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Cidade Alta

As ruas da zona mais antiga da capital nacional, onde a cidade começou, são
limpas, tranquilas, circunspectas.
Por PEDRO CARDOSO.

ONDE SE HOSPEDAR: Hotel Continental. Estabelecimento com 83 quartos dispões


de restaurante, bar, ginásio, entre outros serviços.
ONDE COMER: Restaurante Naquele Lugar. Restaurante especializado na cozinha
portuguesa.
Desde que Luanda é Luanda, a Cidade Alta tem sido o centro do poder político. Da
urbe primitiva, depois da colónia, depois do país independente. Os edifícios cor-de-
rosa dão um toque doce a um centro turístico bastante policiado. É que,
oficialmente, o presidente vive por aqui.
Para quem se agita diariamente nesta hiperactiva Luanda, a Cidade Alta é um
cantinho de tranquilidade. Tipo respiro fundo. As ruas da zona mais antiga da
capital nacional, onde a cidade começou, são limpas, tranquilas, circunspectas.
Uma paleta verde-árvore e cor-de-rosa-oficial pinta o cartão-postal que é a Cidade
Alta.
Quando Luanda virou cidade, em 1605, a zona urbana limitava-se ao corredor que
vai da Fortaleza de São Miguel ao antigo Convento de São José (lugar onde, no
século XIX, se construiria o Hospital Josina Machel). Palácios, sobrados, igrejas para
muitos santos começaram a nascer nessa franja do morro, já então conhecido por
Cidade Alta. Na parte baixa, acumulavam-se os armazéns e postos comerciais que
davam vida e dinheiro à emergente cidade.
O esguio planalto rapidamente foi dominado pelas torres da Igreja da Misericórdia,
construída em 1576 (actual rua 17 de Setembro), e da Sé Episcopal, edifício datado
de 1583, e que é agora ocupado pela Casa Militar da Presidência da República. Em
1593, também a Igreja dos Jesuítas abriu portas de par em par. Em 1607, foi
construído o palácio do governador e uns anos mais tarde, em 1623, a Casa da
Câmara (onde se instalou o Tribunal de Relação de Luanda).
O conjunto arquitectónico é um verdadeiro museu ao ar livre. A forte presença
policial e militar, justificada pela proximidade do edifício da Presidência da
República e da residência oficial de José Eduardo dos Santos, nem sempre ajuda a
criar esse ambiente relaxado que poderia promover esta zona a ex-libris turístico
de Luanda. Quando caminhar pela zona, preste atenção para não entrar em zonas
restringidas e acate as instruções das autoridades no momento de tirar fotografias.
É que muitas vezes, por motivos de segurança, os cliques, selfies e coisas do tipo
não são bem vistos. Ainda assim, há cantinhos imperdíveis e públicos, como o
jardim em frente ao Palácio do Governo. Ali funcionou, a partir de 1668, o
desaparecido hospício de Santo António.
Para além dos edifícios do núcleo central, muitos deles ocupados por ministérios e
serviços governamentais, há outros nas redondezas que fazem parte da malha
urbana inicial de Luanda. Um deles, já abandonado, mas interessante, é a antiga
estação da Cidade Alta, testemunho da época em que o Caminho-de-Ferro de
Luanda passava por esta parte da cidade, no século XIX. O Museu das Forças
Armadas, na Fortaleza de São Miguel e, já cá em baixo, o Museu Nacional de
Antropologia fecham um roteiro perfeito para quem quer conhecer melhor Luanda
e a sua história.
A também chamada “colina de São José” merece uma visitinha atenta. Quando lhe
tiramos a capa de “oficialismo”, a Cidade Alta aparece tal como é: um lugar de um
património cultural, arquitectónico, religioso e histórico único, onde se condensam
as raízes da nossa Luanda e do nosso país.

Luanda nasceu na Ilha do Cabo


Artur Queiroz|
11 de Janeiro, 2011

Os primeiros portugueses estabeleceram-se em Luanda, de fonte segura e


indesmentível, em meados (Junho ou Julho) de 1576. Mas chegaram à Ilha do
Cabo no dia 11 de Fevereiro de 1575. Esta deve ser a data que marca a
transformação da pequena aldeia já existente, com algumas dezenas de
habitantes, numa das mais belas cidades da costa ocidental de África.

