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1 Introdução
A região Amazônia, apesar de compreender mais de cinqüenta por cento do território brasi-
leiro, possui problemas quase sempre dissociados da realidade do centro-sul brasileiro. A própria
inserção do biodiesel na matriz energética no Estado do Amazonas deve e vem sendo avaliada di-
ferentemente e voltada fortemente para a geração de energia elétrica em comunidades isoladas. No
Amazonas, das mais de quatro mil comunidades isoladas, apenas trinta e duas são abastecidas de
energia elétrica e o modelo adotado, apenas para as sedes municipais, é a geração térmica usando
óleo diesel; uma vez que a extensão das linhas de transmissão de energia elétrica, na maioria dos
casos, é logística e economicamente inviável, devido as grandes distâncias (Castro, 2005).
Isso tem resultado até o momento na inviabilização de qualquer tentativa de desenvolvimento
do interior do estado, impondo a essas populações severas limitações a sua sustentabilidade econô-
mica e a seu desenvolvimento social (Rocha & Silva, 2002). A disponibilidade de energia elétrica é
hoje condição prévia para a implementação de qualquer melhoria de educação, saneamento e saú-
de; pré-requisitos esses para um melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), índice criado
pela Organização das Nações Unidas.
No contexto amazônico, os investimentos em alternativas energéticas, a partir de recursos
naturais renováveis locais, que sejam viáveis e sustentáveis em termos técnicos, econômicos, am-
bientais e sociais, são os modelos mais recomendados para disponibilizar energia elétrica nas co-
munidades isoladas do interior do Amazonas.
Entre as várias alternativas energéticas hoje estudadas e disponíveis para utilização, em curto
prazo, no interior do Estado do Amazonas, está a produção de biodiesel, a partir de óleos forneci-
dos por espécies oleaginosas amazônicas. Constitui-se numa alternativa técnica e economicamente
viável e ambiental e socialmente sustentáveis, especialmente quando os óleos são obtidos de partes
renováveis de oleaginosas nativas com ocorrência em extensos adensamentos florestais naturais.
Os resultados aqui apresentados referem-se não apenas a avaliação do emprego de óleos vege-
tais produzidos localmente em comunidades isoladas no Médio Juruá no Estado do Amazonas na
produção de biodiesel; mas de toda a cadeia produtiva, de forma a permitir a conciliar a inclusão
social, o desenvolvimento regional e a preservação da floresta.
2 Metodologia
A biodiversidade Amazônica resulta numa ampla variedade de espécies oleaginosas, que ocor-
rem, algumas vezes, em largos adensamentos florestais, facilitando a sua exploração, como é o
caso do murumuru (Astrocaryum murumuru), tucumã (Astrocaryum aculeatum), babaçu (Orbignya
phalerata) e urucuri (Attalea phalerata). Na comunidade do Roque, localizada na Reserva Extrati-
vista do Médio Juruá (AM), sementes dessas espécies vêm sendo utilizadas na produção de óleos
vegetais.
