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AFINAL QUEM É PARA OS PORTUGUESES

CARLOS VIEGAS GAGO COUTINHO CDU ?????  15


Anais do Clube Militar Naval, Vol. CXLVIII, julho-dezembro 2018, p. 15-??

AFINAL QUEM É PARA


OS PORTUGUESES CARLOS
VIEGAS GAGO COUTINHO

RUI MIGUEL DA COSTA PINTO


rcostapinto@netcabo.pt

RESUMO ABSTRACT
Procuraremos com base em vá- We will seek, based on several
ria documentação encontrada em documents found in auctions of
leilões de documentos de recen- documents of recent documenta-
te documentação encontrada no tion found in the Historical Ar-
Arquivo Histórico da Marinha e chive of the Navy and the Astro-
Observatório Astronómico de Lis- nomical Observatory of Lisbon,
boa dar a conhecer o pensamento to make known the thoughts of
do Almirante sobre temáticas da the Admiral on the themes of the
marinha, da Geodesia e a Astro- navy, Geodesy and Astronomy.
nomia. Começando primeiro por First starting with a description
uma descrição do seu funeral já of his funeral since they are 60
que perfazem 60 anos do seu fa- years after his death.
lecimento.

KEY WORDS:
PALAVRAS-CHAVE:
Gago Coutinho, fronteira, São
Gago Coutinho, fronteira, São Tomé, geodesia, Santos Dumont,
Tomé, geodesia, Santos Dumont, José Diogo Prestes
José Diogo Prestes
16 ANAIS DO CLUBE MILITAR NAVAL

Gago Coutinho nasceu às 3:30h da madrugada do dia 17 de


Fevereiro de 1869 em Belém, no nº 51 da Calçada da Ajuda num
pequeno prédio de rés-do-chão e primeiro andar, e não no Algarve2 ou
Luanda como alguns apontam.3 Há 150 anos.
Em Fevereiro de 1959 entra no Hospital com um ataque cardíaco
e com problemas renais tendo sido assistido pelos médicos Capitães-
tenentes Galvão Rocha e Mendes Fuga. Muitos foram os populares que
se deslocaram ao Hospital.
Ainda deu prenúncios de melhoras. Os médicos acharam-no livre
de risco, pois desejou tornar a trabalhar, ordenando que lhe trouxessem
um exemplar dos Lusíadas e o seu estirador, mas já não teve energia
para terminar a sua investigação, para as comemorações henriquinas
de 1960.
A 18 de Fevereiro leu os jornais da manhã e pediu para ir para a
sua residência preocupado com os seus textos. Às 14.00h pediu para
vir o Padre José Correia da Cunha para a extrema-unção, revelou
que contava viver mais alguns anos, pois tinha também “imensas coisas
a fazer”, e que solicitara a assistência do padre porque gostava ter tudo
em dia e em ordem. O estado de saúde piorou e às 16.00h entrou em
coma. Duas horas depois os olhos do velho almirante eram fechados
pelo Comodoro Luís de Noronha Andrade. Perfazendo agora 50 anos
sobre a sua morte.
Não chegou a celebrar os seus 90 anos no Rio de Janeiro, como era
seu desejo. A Marinha nunca o esqueceria ao contrário de uma parte da
sociedade civil portuguesa.
O corpo é velado por amigos, pela sua governanta e criada, na
capela do antigo Arsenal da Marinha.4

1
Atualmente nº 27.
2
Hipótese sugerida por Jaime Cortesão.
3
“Está neste caso o jornal Província de Angola, que no seu nº 2332, de 8 de Ju-
nho de 1933, ao noticiar a passagem em Luanda, a bordo de um barco nacional,
do almirante Gago Coutinho, publicava o seu retrato e fazia-o acompanhar da
seguinte legenda: «Nasceu em Luanda em 17 de Fevereiro de 1869.»” Cit. por
Pinheiro Corrêa - Gago Coutinho, Precursor da Navegação Aérea, Porto, Portu-
calense Editora, 1969.
4
COUTINHO, Gago - [Carta] 1951 Julho 5, Lisboa [ao] amigo Moura Bras [Ma-
nuscrito]. 1951. Autogr.. Acessível na Colecção Particular Moura Braz. Lisboa.
Portugal. S/n.
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1- Funeral de Gago Coutinho