A Baixa de
Luanda com o Morro de São Miguel ao fundo
Fotografia: @ 2011 Horácio Dá Mesquita

Os primeiros portugueses estabeleceram-se em Luanda, de fonte segura e


indesmentível, em meados (Junho ou Julho) de 1576. Mas chegaram à Ilha do
Cabo no dia 11 de Fevereiro de 1575. Esta deve ser a data que marca a
transformação da pequena aldeia já existente, com algumas dezenas de
habitantes, numa das mais belas cidades da costa ocidental de África.
O almirante Paulo Dias de Novais saiu de Lisboa meio ano antes, com a
incumbência de fundar uma grande cidade na costa marítima, já que existiam
relações diplomáticas privilegiadas com o Reino do Congo, no interior.
Paulo Dias de Novais aportou à Ilha de Luanda porque o rei do Congo se dizia
proprietário desses domínios. Os Dembos, séculos mais tarde, provaram que
essa "posse" não era pacífica e muito menos aceite. Mas vamos falar de
Luanda, desde o seu nascimento como cidade, até aos anos 50 do século
passado.
O padre Garcia Simões, companheiro de Paulo Dias de Novais, na sua crónica
da viagem, descreve assim a Luanda dos primórdios: "já estamos em um sítio
que no princípio se ofereceu a muitos ser mais cómodo para nossa povoação.
Tem nele o Governador feito um forte de taipa e assentada artelharia e é num
monte que entra com uma grande ponta pelo mar, no qual estamos por ser
bom sítio".
Esta é a descrição da bela cidade de Luanda, "mina de escravaria" e que
venceu mil dificuldades para se afirmar. Elias da Silva Corrêa, na sua "História
de Angola", dá uma breve pincelada sobre a Luanda dessa época: "o mais
vezível, e constante, hé, e tem sido os direitos da escravaria; pois, hé inegável,
que o giro dos escravos, fecunda grandes interesses à monarchia". É público,
histórico e notório, que Luanda nasceu apenas como entreposto de escravos.
Em 1624, o governador Fernão de Sousa tenta mudar as coisas, mas sem
sucesso. A situação manteve-se inalterada pelo menos até 25 de Agosto de
1802. O governador D. António Miguel de Melo dá para Lisboa o primeiro sinal
de que a cidade e a colónia valem mais do que uma simples feitoria para
vender escravos. Numa carta ao rei, é de uma dureza extrema: "não devemos
emprehender mais conquistas, maiormente conservando as que temos
indefezas e na lastimosa decadência que se observa, e que o nosso cuidado
daqui em diante se deve encaminhar a tratarmos estes povos com suavidade e
justiça, procurando fazer-lhes esquecer os danos, as violências e os males em
que já por três séculos que os oprimimos e molestamos".
O tráfico ilícito de escravos a partir desta data, passou a ter os dias contados.
Mas em 19 de Julho de 1877, a poderosa Associação Comercial de Loanda
enviou um ofício ao governador no qual denunciava que "o comércio lícito
continua a ser mais um acessório, tido como necessário, do que outra cousa. O
negócio principal são os carregamentos de gente para a America". A
escravatura tinha sido abolida 41 anos antes e Luanda continuava a ser um
empório de escravaria. Os comerciantes voltaram à carga e num relatório do
mesmo ano afirmam: "a exportação clandestina de escravos que se lhe seguiu
depois do decreto de 10 de Dezembro de 1836, enfraqueceu de braços por tal
forma esta província, que não podia deixar de manifestar-se uma crise enorme
pela grande redução na afluência de produtos de agricultura indígena aos
pontos de permutação".
O relatório da Associação Comercial de Loanda põe o dedo na imensa ferida:
"para maior desgraça, as fortunas feitas com a escravatura, ainda que de
origem ilegal, depois da sua proibição, não beneficiaram a província de forma
alguma, pois nem se vincularam à terra, creando empresas agrícolas ou
industriais, nem tam pouco vieram aumentar a circulação, foram todas para a
Europa".
Em 1854, Luanda tinha cinco alfaiates, seis barbeiros, oito carpinteiros e
marceneiros, cinco ferreiros e serralheiros, três funileiros, três ourives, cinco
pintores, sete sapateiros e cinco tanoeiros, que abasteciam a população de
barris para acarretar água.
Pyrard de Laval viveu em Luanda entre 1601 e 1611. No seu excelente livro de
viagens descreve assim a cidade: "é a mais pobre terra do mundo e é nela mui
caro o sustento da vida, por não produzir mais que alguns frutos. O único trato
que ali se faz é o de escravos".
Cadornega tem um texto belíssimo sobre a Ilha de Luanda, também nessa
época, do qual cito: “muita gente da cidade vai à Ilha por devoção e recreio por
ser das boas saídas que há pela frescura e deleitação que nela acham, de
frescas sombras, de coqueiros, tamarinheiros e tamareiras e serve aos
romeiros para fazerem magustos sem serem de castanhas senão de muitos e
bons presuntos e paios”. São outros olhos a ver a mesma realidade e outros
afectos pela cidade. Os romeiros eram devotos de Nossa Senhora da Ilha do
Cabo ou de Nossa Senhora da Flor da Rosa.

