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JURISPRUDÊNCIA RELEVANTE:
ACSTJ de 14-04-2005
Estabelecimento comercial Trespasse Direito ao arrendamento
I - Enquanto objeto de negócios, o estabelecimento comercial não envolve necessariamente o local em que
estiver instalado, podendo firmar-se com a partilha a distinta titularidade dum e doutro.
II - Quando com a transmissão do estabelecimento - inter vivos, por trespasse, ou mortis causa, por via
sucessória - se coloque a questão da relação do mesmo com o local em que está instalado, o princípio da
livre formação ou composição do estabelecimento está limitado pelo que se deva considerar como o seu
âmbito mínimo ou necessário enquanto organização de factores produtivos, isto é, pelos elementos sem os
quais não assume existência autónoma, e pelos que integram o seu âmbito imperativo, como é o caso dos
contratos de trabalho.
III - Os outros elementos, que constituem o denominado âmbito máximo, como é o caso dos direitos reais
sobre imóveis, da firma e do passivo, só se transmitem, na primeira das hipóteses referidas, se os
contratantes manifestarem a sua vontade nesse sentido.
IV - Em regra, o trespasse não implica a transmissão forçada do local em que o estabelecimento funciona,
só assim não sendo quando efectivamente integre o âmbito mínimo ou necessário do estabelecimento em
questão.
V - Mesmo quando defendida a afectação natural do local ao estabelecimento que nele funcione, é de
ressalvar a possibilidade da sua exclusão por declaração nesse sentido.
VI - O trespasse não tem por pressuposto a existência prévia dum arrendamento, limitando-se o art.º 115,
n.º 1, do RAU, a fixar os termos em que a transmissão da posição de arrendatário comercial ou industrial
se pode operar em caso de trespasse.
VII - Visto que pode transmitir-se o estabelecimento sem o local em que funciona, pode também reivindicar-
se o mesmo sem que tal implique a entrega do local em que está instalado.
Revista n.º 404/05 - 7.ª Secção Oliveira Barros (Relator) * Salvador Barros Ferreira de Sousa
ACSTJ
Processo: 98B1020
I - Na definição do bloco dos elementos componentes do estabelecimento comercial e movidos pelo trespasse vigora o princípio "da
livre composição ou livre formação do estabelecimento" objecto daquele.
II - De entre os elementos nucleares do "estabelecimento" um grupo deles a que a doutrina chama de "lastro ostensivo" do
estabelecimento comercial, compõe o "âmbito mínimo ou necessário" e situa-se no âmago da empresa como organização de
factores produtivos e sem o qual aquele nem existe.
III - Outros elementos do estabelecimento comercial são os que se inscrevem no seu "âmbito natural".
IV - De entre os elementos nucleares do estabelecimento, o chamado "lastro ostensivo", outros há que igualmente integram o
estabelecimento e transitam pelo trespasse entre esferas jurídicas contratantes, mas agora por imposição da lei.
Constituem o chamado "âmbito imperativo" do estabelecimento comercial, onde se incluem os contratos de trabalho.
V - Fora destes limites ao referido princípio da livre composição ou formação do estabelecimento comercial, e que integram o
"âmbito mínimo ou necessário" de trânsito pelo trespasse, situam-se os elementos que a doutrina vem designando por "âmbito
máximo" e que só transitam entre esferas jurídicas negociantes do trespasse, se as vontades nesse sentido se manifestarem (v.g.,
os direitos reais sobre imóveis, a firma e os débitos puros).
VI - Assim, o crédito por benfeitorias efectuadas pelo arrendatário trespassante no locado, onde funciona o respectivo
estabelecimento comercial, não faz sequer parte do núcleo do estabelecimento trespassado, ou seja, do seu "lastro ostensivo", dos
seus factores ou vectores de produção empresarial ou dos seus resultados.
VII - Esse crédito é uma mera expansão das relações jurídicas típicas do contrato de arrendamento que não da actividade comercial
desenvolvida pelo estabelecimento trespassado, ou seja, do seu "lastro ostensivo", dos seus factores ou vectores de produção
empresarial ou dos seus resultados.
ACSTJ
Processo: 004240
I - Consagra-se, no artigo 37, ns. 1 e 4 da LCT, o princípio de que a transmissão do estabelcimento não afecta, em regra, a subsistência
dos contratos de trabalho, nem o respectivo conteúdo, tudo se passando, em relação aos trabalhadores, como se a transmissão não
houvesse tido lugar.
II - Torna-se necessário, para que exista "transmissão de estabelecimento", susceptível de desencadear o regime consagrado no
mencionado artigo 37, que se verifique a conservação da identidade do estabelecimento e a prossecução da sua actividade, ou seja,
que o transmissário tome a exploração de um estabelecimento que estava e continua em actividade.
