Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Resumo: O presente artigo apresenta algumas reflexões a respeito da articulação entre as duas
etapas do Ensino Fundamental: Anos Iniciais e Anos Finais, bem como o resultado de uma proposta
pedagógica. O objetivo principal deste trabalho foi investigar quais os fatores que influenciam e
impedem a articulação entre os Anos Iniciais e Anos Finais do Ensino Fundamental, suas implicações
no ensino-aprendizagem dos alunos e atitudes pedagógicas que subsidiem a prática docente para
amenizar as dificuldades de adaptação no 6º ano. O texto parte de uma fundamentação teórica que
aborda os aspectos legais da articulação entre as duas etapas, a transição do 5º para o 6º ano,
infância e adolescência e organização do trabalho pedagógico: do planejamento à avaliação. A
metodologia constou de uma pesquisa bibliográfica, da elaboração do material didático, da pesquisa
de campo, da implementação junto aos professores do 6º ano, em Pato Branco-PR e da realização
de um Grupo de Trabalho em Rede – GTR com professores pedagogos da rede estadual. Através da
realização deste trabalho constatou-se que os alunos do 5º ano apresentam ansiedade e insegurança
em relação à nova escola, aos novos professores e às disciplinas ofertadas. Os professores do 6º
ano e pedagogos apontam para a necessidade das escolas planejarem ações que facilitem a
adaptação dos alunos no novo ambiente escolar e, em relação às políticas educacionais, a
necessidade do diálogo entre as mantenedoras e a oferta de formação continuada para professores
do 5º e do 6º ano.
1 Introdução
1
Graduada em Pedagogia pela Fundação Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras
de União da Vitória, graduada em Ciências, pela Universidade Estadual de Ponta Grossa-PR
(UEPG), pós graduada em Fundamentos da Matemática pela Faculdade de Ciências e Humanidades
de Pato Branco (FUNESP, hoje UTFPR). Foi professora dos anos iniciais e anos finais (disciplina de
Matemática), do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Pedagoga da rede estadual de ensino do
Paraná, no município de Pato Branco.
2
Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Centro-Oeste; especialização em
Orientação Educacional e Psicopedagogia. Mestrado em Educação pela UNICAMP (parcial);
Mestrado em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Maringá – UEM. Doutora em
Educação, pela – Facultad de Ciencias de la Educación - UNIVERSIDAD DE LA EMPRESA -
Doctorado En Educación - Montevideo – Uruguay
ocorre com essas crianças na transição do 5º para o 6º ano e constatou-se que
muitos são os fatores que dificultam essa passagem.
Observou-se que, as crianças após frequentarem os primeiros cinco anos do
Ensino Fundamental (rede municipal ou privada) e, ao ingressarem no 6º ano (rede
estadual ou privada), encontram muitas dificuldades de adaptação na nova condição
de vida escolar, ou até mesmo na mesma instituição, que interferem no processo de
ensino e aprendizagem. Como decorrência disto, algumas reprovam no 6º ano e
outras são promovidas para o ano seguinte por Conselho de Classe, sem que
realmente ocorram aprendizagens significativas.
A pesquisa teve como objetivo principal investigar quais os fatores que
influenciam e impedem a articulação entre os Anos Iniciais e Anos Finais do Ensino
Fundamental, suas implicações no ensino-aprendizagem dos alunos e atitudes
pedagógicas que subsidiem a prática docente para amenizar as dificuldades de
adaptação no 6º ano. Como objetivos específicos: refletir sobre as características
sociais, psicológicas e físicas dos alunos em transição da infância para a
adolescência, proporcionar reflexões sobre planejamento, currículo, expectativas de
aprendizagem e avaliação e, planejar ações com professores do 6º ano que
promovam a articulação entre os anos iniciais (5º ano) e anos finais (6º ano).
Para os alunos, o ingresso no 6º ano apresenta muitos desafios. Alguns ficam
inseguros em relação à mudança de escola. Nos anos iniciais, o professor é
unidocente3 e, nos anos finais há um professor para cada disciplina. E, nessa
mudança da unidocência para a pluridocência4, a criança apresenta dificuldades na
organização dos materiais e na adaptação em relação ao horário, pois a cada
cinquenta minutos muda o professor.