Os primeiros passos

Eis a cidade de Luanda, desde a sua fundação até ao último quartel do século
XIX. Pelo caminho, temos a fase de estagnação, até 1763. Daí para a frente
surge um período de forte expansão, sobretudo devido às políticas do Marquês
de Pombal. A cidade ficou consolidada nos anos 30 do século XX.
Em Junho ou Julho de 1576, Paulo Dias de Novais saiu da Ilha de Luanda e
montou arraial no sopé do morro de S. Miguel. Na época, Luanda tinha
algumas ingombotas na zona do Bungo, afastadas das zonas pantanosas.
Mais umas palhotas no morro de S. Paulo, que era "muito prazenteiro". E
existiam outras tantas cubatas na zona onde estão hoje o palácio do Governo
Provincial e a Igreja do Carmo. Na Cidade Alta existia o famoso Largo da Feira.
Os jesuítas que acompanhavam Paulo Dias de Novais fundaram uma igreja no
Largo da Feira, a Igreja de Jesus, que ainda hoje existe mas sem a arquitectura
original.
Os artífices, marinheiros e militares começaram a fixar-se ao longo das praias
da Baía de Luanda, construindo casas "atarracadas" e inestéticas, entre a
ermida da Nazaré e o morro da Fortaleza. Mais ou menos ao que hoje
corresponde a Avenida 4 de Fevereiro (Marginal).
O pintor e gravador Nooms, Zeeman ou simplesmente o Homem do Mar criou
várias gravuras de Luanda nessa época. Numa delas está desenhada a ermida
do Espírito Santo, localizada nos Coqueiros e de campo aberto para a baía.
A cidade pouco ou nada cresceu desde a fixação dos colonos, porque a
malária e outras doentes tropicais dizimavam os europeus e o negócio da
escravatura fazia diminuir cada vez mais a população africana. A rainha D.
Leonor, fundadora da Santa Casa da Misericórdia, em 12 de Maio de 1657,
enviou para Luanda 15 donzelas da Casa Pia de Lisboa para "casarem com
pessoas beneméritas". As tropas de ocupação eram servidas com prostitutas
condenadas ou mulheres acusadas de bruxaria, enviadas à força de Lisboa
para Luanda.
Garcia Mendes Castelo Branco, em 1721, envia uma carta ao rei onde dá conta
que Luanda "tem 400 visinhos". Paulo Dias de Novais trouxe para a cidade
sapateiros, alfaiates, pedreiros, cabouqueiros, taipeiros, um físico e um
barbeiro. Estes "visinhos" eram os sobreviventes, seus descendentes e os
habitantes autóctones. No século XVIII Luanda era pouco mais do que uma
aldeia.
George Tams, médico alemão escreve em 1854: "às oito horas, todos nos
reuníamos ao almoço, que geralmente se compunha de mãos de vitela
cozidas, vagens de pimenta fervidas em água (jindungo); ou de caracóis
cozidos e algumas espécies de mariscos. Vinho tinto de Lisboa acompanhava
a comida e no final serviam o chá. Ao meio-dia, tomávamos outra refeição que
consistia de queijo e cerveja. Às seis horas era servido um suculento e variado
jantar". Aqui está a origem da nossa "sopa e almoço".
O negócio da escravatura em Luanda dava altíssimos rendimentos. O famoso
historiador Zuchelli, que tão bem descreve a cidade da época, diz que "um
português médio tem ao seu serviço 50 escravos".

