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Ciência da alma é um conjunto de reflexões do junguiano

Edward E Edinger, cuja apresentação hábil e clara dos


conceitos junguianos ajudou muitos a compreenderem
o essencial da psicologia profunda, seja em seus aspec­
tos coletivos, seja em sua aplicação pessoal.
Nas reflexões da presente obra, ele demonstra a impor­
tância de o ser humano cultivar a própria alma, ou, por
suas próprias palavras, "manter uma ligação viva com o
inconsciente coletivo". Tal ligação pode se dar mediante
uma crença, uma religião ou uma mitologia viva. No en­
tanto, a partir da Idade Moderna, a linguagem religiosa
e mítica então dominante não mais respondeu à ne­
cessidade de muitos. A psicologia profunda veio, então,
ser instrumento de contato com o inconsciente coletivo
para o mundo que fala a linguagem da ciência. Por isso,
a psicologia junguiana tem papel importante a ser de­
senvolvido em nosso tempo: ajudar as pessoas a cura­
rem as feridas de sua alma.
A leitura deste livro é útil tanto àqueles que têm pouco
conhecimento da psicologia analítica como a especialis­
tas, pois o autor trata tanto de conceitos fundamentais,
como Si-mesmo e sombra, bem corno da relação entre
terapeuta e paciente. D

EDWARD F. EDINGER ficou conhecido por seus muitos escri·


.110 .j' tos e palestras sobre a aplicação da psicologia junguiar
t:
dentre eles comentários psicológicos a respeito da Bíblia e
r: inestimáveis guias para a compreensão das principais obras
f" '''-'"
de Jung.

~
'I

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

<.1 INTRODUÇÃO À COLEÇÃO

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

:.;lc~.,·fH)l· \'AMOR.E;PSIQUE

Edinger, Edward F.
_.. . . ~! ._:_ ';" _1]1)")" ~' 'li.' ~_'i; '~_ ;." \

Ciência da alma: uma perspectiva junguiana I Edward F. Edinger;

Itradução Gustavo Gerheim]. - São Paulo: Paulus, 2004.


, (.:) , 'i ~:)j:' ,U _
- (Amor e psique)

\.~\.:~í'.lU"~, di "c._ ;. ' i/, _rJ .1 t"' lLJ J~~ t _~ '~:l


Titulo original: Science 01 lhe soul

Bibliogralia.

. ~ i,{" ~ ~ --': ~.!'; __ ~;I; : ~""~) 1.... j~; ,_ )J


J
ISBN 85-349-2 62-8
j ;1, ,::~:j,,:1 1.;:"';.:::. 'li!.:. ~';'!';; ,:i.~ . ~~, ~~",rt ,1J "f",,,,, 1 i_~
1. Jung. Carl Gustav, 1875-1961 2. Inconsciente 3. Psicologia junguiana ,1..... !. '~r" -~:l_ '" ! ' . : ~ .:. ~ ~ (: J ~ "') f -- ~ \

4. Psicopatologia I. Titulo. 11. Série.


• _~~",H.:: ~I~!' ... :.' f."; .. !,.. ....:",1 !!..~ ,\
04·1028 COO·150.1954
)'j ~.~il -~ .~) ,~~. _~ :ll' .. i, '} :.. JE~, .. ~~,./~~ ..! '~,J !_;j~rl- ::l' ,"",.f-J
índices para catálo'go sistemático:
1. Psicologia: Perspectiva (unguiana 150.1954 .~);)Y." L'~';:. Í;~~LL '::'3:J ".'-~L,,".; ~ _,' /! '_i ~~Hf-. -:~~ ~'._ L Ll.L\,.I _f; '~iL'::
. ..~.~ ,b,\isca qe .~,-:~ .~lrp(3,,,e,~qs~:n,~~dog.e Stl(3, .'{i9;,(3,J ,Q
li' V,"\ Y ,,'­ v~
:. " p ~l,. '~'.
homem descobriu novos•
caminhos que o leyam para a ~ *_",~' l"" ' : ' , !.ted I, ,,, Il., ~"<J I' .... #." li )

sua interioridade:o §>eu próprio espaço interior torna-se


um lugar J?OYo de~experiência. Os viajantes destes cami~
/ -. i 1: ~ .. r' h nhos nos
'revelam-que somente o amor é capaz de gerar a
alma, mas também o amor precisa de alma. Assim, em
COleção AMOR E PSIQUE coordenada por
lugar de buscar causas, explicações psicopatológicas às
Or. Léon Bonaventure, Pe. Ivo S/orniolo,

Ora. Maria Elci Spaccaquerche


nossas feridas e aos nossos sofrimentos, precisamos, em
Tílulo original
primeiro lugar, amar a nossa alma, assim como ela é ..
Science of /he Soul: A Jungian Perspective Deste mod.o.é que poderemos reconhecer que estas feri­
© Innar City Books, Canadá, 2002.
ISBN 1-894574-03-6 das e estes sofrimentos nasceram de uma falta de amor.
Tradução
Por outro lado, revelam-nos que a alma se orienta para
Gustavo Gerheim um centro pessoal e transpessoal, para a nossa unidade e
Editoração

a realização de nossa totalidade_ Assim a nossa própria


PAULUS
vida carrega em si um sentido, o de restaurar a nossa
Impressão e acabamento
unidade primeira.
PAULUS

Finalmente, não é o espiritual que aparece primei­


ro, mas o psíquico, e depois o espiritual. E a partir do
olhar doimo espiritual interior que a alma toma seu sen­
tido, o que significa que a psicologia pode .de. novo psten­
der a mão para a teologia.
© PAULUS - 2004 Esta perspectiva psicológica nova é fruto do esforço
Rua Francisco Cruz, 229' 04117 -091 São Paulo (Brasil)
Fax (11) 5579-3627 • Tel. (11) 5084-3066 para libertar a alma da dominação da psicopatologia, do
www.paulus.com.br·ediloríal@paulus.com.br espírito analítico e do psicologismo, para que volte a si
ISBN 85-349-2162-8
5
mesma, à sua própria originalidade:'Elarp.'asce:u de refle­ PREFÁCIO DO EDITOR

xões durante a prática psicoterápica, e está começando a


renovar o modelo e a finalidade dá psicoterapia. É uma
nova visão do homem na sua existência cotidiana, do seu
tempo, e dentro de seu contexto cultural, abrindo dimen­
sões diferentes de nossa existência para podermos reen­ ,
contrar a nossa alma. Ela poderá alimentar todos aque­ \' '. ~.}

les que são sensíveis à necessidade de inserir mais alma


em todas as atividades humanas. ~ ,~ .
"
A finalidade da presente coleção é precisamente res­ '", I

tituir a alma a si mesmare "ver a.parecer uma geraç~o de : t .. 1; ",) , "

sacerdotes capazes de 'e~eender 'novâme.nte á llnguagem o m\l!ldo est~ cheiÇl de pessoas j.1}co.nsçien~es - aque­
da alma", como C. G.JÜhgo desejava.)' ( ; j • - ' .-: ' las que I).ão ,~abem por ,que, fazem ,aquilo' que fazem.
.:~~t;\.w ~ í~"..: r.:~,. '~' ..... ~',~,. ,.~'~':~ j:t~'
Edward F. Edinger fez wais do qlle qp.alquf;r <;mtra pes­
: \ ')!'
... ' lÂóh Bonaven'túhi soa para corrigir ess~, sit.uação., Qomeu ponto. qe vista,
,\ !., !1 '" .. ", ~''': I.'. ' !:, '!

~
j .;
ele foi tão fiel a J ung quanto se. pode ser. Af?S!D;l como
,,' ~
'I , ',.; I ".­

Marie-{;ouis~ vop.Fr.ap.z, ,ele, foi \lD;l jungl,lianQ c~ássico:


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.. ~,
absolu,tªweI'lte innuenciado pela mensagem"c!~ Jp.ng,
\!f d'l ,,,":. :,,' "-'1
amplificou -a \.isa.ndo l?egs pI:ópri()s t,alepto~.: " d ' .

.~'l:j:,,~~ '('fÜ"i~-'_"~",: >._. ~t;~ ,~ . ".. f


Para aqueles qu~ copsigE;lram,Jp.I'lgup:l9-I~itp.ra difí­
. r ..
~~/) ':.ó.i,·" .. Cl cil, Edinger tem sido o iptérpre.t~ pr~emií1~nt~ pqr IIlais
. ri Íl1 ; . ) . ) rl'~' de trinta anos. Em palestras, livros; 'fitas e vídeos, ele
, L ' .. "~, t \ ,; ~
apref:?énto,u com muita habilidade a essência destilada da
: I ; ,- ~ r :J" I';" "J:~
obra de Jung, iluminando a sua relevância tanto para a
:;t"~,"~ '''I''';" (,,~
, I
, .. /t .. " i ..
psicologia coletiva quanto para a pessoal. Desse modo,
,;L>l..:O·3 dq' II '" '. . :; ~)- ;' por exemplo, suas Mysterium Lectures e Aion Lectures
.~~ .. ~ ,'::),'.f
não são apenas, pesquisas acadêmicas brilhantes sobre
:~ ~!t: ui,;';" : \ ~ _,",,~ FC>j~ ':;Il as obras mais importantes de J ung, mas também um guia
:~) ,) \) ~t/' prático para o que está acontecendo no laboratório do in­
~ r.. '~ ~:"l\C } ('1,,' ~l! U~) "i3' consciente. '\
. .
'.) ~.' l.i,f 't 'tJ"i) ~ Desde que a Inner City publicoú seu livro A criação
,;r" :~."!( 't!1";~i da consciência em 1984, 'Ed e'eu mantivemos muito mais
"
do que uma boa relação proyssional de editor-autor, Visi­
'Je .~',P tei-o em sua casa em Los Angeles algumas vezes e en­
.\i:1 viei-lhe cópias de cada novo título da Inner City que era
6 7
~_._-------- -"-­
1

CIÊNCIA DA ALMA

, " .... _:J. . . .l '

, l I
'f, .. _:. ,'} ,
\ ~1
,;; , '\"
O h,omem sempre viveu no' ~ito, e' a,cre<Jitamos ser capa­
" "
zes de nascer hoje em dia e viver fora' do mito, fora da
história. Jsso é umadoença,totalmerde anormal, pois o
I'
homem não' nasce todo dia.:Ele nasce 'só uma 'vez, em um
ambiente histórico específico, com.' qualidades históricas
.-. ~
'-r'" específicas e, dessa forma, ele só é completo quando possui
uwa relaçÇio.,co.m essa~ coisas. $e você cresce sem ~igação
com o passado~ é cómo se qocê nascesse sem olhos e ouvi­
-, ' dós ... leJ isso é uma m"utltaçad do ser humano. 1 '
r'~ ; • , ;, ~
! ~t.

" , ~ (
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o inconsCierite cioletÍvo
•r .' ..

"Á ~~ ;~'. ~L~ 'tj ~ «, ~ rf)


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.:.11 ...... , ~ _J' . . ~."
Para que'"I urri', i~divíduo seja' ~audá~el do 'po~to de
••- j .: J }'i

; f '"'-. : .!._J ,,~: ( '''' " < '

- ./ {." . .." .:::.' ..., Ti"' vista psicológico, ele deve manter uma: lig~ção viva com o
~' ,jI- ,,-/ I. : ; ~ incons'ciente coletivo. Xo 'longo da história, e'ssà ligação
J ! l ";,,.1_ tem 'sido forhecidapel~ religião óperant'e ou pela mitolo­
i',) I
,'d : ~, ..~." 1 ~;
gia: em vigor'em dada sociedade, Uma religião'específica
": " ' " , I • ' " " .. I" •

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ou uma mitologia viva funcionam como um recipiente para
~.

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~

L :1:'~ '. I ! ~. 't}


.L. )':

o inconsciente coletiyo,Apessoa que crê em um mito vivo


tem' acess~ a dogmas, cerimônias é imagens simbólicas
, ,
~/ "}\', ~;
~ . i,' "I J
,,' \ " ... '.I !,'
I, I
"
• ~ ,"

I Jung, "The:Hóuston Films~,êrriWilliam MaguireeR. F. C. Hul!, eds., C.


GiJu'!-gSpeqking, p. 348,. [Q~ vídeos de]<;dinger possuem breves trechos de
uma fala de Jung;aqui impressos em itálico, tirados de entrevistas que maIS
tarde foram publicadas em C. G. Jung Speaking. - Nota do Editor]

11
que se encontram entre todgs nós e a realidade bruta do Vários poetas do século XIX - Nietzsche, Matthew
inconsciente coletivo. é a função dos mitos vivos e Arnold e outros 2 - a~úp.ciaram que a mitologia Cristã tra­
· '-
da re I19mo. " . :"
~ ,_i'/","
. ,..1 c.i _' dicional predoIllÍnan.te nã<;>mais servia ao seu propósito,
Enquanto o sujeito está ligado a um mito religioso, e que os indivíduos IDQQerno!?nãQ ',estavam mais contidos
ele não precisa dar atenção à psique. A instituição reli­ por ela. No mínimo,a min9tia criatJ~adasocie,dade oci­
giosa cuida disso e, se ele é um bom membro, que vive dental não ca,be.majs!lo recjpient~_dOÍI1ito 8ristão e, desse
dentro da estrutura dogmática, ele está salvo. modo, está qb~rta ~ dispoI).~v~1 pará a possibilidade de
aquele ditado, vocês sabem, de que não há salvação fora descobrir empiricamente a PsicQlogia profunda.
da Igreja. Isso é verdade, não há salvação fora de u"!a . \._. "--:. ;~. t" (. !, I.: . ,",.,) l_ '.;':
-.,«'

igreja, uma mitologia viva, a não ser pelo processo de A idade da tdulsfôrmação '1
individuação, e este é raro e difíciL \' I ~ ! '_:' I \ ;. ~ ", ~ .. ~ ,'~'

Assim, de maneira ger::tl, é mais ou menos Verdade Uma grande inudinça' aconteceu 'ná' psicologia cole­
que não há salvação' fora dá Igr~ja, e não importa dequal tiva em torno do século XV. Como eu gosto de dizer, de
Igreja estamos f9..li:qlçl9.. À.'m:~qidª qu,e !?~, po!?sJ,l.i l,J.m·:reci­ maneira um tanto dramática, "Deus caiu do' céu para
piente para o inconsciente coletivo, e o sujeito é um mem­ dentro da psique". 3 Foi màis ou menos niquela época que
bro sincero de alguma congregação religiosa, ele esta sal­ a projeção coletiva da 'divindade: no rein~ métafísico do
vo, do ponto de vista psicológico. b sujeito fem uma reíação dogma religioso recuou. Foi um processo' lento, que co­
com a imagem de Deu!3 projétaq..a.'.Coíno disse J~~g, as meçou apenas em algumas pessoas, más foi lá que ele
grandes religiões ~ão ~a~des sist~mas psicoterápiéos. É realmente 'tev'é' iriíCio: kirriagem'de Deus foi se 'retirarido
isso que elas e elas fornecem aos seus membros uma da proj'eção 'metafísicàeeritrando na psique.' O que vi­
ligação com a imagem de Deu~, 2 Si-~~S}1W·~S~~w.esWP'1~ mos, então, foi uma inflação coletiva,'um grande 'cresci-'
Deus sendo virtualmente termos sinônimos), por meio,de menta da energia do ego, que' se manifestava em todos os
rituais e dogmas de d~terminada .~g"fej,a.. "', r • lugares. As pessoas' 'começ'aràma 'exploraro'globo, e a
Enquanto esse método furiéionar,nãoná1o
• , ,.' ~ ~; ,'., I .::l""
,
que se fa­
... t I ' /
~... ,,", • • J
fazer todô tipo'de descobertas nas' ciências e' nas'artes.
lar contra ele. Nq enta~t?; nãp,h,~, à po·!?~~piJ,i<1:ª,Qe.de..u~fl Houve uma grande expansaoda consciência humana no
psicologia profi.lI~da e#quéll1tR se esi'á- f0riti5:lo, ~f.l1·,unia nível do ego. Mas o preço para isso foi uma progressiva
Igreja. Enquanto oin~oil"scÍE~#te c,9Iet!y~ esti':/er pres?,:~or perda de ~ligàção coin 'a'dimensão' trailspe.sso,al, um pro­
assim dizer, ao simbolismo
, ., !'
de uma
.
estrutura
7' , •"'
dogmática:
I' !', 11 , j ': , ~ I
cesso'que agorà:alcança setiápice~' ,;
e~pec.í?ca e concre~a,p.~o ~x.iste!(po.s~~RiydlF,~·~e .~~?r~~ O ego-humano tomou o controle'das energias psíqui­
nencla-Io de maneIra empínca e IndIvIdual. A pSlçologla,:
" , " J. . ~. t I \
cas' de talformaJque a'realidade da'psique objetiva, a
profunda não se aplica àqueles que estão 'contidos em umá " , ':.­

crença religiosa específica porque eles não necessitam Notes àn the Seminar given in 1934­
dela. A psicologia profunda nasceli, na Idade· Moderna 1939, e Edinger, The Mysterium Lectures: A Joumey ThroughJung's Mysterium
Coniunctionis, pp. 222ss. (Nota do Editor)
porque muitos necessitam dela. 'Realmente precisamo$ 3 VerE;dil)ger, T.h.e. A.ion.4ect.ure~:Exploring the Selfin C. G. Jung's Aion,
dela. ;'" esp. caps ..9, 10,23, (Nota do Editor)

12 13
realidade da dimensão. transpesso.al da: psique, queántes do inconsciente, co.m Freud e Jung, foi que de repente a
era garantida pelas co.nvicções religio.sas e' metafísicas', psique tornou-se um objeto do ego subjetivo. o.bservador.
ago.ra encontra-se em grande parte ineficaz Como'um, fa} E foi isso que abriu as portas para o. estudo científico. da
tor efetivo na vida coletiva. Essa situação atingiu um psique. Essa é realmente Uma eno.rme revolução coperni­
extremo tão grande que, da forma co.mo eU: a entendo., ela cana que ainda mal éomeçoti a penetrar, na consciência
é o precursor da próxima era,~Esse estado décoisás esta:~ coletiva:
va previsto na Bíblia, no'Apocalipse, onde tudo está ex': ,,~ f ~

posto de maneira simbólica.4,·' ~ :.


Junge Freud
A descoberta da psico.lo.gia profunda no. século. XX é,
na minha opinião, pelo 'me?-.~~it~9, !~~çrtl1:ç.~equ~I1tp, Nós realmente devemos a descoberta' empírica do.
igual em grandeza, à desco.berta da física nuclear. Vejam inco.nsciente a Freud. Ele estudo.u. caso.s de histeria e, a
o que aconteceu. Por míH;tares de an9s, a humanidade partir desse estudo., desco.briu o. inconsciente. Jung, ao
possui o conceito. de'alma, de psique', de u~a consci~ncia mesmo tempo,emborafosse dezenove anos mais novo do
elementar de qiI~ 'a subjetivj~ad~ ~~manal~i um -f~tor
>
que Freud; conduzia experimento.s que chegaram ao. in­
muito importante, mas a humanid~de estava,tão!próxi­
_ _. \ c ( ••• _ 1" ' " consciente pqr um outro ângul<? Ele estava fazendo. ex­
ma a essa realidade, que; ~ão ,conseguia trGltá-Ia de ma­ periênçia,s 'co.m o. teste de asso.ciação. de palavras, o qual
neira empírica ou cien~ífiça. '. revelou o. que ele chamo.u deco.mplexo.s inconscientes. 5
A imagem que gosto de usar é a de um peixe nadan-. Então, quando. Jung começou 'a ler Freud, percebeu que
do numa lago.a. Existe uma anedot,a,agrad:%ye!, uma (ln~,.; eles estayam lidanflo .co.~ o. mesmo fenÔmeno.,.e marca­
a
dota oriental, que ch~gou, mim certa vez. O mestre Zen ram um~enco.ntro .. Foi um encóntrohistÚico.
pergunta ao aprendiz: "Qu~~ descobriu a ~gua?" Oap'ren-:
I J t r _ '

diz não. sabe, então o. f11e?tr~. respon<;l~: ,"Bom, eu, também. Bem, eu/Til uiiLtá.lo din Vúma eficamos convúsando por
não sei, mas sei que~ não. a;descobriu; ~ 'peixe." (reze horás sem parar.,·.. nem percebemos que estávamos
" quase mortos ao final:daconversa ... Eu ainda era muito
Como. vo.cês. po.dem v'er, QS seres .hum~nos e,stão,exa­ jovem naquela época, ele era mais. velho, ·tinha uma enor·
tamente na mesma ppsiçãoem rel,ação..à psique.,~lel?,>;H . me e~per:iência e ~stq.va, é, ,claro, muitC?nÇL minha frente,
vem dentro. dela. É o seu 'meio'ambiente,é existf!m aI-, . então;aqúiesci pç,ra poder aprender alguma coisa pri­
guns pequeno.s vislumbres de luz so.breo lugar o.nde ,o.s m~iro.6 ir " :.' .,'
"'1\1' l (.1 J ,-.' '1:­
egos individuais existem nesse ambie'nte' ger;:tl da psique:
mas eles estão. tão. perto d~sse'qmbiente que não. conse­ Po.r alguns ano.s eles fo.ram co.legas. Embo.ra um es­
guem reconhecê-lo co.mo um:objéto. empíric9 que po.dE2 ser; tivesse .emyíen<t e 0., ?:utro,er,n ,Zurique, enco.ntraram-~e
estudado da mesma forma como a natureza é estudada ­ com Gerta freqüêncí<;l:etíveram muitas co.nversas. HaVIa
'\ . , ~

como. um o.bjeto. Mas o qll:e aco.:ç.te.c~u. CQrn a desç,o.berta


5 Ver Experimental Res(!arches, CW 2(CW é uma referência a The Collected
Works orC. G.Jung). (Nota do Editor)
4 Ver Edinger,Archetype orthe apocalypse: A Jungian Study orthe Book or 6 Jung, "The Stephen Black Interviews", em Maguire and Hull, eds" C. G.
Reuelation. (Nota do Editor) , '. ...... " Jung Speaking, p. 253,

lá.
muitas diferenças, mas por um longotempó Jung sub­ ao fato de essa descoberta revelar que a psique individu­
meteu suas próprias idéias às de Freud., poiss~bia que al está flutuando, por assim dizeI!, em um oceano com­
Freud tinha mais experiência do que ele. No:e.qtanto, tudo
mudou a partir da publicação, em 1912, do liy:ro'Transfor­
mations and Symbols.of the Libido 7 ; de Jung. Os cami­
t
i.
partilhado por toda a nossa espécie.

nhos separaram-se nesse momento, pois Jung estava co.­ A natureza dos sonhos
locando suas idéias para fora, e ele sabia ql,.le existiam
diferenças muito sérias na forma como cada um compre­ o que são os sonhos e como devemos compreendê­
endia a psique, especialmente em relação áÚ~iàJ, '6tie~er~ los? Aqui, mais uma vez, existe uma profunda diferença
gia psíquica. '" ! J 1 ~ 1.,'",
nos pontos d~ vista de Freu~, ~. ..rung;~l~s~çmc?rdavam
que o sonho é o caminho régio'paráü'iíí.cOIlsCiénte, mas
Aquele livro custou-me:minha amizade com Freud, pois
ele não o aceitava.. Para.ele, o inconsciente era umproduto discordavam quanto ao destino dessa estrada. Freud acha­
da consciência, qy.e sim.plrç.sllJe.iJ..te co.rl~~1Jha ?U(:i.o,o que dela va que ela levav~à descoberta dÚ's desejos inconscientes,
sobrava; era Ulr;t tipo de ,q uar~o 4e d,espejo 9nde toeja,s as e que a naturezasimbólicà dos sÓnhbs"pôd'éria sei expli­
coisas que a consciência -descartaüã' efá,.n: amontbàdas e cada ao se po~t).lla'r aJ~m dp(rq~ 'c8D;s'hrq.Jung 'não acei­
largadas, Pará' mim, ja 'naqueld época! o inconsciente êra tava essa i~~l?,çl~J,ei~~. ge,nplJ-n.1;, E?le Go~sideràya '9 :\30 nho
uma matriz, Uma base de consciência: de uma natu-r.eza
criativa, capaz,de',atos·autônomos. J' '..J. < :"nJ~1
um produto da natureza. A natureza p.ão' engana, ela ape­
f..'-' I 1_. ~jf. /" }1
nas fala na sua própria linguagem; 'e depende de nós
aprendermos essa linguagem, chegar a uma compreen­
Jung passou, então, por' uma\profú'nda'experiência são dela .." ' ., ", ' : ,,,' i'i i I"
do inconscien'te, de'1914 ai 1'9-18, e foi'néssa épqca" que 'ele Oss'Onhos' falam';\sim,: uma lingüagemsimbó1icà
fez a descoberta pesso~l e'ilT!-ediatad9 inçonsci~nt~ cole­ em relação a qual devemos adquirl'ta'Ca'pacidade:dé'coni­
tivo. Freud descobrira o irÍçonsdente, mas"ap~n~~ sua preender. Existêm,tambéhi, diferenté's níVeis de sonhos
dimensão pessoal, que'é;ceFtamente; muito.reabOs con­
- sonhós super.ficiais esonliós profundos;'son'hos peque~
teúdos do inconsciente de J,i'reud referiam-s~'apenas à vida nos e grandes sonhos. 0s grandes sonhos possuem;' em
pessoal do indivíduo, à infância'em'particular; e':q.quanto
seu cont~údo,.imagens aiquetfpicas: Os 'sonhos menores
o inconsciente coletivo; descobriu Jurig; àlargavaimen­
",' , parecenicletivár do:iricon'stiente pess6aJ;'é'os sonhó'smai'­
samente as perspectivas da psique individual. I~so se deve ores têm"> mais' do' que' ürilàreléVânCià pessoal: 'Eles 'S'ão
.'} ,": , , , , , '1 'J relevantes a toda 'uma cornunid:àde, ou sociédadé, já que
r~ "'r;.'{,i~;,r("",;lr'i"-I' ",~'1~~
7
"(

A versão literal da edição alemã or!ginal' de 1912, Wandlungeri ulld os fat6f.és) afquet'ípicós"qctedeterfuináin 'a éxistêriCia in­
Symbole der Libido, seria Transfõrmatiõris andSyíiibôls bt.tM <Libtdó" em \Jota dividual também estão op:erantes· na)coletividade mais
em inglês o livro tenha se chamado On the Psychology ofthe Ullconscious:.~m
uma edição bem revisada de 1952, o livro passou a se chamàr Symbols of ampla. E tanibéfué vérdade'<lue, em"àlguns casos, pode­
Transformation, CW 5. (Nota do Editor) Em português, Símbolos:da Transfor. se percéber uma sabedoria'impressiónanterevelada nos
mação, (Nota do Tradutor) , ~:l, ' . . . . ''''" "
8 Jung, "The Houston Films", em Maguireáhd Hull,eds., C, Q, sonhos, sabedoria não apenas do presente e do passado,
Speaking, p. 339, , " mas às vez~s, sabedoria do futuro ..
16 17
Jung demonstrou que o inconsciente funciona para
periência. E se vocês refletirem sobre a experiência, po­
além das categorias de tempo e espaço. Isso significa que
derão começar a dizer algo sobre ela. Normalmente, é bas­
um evento relevante ao qual um sonho se refere. pode
• ~JI
tante útil refletir sobre as versões iniciais de tal expe­
encontrar-se no futuro, em vez de no passado, que o evento
riência, então podemos considerar as versões iniciais da
futuro está projetando sua sombra para trás, por assim
consciência. Por exemplo, em sua autobiografia Jung des­
dizer. Para o ego racional, é difícil aceitar essas coisas,
creve sua expétiência de' tornar~se consciente mais ou
mas existem dados muito claros de que essas coisas acon~
menos aos onze anos. Um dia, sem mais nem menos, foi
tecem. '",
" como se ele saísse de nevOéiro' e percebesse: "Agora eu um
sou eu mesmo, agora eu existo". 10 Antes disso, esse conhe­
"
A criação da consciênciÁ "
, f'\' I
cimento simplesmente nunca tinha ocorrido a ele.
: ; ~ ts ~ ,,'I 'I , : " ) ~..t
Consciência significa, acima de' túdo, estar ciente. E
,i
significa.não apenas estar ciente dós objetos, pois até
A consciência é umJfatorJ, e existe, um· outro, ' tão impor­
tante quanto ela, o ~nc:ons~iente/ que pode interfer,ir na cons­
os animais o estão; os' animais não ficam se chocando
ciência na hora que quiser. E claro que éu dissf! a mim com os objetos, eles estão cientes dos objetos e mantêm­
mesmo: "Mas isso é muito desconf9rtável, porque eu acho se afastados deles, e q~ando eles vêem vocês, reconhe­
que sou o único mestre' em miríhacása". Contudo, deÚiJ cem vocês e mantêm certadis'tã.ncia. Então; eles estão
admitir que existe um outro alguém nessacasa.que pode cientes dos objetos, mas não estão cientes deles mesmos.
fazer umas travessuras. 9
EssG\ ~ a, ,car~ct~rís:q9a F1J.~ial ~a,c~:hsç~ênci~: ~ conscjên­
i ; '. "
••' "_o • ,\

. '~;I, '~'~:, '. ~ • ;u;r


cia éci~nte êIe si,me,sma, é oego fica:n~ociente de si mes­
Quando procuramos uma definição, estamos,tentan­ mÇ). Quando Jung saiu' do 'nevoeir9 e percebeu "Eú sou",
do conceituar uma experiênciª ou uma entidade. ,A pró­ naqu~le exato mom'ento ó ego estàvàpérceb'erido~se como
pria palavra "conc~ito" <:arrega consjgo a ~~agem de cO+I1.­ um objeto.', I, "','! ~ " , , " ' ,",

preender essa experiência pu entidade, E para podermQs , , Esse é o grande mistério da consciência, e~a tem o
compreender alguma;coisa, devemos ter um alcap.ce gran~ . , " ," , "i i . . . ": ' } ' . . • '

poder reflexivo de olhar para o espt'llhoe se epxergar como


de o suficiente para podermos incorporá,la. ~o entan,to,
um~'irrUl&em ~,eparad~.Não éflP~nas u~,~cid'enteo fato
muitas dessas entidades básicas são t~o grand~s ql)e se de Iahweh, no Antigo Testàmento,'expor sua identidade
tornam incompreensíveis pa:r;aQs meiQ.8 raçionais,.e tu,ç1ó
como "E~ sou':.uAcho qu~~xi~t~\~mà'Iig~~ão entre a psi­
o que podemos fazer é fal,ar s9qre o assunto, rod~~ando.~Q, cologia da' conscIência'e a im.ágén; si~bólica de Iahweh.
olhando para os seus dife~entes,aspect9s .. I; J, ': j ; : Vejam o q~e acontece com a desê~bérta rev61uéionária do
Então, deixem-me tentar fazer isso com a entidade à ,\,' " " '" °1

"Ellsou". E um nascimento, coÍno vocês podem ver, o nas-


' , ., " ", : , • ",~,,'

qual chamamos de consciênc.ia.':... '~' " ~ . , l ,. . ~• ..' " • " . t, • 1_ " . ' ", .

Thdo o que sabemos da con$ci~ncia é ,o que 0ê indi~ ~. , :,\ I', j J ...

víduos experimentam; é um termo de!?creyend~rurria ex­ , IO·Memories, Dreams, Reflections, pp. 33s. (Ver também "The 'Face to Face'
Intervle~", em 'Maguire and Húll, eds., C. G.Jung Speaking, p, 425. - Nota do
, > ~. ~ ':: Editor),
p.340, 11 Ex 3,14. (Ver Edinger, The Bible and the Psyche: lndioiduation Motifs in
.' I the Old Testament, p. 48. - Nota do Editor) ,
18
19
cimento de uma luz que n~o existia ,antes, E;! () que ela, ciência se desenvolve, separando sujeito de objeto. Eu sou
traz consigo é uma maior consciê,Iícja dflsobgrania d9.ego. o sujeito, e todas as coisas com as quais eu tenho de lidar
No curso de perceber a própria exist~IíÇi~, () ~go p(;')r­ •q do lado de fora são os objetos da minha percepção .
cebe, simultaneamente, que ele .existe.:em urrLamb~~nte, Agora, o mesmo aconteçe no mundo interno. O sujei­
e que há objetos e Qutr,as pes.soas qlJ~o tambépl ex:is.t~m. to descobre. que Oiitconsd~:ritéposs'l;li conteúdos qu'e são
Ao mesmo tempo, o indivíduo perc;eQe qlJ.e "l-, cO~$ciêf,lcia objetos da>lpróP.ii'a s~bJetividadé. E'eu';possó percebê-los
interna é um reino sep,ara,do'que nã()pocle.~ex,pen,e~r~d,o; como objetos,'ê'fa'la~ 'delescqmo's~ndó psiq'l;le objetiva., a
é inviolável. Essa é a fonte do siml;wlismo do r~i, ,Q. r~C9- No entanto~\jéiã que posso·també~ êlizer que'a psique
nhecimento de que a c'Qnsciência tra~ GOI).sigQ uom Sf;I}$O objetiva que eu percebo cóniô um' óbjeto' é~ 'ela própria,
de soberania. E esse é osentjdQquet"l-n,tós,f; fl?::pap.diu, na, um sujeito, que me percebe como um objeto? E a resposta
sociedade ocidental W?S \Íltjwo$ :quinh~I).tos 'a,nos: â. per­ ..seáconsciêncja existe, ela tem de
é: "Sim", Por definição, ,.."
cepção do ego d,e s\.!.a s9.b~raniq em ,rela,çã9 à natur€)z,ae ter um sujeito, ela:"tem de ter uma base onde possa se
ao mundo. '" . apoiar. Esse é Q sentido -'da palavta;sujeito.
À medidâ'que admitimosqu€j' o inconsciente possui
uma consciência, admitimos que ele é um sujeito, que pode
A consciência no inconsciente "
olhar para mim e se relacionar comigo como um objeto.
Esse é o fenômeno expresso simbolicamente na noção do
Estamos falando da cOrisciência 'e seus muiÚplo~as:
o Olho de Deus. 13 •.- . '
pectos, o que traz à tona outra: pergUnta, que seri~: "EXiste
Vejam, 'uma das características da expgriência do
consciência noincclIisciénte?" E a resposta é:'''Sim''. ~ung:
Si-mesmo é ser ooservado pelo Olho dê'Deus,' Uma expe­
discu te essa questão hô importantíssimo' texto' '''On the'
riência muito inquietadora essa de ser observado com to­
Nature of thEi Psyché",12 onde mostra'que a corisdênt{à
tal objetividade por um sujeito interno que nos trata como
existente no inconsciente é difusa e parcial. Elà não pos'­
um objeto. Ao serm'os tratados comoóbjeto, não somos
sui a clarezà de enfoquequekúonsciência dp ego po'ssui;
mais soberanos. Enquantõsônios'o sujeito, somos o sobe­
ela é de uma natúreza 'diferente e talvéz seja 'descrità1
rano, o soberano que examina o seu próprio reino. Mas
melhor como consciênCia latente. 'Isso, t~mbé'm' significá'
queoinconscienteéumsujeito.t '''0
:~_·L,!I., ,) quando so'moso,objeto; o 'sujeito que está olhando para
nÓs.é'o,·soberano examinando o rein'o dele, e esse fato nos
Parte do fenôm~no'da: consciência'diz r~speito à âis~)
leva eíndireção a todo o simbolismo'assóciado ao arqué­
criminação entre sujeito e óbjeto, Estou ciente',cl.e quesoli;
um ser consciente; sou o' suj~ito nessa: consCiência. Quan:', tipo:dd Julgamento Final.
do olho para o mundo, vejo objetos e, nO'processo'de~e
.", ,; .-,j.

, ;.~
"I '
separar da identificação com esses objetos, ocorre uma se­ " ~ 1 <, ..)­ ,

paração entre sujeito e objeto. Essa é a forma'como a tons-, ~ 'I'


13 yer ,Eding~r,(('{!e
çreatiof!.,;r;.Consciousness: Jung's Myth for Modem
Man., é5p. pp, 4255,; também Eding~r, The Mystcrium Lectures, pp, 218f. (Nota
12 The Structure and Dynamics of the Pf?ychg: 'CW do Editor) ~ ,I ~., , '

20 _________ 9.L-._
A estrutura da psique nos adaptar à expectativa dos outros. Mas o resultado é
que todas as profissões tendem a desenvolver sua pró­
Persona , I._.)
priapersona. Temos, assim, ap~rsona médica, apersona
Todo modelo da psiquedeve começar pelo ego. O ego eclesiástica, e assim por diante. E claro que a análise tam­
é a base da consciência e o centro subjetivo' do senso de bém possuipersonas, apersonaanalítica, o fato de se tor­
identidad~ do indivíduo: Desse modo, tudo o' que 'existe nar uma tela de projeção em branco, embora essa não
na consciência deve estar rélacionado' a uJ!l ego,. a úm' seja aprovada pelos analistas junguianos.
sujeito. é o ponto de partida.·,- .... - ., J.. , Desse modo, apersona.é ·a:entidade psíquica que
opera entre'o ego e o mundo externo.Agora, quando olha­
mos na outra. direção, para .dentro, o que encontramos
primeiro é a·sombra: Essa é aparte inferior da 'persona­
lidade, onde. se· encontram todos ,aqueles aspectos que o
indivíduo"considera indesejáveis; escuros,' até mesmo
demoníacos, emJ si mesmo. Em geral, não os ,reconhece­
mos por serem muito desmoralizante13. Essa é a primeira
... coisa com à qual'o indivíduose'defronta aO'se s'lJ,bmeter a
SOMBRA
" uma análise profunda. Abaixo dela encontra-se o que cha­
mamos ,de.anima.e.de alJ,imus ,a,anima .representandoa
ANIMAI ANIMUS imagem feminina no homem, e oanimus, a imagem mas­
culina na mulher. A projeção de animus ou: de anima é,
muitas vezes, responsá,velpela experiência do apaixo­
,\';
namento ou~:de modó inverso, pot. uma imensa aversão.
: l~Jj Por trás dessas imagens estão a Grande Mãe e o Pai Ce­
J' .. ; .~ \
"{

" leste. ,E.·bemno centro.da;psique, se alguém conseguir


chegar tão.· longe assim; está o Si-mesmo, a imagem in­
Então, segundo o p1odelo de,Jung,. ao se olhar do:ego' ternasle Deus. • :_ .~'. , t i '
para o mundo externo, existe uma função, uma entidade,1
que ele chama de persona, palavra latina q1,lesignifica a: - ,
Sombra'
máscara do ator, e que é parte da palavra personaHdadeJ I, . . ':.
Essa função psicológica permite que o indivíduo funcione Comecemos'com um.exame sobre como a sombra é
como um hipócrita. Uso essa palavra especificamente criada~.- Pois ess.eé. () pano d.e fundo da sua própria
porque hipócrita é a palavra grega para ator, e :~(isso que integra.çãQ. Dura,nte a inf~ncia é a adolescência, à medi­
somos quando funcionamos através dapersona ..Claro que da que o egose desenvolve;.é'de vital.importância que ele
ela também representa uma. funçãdde adaptação, ';lma estabeleça um senso :de .autonomia perante as outras
marca da nossa ligação ao ambien'te, para que possamos, pes~oas e:.o -mundo externo. É por esse motivo que, du­
22 23
chegar à conclusão: "Na verdade, não sou a pessoa boa que
rante alguns períodos da infância,' as .cr:ianças. dizem eu pensava ser, eu realmente tenho todas essas qualida­
tanto "não". '::~,.
des desprezíveis". E isso pode ser muito desmoralizante.
Vejam, temos de ser capazes de,dizer '~não" 'Para po­ Como o indivíduo' se protege, para não cair nessa
der estabelecer nossa distância perante os outros.: O ego sombra arquetípica? Eu: só conheço uma maneira segu­
não consegue se formar com uma concordância perpétua. ra, que é ficar ciente da: existência'da sombra arquetípica
Ele não se estabelece dessa forma.'Assim, àxnedida que o como algo distinto da sombra pessoal. Em outras pala­
ego se desenvolve, ele diz;, "Não~:eu não gostQdissÇ>,.gosto vras, uma compreensão intelectual desses diferentes com­
é daquilo"; ele diz: "Não,.eu não so.uassim,.s.ou.assado; eu ponentes da psique já' pode ser uma grande ajuda. Pois
sou bom, não sou mau'~. E aoJazer' todas, essas,discrimi­ aí, se tudo correr bem, virá à meI1te a' idéia: "Ah sim, li a
nações, ele cria a sombra, .0 .recipiente ,p'ar:a o.que nãoé. respeito diSso no Jung;compreendo o que é e estou ciente
É de vital importância que um .ego jovem. se .sinta
de que não dev6me identificar com isso\'.
mais bom do que mau. Se.ele:c.ai na certeza delsermais
mau do que bom, torna;'seum caso perdido. rEntãó, ele co­
meça a viver a partir.dessa idéia, e., aí temos ,a crimina­ Anima e aiúmus
. ~
.) '" ~ .'.'