As individualidades sucedem-se para o cortejo fúnebre na sua


maior parte pessoas com quem privou pessoalmente:
O Chefe do Estado-Maior da Armada Almirante Guerreiro de
Brito; o Ministro da Marinha Almirante Quintanilha Mendonça Dias; os
Ministros do Exército, do Ultramar, das Finanças, da Justiça secretários
e subsecretários de estado; o Almirante Nuno de Brion; o Comandante
Marques Esparteiro; o Comandante Oliveira Pinto; o Comandante
Sousa Uva; o Comandante Mendes Cabeçadas; o General Luís
Domingues; o General Cotta de Morais; o Comodoro António Negrão
Neto; o Comodoro Sarmento Rodrigues; o Comodoro Oliveira Barbosa;
o Capitão-de-Mar-e-Guerra José Salvador Mendes; o Coronel Mateus
Cabral; o Comandante Henrique Tenreiro; o Capitão-de-Fragata Silva
Ponce; o Professor Reinaldo dos Santos; o Professor Vitorino Nemésio;
o Professor Leonardo de Sousa Castro Freire; o Professor Jaime
Cortesão; o General Aníbal Vaz; o Brigadeiro João Cunha Baptista; o
Coronel Pinheiro Corrêa; o Dr José Pontes; o Comandante José Cabral;
o Comandante Soares de Oliveira; o Comandante Albano de Oliveira;
os Adidos Navais da Inglaterra, da Espanha e dos Estados Unidos; o
Adido Militar da Alemanha Ocidental; o Embaixador do Brasil Dr
Álvaro Lins; a Família do Embaixador Duarte Leite; o Piloto Carlos
Blek; o Piloto Fernando Brito Pais, da família do malogrado aviador;
18 ANAIS DO CLUBE MILITAR NAVAL

os Drs. Pedro e Zeferino de Sacadura Cabral, a Dª Maria José Sacadura


Cabral Ferreira da Camara, a Dª Fernanda de Sacadura Cabral irmãos
do seu camarada; Manuel da Costa Mesquitella dos Amigos de Lisboa;
o Engenheiro Carlos Garcia Alves; o Director da Faculdade de Ciências
de Lisboa, António Pereira Forjaz; o Ministro de Educação, Professor
Francisco de Paula Leite Pinto; o Almirante Filipe Castela; o Almirante
Sousa Dias; o Almirante Correia Pereira; o Escritor Augusto Casimiro
dos Santos; o General D. Fernando Pereira Coutinho; o Professor
António Maria Godinho; o Doutor Osório Vaz; o Dr Acácio Augusto
Cardoso Gouveia; o Director do Diário de Lisboa, Dr Norberto Lopes;
o Chefe de Estado Maior da Força Aérea, General Carlos Mário Sancho
de Castro Costa Macedo; o Presidentes da Assembleia Nacional e da
Câmara Corporativa; o Dr Pedro Teotónio Ministro da Presidência, em
representação do Presidente do Conselho, António de Oliveira Salazar
que se encontrava a recuperar de uma pneumonia, entre outros.5
A população encheu as ruas e a RTP utilizou pela primeira vez
duas câmaras em simultâneo. Recebeu as dignidades análogas às que
são semelhantes aos ministros da Marinha e do Exército nas quais
tomaram parte todas as forças disponíveis da Armada, de um regimento
de cavalaria e baterias para as salvas de estilo. O governo decidiu ainda
a demonstração de luto nacional, com as bandeiras a meia adriça até ao
pôr-do-sol do dia do cortejo fúnebre.
Saiu às 10h para o cemitério da Ajuda coberto com a bandeira
nacional, a bandeira da Sociedade de Geografia de Lisboa e a bandeira
da Associação de Bombeiros Voluntários do Porto, onde foi sepultado
em campa rasa 6 com a epígrafe:

Gago Coutinho
____________
Geógrafo
(1869-195_ )7

5
Diário de Lisboa, Lisboa, Ano 39º, Nº13002 (19-02-1959).
6
Já se encontravam sepultados na referida campa, o seu Pai a sua mãe adoptiva
Maria Augusta Pereira e a governanta Teresa de Jesus.
7
Deixara o nº em aberto, já prevendo a proximidade da morte.
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Não foi com a bandeira da armada porque nunca quisera muitas


dignidades, mas sim a simplicidade que procurara na sua vida.
A Câmara Municipal do Funchal e a Junta Geral do Distrito
comunicaram os seus pêsames e o Governador da Madeira, Camacho de
Freitas, solicitara ao comodoro Sarmento Rodrigues que representasse
a Madeira nas exéquias fúnebres.
Recentemente foi-nos dado a conhecer três fundos documentais,
um primeiro, de que falámos nas Jornadas do Mar, e que se refere a um
conjunto de periódicos locais e regionais que pertenceu ao Engenheiro
Miguel Eugénio Galvão de Melo Mota, que tinha um fascínio por
colecionar notícias do Almirante. Um segundo fundo deveu-se à
descoberta de documentação no Observatório Astronómico de Lisboa,
pela .....(falta texto?)

