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Estratigrafia do Karoo em Moçambique, Novas Unidades (Karoo Stratigraphy


in Mozambique. New Units)

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3 authors, including:

Lopo Vasconcelos João Manuel Marques


Eduardo Mondlane University GONDWANA Empreendimentos e Consultorias, Limitada
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X Congresso de Geoquímica dos Países de Língua Portuguesa
XVI Semana de Geoquímica

Estratigrafia do Karoo em Moçambique. Novas Unidades


Karoo Stratigraphy in Mozambique. New Units

Felizardo Paulino1, Lopo Vasconcelos2, João Marques3


1
Cimentos de Moçambique, Av. 24 de Julho, Nr. 7, 10º piso, Maputo, Moçambique; pinhopaulino@gmail.com
2
Dept. Geologia, Universidade Eduardo Mondlane, C.P. 257 Maputo, Moçambique
3
Gondwana Empreendimentos e Consultorias, Limitada, C. P. 832, Maputo, Moçambique

Resumo
A recente cartografia geológica levada a cabo em Moçambique permitiu pela primeira vez uma
cobertura de todo o país com mapas geológicos à escala 1:250.000, e ainda à escala 1:50.000 nas áreas
que se mostraram mais potenciais em termos de recursos minerais.
O intenso trabalho de campo levado a cabo obrigou a uma revisão do conceito geológico do país,
revisão essa expressa na nova Carta Geológica de Moçambique à escala 1:1.000.000 (Hartzer et al.,
2008).
Esta revisão abarcou também as formações do Supergrupo do Karoo (SGK), que anteriormente
estavam classificadas de acordo com as clássicas divisões da África do Sul, onde ocorre a área-tipo. A
actual nomenclatura adoptada para o SGK em Moçambique mudou substancialmente, em especial na
Província de Tete. Na Província do Niassa continua parcialmente em uso a terminologia clássica.
O objectivo deste trabalho é de se dar a conhecer a nova nomenclatura e de tentar correlacionar as
várias unidades do Karoo, tanto sedimentares como ígneas.
Palavras chave: Moçambique, Supergrupo do Karoo, nomenclatura.

Abstract
The recent geological mapping carried out in Mozambique allowed for the first time a complete
coverage of the country with geological maps at a 1:250,000 scale, and with maps at a 1:50,000 scale for
the areas that showed to be the most potential in terms of mineral resources.
The intense fieldwork carried out obliged to a revision of the geological concept of the country, which
is shown in the new Geological Map of Mozambique at 1:1,000,000 scale (Hartzer et al., 2008).
Included in these revisions are also the Karoo Supergroup (KSG) formations, which used to be
classified according to the classical South African divisions, where the type-area occurs. The present
nomenclature adopted for the KSG has substantially changed, especially in Tete Province. In Niassa
Province the old classification is still partially in use.
The aim of this paper is to correlate the several Karoo divisions, both sedimentary and igneous.
Key Words: Mozambique, Karoo Supergroup, nomenclature.

14. Miscelânea 1
X Congresso de Geoquímica dos Países de Língua Portuguesa
XVI Semana de Geoquímica

1. Introdução
No ano de 2003 teve início em todo o país uma extensa actividade de cartografia geológica,
que culminou com a publicação em 2006 de cartas geológicas à escala 1:250.000 e das
respectivas notícias explicativas parcelares em 2007, cobrindo todo o país. A cartografia
geológica levada a cabo teve a participação de técnicos de vários serviços geológicos
(Moçambique, África do Sul, Noruega, Finlândia, Reino Unido), de empresas e instituições
moçambicanas (Gondwana Empreendimentos e Consultorias, Lda.; Universidade Eduardo
Mondlane – UEM; Eteng, Lda.-Estudos de Transportes e Engenharias; Norconsult (Moçambique)
Lda.) e da empresa sueca Kongsberg Scanners AS. Para estas actividades, o país foi dividido
em vários blocos para concurso internacional, os quais foram ganhos e distribuídos pelos vários
intervenientes acima referidos. Foram assim produzidas cartas geológicas referentes a 101
graus quadrados, e várias notícias explicativas, das quais resultará a Notícia Explicativa da nova
Carta Geológica de Moçambique recentemente publicada (Hartzer et al., 2008).
Como resultado de ter havido vários intervenientes que produziram diferentes notícias
explicativas e diferentes mapas, surgem algumas diferenças de nomenclatura, de
posicionamento das unidades litológicas na coluna estratigráfica, entre outras questões, que no
presente artigo se pretendem clarificar.
É assim proposta uma litoestratigrafia para o Supergrupo do Karoo (SGK) em Moçambique
que melhor elucide a correlação entre as várias formações geograficamente distintas deste
supergrupo a partir dos dados obtidos na cartografia à escala 1:250.000. Esta proposta
constituiu o tema do Projecto Científico de Paulino (2009) para a obtenção do grau de
Licenciatura em Geologia pela UEM.

