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PROLOGO

Nunca pensei que estaria em uma situação como essa. Escondido nas sombras de
um beco fétido e imundo, pronto para atacar qualquer coisa que vier em minha direção.
Isso se desconsiderar meu braço quebrado e as diversas feridas no meu corpo, que mal
me deixam pensar direito.

Ah, mas que falta de educação da minha parte. Me chamo Lithio, Lithio
Lentenive. Há cerca de duas horas eu tinha uma vida normal, trabalhava normalmente
em uma fábrica de comida enlatada, se é que dá pra chamar isso que eles produzem de
comida. Vivia em um apartamento meia boca na província leste da cidade, era pequeno,
mas tinha seus luxos. Meus avôs vieram para Zantum com a 402° imigração, depois que
a Terra havia chegado às suas ruínas.

Por volta dos anos de dois mil e vinte, começara a exploração de outros planetas
adequados para a habitação humana. Por sorte, os cientistas encontraram um pequeno
planeta com condições similares à Terra, em um canto remoto da galáxia. Alguns anos
depois da descoberta, foi realizada a primeira imigração, e conforme mais e mais
pessoas iam para Zantum, pior ficava a condição na Terra. A viagem era muito cara e
consumia uma quantidade absurda de recursos. Foi levado o máximo de pessoas
possível, mas estima-se que mais de 70% da população mundial foi abandonada em um
planeta morto.

Por mais que houvessem similaridades o planeta tinha muitas diferenças do


mundo antigo, principalmente em questão de recursos naturais e sua extensão territorial
que era muito menor. Além de tudo, muitos problemas não ficaram na Terra.
Rapidamente, a personalidade putrefata do ser humano corrompeu a pureza de Zantum.
Periferias e doenças surgiam aos montes, juntamente de uma crise severa, que levou as
cidades a reduzirem cada vez mais seu tamanho, até o ponto de se ter vastas florestas
entre cada centro urbano. Muitas cidades que haviam sido criadas nas primeiras
imigrações sucumbiram perante a força do meio ambiente, e de epidemias que
devastavam populações inteiras.

Para tentar contornar esses problemas, os grandes governantes das cidades, que
já assumiam o papel de países, entraram em um acordo que ficou conhecido como
“redenção” que basicamente consistia na unificação geral dos povos. Fazendo todo o
mundo uma única nação, assim todos os esforços e avanços seriam em beneficio da
população mundial como um todo, além de todos falarem o mesmo idioma, adotarem a
mesma moeda entre outras medidas. E claro, uma declaração de paz permanente que
inclusive reduziu todas as forças militares apenas para segurança interna. Pura balela.

E então finalmente a prosperidade reinou em Zantum mas, será mesmo?

De fato a “redenção” salvou milhões de vidas e redirecionou muitos recursos


para áreas como saúde e pesquisa, porém ainda havia uma grande complicação.

Energia.
O planeta não tinha grandes quantidades de água, ou minérios como o carvão
para produção de energia, e com os recursos sendo cada vez mais usados para manter o
povo vivo, essa crise elétrica ia só se agravando.

Entretanto, algo que parecia ser apenas mais uma doença, se mostrou a salvação
para Zantum.

Um vírus, que afetava apenas um grupo específico de pessoas - Possuía uma


relação com a ausência de um gene. Nunca fui bom o bastante em biologia para
conseguir explicar isso – E que a princípio não tinha nenhum sintoma evidente ou que
prejudicasse o portador de forma significativa chamou a atenção dos cientista do mundo
inteiro. No processo de tentar encontrar uma cura, foi descoberto que o vírus, ao entrar
no organismo do indivíduo, modificava a estrutura dos glóbulos vermelhos, permitindo
a conversão do sangue em energia propriamente dita através de um processo de
eletroquímico.

As pessoas portadoras de tal doença, foram convocadas a ir voluntariamente


doar seu sangue para os experimentos, afinal tal fenômeno era de total desconhecimento
dos cientistas. A crise energética parecia ter encontrado uma solução.

Porém, não era o bastante. O vírus era muito complexo para ser recriado em
laboratório, e só infectava seres humanos. O entendimento sobre o funcionamento do
agente no organismo era ínfimo e a progressão dos experimentos se tornou algo
perigoso para os infectados. Tempos desesperadores necessitam de medidas
desesperadas. Foi anunciada a caça aos portadores do vírus, que carinhosamente foram
apelidados de baterias. Armas foram desenvolvidas especialmente para imobilizar e até
mesmo matar sem derramar uma gota de sangue, exércitos criados para encontrar,
capturar e levar as baterias para serem estudadas e transformadas em energia.

As baterias não tinham outra opção a não ser isolar-se das cidades e viver longe
da civilização, nas florestas e desertos.

Bem, agora faltou explicar porque eu estou aqui, parecendo um mendigo que
levou uma surra. Mas isso é muito simples de resolver.

Eu sou uma bateria.

CAPITULO 1

Mas acho que tenho coisas para explicar ainda, essa é a hora que vocês
imaginam aquele efeito de flashback.

Como qualquer dia normal, acordei com o som do trem que passa em cima da
minha casa, acho que é por isso que o aluguel é tão barato. Esse trem liga todos os
setores da cidade e passa apenas umas duas ou três vezes por dia. Por mim poderiam era
sucatear de vez essa cobra de metal barulhenta.
Fui até a geladeira, percebi que só havia um resto de pizza embolorado, que eu
guardo pra momentos de desespero total, e uma garrafa de algum liquido misterioso
quase vazia. Não sei por que ainda checo, peguei minha xícara favorita, é uma com um
ursinho. Não me julgue. Esquentei um resto de café que ainda estava na chaleira e o
bebi enquanto me vestia para o trabalho.

-Bom dia harry!

-Bom dia dona berny...

Dona berny é minha vizinha, e também sindica do prédio, ela tem uma memória
meio ruim para nomes, mas nunca vi ela esquecer de cobrar o aluguel.

A fábrica não ficava muito longe, questão de alguns minutos caminhando

Esse trajeto já era tão familiar para mim, meio que automático, passava pela
floricultura, depois pelo mercado do velho joe, pelos correios – O cheiro de merda de
pombo era insuportável nesse ponto - e finalmente pelo bar do mint. Lar da melhor
cerveja da região, não contem pra ninguém mas o ingrediente secreto é alho e creme de
barbear, nojento, mas impressionantemente gostoso

Chegando na fábrica já conseguia sentir o maravilhoso aroma de fígado com


mijo de rato, apetitoso.

-Mike, você leu o jornal essa manhã?

- Lithio, volta pra sua esteira, se o chefe te ver aqui ele te manda pra rua.

-Para de neura, cara, o que há demais em um papinho com meu colega de


trabalho?

