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DIRETRIZES GERAIS SOBRE O ENSINO

DE ÉTICA NA ENGENHARIA

Cinara Nahra - Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Resumo - O objetivo geral do presente trabalho é responder, em termos gerais, duas


questões:
1. Porque ensinar ética na engenharia
2. Como deve ser o ensino da ética na engenharia
Em relação ao primeiro ponto o trabalho pretende mostrar que o ensino da
ética na engenharia é cada vez mais necessário dado a complexidade de problemas que o
profissional da área enfrenta e é chamado a responder. Paradoxalmente o
desenvolvimento tecnológico faz com que o engenheiro necessite não somente do domínio
das técnicas e conhecimento dos avanços científicos, mas, também, um amplo domínio
sobre como o exercício de sua profissão pode afetar as pessoas que direta ou
indiretamente estão relacionadas com seu trabalho. Entram neste rol os seus clientes, seus
funcionários, seus empregadores, seus concorrentes e a comunidade em geral. As regras e
princípios segundo os quais o engenheiro deve orientar a sua ação relativamente a este
domínio vai constituir propriamente aquilo que chamamos de ética na engenharia. A
importância do ensino da ética na engenharia é o que nos propomos a discutir nesta
primeira parte do trabalho.
Em relação ao segundo ponto o trabalho pretende mostrar que o ensino de
ética na engenharia deve se dar prioritariamente com a preocupação da aplicabilidade. A
idéia é a de que se dê uma visão geral sobre a ética filosófica, através das teoria dos
diversos autores, de Aristóteles aos contemporâneos, mas que concomitantemente a isto
se mostre como esta ética filosófica pode ser aplicada na engenharia, discutindo os dilemas
éticos que os profissionais da área podem encontrar no exercício da sua profissão, e como
o estudo da ética filosófica pode ajudá-los a dar boas respostas para a solução destes
dilemas.

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Antes de responder a pergunta sobre “porque ensinar ética na engenharia” cabe
uma outra questão, a saber: o que é a ética na engenharia? Podemos definir ética, grosso
modo, como sendo “o conjunto de regras e princípios que devem orientar a ação
humana”. Por extensão, a ética na engenharia seria “o conjunto de regras e princípios que
devem orientar os engenheiros em sua atividade profissional”.
Quais seriam, eles? Para além daquilo que consta nos códigos de ética, e até para
fundamentá-los, cabe uma reflexão anterior. Esta reflexão começa com a pergunta: o que
seria uma conduta profissional efetivamente ética? Analisemos, inicialmente, o que deve
ser comum na conduta ética de qualquer engenheiro, independentemente de sua
especialidade.
A preocupação com o bem comum parece ser o primeiro desses pontos.
Preocupar-se com o bem comum implica, entre outras coisas, algumas das chamadas
“obrigações negativas”, como por exemplo, a de não colocar em risco o bem estar e a
segurança de indivíduos, grupos ou populações, que de agora em diante denominaremos
de “princípio de obrigação com a comunidade”. A princípio, isto parece ser totalmente
consensual. A questão é que na prática, este princípio que parece ser absoluto e
consensual, exige a tomada de decisões que muitas vezes implicam no sacrifício do lucro
ou dispêndio de muito dinheiro, e aí surgem as dúvidas sobre aplicá-lo ou não, e as
pressões. Vejamos um exemplo: imaginemos, hipoteticamente, um estádio de futebol que
segundo a análise de engenheiros qualificados necessita de uma série de reparos em sua
estrutura pois existe um risco mínimo, mas não zero, de que sob determinadas condições
venha a desabar. Se seguirmos o “princípio de obrigação com a comunidade” a decisão
correta a ser tomada é interditar o estádio por um tempo e fazer os reparos necessários.
Imaginemos, porém, como hipótese adicional, que o estádio seja o único da cidade e
estejamos no meio de um campeonato. Neste caso já haveriam vozes dispostas a ponderar
sobre a aplicação incondicional do princípio. Imaginemos agora, como outra hipótese
adicional, que a obra seja caríssima e que a mantenedora do estádio (seja governo ou
prefeitura) alegue que não há de modo algum recursos para realizar a obra, e portanto, o
estádio se interditado, ficaria nessa condição por no mínimo tres anos porque antes disto
estaria inviabilizada sua reforma. Com essa hipótese adicional quantas pessoas ainda
aplicariam incondicionalmente o “princípio de obrigação com a comunidade” e
continuariam defendendo a interdição do estádio?
Esse exemplo é paradigmático por vários motivos. Primeiro porque mostra que a
aplicação de princípios, mesmo quando estes são absolutamente consensuais, na maioria
dos casos práticos não é totalmente garantida. Há uma série de considerações e fatores
que podem afetar sua aplicabilidade. Segundo porque indica a série de pressões a que os
engenheiros podem estar submetido. A mantenedora pode pressioná-los para que
falsifiquem ou não divulguem seu laudo. Se eles não falsificam, e são funcionários da
mantenedora, podem perder seus empregos. Se não falsificam, o laudo é divulgado e nada
acontece com o estádio, podem ser acusados de alarmismo. Se falsificam ou não divulgam
e o estádio cai, podem ser presos, impedidos de exercer a profissão e principalmente,
responsabilizados por centenas de mortes.