Levando-se em consideração os fatores acima citados e a incidência que os
problemas de adaptação estão presentes na vida da criança, do adolescente e do
adulto e, acreditando que a escola poderá amenizar as transições de uma etapa
para outra da Educação Básica ou na mesma etapa, pergunta-se: por que as
crianças, ao ingressarem nos Anos Finais do Ensino Fundamental (6º ano),
apresentam dificuldades de adaptação, que refletem no processo ensino
aprendizagem? Quais atitudes pedagógicas da escola subsidiam uma melhor prática
didática ou pedagógica com alunos e professores do 6º ano?
3
Unidocente: Um único professor dando aula de todas as disciplinas.
4
Pluridocência: Regime com professores especializados nas diferentes disciplinas.
Assim, justifica-se o presente estudo que procura subsidiar os professores
nas suas ações, para facilitar a adaptação das crianças nesse novo contexto,
diminuindo suas ansiedades e proporcionando meios para que o processo ensino
aprendizagem realmente ocorra de forma significativa, com uma reorganização do
currículo, do planejamento, dos tempos e espaços de aprendizagem.
Como no estado do Paraná, os anos iniciais do Ensino Fundamental estão
sob a responsabilidade dos municípios e os anos finais, sob a responsabilidade do
estado, percebe-se que não há uma integração e sequência no trabalho pedagógico
devido a diferença de mantenedoras. São duas realidades distintas.
A legislação prevê que ocorra a articulação no interior do Ensino Fundamental
e deste com as demais etapas da Educação Básica, ou seja, com a Educação
Infantil e com o Ensino Médio, para que a trajetória escolar dos alunos transcorra
num percurso contínuo de aprendizagens significativas, sem rupturas.
Para Sacristán (2000), “[...] o currículo é o projeto cultural que a escola torna
possível” (p.89), e cumpre várias funções e, estas são realizadas através de seus
conteúdos (culturais ou intelectuais e formativos), códigos pedagógicos e ações
práticas. É através do currículo que se pode analisar como acontece a prática no
contexto escolar.
3 Metodologia
A proposta para o desenvolvimento do artigo contou com pesquisa
bibliográfica; seguida por pesquisa de campo - pesquisa ação, realizada em quatro
escolas da rede municipal de Pato Branco - PR, sendo uma localizada no centro da
cidade, duas na periferia e uma no campo. Os participantes foram 76 alunos dos 5º
anos e seis professoras das respectivas turmas. A pesquisa teve como objetivo
diagnosticar quais eram as expectativas dos alunos do 5º ano em relação ao 6º
ano e o que esperavam da nova escola, em 2015. Com as professoras do 5º ano,
foi de diagnosticar quem eram essas crianças que estavam concluindo a primeira
etapa do Ensino Fundamental (suas características sociais psicológicas, físicas e
cognitivas). A elaboração de material didático, Caderno Pedagógico, estruturado
em quatro unidades didáticas: a) Ensino Fundamental, b) Infância e Adolescência,
c) Organização do trabalho pedagógico, d) Transição dos alunos do 5º ano para o
6º ano do Ensino Fundamental. Cada unidade foi constituída por fundamentação
teórica, orientações metodológicas e referências bibliográficas. E com a
implementação do projeto no Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e
Adultos – CEEBJA de Pato Branco-Paraná, tendo como público alvo, professores
da instituição e professores que atuavam no 6º ano do Ensino Fundamental, no
ano de 2015.
Paralelamente à Implementação do Projeto, ocorreu formação dos
professores pedagogos da rede estadual de ensino, através do Grupo de Trabalho
em Rede- GTR, com duração de três meses. As cursistas tiveram acesso ao
Projeto de intervenção, à Produção Didática Pedagógica, aos materiais de estudo
e complementares.