DOUTRINA:
MENEZES CORDEIRO:
Âmbitos de Entrega
Com maior ou menor segurança, é possível enumerar diversos elementos que integram
normalmente este âmbito de entrega. Por força da lei (supletiva), incluem-se no âmbito
natural os logótipos e as marcas. O CPI anterior (1995) era claro quanto à transmissão
(em principio) natural destes sinais distintivos. No CPI atual (2003), o art.304-P/3,
continua a ser claro quanto à transmissão natural dos logótipos. Mas o artigo 211(1 do
Código de 1995 (transmissão natural de marca) não tem correspondente no Código
vigente. Contudo, pode concluir-se no artigo 31º/5 a inclusão da marca no âmbito
natural de transmissão. Diz ele: se no logótipo ou na marca figurar o nome individual, a
firma ou a denominação social do titular (…), é necessária cláusula para a sua
transmissão. Quer dizer, se na marca não constar o nome, etc., do titular, ela é
transmitida naturalmente com o respetivo estabelecimento, não precisando de cláusula
ad hoc.
Assim, para os contratos, e ressalvadas as hipóteses previstas na lei, valem as regras dos
artigos 424º CC – é necessário não apenas o acordo entre trespassante e trespassário
mas também o consentimento do contraente cedido (art.424ºCC: no contrato com
prestações reciprocas, qualquer das partes tem a faculdade de transmitir a terceiro a
sua posição contratual, desde que o outro contraente, antes ou depois da celebração do
contrato, consinta na transmissão).
Mais debatida que a cessão de posições contratuais ou de créditos tem sido a
transmissão singular de dívidas (ou, mais latamente, a responsabilização ou co-
responsabilização do trespassário pelas dividas relativas ao estabelecimento anteriores
ao trespasse. Talvez por neste domínio serem mais vincados os virtuais conflitos de
interesses.
O estabelecimento pode ser negociado no seu âmbito mínimo. Se este não for
observado, pode haver, naturalmente, negócio, mas ele terá outro objeto que não
aquele estabelecimento. Como o estabelecimento é essencialmente um
mecanismo/organização para a intervenção no mercado, e, nesse plano, o seu valor
especifico decorre da simbiose entre os valores de organização e os valores de
exploração, o âmbito mínimo apura-se a partir desses valores: ao âmbito mínimo
pertencem todos aqueles elementos que, em concreto, são imprescindíveis para
sensibilizar e transportar aqueles valores específicos de memória e de eficiência
organizativa que conferem ao estabelecimento o seu especial valor de posição e para
tornar reconhecível nas mãos do adquirente.
O âmbito mínimo não é composto por um numero fixo de bens a priori, nem é
composto necessariamente por um conjunto fechado ou rígido de bens (salvo os casos
especiais, designadamente quando o estabelecimento é absolutamente vinculado, por
ter uma relação de incindibilidade com certo bem). A averiguação sobre se, num dado
negócio, foi respeitado o âmbito mínimo, reporta-se sempre ao conjunto de elementos
envolvidos na negociação ou a envolver, se o juízo for ex ante – portanto, é sempre um
juízo em concreto (duplamente em concreto: parte daquele estabelecimento e da sua
especial configuração e atenta no especifico negócio).
Do âmbito máximo faz parte a firma, os direitos reais sobre imóveis. É assim
porque resulta do nosso ordenamento jurídico-privado um principio segundo o qual
esses direitos não se transmitem sem uma declaração especificamente dirigida à
transmissão, ainda que, nos termos gerais, ela possa ser tácita. O professor CASSIANO
DOS SANTOS rejeita, pois, uma transmissão implícita com a transmissão do
estabelecimento.
A igual regime estão sujeitas as dividas, para a transmissão das quais a lei
também supõe uma especifica convenção ou uma vontade ad hoc do adquirente: o
artigo 595º/1/a) CC, exige a ratificação pelo credor do contrato entre o antigo e o novo
devedor, pressupondo um acordo especificamente dirigido à transmissão; esto está,
aliás, em conformidade com a regra geral de que ninguém se obriga sem uma declaração
de vontade nesse sentido. A solução é razoável: tratando-se de um elemento da
empresa que é objetivamente um desvalor, a sua assunção não pode ser feita de modo
implícito. A declaração comum pela qual o estabelecimento se transmite com todo o
ativo e passivo, reportando especificamente às dividas e a todas elas, é suficiente para
que cada uma das dividas se considere transmitida, assumindo o adquirente da empresa
a obrigação de as pagar.