3,520 3,760 3,910 4,111 4,356 4,489 5,100 5,614
Informação e Comunicação 4,849 4,978 5,320 5,764 5,722 7,344 8,388 8,908
Actividades Financeiras 1,084 1,960 2,378 2,753 3,043 3,810 5,690 5,898
Actividades Imobiliárias, Alugueres e Serviços Prestados às
Empresas 15,559 15,768 16,562 16,681 16,841 17,934 18,195 18,379
Administração Pública, Defesa e Segurança Social
Obrigatória 5,980 6,346 7,761 8,334 8,735 9,140 9,767 10,858
Educação 7,505 8,233 9,797 10,258 11,113 12,413 13,890 15,048
Saúde e Acção Social 2,052 2,292 2,498 2,641 2,793 3,001 3,214 3,681
Outras Actividades de Serviços Colectivos, Sociais e
Pessoais 1,630 1,929 2,060 2,128 2,179 2,232 2,285 2,340

Produto Interno Bruto 143,816 146,230 164,832 179,327 190,984 205,902 223,858 245,911
Continuação (em milhões de meticais)
Ramos de Actividade 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Agricultura 60,463 63,954 68,286 70,830 73,577 73,843 75,133 77,064
Pesca, Aquacultura e Actividades dos serviços relacionados 2,757 3,935 3,757 5,007 5,538 6,333 6,576 6,802
Indústrias Extractivas 3,735 4,002 4,346 4,478 5,665 9,511 11,002 15,805
Manufactura 34,173 33,231 33,231 34,270 34,989 35,006 36,458 37,299
Produção e Distribuição de Electricidade e Gás 6,483 8,168 9,360 9,642 10,097 9,933 10,480 11,223
Captação, Tratamento e Distribuição de Água 383 508 529 591 603 647 686 709
Construção 3,793 4,441 5,553 6,247 6,842 6,930 7,431 8,415
Comércio, Reparação de Veículos Automóveis 24,915 27,596 27,994 31,658 33,475 38,380 44,272 46,377
Transportes, Armazenagem e Comunicações 22,534 23,809 27,832 29,054 29,755 31,974 34,344 34,442
Alojamento, Restaurantes e Similares 6,465 7,059 7,301 8,170 8,980 9,264 9,810 10,436
Informação e Comunicação 9,714 10,765 11,330 12,632 13,638 14,450 16,019 17,600
Actividades Financeiras 6,420 9,478 9,152 11,657 16,613 18,445 21,114 22,758
Actividades Imobiliárias, Alugueres e Serviços Prestados às
Empresas 18,411 20,419 21,667 23,358 24,609 26,355 27,949 30,089
Administração Pública, Defesa e Segurança Social
Obrigatória 11,413 12,330 13,579 15,681 18,087 20,509 21,272 23,026
Educação 16,974 17,355 20,041 21,214 23,399 26,639 27,432 28,712
Saúde e Acção Social 4,281 4,482 4,790 5,109 5,139 5,311 5,135 5,991
Outras Actividades de Serviços Colectivos, Sociais e
Pessoais 2,396 2,532 2,673 2,833 2,970 3,118 3,266 3,431
Fonte: INE

99
Tabela 2: PIB Regional e provincial (2000 – 2014) em milhões de meticais
Regiões/Provincias 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Norte 32,755.45 36,592.60 39,631.25 42,398.50 45,092.62 48,801.14 54,230.92