O arquetipo' é u'ma'rorça. Elé temu;na auto~of7.1-ia e pode,


"

lidade e todos.os tipos deéomportamento anti-socü,!1.Por


isso, o ego deve. seícoÍlv,enc,er. de .qUe_é/mai,s .bom do; que apoderar-se de você de repente. É como um ataque repenti·'
no. Apaíxohar-se a primeira vista 'é alguma coisa pareci­
mau. Mas e o que .acontece aJodas:aqú'elas cái::acterísti­ da com isso. Veja, você posslúcerta imagem de mulher, da
cas assim cha,madas.negativas, quede nega possuir? Elas n;ufher, dentro d? voçç'flteslXw, sem o !)aber. Aí; você vê
vão para a sombra,.para. o inconsciente., ,.~ ',,;!. essa" moça, ,ou, pelo menos,. uma boa imitação "dela,. e .na
Acima e além da: soinbta pessoal, ·há ,tambémo. aF­ mesm,a ~Ora.voc~ sofre um ataque . e l{ocê está perdido. E
quétipo da sombra. Na .culturajudaico:,cristã"ele é.nor­ mais tarde você pode chegar à conclusão de ql.le fora um
enorme engano: Um' homem 'é'capâz, ele é inteligente o'
malmente personificado pelo, :diabo. : Quando a t sombra bastante, de perceoér que d mulher que ele "escolheu", como
pessoal está inconsciente·; elase.funde ,com, a. sombra se diz, não foi u.n;a escolha dele, eleloi'capturqdof,Ele sabe
arquetípica; e.aí não há m~is:uma.discrimináção·claFa q!le ela não é.legal, que ela é Um grande problema, e ele me
entre o pessoal e o arqúétípico, e;o ,individuo encontr:a-se ,
conta
',
tudo
.
isso. Ele diz; "Pelo !amor
r ' ! '. ' )'.' ,
de Deus,
l~'I't
doutor, aju­ '

aberto à possibilidade de realmente su:cumbir- à:posses­ de-me a me livrar dessa mulher!" Contudo, ele não conse­
são pelo arquétipo do mal. gue sair, ele é como argila nai mãos"clelcL Esse é óarqueti­
po, o arquétipo da anima... Coni' as 'mulheres acontece o
Mas, em algum momento, mais ou menos n~ meta9.!'l mesmo: ,Quando .um homem canta muito alto, a moça acha
da vida do indivíduo, se ele estiver destinado ao desenvol­ que ele deve- ter um caráter espiritual maravilhoso, pois
vimento, esse processo de relação_com a sombra;.deve ser ?le c·on,segue atingir 9 dó agudo, e ela fica extremamente
revertido. Ele deve começar~a recupera!' todos aqueles.as­ desapontada quando casa com esse homem em particular.
14
pectos negativos e inferiores que ele,rejeitóú nO.processo Bom, esse é o arquétipo do animus.
prévio de formação do ego. Mas esse~é·ur:ú negóçio.artisca­
do. É arriscado porque se o indivíduo for inunda,do de ma­ 14 Jung,. ~'The Houston Films"; em Maguire and Hull, eds" C. G. Jung Spea·
neira muito abrupta pelas qualidadesi.da-:sombra,. pod~ king, p, 294.
25
24
Jung diz que a assimilação da sombra é. a.tarefa
res, poderes divinos; de sedução e encantamento, orien­
ou opus menor, e que a assimilação da anima é o' opus,
tação e elevação espirituais. Ela pode tanto tentar um
maior. 15 Não é muito difícil obter algq.ma consciência so­
homem até. a sua destruição total, quanto levá-lo à sua
bre a própria sombra; está dentro do alcance da maioria
maior realização. Essa é a amplitude de suas capacida­
das pessoas, ao lhes fornecer alguma in~trução e assis­
des e não preciso nem dizer que um ego racional sozinho
tência. Parece ser muito mais difíçil, todav~a,' tornar. a: não consegue:,dar.conta-,de:·uma entidade de tamanha
anima ou o animus conscientes. :'
grandeza. Mas elaé isso mesmo.· r.: .. "
Não são poucas as pessoas desavisadas, que I1ãj) re~' Deixem-me repetir: -isso não é um conceito, mas uma
conhecem nem a exist~ncia empíricaq,à anima ou do
realidade empírica Niva, que ,pode ser!demonstrada se
animus. Elas pensam que são apenas conéeitos, idéias;
vocês se derem J ao· tràbalho de olhar: pelo telescópio da
dispensáveis em suas vidas. Mas eles não são apenas con­
psicologia profunda:. ,(Estou'pensando no' telescópio de
ceitos, são organismos psíquicos vivos que êons~guimos;
Galileu, pelo qual as ,pessoas! se recusavam a.olhar por
reconhecer e dos quais tornamo-nos cientes somente quan­
não querersaber.que Júpiter tinha várias:luas.) A gran~
do passamos por uma experiência que nos, torna cientes'.
de manifestação inicial~dadnúna!é; quase sempre, por
Contudo, é necessária uma boa dose de insight para
chegar a essa consciênCia. " '" . . .. \, meio de uma projeção.'Um homem :C:onhece uma mulhep
que lhe .salta aos olhos ,e se apaixona: 'Esse· fenômeno· é
Falarei primeir;:)' da animâ 'no homem.' ,
uma projeção de anima.tTentem lhe.dizer, isso nesse mo­
A anima éilma enÜdaderiéa; conÍplexae ambígua, mento e vocês· não chegarão muito.longe~ Mas a' projeção
que contém muitos 'aspecto's diferentes; Ela'penetra'bem pode ser demonstrada.,' Eu i não l falo ~isso \paradepreciap
fundo no inconsciente coletivo 'e possui u.m aspecto "forte­ essa experiência, de forma algum á; chamá-la de projeção
mente arquetípiéo. A anima també,n1 incorpónl todas as significâ~que sua.força vem dedentro,-'não deforà, mas
experiências importantes que o homem tem :de:uma. mu­
issôde maneirafalguma'diminui a sua! importância.
lher. Tudo isso é construído na imageIll daa",im4" de " Às vezes, a projeção pôde .acontecer de Uma vez só,
maneira que ela se' torna uma entidade fataL Fatalidade como·noambrà primeiravista,mas\ela:pode cair de uma
é uma das palavras~chave quepoclêm ser ápli'cadas à
vez SÓ" também. A pessoa, precisa apenas enxergar uma
anima do homem. Quárl.do aàrl.Íma é\ ativada, pode-se pontinha da falibilidade, ou dos defeitos pessoais da mu­
saber que alguma coisa ,fatal ,está .para, aéimteêer, seja
,.. ". • .; ~ , ~' " • • ,. • " "', , J' •
lher real; umà única' vez,.e issó pode ser. o· suficiente pára
para o bem ou para o m a L "
que toda a projeção colapse, desaparecendo no vento. Em
Assim como acontece'com todos os arquétipos, aqni­ tal casoi issô:significa queorelemento fatal da projeção não
ma é uma união paradoxal de opostos: Ela é, i:io mêsmo foi ativado:, Quando o elemento· fatal da 'anima é ativado,
tempo, uma prostituta e a Virge~ 'M,aria. Ela tem pode- quando ele encontrá 'Uma mulher em particular lia qual ha­
I .. • . . . :

bitar,então'essamulher torna-se o destino do homem, para


15 "Se o encontro com a sombra é a 'primeira obra' no desenvolvimento
o bemoupará.·o mal;.e pormáis que ele se debata, ela o tem
individual, o encontro com a anima é a 'obra·prima' ". (The Archetypes and the em suas mãos. Um 'exemplo clássico disso está em Carmen,
Collectiue Unconscious, cw 9i, par, 61). (Nota do Editor) . '
a ópera, mas os exemplos, claro, estão em toda parte.
26
27
Um outro modo pelo qual a ahima,pQde se ma:r:ifes­ O animus é, por um lado, o melhor guia espiritual
tar é por meio da possessão dO.,ego,.e!D VflZ de;exer,cer um existente, ou salvador, e por outro, um estuprador
encantamento sobre ele, por. meio de,uma projeção.exter­ lento. Os dois lados estão 'i::óntidos na' mesma imagem.
na. Se o ego cair em umestapo de .identificação. com, a Não é pouca coisa uma mulher 'conseguir integrar essas
anima, então o homemJoma-se meio,eferrünado,chorosb duas imagens, reconhecê:''las éoin:b uma unidade. Um dos
e ressentido. Isson?o .é . incomum. Qua1)do. a',anima maiores empreenditnéntos psiéólógicos que Há é alcan­
manifesta como possessão, de ~mas, qualidades inega: çar tal grau de integraç'ãó, _ser 'capaz de' enxergar para
tivas prevalecem;;Ilão :h;tum .l:1Qlido, operante, para além dos opostos, réconhécet que etes'são dois lados do
se relacionar com elad.) que acontece entffio: é qJ,.I.e· O~ego mesmo fenômeno; 'E eles são mesmo: . r,
cai em um compo:r.tarngntõre~esstvo,.infantil,~de un),jei; De modo geral; o aniniustem máis a verébma men­
to ou de outro; o~,<}spectQmJiterno dª afúmq:.é :;ltj.:v:.adq te e a anima corn:ocoração, de modo que ocohhe'êÍménto'
internamente e o.ego .ficá. esperando ,de :tpdo:s :lllp.a· :rela~ dessas figuras:é da forma como elas' funcionam riapsiqliEi'
ção de I)1aterÍlag~P1. Emyer§ões meIlOsexJrernas;:JerrlQS é extremamente útil para se compreendér;o que acontece'
o que chamamos"de)huniox8s;~de_llnima, ,q\le,,~mgeral nas relações íntimas.
aparecem quando há JJ.ffi. conflito 1)a r~lação. A ']ilulhex Vejam; em todo relacidnamento entre" os' ddis sexos
cai em um humor de animus, o qual menci.onáre.i datJ.lli a há, na verdade,quàt:i:'o jogadores: ó ego do homem e ó dá.·
pouco, e,o homem é.pre~flde um.humor d~ ani"!;ÇL. Phti. mulher, .aaninü:i:'do homem e 'o ánimusda mulher. Issó)
mor de animu$ çaZ:ªêteri.za~se .por~}1IÍl opiIlar,agressiy,Q, e pode ser ilústtado da seguiiite inaneira: 16 . ,";;~ ,. i
o humor de anima por'-\lm.a.q\lêix:aSesse,Q-tida.:) l.' c.;<; :,..... r ,~ 'i ,T 'li. { , , t. (

Agora, vamos faJar do·aaimu,s .i· .'i' ) '- .


do qUe lel! disiSe .sobre a à,nü:natflmbém:se
aplica ao animu~ dê. UnlçH l1lIlIwr. Vejam, awOa.s.as imaÍ ego
gens têm sua raiz,·no.s~-m~smo :e, ,de.ssa. maneira, pos­ da mulher do

suem a imagem de PellS em selJ. n\íçleo, QU .urna face da'


Imagem de Deus. Coloqve.mrnas jUfltas"çoloquem-nas
em uma sizígia, em \ln} par inqi$s,o.lúy,el; e eptão .voc~~ "t,
, í
.
,'" ~ ,

terão a combinação, a.,cor-iunCtiQ"as .d:uasda Imã 7 " ,.


! -fl

gem de Deus. . . ' L . ) ~:' J ,1.\' ,j 'f", ~\ "

Assim cOmo a animq, o,C!lJiPJ.l!,S ~fh~m~do a p,artir .d~ " ' , ~I' ). 4 I

uma combinação de fatores Jlrquetípií;o.s ,8, pe$soais, E;


com certa freqüência, assim como a roãe,pessoaUemum"!.
contribuição a dar à anima do homerfuJambé.m'o pai dá , ; ~" ... '.,\ . .,
uma contribuição enorme para a imagem realdo.a,nimus ')

da mulher. Os mesmos fatores fatais aplicam-se, ames, . "1''' I: " rr! ,(. I ~, I '

ma ambigüidade, a mesma união de op.ostos.. _: 16Diaira~f!adaptad,o dp 1isçp~q 9~'.Jung em "The Psychology of the
dor.,,..,,,,,", The Practiée af Psychotherapy, CW 16, par. 422. (Nota do Editor)
28
29
Quando um homem e uIl).a mulher se gostam e co­
casa, existe um outro que viveu aqui durante todo o tempo,
meçam um relacionamento, primeiro haverá. entre ele~
e eu nunca o conheci", Essa é uma experiência grandiosa.
uma relação no nível consciente. O homem, consciente­
O protótipo disso é, naturalmente, a experiência do
mente, gosta do que a mulher: é,.e vice"vers<;, e ele~ come~
outro externo; todos nós vivemos essa experiência bem
çam a se relacionar nesse nível; esse é o primeiro e mais
cedo em nossas vidas e aprendemos a nos ajustar a ela. A
óbvio nível. Mas aí, os outros jogadores entrqm na jog~­
criancinha perCebe que não é o centro do universo, que
da; se houver algum tipo çle profupdidadena relaçao de-o
existem outros centros que exigem a' mesma considera­
les, a anima do homem s~rá projetad,a, a tada à mulher, e
ção que ela. Isso então leva ao fenômeno da socialização
o animus dela será projetado no homem. Aí então temos
do ego, à percepção do outro externo. A experiência do Si­
um intercâmbio mais complexo, pois:ohomem . passa a
mesmo é a versão interna dessa experiência e, em alguns
enxergar não apenas a mulher da qual ele tem consciên­
casos, o impacto é tão grande 'que estilhaça o ego. Pode
cia, mas também a sua projeçã.o de anima; e a mulher vê
gerar uma psicose, esse tipo de experiência. Mas quando
não apenas o homem do qual ela tem consciência; mas
também sua projeção de animus. . o ego está desenvolvidó o bastant~, de modo a ser capaz
de viver essa êxpetiênciá, torna-se possível assimilá-la.
E ainda fica mais complicado,'pois o animusda mu­
Agora, o que acontece com certa freqüência é quê, se
lher vê a anima do ,homem 'e começa a re,agi,~a e~a; e-fi
há algum sistema' 'religioso ou mitológico à disposição do .
anima dohomem ..vê,o an.imus da mulher e reage a,f~l~:
indivíduo, a experiência sêrá assimilada den.tro dessa'
Então, como vocês, podem ver,. esse intercâmbio pode fij
formulação religiosa em.particular, e sêrá descrita como'
car bastante complexo. Quandoduas pessoas entram em
uma experiência de Deus,dentro'dos preceitos dessa re­
disputas ou desentendimentos, uma consciência dessa
ligião. Mas o que temos em mãos agora, pela primeira
fenomenologia estr-utural é uma ajuda para se resolver
os problemas. . . vez, é a oportunidÇ\.de de .criar uma ciência empírica que,
diz respeito a 'esse'nível de realidade: psíquica. Sempre
o Si-mesmo tivemos inúmeros credos de diversas formas; mas nUI).ca'
7 '\
." tivemos uma ciêncía empíriça desse fenômeno, e foi'isso
que Jung disponibilizou para nós.
O Si-mesmo é algo -realmente·imenso. É com ele ,que
I{ I , ~ ~

.
,', '\
você se encontra ao descer:ao fundo do inconsciente co­ ~ í I'
letivo. Uma das características dà-experiência;do Si-mes­
mo é que ela nosJeva a uma consciência .de que existem Individuação " f ,0 '\t

;. ." j \ I ' I'i' ) , .l


dois centros na psique. Essa.foi uma desçobérta,gran­
Individuação é um termo muito usado por J ung para
diosa do século vinte, feita por Jung, a existência 'de dois
centros na psique individual, em vez de um. O ego é um descrever todo, o processo psicológico no qual o ego torna­
centro, e o Si-mesmo, o outro. E quando a experiência do se progressivamente consciente de sua'própria natureza,
Si-mesmo irrompe no indivíduo, na mesma hora terp-se de seu background, e da base à qual ele está ligado. Uma
a noção de que: "Não estou sozinho, em' minha ,própria outra forma de explicar a individuação é dizer que ela é o
processo pelo qual o ego toma consciência do Si-mesmo e
30
1
se relaciona com este; ou que é o processo pelo qual o ego
experimenta'uma diferenciação de suas iden­ gem por meio da qual ele assimilou a expe:-iência. E, de­
tidades coletivas. .,, \_' '; pois disso, em suas cartas, ele descreve a SI mesmo como
O conceito de individuação abrange uma área enor­ o "escravo de Cristo" (a tradução inglesa suaviza a ex­
me. A palavra possui'a mesma raiz de indivíduo, o que sig­ pressão e o chama de "se1!Vo",mas ,no original encontra­
nifica que é muito. fácil confundir individualismo com indi­ mos d'u'ls, que significa escravo). Esse é o efeito de um
viduação. Gosto muito, do Emerson, e ele é bem relevante encontro decisivo com o Si-mesmo: Ele' gera um contato
para toda essa questão, pois ele foi o grande expoente ame­ com uma autoridade que carrega um tipo divino'de qua­
ricano da dignidade e da amplitude do individual Ele é lidade, de maneira que o sujeito sente-se obrigado a sere
tas vezes mal compreendido porque as pesSOas aéham que vi-la. O resultado é que o ego fica' relativizado. Essa'é a
ele prega um tipo de individualismo egoísta, o que não é ver­ maior conseqüência da individuação" o que ,é muito:dife~
dade. Em seus ensaios está claro que ele tinha a consciên­ rente de individualismo, ;. -. ,'.'" .
cia intuitiva,do que Jung chama'de Si-mesmo. Vocês podem Anteriormente, falei ,dó ego como se fosse um-peixe
encontrá-la no artigo ~'The Over-Soul",F por exemplo. em uma lagoa, que nãdtem consciência do meio rtoqual
O século dezenove ainda não possuía a consciência ele vive. Da mesma forma, o ego primitivo e imaturo existe
conceitual dos dois diferentes centros da psique,'de modo basicamente em identificação com seus arredores., Ele
que o comportamElntQ egocentr::ido e o, comportamento possui apenas uma.consciência,frágil de sua :existência
centrado no Si-mesmo-não podiam ser: diferenciados. Isso individual. A maior parte das energias e dos efeitos da
leva a uma confusão e à má c,OmpreensãQ de pensadores psique são experimentados como algo externo. Isso está
como Emer:son. Contudo, individuação não é i:pdividua­ expresso naquilo que chamamos de fase animista da reli­
lismo. O individualismo é o engrandecimento do Elgo, en­ gião, quando espíritos animados são percebidos como en­
quanto que a ipdividuaçãQ s~ refere ao processo por meio tidades existentes em nossos arredores: "Algumas á1!Vo:
do qual o sujeito descobre a rea,lidade do Si~mesrno, o se­ res ou animais possuem espíritos animados, e uma pessoa
gundocentro da psique,e Elntão reJacionao ~eu modo de; primitiva, ao ter de tomar uma decisão, diria: "tenho de
vida a essa liga:ção. " ;. " ;~l' ,:j, consultar o meu espírito da árvore"; ou "tenho de consul­
O paradigma clássico do mito cristão para esse tipo
tar a minha cobra que vive em um buraco ao lado da mi­
de experiência é a conversão dEl Paulo no caminho de Da­
nha cabana". Esses são exemplos do que chamamos
8
masco.1 Ele teve um encontro com o Si-mesmo,rsimboli_ animismo, e eles ilustramo'fato de que.a psique primiti­
zado pela imagem de Cristo, e esse encontr~'t~~n'sfo~mou va encontra-se exteriorizada:..- o individual está espalha­
sua vida. A partir daquele momento: ele não eta,rliais um do por toda a pàrte:,' ,_. \1 ,
homem egocentrado, m'as úmhomem centradQ.no,Si-mes_ Algo semelhante 'acohtéce"ao hbmem,modetno nos
mo. Ele chamou o Si-mesmo'de Cristo; pois essa foi 'a ima­ primeiros estágios de desenvolvimento egóico. Todos nós
começamos identificados com o ambiente e com as pes­
l7 Emerson $ artigo ix.
soas que se encontrarn nele. É isso que torna -a opinião
18 Atos 9, dos outros tão extraordiríariamente.ünportante para os
32 jovens - a psique deles encontra-se nos outros., ;,.
33
Agora, o processo de indi~iduaçãq, cómo Jung o con­
cebe, é um processo atr,avés,do ql!-aJ o indivíduo coleta, Ao longo do processo de diferenciação da identidade
progressivamente, esses pe,daços de simesnw e "devolve­ e realidade individuais dos outros e do ambiente, o indi­
os" ao recipiente ao quaIeles pertencem. BoIll,"devolver? víduo também se diferencia dos fatores internos. Vejam,
não é bem a palavra çerta, pois, p,ata cOmeçar, eLe$ nuncá essa desidentificação procede à medida que o 'processo
estiveram lá. De qualquer modo; ~(transfere-os" de ,S1.la lo­ analítico revela os .fatores internos, como objetos.
cação externa pÇlr~ a unida,qe conteI1tora, qa psiql,le indi­ Uma vez que um fator interno é percebid(l como um
vidual. E ao fazer isso, o indivíduo descobre coisas notá­ objeto de escrutínio, ele é percebido em ~ua diferença e o
veis. Ele descobre que ~ dife,rente de seu grupo, de $e11S ego não pode mais identificar-se.:com ele. Assim, o indiví­
amigos, de ~elJ cônjuge. duo pode tomar consciência da sombra, e se. relacionar
Veja, enquanto nos identifica,rIllos, torÍ:l, o.utras pe,S­ com ela, sem cair numa identific'ação com ela, ou projetá­
soas, ou com U!l1a outra pes,Soa, estfl1l10S admitindo, auto­ la. Projeção e identificação são duas versõ~!S do mesmo
maticamente, sem nenh-q.ma reflexão, que certas qua,li;­ fenômeno. Da mesma forma, quando oindivídúo torna­
dades ,e,experiência$ básjca,s e$U~os.endo co..wPÇlrtilhad.as. se ciente do animus ou da anima, ele não cai máis nem
Ent~o, é l!-mª_revelaç~o e tanto de_$cobrirquen,ão, Çlol.,i­ em uma identificação com a imagem nem em uma proje­
tra PI?Ssoa ~ bem separaqa, com e~periência,s,e percep­ ção. A mesma coisa acontece ,com o Sio-mesmo.
çÕ,es bemdiferente.s, Ull1 mundo totalmente dif~re.p.te, n,à Então, esses são os procedimentos, procedimentos de
verdade: ", I ­
, . '- ( '- I longo prazo. Aindividu.ação é uma tarefa para avida toda,
Essa,s descobertas. são' toda,~ ,partI?, dPPTocessQ.ge e só pode ser alcançada q:uando uma quantidade signifi­
individuaçi~.9, nQqual o indivíduo discrirp.ina-:$e, ,ç~da ,!,ez cativa de energia é aplicada,a ela. Ela não é um trabalho
mais, da participation mystiq~e iniGial-,esse ~ Um termo de meio período 'porque ela é,o próprio processo da vida;
técnico empr~gad9 .Q:~ psicologia jUI!~ianaL qUe yem do ela incorpora _tudo 'o que acontece em,nossa vida. ' '
sociólogo ~~'\{!:Bruh!,.19~pois descreve de maIJ.eir,a muito ,~~ ) I ~ :

adequada o e~tad9 do ego pr:im~~iyo identificado cqmseu , I


Implicações' s~c,iais;
ambiente. Pess.oas,relatiya:n1ente maduxas nãoqeve,riam

se gabar de est~r livres d~participCftion mystique, poi$,


À medida que: o ind.ivíduo progride no processo de,
podem acreditar, não esta,mos livres dela,. Durante_tQda,
autoconhe:cimento, qu,al alimportância 'de' se apmU'''':
a vida descobrimos pequenos. pedaços de pçxrtiç.,ipation
der sobre cada, um desses items, dessas funções, que aju­
mystique, em lugares onde supomos p.avE)r algm;n tip9 de
dam a compor'aestrut1:lrada psique'da forma,como,des~
identidade quando, n~verd.ade, estawos lidandocoPt pro­
crevi? ..' 1 1 ; :, ' ; . :' C I
fundas diferenças individua,is. O ego é,o ponto,dê.p.artida'pÇlnltudo._Umdos objeti­
.
,
vos do processo de. vida,~ do processo natural de vida, bem
Claude Lévi-Bruhl (1837-1939) foi um filósofo francês.cujo estudo sobre como do processo de análise,é,o,desenvolviinento do ego~
a pSiCOlOgia dos povos primitivos deu à antropolo~a: uma nova abordagem
19

para a Compreensão de fatores irracionais no pensamento'social,'na religião e Não há como passar porumà. análise de verdade, por uma
na mitologia primitivas, (Nota do Editor) . '.: L •..
.i
confrontação efetiva cóm o'Ínconsciente"a não ser que se
34 tenha um ego viggroso, responsá~el e ético. Antes disso
35
""" a ... ~TA r\('\ pnv~
,
"

li não há como colocar em prática uma'análise 'profunda,


'I
apenas uma psicoterapia de apoio 'que promova' o desen_ uer que seja, não está encontrando com um ser humano
volvimento do ego. "'" ',')', " ,,', . ',,','. ~teiro. Está encontrando-se com a máscara.
É de vital importância, em termos de umal estrutura Posso lhes dizer que isso é um grande problema na
ili social estável, que os/membros da soCiedade tenham egos medicina. Os médicos são muito o~upados e ser uma pes­
bons, fortes e confiáveis/Isso' significa que eles precisam soa real demanda muito tempo. E muito mais fácil fun­
:11 ter uma percepção:autêntica.de sua própria identidade; cionar através da persona médica. A grande vantagem
eles precisam ter adquirido uma estrutura de 'caráter que disso, embora temporária, é que não é ,necessário fazer
,11
lhes possibilite funcionar de maneira responsávehm re­ muito esforço, você não precisa dar um retorno aos pa~
I lação às outras pessoas./Iüâoisso é produto do desenvol­ cientes a partir das realidades humanas mais profundas.
vimento do ego. Assim, para começar, o desenvolvirriento Assim, você pode produzir muito mais em um dia;, pode
do ego é bom não só para 'o indivíduo; mas também para visitar mais pacientes." L.eva muito mais te.mpoescutá­
a sociedade. , ;, '" " II ',' los e dar um retorno mais humanoe isso lhe. deixa com­
f 1 i -,. '!
pletamente atrasadono,s.eu,hQrário. ,~, "
J ,I " I~ ~
::1
Consciênciáda pers~ría q' •. ,:';,
. • • , /;. - \ ~ I. ,
Tudo isso é compreensível. :Masseo auto-conheci-'
',I mento está emjogo ese .0sjndiY~duos qu~r~m ;=ttingir uma
J I ~1
personalidade completa e'simétrica, é importante que
"f

Agora,. qual é o'valor,'para oiindivíduo ou para'aso­


ciedade, de se ter uma ,consciência da persona? Aqui nova" eles percebam a re;=tlid;=tde da:!Jer$ona e 9 fato de que ela
mente, assim 'como em.todo o autoconhecirnento,tanto o não é idêntica ao ~gQ, Se eles, ,pqr aca.so,identifiçam-se
indivíduo 'quanto a' sociedadel são' beneficiados., 'Vejam; é com ela de vez em qUq,!ldo,, dev~mrentenderque estão
I
/
muito comum, em maior ou menorigrau;'que'aiguém'se diminuindo a si, mesmos. Uma vez que ess,as coisas fi­
I identifique com a própria persona. É tão conveniente. Já é cam claras, a id~ntificação inicial é quebrada e,m esmo
bem difícil ser competente na área profissional e, .uma vez que você escolha· funóoI).ar; ,a, partir ,da persQnaem, al­
1I 1
I/ que se adquire essa competência, as s'atisfações d~ssa con­ guns momentos"você 'sabe.o, que está fazendo . .faz uma
/1
quista são tão' importantes que existe forte téndência de o enorme diferenç~ o fato ,de se,fazer,algumaeoisa cons­
/1 indiVíduo se identificar Com esse papel profissionaL,. ',í ; ciente ou inconscientem«;n.t~, pois a ~scolha está emjogo.
11/ ~ ~r #;
Assim, o sacerdote adquire uma persona apropriadáJ I ! (t" 'I'),' ,:) I.!

! ao passar pelo seminário, e começa o seu ,primeiro traba"


lho como pastor assistente; o estudante de medicina ad~
quire a persona médica, o advogado adquire a sua; e as­
Consciência da.sdmbfà'f.
~ ~ J (~ ;. ~ ;
Indo para o proxtmo iteIIl,q. sombra, qual é a vanta­
gem social de se estar consciente dela? Posso lhes dizer
I '1 fi .

sim por diante. E, uma vez adquirida, aS'coisas funcionam


tão bem ao colocá-la em operação que existe forte tendên" que a vantagem 'é imensa, porque enquanto o sujeito está
cia de se identificar com ela.iMas o problema é que; 'para inconsciente da sombrk, ela'é projetada, normalmente em
a sociedade como um todo, quando alguém se 'encontrai uma pessoa oU'grupo quefotnece'algum gancho, alguma
com o seu médico, seu pastor, seu ,advogadoj'Qu COm'o que' qualidade' qUe, 'talvez apenas em um pequeno grau,
36 corresponda/àrnatureza da própria sombra do sujeito.
/.
37
Quando isso acontece, o projetor passa pela .qeliciosa ex­
periência de localizar o mal. Ele está ai,em você. Agora são muito mais complexos. Certamente, podemos dizer
eu sei o que devo atacar parai transformar' o mundo em que alguém que possua até mesmo uma consciência ru­
um lugar melhor. Nas projéções de sombra menores, tal­ dimentar da realidade da anima ou do animus irá se re­
vez nenhum dano muito sério seja causado. Apenas um lacionar com o sexo .oposto de uma forma mais autêntica,
arranhão na mecânica comum das relações'humanas or­ mais consciente, mais profícua e mais realista.
Afinal de contas, a relação entre os sexos é funda­
dinárias. Mas quando ela,câmeça a'funCionar em-escala
coletiva, é um desastre. _ '. :,' mental para todo o processo social. A família baseia-se
nela, e a criação dos filhos, seu hem-estar e desenvolvi­
Eu nem-preciso: dar exemplos disso,' pois eles .podem
ser vistos sempre que se,tem umá facção em oposiçao a mento psicológicojnicial, em muito depende do nível de
outra, atribuindo. todàsas intenções' más; sombrias, se relacionamento consciente existente entre os pais. O tipo
não diabólicas, ao inimigo"Vemos isso acontecerem to..: de relação compreensiv.a, ' que consegue suportar o inevi­
dos os lugares. É Umá conséqüência- da 'projeçãó da Sóm~' tável conflito dos opostos, beneficia-se de uma conscien­
tização do animus.e daanima.\ Com,essaconsciência,
bra, e. é1realmente uma .vergonha;· hoje :em dia, um ser
evita-se a projeção mais·pura.e a pessoa pode. se relacio­
humátio iupostarrrente maduro ser pego'em pUras proje,
ções da sombra. Mas,vergonha oil não,; acontece' o tempo nar com o parceiro a partir. de sua:realidade" em vez de
todo e traz enormes danos à nossa estrutura s'ociaI.; relacionar-se a partir. das expectativas. ilusórias, que se
tem quandot.se projeta:a' anima ouo.animus. no.parceiro.
Desse modo, à medida que um indivíduo, por meio -'t't :- ~~....,.,. (. , : ),~
de um Processo analíticoóu.qualqueroutra coisa, toma)
consciência de sua sombra, é menos- provável que ele a Consciência dó Sicmesmo (, ..
~ r ~ • ,: , '~,
projete. Ele passa a reconhecer que à qualidade, idéia, Ou'1 .' ,..... , ': J ;

Como eu já .disseantes, o Bi-mesmo é o centro e a


estilo de vida particular-que e tão irritante na outra pes-'
totalidade da 'psique. ,Um de seus sinônimos é a Imagem
soa é, na verdade/timaexpressão de sua própria 'sombra,:
de Deus interna. Ele é.a autoridade transpessoal da psi~
que é responsável pela irntaçãd; ,Pod'eínos- tetcoisas de
que. O egoé. a autoridade menor, o Si~mesmo, a maior,
que gostamos ede·que não gostamos, mas quando certo'
Quando o indivíduo estabeleceum.c.ontato c.Om o Si;:mes7
nivel de afeto entra em ação; essa é uma indicação infalí­

mo, o ego se relativiza; ele reconhece que sua vida deve


vel de uma prOjeção dá sombra. Aq lieles $Ue es,tã ;IWonSj

CIentes de Sua própria sombra são uma enormeoameaça


ser governada por uma autoridade superior a ele mesmo.
ao bem-estar da socü~dadeco1no'lúri todo. ~ .,: _ /, .
Agora, o que talreconhecjm€ m to tem a~ter'éoma so­
ciedade? Muita coisa, na verdade. De certa forma; pode­
~ ~ .:h ~'. ~ ,:,
Consciência do animus e da anima '.~,. 'J',p mos dizt7f q~e -à' sociedade é '0 e$pelho exteriorizàdo da
',; ..::.' • .r - •• _ ,,f _ ,_:

psiqu-e' individuaL Todà sociedade: possui alg'úirl tipo de


Aqui chegamos a umq.camada

~aíspro:(u~dq.doih:;
f-.
~ - .• ,j
.'
• .J!.. '
líder '..:,:U:Ín: reÇpr~sidente','6u primeiro~r:ni~istró.Às ve­
zes, é uma oligarquia de aristocratas. Contudo, para que
consciente, onde os aspectos sociais,não pogem,se;.,de.!j_
Crttos em termos tão simples, Elesestão,presente,s"mas uma soCiedadéseja cresa é' orgânica, ela sempre precisa
38 ter umà aütoiidade~entrar,e essa autoridade social.cen~
traI, externa, é um espelho da autoridade interha-do Si­ termos psicológicos, o Si-mesmo precisa do ego, da cons­
mesmo. Ê por esse motivo que, quando se, sonha com um ciência e da relação do:ego'para com ele" para que possa
rei ou um presidente ou com uma capital,na maioriados ser transformado. Assim; colocamos essa idéia em nossa
casos esse sonho se refere 'ad Si-mesmo. ' ,
linguagem psicológica' neutra.. ,. (:'
O que está emjogo aqui é'a relação do'indivíduo Com O Si-mesmo, ou Imagem de Deus~ .em sua forma in­
a autoridade. Se ele não possui 'umaconexão com o Si­ consciente, como eu jádisseantes,.ê uma.união parado­
mesmo e, particUlarmente, quando.oego é fraco, quando xal de opostos. 'Esse é o;solo, de nosso, ser psicológico, e o
existe um baixo nível de diferenciàção~Psico1ógica _ espe~ Deus cristão do·amor.é;apenas.uma metade dela. Ê por
cialmente em tempos de distúroios sóciais'e.angústias-i­ isso que Satã nunca desapar:eceu;ele leva uma existên­
há forte tendência do Si-mesmo, o 'princípio da' autorida­ cia isolada, mas ainda está por aí. Jung nos demonstrou
de organizadora central da psique, ser'projetado. que Cristo e Satã são os dois filhos, os dois filhos opostos,
Em tempos de corifusão,' o aspecto compensatório da da mesma diyindadeJparadoxal.~,.l.E- quando' essas ima­
psique é ativado;~ a desordem constela a 'Ordem ~, em tais gens chegam 'ao alcanceda'experiência empírica,elas.
circunstâncias,. a ordem é, em:geraI,impo,sta com um'grau
de disciplina e,autoritarismo:: ~ ' : , ... requerem algum tipo de reconciliação. Elas geram um
conflito interno. intoleráv:el até"que. atinjam alguma re­
O que pode acontecer em tais casos são projeções- co'" conciliação, e isso! é'o que acontece quandoo',indivíduol
letivas maciças do Si-mesmo em um líder, um Führerpor encontra a Imagem: de 'Qeus primordial: em seusr opostos:
exemplo. Isso aconteceu na Alemanha nazista, e temos aí paradoxais. Ele experimenta a'ativação· do conflito ine­
uma lição da magnitude, quaseinimaginável, dos perigos
da projeção, da projeção coletivá, do Si-~ésm~. Também
rente à natureza da divindade. No entanto, também está
contido em toda essa' dinâmica p potencial para a união:
podemos observá-Ia'em~todos os tipos de; cultos religiosos dessesopostos,que,Jem p1uitos casos;· pode ser ·alcançad&
carismáticos e,. em menor escala, em todos os lugares. QUàn:
do perdemos a contenção exercida por nossos mitos religio~
no processo de1individuaçãó por meio ,da imaginação ati~
va. A conseqüência:disso<.é:que'aJpsique,não mais, se en-';
sos convencionais;'esse perigo' cresce. Essa éa maior amea~ contra dividida.' ,) ~);" ' l , \ I . ' Í ' ' • ' >',-,
ça à humanidade,t muito maior: do 'que a boinba 'nuclear.'1 A psique cr,istã~estádividida,:eisso englobá. a todos)
tl'" ' '.' _1~. J.\ ' : ~ .' ,,"";., ;~
nós. O fato de você professar ou não o.cristianis~o é irrele'é
I' "J'_ •

~,fi il

Transformação ~~Jíp~~eWAe Deus ' I ! d


r ~,.
.'
, , ' - ... ' li : ',: :: f. I !;:- \)'

", "
vante; ele faz,partelda psique coletiva' compartilhada por
todos nós\ ,de modo 'que .estamos:,todos divididos,. pois a,
esse ~onceitó
,'I·' ; "'I" I " , 11 1;.,)'.'. i ,.,' " , " 0,1" "
Imagem deBeusestá,di\iididaiNaNerdade; a divisão ocor­
Jung coloca de, f9rll1a muitõ sucinta .éní
" , ' , ' ) '. ')
Resposta a Jó', quando diz: "Q1f~rp:c~~heç~;fJJe~'H'
p, ,- , . " : •.'
age
I, ) " "
reu antes mesmo do cristianismQ;ela ocorreu com Platão
sobre Ele". 20Vejam, ess~:ç mp~ q~çl#raç~osiP1Bólica. ~:m e os Estóicos; de forma que ela !possui uma raiz filosófica
também:'Mas::essa diyisã9,·!~.ssa. duplicidad~ paradoxal
PSYChology and Religion, CW n, par. 617 ..yer
20
I l,
Eclinger, Tran.s,­ tamb~m
: f I : '. r" :' ~.

formatLon ofthe God-/mage: An Elucidation ofJungí; Answer to' Job, pp. 60s.
(Nota do Editor) " " , , '1, .:~" 21 Ver íbid., pp. 11,81, 121s., e Edinger, The Aion. Lectures, pp. 565. (Nota
do Editor)
40
Então, segundo certos teólogos ,23 a Igreja como o cor­
da divindade, é o que sofre uma reconciliação':etransfor­ po de Cristo é obrigada a viver a mesma seqüência fatal
mação quando uma consciência humana individual com­ de Cristo. IssO significa que a Igreja também deve passar
promete-se com essa questão profunda. em sua própria por uma paixãO e uma morte. Pois a Igreja projeta esses
vida. Assim, essa pequena parte da psique coletiva car­ eventos lá para o dia do juízo final, para o mais longe
regada pelo indivíduo é transformada. Se um :número possível. Mas, do ponto de vista psicológico, devemos con­
suficiente de indivíduos passa. por essa experiência e, siderar que isso está acontecendo neste momento. Com a
desse modo, participa dessatnansformação da' Imagem Igreja comO o corpo de Cristo, a encarnação coletiva de
de Deus, eles agem como um tipo'de, influência para a Cristo, por assim dizer - Cristo foi a primeira encarnação,

sociedade como um todo e, de maneira bastante' gradual, individual, a Igreja foi a segunda, coletiva, que também

surge uma nova Imagem de Deus coletiva. precisa passar pela paiião.e pela morte, e pela ressurrei­

Bom, esta questão aparece· muito no pensamento ção _, segundo o meu ponto de vista, aressurreição inicia­

moderno: "O Cristianismo 'está cornos dias contados? Será rá um terceiro ciclo, no qual o Espírito Santo se encarnará

que ele está Iseesgotando?" Jung, fala algo ml,lito inte­ noS próprios indivídttos. .
ressante a esse respeito. Ele diz que omito cristão possui, Esse é o argumento de Jung. Como vocês podem ver,
nele próprio, como parte de sua estruturatemática, a morte quando eu o esmiúço dessa forma, ele se'1ll0s tra uma conti­
de Deus\Vamos ver se eu consigo explicarisso,:pois acho nuação e reinterpretação consistente e bem apropriada do
que é uma questão de muita impoItância. mito cristão. Jung tinha, na verdade, uma grande.preo­
Segundo o mito cristão; e eutrabalho'em cima~disso cupação de que o mito cristão não 'se perdesse para:o ho­
no meu livro The'ChristianArchetypel:Deus desce à ter­ mem moderno. O que ele forneceu foi uma reinterpretação
ra ao encarnar..;:l si' próprio como, homem, por meio da transformativa,do mito, com a noção da encarnação contí­
intervenção do EspíritoSantó,.que engravida.a Virgem nua, a qual preserva. todo o rico simbolismo cristão, agora
Maria. Deus vive/então, ,na forma'de ,homem; uma vida compreendido em um nível intiividual, psicológico. É assim
humana na terra. Ele sofre uma pai 4 ão, morre; ressusci­ que consigo entender o que significa uma nova época, e é por
ta, e aí ascende aos céus. De modo que,' éI?;l sua forma isso que Jung é, para mim, um homem que marcOU época.
encarnadá, Ó, mito descreve ~a divindade pàssando por uma Estamos caminhando para graves distúrbios na es­
trutura social coletiva da 'sociedade ocidental. Jung esta­
va atento para isso, e chegou at~ mesmo a fazer a notável
morte. O que' acontece, então, depois' de.lsua morte,.'se"
gundo o mito cristão, é que' .0. Espírito Santo .desce mais
uma vez durante o Pentecostes~ E dessa vez, ,de ,acordo afirmação, em uma carta, de que ele escreveu "Resposta
com o dogma, nasce a Igréja~ OPEmtecostes'.é consid.era~ a Jó" porque não queria deixar"que as coisas se dirigis­
u
do o nascimento da Igr!')ja;,Assim; o ciclo.da,.encarnação sem para a'catástrofe'iminente}4 Q que ele .revelo na­
se repete: o Espírito Santo, a.dí:v.indade, de$ce ,e encarna, ;."' ~ J "
por uma segunda vez na Igreja; que se autodenomin~o 23 Por exemplo, o teólogo católico Hugo Rahner. Ver ibid., pp. 17, 128. (Nota
corpo de Cristo. do Editor) '.. I ' . ' , ':' • " .