2- Gago Coutinho na capa do “Mundo Ilustrado”


20 ANAIS DO CLUBE MILITAR NAVAL

Engenheira Paula Santos que logo me contactou. A mesma coisa


aconteceu no Arquivo Histórico da Marinha quando a sua curadora,
Dr.ª Isabel Beato, procurava umas fotografias e se deparou com duas
pastas desconhecidas (Caixa 735_2_3 e Caixa 1410_3_2). Pediu-me
para atestar se o “Projeto de Aparelho de sinais por luz elétrica” era
efectivamente de Carlos Viegas Gago Coutinho8.
Dentro da Caixa 1410_3_2 encontrámos três ilustrações de navios
muito semelhantes (Caravela Bérrio; Nau São Gabriel; a caravela usada
por Bartolomeu Dias) às que se encontram na Sociedade de Geografia
de Lisboa, aguardando publicação merecida.
Na Caixa 735_2_3, do Arquivo Histórico da Marinha, pode ler-
se acerca de um castigo que foi atribuído a Gago Coutinho em 1884,
com 4 dias de prisão ao voltar a Portugal, já que terá desrespeitado
os seus dirigentes, sendo recidivo neste tipo de situações. Aqui foi o
caso de se sentar de chapéu posto na cabeça de forma inconveniente na
sala do Conselho do Almirantado, ”isto sem pedir vénia e ter altercação
com um oficial, seu superior – subalterno da 9ª repartição que estava na
mesma sala.”
Pediu que a pena fosse cumprida, um dia no Quartel do Corpo de
Marinheiros e os restantes três dias no Couraçado Vasco da Gama.9 E
que fosse escrito e anunciado na Ordem da Armada com a informação
clara de que o que originou a incorrecção que levou à punição, foi “por
se recusar a tirar o bonet estando armado.”10

8
Do qual falaremos nas Memórias da Academia de Marinha.
9
Conselho do Almirantado – [Nota 514, do Corpo de Marinheiros da Armada ao
Conselho do Almirantado, sobre o castigo de Gago Coutinho] [Manuscrito]. 25
de Junho de 1894. Autogr. Acessível no Arquivo Histórico da Biblioteca Central
da Marinha. Junqueira. Portugal. ARQUIVO DA MARINHA, Documentação
Avulsa: Processos Individuais de Oficiais da Armada – Classe Marinha, Caixa
Nº 735 _2_3.
10
Ibidem, 25 de junho de 1894.
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3- Documento sobre Gago Coutinho

Num outro documento refere-se à fragata D. Fernando (Dom


Fernando II e Glória) onde repetiu o que um oficial de marinha
divulgou no Diário de Notícias, apesar do actual Ministro do Ultramar
ser um entusiasta da mesma “(…) que a avaliava de um navio de grande
e fascinante concepção. 11 Ou seja salientou o ridículo da comparação
com a HMS Victory que entrou na batalha de Trafalgar onde o Almirante
Horatio Nelson perdeu a vida, salientado que este “é um barco cheio de
glória”. Segundo Gago Coutinho “A nossa fragata, a respeito de glória,
nem a do nome é conhecida. “12

11
OBSERVATÓRIO ASTRONÓMICO DE LISBOA, 7 de novembro de 1938.
12
Ibidem, S/D.
22 ANAIS DO CLUBE MILITAR NAVAL

A 9 de Agosto de 1897, já com seis anos de serviço no além-mar e


tendo passado só vinte e dois meses em Lisboa, manifestou a sua recusa
em considerar que a sua nomeação para a Divisão Naval de África Oriental
fosse qualquer tipo de penalização por incorrecções pesadas, praticadas a
bordo do Pêro de Alenquer. Nenhuma punição foi, pois, aplicada e pretendeu
responder no conselho de disciplina sobre a sua atitude na embarcação a
caminho de Moçambique, mas nada foi contrário ao que disse.13
Em documento não datado expõe algumas considerações
que permitem completar as características pessoais do Almirante,
nomeadamente as suas questiúnculas com os jornais que se agravariam
no futuro.
“Defeitos todo nós temos. E o mal está menos neles do que em
pretender ocultá-los. Eu tenho o de ser um incorrigível maçador
e bem o mostro.
Cá me tem, por isso, novamente a importunar V. Exª com uns
reparos ao artigo de hoje no «D.N.».
Diz V. Exª «… nunca nenhum governo nosso teve ocasião de convidar
as esquadras do Universo a reunirem-se em Lisboa…».
Peço perdão de contradizer V. Exª, mas em Julho de 1898, por ocasião
das festas do 4º centenário da descoberta do caminho marítimo para
a Índia, estiveram no Tejo navios de todas as marinhas de guerra.”14

