Sei sulla pagina 1di 215

ESDRAS DIGITAL

S t e v e F arrar

Forjados
1 ll

poir

M o ld a d o s pelo Sen h o r
NOS BONS E NOS MAUS MOMENTOS DA VIDA

CENTRAL
GOSPEL
C opyright 2008 Steve Farrar
D avid C ook, 4050 Lee Vance View, C olorado springs, C O 80918, U.S.A
C opyright 2012 da obra em portu g u ês p o r E ditora C en tral G ospel, com perm issão da D avid
C ook, 4050 Lee Vance View, C olorado springs, C O 80918, U.S.A

D ados Internacionais de C atalogação na Publicação (CIP)


F a r r a r , Steve
Forjados p o r D eus — M oldados pelo S enhor nos bons e nos m aus m om entos da vida
T ítulo original: G od B uilt
R io de Janeiro: 2012
224 páginas
ISBN: 978-85-7689-279-3
1. Bíblia - V ida C ristã I. T ítulo II.

G erência editorial e de produção G ilm a r C h a v es


G erência de M arketing M arcos H e n riq u e B a rb o za
C oordenação editorial M ich e lle C â n d id a
Tradução B e th D ia s
I a revisão E le n C a n to
Q u e ila M a rtin s
P atrícia C a lh a u R ib e iro
R evisão final P atrícia N u n a n
Capa Adaptação da capa original de The Design-
Works G roup/D avid Uttley
Projeto gráfico e diagram ação J u lio Fado
Im pressão e acabam ento G ráfica S ta m p p a

I a edição: ju lh o /2 0 1 2
I a reim pressão: o u tu b ro /2 0 1 3

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do tex to


deste livro p o r quaisquer m eios (m ecânicos, eletrônicos, xerográficos, fotográficos etc.), a
não ser em citações breves, com indicação da fonte bibliográfica.
As citações bíblicas utilizadas neste livro foram extraídas da Versão A lm eida
R evista e C orrigida (A R C ), salvo indicação específica, e visam incentivar a leitura das
Sagradas Escrituras.
Este livro está de acordo com as m udanças propostas pelo novo A cordo
O rtográfico, que entrou em vigor em jan eiro de 2009.

E ditora C en tral Gospel Ltda.


Estrada do G uerenguê, 1851 —Taquara
CEP: 22.713-001
R io de Janeiro —R J
T e l. (21) 2 1 8 7 -7 0 0 0
w w w .e d i t o r a c e n t r a lg o s p c l .c o m
Uma visão panorâmica da história de José

Capítulo 1
De modo estranho e lento, Deus está trabalhando

Capítulo 2
Mesmo quando os seus sonhos morrem,
Deus está no controle de perdas devastadoras

Capítulo 3
Não foi por acaso...
Deus está no controle de todas as circunstâncias

Capítulo 4
Pegue este trabalho e engula...
Deus está no controle de todo o seu trabalho

Capítulo 5
Mesmo quando faz você voltar à estaca zero,
Deus está no controle de retrocessos dolorosos

Capítulo 6
Mesmo quando a esperança é interceptada,
Deus está no controle de esperanças despedaçadas
6

Capítulo 7
Rebaixado e colocado no banco dos reservas...
Deus está no controle das esperas prolongadas 129

Capítulo 8
Indivíduos influentes...
Deus está no controle dos poderosos 149

Capítulo 9
Deus programa o “boletim de meteorologia” ...
Ele está no controle da fome, do clima e dos desastres naturais 165

Capítulo 10
Subindo a escada do sucesso egípcia...
Deus está no controle de todas as promoções e avanços 183

Capítulo 11
Do útero à sepultura, Deus está no controle de todos os eventos da
sua vida, e Ele fará com que tudo coopere para o seu bem 197

Perguntas para reflexão pessoal ou


discussões em pequenos grupos 207

N otas bibliográficas 219


U ma visão p a n o r â m i c a

DA HISTÓRIA DE J OSÉ

(15 MINUTOS DE LEITUR.A)

Se você estiver fam iliarizado c o m a história de José, narrada no


Livro de Gênesis, enxergará este capítulo com o um a visão p a n o ­
râm ica da vida dele. P o r o u tro lado, se ainda não co n h ece b e m a
Bíblia e não sabe m u ito sobre ele, este capítulo servirá com o um a
in tro d u ção [à história desse grande h o m e m de D e u s].
Caso possa dispor de algum tem po, abra a sua Bíblia n o capí­
tu lo 37 de Gênesis e leia até o capítulo 50; assim, você passará a
c o n h e c e r todos os detalhes dessa história, e p o derá congratular-se
p o r m uitos anos. C o m isso, acabam os de decolar! A co m o d e-se em
seu assento ju n to à jan ela e prepare-se para co ntem plar algumas
paisagens inesquecíveis.

José tinha 11 irmãos e era odiado por pelo menos dez deles. Ele
veio de uma família problemática cuja árvore genealógica se tornou
bastante famosa. Alguns podem traçar sua genealogia até o Mayflower!‘

1 Mayflower foi o fam oso navio que, em 1620, tra n sp o rto u os cham ados P eregrinos d o p o rto de S o u th a m p to n ,
Inglaterra, para o N o v o M u n d o (Fonte: W ik ip é d ia ). O b v iam en te, o a u to r está referin d o -se à o rig e m dos
n o rte -a m e ric a n o s, usando u m a m etáfo ra para dizer que José está en tre os patriarcas da nação israelita.
8 Um a visão panorâmica da história de José

Mas José era bisneto de Abraão, o grande patriarca e pai de todos os


judeus, neto de Isaque e filho de Jacó. Por toda a Bíblia, lemos a frase
o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. Isso é extremamente importante,
afinal, José vinha de uma linhagem privilegiada.
Por que os dez irmãos desse jovem o odiavam tanto? Para com ­
preendermos isso, é necessário que voltemos um pouquinho na histó­
ria até o seu pai, Jacó. Este teve 12 filhos, além de uma filha chamada
Diná. Essas 13 crianças eram filhas do mesmo pai, mas de quatro mães
diferentes. E foi aí que a maior parte dos problemas começou.
Jacó fora enganado e acabara casando-se com Léia. Em bora ele
realmente quisesse casar-se com R aquel, é provável que tenha exage­
rado [no vinho] na noite do casamento (se fosse hoje, diríamos que ele
se excedeu nas doses de uísque Jack D aniel’s). Ele pensou que estivesse
casando-se com Raquel, mas quando acordou de manhã viu que havia
se casado com Léia. Labão, o pai da noiva, havia pregado uma peça das
boas em Jacó. Este sempre fora mais ardiloso do que qualquer outro,
mas em Labão havia encontrado um oponente à sua altura.
C om o R aquel era o am or de sua vida, Jacó decidiu renegociar
seu contrato com Labão. Ele havia trabalhado por sete anos pelo di­
reito de casar-se com a bela R aquel, mas agora estava casado com a
não tão bela Léia. Labão então lhe fez uma nova proposta: se Jacó tra­
balhasse por mais sete anos para ele poderia casar-se com R aquel na
semana seguinte. Com o Jacó não era mais um hom em livre, não teve
escolha senão aceitar a proposta de Labão.
Jacó firm ou o novo contrato, e acabou ficando com duas esposas.
Q uando suas duas filhas se casaram, Labão deu uma serva a cada uma:
Bila a R aquel e Zilpa a Léia.
Existe um motivo para que eu m encione todos esses fatos. Os 13
filhos de Jacó vieram dessas quatro mulheres diferentes. Essa é a razão
de os dez irmãos de José o odiarem tanto.

D is p u t a f a m il ia r

José foi o prim eiro filho de Raquel, que mais tarde m orreu dando
à luz seu filho mais novo, Benjamim. José e Benjamim tinham um
Foqados por Deus 9

relacionamento m uito bom , mas os outros irmãos não suportavam


nem olhar para José. Afinal, R aquel era o amor da vida de Jacó, e José,
o seu prim eiro filho com ela.
Por muitos anos, R aquel não pudera ter filhos. Então, quando
Jacó já estava mais velho, ela engravidou inesperadamente de José. Este
era o filho da meia-idade de Jacó (Benjamim se tornaria o filho da sua
velhice). Por todas essas razões, José era o favorito absoluto do pai, e
seus irmãos sabiam muito bem disso.
Q uando Jacó deu uma túnica colorida a José (que poderia ser
comparada a um terno Arm ani), e não com prou nada para os outros
filhos, gerou mais problemas entre eles. Esse acontecim ento jogou le­
nha na fogueira do ciúme.
Depois disso, em duas ocasiões distintas, o jovem José teve sonhos
proféticos. N o primeiro, viu 11 feixes de trigo no campo de colheita
que se inclinavam diante do seu feixe. Ao contar o sonho aos irmãos,
estes ficaram irritadíssimos. A mensagem era direta, e os outros jovens
a entenderam perfeitamente. Zom bando do irmão mais jovem por
conta do sonho, eles deixaram bem claro que era mais fácil o inferno
congelar do que eles se inclinarem diante de José.
Algum tem po depois, José teve um segundo sonho. Dessa vez, o
sol, a lua e 11 estrelas se inclinavam diante dele. Ao contar o segundo
sonho aos irmãos, eles ficaram ainda mais furiosos. Até mesmo Jacó
ficou aborrecido com a ideia de que um dia todos eles se inclinassem
diante de José. Mas, Jacó não descartou o sonho de seu filho — ele
apenas o guardou em uma “gaveta” .
[Por ser o preferido de seu pai e por conta dos sonhos que teve]
Os dez irmãos de José tinham muito ciúme dele. Isso também explica
o porquê de eles tentarem matá-lo aos 17 anos.

V a m o s fa zer u m n e g ó c io

Os irmãos de José pastoreavam o rebanho ao norte, ju n to a Siquém,


onde havia mais chuva e pasto abundante. Q uerendo saber como es­
tavam os filhos e as ovelhas, Jacó m andou José ir ter com eles a fim de
verificar o andamento das coisas e retornar para informá-lo.
10 U m a visão panorâmica da história de José

José teria de pegar a estrada para se encontrar com seus irmãos.


Para um jovem de 17 anos naquela época, viajar não era algo corri­
queiro, e essa seria uma viagem longa, entre 110 e 130 km. H á três mil
anos, uma viagem assim era considerada um evento im portante em
Israel. Norm alm ente, José não se afastava de casa mais do que cinco a
seis quilômetros, e era obrigado a voltar sempre antes das 11 da noite.
José partiu rum o ao norte, e, quando chegou a Siquém, um h o ­
m em lhe disse que seus irmãos haviam ido para o oeste, em direção a
Dotã. A notícia não perturbou José, já que isso significava estender sua
viagem por mais 30 a 50 quilômetros (hoje seria como brincar um
pouco com seu novo G P S).
Aparentemente, os irmãos o reconheceram enquanto ele ainda
estava ao longe, antes mesmo que este conseguisse vê-los. N a mesma
hora, começaram a maquinar um plano contra José e perceberam que
aquela era a oportunidade ideal para livrar-se dele. Depois de uma
breve discussão, os irmãos decidiram matá-lo e jogá-lo em uma cova.
Q uem saberia? Q uem descobriria? Poderiam assassiná-lo e simples­
m ente enviar uma mensagem ao pai dizendo que José havia sido m or­
to por um animal selvagem.
R ú b en era o irmão mais velho, por isso se sentia responsável pela
família. Ele conseguiu convencer os irmãos a não matarem José, então
optaram por jogá-lo em uma cova, e foram jantar. Eles mastigaram
seus hambúrgueres de homus, beberam seu leite de cabra e debateram
sobre a m elhor maneira de livrarem-se de José.
O plano de R úben era voltar escondido até o poço, tirar José
da cova e mandá-lo de volta para casa. Mas, enquanto R ú b en estava
ausente, os outros irmãos viram passar uma caravana de mercadores
midianitas, e Judá teve uma ideia que todos acharam brilhante: ele
convenceu os irmãos de que a m elhor opção não era matar José, mas
vendê-lo aos traficantes de escravos, pois assim poderiam ganhar um
dinheiro rápido para pagar suas despesas (as contas do cartão de cré­
dito se fosse nos dias de hoje). Eles encobririam o crime pegando a
túnica de várias cores de José, sujando-a de sangue de cabra e dizendo
ao pai que o “R ei Leão” havia emboscado José.
Foijados por Deus 11

Aquele era um plano perfeito! E foi exatamente isso que eles fi­
zeram, venderam José como escravo por 20 moedas de prata.
Ao retornar à cova, R úben desejava resgatar José (como se fosse
L ittlejoe) e mandá-lo de volta “ao rancho Ponderosa” , mas José não
estava mais lá. Os irmãos nunca mais teriam de lidar com aquele m e­
nino irritante. Finalmente haviam se livrado de José para sempre! Pelo
menos era nisso que acreditavam.

Enquanto is s o , no E g ito

Q uando Jacó viu a túnica de José coberta de sangue, ficou inconsolá­


vel. Ele sabia que seria impossível recuperar-se da m orte do filho. Jacó
teria de carregar esse fardo pelo resto da vida, até que um dia morresse
com o coração partido.
Enquanto o pai se lamentava pelo filho pensando que este m or­
rera, José fora vendido no Egito a um alto oficial do governo chama­
do Potifar. A essa altura, José estava convencido de que viveria como
escravo pelo resto de sua vida. Escravos tinham “ emprego garantido” ,
mas um futuro não muito promissor. Aparentem ente a vida de José
havia term inado aos 17 anos.
Ele agora pertencia a um hom em com o estranho nom e de Po­
tifar, respeitável oficial do governo e figura de destaque na política
egípcia. Potifar basicamente estava à frente do “serviço secreto” do
faraó. Ele era um im portante mem bro do gabinete real, com todas as
mordomias costumeiras de quem detém poder; um hom em de vastas
conexões e extraordinária riqueza.
Potifar era bem-sucedido e acabara de adquirir um escravo que
estava prestes a tornar-se um hom em de grande sucesso. Mas, ninguém
sabia disso quando José chegou acorrentado à casa de seu senhor. N a
Bíblia está escrito que O S E N H O R era com José, que veio a ser homem
próspero (Gn 39.2a, a r a ) . Escravos não se tornam homens prósperos;
eles são usados, abusados e m orrem cedo.
N o entanto, algo extraordinário começou a acontecer enquanto
José cumpria suas obrigações como escravo.Tudo em que tocava pare­
cia virar ouro. José realizava suas tarefas com elegância e classe, sempre
12 Um a visão panorâmica da história de José

indo além do esperado. E, à medida que era fiel no pouco, passou a


ser colocado sobre o muito. Seus superiores o promoviam continua­
mente, e as realizações de José eram tão notáveis que o próprio Potifar
começou a observá-lo de perto.
Havia algo de diferente naquele jovem, todos os “lances” de José
acabavam em “gol” . C om isso, ele foi ganhando mais e mais responsa­
bilidades, a ponto de o próprio Potifar, um pagão egípcio, reconhecer
que o Senhor estava com José.
Foi então que o impensável aconteceu. Potifar promoveu José e
encarregou-o de administrar todos os seus bens. E aquele não era um
patrim ônio qualquer!
Potifar era dono de uma propriedade enorm e e próspera, que
requeria estreita supervisão. E, em uma decisão que deve ter pegado
José de surpresa, Potifar entregou a administração de todas as suas ter­
ras, seus escravos e obras nas mãos do jovem escravo hebreu. Potifar
confiou a José tudo o que possuía, e seus negócios continuaram indo
de “vento em popa” sob a liderança de José.
José provavelmente estava maravilhado, sentindo-se grato pela bon­
dade de Deus. Ele chegara ao Egito como escravo e agora se tornara
responsável pelo gerenciamento de um patrimônio considerável. Essa
promoção extraordinária lhe proporcionou mais poder, privilégios e
posses. Era uma versão masculina da história de Cinderela. Mas, havia um
pequeno problema, a esposa de Potifar queria dorm ir com José.

D esperate H o u s e w if e "

N a Bíblia lemos que José era formoso de porte e de semblante, ou seja,


ele era bonito e “sarado” . Havia acabado de completar o “Triátlon do
N ilo” . José devia ter pouco menos de 30 anos quando uma “perua”
egípcia rica e obviamente entediada insistiu em ter um caso com ele,
o braço direito do seu marido.
Ela fez uma proposta a José (na verdade, ela lhe deu uma “inti­
mação”), e a resposta cheia de classe do jovem revelou o caráter dele:
Como, pois, faria eu este tamanho mal e pecaria contra Deus? (Gn 39.9b).

11 U m a alusão ao seriado Despemte Housewives, traduzido em P o rtu g al co m o D onas d e Casa Desesperadas.


Foijados por Deus 13

José também deixou bem claro para a esposa atraente de Potifar


que seu patrão o havia encarregado de todo o patrim ônio e que não
havia deixado nada fora do seu alcance, exceto ela. José não tinha a
intenção de trair a confiança de Potifar. C om isso, recusou a proposta
dela, mas a m ulher não aceitou a resposta negativa. Todos os dias ela se
oferecia a José, e ele se negava a ceder, procurando evitá-la ao máximo.
Frustrada, a esposa de Potifar preparou uma armadilha para José
e conseguiu agarrá-lo; porém , José se esquivou dela e fugiu, literal­
mente, deixando sua capa para trás. Ardilosa, a m ulher então usou a
capa como evidência, acusando-o de tentar estuprá-la, e, no m om ento
seguinte, José se viu na prisão.
José havia sido preso por fazer algo errado? Não. Pelo contrário,
fez o que era certo. Perder sua posição de prestígio ju n to a Potifar
foi um golpe duro para José, e agora ele estava preso (e quem sabia
por quanto tem po ficaria naquela situação?) por um crime que não
cometera.
C ontudo, mesmo na prisão, o Senhor continuava com José. Foi
por isso que este encontrou graça aos olhos do carcereiro.

S a ia g r a t u it a m e n t e d a p r is ã o

Em pouquíssimo tempo, o carcereiro entregou nas mãos de José todos


os presos que estavam no cárcere. Você prestou atenção? José havia
sido preso, e agora ele mandava na cadeia! Ele passou a gerenciar aque­
le cárcere com a mesma integridade e classe com que havia adminis­
trado o patrim ônio de Potifar. Mais uma vez, sua vida foi resgatada e
ressuscitada.
Pouco depois da promoção de José, dois importantes oficiais do
faraó também foram presos. N a mesma noite, os dois tiveram sonhos
distintos, os quais José interpretou. Ele previu que em três dias o cargo
prestigioso do copeiro-m or lhe seria restituído. Q uanto ao padeiro-
-m or, José predisse que em três dias ele seria enforcado. Foi exatamen­
te isso que aconteceu.
Q uando o copeiro-m or foi chamado até a presença do faraó três
dias depois, José lhe disse: “N ão se esqueça de mim. Fale de m im ao
14 Um a visão panorâmica da história de José

faraó e tire-m e daqui” . Porém, assim que saiu da cadeia, o hom em se


esqueceu de José, que perm aneceu em seu duplo cativeiro — como
escravo e prisioneiro — por mais dois anos.
Passados dois anos inteiros, certa noite, chegou a vez de o faraó
ter sonhos perturbadores. Foram sonhos estranhos e malucos, que não
pareciam fazer sentido, mas que de algum m odo o faraó sabia serem
importantes.
O prim eiro sonho era sobre sete vacas gordas e sete vacas magras
e emaciadas. O sonho acordou o faraó, mas ele logo voltou a dormir.
Então sonhou novamente, dessa vez com sete espigas cheias seguidas
de sete espigas miúdas e esturricadas. Ao acordar na manhã seguinte,
antes que alguém pudesse tom ar café, ele m andou chamar todos os
sábios do reino para que interpretassem os dois sonhos.
N o entanto, ninguém naquele reino fazia a mínima ideia [do
significado dos sonhos do faraó]. Foi então que o copeiro-m or se
lembrou de José. Ele contou ao faraó sobre quando José interpretara
o seu sonho e sobre como tudo havia se passado exatamente como
fora interpretado. O faraó então m andou chamar José imediatamente.
[Assim que foi convocado pelo faraó] José correu para o chuveiro,
fez a barba e em alguns minutos estava diante do soberano mais pode­
roso da terra. Ele não só disse ao faraó que os sonhos significavam que
Deus enviaria sete anos de prosperidade seguidos de sete anos de fome
severa, como também sugeriu uma estratégia ao monarca. Em suma, se
o faraó armazenasse 20% de toda a colheita do Egito durante os anos
de fartura, o reino sobreviveria ileso aos anos de fome.
José recom endou que o faraó encontrasse um administrador, um
hom em criterioso e sábio que ele pudesse colocar no comando de
toda a terra do Egito, e o faraó disse: “Acho que já o encontrei.Você
é o cara!”

A d iv in h e q u e m v e m pa r a o j a n t a r

Em aproximadamente 45 minutos, José passou da posição mais degra­


dante para a mais prestigiosa do Egito. N um piscar de olhos, ele fora
nomeado corregente do faraó, tornando-se o segundo hom em mais
poderoso da terra.
Foijados por Deus 15

Sete anos se passaram, sete anos de fartura e prosperidade, e então


veio a fome, exatamente como José havia previsto. E, pouco tempo
depois, adivinhe quem veio comprar trigo no Egito? Você adivinhou.
Os dez irmãos malvados de José!
Jacó havia mandado os filhos viajarem rum o ao sul para comprar
mantimentos, mas não deixara Benjamim ir com eles, por medo de
que algum mal lhe acontecesse durante a viagem.
Q uando chegaram ao Egito para comprar comida, os dez rapazes
nem poderiam imaginar que estariam lidando com José, seu irmão.
Com o poderiam saber? O “sujeito” se parecia com o faraó e falava
com eles por meio de um intérprete. José reconheceu imediatam ente
os irmãos, e vemos na Bíblia que, quando se inclinaram diante dele, se
lembrou José dos sonhos que tivera a respeito deles (Gn 42.9a, a r a ) .
Após interrogar os irmãos, José descobriu que seu pai ainda estava
vivo em Canaã e que seu irmão caçula, Benjamim, havia ficado em
casa. Então José lhes pregou uma peça, acusando-os de serem espiões e
prendendo-os por três dias. Q uando finalmente decidiu soltá-los, deu-
-lhes uma chance de provarem que não eram espiões, ordenando que
fossem para casa e retornassem ao Egito com Benjamim. Enquanto
isso, ele manteria Simeão no cárcere.
Para lhes causar uma ligeira indigestão no caminho de volta, José
colocou secretamente o dinheiro que haviam usado para pagar pelos
mantimentos nos sacos de trigo que estavam levando.
N o caminho de casa, eles pararam num local como a cafeteria
Starbucks, e um deles abriu um dos sacos de trigo para alimentar seu
jum ento. Foi assim que encontraram o dinheiro. Ao abrirem o restante
dos sacos, os irmãos se depararam com o dinheiro que pensavam ter
pagado pelos mantimentos no Egito. A essa altura, estavam à beira de
um colapso nervoso.
Eles ficaram apavorados, pois em seu íntim o sabiam que estavam
sendo castigados por Deus pelo mal que haviam feito anos antes a José.
Em bora a Bíblia ainda não tivesse sido escrita, eles estavam vivencian-
do a verdade que Moisés escreveria séculos mais tarde: Estejam certos de
que vocês não escaparão do pecado cometido (N m 32.23b, n v i ) .
16 U m a visão panorâmica da história de José

Os irmãos voltaram para casa, exceto Simeão, e contaram ao pai


tudo o que havia ocorrido. Disseram que deveriam retornar ao Egito
com Benjamim; o único problema era que Jacó se recusava term inan-
tem ente a perm itir que Benjamim fosse com eles.
N o entanto, como a fome persistia, Jacó se convenceu de que
não havia outra saída. Então, enviou os filhos de volta ao Egito com o
irm ão mais novo a reboque e ordenou que levassem prata em dobro
e devolvessem o dinheiro que haviam encontrado nos sacos de trigo.
Q uando José viu que os irmãos estavam de volta com Benjamim,
convidou todos para um grande banquete, assentando-os em volta da
mesa na ordem exata do seu nascimento. Os irmãos ficaram estupefa­
tos. C om o era possível tamanha coincidência? Além disso, José orde­
nou aos criados que servissem a Benjamim uma porção cinco vezes
maior que a dos outros.
Q uando José chegou à sala do banquete, viu os irmãos se incli­
narem novamente diante dele e encontrou-se com Benjamim. Aquele
encontro foi demais para o seu coração! José se apressou em sair da
sala para se recompor. Então, regressou ao banquete e com eu com os
irmãos. Depois de falarem um pouco de “futebol” e de política, todos
se recolheram.
Os irmãos imaginaram que tudo estivesse resolvido, e que aquele
estranho episódio com o assistente do faraó estivesse encerrado. Toda­
via, estavam redondam ente enganados.

