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Bruno Pucci
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A respeito da questão do tempo livre confira: ADORNO, Theodor.W. (1996). Teoria da
Semicultura, (TS). tradução de Newton Ramos-de-Oliveira, Bruno Pucci, Claudia B. Moura
Abreu. Educação & Sociedade: Revista quadrimestral de Ciência da Educação, Ano XVII,
(nº 56):388-411. Campinas, Editora Papirus; ADORNO,Theodor W. (1969). Tiempo LIbre.
In ADORNO,T.W., Consignas. Versión castellana de Ramón Bilbao. Buenos Aires,
Amorrortu; PUCCI, Bruno (1996). Teoria Crítica e Produção do Conhecimento no Processo
Educacional. IN MARKERT, Werner (Org.), Trabalho, Qualificação e Politecnia.,
Campinas, Papirus Editora, p.39-52.
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ADORNO, T.W e HORKHEIMER, Max (1986). Dialética do Esclarecimento: fragmentos
filosóficos, (DE). tradução de Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro, Zahar, p.123
3
3
MAAR, Wolfgang Leo (1992). Lukács, Adorno e o problema da Formação. In Lua Nova:
Revista de Cultura e Política. São Paulo, (n.27):186-191.
4
ADORNO,T.W. e BECKER,H. (1994). Educação para a Autonomia. Tradução de Newton
Ramos-de-Oliveira, UNESP. Araraquara, publicação interna, p.8.
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Maiores informações sobre a dialética negativa serão dadas no próximo item.
6
KANT, Immanuel (1985). Resposta à Pergunta: Que é Esclarecimento?. In Textos Seletos
(edição bilíngüe). Petrópolis, VOZES, p.100.
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ADORNO, T.W. (1975). Dialéctica Negativa, (DN). Versión castellana de José Maria Ripalda.
Madrid, Taurus, p.7.
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Mais da metade dos 23 volume das obras de Adorno referem-se à música
8
mundo nem tudo seria permutável. Em virtude do não cambiável, ela deve,
através de sua forma, levar o cambiável à auto-consciência crítica 9.
A obra de arte, em todos os seus gêneros, está penetrada de momentos
intelectivos. Necessitam ser explicitados. Precisa da filosofia para compreender
a si mesma, para dizer o que ela não consegue dizer, mas que só por ela pode
ser dito, ao não dizê-lo. É pelo conceito que o espírito das obras de arte, mesmo
não sendo conceito, pode ser captado, se tornar fala e ir além na expressão de
sua dimensão estética. Para Adorno, as obras de arte são enigmas e, como tais,
se apresentam para serem decifradas. Na medida em que não falam, elas
mesmas são incapazes de fornecer respostas a seu caráter enigmático. Mas,
por serem enigmas, não se deixam desvendar de maneira unívoca. A reflexão
filosófica se aproxima continuamente da estética na tentativa de captar a
resolução objetiva do enigma. Ao mesmo tempo, a reflexão filosófica se afasta
continuamente da estética por a sua ação não esgotar a plurivocidade sígnica
das obras de arte.
A contribuição do conhecimento estético enquanto correção da rota da
filosofia, desgastada pela profusão de categorias dos mais diferentes -ismos, é
mostrada por Adorno, na Teoria Estética: Quanto mais compactamente os
homens cobriam o que é diferente do espírito subjetivo com a rede das
categorias, tanto mais profundamente se desabituaram da admiração perante
esse ‘outro’ e, com familiaridade crescente, se frustaram da estranheza. A arte
(...) procura, debilmente, reparar isso. Leva a priori os homens à admiração,
como outrora Platão exigia da filosofia, que se decidiu pelo contrário” (TE:147).
Eliminar da arte a reflexão, reduzindo-a ao âmbito do simplesmente irracional
significa para Adorno trilhar o caminho da Indústria Cultural. Mostrar, porém, a
participação da arte na racionalidade passa a ser então uma das tarefas centrais
da Teoria Estética. Isso porque a arte faz bem à filosofia. A filosofia precisa da
arte. Adorno em alguns momentos de seu discurso apresenta a angústia solitária
da filosofia: A filosofia é o esforço permanente e mesmo desesperado de dizer o
que não se pode propriamente dizer10; seu caráter flutuante (...) não é outra
coisa que a expressão do que para ela mesma resulta inexpressável (DN:112-
113). Tentar exprimir conceitualmente o não conceituável: eis o paradoxo da
filosofia! É na quase impossível busca da verdade que o pensamento precisa da
arte, que, na sua objetividade, expressa o inefável. Mas sem deixar de ser
pensamento, pois, caso contrário, se falsearia, convertendo-se no absurdo de
um objeto abstrato. Daí, a necessidade da presença do momento expressivo no
interior da filosofia, possibilitando a construção de um saber diferente do
dominante.
