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Boletim da Associação de Amizade P ortugal-Sahara Ocidental — Junho 2010

Portugal-Sahara

Uma mancha negra na diplomacia portuguesa


O ponto 26 do Comunicado conjunto da Cimeira Marrocos-Portugal, que decorreu em
Marraquexe, a 1 e 2 de Junho, é uma mancha negra na diplomacia portuguesa.

No referido trecho do co- A postura do Governo de


municado, diz-se expli- José Sócrates e a política
citamente: seguida pelo seu ministro
«…Sobre o Sahara, as du- dos NE, Luís Amado, re-
as Partes reafirmaram o vela falta de «coluna ver-
seu firme apoio aos esfor- tebral» em questão tão
ços do Conselho de Segu- importante como é um
rança, do Secretário-Geral processo de descoloni-
das Nações Unidas, e do zação, sobretudo vindo de
seu Enviado Pessoal, vi- um país que, não há muito
O primeiro-ministo josé Sócrates e o MNE, Luís
sando uma solução políti- Amado, recebidos pelo rei Mohamed VI tempo, se bateu pela
ca, duradoura e mutua- defesa intransigente do
mente aceitável. apresentada a 11 de Abril de Direito Internacional relativamen-
Nesse espírito, as duas Partes re- 2007 ao Secretário-geral das Na- te à autodeterminação do povo de
novaram o seu firme compromisso ções Unidas. Timor-Leste.
com o processo de negociações. Portugal considerou que uma A preocupação e azáfama em
Neste quadro, as Partes felicita- tal solução exige das Partes pro- fazer aumentar as nossas expor-
ram-se pela adopção das novas vas de realismo e de espírito de tações e reduzir o défit comercial
directivas pelo Conselho de Segu- compromisso e de trabalho nu- de Portugal não deve ser perse-
rança da ONU, particularmente a ma atmosfera propícia ao diálo- guida à custa do “esquecimento”
Resolução 1920, de 30 de Abril de go com o objectivo de se empe- premeditado de princípios que es-
2010, que «saudando os esforços nharem mais resolutamente nas tão na matriz da nossa naciona-
sérios e credíveis desenvolvidos negociações de fundo. lidade enquanto estado soberano.
por Marrocos para avançar no sen- A iniciativa marroquina a que o O projecto marroquino de 2007 de
tido de uma resolução», apela às comunicado se refere é o estatuto autonomia para o Sahara Oci-
Partes «para que demonstrem de autonomia que Marrocos — dental do ponto de vista do Direito
realismo e um espírito de compro- com o apoio declarado da França, Internacional, contem cláusulas
misso para avançar nas negocia- a solidariedade envergonhada do incompatíveis com o princípio de
ções». ministro espanhol Miguel Angel autodeterminação. É contrário à
A Parte portuguesa reiterou a im- Moratinos e a oposição genera- legalidade internacional já que pre-
portância dos esforços sérios e lizada da Comunidade Internacio- tende “cozinhar” uma solução ex-
credíveis para promover uma so- nal — pretende como consagra- cluindo desde logo a opção da in-
lução política desta questão. Nes- ção da sua ocupação ilegal daque- dependência, retirando ao povo do
te contexto, a Parte portuguesa la que foi a última colónia espa- território o seu inalienável direito
saudou a iniciativa marroquina nhola de África. de escolher o seu futuro.

Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara 1
Julho 2010

SUMÁRIO
Página
 Uma mancha negra na diplomacia portuguesa ........................................................................... 1

Nações Unidas
 ONU: Saharauis entre o diálogo e o regresso à guerra .............................................................. 3
 4.ª Comissão da ONU: Frente Polisario quer envio de missão ao Sahara ................................ 4
 F. Polisario revê relações com a MINURSO................................................................................ 4
 A actual situação vista por Abdelkader Taleb Omar, primeiro-ministro saharaui ........................ 5
 Entrevista com Sidi Mohamed Daddach, o “Mandela Saharaui” ................................................ 6

Recursos Naturais
 Marrocos proíbe deputados europeus de visitar o Sahara Ocidental ......................................... 7
 O peixe do Sahara ....................................................................................................................... 9
 Acordo de Pescas UE-Marrocos: quem beneficia?..................................................................... 9
 Acordo é segundo os desejos do povo saharaui? - perguntam eurodeputados ...................... 10
 UE receptadora de peixe roubado? ........................................................................................... 11
 Desertec não se instalará no Sahara Ocidental ........................................................................ 12
 Maior produtor de armas da Noruega rejeita encomenda de Marrocos ................................... 13
 KLP retira participações em empresas que importam fosfatos do Sahara Ocidental .............. 14

Breves ....................................................................................................................................... 15

Direitos Humanos .................................................................................................................... 24

Marrocos
 O Socialismo “real” de Felipe Gonzalez .................................................................................... 28
 Rabat nomeia um transfuga saharaui para embaixador em Espanha ...................................... 31
 Breves de Marrocos ................................................................................................................... 35

Cultura ................................................................................................................................. 37-39

2 Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara
Nações Unidas e o Sahara Ocidental
Saharauis entre o diálogo e o regresso à guerra

O relatório do Secretário-Geral da
ONU e a resolução do Conselho
de Segurança aprovada no pas-
sado dia 30 de Abril, recomendam
que a missão encarregada da or-
ganização do referendo no Sahara
Ocidental seja prorrogada por
mais um ano. Mas mais nada
adiantam.

Face às pressões da França,


membro permanente do Conselho
de Segurança, a ONU abstém-se,
uma vez, mais, de encarregar a
sua missão no território, a
MINURSO (Missão das Nações
Unidas para o Referendo no Saha- Conselho de Segurança votou por unanimidade a Resolução 1920 (2010)
ra Ocidental) de zelar pela pro- e psicológicas, liberdade de
tecção das riquezas que estão a consumo de droga e álcool, humi-
ser espoliadas, e das pessoas que lhações profissionais, escravi-
estão a ser brutalizadas apenas zação e corrupção…
por pretenderem manifestar livre-
Pela promessa de um hipotético
mente a sua opinião.
saco de arroz ou por algumas
A Minurso foi criada em 1991 moedas, os colonos marroquinos
porque o referendo era a condição atacam os defensores saharauis
mutuamente aceite, aquando do dos Direitos Humanos com pedras
cessar-fogo de uma guerra que e paus. Entre os colonos estão os
durava desde 1975 entre os Saha- polícias que agem como obreiros
rauis e os Marroquinos. e organizadores e perdem, por
vezes, o controlo daquilo que eles
Nada foi feito. 160 mil saharauis
próprios convocaram e desenca-
sobrevivem no exílio, num deserto
dearam.
dos mais inóspitos, com a ajuda
alimentar e financeira interna- Quando assumirá o Conselho de
Ban Ki Moon
cional. Segurança o seu nobre papel,
uma vez que tem realmente os
Marrocos, protegido por um muro
nefício dos colonizadores ou seus meios necessários para intervir?
de 2700 km de comprimento, en-
cúmplices. Quando terão os Estados mem-
trega-se à pilhagem, na total ile-
bros do Conselho de Segurança
galidade, dos recursos naturais do Marrocos brutaliza homens,
a coragem política para fazerem
Sahara Ocidental. Fosfatos e pei- mulheres e crianças saharauis,
respeitar «a missão sagrada» de
xe, produtos que pertencem aos numa tentativa de genocídio, onde
protegerem os povos ainda sob
saharuis, são espoliados e vendi- as armas mais vis são moeda cor-
colonização?
dos, revertendo os lucros em be- rente. Violências, torturas físicas

Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara 3
ONU
Polisario quer envio de missão ao Sahara Ocidental

Através do seu representante junto Comité, independentemente da


das Nações Unidas, Ahmed Bujari, oposição de Marrocos.
a Frente Polisario pediu no dia 22
Na sua intervenção, Ahmed Bujari
de Junho ao Comité de Descolo-
lamentou que o Governo marro-
nização das Nações Unidas que
quino se tenha aproveitado da “pa-
envie uma missão ao Sahara Oci-
ralisação na ONU” para ignorar a
dental para conhecer de perto a
legalidade internacional e “não
realidade do conflito.
haja indícios” de que queira ne-
Ahmed Bujari, salientou a impor- gociar uma solução para o conflito
tância de que os membros do Co- que não passe exclusivamente
mité de Descolonização “actuali- pela sua proposta de autonomia.
zem” as suas informações no
“Enquanto forem estas as coor-
terreno sobre o conflito, 35 anos
denadas, os esforços que leva a
depois da sua primeira vista.
cabo o enviado pessoal do SG da
Ahmed Bujari
Afirmou o representante saharaui: ONU, o embaixador Christopher
“Não podemos, nem as Nações assente exclusivamente na força Ross, estão condenados ao fra-
Unidas, nem África, nem a região, e nos apetites territoriais”. Não casso”, acrescentou.
nem o povo saharaui resignarmo- existe “nenhuma razão válida e
-nos ao facto consumado e aceitar convincente” para que não se re-
as consequências de uma lógica pita a viagem de informação do

Polisario revê relações com a MINURSO


mas reitera cooperação com a ONU
A Frente POLISARIO reiterou a O SN da F. POLISARIO, adverte
sua total cooperação com os es- a MINURSO, para qualquer desvio
forços das Nações Unidas relacio- dos seus objectivos, que passam Segurança e que para tal criou a
nados com o respeito pelo direito pela realização de um referendo referida missão”.
do povo saharaui à livre determi- de autodeterminação, o que, a O SN lembra também que a sua
nação, alertando, no entanto, a acontecer, a converteria não em decisão de rever as suas relações
MINURSO para qualquer “desvio” protectora da democracia e da le- com a MINURSO surge na se-
dos seus objectivos que consistem galidade, mas sim em protectora quência da “falta de concretização
em organizar um referendo de livre da ocupação ilegal e da injustiça”. desta missão, após vinte anos de
determinação, segundo declara- O SN assegura que “o direito não cumprimento da organização
ção emitida no final do encontro internacional não permite nenhum do referendo de autodetermina-
do Secretariado Nacional da desvio” e que o povo saharaui, ção, assim como por não cumprir
organização, que decorreu no liderado pelo seu único represen- o seu dever na protecção dos di-
início de Maio nos acampamentos tante legítimo, só pode “cooperar reitos humanos, tal como é função
de refugiados saharauis e foi pre- com a MINURSO no âmbito da de todas as missões de paz das
sidida pelo seu Secretário-geral, aplicação da Resolução 690, de Nações Unidas em todo o mun-
Mohamed Abdelaziz. 1991, aprovada pelo Conselho de do”.

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Portugal-Sahara
Abdelkader Taleb Omar, primeiro-ministro saharaui
Estamos confrontados com uma
nova etapa de paz ou de escalada militar
O primeiro-ministro saharaui, Abdelkader Taleb Omar,
afirmou em Madrid que, ante a estagnação do conflito no
Sahara Ocidental, o povo saharaui iniciou uma “transição
para uma nova etapa em que subsistem apenas duas opções.
A paz ou a escalada militar”.

“A actual estagnação do conflito ocupação para quem a comu-


coloca a população saharaui no nidade internacional e a ONU não
limite máximo da sua paciência. conseguiram encontrar uma
Agora estamos em fase de revisão solução para este conflito causado
da nossa perspectiva e das nos- por esta ocupação ilegal.”
sas relações com a MINURSO, é
Acusando os “Amigos de Mar-
inevitável”, referiu Abdelkader, du-
rocos” de serem a voz da tese da
rante a sessão de encerramento
marroquinidade sobre o Sahara
da 4 ª Conferência Internacional
Ocidental e que procuram pôr em
das Universidades Públicas de
dúvida a viabilidade do estado
Madrid sobre o Sahara Ocidental. tra os flagelos do terrorismo, a imi-
independente saharaui., afirmou:
gração ilegal e o tráfico de drogas “.
Ante esta perspectiva, o dirigente “Estes países sabem ou deveriam
saharaui instou a comunidade in- saber que o expansionismo é a O dirigente saharaui acusou as
ternacional a que intervenha “ur- Nações Unidas de serem respon-
gentemente” para “preservar o sáveis pela continuação deste
direito internacional e garantir a conflito, que entra já na sua quarta
paz e a segurança”, acrescen- década, ao “não aplicar as suas
tando que a única maneira de o próprias resoluções num problema
fazer é assegurar que “o povo sensível e clássico de descoloni-
saharaui possa exercer o seu le- zação”.
gítimo direito à livre determinação
Sobre a França disse: “berço da
e independência, promover o res-
revolução, dos direitos universais
peito dos direitos humanos e a
e das liberdades da humanidade,
abertura do território aos obser-
converteu-se em protector da po-
vadores internacionais.
lítica colonial de Marrocos e cúm-
Para Abdelkader Taleb Omar, só plice das suas violações dos di-
neste contexto é que estão reu- reitos humanos”. Também acusou
nidas as “condições essenciais a Espanha, “a potência admi-
para as negociações entre as nistrante do Sahara Ocidental”, de
causa real e única da instabilidade
partes (Frente POLISARIO e ser “responsável da tragédia” do
ou da harmonia entre os países do
Marrocos).”Recordou que “ne- povo saharaui, e de não ter sido
Magreb. Esse é o único obstáculo
nhum país do mundo” reconhece capaz de beneficiar com a sua par-
para que os países e povos da re-
a soberania de Marrocos sobre o ticipação nas Nações Unidas de-
gião possam unir esforços na luta
Sahara Ocidental, e consequen- fender uma solução justa e pací-
contra o subdesenvolvimento e con-
temente Marrocos “é uma força de fica do conflito.