A cidade das festas

A Luanda da primeira metade do século XVII vivia na opulência. Eram festas


permanentes, grandes banquetes, jogos de fortuna e azar. As senhoras só
saíam à rua acompanhadas do seu séquito de escravos que envolviam a sua
tipóia ou cadeirinha.
A 22 de Junho de 1620 houve uma festa tão grande que ficou gravada nos
anais da cidade. Nesse dia foi beatificado S. Francisco Xavier, o "Apóstolo da
Índia". A festa incluiu a representação de uma comédia com dezenas de
actores e figurantes, vestidos com indumentárias vistosas e ricas. No fim do
espectáculo houve fogo de artifício. As descrições (poucas) da época dão-nos
a certeza que a festa foi deslumbrante. Só o fogo de artifício custou aos cofres
da Câmara Municipal e aos bolsos dos beneméritos 3.000 cruzados, uma
autêntica fortuna para a época.
Desse tempo de opulência, tudo os prazeres mundanos levaram. Poucas obras
marcaram o corpo da bela Luanda. Mas ainda estão aí a Igreja da Misericórdia
(1576), a Igreja de Jesus (1593), o Palácio da Cidade Alta (1607), a Casa da
Câmara (1623), onde no tempo colonial funcionou o Tribunal da Relação de
Luanda, na Cidade Alta. A Sé Episcopal (1583) foi demolida e no seu lugar
construída uma fortaleza. Mais tarde foi também arrasada para dar lugar ao
Observatório João Capelo, onde funcionaram os Serviços Meteorológicos de
Angola e é hoje a Casa Militar da Presidência da República. O Convento de S.
José (1604) também foi arrasado para dar lugar ao Hospital Maria Pia (Josina
Machel).

Cem anos de solidão

Os holandeses ocuparam efectivamente Luanda entre 1641 e 1648. Começou


a agonia da cidade, que se arrastou por "cem anos de solidão". Quando
Salvador Correia de Sá e Benevides expulsou os holandeses, segundo o
historiador Cadornega, que combateu a ocupação estrangeira como soldado,
"Luanda estava praticamente destruída, as igrejas e casas desbaratadas, sem
tectos e sem portas, tendo, a maioria dos seus habitantes, sido dizimados
pelas guerras, pelo clima e pelas privações, apresentando-se os sobreviventes
em penoso estado de esgotamento".
A cidade de Luanda já tinha, à época da ocupação holandesa, um elevado
número de habitantes mestiços. Foram eles que na primeira linha se bateram
até à morte pela sua "bem amada cidade". A História não regista essas
belíssimas estórias de amor, em defesa de uma cidade moribunda.
Salvador Correia está perante ruínas mas não cruza os braços. Em 1651,
começou a ser construída a Sé Arquiepiscopal e a ermida da Nazaré. A Igreja
do Carmo começa a ser construída em 1661 e ao lado surge a urbanização das
Ingombotas. E de obras públicas, mais nada se fez.
Socialmente, a cidade estava em farrapos. O senado da Câmara, em 15 de
Novembro de 1664, manda uma carta ao rei e pede-lhe que não mande mais
"recolhidas para aqui se casarem, por virtude de existirem, na cidade, muitas
viúvas e donzelas cujos maridos e pais morreram nas lutas com os
holandeses".
Luanda tinha em 1664, apenas "132 visinhos". A guerra e as doenças
devastaram a população. O rei isentou os luandenses de participarem nas
"guerras do sertão", num alvará de 1762. Ao mesmo tempo intimou a
população da cidade "a cultivar a terra o mais possível" porque iam chegar
colonos do Faial (Açores) e era preciso alimentá-los.
Em 4 de Maio de 1675, o Conselho Ultramarino decidiu mandar para Luanda
criminosos de delito comum "desde que não tivessem sido condenados à pena
capital".
A cidade fantasma foi pairando ao longo das décadas e só em 1764, no
governo de D. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho, Luanda saiu do nada.
Foi então que começou a fase pombalina. O génio do Marquês de Pombal, filho
de uma negra de Malange, salvou a bela Luanda.
Os arquitectos pombalinos começaram a desenhar a Baixa onde nada mais
existia que ruínas e a chamada Quitanda Pequena, que era o seu maior
mercado. Na Cidade Alta foi construído o Hospício de Santo António (1768)
que mais tarde veio a ser demolido para dar lugar ao romântico Jardim da
Cidade Alta, que ainda hoje existe.
Nascem na Baixa vários largos. A Cidade Alta fica ligada à nova zona
urbanizada de Luanda através da Calçada do Pelourinho ou Calçada Nova e
da Calçada Baltazar de Aragão, também chamada Calçada do Cagaço, que
nasce no largo do Baleizão e acaba no acesso à Fortaleza de S. Miguel.
Apesar da renovação urbana, o esclavagismo continuava. Lopes de Lima
resume assim a época do "renascimento" de Luanda: "todos delapidavam e
traficavam dum modo escandaloso". Elias da Silva Côrrea dá um tom pitoresco
da cidade na época pombalina: "o principal luxo das senhoras em visitas,
funções de casamento ou baptisados, consiste em uma extensa comitiva de
escravos que segue a tipóia ou a cadeirinha de braços. O público adereço, com
que na rua se anunciam homens de bem, é uma rede, guarda-sol ou tipóia".
A Associação Comercial, no seu relatório para o governador de 19 de Julho de
1877 tem esta visão da cidade: "Luanda não tem atractivos nem cómodos de
espécie alguma; não tem os grandes motores de permanência, os confortos do
espírito e as comodidades do corpo".

