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As ruas da zona mais antiga da capital nacional, onde a cidade começou, são
limpas, tranquilas, circunspectas.
Por PEDRO CARDOSO.
A Baixa de
Luanda com o Morro de São Miguel ao fundo
Fotografia: @ 2011 Horácio Dá Mesquita
Os primeiros passos
Eis a cidade de Luanda, desde a sua fundação até ao último quartel do século
XIX. Pelo caminho, temos a fase de estagnação, até 1763. Daí para a frente
surge um período de forte expansão, sobretudo devido às políticas do Marquês
de Pombal. A cidade ficou consolidada nos anos 30 do século XX.
Em Junho ou Julho de 1576, Paulo Dias de Novais saiu da Ilha de Luanda e
montou arraial no sopé do morro de S. Miguel. Na época, Luanda tinha
algumas ingombotas na zona do Bungo, afastadas das zonas pantanosas.
Mais umas palhotas no morro de S. Paulo, que era "muito prazenteiro". E
existiam outras tantas cubatas na zona onde estão hoje o palácio do Governo
Provincial e a Igreja do Carmo. Na Cidade Alta existia o famoso Largo da Feira.
Os jesuítas que acompanhavam Paulo Dias de Novais fundaram uma igreja no
Largo da Feira, a Igreja de Jesus, que ainda hoje existe mas sem a arquitectura
original.
Os artífices, marinheiros e militares começaram a fixar-se ao longo das praias
da Baía de Luanda, construindo casas "atarracadas" e inestéticas, entre a
ermida da Nazaré e o morro da Fortaleza. Mais ou menos ao que hoje
corresponde a Avenida 4 de Fevereiro (Marginal).
O pintor e gravador Nooms, Zeeman ou simplesmente o Homem do Mar criou
várias gravuras de Luanda nessa época. Numa delas está desenhada a ermida
do Espírito Santo, localizada nos Coqueiros e de campo aberto para a baía.
A cidade pouco ou nada cresceu desde a fixação dos colonos, porque a
malária e outras doentes tropicais dizimavam os europeus e o negócio da
escravatura fazia diminuir cada vez mais a população africana. A rainha D.
Leonor, fundadora da Santa Casa da Misericórdia, em 12 de Maio de 1657,
enviou para Luanda 15 donzelas da Casa Pia de Lisboa para "casarem com
pessoas beneméritas". As tropas de ocupação eram servidas com prostitutas
condenadas ou mulheres acusadas de bruxaria, enviadas à força de Lisboa
para Luanda.
Garcia Mendes Castelo Branco, em 1721, envia uma carta ao rei onde dá conta
que Luanda "tem 400 visinhos". Paulo Dias de Novais trouxe para a cidade
sapateiros, alfaiates, pedreiros, cabouqueiros, taipeiros, um físico e um
barbeiro. Estes "visinhos" eram os sobreviventes, seus descendentes e os
habitantes autóctones. No século XVIII Luanda era pouco mais do que uma
aldeia.
George Tams, médico alemão escreve em 1854: "às oito horas, todos nos
reuníamos ao almoço, que geralmente se compunha de mãos de vitela
cozidas, vagens de pimenta fervidas em água (jindungo); ou de caracóis
cozidos e algumas espécies de mariscos. Vinho tinto de Lisboa acompanhava
a comida e no final serviam o chá. Ao meio-dia, tomávamos outra refeição que
consistia de queijo e cerveja. Às seis horas era servido um suculento e variado
jantar". Aqui está a origem da nossa "sopa e almoço".
O negócio da escravatura em Luanda dava altíssimos rendimentos. O famoso
historiador Zuchelli, que tão bem descreve a cidade da época, diz que "um
português médio tem ao seu serviço 50 escravos".
As primeiras estatísticas
Lopes de Lima, em 1824 dá conta que Luanda tem 689 pessoas trabalhando
nas artes e ofícios. Mas em 1846 esse número já era de 2.500. Em Dezembro
de 1845 são reveladas as primeiras estatísticas sobre o comércio. A cidade
tinha 33 casas comerciais que vendiam por atacado, 35 lojas de toda a
espécie, 107 casas de mercearia e molhados (botequins), 113 quitandeiras
com fazendas e pelas ruas, 16 casas de venda de água ao povo, sete
padarias, cinco boticas e cinco talhos. É nesta época que nasce a primeira
indústria tabaqueira.
Este crescimento meteórico deve-se às leis de Sá da Bandeira e a repressão
da escravatura. O crescimento da cidade foi tal que em 28 de Dezembro de
1844 o Senado da Câmara discutiu uma proposta para atribuição de nome a 48
novas ruas de Luanda. Nasce o mercado da Kaponta (1874) e o Hospital Maria
Pia em 1883. O serviço de distribuição de água à cidade é inaugurado em
1889. O sistema anterior vinha de Salvador Correia, que mandou abrir poços
na Maianga num lugar chamado Lagoa dos Elefantes e que passou à história
como a Maianga do Povo.