A 9 de Agosto de 1912, é esclarecido pelo Major General da Armada


que o então Capitão-Tenente Carlos Viegas Gago Coutinho teria recebido
guia a 5 do corrente por nomeação a função de comissário da delimitação
de fronteiras coloniais, com as missões inglesa e belga. A sua tomada de
posse não implicou o acesso a promoção pelo facto de ter sido admitido
no quadro o Capitão-tenente Jaime Daniel Leotte do Rego.
Noutro tipo de correspondência, encontramos ofícios e requerimentos
como aquele em que Gago Coutinho requer que lhe seja contado o tempo
“como tirocínio de embarque o tempo que fez serviço militar em tempo
de guerra a bordo dos referidos paquetes, para todos os efeitos menos
vencimentos. ”15 Tal como o que exerceu na missão de geodesia pelos

13
ARQUIVO DA MARINHA, Documentação Avulsa: Processos de Oficiais da
Armada – Classe Marinha, Caixa Nº1410 3-2, 9 de agosto de 1897.
14
Ibidem, S/D.
15
OBSERVATÓRIO ASTRONÓMICO DE LISBOA, 10 de fevereiro 1917.
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CARLOS VIEGAS GAGO COUTINHO  23

territórios coloniais e acompanhou a ida de contingentes de homens,


aquando da primeira guerra mundial, durante o tempo de “passageiro
nos vapores Ambaça e Mossamedes.” A bordo comportou-se como um
capitão de bandeira, com os perigos inerentes e requereu que lhe fosse
contado o tempo, mas a Majoria General da Armada afirmava em 1917,
nada constar “que o requerente tivesse embarcado nos paquetes da
Empreza Nacional de Navegação em comissão de serviço nas Colónias
como expõe na sua petição.”
No mesmo ano dirigia-se ao Director Geral das Colónias
relativamente à inconveniência de retorno à Marinha, antes de concluir
os seus trabalhos de cartógrafo em curso, concordando o Ministro da
Marinha, exarando o seguinte despacho:
“Concordo em que seja dispensado do tirocínio, atendendo aos
grandes serviços que tem prestado no Ministério das Colónias em
serviço da cartografia, sendo, portanto, considerado ao abrigo do
artigo 116º do decreto de 14 de Agosto de 1892.”

Sobre a sua promoção Gago Coutinho, expusera a situação ao


Ministro das Colónias que lhe respondeu:
“que este oficial se acha ligado por um contracto á realização
d’um importante serviço publico-o levantamento da carta da
ilha de S. Tomé e quando encetou os trabalhos estava em número
muito alto para a sua promoção a capitão de mar e guerra, mas
por inesperado e grande movimento que se deu no seu quadro,
encontra-se relativamente próximo da promoção e em risco de
ser preterido por falta de tirocínio. O regresso deste oficial ao
serviço da Marinha este momento, representa uma grande demora
na conclusão dos trabalhos que este Ministério considera de toda
a urgência (…)ponderando as circunstancias acima apontadas
(…) se há meio na legislação vigente para que este oficial
não seja prejudicado na sua promoção, caso esta lhe venha a
pertencer, quando estiver procedendo aos trabalhos de que está
encarregado.”16

16
ARQUIVO DA MARINHA, Documentação Avulsa: Processos de Oficiais da
Armada – Classe Marinha, Caixa Nº 735 2_3, 17 de agosto de 1899. ARQUIVO
DA MARINHA, Documentação Avulsa: Processos de Oficiais da Armada – Classe
Marinha, Caixa Nº1410_3_2, S/D.
24 ANAIS DO CLUBE MILITAR NAVAL

Acabou por continuar os seus trabalhos em S. Tomé.


“Segundo o ofício junto do Ministerio das Colonias está o
capitão de fragata Gago Coutinho para seguir para S. Tomé
onde vai continuar trabalhos de cartografia já encetados por ele.
Não tem esta Repartição duvida alguma em que o referido oficial
se continuar no serviço em quase acha será preterido na sua
promoção, se quando ela lhe pertencer não tiver vindo já para o
serviço da Marinha afim de fazer seu tirocínio.
A esta Repartição oferece-se sobre o assunto dizer o seguinte:
O artigo 116º do decreto de 14 de Agosto de 1892 que diz as
situações dos oficiais que são dispensados de tirocínio de
embarque até o encetou os trabalhos estava em número muito
alto para a sua promoção a capitão de mar e guerra, abrange
a Comissão de Cartografia. Compõe-se esta de cinco oficiais
Ernesto de Vasconcellos, Aleixo Ribeiro, Paula Cid, Calvo da
Silva e Ernesto de Vilhena oficiais estes que, a avaliar pelo
tempo em que já se acham na metropole, justo é presumir que já
tenham há muito concluído quaisquer de trabalho de Cartografia
que acham feito fóra.
Supõe esta repartição que o motivo da aplicação do artigo 116º
citado tenha sido justamente por os trabalhos cartográficos os
inibirem de fazer - os seus tirocínios.
Compare-se a situação destes com a de Gago Coutinho e
escusado será encarecer a justiça que lhe assiste de que um
despacho ministerial o dispense de tirocínio deixando livre no
desempenho da Comissão que lhe foi confiada e de que a Nação
sem duvida maior proveito tira do que com o seu embarque hum
navio no Tejo.
Majoria General da Armada 24 Repartição 26 de Setembro de
1917.”17