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Sidi Mohamed Daddach
“Um dia, os saharauis só irão pôr
a guerra sobre a mesa de negociações”
O conflito e a sua eventual resolução vistos por um resistente do
interior do Sahara Ocidental ocupado. Sidi Mohamed Dadach, o
cidadão africano com mais anos de prisão por motivos políticos a
seguir a Nelson Mandela. Entrevista ao jornal “Heraldo Aragón”

Esteve em Saragoça para denun- dela sai, as torturas, as greves de uma campanha nos meios de co-
ciar a falta de direitos humanos no fome, os insultos na rua e as pres- municação marroquinos para
Sahara e só o sair de sua casa sões policiais e políticas. “Existe explicar à opinião pública que os
para empreender a viagem o preo-
cupa. Foi vigiado, perseguido, co-
locado em isolamento, condenado
à morte, esteve na mira das ar-
mas, foi despojado de documen-
tação e perseguido. Sidi Mohamed
Dadach, presidente do Comité de
Defesa da Autodeterminação do
Povo Saharaui, reconhece que es-
te é o seu dia-a-dia desde que, em
1975, com apenas 18 anos, foi
preso quando procurava abando-
nar os territórios ocupados por
Marrocos para se juntar à Frente
Polisario e defender a indepen-
dência do Sahara. Passou 24 anos
na prisão. Foi vexado, torturado.
Apesar de tudo o que passou, con-
tinua ainda hoje a lutar por aquilo
que é. Saharaui.

“Não concebo a vida sem esta


luta”. Conta que tem as ideias cla-
ras desde 1973, quando era
apenas ainda e só um adoles-
cente, e que continuará no com-
bate enquanto respirar porque é
possível “uma vida para os
saharauis”. Todo o sofrimento o
compensa, pese a vigilância cons-
tante, o temor pela sua integridade
e da sua família, o não saber se
poderá regressar a casa cada vez

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Portugal-Sahara
saharauis são traidores à mal quina, a divisão do território em
chamada unidade do reino”, ex- duas partes e a retirada da missão
plica Dadach. da ONU da região. “Para nós não
é lógico votar num referendo sobre
Nesse sentido, recorda que o o Sahara porque somos saha-
próprio Mohamed VI se dirigiu no rauis, mas acataríamos a solução”,
ano passado aos seus súbditos explica Sidi Mohamed Dadach. No
num discurso em que assegurou entanto, Marrocos pôs “obstácu-
que os saharauis seriam tratados los” e afirmou que só aceitaria a
com dureza. Foi no dia 9 de Ou- soberania. Perante esse muro se
tubro. Dadach recorda-se bem romperam as negociações. Se
porque nesse mesmo dia ia viajar nada do que propôs o Plano Baker
à Mauritânia e tiraram-lhe o funciona, voltarão os saharauis a
passaporte sem que lhe tivessem pegar em armas? “É provável”,
dado qualquer tipo de explicação. responde Dadach sem hesitar.
Dois dias depois, a 11, sete acti- Assegura não querer essa via, e
vistas foram detidos e torturados. diz conhecer bem as consequên-
E a 14 teve início a odisseia de cias de uma guerra (“mutilados,
Aminatu Haidar, a quem Marrocos órfãos, mortos”), mas afirma que
impediu de regressar a El Aaiún os jovens estão fartos e que che-
por ser saharaui e que passou um gará um momento em que não
mês em greve de fome em Lan- resta outra senão essa via. “Um
zarote. “Durante esse tempo, a dia, os saharauis só colocarão a
polícia chegou-me a dizer na rua guerra em cima da mesa de
que nos iam matar como cães”, negociações”, vaticina.
assegura. Só a mediação da
Em relação à Espanha, antigo co-
França, tradicional aliada de
lonizador do território, diferencia
Marrocos, conseguiu que Rabat
duas posturas, “a do povo e a do
baixasse um pouco a pressão.
Governo”. “O povo tem-nos apoia-
O conflito do Sahara arrasta-se já
do. Há caravanas solidárias e aju-
há quase quatro décadas que se
das médicas que agradecemos e
saldam por uma guerra sem fim,
que desejamos que prossigam”,
um povo dividido entre o exílio e a
explica. Mas mostra-se crítico com
ocupação e uma situação de insta-
a postura oficial, “lamentável” na
bilidade que afecta todo o Magreb.
sua opinião. Destaca, porém, com
As posições irreconciliáveis entre
esperança as declarações recen-
as partes, a pouca efectividade da
tes da vice-presidente do governo
ONU para levar a cabo as suas
María Teresa Fernández de la
resoluções e a escassa sensibi-
Vega na sede das Nações Unidas,
lidade política são algumas das ra-
solicitando que a missão da ONU
zões que explicam o enquista-
para o Sahara não seja apenas
mento do problema.
mera observadora da aplicação do
cessar-fogo, mas que também
Conflito enquistado A mãe e a irmã de Daddach nos
vele pelo cumprimento dos direi-
campos de refugiados
Em 2003, James Baker, então tos humanos. “Mas a Espanha,
enviado pessoal do secretário-ge- quatro possíveis soluções: o pode fazer mais, tem que actuar e
ral da ONU para a questão do referendo de autodeterminação, a melhorar a sua posição face à
Sahara, propôs um plano com autonomia sob soberania marro- causa saharaui”, conclui.

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Portugal-Sahara 7
Uma vez mais
Marrocos proíbe deputados europeus
de visitar o Sahara Ocidental
Face a mais esta arbitrariedade e desrespeito dos representantes da UE: que dirão Durão
Barroso e a Comissária das Pescas, María Damanaki ?

Marrocos proibiu a visita de um


grupo de eurodeputados ao Saha-
ra Ocidental com o objectivo de
verificar se o acordo pesqueiro da
União Europeia com aquele país
magrebino é legal e está a be-
neficiar o território, informaram no
dia 4 de Junho fontes do Par-
lamento Europeu.
Durão Barroso Maria Damanaki
As autoridades marroquinas en-
Marrocos “não é nova”, estando os Os juristas puseram em causa a
viaram uma carta aos nove euro-
eurodeputados já habituados a legalidade do acordo, porque
deputados que integram a Co-
estas proibições; a que primeiro apesar da frotas da UE explorarem
missão de Pesca do Parlamento
Rabat diga que sim, para logo os recursos piscícolas do Sahara,
Europeu (PE), em que proíbem a
depois, quando se aproxima a data os habitantes saharauis não só
sua viagem aos territórios saha-
da viagem, “fechar a porta”. não foram consultados sobre o
rauis.
mesmo, como em nada benefi-
Recorde-se que um parecer ju-
O objectivo da visita era verificar ciam da dotação económica que
rídico do Parlamento Europeu,
a aplicação do acordo de pescas anualmente Rabat recebe do or-
que a UE mantém com Marrocos çamento comunitário.
e comprovar in loco se o mesmo
Romeva sublinhou que dentro do
está a beneficiar a população
PE há cada vez um maior número
saharaui, segundo declararam o
de eurodeputados de outros gru-
espanhol Raúl Romeva (ICV-
pos, como o Socialista ou o Popu-
Verdes) e a sueca Isabella Lövin
lar, que consideram que o acordo
(Verdes), dois dos deputados que
de pesca não é apenas económico
integravam a delegação.
mas que contém uma forte com-
Marrocos argumentou que “agora ponente política e que o problema
não é bom momento para que a do Sahara é “grave”.
visita se realize apropriadamente”,
Deputado Raúl Romeva O Acordo de Pesca entre a EU e
mas os eurodeputados lamentam
Marrocos concede licenças para
que o governo marroquino não
119 barcos comunitários, uma
permita aos representantes de mantido durante anos em “estra-
centena das quais é espanhola.
uma instituição da UE comprovar nho secretismo”, constatou que o
Em contrapartida, a UE paga
por si próprios o estado da pesca acordo entre a UE e Marrocos não
anualmente uma compensação de
no Sahara. respeita as leis internacionais, por
36,1 milhões de euros a Marrocos.
não beneficiar adequadamente a
Raúl Romeva declarou à agência
população saharaui.
espanhola EFE que a atitude de

8 Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara
O peixe do Sahara

A Comissária dos Assuntos Marí- nómico do Acordo de Pescas so-


timos e Pescas, María Damanaki, bre as populações do Sahara»,
argumenta «que só haveria in- explicava María Damanaki.
fracção ao Direito Internacional e Rabat ainda não deu seguimento
às recomendações das Nações ao pedido do seu parceiro euro-
Unidas se este Acordo (de Pescas peu, pedido este que lhe terá sido
União Europeia-Marrocos) não le- apresentado aquando da última
vasse em conta os interesses e as reunião do Comité misto Marro-
necessidades da população saha- cos-UE em meados de Maio.
raui». O que, na opinião daquela e nas mais diversas instâncias, às Assinaturas (individuais, depu-
responsável europeia, não é o campanhas contra essa violação tados, ONGs) da Petição em :
caso: «Não existe nenhuma prova encabeçada pelo Western Sahara
www.fishelsewhere.eu/
que indique que as actividades da Resource Watch (WSRW), a Co-
pesca da UE não beneficiaram a missão Europeia pretende renovar
Ver o pequeno filme (3’ 48”)
população do Sahara» — assegu- o Acordo que termina em Feve-
realizado pelo Western Sahara
rava María Damanaki recente- reiro de 2011 mas, simultanea-
Resource Watch (WSRW):
mente no Parlamento Europeu mente, deseja ‘lavar a face’.
(PE). «A Comissão Europeia pediu a www.youtube.com/
A realidade é, porém, bem Marrocos que lhe fornecesse um watch?v=T3biwlAm2Gg&feature=youtube_gdata
diferente. Face às pressões no PE estudo sobre o impacte socioeco-

Acordo de pesca UE-Marrocos


Quem mais beneficia?
Nos termos do acordo, Marrocos trabalhar no sector das pescas. Os
recebe uma compensação finan- poucos saharauis que trabalham
ceira de € 36,1 milhões/ano, dos no sector sofrem condições de tra-
quais 13,5 milhões destinam-se ao balho desumanas e foram recen-
desenvolvimento do sector da pes- temente alvo de espancamento e
ca artesanal em Marrocos, em par- repressão quando se manifes-
Porto de El Aiun
ticular para a zona do Sahara Oci- taram em Dakhla contra as duras
dental. Organizações e associa- condições de trabalho”. pela net (www.fishelsewhere.eu).
ções saharauis afirmam que o úni- O acordo vence em Fevereiro O acordo contempla a autorização
co beneficiário é Marrocos e nada 2011 e será submetido ao Par- de pesca para 119 navios, dos
vai para as regiões saharauis, lamento Europeu em Agosto pró- quais 100 são propriedade de ar-
como exige o acordo. ximo para a sua renovação. Orga- madores da Andaluzia espanhola.
Alex Goldaw, do Observatório de nizações saharauis, com o apoio Segundo analistas, a hipótese da
Controlo dos Recursos do Sahara de activistas da sociedade civil, não renovação do acordo irá piorar
Ocidental (WSRW), afirma que, estão a multiplicar as pressões no o problema do desemprego em
“de facto, o acordo cria muitas sentido da não renovação (ou a Espanha, já ressentida com os
oportunidades de emprego na exclusão das águas do Sahara) do efeitos da crise económica e
região mas estas oportunidades acordo e conseguiram já mais financeira.
vão para os marroquinos que 17.000 assinaturas de uma
vieram instalar-se no Sahara e petição neste sentido a circular

Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara 9
Eurodeputados perguntam à Comissão Europeia
O Acordo de Pesca EU-Marrocos foi negociado e aplicado
de acordo com os desejos do povo do Sahara Ocidental?

Os eurodeputados Ana Gomes e reconhecido — a Frente Polisario


Åsa Westlund (do Grupo da Ali- —, expressou explicitamente a
ança Progressista de Socialistas sua oposição à inclusão das águas
e Democratas), Isabella Lövin, do Sahara Ocidental no acordo de
Raül Romeva i Rueda e Jill Evans pesca entre a UE e Marrocos,
(do Grupo Verdes/Aliança Europa mediante:
Livre), Ivo Vajgl (Aliança dos
- carta da Frente Polisario ao
Liberais e Democratas), Francisco
Comissário Borg, de 05/2005
Sosa Wagner (Não-Inscritos) e
- carta da Frente Polisario a Tony
Willy Meyer (Esquerda Unitária
Blair, Presidente do Conselho,
Europeia/Esquerda Nórdica Ver-
de 09/2005
de) formularam uma pergunta por
- carta de 25 organizações da
escrito à Comissão Europeia de
sociedade civil saharaui ao
Pesca, tendo por base a neces-
Comissário Borg, de 30/12/
sidade de que a UE tenha em
2009
conta os desejos do povo do Sa-
- carta da Frente Polisario à
hara Ocidental na actual fase de
Comissária Damanaki, de 01/
renegociações do Acordo de
03/2010.
Pesca UE-Marrocos.
A Comissão expressou publi-
Pergunta E-2633/10 camente que aceita o parecer do
Assunto: Desejos do Povo Sr. Corell.
Saharaui
1. Pode a Comissão indicar que
documentos ou outras provas tem
Em 2002, o Secretário-Geral
para demonstrar que o actual
Adjunto de Assuntos Jurídicos das
acordo de pesca foi negociado e
Nações Unidas, Hans Corell, Ana Gomes, do Grupo S&D, e Ivo
Vajgl, do Grupo dos Democratas e aplicado de maneira coerente com
emitiu um parecer importante
Liberais os desejos dos povos do Sahara
relativo à legalidade da exploração
Ocidental?
e aproveitamento dos recursos aplicável às actividades rela-
mineiros nos territórios ocupados cionadas com os recursos minei- 2. Quem consultou a Comissão?
do Sahara Ocidental. As suas con- ros nos territórios não autó- E que outras iniciativas realizou a
clusões são igualmente aplicáveis nomos». Comissão para chegar a um
à exploração de recursos pesquei- Em resumo, a legislação inter- acordo com os povos do Sahara
ros. A frase final do parecer afirma nacional exige que se tenham em Ocidental?
que «... se tivessem que continuar conta os desejos do povo do Sa-
3. A Comissão alguma vez
a desenvolver mais actividades de hara Ocidental para que se possa
consultou a Frente Polisario em
exploração e aproveitamento em continuar a exploração dos re-
relação ao acordo de pesca entre
detrimento dos interesses e dese- cursos.
a UE e Marrocos e, a ter-se
jos dos povos do Sahara Oci- Em várias ocasiões, o povo do
verificado, quais foram as
dental, estas violariam os prin- Sahara Ocidental, através do seu
conclusões?
cípios da legislação internacional representante internacionalmente

10 Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara
União Europeia
Receptadora de peixe roubado?