"Eu sou J o sé !"

N a manhã seguinte, José ordenou ao seu despenseiro que carregasse


de trigo os jum entos de seus irmãos e colocasse o dinheiro deles no
meio da bagagem.Também m andou que ele colocasse sua taça de pra­
ta no saco de Benjamim. Q uando deixaram o Egito, eles se sentiram
aliviados. Mas, antes que tivessem se afastado m uito da cidade, José
enviou seus guardas atrás deles para que os alcançassem.
N ão é preciso dizer que os irmãos ficaram apavorados ante a
acusação de que haviam roubado a taça de prata do oficial egípcio.
Q uando os criados egípcios encontraram a taça no saco de Benjamim,
Fogados por Deus 17

os irmãos de José perceberam que estavam perdidos. Deus com certe­


za estava dando-lhes a paga pelo pecado terrível que haviam cometido
ao vender José como escravo.
Ao retornarem à cidade, prostraram-se mais uma vez diante de José,
e Judá lhe implorou misericórdia. Explicou que, se Benjamim não vol­
tasse para casa, o pai deles morreria de desgosto, já que p or anos havia se
lamentado incessantemente pela morte de seu outro filho.
José m andou que todos saíssem do aposento, exceto seus irmãos.
Então declarou: “Eu sou José!”
Aquela revelação, com certeza, deixou-os em estado de choque.
José então se apressou em tranquilizá-los, dizendo que não deviam
temer. Ele demonstrou uma extraordinária atitude de misericórdia.
Disse que Deus o enviara ao Egito para preservar a vida de muitas
pessoas, inclusive a deles.
José sugeriu que os irmãos voltassem para caSa e trouxessem Jacó
e toda a sua família para o Egito. Haveria mais cinco anos de fome, e
ele os sustentaria e construiria moradias para eles na terra de Gósen,
uma região do Egito.
Q uando voltaram para casa, Jacó ficou pasmo ao ouvir o relato do
que ocorrera. Eles então pegaram seu pai, suas esposas e seus filhos e
partiram dali para o Egito, a fim de habitarem ju n to a José.
O dia em que Jacó finalmente reviu José, o filho que ele julgava
estar m orto, foi um dos mais felizes de sua vida. Jacó e José viveram
ainda 17 anos juntos, restaurando o relacionamento entre pai e filho e
recuperando o tempo perdido. [Só depois desse período] M orreu Jacó,
o pai dos 12 homens que um dia dariam origem às 12 tribos de Israel.
Q uando Jacó m orreu, seus dez filhos entraram em pânico. Por
que isso? Eles acreditavam que José agora retribuiria o mal que haviam
feito a ele tanto tempo antes. Aos 49 anos, José era virtualmente o
hom em mais poderoso do planeta. Ele poderia fazer o que bem en­
tendesse para se vingar dos irmãos pelo que lhe haviam feito quando
ele tinha apenas 17 anos de idade.
Alarmados, os irmãos de José enviaram uma mensagem a este
que basicamente dizia: “Ei, José, nós quase nos esquecemos, mas, antes
18 U m a visão panorâmica da história de José

de morrer, papai m encionou que queria muito que um dia você nos
perdoasse por todo o mal que fizemos a você” (veja G n 50.16,17).
Q uando José escutou essas palavras, chorou. Ele conhecia o co­
ração dos irmãos e sabia o que estava por trás daquela mensagem.
Estavam m orrendo de medo de que ele os enforcasse e esquartejasse
como fizeram a W illiam Wallace em Coração Valente (embora isso só
fosse acontecer 2.500 anos depois).
A resposta de José revelou sua perspectiva de tudo o que lhe havia
acontecido. Ele disse: Não temais;porque, porventura, estou eu em lugar de
Deus? (Gn 50.19b).
Em outras palavras, José quis dizer que seus irmãos não precisa­
vam ter medo, pois Deus estava no controle de tudo o que havia acon­
tecido. “Por que eu m e tornei o hom em mais poderoso do mundo?
Por causa dos meus ‘contatos’ ou dos meus ‘diplomas’? Não, foi o pró­
prio Deus quem me colocou aqui.” Vós bem intentastes mal contra mim,
porém Deus o tornou em bem, para fa ze r como se vê neste dia, para conservar
em vida a um povo grande (Gn 50.20).
José demonstrou, com isso, não estar contra seus irmãos, mas ao
lado deles.“Eu sustentarei vocês e seus filhos” ; com essas palavras,José
expressou benignidade e misericórdia para com seus irmãos, os mes­
mos que haviam planejado a m orte dele e o haviam vendido como
escravo, anos antes.
José fez essa declaração aos 49 anos. Ele ainda gozaria de uma
vida longa, m orrendo somente aos 110 anos. Mais de 400 anos mais
tarde, quando Moisés tirou os israelitas do Egito, eles carregaram os
ossos de José e enterraram -nos na Terra Prometida, a terra de Abraão,
Isaque ejacó.
Esta é a visão panorâmica da história de José.
Agora, pousaremos nosso avião e mergulharemos no caudaloso
rio de verdades que corre daqui para a eternidade, com algumas cor­
redeiras ao longo do caminho.
Vai ser um a aventura e tanto!
C a p ít u l o 1

D e modo estranho e lento,


Deus está trabalhando

Soberano Rei dos céus, cheio de graça e sabedoria, todos os m eus dias
estão em Tuas mãos, e todas as circunstâncias sob o Teu mandar.
— J o h n R yla nds

Se algum dia houve uma verdadeira vítima, esta foi José.


O m undo hoje parece estar cheio de vítimas. Você já percebeu
isso? Todos se colocam nessa posição e estão a todo tem po procurando
vingar-se [daquele ou daquilo que gerou o seu sofrimento],
Mas, José foi uma vítima de verdade. Se ele estivesse vivo hoje,
talvez sua história trágica fosse contada no programa da Oprah, e ela
não dedicaria apenas um programa a ele, levaria uma semana inteira
para contar sua história. As lágrimas correriam soltas, e não haveria
lenços de papel suficientes para toda a platéia. Psicólogos seriam cha­
mados para analisar o trauma de José.
C ontudo, aos 49 anos, quando encarou seus irmãos, José não
era um hom em traumatizado. N ão estava amargurado nem cheio
de ódio. Para falar a verdade, não era isso que seus irmãos espera­
vam que acontecesse. Eles acreditavam que José lhes faria o mesmo
que teriam feito a ele caso estivessem em seu lugar. Mas, em vez de
20 D e m odo estranho e lento, Deus está trabalhando

torturá-los, prendê-los ou matá-los logo de um a vez, José usou de


misericórdia para com seus irmãos.
Eles não conseguiam entender a reação de José. N o coração deles,
não havia nada além do medo, isso porque não conheciam seu irmão
nem o Deus deste. E, como não temiam ao Senhor, estavam apavora­
dos com o que o irmão poderia fazer.
José, porém , havia aprendido a tem er a Deus, por isso falou pa­
lavras de conforto e perdão aos irmãos amedrontados. Ele era um
hom em de Deus, não um hom em mundano. A ideia de vingar-se ou
pagar-lhes na “mesma m oeda” sequer lhe passava pela cabeça.
Em toda família, existe alguém que precisa crescer.
Em toda família, existe alguém que precisa superar a mágoa.
Em toda família, existe alguém que precisa amadurecer e perdoar.
Os irmãos de José mereciam a retribuição de seus atos e tudo
aquilo que temiam. Mas, não foi isso o que aconteceu. A forma como
José agiu, com certeza, deixou-os para lá de chocados.
Por que não receberam o que mereciam? Porque seu irmão era
um hom em maduro, que não havia se deixado dominar pela amargura
nem pelo desejo de vingança. Ele não queria intimidar, processar nem
ferir ninguém. Foi compassivo e bondoso com aqueles que haviam
tentado destruí-lo, amparando financeiramente seus irmãos e as famí­
lias destes.
Nada na reação de José indica que ele se sentia uma vítima. N a
verdade, essa atitude só foi possível porque ele não se via como vítima,
e sim como um vencedor.

D e v ítim a a v e n c e d o r

C om o José passou de vítima a vencedor? Apenas uma doutrina nos


perm ite viajar por essa estrada, e foi essa verdade que José abraçou de
todo o coração. Trata-se da doutrina da soberania e da providência de
Deus. Isso significa que nosso Senhor é um grande Deus. Provavelmen­
te, m uito m aior do que pensamos.
Esses dois atributos divinos são minas de ouro que infelizmente
têm sido ignoradas e esquecidas pela maioria dos cristãos. Se alguém
Capítulo 1 21

lhe oferecesse uma mina de ouro de graça, você imediatamente acha­


ria a oferta boa demais para ser verdade. Mas, digamos que a oferta seja
verdadeira, e que, aliás, esse alguém esteja oferecendo-lhe não uma,
mas duas minas de ouro.E disso que estamos falando aqui!
Essas duas minas de ouro são duas verdades gêmeas. Temos um
grande Deus, que trabalha de m odo soberano e providencial em nossa
vida. Agora, preste bastante atenção nisto: para que você possa expe­
rim entar uma virada de 180 graus em seu coração, transformando-se
de vítima em vencedor, precisa ancorar sua vida nessas duas verdades.
Sem a soberania e a providência de Deus, você será sempre uma ví­
tima. Elas são absolutamente essenciais para a sua sobrevivência. Ao
descobrir a verdade desses atributos do Pai celestial, as circunstâncias
da sua vida ficarão sob uma perspectiva totalmente diferente.
A soberania e a providência de Deus são com o os dois lados
de uma mesma moeda, inescapavelmente conectados um ao outro.
Andam sempre juntas. E uma tragédia que essas verdades poderosas
tenham sido esquecidas por nossa geração. Então, o que isso significa?
José perguntou aos irmãos: Estou eu em lugar de D eus ? (Gn 50.19b).
Diante do tem or deles, questionou: “Esperem um pouco. C om o vocês
acham que cheguei a esta posição de poder e autoridade? Acham que
foi por acaso?”
José não havia alcançado aquela posição por sorte, por ter um
currículo invejável, nem porque conhecia pessoas influentes. Chegou
aonde chegou porque Deus, desde antes da fundação do mundo, tinha
um plano para ele. C hegou ali porque aquele era o lugar que Deus
tinha para ele, e o Senhor o havia colocado naquele grande palácio de
m odo soberano e providencial.
José não alcançou sua bênção por coincidência.
José não alcançou sua bênção por sorte.
José não alcançou sua bênção por acaso.
Deus havia determinado que ele ocupasse aquela posição mesmo
antes de criar o universo. Foi por isso que José chegou aonde chegou.
Ele não congratulou a si mesmo por essa conquista, pois sabia que
vinha da mão do Senhor.
22 D e modo estranho e lento, Deus está trabalhando

Então, o que é a soberania de Deus? A soberania inclui três ideias


principais: propriedade, autoridade e controle (E erguson e t a l , 1988,
p. 654)1. Deus criou tudo, é dono de tudo e reina sobre tudo; Ele con­
trola tudo.
O mesmo princípio poderia ser aplicado aos soberanos que deti­
nham a propriedade e o domínio de seus territórios, porém lembre-se
de que Jesus é o R e i dos reis. Ele é o Senhor de todos os reis, domina
sobre todos eles, controla todos os reis da história — no passado, no
presente e no futuro — , porque foi Ele quem criou cada um deles. Em
outras palavras, é Ele quem está no controle.
Algumas passagens bíblicas podem demonstrar essa verdade de
m odo ainda mais concreto:

Porque eu conheço que o S E N H O R é grande e que o nosso D eus está


acima de todos os deuses. Tudo o que o S E N H O R quis, ele of e z , nos céus
e na terra, nos mares e em todos os abismos.
S a lm o 135.5,6

M as o nosso D eus está nos céus e f a z tudo o que lhe apraz.


S a lm o 115.3

O S E N H O R tem estabelecido o seu trono nos céus, e o seu reino domina


sobre tudo.
S a l m o 103.19

D o S E N H O R é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele


habitam. Porque ele a fu n d o u sobre os mares e a firm o u sobre os rios.
S a im o 24.1,2

Estamos falando de um grande Deus. U m Deus m aior que o uni­


verso que Ele criou, além do que a nossa m ente é capaz de com pre­
ender. Esse Deus está no controle de todas as coisas. Ele não somente
tem o controle do m ovim ento das galáxias e de incontáveis trilhões
de estrelas, mas tam bém da sua vida, de tudo o que se passa com você.
Capítulo 1 23

Isso o incomoda? Essa verdade de fato incom oda a maioria das


pessoas. A soberania de Deus é como uma pílula grande demais para
engolir, que costuma ficar atravessada em nossa garganta, causando um
considerável desconforto.Todavia, essa é uma verdade que você preci­
sa engolir e digerir bem, um princípio sobre o qual deve fundamentar
sua vida.
O grande teólogo B. B. Warfield descreveu m uito bem a raiz do
nosso desconforto. Aliás, gosto muito desse autor. Ele não fica “en­
chendo lingüiça” e não é chato como a maioria dos sujeitos que en­
sinam teologia. Ele “ chuta direto para o gol” , e seu chute é uma ver­
dadeira bomba.

Todos nós desejam os p e rte n c e r a nós m esm os e ressentim o-nos


quan d o p erten cem o s — p rin cip alm en te de m o d o absoluto — a
qualq u er o u tra pessoa, m esm o quan d o essa o u tra pessoa é D eus.
S en tim o -n o s co m o o au to r do h in o q u e com eça dizendo: “E u já
fui ovelha e rra n te ” , e logo declara: “ e não m e deixava con tro lar” .
N ã o p erm itim o s q u e n in g u é m nos controle. O u m elhor, para ser
mais exato, recusam o -n o s a adm itir que som os controlados.
A ch o q u e é mais certo d izer q u e nos recusam os a adm itir o fato
de que som os controlados. Q u e r adm itam os ou não, a verdade é
q ue som os controlados. A creditar que não som os controlados é
im aginar que D eus não existe, pois u m a vez que m en cionam os a
palavra D eus, estam os falando de controle. Se u m a única criatura
form ada p o r D eus escapa do Seu controle, naquele exato m o m e n ­
to ela está efetivam ente abolindo a existência do Senhor.
U m D eus que pudesse o u quisesse criar u m ser o qual Ele não
pudesse o u não quisesse controlar na realidade não seria D eus. N o
m o m e n to em que Ele fizesse tal criatura, estaria obviam ente abdi­
cando do Seu trono. O universo que Ele criou cessaria de ser o Seu
universo, o u m elhor, cessaria de existir, já que o universo é sustenta­
do tão som ente pelo p o d e r de D eus. (W arfield, 1916, p. 265-267)2

A soberania de Deus garante que Ele está no controle de tudo. Por


isso Ele é um grande Deus, e por isso é um Deus grandioso.
24 D e modo estranho e lento, Deus está trabalhando

Isso quer dizer que, quando olhamos ao nosso redor e temos a


nítida sensação de que o m undo e a nossa vida estão fora de controle,
estamos equivocados. Podemos achar que as circunstâncias descarri-
lharam e estão prestes a cair em um abismo, mas na verdade nosso
trem está movendo-se exatamente na rota e no horário previstos e em
perfeita harm onia com o plano e o propósito divinos.
Há cerca de 300 anos, John Flavel disse à sua congregação na In­
glaterra: “Assim como palavras em hebraico, algumas das providências
de Deus são mais bem compreendidas de trás para frente” . Em portu­
guês, a leitura é feita da esquerda para a direita. Em hebraico, da direita
para a esquerda. Então, para nós, o hebraico é lido de trás para frente.
Alguns capítulos de nossa vida parecem não fazer sentido. Somos
pegos de surpresa por tragédias e perguntam o-nos onde Deus está.
Simplesmente não faz sentido! “ O nde está esse Deus que me ama, e
por que Ele perm itiu que isso acontecesse comigo?”Você e eu pode­
mos fazer esse tipo de pergunta milhares de vezes, mas o fato é que
esses capítulos confusos de nossa vida jamais farão sentido enquanto
estivermos no meio deles.
Quando se trata desses episódios desconcertantes, às vezes é preciso
esperar cinco, dez, ou até 20 anos para que as coisas comecem a fazer
sentido. Só então, olharemos para trás como José e veremos como algu­
mas das providências de Deus se tornaram perfeitamente claras.
Ao relembrarmos determinadas situações, podemos ver que Deus
estava no controle até mesmo quando pensávamos que nossa vida
estava descontrolada. Muitas vezes não conseguimos enxergar a provi­
dência divina até que a tempestade passe e examinemos [novamente a
situação]. Olhamos para trás e custamos a acreditar que sobrevivemos
à ferocidade daquela tempestade. Mas, o fato é que sobrevivemos. E
isso por causa da bondade e do plano de Deus.
N ão conseguíamos ver esse plano enquanto estávamos em meio à
tribulação. N a verdade, em alguns m omentos sentimos como se Deus
nos houvesse abandonado.
Jó sabia o que era sentir-se assim. Em meio à sua perda devasta­
dora e ao seu desespero, ele não podia encontrar o Senhor em lugar
algum:
Capítulo 1 25

A h ! Se eu soubesse que o poderia achar! Então me chegaria ao seu tri­


bunal. C om boa ordem exporia ante ele a m inha causa e a minha boca
encheria de argumentos. Eis que, se me adianto, ali não está; se torno para
trás, não o percebo. Se opera à mão esquerda, não o vejo; encobre-se à mão
direita, e não o diviso.
J ó 23 .3,4,8 ,9

José deve ter sentido a mesma coisa durante aquela longa viagem
de camelo, enquanto suas correntes retiniam a cada passo do caminho
para o Egito, rum o a uma vida de escravidão sem fim.
A soberania de Deus nos garante que Ele é o R ei e que está no
controle absoluto de tudo; ela também assegura que o controle [do
que acontece em nossa vida] não pertence a nós.
José se dirigiu aos seus irmãos não na posição de vítima, mas de
vencedor. Com o foi possível ele não ter sido dominado pela amargura
e pelo desejo de vingança? Ao fazer um retrospecto de sua vida, José
pôde perceber o controle absoluto de Deus operando o Seu plano
eterno em todas as circunstâncias por que passou, tanto as boas como
as más.Tudo estava sob o controle soberano do grande Deus de Israel.
E o que implica a providência? Ela se manifesta quando Deus
executa o Seu plano em nossa vida e em todo o universo. H á um
provérbio que diz que “o diabo está nos detalhes”, mas isso é absolu­
tamente incorreto. E Deus quem está nos detalhes.

Senhor, tu és o meu D eus; eu te exaltarei e louvarei o teu nome, pois com


grande perfeição tens feito maravilhas, coisas há muito planejadas.
Is a ía s 25.1 (nvi)

Será que estamos falando de planos que Deus traçou na correria


da noite passada para consertar algo que deu errado em nossa vida?
Será que o Senhor está formulando um Plano B porque o Plano A não
funcionou para nós? Não!
Todos os planos de Deus foram traçados por Ele antes da criação
do mundo. Ele não passou a noite em claro, com planilhas e mapas espa­
lhados pelo “chão do céu”, retificando o Seu propósito para que este se
26 De m odo estranho e lento, Deus está trabalhando

encaixasse nas atuais circunstâncias de nossa vida. Não! Seus planos para
nós sempre foram e continuam sendo os originais. Planos perfeitos, que
jamais precisarão ser retificados. Isso é que é um grande Deus!
Os planos que Ele delineou sempre são executados com perfei­
ção. Sua vontade é certa, jamais incerta. Para que o Seu propósito seja
executado e cumprido, Ele coordena os mínimos detalhes da nossa
vida e de todo o universo. Deus executa, sustenta e m antém tudo
funcionando de acordo com o Seu querer. E isso só pode ser efetuado
quando se está no controle absoluto. Ele está no controle, por isso Jó
declarou: Porque [Deus] cumprirá o que está ordenado a meu respeito e m ui­
tas coisas como estas ainda tem consigo (23.14).
O plano de Deus para a sua vida será cum prido no tem po exato.
John J. M urray resume isso m uito bem:

• O p la n o de D e u s é p erfeito .
• O p la n o é c o m p le to .
• O p la n o é p ara o m e u b e m su p rem o .
• O p la n o é secreto. D e u s o e sc o n d e d e m im até q u e ele se c u m p ra.
• E u o d escu b ro dia após dia c o n fo rm e ele vai d esen ro lan d o -se .
(M u rra y , 1990, p . 10)3

Basicamente, a doutrina da providência nos ensina que de con­


tínuo Deus sustenta e supre as necessidades de tudo o que Ele cria, e
isso inclui você. Ele o criou e jamais cessará de suprir suas necessidades e
sustentá-lo — é assim que o Senhor executa o Seu plano em sua vida.
E afirmado em Hebreus que Jesus sustenta todas as coisas pela pa­
lavra do seu poder (Hb 1.3b). A mesma passagem na Bíblia de Jerusalém
declara que Cristo sustenta o universo com o poder de sua palavra.4
O que esse nosso grande Deus fica fazendo o dia todo? O Dr.Wayne
G rudem nos dá um vislumbre de como Deus investe o Seu tempo:

A palavra grega traduzida co m o sustenta é phero, que significa carre­


gar, conduzir. Ela é m u ito usada n o N o v o Testam ento em referência
ao ato de carregar algum a coisa de u m lado para o outro, com o no
Capítulo 1 27

caso dos quatro amigos que levaram o h o m e m paralítico até Jesus


(Lc 5.18), o u q u ando Paulo p e d iu a T im ó te o que lhe trouxesse a
capa e os livros que ele havia deixado em T rôade ( 2 T m 4.13). A
palavra não significa apenas sustentar. E m H ebreus 1.3, [a gram á­
tica] indica que Jesus está co n tin u am en te co n d u zin d o tu d o o que
existe n o universo pela palavra do seu poder.
D e m o d o sem elhante, em Colossenses 1.17, Paulo faz um a alu­
são a C risto dizen d o q u e todas as coisas subsistem por Ele. A expres­
são todas as coisas se refere a tu d o o que foi criado n o universo (v.
16), e o versículo afirm a que C risto m a n té m a existência de todas
as coisas, o u seja, nele tu d o co n tin u a a existir o u a perdurar.
A m bos os textos in d icam que, se C risto interrom pesse sua ati­
vidade co n tín u a de sustentar todas as coisas no universo, então
tudo, à exceção do D eus trin o , cessaria in stantaneam ente de existir.
(G r u d e m , 1999, p. 143)5