-Sai daqui...

-Meu deus que cara estressado, coitada da sua mulher...

Esse mala aí é o Mike, ele trabalha comigo desde que eu entrei na fábrica. Ele
não é dos mais bem humorados, deve ser a idade. Para falar a verdade nunca perguntei
isso para ele, mas a julgar pelo grande foco de calvice no topo da sua cabeça deve ter
seus 40 e poucos. Ainda sim, já troquei boas risadas com ele.

- Volte para o trabalho, Lithio!

E esse, senhoras e senhores, é meu chefe. Ele é tão relevante pra essa historia
que nem vale à pena citar o nome dele, mas vamos chamá-lo de Sr.Balofo por enquanto.
Acho que isso já é descrição suficiente para ele.

Já trabalho aqui a um bom tempo, os dias são tão parecidos que nem lembro
mais a data exata em que comecei. O salário não é lá essas coisas, mas é melhor que
trabalhar de coletor na zona externa.
-E não se esqueçam hoje tem inspeção.

Isso que o Sr.Balofo disse é uma exame para ver se você está doente,ou seja,se é
uma bateria. Os soldados responsáveis por essa tarefa usam um capacete estranho que
parece um balde com antenas de inseto, que sinceramente só serve para fazer eles
ficarem ridículos. Porém, eu não mexeria com eles se fosse você. Eles são treinados
desde pequenos para servir ao governo, ou como eles se auto intitulam, A Organização.
Suas mentes e seus corpos são levados ao extremo para conseguirem cumprir a tarefa
com precisão e consistência.

Contudo o trabalho deles é bancar a enfermeira e sair por ai coletando o sangue


das pessoas para localizar as baterias na região. Acho que é pertinente comentar que 100
% da população está infectada pelo vírus, porém ele não se comporta da mesma forma
em todos os indivíduos. Mesmo alguém que cumpre os requisitos para ser uma bateria
pode passar sua vida toda com o vírus “adormecido”.

Por isso é feito essa conferência periódica, para se certificar caso uma nova
bateria tenha surgido. Toda informação sobre os indivíduos é atualizada no sistema
deles, nome, endereço, trabalho, tudo. Além do mais os boatos dizem que eles nunca
esquecem um rosto.

O dia foi passando vagarosamente, a monotonia era gritante.

-Ei, Mike, acha que o chefe se importa se eu sair mais cedo hoje?

- Você não pode faltar na inspeção, é contra a lei lembra?

- Eu sei, eu sei...

- Mas por que quer sair mais cedo?

-Eu tenho um encontro...

-Lithio, você não sai com ninguém desde aquela festa em que vo...

-Ta, ta, não precisa me lembrar daquilo

Acreditem em mim, vocês não vão querer ouvir isso

-Você venceu, quero sair mais cedo pra ficar de bobeira em casa

-A e você realmente espera que o chefe libere? Você só pode ter ficado maluco!

-Eu invento alguma coisa, posso ir fazer a inspeção no posto médico do bloco
central, digo que já teria que fazer alguns exames de qualquer forma.

-Não sei não Lithio, acho que não vai colar...

-Me ajuda ai cara, pensa em alguma coisa, não aguento mais ficar aqui!
-Mas você acabou de voltar do horário de almoço!

-Eu fico entediado fácil- eu disse coçando a cabeça e sorrindo

E no meio das idéias de como eu poderia fugir do trabalho, a fábrica é tomada


pelo som de batidas no portão:

-Abram as portas, viemos para a inspeção.

-Eles chegaram- Disse Mike

Os soldados entraram bem lentamente, não dava para ver seus rostos por causa
do capacete, mas parecia que constantemente procuravam por algo, como se estivessem
sob uma iminente ameaça

-Onde está o responsável daqui?

Foi só ele terminar de falar para o Sr. Balofo descer as escadas de seu escritório
correndo. Se falar, o diabo realmente aparece.

-Sejam bem vindos! Fiquem a vontade- disse meu chefe com uma risada nervosa

-Viemos para a inspeção e não para o chá da tarde.

Aparentemente não ensinam bons modos no exército, quem precisa de


diplomacia quando se tem um rifle, não é mesmo?

-Sério três soldados para tirar sangue? Pensei que a Organização era um pouco
mais eficiente- cochichei para Mike.

-Lithio, esses caras tão armados, segure essa língua antes que eles cortem ela
fora por ti.

-Que medo, estou me mijando aqui.

Não havia muitos funcionários na fábrica, o processo não durou muito mais que
dez minutos.

-Próximo!

A que novidade me deixaram por último, sabe acho que isso é uma conspiração
contra minha pessoa

-Estenda o braço e não faça movimentos bruscos.

-Você que manda parceiro.

Eu nunca fui muito fã de agulhas pra falar a verdade, ainda mais quando
manuseadas por um cosplay mal feito de robocop. Ver o rubro de meu sangue encher o
frasco era uma sensação estranhamente incomodativa, meu corpo se arrepiou por um
segundo.
Passaram uns 10 segundos até o aparelho terminar a análise. Em seguida um
apito no dispositivo de coleta começou um barulho infernal, meu sangue gelou, eu não
acreditava no que meus olhos estavam vendo.

-Bateria!!

-Mantenham ele vivo, ordem da doutora!

Meu único pensamento foi correr assim que percebi os guardas sacando suas
armas. Minhas pernas se moveram sozinhas, em uma pura ânsia pela sobrevivência

Meus pés deslizavam pelo chão empoeirado da fábrica, não me atrevi a olhar
para trás, o barulho de projeteis passando ao lado de minha cabeça já eram motivação o
suficiente para eu continuar correndo.

Sai pelo grande portão e virei a primeira esquina em que bati meus olhos. Segui
na rua por um tempo, as pessoas que viam a cena ficavam simplesmente paradas, como
se fosse apenas o rumo natural das coisas, como se aquilo simplesmente fosse meu
destino. Os olhos quase inexpressivos, faziam meus passos ficarem mais pesados e um
sentimento de solidão me dominou por um instante, mas não havia tempo para eu ficar
melancólico, primeiro eu tinha que sobreviver.

Comecei a sentir o cansaço tomando conta do meu corpo e entrei em um prédio


abandonado que estava para ser destruído, ele não ficava muito longe da fábrica, cerca
de umas oito quadras, mas essas oito quadras pareciam centenas de quilômetros, a
fadiga tinha consumido completamente meu corpo.

O prédio estava decrépito, como o governo tinha a cara de pau de deixar um


lugar assim em pé? As paredes descascavam como a pele de um leproso, e a cada
passada que eu dava as madeiras do chão rangiam mais e mais alto.