O eurodeputado português João


Ferreira, do Grupo Parlamentar
Esquerda Unitária Europeia/Es-
querda Verde Nórdica), colocou
várias questões à Comissão Eu-
ropeia relacionadas com a pesca
ilegal em águas territoriais do
Sahara Ocidental:
1. De que forma foi o apoio ao
sector das pescas no Sahara vida das populações do Sahara
Ocidental tido em conta na pro- Ocidental, nomeadamente reco-
gramação das medidas a aplicar nhecendo a importância do sector
no âmbito deste acordo (EU-Mar- das pescas para a população lo-
rocos)? cal, tanto assim que se excluíram
Eurodeputado João Ferreira
2. Que outras medidas foram im- algumas espécies populacionais
plementadas em benefício do po- importantes (por exemplo, polvo e
vo saharaui com verbas resultan- camarão) das possibilidades de
tes do Acordo de Pesca UE-Mar- pesca identificadas no Acordo,
rocos? com a intenção de as reservar aos
operadores locais”.
3. Que verbas, em concreto, fo-
A resposta dada pela Comissária
ram destinadas ao Sahara
grega Maria Damanaki, em nome
Ocidental, e com que fins?
da Comissão,(23.3.2010), ultra-
4. No entender da Comissão, tem passa tudo aquilo que é tolerável
o Acordo de Pesca com Marrocos em termos de cinismo e não res-
salvaguardado o direito do povo posta. Chega a dizer que a “preo-
saharaui aos seus recursos cupação” da EU foi tanta ao ponto
naturais? de terem excluído algumas es-
pécies do Acordo com Marrocos,
Em resposta ao eurodeputado
«com a intenção de as reservar
sobre a aplicação do Acordo de
aos operadores locais»…. É caso
Pesca EU-Marrocos, a Comissão
para dizer: saqueiam, junto com o
respondeu. A Comissária das Pescas, a grega
ocupante, o «filet mignon» e
María Damanaki
“A programação das medidas pre- deixam a carcaça aos pobres
vistas no âmbito do Acordo es- actividades de apoio ao centro de indígenas ocupados…Neste caso,
tende-se a todo o território por ele desenvolvimento de qualificações talvez nem isso quando se sabe
abrangido, incluindo a zonas profissionais no âmbito das pes- que “os operadores locais” são,
costeira do Sahara Ocidental. cas em Dakhla, bem como ao insti- muitas vezes, empresas que
Algumas das medidas previstas tuto técnico de pesca marítima, em pertencem a oficiais-generais
dizem respeito ao Sahara Oci- Layyoune. marroquinos.
dental, nomeadamente na área de Aquando da negociação do Acor-
apoio à formação profissional. Há do, teve-se em consideração a

Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara 11
Desertec não se instalará no Sahara Ocidental
O ambicioso projecto de energia solar não construirá instalações no Sahara Ocidental
ocupado por Marrocos.

De acordo com a empresa, os O projecto Desertec planeia cons-


receios de que o mega projecto truir e ligar uma série de insta-
solar desenvolvido pela Desertec lações solares e de energia eólica
poderia instalar a sua primeira no norte de África e Médio Oriente
central de energia solar nos ter- para abastecer a Europa até cerca
ritórios do Sahara Ocidental ocu- de 15% das suas necessidades
pados por Marrocos carecem de eléctricas. A Desertec Industrial
fundamento. Initiative, é uma empresa que in-
A ONG alemã “Sociedade para os tegra grandes empresas ener-
em território ocupado do Sahara
Povos Ameaçados” exigiu ao CEO géticas, como a Munich Re, E. ON,
Ocidental por “razões de repu-
de Desertec, Paul Von Son, que Siemens ou Abengoa, juntamente
tação”.
revelasse o lugar de Marrocos em com a Fundação Desertec, tendo
“Queremos confirmar oficialmente
que ia construir a primeira central sido criada na Alemanha em
que os nossos projectos de referên-
piloto deste mega projecto de Outubro de 2009.
cia não se encontram no Sahara
energia solar orçado em quatro- Um porta-voz da Desertec revelou
Ocidental”, afirmou o porta-voz. “Na
centos mil milhões de Euros. ao jornal britânico The Guardian
procura de localizações para o
O governo de Marrocos tinha pre- que a companhia está em con-
projecto, a Desertec Industrial Initia-
visto a instalação de duas centrais versações com o Ministério mar-
tive levará também em conta os as-
solares no Sahara Ocidental ocu- roquino da Energia sobre a pos-
pectos políticos, ecológicos ou cul-
pado, uma em El Aaiun e outra em sibilidade de arrancar com a
turais. Este procedimento está em
Bojador, projecto denunciado pelo primeira fase da iniciativa. Embora
consonância com as políticas de
Western Sahara Resource Watch não esteja definida ainda a sua
financiamento dos bancos interna-
e por diversas organizações. localização, é certo que não será
cionais de desenvolvimento.”

12 Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara
Kongsberg rejeita encomenda de Marrocos
A Kongsberg Seatex teve uma proposta de encomenda para vender um sistema de vigilância
de oceanos à marinha de Marrocos, mas optou por se abster de o fazer devido ao conflito
do Sahara Ocidental. O Grupo Kongsberg é o maior fabricante de armas da Noruega.

“Não podíamos ter a certeza abso-


luta de que o sistema não iria ser
instalado no Sahara Ocidental” -
disse Even Aas, vice-presidente
executivo e Relações Públicas à
organização norueguesa Nor-
watch.
Durante o corrente ano, logo após
a época da Páscoa, uma dele-
gação da filial de Trondheim da
empresa de exportação de armas
norueguesa Kongsberg visitou
Casablanca. A missão da Kongs-
berg Seatex consistia em mostrar
à marinha marroquina como fun-
ciona a tecnologia da empresa que esse equipamento foi em-
para funções de vigilância dos prestado à marinha marroquina
oceanos e tinha por objectivo con- antes da Páscoa. Uma parte dele
cluir um grande contrato. tinha sido instalado em terra, em
Even Aas,
Contudo, quando os represen- vice- Casablanca, enquanto outra parte
tantes da Kongsberg abriram um presidente estava instalada, em regime de
mapa de Marrocos, os oficiais do Grupo empréstimo, em embarcações que
marroquinos reagiram. O mapa Kongberg se encontravam em águas mar-
regulava-se pelas cartas geo- roquinas. O equipamento desti-
gráficas das Nações Unidas e A decisão foi tomada no dia 26 de nava-se a ser utilizado para o
mostrava Marrocos e o Sahara Abril deste ano, ao mesmo tempo chamado AIS (“Automatic Identifi-
Ocidental como dois países se- que reinava grande agitação em tor- cation System” –Sistema de
parados. “Só existe um Marrocos,” no do caso da importação de óleo Identificação Automático); trata-se
disseram os oficiais. de peixe do Sahara Ocidental para de um sistema que tem, funda-
Depois desse episódio, a empresa a Noruega (notícia nesta edição). mentalmente, duas funções: em
decidiu não continuar com o pro- O Grupo Kongsberg é a maior primeiro lugar, ser capaz de iden-
jecto. “Não podíamos ter a certeza empresa fabricante de armas da tificar embarcações ao largo, no
absoluta de que o equipamento não Noruega, sendo o seu capital oceano; e, em segundo lugar, evi-
seria instalado no Sahara Ocidental, detido maioritariamente pelo tar colisões entre as próprias
pelo que foi fácil tomar uma decisão. governo norueguês. embarcações.
Decidimos não continuar com os A proposta oficial de Marrocos
nossos planos,” disse à Norwatch Sistema de Vigilância dos ainda não tinha sido apresentada
o vice-presidente executivo e Oceanos quando a Kongsberg optou por
Relações Públicas do Grupo, Even não continuar com o projecto.
Aas. Even Aas, da Kongsberg, contou

Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara 13
À FMC Foret saiu-lhe caro
a exploração dos fosfatos saharauis
KLP, um fundo de gestão de pensões de 333 municípios noruegueses, 35 empresas estatais
e 2300 empresas privadas, retirou já participações de capital em quatro empresas
internacionais que importam fosfatos do Sahara Ocidental . A FMC Foret foi a mais recente.

“A extracção de recursos naturais López, e ao Director da fábrica da


de zonas ocupadas e, especial- FMC Foret em Huelva, responsá-
mente do Sahara Ocidental, foi de- vel pela aquisição ilegal dos fos-
clarada ilegal pelo Sub-Secretário- fatos, Miguel Martínez, lembrando-
-Geral para os Assuntos Legais da -lhes que a aquisição de recursos
ONU em 2002”, declarou Jeanett naturais de um Território Não Au-
Bergan, directora de investimentos tónomo é ilegal. A FMC Foret está,
responsáveis da KLP Kapital- directa ou indirectamente, apoian-
forvaltning, à agência de notícias do as pretensões anexionistas de
independente norueguesa Nor- Marrocos sobre o território”.
watch. Agora a KLP excluiu a FMC Corp.
e a PCS, duas das empresas mais
Segundo soube o Western Sahara
envolvidas na exploração de fos-
Resource Watch (WSRW), o in-
fatos. Não é a primeira vez que a
vestidor norueguês Kommunal
KLP se retira de empresas que
Landspensjonskasse (KLP) anun-
adquirem fosfatos do Sahara Oci-
ciou no passado dia 1 de Junho a
Arne Oren, Chairman, do Fundo de dental. Anteriormente já o tinha
exclusão das companhias norte-
Investimentos KLP (Noruega) feito com a empresa de fertilizan-
americanos FMC Corp e PCS do
tes australiana Incitec Pivot e com
seu porfólio de investimentos. O
a Wesfarmers. Estas duas empre-
motivo não é outro que desfazer- ção do território por parte de Mar-
sas importam fosfatos saharauis
-se de investimentos polémicos rocos”, declarou Javier García
desde há muito tempo (a Incitec
em empresas de fertilizantes que Lachica, membro do Western Sa-
Pivot desde, pelo menos, 1993, e
adquirem as suas matérias-primas hara Resource Watch (WSRW) e
a Wesfarmers desde 1990). Outro
no Sahara Ocidental ocupado. A presidente da organização em
investidor escandinavo também se
KLP retirou do seu porfólio tam- Espanha. Segundo estimativas do
retirou do capital das duas em-
bém duas outras empresas rela- WSRW, a empresa presidida por
presas.
cionadas com a fabricação de Javier Carratalá adquire uma
“Os responsáveis da FMC Foret
armas nucleares. média de 500.000 toneladas de
deveriam reequacionar a sua es-
fosfatos por ano procedentes do
KLP, um fundo de gestão de pen- tratégia de aquisição de matérias-
Sahara Ocidental, o que repre-
sões de 333 municípios norue- -primas”, declarou Javier García
senta para Marrocos (não para os
gueses, 35 empresas estatais e Lachica. “Viram agora que o in-
saharauis) receitas anuais da
2300 empresas privadas, retirou já cumprimento da legalidade inter-
ordem dos 200 milhões de
investimentos de quatro empresas nacional tem um preço. Espera-
dólares.
internacionais que importam mos que outros investidores sigam
fosfatos do Sahara Ocidental “Em inúmeras ocasiões”, segundo o exemplo da KLP e vendam as
ocupado. Javier García Lachica, “dirigimo- suas acções da FMC Corp. e da
“FMC Foret compra ilegalmente -nos ao Presidente da FMC Foret, PCS. O WSRW continuará a exigir
fosfatos do Sahara Ocidental, o Sr. Carratalá, assim como ao Di- à FMC Foret que deixe de adquirir
inclusive desde antes da ocupa- rector de Operações, José María fosfatos do Sahara Ocidental”.

14 Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara
Países da EFTA excluem Sahara Ocidental
do acordo de livre comércio com Marrocos
O acordo European Free Trade Association (EFTA)-Marrocos não abrange o Sahara
Ocidental, de acordo com as autoridades da Noruega e Suíça, informou o Western Sahara
Resource Watch.

“Como internacionalmente não é “Como a Suíça não reconhece a


reconhecida a Marrocos a sobe- anexação marroquina, o acordo de
rania sobre o Sahara Ocidental, livre de comércio entre os países
este não é visto como uma parte da EFTA e Marrocos não é apli-
do território de Marrocos em re- cável ao Sahara Ocidental”,
lação ao acordo. O Acordo de Livre afirmou, em 2007, Martin Zbinden,
Comércio é, portanto, não apli- responsável pelo Acordo de Livre
cável às mercadorias provenientes Comércio na Secretaria de Estado
do Sahara Ocidental “, declarou roquino”, furtando-se assim a dos Assuntos Económicos da Suí-
recentemente o ministro norue- pagar às autoridades aduaneiras ça, quando a ARSO, organização
guês dos Negócios Estrangeiros, norueguesas para cima de 50 de solidariedade com o povo
Jonas Gahr Støre, no Parlamento milhões de euros. saharaui, investigou as impor-
norueguês sobre o Acordo de Livre Tornou-se claro que a prática da tações helvéticas de tomate.
Comércio entre os países da EFTA EFTA difere totalmente da política Sara Eyckmans, Coordenadora do
e Marrocos. levada a cabo pela Comissão Western Sahara Resource Watch
O esclarecimento do ministro sur- Europeia sobre o comércio de (WSRW), instou a União Europeia
ge na sequência de um escândalo produtos oriundos do território a seguir os exemplos da EFTA e
que foi notícia nos órgãos de ocupado do Sahara Ocidental. dos E.U.A., “que excluem o Saha-
comunicação noruegueses du- Ao excluir com total clareza o ra Ocidental da sua colaboração
rante as últimas semanas, envol- território do Sahara Ocidental da de livre comércio” com o Reino de
vendo o importador de óleo de aplicação do Acordo de Livre Co- Marrocos.
peixe norueguês GC Rieber, ao mércio, a Noruega aplica a mesma A EFTA integra actualmente a Islân-
etiquetar anualmente entre 12 mil interpretação que a Suíça, outro dia, Liechtenstein, Noruega e Suíça.
a 20 mil toneladas de óleo de peixe dos mais importantes país da
do Sahara Ocidental como “mar- EFTA.