2. Características Gerais do Karoo na África Austral


As bacias sedimentares da África Central e Austral (Fig. 1) preservam o registo dum tempo
especial na história da Terra, quando o Supercontinente Pangea atingiu a sua máxima extensão,
durante o intervalo entre o Paleozóico Superior e o Mesozóico Inferior. As formações do SGK são
correlacionadas a partir da Bacia Principal do Karoo na África do Sul, onde se encontra a área-tipo
do SGK, para descrever o preenchimento sedimentar de todas as outras bacias de idade similar,
sobretudo na África Austral. O início da sedimentação desta primeira sequência, em ordem
deposicional, é geralmente atribuído ao Carbonífero Superior, há cerca de 300 Ma, continuando
até ao Jurássico Médio, altura do início do desmembramento do Gondwana (Duncan et al., 1997
em Catuneanu et al., 2005), quando a acumulação de sedimentos foi substituída pela implantação
da chamada vasta província ígnea do Karoo (KLIP - Karoo Large Igneous Province).
As bacias do SGK do centro e sul de África desenvolveram-se em ordem de formação e
desmembramento do Supercontinente Pangea, sob influência de dois regimes tectónicos
distintos, originados a partir das margens norte e sul do Gondwana. O regime tectónico sul
estava relacionado com o processo de subducção e orogénese ao longo da margem do
Panthalassan (Paleo-Pacífico) do Gondwana, que resultou na formação de um sistema retro-
arco foreland conhecido como Bacia Principal do Karoo, com mecanismos de subsidência
primária representada pela dinâmica de sobrecarga e flexural. Esta bacia preserva a sequência
estratigráfica desde os tempos do Carbonífero Superior ao Jurássico Médio, que inclui as
unidades litoestratigráficas do Dwyka, Ecca, Beaufort e Stormberg, e é por isso considerada a
área-tipo deste supergrupo (Fig. 2). Saliente-se o facto de na área-tipo sul-africana o Ecca
apresentar fácies marcadamente marinhas, enquanto que em Moçambique as mesmas não
foram ainda observadas. Os grandes depósitos de carvão da África Austral, incluindo
Moçambique, estão ligados fundamentalmente ao Ecca, podendo contudo ocorrer algum carvão
no Beaufort, mas sem interesse económico.
Devido às mudanças das condições tectónicas e climáticas durante o período do Karoo, o
carácter litoestratigráfico do SGK também mudou significativamente ao longo do continente
africano. Por esta razão, as bacias do Karoo sensu strictu, que mostram similaridades claras
com a Bacia Principal do Karoo da África do Sul, estão geralmente restringidas ao centro e sul
da África, visto que as sucessões preservadas da idade do Karoo ao norte do Equador são
distintamente diferentes.

14. Miscelânea 2
X Congresso de Geoquímica dos Países de Língua Portuguesa
XVI Semana de Geoquímica

Fig. 1. Distribuição das Formações do Karoo na África Central e Austral (modificado por Catuneanu et al.,
2005, a partir de Jonhson et al., 1996; Wescott e Diggens, 1998; Nyembe 1999; Wopfner, 2002).

