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revista de

ESTUDOS
JUDAICOS

Belo Horizonte, Ano XI, n. 8, 2009/2010


Belo Horizonte, Ano XI, n. 8, 2009/2010 ISSN: 1517-7904

INSTITUTO HISTÓRICO
ISRAELITA MINEIRO
INSTITUTO HISTÓRICO
Revista de Estudos Judaicos
ISRAELITA MINEIRO

APOIO CULTURAL
AETHRA
AETHRA
S I S T E M A S AU T O M O T I V O S
S I S T E M A S AU T O M O T I V O S
Proibida a reprodução de qualquer parte ou do todo sem a prévia autorização do Editor.
Disponível no site: www.ihim.org.br.

Comissão Editorial
Aléxia Teles Duchowny
Maria Antonieta A. de M. Cohen
Naftale Katz

Pareceristas
Carlos Alberto Gohn (Universidade Federal de Minas Gerais)
Leonardo Alanati (Congregação Israelita Mineira)
Lívia Cristina Guimarães (Faculdade Novos Horizontes)
Lyslei Nascimento (Universidade Federal de Minas Gerais)

Capa e preparação de originais


Priscila Justina

Diagramação
Tiago Garcias

Revisão de provas
Aline Sobreira
Eduardo Soares

Editoração por Pi Laboratório Editorial.

Instituto Histórico Israelita Mineiro


Rua Pernambuco, 326, Funcionários
30130-150 – Belo Horizonte/MG, Brasil
Telefax: 31 3226-7848
ihim@pib.com.br

Revista de Estudos Judaicos - ano 1, n. 1 - nov. 1998 -


Belo Horizonte. Instituto Histórico Israelita Mineiro.
22,5 cm
Bianual
ISSN 1517-7904
1. Judaísmo - Periódico
CDD: 296.05 CDU: 296(05)

Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores,


não refletindo, necessariamente, a opinião desta revista.
REVISTA DE ESTUDOS JUDAICOS

Ano XI – n. 8

Instituto Histórico Israelita Mineiro

ISSN: 1517-7904 Bianual


Rev. de Estudos Judaicos Belo Horizonte ano XI n. 8 p. 1-164 2009-2010
Instituto Histórico Israelita Mineiro:
25 anos

O Instituto Histórico Israelita Mineiro (IHIM), fundado em 15 de


janeiro de 1984, é uma sociedade civil laica, de caráter cultural e aberta ao
público. É uma entidade sem fins lucrativos que atua em filiação com a
Federação Israelita do Estado de Minas Gerais (Fisemg). Conforme seu
estatuto, o IHIM destina-se “a cultuar e promover a memória dos judeus
em Minas Gerais e no Brasil, mantendo biblioteca, museu e difundindo a
cultura judaica em geral”. O instituto foi fundado pelo médico dr. Naftale
Katz e pela bibliotecária Maria Schreiber. Sua primeira sede foi na Rua da
Bahia, 570, sala 802, Belo Horizonte/MG e, a partir de 1997, mudou-se
para as dependências da União Israelita de Belo Horizonte (UIBH), na
Rua Pernambuco, 326, onde se localiza até hoje.
O IHIM é reconhecido nacionalmente como uma das mais com-
pletas e bem organizadas instituições que se ocupam do estudo, registro,
preservação e difusão da memória e dos traços culturais legados por imi-
grantes e descendentes de judeus radicados em Belo Horizonte, em Minas
Gerais e no Brasil. É uma entidade colaboradora do Arquivo Histórico
Judaico Brasileiro (AHJB) e, em função das características que lhe confere
seu estatuto e de sua atuação nas duas últimas décadas, recebeu reconhe-
cimento como entidade pública municipal e estadual.
A Biblioteca David Katz, integrante do Instituto, é aberta ao público
e carrega o título de única biblioteca existente em Minas Gerais sobre temas
judaicos, sendo frequentada por estudantes, professores e interessados em
geral que nela encontram material para suas pesquisas. O espaço configura-
-se, assim, como um elo importante entre a comunidade judaica belori-
zontina e a comunidade não judaica. Possui mais de 7 mil títulos de livros
catalogados – incluindo os doados pela família do saudoso historiador Isaías
Golgher em 2003 –, que podem ser acessados no site da instituição (http://
www.ihim.org.br), além de 99 periódicos. O acervo também é composto
por jornais, recortes, fotografias, documentos variados, mapas, discos de
vinil, CDs e DVDs. Ademais, abriga entrevistas gravadas com integrantes

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da comunidade judaica local e o vídeo Vidas, produzido pelo instituto, com
os sobreviventes do Holocausto, hoje integrantes da comunidade mineira.
Existe uma preocupação constante do IHIM com a conservação e
preservação de todo o material integrante de suas biblioteca, mapoteca,
hemeroteca e videoteca. Atualmente, a acessibilidade ao acervo vem sendo
facilitada pela digitalização, tratamento e organização do acervo fotográfi-
co e pela migração de dados antigos para mídias mais modernas.
As variadas peças museológicas – máquina de escrever com tipos
em hebraico, mezuzás, menorás, rolos da Torá, kipás, talits, shofares etc. – são
cedidas para exposições e se encontram expostas para visitação no Espa-
ço Cultural Judith e Nelson Cohen, inaugurado em novembro de 2007 e
localizado no andar térreo da UIBH.
O IHIM realiza eventos culturais e sociais, palestras, cursos, ceri-
mônias, lançamentos de livros, mostras de cinema, exposições, feiras de
livros, simpósios, shows, festivais, ciclos de debate e congressos – como o
3º Encontro Nacional do AHJB, em maio de 2003, em Ouro Preto/MG.
As parcerias para a realização de eventos são muitas: Embaixada de Israel,
Embaixada da Polônia, Arquivo Público Mineiro, Universidade Federal
de Minas Gerais, Fundação Municipal de Cultura, Secretaria de Estado
de Cultura de Minas Gerais, Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais, Palácio das Artes, Arquivo Histórico Judaico Brasileiro, Biblioteca
Pública Estadual Luiz de Bessa, Arquidiocese de Belo Horizonte, Museu
Histórico Abílio Barreto, Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Câmara
Municipal de Belo Horizonte, Escola Anne Frank e entidades judaicas
do Brasil e do mundo. Com a comunidade em geral, o instituto mantém
diálogo eficiente, atendendo prontamente às inúmeras solicitações que lhe
são encaminhadas para aulas, entrevistas, palestras e esclarecimentos sobre
tradições, religião e literatura judaicas.
A promoção e desenvolvimento de pesquisas tem sido uma cons-
tante para o IHIM. Dentre tantos, podem ser citados os seguintes proje-
tos e respectivos parceiros: “O papel da comunidade judaica na formação
histórica e cultural de Minas Gerais” (Instituto Euvaldo Lodi – Gover-
no do Estado de Minas Gerais, 2003), “Cristãos-novos na Estrada Real”
(Fapemig, 2003-2004), “Páginas da memória: catalogação e restauração
do acervo da biblioteca do IHIM” (Lei Estadual de Incentivo à Cultura

6
de Minas Gerais (LEIC/MG), 2006-2007), “Projeto para ampliação e es-
tímulo do acesso aos serviços oferecidos pelo Instituto Histórico Israeli-
ta Mineiro” (LEIC/MG, 2009-2010 e 2010-2011), “Inquisição em Minas
Gerais no século XVIII: do banco de dados à Arqueologia” (Laboratório
de Arqueologia da UFMG, 2009-2010).
A Revista de Estudos Judaicos, publicada desde 1998 e disponível em
versão digital no site do IHIM, encontra-se agora em seu oitavo número,
comemorativo dos 25 anos do Instituto Histórico. Tem sido periódico de
grande relevância para a divulgação dos estudos judaicos em geral, com
números temáticos publicados bianualmente.
Na presente edição são apresentados nove artigos, o estatuto do
IHIM e a listagem de todas as diretorias, desde sua fundação.