Niassa 4,533.12 5,109.78 5,738.46 6,302.48 6,794.78 7,387.33 7,361.62

Cabo Delgado 6,726.57 7,747.08 8,607.69 9,358.23 10,089.22 10,969.06 11,251.17

Nampula 21,495.77 23,735.74 25,285.10 26,737.80 28,208.63 30,444.75 35,618.13

Centro 48,986.95 55,053.73 60,433.17 64,552.68 69,389.10 75,888.01 77,848.49

Zambézia 14,915.43 16,812.82 18,291.35 19,480.39 20,796.14 22,609.70 24,404.82

Tete 8,627.55 9,725.06 10,759.61 11,650.04 12,971.85 14,326.94 16,094.80

Manica 7,603.94 8,571.24 9,504.33 10,122.17 10,912.83 11,640.64 9,670.09

Sofala 17,693.79 20,109.45 21,698.56 23,109.09 24,914.19 27,086.87 27,678.78

Sul 64,487.30 73,185.20 79,262.50 84,033.07 91,420.66 99,393.15 118,677.56

Inhambane 9,212.47 10,219.56 11,118.27 11,841.02 13,589.56 14,774.66 18,847.86

Gaza 7,750.17 8,571.24 9,504.33 9,931.18 10,706.92 11,416.78 11,254.54

Maputo provincial 19,156.09 22,581.92 24,567.79 26,737.80 29,032.24 30,892.47 42,967.10

Maputo cidade 28,514.79 31,812.49 34,072.11 35,523.07 38,297.84 42,309.25 45,608.06

Moçambique 146,229.70 164,831.54 179,326.92 190,984.25 205,902.39 223,858.45 250,756.97


Continuação
Tabela 2: PIB Regional e provincial (2000 – 2014) em milhões de meticais
Regiões/Provincias 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Norte 58,949.18 63,630.74 67,606.49 71,963.20 76,841.49 82,097.19 87,817.54 97,278.55

Niassa 8,027.75 8,490.22 9,058.36 9,562.87 10,343.89 11,014.23 11,695.79 13,324.68

Cabo Delgado 12,082.73 13,164.12 14,000.87 14,885.31 15,866.65 16,914.51 18,795.24 20,379.47

Nampula 38,838.70 41,976.40 44,547.26 47,515.02 50,630.96 54,168.45 57,326.50 63,574.40

Centro 77,413.20 82,977.60 88,624.99 94,281.24 101,357.53 108,811.99 117,519.28 125,496.02

Zambézia 24,268.36 26,502.94 28,241.83 29,852.78 32,080.82 34,125.42 36,757.58 41,167.99

Tete 16,004.81 15,953.31 17,313.74 18,349.55 20,201.28 22,077.83 24,734.13 24,321.56

Manica 9,616.02 10,712.46 11,409.80 12,119.92 12,834.49 13,729.58 14,497.44 16,042.78

Sofala 27,524.02 29,808.90 31,659.63 33,958.99 36,240.94 38,879.16 41,530.13 43,963.69

Sul 127,809.98 135,729.05 144,038.46 154,106.76 164,953.51 176,944.11 188,787.40 200,649.38

Inhambane 20,538.14 21,739.04 23,282.53 24,569.07 27,127.76 28,837.27 30,564.25 34,653.42

Gaza 12,319.17 13,492.77 14,343.90 15,227.03 16,098.76 17,256.72 18,282.22 20,695.84

Maputo provincial 45,822.26 47,663.33 50,131.38 53,155.49 57,502.12 61,476.56 66,063.19 68,366.08

Maputo cidade 49,130.42 52,833.92 56,280.66 61,155.18 64,224.86 69,373.56 73,877.73 76,934.04

Moçambique 264,172.36 282,337.40 300,269.95 320,351.20 343,152.54 367,853.29 394,124.21 423,423.96

100
Anexo 4: Dados sobre Projectos de financiamento garantido para Moçambique
Tabela 1: Dados que constam do documento do PII
Custo Sector
Inicio- Tipo de Sector de
Projecto USD Financiador Económico e
Fim financiamento Actividade
(10^6) Social