3. Características Gerais do Karoo em Moçambique


As unidades litoestratigráficas constituintes do território moçambicano podem ser divididas
entre um soco cristalino, com idade arcaica-neoproterozóica, e uma cobertura fanerozóica. O
soco cristalino compreende um conjunto heterogéneo de paragnaisses supracrustrais
metamorfizados, granulitos e migmatitos, ortognaisses e rochas ígneas (GTK Consortium,
2006c).
As rochas supracrustais fanerozóicas compreendem sedimentos terrígenos sub-horizontais
associados a rochas vulcânicas que não foram afectadas por deformação penetrativa, mas
mostram estruturas extensivas de deformação tectónica quebradiça. A cobertura fanerozóica é
dividida em SGK e Sistema do Rifte Este Africano (SREA). Segundo Afonso (1978), os
sedimentos do SGK são caracterizados pela sua origem continental e por se depositarem em
bacias geralmente controladas por falhas.
As formações do SGK em Moçambique distribuem-se geograficamente pelas províncias
administrativas de Niassa, Cabo Delgado, Nampula, Zambézia, Tete, Manica, Sofala, Gaza e
Maputo. A distribuição pode ser vista na figura 3, em que se diferenciam as formações
sedimentares das formações ígneas do SGK.
Em Moçambique, a diferenciação em Dwyka, Ecca, Beaufort e Stormberg torna-se difícil em
virtude de as bacias serem irregulares, e a sequência geológica não ser tipicamente
representada por fósseis e por litologia característica (Afonso, 1978). Por isso, o SGK em
Moçambique foi convenientemente subdividido em dois principais grupos: o Karoo Inferior e o
Karoo Superior (Afonso, 1978; Hunting Geology and Geophysics, Limited, 1984; GTK
Consortium, 2006c).
O Grupo do Karoo Inferior é caracterizado pela ocorrência de formações de depósitos
sedimentares acumulados em bacias intracratónicas com estruturas de graben ou semi-graben
(half-graben) que são observadas no centro e norte de Moçambique. Portanto, a sedimentação
das principais bacias do SGK do centro de Moçambique iniciou-se com sedimentos glaciares (do
tipo tilito) e flúvio-glaciares no Carbonífero Superior (cerca de 318 Ma), seguidos por
sedimentos flúvio-limínicos (carbonosos e gresosos) na maioria das bacias do centro e norte de
Moçambique durante o Pérmico.

14. Miscelânea 3
X Congresso de Geoquímica dos Países de Língua Portuguesa
XVI Semana de Geoquímica

O Grupo do Karoo Superior é caracterizado pela continuação do preenchimento das bacias,


mas em ambientes essencialmente fluviais e com muitas oscilações tectónicas durante o
Triássico e Jurássico Inferior, embora a Formação de Lualádzi no centro do país seja a única
que teve a sua fase terminal de deposição em ambiente eólico.

Fig. 2. Coluna estratigráfica com as principais subdivisões litoestratigráficas do Supergrupo do Karoo


na Bacia Principal do Karoo na África do Sul (adaptado de Catuneanu et al., 2005).

14. Miscelânea 4
X Congresso de Geoquímica dos Países de Língua Portuguesa
XVI Semana de Geoquímica

Fig. 3. Mapa da distribuição do SGK em Moçambique (adaptado de Paulino, 2009).


Sedimentar: a) Graben de Maniamba; b) Bacia de Tiambila; c) Bacia de Chemba; d) Bacias a SE e E de Lichinga;
e) Bacias do Rio Lugenda; f) Bacias do Rovuma; g) Bacias do Médio Zambeze (1. Chicôa-Mecúcoè; 2. Sanângoè-
Mefidézi; 3.Moatize-Minjova); h) Bacias da bordadura do Precâmbrico; i) Bacia de Mepotepote.
Ígneo: j) Basaltos de Angoche; k) Região de Morrumbala; l) Região do Luia; m) Região Superior da Lupata; n)
Região Intermédia da Lupata; o) Flexura de Nuanéteze-Sábiè; p) Monoclinal dos Libombos.