A Comissão Editorial

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Sumário

1 Do norte da África ao subcontinente indiano:


a extensão histórico-geográfica da comunidade judaica
Carlos Alberto Póvoa . . . . . . . . . . . . . 23

2 A carnavalização do Holocausto
Luiz Nazario . . . . . . . . . . . . . . . 51

3 O lugar de Abraham Joshua Heschel


na filosofia, teologia e misticismo judaicos
Renato Somberg Pfeffer . . . . . . . . . . . . 68

4 Dor de letra: relatos de sofrimento


em Fílon de Alexandria e Primo Levi
Cesar Motta Rios . . . . . . . . . . . . . . 85

5 Uma travessia frustrada: da galut para o exil


Luis S. Krausz . . . . . . . . . . . . . . . 105

6 O marranismo como fenômeno histórico:


presença judaica em Minas Gerais do século 18
Bárbara Luana Silva
Julia Calvo . . . . . . . . . . . . . . . . 120

7 Os judeus em Las siete partidas de Afonso X, o Sábio


Maria de Fátima Silva Carvalho dos Anjos . . . . . . . . 134

8 Os primatas superiores
e os xenotransplantes do dr. Voronoff
Ethel Mizrahy Cuperschmid . . . . . . . . . . . 143
9 Arqueologia na Terra Santa: Lady Hester Lucy Stanhope
Reuven Faingold . . . . . . . . . . . . . . 153

Colaboradores . . . . . . . . . . . . . 161

Normas para publicação . . . . . . . . . . 163


1 Do norte da África ao
subcontinente indiano: a
extensão histórico-geográfica
da comunidade judaica
Carlos Alberto Póvoa

Com as novas extensões territoriais do conquistador europeu, o mundo deparou-se com


uma enorme heterogeneidade de povos, etnias, culturas, idiomas, religiões e modos de
vida. Inerentes e característicos de um povo, território e/ou lugar, esses elementos de
territorialidade são particularmente estranhos àqueles que não os possuem, pois as
excentricidades e costumes são fatos materializados nos espaços por meio da cultura.
Apesar das grandes diferenças, entre os grupos judaicos recém-descobertos ou em
tratados das novas comunidades com as antigas europeias, observa-se uma semelhança e
um ponto comum: Israel e a Torá e sua voz a D´us.
{diversidade; cultura; judaísmo; Ocidente}

Introdução

Observa-se que, até o presente momento, as ciências humanas – como


a Geografia, a História, a Antropologia e as Ciências Sociais – trataram prin-
cipalmente de nomear as comunidades judaicas mais intimamente ligadas ao
mundo ocidental – a Europa e a América. Contudo, tais ciências, com exce-
ção da Geografia, ainda não conseguiram territorializar essas comunidades.
O avanço da Geografia é justificado, pois o principal objetivo em
analisar a geografia de um povo é ajudar-nos a compreendê-la em nosso
próprio ambiente, seja ele onde for, o que não é diferente em se tratando

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da geografia judaica. É importante não nos esquecermos de que existe,


em diferentes espaços, territórios e ambientes, a construção de distintos
lugares judaicos nos quais, durante muitos séculos, múltiplas identidades
da religião hebraica se formaram e se instalaram, assim como se desen-
volveram de maneira inteira e totalmente singular e desigual, o que não
as tornaram menos judaicas que as outras, mas iguais às comunidades de
áreas histórica e geograficamente manifestas.
Segundo Póvoa (2007), os judeus que imigraram e se desterritoriali-
zaram do continente europeu logo antes e logo depois da Segunda Guer-
ra Mundial começaram a se estabelecer em novas comunidades no novo
mundo – a América – ao lado de antigos grupos israelitas, denominados
“judeus colonizadores”, que desembarcaram e se fixaram nessas terras no
início da colonização.
As comunidades europeias sefaradim e as ashkenazim sobreviveram a
inúmeras crises e dificuldades, o que suscitou uma imigração em grande
escala para outros países. Essa mobilidade passou, ainda, por mais uma
conjuntura: a de as novas comunidades refazerem os caminhos dos seus
antepassados e se reterritorializarem; dessa forma, elas reviveram um pas-
sado longínquo e quase esquecido, cruzando novamente com o “acaso”
que havia separado os dois grupos.
Para Martin Gilbert (1985), diversos fatores e acontecimentos no
mundo ajudaram a desvendar algumas dessas comunidades “escondidas”
e a trazê-las à luz do judaísmo moderno e contemporâneo, assim como
as aproximaram do mundo judaico ocidental. A rivalidade colonial entre
as grandes potências europeias e os avanços das técnicas e ampliação do
comércio mundial da época caracterizaram os séculos 19 e 20, assim como
o desenvolvimento da cultura ocidental e das novas territorializações
dos meios imperialistas sobre “África, Índias e extremo oriente asiático”
(GILBERT, 1985).
Nas novas extensões territoriais, o conquistador europeu deparou-
-se com uma enorme heterogeneidade de povos, etnias, culturas, idiomas,
religiões e modos de vida, todos de caráter particular (PÓVOA, 2007).
Aqueles que não pertenciam ao lugar onde estavam – não possuíam “iden-
tidade com o lugar” –, apresentavam costumes que, para os outros, eram
entendidos como excêntricos. De modo repentino, essas “descobertas”

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tornaram-se assunto de conversações diárias e objeto de interesse social,


antropológico, histórico, geográfico e também econômico dos europeus.
Nesse instante, revelava-se outra parte “desconhecida” do mundo judaico
para o mundo ocidental.
Para os judeus ocidentais, abriu-se uma porta para a curiosidade que
trouxe questões intrigantes acerca dos achados de outras comunidades
judaicas nos diferentes continentes. Levantaram-se indagações acerca de
como essas comunidades imigraram e permaneceram com seu esboço e
memória judaicos, assim como acerca de seu desenvolvimento e sobre-
vivência mantendo o “ser judeu”. Outra dúvida seria sobre as tradições
religiosas, sociais, éticas e morais que resistiram a um lugar tão diferente
daquele de origem. Com certeza, os conhecimentos judaicos não pode-
riam continuar a sobreviver tão isoladamente, pois com o passar dos anos
a cultura do novo lugar seria assimilada.
Começou-se a especular as origens das novas comunidades, bem
como do novo indivíduo judeu. Como a comunidade ocidental sempre se
achou exclusiva no entendimento da civilização e cultura judaicas, passou-
-se a desconfiar de que aqueles eram “verdadeiros judeus”, e que poderiam
ser um equívoco histórico. As comunidades oriental e africana, no entanto,
são de fato judaicas e agora se fazem presentes no mundo contemporâneo,
buscando os mesmos direitos das ocidentais e fazendo repensar-se exclu-
sividades judaicas até então não questionadas. Dessa forma, carece trazer
essas novas comunidades para mais próximo do mundo europeu e também
de outros grupos judaicos ocidentais, como os judeus do Oriente Médio.
Devido à globalização, veiculam-se distintas concepções sobre “o
diferente”, criando-se hibridismos conceituais sobre cultura e sociedade,
sobre a formação do outro e também sobre a formação e preservação dos
lugares – do local à elaboração do global –, além das suas idiossincrasias,
segundo Pedro Geiger (1998). Os chamados “globalismos culturais” se
tornaram uma preocupação constante da comunidade judaica internacio-
nal, que tem buscado a integração da sua história como povo/espaço/
tempo na tradição das comunidades.
Para Gilbert (1985), com a ampliação das pesquisas sobre as no-
vas comunidades judaicas na África e no Médio Oriente asiático, houve
uma consideração e mesmo uma maior apreensão por parte da comu-
nidade judaica ocidental em entender e aceitar a diferença da cultura

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do outro, já que etnicamente esses judeus não eram consequência de


uma história previamente conhecida pela sociedade mundial e nem pe-
los grupos europeus da diáspora, os sefaradim e os ashkenazim, sendo o
segundo maioria étnica.
Para a comunidade ocidental, aquilo que se encontrasse fora de
uma já conhecida informação histórico-geográfica, e mesmo da aprecia-
ção classificatória étnico-judaica tradicional, não constituía parte de um
povo, o israelita; ou seja, aqueles não eram judeus. Entende-se que houve
preconceito por parte das comunidades judaicas já materializadas, estabe-
lecidas e conhecidas do Ocidente em reconhecer o outro (PÓVOA, 2007).
Assim, viu-se a minimização dos demais judeus para uma segunda classe,
a dos que viviam fora do circuito europeu e ocidental.
A atuação das novas comunidades nos oferece inestimável compre-
ensão do judaísmo vivido por eles e respeito à sobrevivência de sua cultura
judaica em lugares por vezes tão inóspitos. Elas tiveram de adaptar sua
experiência a um novo ambiente e adotar uma forma de vida diferente, de
acordo com a nova realidade, enquanto a comunidade judaica ocidental
manteve costumes mais conhecidos e revelados às práticas e observâncias
do judaísmo rabínico. Observando as novas comunidades, os judeus oci-
dentais encontraram a ambivalência entre os valores e o cotidiano, já que
durante muito tempo uma comunidade praticamente desconhecida e es-
quecida construiu suas histórias e práticas judaicas com base na identifica-
ção e construção de lugares, uso dos territórios e adaptação aos diferentes
tipos de espaços nos quais a comunidade ainda sobrevive.
Por meio de pesquisas sobre as ascendências das comunidades ju-
daicas orientais, descobriu-se como em cada conjuntura, tanto na história
mundial quanto na história judaica, as circunstâncias deixaram profundas
marcas sobre o povo judeu e sobre seus costumes e tradições. Essas co-
munidades, espalhadas, tornaram-se resistentes ao tempo e, passando por
diferentes crises vividas pela maioria dos judeus ocidentais, constituíram
novos costumes e adaptaram suas heranças judaicas.
Atualmente, sabe-se que a diáspora foi mais extensa do que se ima-
ginava e, no percurso das grandes imigrações dos últimos cem anos, os
judeus têm buscado novas pátrias e novos territórios em todos os conti-
nentes, fazendo girar o globo terrestre (GEIGER, 1998). Verifica-se que,
entre os grupos recém-descobertos ou tratados de novas comunidades