Em 1919, fora, como se sabe, nomeado para vogal efectivo do quadro


da Comissão de Cartografia, como se verifica nesta documentação.18

17
ARQUIVO DA MARINHA, Documentação Avulsa: Processos de Oficiais da
Armada – Classe Marinha, Caixa Nº1410_3_2, 26 de setembro de 1917 e 28 de
setembro de 1917.
18
Ibidem, 24 de julho de 1919.
AFINAL QUEM É PARA OS PORTUGUESES
CARLOS VIEGAS GAGO COUTINHO  25

Entretanto, em 1925 tinha sido outorgado o pedido em que o


Almirante tinha pedido um aumento de 10% do seu vencimento.19
Um outro ofício do ano seguinte dá a conhecer “o convite do
Governo Espanhol ao Almirante Gago Coutinho para assistir em
Sevilha às solenidades que ali se realisam á chegada do Plus Ultra”,
voo realizado pelo piloto Ramon Franco em 1926.20
No mesmo ano, a 22 de Junho, dirige-se ao Ministro da Marinha
a requerer que enquanto “vogal permanente do quadro da Comissão de
Cartografia do Ministério das Colónias, nomeado chanceler do Conselho
da Ordem da Torre Espada, por decreto de 27 Fevereiro 1926”, fosse
destituído do cargo do qual nunca tomou posse.21
A 23 de Outubro de 1922 encontrando-se o Contra-almirante
Carlos Viegas Gago Coutinho sob a chefia do Ministério das Colónias,
pede o Ministro da Marinha para enviar à Majoria General da Armada o
ofício nº 3223, datado de 17 do corrente, da Repartição do Gabinete do
Ministério da Guerra, em que solicita quaisquer esclarecimentos sobre
o sextante para navegação aérea, invenção daquele oficial general.22
Em documento não datado, Gago Coutinho realizou as seguintes
declarações de voto:
"Ambos os candidatos apresentam os documentos exigidos pelo
artigo 98º do Regulamento: estes documentos são iguais para os
dois candidatos, havendo que examinar os documentos apresentados
ao abrigo do artigo 101º. O candidato Botelheiro23 apresenta os
documentos de tirocínio no Instituto Geofísico de Coimbra, antigo
Observatório Meteorológico e Magnético. O candidato Santos
apresenta: certificado do Diretor dos Serviços Geodésicos, do
Instituto Geográfico e Cadastral de ter feito observações e cálculos
de revisão de uma parte de rede geodésica de terceira ordem;
uma memória com o título de “Fins e plano…”; uma análise dos
resultados de observações de latitude feitas por ele no Observatório
Astronómico de Lisboa, pelos processos de Talcott e Struve.

19
Ibidem, 15 de agosto de 1925, 22 de Agosto de 1925.
20
Ibidem, 27 de março de 1926.
21
Ibidem, 24 de junho de 1926.
22
Ibidem, 23-10-1922.
23
Oficial da Armada Armando Perestrelo Botelheiro.
26 ANAIS DO CLUBE MILITAR NAVAL

Considerando que, no artigo 97 º do regulamento se menciona


“Alta Geodesia” só como alternativa do importante “serviço
astronómico no Observatório”, ao passo que no artigo 100º são
admitidos trabalhos sobre “matemáticas aplicadas”, como são os
da Pequena Geodesia; considerando que o artigo 101º menciona
a apresentação de documentos que contribuam para testar a
“capacidade cientifica” dos candidatos; feito o exame comparativo
dos documentos apresentados, concluo que há elementos para
afirmar que o candidato Santos demonstrou mais interesse pela
Ciência e amor ao estudo dos assuntos diretamente relacionados
com a Geodesia e a Astronomia. E assim, ponho em segundo lugar
a “antiguidade no serviço”, a que se refere o artigo 102º, e voto em
mérito relativo no candidato Baptista dos Santos”.24

A Majoria General da Armada informa que Gago Coutinho é


indicado para “comissário de limites da missão portuguesa”, que
concomitantemente com as missões inglesa e belga a 2 de Maio de 1911
“tem de determinar o ponto de intersecção do meridiano de 24º
E. Gr. com a divisória de águas Zaire Zambeze, e depois com a
missão inglesa, proceder à demarcação da fronteira de Angola
desde aquela parte até ao rio Cuando.
Para o cargo de adjuntos foram nomeados pelo mesmo decreto os
oficiais 1º tenente Filipe Trajano Vieira da Rocha e o 2º Tenente
Arthur de Sacadura Freire Cabral.”