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Figura 1. Processamento de sementes e extração de óleo na Comunidade do Roque
3 Resultados
. Fase I: Cadeia Produtiva dos óleos vegetais
As “boas práticas” da cadeia produtiva dos óleos vegetais têm como objetivos básicos alcan-
çar uma boa qualidade – óleos com baixos índices de acidez e de peróxido – e altos rendimentos
na sua extração, aliados à garantia de regeneração das espécies oleaginosas utilizadas. Pesquisas
de campo, executadas na micro-usina de produção de óleos vegetais implantada na comunidade
do Roque, no município de Carauari (AM), e laboratoriais com as espécies de murumuru, tucumã,
urucuri e babaçu; permitiram identificar diversos parâmetros que devem ser observados durante o
processo de produção desses óleos:
a) a coleta dos frutos e sementes deverá se dar tão logo este caia da árvore, a fim de se evitar
a contaminação por fungos e outros micro-organismos existentes no solo da floresta, bem
como a contaminação por insetos;
b) a higienização dos frutos e sementes em água limpa e corrente;
c) a iniciação do processo de secagem no menor espaço de tempo possível, a partir da coleta,
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Produção Sustentável de Biodiesel a partir de Oleaginosas Amazônicas em Comunidades Isoladas
bem como a utilização de métodos de secagem que também demandem curto espaço de
tempo, em temperaturas adequadas;
d) a extração dos óleos logo após a secagem, devendo a semente ou fruto ter alcançado um
teor de umidade entre 5% e 8% do peso úmido;
e) o aquecimento adequado da semente (na máxima temperatura em que são mantidas as
características físico-químicas dos óleos), antecedendo a prensagem;
f) a filtragem do óleo logo após a prensagem, visando separá-lo dos resíduos (também cha-
mados de “finos”) por ele arrastados;
g) a armazenagem do óleo em vasilhames que possam protegê-lo da luz solar e da entrada de ar.
Esses parâmetros são necessários para que se obtenham óleos com boa qualidade e se con-
siga melhores rendimentos na sua fase de extração (extração por prensagem mecânica). A partir
da implantação dessas medidas, foi possível obter-se óleos com acidez em torno de 1 por cento e
rendimentos na extração cerca de 20 por cento acima do que se obtinha, quando não se observava
tais procedimentos. Os índices de rendimento na extração são apresentados na tabela 1.
murumuru 40 80 70
urucuri 66 86 60
babaçu 66 86 60
murumuru 15,48 ± 0,01 9,66 ± 0,03 0,31 ±0,13 18,00 ± 0,61 233,67 ± 1,26 0,8847
urucuri 1,53 ± 0,02 0,79 ± 0,09 7,27 ± 0,13 33,60 ± 0,36 199,27 ± 0,26 0,9259
Observou-se que dos óleos analisados, o murumuru apresentou um índice de acidez alto,
enquanto que o de babaçu e urucuri baixos. Esse maior índice de acidez explica-se, pois trata-se
de um lote produzido ainda sem seguir as “boas práticas” mencionadas acima, exemplificando a
importância desse trabalho.
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Os resultados de caracterização da cadeia graxa estão de acordo com os dados da literatura.
Uma característica dos óleos de sementes de palmeiras é o seu alto teor de ácidos graxos saturados
de cadeia curta, como o de ácido láurico (C 12:0).
4 Conclusão
Existem ainda diversos desafios tecnológicos para a produção de biodiesel etílico em comuni-
dades isoladas na Amazônia, como a disponibilidade de álcool e a adequação de tecnologias para
os volumes de produção necessários. Parte desses problemas observados na Comunidade do Roque,
especialmente a qualidade do óleo já vem sendo solucionada para várias das oleaginosas estudadas.
Os trabalhos realizados pelo nosso grupo mostram que é possível obter óleos com índices de acidez
inferiores, especialmente otimizando-se o processo de coleta e diminuindo o tempo de processa-
mento das sementes pós-coleta, empregando secadores solares e elétricos. Acreditamos que devido
a nossa experiência prévia na transferência de tecnologia na extração de óleos, e os resultados até
então alcançados, em laboratório, que a etapa de implantação da produção de biodiesel nessa co-
munidade, também terá o mesmo sucesso, permitindo que a comunidade amplie a sua capacitação
de geração de energia elétrica.
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Produção Sustentável de Biodiesel a partir de Oleaginosas Amazônicas em Comunidades Isoladas
Referências Bibliográficas
Castro, J.C. Atendimento Energético a Pequenas Comunidades Isoladas: Barreiras e
Possibilidades. T&C Amazônia, vol. 6, pág. 30-35, janeiro, 2005.
Rocha, B.R.P., Silva, I.M.O. Energia para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia
In: Mello, A.F. O Futuro da Amazônia. EDUFPA, pág. 87-100, 2002.
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