Exausto e sem mais para onde correr. Até agora não sei por que tive a brilhante
ideia de subir para o segundo andar, acho que tinha esperança do teto desabar na cabeça
dos meus perseguidores.

Os guardas estavam subindo as escadas, cada vez mais próximos, eu tinha que
pensar em algo.

A janela.

Eu dei alguns passos pra trás para tomar impulso, comecei a correr e pulei, o
vidro se estilhaçou e os cacos deixaram cortes em toda minha pele. Para completar a
desgraça eu aterrissei em uma enorme lata de lixo, parecia mais fácil e menos doloroso
nos filmes.

Como se não bastasse, quando tentei me levantar notei uma dor aguda do lado
esquerdo do corpo. Meu braço estava virado ao contrario fazendo meu cotovelo ser
projetado para frente. Eu mordo meu lábio para aguentar a dor e não gritar com todas as
minhas forças e alertar os guardas mas é inútil, minha fuga foi apenas temporária, eu só
ganhei alguns minutos a mais, talvez não tenha sido uma escolha muito inteligente.

-Ele está La em baixo!!!

Bem, e agora estamos no mesmo lugar onde começamos, foi bom pra você?

CAPITULO 2

-Naquele beco.

Parece que os convidados chegaram, foi legal trocar uma ideia antes de morrer,
por mais que eu tenha falado bem mais, isso acontece com vocês também? A deixa pra
lá. Enfim foi um prazer.

-Ali está ele!!

-Esse inútil conseguiu se quebrar todo, já que ele já está sangrando mesmo não
vejo porque não ensiná-lo que não se deve fugir da policia

-Vocês não podem me matar rápido? Meu braço já está incomodado.

-É mesmo? E se eu fizer assim? - ele disse enquanto pisava em meu braço

Eu dei um urro de dor que ecoou por toda aquela viela

-Mais alguma piadinha? Acho que não. Eu até que gostaria de acabar com essa
sua existência deplorável, mas tenho ordens para te levar vivo até o laboratório.

Meus olhos se fecharam por alguns segundos preparados para não abrirem mais,
mas um som de metal preencheu o local, ouvi alguns gritos e tiros

Eu abri meus olhos espantado e vi uma mão estendida em minha direção

-Olá, meu nome é Cuprie.

Uma figura peculiar, cabelo alaranjado, bem magro, usava um manto bege com
um capuz, em seus pulsos haviam faixas que cobriam todo seu braço e no seu rosto
havia estampado um sorriso bem grande.

Me inclinei para o lado e vi um dos guardas nocauteado, atirado contra a parede,


logo ao lado o outro e por fim o outro. Esse cara fez isso? Não é possível, esses caras
são soldados altamente treinados em combate corpo a corpo, não tem como um mero
cidadão dar conta de três.

-Ei, estou falando com você! Qual o seu nome?

-Oi? Comigo?

-Com aqueles caras ali que não vou estar falando.


-Quem é você?

-Caralho como faz perguntas... responda as minhas primeiro e penso em


responder a sua.

Mas que cara ousado, só por que me salvou ta se achando o rei da cocada preta.

-Meu nome é Lithio

-Você é uma bateria, certo?

Automaticamente recuei, baterias também são caçadas por pessoas comuns,


sendo que quem conseguir capturar uma recebe uma boa grana de recompensa.

- Calma garoto, não tenha medo, eu também sou uma bateria.

-Como você derrubou esses caras?

-Com isso.

Ele levantou um cano q estava logo ao seu lado.

-Esse capacete deles não é tão eficiente quanto parece.

Um tanto suspeito, eu pensei, mas de qualquer forma não estou em uma situação
muito propicia a bancar o cético.

-Temos um longo caminho pela frente, mas nesse estado você não aguentará a
viagem, vou te levar até um conhecido meu.

- Calma ai o cabeça de ferrugem, você me deve algumas explicações ainda.

-Arg... Por isso que odeio encontrar novatos, sempre o mesmo papo. Estamos no
mesmo barco agora, se você não quer minha ajuda posso te deixar para morrer ai
mesmo.

-Ok, eu vou com você mas só se me prometer que irá explicar o que diabos está
acontecendo aqui.

-Justo.

Ele me levantou e apoiou meu braço sobre seus ombros.

-Você é pesadinho.

-Não é minha culpa que você é fraco.

-Olha a boca, novato!

-Aliás, como você me achou?

-Ouvi o barulho e resolvi ver o que era.


-Só? Você botou sua vida em risco por curiosidade? Por que eu só acho gente
com um parafuso a menos?

-Curiosidade não, prazer pelo saber.

-Uhum, sei.

- E você como se meteu naquela situação?

-Longa historia...

CAPITULO 3

Andamos durante um tempo e conforme íamos avançando me deparava com


lugares que nem sabia que existiam naquela cidade. A aparência das casas ficava pior a
cada passo, e das pessoas também.

Eu conseguia ver por cima do meu ombro as pessoas olhando para mim e então
sussurrando entre si, não faço idéia do que falavam mas pelo olhar em seus rostos não
parecia ser algo muito amigável.

- Estamos quase chegando.

-Afinal, o que viemos fazer aqui?

-Viemos para tratar esses ferimentos, atualmente você não passa de um peso
morto.

-... Tenho que concordar.

Nesse ponto meu corpo estava em seu limite, eu mal me aguentava em pé, e a
dor no meu braço crescia a cada segundo que passava.

-Chegamos.

Olhei para cima e vi uma casa de madeira caindo aos pedaços, parecia tão frágil
que nem os cupins tinham mais interesse nela

-Aqui? Isso não tem cara de hospital.

-Porque não é não podíamos ir a um hospital convencional, eles descobririam


que você é uma bateria. Não se preocupe esse doutor é um velho amigo.

Entramos no local e logo fomos recepcionados pelo dono:

-Cuprie, quanto tempo!

-Pois é, não tenho saído muito para coletas.- disse Cuprie com um sorriso

-Mas o que o trás aqui? Aquela sua amiga já passou para pegar os remédios.
-Preciso que você trate desse cara.

-E ai doutor, beleza?

Esse "doutor" tem umas coisas bem legais na casa dele, tipo uns vidros com
coisinhas flutuando dentro, o que será que é? Será que está vivo?

-Por favor, me chame de Victor.Você parece estar bem mal, venha, deite-se na
cama.

Ele usava um jaleco branco comprido, ia até pés, cabelos negros e uma aparência
um tanto pálida. Sua postura era quase que corcunda, mãos nos bolsos e um cigarro na
boca, a fumaça mal deixava eu enxergar os seus olhos e os óculos dificultavam mais
ainda.

-Me diga se dói quando eu toco

-DOI, DOI MUITO!!!