Antigos trabalhadores saharauis das minas


de Bucraa reclamam os seus direitos
Todas as quinta-feiras, os antigos invadiu ilegalmente o seu território
mineiros saharauis das minas de e tomou o controlo das minas.
fosfatos de BuCraa manifestam-se Quando isso aconteceu, a maioria
frente à delegação da companhia dos trabalhadores saharauis foram
nacional marroquina de Fostatos, despedidos e perderam o seu tra-
OCP, em El Aiun, exigindo o res- balho, tendo sido substituídos por
peito pelos seus direitos. Eles tra- recém-chegados colonos mar-
balhavam com contratos espa- roquinos.
http://www.youtube.com/
nhóis, mas viram os seus direitos
watch?v=EyzJmi_iVqM&feature=player_embedded
escamoteados quando Marrocos

Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara 15
O conflito saharaui complica
a procura de petróleo na região
As pressões exercidas por organizações internacionais, meios de comunicação e pelo
povo saharaui parecem ter impedido a investigação sobre jazidas de petróleo por parte de
algumas multinacionais presentes nas águas que separam as Canárias do Sahara Ocidental.

Exemplo disso é a decisão da


empresa norueguesa Fugro-
-Geoteam de abandonar a sua
actividade na zona até que se
resolva o conflito saharaui-mar-
roquino.

A chegada de barcos desta


companhia durante o ano passado
e, sobretudo, o objectivo que per-
seguiam, suscitou a preocupação
de diferentes sectores da Co-
munidade Autónoma das Canári-
as. A Fugro-Geoteam foi con-
tratada pela petrolífera norte-
A Kosmos Energy é uma predadora
-americana Kosmos Energy para dos recursos do Sahara Ocidental.
fazer sondagens sísmicas frente Foi fundada em 2003 por cinco só-
às costas do Sahara Ocidental, cios ainda hoje directores da em-
presa (da esquerda para a direita):
trabalhos que iniciaram em Ja- Paul Dailly, Brian Maxted, James
neiro de 2009. Musselman, W. Greg Dunlevy e
Kenny Goh. O mapa, retirado do seu
site, representa o bloco off-shore de
A presença desta grande pe- Bojador, de 44 mil km2, onde em-
trolífera nas águas entre as Ca- presa faz prospecção.
nárias e o Sahara Ocidental foi de- informou também que a empresa
nunciada de imediato pela or- mãe da Fugro-Geoteam, a holan-
ganização internacional Western desa Fugro NV, também já anun-
Sahara Resource Watch (WSRW) ciou a sua intenção de deixar a
que, em Abril de 2009, advertiu zona.
para a possibilidade da Kosmos A Kosmos Energy continua, no
Energy utilizar a ilha de Fuerte- entanto, a operar nas costas
ventura como plataforma de des- saharauis e não estão sós:
canso e reabastecimento. presentes estão também as
Face a esta potencial alteração da empresas Island Oil and Gas e
paisagem social, económica e am- San León Ennergy. As actividades
biental do arquipélago, a WSRW Barco da Fugro-Geoteam
que levam a cabo estas com-
recordou as resoluções da panhias na busca de petróleo e
Organização das Nações Unidas Agora, depois de meses de gás foram já denunciadas pela
(ONU) contra a exploração dos pesquisas, a WSRW considera um Frente Polisario às Nações
recursos naturais do Sahara êxito a retirada da empresa Unidas.
Ocidental. norueguesa. Aquela organização

16 Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara
10.º Congresso da FENPROF solidário com o Sahara Ocidental

Os cerca de 800 delegados ao 10.º


Congresso Nacional de Profes-
sores de Portugal, reunido nos
dias 23 e 24 de Abril na cidade
alentejana de Montemor-o-Novo,
aprovaram por unanimidade uma
moção de solidariedade com a au-
todeterminação do Sahara Oci-
dental e os presos políticos em pri-
sões marroquinas.
Ao Congresso assistiu uma dele-
gação da Central Sindical Saha-
raui (UGTSARIO), representada
pelo seu SG, Cheik Mohamed,
pelo responsável das Relações
Internacionais, e o secretário para
a Educação, Sidmou Ahmed. ridades marroquinas que libertem cional os presos políticos saha-
O Congresso apelou às auto- de imediato e de forma incondi- rauis.

CGTP-IN exige libertação dos presos políticos saharauis


A Central sindical portuguesa
CGTP-IN, em reunião do seu
conselho nacional de final de Abril,
aprovou uma moção em que «ma-
nifesta o firme protesto e con-
denação» pela prisão no passado
dia 8 de Outubro, por parte das
autoridades marroquinas, dos sete
activistas dos Direitos Humanos
— quando regressavam de uma
visita aos acampamentos de refu-
giados saharauis no sul da Argélia
— «e a sua apresentação a tribu-
nal militar marroquino».
A CGTP-IN «exige a imediata e
incondicional libertação destes
presos de consciência e o seu
regresso ao Sahara Ocidental».
A central sindical reafirma «a sua a referida moção à Embaixadora
profunda solidariedade aos tra- do Reino de Marrocos em Portu-
balhadores e ao povo saharaui e gal.
à Frente Polisario, seu repre-
sentante legítimo», tendo enviado

Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara 17
UGT(Portugal) e UGTSARIO estreitam relações

A delegação da UGTSARIO (Cen- lideradas pelos seus


tral Sindical do Sahara Ocidental), Secretários-Gerais
integrada pelo seu secretário- respectivamente,
geral, Cheik Mohamed, o secretá- Cheik Mohamed e
rio para as Relações Interna- João Proença.
cionais e o responsável do sector Neste Encontro a
Educação, que visitou o nosso UGTSARIO apre-
país a convite da FENPROF para sentou a situação no território, enquanto factores de progresso e
assistir ao seu congresso, man- alertando para as constantes desenvolvimento.
teve uma reunião de trabalho com violações dos Direitos Humanos e No final, ambas as partes expres-
a União Geral de Trabalhadores para o não cumprimento das saram a vontade de estreitar e for-
(UGT). Resoluções das Nações Unidas talecer as relações bilaterais en-
No final do encontro, a direcção sobre a autodeterminação do povo tre as respectivas organizações.
da UGT divulgou um comunicado Saharaui. A UGT manifestou a sua Aproveitando a participação no
que reproduzimos: solidariedade com luta da Congresso da Confederação Sin-
Por solicitação do Presidente da UGTSARIO, no respeito pelas Re- dical Internacional (CSI) em Van-
Associação de Amizade Portugal- soluções das Nações Unidas e de- couver, Canadá, ficou desde já
- Sahara Ocidental, realizou-se no clarou o seu total apoio às vítimas acordada a realização de um en-
passado dia 26 de Abril, em da repressão, particularmente aos contro para aprofundar os laços
Lisboa, um encontro ao mais alto presos em greve de fome. Foram entre estas duas centrais sindicais.
nível entre delegações da ainda abordadas questões relativas
UGTSARIO e da UGT portuguesa, à liberdade sindical e à democracia

MDM pede à UE posição “justa e imparcial”

O Movimento Democrático de Mu- seu direito à autodeterminação e


lheres (MDM), de Portugal, — em à independência e que continua-
moção aprovada por unanimidade mente está sendo “boicotado” por
durante o seu 8.º Congresso, que Marrocos.
se realizou em Lisboa durante o A delegação saharaui convidada
mês de Maio — pede à União ao Congresso era constituída por
Europeia uma “posição justa e Fatma Mehdi, Secretária-Geral da Palmela, Montemor-o-Novo, Évo-
imparcial” no que respeita à ques- União Nacional de Mulheres Saha- ra, Arraiolos e Mora
tão do Sahara Ocidental. rauis (UNMS) e Jaddu el Hay, A Deputada saharaui teve também
Na moção, o MDM reitera o apoio presidente da comissão política do encontros com outras organi-
à coragem da luta das mulheres e parlamento saharaui. zações e associações, como a
do povo saharaui e denuncia a direcção do PCP, a direcção do
“inaceitável e injusta” situação das Outros encontros Movimento de Mulheres Demo-
violações dos direitos humanos cráticas, o Conselho Mundial da
nos territórios ocupados do Sahara Durante a sua estadia em Portu- Paz e da Cooperação, a Asso-
Ocidental. Exige o “imediato” cum- gal, a deputada Jadu Haj teve a ciação de Amizade Portugal-Sa-
primento de todas as resoluções oportunidade de visitar várias au- hara Ocidental e o Sindicato do
das Nações Unidas que reco- tarquias e avistar-se com vários Professores do Norte a Coo-
nhecem ao Sahara Ocidental o presidentes de câmara, casos de perativa Árvore.

18 Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara
Confederação Italiana do Trabalho pede a Marrocos
libertação de todos os presos políticos saharauis

A Confederação Italiana do o direito dos cidadãos saharauis


Trabalho apelou a Marrocos para à liberdade de expressão, as-
que liberte todos os presos polí- sociação e manifestação, reco-
ticos saharauis em cárceres mar- nhecido pelo direito internacional
roquinos e ponha termo às siste- e a Declaração Universal dos Di-
máticas violações dos direitos reitos do Homem”.
humanos contra os civis saharauis Em resolução aprovada no final do
nos territórios ocupados do Sahara seu 16 º Congresso, que se rea-
Ocidental. lizou em Rimini (Itália) de 5 a 8 de clua a protecção dos direitos hu-
A Confederação Italiana pede ao Maio passado, a Confederação manos no mandato da MINURSO.
governo marroquino que respeite exige às Nações Unidas que in-

SPD alemão exprime “inquietação” face


à situação dos direitos do Homem no Sahara Ocidental

Sigmar Gabriel, presidente do SPD


O Partido Social-Democrata alemão
alemão (SPD) exprimiu a sua
“preocupação” face à deterioração creta” em matéria de respeito dos
dos direitos humanos no Sahara direitos humanos.
Ocidental, segundo revelaram no “Acompanhamos com preocu-
passado dia 25 de Maio fontes pró- pação a deterioração dois direitos
ximas da representação da Frente humanos no Sahara Ocidental, no-
Polisario na Alemanha. meadamente no decurso dos últi-
Em comunicado divulgado após mos anos”, acrescenta o comuni- Presos saharauis na Prisão de
um encontro com uma delegação cado que sublinha a insuficiência Tiznit (Marrocos) - 2010
da Frente Polisario, dirigida pelo das ajudas humanitárias aos refu-
ministro da Cooperação, Salek giados saharauis. negociações credíveis” entre as
Baba Hasna, o partido alemão O SPD alemão destaca igualmen- partes em conflito (Marrocos e a
apelou à comunidade interna- te a responsabilidade da comu- Frente Polisario) sob a égide das
cional a conceder ao conflito do nidade internacional no alívio do Nações Unidas, com vista a ser
Sahara Ocidental “um lugar prio- sofrimento do povo saharaui atra- alcançada uma paz justa e dura-
ritário” e de “uma grande impor- vés da necessária ajuda huma- doura.
tância” na agenda política mundial nitária aos refugiados saharauis e
e a trabalhar numa “evolução con- na organização de “novas

Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara 19
Partido Sueco de Esquerda reconhece a RASD

O Partido Sueco de Esquerda vermelha-verde”. político socialista e feminista. O


(Vänsterpartiet ), durante o seu 38º A decisão inscreve-se na “Pla- Partido foi fundado com a desi-
Congresso, recordou a sua deci- taforma de Política Externa Co- gnação de Partido Social De-
são de reconhecer a República mum” entre os três partidos para mocrata de Esquerda da Suécia
Árabe Saharaui Democrática a campanha das próximas elei- em Maio de 1917, num ano de
(RASD), se ganhar as eleições ções”. profundas revoltas políticas e
previstas para o dia 19 de Se- O 38 º Congresso do Vänster- sociais. Desde então designou-se
tembro próximo. partiet teve lugar na cidade de Partido Comunista da Suécia,
O Partido de Esquerda forma Gävle, de 7 a 9 de Maio 2010, e Partido de Esquerda — os Comu-
com o Partido Social-Democrata ao qual assistiu uma delegação da nistas e, desde 1990, é conhecido
e o Partido Verde aquela que é Frente Polisario. apenas como Partido de Es-
conhecida como “a coligação O Vänsterpartiet é um partido querda.

Partido Social-Semocrata da Finlândia


apoia a independência do Sahara Ocidental
O Partido Social-Semocrata da
Finlândia, aprovou durante o
encerramento do seu 42.º Con-
gresso, que decorreu na última
semana de Maio, uma moção que
reitera o redobrar de esforços no
apoio à autodeterminação do povo
saharaui e à independência do
Sahara Ocidental.
A moção recorda que o conflito do
Sahara Ocidental, tanto no contexto
histórico como jurídico, é uma
questão de descolonização em
África, pelo que deve ser resolvido
no estrito respeito do princípio da
livre autodeterminação.
Mohamed Abdelaziz, SG da
A moção analisa igualmente os
Polisario, convidado ao congresso
esforços internacionais para re- Watch (HRW), a Amnistia Interna-
solver o conflito do Sahara Oci- cional (AI), entre outras. Fundado em 1899, o SDP , de cen-
dental e as contínuas violações O presidente da República Árabe tro-esquerda, perfilha a social-de-
dos direitos humanos cometidas Saharaui Democrática (RASD) e mocracia e é membro afiliado na In-
pelo Estado marroquino contra os Secretário-Geral da Frente Poli- ternacional Socialista. É o terceiro
cidadãos saharauis nos territórios sario, Mohamed Abdelaziz, convi- maior partido no Parlamento com 45
ocupados do Sahara Ocidental, dado ao Congresso, reuniu com deputados num total de 200
documentada por numerosos re- Juta Urpilainen, a recém eleita parlamentares. A Presidente da
latórios de organizações inter- presidente do Partido Social-De- Finlância, Tarja Halonen, foi eleita
nacionais, como a Human Right mocrata da Finlândia. em representação do SDP.

20 Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara
Parlamento norueguês pede ao Governo
que exerça pressão sobre Marrocos

O Parlamento norueguês pediu ao


Governo do seu país para “exercer
todo tipo de pressão sobre Mar-
rocos para que este país cumpra
as resoluções da legitimidade in-
ternacional e respeite o direito do
povo saharaui à autodeterminação
e à independência.
A solicitação do parlamento norue-
guês teve lugar no dia 4 de Maio,
durante um debate sobre a ques-
tão do Sahara Ocidental, na pre-
sença de todos os líderes parla-
mentares, que instaram o Governo
a “adoptar posições firmes e claras
relativamente às forças de ocupa-
ção marroquinas no Sahara Oci-
dental”. territórios ocupados do Sahara marroquinas. O Parlamento da
O Parlamento condenou as graves Ocidental, exortando o Governo Noruega instou as empresas
violações dos direitos humanos marroquino a respeitar os direitos norueguesas a que cessem de
cometidas por Marrocos contra a humanos e a libertar todos os pre- imediato as suas actividades no
população civil saharaui nos sos políticos saharauis em prisões Sahara Ocidental.