Construção da
AFD Província de
Barragem Moamba 320.00 2015 Concessional Água
(Franca) Maputo
Major
Reabilitação do 2013-
78.76 China Concessional Agricultura Gaza
Regadio de Chokwe 2016
Reabilitação da 2015-
49.32 China N/Concessional Agricultura Cabo Delgado
Barragem de Chipembe 2017
Reabilitação do
2013-
Regadio do Baixo 43.14 BAD Concessional Agricultura Gaza
2017
Limpopo
Expansão do Porto de 2013-
112.67 BAD, JICA Concessional Transportes Nampula
Nacala (Cidade) 2015
Central Térmica a Gás
172.00 JICA 2014 Concessional Eletrecidade Cidade de Maputo
de Maputo
Hospital Central de 2013-
57.00 Coreia Concessional Saúde Zambézia
Quelimane 2015
Abastecimento de Banco
2014-
Água ao Grande 178.00 Mundial, Concessional Água Cidade de Maputo
2019
Maputo Holanda
Construção de 1200
Habitação ou Cabo Delgado,
Casas(Cabo Delgado, 47.00 EXIM Bank 2014 Concessional
Imobiliária Zambézia e Tete
Zambézia e Tete)
Construção do Aterro
Cidade de Maputo
Sanitário para as EXIM Bank Saúde
60.83 2014 Concessional e Maputo
Cidades de Maputo e Coreia Pública
Província
Matola
Ponte Maputo-Katembe Cidade de Maputo
e Estrada para Ponta de 725.80 China 2014 N/Concessional Transportes e Maputo
Ouro Província
Reabilitação da Estrada
N6 entre Machipanda e 2014-
433.00 China Concessional Transportes Manica e Sofala
Beira nas Províncias de 2017
Manica e Sofala
Circular de Maputo Cidade de Maputo
(inclui a Ponte da 298.94 China 2014 N/Concessional Transportes e Maputo
Macaneta) Província
Estrada N13: Cuamba-
291.60 BAD, JICA 2014 Concessional Transportes Niassa
Mandimba-Lichinga
Estrada N104-Nampula
75.40 Coreia 2014 Concessional Transportes Nampula
Namitil
Estrada Corredor
2013-
Nacala III: Muita- 150.19 BAD, JICA Concessional Transportes Niassa
2016
Mandimba- Lichinga
Reabilitação da Estrada
2014-
do Tica-Buzi-Nova 149.72 Índia Concessional Transportes Sofala
2016
Sofala
Fonte : PII (2014)

101
Tabela 2: Dados sobre projectos de financiamento não concessional (não constam do PII)
Custo
Sector Económico Sector de
Projecto USD Financiador Tipo de financiamento
e Social Actividade
(10^6)
Aeroporto
Internacinal de
Nacala 144.00 Brasil Não Concessional Transportes Nampula
Central Térmica de Província de
Ressano Garcia 52.00 França Não Concessional Eletricidade Maputo
Terminal de carga
do Porto da Beira 31.00 Índia Não Concessional Transportes Sofala
Credit Suisse/VTB
EMATUM 850.00 Capital Bank Não Concessional Pesca/Segurança Nacional
Credit Suisse/VTB
ProÍndicos 622.00 Capital Bank Não Concessional Segurança Nacinal
Credit Suisse/VTB
MAM 535.00 Capital Bank Não Concessional Segurança Nacional
Ministério do
Interior 221.00 s/d Não Concessional Segurança Nacional
Fonte: MEF (2016), FMO (2016)