24 Letters,'vol.·2, p. 239: . '.'


22 Ver esp. pp. 128s. (Nota do Edito~) 43
42 - ------"
dO:lC com a consciência humana. É isso que a transfor­
quela carta, de maneira lÍluitofclara;(é~qlle "Resposta a ma.alEsse é o processo que vejo agora em suas fases ini­
Jó" é um antídoto para o apocalipse. Se pudermos com­ ciais e que, acredito, continuará com uma intensidade
preender "Resposta a Jó", estaremos em uma posição, do
cada vez maior na coletividade.
ponto de vista psicológico, de'sobreviver ao vi.olento ata­ Experiências da natureza do holocausto nazista são
que do apocalipse, da transição de uma época para outra. eventos psicológicos, expressões da psique humana cole­
O que isso significa;.sem querer. resumir ó:livrotodo, tiva. Elas não são desastres naturais, não caem do céu;
é que há um processo em andamento" no qual a Imagem são eventos psicológicos, fenômenos que ilustram a natu­
de Deus está passando por uma transformação, e que o reza da psique coletiva. É isso que noS aguarda ao atra­
processo dessa transformação.requ.er.que haja'uma çons­ vessarmos a transformação catastrófica da imagem divi­
ciência. humana dessa natureza divina, pÇira,que ,eJa pos­
na de uma era para outra.
sa ser transformada.rEsse,é um bom·resu~.o dessa idéia.
O mundo pende em uma linha estreita, e essa linha é a
Vou repetir. Aessência de "Resposta ,a Jó", que pode levar psique do homem. Hoje em dia, não somos ameaçados por
o indivíduo a .sobreviver psicologicamente ao apocalipse, catástrofes dos elementos. Não há, na natureza, nada pa­
está na percepção de que o apocalipse.é·llm-processo na recido com a Bomba H - esse é um feito absolutamente
transformação de Deus,no qual·, ·por meio da entrada na humano. Nós somos o maior perigo; a psique é o maior
consciência humana, a natureza divina pode transformar­ perigo. E se alguma coisa sair errado com a psique?26
se. Tudo 'isso está dito na Bíblia, no Livro de J,ã. El,l t,am­
bém discuto essa questão .no meuJivro sobre a série de
gravuras de·Blake para o Livro de JÓ. f5, '.. ~-
Vejam,'uma.parteda natureza divina (e lembrem-se
de que esto.u falando de maneira psicológica, não meta­
física) é que a Imagem/de D,eus é uma união .,de, opostos.
Não é.apenas Cristo"mas.também Satã, Não é·apenas
Iahweh do.Livro.de Jó, mas ~q.mbém.Behemoth e Leviatã.
E essa Imagemde,D.eus paradoxal, cOm su,a natureza
dupla, passa por um processo .de transformação ao ser
experimentada pela, consciência,humana-. Ser vista, pela
consciência humana é o agente de sua trallsformação, um
indivíduo de cada vez. Ela-não acontece coletivamente,
em um comitê; mas emumindivíd:uo de,cadayez, naque~
les que experimentam a,ambigüidade divina e, ,no pro­
cesso dessa experiência, penetram nesse Si-mesmo para- .)
~j'
,.:l : '.'I " ..

. ,.1 ,
26 Jung, "The Houston Films", em Maguire and Hull, eds., C. G. Jung
25 Ver Encounter with lhe Self: A J ungian Commentary on' Willi(,lm Blake's
Speaking, pp. 303s.
Illustrations of the Book of Job, esp. pp. 53ss. (Not~ do Egitor.). . " \ 45
44 L-·_.. . -_. ,-­
2

~: ENCONTRO
'I! COM A PERSONALIDADE MAIOR
' I
I,
'11.
, J,; ') :n j ~ ',tA'

iI I ..
I!
II :::,_4" ~1~,

iI
I,

~I Alguns anos atrás, falei 'sobre o Llvro de Jó,' c~m uma


illl
1 ênfase especial' nas gravuras'que Blake fez para esse li~
I í'1
1 vro.27 A minha fala hóje é' lim'éncadêamEmtb lógicüdessé
assunto,' ou' seja,' o' te~a do'Jénco'ritro do ego com o Si~
I I ~
iI

~J
'. . ( '. I' . • ','

mesmo, o centro regulador da' psique,

IL~
Essa é á c~rátteristica básica da psicologia junguiana
I
_ o ego e como ele se reláciona com a realidade do Si-mes­
mo, A psicolbgia jtinguiana é a únicavertentê da psicolo":

!\~I.
gia que parte 'da idéia de que'há dois centros' na psique:
Algumas outràs linhas, outras abordagens analíticas, es­
r tão cientes dê. que há duas entidades na psique; o incons­
II1 ciente é uriia'ségOOda entidade: Mas nenhuma outra linha

;; parte dopiÍrlCípio de que há dois centros. Isso é exclusivo da
~
psicologiajunguiana. Ejá que existem dois centros, se essa
r~
I1
idéia chega a toiç1ar-se' cOl!s~iente, es~es dois centros de­
111 vem colidir, 'eles devem ter um e'ncontroum com.o outro,
II Isso acontece quando o ego, que é o pequeno centro, tem um
encontro com o Si-mesmo, o grande centro. ,
Toda a análise psico~ógica não émáis do que um'pre­
"

,~
"I lúdio pa~a ess,a e,xperiência, o encontro com o Si-pesmo.
:~
[,li Vejam como Jung ,çoloco,ll essa.idéiFl-:, , . 7 " . . " ,; . \
pl
.. ,
"

A Anunciação à VIrgem, por Mathis Nithart


I~ (Isenheimer Altar, séc. XVI. Unterlindenmuseum. Kolmar)
;·r I

~ 27 pubI.icado como Encounter with the Self A Junguian' Commentary on


. (. William Blake's Illustrations ofthe Book of Job. (Nota do Editor)
II 47
il
subjetivo. É o cen~ro tran~pessoal, que inclui ,tanto a cons­
A análise deveria liberar em nós uma experiência que nos .ên quanto o lllconsclente. . . ..' .. S
fascina ou que se lança sobre nós como se viesse de cima CI cia IssO não é uma teona,, masf um atO. PrecIsamo . usar
uma experiência que tem substância e corpo, como o qU~
ocorria com os antigos. Se eu 'fósse simbolizá-la, escolhe. palavras para descreVer os fatos, mas posso garan,ir-lhes
ria a Anunciação.?' , ~; :' que estamOs falando de um fato, que p~de se"comprova­
do pela experiência de llluitas pessoas. No entanto, ece
ê
Bom, uma coisa que pode acontecer é que essa expe­ muito difícil descrever o Si-meSmO:, Qgue, I:!CoI;lt por

riência, embora seja preparada pela análise, pode não acon­ ele ser uma entidade maior do. que:o egp, oJl.lWsiglüfjça

tecer durante o período da análise propriamente dita. Ela que ele não pode ser compree.ndido,.nãO PQO,e$er:.abl?-rça-:

pode acontecer muitos anos mais tarde. Nesse caso, o su­ do. em toda a sua extensão, pelo ego. por esse motivo, não

jeito irá se sentir muito grato por possuir algum conheci­ pOdemos defini-lo. Para podérino s defini,' áli;Um"'Ópisa,

mento consciente sobre a psicologia junguiana. O sujeito ela tem de ser menor dQql1;e
~ ~ ó~go que'.·a. ~ define. Isso é

contraditório e paradox ;3.I,p.o.qV.e C;op.cer,I:t.e }i$ c~tegorias


, • • J _.' I... - • j ,

tem um mapa, por.assim dizer, que o ajuda a encontrar a


conduta1apropriada no momento em que essa experiência de compreensão do ego.:E,.assim comO, a pedra filosofaI
lhe cai dos céus. Ele pode dizer com Jó: "Ouvi falar de ti dos alquimistas, ele possui muitos sinônimos; que expres­
pelo ouvido: mas ago'ra :viriun-te meus olhos" (Jó 42,5). É sam as diferentes facetas d~ssa reaiídade complexa. Um
isso que acontece quando se t~m tal experiência. dos sinônimoS ql,l~ rltmg propôs para o Si-mesmO é Perso­
Ela também acontece sem o auxílio de nenhuma aná­ nalidade Maior, e "e1>sa é a. entidade específica da qual
lise, e pode acontecer sem que se tenha uma preocupação vamos falar esta noite.
particular com o inconsciente. É por isso que acho extre­ Jung introduz esse tema em seu artigo "Concerning
mamente importante falar sooré'o Si-mesmo em público. Rebirth", onqe elefàla da individuação comC! "um proces­
Nunca saberemos quando est~mós falando com alguém so demorado de transformação interna e do renascimento
que já teve ou que está para t'elumà'~xperiência dessas, em um outro
" ser",I:e ')C1;
;,)~' assim vai:
s ;~?l'L~r~; 1: ~ ~
Este. ".Ol!..t:r:().>s,er'~ éo ouwü~Jjl ;nós"a,.personali~ade fU~1,1ra.
'l, " .

e essa pessoa pode lembrar-sé"do dh~ foi falàdo e isso


pode ser de grande ajuda nas hOra·s.de aperto. Eu sei, por mai!3 ~D,1pl,!}; a~tgo,}pt~r,n9 ~l}~I?1~'
.. ÍlIJ:..l p'or é. ~~so ~lgo_
experiência, que essas coisas acontecem. confortante , ,para
" noS. ao
í ' encontrarmos
,., . .• " o.......
amigo ,. "e
compa- .
mo
nheiro reproduzido num ritual sagràdo, c9 ; por ex'em­
mesmo?
Então vamos falar do Si-mesmo. Mas o que é o Si­ RIo, naquela(relação de amiiadeéntre Mitra eo deus SoL~
É a,representE1'çãO de' uma amizade >masculina, ,imagem
externa d~ \lW.fatoJ}:lt~rnQ: .tratacse da:çepresentaçãoda.
A natureza do Si-mesmo relação com o ,ap;tigp ,inter.nq da,alma,np,qpfl\ a. própria
natureza gostaria de noS transmutar: naquele óutro, que
Como eujá disse antes, o Si-mesmo é o segundo cen­ tambérh sdmo ;: e que nunca chegamos' ~á.lcánçar plena:
s
tro da psique, e o ego éd pnmeir6:J Para:se dizer'u:mLpou­ mente. a;nomemé'b'par de Dióscuros;:eheque'uin é mor­
tal e o outro, imortal; 'sempre estão juntos e apesar dissO
co mais, ele é o centro opjetivo, em oposição ao centro nunca.s transformam inteiramente num só. Os proces­
e
sos de transformação pretendem aproximar ambos, a cons­
-', : .. : i .
28 Seminar 1925, p. 111. 'I t ). ~ :, ';, .:' ~ [i 49
48
ciência, porém, resiste a isso,. pQrqge o outro lhe parece de
início como algo estranho e inquietante" e não podemos Jung coloca em outro momento: "A experiência do Si-mes­
acostumar-nos â idéia de não sermos senhores absolutos mo é sempre uma derrota para o ego".31
na própria casa. Sempre 'preferiríamos ser' "eu" e mais A experiência de lesão ou de derrota faz parte do que

nada, Mas confrontamo_nos com o amigO'bu inúnigo inte­ chamei de arquétipo de JÓ. 32 Usei esse termo porque a his­

rior, e de nós depende ele ser um'ououtro. 29


• :' t '
tória de Jó é um exemplo,bem apropriado desse padrão­

cujas característicascÉmt.rais são quatro:

É aí que Jung introduz o tenno Personalidadé Maior,


mas nesse mesmo artigo ele descreve o encontro do ego 1) Existe um enconf~o 'entre o' ego' e 'a Pe~sonalidade
com a Personalidade'Maior nessas importantes palavras: Maior representada por Deu~, por um anjo ou um ser su­
Num pont'o' culmi~ante
da vida em o hotão:se abre em qU~' perior qualquer." " ., "
2) Existe uma ferida;ou uni sofrimento'do ego, em
'
flor e do menor surge o maior, "um torna-se dois"; e a figu­
ra maior que 'sempre fomos, mas perm"anecia invisível decorrência desse encontro. . '
comparece diànté do homem que'fomos até então, com a 3) Apesar da dor, <> ego 'persevera e resIste à prova­ ,.I:
força da revelação. Overdadeir:amente pequeno e sem ção, examinando a experiência .em busca 'dq s~u signifi­ li
t.
esperança sempre reduz à sua pequenez a revelação do cado. . " j
.-
'": h
,
grand~. f:l jam4is ~ompreenderá que o Juízo Final também 4) Como conseqüênCia dessa perseverança, há uma
~l
II
despontou para a sua pequenez. O ser humano intima­ li
mente grande sabe, porém, qúe o amigo da almâ; pelo qual revelação 'divina,:mediante a qu~l o ,ego é'~~compensado
'(
há tanto ânsiava, o imortal, chegou enfim de fato para:
levar "cativo seu cativeiro" (Ef 4,8), aquele'que sempre
com um insightsobre a psique transpessoal. '
Repetindo: há um encontro, unia ferida, u~à perse-
.')
I
trouxe em si aprisionado a fim de capturá-lo permitindo "
verança e uma revelação. ,
que a ~!Ua 'vida dese~bocasse naquela vida maior.: um ~
momento dê perigo'mórta1!30 . '. " Darei quatro exemplos desse tema: Eles variam, cada I'

; ,. '. r .'. f, 'J


exemplo enfatiza,um a~pe'cto empa.rticular, mas, se olhar­ =)

mos para todose'les juntos, eles' nos fornecem uma ima­

Essa frase final nos atinge comb um raiá. Depois:de

ouvir a bela descrição do encontro do ego com a Persona­


gem ampla da natureza desse fenômeno. Cada indivíduo

lidade Maior, ficamos sabendo apenà's no fim q'ue esse


que passa por essa experiência a vivencia de maneira úni­

encontro é perigo só, de um perigo mortal. IS,sç faz,.refe­ ca; ela, nunca será exatamente como a de.Jó·Qu do apóstolo

rência ao efeito dano~o ,quEl o Si-m'esmo exerce sobre o Paulo, nem como a de Nietzsche 0'l:l de quem quer que seja.

ego no primeiro encontro. Na pior das hipóteses,o encon­ Mas o conheCimento' de vários exemplos lhes ajudará a

tro do ego COm o Si,mesmo póde'desencadear uma psico­ reconhecer o fenômeno quando vocês o encontrarem.

se. E mesmo na melhor, o piimeiro edecisivo'encontro do . . Poderíamos 'fazer uma


e I
lista
,
enorme partindo da his­
ego com o Si-mesmo traz consigo uma humilhação dolo­ to ria cultural humana, mas: só para lhes dar uma breve
rosa e um sentimento de derrota desmor.qlizan~e. Como idéia, aquívão alguns e,xemplos: Jacó e o anjo de lahweh,
.< ,

. . _J:,t l." • ' ..


29
30
The Archetypes
TL" par. 217. and the COlleétiue UnconsCious, CW 9i, par.
'j :
235 . 31 My!,~erium par,n8 (itálicos no original).
32 Ver
Ed,inger, God.[mage: An Elucidation of J ung's
50 'Ansuier to Job; pp..2955,

51

sobre o qual falarei; o encontro de'Arjuna com Krishna,


sobre o qual falarei; o encon~ro de-Paulo com Cristo; o se encontrar com Esaú, o irmão que ele havia prejudica­
encontro de Moisés. coin EI Kidhr, o homem verde, qUe do tantos anos antes, e ele, certamente; estava com medo.
vocês podem encontrar na 18. s s ura doCorãoi o encontro Sempre temos medo das pessoas que prejudicamos.
de Fausto com Mefistófoles no,Fausto de Goethe; o capi_ E na noite anterior ao encontro com Esaú, ele encon­
tão Acab e o encontro ,Coma baleia no Moby Dick de t;ou-s e com o anjo de Iahweh no. vau do rio Jaboc. A Bí­
MelvilIe; o e~contro de Nietzsche com Zaratustra, ,sobre blia de Jerusalém traz o seguinte relató desse evento:
o qual falarei; e, po:r;- fim,: aquele 'que est~ mais próximo E alguém lutou com ele até surgir a aurora. Vendo que
de todos nos, o enéontrode iung com Fi1emon, como ele o
Meníórias~Sonhos;
não o dominava, tocou-lhe na articulação da coxa, e a coxa
Reflexões.em
descreve " seu
. livro autobiográfico,
de Jacó se deslocou enquanto lutava com ele. Ele disse:
}t, "." !"," : ' , r,
"Deixa-me ir; pois já rompeu o dia" .. Mas Jacó respondeu:
"Eu não te deixarei ,se não me' abençoares". Ele lhe per­
Aqui, ficarei
" , apenas com os que 'se referem , a Jacó,
" '.' ,
guntou: "Qual é o teu nomer - "J,acó", respóndéu ele,Ele
Arjuna, Paulo e Nietzsche. Como prOCuro dar apenas' uma retomou: "Não te cháinatás mais Jacó; mas Israel, porque
visão geral desses exemplos, por favor; perdoem a manei­ foste forte contra Deus e contra os homens, e tu prevale­
ra resumida como trato cada um deles. É realmente uma ceste..." E ali mesmo o:abençoou.
grande inj':'stjça'iratar' de forma tão' epis ódios tão ~reve Jacó del). a este lugaro nOple,de:Fanuel, "P9rqq.e", dis­
se ele, "eu yi a Deus face aJace e a minha vidl:i foi salva".
profundos da história êultural da raçk'humàha. Aminhá
a
justificativa para tal é dar voc'ês uma idéia do arquéti­
Nascendo o sol, ele tinha passado Fanuel e manquejava
de uma coxa. (Gn 32,25ss.; Bíblia ,de Jerusalém)' .
po, e não conheço nenhuma forma melhor para isso do
'q ue apresentar
'., , I. breves
. , exemplos individuais.
',," 'Eles' vao, Essa históriaco~témtodo's, os quatro'elementos ci~
no mínimo; dar a vocês uma idéia da imagem simbólica tados acima. Há um encontro com um .ser superior, uma
geral subjacente', que fu'ncíona com: algumas' variações ferida, uma perseverança e, por fim, uma reyelação divi,
individuais.~ . ;, . '. 'J, r,' ,
'. " .,'1 " ',.
~ :. ~.' , na. A revelação nesse.c~sbé,.emprimeiro: lugar, a bên­
, , ção, e em segundo; o inv:estimento.de um novo nome, uma
JaCÓ e o anjo de Iahweh '
, "
., "~"~O,'
segunda identidade. A identidade coletiva de Jacó é'reve­
~"• r~
; -; j , lada porque ele agora se torna, o antecessor,de IsraeL
Esse relato e~contra-se ~o capít~1;32 'do Gêne~Ú{ O 'queí,é ,par.ticularmente interessante~ do ponto de
Vocês devem lero~>:ar,~é d~
que Jaéó seu' i (i:o~ d~' rn;~ó vista psicológieo, nesse exemplo, é que ele mostra que
Esaú o direito de primogen,iíura çoro um e de: embu.~te; um encontro' com a Personalidade Maior pode ocorrer
pois, conspirando coms lia mãe )leb~ca, 'roV,bo,~, ~ênçà~
a junto com um encontro com,a sombra. Jacó também ex­
de seu pai, que pertencia, por direito, ~ Esa~,
o filho màis perienciou grandemente 'o.e,ncontr.o ,posterior com Esaq
velho. Então, Jacó teve de abandonar sEm país'para escá'­ como um encontro com.Deus.·Esau tornou-se,,para Jacó,
par da vingança do irmão. Muitos anos depois, com duas um tipo de. substit.uto de, Deus. Isso aconteceu porque
esposas e uma riqueza considÉwável, ele ~~Ve deret9rnar a consciência culposa de Jacó imbui Esaú de um poder
ao seu país. Mas esse retorno significava qu~ ,ele teria de divino ..AsEscrituras dizem,démodo específico, que quan­
52 do Jacó .enco!,\tril"se com ,Esaú, .diz a ele: "Vejo tua face,
53
co.mo. se visse a face de Deus: .." (Gn 33,10), de'mo.do. que terrível medo. po.r saber que Esaú tinha uma acusação.
Esaú e Deus so.brepõem~se.Psico.lo.gicamente, isso. sig­ legítima
nifica que a so.mbra,. quando. 'não. no.s relacio.n,amo.s Jungco.ntra
faz umaele.o.bservação.
. . ' muito. pro.funda so.bre isso.,

co.m ela, po.de ativar o. Si-mesmo.,.e se o. indivíduo. enga­ em Símbolos da 'Iransformação:


.no.u a so.mbra, o. que, é ativado. é o. Si-mesmo. em seu as­ Inicialmente ele (Deus) aparece, portanto, sob uma forma
pecto.vingativo.. Esse tema,po.de o.peràrjnternao.u exter­ inimiga, como eútidadeviolentacontra a qual o herói pre­
cisa lutar. Isto corresponde à violência da dinâmica in­
consciente. Ne!\lta o deu~se revet(l, e nesta forma ele deve
namente. .
De uma fo.rIrIa externa, se, fiz mal a algué~, terei ser vencido. A luta tem seu correspondente na luta de Jacó
medo. do. desejo. de vingança d~ssa pesso.a'., Sei que ele tem com o anjo deJavé nov'audo jaboc.. dsurto de violência
o. direito. de s~ vingar po.rque eu o.'prejudiquei, e essa si­ dos instintos é vivência divina q}J:ando o homem não su­
tuação. co.nstela o. Si-rit,~smp. "'A mim;pert'eq.ceà ~ingan­ cumbe à força deles, não os segue cegamente, mas defen­
de com sucesso sua condição hum'ana contra o caráter
ça', disse o. Sénho.r" (Dt 32,35). To.do. o. fen.ômeno. da vin­
animal da força divina.'É,"terrívelcair nas mãos do Deus
gança pertence ao.' centro. traI!spesso.al da psique, ao.
vivo"(Hbl0,31).~3, ':' ,.,
Si-mesmo., e se uma pesso.a fo.i prejudicada seriamente,
uma respo.sta d.efensiva do. Si-mesmo. é âtivada. Se al­ O que ele di'z aqui é que afetosintensos sao manifes­
guém co.lo.ca o. Si~mesmo. co.ntra vo.cê, vo.cê está em gran­ tações da PerSoriàlidad~ Maior. NÓs n~ncà" déverlaÍríos nos'
de desvantagem. ." " , ' respúnsabilizar
" . "",'
p~r '

u.mafetú intenso.
\'"
'. '
dessa Ílatureia ~g~
De forma semelhante, se vio.lei a figura inte'rna que nunca é acio.nado. po.rnós. Ess:(ls cúis?-s 'caem ,do. céu, ou
Co.nstitui minha so.mbra, isso. po.de pro.vo.car uma vingan­ bramem das pro.fundezas. Todo afetôintenso é uma mani-­
ça do. si-mesmo. .co.ntra.o ego, e to.do. o.'tipo"âeco.isaspóde festação. do. si-mesm~ "o
- af.àque ifúrIúSo. do in~tinto;' ~e
aco.ntecer - po.sso. me éo.rtarco.m a.serra.elétrica, o.U so~ se podemos nos relacionar com ele com essa compreensão;
frer um acidente de carro.; qualquer co.isa desse tipo.po.de então ele se to.rn a uma experiência da divindade, assim
aco.ntecer se essa co.nstelação.:se instalar. ' •. ':' ' ..) comO. fo.i alcançado. na luta de Jacó co.m o..anjo;' ,v .. :í,
Ago.ra"o.'que Jacó·precisafàzer nessa.sitúação.é ~n~ Outro. aspecto. de tamanho encontro é mencionado
co.ntrar a reação. que fo.i co.nsteladate,supo.rtá-.lasem su~ púrJung: "'."',", '-, '; j I.:"> j . ' , ' " J ~;,: '::.;.'\

cumbir nem a.uma ho.stilídade:defensivanem'ao. deses­


n~o disc~tid,,: e·s~.
Um Jacó contemporâneo .. , ficaria indeciso na posse de um
pero.. Se ele tiver sucesso, :isso. co.rrespo.nderá a uma.luta s",vedo quê pudesse ser tornaria. um·
bem-sucedida co.m 6 anjo.'. Uma maneira de se pensar nisso. estranho na.."coletlVldade,.34
! .' l' :' ' ':~" ,-- J_ J l
é que, talvez, Jacó tivesse de lutar co.ma.raiva que sentià.
po.r Esaú antes de po.der chegar a uma atitude co.nciliató~ Isso éorrespo.nde ao. fato. de que um' enco.ntro com à
ria. Sabemo.s que ele chego.u:a uma atitude co.nciliatória Personalidáde Maiúr é riecessariamente ül:n segredo; não.
porque ele envio.u presentes.a Esaú; sendo. bem-sucedi­ se po.~e falat so.bre ele, úU, pelo. meno.s,' não. se po.de en­
do., mas ele não. po.deria fazer isso. antes .de superar essa '1' .• :, .~'" ,,)'. ,. - ',,',;'-'" ,:,.' ,;'/ .

_L_-_" cw 5;pa~ 524(gnfo meiÚ,' -::


r .' ~
reação.. Essa reação. po.deria se expressar tanto..na raiv.a 33 .'! J' i,'; '. (,' "
4
co.ntra Esaú po.r lhe causar pro.blemas, .quanto. em um M'mo"",,·D,,om', R,J",tiO"" •. 34 .. .,. ,'. 55
54
trar em detalhes. É um segredo que cria o indivíduo.comq
algo separado do coletivo e, ao mesmo tempo, éuma feri­ de uma pessoa com a PérsonalidadeMaior. Seja como for,
da que separa e aliena; de· maneira dolorosa, o indivíduo em sua forma ,atual ele é tini' dos exemplos mais refina­
da coletividade, de forma a possu~r tanto um ladopositi~ dos do mundo sobre ess~ ~xperiê~cia. ,
vo quanto um negativo. ,. ,A hist.ória começa com o.desesperodo príncipe Arjuna
Um ótimo ,~~emnlo: desse fenôm~ngl,é ~flg~i'a de antes de uma batalha, em que ele não quer entrar por­
Filoctetes,no mitogrego.rEle herdou as flechasdQuradas que ela' é contra seu próprio povo. ao expressar sua
de Héracles, 'representante da, Personalidade Maior no angústia, o deus'Krishna responde por meio 'da figura do
mito, Filoctetes; uma pessoa comum como todos nós, não cocheiro. Primeiro fala 'Arjuna: .
sabia lidar com tal ~rmà e se feriu com 'uma das flechas
Ó,Krish~a, ve~sio aí o m~~,povo; re.llnid~ aq~i, ~çqen:
envenenadas, que herdou.,Aferid? tornou-se incurável. O to por uma luta, minhas pernas traem-me, minhâ'boca:
fedor era tal. que ninguém conseguia ficar perto dele, e seca' ' .. , ".'.,;,. ,c' h

então ele foi abandonado em uma ilha. Contudo,' num dado Meu corpo treme', meu' cabelo arrepia-se, meu Gandiva
momento um oráculo disse que a guerra de 'Tróia: só po­ (arco) escapa ,à minha mão, minha pele queima~se."
deria st;'lr vencida pelos gregos se eles obtivessem a ajuda Ó Keshava,(Krishna,o assassino de Keshi), eu não con-,
sigo ficar de minha mente está confusa e eu vejC! pres~
de Filoctetes. 'Eles tiveram"de ';voltar, e se' desculpar pelo ságios adversos. .' .
banimento dele e tr~zê-lo àe 'volta à ~oretivida~e. 'É's'se é Ó Krishna; eu também não vejo nada de bom em ex­
um belíssim6j~xem.ploàe certo aspecto ,do fenômeno; 9 termin~r me\l prqpriq po~o nessa batalha. Não qesejo nem
indivíduo fica ,~lie~a~() ,e torna-se"um 'peso desagradável a vitória, nem o reino, nem os prazeres... "
para a coletiv!dade.~~~áindaa~sim;·a colétividade preCis~ Essesglierreiros eu não desejo:matât, apesar de eu ser
dele. '
I,' '..ti " ,
• ,~, .. morto, por éles. 3? ' ;I
.'~; fr ~ b ~ I -""-1 . . . . _··­ ,KrishÍla responde: l'

';:! l } '!
Ktishna;,),.,~
.1 ..__ ,f ~ 1 ' ~ ! . l,' ! l. ~ ,

'J1 -)
Arjuna e " . _" ., ., _J
Estás lamentando-se por aqueles a quem não se deve­
' . .

Esse é realm~nt~ ~niJ~~emplo' ma~ífic~ àe'um ,e~:


ria lamentar... mas o verdadeiro sábio lamenta-se nem
p~19 Il1qrt(), nempelp y:ivo... !". c" ,; , , : , '. "
contro com a Personalidade'Maior. Está reiístrado Bâ! ,Esses.corpo~ são perecív~is; çont].gio, os.habit,aI1tes çles­
gavad-Gita. Assinícomo OYI:,Ívro de'Jó, súàcaractérística ses corpos são 'eternos,' fndestruhveis' eimpenetráv'eis;
central éum diálo'g~"erifre'un:í homem.'supéragoniado e pbrtanto, lute, Ó descenden.te (de Bhadtiár' ' (.~ ,"
uma personificação da divindade:' Nãó terihoum 'és tudo Aqu,el,equ y ? (qi ~ Il1ei!?rp.o), ~on~,iqera o, ,exte:r;minador ou
aque!e q1fe pensa que ele .cSi-ml~sIlfo) é exterminado, ne­
mais profundo arespeito do;Qita.Ele é, ohv,úl.mente, um nhum deles conhece a Verdade, pois Elé não extermina
documento composto que chego\l à sua forma,atuaI.devij­ nem é extermiríádo. J , ' • r,

do a uma série de acréscimos., Mas eu ,~cho,:consideran; Elfii,(Si-mes~'r'ío) nu~ca na,sc'el,i,' ~'nun'ca morre) nem
do-o do ponto de vista psicológico, que não é de todo a
depois de tervóltado não:ser~'Ele(Si~rúesn:lO) não nasce,
" ,
possível que ele tenha se originado, assim cO,mo acredito
que o Livro de Jó tenha se originado;lda.experiência real 35 "The Blcssed Lord's Song" (= Srimad-Bagavad.Gita), traduzido por Swami
56 Paramanada, em Lin Yutang, ed.) The wisdom ofChina and fndia, p, 59.

57
é eterno, imutável, antigo. Nunca é destruído, nem mes_
mo quando o corpo é destruído..: ' .
'" Sendo assim, 6 filho de Kunti, erga-se e vá a luta. .., Aquele que, controlando os órgãos da ação, senta-se
Considerando o prazer e a 'dor, ganhos e perdas, vitó_ retendo o pensamento dos objetos do sentido em sua men­
ria e derrota; entre nessa batalha. Assim, o pecado não o te, esse ser auto-enganador é chamadÇl de hipócrita .
. maculará. 36' ,
No entanto, ó Arjuna, aquele que, controlando os sen­
tidos com a mente, segue sem apego o caminho da ação
com seus órgãos da ação, é estimado;
De modo. típico, a Personalidade. Maior apresentou Realiza, portanto, as ações que lhe são impostas, pois
uma atitude muito ampla para:a compreensão do ego. a ação é superior à inaçãp. Sem ,trabalho, até mesmo a
Arjuna está confuso porque lhe .foi apresentada uma simples manutenção de telJ. corpo não Serla possível.
atitude para q.lém dos ·opostos. E,'nesse caso,o't~ma da Este mundo é determinado'por açõ~s, exceto quando
ferida esta representado pela su'a confusão. Vejam, a elas são executadas em noine de Yajna' (sacrifício religio­
so, adoração etc.). "0 filho de Kunti, realizaas·ações
ferida não é tão proeminente nessa história "oriental sem apego.~a,· " ",\ J • ::';'
quanto oéna, história ocidental de Jó, e.isso, acredito, "f "'.~ lI' . . C.' ; , ~'l
diz algum'a coisa 86bre a diferença entre a, psique orien­ A isso segue uma des.crição long? e magnífic;;t do modo
tal e ocldental' . t.,
de vida religio~o. Particul~rment~ digna de flOta é a des,
'I , ;

De qualqu.~r mgdo, Arjuna responde: i',',' , . crição de Krishnà" çle s~a próPTi?, natur~~a: I~ein~ le~~
6 J anqrdaI'ia, ó Kesh::lVa (Rnsh.q,aJ, 'para:ti (6 caminho ~e brem-se de que, do, pqnto d~ vist?, pSicóh?gico, o qll;e est,a­
mos escutandQ é f) Si-:mesRlf), descr~ven,do,$ua própria
da) sabedoria é superior a (o caminho da) ação; então por
que estás co;nprometendo-meconú~o te'rríveláç'ão,? Com natureza par;a o eg9. ~'l1tão, ,e$sa.l ~ão é"ílpenap,
_ > -' ~ ._"'...
1i1:l1a his;
_,. ~.' i ~. ...

essas palavras aparentemente conflitantes, estás confun­ tória de um~vento remot?; é m;n relato ~e ':lWi1 eXI?eriên-;
dindo-me a compreensão. (Aí está a ferida, vocêsyêem) cia que pode se suceder com qualquer um de" nós.
Assim, diga-me com convicção qüàl que, segúindo­ Vejamos como KrisJ:;ma descreve a si m~S1JlO, em parte:
o, possolchegaI; aom,ai!? al~o}7_.,!, ,fi t ,"
;.
"
.~.
1"1'" I

-.. }. 'i f.~ ~t~~~,


., #{ , .. , )'.)"
Eu sou a origem e também a dissolução do universo. (Essa
E então Krishna prossegue' com 'o que sÓ"podemos
é a frase que reverberou na mente de RobertOppenneimer
chamar de ufiI'a explicação muito paciEmte. Eu o imagino
ao testemunhar a primeira explosão atômica.: "a origem e a
começando comi U,~ SU$pirQ. li" .. ~r', !: " .'. " !
dissolução ,do U!liver~o::) N'ãp há nad:;t que exista acima de
mim,' Gomo pérolas em um Cct1iir, o
tod9 universo és~á' . preso
pur~, d~plb
:' I r I.. ,
I " ~ '\' •• ~"
a Mim: Sou o gosto âis águas e o esplendor do sol e da lua,
6 homem ne'stemtlndo está 6 caminho que A alma' sagrada; Om em todos 'ó~1Vedas, 'o som no éter, a
descrevi.Q câminhO,pa saoêd()ria ~ para os meditati­
vos, e o caminho do trabalhb é; paiáos ativos'. ;' " , cOf!.sciência D.? raçap.~mana. Sou a fr'i\gr~ncia sagrada na
tem;! e o)Srilno rio fogo.. So~'a :vida erp,todos os seres e a
O homem não alcança a liberdade da ação pelli não­ ,B:tlsteridaêle nos ascetas. Rec,ollheçam-me como a semente
execução da ação, 'nemalcançá'a peifel:çãó'simplesmente
abandonando a ação. , I ., ' " " eterna de tõdos os seres. Sou o intelecto do ea
bráVil~â ci.os·br~lVos. '6 AI]ü~~; conheço o passado, o n",~}(""'C1r.p
36 Ibíd., Pp. 62s.
, .~ o futuro de.todos os seres; mas niriguém Me ",V~.La'-." .... ,

37 Ibíd., p. 67. , ..... , "

\, !' 1;.
,I
.;1: .
58 ) ~8;Ibíd: ""
39 Ibíd., pp. 80ss. (modificado e abreviado),
F;Q
Lembrem-se, o que está sendo expresso aqui é a na­ Numa dessas expedições, eu ia a Damasco, armado com
tureza do Si-mesmo, o que a psique ÍIldividi.ul1 pode en­ plenos poderes e com un:a ,carta do sU,mo sac~rdote. Ao
contrar. Essa é a' maneira COmo o' Si-m,esmo fala de si. meio-dIa, enquanto ~egU1a ~o meu cammho, VI uma luz,
,-, . ,
essa é a sua fenomenologia. Aúnica manifestação dispo_ mais brilhante do que o sol, descer dos céus. Ela: brilhava
nível para o Si-mesmo na consciência é como uma encar_ ao meu redor e ao redor'de meus compànheiros de via~
nação individual. Cada Si:..rnesmo individual, à medida gemo Caímos todos no chão,' eeu 'ouvi uina voz dizendo
para mim em hebraico: "Saulo, Saulo" porque você. me
que se torna manifesto, expressa-se dessa forma. persegue? É difícil paravpcê, lutand9 assim contra a cor­
A maneita'comó RrlsJína descreve-se asi mesmo para rente". Então eu perguJ,ltei: :'Quep; é você, Senhor?" e Elé
Arjuna é semelha:\lt~ à maneira como Iahweh fala com
) ,',.\;. , )

respondeu: "Eu sou'Jesús 'e' voéê está me perseguindo. Mas


Jó no furacão. Mas, ao mesmo tempo, é bastante diferen_ levante-se, pois eu apateci a você por esse motlvo: para
te. Vejam, todo o estilo é diferente, muito mais calmo, designá-lo como meu servo e como'testemunha'dessa vi­
são na qual você me viU'; e ,das. outras 'nas ,quais.aparece­
mais objetiyo. Aqui não há furacão. Pode-se dizer que é rei para você.' Levante.s~;",agora. e ~n,tre n11. c~dacj.e e lhe
mais civilizado, 'mais' pSicológico. 'Psicologicaniente, o dirão o que voçê ,dyy~, fazt:;:r~'". " .1, ~:
' 'I , • , ,

Ocidente é bárbaro se comparado com: o Oríente:Mas o Os homens que viajavarrl com Sa'ulo ficaram sem fala,
que Krishna' faz··fé i explicar, .corli muita: padêndà, .para pois, apesar de terem' ouvido' a voz, :hãoçohseguiam ver
Arjuna', dessejeAo caimo,·objetivo,adiferença.:entre o ninguém: 'Saulo levanfou.lse,' mas, 'mesmo'éom os olhos
bem abertos"não conseguiave'r nada; e tiv.eram de guiá..;
ego e o Si-me'smo; inteirando~o, assim, dá natureza da lo até Damasco. ,Por ,três; di<}s ,ele nã,o.eIl?'ergou nada, e.
Personalíd:úÍe Màior., E essa revela'ção aconteceu porque; ficou sem c9~er,nem be~er'1, 4..'
Como Jó, Arjuna'persev,erou'e qulistionou Krishna~
'!
I I .
;~.,-'~ ~~--~~._>:. Bom, a princípio Paulo fico.u ,absoluta:,?en~~ ab~lado
Paulo eCristô L
' 'u, -,' ,I ". com o encontro ,com a Personalidade Maior. ,Ficou cego
.,'
por três dias\e, segundo algumas tradições e outros rela­
'. fI-., :,j
tos, existem motivos para se acreditar'que ele levou três
Aqui, mais.l1mª vez, voltamo-nos'àsescritl..!Tas de
outra religião mundial. Os textos relevantes 'encontram_ anos na Arábia para se recuperar, Osrelatos Bíblicos não
se basicamente nó Livrados Atos, e vou ler pará vocês dizem isso exatamehte, mas 'existem algumas tradições
uma compilação, um r~sumo tom.~inna's próprijlS pala­ que o sugerem. 'Eu' acho muito provável que tenha sido
assim.""'," . ;.:' . .. .
vras, dos acontecíment9s' essé.ncüús\ Patilódiz"assün:
Paulo \dentifiéou' á Personalidadê;Maiorque-encon­
Antes, eu achava que 'era o'meu dever usar todos os trou com Cristo, Essa é a origem da Igreja Cristã como a
meios para combater o nome dé Jesus, o Nazareno: Isso
aconteceu em Jerusalém. Eu mesmo mandei muitos san­
conhecemos. Um
encontrá com a'Personálidade Maior pode
tos para a prisão, sob a'autoridade do Sumo sacerdÓte. E provocar uma resistência violenta do ego consciente, como
quando eles eram condenádos à niorté', meu .voto era o podeJitos ver com a'p~rseguiçãb dos cristãos por Raulo an­
sempre a favor da: pena. Muitas vezes', ~odéava as' SInago­ tes deder a'visão. Esse é,um'fenômenopsicológico
. ~.. ~,' I 't
• I ~ ~ ., .
" .
bem
gas infligindo penas, tentando, assim, forçá-los a renun­ documentado,' e b encbntnúnos com certa freqüência na
ciar à sua fé, Minha ira contra eles era tamanha que eu análise, É claro que, no caso de Saulo, isso é compreensí­
até mesmo os perseguia em outras cidades., ','
60 vel, em vista do fatá dequea consciência que lhe foi trazida
61
pelo encontro com a Personalidade Maior impôs àlgumas um encontro moderno. com '8. Personalidade Maior. Não
exigências super-rigórosasem Sua vida. Ele·foi obrigado a podemos saber quantos enc,ontros anônimos dessa na­
sacrificar sua vida pessoal totalmente depbis,doencontro.
Ele tornou-se uIIles~ravo,de Cristfi. Ele começa "!-~ cartas
r , ,," ,.. j tureza existem, ma$, se eles permanecem s.ecretos, nun­
ca transmitido:s à t?letiyi~ade, a,experiência morre des­
aos romanos e aos filipenses chamando a si pqJprio de
percebida. " , ' , ' .,_~
Paulo, servo de Cristo. E começa.a carta a Filemon com as É verdade que as tragédias. do Fausto de Goethe e do
palavras: "Paulo, prisioneiro de Jesus Cristo"; E é isso Zaratustra de Nietzsche marcam os primeiros vislum­
mesmo que ele'era, literalmente um'prisioneiro. :
bres de uma irrupção Há experiência total na civilização
A experiênci;;t de Saulo é uma das declaraçÕes mais ocidental. Po~ "irr~pção"da' exper~ê~cia total" quero dizer
claras que t~I1l0S sobre CQmo é ter um encontrq desses
- . I ~ I " j

um encontrp com ~ P~rsonalidadE,l Maior., N:os tempos


com a Personalidade Maior.. :Esse estado de estar preso é modernos, apenasFausto.e Zaratustra testemunham esse
muito bem resumido no<'segundo capítulo .dos Gálatas, encontro com o centro mais amplo da psique,'
onde Paulo diz: "Estol,l crucificado coiriCristb: apesar dis­ O Zaratustra de Nietz.sche é muito maisimportan­
so, eu vivo; ~onttido, não eu, Il1afi 'Cristo vive 'em mim"
(2,20). Jung:fez; ~~a'd~~lar~ção'em suara~tobiografiá
que
te, do ponto Cle vista psicológico, na minha, çrpinião, por­
que o autor viveú. es.s,,,!- exp~riê,ncia totalI).Í.ep.t~ ..GQethe
não fica muito longe disso. Depois de seu encontro com o não. Ele manteve certa pQstura olímpica ,por· sobre a ex­ 'I
,i
inconsciente'le com a personificaçao' da Personalidade periência desc,ritá em Fausto. Nietzsche'viveusúaexpe­ :,~

Maior, à qual ele chamou Filemon, 'ele diz:' '


riência tdtalmenté,até o seu aÍnàrgo fim. Então, é o pri­

~. ~

Foi entãolquê 'deixei
, '
pertericer somente a mim mesmo,

j .' : . :'" -. ,.. t "


meiro e~cohtrci d~urri ego mJdei:rio çom, ~a Pei~o'rialidade

. deiXei 'de ter 'cf direito 'pára. tal: A partir de'en tão; minha.
Maior, o primeiro qU,e'deixou um registro, .