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com as antigas europeias, há uma semelhança e um ponto comum: Israel


e a Torá e sua voz a D´us.
Os judeus do norte da África e/ou África Mediterrânea
Segundo o censo descrito por Scheindlin (2003), aproximadamente
450 mil judeus viviam no norte da África desde o final do século 19 até
meados da Segunda Guerra Mundial, excluindo-se o Egito que, por se tra-
tar de um grande centro judaico do continente africano na época, possuía
outra estimativa.
Muitos desses judeus eram povoadores recentes que vinham de vá-
rias partes da Europa e que sobreviveram fugindo das perseguições reli-
giosas, das mazelas econômicas e sociais, e das atrocidades das políticas
antissemitas. Procuravam por um novo lugar, onde pudessem iniciar uma
nova vida social, religiosa e econômica.
Os espaços então imigrados da África do Norte estavam, durante o
século 19 e início do 20, sob o domínio das potências europeias da época,
que tinham estruturado impérios neocoloniais para si próprias e para a
expansão do seu imperialismo político-econômico e ideológico.
Os judeus de procedência centro-sul-europeia conheciam, na me-
lhor das hipóteses, o litoral norte da África, ou seja, apenas as importan-
tes cidades ao longo da orla do Mar Mediterrâneo, que diferiam muito
pouco de seus compartes de origem sefaradita – da Europa Meridional
–, também de judiciosa familiaridade com a região mediterrânea, já que
muitos possuíam parentes nos dois continentes. Poucos europeus tinham
conhecimento das muitas vicissitudes que a comunidade judaica do norte
da África sofrera, ou da grandeza dos grupos judeus que viviam também
no interior dos países que formam a costa setentrional africana ou mesmo
das variantes e peculiares formas de vida judaica que eram descobertas no
litoral e no cerne do continente.
Antes mesmo da chegada desses imigrantes à África no mesmo pe-
ríodo, foram encontrados vestígios de comunidades judaicas que viveram
de forma singular em oásis e também nos desertos. Nesse agrupamento
encontrou-se um distinto grupo que vivia nas altas montanhas do Atlas, no
Magrebe – Marrocos, Argélia e Tunísia. Muitas outras comunidades foram
encontradas vivendo como judeus errantes que apreciavam a liberdade

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nos desertos e não conseguiam se constituir em lugares totalmente habita-


dos nem próximos de grandes povoados.
A origem da comunidade judaica do norte da África data de antes
da conquista maometana, que se descreve a partir da segunda metade do
século 7. De modo geral, os judeus não tiveram problemas no início do
governo muçulmano na região até meados do século 11. As dificuldades
principiaram a partir de 1056 – e não cessaram mais.
Muitos núcleos israelitas respeitáveis na época foram extintos; cida-
des reconhecidas pelas suas populações judaicas, comércios bem estrutu-
rados e amplas edificações residenciais ficaram despovoadas e o resultado
foi um amontoado de escombros. Quando finalmente estabeleceu-se uma
aparente tranquilidade social, política e cultural, ou qualquer coisa que se
assemelhasse à paz nas terras da África do Norte, nos fins do século 8, a
posição dos judeus não era mais a mesma; eles estavam assinalados, ci-
catrizados e levavam consigo um receio de se tornarem novamente alvo
das temperanças muçulmanas que cresciam velozmente com propagandas
religiosas e ações prosélitas e conversivas.
Enquanto essa situação persistia, todo o território ex-judaico decaía
nos níveis econômico, social e cultural. Com isso, os judeus também eram
arrastados e levados para baixo da nova sociedade, tornando-se cidadãos
não gratos. Foram impostas às comunidades regras sociais e religiosas aus-
teras que culminavam em atos intolerantes, da mesma forma que conse-
cutivamente ressurgiam as habituais restrições antijudaicas, pois elas já fa-
ziam parte do intento na transformação do uso do território em um novo
lugar islâmico. Entretanto e contraditoriamente a esse fato, por volta de
1391 a 1492, judeus espanhóis – e, posteriormente, judeus portugueses –
sobreviveram à conversão compulsória ao cristianismo – à Inquisição, que
se aproveitava da frágil segurança e mesmo da opaca liberdade religiosa em
países localizados no extremo noroeste do continente africano.
Com a chegada do novo indivíduo judeu ao novo lar, as comunida-
des judaicas nativas eram procuradas, no intuito de criar laços entre elas e
o recém-chegado e facilitar a este a ambientação entre os seus. Os judeus
nativos, cognominados maaravim, acolheram em seus grupos os refugiados
ibéricos sefaradim e os colocaram parcialmente em exposição à liderança
maometana para fornecer a eles algum direito de se estabelecerem perma-
nentemente nos países governados pelos nativos.

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Os recém-chegados sefaradim, todavia, uma vez estabelecidos e alo-


cados, deram início ao desvaler dos judeus berberes ou maaravim/maaravi-
nitas, aos quais julgavam de baixo nível cultural e inferiores aos judeus de
origem europeia (admite-se que a maior parte da liderança religiosa e da
erudição talmúdica era encontrada entre os judeus de descendência espa-
nhola e/ou portuguesa sefaradim).
Nada mais os aproximava; os infortúnios comuns a ambos os gru-
pos deveriam ser unidos e estimular a formação de uma só comunidade
judaica, mas isso estava longe de acontecer, o que satisfazia aos governos
maometanos que percebiam a divisão total das comunidades e tinha, por
isso, o seu domínio sobre elas facilitado.
Nos últimos quatro séculos, os impérios norte-africanos enfraque-
ceram-se pela desordem e foram abalados por levantes civis. Infelizmente,
o destino dos judeus maaravim e sefaradim na Tripolitânia, ou região ma-
grebina, ainda não estava salvo, pois o antijudaísmo permanecia como
herança dos governos do lugar. Repetidas vezes o melah era saqueado pela
população não judaica e a comunidade por vezes era massacrada ou con-
vertida à força ao maometismo. Assim, os sefaradim de Fez, no Marro-
cos, foram completamente destruídos durante o século 16. Quando foi
possível o restabelecimento de uma nova comunidade em Trípoli, na Lí-
bia, observou-se dois Purim “extra”: um pelos sefaradim terem sido salvos
no último momento antes da destruição acertada pelos maometanos, em
1705, e outro em 1792.
Cada desordem social e econômica trazia consigo novas persegui-
ções internas; a cada posse de um novo governo, perpetuava-se a tirania
contra a comunidade e por vezes iniciavam-se novas extorsões junto aos
grupos maaravim e sefaradim (PÓVOA, 2007). Essas ações concretizaram
o propósito de preenchimento das necessidades econômicas das nações
africanas. Isso se justifica pelo fato de que a comunidade judaica fazia
importantes contribuições com manufaturas de joias e couro que compre-
endiam comercialmente da África Mediterrânea à Europa Mediterrânea,
incluindo-se França, Espanha, Portugal e Itália e até mesmo a região entre
norte da África, Oriente Médio e Sudão. Na realidade, o melah da África
do Norte não era um bairro numa cidade, mas uma “cidadezinha indepen-
dente” dentro de uma cidade.

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Com atitudes adotadas pelos governos maometanos, as leis ficaram


mais intransigentes e inflexíveis com o outro, o indivíduo não muçulmano.
No que tange aos assuntos referentes às novas leis regulamentadas, um
indivíduo judeu não tinha definitivamente direito algum num conselho
distrital, comercial ou mesmo intelectual do governo muçulmano. Somen-
te quando o imperialismo europeu no século 19 invadiu a região e encon-
trou no desgoverno maometano dos reinos norte-africanos a desordem
econômica e política, instalou-se uma diferente perspectiva de um Código
da Lei, agora mais ocidental; um código mais aberto e que aparentemente
salvaguardava os judeus da humilhação, amparados pelos códigos euro-
peus que se colocavam no momento exato para defender a comunidade.
O Código da Lei era soberano e amparava contra as temíveis e into-
lerantes leis islâmicas tanto os europeus que estivessem no Oriente quanto
os judeus que lá viviam, já que naquele momento a Europa era quem do-
minava o território e, portanto, colocava o seu interesse e lei acima das leis
maometanas locais.
Depois da década de 1870, os judeus das seções francesas – como a
Argélia, a Tunísia e a parte norte do Marrocos –, exerceram consideravel-
mente o direito de se tornarem cidadãos franceses, graças ao apoio da AIU
(Alliance Israélite Universelle), com sede em Paris. Foram (r)estabelecidas
as escolas judaicas e alguns núcleos culturais em diversas localidades do
norte da África, permanecendo por duas gerações e meia e facilitando um
encontro dos judeus naturalizados com outras comunidades, além de os
aproximarem da civilização europeia, tornando-os sustentáculos das novas
gerações que emigravam dos reinos norte-africanos para os países da Eu-
ropa Mediterrânea e em particular para a França.
Contudo, os costumes e tradições dos judeus imigrantes foram al-
terando-se aos poucos. Seu idioma nativo (o árabe e o arabia – mistura do
árabe com hebraico) foi substituído pelo francês, e no cotidiano uma nova
linguagem mais ocidentalizada e universal ganhou espaço. Seus hábitos ali-
mentares foram se ocidentalizando, assim como seus interesses pessoais
e profissionais; os trajes típicos foram abandonados e deram lugar a uma
nova roupagem, com cortes franceses e tons da moda parisiense e europeia.
A modificação ocorreu de maneira rápida, se levado em conta o tem-
po de chegada e instalação dos franceses às regiões e territórios ocupados