Anexo 5: Dados sobre a evolução das condições da dívida pública externa


Taxa de juro
média da Período Médio
Dívida Período médio de Elemento Donativo de Maturidade
Divida Pública Graça da Dívida da Dívida Pública da Dívida
Anos Puplica Externa Pública Externa Externa Pública Externa Taxa de Câmbio
1998 6120.7 0.6761 11.6776 79.1204 35.068 11.8745833
1999 5652.418 0.8025 10.0047 79.6535 39.8685 12.7751117
2000 4808.404 0.8313 12.9402 82.8519 46.6494 15.22725
2001 4989.11 0.6614 10.8601 81.6118 40.086 20.7036408
2002 3645.176 0.8613 9.2681 75.9926 35.5247 23.6779567
2003 3842.899 0.8124 9.6992 79.6256 41.8623 23.7822675
2004 4572.685 0.782 10.0025 80.2779 41.3174 22.5813425
2005 4726 0.6881 10.1042 80.148 38.1453 23.060965
2006 3590 0.7059 9.5952 79.7371 42.1679 25.4007792
2007 3644.8 0.798 9.7007 77.9652 37.457 25.8403415
2008 3928.6 1.1397 13.0733 77.7838 36.4406 24.3006425
2009 4992 1.2734 8.199 69.7263 33.4948 27.5183
2010 3890.5 0.7713 9.8306 76.8787 35.4943 33.9600988
2011 5156.8 0.7823 6.5555 72.1616 36.4163 29.0675999
2012 5636.4 2.4232 6.3007 52.881 22.1303 28.3729845
2013 6794.5 7.6318 68.2212 27.5755 30.1041111
2014 8170.7 8.225 67.4175 24.898 31.3526877
2015 39.9824741
Fonte: Banco Mundial (2016)

102
Anexo 6 : Dados usados nos modelos econométricos

Taxa de % Serviço da
% abertura- dívida % Divida % Divida %Crescimento Índice de Coeficiente
FBCF/PIB %(X+M)/PIB externa/exportações interna/PIB externa/PIB económico Desenvolvimento de Gini
Anos (Kpib) (xmpib) (sdex) (dipib) depib (cpibr) Humano(idh) (gin)
1998 21.6522 41.13165 19.9 0 157.01 11.85939 0.281 45.26991
1999 36.55869 49.68614 12.9 0.11545 138.20 7.822974 0.346 45.70609
2000 33.3677 52.39623 2.2 1.26474 122.33 1.678503 0.333 46.14647
2001 24.78747 55.41755 3.1 0.94734 138.85 12.72097 0.346 46.59109
2002 32.04128 80.41614 5.1 2.14545 99.19 8.794058 0.362 47.04
2003 24.88705 76.50955 4 4.75964 84.46 6.500607 0.371 46.79346
2004 20.543 77.20534 3.5 4.74692 57.15 7.811186 0.38 46.54821
2005 18.24199 76.36775 2.9 3.71365 70.97 8.720668 0.396 46.30425
2006 17.26021 71.20178 2.6 3.58678 44.64 9.851055 0.405 46.06156
2007 15.13072 70.74989 2 3.99215 39.11 7.426061 0.431 45.82015
2008 17.25147 68.51084 1.8 3.11224 38.76 6.876205 0.44 45.58
2009 14.68637 71.24709 2.8 4.52737 43.79 6.351462 0.443 45.34111
2010 18.29548 77.73145 1.7 5.79964 33.67 6.687732 0.45 45.10347
2011 25.66719 88.33447 2.4 6.00884 34.33 7.117607 0.456 44.86708
2012 47.38192 110.8296 3.4 5.78538 34.61 7.198186 0.408 44.63193
2013 54.46881 114.3758 3.4 6.44689 37.52 7.141683 0.413 44.39801
2014 55.36268 118.1226 4 6.19085 39.57 7.444069 0.416 44.16531
2015 42.25015 99.69029 8.2 11.7484 61.60 6.609492 0.427135 43.93384

Fonte: Cálculos do autor com base nos dados de :PNUD, INE & Banco Mundial

103
Anexo 7: Resultados da regressão dos 3 modelos

Primeiro Modelo: Divida Pública e Crescimento Económico


Prais-Winsten AR(1) regression -- iterated estimates

Source SS df MS Number of obs = 18


F( 5, 12) = 5.02
Model 69.6453767 5 13.9290753 Prob > F = 0.0103
Residual 33.298928 12 2.77491067 R-squared = 0.6765
Adj R-squared = 0.5418
Total 102.944305 17 6.05554733 Root MSE = 1.6658