Entretanto, o m undo continua a existir, assim com o você. E n ­


tão, definamos providência da seguinte forma: Deus continuam ente
sustenta e supre as necessidades de tudo o que Ele cria, e nada — in­
dependente de quão grande ou pequeno — escapa ao Seu absoluto
controle. Ele é o R e i e tem um plano. Seu plano soberano para você,
para m im e para o m undo inteiro se cum prirá exatam ente segundo
as Suas especificações.
Q uando José aliviou os temores de seus irmãos perguntando-lhes:
Estou eu em lugar de Deus? (Gn 50.19b), ele estava olhando em retros­
pectiva para os eventos de sua vida. E, quando viu a sua história dessa
forma, ele reconheceu a providência soberana do Senhor dirigindo
cada um de seus passos, até mesmo o m om ento em que foi raptado e
vendido como escravo.
Ao olhar para trás, José enxergou o plano providencial perfeito
que o havia elevado à posição de corregente do Egito. Q uando ava­
liou sua história em retrospectiva, compreendeu a organização extra­
ordinária do plano minucioso do Senhor para sua vida. Deus estava no
controle de tudo, até mesmo dos detalhes.
28 D e modo estranho e lento, Deus está trabalhando

Façam o s u m a p a u s a pa r a falar
UM POUCO DE FUTEBOL AMERICANO

Talvez esse assunto esteja ficando pesado demais. Então, por que não
falamos um pouco sobre futebol americano?
Se você entende de futebol americano, deve estar familiarizado
com Bill Belichick, o lendário treinador dos N ew England Patriots.
Ele levou os Patriots a três vitórias no Super Bowl e é considerado um
dos maiores treinadores de futebol americano da atualidade (apesar das
recentes alegações de que costuma enviar seus assistentes para dar uma
espiada nos treinos de seus futuros adversários).
O que você não deve saber é que o pai dele, Steve Belichick,
talvez tenha sido o m aior olheiro na história do futebol americano.
Ele era treinador assistente da M arinha americana, e sua principal
função era observar os futuros adversários e apresentar um relató­
rio à equipe de treinadores. Antes de Steve Belichick, o trabalho de
olheiro era feito de um m odo um tanto aleatório. Steve o transfor­
m ou em um a ciência.
Nos anos 50, o futebol americano universitário dominava a cena,
e a M arinha e o Exército americanos eram verdadeiras potências fute­
bolísticas. Em 1957, o Exército se gabava de possuir dois A li American111
running backsIV e um ataque que raramente passava a bola. A filosofia de
olheiro de Steve Belichick era a seguinte: “Descubram o que os outros
caras fazem de melhor, o que preferem fazer, principalmente quando
estão sob pressão em um jogo importante; descubram tudo e forcem-
-nos a fazer jogadas com que não estão acostumados” ( H a l b e r s t a m ,
2005, p. 2)6.
Belichick passou horas pesquisando o que o Exército gostava
de fazer, então apresentou ao treinador principal da M arinha, Eddie

III AU American é u m títu lo h o n o rá rio esportivo usado nos E U A para se referir a jogadores am adores que
se destacam em sua atuação em tim es de universidades o u de escolas de ensino m édio, selecionados p o r
m em bros da m ídia nacional.
IV U m nmning back (RJB) é u m a posição do fu teb o l a m erican o q u e n o rm a lm e n te se alinha n o backjield. O
principal papel de u m nmning back é c o rre r co m a bola q u e p o d e ser passada para ele pelo quarterback o u
e m u m stiap d ireto do center, sendo q u e ele tam b ém p o d e receb er e ajudar n o bloqueio.
Capítulo 1 29

Erdelatz, o seu plano para impedi-los de executar essas jogadas. O


consenso geral antes do jogo, que se deu em um estádio com lotação
esgotada, era o de que a M arinha não tinha chance alguma de enfren­
tar o ataque veloz e poderoso do time do Exército.
Mas, o time conseguiu fazer exatamente isso. Ele neutralizou os
jogadores do Exército forçando-os a executar o que estes não que­
riam, ou seja, passar a bola. O time do Exército não conseguiu dom i­
nar o jogo e perdeu para o time da M arinha de 14 a zero.
N o vestiário, um colunista de esportes congratulou Erdelatz pela
vitória, mas ele apontou para Belichick e disse: “Ele ganhou o jogo
para nós há duas semanas” ( H a l b e r s t a m , 2005, p. 3,4)7. Em outras pa­
lavras, o relatório entregue por Belichick foi tão detalhado e preciso
que a M arinha ganhou o jogo duas semanas antes de entrar em campo.
H á algo que você precisa saber sobre Deus. Ele não apenas deu
uma “espiada” em seu futuro, mas planejou-o. E não fez isso duas se­
manas atrás, mas antes de criar o universo. Por isso, no fmal, você será
um vencedor!
Você não precisa ser uma vítima. Assim como José provavelmente
pensou quando estava a caminho de um futuro de escravidão, você
pode pensar que a sua vida está acabada. Mas, por causa do plano eter­
no e grandioso de Deus e de Sua execução providencial desse plano,
José se tornou um vencedor.
C om você não será diferente! C om o José, você precisa abraçar a
soberania e a providência de Deus. Essa é a única forma de escapar da
vitimização.
Jonathan Edwards expressou [sua confiança na soberania e na
providência de Deus] m elhor que ninguém: “Todos os átomos do uni­
verso são direcionados por Cristo de m odo a ocuparem a posição mais
vantajosa possível para os cristãos” .
Essa é uma declaração verdadeira e extraordinária, mas inclui um
aviso. U m aviso? Por que precisaríamos de um aviso anexado à afir­
mação de que “todos os átomos do universo são direcionados por
Cristo de m odo a ocuparem a posição mais vantajosa possível para
os cristãos”? A frase não resume quase perfeitamente o fato de que
30 D e modo estranho e lento, Deus está trabalhando

temos um grande Deus que trabalha de forma soberana e providencial


em nossa vida?
Sim, é verdade. Contudo, a afirmativa [de Edwards] inclui um
aviso bíblico que você precisa levar em consideração ao analisar sua
vida e as circunstâncias por que passa. Imagine que você está lendo a
seguinte placa na estrada:

A V IS O
DEUS TRABALHA DE M O D O ESTRANHO.
DEUS TRABALHA DE M O D O LENTO.

D eus t r a b a l h a de m o d o e s t r a n h o

Agora você já conhece a história de José e sua incrível ascensão ã


posição de corregente no Egito. N o entanto, será que não havia uma
maneira mais fácil de colocá-lo no topo?
Se eu fosse Deus e quisesse colocar José no topo da escada do
sucesso egípcia, transformando-o no braço direito do faraó, teria pla­
nejado que ele se formasse no ensino médio com as maiores notas da
turm a.Tam bém faria com que ele fosse um grande atleta.
Q ue combinação ideal: um grande atleta que só tira nota máxima
nas avaliações. Então, eu planejaria que José fosse escalado para o time
estadual de futebol americano, o que chamaria a atenção do treinador
do time da “Universidade do Egito” . José ganharia uma bolsa integral
para a faculdade e concluiria seus estudos em gestão de negócios. Porém,
no último jogo, no último ano da faculdade, ele machucaria o joelho;
isso acabaria com a possibilidade de tornar-se um jogador profissional.
Por causa da impossibilidade de uma carreira esportiva, José cur­
saria um mestrado e depois um doutorado em administração. Q uando
se formasse, ele se casaria com a garota dos seus sonhos, que estaria
namorando desde o ensino médio, passaria em um concurso público,
e, depois de 20 anos de uma carreira brilhante, seria escolhido a dedo
pelo faraó para administrar a crise agrícola que começaria a despontar
no horizonte.
Capítulo 1 31

Esse plano faz m uito mais sentido para mim. Ele levaria José à p o ­
sição de corregente com muito menos dificuldade e estresse. Já pensei
muito sobre isso, e, para mim, esse parece simplesmente ser um cami­
nho bem melhor. Entretanto, dê só uma olhada no que Deus tem a
dizer sobre nossos caminhos e planos “lógicos” :

Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos


caminhos, os meus caminhos, d iz o Senhor. Porque, assim como os céus são
mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que
os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos
pensamentos.
Is a ía s 55.8,9

Os caminhos do Senhor não são os nossos caminhos. Os pen­


samentos do Senhor não são os nossos pensamentos. Os planos do
Senhor não são os nossos planos. Deus trabalha de modo estranho!
O plano do Senhor para José incluía o mal que seus irmãos fize­
ram a ele. Estranho, não? Eles tinham traído o irmão e m entido para
o seu pai. O que cometeram foi um pecado abominável e bárbaro.
Movidos pelo ciúme e pelo ódio, intentaram o mal. Deus o tornou em
bem, para fa ze r como se vê neste dia (Gn 50.20b).
Você consegue entender o que José disse a seus irmãos quando
os tranquilizou quanto ao seu futuro? Ele assumiu que a providência
de Deus é maior do que qualquer pessoa, m om ento ou lugar. Seus ir­
mãos intentaram o mal, mas o Senhor tom ou posse daquele ato cruel
e transform ou-o em bem. Deus não im pediu o plano maligno deles
nem o interrom peu. Mas, em todo o tempo, Sua mão invisível estava
no controle de todos os detalhes e circunstâncias.
E nquanto passava por aquela difícil situação, José se encontrava
tom ado de choque, angústia e descrença. Mas agora, 32 anos mais
tarde, quando olha para a sua vida em retrospecto, consegue ver a
incrível providência de um Deus santo e bondoso.Tudo o que acon­
teceu a José é impressionante, mas tam bém é estranho. Maravilhosa­
m ente estranho.
32 D e modo estranho e lento, Deus está trabalhando

D eus t r a b a l h a de m o d o len to

Mesmo José se sentindo arruinado e acreditando que tudo estava perdi­


do, com o coração partido por causa das decepções, a mão do seu gran­
de Deus continuava trabalhando em sua vida. José deve ter pensado que
as coisas jamais mudariam. Ele havia sentido o gostinho da prosperidade
na casa de Potifar, mas aqueles dias tinham ficado para trás.
José fora preso por um crime que não cometera, e não existia
a m enor esperança de que algo em sua vida pudesse mudar. Ele não
conhecia um advogado famoso que pudesse ajudá-lo nem havia um
Supremo Tribunal para o qual pudesse apelar.
N ão havia saída para José. Estava tudo acabado! Dia após dia, se­
mana após semana, mês após mês, ele não via absolutamente chance
alguma de uma virada. Nada estava acontecendo! Ele havia se resignado
a cuidar de seus afazeres diários e buscara adaptar-se o melhor possível à
sua vida como prisioneiro, tão sem graça, tão entediante, tão lenta.
Todavia, um chamado m udou tudo! E, 45 minutos depois, ele se
viu transformado no [segundo] hom em mais poderoso da face da terra.

DEUS TRABALHA DE M O D O ESTRANHO.


DEUS TRABALHA DE M O D O LENTO.
MAS DEUS TRABALHA.
E SABE EXATAMENTE O QUE ESTÁ FAZENDO EM SUA VIDA.

A o nde q u e r e m o s chegar c o m is s o ?

Este livro vai levar você a m ergulhar nas profundezas [da história de
vida de José], N ão vai ser um livro do tipo O gato da Cartola, de Dr.
Seuss. Se é isso que você está procurando, é m elhor ir até a livraria
mais próxim a e buscar [algum título] na seção infantil.
Assim como eu, é provável que você já tenha desperdiçado tem ­
po demais perm anecendo no lado raso da vida, andando por aí com
água pelas canelas, fingindo que está nadando. Q uero aprofundar-me
e fortalecer-me como hom em de Deus, e, a menos que eu esteja en­
ganado, você quer o mesmo.
Capítulo 1 33

Então, prepare-se! Mergulharemos fundo na vida desse ousado


hom em de fé. A medida que fizermos isso, vamos deparar-nos com
dez evidências irrefutáveis da providência de Deus. Assim como essas
providências foram uma realidade na vida de José, elas são na sua. Os
títulos dos capítulos são declarações da soberania e da providência do
nosso grande Deus.
Ele está no controle:

i/ de perdas devastadoras;
t/ de todas as circunstâncias;
i/ de todo o seu trabalho;
i/ de retrocessos dolorosos;
l/ de esperanças despedaçadas;
1/ das esperas prolongadas;
i/ de indivíduos poderosos;
*/ da fome, do clima e dos desastres naturais;
s/ de todas as promoções e avanços;
\/ de todos os eventos da sua vida e fará com que tudo coopere
para o seu bem.

Existe uma obra que Deus preordenou para a sua vida (Ef 2.8-
10). Nada pode prever nem deter esse propósito. Talvez você não veja
ou sinta isso, pode ser que nem acredite nessas palavras hoje, mas não
importa: o Senhor está no controle.
Q uando Davi recebeu essa revelação, talvez estivesse deitado sob
as estrelas no deserto enquanto pastoreava as ovelhas de seu pai e, en­
tão, tenha cantado o seguinte:

N o teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e
determinado, quando nem um deles havia ainda.
S a lm o 139.1 6b ( a r a )

Em outras palavras, o plano do Senhor já foi escrito e se cumprirá


[à risca].
C a p ít u l o 2

Mesmo quando os seus sonhos morrem,


Deus está no controle de perdas devastadoras

Nas tuas mãos, estão os meus dias.


— D avi (SI 31 .15 a)

Ele tinha 25 anos, e aquele deveria ter sido o m elhor ano de sua vida.
O jovem acabara de casar-se com a m ulher que amava e havia plane­
jado cuidadosamente cada detalhe de sua lua de mel na Europa.
Entretanto, durante uma forte tempestade, sua bela esposa, Annie,
foi atingida por um raio. O incidente a deixou paralítica pelo resto da
vida. Nos 39 anos que se seguiram, seu esposo cuidou fielmente dela.
O casal nunca mais pôde viajar, e os dois começaram a colecionar
cartões postais do m undo todo. Jamais poderiam visitar pessoalmente
aqueles lindos lugares, mas juntos apreciavam as fotos que seus amigos
lhes enviavam de suas viagens.
O marido era o grande teólogo cristão Benjamin B. Warfield. Por
quase 40 anos, ele deu aulas, escreveu artigos e cuidou da esposa. O r­
ganizou seu horário de m odo a quase nunca sair de perto da m ulher
por mais de duas horas.
Por causa da paralisia de Annie, eles nunca puderam ter filhos
nem desfrutar da vida que haviam planejado juntos. Foi uma perda
36 Mesmo quando os seus sonhos morrem, Deus está no controle de perdas devastadoras

devastadora. Contudo, as pessoas mais próximas do casal sabiam que


eles não eram vítimas. C om o José, Benjamin e Annie eram vencedores
mesmo em meio àquela perda.
Alguns anos mais tarde, Dr. Warfield escreveu as seguintes pala­
vras acerca da providência de Deus. E uma citação longa, mas decidi
incluí-la por causa de sua profunda sabedoria. As vezes somos tentados
a folhear um livro às pressas (também faço isso de vez em quando),
porém a seguinte citação merece uma leitura cuidadosa.
Você acabou de ler sobre a incrível perda sofrida pelo Dr. War-
field. Agora observe como suas palavras não demonstram sequer um
pingo de amargura ou ressentimento contra Deus:

Tom em os com o exem plo u m acontecim ento qualquer, seja ele gran­
de ou pequeno — a queda de um império ou de um passarinho, a qual
o Senhor m esm o afirm ou jamais acontecer sem a vontade de nosso
Pai (M t 10.29) [...] D eus certam ente tem conhecim ento de tudo o
que se passa no universo. N ão há sequer u m canto escuro que escape
aos olhos do Senhor, que tudo vê; nada ocorre que esteja oculto ao
Seu olhar universal. E certam ente não se pode im aginar que algum
acontecim ento n o universo o pegue de surpresa. [...] T am pouco p o ­
dem os im aginar que D eus seja indiferente aos acontecim entos, com o
se, em bora soubesse que algo está para ocorrer, Ele não se importasse
se o episódio de fato aconteça o u deixe de acontecer. Nosso D eus
não é assim; Ele é u m D eus que se im porta infinitam ente com as
mínimas coisas. Acaso nosso Salvador não citou [o cuidado com] os
passarinhos e os cabelos de nossa cabeça para nos ensinar essa verdade?
O ra, p o rv e n tu ra alguém p o d eria im aginar que, em b o ra D eus
se im p o rte in fin itam en te conosco, E le seja im p o te n te diante dos
aco n tecim en to s do Seu universo e não possa preveni-los? Acaso
deveríam os su p o r que desde a etern id ade Ele vê acontecim entos
contrários à Sua von tad e aproxim arem -se cada vez mais no tem po,
até finalm ente o co rrerem , sem, co n tu d o , p o d e r im pedi-los?
B em , se Ele não pudesse evitar tais acontecim entos, não preci­
saria ter criado o universo; ou talvez devesse tê-lo feito de form a
diferente. D eus não tinha obrigação algum a de criar este universo
Capítulo 2 37

— o u qualquer o utro que fosse. N ada o com peliu a isso, exceto Seu
bel-prazer; e nada é capaz de forçá-lo a p erm itir a ocorrência de
qualquer evento co ntrário aos Seus desígnios no universo que Ele
m esm o crio u ao Seu bel-prazer.
Está claro que certas coisas não deveriam oco rrer n o universo
criado p o r D eus, pois essas coisas lhe desagradam. Ele não fica para­
do, observando im p o ten te o desenrolar de acontecim entos contrá­
rios ao Seu querer. O que quer que aconteça já foi antevisto p o r Ele
desde a eternidade, ten d o êxito apenas pelo fato de enquadrar-se à
vontade do Senhor. [...] Sabemos que evento algum poderia advir
a m enos que tivesse um a função a desem penhar, u m lugar a ocupar
e u m papel a cu m p rir n o abrangente plano de D eus. E tal c o n h eci­
m e n to nos basta. ( W a r f i e l d , 1916, p. 26S-267)8

O plano daqueles recém-casados com certeza não era vivenciar


tamanha tragédia durante a sua lua de mel. Entretanto, não podemos
detectar nas palavras de Warfield qualquer sinal de ira com relação a
Deus. N ão vemos nelas indicação alguma de que Deus fosse obrigado
a submeter Seu plano à aprovação do casal. Os Warfield se contenta­
ram tão somente em confiar e em obedecer [ao Senhor], M esmo em
meio a uma perda devastadora.
A perda da saúde é um golpe devastador quando acontece a al­
guém jovem e cheio de vida. Mas é igualmente devastadora quando
ocorre durante a velhice.
U m famoso hom em certa vez disse: “M inha vida está acabada,
mas ainda não chegou ao fim ” . W inston Churchill tinha 85 anos
quando disse isso à filha ( G i l b e r t , 1991, p. 956)9. Depois de sofrer
uma série de pequenos derrames, o grande estadista britânico teve de
lutar contra a depressão, que ele chamava o cachorro negro. Em bora sua
m ente continuasse afiadíssima, seu corpo estava começando a ceder.
Churchill ainda viveria mais cinco anos, mas, para ele, sua vida acabara
— porém ainda não havia chegado ao fim.
José, filho de Jacó, poderia ter dito a mesma coisa aos 17 anos:
“M inha vida está acabada, mas ainda não chegou ao fim ” . A vida de
José não estava acabada porque ele tinha perdido a saúde, mas aos seus
38 Mesmo quando os seus sonhos morrem, Deus está no controle de perdas devastadoras

olhos havia perdido algo igualmente precioso: a liberdade. Q uando


José se tornou um escravo, sua vida acabou — mas não chegou ao fim.

NO M E IO DA TE M P E S TA D E

Aquilo não fazia sentido algum para o jovem José. Com o o bondoso
Deus de Israel poderia perm itir que tais coisas acontecessem com ele?
Suas esperanças, ambições e sonhos haviam desaparecido para sempre,
varridos em um instante. Haviam não só desaparecido, mas também
estavam m ortos e enterrados. Sua jornada praticamente terminara, e
José mal a tinha iniciado.
N ão havia como José saber disso na época, porém esse capítulo
de sua vida duraria 13 anos. D urante aquele período, a intervalos va­
riados, ele experimentaria a exaustão, a humilhação, a perplexidade e
um medo paralisante.
Por vezes, José deve ter se perguntado se conseguiria sobreviver.
Todos os seus planos estavam destruídos, completamente desarraigados
e demolidos pelo ódio daqueles que deveriam tê-lo amado e apoiado.
Seus próprios irmãos tramaram arruinar a vida dele. Porém, o plano
dos irmãos de José seria ofuscado pelo plano de Deus.
Reais e ameaçadoras, devastadoras e caóticas, as tempestades da
vida às vezes nos fazem perguntar a nós mesmos se conseguiremos
sobreviver. N ão obstante, sobrevivemos para enfrentar a tempestade
de novo no dia seguinte. Algumas são breves, desaparecendo da tela do
nosso radar em um a questão de horas ou até mesmo minutos. U m a
nuvem encobre o sol, mergulhando o m undo na penumbra, mas logo
o sol volta a brilhar, e a vida volta ao normal.
A tempestade de José durou 13 anos, e nada fez sentido até que
ele a atravessasse. Q uando chegou do outro lado, José pôde olhar para
trás, para os acontecimentos daqueles anos terríveis, e ver claramente
o plano bem -ordenado do Deus todo-poderoso. Entretanto, quando
estava no meio da tempestade, sua vida parecia totalmente fora de
controle.
Talvez você se sinta assim com respeito à sua vida neste m om ento.
A agulha está na zona de alerta, e as circunstâncias parecem totalm ente
Capítulo 2 39

fora de controle. Se você for sincero, dirá que concorda com a ava­
liação de Churchill. E assim que você está: sua vida está acabada, mas
ainda não chegou ao fim.

A PERDA D EVASTADORA DE Ü O S É

Q uando José foi vendido como escravo por seus irmãos, foi como se
tivesse levado uma paulada na cabeça. Não, muito pior que isso. U m
hom em pode recuperar-se m uito bem de uma paulada. Mas disso? Sua
vida estava acabada.
C om o você acha que José deve ter se sentido enquanto estava
montado naquele camelo a caminho do Egito? José não era burro.
Sabia m uito bem o que acontecia aos escravos. Ele sabia que estava
acabado. N ão havia saída para a sua situação. Q uem o resgataria? Ja­
mais voltaria para casa ou veria sua família de novo. José havia sido
traído de m odo atroz, e sua vida estava irremediavelmente arruinada.
Você não teria se sentido da mesma maneira?
E provável que você tam bém já tenha passado por algumas tem ­
pestades. O u talvez seu sofrimento não tenha ficado no passado, mas
ainda permaneça. Talvez você esteja vivenciando o choque de uma
perda devastadora neste m om ento. Se isso é verdade, então você deve
fazer uma boa ideia de como José se sentiu durante aquela viagem de
camelo rum o a uma vida de escravidão.
Talvez esse pensamento sequer tenha passado pela cabeça daquele
jovem naquele m om ento, porém, independente de todo o choque e
de toda a aflição que José estivesse sentindo, era de admirar que ainda
estivesse vivo. A intenção clara de seus irmãos era matá-lo, e eles o
teriam feito não fosse pela intervenção da providência de Deus no
último instante.
H á um grande hino cujo título fala da providência do Senhor: Tu
és fiel. Sempre gostei m uito de cantar aquele verso que diz “Tua mercê
me sustenta e me guarda” . A ideia aqui é :“Tua providência me sustenta
e me guarda” .
O que José precisava naquele m om ento era que Deus o livrasse
de ser assassinado. Se a providência divina não tivesse interferido, José
40 Mesmo quando os seus sonhos morrem, Deus está no controle de perdas devastadoras

teria m orrido. Se Deus se atrasasse apenas 15 segundos, seria tarde


demais para salvá-lo.
Todavia, isso nunca acontecerá. Deus nunca chega cedo demais, e
Ele jamais chega atrasado. Sempre chega na hora certa. As vezes que­
remos que Ele se adiante. Enquanto o esperamos, vemos o ponteiro
do relógio girando e entramos em pânico. Mas o Senhor entrará em
cena no m om ento exato.