A Direção Geral das Colónias transmitiu que o 1º tenente Filipe


Trajano Vieira da Rocha achava-se nos afazeres na Estação Naval de
Moçambique, não terminando os 118 dias de tirocínio em falta.25
Em 31 de Julho de 1911, a mesma Majoria informava que Coutinho
deveria receber a chefia da canhoeira Sado, para poder realizar o tirocínio
de embarque para o indigitamento ao lugar de imediato, previamente à
sua saída para a delimitação de fronteiras de Angola em finais de Julho
do contíguo ano de 1912.26

24
ARQUIVO DA MARINHA, Documentação Avulsa: Processos de Oficiais da
Armada – Classe Marinha, Caixa Nº1410_3_2, S/D.
25
ARQUIVO DA MARINHA, Documentação Avulsa: Processos de Oficiais da
Armada – Classe Marinha, Caixa Nº1410_3_2, 10 de maio de 1911.
26
Ibidem, 31 de julho de 1911 e 6 de agosto de 1912.
AFINAL QUEM É PARA OS PORTUGUESES
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Não há informações de que usufruísse de transporte em qualquer


dos paquetes da Empresa Nacional de Navegação em missão de serviço
nas Colónias.27
A 7 de Novembro do corrente ano arcou a liderança da Estação
Naval da Índia e da Canhoeira Rio Sado.28 No ano subsequente segue
para Timor.29
Já depois da travessia atlântica, em 1923 retorquindo à sugestão
da Direção de Aeronáutica Militar, para que fosse engendrado “um
curso de navegação aérea e meteorologia” do qual seria o seu Director,
transmitiu que os requisitos eram os mesmos de uma aula como nas
disciplinas de navegação e astronomia da Escola Naval. Não achando,
pois, que fosse fundamental a repetição do curso que forçaria a um
outro docente e de desnecessárias despesas “com pessoal, livros,
instrumentos de demonstração, etc.”
Não estava à vontade para se conformar com as imposições de um
docente de uma disciplina idêntica à da Escola Naval, com a agravante
de não dispor de tempo para o efeito para dirigir um curso anual.
Todavia estaria disponível para superintender esse curso e da
preparação de quaisquer palestras para indivíduos que precisassem,
com curso de navegação da Escola Naval, ou semelhante, comunicações
que revelariam um curso completivo de navegação aérea, bem como, da
manifestação no campo. As necessidades passariam pela obtenção de
vários instrumentos adequados e específicos da navegação aérea, que a
Escola Naval não possuía como: “bússolas de Aviação, sextantes e material
para estudo do vento a diferentes altitudes.”30
Concluindo, já se anuncia, e passo o exagero, o prelúdio de uma
Aeronáutica Militar/ Aviação Naval como arma independente.
“Tomara eu saber voar, quanto mais saber pensar coisas interessantes
para moças. Os meus pensamentos são todos já velhos e impróprios de
abusos”31

27
Ibidem, 17-2-1917.
28
Ibidem, 8 de novembro de 1911.
29
Ibidem, 21 de março de 1912.
30
ARQUIVO DA MARINHA, Documentação Avulsa: Processos de Oficiais da
Armada – Classe Marinha, Caixa Nº1410_3_2, 12 de março 1923.
31
Rio, Novembro 1923, http://www.harpyaleiloes.com.br/peca.asp?ID=3546632&c
td=41&tot=&tipo= &artista= , acedido em 2 dezembro de 2018
28 ANAIS DO CLUBE MILITAR NAVAL

A 30 de Setembro de 1911 Carlos Viegas Gago Coutinho, enquanto


Capitão-tenente agregado à Majoria Geral da Armada, soube que iria ser
escolhido para assistir na Estação Naval da Índia, e ir no transporte de 9 de
Outubro, mas novamente, sem agravante para o desembolso dos cofres do
estado. A sua viagem iria ser paga em numerário, possibilitando, pois, que
conseguisse escolher a melhor e mais agradável estadia não necessitando
de procurar em agências de viagens.32
Em 1924 acrescentaria:
“(…) Eu continuo a não fazer bem ideia das explicações derivadas da
teoria. A meu ver, os fenómenos físicos podem explicar-se em cálculo,
o qual serve apenas para prever (?) as consequências de hipoteses
que lhe introduzem. Assim o cálculo é impotente para provar que os
corpos se atraem na razão inversa do quadrado da distância: mas
admitida esta hipótese, talvez falsa, o cálculo diz-nos que as órbitas
dos planetas são secções cónicas.
Os que tentam explicar a teoria de Einstein, começam, como no
caso do comboio e em outros, por nos mostrar as consequências
de a transmissão da luz se não parar instantaneamente: e daí
resultam discordâncias, que, a meu ver, não são mais que ilusão
de ética, e não factos concretos”33