Dinamarca apoia a livre autodeterminação do povo saharaui


Lene Espersen, ministra dina-
marquesa dos Negócios Es-
trangeiros, e dirigente do Partido
Conservador, disse que a situação
dos direitos humanos é um requi-
sito primordial nas conversações
bilaterais com Marrocos e a Frente
Polisario e que essa foi uma das
questões que se colocaram na
última cimeira da EU-Marrocos
A Dinamarca apoia a autode-
terminação do povo saharaui, Lene Espersen, ministra dina- Jeppe Kofod, porta-voz de Política
afirmou a ministra dinamarquesa marquesa dos Negócios Estran- Exterior do Partido Social Demo-
em resposta a várias perguntas geiros crata no Parlamento
apresentadas por Jeppe Kofod, o
porta-voz de Política Exterior do ministra afirmou também que a confiança e o reatamento das
Partido Social Democrata no Dinamarca apoia o trabalho das negociações entre Marrocos e a
Parlamento de Copenhague. A Nações Unidas para fomentar a Frente Polisario.

Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara 21
wilaya saharaui de Smara
renova geminação com quatro regiões europeias

A wilaya saharaui de Smara re- Boleslay (República Checa).


novou no passado dia 22 de Maio O objectivo deste acordo de ge-
o acordo de geminação com qua- minação visa melhorar e desen-
tro regiões europeias: a província volver as relações e os contactos
de Florença (Itália), a província de mútuos de colaboração e inter-
Darmastad Dieburg (Alemanha), e câmbio nas áreas da cultura,
os municípios de Mnichovo turismo e administração.
Hradiste (Alemanha) e de Mlada

Comunidade de Madrid destinou 1,9 milhões de euros


para a cooperação com a população saharaui

A Comunidade de Madrid ca- Madrilenas (CRUMA) sobre o


nalizou, desde 2004, mais de 1,88 Sahara Ocidental, que decorreram
milhões de euros para a concre- em Maio.
tização de vários projectos de “Para o Governo regional, o povo
Cooperação destinados a melho- saharaui é uma prioridade nas po-
rar as condições de vida da popu- líticas da cooperação madrilena.
lação saharaui. Daí que o Sahara Ocidental seja
Percival Manglano, director de considerado zona prioritária no
Cooperação do Departamento de actual Plano de Cooperação 2009-
Emprego, Mulher e Imigração da -2013, assinalou Percival Man-
Comunidade Autónoma de glano.
Madrid, revelou estas cifras du- Desde 2004, a Comunidade de em áreas de desenvolvimento,
rante a inauguração das IV Jor- Madrid concretizou 20 projectos sensibilização e ajuda humani-
nadas de Universidades Públicas destinados à população saharaui tária.

Boletins da Associação Amizade Portugal-Sahara Ocidental


podem ser lídos on-line

Em estreita solidariedade com a


AAPSO, a ONG SUL-Associação
de Cooperação para o Desenvol-
vimento, com sede em Aveiro,
colocou todos os boletins já edi-
tados pela Associação de Amizade
Portugal-Sahara Ocidental online.
Os números já publicados podem
ser lidos e folheados em:
http://issuu.com/sulcoopdes/docs

22 Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara
Espanha: campanha de protesto contra as empresas
que espoliam as riquezas naturais do Sahara

Marrocos beneficia ilegalmente


dos recursos naturais do Sahara
Ocidental graças a empresas
como a catalã FMC Foret, que
adquire mais de meio milhão de
toneladas de fosfatos saharauis
anualmente, ou a galega Jealsa,
que comercializa as conservas
Rianxeira y Escuris e que possui
uma fábrica em El Aaiun que em-
bala o produto sob a marca branca
Hacendado dos Supermercados
Mercadona (rede distribuição que
não está presente em Portugal -
integrada dentro do segmento de
supermercados, de capital 100%
espanhol, Mercadona tem como
presidente-executivo Juan Roig. A
nível de Espanha, está presente
em 46 províncias de 15 comu-
nidades autónomas com una rede
de 1.270 supermercados). Tudo
isto, enquanto nos territórios ocu-
pados, os saharauis são sujeitos
a contínuos espancamentos,
violações e detenções ilegais por Cartoon onde o alvo é o MNE espanhol, Miguel Angel Moratinos
parte das autoridades ocupantes.
Marrocos não pode continuar a através do seguinte link: Os produtos de Escuris são pro-
beneficiar do roubo dos recursos http://www.mercadona.es/corp/ dutos ROUBADOS.
naturais saharauis. Está nas esp-html/atencion.html Exijo à Mercadona que RETIRE
nossas mãos evitá-lo. IMEDIATAMENTE todos os pro-
Corte o texto a seguir e cole-o no
Nesse sentido, a Plataforma de dutos da marca Hacendado que
espaço reservado às sugestões:
Apoyo Político al Pueblo Saharaui tenham sido adquiridos à Escuris.
(PAPPS) iniciou uma campanha MERCADONA comercializa pro- Exijo à Mercadona que deixe de
de denúncia para exigir aos Super- dutos de ESCURIS através de sua comprar produtos roubados pela
mercados Mercadona que retire marca branca HACENDADO. Escuris.
todos os seus produtos Hacen- As conservas de peixe Escuris são COMPRAR ROUBADO
dado que tenham sido adquiridos oriundas do Sahara Ocidental, ter- É ROUBAR!!
à empresa Escuris, e que deixe de, ritório ocupado ilegalmente por
Quantos mais protestos chegarem à
uma vez por todas, de comprar à Marrocos onde se violam os
MERCADONA mais possibilidade há
Escuris produtos que são fruto da direitos humanos e se exploram os
de conseguir o objectivo: Marrocos,
espoliação aos saharauis. seus recursos naturais em be-
país ocupante e colonizador, não pode
Para protestar, é preciso entrar na nefício do governo marroquino e
beneficiar da ocupação.
página de cliente de Mercadona contra a legalidade internacional.

Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara 23
DIREITOS HUMANOS
Relatório da Amnistia Internacional
Marrocos aumentou a repressão contra os saharauis
Em 2009, a repressão de Mar-
rocos contra os activistas saha-
rauis que defendem a independên-
cia do Sahara Ocidental aumentou
enormemente, denuncia o relató-
rio da Amnistia Internacional (AI),
apresentado no final de Maio de
2010, em Londres. A AI recorda que Sete defensores O relatório da AI recorda também
O relatório anual da Amnistia Inter- saharauis dos direitos humanos o caso da defensora saharaui dos
nacional (AI) analisa o estado dos que haviam viajado aos acampa- direitos humanos, Aminatu Haidar,
direitos humanos em todo o mentos de refugiados saharauis, expulsa do Sahara Ocidental pelas
mundo. foram presos em Outubro passado autoridades marroquinas para as
A AI assegura que durante o ano após o seu regresso e apre- ilhas Canárias quando pretendia
de 2009 foram processados deze- sentados ante um tribunal militar. regressar ao seio da sua família
nas de cidadãos saharauis acusa- Três deles, Ali Salem Tamek, na cidade de El Aiun ocupada, ten-
dos de condutas violentas e perse- Brahim Dahan e Hamadi Nasiri do permanecido no aeroporto de
guidos todos aqueles que defen- estão ainda encarcerados na Lanzarote em 32 dias de greve de
dem abertamente a independência prisão marroquina de Salé, perto fome.
do Sahara Ocidental. de Rabat.

Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos

A Alta Comissária das Nações Uni- Nações Unidas responsáveis pe-


das para os Direitos Humanos los mecanismos de direitos huma-
(ACNUDH), Navanethem Pillay, nos a fim de ser dado o segui-
em carta dirigida ao SG da Frente mento adequado.
Polisario, expressa preocupação Alta Comissária da ONU para os
pela situação dos direitos huma- Direitos Humanos afirma também
nos no Sahara Ocidental ocupado, que tomou nota da recomendação
em particular, o tratamento dos feita na carta de Mohamed Abdel-
presos políticos saharauis em cár- aziz sobre a necessidade de en-
ceres marroquinos. viar ao território uma delegação da
“Gostaria de lhe agradecer a sua ACNUDH para examinar a situa-
carta datada do passado dia 10 de ção actual e para garantir a pro-
Abril 2010 relativamente à situa- tecção dos direitos humanos no
ção dos direitos humanos no Sa- Sahara Ocidental, a fim de ela-
hara Ocidental. Também estou Navanethem Pillay borar um relatório detalhado e
preocupada com a actual situação equitativo sobre o tema.
no território”, afirma aquela alta laziz que a informação sobre a Navanethem Pillay Pillay garantiu
funcionária da ONU. situação dos presos políticos que a ONU, no momento actual,
Navanethem Pillay, na sua mis- saharauis e os desaparecimentos continuará a acompanhar a situa-
siva, assegura a Mohamed Abde- foi remetida às instâncias das ção a partir de Genebra

24 Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara
Polícia marroquina reprime cidadãos saharauis
na recepção aos três dos presos políticos de Salé
No dia 22 de Maio, Sábado, a po-
lícia marroquina reprimiu de forma
brutal cidadãos saharauis no bair-
ro de Skekima, em El Aaiún, capi-
tal do Sahara ocupado, durante a
recepção aos três dos presos po-
líticos saharauis do Grupo dos 7,
colocados em liberdade provisória
no dia 18 de Maio.
Segundo fontes da resistência, no
aeroporto de El Aaiún a polícia
marroquina à paisana e em unifor-
me proibiu o acesso à aerogare da
activista saharaui Galia Djimi e do
seu marido Mustapha Dah, pelo
que aqueles activistas se dirigiram
à casa da família de Saleh Lebaihi,
recém libertado juntamente com Os três activistas de regresso a casa, em El Aiun
Rachi Sgayer e Yehdih Terruzi.
“Alí deparámos com todos os “proibiram o acesso à casa a de- contra os jovens e cidadãos saha-
acessos à casa cercados por polí- zenas de cidadãos saharauis que rauis que se concentraram para
cias marroquinos à paisana ou uni- se encontravam na zona do Bair- receber os três presos políticos
formizados e também por forças ro de Skeikima e nas ruas adja- saharauis, mas também contra os
da guarda móvel”, conta Gália centes à casa”. próprios presos políticos através
Djimi, que acrescenta que as for- “A polícia de ocupação marroquina de agressões, insultos e bastona-
ças de segurança marroquinas utilizou força desmedida não só das”, acrescenta.

El Aiun
Sucedem-se os ataques violentos e as cargas policiais
Terça-Feira, 06 de Abril de 2010, sultam, cospem, agridem no hall
19 horas, cidade de El Aiun/Saha- do aeroporto mesmo diante dos
ra Ocidental. olhos das forças de segurança
À chegada ao aeroporto de El marroquinas, que não reagem se-
Aiun, por volta das 19 horas, os quer por gestos e que, pelo con-
12 defensores dos direitos huma- trário, encorajam os agressores a
nos Saharauis que efectuaram persistir nos seus ataques contra
uma visita aos acampamentos de os pacíficos activistas.
refugiados no sul da Argélia depa- A « espontânea » manifestação de
ram-se com uma concentração de violência era enquadrada pelos
mais de 700 colonos marroquinos tristemente famosos torcionários
à sua chegada, concentração marroquinos os oficiais Aziz
organizada pelas autoridades mar- roquinas de ocupação, que os in- Anouche e Khaled Baraka.

Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara 25
DIREITOS HUMANOS
Do Grupo dos Sete da Prisão de Salé
Tribunal nega liberdade provisória
a três saharauis acusados de “traição”
O juiz de ins- refugiados qualificou a
trução do Tri- saharauis de acusação de
bunal Militar Tindouf, no “loucura das
de Rabat ne- sul da Argé- autoridades”,
gou a 2 de lia. uma vez que
Junho con- O “Grupo dos a sua viagem
ceder a liber- Sete”, como teve como
dade provi- é conhecido, Hamadi Nasiri únicos objec-
sória aos três Ali Salem Tamek está acusado de ter tido contactos tivos visitar Beahim Dahan
últimos acti- com “partes hostis” ao país, ou as suas famílias e “informar os
vistas saharauis encarcerados na seja, a direcção da Frente Poli- saharauis ali residentes da situa-
prisão de Salé e que se encontram sario e “altos responsáveis da se- ção dos direitos humanos no
detidos desde 8 Outubro de 2009, gurança militar argelina”. Sahara Ocidental ocupado”.
após terem viajado aos campos de O advogado de defesa dos detidos

Médico Abbas Mohamed Chej Sbai em greve de fome

A polícía judiciária marroquina de fome que se prolongou por 39


Casablanca, Marrocos, deteve dias. No seguimento de muitas
sexta-feira, 11 de Junho, o médico mobilizações levadas a cabo por
Abbas Mohamed Chej Sbai, várias organizações internacionais
cidadão saharaui de 55 anos, em solidariedade com a sua causa
quando este se encontrava num em muitas capitais europeias,
hotel da cidade de Ain Diab, local Marrocos acabou por o libertar no
de onde foi levado para o quartel dia 10 de Março de 2006, antes
da polícia e entregue a um esqua- de terminar a pena de prisão no
drão especial da gendarmería presídio de Ouarzazate. te Polisario e Presidente da RASD,
marroquina sem que a sua família O Dr.Abbas Mohamed Chej Sbai apelou já à intervenção imediata
saiba as razões da sua detenção. tem nacionalidade suíça e é ca- do SG da ONU em carta dirigida a
O Dr. Abbas Mohamed Sheikh sado com uma cidadã desse país Ban Ki-moon.
Sbai fora já detido em 2006 por europeu. Tem dois filhos, de 15 e “As autoridades marroquinas —
membros da gendarmeria de Mar- 16 anos. É doutorado em medi- afirma M. Abdelaziz — detiveram
rocos e apresentado ante o Tribu- cina, com a especialidade de cirur- já por diversas vezes o Dr. Abbas
nal de Primeira Instância de gia e trabalhou em saúde pública Sibai, em virtude das suas posi-
Bzakurt, sendo condenado no dia na Suíça durante 12 anos, entre ções a favor da questão do Sahara
seguinte a uma pena de prisão 1987 e 1999. Ocidental e a defesa da aplicação
efectiva de 6 meses de encarce- Após a sua actual detenção e en- das resoluções das Nações Uni-
ramento. A pena foi posteriormente carceramento,o Dr. Abbas Sbai das, nomeadamente o respeito pe-
reduzida a 3 meses pelo Tribunal iniciou uma greve de fome para lo direito do povo saharaui à auto-
de Apelação de Ouarzazate, após protestar contra a sua detenção. determinação”.
o médico ter entrado em greve de Mohamed Abdelaziz, SG da Fren-