9
ADORNO.T.W. (1992). Teoria Estética (TE). Tradução de Artur Morão. Lisboa, edições 70,
p.101.
10
ADORNO,T.W.(1983). Terminologia Filosófica I. Versión castellana de Ricardo Sanchez
Ortiz de Urbina. Madrid, Taurus, p.63.
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2 - As implicações filosófico-educacionais
11
DUARTE, Rodrigo.A.de P.( 1993). Mímesis e Racionalidade: a concepção de domínio da
natureza em Theodor W. Adorno. São Paulo, Loyola, p.64;95
10
14
ADORNO,T.W. (1992). Minima Moralia: reflexões a partir da vida danificada, (MM). Tradução
de Luiz Eduardo Bicca. São Paulo, Ática, p.175.
12
15
MARCUSE, Herbert (1988). Razão e Revolução: Hegel e o advento da Teoria Social. Rio de
Janeiro, Paz e Terra, 4ª Edição, p.37 e 124.
16
ADORNO,T.W. (1995). Notas marginais sobre teoria e práxis. In Theodor W. ADORNO,
Palavras e Sinais. Tradução de Maria Helena Ruschel. Petrópolis, VOZES, p.208.
14
17
ADORNO,T.W. (1986). Educação após Auschwitz, (EAA). Tradução de Aldo Onesti, In
CONH,G., Theodor W. Adorno. São Paulo, Atica, p.33.
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objetivo da escola, por mais restritos que sejam seu alcance e suas
possibilidades18. Alguns anos depois, 1968, na conferência “A educação contra
a barbárie”, volta a defender esse ponto de vista: A tese que gostaria de discutir
é a de que desbarbarizar tornou-se a questão mais urgente da educação hoje
em dia19. Nestes textos, quando fala de barbárie, se refere diretamente ao
preconceito delirante, à opressão, ao genocídio, à tortura, tão presentes na
sociedade de seu tempo e também na nossa. Para Adorno, a desbarbarização
é decisiva para a sobrevivência da própria humanidade. É preciso contrapor-se
com força a ela, principalmente na escola, ajudando a esclarecer os alunos do
pesado legado que se abate sobre a humanidade. Adorno julga que a
problemática da barbárie, quando tratada com urgência e agudez pela
educação, o simples fato de se colocar essa questão no centro da
consciência traz benefícios e possibilidades de mudanças. Daí a importância
de se entender mais a fundo o seu conceito de desbarbarização.
Na elaboração da proposta de desbarbarização da educação, Adorno
começa denunciando os caminhos que não se deve seguir. Critica inicialmente a
educação pela dureza como errada. Aquele que é duro consigo mesmo adquire
o direito de sê-lo também com os outros, se vinga da dor que não teve a
liberdade de demonstrar, que precisou reprimir. Esse mecanismo deve ser
conscientizado, e se deve, ao mesmo tempo, fomentar uma educação que não
mais valorize a dor e a capacidade de suportá-la (Cf.EAA:39). Prima-irmã da
educação para a dureza é a formação educacional das pessoas que se
apresentam com o consciente coisificado. São pessoas que se distinguem pela
incapacidade de realizar experiências humanas, pela ausência de emotividade.
Elas se relacionam ambiguamente com a técnica, com se esta fosse um fim em
si mesmo, que satisfizesse plenamente as carências humanas. Seu amor
tecnológico, absorvido por objetos, as tornam intimamente frias, incapazes de
amar outras pessoas. Equiparam-se de certa forma às coisas e tendem a
considerar os outros também como coisas (Cf.EAA:40-42).
Vale a pena levantar aqui outro aspecto importante que se deve
combater nesse processo de desbarbarização: o princípio da competição,
particularmente utilizada em escolas, de diferentes regimes políticos, como um
instrumental pedagógico por excelência. Adorno, bem como seu interlocutor
Helmut Becker, na entrevista “A Educação contra a Barbárie”, vão analisar essa
temática, mostrando sua ambigüidade. A competição, enquanto estímulo,
emulação, bem orientada, pode ser realmente um instrumental pedagógico.
Porém da maneira como usualmente é utilizada nas escolas se torna um
instrumental reprodutivo da intensa competição presente no sistema capitalista,
em que os homens são inimigos dos próprios homens, vigindo, na lei da
18
ADORNO,T.W. (1995). Tabus a cerca do magistério. In Educação e Emancipação. Tradução
de Wolfgang Leo Maar. São Paulo, Paz e Terra, p.117.