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É aí que entra a necessidade do ensino da ética na engenharia. O futuro
profissional deve ter consciência dos princípios éticos básicos que ele deve respeitar e
também deve ser esclarecido sobre as pressões a que ele poderá ser submetido em sua
atividade profissional. O objetivo é prepará-lo para que tome as decisões corretas. O caso
acima citado pode ser considerado como a ilustração de um dilema-padrão, que é aquele
em que o interesse pessoal conflitua com a postura moral. Immanuel Kant, um dos autores
clássicos da filosofia moral nos dá o seguinte exemplo de um dilema deste tipo: “ Imagine
que um príncipe lhe dê a seguinte opção: ou você presta falso testemunho contra um
homem que você tem absoluta certeza que se trata de uma pessoa honesta e digna, ou
você é condenado a morte”.
Trata-se de um caso em que claramente o interesse pessoal, no caso o interesse
pela conservação da própria vida, está em franca oposição a conduta moral. Explico: se o
indivíduo x que foi ameaçado pelo príncipe opta por preservar sua vida ele deve adotar
uma atitude claramente imoral, condenando um homem que se sabe ser honesto. Se ele
opta por adotar a conduta moral, não prestando falso-testemunho, ele sacrifica sua vida. A
visão de Kant sobre este caso é clara (e falaremos disto mais adiante) ou seja, a atitude
correta a ser tomada é a de não prestar o falso testemunho. No caso hipotético em
questão, também, obviamente, a atitude correta é entregar o laudo verdadeiro. Aliás, a
atitude ética dos engenheiros deverá ser sempre a de não faltar com a verdade, ou seja,
emitir laudos e pareceres que expressem fidedignamente o que realmente está acontecendo
naquilo que é objeto de sua análise.
Mas o que interessa salientar aqui é o fato que na atividade do engenheiro, assim
como de muitas outras profissões, os dilemas éticos muitas vezes aparecem. O engenheiro
que é convidado a falsificar um laudo sob pena de perder seu emprego também está
optando entre o interesse pessoal e a moralidade. A falsificação do laudo evidentemente
pode levar ao sacrifício de diversas vidas. A não falsificação, em um mundo de
desemprego crescente, pode significar , no melhor dos casos, uma diminuição considerável
de seu padrão de vida e da sua família. Assim como no exemplo hipotético do príncipe
kantiano, o engenheiro de hoje é submetido as pressões de vários príncipes
contemporâneos, que assumem a forma de grandes construtores, industriais, governos
etc...
Há vários outros dilemas éticos que o engenheiro enfrenta na sua atividade além
daqueles que podem colocar em risco vidas humanas. Há casos e problemas relativos a
roubo de idéias, uso privilegiado de informações, esquemas em licitações,
descompromisso com a qualidade e outros. Na realidade o domínio da ética na engenharia
abrange as relações do engenheiro com seus clientes, com seus funcionários, com seus
patrões, com a comunidade, com seus concorrentes. Em cada uma destas relações é
preciso que os engenheiros construam uma prática ética padrão, para que acima de tudo a
prática da engenharia não esteja em contradição com a segurança e o bem-estar da
sociedade. E aí também é necessário o estudo da ética pelos engenheiros. Para que se
compreenda que o exercício de qualquer profissão deve estar plenamente de acordo com o
bem comum, que é aquilo que o filósofo Aristóteles caracterizava como sendo o objetivo
da vida em sociedade.