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pelos judeus. Entretanto, a “transformação” causou, infelizmente, a abdi-


cação não somente das tradições judaicas maaravinitas, mas também da
sabedoria judaica. O mesmo aconteceu com as comunidades judaicas situ-
adas nas cidades ao longo do litoral mediterrâneo da África. No entanto,
mais ao sul da orla marítima, em direção ao interior dos países nas regiões
do deserto e das montanhas Atlas, a influência europeia chegou bem mais
fraca e não permaneceu predominante; ao contrário, foi quase nula e, sen-
do assim, não sobreviveu para impor suas extensões ocidentais, deixando
o modo de vida e costumes nativos fortalecerem-se.
Com o passar dos anos, as influências europeias trouxeram o antis-
semitismo, mal espiritual europeu do fim do século 19. Os colonos france-
ses, em particular na África do Norte, construíram para si enormes fortu-
nas e economias, apropriando-se de espantosas propriedades, tornando-as
agrícolas (monocultura – plantation) e moldando o comércio local e dos
países imperialistas, que obrigavam outros continentes a servir e produzir
para a Europa. Tiraram vantagens da pobreza manufatureira das regiões
dominadas e, por isso, passaram a deparar-se com a indignação dos mu-
çulmanos frente à exploração econômica e trabalhadora da Europa. Estes,
acostumados a oprimir os judeus em seus territórios, iniciaram uma mani-
festação contra a proteção europeia aos maaravim e aos sefaradim que esta-
vam então legalmente amparados pelo Código da Lei francês e europeu.
Cabe ressaltar que os franceses seguiram à risca o modelo de desenvolvi-
mento e exploração proposto pela Europa. Com a revolta da população
local não judaica, porém, os franceses culparam os maaravim e os sefaradim
por facilitarem a tomada da riqueza dessas regiões, a exploração dos seus
recursos e a organização do processo de conquista do local.
Os sentimentos antijudaicos não podiam manifestar-se em ações
enquanto o liberalismo e a democracia europeia predominassem no norte
da África. No entanto, na medida em que novos atores entravam em cena
na esfera política da Europa e aplicavam doutrinas suspeitas e nacionalis-
tas – como a de Adolf Hitler na Segunda Guerra Mundial e na Alemanha
nazista –, a presença europeia na África fragilizava-se. Os movimentos
antissemitas ganhavam ascendência principalmente entre os anos 1930 a
1940, assentando a posição dos judeus europeus em situações degradantes
e lamentáveis. Isso se agravava também em outras áreas do continente
europeu, como na Itália, então sob regime fascista.

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Os italianos também estavam presentes na África do Norte e ti-


nham o controle total da Líbia. Neste país iniciou-se uma discriminação
ativa contra os maaravim e os sefaradim. Tal ação discriminatória ocorreu
também no oeste do continente africano, influenciando os países magre-
binos. Concomitantemente, nesse período o poder da França estava en-
fraquecido devido à invasão alemã em seu território. Como derrotados, os
franceses aproveitaram-se avidamente da conjuntura para privar os judeus
maaravim e sefaradim de seus direitos adquiridos como cidadãos franceses e
os deixaram à própria sorte em território africano e europeu.
Após três anos de intensos conflitos, o exército dos aliados expul-
sou os nazistas – alemães – e os fascistas – italianos – do norte da África.
No entanto, a antiga situação legal foi restabelecida apenas parcialmente
(1943), pois havia uma mobilização contínua dos maometanos contra os
judeus, à qual os aliados não podiam fazer muita coisa contra. Apesar da
vitória aliada, nada podia devolver as vidas perdidas e as comunidades des-
truídas, principalmente na “África italiana”, que estivera mais diretamente
sob o controle nazifascista. Cidades como Benghazi, Derna e outras áreas
urbanas ao longo da costa líbica no Mediterrâneo viram suas populações
judaicas serem deportadas para a Europa, onde faziam trabalhos forçados
para os exércitos nazistas, ou eram levados para perecer em campos de
concentração na Polônia e virarem adustível para os fornos ou câmaras
de gás.
Apenas alguns poucos conseguiram fugir desse inferno e retornar
para sua terra de nascimento. Ainda assim, a nova ordem política e econô-
mica, amparada por uma frágil e relativa “paz” no norte da África, criou
uma atmosfera de esperança para os judeus que lá se encontravam.
Talvez o Egito fosse uma das poucas nações a não sofrer tão rigi-
damente com os ataques aos judeus e com os efeitos da Segunda Guerra
Mundial, pois o país não era uma colônia declarada, mas sim uma área
do protetorado britânico. A paz e a liberdade prosperavam no Egito e,
além dos habitantes judeus nascidos no país – denominados etnicamente
mizrahim –, essa liberdade também abrangia os cristãos que mantinham
coexistência com os maometanos. Tudo isso permaneceria enquanto o
Reino Unido se mantivesse no país, enquanto a Inglaterra tivesse todo o
controle prático do Estado egípcio, até o início do século 20.

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Uma considerável imigração de judeus europeus após a Segunda


Guerra Mundial fortaleceu ainda mais as comunidades judaicas de Alexan-
dria e do Cairo, que se transformaram em consideráveis centros culturais,
sociais e econômicos na África do Norte e no Oriente Médio. Em 1940,
havia cerca de 76 mil judeus no Egito; hoje, não passam de duzentos mi-
zrahim, segundo Scheindlin (2003). Além disso, havia pequenos grupos
de caraítas (judeus originários do sul da Ucrânia, região conhecida como
Crimeia) com quem os mizrahim mantinham amistosas relações comerciais
e boas relações políticas e sociais, pois ambos os grupos ocupavam cargos
públicos de proeminente importância no Egito.
A relação amistosa entre os mizrahim e o Estado do Egito é heran-
ça do tempo do protetorado britânico e durou até a ascensão do general
Gamal Abdel Nasser ao poder, por volta dos anos 1950, quando começou
um período de horror em que o Egito entrou em guerras contra ingleses
e franceses, ocasionadas pelo controle do canal de Suez na Península do
Sinai, pelo não assentimento da existência do Estado de Israel na partilha
da Palestina e pela fundação do movimento pan-arabista, que tinha como
foco unir os povos e governos árabes do Oriente Médio contra os Esta-
dos Unidos e Israel. Foi um período difícil para os judeus na região e isso
deu início a uma nova diáspora do Egito e norte da África para os países
da Europa Mediterrânea e para as Américas do Norte e do Sul a partir de
1954. Cerca de 850 mil judeus foram obrigados a sair de Estados árabes
e muçulmanos, incluindo a Etiópia e o Irã, sendo que 90% destes foram
morar no recém-criado Estado de Israel. Hoje os judeus são minoria reli-
giosa no Irã.
A paz voltou a terras egípcias apenas nos anos 1970, com a ascensão
do general Anwar Sadat, que viu a necessidade de o país coexistir com
Israel, além de romper com as forças soviéticas na região. A importância
da paz para a região e a necessidade de se confirmar um acordo de paz
levaram os Estados Unidos a realizarem um encontro entre os envolvidos,
legitimando assim o tratado de Camp David, entre o primeiro ministro
israelense Menahem Beguin e o próprio general Sadat, além de firmarem
um acordo sobre a devolução dos territórios ocupados por Israel no Egito
durante a Guerra dos Seis Dias, sob a supervisão e na presença do presi-
dente norte-americano Jimmy Carter.

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Hoje, a população judaica na região norte-africana é insignificante,


quase nula, havendo apenas uma comunidade um pouco mais expressiva
em Marrocos.