As formações ígneas do SGK em Moçambique apresentam-se sob duas formas distintas em


termos de modos de jazida. O primeiro e o principal modo de jazida de todas as ocorrências
conhecidas do SGK é o vulcânico e o segundo, menos comum, é o intrusivo. As formações
ígneas caracterizam-se por serem bimodais. Um aspecto interessante é que em Moçambique, o
vulcanismo do Karoo é contemporâneo com as formações sedimentares do Karoo Superior, o
que o diferencia do resto da região.
Na figura 4 é apresentada a correlação entre a estratigrafia usada em Moçambique e a da
área-tipo.

14. Miscelânea 5
X Congresso de Geoquímica dos Países de Língua Portuguesa
XVI Semana de Geoquímica

Fig. 4. Proposta de Coluna Litoestratigráfica do Supergrupo do Karoo em Moçambique (adaptado de Paulino, 2009).

14. Miscelânea 6
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XVI Semana de Geoquímica

3.1. Bacias Sedimentares do Karoo em Moçambique


As bacias sedimentares onde ocorrem formações do SGK concentram-se fundamentalmente
nas Províncias administrativas de Tete e Niassa (e na fronteira desta com a de Cabo Delgado),
com umas pequenas ocorrências ao longo do contacto oriental do soco cristalino com as
formações fanerozóicas (Fig. 3). Em termos gerais, podemos considerar as seguintes áreas:
a) Graben de Maniamba
b) Bacia de Tiambila
c) Bacia de Chemba
d) Bacias a SE e E de Lichinga
e) Bacias do Rio Lugenda
f) Bacias do Rovuma
g) Bacias do Médio Zambeze
h) Bacias da bordadura do Precâmbrico
i) Bacia de Mepotepote
De referir que as Bacias do Norte (alíneas a-f) não apresentam manifestações de actividade ígnea.

3.1.1. Graben de Maniamba


O Graben de Maniamba apresenta uma estrutura de um graben completo delimitado por
falhas que separam os terrenos precâmbricos dos sedimentos do Karoo. Para além de falhas
limítrofes, existem no interior da bacia falhas paralelas ao eixo principal do graben e outras
normais ao referido eixo. Trata-se de falhas normais e subverticais, o que sugere que a
formação desta bacia se deveu a um regime de forças distensivas (Afonso, 1986).
A concordância do alongamento da bacia na direcção NE-SW com a direcção dos
alinhamentos, na mesma direcção do Cinturão de Moçambique, leva a supor que a bacia do
Karoo se instalou num rifte embrionário pré-Karoo devido ao reajustamento de estruturas
precâmbricas. Esta bacia embrionária, à medida que se foi enchendo de sedimentos, foi
progressivamente afundando-se (Afonso, 1986). Nesta bacia, as formações sedimentares
distribuem-se desde o Pérmico Inferior ao Jurássico Inferior, e na sua parte sul encontram-se
camadas de carvão

3.1.2. Bacias de Tiambila e Chemba


São bacias de extensão reduzida, situadas na margem sul do Rio Rovuma. A Bacia de
Tiambila apresenta uma estrutura de um semi-graben delimitado a SE por uma falha que segue
os alinhamentos do Cinturão de Moçambique. A NW os sedimentos do Karoo assentam em
inconformidade sobre o soco cristalino precâmbrico constituído pelos gnaisses graníticos a
granodioríticos do Complexo de Unango.
A Bacia de Chemba, devido à natureza dos seus limites nas zonas de contacto com o soco
cristalino precâmbrico, parece ter sido depositada num contacto erosional irregular duma
depressão. Toda a bacia, constituída inteiramente por sedimentos do Karoo de idade
indiferenciada, assenta sobre formações precâmbricas.

3.1.3. Bacias a SE e E de Lichinga


Estas bacias aparecem em quatro pequenas manchas ao longo do Rio Lugenda, separadas
entre si e constituídas por sedimentos do Pérmico Inferior a Médio, onde ocorrem camadas de
carvão. Como se pode ver na figura 3, estas quatro bacias estão orientadas NE-SW, ou seja,
apresentam a mesma direcção do Graben de Maniamba.

