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Diálogo & Paranoia

“Uma vez que os meios de controle técnico atingem uma certa dimensão, um certo grau de

interligação, as possibilidades de liberdade desaparecem de uma vez por todas. A Palavra perde

o significado” – Thomas Pynchon, O Arco-íris da Gravidade.

Durante o advento da internet no Brasil, os otimistas falavam em globalização e

defendiam que as redes finalmente acabariam com as fronteiras da convivência e

democratizariam o conhecimento. Claro que não foi o que aconteceu. As fronteiras se

reforçaram e nos tornamos dia a dia mais ignorantes. Com a tecnologia, cada qual se

encapsulou em sua própria fonte de informações e versão dos fatos, lidando mal com a

divergência, sobretudo, com o advento das redes sociais. Ninguém dialoga mais com

ninguém. E o que todos acreditavam ser “ágora” não passa de uma feira para

intolerantes.

Para além das singularidades históricas de um país como o nosso, que sequer

completou seu ciclo de alfabetização ou o acesso popular à cultura e se viu jogado, sem

mais nem menos, na arena mundial dos leões, existe outro fator, de foro íntimo: cada

um que se conecta à rede sente-se protagonista de uma história onde os demais só

participam como figurantes. E com figurantes, sabemos, ninguém conversa.

O Facebook, por exemplo, lembra um imenso mural para autistas autoritários,

gozando uma solidão assistida. O fenômeno da opinião como estilo surge com a

invenção da imprensa e tem no Facebook seu ápice, a partir do qual as palavras perdem

sua objetividade e passeiam tão vazias quanto inócuas. Nas redes sociais, somos todos

cultos e descolados, mas a verdade é que somos superficiais, superficiais ao quadrado.

O diálogo inexiste em um espaço onde o surgimento do fato e a interpretação

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simultânea e de longo alcance desse mesmo fato produzem dissociação da realidade e

enredamento automático na teia das mil narrativas virais que, em menos de um segundo,

apagam, no fato que surge, todas as suas referências concretas. Isso nos dá a falsa

sensação de que o que conhecemos faz parte de uma única pista de gelo escorregadia.

Essa desordem fertiliza a paranoia e sua tese clássica de que tudo o que está conectado

conspira para nossa ruína. A intenção é velha conhecida: disseminar o medo, gerando

passividade e intolerância. O auge do suposto acesso de todos ao conhecimento é

acompanhado desse ruído de fundo por trás das informações, um ruído de fundo que

cresce à medida que o mundo já não tem mais nada a dizer.

Sem querer, o romance O Fundo e a Luz de Betzaida Mata e os poemas de Só,

com peixes de Adriane Garcia discutem essa questão. Creio que a busca do primeiro

pela luz pacífica e sem som do fundo do mar e o voyeurismo do segundo pela imersão

na vida silenciosa dos peixes é cada vez mais a metáfora do embate da lucidez e do

conhecimento contra a claridade barulhenta e ilusória da superfície. Acredito que tanto

Betzaida quanto Garcia atingiram bem mais alvos do que esperavam quando escreveram

seus livros. São palavras contundentes contra a gritaria e a formação de “bolhas de

convivência” onde, de tão ruidosas, ninguém escuta ninguém.

Já nos livros de Thomas Pynchon isso fica ainda mais claro. Com o triunfo da

paranoia não pode haver diálogo. É que se todos orbitam ao seu redor ou para

concordar ou para conspirar contra você, você não convive nem dialoga com ninguém,

salvo com suas próprias alucinações. Antigas gravuras hindus retratam o Diabo como

alguém com grandes orelhas para ouvir. Mas nós, os conectados, somos tão surdos

quanto Deus.

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