26 Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara
De Janeiro de 2008 a Dezembro de 2009
Espanha vendeu a Marrocos armamento no valor de € 225 milhões

A delicada conjuntura social de


Marrocos e a persistente ocupa-
ção da sua antiga colónia do Saha-
ra Ocidental, não dissuadiu Espa-
nha a autorizar durante o último
semestre de 2009 a venda de
material de guerra ao regime de
Rabat no valor de 80 milhões de
euros. Um grupo de organizações
sociais e jurídicas interpôs uma
acção administrativa contra o Mi-
nistério da Indústria, Turismo e Co-
mércio insurgindo-se contra a au-
menda global autorizada que as- perturbem a paz (...) exacerbem
torização e a recusa de futuras
cende a 80 milhões. As transacções conflitos latentes (...) com fins de
vendas de armamento àquela país
incluem 286 veículos militares, avi- repressão ou em situações de vio-
do norte de África.
ões de combate, armas ligeiras e lação dos direitos humanos”.
A informação é fornecida por Luis
munições diversas. O Ministério do Comércio lava as
Mangrané (advogado e membro
O fabrico de armas é do foro de em- mãos ante a venda de armas a
da Associação Internacional de
presas particulares. As transacções Marrocos.
Juristas pelo Sahara Ocidental),
são da competência dos seus de- As associações subscritoras do
que afirma: “Espanha não deveria
partamentos comerciais. Os lucros, protesto expressaram a sua oposi-
fazer transacções armamentistas
propriedade privada. Mas o Gover- ção à comunicação remetida pela
com Marrocos, um país que viola
no é quem tem a última palavra Secretaria de Estado do Comércio
os Direitos Humanos”. “Marrocos
sobre a autorização final. que pretende impedir a tramitação
utiliza a violência contra o povo
Segundo revela um relatório apro- da denúncia apresentada no pas-
saharaui e o risco de que essas
vado pela Greenpeace, Amnistia sado dia 9 de Abril por sete
armas sejam utilizadas contra os
Internacional, Fundació per la Pau associações, para que se limitem
seus habitantes é muito elevado”,
e Intermon Oxfam, no último se- as transacções de armamento es-
afirma aquele jurista.
mestre do ano de 2009 o Governo panhol para o Reino de Marrocos.
De acordo com estudos e relatórios
espanhol autorizou a venda de ma- Os recentes e trágicos aconte-
divulgados por organizações inter-
terial de defesa a pelo menos 17 cimentos protagonizados pelas
nacionais como a Amnistia Inter-
países que atravessam uma deli- Forças Armadas da Tailândia e de
nacional, Human Rights Watch, ou
cada situação política, onde existe Israel, países receptores de arma-
o Alto Comissariado da ONU para
violação dos direitos humanos ou a mento espanhol durante o ano de
os Direitos Humanos e o Parla-
deflagração de conflitos armados. 2009, não pressagiam que os
mento Europeu, entre Janeiro de
O que é expressamente proibido — controlos realizados pelo Governo
2008 e Junho o Governo espanhol
segundo aquelas organizações — espanhol evitem o que a Secretária
autorizou a venda de material militar
pelo artigo 8 da Lei 53/2007 sobre de Estado de Comercio, Dona Silvia
a Marrocos no valor de 145 milhões
comércio exterior em matéria de Iranzo Gutiérrez, qualifica como um
de euros. No último semestre de
defesa. Segundo aquele artigo, os “uso não desejado” — referem as
2009, o Reino de Marrocos recebeu
pedidos serão recusados quando referidas organizações.
material de guerra no valor de 29,5
existam indícios de que o material
milhões de Euros de uma enco-
possa ser utilizado em acções que

Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara 27
O Socialismo “Real” de Felipe Gonzalez
A “Villa” milionária do ex-secretário-geral do PSOE
e ex-presidente do Governo de Espanha
Fica situada na primeira linha da praia, em Tânger. Será uma espectacular mansão avaliada
em mais de 2,5 milhões de Euros. O seu amigo, o monarca Mohamed VI , deu a autorização
para a sua construção.
Felipe Gonzalez foi Secretário-Geral do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) de
1974 a 1997 e o terceiro Presidente do Governo desde a reinstauração da democracia na
Espanha, de 1982 a 1996.

Felipe González (68 anos) é um


apaixonado por Tânger, lugar onde
passa férias desde a época em
como «o arquitecto dos ricos».
que era presidente do Governo de
Torres, que já foi protagonista de
Espanha, período durante o qual
uma infinidade de reportagens na
travou excelentes relações com a
televisão sobre moradias de luxo,
Casa Real de Marrocos. Graças a
desenhou no início três casas so-
isso, a empresa Procisa — pro-
bre o dito terreno por encomenda
priedade de Luis García Cerece-
da Procisa. Torres já tinha traba-
da, íntimo amigo do ex-presidente reno». Quando estiver terminada,
lhado para Luis García Cereceda,
do Governo e promotor de, entre a luxuosa mansão contará com
projectando mansões de mais de
muitos projectos urbanísticos, da 2.200 metros2 de construção re-
10 milhões de euros na
luxuosa urbanização La Finca —, partidos entre uma casa principal
urbanização La Finca, em Pozuelo
pôde comprar o terreno à Casa de 600 metros, outra casa de
de Alarcón (Madrid), uma das mais
Real marroquina e construir na serviço, garagens, pátios, jardins
elitistas de Espanha, onde vivem
primeiríssima linha de praia. e piscina. Tudo isso implantado
muitos poderosos empresários e
num lote de terreno de mais de
Assim o reconheceram fontes da astros da bola, como Cristiano
5.000 metros2 na praia de Jbila.
promotora imobiliária, que as- Ronaldo.
seguram que González «teve que O projecto de arquitectura tem a Cereceda, que construiu a sua
usar as suas influências junto da assinatura do ateliê A-Cero, do te- fortuna durante os anos do “boom”
Casa Real para conseguir o ter- levisivo Joaquín Torres, conhecido imobiliário de Madrid dos anos 80,

28 Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara
foi um dos construtores e promo-
tores melhor relacionado com o
Partido Socialista e mantém uma
estreita amizade com Felipe Gon-
zález (a sua actual noiva, María Felipe Gonzalez com o Rei Mohamed VI de Marrocos
del Mar García Vaquero, de 50
anos de idade, foi namorada de Daí que o valor final da vivenda tramos una quinta de vários hecta-
Cereceda há uns anos atrás). possa ultrapassar os 2,5 milhões res, propriedade da família real
de euros. Além disso — segundo saudita, que integra um palácio
O promotor, dono também do res- fontes da promotora — Felipe principal e várias casas para o seu
taurante Zalacaín, um dos mais González «tem que ser informado séquito que veraneia com o mo-
requintados da restauração madri- do possível comprador da casa» narca.
lena, quis construir uma urba- para evitar um vizinho incómodo.
nização em Tânger a que daria o No projecto inicial, as casas eram O lote seguinte é de Felipe Gon-
nome de Finca Maharambú. Mas para uma mesma família, motivo zález. Isto significa que a segu-
«problemas com as autorizações pelo qual os jardins se comunicam. rança não irá ser um problema, já
e um investimento muito impor- que a zona é um bunker, sobre-
tante na República Dominicana Junto à família Real tudo nas épocas em que os reis
obrigaram-no a abandonar o pro- de Marrocos e da Arábia Saudita
jecto», informa um funcionário da As duas moradias erguem-se na ocupam as suas mansões. De
promotora. zona mais exclusiva de Tânger, ao todas as formas, o político
No final só puderam construir duas sul de Las Grutas de Hércules. espanhol mantém ainda a sua
casas na praia de Jbila, a de Felipe Sobre essas cavernas, em que — escolta de segurança e dispõe de
González, e outra igual que está segundo a mitologia, descansou um carro com condutor para se
à venda por 1,6 milhões de euros, Hércules depois de separar os deslocar pela urbanização.
mas que pode ser entregue no continentes de África e Europa —
estado actual, ainda por acabar. localiza-se o esplêndido hotel “Le A casa ainda não está registada,
Apenas está construída a estru- Mirage”, onde o ex-líder socialista mas o lote aparece já como registo
tura da casa (fundações, paredes costuma descansar duas vezes da propriedade de Tânger em
e tetos) e tem ainda o tijolo à vista, por ano. A última vez, foi visto na nome de Ialcon Consultoría S.L.,
pelo que o comprador terá que companhia da sua companheira a empresa criada por Felipe
assumir a conclusão do projecto: García Vaquero e da sua grande González em 2001 e em que figura
terminar a casa e fazer do zero a amiga Mar Flores. Mais abaixo do como administradora a sua filha
piscina, os pátios, o jardim e as hotel está o resort privado do Rei María González Romero. A sede
coberturas que chegam até à Mohamed VI. Num terreno adja- social da Ialcon Consultoría S.L.
praia. cente, a residência de uma das situa-se na residência da jovem,
suas irmãs. Continuando, encon- em Somosaguas, urbanização

Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara 29
onde se situa villa que o ex-pre- porque o futuro proprietário con- cimento armado, que, essas sim,
sidente compartilhou com a sua seguiu construir tão perto da praia, desfrutam de uma esplêndida
ex-mulher Carmen Romero até não hesitam em responder: «Aqui vista.
que anunciou a sua separação em só o rei ou um amigo do rei o pode
Novembro de 2008. fazer». Junto à estrada há um out- Artigo escrito pelo jornalista Javier
door que diz em árabe e francês: Chicote no El Mundo
Desde então, vive na capital es- Playa de Jbila. Mas por detrás da
panhola com a sua noiva María del pancarta já não é possível avistar
Mar García Vaquero, funcionária a praia, apenas duas estruturas de
da divisão de banca privada de La
Caixa, num sumptuoso aparta- Mudam-se os tempos,
mento da Calle Velázquez que
pertence ao empresário Pedro mudam-se as vontades...
Trapote.
Discurso de Felipe González em Novembro de 1976 nos
Felipe González mantém uma es- acampamentos de refugiados saharauis
treita relação com Mohamed VI
desde que o ex-presidente espa- “Quisemos estar aqui hoje, 14 de Novembro de 1976 (um ano
nhol tratava com o seu pai, Hassan após a assinatura do Tratado de Madrid, através do qual o governo
II, os assuntos respeitantes aos de Madrid, a troco de importantes compensações económicas,
Governos de Espanha e Marrocos. dividiu o território da sua ex-
Já como ex-presidente, o ex-líder colónia do Sahara Ocidental
socialista dedicou-se a abrir portas pelos vizinhos Marrocos e
a poderosos empresários que que- Mauritânia) para demonstrar
riam estender os seus negócios à com a nossa presença, a nossa
América Latina e a Marrocos. repulsa e a nosso reprovação
Exemplo desses contactos é a pelo Acordo de Madrid de 1975.
reunião que mantiveram em O Povo Saharaui vai vencer na
Janeiro de 2006, em Marrocos, sua luta, e vai vencer não só
Mohamed VI, Felipe González e o porque tem a razão pelo seu
magnata mexicano Carlos Slim, lado, mas porque tem a vontade de lutar pela sua liberdade.
que pretendia introduzir a sua Quero que saibam que a maioria do povo espanhol, a mais nobre,
companhia telefónica, a Telmex, a melhor parte do povo espanhol está solidário com a vossa luta.
naquele país magrebino (Um dos Para nós não se trata já de direitos de autodeterminação, mas
filhos de Felipe Gonzalez é repre- sim de acompanhar-vos na vossa luta até á Vitória Final.
sentante no México dos interesses Como parte do povo espanhol, sinto vergonha de que o Governo
marroquinos). não só tenha feito uma má colonização mas, pior que isso, tenha
feito uma péssima descolonização, entregando-os nas mãos de
Fontes ligadas à concessão da li- governos reaccionários como os de Marrocos e Mauritânia(...).
cença são unânimes em afirmar (...) O PSOE está convencido de que a Frente Polisario é o guia
que os problemas para construir justo do povo saharaui até à Vitória Final e está convencido
sobre a praia ficaram resolvidos também que a vossa república independente e democrática se
graças à intervenção directa do ex- consolidará sobre o vosso povo e que poderias regressar à vossa
-presidente espanhol. terra e às vossas casas.
Tanto os guardas da segurança do Sabemos que a vossa experiência é de ter recebido muitas
complexo palaciano saudita como promessas que nunca foram cumpridas. Não prometemos nada
os funcionários do Hotel Le Mirage mais do que comprometermo-nos com a História. O nosso partido
sabem quem será o seu futuro vi- estará convosco até à vitória final”
zinho. Questionados sobre a razão

30 Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara
Marrocos nomeia trânsfuga saharaui
para embaixador em Madrid