3.1.4. Bacias do Rio Lugenda


Estas duas bacias (Norte e Sul) encontram-se no limite das Províncias de Cabo Delgado e
Niassa. A bacia do norte tem uma estrutura de semi-graben com tendência N-S, desenvolvendo-se
paralelamente aos alinhamentos do Cinturão de Moçambique. Ela forma uma lente de bordadura
falhada a W e uma inconformidade dos sedimentos do Karoo sobre o soco cristalino a E.

14. Miscelânea 7
X Congresso de Geoquímica dos Países de Língua Portuguesa
XVI Semana de Geoquímica

Segundo a Norconsult (2007), a bacia do sul pertence à mesma tendência tectónica mais a
sul. Em ambas as bacias, as margens ocidentais parecem ser de bordadura falhada, ao passo que
as margens orientais são interpretadas como inconformidades sobre as rochas precâmbricas. Na
bacia do norte ocorrem formações do Pérmico Inferior a Médio, com camadas de carvão.

3.1.5. Bacias do Rovuma


As bacias do Rovuma ocorrem em duas zonas distintas, ambas ao longo da bordadura do
Precâmbrico com as rochas fanerozóicas da província administrativa de Cabo Delgado. A zona
norte contém uma série de pequenas manchas separadas entre si, constituídas por grés e
conglomerados silicificados. A zona sul aparece numa mancha orientada N-S, constituída por grés
e conglomerados.

3.1.6. Bacias do Médio Zambeze


Estas bacias cobrem uma área geográfica muito grande, com um comprimento de mais de
500 km, e por isso a sua geologia não pode ser facilmente resumida.
As formações do SGK foram depositadas em bacias tectónicas ao longo do Rio Zambeze,
sendo a sua orientação E-W desde o Zumbo (entrada do rio em Moçambique) até Cahora
Bassa, e de NW-SE a jusante de Cahora Bassa. Estas duas orientações correspondem ao
Cinturão Móvel do Zambeze, localizado entre os Cratões do Zimbabwe e do Congo. Assim, pode
falar-se nas Bacias Ocidentais e Orientais do Karoo em Tete.
As bacias são limitadas por falhas de bordadura e são paralelas às direcções principais do
Cinturão Móvel do Zimbabwe. Estas falhas, e outras que se encontram no interior das bacias,
são muitas vezes preenchidas por diques doleríticos intruídos na fase final do SGK. As bacias da
parte ocidental têm uma estrutura de semi-graben, com as falhas de bordadura a norte, ao
passo que as da zona oriental possuem mais estrutura de graben.
As falhas de bordadura e as formações ígneas (que se referem adiante) estão ligadas ao
rifte do Jurássico Inferior que originou as primeiras subsidências, permitindo a preservação das
formações do SGK nos grabens (Afonso, 1976).
As bacias do Médio Zambeze assentam sobre rochas várias do Meso- e Neoproterozóico.
As bacias ocidentais estão englobadas na Bacia de Chicôa-Mecúcoè (Fig. 3, 1.), ao passo
que as orientais podem ser divididas nas Bacias de Sanângoè-Mefidézi e Moatize-Minjova, esta
com as extensões de N’Condédzi para NW e de Mutarara para SE.
As formações sedimentares destas bacias apresentam idades que vão do Carbonífero
Superior ao Triássico Inferior (na zona de Moatize-Minjova) e ao Jurássico Inferior (nas zonas
de Chicôa-Mecúcoè e Sanângoè-Mefidézi) (Paulino, 2009).
Estas bacias são todas caracterizadas pela ocorrência de grandes depósitos de carvão.
As bacias do Médio Zambeze são ainda caracterizadas pela ocorrência de extensa actividade
ígnea.

3.1.7. Bacias da bordadura do Precâmbrico


Este conjunto de pequenos semi-grabens estende-se ao longo da bordadura do Precâmbrico
e são referidos por Afonso (1978) como a Mancha de Batonga, que se orienta N-S, com um
comprimento aproximado de 30 km e uma largura de 5 km. É constituída inteiramente por
sedimentos representando a transição do Pérmico Superior para o Triássico Inferior, ou seja, a
passagem do Karoo Inferior para o Karoo Superior.
Contudo, esta zona é fundamentalmente ocupada por rochas ígneas do SGK.