Na ho ra exata

Talvez você já tenha ouvido falar de ju st in timev. Trata-se de uma


técnica de administração e produção atribuída ao falecido Edwards
Deming. Entretanto, não foi Edwards Deming que inventou o ju st in
time. Foi o Criador. E isso que chamamos de providência. O Senhor sem­
pre aparece na hora certa para nos dar exatamente o que precisamos.
Elgin Staples era um marinheiro de 19 anos que fazia parte da
tripulação do U SSA storia, um cruzador pesado de Nova Orleans que
atuou na Segunda Guerra Mundial. Certa manhã, um dos canhões do
navio explodiu, e, com o impacto da explosão, Staples foi lançado ao
mar. Suas duas pernas foram atingidas por estilhaços, e ele entrou em
estado de choque. A única coisa que mantinha sua cabeça fora d’água
era uma boia salva-vidas. Q uando caiu na água, perm aneceu cons­
ciente apenas o tem po necessário para acionar a boia, que acabaria
salvando sua vida.
Q uatro horas depois, um contratorpedeiro que passava por per­
to resgatou o jovem m arinheiro e levou-o de volta ao seu navio.
Após algumas horas, o capitão do U S S Astoria decidiu ancorar o
navio, já que este havia sofrido danos m uito maiores do que ele ha­
via pensado. Essa tentativa, contudo, não correu com o planejado, e,
p or incrível que pareça, Elgin Staples foi lançado ao mar novamente.
C om o ainda não havia removido a boia salva-vidas, esta o salvou

v Just in time é u m sistema de adm inistração da p ro d u ção q u e d e te rm in a que nada deve ser produzido,
transportad o o u co m p rad o antes da h o ra exata. P o d e ser aplicado em q u alq u er organização, para reduzir
estoques e os custos d eco rren tes.
Capítulo 2 41

mais um a vez. Horas mais tarde, ele foi resgatado p o r outro navio, o
U S S A ndrew Jackson.
Deitado num leito de enfermaria, Staples se recusava a tirar a boia,
que havia salvado sua vida duas vezes. Ele estudou cada centímetro da
sua superfície, reparando em cada detalhe da fabricação cuidadosa.
Alguém havia produzido meticulosamente aquele salva-vidas. Deitado
no leito, Staples não se cansava de examinar a boia, maravilhado pelo
fato de ela ter salvado sua vida duas vezes no mesmo dia. A ironia era
que a boia havia sido fabricada em Akron, sua cidade natal, no estado
de Ohio, pela Firestone Tire and Rubber Company [Companhia Firesto-
ne de Pneus e Borracha].
Q uando Staples teve alta, a M arinha lhe concedeu uma licença
para que fosse para casa rever a família. Em suas próprias palavras, ele
descreveu sua chegada:

Q u a n d o eu finalm ente obtive m in h a licença de 30 dias, fui para


casa ver m in h a fam ília em O h io . D ep o is de um a e m o cio n an te re­
cepção, eu m e sentei c o m m in h a m ãe na cozinha, co n tei a ela tudo
o que tin ha m e aco n tecid o e depois a ouvi relatar o que havia se
passado em casa d u ran te a m in h a ausência.
M in h a m ãe m e disse que, para “ fazer a parte dela” , havia arranja­
do u m em p reg o na fábrica da Firestone durante a guerra. Surpreso,
dei u m pulo, p eg u ei m in h a boia salva-vidas na m ala e colo q u ei-a
sobre a m esa da cozinha.
“ O lh e para esta boia, m am ãe. Ela foi fabricada aqui em A kron,
na fábrica e m que a senhora trabalha.” M in h a m ãe se in clinou
para frente, p e g o u o colete e leu a etiqueta. Ela havia acabado de
escutar m in h a história e sabia que, na escuridão daquela n o ite ter­
rível, aquele pedaço de b o rrach a tin h a salvado m in h a vida. E ntão
ela o lh o u para m im c o m os olhos arregalados e disse quase n u m
sussurro: “ Filho, eu trabalho co m o inspetora na Firestone. Este é o
n ú m e ro da m in h a m atrícu la” .
O lh am o s u m para o outro, m aravilhados dem ais para falar. E ntão
m e levantei, dei a volta à m esa e a ergui da cadeira. N ó s nos abra­
çam os c o m força e ficam os assim parados p o r u m b o m tem p o sem
42 Mesmo quando os seus sonhos morrem, Deus está no controle de perdas devastadoras

dizer nada. M in h a m ãe não era o tip o de pessoa que dem onstrava


ab ertam en te suas em oções, mas a im p o rtância daquela co in cid ên ­
cia incrível so b rep u jo u sua reserva habitual.
P erm an ecem o s ali, abraçados, p o r m u ito, m u ito tem po, sentindo
o v ín cu lo palpável que havia entre nós. O s braços de m in h a m ãe
haviam m e alcançado d o o u tro lado do m u n d o para m e salvar.10

Você percebeu que Staples se referiu a esse incidente como uma


“coincidência incrível”? Mas não foi uma coincidência, e sim a bonda­
de de Deus. N ão devemos classificar acontecimentos desse tipo como
coincidência. Devemos dar glória a Deus.
John Flavel costumava dizer: “Saiba apreciar a providência” . Ela
sempre aparece no m om ento exato. Foi a providência de Deus que
enviou a caravana de mercadores de escravos no m om ento em que os
irmãos de José estavam considerando a m elhor maneira de matá-lo.
Será que ele pulou de alegria quando viu a caravana se aproximando
exatamente naquela hora? E claro que não! Para José, aquilo foi como
levar um soco na boca do estômago. Era o pior cenário possível. N o
entanto, a verdade é que a providência de Deus salvou sua vida.
Contudo, José não sabia disso, sabia? Ele chegou à conclusão de
que estava tudo term inado e de que seria um escravo pelo resto da
vida. A existência dele seria um inferno, uma m orte em vida. Por que
Deus perm itiria que algo tão terrível acontecesse?
Esses pensamentos deviam estar correndo pela m ente de José à
medida que ele tentava absorver a realidade do golpe arrasador que
acabara de sofrer. A providência de Deus o havia salvado da morte,
mas essa mesma providência trouxera consigo uma perda devastadora.
Será possível que Deus realmente esteja por trás das perdas que asso­
lam nossa vida? Não faria mais sentido atribuirmos essas perdas terríveis
ao maligno? Como sempre, devemos buscar a resposta nas Escrituras.

O ndas de p e r d a

Se você já m orou perto do mar, sabe que as ondas vêm em séries.


Os surfistas se sentam em sua prancha, virados de costas para a praia,
Capítulo 2 43

olhando para o horizonte à espera da próxim a série. As séries podem


ser pequenas, com duas ou três ondas, ou grandes, com 12 ou mais
ondas. Então chega o remanso, período em que o mar se acalma por
alguns minutos até a chegada de uma nova série de ondas.
N o Salmo 88.7 ( n v i ) , o salmista solitário escreveu: Com todas as
tuas ondas me afligiste. Se você ler o contexto, verá que ele estava fa­
lando de lutas, aflições e perdas. N ão é incom um Deus nos enviar
dificuldades em séries — e é interessante notar que muitas vezes elas
vêm em séries de três.
O fato de o salmista ter dito que o Senhor o afligiu surpreende
você? Ele especificamente afirmou que as ondas vieram de Deus. As
ondas de dificuldade rebentando sobre ele vinham do Senhor.
U m dos grandes homens de fé, Thomas Watson, costumava dizer:
“Independente de de onde venha a aflição, Deus é quem a envia” .
Talvez você nunca tenha pensado nisso, mas essa verdade está presente
em toda a Bíblia. Talvez você esteja pensando: “ Isso não faz sentido.
Por que Deus enviaria ondas de aflição? Parece estranho demais” . É
estranho, mas Deus trabalha de m odo estranho.
Já voltaremos a falar de José e de sua perda devastadora. Porém,
agora eu gostaria que você visse que Jó concordava com o salmista no
que diz respeito a ondas de sofrimento e perdas assoladoras.
N a época de Jó, ninguém m elhor do que ele sabia o que era so­
frer uma perda terrível. N u m período que pode não ter durado mais
do que alguns minutos, três ondas arrasadoras vieram do nada, m udan­
do para sempre a paisagem da sua vida. Cada tsunami trazia consigo
mais um golpe devastador.
E im portante notar que Jó era um hom em que andava com Deus
e que havia desfrutado das ricas bênçãos do Senhor sobre sua vida. Ele
gozava de segurança financeira, era um líder em sua comunidade e
levava uma vida de profunda devoção a Deus.
Jó desejava que seus filhos conhecessem o Senhor como ele o
conhecia. O patriarca orava por eles e oferecia sacrifícios em seu favor.
Este é o pano de fundo da história de Jó. A cortina do céu é aber­
ta, e ganhamos um assento na prim eira fila para assistir à cena em que
Satanás se apresenta diante de Deus para lançar acusações contra Jó.
44 Mesmo quando os seus sonhos morrem, Deus está no controle de perdas devastadoras

As acusações de Satanás são diretas: “É claro q u e jó te serve e te ama!


Q uem não faria o mesmo? Tu tens dado tudo a ele. Ele dirige um
“Bentley” , passa as férias em sua “ casa de praia em M aui” , e seus filhos
são perfeitos. E claro que ele se deleita em servir-te. E não é preciso
ser um engenheiro aeroespacial para entender por quê”.
Então o Senhor dá permissão para que Satanás aflija Jó. Mas note
que, embora Deus perm ita que o inimigo prove Jó, Ele perm anece no
controle absoluto de todo o processo. Satanás não está no controle. Sa­
tanás precisa da permissão de Deus af im de provar sua teoria. Isso significa
que o Senhor detém o controle absoluto. Satanás não sabia disso na
época, mas seu estratagema seria usado por Deus p or milhares de anos
para declarar Sua verdade a incontáveis gerações.

G rande D e u s , g r a n d e s o n d a s , g r a n d e s p r o p ó s it o s

Satanás não pode ver nem imaginar os propósitos que o nosso grande
Deus tem em mente. Em bora o Senhor dê permissão a Satanás para
agir, Ele continua no controle.

Certo dia, quando osfilhos e as filhas de Jó estavam num banquete, comen­


do e bebendo vinho na casa do irmão mais velho, um mensageiro veio dizer
a Jó: “O s bois estavam arando e os jum entos estavam pastando por perto,
quando os sabeus os atacaram e os levaram embora. Mataram à espada os
empregados, e eu fui o único que escapou para lhe contar!” Enquanto ele
ainda estava falando, chegou outro mensageiro e disse: “Fogo de D eus caiu
do céu e queimou totalmente as ovelhas e os empregados, e eu f u i o único que
escapou para lhe contar!” Enquanto ele ainda estava falando, chegou outro
mensageiro e disse: “Vieram caldeus em três bandos, atacaram os camelos e
os levaram embora. Mataram à espada os empregados, e eu f u i o único que
escapou para lhe contar!” Enquanto ele ainda estava falando, chegou ainda
outro mensageiro e disse: “Seus filhos e suas filhas estavam num banquete,
comendo e bebendo vinho na casa do irmão mais velho, quando, de repente,
um vento muito forte veio do deserto e atingiu os quatro cantos da casa, que
desabou. Eles morreram, e eu fui o único que escapou para lhe contar!”
J ó 1.13-19 (nvi)
Capítulo 2 45

Em alguns minutos, a vida de Jó foi irremediavelmente destruída.


Você notou quantas vezes as palavras enquanto ele ainda estava falando se
repetem? Jó mal tinha tempo de recompor-se do choque de uma notí­
cia trágica quando mais um mensageiro chegava com outra ainda pior.
Em questão de instantes, a vida de Jó foi totalmente paralisada.
Ele perdeu seus imensos rebanhos, seus servos e seus filhos. Suas finan­
ças já haviam sido arruinadas e seus servos m ortos quando ele recebeu
a notícia de que todos os seus filhos m orreram num incidente trágico.
Isso é o que podemos chamar de perda devastadora.
C om o você reagiria se passasse pela mesma situação?
N ão precisamos imaginar a reação de Jó, pois a Bíblia a relata
claramente:

Então, Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se


lançou em terra, e adorou, e disse: N u saí do ventre de m inha mãe e nu
tornarei para lá; o S E N H O R o deu e o S E N H O R o tomou; bendito
seja o nome do S E N H O R . E m tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a
D eus fa lta alguma.
J ó 1.20-22

Se isso acontecesse a um cristão com um hoje, a resposta seria


a seguinte: “O Senhor deu, e Satanás tirou; bendito seja o nom e do
Senhor” . Porém, note que não foi isso que Jó falou. Ele não atribuiu
essas tragédias a Satanás; Jó entendeu que o Senhor estava por trás de
sua perda devastadora.
Leia atentamente as palavras que Thomas Watson pregou em
Londres há mais de 300 anos:

N osso coração é consolado q u ando consideram os que as m ãos de


D eu s estão sobre todas as aflições q u e nos sobrevêm . “ O Altíssimo
m e afligiu.” Assim co m o u m m ach ad o não p o d e co rtar sozinho, a
m en o s que seja m anuseado, in stru m e n to algum p o d e atuar até que
D eus lhe dê Sua ordem . J ó en x erg o u o S en h o r em sua aflição. P or
isso, co m o observou A gostinho, ele não disse “ O S en h o r deu, e o
diabo tiro u ” , mas sim “ o S en h o r d eu e o S en h o r tiro u ” .
46 Mesmo quando os seus sonhos morrem, Deus está no controle de perdas devastadoras

Watson estava certo quando disse: “Independente de de onde ve­


nha a aflição, Deus é quem a envia” . Satanás não poderia ter afligido Jó
a menos que o Senhor lhe tivesse perm itido fazê-lo. Então, na verdade,
foi Deus quem afligiu Jó. Satanás foi apenas o instrum ento da aflição.
Foi o Senhor quem ordenou que as devastadoras ondas de perda
rebentassem sobre a vida de Jó.

O utra onda

Se resta alguma dúvida quanto a Deus estar no controle das adversida-


des que atingiram Jó, observemos do patriarca e m jó 2.8.
Ao lermos os primeiros sete versículos do mesmo capítulo, vere­
mos que o Senhor teve outra conversa com Satanás a respeito de Jó.
Deus disse ao diabo que este havia se equivocado quanto a Jó. O amor
de Jó a Deus continuava forte, embora ele tivesse sofrido uma perda
assoladora. A resposta de Satanás foi basicamente a seguinte: “Se me
deixares tocar em sua saúde, mostrarei o que há de fato no coração
dele!” Então o Senhor perm itiu que Satanás afligisse o corpo de Jó.
Vemos novamente que Deus permaneceu no controle absoluto.
Mais uma vez, Sua permissão foi necessária para que Satanás pudesse
afligir Jó fisicamente.
Entenda o seguinte: Deus impõe limites ao que Satanás pode fazer.
Satanás não pode ultrapassar os limites impostos pelo Senhor.
Satanás afligiu Jó com chagas, deixando o patriarca na mais ab­
soluta miséria física, sem nenhum alívio à vista. A esposa de Jó, uma
verdadeira “vencedora”, achegou-se a ele com palavras de desalento:

Então, sua mulher lhe disse: A in d a reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a


D eus e morre. M as ele lhe disse: Com o fala qualquer doida, assim falas tu;
receberemos o bem de D eus e não receberíamos o mal? E m tudo isto não
pecou Jó com os seus lábios.
Jó 2.9,10

E nesse ponto que muitos de nós nos equivocamos. Achamos


que tudo que nos acontece de bom vem do Senhor e que todas as
Capítulo 2 47

aflições e dificuldades vêm de Satanás. Mas não foi isso que Jó disse! E
não é isso que as Escrituras ensinam. Deus está no controle tanto das
situações agradáveis como das adversidades em nossa vida. Ele está no
controle absoluto de tudo.
O Senhor envia ondas de bênção e ondas de perda. O Senhor dá
e o Senhor tira. Não é Satanás que tira. E o Senhorl
Isso lhe soa estranho? Existem bons e maus pregadores na televi­
são; talvez você esteja assistindo a pregadores demais. Com o podemos
diferenciar os dois tipos? Eu começaria pelo cabelo. Se o cabelo do
pregador for esquisito, norm alm ente a doutrina é esquisita também.
Parece engraçado, mas esse teste costuma funcionar.
Graças ao Senhor existem pastores fiéis, que ensinam cuidadosa­
m ente a Palavra de Deus na televisão, mas tam bém existem os que não
são tão cuidadosos e só sabem pregar sobre a prosperidade. Se o prega­
dor ministrar apenas sobre a prosperidade, terá um problema com toda
a Bíblia. Ministros da prosperidade nunca pregam sobre a história de
Jó, pois ela contradiz a sua teologia.
Deus está no controle tanto da prosperidade como da adversida­
de, usando ambas na vida dos Seus servos para que Seu propósito se
cumpra. Porém, a maioria dos cristãos aprendeu que, se alguma perda
devastadora nos sobrevêm, ela deve estar vindo de Satanás.
Isso pode parecer difícil de entender. Por que Deus perm itiria
que sofrêssemos perdas devastadoras? Se Ele está no controle de tudo,
por que não impede que o sofrimento nos alcance? Se o Senhor podia
ter evitado que a vida de Jó fosse atingida por tamanha tragédia, por
que cargas d’água não fez isso?
Existe um term o que explica essa forma estranha de Deus traba­
lhar. E o que chamamos de providência contraditória.

P r o v id ê n c ia s c o n t r a d it ó r ia s

Deus nos avisou logo de cara que nós não o entenderíamos. Isso é um
princípio bíblico. N o capítulo anterior, vimos a declaração do Senhor
em Isaías 55.8: Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos,
nem os vossos caminhos, os meus caminhos, d iz o S E N H O R .
48 Mesmo quando os seus sonhos morrem, Deus está no controle de perdas devastadoras

U m dos métodos usados por Deus para executar o Seu plano em


nossa vida é a providência contraditória. Esta consiste em qualquer
acontecimento que faz parecer que Deus está trabalhando contra nós.
U m a onda de aflições é uma providência contraditória. U m a perda
devastadora é uma providência contraditória. Você sabe que foi atin­
gido por uma providência contraditória quando começa a questionar
a bondade de Deus em sua vida. Em outras palavras, uma providência
contraditória é um deceptío vísus.
O que significa isso? (Eu também não sabia e tive de pesquisar.)
Deceptio visus é uma expressão em latim que quer dizer engano visual.
Thomas Fuller explica como isso se relaciona às providências contra­
ditórias com que nos deparamos:

Se você p eg ar u m a vareta reta e colocá-la na água, ela parecerá


torta. P o r quê? P orq u e nós a estam os v endo através de dois m eios,
a água e o ar. É assim que acontece o deceptio visus, ou seja, algo
q u e não p o d em o s d iscernir co rretam ente. P o r isso, em Sua justiça,
os cam inhos de D eu s — que em si m esm os são sem pre retos, sem
o m e n o r traço de obliquidade [desvio] — nos parecem tortuosos.
T om e co m o exem plo o fato de h o m ens iníquos prosperarem e
h o m en s justos serem afligidos [...] essas coisas fazem os cristãos
mais firm es titubearem .
E p o r quê? Porque eles enxergam os cam inhos de D eus através
de dois m eios: a carn e e o espírito, de m o d o que todas as coisas
parecem estar n o s e n tid o co n trá rio ao que deveriam , q u ando na
verdade estão exatam en te na direção certa. E é p o r isso que, em
Sua justiça, os cam inhos de D eu s não costum am ser m u ito b e m
discernidos, pois os olhos do h o m e m não são juízes m u ito c o m ­
p etentes. (Thomas, 1997, p. 230)11

Deus está fazendo mais por meio de Suas providências contra­


ditórias do que nossos olhos podem enxergar e nossa m ente limitada
é capaz de entender. Porém, não compreendemos os Seus caminhos,
então achamos imediatamente que estão errados. Mas eles não estão
errados, estão certos.
Capítulo 2 49

Se Deus está no controle, por que não impediu que os irmãos


de José o vendessem como escravo? Essa perda foi tão arrasadora para
aquele jovem idealista! Se o Senhor está no controle, por que pelo m e­
nos não poupou os filhos de Jó? U m a filha? U m filho? O fato de Ele ter
trabalhado daquela maneira parece extremamente severo e cruel.
Os caminhos do Senhor não são os nossos. Contudo, quando Deus
não f a z sentido — pegando emprestado o título do excelente livro de
James D obson [W hen God D oesn’t M ake Sense] — , há algo com que
podemos contar, ainda que não possamos ver isso de pronto. Estou
falando da Sua bondade.
N o Salmo 119.68 está escrito que o Senhor é bom e abençoador.
N o m om ento, você pode não conseguir ver a bênção. Talvez a única
coisa que esteja vendo seja o sofrimento, a dor e a tristeza esmagadora
da sua perda. Entretanto, o Senhor é bom e faz o bem.Talvez você não
consiga enxergar o bem porque está envolvido demais com sua perda
pessoal. Mas dentro dos propósitos de Deus, por Seus caminhos e no
Seu tempo, e porque Ele está no controle de tudo, o Senhor levará
você a ver o bem.
Pense nisto: talvez você não esteja mais nesta terra quando finalm ente
enxergar o bem. C. S. Lewis especulou que, quando m orrerm os e che­
garmos ao céu, as primeiras palavras que sairão da nossa boca serão:
‘‘Ah, entendi!” O que não fez sentido algum na terra fará todo o sen­
tido no céu. U m dia veremos o bem. Lewis estava certo quanto a isso,
e ele sabia exatamente o que era sofrer uma perda.

0 que o S e n h o r n ã o pode fa z e r

Existem algumas coisas que Deus não pode fazer:


Ele não pode mentir.
Ele não pode pecar.
Ele não pode fazer o mal.
Por isso, em última instância, as providências contraditórias e as
perdas contribuirão para o nosso bem.
Deus é santo. Esse é o seu principal atributo (ver Is 6). Sua santi­
dade se refere à Sua absoluta pureza moral. Ele não pode agir contra
50 Mesmo quando os seus sonhos morrem, Deus está no controle de perdas devastadoras

Sua própria natureza. Porque Deus é santo, Ele só pode fazer o bem.
Ele é bom e faz o bem mesmo quando não nos parece ser esse o caso.
N ão pareceu bom a José que ele estivesse destinado a uma vida de
escravidão no Egito. O nde estava a bondade de Deus em tudo aquilo?
N o mom ento, José não podia responder a tal pergunta. N o entanto,
anos depois, ele obteve a resposta.