O voto de assentimento do Con-


selho de Ministros espanhol ao
novo embaixador marroquino em
Espanha mostra a falta de coe-
rência e a debilidade espanhola
nas suas relações com Rabat,
mas também é uma clara demons-
tração da conivência entre o
Ministro dos Negócios Estran-
geiros espanhol, Miguel Angel
Moratinos, e o governo de Mar-
rocos quanto à questão do Sahara Novo embaixador de Marrocos: teve na sua génese desavenças
Ocidental. A designação de Ahmed mais lenha para a fogueira com a direcção da Frente Polisario
Ould Souilem, um trânsfuga da no último Congresso(3). O “trans-
Frente Polisario, como embai- Ahmed Ould Souilem (nascido em fuguismo” pode ter origem numa
xador em Madrid surprendeu os Dakhla – antiga Villa Cisneros, em mudança ideológica, como ao
analistas e criou um evidente mau- 1951), filho de Abdalá Ould cansaço ou ao encantamento dos
-estar entre muitos responsáveis Souilem, antigo alcaide de Villa dinheiros e cantos de sereia de
políticos e diplomáticos espanhóis. Cisneros e procurador às Cortes Rabat. Ould Suilem, filho da no-
Em Abril de 2010 o governo de franquistas, juntou-se à Frente menclatura saharaui do período
Marrocos anunciou a nomeação Polisario em 1975 e ao longo de colonial e vendo-se como uma per-
do seu novo embaixador em mais de três décadas desem- sonalidade destacada da tribo
Espanha, o trânsfuga saharaui penhou altas responsabilidades na Ulad Delim maioritária na região
Ahmed Ould Souilem que sustitui RASD, tendo sido embaixador em de Dakhla e na região de Ued ed-
Omar Aziman. Este último aban- vários países da América Latina, Dahab (Rio de Ouro — a parte sul
donou Madrid em Janeiro, umas África e Ásia, encarregado das do Sahara Ocidental), renunciou
semanas depois da crise bilateral relações com as comunidades ao compromisso com o seu povo
motivada pela expulsão de Ami- saharauis na Mauritânia e, nos e deixou-se tentar pelas promes-
natou Haidar, para assumir a últimos anos, encarregado das re- sas de honrarias e de boa vida que
presidência da “Comissão Con- lações com os países árabes, com lhe acenava Marrocos.
sultiva para a Regionalização o estatuto de Conselheiro da Pre-
Avançada”, instância que tem por sidência (1) . Em Julho de 2009 A designação de Ould Souilem co-
missão propor um projecto de des- abandonou a RASD, passou-se mo embaixador em Madrid surpre-
centralização administrativa que para o lado marroquino e de ime- endeu os analistas e criou mau-
assuma, de alguma forma, o re- diato prestou-se ao jogo propa- -estar entre muitos responsáveis
conhecimento da diversidade gandístico, dando entrevistas à políticos e diplomáticos espanhóis.
identitária do país. Mas ninguém imprensa e participando em Várias notas críticas face a esta
duvida que esta nova fase do programas de televisão em que provocação de Rabat circularam
debate sobre a organização e a bajulava a torto e a direito o no Ministério dos Negócios Estran-
própria definição constitucional do discurso oficial de Rabat (2). geiros. Assim se fez saber infor-
país é impulsionada em grande malmente e por distintas vias ao
medida pela questão do Sahara Alguns comentadores referiram governo marroquino, mas ante a
Ocidental. que a deserção de Ould Souilem insistência de Rabat foi o ministro

Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara 31
virá os marroquinos em Espanha,
comunidade que não o vê como
seu.

Tampouco pode contribuir para


melhorar as relações hispano-
-marroquinas, e só irá contribuir
para torná-las ainda mais tensas.
O trabalho realizado por Omar
Azziman, um embaixador inteli-
gente, culto, bom conhecedor da
realidade espanhola e com um
vasto percurso em matéria de de-
fesa de direitos humanos em Mar-
rocos, vai dilapidar alegremente
“saharauizando” a totalidade das
relações hispano-marroquinas.

O pano de fundo da jogada


Moratinos quem mais empenho sentou credenciais. Ould Souilem
colocou em conseguir o assen- participou num périplo nos Esta- Os sucessivos governos espa-
timento do Governo espanhol. dos Unidos organizado pelo lobby nhóis fizeram-se eco do discurso
Ninguém encontra argumentos pro-marroquino, para tentar influ- marroquino dos riscos que podem
convincentes para explicar tal enciar posições favoráveis a Rabat conduzir a uma desestabilização
decisão do ministro ou, melhor tanto no Congresso como nas Na- da monarquia alauita: migrações,
dito, tal genuflexão ante a decisão ções Unidas. narcotráfico, terrorismo… e têm
de Mohamed VI. O mau-estar es- estado cegos pelo suposto poten-
tendeu-se inclusive aos amigos do Ould Souilem não pode ser um cial das relações económicas com
establishment marroquino e algu- embaixador marroquino, é uma o seu vizinho do sul. Com isso
mas das figuras mais destacadas simples peça da guerra de pro- Marrocos conseguiu tornar-se
do lobby pro-marroquino espa- paganda numa das principais em- parceiro imprescindível da União
nhol, já que a designação de Ould baixadas de Marrocos na Europa Europeia e blindar-se.
Suilem é, também para eles, uma (Nota: Consciente das limitações
de Souilem, Rabat colocou a seu Desde há duas décadas que Mar-
catástrofe. Num país, como a
lado em Madrid um nº 2 de peso: rocos propagandeia uma suposta
Espanha, que tem uma sociedade
Fouad Yazough, ex-director de Co- reforma política e uma transição
civil muito sensível em relação à
municação do Ministério dos Ne- política. Mas os avanços são
questão saharaui, designar esta
gócios Estrangeiros, que fez boa limitados e os retrocessos nume-
pessoa é como deitar lenha para
parte da sua carreira em Es- rosos em matéria de desenvol-
a fogueira. A confrontação social
panha). vimento, de direitos fundamentais,
será inevitável com a repre-
etc. Não obstante, a UE e os alia-
sentação diplomática marroquina
Os responsáveis políticos e a di- dos premeiam Marrocos com re-
e muito mais difícil se tornará lavar
plomacia marroquina não podem lações privilegiadas (estatuto
a face de Marrocos nestas
confiar nele. Não conhece Mar- avançado) e, sobretudo, com a
circunstâncias.
rocos, nem o seu sistema político. imunidade no que respeita à ques-
A provocação de Rabat não se fica Não pode ter nenhuma iniciativa tão do Sahara.
por aqui, o assentimento foi dado e apenas fará de porta-voz do mi-
há já dois meses mas o novo em- nistro dos Negócios Estrangeiros Mas apesar de tudo isso, com a
baixador todavia ainda não apre- e do Rei. De igual modo não ser- Espanha as relações não são

32 Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara
fluidas. As tensões e a descon-
fiança são permanentes. Rabat
chantageia e Madrid, consciente
da natureza autoritária e despótica
do seu aliado, tenta gerir a situa-
ção para não perder as vantagens
que alvitra.

Nas suas relações com Marrocos,


os diferentes governos espanhóis
sempre assumiram uma conten-
ção (renuncia a qualquer exigên-
cia) que os coloca numa posição
de debilidade. É incrível constatar
como o deixam fazer, sem porem
limites e sem aparentemente o
contestarem. A lista é longa: Rabat ´Miguel Angel Moratinos, MNE da Espanha - uma “pedra no sapato”
pretende a todo o custo controlar
ou influenciar nas mesquitas, pre- veram um custo político para que implicava uma consulta ao po-
tende intervir nas organizações de Madrid e, sobretudo, para Rabat: vo saharaui sobre o seu futuro, de
emigrantes (evitando uma plena as autoridades desdisseram-se e acordo com o direito de autode-
integração e desincentivando a aceitaram o regresso de A. Haidar, terminação, tal como o reconhece
possibilidade de naturalização es- conscientes que isso implicaria um o direito internacional. Desde en-
panhola), utiliza as aulas de língua fortalecimento da contestação tão, Marrocos tem-se empenhado
árabe nas escolas públicas para saharaui nas zonas ocupadas. De em impor o reconhecimento inter-
os filhos e filhas de emigrantes imediato se intensificou o debate nacional da marroquinidade do
marroquinos para fazer a prédica em Marrocos sobre a proposta de Sahara, o que não conseguiu(5). A
do “espírito nacional marroqui- autonomia do Sahara Ocidental no sua estratégia foi tentar conseguir
no(4)”, etc. E, apesar disso, con- âmbito do processo de “regionali- que os EUA, França e Espanha(6)
cedem ainda um importante apoio zação avançada” para todo o Mar- o ajudassem a impor o seu pro-
económico (Marrocos é o primeiro rocos. A designação agora de um jecto de autonomia no interior de
receptor árabe de cooperação embaixador propagandista, e não Marrocos. Nos últimos anos esta
para o desenvolvimento) e desen- político, é a réplica marroquina ao via recebeu o apoio da adminis-
volvem uma política continuada da sapo que tiveram que engolir em tração Bush, da França, da Es-
iniciativas para agradar ao Dezembro de 2009 e uma de- panha e até do ex-enviado pessoal
monarca marroquino e à sua corte. monstração mais da política do do SG da ONU, Peter Van
“toma e leva” que caracteriza a Walsum. A Frente Polisario con-
Para a Espanha, a designação de relação com Madrid. seguiu neutralizar esta proposta,
Ould Souilem é uma resposta ao até que a nomeação do novo en-
desenlace do caso Aminatou Por outro lado, o envio deste em- viado Christopher Ross e a che-
Haidar. Com a expulsão da acti- baixador insere-se no estado actu- gada de Obama à Casa Branca
vista saharaui Marrocos colocou al do dossiê saharaui. Nos últimos vieram introduzir algumas altera-
numa situação incómoda e muito anos, Marrocos empenhou-se em ções na correlação de forças. A si-
delicada o governo espanhol. O tentar enterrar definitivamente tuação dos direitos humanos nas
assunto acabou por ser resolvido qualquer possibilidade de resolu- zonas ocupadas, a intransigência
através da negociação com os ção do conflito no Sahara segundo marroquina nas últimas rondas de
Estados Unidos e a França, cujos os parâmetros fixados no Plano de negociações em Manhasset e
verdadeiros termos não foram re- Paz acordado pelas partes sob os Armonk no momento de se desen-
velados mas que, obviamente, ti- auspícios das Nações Unidas e volverem possíveis opções alter-

Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara 33
nativas, o novo enfoque geopolí- 2. Leia-se por exemplo, Intere-
tico por parte dos EUA sobre o conomía, 11 de Dezembro de 2009,
continente africano dando mais durante o caso Aminatou Haidar
atenção à Argélia, África do Sul e 3. Segundo Ignacio Cembrero (El
Nigéria, o mau acolhimento de País, 12 de Abril de 2010) “(…) As
Ross na sua última viagem a Mar- suas desavenças com Abdelaziz re-
rocos... foram distintos elementos montam ao 10.º Congresso da Frente
que vieram reequacionar a posi- Polisario, em 1999, mas, após uma
ção dos Estados Unidos. Sem que fase de apaziguamento (2003-2008),
isso suponha uma alteração radi- reactivaram-se há cerca de dois anos.
cal, Washington está a tomar uma O secretário-geral da F. Polisario pe-
certa distância de Rabat e tomou diu, na altura, a dirigentes saharauis
alguns gestos significativos(6). que convencessem Souilem da ne-
Zapatero: una “patata caliente”...
cessidade de superarem as divergên-
Neste contexto, Paris e Madrid negócios com o seu vizinho meri- cias, mas o intento fracassou e Ould
converteram-se nos últimos adep- dional e em ter um parceiro efecti- Suilem decidiu passar-se para Mar-
tos da estratégia de Rabat, en- vo a fazer de polícia em matéria rocos”.
quanto são cada vez mais audíveis de migrações, narcotráfico e con- 4. Os mapas de Marrocos que os pro-
as vozes críticas em relação a ela trolo de possíveis riscos de segu- fessores utilizam nas aulas incluem
na Europa do Norte. Recente- rança, mesmo que à custa de su- o Sahara Ocidental como parte inte-
mente o governo francês impediu porte de uma autocracia que pro- grante do território marroquino. Ou
que fosse ampliado o mandato da cura propagandear alguns, pou- seja, nas escolas públicas espanho-
MINURSO em matéria de vigi- cos, avanços “cosméticos”, en- las utilizam-se mapas que legitimam
lância dos direitos humanos nas quanto se perpetuam as violações uma ocupação ilegal, em oposição à
zonas ocupadas. A aceitação de dos direitos humanos e o povo posição oficial das Nações Unidas e
um propagandista como embai- continua a a ter os indicadores so- da Espanha.
xador evidencia a fase mais ele- ciais e económicos mais baixos do 5. Nenhum país reconhece a sobera-
vada e descarada deste apoio por Magreb. Nenhum governo espa- nia marroquina sobre o Sahara Oci-
parte de Miguel Ángel Moratinos, nhol esteve realmente empenhado dental que continua a integrar a lista
que faz ouvidos moucos aos que em contribuir para uma real demo- de territórios não autónomos das Na-
o rodeiam e deixando que o resto cratização de Marrocos; todos pre- ções Unidas.
das questões bilaterais se vejam feriram um regime autoritário está- 6. Espanha foi o primeiro país a
corrompidas por este apoio cego. vel a uma qualquer mudança polí- apoiar a opção da autonomia, rom-
Para os saharauis, com este pas- tica de resultados incertos. No en- pendo com a sua suposta “neutrali-
so, que ilustra a falta de indepen- tanto, é óbvio que a resolução da dade construtiva” na questão do Sa-
dência na hora de tomar decisões questão saharaui e um futuro de hara Ocidental.
e a aceitação da chantagem de paz e convivência na região são 7. No início de 2010, e pela primeira
Rabat, Moratinos alinha-se defini- indissociáveis da democratização vez, uma delegação da Frente
tivamente com o ocupante mar- de Marrocos. E para isso não con- Polisario foi recebida pelo Depar-
roquino e auto exclui Madrid de tribui o actual governo espanhol. tamento de Estado norte-americano.
qualquer iniciativa multilateral fa-
NOTAS: (*) Artigo publico no website do
vorável à resolução política do
conflito. 1. Faltando à verdade, e tendo por Comité de Solidariedade com a
objectivo realçar os seus méritos pas- Causa Árabe e assinado por B.
Por detrás dos discursos da ami- sados e, por isso, o valor do desertor, Bajo.
zade hispano-marroquina, na rea- Rabat apresentou Ould Suilem como
lidade os governos espanhóis, tan- um dos fundadores da Frente Polisa-
to da direita como do PSOE, ape- rio e como número dois da diplomacia
nas estão interessados em fazer da RASD.