A Luanda moderna
Revolucionários italianos
A quinta mais famosa na zona das Quipacas era de um italiano, António Paris.
Veio para Luanda em data próxima de 1820 e morreu na cidade, a 23 de
Dezembro de 1849. O rei português assinou uma convenção com o rei da
Sicília segundo a qual os condenados podiam ir cumprir pena em Angola. Paris
e mais 212 compatriotas foram condenados a "degredo perpétuo" pelo Tribunal
de Nápoles, acusados de actos revolucionários. O Hotel Paris, nos Coqueiros,
ao contrário do que se pensa, não era assim designado em homenagem à
capital francesa, mas porque era propriedade do revolucionário italiano. Eis a
justificação de ainda hoje existirem muitas famílias tradicionais luandenses com
apelidos italianos.
As nossas Irmandades
O século XIX revela uma Luanda mais organizada, mais limpa e também mais
devota, ainda que continuem a imperar aventureiros de toda a espécie e de
várias origens. Em 1879 existiam na cidade a Irmandade do Santíssimo
Sacramento, na Igreja de Nossa Senhora dos Remédios (Sé) a Irmandade da
Santa Cruz dos Militares, na Igreja de São João e a Irmandade Terceiros de S.
Francisco, na Igreja do Carmo. Eram elas que organizavam as procissões
religiosas que levavam à frente o governador e o bispo e incluíam todos os
luandenses, dos mais ricos aos mais humildes.
Pelo jornal "O Cruzeiro do Sul" sabemos que em 1874 Luanda tinha dois
teatros, o União e o Providência. E ficámos a saber que os jogos de fortuna e
azar desgraçavam muita gente, mas só os que tinham dinheiro para jogar.
Nas proximidades da Igreja da Nazaré existia um Passeio Público que durante
décadas foi o centro cívico da cidade. A banda militar, única da cidade, dava
concertos ao ar livre no passeio público e no largo do palácio, na Cidade Alta.
A banda militar, além dos concertos ao ar livre, animava os bailes de Luanda. E
acompanhava os funerais, hábito que foi retomado mais tarde na cidade
americana de New Orleans.
A Banda Militar de Caçadores tinha uma tabela de preços. Para bailes com a
banda completa cobrava 40$000 reis. Só com 15 figuras, 30$000 reis.
Acompanhamento de funerais, de casa para a igreja e da igreja para o
cemitério, o preço era de 40$000 reis. Para tocar nas procissões, a banda
cobrava 30$000 reis mas algumas Irmandades tinham desconto. O Te-Deum
com instrumental custava 15$000 reis e cada voz custava 2$500 reis. Os
funerais com a banda à frente, são originários de Luanda e não de New
Orleans.
Água potável
As velhas ruas
Documentos do século XVIII citam o velho Largo da Katomba, que mais tarde
passou a chamar-se Largo do Arsénio, em homenagem a Arsénio Pompílio
Pompeu do Carpo, jornalista, dramaturgo, actor, correspondente comercial da
Praça de Londres, político e revolucionário. Foi nesta condição que o rei de
Portugal o enviou a ferros para Luanda.
Outro largo antigo é o da Mutamba (árvore) também conhecido por Calçada
Velha ou Largo de Danja a Rosa ou ainda Calçada Grande. Textos antigos
revelam que a areia do chão da praça não queimava o pé descalço, porque os
raios de sol não passavam as copas frondosas das mutambas que ali existiam.
O Largo do Pelourinho recebeu a calçada que liga a Cidade Alta à Baixa de
Luanda. Era a Calçada Nova. A Quitanda da Fazenda vendia tudo e mais
alguma coisa. Mas no Largo do Bressane a quitanda era exclusivamente de
frutas e as quitandeiras começavam a venda às cinco da manhã e às oito
arrumavam a mercadoria e partiam, para o sol não estragar os produtos.
No século XIX os luandenses ainda eram dizimados pelas doenças e o
escorbuto chegou a ser designado como "o mal de Loanda". A cidade ia
ganhando belas formas mas o saneamento básico não existia e a higiene e
limpeza deixavam muito a desejar. Apesar de tudo, os luandenses eram muito
senhores do seu bem-estar. Alexandre da Silva Corrêa diz que "o Luandense
detesta os sufrágios da miséria e prepara um trem de vida, tanto mais
pomposo, quanto mais iníquo. Impõe respeito no seu trato doméstico; enche a
sua mesa de bocados desusados na sua criação: adopta para vestuário o uso
de custosas alfaias e ricas jóias". A vida são dois dias e um já passou. É
preciso viver hoje, em grande.
Este é o percurso de Luanda, desde a sua fundação. No início dos anos 50 a
cidade estava "madura" e tinha 165.000 habitantes. Essa urbe manteve mais
ou menos os mesmos limites até 1974, ainda que se tenha expandido para as
colinas dos Combatentes, da Avenida Brasil e do Prenda, no regime de
propriedade horizontal, que até 1960, praticamente não existia.
A cerveja "Progresso"