Os judeus negros da Abissínia: os falashas

Em 1867, o pesquisador Joséph Halévy anunciou que fizera uma


descoberta importante ao explorar a Abissínia, a terra dos etíopes (atuais
Etiópia e Eritreia – nordeste do continente africano), a Cush da Bíblia. Ele
havia encontrado uma população de aproximadamente 110 mil pessoas de
pele negra que se avocavam de Bêit Israel, ou seja, ‘Casa de Israel’.
Segundo Gilbert (1985), essas pessoas alegavam serem descendentes
diretos dos antigos israelitas e, segundo o relato de Halévy, apresentavam
um tipo peculiar de judaísmo. Na ocasião da descoberta, um rei abissínio,
embora cristão, vangloriou-se de possuir entre seus títulos o de Leão de
Judá e alegou que o rei Salomão e a rainha de Sabá são os antepassados da
família real etíope.
Com a extensão da análise, Halévy não aprofundou a busca dessas
descobertas, que ficaram na superficialidade da mera informação. No en-
tanto, coube ao seu aluno, Jacques Faitlovich, apurar com novas pesquisas
de campo e com desafios teóricos o propósito inicial.
De acordo com Gilbert (1985), Jacques Faitlovich passou alguns
anos convivendo com os falashas e trabalhou exaustivamente para compor
a história genealógica deles, assim como sua tradição bíblica e judaica.
Ouvi-los e analisar suas histórias era fundamental para a concretização de
dados que poderiam revelar algum indício da sua verdadeira ancestralidade
e seu processo de territorialidade na Abissínia.
Na conclusão de parte da sua pesquisa, o professor Jacques
Faitlovich pôde concordar que esses antepassados ancestrais eram co-
muns àqueles soldados defensores da fronteira do sul do Egito (na Núbia),
ou seja, eram descendentes da Tribo de Dan. Os danitas desceram ao sul
do Egito, e entraram no sul do Sudão. No tempo dos faraós elefantinos,
serviram como soldados mercenários e, com a queda do reino elefantino,
fugiram para a Etiópia. Na mistura com núbios que se converteram ao
judaísmo, tornaram-se mais escuros por questões naturais e ambientais.

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Tal descrição foi encontrada no meio das ruínas de uma antiga muralha,
em uma região hoje conhecida como Assuã.
Sabe-se que parte desse exército e suas famílias emigraram para a
Abissínia durante a Rebelião na Diáspora entre os anos 115 a 117 a.E.C.
Posteriormente, os descendentes dessas famílias se casaram com os nati-
vos da região, e tudo indica que o judaísmo e a pele negra dos modernos
judeus da Etiópia e da Eritreia têm a ver com sua história africana. Do
mesmo modo, descobriu-se que o judaísmo propagou-se entre os abissí-
nios, porém mais rapidamente do que o cristianismo, solidificando-se na
região como a religião oficial da Abissínia.
Com o desenvolvimento das pesquisas e dos fatos acerca da traje-
tória humana no país, descobriu-se através de documentos uma série de
batalhas nas quais o grupo judaico foi se enfraquecendo e, consequente-
mente, perdendo poder territorial e mesmo espaços na sociedade. Para
Gilbert (1985), a população tornou-se predominantemente cristã e, poste-
riormente, alguns séculos depois da expansão islâmica no norte da África,
elevou-se a uma maior quantidade de maometanos. Os vencedores cris-
tãos, ao assumirem o poder, denominaram os judeus da Abissínia com o
nome de falashas, ‘os estranhos’.
Derrotados e separados, os falashas apegaram-se lealmente a suas
tradições judaicas. Naquele período de suas vidas, muitos sobreviveram
como artesãos e lavradores em suas próprias aldeias. Essa comunidade
não sabia hebraico e até sua Torá era escrita num antigo dialeto abissínio.
Através de documentos encontrados pelo professor Jacques Faitlovich,
sabe-se que, perto de acontecer o Shabat, os falashas banhavam-se e se ves-
tiam de branco, e toda a comunidade reunia-se para rezar e participar de
uma refeição comum. Também foi descoberto que naquela comunidade
não se trabalhava aos sábados.
As leis de kashurut dos falashas eram um pouco diferentes das leis
dos outros judeus ocidentais. Estes, por exemplo, habitavam uma região
onde os animais descritos na proibição não se aproximavam daqueles re-
feridos na Torá; a realidade vivida e encontrada pelos falashas era outra;
eles conviviam diariamente com animais selvagens e nativos da África –
da região da Abissínia. De modo geral, os falashas não revelaram qualquer
indício de influências de um judaísmo rabínico do Talmude.

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A chegada de um rabino levado pelo próprio professor Jacques


Faitlovich à comunidade, no princípio do século 20, provocou confusão
tanto para o rabino quanto para os falashas no modo de pensar, agir, rezar e
de observar os preceitos judaicos. Ao mesmo tempo, a visita revelou uma
preocupação com esse grupo de “judeus” pois, se a cada conquista da Eu-
ropa em terras ultramarinas descobria-se uma nova comunidade de judeus
diferentes tanto étnica quanto linguisticamente, tais achados colocavam a
comunidade judaica europeia em estado de preocupação com o seu futuro,
embora, ao mesmo tempo, estivesse surpresa e curiosa com a diversidade
étnica dos tipos judaicos pelo mundo.
As frequentes visitas e os constantes contatos dos rabinos europeus
aumentaram o interesse da comunidade da Abissínia pelo judaísmo sefaradim
e ashkenazim, o que permitiu a inserção de escolas de hebraico na região. A
persuasão ficou mais complicada do lado judaico europeu e mesmo norte-
-americano, pois algumas associações e instituições se negavam a colaborar
e a participar com contribuições financeiras para apoio e sobrevivência da
“nova” comunidade judaica africana, o que ecoava como um preconceito
em relação ao grupo de judeus que, além de africanos, eram negros.
Alguns rabinos e membros das congregações ocidentais não re-
conheciam, num primeiro momento, a legitimidade judaica dos falashas.
Desse modo, o plano de inserção dos mesmos ao mundo judaico contem-
porâneo ocidental percorreu um longo caminho, com enormes barreiras
discriminatórias, e um período bem extenso que quase levou à extinção
dos falashas pelos maometanos.
Quando a Abissínia foi conquistada pelos fascistas italianos por vol-
ta dos anos 1935 a 1936, a pesquisa e os trabalhos do professor Jacques
Faitlovich foram interrompidos bruscamente. Somente em 1940-1941 o
invasor italiano foi expulso e o imperador e general cristão ortodoxo, Hailé
Selassié (Tafari Makonnen ou Ras Tafari), retornou ao trono de seu país,
governando até 1975. Nesse momento, não só foi possível recomeçar a
investigação e a obra judaica, como também realocar os refugiados de
guerra europeus da opressão nazifascista, que encontraram no caminho da
Etiópia uma segurança provisória.
Esses refugiados levaram consigo habilidades técnicas de que tanto
o país precisava para se desenvolver e para manter um grau de interesse

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tecnológico com universidades, escolas, rodovias, portos, aeroportos, ma-


quinários agrícolas e industriais e melhorias técnicas para agricultores em
regiões semiáridas e áridas. Contudo, esse esforço contribuiu para o co-
mércio com a África, a Europa e mesmo com a América do Norte. Por
outro lado, no que se refere ao religioso houve uma melhora material e
filosófica acerca das questões talmúdicas e rabínicas, sedimentando o ju-
daísmo entre os falashas.
O exílio foi momentâneo, passageiro, até a situação na Europa vol-
tar à normalidade. O impacto da emigração foi enorme, pois abalou o
domínio do imperador Hailé Selassié que, naquele instante, encontrava-se
fragilizado e com o governo em fase de recomposição frente à expansão
maometana. Isso causou um segundo advento, uma revolução interna no
ano de 1975, quando um grupo militar formado por generais maometanos
assumiu o poder e depôs Hailé Selassié. Tal golpe abalou a comunidade
dos falashas, que voltaram a viver o terror da repressão, semelhante à vivida
pelos maaravim no norte da África.
Imediatamente, a comunidade internacional, e principalmente a ju-
daica, solicitou o apoio do Estado de Israel na elaboração de um plano
para a retirada e resgate dos falashas. Uma esquadrilha de aviões Dakota
transportou a comunidade na operação Tapete Mágico, entre junho de
1949 e junho de 1950.
Contudo, o governo israelense descobriu que nem todos os falashas
haviam saído do país e, por volta de 1984, Israel iniciou um trabalho em
prol do resgate desses judeus. A Etiópia, porém, entra numa rota de coli-
são a partir de 1995, numa verdadeira guerra civil com milhões de mortos,
inclusive por doenças e fome. Neste ínterim, Israel “comprou” a liber-
dade dos falashas presos e, em operações aéreas às escondidas, conseguiu
inicialmente trazer 15 mil e posteriormente quase 30 mil indivíduos, pela
operação Salomão.
Foi um resgate dramático. Apesar de tudo ter sido concretizado em
pouquíssimos dias, milhares de vidas foram salvas e receberam um verda-
deiro lar, Eretz Israel (‘Terra de Israel’).