R eputação n e g a t iv a

W illiam Carey, considerado o pai do m ovim ento missionário m o­


derno, m udou-se para a índia com a família em 1793 para pregar o
evangelho. Naquele tempo, praticamente não havia cristãos naquele
enorm e país. O lema de Carey era: “Espere grandes coisas de Deus,
faça grandes coisas para Ele” .
Pouco depois, seus amigos W illiam Ward e Joshua M arshman se
uniram a ele no ministério. Esses três homens se dedicaram incansa­
velmente à obra de Deus. Em 1797, Carey já havia traduzido o Novo
Testamento inteiro para o bengalês, e dois anos depois faltavam apenas
dois livros para que ele completasse a tradução do Antigo Testamento
Em 1801, o Novo Testamento foi impresso em bengalês. Durante oito
anos de trabalho árduo, Carey traduziu o Novo Testamento para mais
oito dialetos indianos.
Então veio o incêndio. N o dia 11 de março de 1812, um incên­
dio na gráfica destruiu manuscritos, livros e tipos móveis valiosos. O
prejuízo foi estimado em 50 mil dólares (uma soma astronômica na
época), e o trabalho de tradução precisou ser abruptamente inter­
rompido (Davis, 1963, p. 58)12. Anos de trabalho árduo e cuidadoso
evaporaram numa questão de minutos.
U m a perda devastadora? Pode acreditar. A notícia do incidente
teve grande repercussão na Inglaterra. Tocadas pela tragédia, as igrejas
começaram a arrecadar fundos para ajudar o ministério de Carey. Em
seis semanas, os cristãos ingleses haviam levantado dinheiro suficiente
para reerguer a gráfica.
A medida que a notícia se espalhava pela comunidade cristã, um
núm ero cada vez maior de pessoas ouvia falar do trabalho de Carey
Capítulo 2 51

C om isso, mais e mais irmãos começaram a apoiar financeiramente


aquela missão pioneira, enquanto outros foram contagiados pela visão
de Carey de disseminar o evangelho. C om o resultado da perda, mais
recursos e mais obreiros passaram a afluir para a índia.
Antes de morrer, Carey e seus dois amigos, Ward e Marshman,
haviam fundado 26 igrejas e 126 escolas (totalizando dez mil alunos),
traduzido as Escrituras para 44 línguas, produzido gramáticas e dicio­
nários, organizado a prim eira missão médica na índia, assim como o
primeiro banco de investimentos, seminário, escola de meninas e jo r­
nal impresso na língua vernácula ( d o u g l a s & c o m f o r t , 1992, p. 132)13.
Por meio da atuação estranha do nosso grande Deus, uma perda
devastadora acabou sendo transformada em frutos formidáveis.

P or trás de nossa vida está o Tecelão


O p e ra n d o Sua ex traordinária vontade;
D eixem os tu d o em Suas sábias m ãos,
C o n fian d o em Sua perfeita aptidão.
Se Seu plano fo r envolto em m istério,
E nossa lim itada visão se turvar,
N ã o ten tem o s o to d o esquadrinhar,
M as entreg u em o s cada fio em Suas m ãos. (M urray ap u d M eyer,

1995, p. 3 3 3 )14

Talvez você esteja pensando que Deus jamais faria algo assim por
você, mas acho que o Senhor quer que saibamos que Ele age dessa
íorm a regularmente. Todos nós somos pessoas diferentes, com histó­
rias diferentes. Porém, Deus é especialista em transformar derrotas em
vitórias ou conquistas impressionantes.
O Senhor tem um propósito e um plano para a sua vida. Ele já
começou uma boa obra em você quando o trouxe para Cristo. Mas
Ele também tem uma missão para você (Ef 2.8-10). Deus tinha uma
missão para José, embora isso nem passasse pela cabeça deste. E Ele
tem uma para você também.
Quando Deus começa uma obra, Ele a termina.Você não precisa
acreditar apenas nas minhas palavras; essa firme promessa está registrada
52 Mesmo quando os seus sonhos m orrem , Deus está no controle de perdas devastadoras

nas Escrituras: Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao
D ia de Jesus Cristo (Fp 1.6).
Deus está no controle de nossas perdas devastadoras. Ele compre­
ende que ficamos feridos, com o coração despedaçado, quando somos
pegos de surpresa por uma tragédia. Perto está o S E N H O R dos que têm
o coração quebrantado e salva os contritos de espírito (SI 34.18).
N ão deveríamos surpreender-nos quando o sofrimento e a perda
nos sobrevêm como seguidores de Cristo. O Senhor Jesus nos avisou:
no mundo tereis aflições (Jo 16.33b). Em Atos 14.22, lemos que por m ui­
tas tribulações nos importa entrar no Reino de Deus. Em Filipenses 1.29, a
mesma verdade é declarada com clareza absoluta: Porque a vós vos fo i
concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer
por ele.
José foi pego de surpresa por uma perda assoladora. Mas a expe­
riência dele deve servir de exemplo para nós. Se a perda de José estava
sob o controle do Todo-poderoso, a nossa também está. E, mesmo
quando sua perda não fazia sentido algum para ele, a providência do
Senhor estava ah, escondida atrás das nuvens de sofrimento. Sua vida
não estava fora de controle, e sim sob o controle do Senhor. Deus ti­
nha algo grande em m ente para José.
JohnTrapp expressou isso m uito bem: “Aquele que está cavalgan­
do rum o à sua coroação não se deixa incom odar pela chuva” . Princi­
palmente quando olha para trás!
José teria concordado com as palavras de Jó:

A h ! Se eu soubesse que o poderia achar! Então me chegaria ao seu tri­


bunal. Com boa ordem exporia ante ele a m inha causa e a m inha boca
encheria de argumentos. Eis que, se me adianto, ali não está; se torno para
trás, não o percebo. Se opera à mão esquerda, não o vejo; encobre-se à mão
direita, e não o diviso.
J ó 23 .3,4,8 ,9

Então Jó fez uma declaração impressionante no versículo 10: Mas


ele sabe o meu caminho; prove-me, e sairei como o ouro. Deus não desper­
diça esse tipo de sofrimento e perda. Seu plano para a vida de José e
Capítulo 2 53

de Jó era proposital. Em ambos os casos envolvia grande sofrimento


e perda. Esse sofrimento não era aleatório, pois tinha um propósito.
Deus não os deixaria sofrer indefinidamente. Ele estava refinando-os e
provando-os, e um dia sairiam daquela prova como ouro.
Isso foi verdade na vida de José. Isso foi verdade na vida de Jó. Isso
foi verdade na vida de uma jovem esposa e de seu marido [os Warfield]
quando um raio lhes causou uma perda devastadora. E isso tam bém é
verdade na sua vida.
C a p ít u l o 3

Não fo i por acaso...


Deus esta no controle de todas as circunstâncias

A característica mais distinta do p o d e r de D eus é que nossa im agi­


nação se perde q u an d o com eçam os a pensar nele.
— B la is e P a s c a l

Harold M acM illan foi O prim eiro-m inistro da Grã-Bretanha de 1957


a 1963. C erta vez um jovem lhe perguntou qual fora o maior desafio
que ele enfrentara como estadista.
“Acontecim entos, m eu caro rapaz, acontecim entos” , respondeu
M acM illan (Em: Acontecimentos inesperados constituem o maior desafio
de um líder)15.
O sábio Thomas Watson dizia: “ Q uando um hom em piedoso
morre, ele entrará em p a z (Is 57.2); enquanto ele está vivo, porém , a paz
é que precisa entrar nele” . O segredo que nos leva a encontrar a paz de
que precisamos para aquietar nossa alma em meio a crises imprevistas
e angustiantes é a profunda convicção de que o nosso grande Deus está
no controle de todas as circunstâncias.
U m jovem piloto da M arinha dos Estados Unidos descobriu isso
no meio de uma batalha. Ele era um dos nove pilotos americanos
56 N ão foi por acaso... D eus está no controle de todas as circunstâncias

cujos aviões foram abatidos na pequena ilha de Chichi-jim a durante a


Segunda Guerra Mundial.
O ito pilotos foram capturados, torturados, decapitados e caniba-
lizados. Apenas um escapou e sobreviveu. Esse jovem de 20 anos com
certeza estava apavorado. Porém, tinha um trabalho a fazer e não p o ­
dia nem pensar em ter medo. Q uando ele m ergulhou para jogar suas
bombas, seu avião se tornou o alvo de dezenas de mísseis antiaéreos.
Chichi-jim a era uma pequena ilha com dois picos que funciona­
vam como os principais centros de comunicação da M arinha japonesa
no O ceano Pacífico. Os imensos transmissores e antenas de rádio ti­
nham de ser preservados a qualquer preço. Por isso os japoneses defen­
diam a ilha com unhas e dentes, e a sorte não favorecia nenhum piloto
que ousasse voar em meio à implacável saraivada da artilharia japonesa.
Enquanto esse jovem piloto mergulhava para jogar suas bombas,
seu avião foi atingido. De algum m odo ele conseguiu manter o curso
do voo e jogar as bombas. C om todas as suas forças, ele tentou estabi­
lizar o avião e afastar-se da ilha. A aeronave avariada, contudo, entrou
em parafuso e começou a cair. Usando o rádio, ele deu uma ordem para
que seus tripulantes saltassem de paraquedas. Depois que todos haviam
pulado, o jovem desafivelou seu cinto de segurança e pulou também.
Por causa de uma falha em seu paraquedas, o piloto acabou cain­
do na água em alta velocidade. Ele estava cerca de seis quilômetros ao
norte da ilha. C om muito esforço, conseguiu nadar até um bote salva-
-vidas que havia sido jogado por outro avião. Porém, sua vida corria
grande perigo.
Ele não tinha remos, e o vento forte começou a em purrar o bote
em direção à ilha de tortura e de morte. C om a cabeça sangrando e
m uito dolorida por causa da ferroada de uma caravela portuguesa, ele
tentava orientar-se enquanto colocava periodicam ente a cabeça para
fora do bote para vomitar.
Algum tem po depois, o piloto olhou para cima e viu que alguns
barcos haviam partido da ilha e estavam aproximando-se para capturá-
-lo. Ele não tinha como se defender. Sabia que em poucos minutos
seria capturado pelo aterrorizante exército inimigo.
Capítulo 3 57

Foi então que viu um objeto estranho emergir na superfície do


oceano. Ele não podia acreditar no que via. Era o periscópio de um
submarino americano. Em apenas alguns minutos, o piloto estava a
bordo do Finback, são e salvo do inimigo ( B r a d l e y , 2003, p. 194-197)16.
Nove pilotos haviam sido abatidos. O ito foram torturados, deca­
pitados e canibalizados. Ele fora o único que conseguira escapar.
“ Q ue sorte impressionante! Q ue coincidência incrível! Q ue gol­
pe do destino!” Muitas pessoas com certeza diriam isso, mas todas
estariam equivocadas. Aquele jovem piloto da M arinha americana fora
resgatado do mar por um submarino porque Deus tinha uma missão
para ele. C om o ainda não havia cum prido o seu propósito, nenhum
inimigo no m undo poderia matá-lo. Por isso não foi m orto e caniba-
lizado como seus companheiros.
O nom e daquele jovem era George H erbert Walker Bush, e ele
sobreviveu para se tornar o 41° presidente dos Estados Unidos.
Nas 16 semanas seguintes, aquele submarino seria seu lar. D uran­
te sua estadia ali, ele foi escalado para m ontar guarda da m eia-noite às
quatro da manhã, período em que o submarino ficava na superfície.
E m suas próprias palavras, Bush descreveu os pensamentos que passa­
vam por sua mente:

Jam ais m e esquecerei da beleza do O c e a n o Pacífico: os peixes v o ­


adores, a m aravilha absoluta do m ar, as ondas reben tan d o na proa
do barco. A escuridão era absoluta n o m eio do Pacífico; as noites
eram claríssimas, e as estrelas de u m b rilh o intenso. Essa paisagem
extraordinária e revigorante m e propiciava m o m en to s preciosos
de c o m u n h ão c o m D eus.
E u tin h a tem p o para refletir, [...] para buscar respostas. As pessoas
costum am falar de u m tip o de cristianismo de trincheiraVI, que é o
que acontece quando você está em perigo, achando que vai m orrer,

Vl Expressão baseada na frase “ não existem ateus em trin ch eiras” ; u m aforism o usado para arg u m e n ta r que
c m m o m e n to s de estresse o u m e d o extrem os, c o m o n o m e io de u m a guerra, todas as pessoas acreditam na
existência de u m p o d e r superior.
58 N ão foi por acaso... D eus está no controle de todas as circunstâncias

e p o r isso decide reconciliar-se c o m D eus e co m as pessoas no


ú ltim o m in u to . E n tretan to , a m in h a experiência foi exatam ente
o o posto disso. E u já havia ficado cara a cara co m a m o rte, e o
S en h o r tin h a m e p oupado. E u m e sentia pro fu n d am en te grato e
m aravilhado. As vezes, e m m eio a um a tragédia, as pessoas oram
p erg u n tan d o : “P o r q u e eu, S en h o r?” D e m o d o inverso, eu p e rg u n ­
tava ao S en h o r p o r que eu havia sido p o u p ad o e qual era o Seu
p ro p ó sito para m im (B r a d ley , 2003, p. 197)17.

José deve ter feito a mesma pergunta. Seus irmãos queriam matá-
-lo, mas uma caravana de mercadores de escravos o livrara da morte.
Sim, José se tornara um escravo, mas pelo menos estava vivo. Ele devia
estar pensando, assim como George Bush naquele submarino: “Por
que fui poupado? Q ue missão Deus tem para mim?”
Q uando você olha para a sua vida em retrospectiva, consegue
lembrar-se de alguma situação em que tenha escapado da m orte por
pouco? Talvez tenha escapado ileso de um acidente de carro em sua
adolescência ou tenha sido tirado da piscina por um salva-vidas, que o
fez recobrar o fôlego.
Isso não aconteceu por sorte, nem foi uma coincidência. Você está
vivo neste exato m om ento porque Deus tem uma missão para você. O
apóstolo Paulo escreveu: Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus
para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas (Ef2.10).
A resposta é muito simples... e igualmente profunda.

P r o vid ên c ia — m e lh o r do que a sorte

José não foi vendido como escravo porque estava “no lugar errado na
hora errada” . Graças à providência de Deus, ele na verdade estava no
lugar certo na hora certa — embora tenha sido vendido como escravo.
A traição de seus irmãos foi o fator principal que desencadeou o cum ­
prim ento da vontade de Deus na vida dele.
Seus irmãos não o jogaram na cova porque ele estava tendo um
dia ruim. Naquele dia terrível, José estava bem no centro da vontade
de Deus. Com o isso é possível?
Capítulo 3 59

Em sua vida não existe sorte, acaso nem carma. N ão existem aci­
dentes nem acontecimentos aleatórios. Deus está no controle de todas
as circunstâncias. J. I. Packer resumiu isso m uito bem:

A d o u trin a da providência ensina aos cristãos que eles nun ca são


vítim as de forças cegas (fortuna, acaso, sorte, destino); tu d o o que
lhes sobrevêm é divinam ente planejado, e cada aco n tecim en to é
u m novo convite a confiar, o b ed ecer e regozijar-se no Senhor, sa­
b e n d o que todas as coisas c o n c o rre m para o nosso b e m espiritual
e e te rn o (R m 8.28). (P a c k e r , 1993, p. 3 3 )18

Essa afirmação imediatamente gera perguntas. Grandes perguntas.


Se é isso que as Escrituras ensinam sobre Deus, então por que deve­
ríamos rejeitar esse ensino? A providência divina é uma das doutrinas
mais reconfortantes de toda a Bíblia. Isso significa que nada que esteja
fora do plano de Deus para nossa vida pode acontecer conosco. E não
nos esqueçamos de Hebreus 1.3, que afirma que Jesus sustenta todas as
coisas pela palavra do seu poder.
Ele está no controle de tudo, e isso inclui todas as circunstâncias do
universo. Isso inclui as circunstâncias da vida de José... e da sua também.
Porém, o fato de Ele estar no controle de tudo levanta pelo menos
duas questões: Deus é o autor do mal? O nde ficam a minha vontade
e as minhas escolhas?
Então como se explica o mal? Essa é a prim eira questão que nos
vem à mente. O mal certamente aconteceu na vida de José. Ele não
tentou maquiar a verdade quando disse aos seus irmãos: Vós bem inten-
tastes mal contra mim (Gn 50.20a).
Se Deus está no controle de todos os aspectos da minha vida, e se o
mal me sobrevêm, então Deus não seria responsável pelo mal? Isso não o
caracterizaria como o autor do mal?
O falecido pastor e teólogo Dr. Martyn Lloyd-Jones fez algumas
considerações diretas sobre essa questão:

O grande p roblem a é o seguinte: se D eus realm ente governa e


con tro la todas as coisas, então qual é a Sua relação co m o pecado?
60 N ão foi por acaso... D eus está no controle de todas as circunstâncias

A ú n ica m aneira de resp o n d er a essa p erg u n ta é m e n cio n an d o


um a série de premissas ensinadas claram ente nas Escrituras. A p ri­
m eira delas é que todos os atos pecam inosos estão sob o controle
divino, o co rre n d o apenas pela perm issão de D eus e em c o n fo rm i­
dade com Seu suprem o p ropósito (G n 45.8).
A segunda é que D eus refreia e controla o pecado (SI 76.10).
A terceira é que D eus reverte o m al e m b e m (G n 50.20).
A ú ltim a é q u e D eu s n u n ca causa o pecado, n e m jam ais o aprova;
Ele apenas o p erm ite, dirige, refreia, lim ita e reverte. C ada indiví­
d u o é o ú n ico responsável p o r seu p ró p rio pecado (T g 1.13-15).
(L l o y d - J o n e s , 1996, p. 150)19

Em Provérbios 16.4 consta; O S E N H O R f e z toâas as coisas para os


seus próprios fin s e até ao ímpio, para o dia do mal.
Thomas Watson observou: “A sabedoria de Deus pode ser vista
no fato de que Ele usa o pecado dos homens para realizar Sua obra
sem, contudo, ter nele qualquer participação. O Senhor perm ite o
pecado, mas não o aprova” .
Deus poderia ter impedido que os irmãos de José praticassem o mal
contra ele, vendendo-o aos mercadores de escravos? E claro que sim! Em
um piscar de olhos. Mas Ele não fez isso. Seu plano era usar aquele mal
para promover um bem muito maior na vida de José e de seus irmãos.
N o entanto, naquele m om ento terrível, José se encontrava à bei­
ra do desespero absoluto. Sua situação aparentava ser completamente
irremediável.
U m hom em que possuía um profundo conhecim ento do mar
escreveu um poema sobre o desespero. Talvez você e eu jamais pas­
semos por isso, mas, se um dia você se encontrar em uma pequena
embarcação no meio de um mar imenso e revolto, poderá entender
por que uma situação dessas seria capaz de levar qualquer hom em são
à loucura. Em meio à escuridão, ao barulho ensurdecedor e à violên­
cia das ondas, qualquer pessoa é tomada pelo desespero, a menos que
conheça o Senhor.

A parta-te de m im , desespero!
M eu gracioso Senhor m e ouve.
Capítulo 3 61

Em bora o vento e as ondas golpeiem m eu barco,


Ele é quem o preserva e o guia,
M esmo quando tudo parece estrem ecer.
A tem pestade é a obra triunfal de Suas mãos.
Em bora Ele pareça fechar Seus olhos,
Nosso Deus jamais fechará Seu coração.
— P astor G eorge H erb ert

A REALIDADE DO MAL

O mal e o pecado são reais, e às vezes parecem dom inar tudo em nossa
vida. Mas isso não é verdade. Deus é maior do que eles. O mal jamais
poderá impedir que Seu plano seja cumprido. Deus é tão grande que
faz o mal se encaixar e cooperar com Seu propósito. O Pai é soberano,
porém o hom em é responsável por suas escolhas e decisões.
O que podemos dizer a respeito de Deus é que Ele está no con­
trole, e Sua vontade é maior do que qualquer outra. Ele não só está no
controle de tudo, como também de todos. Isso inclui mísseis antiaéreos,
caravanas de mercadores de escravos e jovens esposas atingidas por
raios em plena lua de mel.
Essa verdade não é fácil de ser digerida. Temos muita dificuldade
em aceitá-la. Algumas coisas estão além da nossa compreensão. Deus
tem motivos que prefere não revelar (Dt 29.29). Enquanto isso, tudo o
que podemos fazer é repetir a declaração de Jó: A inda que ele me mate,
nele esperarei (Jó 13.15a).
E fácil confiar [em Deus] em tempos de bênção e de prosperi­
dade. E difícil confiar em tempos de angústia e de dor. Mas somos
chamados a confiar em ambas as situações.

V on ta d es fortes

Seu filho de quatro anos tem vontade própria, mas isso não significa que
você o deixa controlar sua família. Alguns o permitem, porém sugiro
que parem imediatamente. Pais sábios não deixam que a vontade de
uma criança de quatro anos prevaleça e sobrepuje a da família inteira.
62 N ão foi por acaso... D eus está no controle de todas as circunstâncias

O Pai nos concedeu vontades. Todavia, Ele não deixou a direção


do universo por conta de nossas vontades e de nossos caprichos. Deus
tem controle sobre todas as circunstâncias que ocorrem em nossa vida.
Deus é Senhor porque está no controle de tudo. N o Salmo 24.1
vemos isso bem claro: D o S E N H O R ê a terra e a sua plenitude, o mundo
e aqueles que nele habitam.
Esse versículo não diz que a terra é do Senhor assim como a
m aior parte do que existe nela. Ele não diz que o m undo pertence
ao Senhor assim com o a m aioria de seus habitantes. A passagem
declara que Deus é o dono e Senhor de tudo. Também diz que Ele
reina sobre tudo.
Se voltarmos à doutrina da providência e examinarmos Provér­
bios 16.33 novamente, veremos que na Bíblia está explicitado que o
Senhor ordenou todas as coisas. Aliás, orámar significa estabelecer ou dispor
por ordem ou decreto. Então vamos esclarecer bem isso:
O Senhor é dono de tudo.
Ele reina sobre tudo.
Ele ordenou tudo.
Ele controla tudo.
Isso quer dizer que eu não deveria ter nenhum a dificuldade em
dorm ir esta noite.
José possuía esse entendimento, por isso foi capaz de dizer aos
seus irmãos: Vós bem intentastes mal contra mim, porém Deus o tornou em
bem, para fa ze r como se vê neste dia, para conservar em vida a um povo grande
(Gn 50.20).
Quando os irmãos de José o tiraram daquela cova e o venderam aos
mercadores de escravos midianitas, isso não resultou de um simples golpe
de sorte naquele dia, mas sim da operação do plano soberano de Deus.
O Senhor está no controle de todas as circunstâncias em sua vida,
e isso inclui acontecimentos, crimes e setas aleatórios.

A c o n t e c im e n t o s aleatórios

Já que Deus está no controle de todas as circunstâncias de nossa vida,


na verdade não existem acontecimentos aleatórios.
Capítulo 3 63

A palavra aleatória se refere à ocorrência de uma ação, uma escolha ou


um evento destituída de qualquer conexão, padrão, ou plano específico.
Isso jamais acontecerá com você. Por causa do plano e da provi­
dência de Deus, todas as circunstâncias e experiências de sua vida se
encaixam perfeitamente no padrão, no plano e no propósito do Se­
nhor. Todos os acontecimentos estão conectados pela Sua providência
e pelo Seu poder. Por isso, não existem acontecimentos aleatórios.
Tudo acontece por algum motivo. Mas, na maioria dos casos, esse m o­
tivo não lhe é revelado.
Ciro Acabe era um arremessador canhoto do time de beisebol
D etroit Tigers. Talvez nenhum outro hom em dos Estados Unidos ti­
vesse menos chances de tornar-se um jogador de beisebol profissional.
Q uando ele era pequeno, um trágico acidente com uma enfardadeira
de feno o deixara com uma perna de madeira, um olho de vidro e a
mão esquerda mutilada. Porém, entre 1913 e 1918, esse jovem excep­
cionalmente talentoso ganhou mais de 100 jogos com uma incrível
curveball11', que deixava os batedores aturdidos.
O que fazia Ciro Acabe arremessar uma curveball tão fenomenal
era o fato de ele ter apenas três dedos na mão esquerda. Isso perm i­
tia que bola fosse lançada com uma rotação impressionante. A queda
súbita ao aproximar-se do home plate tornava a bola praticamente im ­
possível de rebater.
O que arruinou sua carreira não foi a mão mutilada, mas a perna
de madeira. Depois de anos de esforço, a perna encurtada não era mais
capaz de suportar o peso do seu corpo após cada lançamento. Assim, o
acidente de sua infância finalmente levou ao fim sua carreira esportiva.
U m a história e tanto. Mas ela não é verdadeira. Eu a inventei, tirei
do nada porque queria apresentar dois sujeitos que realmente existi­
ram no Antigo Testamento. Ambos eram reis. U m deles se chamava
Ciro, e o outro, Acabe.
N enhum dos dois tinha uma curveball fenomenal, mas ambos são
excelentes ilustrações do fato de que nada acontece na vida de uma
pessoa por sorte ou por acidente. N enhum dos acontecimentos na

A rrem esso em q u e a bola se curva na direção do re b a te d o r o u cm direção oposta.