4 Resultados da pesquisa
Os resultados apresentados articulam-se com as etapas desenvolvidas no
PDE: inicialmente, os da pesquisa com os alunos dos 5º anos e suas respectivas
professoras, de quatro escolas da rede municipal de Pato Branco. Na sequência, a
implementação do projeto, através das expectativas e considerações dos
professores do 6º ano, da rede estadual, de Pato Branco. Finalmente, as
contribuições das pedagogas da rede estadual do estado do Paraná, participantes
do Grupo de Trabalho em Rede – GTR.
Para preservar a identidade das pessoas cujas falas constam nesta
pesquisa, optou-se pela utilização de números, sendo A – aluno do 5º ano da rede
municipal, PM – professor do 5º ano da rede municipal, PE – professor do 6º ano
da rede estadual e PP – professora pedagoga da rede estadual.
Os 76 alunos do 5º ano que participaram da pesquisa, escreveram um texto,
expondo suas expectativas quanto ao 6º ano e, o que esperavam da nova escola
que os acolheria, em 2015. Os anseios estão classificados nas categorias:
professores, escola, ensino aprendizagem, violência e insegurança.
Em relação aos professores do 6º ano, os alunos afirmaram que gostariam
de conhecer os professores novos, que eles sejam legais e prestem atenção neles,
que os ajudem quando estiverem confusos (quantas vezes for necessário), que os
tratem com carinho e alegria, que sejam atenciosos, que gostem deles durante o
ano todo, que peçam suas opiniões nos assuntos relacionados à sua turma, que
não sejam bravos, que as aulas não sejam cansativas, que sejam professores
bons, que deem uma matéria boa para que aprendam e que as aulas sejam
animadas.
Em relação a escola do 6º ano, gostariam que fosse como a do 5º ano, com
apenas uma professora e que sentirão falta da escola, da professora, da diretora e
da coordenadora. Outros esperam que a escola do 6º ano seja inovadora, divertida
e boa, que o banheiro e salas de aula sejam bem limpinhos, que o lanche da
escola seja bom, que nunca faltem materiais, que tenha um espaço aberto para
brincar, que a sala de aula seja organizada, que haja respeito entre as pessoas,
que tenha poucos alunos na sala, que o sonho deles é conhecer a escola toda e,
que os alunos tenham no 6º ano, notebooks ou tablets do governo.
Quanto ao ensino aprendizagem, os alunos colocaram que gostariam que
fosse só uma professora porque não sabem se conseguirão copiar e realizar as
atividades em 45 minutos, que terão que prestar mais atenção nas aulas pois
haverá mais matérias, que gostariam de escrever sempre com caneta, que
gostariam de aprender coisas novas, que querem ter notas boas e passar para o 7º
ano, que façam novos amigos, que tenha uma feira de Ciências por mês, que o 6º
ano será difícil porque tem contas difíceis e os professores dão muitas coisas
difíceis, que querem aprender várias coisas diferentes para chegar o mais longe
possível, que vão dedicar-se nos estudos para chegar no ENEM. Destaca-se a fala
de três alunos: “[...] espero conseguir uma professora para me auxiliar nas
atividades, no recreio” (A48), “[...] quero ter aulas de química e física, pois sempre
quis fazer isso porque vejo as pessoas fazendo na TV e fico olhando, pensando
um monte de coisas”(A6), “[...] imagino nós lá no estado brincando estudando vou
me dedicar nas provas no estudo para passar de ano e tirar boas notas eu nunca
tive chance de olhar o estado apresentando”. (A74).
Nos textos das crianças, ficou evidente o medo que eles têm das brigas que
ocorrem na escola “Eu não queria que lá tivesse brigas e barulho” (A17) e “eu
tenho medo de apanhar dos grandes e quero ser uma pessoa muito quieta e muito
comportada” (A16). Além da violência física, percebeu-se o medo que eles sentem
em relação a outras violências, “[...] na Escola Estadual, gostaria que todas as
professoras e professores tratassem nós com muito carinho e com alegria (A21),
“[...] Tenho medo de não ser respeitada pelos colegas e os outros mais grandes”.