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Os judeus do Iêmen: os teimanitas/iemenitas

Os judeus do Iêmen têm várias lendas relacionadas a sua chegada


ao país, sendo a mais conhecida aquela que diz que eles chegaram antes da
destruição do Primeiro Templo (587 a.E.C.). A primeira evidência históri-
ca da presença de judeus no Iêmen data do século 3.
Segundo Gilbert (1985), esse grupo de judeus começou a deixar
o Iêmen por volta de 1880, quando aproximadamente 2.500 deles ru-
maram para Jerusalém e Jafa. Mas foi após a Primeira Guerra Mundial,
quando o Iêmen se tornou independente, que o sentimento antijudeu no
país tornou a imigração uma necessidade. Leis antissemitas, esquecidas
por anos, foram trazidas à tona (por exemplo, os judeus não podiam mais
andar nas calçadas ou andar a cavalo). Em um tribunal, as evidências de
um judeu não eram aceitas diante das evidências de um muçulmano.
Para Scheindlin (2003), antes da emigração dos judeus do Iêmen
para Israel e para o mundo ocidental, a vida entre os teimanitas resumia-se
principalmente às atividades artesã e têxtil. Essas atividades foram exerci-
das até o início do século 20 e interrompidas com a importação de merca-
dorias pelos ingleses, já que estes imperializavam o território.
Ainda assim, os produtos dos teimanitas foram tomando o mercado
por serem mais bem acabados e mais sofisticados. A concorrência era pro-
vocada entre os produtos feitos de forma artesanal, mas a necessidade de
sobrevivência levou os judeus artesãos a entrarem no ramo do comércio
varejista local, o que não foi tão ruim assim para o desenvolvimento das
localidades onde viviam, já que vários lugarejos no interior passaram a
apresentar uma melhor infraestrutura.
Conta-se que um rabino de uma colônia local, Mori, como o ape-
lidavam, ganhava a vida com os seus trabalhos manuais. Com a introdu-
ção do comércio de importados, Mori abandonara as práticas artesanais e
passou a trabalhar apenas com as atividades comerciais para se sustentar.
Entretanto, os seus deveres rabínicos jamais foram esquecidos e abando-
nados, pois incluía em sua lista de atividades prestezas para a comunidade
como moréh, shocher, mohel, rabi, daian e outros exercícios rabínicos. Essas
atividades também lhe davam alguns ganhos extras, vistos pela comunida-
de como honorários.

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A lei judaica no Iêmen permitia que os teimanitas pudessem ter mais


de uma esposa. Poucos deles, no entanto, praticavam a poligamia, embora
houvesse algumas famílias que possuíam mais de duas mulheres e dezenas
de filhos. De forma geral, porém, a vida familiar era exemplar. Sabe-se
que a educação dos teimanitas era feita completamente em hebraico, assim
como a aplicação das tradições judaicas no cotidiano, em conformidade
com as mitzvot, tendo se tornado uma tarefa sagrada para o dia a dia.
Constitui desonra para a comunidade judaica masculina teimanita, ao
ser chamado para subir e ler a Torá, não ler sua parte em hebraico perfeito
e claro, sem contar com qualquer tipo de ajuda, oral ou escrita, como a
transliteração dos textos sagrados.
Houve um período da história dos judeus do Iêmen em que as per-
seguições e as imigrações foram uma constante, já que a intolerância re-
ligiosa dos muçulmanos impôs muitas restrições. Em 1677, elas foram
publicadas em édito expulsando todos os judeus do país. Muitos tiveram
os seus pertences confiscados e queimados e outros tantos morreram ao
tentar buscar uma nova pátria em países vizinhos da península arábica.
Mori Shebesi (homem das artes, da literatura, poeta, músico e au-
tor cabalista) desempenhou grande autoridade para que esse édito fosse
revogado e fosse permitida a volta dos judeus para as suas antigas casas e
terras, assim como a retomada de posse dos seus negócios e economias,
ainda que não pudessem retornar à cidade de Sana. O pedido nem foi jul-
gado e foi rapidamente negado; as condições pedidas por Mori não faziam
sentido para o governo maometano, que já impusera uma lei de expulsão.
Assim, a vida tornava-se mais implexa que antes.
No final do século 19, em 1890, considerável parte da comunida-
de judaica do Iêmen emigrou e estabeleceu-se em Áden, na época sob o
domínio britânico, e outra quantidade emigrou para a Palestina; poste-
riormente, com o advento do Estado de Israel em 1948, essa comunidade
permaneceu. Gilbert (1985) analisa que a emigração mais simpática para
Israel e a mais interessante, das várias aliot, foi a teimanita, haja vista que se
compõe e se comporta como uma das comunidades mais devotas do país.
De acordo com as pesquisas de Gilbert, em 1922 o governo do
Iêmen reintroduziu uma antiga lei islâmica exigindo que órfãos judeus
menores de 12 anos fossem convertidos ao islamismo. Quando um judeu

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decidia emigrar, ele deveria deixar todas as suas posses. Apesar disso, entre
1923 e 1945, um total de 17 mil judeus teimanitas deixaram o país e tiveram
novamente como foco a Palestina.
Após a Segunda Guerra Mundial, milhares de outros teimanitas queriam
migrar para a Palestina, mas o Livro Branco dos britânicos ainda estava em
vigor e aqueles que deixassem o Iêmen acabariam em morros abarrotados
de gente em Áden, onde revoltas graves aconteceram em 1947, depois que
as Nações Unidas decidiram pela partição. Muitos judeus foram mortos e
o bairro foi completamente incendiado. Apenas em setembro de 1948 as
autoridades britânicas em Áden permitiram que os refugiados fossem para
Israel. Em 1947, após a decisão pela partição, revoltosos muçulmanos deram
início a uma sangrenta perseguição em Áden que matou 82 judeus e destruiu
centenas de casas judias. A comunidade judaica em Áden, que contava com
8 mil judeus em 1948, foi forçada a fugir. Até 1959, mais de 3 mil já haviam
chegado em Israel. Muitos fugiram para os Estados Unidos e Inglaterra.
De acordo com Scheindlin (2003), atualmente não há judeus rema-
nescentes em Áden. Na mesma época da fundação de Israel, a comunida-
de judaica no Iêmen estava economicamente paralisada, já que a maioria
das lojas e negócios judaicos foi destruída. Essa situação cada vez mais
perigosa levou à emigração de toda a comunidade judaica teimanita – qua-
se 50 mil judeus – entre junho de 1949 e setembro de 1950, na chamada
operação Tapete Mágico.
Uma emigração em menor escala foi permitida até 1962, quando
uma guerra civil trouxe um final abrupto ao êxodo judaico. Esse é mais um
exemplo do deslocamento de toda uma comunidade judaica de suas raízes
ancestrais em países árabes. É estimado que aproximadamente mil judeus
vivam atualmente no Iêmen. Eles são mantidos como reféns, em péssimas
condições e não lhes é permitido deixar o país.

Os judeus persas dos Montes Zagreb: os zagrebinos

A comunidade judaica da Pérsia localizava-se em maior número nos


Montes Zagreb, na porção sudoeste-sul do Irã, daí a origem da denomina-
ção pérsica zagrebinos. A comunidade é uma das mais antigas do mundo,
segundo Scheindlin (2003), sendo sua origem datada dos dias de Ciro, o
Conquistador da Babilônia, restaurador da Judeia. Por séculos não se pôde

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distinguir o começo da história da comunidade judaica zagrebina da dos


judeus da vizinha Mesopotâmia, cujos exilarcas e geonim também exerciam
autoridade sobre os judeus persas.
A conquista do território da Pérsia pelos mongóis, sob o comando
do general Kara Hulagu Khan, no século 12, melhorou muito as condi-
ções em que viviam os judeus de Zagreb. Os dirigentes mongóis interes-
savam-se pelos trabalhos dos zagrebinos e os nomeavam para cargos de
confiança, como funções públicas e administrativas, elevando-os a ativida-
des ligadas às áreas econômica e financeira.
Para Gilbert (1985), durante alguns séculos a vida em comunidade
prosseguiu sem muitas dificuldades, até que, no século 17, os mongóis
foram vencidos em terras persas pelos soldados e sacerdotes muçulmanos
da facção dos xiitas. Estes obtiveram a supremacia e o poder sobre o terri-
tório persa, bem como sobre as benfeitorias constituídas pela comunidade.
Após a reconquista, foram estabelecidas algumas regras políticas e
religiosas divididas em dois regulamentos ultraortodoxos, cujo objetivo era
minar a resistência social, religiosa, econômica e cultural não maometana:
1. Os xiitas declararam que todos os não muçulmanos eram fonte
de impureza. Membros muito devotos chegavam até a lavar os
olhos se por acaso cruzassem com um incrédulo pelas ruas. Isso
obrigava a uma separação dos judeus e dos cristãos, pois a lei se
aplicava também a estes, assim como a outros grupos religiosos,
como os zoroastristas e os baha’is, marcados por meio de uma
insígnia.

2. Os sacerdotes – aiatolás xiitas –, além desse fato, conseguiram


que o governo persa adotasse uma lei por meio da qual um con-
vertido ao maometismo se tornava herdeiro único dos bens de
todos os seus parentes vivos e/ou mortos, e isso incluía os pa-
rentes não maometanos.
Para Scheindlin (2003), os ataques físicos também se tornaram mais
frequentes. Em 1838, toda a comunidade judaica da cidade de Meshed foi
obrigada a seguir o maometismo. Eles permaneceram judeus secretamen-
te, vivendo uma ambivalência cultural, social e religiosa e convivendo com
a angústia e o perigo que tal existência marrana significava para eles.