-Seja homem rapaz!

Esse cara ta tentando me matar, doutor é uma ova, ta mais pra carrasco

-Espero que não estejam com pressa por que isso vai demorar.

Fala sério, eu vou ter que dormir aqui?! Esse dia ta indo de mal a pior, pelo
menos a cama é confortável

-Não fazia parte dos meus planos, mas realmente não é muito seguro ir até a
base durante a noite, partiremos ao amanhecer, não quero incomodar ainda mais o
senhor. - disse Cuprie

- Relaxe Cuprie, é uma honra ter hospedes, as vezes sinto falta de companhia
nessa casa.- disse o doutor calmamente

- Sei co...

- Mas se você me chamar de senhor novamente, será o próximo a deitar nessa


cama!

Isso eu gostaria de ver.

A noite foi longa, o medico voltava de tempos em tempos pra checar meus
ferimentos, de certa forma sua presença era reconfortante fazia-me esquecer da dor.

- Até que você leva jeito pra coisa. - eu disse enquanto Victor passava algum
tipo de pomada em meus cortes

-Anos de pratica meu filho, anos de pratica.

-E o que faz um médico tão talentoso a estar em um lugar tão medíocre?


- O destino é algo engraçado, as vezes a seu favor, as vezes não.

-Te entendo, acho que ele não está muito a meu favor ultimamente...

-Momentos melhores virão, assim como seus ferimentos, tragédias cicatrizam e


te fazem mais forte, não desista por causa delas.

Isso já ta ficando muito poético pro meu gosto.

-Teu braço já está melhor, mas evitaria fazer força com ele, os cortes ainda vão
incomodar um pouco, mas com uma boa noite de sono já não serão um problema.

Ele ia saindo do quarto onde eu estava quando o parei:

-Doutor, quero dizer, Victor, o que eu sou?

-Como assim?

-Eu já não sou mais o mesmo, sou uma bateria agora.

-Infelizmente essa é uma pergunta que só você pode achar a resposta, agora
descanse.

Ele saiu e comecei a ouvir o vento assoviando ao passar pela janela, minha
mente borbulhava, o que será de mim agora? Para onde estou indo? O que é tudo isso?
E no meio de tantas duvidas o cansaço finalmente me venceu.

Os primeiro raios de luz passaram pela janela juntamente com os estalos de


madeira ao fogo e o cheiro algo delicioso

-Já acordou bela adormecida? – disse Cuprie com um sorriso sarcástico.

-Estava esperando meu príncipe encantado, mas vai tu mesmo.

-Venham logo que a comida vai esfriar!- gritou o doutor

Pulei da cama o mais rápido que pude me sentia ótimo, meu braço quase não
doía, estava novo em folha.

-Aliás já aviso que...

Antes que Cuprie pudesse terminar de falar já corri para a mesa, olhei para um
apetitoso omelete, meu estomago roncava como um trator.

-Lithio espera, eu ia dizer...

Dei a maior garfada que consegui e comecei a mastigar. Assim que o omelete
entrou em minha boca, fui de uma alegria extrema para uma depressão profunda,
parecia que estava comendo um pedaço de couro temperado com lixo e morte.

- Eu tentei avisar...
- Doutor, fique com a parte da medicina!

-Assim eu fico magoado...

Depois de lavar minha língua muitas vezes para passar o gosto, ainda
conseguimos fazer uma breve refeição antes de partimos

-Obrigado por tudo Victor!

-Não há de que Cuprie, mande saudações ao Nick.

CAPITULO 4

Saímos da casa do doutor perto das oito da manhã, não demorou muito até
chegarmos a fronteira da cidade, dali pra frente a única coisa que meus olhos
conseguiam ver era uma densa floresta. O dia estava bonito os dois sois brilhavam por
entre as folhas das árvores, porém, o ar que circulava era suave e fresco. Havia uma
trilha no meio da floresta, quase uma estrada pra falar a verdade, era um caminho um
pouco estreito e com muitas curvas.

Já estávamos a algum tempo caminhando, impressionantemente estávamos


quietos ninguém falava uma palavra, o som dos animais e as folhas se mexendo com o
vento dominava o ambiente.

-Pare- disse Cuprie estendendo seu braço- algo está se aproximando.

Eu nunca havia saído da cidade antes, não era muito da natureza, sabem como é
né? Garoto de apartamento.

Cuprie levou a mão até sua cintura e de baixo de seu manto puxou uma faca,
flexionou seus joelhos e olhou fixamente para uma moita alguns metros a frente.

-Está vindo!

Ao terminar de falar um animal pulou de dentro da moita, um dilupu.

E não, não é um Pokémon, bem que podia ser, mas não, era parecido com um
lobo, porém bem maior e com quatro pares de olhos, por que todo mundo sabe que
qualquer alienígena que se preze tem que ter mais de dois olhos. Nunca havia visto um
pessoalmente, só no remake do crepúsculo, e antes que pergunte, continua ruim.

-Você não pretende lutar com isso né?

-Fique quieto!

O animal olhava fixamente para Cuprie, rosnados e latidos pareciam não abalar a
sua determinação. Até que a fera fez a investida, pulou pra cima de Cuprie com a boca
aberta, a fileira de dentes era algo assustador.
Cuprie se abaixou e com um movimento rápido passou por baixo da fera e
esticou seu braço, assim perfurando a barriga do dilupu, o animal gritou em agonia e
acabou aterrissando de lado.

Isso tudo aconteceu em uma fração de segundo, não pensava ser humanamente
possível reagir tão rápido, e ainda proferir um golpe com tanta força a ponto de virar
uma criatura com o peso de um urso, a besta se levantou e avançou novamente na
direção de Cuprie , que desviou para o lado e em um giro atingiu um dos olhos do
dilupu, o que o irritou ainda mais.

-Vai Cuprie!!

-Tsc...

Dessa vez foi Cuprie quem avançou, e fera ficou de pé para atacá-lo com suas
garras,porem Cuprie pulou e cravou sua faca no fucinho da criatura antes que ela
pudesse atacar.

O animal se sacudiu e jogou Cuprie para longe que bateu em uma árvore, vendo
que ele estava caído o dilupu correu para cima pra finalizar sua preza. Então Cuprie
enfiou sua faca na garganta do dilupu, o manto de Cuprie ficou coberto em sangue e o
corpo do dilupu caiu ao chão e o baque da queda se misturou com o canto dos pássaros.

-Prontinho- Disse Cuprie ofegante.

-Cara, isso foi... DEMAIS!!!

- Acalme-se, ainda pode ter mais. - disse ele enquanto se levantava

- Foi tipo pau, pou, pei e daí tu pegou e fez iaa, e ele arhggggg e daí...