19
ADORNO.T.W. (1995). A Educação contra a barbárie (ECB).In Educação e Emancipação.
Tradução de Wolfgang Leo Maar. São Paulo, Paz e Terra, p.155.
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sobrevivência geral, o domínio dos mais fortes, mais ricos, mais cultos, mais
armados. A competição é um princípio no fundo contrário a uma educação
humana. É preciso - diz ele - desacostumar as pessoas de se darem
cotoveladas. Cotoveladas constituem sem dúvida uma expressão da barbárie.
(Cf. ECB:161-193).
O que se entende aqui por desbarbarização da educação? A nosso ver,
duas características constituem esse princípio pedagógico: a educação
enquanto esclarecimento e a educação enquanto emancipação. Os
frankfurtianos nunca perderam a esperança de resgatar a potencialidade crítica
do esclarecimento espezinhada pelo capitalismo tardio. O esclarecimento
(Aufklärung) é a negação do caráter repressivo e unilateral da indústria cultural e
só se realiza se conseguir resgatar suas possibilidades reflexivas e dialéticas. É
o que afirma explicitamente Adorno na “Educação após Auschwitz”: A educação
só teria sentido como educação para a auto-reflexão crítica. (...). A única
verdadeira força contra o princípio de Auschwitz seria a autonomia, se é que
posso utilizar a expressão de Kant; a força para a reflexão, para a
autodeterminação, para a não-participação (EAA:37).
Adorno tem plena consciência de que a educação apenas, por mais
crítico-reflexiva que seja, não tem condições sozinha de transformar
radicalmente a situação de barbárie predominante. Porém ela tem uma
especificidade insubstituível: enquanto esclarecimento geral pode criar um clima
espiritual, cultural e social que não dê margem a uma repetição; um clima em
que os motivos que levaram ao horror se tornem conscientes, na medida do
possível (Cf.EAA:35-36).
O esclarecimento pedagógico não é privilégio da reflexão filosófica.
Adorno atribui importância fundamental à psicologia, enquanto atividade que
pode levar à conscientização os mecanismos subjetivos, fortalecendo na pré-
consciência determinadas contra-instâncias, que ajudam a preparar um clima
desfavorável aos extremismos (Cf.EAA:44). Acreditava que o consciente nunca
acarreta tantos males quanto o inconsciente, o semiconsciente e o pré-
consciente. Defendia a atualidade do conhecimento autêntico e integral da
psicanálise e seu potencial enquanto auto-reflexão crítica 20.
Vinculado ao esclarecimento reflexivo e dialético no processo da
desbarbarização da educação está a busca da emancipação, a Mündigkeit
kantiana. Mund, em alemão, quer dizer boca. Mündigkeit = fazer uso da própria
palavra, ser senhor de si. A emancipação pressupõe a aptidão e a coragem de
cada um em se servir de seu próprio entendimento. De certo modo, pois,
emancipação se aproxima de conscientização, racionalidade. Nos textos
“Educação - para quê?” Adorno tenta carcaterizar melhor o que ele entende por
uma educação emancipatória. Educação não é um processo de modelagem de
pessoas, porque ninguém tem o direito de modelar alguém a partir de fora. A
educação não é também mera transmissão de conhecimentos. É, antes de tudo,
20
Cf. ADORNO.T.W. (1995). O que significa elaborar o passado. In Educação e Emancipação.
Tradução de Wolfgang Leo Maar. São Paulo, Paz e Terra, p.29-50.
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21
ADORNO.T.W.(1995). Educação para quê? (Epq). In Educação e Emancipação. Tradução
de Wolfgang Leo Maar. São Paulo, Paz e Terra, p.141-144.
22
ADORNO,T.W. (1995). Educação e Emancipação,(EE). Tradução e introdução de Wolfgang
Leo Maar. São Paulo, Paz e Terra, p.172.
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ADORNO,T.W. (1986). Sobre Música Popular. Tradução de Flávio R. Kothe, In CONH,G.,
Theodor W. Adorno. São Paulo, Atica, p.124; ADORNO.T.W. (1991). O Fetichismo na
Música e a regressão da audição. Tradução de Luiz João Baraúna. In Horkheimer/Adorno:
Textos escolhidos, Col. “Os Pensadores”. São Paulo, Nova Cultural, p.79-106.
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ADORNO,T.W. (1986). O Ensaio como forma. In COHN, G. (Org.). Theodor W. Adorno:
sociologia. Tradução de Flávio R. Kothe. São Paulo, Ática, p.168 e 180.
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