Não terminamos sem antes fazer uma referência a um documento


encontrado na internet datado de 7 de Abril de 1934 e dirigido ao
aviador Carlos Eduardo Bleck.34 Gago Coutinho manifesta o seu agrado
em comparecer à festa de homenagem que os seus amigos iriam fazer.
Mas recusa-se porque andava “ (…) fugindo a todos os atos donde
possa resultar o parecer que procuro com a minha presença solicitar
mais homenagens.”
Daí que tivesse ido ter com ele à estação, já não o acompanhando ao
Aeroclube. Lamentava não poder ir, desejando que não visse nisso qualquer

32
ARQUIVO DA MARINHA, Documentação Avulsa: Processos de Oficiais da
Armada – Classe Marinha. Caixa Nº1410_3_2, 30 de setembro de 1911 e 9 de
agosto de 1912
33
OBSERVATÓRIO ASTRONÓMICO DE LISBOA, 1924 – Julho – 10.
34
Em 1930 fez parte da direção do Aeroclube de Portugal que fundou a primeira
escola de aviação portuguesa, https://www.infopedia.pt/$carlos-bleck, acedido em
dezembro de 2018.
AFINAL QUEM É PARA OS PORTUGUESES
CARLOS VIEGAS GAGO COUTINHO  29

falta de respeito pela coragem e vitória da sua travessia de Portugal a Goa


do corrente ano, “só, em um pequeno avião e desajudado, sucesso com o
qual – como todos os portugueses, extremamente me congratulo.”35
No mesmo ano Santos Dumont expunha a Gago Coutinho o seu desgosto
e ansiedade das notícias do provável falecimento de Sacadura Cabral:
“Porque não seguiu elle os meus conselhos de descançar depois
de tais grande feito que foi a viagem Portugal-Brasil.
Eu continuo a pedir a Deus que elle ainda continue ainda em vida
e esteja a bordo de algum barco veleiro e que nos possamos vel-lo
ainda com vida”36

A 19 de Julho de 1942, em correspondência com o seu companheiro


Prestes, informa-o da sua viagem para o Rio de Janeiro vindo pelo
Niassa, justificando assim a mesma:
“ (…) Como aqui nada tenho que fazer, e como as excursões pela
Europa estão proibidas, não vos faço favor nenhum, aos bons
amigos do Rio, indo visitá-los de vez em quando. O pior é que
já não há cais do Sena onde comprar livros bons e baratos, como
antigamente. De modo que terei que te contentar com o que aqui
aparece nos alfarrabistas.”

Pedindo em adenda que se reservasse um lugar no Hotel Palace o que


já era costume seu.37
Oito anos antes do seu falecimento desabafava em Paris ao amigo
José Diogo Prestes:
” (…) cá estou de novo em Paris, e na conhecida Rua Bèrgere. Está
frio para o Maio, que eu conheci já há 53 anos, em 1895. Ai também
havia frio em Lisboa, a minha partida, no domingo pelo avião da
Panair. À medida que vou envelhecendo, o tempo vai mudando.
Claro, continuo fazendo a vida pacífica do costume. Teatros, Cinemas,
Museus. Passeios.

35
7 de abril de 1934.
36
Biarritz 23-11-1924, https://www.researchgate.net/figure/Letter-from-Santos-
-Dumont-to-Gago-Coutinho-expressing-his-thoughts-about-Sacaduras_
fig11_293334021, acedido em 3 dezembro de 2018.
37
19 de Julho de 1942, https://www.levyleiloeiro.com.br/peca.asp?ID=211330, ace-
dido em 3 dezembro 2018.
30 ANAIS DO CLUBE MILITAR NAVAL

Como era de esperar, com as greves, a vida encareceu bastante.


Algumas coisas quasi dobraram, e a entrada nos cinemas está
em 250 paus (?), quasi 20 cruzeiros. A 1ª classe do Metro 32, etc.
Nada mais me lembra que te possa interessar a não ser que
tenho saudades do tempo em que cá te encontravas todos os
anos com senhora (?).”38