-Cale-se!

-Ops...

A calmaria era estranhamente perturbadora, ficamos estáticos esperando o resto


aparecer, Cuprie parecia muito cansado, ele mal se mexeu, mas deu tudo naquele golpe,
não aguentaria mais um dilupu, e menos ainda uma matilha.

-Vamos temos que ser rápidos- dizia Cuprie enquanto tirava seu manto.

-O que está fazendo?

-O cheiro de sangue só nos torna alvos mais fáceis, uma pena, adorava esse
manto...

-Você ainda não me explicou pra onde estamos indo exatamente...

-Para um lugar seguro.


-Muito explicativo, Obrigado!

-Estamos indo para a base, uma aldeia no meio da floresta habitada por apenas
baterias.

-Isso existe mesmo?Pensei que eram apenas rumores.

- Mas não é, agora vamos, pegaremos um atalho.

Cuprie correu mata adentro e eu o segui a medida do possível, o seu ritmo era
impressionante, nem mesmo o terreno acidentado se mostrava um empecilho pra sua
velocidade.

Já estava totalmente desorientado de onde estávamos, as arvores passavam e


pareciam todas iguais, como se estivesse correndo no mesmo lugar, o suor de meu rosto
já escoria para os meus olhos deixando minha visão embaçada.

-Já consigo ver a vila, não desista novato!

Meus pulmões doíam, não consegui responder.

De repente ouço algo atrás de mim, mal tenho tempo de me virar para perceber o
que era, outro dilupu. Provavelmente em busca de vingança pelo seu amigo.

Será que não posso passar um dia sem quase morrer?

-Lithio!!- gritou Cuprie parando quase que instantaneamente.

Todo meu corpo gelou, e em um reflexo rápido minha mão foi ao chão em
direção de uma pedra e com o impulso do movimento rodei no ar acertando o lado
esquerdo da mandíbula superior do dilupu fazendo ele ir para o lado, de onde tirei essa
força?

Com o giro acabei caindo no chão de costas e quando levantei minha cabeça vi a
fera correndo em minha direção, pude ver o ferimento que causei e fiquei impressionado
com a gravidade.

E antes do dilupu chegar em mim um som soou por toda a floresta: um tiro.

Aquele barulho era absurdamente alto, meus ouvidos zuniam e meus joelhos
tremiam, parte por causa da corrida e parte por que quase me borrei.

-Bem vindo de volta Cuprie! Parece que você trouxe carne nova.

-Obrigado Zin!

Uma figura pula de uma árvore, e corre até o dilupu

-Foi um bom tiro- disse Cuprie.

-Eu sei.
Ainda estava um pouco desnorteado e consegui dar uma breve olhada no
atirador misterioso tinha um cabelo longo e loiro e era um pouco baixinho, não consegui
ver o rosto mas tinha uma voz aguda e um pouco irritante.

-Você está bem Lithio?- perguntou Cuprie

-Sim, sim- eu disse enquanto me levantava- não foi nada!

Quando me levantei consegui olhar na cara do cara do atirador que para meu
espanto não era um atirador e sim uma atiradora, ela usava um coturno que ia até a
metade de sua canela, calça e colete verdes e uma camisa branca, seu rosto era delicado,
bochechas rosadas e olhos verdes,em contra ponto ao rifle de precisão robusto que
carregava nas costas, o armamento tinha quase seu tamanho. Apesar de aparentar anos
de pratica com a arma, parecia ser bem jovem.

-Droga, eu acertei os pulmões estava mirando no coração!

-O importante é que ele está morto, quem se importa onde o tiro pegou?- disse
Cuprie em um tom sarcástico.

-Eu me importo.

- Desculpa interromper a briga de casal, mas nós temos que ir.

- Nós não somos um casal!- falou Cuprie e Zin ao mesmo tempo

Ai que bonitinho eles falaram juntos, podem começar a shipar.

-Ele está certo- disse Cuprie sem jeito- Estamos perto, mas ainda sim não é
totalmente seguro.

-O cabeça de ferrugem, não vai me apresentar tua amiga?

-Hihi... Cabeça de ferrugem.

Ela riu da minha piada, vocês viram?! Quer dizer,eehh.. digo, pois é né? Que
simpática.

-Engraçadinho você... Ela se chama Zin, é uma bateria como nós, ela faz parte
do grupo de caça.

-Grupo de caça?

-Você ainda não explicou pra ele?- perguntou Zin

-Vamos chegar na base primeiro, depois eu explico.

-Eu já to ouvindo “depois eu explico” há quase dois dias...

-Esse cara não tem jeito mesmo- disse Zin dando um tapinha nas costas de
Cuprie- Então vamos, quero chegar logo na base, estou morta de fome.
CAPITULO 5

Quando finalmente saímos da floresta pude ver uma muralha gigante de


madeira, tinha seus sete ou oito metros. Cuprie assoviou e os portões baixaram, bem
mais pratico do que carregar chaves. Passamos pelos muros e fiquei espantado com a
agitação do lugar, crianças correndo para lá e pra cá, homens e mulheres trabalhando na
terra, era tudo tão vivo.

-Bem vindo à base!- disse Zin abrindo os braços – Aqui é o lar de toda bateria,
um lugar seguro em que podemos viver uma vida normal.

-Uau, quantas pessoas moram aqui?

-Cerca de 400- respondeu Cuprie.

-Vamos logo para o refeitório! - disse Zin enquanto puxava Cuprie e eu pelo
braço

-Vá indo na frente... E leve ele com você, tenho assuntos a tratar com o Nick. -
Cuprie falou em tom sério

O sorriso no rosto de Zin virou uma linha reta.

-Entendido.

Cuprie se afastou de nós e Zin ficou acompanhando sua trajetória com os olhos

- Quem é esse tal de Nick?

-Ah o Nick ele é como se fosse o dono daqui – respondeu Zin em espanto como
se tivesse acordado de um transe- Ele meio que fundou isso tudo.

-Nossa esse cara é foda.

Sim vai ter palavrão, lide com isso.

-Aqui dentro todos têm uma função, ali na esquerda tem a casa dos fazendeiros,
eles são responsáveis pelas plantações e pelos animais. Logo a cima, a casa dos
caçadores, além de caçar e recolher alguns recursos dentro da floresta como madeira,
por exemplo, eles fazem patrulhas em volta da base, tipo guardas. Ali na direita a casa
dos construtores e artesões, é um grupo pequeno, mas de extrema importância, eles
produzem roupas, armas, moveis e casas. Mais ao fundo a casa dos exploradores, eles
saem para cidade para coletar alguns recursos e servem como mensageiros. Ainda mais
ao fundo tem a casa dos curandeiros, eles tratam dos feridos, distribuem os remédios,
ensinam as crianças e também cuidam da cozinha. Por fim ali no centro fica o salão
principal, onde ocorrem as reuniões e comemorações. Entendeu?