As primeiras estatísticas

Lopes de Lima, em 1824 dá conta que Luanda tem 689 pessoas trabalhando
nas artes e ofícios. Mas em 1846 esse número já era de 2.500. Em Dezembro
de 1845 são reveladas as primeiras estatísticas sobre o comércio. A cidade
tinha 33 casas comerciais que vendiam por atacado, 35 lojas de toda a
espécie, 107 casas de mercearia e molhados (botequins), 113 quitandeiras
com fazendas e pelas ruas, 16 casas de venda de água ao povo, sete
padarias, cinco boticas e cinco talhos. É nesta época que nasce a primeira
indústria tabaqueira.
Este crescimento meteórico deve-se às leis de Sá da Bandeira e a repressão
da escravatura. O crescimento da cidade foi tal que em 28 de Dezembro de
1844 o Senado da Câmara discutiu uma proposta para atribuição de nome a 48
novas ruas de Luanda. Nasce o mercado da Kaponta (1874) e o Hospital Maria
Pia em 1883. O serviço de distribuição de água à cidade é inaugurado em
1889. O sistema anterior vinha de Salvador Correia, que mandou abrir poços
na Maianga num lugar chamado Lagoa dos Elefantes e que passou à história
como a Maianga do Povo.

A Luanda moderna

Em 1884 é inaugurado em Luanda o serviço de telefones interurbanos. Mas o


ano de 1886 foi bem mais rico. Começa a funcionar o Caminho-de-Ferro de
Ambaca e é inaugurado o serviço de comunicações telegráficas com a Europa.
A imprensa em Luanda ganha uma importância tal que se coloca ao mais alto
nível entre os periódicos de língua portuguesa.
O jornal "O Mercantil" que foi o primeiro de cariz profissional, dava esta notícia
de primeira página: "no sopé do morro de S. Miguel instalou-se a primeira
estação telegráfica; aí, um pouco mais acima, na coroa desse outeiro, onde
assenta as suas baterias a Fortaleza de S. Miguel, assinalou-se, em 15 de
Agosto de 1648, a vitória gloriosa de poucos portugueses contra denodados
invasores estrangeiros. Em verdade se trata de duas conquistas, ambas filhas
do tempo, uma a fio de espada, a outra a fio eléctrico".
Luanda, no ano de 1800 tinha apenas 6.500 habitantes, dos quais 443
europeus. Em 1887 já eram 14.500 (2.000 europeus).
No último quartel do século XIX a Luanda social vivia à volta da Associação
Comercial, que congregava todas as actividades económicas, a Associação 31
de Outubro, proprietária do Teatro Providência, onde eram representados
dramas e comédias de autores luandenses e os poetas Cordeiro da Matta e
José da Silva Maia Ferreira declamaram poemas dedicados às senhoras
africanas, a Associação Harmonia, que promovia selectos bailes e "soirées" e o
Clube Loandense, onde se jogavam cartas e bilhar. Era o antro do "vício do
jogo".
A Luanda elegante do último quartel do século XIX, ainda com a burguesia
negra com poder económico, da parte da manhã ia a banhos na baía, nas
praias ao longo da Marginal. Quem queria frequentar as praias da Ilha do Cabo
tinha de apanhar um escaler a vapor, no cais em frente à Alfândega. Cada
bilhete custava 150 réis por viagem. Ida e volta, custava 200 réis.
À tarde, os luandenses desfrutavam as sombras frondosas nas quintas de
recreio das Quipacas, onde estão hoje os armazéns do porto de Luanda e do
Caminho-de-Ferro.