. à,generalidade..::Foi
vida. 'pertencia' d . então-que me,dedi"
Nietzsche .sucumbiu nesse encontro, Mas, também,
quel aose,ryl_~Q,a.pslqu~., ", .'':' " " i . i ; ' i .1
40'
como poderia ser diferente,já que ele foi o primeiro a ex­
serviço"fI~,~~p&,!~,psi9P~.é serv~çp ~uJi
' '. !, ( ,I. : '. """ ., " . C':. , ':"" ') ( plorar essa regiao déSconhecida é claro, não 'conhecia
O ari;3.l9g9, ao
escravidão de Pàulo a Cristo.-Os dois tennos diferentes pará seus perigos. Os perigos to:çnaram-se claros somente de­
~" I . ",i
O mesmo fenOineno são apropnados ao contexto de .s~~,~
pois quejá o haviam cercado. Acredito que temos uma
, .• . r
J , : ". ,,.; .,l. . i", •

diferentes backgrounds PsÍqjlicos çulturais.,e col~tivos. .


dívida imensa pàra,com Nietzsche. Jung aprendeu mui­
' , , ~ ) r' C. " "i' :' to a partir daI experiência dele. Estou convencido de que,
!! 'I.: ;·[r!,. "''''1 ,) ,)I.r'JU se~ o . exemplo 'anterior de 'Niétzs~he, a f!xp~riência de
Nietzsche e Zaré\tust,ra, , ,': ,1 i .") '. ." ,I . . I
Jung teria' sido provavelmente fatal, ,.
f }~ \'j('''
Agora, farei um salto d:e uns. dois ÍnU..ànos, dir;etd ,\ ' . J • • 'Em. su"a' ~ufobio'grafia',
'I' ", 'I·' r
.JlPlg' di;; 'ter descoberto
1 1.1 ',. . '\ '.; >. I I

para os tempos mOdernos.,Preceden.do Jimg,.o Assírrl Nie'tzs'che em 1898. Ele diz o seguinte: 1 . .
Nietzs'ch~éQ, ;rr~~de
: ') ... _ ~ .... , ' I .". 1,' 1

falava Zaratustra de reglstio d!l'" Apesar de meus temores, estava curioso e me dispus a lê­
Caiu-me nas mãos o livro Considerações Inaturais.
40 Memories, Dreams, Re/Zections, p. 192. '. ~ .!j i) "1
",1 i ;\ ~ ; Entusiasmei-me e li em seguida Assim falava Zaratustra.
62
,J ; ~ 41
l);1 ".n; ~ .,,')
Essa leitura, como a. d.o Fausto de Goethe, foi uma de mi­
63
nhas impressões mais profundas'. Zarátustraera,o Fausto
de Nietzsche, seu n.o2 (sua pers(:malidade n, o 2); e p1eu n. O No entanto, seu funcionamento psicológico interno
2 agora correspondea Zaratustra.... Achei Za!atustr:~ estava muito mais intacto do que sua aparência externa
mórbido. Seria támbém o' meu n. 2 m'órbido? Essa possi­ O
poderia indicar. ~le escrevEm um manuscrito enquanto
bilidade encheu-me'de um temor que nUnca ousara 'con­ estava interrladoe conseguiu fázer com que o texto saís­
fessar a mim mesmo, mas que me deixava em suspenso, se clandestinamente com um páciente que estava indo
manifestando_se reiteradamente, de um modo inoportu­
no e que me .obrig~v~ a refletir sobre 'mim, mesmo. embora. O texto tinha de passar longe dos olhos atentos
N ietzsche descobrira o, seu n, o 2 p1ais ta~cj.e" depois da se­ de sua irma, 'que,' provavelmente; o téria 'destruído.
gunda metade de sua existência, ao passo qUe euconhe­ Esse é um evento muito dramático e,importante. Foi
cia o meu desde ajuventude:-Nietzsclie falava ingênua e finalmente publica<lo e ~.st~ disponível e].TI uma tradu­
irrefletidamente desse arrheton (segredo), coino se fizes­
se párte ~da ordem comum. Eu, entretanto; soube muito
ção, mas pouquíssimas pessoa9 o conhecem. Os estudio­
cedo que,e~,sa atittl.de.Jliwa a experiências negativa~". S~u sos de Nietzsche estão' envoltos 'uÍIÍa conspiração de
equívoco mó:r:bid9 ~ pensei fora o de expor seu n.? 2 com silêncio êontra texto, 'porque ele falà sobr~ os fatos
uma ingenuidade e' uma falta de reserva excessivas a um psicológicos 'da vida dele,' Os estudiosos àcredit~m que
mundo totalmente igriorante de tais cois'as e' ihcapaz de esses fatos depreciam NietzscI1e" o' filósofo~ O que eles
compreendê-las,· Ele alimentava ,a esperança infantil de
encontrarlJ.omens que pUdessem'experimentar seu êxta­
fazem, na v.erdade, é engrandecer Nietzsche, o ser huma­
se e, conwreend~r "a transmu~ação ,de todos os' v,alor~s". no. Essa obra foi publicadàcomo título MySister and 1.
Como os outros, não se compreendeu a si mesmo ao cair Um título muito' infeliz, mas que não foi éscolhidó por
no fuuTld.o do'mistério e, do' indizível, Pretendendo':" ~léin Nietzsche; e sim por seus edi,tores, par<;l- çapitalizar o as­
domais' ~X:ilJi-loa umamassaamoi-fa e' aba'nd.ó'nada'p:~~ pecto mais eséandalQso do texto, qlle falà,sobre a relação
deuses. Daí a ênfase da sua linguagem, a superabun_
dânéia das metáfor:as, o.entusiasmoépico que tentava em íncestuos'a éntre-ele e a irmã desde a infâiIcia. Não é p~e-
• _ ,. , F L • ~ \~

vão falar, desse mundo. voltado a um saber absurdo.,.E -;­ ciso dizer, ele ,tinha de passar longe dos olhos da irmã..
C0Il19 'umf~~n,çarigod~çorda ,- acabpu pqr ,cair ãl~qiA~~~ My Si~ter: and 1 é um. documento psicológico maravi­
mesmo. 41 ., ,
lhoso porque Nietzsche tem insights, dentro de sua expe­
... ~ L ') .
riência de.d~rrota total 7'" o que a insanidade aparente re­
Hoje em dia temos dados que demonstram que Nietzs~
' . ' , " " '" , ' " , .; ': '" i ;:i j
, " ';, 11 • " '<,
presenta para" u~a pessoa de, tal brilho in'telectual-.de
che encontrou.
com
,
a Personalidade
", ' ,.
'
Maior ,
pelaprimeirâ
\ . ',( ,
' ,
que el«;l, se realizou completamente comÇ> ser humano, e
vez na adolescência: Evidentemente,Jung não tinha co­ tudo isso. é dito nessa obra. Algum dia, alguém fará um
nhecimento d~ská i'riforniáção., Pouca!f pessoas o tê'In~
estudo de caso psicológj.co çompleto sobre Nietzsche e esse
Depois que Nietzsch~ t~v~ "um~urto' eril1889, foi hóspi~
livro, e ele ocupará, I:lIltão,: seu lugar como o primeiro psi­
talizado fi consideraqo)ouco pelO ,res'to da yiâa" os 0Il~e

~ , J • 'J
• I, .. 1 . ,'" I . ,i l ' , ' " (

cólog()pI:ofundQ: , ..,.
anos seguintes. Ele tornou-se incapaz d'e se expressar 'dê
Aqui.~st;í o. que Nietzsche nos diz:.
uma maneira coerente. '
De todos dS livros dá Bíblia, Primeiro Samuel, principal­
I " ; I ',~ ':
mente nas passagens iniciais, foI o que causou as impres­
41 Memories, Dreams, RefleCtions, p. 1025.>' Llrr :,;" sões mais profundas em mim. De certa forma, ele pode ter
sido o responsável por um elemento espiritual importan­
64
65
Jung dÍz'qu e a tragédia deZaratustra é que, devido
te em minha vida. A p,assagern é aquela onde o S,enhor
tinh~
à morte de .seu Deus, o' p'roptio Nietzsche virou um deus
acorda o menino profeta, três vezes e Samuel, por três ve7
zes, confunde a voz celeste com' a voz de Eli, qué dórmia e que isSO áconte'ceu porque ele não era ateu. Ele
perto dele no templo. Convencido, depois da terceira vez, uma natureía m~,:lÍto 'posihya'pa~a' tolerar a neurose ur­
de que seu prodígio estava sendo chamado a serviços su" bana do ateísmo. Parece perigoso pata um homem des­
periores a aqueles que lhe eram disponíveis na casa de ses afirmaI:' que Deus ~stá 'Inorto. Ele 'se torna vítima da
sacrifícios, Eli ip.strui o menino nos caminhos da profecia.
Eu não tinha, um Eli (nem mesmo um Schopenhauer) inflação na mesma h O F a . ' ;
quando uma visão se~elhante obscuréceu os primeiros
Nietzsche foi muito importante para Jung, o que se

dias da minha adolescêncià. Eu tinha doze anos quando o torna evidente no'fato dé' qúêéle conduzi\:i um seminário

Senhor irrompeu em mini em toda a Sua glóriá;úma fu~ sobre o Zardt'ustr'a dúfante'cib.co'anos.' Aqui éstá um pe­
são fulgurante das imagens de Abraão, Moisés e'do jovem queno excerto desse seminário:' ,
~ ~ ~
Jesus da Bíblia. ,Em Sua segunda visita, Ele v~io a mim • ' .i - ,_.! .' •

não fisicamente,mas em um estremecimento da. consci­ (Niet~s,che) nasceu em 1844,.e começOl;í a,é;;crever Zara­
"""

ência no qual o bem e o mal clamaram, diante dos portões tustra,~m 18Bi?, quaq.do ,~~n1fa tfi,p.ta e nove, a,nos. A ma­
da minha alma, por um igual reconhecimento, Na tercei­ nein,i çomo o, f?screveu é, impressionallte. ~l.e fez ,até um
ns
verso sobre issO'. Ele .disse: "Da \yurdeei :zu zwei und
ra vez Ele agarrou-me'em frente à minha casa na formà
de um terrível vento. Reconheci a ação de urna força divi i Zarathustra gil1g anmir vorbei", que'quer 'dizer: "Então,
na, pois foi naquele momento que eu concebi a Trindaçl~ um tornou-se dois, e Zaratustra'ultrapassou-me", signifi­
c~,mo ~eus, o' Pai, Deus, o _Filho~ e Deus, o Diabo. 42 cando que Zaratustra'tornoti-s e inanifestô comó-\lma se­
gunda pe.rsónalidade dentro dele. Isso nOS mostr?: que ele
tinh~ ~l~rf1 roção de n,ão ,syr,. çle pr.ópri,9~ ~dêIlj;ico 13. Za­
• I' .' ' \, " ,

Estamos falanao de um adolescente aqui; e essa pas­


sagem indica que a função profética d~ Niétzsche'surgiu ratustrá. Mas cOJno ele poderia evitar tornar-se tal iden­
tid'adenaqueles diá.~ em que J?ào'existiàlà l#ié'Ól~gia? Nin­
quando ele tinha doze anãs. As revelações propria~eÍ1tê
guém, naquelà'épóca; teria à;coragem d~h~va:r; ?-' sério a
ditas, com ênfase no conflito dos opostos, iridicam que o idéia de personificação, oU!lle'smo de urna ,açã~ espiritual
Si-mesmo, em sua fenomenologia moderna, na forma autônoma e independente. Mil oitocentos e oitenta e três
cômo o conhecemos, foi constelado' nele, de modo que ~ foi oanó' da eclosão da filosofi~' materialísta. por' isso, ele
ap~~ar
I

questão principal' para ele passou a sera polàrÚlade eu: com" 'Z_aratustra
, 1 li,' ,""
teve de , ldentlficar-se
•• >' • • Y·,
q,e perc;eber,
tre Cristo e Anticristo.1\o ler"sUas obras c'oniatençãó; cómo prova esse verso, uml.'l. difer~nça defin.itiva entre ele
e o velho sáhio.En,tãO j essaidéil.'l. d,e qúeZaiâtustra tinha
pode-se perceber que'essa é a questão principal por trás de vpltar parii reparar as fa:ltas'desua invenção .anterior ns
de toda a sua escrita:, Conscientemente, Nietzsche ideh l é belJ1 caracte:t1sbca" dopo,ntô çle vista psicológico;demo ­
tificou-se de maneira deliberada com o Anticristo.Con- i
~r~ que élé'poSf3llià ~~ntimeJ1t.9 ,apsolutamente histó­
um
tudo, inconscientemente, ele identificou-se cOm Cristo. . rico s'ob~eissq,\:.o q\ie1o' cob.riU'dé um sentido particular
de destino'.:. '-- . ' .', , ,.,.-' " , ,.
'. É claro 'qu~ :um s,entÍl;nento, desses é extremamente
Assim, depois de seu surto, chegou a assinar algumas de
suas cartas como "O CruCificado",' De qualquer forma, ence
enriquecedor... a experiência dionisíaca par excell . Na
como vocês podem ver, ele viveu sua, vida com 'lfma pro­ última parte, o ekstasis dionisíaco aflora ... Em uma das
funda atitude religiosa. ' ' , . , " cartas a sua irmã, ele descreve de nlaneira comovente o
ekstâsís no qual escreveu Zaratustra ... Ele fala de sua for­
42 My Sister and l, p. 184. ~ :.... 67
66
ma de escrever, que simplesmente ~manaya de dentro dele, Tudo acontece.de maneira involuntária, no mais alto
uma produção quase aut9~oma; t~nho' cer;teza, absoluta grau, mas como em uma explosão de sentimentos de li­
de que as palavras se apresentavam por si próprias, e eSsa
descrição nos dá uma idéia do que 'foi esse estaCIo absolu­ berdade, incondicionalidade; poder, divindade. Ainvolun­
tamente extraordinário rio qual ele se éncontrava,um es­ tariedade da imagem e da metáfora é ,o mais estranho de
tado de possessão: .. Foi çomq se ele estivesse possuído por tudo; não se t~m mais nenhuma noção do que seja uma
um gênio crjativo que pegou o seu ç.§rei?ro e produziu essa imagem ou uina,metáforáf tudo se~oferece como aexpres­
obra por pura necessidade.43 ',\. ,
são mais próxima,mais"óbvia; mais_!?imples. Na verdade
parece, para aludir a uma frase de Zaratustra, como se
Quero dár,-)h~s u~ ~xemp,lo;' E1l~ ge~cr~~é, melhor do as coisas se aproximassem e"se.ofer~cessem 'como metá­
que eu Q ekstasis em que Nietzsch.e se encontrava:. foras ("Aqui; tudo aparecé carinhosament~ no,teu discurso
Alguém, no fim do século de'ienove, tem idéia' do . os e te dá prazer; pois eles querem cavalgar nas tuas costas.
.poetas de outras eras chal,Daram inspiração? Se vou Em toda 'metáfora, diriges-te a toda verdade ..:' Aqui as
'explicar. 'QJem' carrega um resíduo de superstição, por palavras e os,sàntuários das palavras de, tod,o o ser abrem­
menOr que seja,' dificilmente. poderá reje~tar ao mesmo se diante de ti; aqui, toçlos .os seres' ,desejam toí;nar-se
~emp~ a idéia ,de que ,somos mera encarnação, mero por­ palavra, todo o,devir qu~er aprender contigo" a falar").44
ta-voz, meramente um instrum~nto para as forças Supe­
riores. O conceito de revelação- no sentido de que de re­ Essa é a experiêncja do inconsciente em seu ímp,eto
pente" com uma cert~zà e su'tÍleza indescritíveis, algo criativo de imagens significativas. Pouq~íssimos escrito­
torria~s'é i/isível, audível, algo que abàla' o indivíduo em res cons'eguein igualar-se i1 Nietzsche ~m sua[esplêndida
todas as suas est~uturas e o joga no chão -: é apenas uma
capacid;ldé dé expressão.. " ,.
A m~i.o~parte de'A,ssÚ~ fâiava'Zar~tustr-;;' foi escrita
j,
descrição dos fatos. O indivíduo ouve, não procura; aceita,
e não 'pergunta q'U:em está"dandó; como uinraio, um pen­
samento lámpeJa, Com'necessidade, sem hesitação quan­ nesse estado mental extático. As palavras brO.tavám do
sua
to à formá - e'u nunca tive escÓlha. I '., inconscien~e. A PerSO.nalidade Maior é,afigura de Zara­
. Um arrebatamento, cuja enorme tensão muitas vezes tustra; a.reenca,rIlaçãci do an~igO.profeta. A figll rá anun­
.. ,' , • • f"

é desc~rregada em uma torrente de .lágrimas _ agora o cia uma


passo acelerl'l-se inyoluntariamente, ago.r.~ torna-se,mais ~ nova
~~ m'O.ralldádé' e uma visão de mundo comple­
tamente nova; o que ela al).Ullcj~·é, na v!')rdade, o ,precursor
_ . ! _ . _ ,., • ,,_' • ." • . I. J

lento; o indivíduo está fora de si mesmo por completo, Com


a clara consciência, de qrrepios sutis e de calafrios dos pés da psicologia profunda.
à cabeça; um poço de felicidade onde ate mesmo 'o,que é Zaratustra é um dO.cumento'psicológicO. absolutamen­
mais doloroso e triste não soa como uma antítese; mas te extbordináriO." kfO.rma' como eledescrev'e a sombra
._ ;' t' .',
,o"'.,
como algo condi'cionado, prqvocado; uma ;cor necessária coletiva do homem moderno~ é de tirar o fôlego. O texto
,I 'I- • I

em tal superabundância de luz;, )lID instinto para relações . " ,r .,; • , .' .,,'. '

rítmicas que abarca amplos espaços dás formas _ a exten­ abunda em verdades pS,icológicas brilhantes, mas tam­
são, a necessidade de um ritmo amplo, são quase tama­ o bém pode ser'um perigO.so veneno. podemos adoecer com
da força da inspiração, um tipo de compensação, por ele. Eu não consigo ler uma parte muito grande do
Sua pressão e tensão, " . ,. ,

44 Eçee Homo.-p, 3005: (Também citado, em uma tradução diferente, em

68
Notes on the Seminar Giuen in 1934,1939; p. 9ss.
Ju"". t'"'''''' z""thu,t". p. " , Nota do Edito')

\ 69
o si_",es",o diz ao ego' "Sinta do' aqui>" °
Zar atu stra - ele me ' dei xa doente
, lite ralm ent e, porqu pensa eo",o pode pa, a' eOU> sofrin"nto E ego sof,e e

°
seu s ins igh ts tran sce nde nta is.a ind - e é po' isso que

a não foram assimila~ ele O


foi si-"
feito,e,,"
paroa diz
penaosar.ego' "Sinta p,a ze
deleita-se e pensa eo,"O pod "á dele i,",- ' aqui!" E ° ego
dos pelo hom em inteiro e, por issd;ain
da,rião foram huma.
nizados. Isso 'os tor na ma us e des se nova",ente - e
tru tivo s, e eles podel1l
é po' issO que ele foi feito p" a pen sa"
ma tar. , " ,

. .':' , es

Mas ess a éa nat ure za da Pers'onalid Nie , como ulll- tipo ihtuiçãO; ass oci ou o
é um a par te dela:: É por isso que Jal ade Maior. Essa Si- m ­
am osd as feridas. Elas '"o à fun tzsc
çãoheinfe rior , OU sej a; à sen saç ão,
_m~smo p~ra
,~biam~Ie,?
não exi ste m den tro das cat ego rias pelo corpo, entãO o Si rep res ent ada
. dó' ego, da decência <\ 9 corpo
hum ana . Ela s'ex trap ola m ess as cat ,,!m ent e acontece com os"intu,itiv IssO ge­
ego rias em ambos os
,s~
lados, do lado! bóm e ,do ruim.' Ma Os, Se yqcês
s como um, (enõmeno, prestarelll- ate nçã o em seuS amigos
são abs olu tam ent e extraordinárias::. Que in)ere,ssatn po,

sen~açãQ,
' 'I,. trabalhOS corporaiS, v" "o, Que Quase
. Muitas' das idéias.com as qua ise ",d os o)es, sãO, intu i­
sta 'mo s:a cos tum a­ tivos' NóS, tipo nãO pre cis an, os, pre sta r tan ta

dos na psi col ogi aju ngu ian aap are cem
em Zar atu stra . Por atençãO no corpo; não preeisainoS
exemplo, vou ler úm a peq uen a.p ass
age mq ue é um a des­ Ma s o pon to ina is not áve l desdiv inizá-lo.. '

se rela to éa descrição
crição.explícit::} do Si-mesmo. Vejam eXplícita do Si_ m
se vocês concordam
no como' um seg und o cen tro da


~jet1.sche
que isso soa familiar, . personalidade, u,m, eSI centro, litie é su,pertO r aO ego,
.
'. Tuâ izes "Eu "e orgulh'as-té' des:
maior'- coisa que tu nãó que res cre
,
:;à pal~rvra. No ent ant o,
( sab ia dissO SO!l\eIlte,p9rQué'êlé iA:,
não foi tota lme nte ass imi lad a nO
e ~ssa
experiêp.cia, Ela
Ulotnento etn Que ele a
r:"
razão gra nde . Ele não diz Eu, mas é o teu'corpo e a tua des cre veu , ma tev e à experiénCia, Ela foi asS imi
proced
O que os sen tido s apr eci am ,oq uéo e:cómoEu. nO hos pita l psiq sél e lad a
nun ca em si tem seu fim. Mas,os sen esp írito conhece, uiátriCO - como dem ons tra o doc
tido s e o esp írito que- pós um ent o
.rem te per sua dir de que são o fim , " ' .. , " " ' " '. ','
de
soberbos são . Os sen tido s e o esp írito tOqas ?-,s coi~as: tão EuOvou ' diz er ;'Ig u,n a,p ala vra s
tutn <m'lioÍriérlagem a
joguetes: por trás deles ain da há s&o inst rum ent os e Nie tzs ,VeJo-o <01110 u,u 'inú tir da cau sa
o própriô' ser. Elé tam ­ da psicologia
bém pro cur a com 'os olhos dos sen pro funche da em erg e"t e, Qu em :' li> com atel
tido s;\t a'm bém ' esc uta •
iÇão'percebe al­
, com o ouv ido 'do espírito. Ele séin ,,' '
gam as pis tas de Que ele esc olh eu' .. " . • •• 1 , .\
pre:
compara, domina, conquista, destrói esc uta 'e procura: o can tinh ó cbb
da inflaçãO
bém tem o controle dO,ego.
;·Ele controla, e tam - de ma nei ra deU ber adá , par a Qne pud
, ess e des
etn rir o'Que
"~<o se esc ond ia do out ro iad o, Ele foi

~lll-bém,"or~geJ""~ ~inborauda~cia
Por trás de teu s pen san ien tos e. sen j '.

um holll- de utn a co­


mão, está um póderoso soberano.:.
• ~ tim ent os; meu '
r , . , . " , ir- ragelll- psicológica illl-e
nsa uin a
'I , '

'psicológica imen-
,>'

cujo nom!,! é.si -meSíno.


Em teu corpo ele 'hab ita; elê é ~ teu sa, ma s
corpo.' \) " ele ten ha sid o lev l ado

eert~,fP,n>~' ~u,e
Exi ste mai s raz ão em teu cor po'd à imi nêr cia de ,-\t n.p siC Ose por ,U1:na
sabedoria. E quemlsabe ppr, que ojte o'qU e.em tlia mai or doe nça lll-e nta sifl­
men te de tua mai or sab edo ria? t
)l corpo pre cisa exatq.~ Iitica" 4. pa rée ele tatnbé1l1 esc olh eu
O si-mesmo ri do ego e de seu s salt
j , "
ess e cam inh o, Veja1l1 o Que ele diz
etn sua aut obi Oll 'af' "
, ' , ; ,

significam par a mim esses salt os e os arro gan tes: "Que ion
vôos do pensamento?",
ele diz par a si mesmo. "Um rod eiq ___.rl, ,>. '6. J..4.fUTh spoke Zafathustra. part 1. sect
par a o meu próprio fim. us 4).
Eu tenho o controle do ego e sou. a
origem de sua s idéias." 71
70
J...-----­
Os poetas míticos virâm 'Empédocles lançando-se nas
mas flamejantes do Etna, mas esse destino estava rnundiais: ?utro ex~mplo q,ue não foi dis~utido, a histó-
do não ao grande Pré-socrático, mas a mim apenas. Após MOlsese EI Kidhr, encontra-se no LIvro sagrado do
ter sido separado do amor.da minha vida (Lou Salomé), o
amor que me fez humano, fiz, então, mel!- mergulho des . Islã. Isso nos mostra que aexperi'ênda da Personalidade
perado nas chamas da loucura, esperando, .COmo Zaratustra,
es Maior é de taman};la, numin:osi.d~de que pqde, muitas ve­
encontrar fé em mim mesmo ao enlouquecer e entrar em zes, ser a origem de uma nova religião ..Mas agora, pela
uma região superior de sanidade _ a sanidade do lunático primeira vez, no que eu chamaria de "a era junguiana",
delirante, a loucura normal dos Conderiados!46
estamos em posição de começar a compreender, de forma
E no mesmo texto Nietzsche escreVe essas. palavras geral e científica, as entidades psicológicas que geram as
comoventes em seu quarto do manicômio:. religiões.
Essa enorme quantidade de novos conhecimentos
A minha honra está perdida porque as mli1l1eres trafram_ está afluindo à psique moderna. É claro que ela aflui aos
me e deixaram_me fraco, ou traf a minha prÓPria força
indo atrás do Poder do conhecimento verdadeiro, que pode, indivíduos primeiro, mas também à psique coletiva. E esse
SOzinho, livrar-nos da Perdição? Estou completamente afluxo representa tanto uma grande oportunidade quanto
perdido por estar esmagado embáixo do mortos um grande perigo. É como se, do ponto de vista coletivo,
nas planícies de Maratona? Qv,e Demóstenes, o "",""çu",,,. estivéssemos próximos de encontrar a Personalidade
eloqüente da honra ateniense, derrame sua oração tUne­
bre sobre mim: "Não, Você nã.o falhóu; Frederick Nietzsche!
Maior que, corpo diz Jung na passagem .citadaant~­
riormente, pode fazer nossa vida fluir para aquela vida
~e
. Existem nobres derrotas 'ssim Como existem 'mortes no­
. bres voéê mOrreu nobremente.Não, Você não falhou! maior, mas que também é "um momento de perigo mortal".
EUju,ro pelos mortos nas planici'lS del\faratona.''' ._. Parece-me que nossa melhor oportunidade dE;! evitar
uma catástrof~ co.Ietiva rel:jide na possibilidade de que
AgOra que essa obra final de Nietzsche está. dispo­ um número suficiente de pessoas tenha encontros cons­ )

tragédiaberpi~a, ~.época
nfvel a nós, podemos ver sua vida Por completo, CÓnÍo urrli,
cientes individua.is com a Personalidade Maior e, assim,
um saçrifi,ioque'inaugurou da
contribuam pa,ra o processo de imunizar a sociedaçle con­
PSicolOgia profunda e que .b-o uxe ,. pela primeira vez, a tra uma inflação ateísta em massa. Se cada um de n6s
Personalidaqe Maior ã Consciênciã modeina. À experiên_ tentar alcançar esse objetivo, assimilando de maneira
cia de Nietzsche preparou o caminh.ó para Jung.'.
,. ~ '. , '. . -- , , diligente nossas projeções e buscando nosso próprio en­
Comentários f~nais , contro, único e individual, estaremos contribuindo para
'j I }o I.

.'.
'l<

esse processo de imunização. Enquanto isso acontecer na


~ T • ,
arena da psique individual, não precisará acontecer na
VOCês devem ter notado, e iss,i'"é realmehte -impor­
tante, que três dos quatró casos que apreSentei encdn_ terrível arena da psique coletiva.
tram-se nas escrituras <lealgumas das:n,aiores relig;ões Nas palavras de Jung, com as quais termino a mi­
"f";",
nha apresentação:
46 My Sister alld I, p. 114. ' I, ' , " ' " ' •••

47 Pp.
TO "
Para que o conflito projetado se cure, ele voltar à

psique do indivíduo, onde teve sua origem inconsciente.

72 Ele deve ,celebrara Última' C€!ia consigo mesmo, comer

73
sua própria cafI1e e beber.,$eu Pf9Pri9 o que signi.
fica que ele deye reconhecer eaceitftr o outro nele mes. ". ·3
mo... Será esse o significado dós ensinamentos 'de Cristo
de que cada um'deye carregar Sua própria' cruz? Pois s~
você0$tiver de suportar a si me$mo,como poderá prejudi_ A VIDA TERAPÊUTICA
car outros?48 , )/-'

.. , \ .\ 1

J
"

,f

" ,

""
.) .' Fatores pessoais~ a~qlletíp,i~o~
'" ...... J i

A questão principal da relação do pessoal com o ar­


'I '.: quetípico no desenvolvimento psicológico é a seguinte: Até
, . , j I; • l I

, "
que ponto o desenvolvimento da personalidade é determi­
I
, tt
nado por padrões inatos, apriori no indivíduo - ou seja, os
~ I ~ 'J.
fatores arquetípicos - e átéque ponto é determinado pela
-../
~'

.-~. ~} ~"
, .~. f
"', l" ~ ,
.
',.'
experiência pessoál e pela influência do meio, da cultura e
'''"' J M'

i
das relações pessoais relevantes..". os fatores pessoais?
'.j
~' -.,! , JI)
'
,,~4'.~~~ ~ ,. .ir! Jung sempre enfatizou que a psique não é uma ta­
, . ,J -<-I • .J

/
,," ..... 1
bula rasa, uma folha em bránco onde es~revemos nossa:
.t ~
'-, )
t - ... J
ni, ""r
vida; apesar disso, ela sofre uma profunda influência, po­
-. sitiva ou negativa, dás experiências interpessoais, Como
:1"." •.).~.~ I 'j se dão essas influências e como 'elas se relacionam com os
I padrões arquetípicos inatos, da forma 'como os compre­
", !t~ ) ~ :t ,\-~~ ~::"i
endemos, é a questão que iremos explorar agora.
< ....