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De acordo com Gilbert (1985), ao saberem dos acontecimentos na


Pérsia, entidades israelitas da Inglaterra e da França entraram em ação,
porém seus protestos e pressão através de canais diplomáticos de nada
adiantaram. A situação chegou a tal questão que, em 1871, os zagrebinos
apelaram para seus correligionários ocidentais, para que estes os ajudas-
sem a fugir para a Palestina ou a emigrar para Europa ou Estados Unidos.
O desespero era tão grande que aceitavam partir para outras nações, desde
que fossem mais amistosas.
Em 1873 e em 1889, o xá Nast-Ed-Din viajou à Europa, visitando
as cidades de Berlim, na Alemanha, Paris, na França, e Londres, no Reino
Unido (SCHEINDLIN, 2003). Nestes centros urbanos, vários judeus se
manifestaram e também pressionaram para que a realeza resolvesse a situ-
ação de seus súditos zagrebinos na Pérsia. O xá fez inúmeras promessas
que, como verificou-se posteriormente, não foram cumpridas.
O único resultado desse interesse por parte dos judeus europeus foi
o estabelecimento na Pérsia de algumas escolas dirigidas pela AIU e sob a
supervisão direta da França e da Inglaterra. Com a situação de tolerância
se deteriorando, houve uma rápida intercessão de representantes dos Es-
tados Unidos, porém pouco adiantou.
Por volta de 1907-1909, influências europeias começaram a adentrar
o país e um “espírito mais humano” se manifestou. Contudo, o poder dos
aiatolás intolerantes só amenizou quando se estabeleceu uma nova dinastia
do xá Reza Kã Pahlevi (1925-1978), que fizera esforços estrênuos e razoa-
velmente bem sucedidos para iniciar a modernização do país.
O Ruhollah Khomeini seria considerado o fundador do moderno
Estado xiita e governou o Irã desde a deposição do xá até sua morte, em
1989. De acordo com Scheindlin (2003), o ano de 1979 marcaria a reali-
dade política do Oriente Médio para sempre, e as consequências da Re-
volução Islâmica são assunto de discussões infindáveis e causa de tensões
políticas que, nos dias atuais, vêm se acirrando em decorrência da retórica
agressiva do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad.
Antes da revolução, viviam no Irã mais de 100 mil judeus, dos quais
cerca de 75% emigraram, principalmente para os Estados Unidos e para
Israel. Os que ficaram no país vivem, em sua grande maioria, em Teerã
e Shiraz, cidade localizada ao sul. Uma das consequências da revolução

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sobre a vida dos judeus zagrebinos é o fato de que a comunidade se tor-


nou mais religiosa, frequentando com maior assiduidade as sinagogas e
dando maior atenção aos preceitos religiosos e às datas mais importantes
do calendário litúrgico. Hoje, vemos cerca de duzentos judeus se espre-
mendo na entrada de uma das sinagogas de Teerã, numa noite de Shabat
– uma cena que seria impensável durante os anos 1970, quando o país foi
tomado por uma onda de secularismo à moda ocidental sem precedentes.
Os judeus e a sociedade iraniana como um todo se tornaram mais
religiosos e, no limite, houve aqueles entre os judeus que agradeceram por
viver num país de religião oficial islâmica, já que assim podiam praticar um
judaísmo de acordo com a ortodoxia. Isso porque há diversas semelhanças
entre a ortodoxia judaica e islâmica, como, por exemplo, a obrigatoriedade
do uso do véu para cobrir os cabelos das mulheres (SCHEINDLIN, 2003).
Em outras palavras, o setor mais religioso da comunidade judaica foi o
que melhor se adaptou aos novos tempos no Irã, enquanto os judeus moder-
nizados e ocidentalizados, vendo-se tolhidos das liberdades às quais haviam
se acostumado sob o reino do xá, optaram, em sua maioria, pela emigração.
Para os judeus, a modernização representou, entre outras coisas, a
criação de escolas de ensino da língua hebraica e a inauguração das escolas
judaicas laicas da Alliance Israélite Universelle (AIU). Os judeus também
passaram a gozar dos mesmos direitos e obrigações de todos os cidadãos
iranianos, deixando para trás o status de dhimmi (‘protegidos’), termo utili-
zado para designar a minoria judaica e cristã no mundo islâmico, desde o
Pacto de Omar, no século 7.
Se na teoria os dhimmi são protegidos, já que a lei islâmica não os
obriga a se converterem ao Islã – ao contrário do que acontece com os
seguidores de outras religiões que desejem viver entre os muçulmanos –,
na prática seu status é inferior ao dos seguidores do Islã e os dhimmi são
sujeitos a uma série de restrições, destinadas a enfatizar essa inferioridade:
cristãos e judeus têm liberdade para praticar suas liturgias, porém ficam
obrigados a pagar um imposto especial, a jizya; não podem ocupar deter-
minados cargos; devem subserviência aos muçulmanos; não têm direito de
andar sobre camelos, apenas sobre jumentos; e assim por diante.
De acordo com Scheindlin (2003), a revolução mudou apenas
uma parte dessa história. O Estado de Israel continua demonizado pelos

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aiatolás, que acrescentam a destruição. No entanto, Khomeini, que afir-


mava que os judeus zagrebinos e/ou iranianos eram uma minoria a ser
protegida e a obter representação no senado, traçou uma clara distinção,
que vale até hoje, entre o sionismo e o judaísmo, política e religião.
Tal atitude afetou também outros grupos minoritários que se en-
contravam nas fronteiras setentrionais do Irã, como os judeus de Bokhara,
que viviam na fronteira do Tadjiquistão e em regiões próximo do Irã e da
Ásia Central, os judeus curdos, do antigo Curdistão, os judeus dos cazaros,
do Cazaquistão, e os judeus de gruzim, das montanhas dos Cárpatos.

Os judeus de Cochim

De acordo com Scheindlin (2003), duas comunidades judaicas so-


breviveram separadas no vasto subcontinente indiano. Uma está situada
em Cochim, na extremidade sul da Índia, e a outra fica mais ao norte, no
litoral oeste do país, próximo à costa ocidental, na cidade de Bombaim.
Nas suas proximidades também encontramos vilarejos com algumas co-
munidades judaicas.
Ambas as comunidades estiveram durante vários séculos sem ne-
nhum contato com outros judeus do mundo ou da própria Índia. Apesar
do isolamento dos dois grupos, o ambiente hindu permaneceu para sua
sobrevivência como comunidade religiosa, cultural e étnica e foi mesclado
com os elementos essenciais do “ser judeu” e da “judeidade”. Nenhuma
das duas comunidades sofreu perseguições e, portanto, a força e a vitalida-
de intrínsecas do judaísmo continuaram vivas e sem medo.
É bem possível que esses judeus, vivendo isolados, também tenham
se habituado na cidade de Cochim ainda antes da destruição do Segun-
do Templo. Sabe-se que existiram relações comerciais entre a Índia e os
numerosos mercadores judeus de Alexandria, no Egito, de forma que os
alexandrinos talvez tenham tido representantes nessa região. Contudo, é
possível também que a primeira colônia judaica tenha sido fundada por
judeus vindos da Babilônia e da Pérsia, por causa das dificuldades ocasio-
nais durante os períodos dos amoraim e dos geonim, em alguma época entre
os séculos 5 e 8.
Segundo Gilbert (1985), o primeiro registro oficial e documen-
tado dos judeus na Índia data do ano de 1020, quando o rajá Bhaskira

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Ravivarman, da costa malabar, concedeu um título de nobreza e muitas


propriedades a um judeu chamado Yosef Rabban. Através dele, os judeus
de sua comunidade adquiriram importância e autoridade no comércio e na
região. O rabino Benjamim de Tudela ouviu falar deles um século e meio
depois e, um século depois disso, Marco Polo mencionou esses judeus em
seus escritos para a corte italiana. Naquela época viviam em Cranganor;
logo depois a maioria se mudaria para Cochim.
Tornaram-se abastados e influentes e ocupavam até mesmo impor-
tantes cargos, como no exército dos príncipes locais, que ocasionalmente
adiavam uma batalha porque seus soldados judeus não queriam violar o
Shabat.
No começo do século 16, ocorreu uma mudança revolucionária na
vida da comunidade judaica de Cochim, quando os europeus começaram
a navegar em águas indianas. Os portugueses foram os primeiros a che-
gar e a estabelecer seu poder na Índia, em Goa. Além disso, essa era uma
época em que os exilados judeus, chuetas e marranos da Península Ibérica
procuravam algum lugar nas novas colônias fora do alcance da Inquisi-
ção espanhola e portuguesa. Alguns milhares deles chegaram à Índia e
estabeleceram-se perto dos judeus que há muito viviam ali. Logo após,
os portugueses importaram o tribunal da Inquisição. Entretanto, tal ação
intolerante não se concretizou, pois os seus rivais holandeses os expulsa-
ram da Índia em conquista territorial e colonial, assim concentrando-se
inicialmente na cidade de Goa. Com isso, os judeus de Cochim não foram
mais molestados e muito menos recriminados por suas práticas religiosas.
Tratando-se de assuntos de religião e cultura, a antiga colônia lusi-
tana de judeus na Índia beneficiou-se com a chegada dos novos colonos
judeus holandeses e alguns outros judeus europeus. O conhecimento do
hebraico foi restabelecido, adotou-se o ritual sefaradim e a colônia passou a
emular seus companheiros judeus estudando a literatura sagrada.
Socialmente, a nova colônia trouxe um problema que tem afligido
a comunidade judaica de Cochim até hoje (GILBERT, 1985). De acordo
com Scheindlin (2003), os judeus que haviam chegado mais recentemente
insistiram em manter-se separados dos outros. Suas razões eram a ausência
de conhecimento dos judeus indianos e a suposta impureza étnica que sua
cor indicava (os antigos judeus de Cochim possuem a pele escura, como

