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discurso (27), 1996: 37-60 A Epokhé Cética e seus Pressupostos* Roberto Bolzani Filho** Resumo: O presente texto procura mostrar que 0 discurso eético, mais especificamente o dis- curso cético pirrénico, se lido a partir de seu “tempo I6gico”, revela a presenga de dificuldades semelhantes as que se podem encontrar nas filosofias dogmaticas. Para isso, analisam-se algu- mas passagens de Sexto Empirico e de Oswaldo Porchat, bem como a nogio de suspensio de juizo (epokhé). Palavras-chave: tempo légico — discurso de instauragdo filoséfica ~ suspensio de jufzo — racionalidade — ceticismo O que segue é uma tentativa de vislumbrar e clarificar algum espa- ¢o para uma postura critica perante 0 ceticismo. Antes de qualquer coisa, faz-se necessdrio esclarecer em que sentido tal idéia de critica € pensada aqui. Parece haver ao menos duas vias de critica ao ceticismo que podem ser consideradas estratégias de refutagGo do mesmo. Por uma delas, a mais tradicional, trata-se de aceitar 0 desafio proposto pelos argumentos céticos, instaurando um discurso filoséfico definitivo sobre o mundo, dis- curso que se pretende verdadeiro e, enquanto tal, a eles imune. E 0 caso, * Este texto foi escrito para ser lido (‘Coléquio Oswaldo Porchat’, UNESP-Marilia, 1991), nio possuindo, por esse motivo, acabamento satisfat6rio tanto do ponto de vista da docu- mentago, como do estilo e da estrutura, A isso se deve também seu cardter excessivamen- te sintético. ** Professor do Departamento de Filosofia da USP. 38 Bolzani, R., discurso (27), 1996: 37-60 por exemplo, da filosofia cartesiana, que concebe a verdade primeira do Cogito como imune aos argumentos céticos (cf. Descartes 6, quarta parte, p. 46; e Sétimas objegdes, citadas por Popkin 10, p. 259); e também da filosofia berkeleyana, que com todas as letras afirma seu imaterialismo como a chave para a derrubada desses argumentos (cf. Berkeley 2, § 96 e 133). N&o pouca filosofia moderna se fez, diretamente ou niio, em confor- midade com essa idéia. As dificuldades desse empreendimento sao not6rias: 0 cético pare- ce sempre poder encontrar, quer elaborando argumentos até entio desco- nhecidos, quer recorrendo ao inesgotavel estoque dialético proporcionado pela propria historia da filosofia, meios para evidenciar os insoliiveis pro- blemas que os discursos que se dizem verdadeiros devem reconhecer. A discordancia dos varios sistemas filos6ficos, insoltivel na auséncia de cri- térios incontestes de julgamento, constitui em si mesma um argumento que © ceticismo manipula com intensa freqiiéncia. Tentar, pois, esse tipo de refutagdo, admitindo jogar 0 jogo do cético — aceitando seu desafio -, concebendo a filosofia prépria como resposta definitiva a ele, 6 como enfrentar toda ou ao menos boa parte da hist6ria da filosofia — aquela que diverge da filosofia entdo proposta. Outra forma de refutagao do ceticismo est4 em considerd-lo do inte- rior de uma instancia “pré-filoséfica” de “homem comum” — por exem- plo, o Oswaldo Porchat de “Prefacio a uma filosofia” (Porchat 12, p. 41-58), “A filosofia e a visio comum do mundo” (idem 13, p. 101-37), “Saber comum € ceticismo” (idem 14), “Ceticismo e mundo exterior” (idem 15, p. 33-68). Aqui, certas crengas — nossas “crengas familiares” — so avali- adas de tal modo que nao haverd por que estender a elas uma dtivida me- todica; recusa-se consideré-las como de mesma natureza que certezas estabelecidas no interior do terreno ja filoséfico das teorias cientfficas. Recusa-se ver nessas crencas basicas algo que possa ser reduzido a uma tese filos6fica ou cientifica. Esse modo de pensar nao vé na diivida radi- cal, no abandono das crengas primeiras mais fortes para que se “parta da estaca zero”, 0 inicio adequado; pretende-se vefculo de um novo sentido de filosofar, pelo qual nao se concede As estratégias céticas que 0 jogo dialético seja jogado segundo suas regras. Nao que os argumentos céticos Bolzani, R., discurso (27), 1996: 37-60 39 nao sejam considerados em sua forga e eficdcia: trata-se, isso sim, de nao permitir que uma suspenso de juizo sobre todas as coisas arraste, em seu simples movimento, aquele grupo seleto de crengas, sem que tais argu- mentos sejam examinados um a um e avaliados em seu poder persuasivo. E € nessa instancia “pré-filoséfica” que tal exame permitiré uma resistén- cia e uma refutacio, pois aqueles argumentos revelarao assuncées filos6- ficas prévias, aberrantes perante uma “Visio Comum do Mundo”, a orientd-los. Porchat denuncia o dualismo mente-corpo e o privilégio da mente, de modo mais genético em “Saber comum e ceticismo” e mais detidamente em “Ceticismo e mundo exterior”, como tais assungGes, en- tre outras possiveis. O problema dessa postura € que pode apenas recortar um reduzido e seleto nticleo de crencas como imune ao ceticismo. Do ponto de vista da filosofia, contudo, ela concede ao ceticismo seu incontestavel reino. Paga- se o preco do reftigio na “pré-filosofia”, pois, quando se trata de “verda- de”, “conhecimento”, “ciéncia”, teremos ainda que ser, nalguma medida, céticos. Abandona-se a filosofia tradicional para assumir um novo dogmatismo, limitado em seu alcance, mas que s6 se sustenta por se reco- nhecer desprovido de pretensées filos6ficas, no sentido em que 0 ceticis- mo e o dogmatismo tradicional pensam o “filos6fico”. O maximo que se pode fazer é propor um novo sentido para termos como “filosofia”, “ver- dade” e “conhecimento” que nada mais farao, afinal, que expressar aque- la nova forma de dogmatismo. Nao é de espantar, entao, que Porchat mude sua postura em “Sobre o que aparece” (Porchat 16, p. 86-9). Independentemente de seus resultados, por que essas duas vias de refutacio se fazem passiveis de critica? De inicio, observemos que, em ambos os casos, ainda que de formas distintas, a refutagao do ceticismo incide sobre os argumentos que o cético propde. E que, em ambos os casos, a refutacao do ceticismo tinha em seu horizonte a salvagao do dis- curso verdadeiro ou da crenga irrefutavel e inquestiondvel, de modo que se tratava sempre de uma refutagdo, por assim dizer, “defensiva” — era em nome e em favor de algo que se operava. Para isso, concedia-se ao cético que propusesse seus argumentos, para entio afastd-los. E, ao fazé-lo, nao se perguntava: por que ele os propde?

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