Em 1931 permanecendo em Paris escrevia ao seu amigo Prestes sobre


a sua viagem pelos dois vapores que tomara e num deles assistira a um
espectáculo, na cidade francesa contava ver uma “exposição que, segundo
se crê, reabrirá para o ano. Se assim for não deixes de ir ver. Agora Paris.
Como tem menos americanos está suportável. Já se fala bastante francês ”39
Em 1939 falava ao Prestes mais uma vez a pedir que este lhe reservasse
o quarto habitual no hotel Palace, a sua confiança era bastante junto desta
amizade ou não lhe tivesse pedido 4 anos depois em Santos, São Paulo. 40
Conhecera a escritora Deolinda Cardoso no Brasil com quem
procedera à troca de correspondência, ficando satisfeito pelo apreço que a
mesma manifestara em relação à obra A Náutica dos Descobrimentos. Só
recebeu três exemplares, obsequiando um ao Ministro do Ultramar, outro
ao Comandante Moura Braz e ficado com o terceiro. Destacando que não
trazia novidades ao contrário do que estava a publicar agora no jornal Voz
de Portugal.
Tanto assim foi que a Agência do Ultramar ofereceu exemplares a
entidades de Portugal e do Brasil, como Bibliotecas do Rio, Gabinetes
de Leitura do Brasil, e Institutos Históricos Brasileiros. Depois da oferta
para as oito colónias, liceus e bibliotecas de Portugal, poucos exemplares
restaram à Agência, que os manda para as Livrarias pelo preço de 400
escudos, os seis volumes.41

38
Paris 1951 - Maio – 16.
39
– 1931 – Setembro 23, http://www.lilileiloeira.com.br/peca.asp?ID=133388&ctd
=260&tot=&tipo= &artista=, acedido em 2 dezembro 2018.
40
7 de Dezembro 1943, https://www.levyleiloeiro.com.br/peca.asp?ID=48835&ctd
=21&tot=&tipo= / https://www.levyleiloeiro.com.br/peca.asp?ID=, acedido em 2
dezembro 2018.
41
Rio, 1953, março 7, https://familiaroxomotta.wordpress.com/2016/07/24/12-deo-
linda-cardoso-uma-mulher-extraordinaria/, acedido em 29 de Novembro de 2018.
AFINAL QUEM É PARA OS PORTUGUESES
CARLOS VIEGAS GAGO COUTINHO  31

A 7 de Setembro de 1944, em carta ao Dr. Gustavo Cordeiro


Ramos pedia esclarecimento se existia a obra redigida pelo Dr.
Franz Hummerich sobre o Roteiro de Vasco da Gama, publicada
em Munich em 1898, para ser consultado e ou traduzido, pois
encontrava-se a preparar uma análise náutica da rota seguida por
Vasco da Gama em 1497, para futura edição.42
A 6 de Fevereiro de 1949 agradecia o recebimento de uma
carta do dia 1 do corrente mês do Dr. Mário Duarte com fotos de
familiares dele e as de Marselha que visitou pela primeira vez em
1896 e a última em 1936, alojando-se sempre no Hotel de Provence.
Aqui voltaria ao célebre assunto do atropelamento que sofrera no
Rio de Janeiro.43
Dois anos depois recordava o Professor Duarte Leite “(…) um
tão profundo e autorizado crítico histórico, (…) que escrevia mais
como homem -de – Mar do que como homem- de- Academia. ”44
Manifestava queixas da censura em Portugal na correspondência
travada: “(…) Sobre escrever-te, provavelmente fá-lo-ei pela via
aérea, mas tenho medo de que nada venha a receber antes de eu ai
chegar, pois hoje recebi uma carta aérea do Rio,] que dai saiu a 1 de
Março! Censurada é claro (…).”45
Em 1955 numa carta à escritora Deolinda Cardoso onde
anunciava:46
“ (…) Esperemos que o Brasil não precise voltar com armas
à Europa, desta vez para garantir sua própria independência,
pela qual os portugueses de agora fazem ardentes votos.
Acontece, porém, que os desejos russos de dominar o Mundo,
para garantia de sua própria segurança política são tais

42
7 de Setembro de 1944, https://www.bestnetleiloes.com/pt/leiloes/manuscritos-
-e-livros/manuscrito-gago-coutinho, acedido em 29 de Novembro de 2018.
43
6 de Fevereiro de 1949, http://ww3.aeje.pt/avcultur/Avcultur/AveiDistrito/Bole-
tim31/page73.htm, acedido em 25 de Novembro de 2018.
44
Lisboa, 1951, http://duarteleitepereiradasilva.blogspot.com/, acedido em 25 de
Novembro de 2018.
45
https://www.levyleiloeiro.com.br/peca.asp?ID=134270, acedido em 23 de Novem-
bro de 2018.
46
1955 – Janeiro – 2, https://familiaroxomotta.wordpress.com/2016/07/24/12-deo-
linda-cardoso-uma-mulher-extraordinaria/, acedido em 21 de Novembro de 2018.
32 ANAIS DO CLUBE MILITAR NAVAL

que é de recear que o armamento da Alemanha lhe corte as


esperanças e que, antes de ela estar armada se lancem em uma
nova guerra contra o mundo, que tão mal se está preparando.”

4- Envelope de Gago Coutinho a Dr. Augusto Prestes

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