64 Não foi por acaso... D eus está no controle de todas as circunstâncias

vida desses dois reis foi aleatório, assim como não existem aconteci­
mentos aleatórios na sua.
Vamos começar com Ciro, que não era rei de Israel, mas sim da
Pérsia. Sua história é uma das mais incríveis na Bíblia. Mais de 100
anos antes do seu nascimento, Deus falou com ele por interm édio do
profeta Isaías, cham ando-o pelo nom e e revelando-lhe os Seus planos.
Em Isaías 44.28, o Senhor disse acerca de Ciro: E meu pastor e cumprirá
tudo o que me apraz.
Em outras palavras, Deus disse claramente: “Usarei um hom em
chamado Ciro para cum prir a minha vontade e executar o m eu pla­
n o ” . O problema foi que na época ninguém entendeu nada. As pes­
soas ficaram olhando-se, perguntando umas às outras: “ Ciro? Q uem
é Ciro? Vocês conhecem alguém com esse nome? Será que é aquele
sujeito que acaba de mudar-se para o bairro?”
E a razão por que as pessoas daquela época não sabiam nada sobre
Ciro era m uito simples: ele ainda não havia nascido. Seu pai ou seu avô
tampouco. Mas o mais impressionante de tudo foi o que Deus decla­
rou a seu respeito logo em seguida: quem d iz de Ciro: E meu pastor e
cumprirá tudo o que me apraz; dizendo também a Jerusalém: Sê edificada; e
ao templo: Funda-te (Is 44.28). Isso soava mais estranho ainda, uma vez
que, quando a profecia foi escrita, Jerusalém não precisava ser recons­
truída. A cidade estava de pé. E o templo não precisava de alicerces,
pois já possuía um bom.
Entretanto, não por muito tempo. A nação de Judá estava prestes
a cair e a ser destruída pelo rei Nabucodonosor, e muitos dos seus
cidadãos seriam levados cativos para a Babilônia. Jerusalém se tornaria
um m onte de ruínas fumegantes, sem que ficasse pedra sobre pedra.
O povo de Judá (que incluía Daniel e seus três amigos) perm ane­
ceria no exílio babilônico por 70 anos. Então os exércitos dos medos
e dos persas derrotariam a poderosa Babilônia. Depois de algum tem ­
po, um rei chamado Ciro teria uma ideia inovadora: perm itiria que
todos os judeus que estivessem dispostos retornassem à sua terra natal
e restabelecessem a capital em Jerusalém. Ele não só os deixaria voltar
para casa, como também os ajudaria a reconstruir a cidade e o templo.
Capítulo 3 65

E foi isso que aconteceu. Ciro, o rei da Pérsia, realizou um a gran­


de obra revelada por Deus (e registrada pelo profeta Isaías décadas
antes do nascimento desse rei).
Ciro não conhecia o Senhor (Is 45.1-5), mas sabia que Deus o
havia chamado para realizar um a grande obra (2 C r 36.22,23). Esse rei
pagão tinha absoluta certeza de que não havia nada de aleatório em
sua vida.
E você, também tem essa certeza?
O teólogo John Frame colocou isso em perspectiva para nós:

A o lo n g o dos séculos da história da redenção, tu d o proveio de


D eus. Foi Ele q u e m p lan ejo u e ex ecu tou tudo. Ele não som ente
d elim ito u a ação de Suas criaturas, mas fez tu d o acontecer. P o rtan ­
to, D eu s governa sobre to d o o curso da história hum ana. [...] M as
D eus não controla apenas o curso da natureza e dos grandes a co n ­
tecim entos da história. C o m o vim os, E le tam b ém está interessa­
do nos detalhes. As Escrituras nos ensinam que o S en h o r está no
contro le de cada vida. C o m o p o d e ria ser diferente? Ele controla a
história das nações e da salvação h u m ana. Estas, p o r sua vez, gover­
n am e m gran d e p arte os aco n tecim en tos de nossa vida cotidiana.
P o r o u tro lado, se D eu s não controlasse individualm ente u m vasto
n ú m e ro de pessoas, seria difícil im ag in ar co m o Ele p o d eria dirigir
os grandes acon tecim en to s da história.
N a verdade, as Escrituras ensinam explicitam ente que o S enhor
controla ind iv id u alm en te o curso de nossa vida. Esse controle co ­
m eça antes m esm o de nascerm os. D eu s disse a Jerem ias: A n te s que
eu te form asse no ventre, eu te conheci; e, antes que saísses da madre, te
santifiquei e às nações te dei por profeta (Jr 1.5). ( F r a m e , 2 0 0 2 ,p. 59)20

Tudo foi planejado antes do nosso nascimento. Essa verdade pode


ser aplicada à vida de José, à de Jeremias, à de Ciro e também à sua.
N ada do que acontece em sua vida é aleatório. Tudo faz parte do plano
de Deus.
E ninguém m elhor para ilustrar esse fato do que Acabe — consi­
derado o rei mais iníquo na história de Israel.
66 Não foi por acaso... D eus está no controle de todas as circunstâncias

U m crim e a le a tó r io

A história do rei Acabe nos proporciona uma ilustração sem paralelo


da providência de Deus. A m orte do rei, prenunciada pelo profeta
Elias, demonstra mais uma vez o fato de que mesmo eventos aparen­
tem ente aleatórios fazem parte do plano do Senhor.
Então vamos voltar um pouco na história e considerar a vida de
Acabe, um dos personagens mais diabólicos da Bíblia. N um a longa
lista de reis iníquos de Israel, Acabe se distinguia com o o pior deles. A
Bíblia relata que A cabe/es: muito mais para irritar ao S E N H O R , Deus de
Israel, do que todos os reis de Israel que foram antes dele (1 R s 16.33). Não
consigo imaginar uma descrição mais alarmante que essa. Se algum
dia você encontrar palavras assim no seu currículo, sugiro que se arre­
penda imediatamentel
Acabe viveu em rebeldia contra o Deus de Israel todos os dias de
sua vida. Ele era casado com uma estrangeira chamada Jezabel, uma
das mulheres mais perversas em toda a história. Acabe e Jezabel acha­
vam que o fato de governarem Israel lhes dava o direito de fazerem o
que bem entendessem.
Em vez de servirem ao Senhor, Jezabel levou Acabe e toda a nação
[israelita] a adorarem Baal. Por isso Deus mandou Elias confrontá-los,
como está escrito em 1 Reis 17. Elias lhes disse que, porque eles tinham
orado a Baal pedindo que enviasse a chuva, o próprio Deus não deixaria
que uma gota de água caísse na terra durante três anos e meio.
Acabe e Jezabel odiavam Elias, assim como odiavam o Senhor. Se
você ler a narrativa bíblica, verá que aquele era um casal cruel.
Certa vez, como Acabe havia cobiçado a vinha de um israelita cha­
mado Nabote, Jezabel arranjou testemunhas que fizessem falsas acusa­
ções contra esse hom em inocente, levando-o a ser apedrejado [para ficar
com a propriedade dele]. Quando alguém pensa estar acima da lei, acha
que pode sair impune de qualquer coisa, até mesmo de um assassinato.
Acabe e Jezabel não achavam que precisavam prestar contas a ninguém,
nem ao Senhor.
Se você vivesse em Israel no tem po do rei Acabe e fosse tem ente
a Deus, não acharia que a situação estava “fora de controle” ? Por que
Capítulo 3 67

o Senhor perm itiria que um casal como esse ocupasse o trono da


nação [escolhida] ?
João Calvino fez a seguinte observação: “ Q uando Deus quer ju l­
gar uma nação, ele lhe dá governantes iníquos” . Em outras palavras,
mesmo quando as coisas parecem estar fora de controle, tudo está
correndo de acordo com o plano de Deus.
O Senhor m andou o Seu servo Elias entregar um a mensagem a
Acabe:

Então, veio a palavra do S E N H O R a Elias, o tisbita, dizendo: Levanta-


-te, desce para encontrar-te com Acabe, rei de Israel, que está em Samaria;
eis que está na vinha de Nabote, aonde tem descido para a possuir. E
falar-lhe-ás, dizendo: A ssim d iz o S E N H O R : Porventura, não matas te e
tomaste a herança? Falar-lhe-ás mais, dizendo: A ssim d iz o S E N H O R :
N o lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabote, os cães lamberão
o teu sangue, o teu mesmo.
1 R eis 21 .1 7 -1 9

N ão deixe que a providência de Deus em todas as circunstâncias


dessa história lhe passe despercebida. Elias disse a Acabe que o sangue
deste seria lambido por cães no mesmo lugar em que Jezabel havia
matado Nabote. Somente Deus poderia prever o que aconteceria, e
depois realizar o que foi predito. E preciso muito poder para cum prir
uma profecia dessas.Tal feito demanda um controle absoluto de todas
as circunstâncias. Mas isso não é problema para o Senhor.
Aliás, Deus ainda usou Elias para transmitir uma mensagem a
Jezabel no versículo 23: o sangue dela também seria lambido por cães
ju n to ao antemuro de sua casa.
Essa profecia se cum priu em detalhes, como consta em 2 Reis
9.30-37. Mais uma vez, Deus mostrou estar no controle de todas as
circunstâncias. Ele não faz ameaças vãs nem promessas vazias. O “cri­
me aleatório” do rei e da rainha estava prestes a ser julgado de m odo
bastante específico por um grande Deus.
68 N ão foi por acaso... D eus está no controle de todas as circunstâncias

U m a seta aleatória

Agora voltemos a Acabe. Em bora no fundo o rei soubesse que o Se­


nhor era Deus, simplesmente se recusava a obedecer e a servir a Ele.
Acabe creu na palavra profética transmitida po r Elias. E, por algum
tempo, hum ilhou-se diante do Senhor (1 R s 21.27-29). Mas isso foi
mais uma atitude fingida do que um quebrantam ento genuíno diante
de Deus, pois não vinha do coração.
Então, em vez de arrepender-se realmente e voltar o coração para
Deus, Acabe retom ou depressa seus caminhos enganosos. Ele conven­
ceu Josafá (que nomes lindos, não?), o rei de Judá, a juntar-se a ele em
combate (1 R s 22.4). D e um m odo geral, pode-se dizer que Josafá
era um bom rei. Entretanto, sendo um bom rei ou não, essa foi uma
decisão estúpida.
E a coisa ainda ficou pior! Acabe sugeriu que Josafá saísse à peleja
com suas vestes reais, enquanto ele iria disfarçado. Acabe deve ter ima­
ginado que o inimigo tentaria matar ambos os reis, e, se pudesse pintar
um alvo nas costas de Josafá e camuflar a si mesmo, ele estaria seguro.
Por ingenuidade, Josafá concordou com isso.
Acabe, o rei iníquo de Israel, pensou que poderia driblar a provi­
dência de Deus por meio da esperteza. Porém, descobriu que isso não
era possível.

A ssim , o rei de Israel e Josafá, rei de Judá, subiram a Ram ote-G ileade.
E disse o rei de Israel a Josafá: E u me disfarçarei e entrarei na peleja; tu,
porém, veste as tuas vestes. Disfarçou-se, pois, o rei de Israel e entrou na p e ­
leja. E o rei da Síria deu ordem aos chefes dos carros, que eram trinta e dois,
dizendo: N ão pelejareis nem contra pequeno nem contra grande, mas só
contra o rei de Israel. Sucedeu, pois, que, vendo os chefes dos carros Josafá,
disseram eles: Certamente, este é o rei de Israel. E chegaram-se a ele, para
pelejar com ele; porém Josafá gritou. E sucedeu que, vendo os chefes dos
carros que não era o rei de Israel, deixaram de segui-lo. Então, um homem
entesou o arco, na sua simplicidade, eferiu o rei de Israel por entre as fivelas
e as couraças; então, ele disse ao seu carreteiro: Vira a tua mão e tira-me do
exército, porque estou gravemente ferido. E a peleja fo i crescendo naquele
Capítulo 3 69

dia, e o rei parou no carro defronte dos siros; porém ele morreu à tarde; e o
sangue da ferida corria no fu n d o do carro. E , depois do sol posto, passou um
pregão pelo exército, dizendo: Cada um para a sua cidade, e cada um para
a sua terra! E morreu o rei, e o levaram a Samaria e sepultaram o rei em
Samaria. E , lavando-se o carro no tanque de Samaria, os cães lamberam
o seu sangue (ora, as prostitutas se lavavam ali), conforme a palavra que o
S E N H O R tinha dito.
1 Reis 2 2 .29 -38

Você notou como Acabe foi ferido? U m hom em entesou seu


arco e atirou a esmo, e a flecha de algum m odo conseguiu encontrar
o espaço milim étrico entre a couraça e a armadura abdominal que
Acabe estava usando.
Essa história é clássica. Acabe não somente estava disfarçado, mas
também havia vestido sua armadura. Ele deve ter pensado: “Por que
me seguiriam se eu convenci Josafá a vestir as vestes reais?”
Porém, em todo caso, como uma medida adicional de seguran­
ça, Acabe colocou sua armadura completa, inclusive a couraça. E ele
provavelmente estava viajando numa carruagem com características
semelhantes a um H um m er (veículo dos Estados Unidos usado na
Guerra do Golfo que, por suas especificações, comportava-se como
um tanque).21
Contudo, um soldado do exército inimigo preparou seu arco e
atirou a esmo. Ele não tinha um alvo nem um plano definido. “Atirei
uma flecha ao ar e não sei onde ela caiu...” Ele não estava tentan­
do atingir Acabe. Simplesmente preparou o arco e lançou a flecha. E
o que aconteceu a essa flecha foi absolutamente incrível. D e algum
m odo ela conseguiu encontrar o espaço minúsculo e desprotegido
entre a couraça e a armadura abdominal que Acabe havia vestido com
tanto cuidado.
Naquela noite, os cães lamberam o sangue de Acabe no lugar
exato onde haviam lambido o sangue de Nabote. Assim, a profecia de
Elias se cum priu em detalhes. Somente um Deus que está no controle
de todas as circunstâncias pode realizar uma proeza dessas.
70 N ão foi por acaso... D eus está no controle de todas as circunstâncias

E m Hebreus 9.27 está escrito que aos homens está ordenado morre
rem uma vez, vindo, depois disso, o ju ízo . O tem po determ inado de Acab<
havia chegado.
Todos nós temos nosso tem po determinado. O m om ento da su;
m orte e da m inha foi estabelecido antes da fundação do mundo.

O s teus olhos viram o meu corpo ainda informe, e no teu livro todas esta
coisas foram escritas, as quais iam sendo dia a dia formadas, quando ner
ainda uma delas havia.
S a l m o 139.1

Antes que a terra girasse pela primeira vez em torno do seu pró
prio eixo, Deus já havia determinado o m om ento exato da sua con
cepção, do seu nascimento e da sua morte. Esse princípio é ensinad(
com clareza e m jó 14.1,5:

O homem, nascido da mulher, é de bem poucos dias e cheio de inquietação


Visto que os seus dias estão determinados, contigo está o número dos seu
meses; e tu lhe puseste limites, e não passará além deles.

E o que isso significa? Q ue somos feitura sua, criados em Crist


Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nela
(Ef 2.10). Deus tem uma missão para você — assim como tinha um
missão para Ciro e José.
Isso quer dizer que você não pode morrer até que os propósitos qu
Deus tem para você sejam cumpridos na terra. Por outro lado, somente un
Deus que esteja no controle de todas as circunstâncias pode guarda
sua vida no meio do fogo cruzado.

Ú ltim a s considerações

Terminemos este capítulo considerando mais um a vez a vida de Josc


A intenção original dos seus irmãos não era vendê-lo, mas sim matá
-lo (Gn 37.18-28). Entretanto, eles não fizeram isso. Deus tinha un
propósito para a vida de José, e, antes desse propósito se cumprir, el
não poderia morrer.
Capítulo 3 71

Q uando José olhou em retrocesso para os eventos de sua vida,


lembrou-se de que seus irmãos queriam matá-lo antes de decidirem
vendê-lo. Entretanto, o fato de ele não ter sido m orto tem uma expli­
cação bem simples.
Deus tinha uma missão para José.
Deus tinha uma missão para George Bush.
Os milhares de disparos contra George Bush não conseguiram
atingi-lo. Os irmãos ciumentos de José não conseguiram matá-lo. Em
cada um desses casos, o Senhor interveio para m anter esses homens vi­
vos. Somente um Deus que está no controle de todas as circunstâncias
tem poder para fazer isso.
Seus inimigos podem feri-lo, podem falar mal de você, porém,
como George W hitefield costumava dizer: “Eu não posso m orrer até
que m inha missão na terra tenha sido cum prida” .
Você também não.
C a p ít u l o 4

Pegue este trabalho e engula...


Deus está no controle de todo o seu trabalho

A dureza de D eu s é mais branda q u e a bran d u ra dos hom ens.


— C. S. L e w is

Existe uma velha música country chamada Take This Job and Shove
It [Pegue este trabalho e engula]. Mas há outra opção: pegue o seu
trabalho e submeta-o ao plano providencial e estranho que Deus está
executando em sua vida.
Em que você trabalha atualmente? Você está satisfeito com isso?
O u você sente que está flutuando a esmo, sem nenhum a carreira de­
finida? Alguns empregos nos agradam; outros, não. M as todos eles vêm
do Senhor.
O Salmo 37.23a deixa isso bem claro: Os passos de um homem bom
são confirmados pelo Senhor. Deus está no controle da sua jornada e do
seu destino neste exato momento. Ele está no controle do seu trabalho.
O próprio Deus nos escala para ocuparmos nosso posto. Q uando
o Senhor lhe dá um trabalho, isso não significa que você ficará nele
para sempre. Seu emprego pode m udar dentro de um ano, um mês ou
mesmo uma semana. Ele pode mudar amanhã. N o entanto, por ora
você está nele.
74 Pegue este trabalho e engula... D eus está no controle de todo o seu trabalho

Talvez seu trabalho seja entediante, ou quem sabe você tenha


capacidade para ocupar1uma posição melhor, ou não se sinta suficien­
tem ente desafiado ou valorizado, ou se sinta um peixe fora d’água. Isso
não significa que seu emprego seja uma perda de tempo. O Senhor
não desperdiça nossa vida. Ele sabe exatamente o que está fazendo
quando nos dá nosso emprego.
Então digamos que no m om ento você não esteja satisfeito com
o seu trabalho. Você não sabe dizer exatamente como foi parar nesse
emprego e certamente não deseja perm anecer nele. Mas não fique
aborrecido ou desanimado a ponto de não perceber um fato muito
importante: o mais provável é que esse não seja seu emprego definiti­
vo. Contudo, de algum modo, ele o está preparando para a obra que o
Senhor tem para você.
N o plano de Deus, nenhum trabalho é uma perda de tempo. N o
plano de Deus, todo trabalho é uma preparação.

E scravo na casa grande

José agora era um escravo na casa de Potifar. Mas o Senhor não havia
se esquecido dele, embora José fosse obrigado a realizar essa tarefa
nova e indesejável. Pelo contrário, seu trabalho como escravo no Egito
tinha um papel crucial na missão que Deus lhe reservara.
E B. M eyer descreveu como José deve ter se sentido ao chegar ao
Egito para uma vida de escravidão.

José foi p o sto à venda e m algum g ran d e m ercad o de escravos


j u n to a centenas de o u tro s in d iv íd u o s q u e haviam sido raptados
o u capturados à força nos países circunvizinhos. E le foi c o m ­
p rad o p o r Potifar, o capitão da guarda, q u e provavelm ente era o
chefe da guarda real na c o rte de faraó [...] P o tifar era u m lorde,
u m m e m b ro da orgu lh o sa aristocracia egípcia, u m fu n c io n á rio
de alto escalão q u e u su fru ía do favor do rei. Ele c o m certeza v i­
via n u m palácio esplêndido, c o b e rto de hieróglifos e rep leto de
escravos. O jo v e m cativo Qosé) deve te r tre m id o ao passar pela
avenida ladeada de pilastras, ao atravessar os p o rtõ e s e m fo rm a de
Capítulo 4 75

esfinges, ao adentrar os recessos do vasto palácio egípcio onde


todos falavam uma língua desconhecida e lhe pareciam tão estra­
nhos. (M eyer, 1981, p. 115)22

Se você dissesse a José enquanto ele entrava por aqueles portões


que um dia ele seria encarregado daquele vasto palácio e de todas as
suas operações Jo sé responderia: “Você está fora de si” . Mas era exata­
m ente isso que Deus — o Deus que controla tudo — tinha em m ente
para ele. N a concepção de José, ele havia chegado ao fundo do poço.
R ecentem ente li a biografia de outro hom em que, num a idade
um pouco mais avançada, havia chegado ao fundo do poço. C om 51
anos, ele se considerava um fracasso absoluto, virtualmente sem futuro
nenhum.
Seu nom e era D w ight Eisenhower, e ele mal imaginava o que lhe
estava reservado. Aos 51 anos, não podia enxergar nada disso. Stephen
Ambrose escreveu sobre a vida de Eisenhower, o supremo comandan­
te das forças aliadas na Segunda Guerra M undial e o 34° presidente
dos Estados Unidos:

E isen h o w er foi u m dos líderes que mais se destacaram n o m u n d o


ocidental n o século 20. C o m o soldado, ele era profissionalm ente
co m p eten te, c o n h e c e d o r da história da guerra assim com o de es­
tratégias, táticas e arm am en to s m o d ern o s, u m h o m e m decidido,
disciplinado, corajoso, dedicado e q u e rid o p o r seus com panheiros,
superiores e subordinados.
C o m o presidente, ele alcançou e m anteve a paz na C oréia, u m
estadista q u e co n d u ziu o m u n d o livre e m segurança du ran te um a
das décadas mais perigosas da G u e rra Fria, u m p o lítico que cap­
tu ro u e m anteve a confiança do povo am ericano. Ele foi o único
p residente do século 20 q u e conseguiu governar durante oito anos
de paz e prosperidade. (Ambrose, 1990, p. 11,12)23

Pois é, aos 51 anos, Eisenhower não podia enxergar nenhum sinal


de seu futuro sucesso. Ambrose resumiu a situação adversa em que
Eisenhower se encontrava:
Pegue este trabalho e engula... D eus está no controle de todo o seu trabalho

Ele havia devotado sua vida e seus talentos ao exército. Ele tinha
51 anos de idade; so m en te o advento da guerra o havia salvado da
ap osentadoria forçada e de u m a vida na p en ú ria, sem econom ias,
sustentado apenas p o r u m a m odesta pensão. E m b o ra ele tivesse
im pressionado todas as pessoas para q u em havia trabalhado, ele
n ão tin h a n e n h u m a habilidade especial n e m q u alquer grande feito
q u e pudesse co n tar aos netos c o m orgulho. Se ele tivesse m o rrid o
e m 1941, n u m a idade em que a m aio ria dos grandes ho m en s já
realizou suas tarefas m o n u m en tais, ele h o je seria co m pletam ente
desconhecido. (A m bro se, 1990, p. 59)24

O Senhor tinha planos m uito maiores para D w ight Eisenhower


do que ele poderia ter imaginado. E o mesmo pode ser dito de José,
quando passou a viver como escravo na mansão de Potifar. José havia
chegado ao fundo do poço, mas na m ente de Deus seu trabalho como
escravo era apenas o trampolim que o levaria à sua próxim a tarefa.
Em bora o jovem José não soubesse disso, ele tinha um encontro mar­
cado com o sucesso. E qual era o trabalho que o Senhor lhe reservara?
U m dia, num futuro não tão distante, José governaria e adminis­
traria o poderoso im pério egípcio num a época de prosperidade m o­
numental, e prepararia a nação para uma grande crise.
Será que José sabia disso? Não. Ele nunca tinha lido o livro de
Gênesis. N ão conhecia a Bíblia, porque esta ainda não existia. Então
como poderia ser treinado para governar uma grande nação? Ele te­
ria de aprender a administrar uma mansão gigantesca — a mansão de
Potifar. C om o Potifar era um oficial de alto escalão que fazia parte da
corte do faraó, não vivia em uma casa comum. Ele vivia num grande
palácio localizado numa propriedade descomunal cuja manutenção
demandava uma complexa infraestrutura de servos e empregados.
Esse foi o prim eiro período que José cursou na “faculdade de
administração de reinos” . N o segundo período, ele aprenderia como
dirigir uma grande prisão. Então, estaria pronto para governar uma
grande nação.
Consideremos a seguinte progressão: uma grande propriedade;
uma grande prisão; um a grande nação. Não parece u m bom plano?
Capítulo 4 77

A conclusão disso tudo foi que nenhum dos trabalhos realizados por
José fo i desperdiçado. Cada um era parte de um plano que ele não podia
ver. E o mesmo se aplica a você. Deus está no controle de tudo. Por­
tanto, três observações relativas às nossas tarefas podem ajudar-nos a
entender como funciona a providência de Deus:
\

A s vezes Deus coloca você num trabalho que não tem futuro.
A s vezes Deus lhe dá uma tarefa dentro de outra tarefa.
A s vezes Deus lhe nega a posição que você deseja.