Revolucionários italianos

A quinta mais famosa na zona das Quipacas era de um italiano, António Paris.
Veio para Luanda em data próxima de 1820 e morreu na cidade, a 23 de
Dezembro de 1849. O rei português assinou uma convenção com o rei da
Sicília segundo a qual os condenados podiam ir cumprir pena em Angola. Paris
e mais 212 compatriotas foram condenados a "degredo perpétuo" pelo Tribunal
de Nápoles, acusados de actos revolucionários. O Hotel Paris, nos Coqueiros,
ao contrário do que se pensa, não era assim designado em homenagem à
capital francesa, mas porque era propriedade do revolucionário italiano. Eis a
justificação de ainda hoje existirem muitas famílias tradicionais luandenses com
apelidos italianos.

As nossas Irmandades

O século XIX revela uma Luanda mais organizada, mais limpa e também mais
devota, ainda que continuem a imperar aventureiros de toda a espécie e de
várias origens. Em 1879 existiam na cidade a Irmandade do Santíssimo
Sacramento, na Igreja de Nossa Senhora dos Remédios (Sé) a Irmandade da
Santa Cruz dos Militares, na Igreja de São João e a Irmandade Terceiros de S.
Francisco, na Igreja do Carmo. Eram elas que organizavam as procissões
religiosas que levavam à frente o governador e o bispo e incluíam todos os
luandenses, dos mais ricos aos mais humildes.
Pelo jornal "O Cruzeiro do Sul" sabemos que em 1874 Luanda tinha dois
teatros, o União e o Providência. E ficámos a saber que os jogos de fortuna e
azar desgraçavam muita gente, mas só os que tinham dinheiro para jogar.
Nas proximidades da Igreja da Nazaré existia um Passeio Público que durante
décadas foi o centro cívico da cidade. A banda militar, única da cidade, dava
concertos ao ar livre no passeio público e no largo do palácio, na Cidade Alta.
A banda militar, além dos concertos ao ar livre, animava os bailes de Luanda. E
acompanhava os funerais, hábito que foi retomado mais tarde na cidade
americana de New Orleans.
A Banda Militar de Caçadores tinha uma tabela de preços. Para bailes com a
banda completa cobrava 40$000 reis. Só com 15 figuras, 30$000 reis.
Acompanhamento de funerais, de casa para a igreja e da igreja para o
cemitério, o preço era de 40$000 reis. Para tocar nas procissões, a banda
cobrava 30$000 reis mas algumas Irmandades tinham desconto. O Te-Deum
com instrumental custava 15$000 reis e cada voz custava 2$500 reis. Os
funerais com a banda à frente, são originários de Luanda e não de New
Orleans.

Água potável

Luanda teve sempre muita sede. Em 27 de Maio de 1813, o governador-geral


tinha um plano para construção de um canal para transportar água do Kwanza
para a cidade. O ousado projecto era de autoria de um condenado que cumpria
pena de degredo, de seu nome Manuel Alcoforado. Ele próprio se encarregou
da fazer a obra. O relatório do condenado ao degredo que convenceu o
governador, dizia peremptoriamente: "hé verdade não de pura intuição; mas
deduzida por 753 observações, as mais escrupulozas na pratica q. o sitio de
Calumbo á superfície d’agoa do Coanza, aonde mandei fixar uma estaca de
duração, apareceu no dia 8 de Fevereiro do prezente anno, ser de 163 palmos,
sete pollegadas e duas linhas elevado sobre a Praia da Mayenga, donde eu
havia começado a operação em 29 de Janeiro antecedente".
Havia muita e boa água e as obras do canal começaram. Mas três anos depois
pouco tinham avançado em direcção a Luanda, apesar do trabalho penoso de
dezenas de condenados ao degredo. O senado da Câmara mandou
interromper o projecto sob a alegação de o "condenado Alcoforado" não ter
competência técnica para semelhante empreitada. E Luanda continuou a
morrer de sede.
Finalmente os técnicos descobriram que a água do Bengo estava bem mais
perto e quem a bebe, nunca mais esquece Luanda.