I) :
,>
J ~.~ Sabemos, por meiÇ) da nossa própria vida e do tra­
'l:X-i':!1
,'! :' ~ j - . r;
~
balho.clínico; dos. profundoSi ,efeitos, que os eventosda in­
/ ~ I (,;.

i~ ~~J~:~--~.;
1,1
fância e as relações pessoais com os pais podem exercer na
personalidadéfutura da cri~riça. Mediante relatórios fei­
,i' I'

'I •
lJf tos cóin crianças selvagens,' sabemos que, se faltar à crian­
,"f n; t;'i. <.J
li
ça um relacionamento humano, a personalidade humana
/ t',' ... '
48 Mysterium Coniunctionis, CW 14,Pár:52., 1 • não se desenvolve., Em tais casos, as fases de desenvol­
·,r, vimento arquetípiconão aco~tecem e a criança pode per­
74
75
Adiante, Neumannfalado "fenômenoda chave e fe­
manecer em um nível anim{l]. O mesmo acontece naque­ chad ", por meio do quàl a imagE;lm arguetípica e a re­
les casos raros e trágicos onde a criança fica trancada em laçãOuracom um ser'human6'ativam a personalidade em
um quarto por anos, completaniéútê rejeitada pelos pais. desenvolviment~, Ess~ conceito :rn,ostr~ cl~~o ayanço so­
Semelhantemente, quando a criança sofre a perda bre a idéia anterior e muito mais simples de que a crian­
de um pai ou mãe muito cedo na vida e este não é substi­ ça projeta ~os pais b àrq~étipo in:terno. No erilanto, o con­
tuído de forma adequada, cria-se um tipo de buraco na ceito de Neumani:l não explica como. a personalidade
psique da criança. Uma imagem arquetípica importante específica dos pais inUuencia' a' psique" da Criança. Ainda
não passou pela personalização por meio de uma relação há uma lacuna e~ hos~fl compreensãO da interaçao do
humana, de modo que o arquétipo conserva uma força pessoal coro o ar~úetíPicO. ". .' . · . '.' .' '.
ilimitada e primordial, que ameaça inundar o ego se este M. Esther' Harding, também uma das primeiras alu~

se aproximar. Contudo, em alguns casos, um relaciona­ nas de Jung, tentou lidar com esse próblemà por(ineio da

mento com outra pessoa que não'uffi.dos pàis pode suprir idéia do arquétipo danificado, expressa,em seu'liVrdThe Pa~

essa falta. Todos conhecemos pessoas que, apesar de te­ rental Imagei tis Injury' and RêconstruGtio n . Mks como pode

rem exp!3riências m'uitoI;l.egati"B;stom os pais, foralll ca­ um arquétipo ser dánificado?Da' forma' cci~o'eU: 'entendo,

pazes. de. fqrjar uma, relação .positIva .çOm algum Qutro só pode haver uma relação danificada com u'm arquétipo.
adulto durante. a infâI,lcia. Esse adulto pode.ter !3ido uma Para o ego em desénvolvimento de uma criança,a're~
empregada, um parente, ou um prof~ssor, qú~ tenha sido lação com um arquétipo torna-se possí';"el apenas qu"ando
capaz de se relac.ionar de maneira genuína com a criança
e de person.ali~a:r uma imagem.a:rquetípica, Nesses ca­
ele a experimenta em umaencaniação pessoaL A imagem
arquetípica só, pode ser experimentada e concretiiada
SOS,aiS inadequações, dos pajs.,!eIl)bora.prejtidici~is, não quando é infundida coro um conteúdo pessoal e tangível
foram fatais no desenvolvimento da criaJ:lçq. Mes,m.o que através de ~Ü1a ç
rehtçãO hll'niana.'Desse';rnodo, à :rehl ãô
essas relações positivas d.\Jrem apenas .1J.lll breve:ÍJ:lstan­ com os pais não apenas evoca o arquétipo, como também
te, seus. efe.ito,s podem ser inc9rpO:rç(dQs pa:ra sempre na
personalidade, em de$ep-volyif[:U:~1JtQ,
fornece uI1}apa,rt~ do,s~U; c~nteúdo ~~~pecí!ico. p:~ar;te 'do
arquétipo que a perso-halidade dos pais pode ativar, me­
Um dos primeiros.Jllu;ftQs.de Jung;Eric;h N~urp.ann, diar e personificar, é aparte <iliepode, maIs facilmente, ser
tentou responder 'a eiSSp. q:uestãp. Elefal9l! da, .ev9cação • ,f" " ! ; ", ' ' ,', " ,"
mcorporada pela personalidade da criança. Aquela parte
pessoal do arqu,étipo,da s~guinte m::meira: , " do arquétipoàqual os pais nã6 se'refà'don'arn'fidará larga­
A estrutura transpessoal e eterrÍâ doarquétipo;inerente da, sem reConhecimento, no reino dasfornias eternas, ain­
à psique da criança e pronta p'ata ó desenvolvimento, deve da não enca~I}'adà'na história de vida pess6al 'da 'criança.
primeiro ser lib~ra.da e atiyaq!:l pelQ,en,contrQ pess.oal com Não côncordo corb"Neumann', pelo menos. em parte,
um ser humano... .A evocação do.I:l:rqu(!tipo é um evento
pessoal na históriaindividual e; poi isso, suJeítõ a' possí­ quando ele diz:' ' {' I' ' '

veis distúrbios,49 "- .. " ," ' , '" A evocação pessoal do arquétipo é uma necessidade do
",,t~ \ ·,in; 'i.')
destino, de forma que uma infinidade de coisas acontec~
f
49 "The Significance of the Genetic Aspect fÓi- fArial;ticàí:psydíologyi,; 'em além daquilo que os pais fazem ou pretendem fazer, A atl­
Journal ofAnalytícal Psychology •.voJ. 4. J1,o 1 W1.5\1).' r' . ')_'.' L, , , < ' 77
76
vidade deles libera as piop,~nsºe.sinªr:~ritt::!.S.fiQ ~tquétipo Esse princípio (da personalização ,secundária) sustenta
transpessoal na psiqu~; infaQtil, as qu;::li~não podem origi_ haver no homem uma persistente tend(mcia no sentido de
nar-se, de forma alguma, dá figur~ p.:;ssoapo, '­ tomar Oi? con,teúdos primáriÇls e traJ;lspessoais como se­
LJ. • cundários e pessoais e de reduzi-los a fatores pessoais. A
l." • •

personalização está diretamente ligada à formação do ego,


Esse ponto de vista eilfatiza os cçnteúdos inatos e a da consciência e da individuàlidade... por meio da quaL
priori do arquétipo de m,~iieira'r~1Uito '~xtreri:ía, nêgando o ego emerge da torrente dos, eventos transpessoais e co­
o ponto até ,onde as perspnalidádes dos pais determinam letivos,., A personalização secundária traz um declínio da
os conteúdos específicosl ido arquétipo, da maneira, como influência do transpessoal e prQmove o progresso da im­
·, .,' " 5t
são experimentadospelacriança:'Oconteúdq fqtal do portância do ego e da' personalidade.
~,-

e
• .' • ,,' , . ! .. " '

arquétipo não liberado automaticamen;te a p~rtir de uma Aqui, Neumanrtse refere, a urríáatitudeque perso­
experiênda co.m os pai~, Emyez qissõ, ele' é pá,réÍalniente naliza o transpessoalpara despotencializá;.lo. Eu ,diria,
liberado, de acórdo' com a parte do arquétipo que os pais também,que: há um processo experimental anterior a
encarnam'e, expressam, ,; ,
qualquer atitude co;nsciente que personaliza. os conteú"
Se s'eguirino?, N eumaíul, os ,pai~, são. rE!ispoJ7.s~veis, dos transpessoais e que~sse processo é a.carqcterística
apena,spela ativação de' conteúdos' arquetípicos preexis­ essencial do desenvolvimento do ego. e do cr:esCimento.da
tentes. Todavia~ essêponto de ~ista! rlãp consegue expli­ consciência, -.' ' "" .,' ,. : \ .
car os profundos efeitos queos pais exercem 'sobre a vida A importância d~ se enfatizar os aspectos pessoais
das crianças', Prefiro Supor que a éxperiência com oS pais da experiência é demonstrada pela anál~se de alguns pa­
torna-se :parte da própria imagem: arquetípica, tórpan~ cientes borderline. Lemoro,-'me, por exemplo, de uma mu..,
do-se uma parte permanente da personalidade: Esse con­ lher que entrava em pânico sempre que eu mencionava a
ceito origina-se na idéia de que um arquétipo só :po(;le ser palavra arquetip9 ou fazia qualquer referência a fatores
experimentado e assi,milado de
form~sigÍ1ificativa por transpesl?oais. Ela 'conseguia exprimir a natureza de seu
meio de uma:relação pessoal espeCífica - poi'meio de um medo de,forma muito clara. Ela sentia que qualquer co­
processo de' personalizC;l.ção, " , , .,,' ' . mentário que a afastas§>e da realidade direta de sua rela­
. Todo o processo de desenvolvimento pSicplógico Indi­ ção pessoal comigo ou de sua vida diária abriria um vas­
vidual, por meio dd (lUa'l o-ego emerge de seü' estado qri~ to oceano de possibilidades disformes e ameaçadoras que
ginal de unidadecqm a psique objetiva e aiquetfpica, podé a deso.rien~ariaI?:Ela era forçaqa a se agarra,r ao ime­
ser considerado COn;tç um proces'so de pe.rso?alizaç~o: A diato, ao pessoal, ao concretó,'Tódas as generalidades amea~
experiência e a realização conscient~ das imagens arque~
çavam-na como tltn perigo mortal.
típicas somente é possível ao se detront~r çoin e~sas ima­ Normalménte, enéontramoso mesmo tipo de objeção
gens encarnadas nos outros. Neuniann alude a essa idéi~ ao tentar interpretar a transferência~como a projeção çie
quando fala da fase necessária da "personalização secun­ uma imagem arquetípica ..Bara alguns ,pacientes com egos
dária": .' ' . ,('
, j
frágeis, a simples' idéia de uma projeção pode ser um vene­
f _ \~- ~ >/
'1'
Ibid,
Oi'igin~ and Histary af Çansciausne~s, p .• 336s;
50
51' The