-Acho que sim...


-Tu pega com o tempo, cada casa tem um representante, meio que um líder, uma
vez por mês todos os representantes se reúnem no salão principal para discutir entre si, o
conselho dos sete.

-Ta, mas tu só falou seis casas.

-Os seis representantes e Nick.

Esse cara ta em todas...

-As casas servem como um centro de encontro entre todos que praticam a
mesma profissão, alguns poucos realmente vivem ali dentro, mas a maioria dorme nas
barracas que tem ao redor.

-Você é da casa dos caçadores né?

- Exato, e Cuprie faz parte da casa dos exploradores.

-E eu?

-Isso depende você trabalhava no que antes?

-Eu era um operário em uma fábrica de comida enlatada.

Agora que eu disse isso em voz alta me bateu uma vergonha alheia.

-Bem, se você não se interessou por nada você pode deixar essa decisão para as
casas e esperar que alguma delas te escolha.

-Como assim?

-Quando algum novato chega e não tem nenhuma casa em mente, as próprias
casas buscam pelo novato, é quase como um leilão.

-Parece legal, mas e cas...

Comecei a ficar a tonto, as palavras já não saiam mais, minha cabeça doía como
nunca havia doido antes, minha visão foi escurecendo e não consegui fazer nada contra,
parecia que tinha perdido o controle sobre o meu corpo. Acabei desmaiando.

Quando acordei, estava em uma cama dentro de uma tenda.

-Onde eu estou? O que aconteceu comigo?

-Calma Lithio, está tudo bem.

Era uma voz familiar, Cuprie.

-O que aconteceu com você é normal, todos reagem dessa forma à primeira dose
de CDM.

-CDM?
-Catalisador de mutação, uma droga que potencializa as capacidades de mutação
do vírus.

-Droga? Eu desmaiei por que me doparam?

-Não... - Respondeu Cuprie virando os olhos – Você se lembra do que fez com
aquele dilupu na floresta?

-Sim

-Você não percebeu, mas fez aquilo com o braço que estava quebrado, não acha
estranho uma fratura tão seria se regenerar tão rápido? Sem falar dos múltiplos cortes,
isso não é algo que se cura em uma noite de sono

Realmente, eu não havia notado, mas toda a dor tinha sumido.

-O CDM é uma droga desenvolvida pelo doutor Victor , ela faz com o que o
vírus modifique quase todas as estruturas do teu corpo por um determinado período de
tempo, te deixa mais forte, mais rápido, com os sentidos mais aguçados e melhores
capacidades regenerativas. A primeira exposição a ela é a mais duradoura, porém ao
mesmo tempo a mais prejudicial. Seu organismo nunca recebeu esse estimulo antes
então assim que a droga começa perder o efeito seu sistema imunológico entra em ação
e tenta eliminá-la, e isso desgasta muito seu corpo.

-Sabia que drogar as pessoas sem permissão é crime?

- Não tínhamos tempo para esperar!

-Minha cabeça ainda está girando um pouco...

-Não se preocupe, vai passar. Aliás, tem alguém ali fora querendo falar com
você.

Cuprie se levantou e saiu da cabana e no seu lugar entrou um cara gigantesco,


parecia uma miniatura do hulk, só que com barba e cabelos brancos e um uniforme de
general.

-Olá, Lithio não é mesmo?

-É, e quem pergunta?

-Cuprie estava me falando sobre você, me chamo Nick.

Então esse é o tal do Nick, ele não parece tão velho quando pensei que fosse.

-Prazer em conhecer - eu disse abaixando minha cabeça

-Já conheceu o local?- ele perguntou enquanto servia um pouco de água, o copo
quase sumia nas mãos dele.
-Mais ou menos, mas já me explicaram como funciona.

-Ótimo – ele me alcançou o copo – Beba e descanse.

-Obrigado.

Nick parecia ser um homem calejado, cicatrizes no rosto, voz rouca e pesada,
olhos profundos e atentos, parecia que estava analisando sua alma.

-Você teve sorte garoto. - ele disse enquanto virava as costas para mim- Já fazia
tempo que não tínhamos um sobrevivente.

Eu concordei com a cabeça enquanto bebia a água

-Bem, eu tenho alguns assuntos para resolver, te vejo a noite para a cerimônia.

-Que ceri...

Antes que eu pudesse terminar de falar ele já havia saído.

Uma moça entrou me trazendo comida, afinal, era algo perto de uma hora da
tarde. O cheiro da sopa me fez perceber que já fazia horas que não comia nada, meu
estômago se revirou.

Depois de comer, fiquei deitado por um tempo, a tonteira já havia passado, e já


me sentia bem melhor. Me levantei e sai da barraca, olhei para os lados e não vi Zin ,
nem Cuprie.

Acho que vou dar uma voltinha então, estava no extremo nordeste da base na
casa dos curandeiros, a casa era relativamente bem grande, a maioria das casas eram
todas em madeira, com alguns detalhes com cordas ou pedras, bem rústico.

Segui até a casa dos exploradores para procurar por Cuprie, ela era bem menor
que a casa dos curandeiros, na verdade, era a menor casa de todas. Dentro dela também
não havia muitas coisas, apenas um quadro com diversos papéis grudados, uma mesa
central que ocupava boa parte do espaço e uma escadaria que levava até alguns quartos
no segundo andar.

Entrei pela porta e fiz uma varredura geral no local com meus olhos, porém não
consegui achar Cuprie.

-Está procurando alguém?- disse um rapaz que estava sentado na mesa

-Sim, estou procurando por Cuprie.

-Ele está no campo de treinamento- ele disse e apontou para uma porta- Fica nos
fundos.

Passei por aquela estreita porta e me deparei com um campo de areia com alvos
e espantalhos espalhados por toda sua extensão, cercado por muretas de madeira
amaradas por cordas. Havia também alguns estandes de madeira com diversas armas
dispostas: lanças de madeira, adagas, arcos. Tinha de tudo um pouco

Tinha alguns poucos homens golpeando os bonecos, os golpes eram tão fortes
que o som da madeira envergando enchia toda a sala

Cuprie estava no meio do campo e assim que me viu começou a vir em minha
direção.

-E então Lithio, como foi a conversa?- perguntou Cuprie enquanto botava


cuidadosamente uma faca no estande.

-Boa...eu acho.

-Não se preocupe, a cara do Nick assusta, mas ele é uma pessoa do bem.

-Imagino... Ele comentou de uma cerimônia, o que ele quis dizer com isso?