(A32) e “[...] eu quero que as aulas fossem mais calmas”. (A42). Para
complementar, “[...] estou nervosa com a outra escola, pois tenho medo de não me
adaptar bem porque estou acostumada na minha escola pois estudo aqui desde o
1º ano”. (A10)
Constatou-se ainda que eles tem medo que seja difícil de conviver com
outras pessoas, tem medo de levar boletim de ocorrência. Nesse contexto,
destaca-se a fala de um aluno;
“[...] vou ter que acordar as 06h30min da manhã para ir à escola, o que vai
me deixar bem incomodado... acho que vai demorar um mês para decorar todas as
professoras [...] acho que vou ter que escrever com caneta, o que é ruim... Outra
coisa que vai me incomodar é que além de cobrar mais nas matérias vão começar
a cobrar mais nos termos de maturidade, exemplo, você não pode mais agir como
criança, e já estou sentindo o impacto disso”. (A1)
Nas visitas às quatro escolas da rede municipal, solicitou-se às seis
professoras do 5º ano, que após a realização de um efetivo trabalho direcionado
ao processo ensino aprendizagem com seus alunos do 5º ano, em 2014,
escrevessem: quem são essas crianças que estão concluindo a primeira etapa do
Ensino Fundamental (suas características sociais, psicológicas, físicas e
cognitivas).
Relatos, das professoras “As crianças que estão indo para o 6º ano do
Ensino Fundamental, são crianças amorosas, educadas, estruturadas
familiarmente, não tendo nenhum problema psicológico ou psicopedagógico e com
sua área cognitiva dentro dos padrões psicológicos, motores e
educacionais”.(PM1)
Em relação à aprendizagem, “[...] sete alunos apresentam notáveis
dificuldades na leitura e escrita, sendo que dois deles ainda estão na fase de
alfabetização. Os demais encontram maiores dificuldades na interpretação e
produção de textos e em cálculos matemáticos mais complexos” (PM2). “[...] os
problemas familiares e conflitos, afetam a aprendizagem. A carência, higiene e
desmotivação, estão presentes no seu dia a dia. Muitos deles necessitariam de um
trabalho de acompanhamento, cognitivo e psicológico, porém a falta de
profissionais ou do sistema, não é possível atendê-los adequadamente”. (PM3).
Na outra escola, os alunos apresentam características variadas, devido a
grande diversidade social e cultural. “[...] existem vários fatores que contribuem
para esta heterogeneidade, desde a sociedade que está inserida e de apoio
familiar com os estudos” (PM5), “[...] Temos na escola um grande número de
crianças [...] com muitos problemas familiares, o que lhes afeta a parte psicológica
e gerando dificuldades de aprendizagem”(PM4). Numa das turmas, havia uma
criança com deficiência física, baixa audição e dificuldades de aprendizagem. E, na
outra, um aluno com problemas psicológicos e cognitivos, frequentando a sala de
recurso.
Na escola do campo, “a turma desse ano do 5º ano é uma turma excelente:
tem ótimo relacionamento entre os colegas e com os professores. Tem um
desenvolvimento muito bom tanto no cognitivo como no psicológico, Alguns alunos
desenvolvem maior habilidade em Matemática tendo raciocínio rápido, no geral
têm facilidade em expor suas ideias. São todos alunos filhos de pequenos
agricultores, alunos simples, com muitos valores éticos e morais e pela experiência
de muitos anos trabalhando com o final da 1ª etapa do Ensino Fundamental, posso
dizer que será um 6º ano sem problemas ou dificuldades de aprendizagem, apenas
um pouco imaturos”. (PM6)
Diante das colocações das professoras do 5º ano entrevistadas, ficou
evidente que nas escolas dos bairros, as crianças apresentam maiores
dificuldades, consequência das inúmeras situações presentes na nossa sociedade.