78 79
Life", de 1939, ondeséUS comentários são muito sinceros
no psíquico. Para eles, a idéia de que certa reação pode e informais: ".'i I " - . .
~~~
representar a projeção de' algUm comPdnente interno ar­ i, ')

Lembro-me-de,um caso rpuito simples. Era uma estudan­


ruína o seu senso de realidade' do mundo externo efaz com te de filosofiá, uma mulp.er muito inteligente, Isso acon­

que eles se percam no niar de pu;:t su6jeti~idad~. Um exem­ teceu bem no início da minha carreira. Eu era um médico

muito jovem e não conhecia nada além de Freud. Não era

um caso muito importante de neur?se, e.eu t~nha,quase

plo extremo do fracasso <la personalização cias imagens


arquetípicas é encontrado na esquizofrenia,. onde a cons­ certeza absoluta de que ela poderia 'curar-se; mas ela não

ciência é inundada'pÓr imagens arquetípkas, primordiais se curava. A'moÇa havia'desenvolvido Uma transferência

e sem limites. Nesses casos, o indivíduo nUnca teve uma paterna iniprEissionante comigo -:. projetando a: imagem

oportunidade adequada para expe~ÍIriéntar os arquétipos do pai em mim. Eú disse: "Mas,'veja, eu-nao sou seu pai!"

"E-q sei", ela disse, ,"que voqê-não é meu pai, mas é como se
mediados .e personalizados pelas relações humanas.
A manéita como muitos pacientes se atêm obstina­ fosse:,'.E\a se .c,omportou de ,acordoçom e~se papel e.
apaixonou por mim, e euera se'u pai, irmão, filho, aman­
damente à 'experiência original com 'os pais é devida a te, macido _ e,' é 'claro: também ,eu her , e salvado' ­ ó
essa necessidade vital da' personalizaçãodo·arquétipo. todàs às cóisas ilnagináveisr"Mas", eu disse, "isso em não faza
~u
Por exemplo, se a experiência parental foi muito destru­ o menor. sentido!': "Mas eu:não posso vívers isso",el
tiva, o paciente.pode ter muita dificuldade' em aceitar e respon9.eu.,O que é que poderia fazer:? Nenhun;ta expli.
caçãO depreciativa iria ajudarf!1uito. Ela disse: «Você VOpode
suportar uma experiência parental positiva~ Tenho a cla­
ra impressão de_qu~euma pessoa irá persistir em uma um~
di,er, ,9 que qui,er;é i'"o que"eu',\nt "
garras de
Q
EI~ "ta n'"
imagem inconsciente. Então, tive-urna idéia:
orientação, 'negativa dó arquétipo, paterno_pelo simples '''Bom; sé alguém sabe algúma: coisá> sobre isso, esse al­
motivo de que esseéo.aspecto da ímagemque foi. perso­ guém temq"e 'ser~o incóJ;lsciente, que.pro:duziu uma situa.­S
çãotãQ. cOJllP\icaQ.!l:". ,Lºgo,~çOll1éCei a observar de 'perto 9
nalizado em'sua prÓpria,vida,apresentando, assim,;uma
~iph~.~onhpsrtOEl quais'~u i
Pli,c;,,~e?,,~, ró, trab~lhan""
segurança, .embora- sejaum ,aspecto:négativo, ,Parà, essa s9nhQ$./Ij.:la aparecia como o
'ionho, DepoiS; apareci
pessoa, encontrar o' as'pectopositívo do 'arqúétipo' é ame, como o amante, e também como o mando - todos eles eS- \
açador 'porque,~ cQriloesse'~lado nuncaJoi personálizado, tavam'ÍlO mesmo filão, DepoiS, comecei a mudar de tama­ !
ele carrega uma·ri1agnitude·transp.essoal.que ameaçacdis. 'Íl~'o; eu era. muito maior do que um ser humano comum;
solver os limites do ego.'" ,) , _ I _ . "em .lgun, momento' eu tinha até me,mo atributo' rdivi,
't ,,;) !"5:!~:r.~J _~;
;i ,'1 ,,',Pep,ei,,"Bem,es," é a velha idéia do "Iv.do ", E
. então o comecei a assumir as formas mais surpreendentes.
A transferêpCia: arquetíp{ca
, ,;,.!~ . :__ ~>." J~'~.' J--"
eo'.~~co:.itr'Ó p~ssoa]-
~.Jfll,~ -- ,,~,' ~ .-~.)
"" 'Àpa,éci, pC< exe",plo, no tamanho de um deu', ,obre '"
:~J'ca~Pos, _segurando- a em meus braços como se fosse um a
;,bebê; e o'vento soprava sobre o milho e os campos ondul ­
ond.llsd.Ortl~r,e nin~va
A forma como compteendemosa ligação entre osfa:­
,,em,\m~,",,,br,a,o,, ~ q~dQ:fi, ~",",\",ag~m, pen,~)'
tores pessoais e arquetípicos, nodesenvolvirilento psico­ ,: i\;Ylirtl comÇl da mt;lsma forma eu a
lÓgico influencia a maneira' como lidamoscdm os sonhos ,ai,
"Agora eu vejoO que ,o 'inconsciente está realmente pro-a
arquetípicos.e com a.transferênciá:arqu,etípica. d. ",;
,.., curando:
.j . ' (, ' .'
ele ., '
quer fazer' 'de_mim
., " (l' ,
um " 'i·'
deus: ""
a garota "
précIS
Um Ótimo exemplp disso foi ImbliCadó(por Jung.pelâ de um deus... Ele quer encontrar um deus, e porque não
primeira vez em 1966, em Two Essays on Analytical Psy­ consegue, ele diz: "O Dr. Jung, é um deus"c E então contei
chology. Ele também falou disso na palestra "The.8ymbolic 81
80
a ela o que eu estava pensando: '~E;ú não 'sou' um 4 s,
seguramente, mas seu inconsciente precisa de um deus. eu
nalíza ecoIlcretizá, demaheirá gradual, a imagem arque-
é uma necessidade muito séria e genuína":.: Isso
mudou a situação por completo; fez toda a diferença do típica ativada.' I; ,; ." " ,/: "

mundo.
do Eu Curei5~esse caso, POrque satisfiz a'necessidade
inconsciente. Em Two Essays, JJ.mg descreve esse caso de forma
muito mais circunspecta. 53 Torna-se claro, então, que a
"
paciente não se curou imediatamente com a interpreta­
Esse caso;' apárentemente, foi um' dos primeiros e
1

~vQti ~ ,1)í~el
ção arquetípica, ,mas, em v:ez disso, ocorreu uma mudan­
decisivos casos que ,I J ung pensar no árque­
oPQSiÇã9'_~onÍv~1
ça bem graduaL Sem negar a validade da interpretação
típico do inconsCIente em pesso<jtl. Nes­ arquetípica; podemos nos perguntar se a interpretação
se caso, ele abriu mão dá interpretação pessoal, mudou foi o que exerceu a influênCíacuraâora decisiva. O prin­
para uma interpretação arquetípica~ e curou a paciente. cipal fator de ·cura pode muito bem ter sidó o interesse
É'c1aro que b caso foi 'símpÍlficadoê projetado pat.. che­
condusãoespeCÍfica:'n1ai~precisame~te~
pessoal ea pre'Ocupaçao de Jung por essa.paciente e:seu
gar a uma para materiaL Ela, por acaso, estavaào lado dele n'O momento
. , ',,, , '. , I.
demonstrar a imagem arquetípica e Sua necessidade de em que .uma grande teoria. da personalidade humana.es..,
~ ~
ser realizada conscientemente. Para nos, que nos basea­
• , - • • _ i •

tava em processo de germinação. Jung compartilhou essa


mos por completo nessa idéia; àcredito que outras ques­ experiência pessoal tão importante com ela. Eu diria que
tões devam ser levantadas. ..' , ... ', " I,
foi o encontro pessoal-com a personalidade:aberta e hu­
Em primeiro '~ugar,
nOSsa' experiênçüi.',Cii1)ica' nos mana de Jung quepersonalízou o arquétipo ativado e le-i
mostra que umpacierite com sonháS' desse tipo'.dificil_ vou à sua: assimilação como UffiIlOvo pedaço da própria
mente é curado
e
pehinterpretação,"ru-qUetíPicádos sónhos, personalidade da paciente.'
evitando:s 'qualquer tipo' de encontÍ'o intenso e pessoal. J ung descreve sua busca por' um sentido nesses
Na minha éxperiênciá; tais sonhos·têmindicadO' um in­
arqUetíPicona'transferên~ia:l'
sonhos emTwo Essays. -Ele termina ,com as seguintes
tenso dinamism'o~, z;nas um
atr~vésAa
... ", . ,. , , ., • I
idéias: . . ','
dinamismo que não pode ser ,dissolvido sua
, '
despersonalização por meio -de interpretações religiOsas
Pensei: talvez, o in.~onsci~nte· esteja tenta,ndo .criar
ou arquetípjcas. O único' procedimento que tem funcio­
deus, apoiando-se na pessoa do médiéo, a fim de libertar
concepção de deus dos invólucrós dé uma: instância
nado COmigo é acoitar eS sess6nhbstiÍmo'uma deScriÇão
soaI: Dessa forma, a tránsferência reali~ada na pessoa do
aCurada da imporiând<:t;,p(,lra o p,ácie.qte;,da re'laçãó que
médico não passaria de um equívoco da consciênciá, de
ele mantém Comigo, Se, carrego comigo
' '. ~ ~.' I "".'
o valor
'.' ~~ ,
projetado
" J .•
uma brincadeira estúpida,do "sen,socomum" .... Acaso a
ou personalizado d~ Deus ou do Si-mesmo; nã~ exi~'te uma
nostalgia de um deus poderia ser uma paixão, manando
forma interpretativa de me livrar dessa responsabilida_
de uma natureza obscura e instintiva, uma paixão intócada
de, O desenvolvimen tó pSlcológico dá por meio ~ ~dri1ente por quàisquer influências externas,talvez mais'profunda
e forte do que o amor por um ser humano?54
de Um interCâmbio interpessoaJ'pfolohgádo; 'qué'perso_
,... '-.', ,; '; I "0 ;I -:,. ,

52 The Symbolic Li{e, CW 18, par 634: i J r, ,I

82 • '1 53 CW 7, pars~ 206ss. h \ J.: ~

54 Ibid., par. 214.

83
Essa, é claro, era a forma como .Jung enx~rgava a A cura em harmonia coma psique objetiva
~ ~
transferência arquetípica. No entanto, tal Pbntod>eyista : I

tende a depreciar, e até mesmo ajustificaÍ'como ~m"mal­ Essa discussão leva'a uma questão 'mais geral, rela­
entendido, a. natureza intensament~ pespoal da. tr"!fis(e­ tiva ao efeito curadQr e à interpretação dos sonhos. Até
rência. ., ê J , . , •.•
que ponto as .imagén~ ·.onírlcas autÔnomas 1~vain a uma
cura e a ~~a maior consCiêncüi, ~até que pontó'a reação
-'» ',; '. ' ••

Há uma outra forma, Complementar, ,de se olhar para


a transferência; .que, deyolve,ao :aspecto pessoal o valor e
do analista o contexto' interpessoal' dó processo de in­
que lhe é de direito. Em. ve.z.de c.ompreendE):r os sonhos terpretaç'ão dos' ~'õnhos con t~ibu.em?" :.' L.

dessa mulher s,omerite . como uma tentativa"do 'incons­ Essa é lim:aqúestão dificíliIna. ror um ladô'; existem
."' f __ _ • _.. f j, . - .". .

ciente de "libertar uma.vis'ão de De,)fs'do véll dm; aspec, muitas evidências


~.'
j
de um processo psico19gico,
~.." ~ ~ ~,.
inato~ ~ e es­
1 , ' ., '" .' f

tos pessoais", .,podemos, compreendê-lq,s . também, ou. pre­ pontâneo, que luta pela auto-realização. A série de so-,

nhos public~dâ por Jung em p,sychológy andAlcliéTJty é.

ferivelmente, .éomo uma.tentativa.do arquétipo. de eme;rgir


de seu reino remoto e ,ete!nQ para se encarnar pessoal­ um ótimo exemplo disso. 5s Ppr'outro ladp, existe.m mui­

mente na vida real.da paciente, na ,.r.elaç~Q,d.ela çom q tos outros exemplos na pr~tica psicoterápíc'aonde nos~;as

analista. , .".. " .' '. ''''''''', ... }. próprias ~~~postase


\ ~ _
.envolvimento parecem ser fator~s

"'. i '., J '

Se pensarmos.assim, nãoteremosznais ªqllele ,an­ cruciais.


seio de mandá-lo de volta para Q lugar de ond~,saiu, Acredito que a maioria de nós concorda que a.mes­
tentando separar o arquétipo da pessoa do analist,a."Na ma coisa que ac'õntece com os fenÔmenos pSfquíêos e in­
verdade, agir assim pode fazer cQm que.a paéi.ente perT conscientes acontece com os fenômenos da física subatÕ~
ca uma,oportunidade q.edar Um graIlde passo.no seu mica: quer
~ ,
dizer,/que
. .»
eles Ilão~ podem
• ... ~
s~r ..obser:vados
'<.J " . '" ' ~
sem'
-' :
desenvolvimento psicológico.. Namaioria dos casos, uma que o próprio. processo de observação 'os influencie. As;
imagem arquetípica ativada somente pode ser assimi~ sim, uma óbservação~ objetiva ·éne~tra do incons,ciente é,
lada se ela puder, primeiro, encarnar-se em uma expe­ impossíve!..·, ' ' . ' ' . . .,
riência'I pessdal Essa ét ,al oportunidáde fornecida pela Esse 'é o 'ponto de vista de Jung, e ele o re~firmou
várias vezes., Por exemplo, ele diz em "General P r .obleIp5j
.J'lt ,
relação analítica. ~e nos der:;cuida~l;lO,~ ou tel]:tamos nos
I , J ,. • 1

esquivar desse pr,ocesso,prolongado deinte.rcâmpio pes­ of Psychotherapy":


soal que segue à ativação de um arquétipo, se conside­ É que, queiramos ou não, a relação médico-paciente é uma
ramos a transferência um estorvo, e não·:uma oportuni­ relação'pessoal, dentro do quadro impessoal de um trata,
dade valiosa, causamos. uni c-urtó,.circuito'
. • J 1 , " ,
processo /' I
no mef1.tomédic.o. Nenhum artifício evitará. que o tratamer;:t­
natural de desenvolvimento fi levamos a personalidade to seja o produto de uma .interação entre o paciente e o
.
de volta I 55' :
ao status quo ante.. I '
- :
:.
'~ I, )

J (
LI' . .
médiéo, éomoser~sinteíios ... Esta éa razão por.que mui­
tas vezes a personalidade do médico (como também ado
paciente) é infinitameÍlte mais importante para um tra"
tamento psíquico do que aquilo ~q'ue o médico ,diz ou pen"j
55 Para uma discussão mais completa sobre a transferência como uma
"oportunidade valiosa", ver o último artigo deste livro, "O fenômeno da ,Trans.
ferência". (Nota do Editor) l' .. • . ..1
56CW 12.
84 85
sa... o encontro deduas.personalidades'é como a misturá cia pessoal ou da influência cexercida pelas relações
de duas substâncias químicas diferentes: no caso de se interpessoais. O problema é qUe não podemos comprovar
dar uma reação, ambas se transformam. 57 " essa hipótese. Aobservação da psique de outras pessoas
O que Jung descreve aqui é um campo 'dinâmico de inevitavelmente envolve a influência exercida pelo ob­
influência psíquica. éompartilhàClo peló rriédicó' e" pelo' servador:Isso complica os dados obtidos, de forma a não
paciente, para o qu~l os dÓIS contribuem e pelo qual podermos dizer se o que estamos observando originou-se
ambos são afetados. E dentro desse caxnpo de influência no objeto obse~ado' ou' em 'nós mesmos. Não podemos
mútua que todas' às observações sobre à psicologia: saber ao certo se estamos observando a individuação de
profundadevem:'ser feitas. Nesse campo,é impossí~'el fa­ outra pes'soa ou noss'a própria, ou quem: sabe a indivi­
zer qualquer ôbservação"objetlva";A observação impli­ duação de Jung acontecendo em nós! . ,
ca, inevitavelrriente;em uma participação. É impos­ Uma forma de lidar com esse problema' é entender a:
\ , ,
sível para nós saber'se um sonho específico ou determi­ individuação como umpadtão coletivo de totalidade com­
nado curso de desenvolvimento são' n'aturais do pacien­ partilhado por todos os seres humano's e talvez por todos
te, se são evocados pelos interesses pessoais e pelas res­ os seres vivos. Assim, não' teria importância'saber se oS
postas do analista, ou se derivam de uma' combinação sonhos arquetípicos ou as imagens da individuação' origi­
dos dois. naram-se nó paciente ou no 'terapeuta. Se um terapeuta.
A concÍusão parece inevitável. Independente do consegue introduzir o paciente-nas 'energias básicas, co­
quão cuidadosos somos ao trabalhar com os sonhos do letivas e psicológicas por meio da sua (do terapeuta) par~
paciente, nunca poderemos saber ao certo se estamos ticipação hélas, então ele;está a serviço da função cura­
promovendo seu'próprio padrão de desenvolvimento ou dora. Não' t'éiia impb'rtância sabérse 'ele se direcionou
imprimindo riossa propriavisão demtindo em uma,psi­ pelo inconsciente do paciente ou por sua própria experiên~
que maleável. Já que a participação pessoal de um ou­ cia de vid~,'desdeque ele esteja em harmonia com as
realidades da psique objetiva consideradas como um cam-'
. na infância e no processo
tro ser humano é essencial . de
po compartilhado de dinamismo psicológico do qual to­
cura da análise, esse processo de impressão praticado
pelo analista parece ser tanto necess;irio 'quanto inevi­ dos os sérés humanos participam.
tável. Para utilizar a analogia do fruto do carvalho: se so­
Essas considerações levantam questões sobre a na­ mos todos' carvalhos, então podemos compartilhar' nos'.:
tureza essencial do processo analítico, da interpretação sos padrões de 'carvalho como paciente, qu~ também é unÍ
dos sonhos e da individuação, da forma como surgem na carvalho em potEHlbÍal. O que damos de nós mesmos ta.ín~
análise. Nossa teoria b~sica' a respeito do desenvolvimento bém se t,ornará parte do paciente, já,que compartilhl1mos
psicológico é que a personaliqade individua'l contém seu os mesmos padrões' inatos. Esse conceito pode ser, ilus­
e
próprio padrão inato' de to~alidade: tamb~m.[ o in'ipulso trado pelo seguinte exemplo da rela,ção dos fatores pesso­
para realizá-lo. Essa hipótese omite o efeito da experiên­ ais e arquetípicos na. análise.' ' ., . ,
O paciente é um homem talentoso e muitoiIltuitivo,
51 The Pra.ctice orPsychotherapy, CW 16, par. 163. por volta de seus tript,aanos de idade, cujl; infância foi
i

86 87
altamente comprometida do ponto de vista emocional.
Acendo as velas e a cera,n')almente desce para dentro da
Essa privação levou,a uma, quase absoluta paralisia em
forma vazia da ,crucificação, ~I,lando o entalhe enche, eu o
sua vida adulta.,EI~Joi uma cri?-nça bastarda, çxiada por tiro da parede; estou prestes a comer minha refeição. Pe­
pais adotivos quase psicóticos, e sU9- adaptação à vida guei a cabeça 'da imagem, que se formou ao se encher o
adulta é precária. EWQ9ra tenha granQ.e talento musical, entalhe, e a estou comendo: Ela é feita de uma substância
teve poucas oportunidade.:;; (,le obtE1T uma ~ducação for­ parecida com chumbo - muito pesada - e começo a me
mal. Ele já estava cOI)ligo há Illais de dois anos quando perguntar se serei capaz de digeri-la. Fico pensando se os
humanos conseguem digerir o chumbo. Percebo que co­
do momentod9: se§são que vou ciescrever. EI.e me disse memos um pouco todo dIa, e que comemos prata também.
que havia, recebiqo uma oportunidad~ úpica de estudar Acho que nãohá problema ter éômido o chumbo, mas es­
música, que demandava uma despe$a maior do que ele tou com medo de comer demais. O sonho termina enquan­
podia dar conta. Seus problemas psicológicos haviam tor­ to estou comendo.'
nado quase impossível que ele entrasse em qualguer aula
mais séria no passado, mas agora ele começava, a perce­ Escolhi discutir esse sonho pàrticularmente PÓF duas
ber que talvez fosse capaz de fazê-lo. ' , , razões. Primeiro, é óbvio que esse é um sonho arquetípico
Depois de conversarmos sobre o a,ssunto por algum que parece estar claramente relacionado a, se não for com':
tempo, chegamos à corclusão de ,qu~ e§sa ,era, de fato, pletamente causadopela,minha oferta pessoal, ao pa J
unia oportunidade ünportante que, se dava em 'um' mo­ ciente. Segundo, se 'eu a'compreendo da maneira correta,
mento propício de, seu' próprio processo psíquico, -e que a imagem do sonho refere-se especificamente ao assunto
ele pode:r:ia r~al,nient~ aproyéltar ~ssa·opórtunip.ade. Eu dessa palestra, ou seja, à relação entre as experiências'
lhe disse, então, que estariã dispostõ a reduzir ainda mais arquetípica e pessoal. Minha oferta de reduzir o preço foi
o preço da, súà sess,~o; q~'~ j ~ er~ baixo,' pã,;~' q].le ele pu­ uma tentativa,de, ser o pai zeloso.,Eu gostava desse hü':
desse obter ~ dinheiro neéess'áriõ paià éomeçár, ,I., .
os estu~ mem e sabia ,de seus' potenciais não realizados. A reação
dos. Elê ~cou, bastante empcionad~corp. a Ç>ferta e acei7
- .J_ l..... _JIO I _ " " " c

consciente dele igualav'a-se à minha' intenção consciente:'


tou-a dé bom,grado. . , pela primeira vez ele experimentou O sentimén'to'de teF
.i _ . ,_ l ,] " ' : ' ,o,' j

N a visita seguinte, ele falou uni pouco mais sobre


um pai. No entanto, o sorihoque se seguiu'oferecia ima­
suas reações conscientes. Ele disse que ficara muito toca­
gens diferentes sem nenhuma associação pessoal impor J
do' pela ~in~a;gen~ros{ç.ade," e. sen ti~. qúe cessá era sua
tante. Eu não trabalhei esse sonho cóm ó paciente em:
primeira ,experiência de ter urp p'ai. A r~s'posta de' seu in~
detalhes, mas sinto uma necessidade pessoal de com-\
consciente podê ser ~ista no' seguinte sonho: .
preendê-Io:· ,,'--_. '.~
~ . • - - - ., - I r l .' ", {

Estou sent~dodiante de um e'ntalhe àntigo de uma cruci­ Em primeiFo lugaF,'o 's'onho;,apresenta' um' entalhe
ficação. Ele éde metal, Irias está parcialmente coberto por antigo da crucificação. Um entalhe é uma es'Cültur:a em
uma substância,pareç~d~ com cen;l, ,o que me leva.~ desco~ depressão,'um rélevo negativo,- o 'quál, quando pressio­
brir umas velas sobre ele, uma de ~ada ~ado.,Percebo que nado sobre algum matérialin'acio tàlcomo a cera, produz
estou prestes a acender ils velas, fázendo com que a cera
desça para dentro do eilta:lhe~ e qb'e i'sso e~;"tirreH{c'ionado
uma imagem com relevo positlvo. Compreendo o entalhe
Com a refeição ritual qú:e eu voti'com~r.iJ . '::. "'I, nesse sonho,como,referente aüma estrutüra arquetípica,
88 Uma forma inata, vaz'ialem si;m:esma.É um mecanismo

89
de impressão que cria imagens de si mesmo a partir de a qual posf:!a irp.primir a mesma, para poder criar um
matérias amorfas, como a cera. O sonho diz que o enta­ conteúdo real e positiv:o, a forma arquetípica representa­
lhe é antigo. Isso se refere à sua natureza 3:rquetípica, da pelo entalhe. perman,ece. apenas um contorno vazio.
histórica - algo flntigp.e preexistente ria psique. O for­ por outro lado, ?cera.que representa o produto da expe­
mato do entalhe é a' crucificação. O paciente foi criado riência de vida. pessoal per:m?nece .amorfa, sem uma es­
como católico e levava essa religião muito a séri.o na in­ trutura outp:p, ~.ignificado" ,atéencoJ?trar, seu caminho
fância; as imagéns cristãs estavam, por esse motivo, fa­ dentro da imagem ;;rquetípic;;,-:- OI ent(jJhe - e. ser molda­
cilmente disponíveis para ele. , . da em urp.a forma. significativa, . I
por que são ,dl.,l.;;s as velas, não sei,a.o c~rto. Aparen­
Cristo suspe~so 'na cruz é,. em essência, uIp.a mandala
e, por isso, pode ser tomado como uma' repr~sentação do temente, o processo é. duplo.Isso me faz lembrar dªs ima­
Si-mesmo. A imagem da crucificação apresenta o tema gens de Mitr.a,. que o m.Qstramladeado. por ,dois· guias es­
pirituais, um segurando uma tocha par;; çima, o outro
central de tpdo o mito cristão, muito pertinel).te à nossa
para baixo., O entalhe da cr,ucificaçãocom .uma vela de
discus~ãoi. ou s~ja, a encarnação de Deus na forma hu­
cada lado também é análogo à. cena corwelJ.cional da cru·,
mana,~)U, para colocarmos em termos, psicológicos, a
cificação, onde Cristo eh_c.ontra-se ladeado ,por dois lap.rões.
encarnação de um arquétipo, o Si-me,smo, n11 experiência
Embora esseisonl:lolnão seja,clefinitivo, acreditQlque ele
pessoa.l; conçr:eta e histórica. Omito cristão da encarnação
faça uma. alusão a lnll processo. trinitário, As du?s. v:elaS
corresponqe ao processo de personalizar: o arquétipo no
derramam .se u produto em um terceiro objeto, ,o entalhe;
desenvQlvimen.to psicológico. A encarnação de Deus cons­
que junta os dois'e molda-os em urnaJor:r;Ila significativa.
trói a pqnte entr~ q mundo consciente do ego e o mundo
Se estivermos .n9 canlÍnho certo, as dq.as velas represen~
transpessoal da psique objetiva, Sem o proc~sso de encar­
tariam os opostos, e de seU funcionamento conjunto ,sai­
nação, oburacq~entre!o h01:p.em ~ o divino,egQ,e Si-mes­
ria o material bruto. para;;s formas simbólicasLsign.ifi­
mo, não pode ser fechado.: Falanqo de forma teológica,
não haveria salvaçãq, ., . ,: ". \ ' ': .: 'i.
cativas. ' .;, .' " F " " ' I , "1 ' .•
O spnho entãoxepr:es.en,ta a ingéstã.ü ritual da figura
O próxirpo dado do so.nho'é <;I acender das duas velas
de cera. Essa imagem possui um paralelo preciso nas refei~
e a cera ,çorrendo para og1olqe do .e,ntalhe. Vejo as velas
ções de comunbão.sagrada . nas qu;;iso paFticipant.e con­
acesas como. um,símqolo do próprio proc;esso de vida. A
some uma representação da divind::tcle. Ela repre!3ep,ta a
cera derretida, produzida pela chô:ma .9.as velas, pode ser
necessidade.do sonhado!' de assimilar,psicologicamente.
compreendida cómo uma substância maleável produzida
o produto.do prpcesso,que:acaba de. ocorrer, para:torná-lq
pelo ato de se viveria qu~l, enquanto está quefl;t~, toma­
verdadeiramente, seu.. Nesse ponto, aparece :!lma, caracte,
rá a forma do molde sobre o qual flui. ,: .', ;
rística muito l interessante -;- a consciência, no. sonhador,
No sonho, a cera derreticla é o material·bruto, a subs­
do peso da substância a ser comida e su.a digestibilidade
tânc~a amorfa, moldada emuma,irn11gempredetermina­
não quest,ionad;;. Aêu.fase po peso s\Jgere a realidade só,
da. E esse processo de molçiagem, que, corppreendo como
lida, substanci.al, d9 que. está séndo ingeridQ. Q indjvíduo
uma expressão simbólica espeCífica d.a enc;:trnação pes­
Curva-se com esse peso, e fica mais próx.Üno do, chã.o...
soal da imagem arquetípica. Sem;.uqta ~ubst<1ncia sobre
91
90
Um aspecto desse peso, acredito, refeI'e-se ao tipo A experiêntiaarquetípiéá poderia ter, ocorrido sem
psicológico do paciente. Ele 'e extremamente intuitivo, a relação pessoal? Duvido: muito."O arquétipo deve ser
talvez a pessoa mais intuitiva qUe já conheci. Dessa for­ encarnado; meSmo que escassamente. Minha simples ofer­
ma, sua experiência do Si-me'smo deve se dar, inevitavel_ ta de assistência veio 'nomorrléhto certo' para que pu­
mente, por intermédio da sensação, Sua função inferior. desse ser vivida e inéorporada pela: personalidade do pa­
A sensação, a função da re'alidade, é experimentada pe­ ciente. ~ k ,; , ",' '~

los intuitivos, em geral, como algo muito pesado e inerte, ;\ r ... _, l ~ ~) ""f ) "

daí a preocupação do sonhador Com sua càpacidade de ~! ' : _ ~ I, ".' I ~ : • I ;l (, r, ,; 'I.' , '. 1
A encarnaçao pessoal dos arquetIpos .
lidar com todo aquele peso: Na última parte do sonho, o ~' .. ~, r" _, ~ ,I" -~, ::I~

material torna-sEf chumbo. Isso·é importante porque o De fórmàínilito' clàra e'enfática, poI' repetIdas 've~
sonhadortiv:era outros sonhos onde o chumbo' tinha um zes, J uhgénfatizou 'a necessidade'dê nóS' relaCionarmos
papel proeminente. ,: ;
com os pacientes cOIÍl'tod'({a nossá'pérsonalidàde. É 'I:jro~
Chumbo é um dos termos cómuns pataaprúná ma­ vável que, mais 'do que qualquer' ilm de nós; ele tenha sido
teria na alquimia-; era a substância original, da qual o va­ capaz de partiéi~ar vitalmente':do encontro'an1álítico:' J
lor supremo ouro, a pedra filôsofal- deveria ser criado. A Eni seús escritos, ele insiste na importância da paf~
característica mais notável do chumbo é seu peso, Sua so­ ticipaçãopessoal'do analista. No entanto, as passagens,
lidez. Ele é um símbolo apropriado para a realidade terres­ em seus textos que recomendam essa participação estão)
tre, e assim; 'representa as realidades concretas de nossa muitas vezes; esé'ritas de maneira didática e exortàtória:
vida'pessoal, opostas às formas arquetípicas eternas, que Ele não relacioná a importância da participação pessoal
não têm'pesó ou realidade própnaaté que sejam preen­ à sua teoria'da estrutura da psique. Não podemos' dizer
chidas com algum conteúdo, Uma conclusão semelhante é que issose devà àsupostadescrença dê Jung em relação
indicada pelárélação astrológica entre o chumbo e o planeta às teorias: Ele' estava disposto a construir uma teoria da
Saturno. As características saturninas incluem cautela, estrutura da psique, da natureza dos sonhos'e dá. libido.
controle, responsabilidade é uma praticidade séria: 'Essas A falta de uma têoria que diz respeito aos efeifo's psicoló~
são' as característiCas que mais faltam a esse paciente. gicos da experiência"interpessoal parece ser uma verda~
Esse soriho foi muito útil para m'im, ná ordenação das deira omissão que ainda deve ser preérichida. '. ,',;',
minhas idéias sobre a relação entre os fatores pessoais e A partir 'de sua 'distinção originàl entre" as 'camadas
arquetípicos no des'ehvolvimento psicológico, Ele veio pessoais' e cóletivás ,do' ihcoris'cien te; ele toriui va'-sé' cacÍà
como uma resposta à minha experiência' pessoal de ofer­ vez mais preoctfpa:do'comó aspectocoletivó, arquétípicoi
ta de redução do preço da' sessãó do paciente: o.'sónho Seu procedimento an'alítico'tornou.!semaise mais um rrie~
diz, de fato, que minha oferta foi vivida pelo inconsciente todo de educação esPiritual que pressupunha uma 'per­
desse homem como uma oportunidade de participar de sonalidade cOÍlséiénte:beni-desenvolvida: Os estágios pri­
uma refeição sagrada e de incorporar uma imagem da mários do Clesenvolvíriiénto 'dó' égo':eiám 'relativ.amente
divindade. Esse é o sig:ilificado arquetípico que súbjaz ao negligenciados e não recebiam' uma 'elaboração teórica.
encon tro pessoaL ,(
Contudo, lidamos com pacientes em todos os estágios de
92
93
desenvolvimento :e, por"isso, precisamos··de; mIl? teoria Essa. f,Orma de conceituação leva a uma ênfase dife­
geral que abarque todas as fases do desenvolvimento. rente daquela"de'Jung de que ,os conteúdos do incons­
Todas as experiências. psicológicas são· arquetípicas, ciente devem quase sempre ser integrados via projeção.
no sentido de que são, padronizadas, determinadas, pelas A forma como Jung:diz isso S'oa quase c'o,mo uma descul­
formas inatas, univers.ais, da existência ,humana. Iss,O é
i pa. Devido às conotações da palavra "projeção", parece
bem visível na criança, na qual os conteúdos pessoais e que ele está dizendo: "Infelizmente, a natureza d,O pro­
arquetípic,Os estão misturad,Os de forma inextri~ável. Já cesso psicológico é tal que devemos suportar certas proje­
n'os adultos, iss,O é m~it,O"menos ~yident~, pois a R~ique já ções por ,algum tempO, para que elasp,Ossam ser assimi­
pass,Ou por um processo' de persoiiálizáção' que é siri"ônimo ladas". Essa forma de se iniciar o processo parece refletir
de um desenvolvimento do" eg,O:,É exatamente d~sse pro­ um tipo introvertido. Ela nega o valor do encontro pesso­
cesso de pers,Onalização que muit,OS dQsnoss,O$ pacientes al, assim cómonega a importância inerente ao processo
precisam desesperadamente. A carpa<.la pesspal 'da psique de personalização. . " ' (' .
é f,Ormada c'om o passar do tempo, e a melhor forma de se No que diz respeito à teoria junguiana de desenvol­
pensar nela é sob o prisma do desenvolvimeI).to. Ele cQme, vimento da personalidaqe,. parece-me que temos presta?
ça no nascimento e continua ao longo da vida d,O indivíduo. do pouca atenção 'aos efeitos dos relacionamentos,pes­
'Ibdas as nossas experiências, internas e externas, e s,Oais. Os' fatoresinato.s,predeterminàdos" arquetípic,Os,
também as dos nossos pacientes, são, ,em essência, per­ foram enfatizados/em.detrimentq quase,total.do pessoal.
sonalizações d,O arquétipo. Então; a natureza do trabalho Esse" desequilíbri,Oé conseqüência das circunstâncias his-"
terapêutico, especialmente na prip1eira metade da vida, tóricas no momento. do nasciment,O da psicologia' àna~íti-:
é ajudar.o paciente a se relacionar com as,formas arque­ ca. O desequilíbrio .foi corrigido nQ próprio método analí~
típicas emergentes, Jornecendoo contexto de uma rela~ tico d~ Jung, ,O 'qual ele conduzia de forma bem livre e
ção interpessoal,por,meio da'qual e1\)sas formas possam pessoat Os .efeitps d,essa abordagem, contudo, nunca fo~
ser per~o.nalizadas. I~$o pode ser feito, sem se mencionar ram iI,lvestigados de maneira específica,ném receberam
a palavra;.';arq1J.étipo;:, e tenho, ce~teza de que,issoaçonte­ uma formulação teórica. r ,: . , " " "'.'

ce com freqiiêI)cia çompsicoterapeutas de 'outras escolas, De alguma forma, os fatores pessoais e arquetípicos
que nem sabem nada sobre,osarquétipos. ";, 1 \ " • devem ser agFUpado~ ém uma teoria gera1. Isso pod~ ser,
Quandp pos·r:eferimos ao ç:r;escimento,Ou àsexperiên­ feito' ao se compreender a necessidade da encamaçãop.es::;
cias transfor:I]1ad,Oras"como ,opost~s .àqueias que r~sul­ soaI dos' arqlú~tipos na, ex'periência individuaL TO,das 'âs
tam de. ;uma ','di~torção projetiva\o,conceito de persona; realizações.arq'!l~típicas ~ão e devem ser pessoais. Q:corpo
lização do arquétipo é preferível à conc~pção cçmyencional em que um arquétipo.encamaé form ad,O de substânciá'
de projeção de imagens.arquetípicas. Essa projeçãol,da pessoal,já que a,re;:tlidade pessoaléa única que podemos:
imagem arquetípicap,Ode·servista como UI;n,esforç,O ,do ar­ experimental" Osarquetipos não possuem Qutra forma de'
quétipo para alcançar, um? enc;:trI1ação pessoal ,',O primei­ se expressar a I,lãoser por intermédio de imagens que de-:
ro passo n'o processo de assinlilação ,cons,cientedo arqué­ rivam da experiência pesso;:tI::Por.isso, vento;fogo, água,
tip,O. .1 1 i1 !. ,'J.) *',! ií ',' sol, lua e estrelas; todos serverrt1corpo imagens para os con­
94 95
valor roais es pecífi€Oc à encarnação pessoal e concreta do •
teúdas arquetípicas. Más até mesma essas imagens relati_
arquétipo da que o, conceito de, ,projeção. A idéia de
vamente impessaais derivam da experiência pessaal. Can­
encarnaçãO pessoal da arquétipo serve a esse prapósita.
sideramas que tais imagens se refiram a canteúdas trans_ Ao. utilizÇl.r a termo "persanalizaçãodo aiquétipo" em

pessaais, a que é verdade. A técnica da amplificação. é um


vez de "projeçãa"; a' arigem das arquétipas emergentes
as

métada refinada ,de persanalizaçãa, que assacia as ima­


fica em aberta. Isso. é mais precisa em termas de nass

gens de nassa, herança histórica ,à imagem de um sanho


conhecimentos atuais. ,Par exemplo, em uma transferên­

pessoal, de moda a fixá-la na cansciência. A amplificação.


cia paterna positiva, podemQs.afirmar, com certeza, quê

nas leva um passo além, rumo. à nassa ascendência cultu­


o paciente"prajetaa imagem do pai n051nalista?'NãO se­

ral e geralmente humana. Mas ela nas relaciona ,com nas­


ria igualme'(lte'passível que o analista funciane a partir

sa herança cultural de maneira pessoal e, assim, é uma


da sua pró.pria imagem paterna positiva e que a paciente

abardag~m geral da persanalização do arquétipo..


respanda a ela? Em vez de uma projeçãounilater;al,pode

A personalização. das arquétipos nern sempre preci­


ser mais apropriadO pensar em um campo arquetípico do

qual tanta.a paci~ntequanta o analista p-ârticipam.

sa de uma relação. interpessaaL Ela também pode surgir


da rela.çãa.com U:Q1 campo de estudo' au comum interesse Segundo a argumentaçãO anterior, da influência ine-'
inquietante. :Um grande. interesse pela ciência, nature­ aa
vitável que a observador exerc.e sobre a psique da pess
za, espart~sou política, par exemplo, pade representar a
abservada, fica evidente que não. pademas saber ao. certa
encarnação pessaal de um arquétipo. É clara que um in­ quemé o re$ponsável pela ativação. de nenhum arqIuéti­
po, quer ~le Séarigine'nopaciente au na analista. Quanto
teresse desses tambéin .pode ser considerado camo umá
prajeção de um significado essencialmente interna.' Mas,
mais fundo vamos ne.ssa.questão, mais clara fica que em
ao descrevê'cla camo uma prajeção, aamas: uma atenção.
exclusiva às origens .internasda'cante~da,e não. atribuí­
umaps~c.aterapia .eficaz, paciepte e analista estão parti­
cipa'(lda de um campa dinâmica da psique abjetlya, que
mas nenhum valor específico ao processa de persanali~
eles c9mpar:tilham entre si. Essa forma de se alhar para
zação - a qual traz a imageminconsciente para uma rea­
o processo psicoterápica pa!ece mais conducente a uma
lidade empírica. )..
terapia bem-sucedida da que a noção. dê prajeçãa, que
Nosso interesse e comprómetimento com.a psicolo­
te. a'calacar toda a respansabilidade na paciente e nega
gia profunda e cam a"psicaterapia, por exempla,é um nde
exemplo. de uma .encarnação pess9al .de, j.lrriarquétipó. a realidade:do analista, participativo . , ' '~.
Esse interesse traz uma estrutura e um·sentida para nos-' , ~'-

sa vida e talvez par trás dele esteja a imagem do Si-mesma.' ~>' :':' ,.'), ·",l.. " ~._.' .. j
<,

N a entanto., será que podemas descrever nossa trabalha! A personalidade do terapeu.ta


nasso interesse principal e nassa vocação., adequadamen-í e:o~ proPósitositranspessoais ,:.

te, coma uma projeção. da Si-mesma? Uma 'afirmação. des­ ':,;1';(' ,. ".' , .. :, «li.' '. 'L
_! I, ,No meu trabalhacorilas pacientes, muitas vezes en­
sas sugere que a prajeçãa pade ser retirada e que peide­
mos transcender as realidades espaça-temporais da
contro~abjeções'aa ten~an interpretara transferência pa­
sitiv.acómo, Ul1}a projeçãO. de canteúdas incanscientes ín­
existência pessaal. Eu prefiro uma formulação. que dê um 97
96
ternos. Eles não aceitam a desconsideração da minha rea­ de sabedoria inata no pacieilte? Ou será que a sabedoria
lidade pessoal e do que.~elasignifica para eles. Aos pou~ de Jung foi assimilada pelo paciente, embora, com certe­
cos, fui chegando à conclusão de que é um equívoco com­ za, uma forma' àrquetípica .Íner.ente ao.padentê estivesse
preender a transferência positiva apenas em. termos da
pronta para receb~-l~?r/.' ';.U·vIJ .~. '
projeção. Não estou mais. certo de que o progresso da Sabemos que o desenvolvimento psicológico não acon­
transferência é determinado exclusivamente pelas ten­ tece na ausência das relações pessoais. No entanto, ao
dências inerentes ao paciente. O que eu sou pessoalmen­ mesmo tempo, todas as, experiências pessoais seguem
te parece exercer uma importante influência na direção certos padrões típicos e universalmente humanos que cha­
que a análise segue. Em outras palavras, eu dou uma mamos arquétipos. Embora ãs' formas arquetípicas se­
corporificação pessoal às formas' arquetJpicas emergen, jam inatas, os conteúdos específicos são determinados por
tes, que são, então, incorporadas à personaliqad~ do pa­ fatores pessoais e históricos. O processo da psicoterapia
ciente parao.bem ou,para,o mal.. '.
envolve não apenas a ativação das formas arquetípicas,
Para colocar de maneira mais direta, uma análise como também, e principalmente, o preenchimento des­
psicológic.a profunda envolve um processo irrevitáveLern sas fo~u{as ~ó~ conteúdos pessoais. Parte desses conteú­
que o: paciente ~assimila. partes ,da personalidade do , ',_" " ~ ,'~ i ,I ~
dos vêm de imagens culturais e mitológicas, fornecidas
(i .. , 'I

terapeuta. As..formas arquetípicas são inatas em todos pelo probes~o de·amplifi~ação. Mas o ingrediente prin­
nós, mas,os conteúdos pessoais específicos que são des­ cipal; niínEm ponto de vista, continua sendo a personali­
pejaqos nelas contêm, inevitavelmente', .alguns conteú~ , t'- . "
dade do terapeúta. Isso inClui absolutamente tudo sobre
~ I ' ~ '\ 'f 'I"', ' "

dos da personalidade do analista.. Se certos aspectos da, ele: suas idéias e opiniões', séntime~tos; preconceitos,
personalidade dO.analista forem .muito estranhos 'ou ~;
• ; '11 ~: ~ 'I' ,l'"
gostos pessoaIS e, o .que talvez seja maIS Importante, sua
• " ; ': " , ". ','I \ . , , ' : . '1

destrutivos para o paciente, haverá uma resistênGia ou visão de mÜ~d~ t~tal e sua atitude'~era~te a vida. "
uma rejeiç~o total a eles. No entanto, mais uma vez,não • ",."

, E bastante desconfortável pÉmsar que, inevitavel­


:, ,. r , ' , , ' \ ,t' • . 1,'

podemos estar tão 'seguros disso. Uma-psique que neces~ • ,',

mente, os analistas estão reproduzindo a si mesmos nas


i iI "~, # 'I', .' ~, <' , ," ,

sita desesperadamente de algu~a corporificação pessoab personalidades de seus pacientes. A única d~fesa contra
~
para trazer à tona formas arquetípicas iminentes está \

o
,;)

mau uso desse


\.

enorme
I .'

podei f"é estarmos firmemente


'. { ' I ' f .. , .,.: I ' \ ." • ,"

propensa a ace~tarqualquer coisa que estiver disponíveli ."'~ '>,."


dedicados
'!r·~ ' f ,[', " " ,
aos propósitos
~:'
transpessóais
',~',
da
' .• "
vida.
, :"<11, .....

~ I: ' . ~
Lembro-me da reação de uma pessoa à descrição de' " , . l') I,.. "I' j " I' !­ • . ,I' (. .­ " •••;

Jung do arquétipo do velho sábio. Essa pessoa disse: "Essa {if I


..... j
'
,-'
",.
'(,:," !
"1\ t'" ~. ',. I 11,' I r li
'
" "
I 1 1"1
\, , I

~: ~ ~ , r I' ~
., '1'

é exatamente a imagem do próprio Jung. É claro que ele ( ""., ,." t' ';) , I ... 1

vai obter esse tipo de sonhos dos. seus. pacientes~'. ESSá ,i\: Pt;(t f p ~ ti' ( 'j

observação pode ser considerad~.comoJum.equívoco per", 'I '


• ~ _f ~', ,".' d

.
sonalista, mas ela também carrega a sua verdade. Jung t ! "
"
",

foi capaz de encarnar a sabedoria pessoalmente, na 'rela­ ., ~ ' , .:


ção com seus pacientes. Será que podemos afirmar com
certeza que a sabedoria de Jung evoçou a potencialidade !...
1. ~ ~ _
98
99
,', ,4",
Tanto a d~scoberta doinéonsciente por Freud quan­
" '

to a descoberta da radioatividade por Madame Curie acon­


PSICOTERAPIA.PROF;UNDA: teceram'Dem. no final do século' dezenove, no vértice do
PROFrSSÃO~', , " ,. "
A ~;._ novo século. Duas profissões únicas resultaram dessas
f~f J '1;~ I 1,"_

~ ;
,,'
descobertas.
~ -...... A psicotetápia profunda' é 'tanto uínaciência quanto
uma art~, ta~to teoria quantoprática.Com9 ciência, é
.J ; 1

--.:!
.~. "
um estudo.de conhecimento empírico .estruturado com
" 1fJ,
r,'
conceitos intelectuais que seaplitam à psique ern geral.
, J
Mas como arte, é um compromisso prático e pessoal com
Introdúç,ã'o ' , " " ) . ., '-'" ~
outra pessoà~'queátirigea vidá-e'Q desenvolvimento dela.
!... - ~ ". , , , J \." ...

Isso vai muito além do aspecto científico. É, !fá verdade,


Acredito que s~mosmúito privilegiados por termos uma arte.
descobertÓ a pSiêotérapia profunda. No meu caso, pessb~ Como cientistas, podemos di~er gU~!lqssa_m~ta é o
almente, sou m'uito grató por'líaver descoberto' uma pro~ conhecimento objetivo da psique. Essa"meta é abstrata,
fissão que' tem' reàlm~,iite a ver comigo, e' espero que o objetiva e'tem aplicações muitó'gerais: Mas 'como arte e
mesmo fambém seja ,verdaae'para vocês,càso contrário: prática',riossa meta' éa cdmpreensão, que é empátíca e
vocês nem deveri';rni' estar aqui. 58 " " ' " " relacionada. O aspecto do conheciinento se aplica a todas
o que eu quero fazer hoje é explorar apfofi~sãô'àa as psiqués; enquanto' a compreensão é particular e se
psicoterápia profunda "de uma maneira geiâI,procuran~ aplica apenas â uniindivíduodi:rcadavez. A eom'preen­
do sabér qu'em's'omos'ziós; como teràpeútas, o que fa­ ~ã(jé singulai.' . .' . . " I ;.
zemos 'e as tiâdiçõés' histÓ~icas qúenos ÍigáIri ao' pas; .' Aconteêe, não raro, um confliÍ;oentre essés dois mo.,
sado. . ,, "' ... , ,J' ,

dos de furicionamen tô: ming fála ,d'esse 'córifli to na qua'rta


Considero essa profissãôriin fenômenO' exclusivo'dÓ parté de "Tne Undiscovered'Self1: 59 Sé a 'pe.ssoa é muito
século vint'J. Ela s~;rge'áj:iartir dadescoberÚl da-reklidi~ científica; 'ela é dénúisiad~mente objetiva, 'abstrata e teó­
de da psiqúe.Essà' descobú'ta,'comó' um' conhécimEmt~ rica~r ~'então' perde}~e o 'ihdividitàl. Por"outro' lado, se há
empírico, é um produto do século vinte. A pSicoterapia mú'ità compreensão: 'térapeuta'é' p<;lCÍente tendem a se
profunda nunca havia sido conhecida antes. De certo fundir~e~m suasubjétividade éIÍlpátfca~ e a dimensão ob­
modo, ela corresponde à física nuclear, outra profissão jétiva' se perdê. É preéis<fque'hajaum equilíbrio.
exclusiva do Século vinte, e que surgiu com a descoberta Se eu estiver corretei"em afirmar que a: profissão da
da realidade subatômica, que contém certos paralelos com psicoterapia profunda é'uma ocúpaçãonova e exclusiva
a descoberta da psique autônoma. 1. à raçá humána, podemos levantar uma questão: ela pos­

súi'algum antecedente? Ela é uma novidade sem raízes,


58 Edinger está falando para analistas e analistas traínee, (Nota do Editor)
59 Ciuilization in Transitíon, CW 10, pars. 525ss.
100
101
ou existem precedentes cultunlise psicológicos?~E,~e cla­
não é apenas 'uma tarefa seculàt; é mais do que um as­
ro, a resposta é que sim; existemaritecedEmtes;'Opróprio
sunto dominado pelo e'go, pois, possui uma dimensão trans­
Jung nos.adverte quantOià falta de raízes. Em Mysterium
Coniunctionis ele diz:'" ~ , y
pessoal. '

Qualquer repovação .que ~ã(l es.tá c~Ic~da nas gra~~es tra~ \


dições espiri,tuai$ é efêmera; mas a d~minante que cresce Imagens arquetípicas: subjacentes
das raízes hist6ricasage conio um seI' vivo dentro do ho­ à psicologia,profunda t'

mem circühdadopeló ego', Ele'não:possúi'a cldminante,


mas é po~suído por ela:6Q ",' , ' , ') '" L'
'rr I, Ao observarmos as raízes da- psicoterapia em nossa
I,; ". , .' i!. I f. ~. .,', ~I" ,

Ess~ comentáriodiz.':r~speito à n~cessidade de com­ prática,e também como a própria etimologia sugere, exis­
preendermo!;> ~s r~íz,eshis,tQricas de nos:sá.profissão. tem três grandes figuras que'emergem: o médico-curan-)
deiro, o filósofo-cientista e o sacerdote-hierofante. Essas
figuras correspondem.a três imagens arquetípicas que
"

>
Raízes etimológicas '.
l:J '.­
são consteladas no curso. da maioria das psicoterapias
~ J ., • ~'. _
Va,mps G()meçar com,o q'l1eé, I).ormalm~nte, () melhor
• . • • 1"
profundas. Não estamos interessados na história apenas
método paraJse descobrir as raíze~ históricas de um fenô­ pela própriahístória. Estamos ,interessàdos nas raízes
meno, ou,sej;:t, a etimologia." ;', I ;', '
históricas porque a história é uma realidade viva no in­
No termo psicoterapia prQfunda, a palavra.'~profun_ conscienteécoletivo; Quando,alguém lida com o inconscien­
da" é usad.a para. d~13ignar ,o t,ipo dEl, psiçoterapi~ que lida, te coletivo, essas raízes históricas ganham vida e tornam­
com a realidade do inconsciente, da psique opjetiva. A se realidades vivas no presente. o.s analistasjunguianos,
palavra, '.'P'si~9ter!lpi~" ,é wn.p,roduto de ,doi~ raciicais: interes!;>aII)-se pela história não como um investigador de
psyche, ..,.,que t3 ignifica originalmente alma ou e1?pfrito d~ antiguidades, mas por razões muito práticas.
vida e o vefpo grego therape'ueirt - qUe 'significa cuidar; A primeira imagem,do ~édico-curandeir9,represen­
servir. O uso qriginaI deS.~9-,palavra er;~h"servir a9s deu­ ta o conheciín~nto curador aplicado àS,feri9-as e enfermi­
ses, 'nos templos'~. E~tão;' nos_ :templos:~da, a,ntiguidade,