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Abordada a necessidade do ensino de ética na engenharia, cabe agora abordar
como deve se dar este ensino. Há basicamente dois erros no ensino da ética relativa a
profissões. O primeiro destes erros é o ensino da ética filosófica totalmente dissociada da
sua aplicabilidade ao campo profissional específico. Chamaremos este erro de “vício do
teoricismo”. O ensino da ética deste modo tende a desestimular os alunos, que não
conseguem compreender como o aprendizado da ética filosófica e suas correntes pode ser
aplicado em sua prática profissional. Outro problema desta metodologia é aquilo que Peter
Singer chama de “compreender a ética como um sistema ideal, de grande nobreza teórica,
mas na prática inaplicável”.
O segundo destes erros é exatamente o contrário deste que acima citamos. Trata-
se de abordar a ética profissional sem nenhuma relação e nenhuma referência a ética
filosófica. Chamaremos este erro de “vício do pragmatismo”. O ensino da ética deste
modo pode levar os alunos a compreender a ética como uma série de preceitos assumidos
no código de ética da sua profissão sem nenhuma discussão dos motivos pelos quais assim
deve ser a sua prática profissional, e deste modo, pode levá-los a compreender a ética
como sendo um conjunto de regras que atrapalham sua prática profissional, e não, como
deveria ser, um conjunto de regras absolutamente necessárias para o bom exercício de sua
profissão e para que exista o respeito da sociedade por sua atividade.
A primeira coisa, então, a ser evitada no ensino da ética na engenharia é tanto o
“vício do teoricismo” quanto o “vício do pragmatismo”. O ideal é fornecer uma visão
conjugada, que aborde a ética filosófica, os problemas éticos enfrentados pelos
engenheiros e a aplicação dos princípios da ética filosófica a resolução de problemas éticos
práticos.
Dentro da ética filosófica sugere-se que sejam ensinados os três modelos éticos
básicos e clássicos: a ética de virtudes aristotélica, a ética de princípios kantiana e a ética
utilitarista de J.S. Mill. Na ética de virtudes aristotélica , grosso modo, aborda-se a
necessidade de que o conjunto das atividades dentro da sociedade esteja submetido a
consecução daquilo que Aristóteles chama de bem supremo, ou seja, a felicidade de todos.
Qualquer atividade que esteja em contradição com esse fim não poderia ser considerada
como sendo ética. Como meio para a consecução deste fim Aristóteles descreve uma série
de virtudes que devem ser estimuladas na vida em sociedade e que são sempre uma
espécie de mediania, um meio termos entre o excesso e a falta. Neste sentido, Aristóteles
pode ser um precursor do que contemporaneamente determinamos como sendo o “bom
senso”.
Na ética de princípios kantiana aborda-se o chamado Imperativo Categórico
Kantiano, a chamada lei moral que Kant enuncia: “Age de tal modo que o princípio
subjetivo de tua ação possa ser universalizado”. Grosso modo, podemos dizer que este é o
critério para que determinemos se nossas ações são ou não imorais ou anti-éticas. Se as
ações podem ser universalizadas, se podemos querer que todos a cometam elas passam
pelo critério do Imperativo, e portanto estamos autorizados a praticá-las. Se elas não
podem ser universalizadas, se elas não podem ser cometidas por todos então elas são
imorais. No caso que trabalhamos acima, de um hipotético dilema possível de ser vivido
pelo engenheiro utilizamos a ética kantiana para prescrever que a atitude correta a ser

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tomada é a de não falsificar o laudo, embora este seja o caso em que os três modelos
dariam exatamente esta mesma resposta.
Já o princípio utilitarista da maior felicidade sustenta que “As ações são justas na
medida em que tendem a produzir a felicidade e injustas na medida em que tendem a
produzir o contrário da felicidade. Por felicidade entenda-se o prazer e a ausência de dor,
e por infelicidade a dor e a ausência de prazer. A felicidade, porém não é apenas a
felicidade do agente ,mas a felicidade de todos aqueles atingidos pelo ato”. O critério
utilitarista, então, para determinar a moralidade ou não de uma ação, é o grau de
felicidade que ele proporciona a todos aqueles que são por ela atingidos.
Apresentados estes três modelos, devem ser levantados os problemas éticos
possíveis de serem vivenciados pelos engenheiros, e a seguir, como a aplicação destes
modelos pode auxiliá-los na tomada de decisões. Evidentemente que o modo como isto
será feito depende da metodologia adotada por cada professor. O importante, aqui, e é
isso que quero ressaltar, é que necessariamente deve haver esta conjugação entre o ensino
de modelos éticos filosóficos, ou seja, de teorias éticas filosóficas, com problemas práticos
enfrentados pelos engenheiros no que diz respeito a condutas éticas a serem adotadas no
exercício de sua atividade profissional. Deve ser mostrado como a aplicação destes
modelos pode levá-los a correta solução dos problemas enfrentados pelos profissionais,
orientando-os sobre qual é a atitude moralmente correta.

Bibliografia básica em Português

ARISTÓTELES - A Ética a Nicômaco; Coleção Os Pensadores, Aristóteles II, Abril


Cultural
BROW, Marvim - Ética nos Negócios; Makron Books
KANT, I - Fundamentação da Metafísica dos Costumes; Coleção Os Pensadores, Kant II,
Abril Cultural
MILL, J.S - O Utilitarismo; Coimbra edições
NASH, Laura - Ética nas Empresas; Makron Books
SÁ, Antonio Lopes de - Ética Profissional; Atlas
SINGER, Peter - Ética Prática; Martins Fontes
TOFFLER, Barbara - Ética no Trabalho; Makron Books

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