Algumas vêm de famílias com situação financeira muito baixa, outras, os
pais são assalariados e saem de casa muito cedo para trabalhar e não conseguem
comparecer à escola para acompanhar o estudo dos filhos. Outra questão
observada é o conflito familiar, que deixa as crianças inseguras, com medo e com
baixa concentração nas aulas. A escola é o local que buscam para obter o que não
tem em casa, daí a necessidade de muito estímulo e dedicação dos professores e
equipe pedagógica. Em relação à maturidade dos alunos, convém lembrar, que de
acordo com a legislação vigente no estado do Paraná, muitos deles ingressaram
no 1º ano com cinco anos e, consequentemente com nove anos no 5º ano,
portanto crianças.
A divulgação da implementação do projeto ocorreu no interior da escola de
lotação do professor PDE e, através do envio de e-mail às escolas da rede
estadual, convidando os professores do 6º ano, a participarem do Grupo de
Estudos.
Os participantes da implementação do projeto, professores do 6º ano, a
partir dos estudos e reflexões, apresentaram as seguintes contribuições:
Em relação às características físicas: algumas crianças são pequenas, sem
noção espacial, agitam-se muito, não conseguem ficar sentadas por muito tempo, a
maioria é magra e alguns são obesos, alguns são ágeis e outros lentos. As meninas
desenvolvendo o corpo e apresentando os primeiros sinais de sexualidade, os
meninos com poucas mudanças físicas. Alguns alunos são grandes, já formados
fisicamente (os que estão fora da faixa etária).
No que se refere às características sociais, alguns apresentam dificuldades
de relacionamento, brigas constantes, carência afetiva, perdem o acompanhamento
dos pais em relação à higiene, estudo e alimentação, cansam rapidamente,
apresentam dificuldade de trabalhar em equipe. Para outros, são crianças alegres,
saudáveis, ativas, cheias de energia, amáveis e carinhosas com os colegas e
professores, relacionam-se com facilidade e sem discriminação, são desinibidos,
tranquilos e acessíveis, bastante afetivos, fazem amizade facilmente, gostam de
falar ao mesmo tempo e não controlam o volume da voz. “Entre eles o
relacionamento é bom, porém muita fofoca, briguinhas, mas logo fica tudo bem, não
são de guardar rancor eterno”. (PE1 e PE4).
Em relação às características psicológicas, alguns são inseguros, imaturos,
tímidos, líderes, falantes, alegres, não tem autonomia, agitados, inquietos e
explosivos. Alguns apresentam carência de afetividade, déficit de atenção familiar;
falta de limites, de imaturidade, demonstram agressividade verbal e vivenciam
muitos conflitos no cotidiano, “As meninas às vezes se desentendem por motivos
irrelevantes, fazem grupinhos. Alguns correm contar para a Diretora ou Pedagoga
qualquer coisa que aconteça. Também podem ser dependentes no sentido de que
alguma instrução tenha que ser repetida várias vezes” (PE3 e PE14).
Quanto às características cognitivas, a grande maioria apresenta condições
propícias de aprendizagem: uma pequena parte se sobressai para melhor que a
maioria, apresentando: falta de rotina no estudo, dificuldade na abstração, falta de
atenção e concentração, dificuldade de interpretação e compreensão dos
enunciados, defasagem de conteúdos. Há um número significativo de alunos com
laudo médico e outros, com grandes dificuldades de aprendizagem, que são
encaminhados para Sala de Apoio e/ou Sala de Recursos.
Dentre as concepções que os professores têm, destacam-se: “Infância – é um
período de descobertas. As crianças se desenvolvem, não somente
biologicamente/fisiológica, mas também intelectualmente. As descobertas cognitivas
dessa fase contribuem para o desenvolvimento das características individuais:
psicológicas, afetivas, emocionais e cognitivas. Adolescência: é o período de
maturação das descobertas adquiridas na infância.” (PE11).