dades da hu,manidade, com o objetivo de securar por meio
therapeuein ,refer!ê:-§e àa:ssis,t~nci!l,cuidaçlósa. nos cultos
de um tratamento específico.
e nas cerimôniasfEllíiiosa.s.pép.oit3, ppr,exten,sãod sen­
A ségvnda imagem éta do filósofo-cientista - e eu uso
tido, o verbo passou,ase:refe,rir ao, cuidado e;ao, trata­ El
esse ter-mO.duploporque PS filósofos naturais originais fo~ ,
mento dos pacientes em um ambiente médicq.;,
ram os primeiros Cien,tistàs, e a eiê:qcia moderna se desen­
Nossa compreensão do equivalente moderno, "tera­ volveu a partir do campo da filosofia. De fato, a psicologia
pia", é aprofundada quando refletimos sobre S~1,l signifi­ como ciência, em boa parte do século dezenove, ainda era
cado original, que sugere que o serviço à alP1a. _ p~ique­ parte ,da' faculdade de filosofia na maioria das universi­
dades. Por isso, esses termos realmente devem ficar jun­
60 CW 14, par, 521, tos ,ao considerá-los do po~to de vista histórico. O filóso­
102
a
fo-dentista representa figura que possui a capacidade
103
GAZETA DO POVO
Biblioteca
grande peSOr q"e <ligQ q"., .às vezes,. esc"to alll"ém se
examinadora da consciência ,racional; diferenciada. O declarando como um dessep, pe:t:sqJ:H,l.gens,. Eu não reco­
método utilizado é o diálogo socrático. Aintenção é ensi. Jlleo "ma atit"de dessaS. Somos moa nova entidade,
nar e alcançar a verdade. O fil6sofo~cientista ensina sob do
sui generis, uma nova profissão, que apresenta, como
a luz da razão, de forma que podemos nos conscientizar parte de se" f"ncionamento, a constelação dessas ima­
do que realmente sabemos e do que não sabemos. gens arq"etípicas. Mas elas não pertence,!:, a nÓS; elas
De maneira semelhànte," a- terceira: figurá, do sacer­ pertencem à psiq"e objetiva. Elas foram 'geradas pelo
dote-hierofante possui duas furíçõés umpoúêodiferen_ paciente e, por isso, deveriam ser devolvidas a ele, não
tes, ambas servindo aos desígnios religiosos de um ri­
tuaL O hieroJante trabalha principalmente no contexto consideradas algo noss'o.· "
Acreditá que todos nós fomos treinados ,em uma des­
dos mistérios,' assim como os mistérios. de ,Elêusis, en­ saS disciplinas iradicion.\s:' Alguns 'de' Ílósfiz~
mbs me­

quanto o padre trabalha. no contexto de cerimônias reli­ dicina e herdamos a tradição médici,.. Alll"ns de nóS pas.

giosas mais ortodoxas. Aimagem do sacerdote-hierofante samoS pelas disciplinas acMémic•• da psicologia, serviço

e
carrega .medi'arfatore.s. trànspessoais ,;':"'0 conhecimento social ou aconselhamento; todas elas são"fruto cÍ.k tradi­

sobre os deuses e sobre'a forma como serelaciónar com ção filosófica. E alg"ns de nóS somoS seminaristas e ad­
eles. A tarefa dO:sacerdote~hierofanteé transrilÍtir a reali­ quirimos a tradição JacerdotaL Mas comO a psicoterapia
dade religiosa, fornecendoads érimtes individuais ou ini­ e
em sua origem abarca transcende todas essas tradi­
ciados a revelação da teofania6~"""" a experiência da dimen­ ções, isso ~ignificá que,' u? que co~~erÍle ao nossO treina­
são transpessoàl...,. que possui um efeito.transformador. mento básico, somos todos tendenciosos e 'unilaterais em
Essas imagens são, muitas' vezes, consteladas no
curso da ,psicoterapia profunda. É importante. éstar fa-. Toclos ae~Ennoscheg~r
relação a uma ou outra d~ssas háâições.
a:um equilÍbrio'. Os q~e
.
pos­
miliarizado com elas para que' se 'possa reconhecê-las: suem umtreinaroento médico precisam da educação filo­
quando elas apareCerem.. Elas não vêm com uma etique­ sófica e religiosa,poi~ a psicoterapiaprofunda é mais do
ta no pescoço. Em.vez disso"elás se revelam:por meio de que a cur~ de uni~ doença. 0s que :possuem treinamento
formas de comportamento ou por ceítas1atitudes:Se vocês' acadêmico serão 'fraéos nas ár~à.s do tratamento prático
estiverem familiarizados, com as. atitudes, que acompa­ do paciente e;',das,realid~des.re.ligioS~s, porque a psique
.,
nham essas figuras, conseguirão. reconhecê-las. Obvia 0
'
é mais do.que .um:objeto do conhecimento, é também su­
mente, é muito importante queo.analista não se identifi­ jeito. E os que possuem treinamento teológico necessita­
que com essas figtlrasquando ela&,são co.nsteladas,.ou; rão de urna educação adicional nas disciplinas empíricas
quando ele está sob a projeçãode.uma delas.. :. .:-. e racionais da medicina e da ciência, para ensiná-los que
Em nosso trabalho como psicoterapeutas. profun­ ~ ppique. é, d. fato, "m íenôrooM empírico e para q"e eles
dos, não somos médicos, filósofos, ci,entistas, nem padres) n~Q ~e êon.fuJ.ld.aÜlçoD}"a,s!D}age~ssimbólicas de urna mi­
ou hierofantes. Não somos nadadi.sso, no entanto, é,com
tologia religiosa específica.'
.!.í Agora, voU falar de cada urna dessas tradições com
61
r !I' I',~'-'" "1~·;I",r'~ ~:' :~i'#~'""'"'
A manifestação ou aparição de Deus'ÇJú de um deus'a úma 'pe~sóa~ (Nota.

tI'

"m pouCO mais ~e prof"ndidade. Cada "ma delas é dife­


do Editor) " "',.' , ".Ii
105
104 ',\
peuta, isto é, que ele esteja pronto a fazê-la a qualquer
rente no que diz 'respeito à questão concreta subjetiva à rooroento,\,3: ,'I ' , '
qual se dirige, mas o que eu quero, focar aqui é a atitude
que acompanha cada tradição. ,É aí que se encontram os E também: ,\
preconceitos de; cada, uma. ' , A cirurgia e' a obstetríciii'sabein, há muito tempo, que não
basta lavar ri paciente:, as mãos do próprio roédico têm de
estar limpa,s, Um psicoterapeuta neurótico tratará 64
infali­
Legado ~édico velroente de
, ~'

sua

própria
"
neurose no
't
paciente.
'i'~ "
"
I, •

,
Essas sãoâlgumas d~s idéias que surgem, ao consi­
,

No que diz respéito'à tradição·médlca;:l atitude que


se aprende está relacionada com o cuidado a pacientes derarmos as raíz~qI!lédicas ~e n,ossaprofiss;3.o., '
em sofrimento. 'llid(f o que se aprende esta voltado' a esse
propÓsito: O juramento hipocráticó é realmente o epítome Legadofi1osófic~, "
da', atitude médica na qtfal o médico promete não fazer
nenhum' mal, daro melhor de si para oindivíduo queso­ Agora, vamoS nos voltar para a tradição filosófica.
fre, ê considerar o tratamento como algo sagrado' e confi­ Na civilização ocidental, essa tradiçãO,chego u '3:'uma ma­
dencial. Essa é uma atitude muito preCiosa que se apren­ nifestação plJna com 'Sócrates, como foi regístrado' poro
de nó final 'do treinamento medico, por pratifá-Io todos Platão, Acho 'que podemos diz'er'que a essência da filoso­
os dias. Não é apenas urria'qm3stãô de conhecimento abs­ fia antiga está resumida em duas, frases: a déclaração 'de
trato;'é unj;cQrihécimentó pratico; NÉúnafilosófia n~ní Ó Sócrates,- "a'vi'da'sem ,refle'xãó não merece:ser vivida" e a

sacerdóciô'possueniessã atitude:de preocupação ética pelo frase supostá'mehteégtavadà no orácu'lo de Deifós, "có­
indivíduo . .A ética do 'nosst;> 'campo; psicoterapia profun­ nhéce-te a tf mesmo". " "

da, está totalmente báseãda nas 'raízes inédicas da nossa Essas deClàraçÕes possuem rima aplicação direta na

tradição. ", " ' , ' psicoterapia, o qüe é beril claro; A filosófiá,Iero sua forma

Em seus le'xf6s,J~rig f;iz comparações erit~e'opera~ original', era consideràda'Oinsthúnento para esse tipo de

ções méd~~as e psicotera'r)ia..~ Por~xeinplo:,,' , .' .' ' exartie:'Em épocas remotas, o indivídriopodia se conhe­

cei por meio da investigação filosófiéa, que era praticada

Na psicoterapia, a situação'rião {muito diferente daq1,1ela com uma. atitude religiosa. Se vocês tiverem alguma dú­

da medicina somática, onde,-ª çjr.urgia, ~ realizada no in~, vida.a esse respeito;leiama Apologid:de' Platão, onde ele

divíduo. 62 , '" ",,'


descreve a defesa de Sócrates no' seu julgamento.

~' .. " Devemb~'niiiito ao'que chamam'os de método socrá­


Ou então: l.
tico:' Vejam uIÍlàdescriçãodéle tíráda de um dicionário

Assim como exigimos - e com raz'ão - que o cirurgião não de filosofia: ' ,, ! ,

tenha as mãos infectadas, também temos de insistir, com


muita ênfase, na necessidade de autocrítica do psicQterai 63 "Fundamental Questions of Psychotherapy", The Practice af psychathe"
'" rapy, CW 16, par. 237.
64 "Principies of Practical Psychotherapy", lbid., par. 23.
62 Mysterium Coniunctionis, CW 14, par, 125n, 1 l.;

____----------------107.-----­
106
(O método socrático) é uma forma de 'ensino em que o Legado religioso
~ :'
mestre declara não poder passar nenhum tipo de infor­ )

mação (pois, no caso de Sócrates, ele dizia não ter nenhu­


D~ixem-i:ne ler para vocês algumas frases da Encycla­
ma), mas suscita cada vez mais respostas por meio de per­ paed(a afReligian and Ethics de. ,f[astings , sobre o sacer­
guntas in,dicativa~ . .o
qlétodo é ilq,strado m~lhor nas dócio:
perguntas que ,Sócrates faz ~ 'úrp escravo jovem e inculto . O sacerdócio, falarido de uma forma bem ampla, deve
no Meno de Platão. O escravo é levado, pa,sso a passo, a
sua origem à necessidade, uiiiversaldo homem de obter
uma dempnstr~ção' de, um caso. esp'ecial' do teor~ma de
uma assistência sobre-humana na luta da vida. Entre to­
Pitágoras': O uso original desse métod.o por Sócrátes ba­ dos os povos ~~\ste a crença de que, sob certas circunstân­
seia-se na crença de que as crianças já pascem com o co­ cias; um ou outro. tipo de'vantagem é obtida do mundo
nhecimento em suas almas, mas não conseguem lembrar­
se do quejá sabem sem uma ajuda (teoria da anamnesis). sobrenatural...· ,
Em muitos casos os selvagens consideram-se incapa­
Isso também está relacionado à ironia socrática, isto é, a
.zes ele .se comunicarem diretamente com os deuses, Ao
profissão da ignorância por parte d() \{uestionadqr, que reconhecerem sua inferioridade nesse aspecto, eles consi­
pode, na verdade, ser um ~ande sábio. 55 deram os sacerdotes como os únicos mediadores entre eles
e o poder supremo. Os sacerdotes são seus;únicos prote­
Acredito que vocês podem notar um.claro p,aralelo tores; sem eles, a população ignorante seria abandonada
55
entre o diálogo socrático e a abordagem analítica de Jung. aos infortúnios que surgem da ,fúria dos deuses.
Eles não são idênticos, de jeito nenhum, mas exií?tem cer­
tas semelhanças. Não são muitos'. dos nossos,pacientes que poderiam
Também é verdade que o método científiGo, .da ciên­ verbalizar seus problemas dessa maneira, mas "infor­
cia empírica, da forma como ev.oluiu <;la filosofia" é um. túnios que surgem da fúria dos deuses" é, com certeza, o
diálogo. Nem sempre pensamos na ciênci~dessa manei­ mecanismo inconsciente subjacente que leva ü' homem
ra, mas, de fato, ela é um diálogo. O.cientista formula moderno à psicoterapia. Eni muitos casos 'a descrição é
questões bem planejadas e as colóca .para ~ natureza em muito."
adequada, embü;a
,\', :
o paciente não'.'a expresse
_. \
dessa
um experimento - e recebe uma resposta. Assim, o co­ forma. Reconhecendo uma incapacidl:J,de de "se comuni­
nh~ciI,11ento :científico deriva "se de um proçesso de diálo­ car diretamente com os deuses", o p~cilªnte procura um
gos. De. maneira muito interessante, a psicoterapia re-, mediador na
tentativa de conseguir algum tipo de prote­
verte esse processo. Em vez de colocar questões para a ção contr'a os infortúnios que surgem da fúria deles. Essa
natureza, corp.o ps 'cientistas, a natureza é que nos coloca é unia man~ira de se descre~er o motivo pelo qual as pes­
as questões., Um Pêlcie)1tevem;at~ nó;; com um problema soas, vêm para a ~nálise. Elas podt1 não pensar assim m
- um conju,nto de sintomas,. sonhos,fanti3-sias - e essas no co~éço, mas aptoximam-se dessa idéia mais adiante,
são,as qu.estões da natu:reza:.É nossa tarefa: responder a depois que já estão trabalhando por um tempo.
essas questões, por meio do diálogo. Na maioria das sociedades, os sacerdotes são nor­
malmelfte vistos ,como pessoas' que foram chamadas, não
I, '.' • ,. " • '

66 EncycloPCJ:"}dia of.Religion and Ethics, vol. 10; p. 2785$.


65 D. Runes, ed., Dictionary of Pjú(osophy, p. 295.
109
108
'l...
eleitas. O chamado deles é divino. Não é lima"eleiçãQ de­ .infelizp~!-'tador, ,do, çonvívio co~ os demais seres huma­
nos. Quando se tem consciência daquilo que se oculta, o
mocrática, nem uma indicação. Isso corresponde à idéia prejuízo é evidentemente' menor do que quando não se
de que o verdadeiro psicoterapeuta possuí um chamado sabe que recalcando e o que se recalca. 67
interno. Ele não o faz apenas·como' uma maneira' conve~ O isolamento pode prolongar-se com o.silêncio ... Mas
niente de ganhar a vida. 'ri .pela confissão lanç,ocme novamente nos braços da huma~
O sacerdócio do antigo Isra~l é, talve~, o rIOSSO exem­ nídade, livre dopeso do exílio moral. 68 •
plo mais desenvólvido e familiar. A sua função principal
como a de muitos outros sacerdócios) era osacrifí­ . ", AJninh.~ id~ia p~in~ipal a'q~i é que aqui~o que o indi­
cio para se obter faVores divinos: O sacerdot'e' oficiáva nas víduo. tem mE;ldq de reconhE?cer ef!l S} pr,óp ri9 - o que está
oferendas sacrificifüs, reéoncifiandó 'todos 9.s J)resentes c~rcG!-çlo,de sentimentos depecado, culpa, ou dolorosa in­
com Deus ao praticar um_a compensação por s,eus peca­ ferioridade - todos esses estados internos constelam-se
dos, e a teofania se manifestava pelo fato de qúe favores ~o~ível'primitivo. gaQ~iqU(~~om;o m~do da ira dos deu­
e perdão eram concedidos. Na Ígreja Católica Romana, ses. Essa é ;1 formá arquetípica de se compreender fenô-:
• _ " . w ~ - . , - . " \. - •

' , " ' "


essa função evoluiu para a missa, e o confessionário, que
I
menos tais como ~12siedad,e e aprE?ensã5? qu~~.çlo vai
é um apêndi~e da m i s s a . ' , confessar ~lgum pecaclo ou defeito. . .
No pro~esso psicoterápico, o cOI1(ess,ionário é @uitas Vejam, quando o paciente confessa tais coisas ao psi­
vezes constelado. Jung discute esse assunto em "Problems coterapeuta e sobrevive à experiência sem sofrer nenhum
ofModerD- Psychotherapy'\ Vejam algumas partes, do que dano, a figura arquetípica do sacerdote mediador é cons­
ele. diz: ,,;;. ' . ' , ) ; telada quase autom'aticámente: Uma
grand~ 'oncia ge fP:~:
~ ~J
tidão inunda o paciente. Mas a gratidão pertence à divin­
As or;igen,$,de qualquer:. tratamento apalítico da alma dadE) ,que acªboun~o ~e tornando tão furiosa quanto o
estão no modelo do sacramento da confissão...
" ' " ••
I
.1_-[
paciente temia.~Apesar disso,o arquétipo. do sac~rdote é
'" o que é oculto é segr,edo. O possuir um segredo te,m o prºjet ado , quase semprl'::l, no psicoteI:"apeut~, que, é bem
mesmo efeito do veneno, de um'veneno psíquico que torna
o portador do segredo estranho à comunidade.'Mas essé P!'9~ável,' não, fez naclG!-.ma!ª, do qtle ªbanar a cabeça e
veneno, em pequenas doses, 'pode ser um medicamento di?-er: "Euj~üuvi coisas ,mllito piqtes". Mas isso é o sufi­
preciosíssimo, e até uma condição prévia in,dispensávela ~!ente para se evocar a proj€lção uIlJ.a questão realmente
qualquer diferenciação individual. Tanto é que o homem iITlPortante tiver sid() constelada.
primitivo já sente fatalmente a necess,idade de inventá~ Acho que todos nós deveríamos nos conscientizar
mistérios, a fim de, possuindo-os, proteger-se contra"a'sua
absorção pura e simples 'no inconsciente da coletividade, 4.ess as pro1eções. É certo que nã9 podemos evitá-las, mas
como se isso fosse um :perigo mortal para a alma. Estão a não qevE)ríamos nos identificar com elas. Em Qutras pa­
serviço desse instinto, de dif~JenciaçãCl; sa.bidamente, Os lavras, não deveríamos nos sentir merecedores de toda
antiqüíssimos e muito conhecidos ritos, de inicüiçã,O, com ElSs·~·;gratiçl~p'.' pe jeito .~enh~m. Yqcês estão apenas fa­
seus cultos e mistérios.... " , ' " " , ,
Um segredo partilhado com di~ersas pesso~s'é tão cons:'
trutivo quanto destrutivo é o segredo estritamente pes­ 67 The P;actice oi Psychotherapy, CW 16, pars. 123ff.

soal. tem o mesmo efeito, da culpa, segregando 'seu ?8 ibid.~ par. , 1 3 4 . , ' :

110 111
zendo o seu trabalho. Vocês merecem ó pagamento que acaba levando a uma esterilidaçle, pois ele experimenta
recebem, nada mais que isso. Vejam, os sent{mentos de a análise apenas de.Uma maneira passiv.a.
gratidão do paciente serão o S9-crifíçi() que, nos ~rituais Na fase do filósofo, a palavra-chaveé.diálogo. O pa­
mais antigos, era oferecido pelo sacerdote. O psicotera­ ciente descobre que a atitude anterior, da busca de um
peuta contribui para essa oferenda quando não aceita o tratamento, é~nadequada.e muito.passiva, e percebe que
sacrifício pessoalmente. . , o terapeuta, assim como, Sócrates, realmente não sabe de
O hierofante, que significa "o revelador do sagrado", nada, e 'possui apenas um método dialético de intercâm­
é uma variação do sacerdote. O termo era usado para de­ bio, ,no qual os dois busc9-m juntos a verdade para o pa­
signar aqueles que conduziam as iniciações mistéricas ciente. 'I. ,

na antiguidade. Sacrifício e reconciliação não eram à meta , Na fase do sacerdote, a palavra-chave é revelação,
principal; em vez disso, o ritual fornecia uma oportuni­ revelação' do numinosum. 69 Durante essa fase, as outras
dade de se experimeritar uma revelação direta e imedia­ duas são transcendidas, pelo menos até certo ponto. O
ta. Até hoje não sabemos exatamente em que compreen­ diálogo no nível pessoal.leva à ativação do inconsciente
dia a revelação dos mistérios de Elêúsis, pois a revelação coletivo,pór, meio da qual uma experiência direta da dic
dos mistérios era considerada um crime capitaL' mensão transpessoal torna-:se.possível. Agora, paciente e
psicoterapeuta participam juntamente de um diálogo com
a psique objetiva.
Jmagensarquetípicas correspondentes Como essas fases se inlmifestamna prática? .
às fases da terapia" i .
Na fase do médico, o paciente espera ser tratado:em
troca de uma taxa. Ele espera por um senriço. Esse as­
Essas três tradições surgem no processo teFapêutico pecto da psicoterapianunca é totalmente transcendido ­
como diferentes modalidades de atitude. O médico, o filó~ de fato; a ética profissional está muito baseada nele -,
sofo e o sacerdoteconstelam~'seem diferentes graus'dU­ mas sea ter~pia pretende ser mais do que uma terapia
rante diferentes fases dá psicoterapia. Para descrever de apoio diretiva, ela precisa ultrapassar essa fase.Acon­
essas fases, farei uma distinção bem nítida entre elas, tece muitas de asaida dessa fase ser uma conseqü­
por motivos de clareza. Na ,verdade, as diferenças não ência da insatisfação ,do. próprio paciente. Ela,não está
são tão óbvias assim; na prática, elas se fundem umá na melhorando. Ele não e,stá se curando. As coisas não estão
outra. acontecendo como o esperado. Isso dá ao terapeuta a opor­
Na fase do médico-curandeiro, 'a palavra-chave é tra1 tunidade de ressaltar: "Bom, essa não é bem a forma como
tamento. O paciente sente-se mál, precisa de ajuda,ese trabalhamos. Não é assim que funciona. Nós trabalha­
apresenta a um terapeuta para um exame, ,diagnóstico e mos através do diálogo".
tratamento, assumindo uma postura ou atitude mais ou
menos passiva. A idéia é a de que o médico possui um co­ ~,69 De The,ldea of the Holy, de Rudolf Otto, onde a palavra numinosum é
usada para descrever a impress)onante intensidade emocional comum a todas
nhecimento que pode levar à cura, e que e!)te irá usá-lo as experiências religiosas, independentemente da cultura ou da seita, (Nota
em troca de dinheiro. Essa atitude por parte'do paciente do.Editor)

112 113
Isso norma lment e 'gera' algum a resistê ncia da psi­ vez, transn ütida aos analis andos , existe forte tendên cia
que infantil. Depois que essa resistê ncia é pacien temen ­ de a psique arquet ípica ser conste lada pelo analis ta por
te analis ada, a próxim a fase torna- se acessível. indução. Isso muita s' vezes, bem favorável, promoven­
Na fase do filósofo, o terape uta expre ssa livrem ente do o trabal ho profundo que tentam os alcançar, mas em
(e o pacien te aceita ) o fafo:de que ele (terap euta) não pos­ alguns momentos isso não. é o melho r para o pacien te. Os
sui nenhu m conhecimento.secreto sobre a forma como o pacien tes borderline, por exemplo, podem estar correndo
paciente.deveria viver a'próp ria vida. O ~nalistanã9 sabe grand e perigo ao trabal har com esses analis tas que têm
o que é bom para o paciente" o que .ele, ou ela "deye" fazer. uma tendên cia, fora do seu controle consciente, de cons­
Tudo o que o terape uta pode oferecer são reações ao com­ telar a psique arquet ípica, Devemos 't~~i~s~' sempr e em
portam ento, sonhos e.expressões de todos os tipos do pa­ mente . Em mais dê um: caso, durán te a entrev ista com
ciente, com o objetivo de se estabe lecer um diálogo.' a
um candid ato anális e; Ou quand o Cf anális e começou a
Nessa fase, sempr e surge a questã o de até onde o dar errado por um ou outro motivo i indiqu ei a pessoa a
psicot erapeu ta deve éhega r com suas reações sincer as, alguém que nãoçonstele' a psique arque típica e com quem
Nós. devemos trabal har com nossa personalid::tde total, seja relativ ament e seguro para0 pacien te trabal har.
mas a verdad e é que també m temo's de usar o bom senso. Nessa fase, transc ende-s e o estágio do diálogo pes­
E essa e, de fato, a marca d~um analis ta habilidoso soal e odiáló go passa a ocorre r dentro do paciente. O te­
saber qual nível de reação autên tica é aprop:i:-iadoem de" rapeu ta contin ua a oferecer reaÇões, interp retaçõ es e am­
terminado. estágio do desenvolvimento do paciente. É claro plificações, mas elas não são mais o enfoque principaL O
que há momentos e.m que ultrap assam os esse nível e en­ enfoque princi pal' passa a--ser ~ teofaríeiél, a experi ência
tão precis amosr ecuar de uma forma ou de outra. O bom partic ular do indivíduo e, embor a o terap~úta possa ser
senso é necessário, o que implica no fato de que o estágio testem unha disso, ele não tem as mesm as experiências.
do médico ainda não foi totalm ente supera do. Ainda tei­ A experiência. singul ar da teofaÍüa dissolve'a transf erên­
mos a respon sapilid ade étiça de tratar do pacien te, pois cia residu al e nivela a ligação entre pacien te e terape uta;
ele precis a de tratam ento. (j eleS' tornam -se parcei ros em sua huma nidad e cómum e
. A tercei ra fase, do sacerd ote, caract eriza- se por uma peran te à manif estaçã o divina, Jung se refere a esse de­
emerg ência da psique arque típica ,junto com as image ns senvolvimento da 'segui ntema neira:
e experi ências múnin osas que são caract erístic as desse
nível. É nessa fase que a anális e jungu iana revela sua Realm ente, à medid a que o fenômeno da transfe rência
nada mais é do que uma projeção, ele cria tantas divisões
singul aridad e, pois é a única escola psicot erápic a equi.: quanto s vínculos. Más a experi ência mostra que, mesmo
pada com uma teoria e uma prátic a para lidar com Oin~ depois de dissolvida a projeção, não se 'rompe certa cone­
consciente coletivo. Somos pratic a,men te.os únicos até xão na transfe rência . Isso porque por detrás dela existe
mesmo a saber de sua existência. um fator instint ivo da maior import ância, a libido de pa­
Agora, isso é uma vantág em, masta mbéin 'é um pe­ rentesc o. 70 ., . . .

rigo. Por os analis tas jungu ianos possu írem algum a' com­
• 70 "The Psy.chology of the Transfer ence",
preens ão dos arquét ipos e essa compreensão ser, por sua The Practice ar psychatherapy,
CW 16; par, 445, '
114 115
Como eujá disse, não existem fases_muito bem defi­ psiCologiajunguianaé que não devemos nos identificar
nidas que podem ser claramente distintas. umas das ou­ com nossoconhe.cimento, nossa subjetividade ou nossa
tras. Elas. em geral, mist.uradas, mas acredito ser experiência.. À medida que somos os' portadores de tal
muito útil ter esse esquema em mente, pois ele ajuda a conhecimerito,ele é uin peso tanto quanto um privilégio.
distinguir a avalancha.de informações que_chega até nós Com certeza, ele .não justifica a fomentação de fantasias
na relação analítica. secretas de. superioridade, pois,. em certos aspectos, ele.
representa,uma 4errota tanto ,quanto uma vantagem.
A tradição oculta

Exist.eum apêndice ambíguo' à tradição do sacerdo­ Privilégios,cresponsabilidades e perigos


te-hierofante, a tradição oculta. Quando. sacerdotes e . ~ j'

hierofantes trabalham dentrp de determinada ortodoxia, O chamado da psicoterapia profunda possui privi~
estão relativamente protegido,s ,dos perigos de..1l!D encon­ légios, responsabilidades e perigos exclusivos: De'fato, é
tro direto com a.psique, arquetípica. Mas aqueles que pro­ um grande privilégio podermos interagir diariaJ;riente com
fessam um contato individual com.o tqmspessoal sãO' sem­ a psique autônoma em todas as suas formas~de existên­
pre marginalizados e geralmente anatematizádos como cia manifestas. E.uma opo.rtunidade singular poder olhar
hereges ou como Qcultistas perigosos pelas autoridades no fundo da alma de tantas pessoas, ter todas essas jane­
ortodoxas .. las para as mais variadas realidades h'!lmanas vivas. Que
, ,
Os psicoterapeutas junguianos são vítimas da mes­ outra. profissão ofereceésse tipci de oportunidadeprivile­
ma caracterização. por aqueles_ que' n'ão nos conhe.cem giada? Não .consigopensarem mais n.enhuma. Somos
bem. Por isso, não se.surpreendam se v.Ocês encon­ extremamente. privilegiados pela profissão que escolhe­
trarem esse tipo de Projeção de. vez em. quando. Como mOS, ou;qúe nos .escolheu.
analista, também há o perigo d.e S:e cair em uma posses­ As responsabilidade_s, contudo, são enormes: Devido
são sutil, 0lJ, não tão sutil assim, Pela suposição dese pos­ à natureza de nosso trabalho, evocamos, com freqüência,
suir algum conhecimento ou sabedoria especiais. ;O.me­ projeções profundas - não só projeções pessoais, mas tam­
lhor antídoto que conheço para ~sso.,.é termos muito bém arquetípicas~ Éfun:darÍie'h~ai que e;t~jáinos atentos
cuidado na maneira como cons,ideramqs a opiP. iã 9 dos para p.ã,o nos aproveitÇlfWos_elÇlauto[,idade e do poder que
outros. "', , , tais projéçõ~s nOS conceÀem. Is~o é uma responsabilida­
Sempre que t~ndemo~ <l; nãb ter' um~uidado ~uito demuitO.séria, porque o trÇlbalho que'faz;e:t;nos é realiza­
ª
grande ao considerar a opinião elos. outro.s. nosso respei­ do .em segredo~ ,Ele n~o.é monitor~dQ.,.Ninguém sabe o
to, estamos no caminho da inflação. Vejam, a verdade. é que está aconteçenÇlo. entre- o .tpaciente .e o terapeuta a
que a psicolOgia profunda junguiárta nos leva,de fato, a J)~oserelesmesmos.Aresponsabilidaçle do membro mais
um conhecimento secreto - que só é conhecidó por aquele consciente nesse processo é realmente imensa.
que viveu a experiência da teofania -, mas esse conheci­ . Há". tam..bém, perigos graves e riscos ocupacionais
mento não precisa ser alienante. Um princípio básiço da nJ.tJ.itoséd'o$:É PNvá,vel que o mais comum seja o simples
116 117
perigo psicológico de inflação. É qUase iriev,itável'que nós, níveis diferentes, mas estoú me referindo ao que tenta­
como terapeutas, nos identifiquemos, em'algum grau, Com moS fazer como terapeutas junguianos. Como Jung nos
as projeções que ~arregamos" pelo menos nos primeiros diz, nossO trabalho exige a personalidade total, o que não
estágios da carreira, Jsso é um perigo pessoal, pois todos quer dizer que tenhamos de ser indivíduos completamente
nós sabemos, ou deveríamos saber,. quea.inflaçãolsempre individuados. Isso significa que; é esperado que a pessoa
leva a uma queda. Quanto 'm~tisaltéro võo,maio'r aqueda, tenha circunavegado todo 'O círculo de seu ser e saiba quem
e pode haver algumas 'quedas psicológicas desastrosas ela é: suas força:s;,suas~ fraquezas e seus pontos cegos. É
como parte dos .fiscos ocupacionais de nosso trabalho. isso que Jung sugere ao dizer'que se'r analista requer a
Outro perigo em lidar com o material profundo de personalidade total. Com. certeza, a personalidade do te­
nossos pacientes é"o de essa .ÍÍlformaç.ão. fugir' d.e .nossa rapeuta é o instrumento singular do processo, e o requi.
compreensão: Principalmente com os analistas mais jo­ sito básico'é a'consciêntiá, pela qual queremos 'dizer o
vens, não é muito incomúm encontrar alguns p'acientes completo conhecimento da ,psicologia de si mesmo.
que estão.lutandó com dimep.sões. profundas que o ana" Ao examinar os candidatos para o programa de trei­
lista ainda não<alcqnçou. Em ·talcqso, ,se o 'analista não namento, tenh6 em mente quatro fatoresprineipais. Em
percebe o que está acontecendo, existe,operigo real de se primeiro lugar, a questão da vocação: existe clara evidên­
precipitar de maneira muito imprudente, Ele pode'então cia de um'chamado'genuíno para esse tipo de trabalho?
levar um grande tombo e terá. muita ;sortese conseguir Em segurido; o nívef de desenvolvünentoegóico e adap­
se erguer novament'e. Esse :é, um grande perigo.,' .~.~ tação à realidade:: essa peSsoa 'possui um ego be.m.desen-·
A consoláção pa.ra tais ,experiências - e ninguém ,pàs~ volvido que jáarcançoU: uma adaptação sadia 110 mundo
sa por muitos ânos de trabalho analítico ileso - é talvez a' externo? O terceiro fator é (j caráter, que envolve a integri-,
compreensã,o de que elas tinnam de ,acQntecerconbscó,! dade moral, .uma, consciência de, e devoção a,valores bá­
pois eram parte de nosso próprioprócesso de indiyiduação, sicos, E o quarto éa conexão com as profundezas::ter uma
chegando até'nós pelo mundo externo. ',: é " , relação viva com o 'inconsciente' e com à, psique objetiva:
I , .!, ~ ~
'Como 'Jung' dizia, um psicôterapeutanão pode levar
um paciente nem um'passo adiantédo que eleprôprío já
o mistério da psic:;oterapia
- .
~" " ,
profunda" caminhou. Qualquer complexo que não estiver totalmen­
Para terminar; quero dizer algúmàs palav.ras sobre. 'I L
te consciente por parte do'analista irá contaminar o pro­
o processo misterioso da·psicoterapia profunda. O que é e' cesso terapêutico. O terapeuta 'irá, 'étitão, tnitar o pró­
como ela funcioná? Isso é 'realmente 'um mistério. Nós prio complexo, projetado no p,àciente. ,Isso é uma verdade
não sabemos como ela funciona. Temos müitàs idéias, mas,' infalível,já que o 'órgão ,ou instrumento'da psicoterapia é
para sermos honestos e verdadeiros· pará com a nossa: à persº11-~lidade.dq;ánalista. '.' j . "

herança socrática, temos dê admitir que não sabemos com , .' 'Quanão o'térapeuta possui' um bom nível de consciên­
certeza. Mas aqui vão algumas idéias. cia, o que parece ocorrer é um efeito indutivo progressivo
Estou falando sobre a autêntica psicoterapia profun­ no paciente. O efeito indutivo ajuda a gerar os sonhos; na
da. Existem outras terapias que funciona'm em vários' verdade, 'o grau de profundidade de ligação cultivada pelo

118 119
analis ta é bastan te adequ ada para 'deter minar de onde mento, e acaba 'serido determ inado, por algum motivo,
que eles não sãefad equad os 'para o progra ma, Às vezes
os sonho s do pacien te estão surgin do: o incons ciente
adora ser recebido, ser reconhecido. Se o' incons ciente do acontece de o candid ato sé sentir arrasa do com essa notí­
cia _ e ficar com raiva, às vezes com muita raiva, reagin ­
pacien te encon tra um terape uta que realm ente compr e­

do de manei ra muito hostiL Quand o tenho a oportu nida­

ende a psique 'arque típica e a recoIihece quand o ela se


de de falar com essaS peSsoas, digo algo do tipo: "Olha , eu
aprese nta, ele reage aprese ntand o um ntater ial.qu e cor­

não sei o que você pensa que:é' um analis ta jungu iano,

respon de a essa compr eensão . É isso.q ue.eu quero dizer


quand o falo. de efeito ind}ltivo.· mas acredi to que não seja o que você está pensa ndo. Você

, '. está projet ando algo nessa image m que' não é aprop ria­
A minha exper! ência pessQallevou::me.fi. conclu são
inevitá vel d.e que a consciência é contagiosa, com uma do. Você e~tá, projet ando algum t~po de vaÍo.r, de grand e
conqu istada qual voéê foi agor<;lprivado. Eu:nã o vejo as­
impor tante ressaJva: a psique dó pacien te deve estar aber­
sim". Oll entãp eu digo: "É' uma ativid ade muito específi­
ta o sufici ente para r~cebê-Ia. Em algün s casos, .podem
ser necess ários muitos , anos de ànális e para's e criar essa ca, a psicoÍógia profun da. Ela éxige umtlp o muito espe­
cífico de tempe ramen to. Ela reque r uma ligação' meio que
abertU ra. É uma grand e' tarefa a,brir a psique o suficien­
contín ua e' regula r com profun dezas psíqui cas, o que não
te para poder acolhe r o que pode ent~o .emergir. Ml,litas
vezes, essa abertu ra não ocorre de p1aheir~ PJena, e', em é muito natura l, eú 9.iria que é até mesm o anorm aL A
maior ia das pessoa s que vieram a' tornar -se analis tas
alguns casos, ocorre apeha ssupe rficial mente . Nes~e caso;
eu diria que o pacien te não está.de9ti.Qado a'de.senvolver, jungu ianlÍs começ aram caindo em algum tipo de buraco
profundo; possue m algum tipo de defeito em sua psique
se mais, pelo menos nesse mome~to... çorqo cienM.~tas
empíri cos sensat os; devem os sempr e respe itara rea.lida­ ou nunca teriam ' caído em:ta is profun dezas. Fique feliz
de que nos é aprese ntada . E que Deus nos, livred ealgu -. por não' precis ar chega r a"esse ponto! Vá dar aula em
ma vez ünpor nossa s hipóte ses precol )çebid assobr e até
uma univer sidade ou fazer isso ou aquilo. Não fique tris­
onde determ inado caso deve chegar. )SSQ I).ão SQIlJ,QS 'nós te. Não' é tãoru ün assiin"'.:' ,.

que devemos determ i I1 a.r:' Tais qllestõesdeYem,s~rdeixa­ Pergunta:,yoçê falous obre,a arte de devolv er as pro­

das para o· trabal' ho mister ioso do destino'."


_ jeções. Você já é analis ta há muito s anos. Existe algum a
. .
• 1'; ~ ,'" coisa que você possa nos dizer sobre o que sabe dessa
Pergu ntas e respo stas . arte? .
Edinger.: Bom, você sabe que rima das partic ularid a­
Pergunta:' Você fez ~liuns co~eniáiios .sob~e os' de: des da arte é que ela é incom unicáv el. Mas posso dar al­
feitos que acomp anham a' bê~ç~o des?a, P~O~SSão. E'ü gumas sugest ões.
queria saber um pouco mais sobre o que vqcê estava pen'­ Uma manei ra de mand ar a projeção de volta é agir
sando quand o disse isso ," .' de forma s que a contra digam . E se ela carreg a certa gló­
• . ' . • . -. ,- ~:. !." ,_'
... 1

Edinger: Bom, existemalgun~ cari'did~tos,aJgun~


! " "
ria divina consigo, e você demon stra certa fragili dade
indiví duos que se inscre vem para Q p~ogramª de tre~n;l, huma na, essa ação tende a 'refrea r a projeção. por outro

120 121
lado, se você realmentE)_ sabe, o que estáfa_:?~Il.çio,:não pre­
/ -5
cisa ter medo ~ela.. ,Você não precjsa, mal~-la prematura­ .,_." ,1 ,. '~ " ~." I:.. _ .
mente. Isso tamqém é pa:r;teda, arte, porque yocê está de
posse de um cQnteJJ.<lo !?agrado, o;riundQ çl~s proJundezas
o FENÔMENO DAtTRANSFERÊNCIA , '

do pacient~, ~ voc~ quer.deyolvê.~lojntacto,.,C? niio rasga­


do, dilaceradQ. M9-s çhe.ga o rp.om~nto em que, m.aisrea­
fJ • •

',;" ~ > l'


ções h.umana,s sª9,apropria,qflS do que oqlle.foi. apresen­ ~'l
tado no ca'so <:lnt~rior:... l' ., ' . ,.' " , ; _ 1
~
j.') !!. _.l ~

Pergunta:' :Ao nos abster de pos 'identific~r: corri vá­ ,.', \


rias de'nossas próprias'caraéterísticas, você tem unia idéia
de como é qu~ nos identificamos? Se o indivíduónão se
identifica com nada; onde está sEm'senso 8.eidentidade? Ofénômen~da transferência fói d~scrit~ pela pri­
, • ~." _ '. _ '. . ' _ ~ '- . ~,.. I , L. __ • . __ ~

l, :III,~, ~_~"~ ,'r, "_"~ meirB:.yez por, Fr~u.d, é temos m~i,ta gratid~o lpar~ com
Edinger: A ide~tidade" por natureza, é um fenômeno ele _..pelo. insigl?t ,criativo que, o lev.ou a eS,sa q,escoberta.
.". I ' - ,_ -. • " . .•. . . -­
individual. Você nã-ó pode dizeraoso{ltros como ele1:)'i:>o­ Ele usou b termo trqnsf~I."~ncia,p'ara 9.escreve~,o envolvi~
dem f~rmar unia identidade: E~istem ~luitos proceçÜmen­ me~to enÍocio~aÍ entr'é' pa'de~tee Ínédic~,ém ~m~r~la­
tos coletivos que reco~endam a identifiiaçãoeom ~fa" ção ppispteráp\c<:l.,~l~so,nsideravê fl. transfe,rêrci~/eomo
mílià,com ~- gr~po étnicC?: com a, comimid~ç.Ei!.~$sà '~ãp é uma ,revivescência de padrões regressivos infantis ,de
minha Iloção- déldent.id~de. ':, -- , .- •_ . _ ' , ' .... comportáment~dentro da situação te-rapêutic~: 9- rela­
, MiI1ha Il()ção de.identi,dflde_é a de uma,personalidfl­ ção imatutfl d~pende~te com ÓS p~is s'e~do' recapitulada
de úldividuaI"qlle.cresce como üma planta, declentro,pa,ra com Ót~rapeuta; as ,~ecessidades neuróticãs do pacien­
fora, e é iS,so que tC?do o proce$SO de psicoter;apip. p~rofun~ te .e as: e:l;(pecta.tivas de satisfação destas sendo trans­
da procura alcançar-ao direcioIl-ar a aten'ção - ~tençãó feridas para o analista. Daí a palavra t;ansferência..
• • _." - . ~ j ~ •• - • •
viva, afetuosa, consistente - para a psique do indivíduo É ,ciafo- que nós, jUI).guianos!, não podemos aderir, a
que necessita descobrir e realizaÍ' sua identidade' com­ ess~, descrição .. F,alarei,sobre as, ra~ões, para isso mais
pleta. No final dàs contas, a semente da üÍenticlade'é' o t~r:<;ie., COI),tudo, a interpretação de. Freud da natureza d~
Si-mesmo, e o' Si-mesmo está àlém de qualquer défiÍü:' traI1sfer~ncia,cieye $e~ m.e,ncionada qqlfi, pois essa inter­
ção. Jung tentou, com grande afinco, abordá-lo de m'uito's pretqç~o ~~dut~va foi responsável pela. palavra neutra e
ângulos.71 No entantp,!? ~km,esm~ ~ ""!P~. e?,pe.riê~cia e indiferE:nteque ele .escolhé:u P!lrad~~ nome ao fenômeno.
não pode ser definido. . '. .' r\
',.' ... ) .'. ~ ~:

.
·"L' "'i Transferência e projeção; ,
" .! ~ I l. 'i!
" !] I j ~_I ..... ~ •.' ~ lO<' L .. ' JJJ . Como voçêS podem ver, a palavra transferência tem,
.; : r -" _~') ~; ri em essência,~o mesmo significado de projeção. No entan­
7\ Ver adiante: "Apêndice: notas ~obr~ o Si-~~smo':,.(I'f?ta do Editorl_". i to;;na minhà:opinião,otermotransferência é pobre. Pre­
122 123
cisamos de uma palavra que possa expressar mais espe­ quica, partiCularmente pela emergência de temas arque­
cificamente o envolvimento dinâmico intenso que ocorre típicos característicos que vou citar daqui a pouco.
uma palavra que. transmitaa. naturéza, tránsformador~ Lola Paulsen demonstrou uma opinião semelhante,
da experiência da transferência. Esse termo ainda não diferenciando a projeçãó da' tranSferência. Ela diz:
, ~ -: ' , .
existe. Por enquanto, devemos nos conformar com o ter­ A transferência é'mais do que uma projeção, pois é algo
mo que nos está disponível; um termo que adquiriu uso e arquetípico;incohsciente e metafórico, e, sendo as'sim,
aceitação bastante amplos. representá fenômenos e processos: As projeções positivas
e negativas apenas dão a ela sua form? e seJ..l.;' ~símbolos.
É muito difícil definir a transferência de maneira Como transcend~ às projeções;o termo tr1:\nsfer;ência pode
abrangente. Em seu sentido mais amplo, ela inclui todas as ser legitimamente diferenciado do térm9projeção, e usa­
vivências onde há uma projeção psicológica. No sentido do para designar os sul:essivos estágios dd processo de
mais restrito, refer~-se a uma ligação intensa, positiva e individuaçãO à medida qlÍe ocorrem' em reláção aoanalis­
libidinal do: paciente com o terapeuta 'em uma relação ta... As projeções são auxiliares no "trabalho"; elas o refle­
tem, mas. não devem ser iden.tificadas coro ele, e então a
psicoterápica.:onde'o'paciEinte se confronta com seus con­ transfer~l).cia <;lo prócessqde individuação aconte.ce por
flitos mais intensos. Se for trli:tada de maneira apropria­ trás, ou tampém se pode dizer, dentrodélas.
72

da, essa relação oferece uma oportunidade única de trans­ - ' • <>,

formação psíqui'ca.· i . A transf~!,encía apresenta aspectos diferentes depen­


No momento em que 'rios afastàmos dessa'definição dendo do ponto de vista' com o qual ,se blha para ela. Para
limitada da transferência, abrimos a porta para um ban­ a psicologia freudiana extrovertida, ela se baseia no amor
do de outros fenômenos menos importantes de:iJrojeção. indigente de'natúreza infantil e 'incest\.losa: Para a aborda­
Falamos de tnirisferencia negativ'a, coritratranSferência, gem introvertida de Adler, eÍa é um, "arranjo" na luta pelo
transferência com os méq,icos, padres, professores,' e as­ poder. Segundo as teorias de Harry Stack Sullivan, indi­
sim vai, e· até mesmo transferência com os amigos. Por víduo extremamente introvertido e serisível, ela é um ema­
exemplo, conheço' um psiquiatra que, recentemente, fez ranhado dó que ele chamà de "operações de segurança" ,
uma entrevista para um cargo ém um 'sanatório famoso que são proje'tadas'para se evitarios danos que podem ser
por sua ênfase 'no que eles chamam'de psicoteràpiadinâ­ causados por uma pes90a.supostamente perigosa e impre­
mica. Ele foi bem na entrevista e consegUiu o emprego. O visível. A posição de SullivaD., como'vocês podem ver, é uma
homem que o entrevistou gostou dele. Mas eles nãófala­ variaçàô da visãO de'Adler. Os dois 'são introvertidos, dan­
ram assim. Disseran1~lheque'haviam feito uma fáulsfe­ do uma importância maior ao sujeito'do que ao objeto. Con­
rência positiva para co'fi ele. Isso é um absurdo. Quando tudo; Sullívan 'dá ênfase aos procedimentos passivos e de­
o termo é usado de maneira tão solta, ele perde toda a fensivos, colocando a segurança como o objetivo final. As
sua significação específica. Por:taritp,Jlsarei.atrapsferêp­ teor'íasdeA.dlersugerem uma'abordagem mais agressiva.
cia apenas no sentido restrito, como 'foi definido acima, A vontade de poder supõ'é,que o ataque é a melhor defesa.
com uma exceção: não vou ,excluir as relações libidinais . "

intensas que ocorrem fora da situação psicoterápica, pois 72 "":ansference andProjection", in Journal or Analytical Psychology, voI.
elas demonstram um potencial para a transformação ,psíc 1, n,O 2 (1956), ' '
125
124
A nat ure za arq uet ípi ca da tI:'a
ps.(erêQ.ci.@. te essencial de sua sem elh ant e dep
reciação da infância,
do inconsciente e do ser hum ano que
Não podemos esq:qeçer qp.e Jun g'a por acaso tem um a
cei tgy a a val ida de neurose. Ela cor res pon de à sua pro
par cia l dessés,ip_QnJosd~ vis ta. Eles fun da ant ipa tia pelo
,"s~,? pªr te do todo e irracional, que ele afa sto u de si ao
não pod em ser c~~~i~er,ados falso~., apl ica r-lh e um a term i­
O que fa~ta a ess as nologia mó rbid a e patológica. Ess
teo rias red utiv às é a éonsciência da e pro ced ime nto é um a
nat ure za arq uetípica ver são civilizada dó primitivo,"nom
e prospe~ti~àiá' tranSferênd.~ ,8 e-mágico" e, nem pre ­
tran sfo rma dor as. '
"'$lJ.~S PQt~,ncüilidades ciso dizer, os jun gui ano s não dev eria
:.
m ade rir a isso.
Psi cot erà peu tas red,utivi~tas,,'ehfà
tizain as ma nife s­

taçõe's ext ern as ~'ln teipêssóai~ éil Tra nsf erê nC ia po sit iva ' :)
traÇlsferêl1d~, 'com to­
das as s~as característiéa·s inf ant
Emb 9ra elelll~ntosI."egre~sivo.s, ima
, if'
is. Se ''Eiles e~tJdassem
t •

tur~s .e ,neuró­
\

os ,so~h~s:dos pac ien tes de Ulanei ticos sej am mu ito com uns na tran
nl'objeÜya, :po, sur gi­ sfe rên cia , ,eles não re­
me nto da' tran sfe rên cia , é mu ito pou
co pro váv el que fra­ pre sen tam seu' significado básico
cas sas sem em rec ohh éce ros tem as ou cen tral . O conteúdo
arq uet ípic os imp res ­ básico dá tran sfe rên Cia pos itiv a é
sio nan tes que :su rge m daí. AlgUns a libido sau dáv el- a
jun gui ano s;' por out ro cap aci dad e de exp erim ent ar a vid
lado, tende,~ a, ir pflra o ex~replO op~ a int ens am ent e e de
sto. o prazer: q,ue en­ se rela cio nar com out ras pessoas
con tram , {lO d,escobrir" 1.fW' arçiu~tip - :lu tan dop ara se ex­
o l~OS )iqd os, de seu s pre ssa r.
paçiente$, e' ~ âns ia de ,us ?r ,~?4Q
9, $~U ,çonh~simento de A tran sfe rên cia tom a mu itas formas
mitolQ~a '~ simb91~smo,~?~~ aml? diferentes e cad a
lifi,C:CZ( e~?~, ~Nuét,~po? caso é único eD;l alg uns aspectos.
Ap esa r disso, pad rõe s
pode le,\';:í~los a neg lige nçi ar al} ªfu
pessoai~ do pac ien te. N~gar a s~tuaçã?a d,a~relações inte r­
rez ger ais em'ergem ,rep etid as vezes.
O ter ape uta com fre­
concretÇi aQ sup er­ qüê nci a apa rec e como um ser de mu
val ori zar QJ1late:çial arq uet jpic q ,pod ito val or e como um a
e, cri ar ou pr91~ngar figu ra cen tral na vid a do pac ien
um est adó 'pe rlg osp de inf laç ãon arc te. O fenômeno básico
isis ta.. j\ch o q~e e~sa par ece ser o sur gim ent o de libido
tendênci~ é l1m ~eri~op.fH·,a iodos, rep rim ida ou late nte

,os ~u~gijüuio(~. E~p'ero no pac ien te - da cap aci dad e de con


que nós nãppr9Jetem~s. pos1sa pr:o Essa~ forças a favor <;la ,yid~ são, eD;lced er val or e amor.

.g~ral, dire cio nad as

abo rda gen s red utiv as de Fre ud e pna $oJURr? s,?b


re.a~
, ' Adler. " , ' em prim eiro lug ar par a o tera peu
ta, que é o age nte res­
' .
,t
"',1 ,,',

Dit o isso, ago ra pre cisa mo s crit ica


>', :,,, f'j".
" ; I

pon sáv el pel a sua ativ açã o. A ima


~re~d via a tr~~~(e:~nci?, ppr tn~0~7J
, .. ' • ~~ 'I' "
r
: ••
a for
t i
ma com o
i ' ./ gem n~sse está gio é,
~on
I '.

hec
",','

~r
j ' , '.

as~ muitas. vezes, de depÉmdência e neu


"

po~e
• !

Í?-j
-

cla hda des posItIvas d!3 ~a:l expene ,ro se- na superfície,
nCIa. :OepoI.~ de desco; O pflciente est á, qua se sem pre , cie