U m trabalho s em futuro

José tinha um novo trabalho. Ele agora era um escravo. N ão era isso
que queria, nem o que esperava, m uito menos o que sonhava fazer
quando era apenas um jovem na casa de seu pai. Mas era um fato. Ele
achava que estava condenado a trabalhar como escravo pelo resto da
vida. Em Gênesis 39.1 encontramos as seguintes informações:

E José fo i levado ao Egito, e Potifar, eunuco de Faraó, capitão da guarda,


varão egípcio, comprou-o da mão dos ismaelitas que o tinham levado lá.

Admitamos: às vezes tomamos caminhos que nos levam a um


beco sem saída. Achamos que estamos seguindo uma estrela e acaba­
mos num valão, num a favela ou numa viela sombria.
Assim como alguns lugares, certos trabalhos parecem um beco
sem saída. O problema de um beco sem saída é que você não tem para
onde ir. A situação de José era exatamente essa — ele era um escravo
e estava fadado a viver o restante de sua vida como tal. Escravos não
têm muitas opções. Aliás, não têm nenhuma.
Talvez você esteja num beco sem saída ou num trabalho sem
futuro. C om o foi parar aí? N a verdade, o Senhor o colocou nessa si­
tuação. E Ele fez isso por uma razão. “Q ue razão?” , você se pergunta.
Por ora, essa resposta lhe está oculta. Só Deus conhece esse segredo
(Dt 29.29).
Q uando as pessoas se encontram em situações ou trabalhos assim,
norm alm ente acham que ficarão neles para sempre. Mas isso não é
78 Pegue este trabalho e engula... Deus está no controle de todo o seu trabalho

verdade. O fato é que essa é uma fase preparatória, e situações que


aparentam ser um beco sem saída cum prem um papel fundamental
naquilo que Deus planeja fazer em sua vida. O Senhor usa trabalhos
desse tipo para preparar você para aquilo que Ele tem planejado para
o seu futuro. Muitas vezes, porém, quando nossas circunstâncias são
obscuras e desanimadoras, pensamos que não temos futuro.
Foi isso que aconteceu a D w ight Eisenhower. Gostaria de falar
mais sobre a vida dele, já que tão pouco de sua história é conhecido.
Contudo, ju n to com W inston Churchill, ele foi um dos principais
líderes que atuaram na Segunda Guerra Mundial.
Eisenhower foi o General dos Generais — mais influente do que
Patton, M ontgomery, Bradford, ou qualquer um deles. Foi ele quem
desenvolveu a estratégia do Dia D. Entretanto, comparativamente fa­
lando, m uito pouco foi escrito sobre a sua vida. Eu mesmo possuo
inúmeras biografias de Churchill, mas apenas duas de Eisenhower, em ­
bora sua história seja quase tão extraordinária quanto a de Churchill.
Por que, aos 51 anos de idade, Eisenhower perguntava a si mesmo
se sua vida tinha algum futuro?

E le servira o exército desde 1911. N o s últim os 29 anos, ele havia


sido co n tin u am en te elogiado p o r seus superiores e ocupava o pos­
to mais elevado para a sua idade e categoria. Ele havia freqüenta­
do as mais prestigiosas faculdades de pós-graduação, fo rm ando-se
e m p rim eiro lugar n o United States A rm y C om m and and General
S ta ff College [Faculdade de C o m a n d o e Assessoria do E xérci­
to dos Estados U nidos], M as n e n h u m a dessas realizações o havia
ajudado a avançar e m sua carreira m ilitar [...] E m b o ra ele fosse
u m oficial exem plar e cum prisse c o m perfeição todos os seus de-
veres, as p ro m o çõ es eram governadas estritam ente pela regra da
senioridade.
C erta ocasião, E isenhow er disse ao seu filho Jo h n que, no m u n ­
do dos negócios, u m indivíduo podia chegar até on d e seu caráter,
habilidades e am bições honrosas o pudessem levar. M as no exército,
as coisas funcionavam de m o d o diferente. (A m b r o s e , 1990, p. 53)25
Capítulo 4 79

A senioridade prevalecia em todas as promoções até a patente


de coronel, mas, em 16 anos, Eisenhower havia sido promovido ape­
nas uma vez, e não passava de um major. C om a sua idade, ele não
via nenhum meio de tornar-se coronel. E, mesmo que o conseguisse,
estaria tão próxim o à idade da aposentadoria compulsória que jamais
chegaria ao posto de general.
Ele era um líder brilhante e talentoso, um hom em repleto de
energia e movido por um ardente desejo de fazer algo im portante em
sua vida. Porém, estava empacado. Por isso se sentia desencorajado, no
fundo do poço.
N o começo da década de 1930, o grande general Douglas
M acA rthur declarou acerca dele: “Eisenhower é o m elhor oficial do
Exército” ( A m b r o s e , 1990, p. 44)26.
M acArthur disse isso quando Eisenhower era capitão. N o entan­
to, por mais que ele se esforçasse, “o m elhor oficial do Exército” não
conseguia avançar em sua carreira.
M acA rthur não fez essa declaração para lisonjear Eisenhower. Ele
realmente acreditava nisso. M acA rthur o havia apontado como chefe
do Estado-M aior em 1929 e sabia do que Eisenhower era capaz. Essa
era uma das razões por que ele não podia avançar: M acA rthur não
abria mão dele.
Então, por dez anos, Eisenhower trabalhou sob a sombra de Douglas
M acArthur, um general que tinha um ego descomunal. Eisenhower
queria trabalhar num posto onde pudesse ser mais ativo, mas todas as
vezes que pedia uma transferência M acA rthur se negava a atender ao
pedido. Não importava o que ele tentasse fazer, seu crescimento pro­
fissional parecia estar fora de seu alcance. Eisenhower m orria de tédio
realizando tarefas insignificantes para o general. Todavia, não conse­
guia uma oportunidade de entrar em ação e mostrar sua capacidade
de liderança.
MacArthur chegou a admitir o fato de que estava detendo a carreira
de Eisenhower numa carta de recomendação que lhe enviou em 1935:

A quantidade de vezes em que chefes de diversos dos principais se­


tores do exército m e requisitaram especificamente os seus serviços
80 Pegue este trabalho e engula... D eus está no controle de todo o seu trabalho

constituem um a prova convincente da sua reputação com o u m sol­


dado extraordinário. N ão posso dizer mais nada a não ser que essa
reputação coincide exatam ente co m a m in h a opinião sobre o seu
desem penho. (A m b r o s e , 1990, p. 48)27

Eisenhower trabalhou sob a supervisão de M acA rthur por dez


anos, sendo os cinco últimos nas Filipinas. Em seu íntimo, sentia que
estava num beco sem saída.
O trabalho de Eisenhower, como o de José, não tinha futuro. E
talvez o seu também não tenha.

N e n h u m beco s e m s a íd a é p e r m a n e n t e

Todo beco sem saída e todo trabalho sem futuro têm um começo,
um m eio e um fim. Deus estabeleceu um lim ite ao redor do seu
beco sem saída. Ele quer que você aprenda lições aí que não podem
ser aprendidas em nenhum outro lugar. Seu beco sem saída provavel­
m ente incluirá provas no m eio do período e um a prova final, assim
como alguns testes no m eio do caminho. Deus já determ inou seu
calendário escolar. O período tem um com eço e um fim, mas você
não conhece essas datas.
Q uanto mais tem po você passa nesse beco sem saída, mais se con­
vence de que ficará nele para sempre.Você começa a pensar que não
tem escapatória. Todavia, no tem po certo, a saída aparecerá.
Tenho um amigo responsável pelo conteúdo bíblico e editorial
de inúmeros livros cristãos — obras publicadas em diversas línguas e
distribuídas pelo m undo todo. Ele supervisiona um grande número de
autores, tom a decisões importantes sobre o conteúdo bíblico e dou­
trinário desses livros. Seu trabalho consiste em certificar-se de que a
verdade é apresentada de forma equilibrada. Ele exerce um a função
crucial, já que suas decisões afetam potencialm ente milhões de pessoas.
Era um dos melhores alunos no seminário, encarando seu curso
com extrema seriedade. Tendo se formado com menção honrosa, es­
perava que Deus abençoasse seu ministério. Mas, depois de pastorear
uma igreja por apenas alguns anos, foi afastado do posto. Arrasado,
m eu amigo começou a buscar outra posição ministerial.
Capítulo 4 81

N o entanto, por mais que ele procurasse, nada aparecia. Por três
anos, o único trabalho que conseguiu arranjar foi o de entregador de
jornais. E só. Todos os dias acordava às quatro da manhã e saía para
entregar jornais. Aquele trabalho não tinha futuro. Às vezes ele achava
que ficaria ali para sempre; achava que Deus tinha se esquecido dele.
Q uando m eu amigo estava entregando jornais, sentia-se um fra­
cassado. Mas o Senhor o acompanhava, e ele estava prestes a tornar-se
um hom em bem-sucedido.
Ao encontrar-se num beco sem saída, saiba que não está sozinho.
Você pode achar que está, mas não está. José era um escravo num a na­
ção estrangeira cuja cultura e língua lhe eram absolutamente estranhas.
Ele não conhecia ninguém e estava a centenas de quilômetros de seus
amigos e de sua família. Porém, a Bíblia deixa bem claro que José não
estava sozinho. Em Gênesis 39.2 é declarada uma verdade significativa:
E o Senhor estava com José.
O contexto dessa declaração se encontra na seguinte passagem:

E José fo i levado ao Egito, e Potifar, eunuco de Faraó, capitão da guarda,


varão egípcio, comprou-o da mão dos ismaelitas que o tinham levado lá.
E o Senhor estava com José, e fo í varão próspero; e estava na casa de seu
senhor egípcio. Vendo, pois, o seu senhor que o S E N H O R estava com ele e
que tudo o que ele fa z ia o S E N H O R prosperava em sua mão, José achou
graça a seus olhos e servia-o; e ele o pôs sobre a sua casa e entregou na sua
mão tudo o que tinha. E aconteceu que, desde que o pusera sobre a sua
casa e sobre tudo o que tinha, o S E N H O R abençoou a casa do egípcio por
amor de José; e a bênção do S E N H O R f o i sobre tudo o que tinha, na casa
e no campo. E deixou tudo o que tinha na mão de José, de maneira que de
nada sabia do que estava com ele, a não ser do pão que comia. E José era
form oso de aparência e form oso à vista.
G ê n e s is 3 9 .1 -6

E o Senhor estava com José, e fo i varão próspero. A rigor, a declaração


é absurda. Escravos não prosperam, não fazem amigos nem influen­
ciam pessoas. Mas foi isso que aconteceu com José. Ele prosperou por
82 Pegue este trabalho e engula... D eus está no controle de todo o seu trabalho

uma única razão: o Senhor era com ele. E esse fato era tão claro que
até mesmo Potifar, um político egípcio durão, podia enxergá-lo.
Talvez inicialmente o trabalho de José tenha sido o pior dos pio­
res. Ainda assim, o Senhor estava com ele. E o fato de o Senhor estar
com você muda tudo.Todas as coisas se tornam possíveis.
Se o Senhor está com você — independente do beco sem saída
em que você se encontre — , afinal tudo ficará bem. Pode ser que suas
circunstâncias não sejam favoráveis agora, mas um dia todas as coisas
contribuirão juntam ente para o seu bem.
C om o tempo, Potifar ficou tão impressionado que entregou a
José a administração de toda a sua casa. José cuidava de tudo para ele
— assim como Eisenhower fazia tudo para M acArthur. A única coisa
que Potifar precisava fazer era decidir se queria com er “cheeseburger”
ou “lasanha” no jantar.
José havia se saído m uito bem. Ele prosperou num trabalho sem
futuro porque o Senhor estava com ele. Todavia, essa história fala de
algo maior do que o sucesso aparente.

U m a tarefa d en tr o de ou tr a tarefa

N o texto não consta que o Senhor era com José e que este prosperou
instantaneamente, mas sim que José se tornou próspero. Em outras pala­
vras, isso não aconteceu em 24 horas. Deus precisou submeter José a
um processo essencial. O Senhor costuma trabalhar ao mesmo tempo
em diversas áreas de nossa vida. Ele tem propósitos múltiplos que nós
não conseguimos enxergar. Por isso às vezes Ele nos dá um a tarefa
dentro de outra tarefa.
A prim eira tarefa de José era tornar-se um escravo.
A segunda era aprender a perdoar aqueles que o haviam vendido.
Creio que seria seguro afirmar que a prim eira tarefa foi mais fácil que
a segunda. Q uando se é profundamente ferido por alguém, nada é
mais difícil do que aprender a perdoar.
Com o vimos, o Senhor abençoou José com o sucesso aparente. Po­
deríamos dizer que o sucesso de José era óbvio, claro, visível. Mas havia
outro tipo de sucesso que ele precisava desenvolver: o sucesso interno.
Capítulo 4 83

Para que isso acontecesse, José teria de passar por um processo, e


isso não se deu da noite para o dia. N ão estamos falando de semanas
nem de meses. Esse processo levou anos. O texto bíblico explicita
isso? Não. Contudo, se alguém tentasse matá-lo e depois o vendesse
como escravo, você conseguiria perdoar essa pessoa de coração e dar
a volta por cima num fim de semana? É claro que não. José também
não conseguiu.
N o entanto, enfim ele deu a volta por cima. Como? D escobrindo que
seu grande Deus estava no controle do seu passado, do seu presente e do
seu futuro. Em algum mom ento, José decidiu entregar toda a sua vida
a Deus. Alguém o havia prejudicado no passado? Sim. Alguém tentaria
prejudicá-lo de novo no futuro? Provavelmente.
Mas, independente do mal que nos façam — no passado, no pre­
sente ou no futuro — , nosso Deus transforma tudo isso em bem. Essa
é uma verdade tremenda que nos capacita a perdoar.
Você não precisa tornar-se o m elhor amigo da pessoa que ten­
tou destruí-lo, mas também não precisa odiá-la. Q uando você perdoa,
consegue orar por quem o m agoou e pedir a Deus que abençoe a vida
dele.
Essa é uma lição que precisamos aprender continuamente. Por
mais difícil que seja, perdoar é m uito m elhor do que ficar amargurado.
Então, m eu conselho é que você fure o próprio braço, sugue o veneno
da amargura, cuspa-o no chão e pise bem nele antes que ele o mate.
Então creia que o Senhor tornará a sua vida doce — do jeito dele, no
tem po dele. Estou falando de uma vida tão doce quanto uma xícara
de mate adoçada com quatro xícaras de açúcar. Porém, antes de expe­
rim entar essa doçura, você precisa livrar-se do veneno.
Jesus perdoou você. N enhum a razão no m undo justifica sua re­
cusa em perdoar alguém. N ão estou dizendo que é fácil. Entretanto,
o Senhor deixou bem claro que o perdão é necessário. Suportando-vos
uns aos outros e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra
outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fa ze i vós também (Cl 3.13).
Johannes G utenberg foi o inventor da prensa móvel. O prim ei­
ro livro produzido em sua gráfica foi a Bíblia. Em bora G utenberg
84 Pegue este trabalho e engula... D eus está no controle de todo o seu trabalho

fizesse questão de que a Bíblia fosse o prim eiro livro impresso, ele
nunca aceitou sua mensagem. Pode-se dizer que a prensa móvel foi
a invenção mais im portante do período m oderno. O advento trans­
form ou dram aticam ente o m undo. Ao pensarm os nessa invenção,
pensamos em G utenberg. Q uando era vivo, porém , as pessoas não
associavam sua invenção a ele, já que ninguém havia ouvido falar
em G utenberg.
Naquela época, a invenção de G utenberg era atribuída a Johann
Fust. Q uando Gutenberg teve a ideia e traçou os planos para a fabri­
cação da prensa móvel, não dispunha dos recursos necessários para
produzi-la. Então pediu um empréstimo a Fust. A construção da pri­
meira prensa móvel era um projeto extremam ente caro. Mais tarde,
G utenberg pediu mais dinheiro emprestado a Fust. Depois de haver
aperfeiçoado sua invenção e quando estava pronto para realizar a p ri­
meira impressão em massa da Bíblia, Fust o processou.
O juiz deu ganho de causa a Fust. G utenberg perdeu sua prensa,
suas ideias, anos de trabalho, e até mesmo suas ferramentas. Perdeu
tudo quando estava a apenas alguns dias do sucesso. Q uando a Bíblia
foi impressa, as pessoas ficaram maravilhadas com a clareza das letras e
a beleza artística do trabalho. E todos passaram a falar de Fust e de sua
grande invenção.
Fust não sabia sequer colocar uma folha de papel na prensa. N o
entanto, era ele quem estava sendo elogiado como o inventor da má­
quina que revolucionava o mundo.
G utenberg viu tudo lhe ser tirado, inclusive o crédito por sua
invenção. N unca recebeu um centavo pelo trabalho que havia consu­
mido toda a sua vida. Ele m orreu na pobreza — um hom em falido e
amargurado.
Até o dia da sua morte, nunca conseguiu perdoar Fust por sua
traição. O veneno da amargura sugou cada miligrama da energia de
G utenberg e da sua vontade de trabalhar.
A impressão da Bíblia havia sido o sonho dele, mas G utenberg
nunca entendeu sua mensagem. A Bíblia não é um livro sobre a amar­
gura, e sim sobre o perdão.
Capítulo 4 85

C o n s c iên c ia pesada

Então por que nos referimos hoje à prim eira Bíblia impressa como a
Bíblia de Gutenberg? Anos depois da m orte de Gutenberg, a consci­
ência de Fust continuava a atormentá-lo. Ele não podia viver consigo
mesmo. Estava sendo elogiado e aclamado pelo trabalho de outro h o ­
mem. Finalmente, Fust resolveu retratar-se e dar a G utenberg o de­
vido crédito pela invenção da prensa móvel. Mas G utenberg já estava
na sepultura, e sua própria amargura fora responsável por colocá-lo lá.
José se tornou um hom em próspero, e um a das razões desse su­
cesso foi a sua decisão de entregar ao Senhor todo o seu ódio e a sua
amargura e confiar em Sua benignidade.
N o Salmo 37.3 está registrado qual deve ser nosso foco quando
somos injustiçados: Confia no S E N H O R e fa z e o bem; habitarás na terra
e, verdadeiramente, serás alimentado.
A responsabilidade de José era não se estressar p or causa do que
seus irmãos lhe haviam feito. Ele tinha de seguir adiante e colocar sua
confiança somente no Senhor.
Q uando desperdiçamos nossos dias mergulhados em amargura
e ira para com aqueles que nos feriram, não estamos confiando no
Senhor nem fazendo o bem. Q uando mantemos nosso foco naqueles
que nos causaram grande dor, estamos olhando para a vida com olhos
vesgos. N ão podemos enxergar claramente e não estamos entregando
nosso futuro ao Senhor.
A fé na promessa de que Deus será fiel a nós nos faz enxergar a
vida através de lentes poderosas que nos perm item ver nossas circuns­
tâncias com maior clareza. Assim podemos seguir adiante, confiando
que o Senhor fará um caminho para nós.
Nosso dever é habitar na terra, trabalhar naquilo que nos chega
às mãos e alimentar-nos da fidelidade de Deus. O Senhor sabe exa­
tamente onde estamos, assim como tudo que nos aconteceu. Mas Ele
tem planos maiores para nós, conform e nos ensina o Salmo 37.4,5:

D eleita-te também no Senhor, e ele te concederá o que deseja o teu coração.


Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele tudo fará.
86 Pegue este trabalho e engula... Deus está no controle de todo o seu trabalho

Às vezes procuramos um conselheiro e saímos desapontados com


o conselho recebido. Então pensamos: “Perdi m eu tempo. O carteiro
poderia ter me dado um conselho m elhor que esse” . Aqui vão alguns
conselhos na forma de um poem a de sabedoria inestimável. Se você
foi profundamente ferido, se foi traído, abusado, se teve suas riquezas
ou reputação roubadas, este conselho sábio é para você:

Tua vereda, e não a m inha, Senhor,


A inda q u e seja som bria.
O g u ia-m e c o m a Tua m ão direita
E scolhe o cam in h o para m im .

Seja tran q ü ilo o u tem pestuoso,


A inda assim será o m elhor;
T ortuoso o u reto, não im porta,
Ele m e leva ao Teu descanso.

N ã o ouso d e te rm in a r m e u destino;
A inda que pudesse, não o faria;
E scolhe para m im , O D eus,
Para que eu possa andar retam ente.