Questionados sobre a possibilidade dos professores do 5º ano (rede
municipal) e professores do 6º ano (rede estadual), elaborarem um planejamento,
pensando num currículo integrado entre as duas etapas do ensino fundamental, os
professores opinaram que acreditam que é o ideal, considerando a troca de
experiências. Os professores do 5º ano entram em contato com professores
especializados nas áreas do conhecimento enquanto, os professores licenciados
tem contato com a realidade da docência única – do professor que dá aula de todas
as disciplinas. Além disso, possibilitam aos professores do 6º ano, informações
sobre os alunos que receberão no ano seguinte. Para isso, é necessário que as
mantenedoras percebam a importância desse trabalho em conjunto, para o
desenvolvimento dos alunos e, incentivem essa integração.
Em relação à escolha dos conteúdos a serem trabalhados nas duas etapas do
Ensino Fundamental (5º e 6º ano), os professores afirmaram que deve ser em
conjunto (professores dos dois anos) e que os conteúdos do 6º ano, sejam uma
continuidade e aprofundamento dos conteúdos do 5º ano, considerando as
determinações da Diretriz Curricular de cada disciplina, com as respectivas
expectativas de aprendizagem e as contextualizações de acordo com a realidade
dos alunos.
Outra questão abordada é referente à possibilidade de diminuir o fracasso
escolar que se observa no 6º ano, através da avaliação. Os professores
responderam que é possível, a partir do momento em que o professor entender
realmente a função da avaliação, procurando sempre comparar a evolução do aluno
não com os outros alunos, mas com o próprio aluno. E, se ele tiver muitas
dificuldades, verificar como ele aprende melhor, reorganizar suas aulas com novas
estratégias para intervenção, promovendo a apropriação do conhecimento pelos
alunos. Relacionar sempre, critérios de avaliação com objetivos, conteúdos e
metodologias aplicadas.
Os professores ao serem indagados sobre por que as crianças do 6º ano
apresentam dificuldades de adaptação, que refletem no processo ensino-
aprendizagem, responderam que é devido: a dificuldade em aceitar o novo, às
metodologias dos novos professores, o aumento do número de professores, a
fragmentação dos conteúdos e, a insegurança em relação ao colégio com muitas
turmas, com alunos de maturidades diferentes, sentindo-se excluídos e
amedrontados.
Na sequência, solicitou-se que citassem os fatores que influenciam e
impedem a articulação entre as duas etapas do Ensino Fundamental. As respostas
foram: que as mantenedoras são diferentes, que há falta de diálogo entre as duas
instâncias (municipal e estadual) e falta um curso de formação adequada aos
envolvidos.
Em relação às atitudes pedagógicas da escola, foi mencionado:
“Recepção dos alunos no início do ano letivo; trabalhar os conteúdos de
forma concreta, sempre que possível; manter um relacionamento afetivo com os
alunos de modo que se sintam bem e aprendam; preparar os professores para o
trabalho com estes alunos” (PE3 e PE14); “Melhorar o acolhimento; aulas
diferenciadas, envolver o lúdico; cuidar com o vocabulário com as crianças” (PE6,
PE12 e PE2); “Diálogo com os professores somente do 6º ano, situando-os sobre a
realidade dos alunos – escola de procedência, bairro onde moram, repetências:
mediação entre a metodologia do professor e os alunos – a linguagem dos alunos;
Deixar, em escolas grandes, as salas do 6º ano próximas à assessoria pedagógica”
(PE5, PE11 e PE17); “Proporcionar um encontro com professores do 5º e do 6º ano;
fazer uma reunião com os pais dos alunos do 6º ano para falar das mudanças e
assim, podendo ajudar a família para estar mais bem preparada para esta mudança
na vida destas crianças”. (PE16 e PE13)
Sobre ações para articulação entre as etapas, os professores sugeriram:
Realização de visitas dos alunos dos 5º anos na escola do 6º ano; Realização de
visitas dos professores do 6º ano às turmas do 5º ano para dar uma aula – das
várias disciplinas; Recreações com os alunos do 5º ano e 6º ano no último bimestre
(trimestre), nas escolas com dualidade. Encontros de formação para os professores
do 5º e 6º ano, do sistema municipal com o estadual.