bri r a transferência,Freud{~ des~re nte da nat ure za
, ~~u·d~ 4Ínesm~.fdiina apa ren tem ent e ina deq uac ia e ano
como descreve qua '..' "J .}!~_.'~.L.:~ . 1~' I,
se tud o, em term ,,:"j rma l des ses sen tim en­
os de um a doença'.~.
,T; :f, j
(,l'!
tos e' irá res isti r a eles com mu ito
Ela a cha mo u de neurose ciá fia~sfE; vigor. No ent ant o, o
• lrê~c,ia. Ess e pOÍ1t~ cik ma ior err o do terapeu~a é ace itar a
vIs ta tem a sua par cel , " ~. }~. ..",,' ,:!" ,'-'/
a de ver dad ava liaç ão neg ativ a do
e, con tud o,J_.: ' I

por ser uni-


"Y ,L,,,,
pac ien te em re'a ção à transfet;ên
late ral, não é um a descrição acu rad cia. Ess e é o erro dos
a da rea lida de. A re­ frt';!udianos:,e sua con seq üên cia é
lati va depreciação de Fre ud da tran a per pet uaç ão do est a­
sfe rên cia é p.m~ par- do de dissociaçã,o pSíqúicà que é a
orig em da neu ros e. O
126
• ./' . j , ' ­ - • .

127
medo e a resistê ncia dô paden teàlib ido são'àt ívados si­ no.vo. e fascina,nte entro.u,na consciência, de forma que o.
multa neame nte pela tninsferêricia. Para minor ar o. medo
pacien te encon tra-se envolvidoco.m a vida de no.vo.. Em
e a resistê ncia, o.S aspect os po.sttivos e co.nstrutivos de­ uma pal~vra, ele e,ntro.u,em co.ntato Co.m a própri a libido.
vem ser enfáti zados, o. que é, com fre-qüência, corro.bo.ra- Os so.nho.s que $e segue m a essa experi ência apóiam essa
do pelos sonho.s subseqüéntê~. r. "
idéia. Eles norma lment epo.ss uem temas , tais co.mo.: uma
Como vo.cêssabem, ao. contrário. da análise.freudiana, criança. nasce e sobrevive.aos perigo.s iniciais; a água da
na psico. logiaj unguia na o'uvimos falar muito. po.UCo. so.bre vida fo.i encon trada; um casamento. fQi realizado., o.U uma
resistê ncia e defesas. Muita s razões há para isso.. Quero
relação. sexual, e aS$im. po.r diante .

menci onar apena s que o.S termp s r~sistência,e defes~ Sl!­

gerem que alguém está atacan do - talvez seja o. analis ta. J

De fatá,a ' abo.rdagem 'redut iva que desvalo.riza o.S


Trans ferên cia na vida cotid iana
conteúdos; inconscientes,' especi almen te a transf erênci a,
A transf erênci a, meSmO. quando. em um sen,tido. limi­
como.'apenas regres sivos e infant is, é realm ente um ata­ tado. Co.mo.Jo.i de$crito acima, não aco.nt ecé.ap enasn a re­
que aos fundamel1to.s dapers o.nali dade huma na. Em uni lação. co.mo .terap euta. PJ?de ha,-:er experi ências muito.
caso. desses; uma defesa e uma resistê ncia vigo.ro.sas são. profun das, de transf erênci a na,. vida. cotidiana. das rela­
a respos ta apro.priada. Co.nheço. paCientes em anális e '(não. ções :entre home ip e rrlulp.er, entre. g.uas mulhe res, o.U,
jungu iana) que, depo.is de se debate r inutilm ente co.m uma co.mmeno.s freqüê ncia, entre ,dois ho.mens.rr:ais expe­
barrei raco.n stante de interp retaçõ es reduti vas, fizeram riênci as po.dem ser..c haínad as.de tran$f erênci a de aco.rdo.
um eno.rme pro.gresso co.m o. surgimentoi::la resistê ncia e com no.ssa. definição., desde que ,a intens idade libidin al
o abando.no da terapi a. Algo. semel hante aco.ntece co.m o.S seja .adequada, a perso. nalida detotà l esteja envo.lyida e
ado.lescentes que ficam expo.stos à atitud e reduti va do.s o.S temas típico.sde transf ormaç ão surjam . Se tais :expe­
pais. Uma resistê ncia declar ada 'e rebeld ia são as respos­ riênci as são. viv~das de. manei ra respo.psável e integr adas
tas saudá veis pará isso..
na co.nsciência, .elas pro.duzem uma mudan ça perma nen-
O sigrÚficado. real da tranSferênCia 'revela-se ao. co.m­
parar o. estadó de cónsc iêiióa prévio do. paciente.co.m à te na person alidad e.
. No. entanto.,. essa não. é uma tarefá fácil, nem dentro.
nova co.nsc iência -ttarts ferêné iá,e ao. éstuda r' sdnho.s nem fo.ra da anális.e. Ela. equivale. ao. opus aIquímico e re.­
que aco.mpanham'o surgimento. da transf erênci a. As dúis quer muita persev erança , hones tidade e devo.ção., .Um
abord agens chega m à' mes~a' respo.sta: 'O estado. pré~ co.nflito. do.lo.ro.so quase sempr e está presen te. A e'xplo.sào.
transf erênci a será, pro.vavelmente, um :estado. de éspíri­ inicial de alegria ao. se desco.brir um amigo..querido. o.U uma
to. estéril , falido. o.U paralisado., que deixa o. indivíduo, de amant e aos pouco.s vai se misturando. Co.m a sensação. de
algum a fo.rma, iSo.lado. do.s o.ufro.se' de!exp eriênc ias de que se é prisio.neiro. do. amo.r do o.utro.. O poder co.meça a
vida significativas. A transf erênc ia muda' isso.: O pacien­ quere r vir à to.na. Manifestam-se sentimento.s de raiva e
te fica profun damen te envolvido com' pelo. meno.s um ou~ ressentimento.. Cada um começa a quere r co.agir o.U indu­
tro ser human o. A capacidade de,co.nferir valo.r eintere sse zir o. outro. para a satisfação. de suas próprias pro.jeções. Uma
a o.bjeto.s ou pesso.as fo.i despe rtada. Algo co.mplêtam~nte aç~o. irada leva a uma reação. irada, e a briga começa.
128
129
Para conse rtar uma situaç ão dessas , é preciso a capa­ Nos casos ·corre spond entes de casam ento, també m
cidade de se fazer uma distinção consciente entre o ser chega umpon tó):md e tudo começa a ruir. Cada um come­
hurna no e o que foi,projetado na outra pessoa, seja a som­ ça a ver as fraque zas (com freqüência, em parte proje­
bra, o animu s ou·a anima . E, com muita freqüência, o po­ tadas) do outro. Multip licam- se os ressen timen tos e as
der do Si-mesmo aparec e em meio a essás outras imagens. recriminações. Esse é. o mome nto em que um conheci­
É a esse poder.íntimo qüeo indivíduo deve subme ter-se, e mento da nature za da transf erênci a :ed~Lprojeção é de
não ao outro indivíduo. Se essa distinção entre a pessoa e vital impor tância . Se .os' cônjuges são sufici entem ente
a projeção puder ser feita, o conflito de pôder pessoal é conscientes, respon sáveis 'e flexíveis, .serão capaz es de li­
dissolvido e substi tuído por um sofrimento voluntário. dar com s!1asdificuldadeE;, retirar~as. projeçqes e expan ­
No reino da vida .cotid ian,a, não .çonsigo pensa r em dir suasp ersóna lidade s. Contudo, essaé uma tarefa lon~
urna oportu nidade melho r para se lidar de manei ra criati­ ga, que pode durar tanto quant o a vida de casados.
va corn'a experiência da transf erênci a do que no casamen­ Às vezes; 'outro stipos .de relacio namen tos també m
to. Nem é preciso dizer que o casam ento tem muito mais fornecem um veículo para uma experi ência real de trans­
possibilidades de dar certo se pelo menos um dos parcei­ ferência. Não é muito 'incomum que uma ligação erótic a
ros está numa anális e, oujá passou por esta. O casam ento entre duas mulhe res .tenha conseqüências transf orma­
norma lment e começa sob a força de projeções mútua s po­ doras, o.que també m é possível, porém não muito comum,
derosas, quenã osãô difere ntes das. que surgem na análi­ entre dois homens. Até mesm o relações. entre pais e. fi­
se. A diferença é que, no casam ento, as projeções existe m lhos podem ser.vir a esse propósito, princi palme nte para
dentro da estrut ura de uma situaç ão de vida real,e m vez os pais. Esse assun to foiest udadô de manei ra magní fica
da atmos fera artifiCial da análise. Esse fato, ju:p.to com o por Elean or Bertin'e, em seu texto a respei to da's relações
fato de que ambos os parceiros estão envolvidos mutua ­ human as, onde ela chama.o aspecto extrovertido da indivi­
mente , fazem com que essas projeções ·sejam muito mais duaçã o de amorobjeta1. 73 o.prec ursor pqicológico do.amor
dificeis de se identi ficar..Todavia, se a pesso a tem êxito, as objetai é o que podemos chamar~deamor ,indigente, pos­
recompensas são també m muito maiores. sessivo e pegajoso, uma busca de amor que se origin a em
Depois da eufori a inicial do casam ento, o padrã o co­ uma posição de fraque za.
mum é o dos parcei ros sosseg arem. echeg arem a.um es­
tado mais ou menos confortável de simbiose. ,O auto-ero­
tismo de ambos perma nece relativ ament e satisfe ito e Tr~üisferêrici~: e' centr overs ão
confo rtavel mente incons ciente . Às vezes, isso també m
ocorre na transf erênci a analíti ca. O pacien te comparece Para o aspecto introv ertido da individuação, vou to­
às sessões para se aquec er no calor dos sentim entos eró­ mar empre stado o termo de Erich Neum ann, centroversão
ticos e mostra -se disposto a contin uar deleitá ndo-se por _ a descob erta e devoção à autori dade intern a do Si-mes­
um tempo indefinido apesa r dos custos. disso. Nesse. mo­ mo, que liberta o indiví duo da servidão à autori dade ex­
<

mento, uma operação radica l pode ser neces$ ária para


73, Ver Close Relation ships: Family, Friendsh
tirar o pacien te de seu berço confortáveL ip, Marriage, e5p. pp. 4355.
(Nota do Editor)
130 131
terna projetada. 74 Eu diria que,d~ mesma forma"que o conosco. Estar' inconsciente desse fato significa estar
amor indigente é o precursor do amor objetaI, a vontade fiado ou ser infantil nas relações com os outros.
de poder é o precursor psicológico da ce~trciversão. N a transferência, o indivíduo tem uma oportunida­
A vontade de poder rebela-se contra a dependência de de tornar cônscio desse aspecto primordial da libi­
psicológica ao objeto externo,. Ela luta por independência do. Parte dessa libido ,pode, então, ser tran.sformada em
e autonomia. Amorindigeiíte e luta por poder são. duas energia eficaz para uma vida criativa e para as relações
manifestações' do mesmo' nível de desenvolvimento psi­ interpessoais. No entantp, a criança eterna permanece.
cológico. Dois aspectos; da mefiimacoisa,' duas maneiras Ela precisa se relacionar conscientemente com a autori­
nas quais a personalidade insegura procura superar suas dadeíntima.Q.o Si-mesmo. O :indivíduo precisa ser um
fraquezas, ou, colocando deforma mai~ positiva, duas ma­ filho de Deus pará évitarcom.portar.:.se como uma crian­
neiras nas quais a libido se manifesta: nesse nível de de­ ça perante os outros. .
senvolvimento da personalidade. Amorindigente e luta
pelo poder normalmente se alternam dentro da mesma Transfe:.;ência e tr~nsforma.ção'
pessoa. O que'se precisa numa situação dessas é de um
crescimento' da consciência que possa transformá-los em N a transferência, consciência e transformação pare­
suas formas maduras de amor obje.tal e centróversão. Essa cem ser sinônimos. No momento em qúe uma nova carga
transfor~ação possibilita, ao mesmo tempo, 'a capacida~ dé libido emerge na consciência, sonhos' de processos
de de se relacionarobjetiva~ente com os outros e de fun~ tránsformadores aparecem dé umjeito ou de ou:tro, como
cionar de maneira autõnomá a partir de uma forite: de se o próprio·.ato de tornar-se consciente "trahsformasse
autoridade intenla. um conteúdo psíquico. Isso é, 'de fato, verdade. O que antes
Essatra:nsformação .nunca é completa. Amorindi l estava morto ou ainda por nascer -ganha vida. O que era
gente e lutê! por poder são características da psique pri­ apenas potencialidade tor:p.a-se realidade psíquica. É isso
mordial que estão sempre presentes. O~, colocando 'de que eu considero como o elemento essencial da tra'nsfe­
outra maneira, §ião manifestações im.utáveis e instinti­ rência: uma situação de envolvimentbdinâmicó que vita­
vas de protoplasma, vorazes, lascivas ~ devoradoras.·,O liza, a personalidade consciente e traz consigo a capaci­
máximo que podemos fazer é sermos conscientes e respon­ dade de viver a vida mais intensamente. Em resumo, é o
sáveis, pois a criança ou o ser primitivo está sempre nascimento ou uma ressurreição da libido o bem mais
Jh, ~: .:;, L~ ~ ti ."" '!
,\,j'";' ';, • ! '.' I, .... '
precioso da humanidade. Os sonhos e as outras produ­
ções inco.nscientes que emergem com O surgimento da
74 "A cen troversão é a tendência inatà da totalidade em estabelecer a' unida­
transferência tOfIlprovam totalmente esse ponto de vis­
de' das suas partes e de coordenar as ,su.as í:liferenças em. sist.emas uniGcados.
A unidade do todo é mantida por processos compensatórios que a centroversão ta. Deixem-me dar-lhes alguns exemplos.
controla, processos com a ajuda dos quais o todo' se tOrna um sistema autocriador O primeiro caso é o de uma transferência que acon­
e em expansão. Num estágio posterior, a centroyersãose manifesta como urp
centro diretivo, isto é, como centro de consciência no ego e como centro psíqui. teéeu na vida cotidiana, sem nenhum contato terapêu­
co no Si-mesmo ... Ela opera de modo inconsciente, como a função integradora tico que sej a. Seu fim foi trágico, mas as produções
da totalidade, em todos os organismos, da ameba ao homem." (Neumman, The
Origins and History ofConSciousness, pp. 2.136s) (Nota do Editor) ~. inconscientes revelam a magnitude de sua importân­

132 133
cia potencial, que a personalidade consCiente não Com­ tavam contra ela. Mas a convicção central, e a mais inte­
preendeu. ressante, era a de que o dentista havia descoberto um
Encontrei essa. mulher em.um hospitàl psiquiátrico remédio milagroso que.ir~a prolongar a :vida indefinida­
quando elajá estava completamente psicótica. Ela tinha mente, Ela esperava, receber esse re'médio maravilhoso
sessenta e quatro anos de idade. ,Segundo a informação dele. Todo o seu comportamento revelava sua certeza
que temos, não havia nada, dê muito estranho sobre sua absoluta dessa boa sorte. Ela estava inflada e bem fora
vida até três anos antes da hospitalização. Ela foi criada do contato com a realiçlade. .
no catolicismo e continuava com sua prática. Casou-se A paciente estava louca. O ego consciente foi estraça­
com dezoito anos e teve cinco filhos: Sua .personalidade lhado. Nesses casos; os processos inconscientes profun­
foi descrita como afetuosa e amigável. Seu maiór interes­ dos são expostos a olhos nus. A reação i!lconsciente ao
se era sua família, mas ela também gostava de jogar brid­ seu envolvimento erótico é clara e incontestável. O den­
ge, ler e tocar piano. Sua vida e seus interesses sempre tista oferece a ela.algo de enorme valor, quer dizer, a vida,
foram normais e convencionai,s. O único dado suspeito ou, segundo nossa terminologia, a libido. Infelizmente,
nessa história de vida apárenteinent~ normal fói o comen­ ela não tinha a menor capacidade de lidar com essa situa­
tário d~ seu maridQ de qué,ela era "convenc.ionalmente ção. Embora levasse uma vida insossa, seus sentimentos
fria" no ato sexual.. pelo dentista continham algo de valor supremo. Se a per­
EssJ~ era o retrato da sua v.ida quanpo, três ,anos an­ sonalidade inconsciente fosse capaz de compreender a
tes de ser, hospitalizada, .ela começou. a fazer um trata­ mensagem simbolicamente, ela teria sido forçada a lidar
mento dentário, Ela..desenvolveu unia "atraÇão erótica com os difíceis problemas reais que a mensagem trazia.
muito r:ápida pelo dentista. Nes!3aépoca, sua família Ela não foi capaz disso, contudo, e tornou-se delirante­
notou uma completa n;mdança de personalidade e ela tor­ mente 'inflada com a convicção de que iria literalmente
nou-se, em pouco tempo, uma psicótica delirante. Embq­ receber um remédio revigorante.
ra a família fizesse todo o possível para evitar a hospita­
lização, ela a.cabou tornando-se necessária. Transferência em úma série de sonhos
As idéias delirantes que surgiamnessamulher,jun­
to com seu envolvimento erótico, são extremamente inte­ , Agora, vou'apresentarpara vocês uma série de so­
ressantes e pertin,entes para nosso assuntp. Não se es­ nhos que apareceram simultaneamente com o surgimento
queçam que as idéias delirantes .têm a mesma origem e o e o desenvolvimento de uma transferência.
mesmo significado dos sonhos .. A úl1ica diferença é que o A paciente é uma mulher de uns cinqüenta anos que
delírio é tão intenso, e o ego consciente está tão frágil, que estava em análise. havia dois anos. A queixa dela era a
os conteúdos inconscientes não podem ser diferenciados queixa característica da idade: a libido para as ativida­
da realidade externa. . " des e interesses da juventude a havia abandonado, mas
Essa mulher começou a acreditar que iria receber ela ainda não era capaz de aceitar as exigências da se­
uma grande herança do. dentista. Havia outras ilusões gunda metade da'vida. Ela estava presa no limbo entre
também, idéias paranóides de que pe.ssoas. perigosas eS­ os dois estágios da vida.
135
134
ram dua,sdiferehte.S faixas etárias. Os jo.vens neurótico.s,
Po.UCo. antes do. surgimento. d.a trafl$f.~rênci,a, I?la teve
que ainda ef?tão preso.s na infância, devem ser tratado.s
vário.s So.nho.S so.bre 'lo.ngas. jo.rnadas, o.U v.iagens o.ceâni­
de maneira bastante.redutiva·na maio.r parte do. tempo..
cas para lugares estnmhos e desco.nhecidos. SJla atitude
A abo.rdagem simbólica e co.nstrutiva é muito. mais eficaz
no.s so.nhos era de ince.rt~za~obre a,co.nY*'l!'.'liência de se
tais viagens .. Então., elp. $o.nho.u o. se,guinte: quando. já se atingiu certa maturidade.
Depo.is desse ;So.nho., ci tema da viagem sumiu. Ela
>

Sonho 'I :"Ela e a irmã estavam voltando à cidade onde não. tinha ido. muitQ longe, m'as, ao que parece, já era o.
passaram a infância. Elas sabiam que estavam na estra­ bastante para fertilizar o. inco.nsciente e trazer algo. no.vo.
da certa,.porém, a estrada terminou de repente em um à vida. Os dois so.nho.s seguintes são. So.breo. nascimento.
campo. Para baixo do. morro, à esquerda, ela n~çonheceu
sua cidade natal. Ao descer a montanha, o céu escureceu de uma criança.

até parecer noite, apesar de. ser apenas nove e meia da Sonho 2: Uma jovem forte e saudável uns doze ou treze

manhã. A sonhadora ficou muito assustada, mas procu­ anÇlS é levada àO hospital em trabalho de parto. Apacien­

rou se tranqüilizar dizendo: "Isso só pode ser um eclipse, te a vê. deitada em forma de cruz em uma cama quadrada.

vai passar. Vou agüentar firme e não vou ficar com medo". Na cama, está desenhada a cruz de ferro germânica. Existe

certa: preocupação sobre possíveis dificuldades· no parto,

Esse so.nho. revela 0., t.ema característico que emerge mas o nascimento ocorre normalmente.

em quaseto.do.s9S pro..eesso.s de transfo.rmação. psíquica­


a viagem às treyas, o. reto.rno. à infância e a psique primo.r­ O éo.nfro.nt~ di so.nhadora com a escuridão. teve um
dial inco.nsciente da qual surgiu o. ego.. O so.nhado.r expe­ efeito im~diato.: U~a criançà está nascendo. dentro. d~ ~'(mbo.­
rimenta.o.s mesmo.s pav:.ores so.mbri.os que ,o. pr:imitiyo.ao. do.' Si:mesmo. ~" a cr1}z germ~n,ü:;~ ~m um,a cama quadra­
se co.nfro.ntar co.m um eclipse do. so.l. Esse é ó medo pri­ da. Apesar de não. ser um nascimento fácil, ofub,lro. é pro.-'
mordial.de se perder a orientação co.nsciente ,em.meio ao. misso.;r. No entart?, o.'so.nho. seguinte revel~.sério.s perigo.s:
ilimitado. e desco.nhecido. Sonho 3: A sonhadora estava dando à luz uma criança de
A viagem trevas, que representa ao. mesmo. tempo. . maneira bastante inc.omum. Tem algum tipo de constru­
o. início. da transferência, está simb9lizada no. so.nhopor ção envolvida. Alguém disse a ela que ela estava fazendo
um reto.rno à infância. Esse"é um te~a b~rrrb'atacte'iísÚ: errado e que, se cóntinuasse, iria matar a criança. Contudo,
co, e fica muito. claro. se pe:r:ceber o,lJlo.tivo. pelQqual ela não iria ceder, e continuou. O résultado era incerto.
Freud compreendeu. a tr.ansferênciaco..IPo. se.ndo. um fe­
Obviamente; as' co.isas deram errado.. A paCiente in­
nômeno. exclusivame.Ií.te.infantil. Ele.interpreto.u literal­
jeto.u uma intencio.nalidade egÓica em um pro.cess o. natu­
mente uma imagem que :devéria ter sido. entendida de
ral, co.lo.cando. em perigo. a no.va criação. Isso. fico.u claro.
maneira simbólica. Fazendojustiça a Freud, devemo.s
em um o.utro. so.nho. qlÍe ela teve ria mesma no.ite, no.
dizer que só se po.de fazer esse tipo. de interpretação. co.m
ela carimbava tudo. o. que via pela frente co.m o. seu pró­
pesso.as mais velhas, relativamente mais maduras. Nin~
prio. carimbo. de bo.rracha. Po.ssessiviâade e reivindica­
guém pode fazer um reto.rno. simbólico. à infância se já
ções de po.der po.r parte do. ego. ameaçavam to.mar o. co.n­
não. a tiver deixado. Muito. do. mal-entendido entre o.S po.n­ tro.le. é um problema muito co.mum. O ego. co.nsciente
to.s de vista de Freud e Jung surgiu po.rquese misturq.-:.
137
136
possui uma tendência qüase irresü~tível dê se intrometer
o bebê realmente tinha nascido? O marido dela entrou no
quarto sorrindo, e apontou para um visco que estava de­
no processo natural inconsciente, distótcendo-o em seu
pendurado sobre a cama. Essa era a ~omprovação de que
favor. Isso é revelado em uma outra imagem de um outro
J!1 o bebê havia re<;l.lmente nascido. ,
sonho da série: . !

Sonho 4: A faxineira da, ,son4adQra, ):lma mulher simples,


Esse.so:hno .comprova que o bebê ainda está vivo. É
afetuosa e realista,mandou um buquê de flores para ela. interessá.nte qtie o visco sàgrado seja uma prova disso:
Ao tentar'arruniá-IO, uma flor ficava caindo no chão e de­ Dentre 'as.várias características miraculosas atribuídas
sarrumandoas outras, até que ela deixou que a flor ficas­ ao visco estão 'as crenças de que ele fertiliz,a o. gado' esté­
se no chão. De repente, essa flor se transformou numa ril e de que se uma mulher carregá~lo consIgo, ele a ajuda­
criatura de pele dura, meio marisco, meio tamanduá, Cor­
de-tijolo e muito feia. A moça decidiu que'o bicho deveria rá a engravidar.No sonl}o"um símbplo da fertilidade
,ser morto e começou a bater nele com uma vara. Ele rea­ minina prov~ que. Çl: paciente ~ .criativa.
gia furiosamente e, quanto mais ela batia nele, mais ele A criança se defrontou com. outros. perigós e outras
crescia. Ela percebeu que, se ele continuasse a crescer, incertezas, mas yamos·passar direto para os dois últimos
iria tornar-se realmente perigoso. Ela parou de bater nele; sonhos: ,': ' , ' ...
então, ele'começou a diminuir de tamanho e foi embora.
Sonho'ô: Ela'ganhou um presente de um médico famoso,
Esse sonho é bem reveladoro Junto com o nascimen­ tI um homem que a havia despertado de anos de torpor, e
por quem ela havia se apaiXonado, O 'presente consistia
to da criança também fora:mativados poderes que amea­
de'uma sacola de plástico redonda· cpntendo tudo o que
çavam sua sobr~vivência. A natureza dessás forças é era necessário para a vida, incluindo o Tempo. O Tempo
simbolizada pela criatura feia; de pele'dura. Esse bicho era representado por um cordão umbilical em círculo, em
represent~ a 'natureza priinordial, desumana e instinti­ volta da sacola.
va do protoplasma. Do ponto de' vista' psicológico; ela se
manifesta como voracidade,' possessividade e luta por Esse foi um sonho muito forte para a paciente, ape­
poder. Ela não pode ser morta. Reprimi-la de forma bru­ sar do fato de ele não conter nenhum elemento cósmico ­
tal aperias faz com que ela cresça e fiquemáis perigosa. exceto, -talvez, pela noção dé Tempo. O sonho é uma re~
Ela é o verme no núcleo da vida que não é agradável, mas presentação dela mesma, contendq todos os requisitos
precisa ser aceito. O surgimento dessa criatura primiti­ necessários para a vida, e çercàdo pelo círculo urobórico
va interferiu no andamento regular da análise, é, claro. do cordão umbilical representando o Tempo como um cír­
Ela não pode ser reprimida e, também, não se pode dei­ culo . e t e r n o . ' ' \

xar que ela realize seus desejos de maneira autônoma. O sonho foi particularmente interessante para mim
Depois de um períod.o de batalhas com essa intro­ por revelar de forma clara uma importante transforma­
importuna, o tema de um novo nascimento foi rei­ ção íntima.de sua atitude perante a experiência externa
terado com o seguinte sonho: da -transferência. Eu, é claro, não havia dado a ela ne­
nhum presente desse tipo, tão valioso. Ele veio do curan­
Sonho 5: A paciente estava em' casa, de 'camà, depois de
dar à luz uma criança. Mas havia alguma incerteza no ar. deiro arquetípico. Todavia, é quase impossível entrar em
138 139
contato com essa força curadora interna a: 'não ser a par­ Pr.eciso dizer que a paciente áinda não experimen­
tir do contato profundo com lima outra pessoa, o que equi­ tou conscientemente e por corripIe to todas as implicações
vale a dizer que só se pode entrar em 'contato e integrar o desses sonhos. Esse 'ainda é um processo parcial, como
inconsciente pelas vias dá projeção. O 'óbjetivo, é claro, é normalmente acontece. Ainda há muito o que se fazer. A
separar o significado único e pessoal de tal experiência individuação é1um--processo em 'direção' a um objetivo
da pessoa coIp. q]-le~'a ~xperi~nci~ acontef8u. A projeção inalcançável, nunca um fato consumado. Quando estuda­
do Si-mesmo precisa ser retiraqa do terapeuta se o pacien­ moS os ,processos inconsciente~em uma série ,de sonhos
te não quiser'permanecer numa depeD-dê'nciâjmpotente. como esta, estamos,olhando para potencialidades ..Q quan­
O -sonho "r'fip'~l
~ • {
to~a
,.
~ess~"quesfM,: ' 1. "..':'
.,
','
~.! ,
.
~ ~
to se realiza depende; do que a personalidade consciente
J ' J. I lo
faz com eles:Se não tiver ninguém em ca,sa,.eles vão ba-,
Sonho 7: Asonha'd6rí:t viu b plano de' sua'vida sendo tecido ter na porta à toa, ,I",;.' .­
em uma grande estéira, Cada fió da esteira tinha um sig­ 'Meuóbjetivoao, apresentar essa:série de sonhos foi
nificado diferente e muito importante, Terminada, ela era enfatizar o fato de ,que a individuação e.seuS temas arque­
quadraqaJ9;rl!}acj.;:t por ;váriasp~quen>as suásticas, e ela a
colocou em um carrinho de mão do lado de fora da casa, típicos normalmente aparecem, e, devem aparecer, em
bem ao lado da porta, O Dr. Edinger veio falar com ela e, uma situação.interpessoal bem definida, ou seja, na trans­
vençlo o carrinho, de mão, sentou-se nele e copversou com ferência. De fato, toda experiência arquetípica pode trans­
ela, enquanto, ela estava de pé na· porta. Elaquey;ia pro­ '.) formar-se em veneno. psíquico senão for.incorporada em
testar por ele estar sen~ado no seu plano, mas percebeu uma relação significativa com a sociedade e com os ou­
que a visita dele era temporária, que logo ele iria .levan­
tar-.se e ir, embora e que, o medo e a 'grosseria, dela não tros. Como'o primeiro caso nos mostrou, ela pode acabar
eram n e c . e s s á r i o s . · ' · , . ,. em inflação 8' psicose. ..,

Aqui está sendo mostrado que a figura do terapeuta Transferência erótica e religiosa
~, ~ ~" ~;
está obscurecendo o plano,de vida oú modelo de ideritida­ , • I ' , J- , ' , ..: ' , ) :1

de da paciente: A consciência desse modelo normalmente Ao lidar com a'transferência, repetidas vezes encon­
emerge no curso de uma relação analítica e, a princípio, trâmosdois tipos de, material:' o erótico e o religioso. O
está intimamente ligada à personalidade do terapeuta. mesmo também é verdade para as' produções da insani­
Ou seja, está projetada. Ness'es casos, o analista pode até dade. Por isso, temos boas razões para acreditar que o
mesmo aparecer comoluna obstrução aó desenvolvimerü núcleo da 'personalidade humana é ou erótico ou religio­
to. O que se precisa é de uma separação entre o analista so, ou os dois~
c"i É normal tomar alguma posição nessa questão e,
como lima pessoa real e as projeções. Pepois disso, por •

fim, temos dois seres humanos completos. encontrando :dépendendo do lado escolhido, interpretar o material se­
um ao outro da forma como eles sao de verdade. Amor xual religiosamente, ,ou o material religioso sexualmen­
objetaI e centroversão emergem ao mesmo tempo corrio te. Com certeza, os teólogos revelam essa tendência quan­
duas formas de se manifestar o mesmo: acontecimento·....,. do interpretam conteúdos obviamente eróticos no Antigo
integração psíquica e totalidade. Testamento como uma referência a Cristo e sua noiva, a
141
140
Igreja. A psicanálise freudiana faz o mesmo ao contrário, lidas do mesmo princípio. O que antes era um par de opos­
ao interpretar a crença religiosa como derivada da ques­ tos é reconciliado. Tanto o modo 'extrovertido quanto o
tão edípica e, por conseguinte, como sendo primariamen­ 'l introvertido de vida são respeitados. Esse é um dos fru­
te erótica. Essas :tentativas de se .ampliar.um aspecto da tos possí.vets ,de uma exp~:riência criativa de transfe­
vida em detrimento do outro criam i.magens distorcidas e r
rência.
unilaterais dá realídade.
As terminologias religiosa e erótica' são claramente Transferência.como um chamado à tótalidade
intercambiáveis. As visões dos místicos abundam em ima­
gens eróticas e; por outro lado, a linguagem dos amantes Tanto se Ocorre ria análise quanto na vida pessoal de

é, muitas vezes, religiosa. EU: diriaique os pontos de vista alguém, a 'transferência ê, em essência, um chamado à

erótico e religioso correspondem ao que chamamos ante­ totalidade. A libido corré para alguma cóisaque ela reco­

riormente de amor objetaI 'e' centroversão. Eles são os nhece como sua propriedade ou potencialidade própria.

aspectos extrovertidos e'introvertidos,respeétivamente, Essa é uma das razões para a possessividade tão exi­

da individuação. A atitude religiosa e a.atitude erótica gente de tal relação. Inconscientemente, o indivíduo re­

madura são, em essência,.a mesma. A atitude religiosa, conhece que o analista ôu amigo carrega um fragmento

ou centrovertida, refere-se à fonte in tema devida, a Deus. projetado de sua própria psique, e ele quer reaver esse
fragmento. Se o indivíd'úo for capa~ de assimilar a proje­
I'
A atitude erótica madura refere-se. ao respeito e à impor­
tância dos nossos companheiros humanos. ção, estará dando um passo importante em direção à to­
O.conceito de uma relação Eu-Tu de Martin Buber é talidade: ',. ' ",. '
aplicável aqui. Para usarmos as palavras dele"podería­ A transferência co'mo uma luta pela totalidade está
mos dizer que a maturidade psicológica se revela pela belamente ilustrada no mito narrado no $ymposium de
capacidade de se relacion~r com um Tu:-; algo,Çlue é com­ Platão, onde. a natureza do amor é discutida. Vou citar
pletamente outro perante o ego. O aspecto 'extrovertido, um pedaço deste mito. Diz ,Aristófanes: "
erótico, da relação E:u-Tu'seria o.amor objetaI; o aspecto
introvertido, religioso, corresponderia à'.centroversão. Na , Mas é preciso primeiro aprenderdes a natureza humana
e as suas. vicissitudes. Com efeito"noss a natureza outrora
prática, essas duas possibilidades aparecem simultanea­ . ,não era a mesma que a de agora, mas diferente ... inteiriça
mente. 75 era 'a forma de cada homem, como dorso redondo, os
Assim como a centroversão, a atitude religiosa, pre­ flancos em círculo; quatro mãos ele tinha, e as pernas o
cisa livrar-se da luta pelo poder pessoal, também eros, o mesmo tanto das mãos, dois'rostos sobre um pescoço tor­
amor objetaI, deve SE;).I:>urgardo amor indigente e da pos­ neado, 'semelhantes em tudo; mas a cabeça sobre os dois
sessividade. Aí, eles, adquirem ostatus. de dois princípios
um
rostos opostos ao outro era uma só, e quatro orelhas,
dois sexos, e tudo o mais como desses exemplos se poderia
iguais, ou melhor, de duas manifestações iguahp.ente vá­ " supor. E 'quanto ao seu andar, era também ereto como
agora, em qualquer das duas direções que quisesse; mas
"
:.,quando se lançavam a uma rápida corrida, como os que
75 Para mais dados sobre este tema,ver Mario Jacoby, The Analytic En·
counter: Transference and Human ~elationship. esp. Capo 4: '(Nota.do Editor)
,cambalhotando e virando as pernas para cima fazem uma
143
142
,

todo que se dá o no~~ d~ a11!0r. Anteriormente, como es­


roda, do mesmo Ilfodo, aRoiando-se nos seus oito mem­
bros de então, rapidamé11,te eles se loconioviam em cír­
culo... Eram por consegUinte de uma força e de um vigor
terríveis, e uma grande presunção eles tinham; mas vol­
taram-se contra os deuses; e o que diz Homero de Efialtes
l tou dizendo, nós éramos um só, e agora é que, por causa
da nossa injustiça,fomos separados pelo deus, e como o
foram os árcades pelos lacedemônios; é de temer então, se
não formos moderados para çomos deuses, que de novo
sejamos fendidos em dois, e perambulemos tais quais os
e de Otes é a eles que se refere, a tentativa de fazer uma
escalada: ao céu, para investir contra os deuses. Zeus en­ 1 que nas estelas estão de perfil, serrados na linha do nariz,
como os ossos que se fendem. Pois bem, em vista dessas
tão e os demais deuses puseram-se a deliberar sobre o eventualidades, todo homem deve a todos exortar à pie­
que se' devia fazer com eles, e embaraçavam-se; não po­ dade para com os deuses, a fim de que evitemos uma e
diam nem matá-los e, após fulminá-los como aos gigan­ alcancemos a outra, à medida que o Amor nos dirige e
tes, fazer desaparecer-lhes a raça- pois as honras e os comanda. Que ninguém em sua ação se lhe oponha - e se
templos que lhesyin~am dos homens desapareceriam­ opõe todo aquele que aos deuses se torna odioso pois
nem permitir-lhes que continuassem .11,a impiep.ade. De­ amigos do deus e com ele reconciliados descobriremos e
pois'de labóriosa refléxão, diz Zeus: "Acho que tenho um
conseguiremos o nosSO p~óprio amado. 76
meio de fazer com que os homens possam existir, mas pa­
rem com a intemperança, tornados mais fracos, Agora com
. efeito, continuou, eu, os cortarei a cada um em dois, e ao .Platão termina a fala de Arif3tófanes COII~ as seguin­

mesmo temp'o eles serã~ mais fracos e também mais úteis tes palavras, q1J.e eu vou tomar emprestadas para ami­
para n6s, pelo fato de se terem tornado mais l}umetosos; e ~\ nha própria conclusão: '

andarão eretos, sobre 'dúas' pernas, Se ainda pensarem


em' arrogância e não quisérem acomodar-se, de novo, dis­ E se disso fôssemos glôrificár o deus responsável, mereci­
,se ele, eu os cortarei em dois, e a~sim sobre uma só perna damenteglorificaríamos o Amor, que agora nos é de máxi­
eles andarão, saltitando". Logo que disse isso, pôs-se a ma utilidade, levando-nos ao que nos é familiar,'e que'para
cor:tar OS homens em dois, como os que corta~ as sorvas o futuro nos dá ~s maiores esperanças, se formos piedosos
para a conserva, ou como os que cortam OVO$ com cábelo ... . para cornos' deuses, de restabelecer-nos em nossa primi­
Por conseguinte, desde' que a nossanatureia se'mutilou tiva natureza e, depois de nos curar, fazer-nos bem-aven­
em duas, alisiava caq,a um por sua própria metade e a ela turados e felizes. 77 " ,
se unia, e envolvendo-se com'as mãos e enlaçando-se um
ao outro, no ardor de se confundirem ... por nada quere­
rem fazer longe um do outro. E sempre que, morria uma \ f

das metades e a outra ficava, a que ficava procurava ou­ ,"


~ ~, I

tra e com ela se enlaçava,:quer se encontrasse' com a me­


tade do todo que era mulher 'o que agora chamamos ~, ~ " ,

mulher quer com a de um homem ... É então de há tanto


tempo que o amor de um pelo outro está implantado nos "
homens, restaurador da nossa antiga natureza, em sua L
.: ~
tentativa de fazer um só de dois e de curar a natureza
{

lo'
humana, Cada um de nós, portanto,. é uma téssera com­ ,
plementar de um homem, porque cortados como· os lin­
guados, de um só em dois; e procura então cada um o seu ··i ,

próprio complemento ... nossa antiga natureza era assim 76 'The Dialogue~'of Plato, pp. 316ss.

77 11:Íid:, p, 318,' ", ,

e nós éramos um todo; e portanto ao desejo e procura do


145
144
rnentos ,qu.ünicos opostos - que se
alc anç a som ent e com a
Ap ên dic e pre sen ça de um terc eiro ele me nto
-co mo um a me táfo ra
NOTAS SOBRE O Sr_l\4:1~}SMO par~oprocesso de tran sfo rma ção psicoló
gica por meio do
qua l tan to a :pe rso nal ida dec ons cie
Sp~~ks
nte qua nto a incons­
Po r J. Gary cie nte são tran sfo rma da. s por me ip
' da ação de um tercei­
rO fator, o Si_rnesmo .. -Em .ou tra spa
lav ras , ele am plia e
explica nos ,mínimos det alh es a·fo
rmaccomo o ind ivíd uo
receb.e orieJ?tação de; um Jat or loca
lizado, fora' do seu con~
trQle,ao.dernoI).strarcomo,p Si~mes
mo or,ques.tra a tra ns­
fQrmaçãQ:.tap.t,o do ego lqu ant o das
,:partes inconscientes
dapersoIÍalidade~ (Ver Mysterilfm ,Co
_ des te com o ego, fâunctioriis e "Psy­
cho!ogy ofthefl'ra;nsference" de Jun
Jun g fala do Si-mesmo, e da rel8-Ç8- g; e,também.o9 gui as
sob vários pontOs de vis ta. Em Sím
~ da1 Yàn sfo rm a­ de ,estudo de Edi nge r par a esseS,
textos, res pec tiva me n­
bol o or completo, ele te:' The Mysterium Lectures, esp.
ção, em bor a não des env olv a o
concel·to pito S de her óis ­ p'... 22ss.,' 321s8., e The
,o Mysteryo{the,Coniunctio, esp .p.A
ilus tra, por meio da inte rpr eta ção e 8s . , 74ss.) ~ .
d :- do Si-mesmo: a :..O 'seg und o modelo do Si-mesmo
que ma is tar de irá atr ibu ir à ativ €i de sua rela ção 'co m
id8- e i8-reÍn a perso:'
cap~cidade de pro dut os inconsciente S ~r~senta a idé ia
o ego des crit o'p or Jun g pode ser. e,nc
mo do gnosticismo. No mito gnóstic
oIttrado no simbolis~
nah dad e consçiente. E~ Símbolos, o, o De us cria dor se
ele eri go da bat alh a per de na ma tér ia qua ndo o mu ndo
deq ue" ass imc om o o her ói se exp é cria do e deve ser
õe aOé~1. o·e go pode ser recomposto por completo a cad a vez
ou do encontro com o mo nst ro, tamb que um cre nte mo rre
J11 OU pel a desci­ e a cen telh a de De us que hav ia fica
gui ado ~ orien~ado pe! a confr?n~~ do pre sa em sua alm a
da ao remo do mconSClente. Ald eIa . lJ
çãO c~íp8-1 e.-. na ~istó­ ret om a à divindade. Jun g utiliza a
me táfo ra gnóstica par a
prf ão .inIcIal e a de rep res ent ar a res pon sab ilid ade do
ria da psicologia - nov a nes sa fon ul ego de rea gru par , na
n 8-ç ue vem de um a forma original, os frag me nto s do
que existe um a ori ent açã o par a Si-mesmo perdidos no
o ego ~ue est á fora da mu ndo em um Si~mesmo recriado
fonte de den tro da per son alid ade - seg und o sua me tá­
, I118- 5 fora, por meio da projeção. Ess a for
percepção do ego, isto é, no inc ons CIe . ot e . (Ver Transfor- ma de se compreen­
8- stu dy gui de to der o Si-mesmo acr esc ent a ma is um
ma tion of Libido - esp . pp. 34, 3~, a nua nça à compre­
68. - M8-is adi ant e, em ens ão der iva da da alq uim ia, ao enf
Sym bol sof Tra nsf orm atio n de Edll1ger atiz ar o pap el do ego
) ....-.0 na criação das condições que per mit
três out ras formulações sob re o S · e5~J.~' Jun g desen- am que o Si-mesmo
I-Ill
volve e ela bor a ess a obs erv açã o ini .
cia l. b éIll o de pesqui-
ass um a sua função de guia. Si- °
truí do" e dep ois seguido. (Ver Aio
mesmo deve ser "cons­
O.primeiro modelo com ple to, e t8-J n de Jun g e The Aio n
1l pre ens ão do ~i­ Lectures, de Edi nge r, esp. p. 141, 146
sa maIS det alh ada , de Jun g par a
8- co:J111.1iIllia. Ele ve a Por fim, em "Re spo sta a Jó", Jun g.)
mesmo vem de sua pes qui sa com enc ont ra um tex to
8- 8- IQ ão física imagi­ que rev ela um terc eiro modelo par
descrição dos alq uim ista s da tra nsf r Ç a se com pre end er o Si­
o J1.1.8- nte'Ill" dois ele- mesmo e a sua relação com o ego:
nad a de um a sub stâ nci a ma ter ial "CO . Assim como Jó teve de
que
146 147
Ap ên dic e me nto s quínÜcos opostos - que se
alc anç a som ent e com a
pre sen ça de um terc eiro ele me nto
NOTAS SOBRE O SI-~ESMO par a0 processo de tram~formaçãops
- como um a me táfo ra

icológica por meio do

.,Por J. Gary Sp ark s qua l tan to a per son alid ade conscie
nte qua nto a incons­

ciente,.são transforII).adás por me io


da açã o de um tercei­

ro fator, o S,i-mesmo., Em out ras


pal avr as, ele am plia e

exp lica nos "mínimos det alh es a for


ma,como o indivíduo

r~c~b..e orie~tação deu m:f ato rJo cal


iza do fora do seu con
­
trole, ao.deJllO nstr.arcQmoQ Si~ine
smo or.questra a tra ns­

form;:!.çã.Q~tap.to do ego; quanto, das


.:pa rtes inconscientes

Jun g fala do Si-mesmo, e da rela ção da :personalidade. (Ver, Mysterütm


des te com o ego, Conii17íctioriís e "Psy­

sob vários pon tos de vis ta. Em Sím cho,logy Qfthe TraIlsference" de Jun
bolos da Transforma­ g, e, tam bém .os gui as

ção, em bor a não de~envolva o de ,estudo de Edi nge r par a esses, tex
conceito por comple~o, ele tos , res pec tiva me n­
ilus tra, por 'meio da inte rpr eta ção te:.The Mysterium Lectures, esp.
de mitos de heróis, o p.2 2ss .; 32i ss., e The
que ma is tar de irá atri bui r. à ativ Mystery:of the ConiunctiQ, esp. p. 48s
.,
cap aci dad e de pro dut os inconscie
ida de do S~~mesmo: a ,~, 'O seg und o modelo do Si-mesmo 74ss.) .
ntes gui are m a perso~ e' des uar ela ção 'co m
nal ida de consciente. Em Símbolos, o ego descrito por Jun g pode ser epc
ele apr ese nta a idé ia ont rad o nos imb olis ­
de que, ass imç om o o he; Óis e expõe mo do gnosticismo. No mito gnóstic
ao pe;i'go dab àta lha o, o De us cria dor se
ou do encontro com o mo nst ro, tam per de na ma tér ia qua ndo o mu ndo
bém o ego pode ser é cria do e deve ser
gui ado e ori ent ado pel a confronta recomposto por completo a cad a vez
ção com 'ou pel a desci­
que um cre nte mo rre
da ao reino do inconsciente. A idé ia e a cen telh a de De us que hav ia fica
pri nci pal e - n'a histó­ do pre sa em sua alm a

ria da psicologia -'n ova nes sa for reto rna à divindade. Jun g utiliza a
mulação inicial é a de me táfo ra gnóstica par a

que existe um a ori ent açã o par a o rep res ent ar a res pon sab ilid ade do
ego que vem de um a ego de rea gru par , na

fonte de den tro da per son alid ade forma original, os frag me nto s do
, ma s que est á fora da Si-mesmo perdidos no

percepção do ego, isto é, no incons mu ndo em um Si~mesmo recriado


ciente. (Ver Transror­ - seg und o sua me tá­

ma tion or Libido esp, pp. 34, 37, fora, por meio da projeção. Ess a for
68. -a stu dy gui de to ma de se compreen­
Sym bol s ofT ran sfo rma tion de Edi nge der o Si-mesmo acr esc ent a ma is um
r) Mais adiante', em a nua nça à compre­
trê s out ras formulações sobre o Si-m ens ão der iva da da alq uim ia, ao enf
esmo, Jun g desen­ atiz ar o pap el do ego
volve e ela bor a ess a observação inic na criação das condições que per mit
ial. am que o Si-mesmo
O prim eiro modelo completo, e tam ass um a sua função de guia. O Si-
bém ode pesqui­ mesmo deve ser "cons­
sa ma is det alh ada , de Jun g par a truí do" e,depois seguido. (Ver Aio
a compreensão do Si­ n de Jun g e The Aio n
mesmo vem de sua pes qui sa com Lectures, de Edi nge r, esp. p. 141, 146
descrição dos alq uim ista s da tran sfo
a alq uim ia. Ele vê a Por fim, em "Re spo sta a Jó", Jun g.)
rma ção física imagi­
enc ont ra um tex to
nad a de um a sub stâ nci a ma teri al que rev ela um terc eiro modelo par
que "conténi" dois ele- a se com pre end er o Si­

me sm o e a sua rela ção com o ego:


146 Assim como Já tev e de
147
res isti r a Iah we h e ref leti r 'pa ra
Ele .a .tealíclade de seu BIBLIOGRAFIA'
com por tam ent obe stía l, tam bém o'e
gop tec isa ,'em alg uns ". • l-,

momentos, oferecer alg um a res istê -"'L.


hci a ao Si~mesmo, par a

que se inicie um a 'tra nsf orm açã h


·dentro do pró prio Si­ ::

mesmo. Ma is um a vez; o pap el do . ~.,./ :l .


egolllo fun cio nam ent o ""
. !, j~

do Si-mesmo é elucid~do, contudo,.-


com\mais um a nova I. )';,~
ênfase. Aqui, a infl uên cia do Si~mes ')
1 ~,j "

m(j sob re o ego é ex­ I " ! : ~~ !. ,


per ime nta da, -ai príncfpío;como adv .. , \.
ers ária e~passa a ser­ \ 'l"
vir o ego .so me nte -qu and o est e res
iste vig oro sam ent e à ,:) , ,
ma nife staç ão hos til do Si'-mesmQ no '.' .,', '. 1 •
enc ont ro inicial: (Ver '\ f ,)! rn 1, : ~~j 't'""
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'"t 56 Arjuna e Krishna

',1\. "' . ~ ,. b" 60 Paulo e Cristo

r .. -.i- ~ 1'_ li, ,,/ ':;'.\1 ,). \) J ' ": .. 62 Nietzsche e Zaratustra

): 72 Comentários finais

J>:
,., 75 3. A vida terapêutica
- ..,L \
.,_t. J•
75 Fatores pessoais e arquetípicos
,..
. ,:) f,-";
80 A transferência arquetípica e o encontro pessoal

150
85 A cura em harmo!iial,ç({ml~ psique objetiva

93 A encarnação pessoal dos arquétipos.

o~O"
97
A personalidade do terapeuta e os propósitos tra~spes­
, soais
'1 '(y<J. j; fi' -\ -, -----\

100 4. Psicoterapia profunda: a profissão


~

100 Introdução
""
102 Raízes etimológicas ~~;~te livro deve ser devolvido na
103 Imagens arquetípicas subjacentes à psicologia profunda .. (':)~I última data carimbada
106 O legado médico
107
109
O legado filosófico
O legado religioso V1" iD~ -c13 ...11
112 Imagens arquétípicas corre'spondehtes às fases

da terapia

116 A tradição oculta


--

117 Privilégios, responsabilidades e perigo's

118 O mistério da psicoterapia profunda'

120 Perguntas e respostas

123 5. O fenômeno da transferência


123 Transferência e projeção
126 A natureza arquetípiça, da trarisferência
----
127 Transferência positiva' ' ,
129 Transferência na vida cotidiana'
131 Transferência e centroversão'
133 Transferência e transformação, "
135 Transferência em uma série de sonhos,
141 Transferênci~ erótica e religios~: ." ' , . , )
143 Transferência como um chamado'àtotalidade -

146 Apêndice: Notas sobre o Sl-mesl.Do por J. Gary Sparks


149 Bibliografia
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