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os demais habitantes da Índia). Para Gilbert (1985), era a reafirmação do


altivo preconceito dos judeus europeus e da assombrosa falta de saber
para os assuntos acerca da história e da geografia dos judeus. Esse con-
vencionalismo provinha principalmente dos grupos sefaradim e ashkenazim,
que acreditavam que seu grupo étnico se bastava como legítimos judeus.
De acordo com o mesmo autor, a cor dos judeus de Cochim é pro-
vavelmente consequência dos casamentos mistos entre os colonos natu-
rais da Índia e os nativos hindus que se converteram ao judaísmo. Tais
convertidos talvez tenham sido escravos, já que a escravidão “moderada”
era reconhecida na Índia.
Os judeus espanhóis argumentavam que não podiam permitir que
sua própria pureza racial fosse maculada por casamentos mistos (isso
ocorria entre os próprios judeus, ou seja, os cochim e sefaradim), ou mesmo
pelo contato com tal descendência “inferior”. Em diversas ocasiões, foram
enviadas perguntas a rabinos reconhecidos do Egito e da Palestina pedin-
do uma jurisprudência dessa conduta sem base legal dos judeus sefaradim.
Para Póvoa (2007), a discriminação continuou e ainda persiste atu-
almente em pleno século 21. O conflito, na realidade, acentuou-se com
o surgimento de uma terceira divisão através dos escravos que os judeus
sefaradim convertiam de tempos em tempos e que, pelo menos tempora-
riamente, faziam parte da “família branca”. Estes ainda se empenham na
peleja pela aceitação na comunidade judaica internacional.

B’nei Israel

Segundo Scheindlin (2003), há hoje em dia na Índia cerca de 4.400


judeus, sendo 2.400 em Cochim, dentre os quais a população judaica en-
contra-se atualmente com uma heterogeneidade étnica enorme. A outra
cidade de grande concentração de judeus é Bombaim, que abriga os B’nei
Israel (cerca de 2 mil pessoas), judeus indianos de pele parda e que se au-
todenominam “filhos de Israel”, conforme Gilbert (1985). A origem de
sua colônia e a razão de sua cor são assuntos de discussão tanto entre os
judeus de Cochim quanto entre os das organizações judaicas de assistência
internacional. Como era de se esperar, foi sugerida a teoria das Dez Tri-
bos Perdidas para explicar a procedência étnica desses judeus. Contudo,
a teoria mais plausível é a de que os colonos originais vieram do norte da

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Índia, ou possivelmente como prisioneiros de guerra do norte da África e


do Oriente Médio numa galera de escravos romana do século 6.
Para Gilbert (1998), as influências religiosas hindus e muçulmanas e,
principalmente, a falta de contato com judeus de fora provocaram mudan-
ças fundamentais na vida dos B’nei Israel como judeus e comunidade. Eles
esqueceram a língua hebraica, de forma que apenas Shemá Israel perma-
neceu com o grupo e, por negligência, modificaram muitas observâncias
e feriados do judaísmo. Observaram, porém, escrupulosamente o Shabat,
a circuncisão e algumas das leis dietéticas básicas. Suas tradições contam
que um homem chamado David Rahabi, judeu de Cochim, apareceu por
acaso na comunidade no século 10 e provocou o renascimento do ju-
daísmo. Outro visitante, Samuel Divakar, castelhano, prestou-lhe serviço
semelhante no fim do século 18. O resultado é que sua religião judaica foi
imediatamente restabelecida e é observada de modo ortodoxo, segundo o
rito espanhol.
Com a chegada dos ingleses à Índia, provocaram-se muitas mudan-
ças na vida dos B’nei Israel. Estes eram, em sua maior parte, lavradores e
prensadores de sementes e frutas para a extração de óleo (como muitos
deles ainda o são), mas foram atraídos pelos ingleses para o exército. Mui-
tos, apesar de tudo, alcançaram postos militares relativamente elevados e
ocuparam importantes cargos no serviço civil nativo.
Alguns também se voltaram para o comércio e outros se tornaram
hábeis artesãos. Há cerca de 2.400 B’nei Israel atualmente, segundo dados
de Scheindlin (2003). Observa-se que os membros dessa comunidade en-
frentam hoje a mesma discriminação que tipos mistos semelhantes enfren-
tam entre os judeus de Cochim. Além disso, as relações tornaram-se tensas
entre os B’nei Israel e os judeus europeus que chegavam e ainda chegam à
Índia. Também neste caso, um sistema de casta se desenvolveu, muito em-
bora no rabinato sefaradim da Inglaterra e da Palestina tenha-se recusado a
aprová-lo. Com o tempo, talvez os judeus da Índia um dia sejam absorvi-
dos pelo demais judeus do mundo ocidental.
De acordo com Scheindlin (2003), a Índia tornou-se acessível ao co-
mércio da Europa em expansão e mais tarde ao mundial; diversos judeus
foram morar no país, devido aos negócios e indústrias que lá se instala-
vam. Sua presença, como já foi descrita, às vezes contribuía e por vezes

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atrapalhava e criava conflitos no que tange à observância judaica, mas o


tempo fez o ajuste devido e dessa maneira houve um melhor entrosamen-
to entre os diferentes judeus. Algumas das altercações colocadas deram
um melhor resultado e reverteram em bem-estar aos judeus de Cochim e
B’nei Israel, pendências foram abrandadas e a comunidade judaica indiana
se voltou para uma só ação, a preservação de si como um grupo harmôni-
co capaz de exercer o seu judaísmo na Índia.

Considerações finais

Embora os judeus se constituam um povo numericamente “peque-


no”, uma minoria, eles possuem as suas diferenças étnicas, que se têm
apresentado de forma muito mais ampla do que o esperado.
Para Scheindlin (2003), é simples apreender o porquê dessa diversi-
dade, que pode estar contido na seguinte explicação: o real e fundamental
motivo que esclarece tal fato foram as constantes desterritorializações a
que foram submetidos os judeus durante os aproximadamente três séculos
de sua história. A história levou o “ser judeu” a habitar diferentes partes
do planeta e a se adaptar a novas realidades social, cultural, geográfica e
histórica.
Antes da Era Comum já existiam grupos judaicos estabelecidos fora
de Israel (Palestina), de maneira especial na Babilônia, Egito, em outras
nações no Oriente Médio, Ásia Central, Índia, Grécia e Itália. De acordo
com Gilbert (1998), na Idade Média a Espanha tornou-se o maior centro
judaico do mundo. Com a expulsão dos judeus, dos domínios espanhóis
cristãos e intolerantes em 1492, os sefaradim deslocaram-se para Portugal,
para o Norte da África (Marrocos, Tunísia, Argélia) e para países mediter-
râneos como França, Turquia, Síria, Palestina, da Europa Centro-Norte
como Holanda, Inglaterra e sul ou norte-americanos como Brasil, Argen-
tina e Uruguai, Estados Unidos, México e Canadá.
Enquanto isso, os ashkenazim dirigiram-se para a Europa Central,
Rússia, Ucrânia, Polônia e Alemanha. Paralelamente, os dois mais impor-
tantes grupos étnicos judaicos administraram com grande responsabili-
dade a sobrevivência do judaísmo no mundo ocidental, enquanto outras
comunidades israelitas, muito sui generis, à parte das conhecidas grandes
correntes e grupos ocidentais, se desenvolveram em regiões independentes

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e diferentes da tradicional cultura europeia e branca, como as comunidades


do Iraque, Irã, Iêmen, Armênia, Cáucaso, Etiópia, Índia, Filipinas, Japão,
Austrália e mesmo na China, com a presença dos judeus denominados
Kai-Feng-Fu. O judaísmo é mesclado de tantas modificações culturais,
étnicas e histórico-geográficas que é quase não judaico acolher somente
uma delas.

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