34 Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara
Eurodeputados pedem a Zapatero tomada de posição
face à expulsão de cristãos por parte de Marrocos

Três membros do Parlamento -se a qualquer tipo de problema


Europeu — o deputado de Con- diplomático”.
vergència i Unió Ramon Tremosa, “Desde que Marrocos assumiu a
a holandesa Sophie In’t Veld sua independência, em 1956,
(Grupo Liberal) e o italiano Fiorello nunca se tinham produzido tantas
Provera, do Grupo Eurocéptico e expulsões “ como nestes últimos
um dos vice-presidentes da meses, ultrapassando já a cen-
Comissão de Assuntos Exteriores tena, em particular de cristãos
do Parlamento Europeu — en- evangélicos, denuncia a carta.
viaram uma carta ao presidente do Segundo aqueles três eurode-
Governo espanhol, José Luis Ro- obstar a essa situação, na quali- putados, a perseguição aos
dríguez Zapatero, em que recla- dade de Nação que exerce a presi- cristãos em Marrocos passa pela
mam que tome as medidas neces- dência rotativa da União Europeia entrada nos lugares de culto de
sárias para impedir a expulsão de durante o actual semestre. membros das forças de segurança
cristãos por parte das autoridades “Espanha, em nome dos Vinte e de corpos de intervenção no
marroquinas. Sete, deve pedir ao Governo mar- meio de celebrações religiosas.
Desde Março que “aumentaram” roquino que respeite os princípios As buscas, prisões e ameaças fa-
as expulsões dos seguidores da democráticos e os direitos huma- zem com que os cristãos resi-
fé cristã por parte das autoridades nos”, referem os três subscritores. dentes naquele país “vivam agora
de Rabat”, recordam os euro- Os eurodeputados reclamam que debaixo de medo”, assinala a
deputados, pedindo por isso uma se faça prevalecer “a aplicação do carta.
posição firme de Espanha para direito internacional sobrepondo-

O rei e o Maghzen utilizam o combate


ao “proselitismo cristão” como manobra de diversão
Sete mil ulemas (estudiosos do A mensagem dos ulemas expres- e defendido por Sua Majestade
Corão) de Marrocos divulgaram no sa “o apoio total e o grande orgu- Mohamed VI, Comendador dos
passado dia 10 de Abril um texto lho” dos que o subscrevem ante Crentes, como defensor da fé (...)”.
colectivo onde repudiam o prose- “as decisões históricas pertinentes O texto dos estudiosos do islão foi
litismo cristão no seu país e com- tomadas pelos poderes públicos difundido pelo seu máximo órgão
param-no mesmo a uma “violação para abortar o plano hipócrita de hierárquico, o Conselho Superior
moral” e ao “terrorismo religioso” um grupo de cristãos proselitistas”. dos Ulemas, o qual é presidido
quando “procura desviar as crian- A sua actuação com as crianças – pelo próprio monarca.
ças marroquinas da sua fé”. prossegue o texto — constitui Que se saiba só os governos dos
Trata-se de mais um episódio da “uma violação moral, uma forma EUA e da Holanda criticaram as
campanha empreendida pelas de terrorismo religioso e equivale medidas tomadas pelas autorida-
autoridades de Rabat contra os ao sequestro de pequenos inocen- des de Marrocos. Tanto a Espa-
cristãos estrangeiros residentes tes”. nha, como Portugal ou a União
em Marrocos, a quem acusam de “Estas decisões firmes”, conclui o Europeia não terão tomada qual-
proselitismo e de procurar quebrar comunicado, “tranquilizam quanto quer tipo de iniciativa em defesa
a fé dos muçulmanos, delito pre- ao futuro confessional da nação da liberdade religiosa no reino
visto no código penal marroquino. protegida pela Divina Providência alauita.

Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara 35
Relatório da Polícia espanhola denuncia
Marrocos não faculta dados sobre a apreensão de cannabis
Marrocos é o maior produtor e exportador de cannabis, logo
a seguir ao Afeganistão. A droga é dos produtos mais
importantes da sua balança comercial (não oficial).

Segundo um relatório da Unidade pressupunha uma diminuição


de Inteligência Criminal da Polícía percentual de 61 por cento
Nacional espanhola citado pela relativamente a 2004. Segundo
agência Europa Press, desde fontes policiais espanholas ou-
2005 que as autoridades marro- vidas pela agência, esta diminui- narcotraficantes continuam a uti-
quinas não facultam nem à polícia ção considerável era altamente lizar frequentemente barcos de
espanhola nem a um outro qual- suspeita. recreio rápidos. Os pontos habi-
quer corpo policial internacional as O Rif, em Marrocos, é uma das tuais de descarga são Múrcia,
suas informações relativas a apre- maiores regiões exportadoras de Almería, Alicante e outros pontos
ensões anuais de sustâncias cannabis do mundo, que abastece da costa algarvia, embora o
cannabicas. principalmente os mercados euro- relatório da Inteligência Criminal
A última vez que Marrocos deu co- peus. Segundo o relatório, o modo refira que, cada vez mais, os
nhecimento às polícias internacio- de transporte mais comum e ha- narcotraficantes procuram outros
nais do seu balanço na luta contra bitual continua a ser o envio por pontos de entrega mais ao norte
o tráfico deste tipo de substâncias estrada em camiões que camu- da costa espanhola para procurar
estupefacientes foi há cinco anos, flam a droga entre carregamentos fugir aos controlos do Sistema
quando, segundo aquele informe, de mercadorias legais. Integrado de Vigilância Exterior
se registaram um total de 1.070 No entanto, no que afecta direc- (SIVE).
toneladas apreendidas, o que tamente a Espanha e Portugal, os

Segundo economista marroquino


Marrocos gasta anualmente
mais de 2 % do PIB na ocupação do SO
Segundo um estudo do economis- como ameaça vinda do seu vizi-
ta marroquino Fouad Abdel- nho do leste, a Argélia.
moumni que cita números do think A ocupação do Sahara Ocidental
tank International Crisis Group, permite no entanto a Marrocos be-
Marrocos gasta em média mais de neficiar da exploração dos recursos
3% do seu PIB com a ocupação naturais do território saharaui cujas dirhams (108 mil milhões de Euros)
do território do Sahara Ocidental. receitas — segundo o mesmo eco- na ocupação do Sahara Ocidental
As despesas militares são, natu- nomista — atingem cerca de 1% do em detrimento do desenvolvimento
ralmente, as mais avultadas, com PIB do reino alauita. O estudo refere do nível de vida dos marroquinos.
a manutenção dos 100.000 efec- que Marrocos perde muito dinheiro Em termos de desenvolvimento, o
tivos militares estacionados no no Sahara Ocidental com um defi- país ocupa o 130.º lugar na lista dos
Sahara Ocidental, e milhares de cit anual equivalente a 2% do PIB países a nível mundial, segundo o
milhões de dólares utilizados na nacional. Segundo o autor, Mar- índice de desenvolvimento humano
compra de armas para fazer face rocos despendeu, desde 1975, do PNUD.
àquilo que Marrocos julga imaginar mais de 1200 mil milhões de

36 Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara
Marrocos ções pecuniárias muito elevadas
a jornais e revistas que abordam
Comissão Islâmica dos Direitos Humanos questões sensíveis, como foi o
caso de um artigo relacionado com
denuncia falta de Liberdade de expressão Muammar al-Gaddafi, a saúde do
rei e os cartoons de casamentos
da família real. Actualmente, na lei
O Rei Mohamed VI de Marrocos de Imprensa, que data de 2002,
ordenou às autoridades para dei- existem mais de 20 artigos que im-
xarem de dar acreditação a estran- põem ordens de prisão.
geiros que trabalhem para agên- Outro tema evidente de preo-
cias estrangeiras de notícias críti- cupações relaciona-se com a falta
cas ou não alinhadas com o re- de independência do poder judi-
gime. cial em Marrocos, especialmente
Driss Chahtan, editor do jornal em casos politicamente sensíveis.
independente Al-Michaal, encon- O Comité para a Protecção dos
tra-se preso desde Setembro de Jornalistas apelou à libertação dos
2009 por publicar notícias sobre a presos e ao termo do processo de
saúde do rei. Foi acusado de Anas Ben Saleh, da “Al Jazira”, e criminalização e de retenção de
publicar “falsas” notícias. Além Mohamed Marouf, jornalista do acreditação a jornalistas que tra-
disso, dois outros processos de jornal “al-Quds al-Arabi”, com sede balham para órgãos de comuni-
difamação contra Chahtan entre- em Londres. cação social estrangeiros. Exigem
postos por um grupo de parentes Marrocos é conhecido pelas res- também que as normas interna-
próximos do rei e por um ex-fun- trições que coloca às liberdades cionais de liberdade de expressão
cionário dos serviços de inteli- de expressão e de imprensa. Isso de medias online, impressos,
gência foram arquivados. é conseguido através da detenção radiofónicos ou televisivos sejam
Três outros jornalistas que tra- de jornalistas, a recusa da sua respeitados.
balham para órgãos de comu- acreditação, o encerramento ar- A IHRC é uma ONG que tem o
nicação estrangeiros viram a sua bitrário de órgãos de comunicação estatuto consultivo especial por
autorização de trabalho cassada, e apreensão dos seus bens. Outro parte do Conselho Económico e
são eles Mohamed al-Baqali e meio eficaz é a aplicação de san- Social das Nações Unidas.

Marrocos
Apelo à reintegração de antigos presos políticos
Duas ONG marroquinas de defesa políticos”, declarou à Agência
dos Direitos Humanos apelaram re- France-Presse Mohamed Sebbar,
centemente em Rabat à reinte- um dos dirigentes do Forum Vérité A filha do
et Justice (FVJ). General
gração de mais de mil antigos pre-
Oufkir,
sos políticos na vida sócio-pro- “O número de pessoas sujeitas a encarcerada
fissional. esta injustiça ultrapassa as 1.200 durante 20
“Pedimos ao secretário-geral do vítimas daquilo que se designa por anos com a
mãe e os
Conselho Consultivo dos Direitos do ‘anos de chumbo’”, segundo aque- irmãos
Homem (CCDH, orgão de cariz le dirigente.
oficial) que aplique todas as reco- “Há os que devem ser reintegrados Abdelilah Benabdeslam, vice-pre-
mendações da Instância Equidade no trabalho que exerciam antes de sidente da Associação Marroquina
e Reconciliação (IER) e que serem presos, e os que actualmente dos Direitos Humanos (AMDH).
reintegre os antigos presos não têm nenhum ofício”, esclareceu

Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara 37
Documentário “El Problema”
ganha primeiro prémio do Fisahara

O documentário espanhol “El Pro-


blema”, baseado na militância dos
activistas dos direitos humanos nos
territórios ocupados do Sahara Oci-
dental, ganhou o prémio mais im-
portante do Festival Internacional de
O cineastas Jordi Ferrer e Pablo
Cinema do Sahara (Fisahara) — o
Vidal
prémio “Camela Branca”.
“El Problema”, dos cineastas Jordi Haidar. Entre a assistência encon-
Ferrer e Pablo Vidal, havia ganho A actriz Victoria Abril presente no trava-se um grupo de dez activis-
já anteriormente o prémio Amnistia Fisahara tas das zonas do Sahara sob ocu-
Internacional no Festival de Cine- O filme espanhol “Celda 211” arre- pação marroquina.
ma e Direitos Humanos de San batou o segundo prémio do júri, O manifesto final do Fisahara
Sebastián, em Espanha. O docu- distinguido com base num inqué- 2010, lido durante a cerimónia de
mentário revela testemunhos de rito realizado entre o público as- encerramento pelo actor e co-di-
activistas e imagens, muitas delas sistente às projecções, e o “Mundo rector do festival, Willy Toledo, su-
clandestinas, captados durante Alas”, de Leon Gieco, Sebastián blinha que as sete edições já rea-
quase cinco anos no Sahara Oci- Schindel e Fernando Molnar, re- lizadas “contribuíram para interna-
dental. cebeu o terceiro prémio do festi- cionalizar a causa saharaui e aju-
Ao receberem o prémio “Camela val que decorreu nos acampamen- dar a difundi-la por todo o mundo”.
Branca” Jordi Ferrer e Pablo Vidal sa- tos de refugiados saharauis. A actriz espanhola Victoria Abril, o
lientaram que o trabalho tinha-lhes A VII edição do Fisahara foi mar- actor argentino Alberto Ammann e
permitido comprovar o carácter do cada pela homenagem aos mili- muitos outros conviveram durante
espírito saharaui, “valente, pacífico tantes de Direitos Humanos saha- dias com as famílias refugiadas
mas também muito combativo”. rauis e, em especial, a Aminetu saharauis.

38 Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


Portugal-Sahara
Escola de Cinema do Sahara

O FiSahara – Festival Interna-


cional de Cinema do Sahara não
se tornou já num acontecimento
anual importante ao longo das
suas sete edições mas gerou tam-
bém um projecto que é uma rea-
lidade: a Escola de Formação Au-
diovisual (E.F.A.) Abidin Kaid
Saleh, o projecto cultural de maior
envergadura realizado até agora
nos acampamentos de refugiados
saharauis.
Instalada no Acampamento 27 de Roberto Lázaro, o chefe de estú-
Fevereiro, a escola é o culminar dios e uma das pessoas que mais
de um velho sonho do FiSahara, se empenhou neste projecto. Mas
dado que poderá ser o trampolim este é um trabalho de todos –
para muitos realizadores saha- como refere – dado que foram
rauis que, após formação ade- muitas as produtoras, os estúdios,
quada, poderão ser eles a narrar os fornecedores no largo mundo
ao mundo as suas próprias his- digital que quiseram contribuir com
tórias, sem que sejam outros a grandes quantidades de equipa-
contá-las por eles. “Agora toca a equipá-la”, como diz mentos.

I RESIST
Um pequeno filme que vale a
pena ver no youtube: 2’ 23”em que
se sintetiza a luta e o sofrimento
do povo saharaui
h t t p : / / w w w. y o u t u b e . c o m /
watch?v=_IirEQD5xGo

Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental


Portugal-Sahara
Director do «Sahara Ocidental»: António M. Baptista da Silva
Sede provisória: Rua Pinheiro Chagas, 77 - 2.º Esq. 1069-069 LISBOA
portugal.sahara@gmail.com

Boletim da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental — Junho 2010


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