3.1.8. Bacia de Mepotepote


Esta bacia tem uma estrutura de semi-graben, com eixo orientado E-W, com 20 km de
comprimento e 300 m de largura. Está limitada a norte por terrenos precâmbricos através de
uma falha de bordadura.
O alongamento da bacia, bem como a falha setentrional, estão no alinhamento de estruturas
do Cinturão do Limpopo. Este contexto estrutural leva-nos a concluir que a referida bacia se

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tenha instalado na fossa pré-Karoo, desenvolvendo-se, mais tarde, por reajuste de falhas
devido à progressiva acumulação de sedimentos do Karoo (Afonso, 1984).

3.2. Formações Ígneas do Karoo em Moçambique


As Formações Ígneas do SGK em Moçambique fazem parte da KLIP, a qual se refere a todos
os produtos vulcânicos (intrusivos e extrusivos) que intruíram e cobriram várias partes da África
Austral durante o Jurássico, com excepção dos basaltos de Angoche (Fig. 3, j), que não
apresentam as mesmas características químicas para o ambiente tectónico de origem que as
rochas da KLIP.
As rochas vulcânicas e intrusões hipabissais relacionadas com a KLIP mesozóica estão
dispersas no norte, centro e sul de Moçambique. O Monoclinal dos Libombos (Fig. 3, p) com
600 km de comprimento, orientado no sentido N-S ao longo da fronteira entre Moçambique,
Swazilândia e África do Sul, é composto principalmente por uma associação bimodal de tufos de
fluxo de cinzas riolíticas e ignimbritos e fluxos de lavas basálticas a andesíticas, enquanto que a
faixa vulcânica Nuanéteze-Sábiè (Fig. 3,o) com 250 km de comprimento e orientada no sentido
NE-SW compreende principalmente fluxos de lavas basálticas com somente uma pequena
interacamação riolítica.
Na zona de Morrumbala (Fig. 3,k) e da Região Intermédia da Lupata (Fig. 3, n) ocorrem
grandes corpos intrusivos. Em Morrumbala os intrusivos são de carácter sienítico, enquanto que
na Região Intermédia da Lupata, o carácter é bimodal, com ocorrência de gabros e granitos
sieníticos.

4. Tabela de Correlação entre as várias Bacias do SGK


A tabela da figura 4 apresenta uma proposta de correlação entre as sequências do SGK das
várias bacias em território moçambicano. Para comparação incluem-se também as divisões
estratigráficas usadas na área-tipo da África do Sul.
As formações mais antigas do SGK em Moçambique são sedimentos glaciares (tilitos) e flúvio-
glaciares que constituem a Formação (Tilítica) do Vúzi (CbV), com idade do Carbonífero Superior.
Sobre esta assenta a Formação (Gresosa) de Moatize (PeM). A Formação (Margo-Gresosa) de
Matinde (PeT) constitui uma variação lateral de fácies da Formação de Moatize (Marques &
Ferrara, 2009) do Pérmico Inferior a Médio (equivalente ao Ecca Médio-Superior da África do Sul).
O Grupo do Ecca (referido nas cartas e Notícia Explicativa da Norconsult, 2007) apresenta
características similares às das Formações de Moatize e Matinde, com as quais se correlaciona.
A transição Pérmico-Triássico é marcada pela Formação (Gresosa) de Cádzi (PeC),
equivalente ao Grupo do Beaufort (Marques & Ferrara, 2009) e correlaciona-se com a Formação
de Siltitos do Monte Lilonga e Grés de Fúbuè (PeFb), no Niassa.
As Formações de Mecondece, Tende e do Rio Moola correlacionam-se com a Formação do
Zumbo (TrUz), separada da Formação de Cádzi por um hiato [.] (Triássico Médio a Superior).
A Formação de Lupilichi (JrLp) e, provavelmente, as Formações do Rio Mecole (JrRM),
N’Gapa (JrP) e sedimentos da Bacia de Tiambila (CbK), correlacionam-se com a fase terminal da
Formação de Zumbo e a Formação (Eólica) de Lualádzi (JrZ).
As rochas vulcânicas do SGK da região centro do país são relativamente mais antigas em relação às
do Monoclinal dos Libombos e aos Basaltos de Angoche. Geocronologicamente, a formação mais antiga
do SGK ígneo em Moçambique é a Suite de Rukore (JrR e JrMz), cuja idade varia entre 180 e 190 Ma
(GTK Consortium, 2006b), seguida dos basaltos da Formação de Sábiè (JrSba), cuja idade varia entre
181.2±1.0 e 184.2±1.0 Ma (Duncan et al., 1997, em Manninen et al., 2008).
Segue-se a Formação de Letaba-Pafúri (JrLb) com 182.7±0.8 Ma (GTK Consortium, 2006a) e a
Suite da Gorongosa (JrG), com quase a mesma idade de 181±2 Ma (GTK Consortium, 2006b). Os
riolitos da Formação de Umbelúzi (JrU) possuem uma idade de 182.1±2.9 Ma; entretanto, os seus
membros apresentam idades que variam entre 179±3 Ma (JrUb) e 176.7±5.6 Ma (JrUf) (GTK
Consortium, 2006a). Os basaltos da Formação de Chueza (JrC) datam de 180 Ma. Para além dos
basaltos da Formação de Angoche (JrAg), com uma idade de 177±3 Ma (CGS, 2007), as
restantes formações ígneas do SGK não possuem datações exactas. Assim sendo, é feita uma
analogia por vários autores de modo a se definir uma idade correlativa para essas formações.