Capacitações específicas para os professores de Português e Matemática;
Conscientização dos professores sobre a importância do planejamento das suas
aulas, que sejam dinâmicas, com atividades lúdicas, utilização de material concreto
e metodologias diversificadas. Envolvimento da direção, equipe pedagógica,
professores e funcionários, na recepção e acolhimento dos alunos no 6º ano.
Envolvimento da família na transição do aluno do 5º para o 6º ano. A presença dos
pais ou responsáveis nas ações no início do novo período letivo e durante o ano, é
fundamental na adaptação e aprendizagem das crianças.
5 Considerações Finais
Estabelecer a articulação entre os anos iniciais e anos finais do Ensino
Fundamental exige comprometimento, dedicação e persistência dos responsáveis
pelas duas etapas. Ao finalizar a implementação do projeto, percebeu-se alguns
resultados referentes à mudança de postura e concluiu-se que ainda há muito que
fazer, estudar e aperfeiçoar em relação a essa articulação, no interior do Ensino
Fundamental. No desenvolvimento do trabalho, todas as etapas foram significantes,
entretanto, a conversa com os alunos do 5º ano da rede municipal foi a mais
importante, por mostrar as expectativas que eles têm em relação ao 6º ano e o que
esperam da escola que os acolherá no ano seguinte. Constatou-se, através das
produções, que os alunos do 5º ano apresentam ansiedade e insegurança em
relação à nova escola, aos novos professores e às disciplinas ofertadas. Esperam
ser acolhidos e respeitados, por todas as pessoas da escola dos anos finais. Na fala
das crianças, ficou evidente, o temor que elas têm em relação às diferentes
violências praticadas com os alunos, nas instituições escolares.
Outro aspecto importante foi à descrição dos professores dos 5º anos sobre
seus alunos. É perceptível a diferença que há entre as escolas dos bairros, do
campo e do centro em relação ao processo ensino aprendizagem, aos valores e
atitudes e ao comportamento das crianças. Averiguou-se que nas escolas dos
bairros, as turmas são bastante heterogêneas, as crianças são inseguras e
apresentam dificuldades de aprendizagem, devido aos conflitos que vivenciam em
suas famílias.
Nos encontros de formação, foram evidentes os avanços que os professores
do 6º ano demonstraram após o estudo, reflexão e debate dos conteúdos e materiais
que compõem o Caderno Pedagógico5.
Para facilitar o processo de articulação no interior do Ensino Fundamental, os
professores do 6º ano e os professores pedagogos da rede estadual, apontam para
a necessidade das escolas planejarem ações que facilitem a adaptação dos alunos
no novo ambiente escolar. No regime de colaboração entre Estado/Município, a
necessidade de pensar num currículo integrado/articulador para os anos de
transição (5º e 6º ano); e a oferta de cursos para os professores que atuam no 5º e
6º ano, para tratar das especificidades do processo de transição.
Para concluir, aponta-se a necessidade da articulação entre a rede municipal
e a rede estadual, não somente no aspecto pedagógico, mas também no
5
Caderno Pedagógico: “A articulação entre as duas etapas do Ensino Fundamental: anos iniciais (5º
ano) e anos finais (6ºano)” – material produzido como parte integrante deste projeto.
administrativo, sendo que nesse processo de transição do 5º para o 6º ano, a
responsabilidade não é somente dos professores dessas duas turmas e sim, de
todos os envolvidos, ou seja: das mantenedoras (Município e Estado), da equipe
pedagógica e direção das escolas (municipal e estadual), e também, das famílias
dos alunos das duas turmas.
6 Referências
ANDRADE, M. Investigação sobre a transição dos alunos do ensino
fundamental I para o ensino fundamental II. Trabalho de Conclusão de Curso –
Universidade Estadual de Londrina, Londrina. 2011. Disponível em:
http://www.uel.br/ceca/pedagogia/pages/arquivos/MARIZA%20ANDRADE.pdf
Acesso em 30/09/15.
SANT’ ANNA, I. M.. Por que avaliar? Como avaliar? : Critérios e instrumentos. 15ª
ed. Petrópolis,RJ: Vozes, 2011.