-Ah, eu havia me esquecido de te falar, é que geralmente não temos pessoa


chegando de fora, mas a cerimônia é para decidir para que casa você vai, normalmente
quem tem que passar por isso são os jovens que já nascem aqui. A partir dos seus 18
anos eles já estão aptos a participar.

-Ah sim, a Zin já tinha me falado algo sobre.

-Perfeito, já tem alguma casa em mente?

-Acho que sim, mas não tenho certeza...

-É melhor pensar bem, não costumamos fazer transferências.

Que reconfortante.

-Você já lutou antes?- perguntou Cuprie enquanto tirava outra


arma do estande

-Video Game conta?

-Ta, já entendi. Toma – ele disse enquanto me entregava uma espada curta de
madeira- Vamos ver do que é capaz.

-Calma ai cara, eu nunca fiz um negocio desses...

Eu mal fechei minha boca e ele já investiu pra cima, ele empunhava um bastão,
um tipo de porrete, seu passo era firme e a ponta do bastão foi direto em meu peito.

A potência do golpe me fez recuar, e senti uma leve dificuldade de respirar.

-Vamos lá, não gosto de chutar cachorro morto.

-Desgraçado...
Ele mantinha uma base estável, uma posse de alguém experiente em combate
corpo a corpo, aprendi isso com os filmes de kung fu. Tentei imitar a posição dos pés e
ajeitei minha espada estendendo meus braços pra frente na altura da minha cintura e a
apontando para Cuprie.

-Agora sim, manda!

Corri descontroladamente na direção dele, levantei a espada até a altura da


minha cabeça e reta para frente, como se eu fosse um aríete humano. Abaixei a minha
cabeça enquanto corria, na minha cabeça isso ajudaria aerodinamicamente, percebi que
estava perto quando ouvi o barulho dos pés de Cuprie ao se mover e percebi areai
voando para o lado.

Parei imediatamente.

E em um movimento rápido soltei uma das mãos que segurava a espada a girei
violentamente para o lado oposto de que vi a areia sendo jogada, mas não foi rápido o
suficiente, meu golpe foi interrompido pelo bastão de Cuprie, a pancada fez minha mão
quase perder a espada.

-Nada mal.- disse Cuprie com um sorriso de canto

Tentei responder, mas antes que eu pudesse falar qualquer coisa Cuprie deu um
chute no meu joelho fazendo eu me virar para esquerda, assim ficando de costas para
ele, e em seguida me deu um golpe nas costelas com o porrete q me fez cair na areia de
dor.

-Recomponha-se!

-Seu filho da pu...

Fui interrompido por um som de palmas, lentas e cadenciadas

-Belo show rapazes !

CAPITULO 6

Uma figura nos olhava do outro lado da cerca, um homem com cabelos
compridos e negros, porém, presos formando quase um rabo de cavalo, um cavanhaque
igualmente longo e olhos castanhos bem escuros, sua pele era um tanto morena e seu
rosto possuía linhas extremamente retas.

Segurava um tipo de chapéu entre o braço e o tronco, parecia uma boina, usava
um manto semelhante à de Cuprie, mas, mais detalhado com bordados nas pontas e um
broche no peito
Cuprie me ajudou a levantar e limpou a poeira de suas roupas.

-Quem é essa pessoa? - sussurrei para Cuprie.

-Boa tarde senhor, o que traz você aqui?

É sério mesmo que ele me ignorou?

-Já te falei Cuprie, não precisa dessa formalidade toda- disse o homem enquanto
entrava no campo.

-Força do habito.

-Pode me chamar de pai às vezes sabia?

O QUE!? PAI?

-Já te disse que não gosto de misturar as coisas...

Puxei o Cuprie pelo braço e cochichei em seu ouvido

-Mas que porra é essa?

Porém, ele continuou fingindo que não me ouvia

Dei uma coçada de garganta bem alta, chegou a arder minhas cordas vocais

-Pai, esse é o Lithio, o recruta novo- disse Cuprie com a animação de uma mosca
morta

-Ah,mas que deselegância de minha parte não me apresentar- ele botou a boina e
fez uma posição de reverencia- Me chamo Ilev, sou o líder da casa dos exploradores e
pai desse belíssimo rapaz.

-Fico comovido pelo carinho papai...

-Ta mas, então... o Cuprie... ele é...

-O meu sucessor? - Perguntou Ilev abraçando Cuprie e enchendo seu peito com
orgulho, Cuprie não estava nem um pouco confortável sendo apertado daquela forma.

-Adotado? - Falei sem pestanejar

O rosto de Ilev ficou vermelho e ele começou a tossir como um fumante assíduo

-Eu sou mais parecido com minha mãe- disse Cuprie enquanto se livrava dos
braços de seu pai- Venha vamos sair daqui, é bom você conhecer melhor as casas antes
do ritual.

-Calma filho- Ilev se esforçava para parar de tossir- Te vejo em casa no jantar!
-Ta bom velhote...

Cuprie me puxou pelo braço com tanto força que ficaram marcas do seu dedo
em meu pulso, tenha uma leve impressão de que ele não se dá muito bem com seu pai

Saímos da casa e eu já podia ver o sol começando a descer, não tínhamos muito
tempo sobrando

-Ufa, nos livramos dele. - Disse Cuprie enquanto suspirava aliviado.

-Cuprie, você viu meu celular?

Tinha acabado de perceber que ele não estava no meu bolso, será que caiu na
floresta, ou será que eu deixei na barraca perto da casa dos curandeiros, bem pode ter
ficado também no camp...

-Eu joguei fora.

-VOCÊ FEZ O QUE?

-Na casa do Viktor, na verdade eu o quebrei para não rastrearem.

Eu tinha parcelado em 23 vezes... É oficial, eu odeio esse cara...

-Não se preocupa, nós não usamos celulares aqui, nem sinal tem.

Meu Record no candy crush...

-Você...vai me... pagar!!

-Calma bebe, te dou um novo no natal. - Cuprie disse com um sorriso sarcástico.

A sorte dele que ainda estou um pouco dolorido da luta, se não eu quebrava cada
dentinho dessa merda de boca!

-Venha, quero te mostrar minha casa.

-Como se eu tivesse escolha...

Demos a volta na casa dos exploradores e já chegamos na “área de habitação”,


não havia muitas barracas, e a maioria delas eram bem simples

-É essa aqui- Ele falou enquanto apontava para a maior delas

-Que luxo...

Realmente a cabana era muito bem decorada por dentro por mais que por fora só
parece-se uma grande oca com um pano bonito

-Bem-vindo ao meu cafofo

Fala sério... Cafofo? Isso virou um filme do século XX por acaso?