14. Miscelânea 9
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XVI Semana de Geoquímica

5. Conclusões
As formações sedimentares do norte e centro do país apresentam um quadro de correlação
que permite fazer uma analogia, não só em termos de idade, mas também em termos de
nomenclatura das mesmas, principalmente nas formações do Grupo do Karoo Inferior e a sua
transição para o Karoo Superior. Esta analogia fica mais complicada de se efectuar ao se
abordar o Grupo do Karoo Superior, onde a correlação entre as formações das diferentes bacias
não é muito fácil no que refere às características litológicas, associadas à ausência de fósseis
característicos nas mesmas.
As formações ígneas mais antigas implantaram-se concomitantemente com a fase terminal
da deposição dos sedimentos na Bacia do Zambeze.
As formações ígneas que constituem a KLIP nas regiões centro e sul de Moçambique são
diferentes em termos de composição química e ambiente de formação das rochas em relação às da
linha da costa norte do país, sendo que as rochas da KLIP se formaram num ambiente tectónico
extensional e as rochas da linha da costa do norte do país num ambiente tectónico de colisão.

Referências
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escala 1:2.000.000. Direcção Nacional de Geologia e Minas e Defesa do Subsolo, Imprensa Nacional de
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Afonso, R.S., 1984. Ambiente Geológico dos Carvões Gonduânicos de Moçambique - Uma Síntese.
Comum. Serv. Geol. Portugal, t 70, fasc. 2, pp. 205-214.
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Espungabera/Chibabava, Nova Mambone, Massangena, Chidoco, Save/Bazaruto, Chicualacuala,
Machaíla, Chigubo, Mabote/Vilanculos, Rio Singuédzi/Massingir, Rio Changana, Funhalouro/Inhambane,
Chilembene, Chókwè, Zavala/Inharrime, Maputo, Xai-Xai/Zavala e Bela-Vista, Moçambique. Direcção
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Lupilichi, 1136 Milepa, 1137 Macalange, 1138, Negomano, 1139 Mueda, 1140 Mocímboa da Praia,
1234 Metangula, 1235 Macaloge-Chiconono, 1236 Mavago, 1237 Mecula, 1238 Xixano, 1239 Meluco,
1240 Quissanga-Pemba, 1334 Meponda, 1335 Lichinga, 1336 Majune, 1337 Marrupa, 1338 Namuno,
1339 Montepuez, 1340 Mecúfi, 1435 Mandimba, 1436 Cuamba, 1437 Malema, 1438 Ribáuè-Mecubúri,
1535 Insaca, 1536 Gúruè, 1635 Milange e 1636 Lugela-Mocuba, Moçambique. Direcção Nacional de
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14. Miscelânea 10

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