cpibr Coef. Std. Err. t P>|t| [95% Conf. Interval]

kpib -.3305197 .0763424 -4.33 0.001 -.4968555 -.1641839


xmpib .2781881 .063104 4.41 0.001 .1406964 .4156799
inf -.2060079 .0880009 -2.34 0.037 -.3977454 -.0142705
dipib -.7526202 .2730485 -2.76 0.017 -1.347542 -.1576986
depib .0815996 .0206311 3.96 0.002 .0366483 .126551
_cons -5.564784 3.485087 -1.60 0.136 -13.15813 2.028568

rho -.6678148

Durbin-Watson statistic (original) 2.898496


Durbin-Watson statistic (transformed) 2.313103

Fonte: STATA 2010

Segundo Modelo: Dívida Pública e Desenvolvimento Económico


. reg idh inf dipib depib

Source SS df MS Number of obs = 18


F( 3, 14) = 27.27
Model .03242009 3 .010806697 Prob > F = 0.0000
Residual .005548657 14 .000396333 R-squared = 0.8539
Adj R-squared = 0.8225
Total .037968748 17 .002233456 Root MSE = .01991

idh Coef. Std. Err. t P>|t| [95% Conf. Interval]

inf .0000309 .0010416 0.03 0.977 -.0022031 .002265


dipib .0015292 .0024981 0.61 0.550 -.0038287 .0068872
depib -.000964 .0001651 -5.84 0.000 -.0013181 -.00061
_cons .4563843 .0246477 18.52 0.000 .4035202 .5092485

Fonte: STATA 2010

Terceiro Modelo: Dívida Pública e Redução da Pobreza


. reg gin kpib dipib depib inf

Source SS df MS Number of obs = 18


F( 4, 13) = 12.95
Model 11.6786821 4 2.91967054 Prob > F = 0.0002
Residual 2.93063691 13 .225433608 R-squared = 0.7994
Adj R-squared = 0.7377
Total 14.6093191 17 .859371709 Root MSE = .4748

gin Coef. Std. Err. t P>|t| [95% Conf. Interval]

kpib -.0136899 .0112537 -1.22 0.245 -.0380021 .0106223


dipib -.102331 .0652204 -1.57 0.141 -.2432312 .0385692
depib .0052313 .0040885 1.28 0.223 -.0036013 .0140639
inf .1116249 .0262687 4.25 0.001 .0548749 .1683749
_cons 45.10454 .621609 72.56 0.000 43.76163 46.44744

Fonte: STATA 2010


104
Quem somos?
O Grupo Moçambicano da Dívida é uma coligação constituída (desde 1996-97),
por entidades colectivas (ONG’s), Sindicatos, Associações de Camponeses,
Grupos Religiosos, Instituições de Pesquisa, Órgãos de Comunicação Social e
pessoas singulares que compreendem académicos, investigadores, jornalistas e
outras pessoas interessadas em discutir e advogar soluções em assuntos da
pobreza, desenvolvimento, gestão sustentável dos recursos e dívida externa
Visão:
Uma Sociedade que participa activamente nos esforços de redução da pobreza e
promoção da boa governação para um desenvolvimento sócio-económico justo e
sustentável
Missão
Promover um movimento de reflexão em torno das questões de desenvolvimento
económico e social equilibrado do país, quer concorrendo no desenho de
estratégias e políticas de erradicação da pobreza, quer procurando sinergias com
outros segmentos da sociedade com vista à melhor gestão de recursos públicos e
eliminação de factores de dependência.

Associação Grupo Moçambicano da Dívida (GMD),


Av. Eduardo Mondlane, no 2985, Alto Maé, Maputo, Moçambique

Tel. +258 21 322277; Fax: +258 21 322276


E-mail: divida@tvcabo.co.mz, gmdpesquisa@gmail.com
Página da internet: www.divida.org.mz

APOIO:

105

Potrebbero piacerti anche