Se bem que parecia mesmo, almofadas gigantes no canto, um carpete de algum
animal parecido com um tigre no centro, um beliche com lençóis estampados, uma mesa
pequena, alguns baús e armários, além de algumas panelas e outros utensílios
pendurados.Tipo a casa de um cafetão hippie.

-E ai, o que achou? - Disse Cuprie enquanto se jogava em uma das almofadas

-Rústico...

O cheiro de breguice saia de todos os lugares, chegava a desnortear

-Só você mora aqui?

-E meu pai...

-E a sua mãe?

Cuprie ficou sério, acho que foi a primeira vez que o vi dessa forma, seus olhos
caíram ao chão e sua mão que antes estava jogada em cima de sua coxa se fechou em
um punho como se segurasse algo

-Desculpe, eu não sabia...

-Não tem problema- Cuprie tentou se recompor forçando um sorriso- Deixa isso
pra lá, gosta de cerveja?

-Gosto – Respondi tentando ser educado

-Tenho umas artesanais, é produzida aqui na base mesmo- Ele estendeu a mão
até um dos armários e retirou uma garrafa – Aqui, prove.

Dei um gole generoso e automaticamente fiquei um pouco tonto

-Ela é um pouco forte, mas você se acostuma

Ficamos ali bebendo por um tempo e jogando conversa fora, o álcool ajudou a
quebrar o clima tenso que tinha ficado no ambiente. Mal vimos o tempo passar.

-Daí o cara veio e disse: “Bateria!” e eu quase caguei nas calças.

Ambos estávamos rindo incontrolavelmente, nossas gargalhadas eram ouvidas


por todos ao redor da casa

-Ai ai, essa foi boa- Disse Cuprie enquanto recuperava o fôlego e soluçava.

-Pois é... Vem cá, a gente não precisava estar em algum lugar agora?- eu
indaguei coçando o topo da cabeça

-Também to com esse sentimento, mas deve s...


Cuprie se calou e me olhou no fundo dos olhos e no mesmo momento eu já
entendia o que ele pensou

-O RITUAL!- gritamos os dois ao mesmo tempo.

Eu pulei da almofada em que estava sentado o mais rápido que eu pude e sai da
cabana, o sol já tinha praticamente sumido, remanesciam apenas alguns poucos raios de
sua luz

Cuprie tentou fazer o mesmo que eu, porém cambaleou e caiu sentado no chão,
além de derrubar algumas garrafas vazias que estavam ao seu lado.

Ele não era muito forte para bebida, logo nos primeiros copos suas bochechas já
ficaram coradas, além de que ele bebeu no mínimo um terço a mais do que eu.

-Vamos cara, estamos atrasados!

-A gente tem tempo, só cala a boca e me ajuda a levantar!- ele disse enquanto
estendia os braços em minha direção

Puxei Cuprie e logo que sua cabeça se aproximou da minha o bafo de bêbado
intoxicou meu nariz. Não que eu estivesse muito diferente, mas ao menos conseguia me
manter em pé

Fomos os dois, andando meio em zigue-zague, a vila parecia estar meio vazia,
praticamente a única fonte de luz era o salão principal.

-Será que já começaram ?

-Nick gosta de enrolar- Cuprie soluçava a cada frase- da aqueles discursos chato
sobre responsabilidade e essas coisas.

-Nunca pensei que ia agradecer por ter palestra antes de uma janta.

Chegamos na frente da porta e paramos, observávamos a porém nenhum de nós


tomava a iniciativa de entrar

-Você abre- Disse Cuprie enquanto tentava se endireitar e parecer o mais sóbrio
possível.

-Você que abre você que é o veterano!

-Por isso mesmo, novatos abrem as portas para os veteranos!

-Escuta aqui, para de brincadeira e abre essa merda de porta!

Levantei meu punho direito como forma de ameaça, porém no meio da trajetória
ouvi um som estranho.

O ranger de madeira. A porta tinha sido aberta


-Estávamos mesmo esperando você- Falou zin com um sorriso de certa forma
assustador

Todos dentro do salão estavam olhando fixamente para nós dois. Soltei a gola de
Cuprie que automaticamente caiu sentado, ele parecia não ter entendido o que estava
acontecendo.

-Boa noite cavalheiros- Disse Nick se levantando de sua grande cadeira – Agora
já podemos começar.

-Onde vocês estavam?- Perguntou zin o mais baixo possível e sem mexer os
lábios - Bem, só senta ali que eu cuido do garotão aqui.

Ela não parecia nada feliz.

Quando eu percebi estava sozinho dentro daquele salão, o som da grande porta
se fechando e os cochichos de todos que estavam presente me fez me sentir como um
inseto

O lugar estava cheio, enormes mesas ocupavam quase todo o espaço exceto um
circulo no centro que possuía um grande tapete bordado, e logo a frente desse tapete
estava Nick em seu trono, como um rei, e ao seu lado duas mesas em forma de meia lua
uma á esquerda e outra á direita com três cadeiras cada.

-Por favor, sente-se... –Nick disse fazendo um gesto com a mão apontando para
uma das mesas.

Assim que me sentei reparei em um rosto familiar perto de Nick, Ilev.

Seu rosto estava totalmente pálido, olhos arregalados e suava como um animal,
claramente ele sofreria consequências pelos atos de seu filho

-Ei garoto, belo show!- sussurrou um homem em um tom de escracho

A minha vergonha era tão grande que não tive culhões para responder,
simplesmente fingi que não ouvi.

-Não seja assim rapaz- Ele continuo enquanto me abraçava com um dos braços-
Parece que não fui só eu que apreciei sua chegada.

Ele apontava discretamente para uma mulher sentada na mesma mesa de Ilev,
seu cabelo escuro e volumoso chegava até quase os pés da cadeira, duas tranças
mantinham ele preso e formavam um nó em sua nuca, sua roupa branca era quase
imaculada, e da mesma forma que seu cabelo, era extremamente longa.

Um rosto delicado e suave, quase como de uma criança, com maças do rosto
bem desenhadas e rosadas, o que contrastava bem com o tom de pele quase albino que
dominava sua feição. Ela era realmente linda e passava um ar de segurança, seus olhos
eram pequenos mas ao mesmo tempo profundos, ela sorria de maneira meiga, tapando o
centro dos lábios com a mão, da qual só os dedos não estavam encobertos pela grande
manga do roupão.

- Quem é ela? – as palavras saíram de minha boca antes que eu pudesse pensar
em qualquer coisa.

- Naoru, líder da casa dos curandeiros, é muita areia pro seu caminhãozinho
garoto! Pode desistir.

- Mas eu... – comecei a gaguejar na mesma hora.

Tentei retomar minha postura o mais rápido possível, e desviei os meus olhos
pro outro extremo do salão

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