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A sociedade em que vivemos tem vindo a sofrer rápidas transformações nas últimas décadas
com o advento das novas tecnologias que vieram revolucionar a nossa forma de viver. Vivemos
numa era em que a informação circula livremente e é acessível a todos embora, como refere,
Ross Todd, “Dar informação não é o mesmo que dar conhecimento” acrescentando depois “
transformar informação em conhecimento é, potencialmente, a tarefa mais complexa,
desafiadora e gratificante de todos os educadores”. A BE, ao abraçar essa tarefa, estará a dar
um contributo essencial para o sucesso educativo, tornando-se um recurso fundamental para
o ensino e para a aprendizagem, como diversos estudos de importantes entidades têm
mostrado.
Para que a BE possa então desempenhar essa tarefa, de que Ross Todd fala, é importante que
determinadas condições estejam criadas nas escolas e isso significa que teremos que as avaliar
para saber quais as práticas que se revelam boas e as que necessitam de serem melhoradas ou
mesmo eliminadas.
A acção da BE, perante a comunidade escolar, é validada pelo modelo de avaliação, e assim a
BE pode assumir, com a toda a sua pertinência, um papel fulcral perante a escola
representando, assim, uma mais-valia para toda a escola e para a própria rede de bibliotecas.
A avaliação da BE deve assim integrar o processo de auto-avaliação da própria escola dada a
sua relação estreita com a missão da escola e os objectivos do seu projecto educativo.
Um deles é o de valor que “é algo algo intrínseco às coisas mas tem sobretudo a ver com a
experiência e benefícios que dele se retira” ou seja, o valor não pode ser considerado um dado
adquirido, mas algo que se vai adquirindo. È necessário que a BE seja um espaço onde se
implemente dinâmicas que contribuam de forma efectiva para os objectivos da escola em que
se insere. Como Ross Todd frisa é importante que a biblioteca tenha “magníficas colecções de
informação, ambientes físicos inspiradores ou redes de tecnologia da informação avançadas”
mas isso não é o suficiente: a BE tem de ser promover a construção do conhecimento.
É importante salientar que com este modelo pretende-se fazer a avaliação da qualidade e
eficácia da BE e não do desempenho individual do professor bibliotecário. Há pois que
desmistificar a ideia e esclarecer que com este modelo não se pretende avaliar e penalizar a
prática do professor bibliotecário, porque a avaliação não é um fim, mas antes um processo de
auto-regulação e de redireccionamento da acção e das práticas do professor bibliotecário e da
BE, como se infere quando se lê que a avaliação deve “… ser encarada como um processo
pedagógico e regulador, inerente à gestão e procura de uma melhoria contínua da BE”.
Quanto ao modelo ser exequível e de fácil integração nas práticas de gestão da biblioteca,
dependerá das condições em que cada professor bibliotecário trabalhe. Implementar e
formalizar procedimentos com vista a criar rotinas, passará não apenas pela BE, mas pela
própria Escola com a qual o professor bibliotecário interage diariamente, ou seja, pela
existência de condições que permitam ao professor bibliotecário exercer de forma cabal as
suas funções.
Outro conceito que está patente na construção deste modelo é o da prática baseada em
evidências. O modelo de avaliação apoia-se na recolha de evidências, pois estas irão ajudar
“…cada escola/ BE a traçar o rumo que deve seguir com vista à melhoria do seu desempenho.
A auto-avaliação deverá contribuir para a elaboração do novo plano de desenvolvimento, ao
possibilitar a identificação mais clara dos pontos fracos e fortes, o que orientará o
estabelecimento de objectivos e prioridades, de acordo com uma perspectiva realista face à BE
e ao contexto em que esta se insere.”.
Da mesma forma, para cada indicador são apontados possíveis instrumentos de recolha de
evidências que irão suportar a avaliação e, do mesmo modo, exemplos de acções, a serem
necessárias, que possam melhorar o desempenho da biblioteca escolar, em campos
especificamente definidos. Embora ainda esteja há pouco tempo assumir as funções de
professor bibliotecário, parece-me que quanto à recolha de evidências, há necessidade de um
trabalho colaborativo por parte de outros agentes educativos que ainda estão pouco sensíveis
quanto a isso. Por outro, como a recolha das evidências deverá ser sistemática, isso pode
tornar-se algo desgastante, desviando a atenção do professor bibliotecário de outras funções.
O facto de em cada ano, num conjunto de quatro, se seleccionar um dos domínios para ser
objecto da aplicação dos instrumentos é uma vantagem em termos de trabalho, porque
embora a avaliação deva ser uma prática corrente e que é algo inerente à próprias BE, não
deve constituir uma sobrecarga de trabalho para a BE. Desta forma no final do ciclo de quatro
anos a avaliação está completa e tem-se uma visão global da BE.
A aplicação do modelo não deve ser encarada como uma obrigação imposta superiormente. As
conclusões e os resultados práticos da sua implementação só farão efeito se o modelo
encarado como um suporte para um trabalho sério e consciente. A integração e aplicação do
modelo serão tanto mais fáceis quanto maior for a motivação dos membros da comunidade
educativa e a liderança e empenho do professor bibliotecário e da sua equipa, que deverão
sensibilizar as várias estruturas de gestão da escola para a necessidade de se proceder a uma
avaliação da BE, através de uma postura de divulgação e comunicação o mais clara e
abertamente possível.
O modelo deve ser do conhecimento de toda a equipa da BE, que em conjunto com o
professor bibliotecário deve calendarizar as várias etapas de aplicação do modelo e definir o
contributo dos vários intervenientes. Após a elaboração do relatório de auto-avaliação, o
mesmo deve ser apresentado e discutido no Conselho Pedagógico, que deverá emitir a sua
opinião face aos resultados apresentados bem como às acções de melhoria propostas.
Haverá que vencer resistências, inércias e por vezes a indiferença instalada, por parte de
professores e da Direcção, que obstam a realização e concretização de práticas, apesar de uma
metodologia de sensibilização e de mobilização para a avaliação e de se procurar dinamizar um
trabalho colaborativo entre os vários intervenientes. Frequentemente, se se depara com
dificuldades em mudar práticas e atitudes enraizadas, em desmitificar ideias preconcebidas
sobre a avaliação que surge ligada a uma graduação e também a uma penalização, não
esquecendo as dificuldades inerentes à recolha de evidências. Isso leva a que, como salienta
Ross Todd, que da parte do professor bibliotecário haja “preocupações centradas na
percepção de falta de compreensão da natureza e das dimensões do papel do bibliotecário
escolar, percepção de falta de valor, importância e apreciação, …”.
- Incorporar a prática sistemática da recolha de dados nas rotinas da BE, de modo a definir
linhas de acção/actuação fundamentadas nas evidências;
Como refere Ross Todd num dos textos “Trata-se de assegurar que os esforços diários dos
bibliotecários escolares colocam focam-se na obtenção de evidências significativas e
sistemáticas do impacto das iniciativas educativas do bibliotecário nos resultados da
aprendizagem dos alunos - o que os alunos sabem fazer e no que eles se tornaram.”.