As velhas ruas

Documentos do século XVIII citam o velho Largo da Katomba, que mais tarde
passou a chamar-se Largo do Arsénio, em homenagem a Arsénio Pompílio
Pompeu do Carpo, jornalista, dramaturgo, actor, correspondente comercial da
Praça de Londres, político e revolucionário. Foi nesta condição que o rei de
Portugal o enviou a ferros para Luanda.
Outro largo antigo é o da Mutamba (árvore) também conhecido por Calçada
Velha ou Largo de Danja a Rosa ou ainda Calçada Grande. Textos antigos
revelam que a areia do chão da praça não queimava o pé descalço, porque os
raios de sol não passavam as copas frondosas das mutambas que ali existiam.
O Largo do Pelourinho recebeu a calçada que liga a Cidade Alta à Baixa de
Luanda. Era a Calçada Nova. A Quitanda da Fazenda vendia tudo e mais
alguma coisa. Mas no Largo do Bressane a quitanda era exclusivamente de
frutas e as quitandeiras começavam a venda às cinco da manhã e às oito
arrumavam a mercadoria e partiam, para o sol não estragar os produtos.
No século XIX os luandenses ainda eram dizimados pelas doenças e o
escorbuto chegou a ser designado como "o mal de Loanda". A cidade ia
ganhando belas formas mas o saneamento básico não existia e a higiene e
limpeza deixavam muito a desejar. Apesar de tudo, os luandenses eram muito
senhores do seu bem-estar. Alexandre da Silva Corrêa diz que "o Luandense
detesta os sufrágios da miséria e prepara um trem de vida, tanto mais
pomposo, quanto mais iníquo. Impõe respeito no seu trato doméstico; enche a
sua mesa de bocados desusados na sua criação: adopta para vestuário o uso
de custosas alfaias e ricas jóias". A vida são dois dias e um já passou. É
preciso viver hoje, em grande.
Este é o percurso de Luanda, desde a sua fundação. No início dos anos 50 a
cidade estava "madura" e tinha 165.000 habitantes. Essa urbe manteve mais
ou menos os mesmos limites até 1974, ainda que se tenha expandido para as
colinas dos Combatentes, da Avenida Brasil e do Prenda, no regime de
propriedade horizontal, que até 1960, praticamente não existia.

A cerveja "Progresso"

A primeira fábrica de cerveja em Luanda nasceu no final do século XIX, mais


precisamente em 1887. O maquinismo era do mais moderno que existia no
mundo. A acta da Câmara Municipal de Luanda de 15 de Setembro de 1887
refere que "foi presente, e aprovado, um requerimento de Areas, Fonseca & Cª,
proprietários de uma fábrica de cerveja na Travessa de Sousa Coutinho,
pedindo à Câmara que mande colocar dois candeeiros na porta principal da
dita fábrica para serem iluminados à sua custa todas as noites".
A fábrica foi inaugurada no dia 24 de Dezembro (véspera de Natal) de 1887. O
jornal "O Mercantil" dá a notícia em grande estilo: "abre no dia 24 do corrente,
sábado, como está anunciado na respectiva secção deste jornal, a fábrica de
cerveja Progresso que é nesta província, e com especialidade em Luanda,
mais um elemento de prosperidade e engrandecimento da nossa indústria".
O jornal revela a "excelência das máquinas" vindas do estrangeiro e que junto
há fábrica existe um "pequeno jardim" com mesas "onde serão servidos os
clientes, com prontidão e reconhecido asseio".
A fábrica produzia cerveja e vendia directamente ao consumidor. Um dos
sócios da fábrica era o proprietário da conhecida Pensão Areias, na Baixa de
Luanda. São falsas as afirmações de que a primeira fábrica de cerveja em
Angola foi a Cuca, ainda que tenha salvo os luandenses das caríssimas e
importadas "laurentinas" que chegavam de Moçambique em garrafas de litro.

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