Pega o m e u cálice,
E e n c h e -o de alegria e pesar;
D a fo rm a que lhe parecer m elhor,
E scolhe m e u b e m e m in h a aflição. (S p u r g e o n , 1983, p. 189)28

Acho que foi isso que José fez. E tudo começou quando ele de­
cidiu perdoar seus irmãos, em vez de odiá-los.
O texto bíblico não revela o processo pelo qual José teve de passar
para superar seu profundo ressentimento, mas ele era humano! C er­
tamente se ressentia de seus irmãos. N ão era um super-hom em . José
era apenas um sujeito com um cuja vida havia sido destruída. E lógico
que ele teve de lidar com isso. E porque sua ferida era tão profunda,
Capítulo 4 87

o Senhor não podia deixar que ela ficasse infeccionada. Q uanto mais
tempo a questão fosse ignorada, maiores seriam as chances de que uma
infecção espiritual se instalasse na alma e no coração.
Deus tinha grandes planos para José, mas Ele não o promoveria se
seu coração estivesse doente ou seu espírito amargurado. Por isso José
teve de realizar uma tarefa dentro de outra tarefa.
Junto com sua irmã, C orrie ten B oom passou vários meses num
campo de concentração nazista. Sua irm ã foi horrivelm ente abusada
e acabou morrendo. Grande parte do ministério de C orrie depois da
guerra foi dirigido aos sobreviventes dos campos de concentração.
C erta ocasião, C orrie fez uma declaração reveladora sobre os so­
breviventes: “Aqueles que conseguiram perdoar seus velhos inimigos
foram capazes de inserir-se novamente na sociedade e reconstruir sua
vida; aqueles que preferiram alimentar sua amargura perm aneceram
inválidos” .
C orrie ten B oom perdoou pessoalmente um dos guardas mais
cruéis do campo de concentração que mataram sua irmã. Ela seguiu
adiante e conseguiu viver uma vida produtiva porque havia aprendido
a perdoar.
José passou pelo mesmo processo. O fato de ele ter perdoado seus
irmãos o capacitou a desfrutar de uma vida produtiva.
G utenberg nunca perdoou o hom em que o traíra. E ele m orreu
como um velho miserável e amargurado, sem um centavo no bolso.
Então, quem você precisa perdoar? E tem po de seguir adiante.

S eg uindo a d ia n t e

Se José não tivesse aprendido a lidar com a amargura que sentia em re­
lação aos irmãos, como poderia lidar com a amargura que estava pres­
tes a experim entar ao ser falsamente acusado pela esposa de Potifar?
José estava no caminho do sucesso, tendo alcançado uma extra­
ordinária posição de prestígio e responsabilidade. Mas Deus não con­
fiaria uma posição tão im portante a um hom em vingativo e em pe-
çonhado, tomado de ressentimento e fantasias de vingança. Por isso
José teve de lidar com o grande mal que seus irmãos lhe haviam feito
88 Pegue este trabalho e engula... D eus está no controle de todo o seu trabalho

enquanto a ferida ainda era relativamente recente. E foi o que fez. Ele
sabia que o Senhor estava no controle absoluto do seu passado, do seu
presente e do seu futuro.
Isso nos leva de volta ao fato de que Deus está no controle de
todas as tarefas que nos chegam às mãos. Todo trabalho que realizamos
faz parte do Seu plano. Isso não significa que todas as tarefas serão em­
polgantes ou satisfatórias, mas que todas servirão como preparação para a
missão que Ele tem para cada um de nós. Consequentemente, nenhum
trabalho é desprezível. Todas as tarefas que o Senhor faz chegar às nossas
mãos são relevantes, embora algumas possam fazer com que nos rebai­
xemos, não sendo em nada semelhantes àquilo que teríamos escolhido.
Essa era a situação de José quando foi vendido como escravo.
Seu trabalho era degradante e extremamente desagradável. E José não
podia enxergar a importância estratégica dessa situação que o Senhor
estava usando para prepará-lo para a missão que tinha para ele.
C orrie queria ajudar outras pessoas a aprender a perdoar aqueles
que tinham abusado delas e as injuriado. Por isso, era necessário que ela
também aprendesse essa lição nos recessos mais íntimos do seu coração.
O mesmo se aplicava a José. Era preciso que o perdão completasse
sua obra árdua e oculta em seu coração para que ele pudesse superar a
amargura e a hostilidade que ameaçavam destruí-lo. Esse foi o sucesso
que José precisou alcançar nas profundezas secretas de sua alma. Foi
assim que deixou de ser uma vítima para se tornar um vencedor.
Ele entendeu a providência de Deus. Compreendeu que todas as
tarefas vêm do Senhor, e isso incluía a escravidão. José dobrou os joelhos
e submeteu sua vontade a Deus. Essa é a definição do verdadeiro sucesso.

Às vezes D eus lhe n e g a a p o s i ç ã o q ue v o c ê d e s e j a

Às vezes o Senhor nos choca, recusando-se a colocar-nos na posição


que realmente desejamos. Q ue decepção arrasadora isso pode causar!
Talvez você não consiga entrar na faculdade de sua preferência ou seja
deixado no altar pela pessoa amada. Talvez você seja um soldado de­
sesperado para entrar no combate, enquanto seus superiores o m antêm
no quartel.
Capítulo 4 89

Foi isso que aconteceu a D w ight Eisenhower. Ele havia se forma­


do em West Point e ambicionava uma brilhante carreira militar. Então,
em 1917, os Estados Unidos entraram na Primeira Guerra Mundial.
Eisenhower estava empolgadíssimo, já que finalmente teria a opor­
tunidade de liderar tropas em combate. Entretanto, ele foi designado
para treinar a 57a Infantaria em San Antonio.
Eisenhower queria desesperadamente entrar em combate, mas
suas mãos estavam atadas. Então ele empregou todas as suas energias
fazendo daqueles recrutas soldados excepcionais. N ão ficou lam urian­
do-se nem chafurdando na autocomiseração. Ele deu o m elhor de
si. C om isso, suas habilidades e sua capacidade administrativa se des­
tacaram tanto que ele recebeu um novo comando. Foi encarregado
de estabelecer e comandar a nova Tank Corps [divisão nacional de
tanques]. Aquela incum bência foi uma honra, mas tam bém manteve
Eisenhower longe de onde realmente queria estar.
Finalmente a ordem foi dada para que ele partisse para a França
em 18 de novembro de 1918. Mas, em 11 de novembro, a Primeira
Guerra M undial acabou. Ele nunca chegou ao campo de batalha. “Ei­
senhower ficou desalentado e deprimido. Ele mal podia acreditar no
que lhe havia acontecido — ele era um soldado profissional que fora
impedido de entrar em ação na maior guerra da história” ( A m b r o s e ,
1990, p. 34).29
Eisenhower achou que havia perdido uma oportunidade única.
Ele nunca mais teria outra chance de participar de uma guerra. C o n ­
tudo, o que não sabia era que, cerca de 20 anos mais tarde, ele não
somente participaria de uma guerra, mas estaria no comando dela.
Talvez Eisenhower tenha ficado profundamente desapontado, mas
não ficou amargurado contra seus superiores que o haviam mantido
longe do combate. Ele não se irou nem m urm urou. C ontinuou dando
o m elhor de si em seu trabalho. E, por causa de sua disciplina e atitude,
aqueles mesmos superiores notaram o potencial dele. Eles mantiveram
os olhos em Eisenhower e não se esqueceram dele. Por isso, acabou no
comando de uma guerra que ele pensava que jamais veria.
Toda tarefa é providencial. O mesmo se aplica às que nos são
recusadas. Deus está no controle. Ele tem um plano. Q uanto mais
90 Pegue este trabalho e engula... D eus está no controle de todo o seu trabalho

entendemos Sua providência, mais podemos ver Sua mão nas posições
que desejávamos obter, mas que nos foram negadas.
João Calvino fez uma observação acertada: “Q uando a luz da
providência divina brilha sobre um hom em justo, ele não somente é
aliviado e liberto de todos os temores e ansiedades que tinha antes,
mas tam bém de todos os cuidados” .
Sendo assim, dê a volta por cima. Deus está no controle da sua
vida e sabe exatamente o que está fazendo.
C a p ít u l o 5

Mesmo quando fa z você voltar a estaca zero,


Deus está no controle de retrocessos dolorosos

D eu s m uitas vezes prospera Seus filhos em pob recen d o -o s.


— Thom as W atson

Uma velha história se tornou parte da cultura corporativa da Federal


Express. Fred Smith, o visionário fundador da companhia, sempre fora
conhecido como um grande aventureiro. Ele pilotava aviões desde
muito jovem e adorava a emoção de voar.
Certa ocasião, porém , Fred estava sentindo-se um tanto entedia-
do. Estava no meio de um voo curto e rotineiro entre M emphis e
Little R o ck quando, no meio do trajeto, decidiu divertir-se um p ou­
co. Ele voou o restante do caminho de cabeça para baixo ( L a n d r u m ,
1993, p. 91)30.
As vezes nos damos conta de que estamos voando pela vida de
cabeça para baixo. Mas em geral isso não acontece por escolha nossa.
Nada é capaz de desorientá-lo e virar sua vida de cabeça para baixo
como um retrocesso doloroso.
C om certeza foi isso que aconteceu a José. E ele não foi o pri­
meiro nem o último hom em a sentir como um m urro no estômago
em decorrência de um retrocesso doloroso e totalmente inesperado.
92 Mesmo quando faz você voltar à estaca zero, Deus está no controle de retrocessos.

M artinho Lutero — o grande reform ador que lutou contra o


m undo inteiro em defesa da verdade bíblica — travava um a batalha
constante contra a depressão. Ele fazia de tudo para combater a doen­
ça, mas às vezes esta o vencia.
Certa ocasião, ele estava perdendo a peleja. Circunstâncias adver­
sas haviam se acumulado em sua vida, e ele acabara de experim entar
outro retrocesso desanimador em seu combate pela verdade. Isso o
levou a entocar-se em seu gabinete por vários dias. Introvertido e taci­
turno, saía apenas para comer, retornando logo aos seus livros. E todos
na família sabiam o que estava acontecendo.
Depois de alguns dias, sua esposa, Katie, entrou em seu escritório
vestida de preto dos pés à cabeça. Lutero olhou para ela e perguntou:
“Você está indo a algum enterro?” “N ão” — respondeu ela. “Mas já
que você está agindo como se Deus estivesse m orto, decidi vir até aqui
me lamuriar com você” ( V e i t h , 2005, p. 101).31
Deus não está morto, mas às vezes age de m odo estranho. Ele per­
mite que experimentemos retrocessos dolorosos. E isso nos deixa atur­
didos, confusos, e nos faz perguntar-nos onde estará Sua benignidade.
Em um capítulo anterior, discorremos sobre providências con­
traditórias, ou seja, dilemas que nos confrontam quando Deus age de
uma forma que não entendemos. Q uando passamos por uma provi­
dência contraditória, somos tentados a pensar que Deus está traba­
lhando contra nós, e não em nosso favor. Retrocessos dolorosos certa­
m ente se enquadram nessa categoria, já que não fazem sentido algum
para nós. Q uando os vivenciamos, como M artinho Lutero, ficamos
mais vulneráveis à depressão, pois situações assim dão a impressão de
que Deus está morto.

AS IN T E R E S T A D U A IS DA P R O V ID Ê N C IA

Assim como eu, tenho certeza de que você já passou p o r algum re­
trocesso doloroso. D e igual modo, é provável que, enquanto estiver­
mos nesta terra, tenhamos de enfrentar outros tantos. Nossos planos
“perfeitos” foram virados de cabeça para baixo. D e repente não temos
ideia do que estamos fazendo ou de para onde estamos indo.
Capítulo 5 93

É nesses m omentos que precisamos da Palavra de Deus, que fun­


ciona como um mapa. Q uanto mais a conhecermos, m elhor compre­
enderemos as circunstâncias devastadoras e repentinas que acometem
nossa vida. Q uanto mais nos familiarizarmos com as rodovias inte­
restaduais da providência divina, m elhor entenderemos que Deus usa
retrocessos, problemas e tragédias para fazer o bem ao Seu povo e
glorificar o Seu nome. O Senhor controla e usa retrocessos dolorosos
para cum prir os propósitos que tem para nós.
M atthew H enry disse: “Deus às vezes leva o Seu povo a passar por
circunstâncias adversas para que, à medida que Ele nos ajudar a superar
as adversidades, rendamos glórias a Ele” . Essa é uma verdade que só
pode ser aprendida por meio das Escrituras, onde encontramos esse
princípio inúmeras vezes, tanto no Antigo como no Novo Testamento.
E sempre bom ter um mapa quando estamos navegando por um
território desconhecido. E ainda m elhor quando sabemos ler esse
mapa. Entretanto, ao desbravarmos um novo território, o ideal é es­
tarmos na companhia daquele que desenhou o mapa que nos está
guiando.
José com certeza foi surpreendido pelo próprio sucesso. Q uando
estava sendo levado para o Egito, sabendo que estava destinado a uma
vida de escravidão, a última coisa que passava pela sua cabeça era que
Deus iria prosperá-lo.
N o capítulo anterior, vimos como a incrível providência de Deus
fez com que José se tornasse responsável pela administração do grande
palácio de Potifar. Mas estou certo de que essa não era a expectativa
do filho de Jacó quando se viu no mercado de escravos.
O sucesso lhe trouxe diversos benefícios. Em geral, escravos não
têm privilégios, mas José não era um escravo comum. Ele era um ho­
m em bem-sucedido que provavelmente não podia acreditar que sua
vida tivesse tomado um rum o tão positivo. José tinha um trabalho que
lhe proporcionava desafios, um patrão que confiava plenamente nele, e
muito mais privilégios e recompensas do que qualquer escravo podia
esperar receber. Por isso tinha um “cartão Platinum Egyptian Express” .
A maioria dos escravos não tinha crédito suficiente para conseguir um
“cartão” desse.
94 Mesmo quando faz você voltar à cstaca zero, Deus está no controle de retrocessos.

É claro que não conhecemos os benefícios de que José desfrutava


— mas podemos usar nossa imaginação. José havia sido promovido e
ganhado privilégios por causa de seu sucesso e de seus visíveis talentos.
Ele administrava tudo para Potifar. Isso é que é poder. E o poder sem­
pre é seguido de privilégio e status. Por isso José era o único escravo a
ter se tornado “membro do country club” . E ele era o único escravo
a dar uma gorjeta ao caddyvlu do próprio bolso.
U m a coisa interessante sobre o sucesso é que, uma vez que o con­
seguimos, não queremos jamais perdê-lo. Querem os m anter o salário
gordo, o grau elevado de autoridade e o aumento significativo de pri­
vilégios. José não era diferente. Você acha que ele queria perder tudo
aquilo? E claro que não. Q uando experimentamos determinado nível
de sucesso, queremos certificar-nos de que vamos mantê-lo.
C ontudo, os planos de Deus para a vida de José eram mais im por­
tantes do que seu conforto pessoal. O que o Senhor tinha em m ente
para ele o teria deixado sem fôlego. U m dia José governaria sobre
todos os palácios e propriedades do Egito, incluindo os de Potifar e os
do faraó. José seria como um pai para o faraó (Gn 45.8), e, portanto, o
hom em mais poderoso e influente na face da terra.
Mas, para que tudo isso pudesse acontecer, José precisava ser pre­
parado. Seu caráter precisava ser provado e refinado. Por isso, ele es­
tava prestes a experim entar um retrocesso doloroso pelo qual jamais
esperava.
Por causa desse grande plano de Deus, do qual José nada sabia, ele
estava prestes a perder o poder, os privilégios e o sucesso — e isso numa
questão de minutos. Aliás, isso não aconteceria por causa de alguma falha ou
decisão errônea da sua parte. Pelo contrário: José perderia sua posição e
proeminência por escolher obedecer a Deus e resistir ao adultério.
E m curto prazo, esse retrocesso lhe custaria caro. N ão se trataria
de um simples retrocesso, mas de um retrocesso doloroso. Além disso,
o fato de José ter sido lançado na prisão por fazer o que era reto ca­
racterizava uma providência contraditória.

VIHA quele q u e auxilia u m jo g a d o r de golfe, especialm ente c arre g an d o -lh e os tacos.


Capítulo 5 95

Naquele m om ento, porém , aquilo não fazia nenhum sentido para


ele. Com o aquele retrocesso poderia ser bom , e como Deus poderia
transformar aquela situação para o seu bem? José simplesmente não
conseguia enxergar nem imaginar as respostas para essas perguntas.
Mas os caminhos de Deus vão além da nossa compreensão, e o
que o Senhor tinha reservado para José era muito maior do que ele
jamais poderia ter imaginado. Essa era a razão por trás do que estava
para lhe acontecer.
Mais uma vez, Deus estava no controle de todas as circunstâncias
da vida de José. Ele havia experimentado o sucesso, o que tinha sido
muito bom. Porém, seu m undo estava prestes a ser abalado por um
retrocesso doloroso, e o Senhor estava nos bastidores orquestrando
todos os detalhes do acontecimento, recompensando a decisão piedosa
de José com conseqüências ruins. Esse é um exemplo típico de provi­
dência contraditória.
As providências contraditórias, raramente ensinadas na igreja
hoje, estão registradas em toda a Bíblia. C om o esse ensino tem sido
tão negligenciado, vale a pena darmos um pouco mais de atenção a
ele. E a boa notícia no tocante às providências contraditórias é que são
incrivelmente encorajadoras. Se você está no meio de um a providên­
cia contraditória que o levou a sofrer um retrocesso doloroso, pode
apostar no fato de que Deus um dia vai virar a mesa em seu favor. É
exatamente isso que Ele é especializado em fazer.

Isso É U M TESTE

José era grato a Deus por seu sucesso e sua promoção. Mas o Senhor
tinha em mente uma promoção maior para ele. Estou certo de que
José teria ficado satisfeito se as coisas tivessem perm anecido como es-
tavam. Entretanto, os caminhos do Senhor não são os nossos.
Se dependesse de nós, nossos sucessos continuariam indo de vento
em popa, em pleno acordo com nossas próprias ambições e objetivos.
Mas Deus tem todo direito de interrom per nossos planos a qualquer
m om ento para que o Seu plano, que é infinitam ente superior, seja
cum prido em nossa vida. O Senhor não tem nenhum a dificuldade em
96 Mesmo quando faz você voltar à estaca zero, Deus está no controle de retrocessos.

remover nosso sucesso quando isso serve aos Seus propósitos. Este é
um princípio que não devemos esquecer: Antes de promover, Deus prova.
Se existe alguma dúvida quanto a esse princípio, o Salmo 105.16-
19 confirma exatamente isso na vida de José:

C ham ou a fo m e sobre a terra; f e z mirrar toda a planta do pão. M andou


adiante deles um varão, que fo i vendido por escravo:fo sé, cujos pés aperta­
ram com grilhões e a quem puseram em ferros, até ao tempo em que chegou
a sua palavra; a palavra do S E N H O R o provou.

Deus tinha uma razão para o retrocesso doloroso de José que esse
jovem piedoso ainda não podia enxergar. Ele estava prestes a ser sub­
m etido a outra prova excruciante.
Para ingressar na universidade nos Estados Unidos, é necessário
fazer o exame do SATIX (Scholastic Aptitude Test — Teste de Apti­
dão Escolar). Para ser promovido por Deus, também é preciso passar
no SAT, só que, no vocabulário do Senhor, a sigla SAT quer dizer
Setback And Trial [Retrocesso e provação]. E, no caso de José, ela
tam bém queria dizer Sex A nd Temptation [Sexo e tentação]. U m a
m ulher egípcia “ cheia da grana e do botox, lipoaspirada, siliconada e
toda esticada” estava de olho nele.

E deixou tudo o que tinha na mão de José, de maneira que de nada sabia
do que estava com ele, a não ser do pão que comia. E José era form oso de
aparência e form oso à vista. E aconteceu, depois destas coisas, que a mulher
de seu senhor pôs os olhos em José e disse: D eita-te comigo. Porém ele recu­
sou e disse à mulher do seu senhor: E is que o meu senhor não sabe do que
há em casa comigo e entregou em m inha mão tudo o que tem. N inguém
há maior do que eu nesta casa, e nenhum a coisa me vedou, senão a ti,
porquanto tu és sua mulher; como,pois, faria eu este tamanho mal e pecaria
contra D eus? E aconteceu que, falando ela cada dia a fo sé, e não lhe dando
ele ouvidos para deitar-se com ela e estar com ela, sucedeu, num certo dia,

lx U m exam e educacional pad ro n izad o nos Estados U n id o s aplicado a estudantes d o ensino m éd io que serve
d e c rité rio para admissão nas universidades n o rte -a m e ric a n as (sem elhante ao E N E M brasileiro).
Capítulo 5 97

que veio à casa para fa z e r o seu serviço; e nenhum dos da casa estava ali.
E ela lhe pegou pela sua veste, dizendo: D eita-te comigo. E ele deixou a
sua veste na mão dela, efu g iu , e saiu para fora. E aconteceu que, vendo ela
que deixara a sua veste em sua mão e fugira para fora, chamou os homens
de sua casa e falou-lhes, dizendo: Vede, trouxe-nos o varão hebreu para
escarnecer de nós; entrou até m im para deitar-se comigo, e eu gritei com
grande voz. E aconteceu que, ouvindo ele que eu levantava a m inha vo z
e gritava, deixou a sua veste comigo, e fugiu, e saiu para fora. E ela pôs a
sua veste perto de si, até que o seu senhor veio à sua casa. Então, falou-lhe
conforme as mesmas palavras, dizendo: Veio a m im o servo hebreu, que nos
trouxeste para escarnecer de mim. E aconteceu que, levantando eu a minha
v o z e gritando, ele deixou a sua veste comigo e fu g iu para fora.
G ê n e s is 3 9 .6-1 8

Há testes e testes, e, para um jovem saudável com seus vinte e


poucos anos, esse teste era dureza. José estava prestes a ser tentado na
área da pureza sexual. Ele era jovem, bonito, atlético e estava no auge
de sua sexualidade. Provavelmente malhava seis vezes por semana: três
dias de exercícios aeróbicos e três dias de musculação. Esse jovem he­
breu era “supersarado” mesmo sem tom ar esteroides.
C om o dissemos, José estava prosperando, e todos podiam notar
isso. Então a bela esposa de Potifar ficou “caidinha” por ele. N ão sabe­
mos m uito sobre essa mulher, mas podemos fazer algumas deduções:
era uma m ulher pagã muito rica, mimada e paparicada, sem nenhum
padrão moral. Q uando viu José, decidiu que queria dorm ir com ele.
A vida o havia favorecido. Ele gozava de todos os frutos do su­
cesso. Achava que seus piores dias haviam ficado para trás. Então essa
mulher apareceu. E ela não era uma m ulher qualquer, mas a esposa do
seu senhor! Não sabemos o seu nome, porém gosto de chamá-la de
Predadora — uma m ulher que estava prestes a arruinar a vida de José.
Por que José se encontrava nessas circunstâncias? Com o ele foi m e-
ter-se numa situação tão difícil? Deus queria provar a determinação e a
obediência de José colocando-o em contato com essa mulher oferecida.
E ela não aceitava não como resposta. Logo, continuou assediando
José dia após dia, na esperança de seduzi-lo a rom per com a sua inte­
gridade diante de Deus e do marido dela.
98 Mesmo quando faz você voltar à estaca zero, Deus está no controle de retrocessos.

Por isso, lemos em 1 Tim óteo 4.16 ( n v í ) : A tente bem para a sua pró­
pria vida e para a doutrina. Precisamos atentar bem para a nossa maneira
de viver e para as convicções que temos sobre Deus e Sua Palavra.
Estou tocando nesse assunto por uma razão: as convicções que
José tinha sobre Deus determ inaram a maneira como ele reagiu à ten­
tação sexual. Seu com portam ento não estava separado das suas con­
vicções; pelo contrário, estava ligado a elas e foi uma conseqüência das
mesmas.
José sabia que Deus era soberano, mas tam bém acreditava que ele
era responsável diante do Senhor por suas escolhas. José atentava bem
para a sua própria vida e para a doutrina — ambas eram mais im por­
tantes para ele do que o seu sucesso.
Sim, José sabia que Deus estava no controle. Ele tinha plena cons­
ciência de que o Senhor comandava sua vida, mas tam bém sabia que
ele próprio era responsável por andar cuidadosa e prudentem ente na
vereda em que o Senhor o havia colocado. Existe um equilíbrio bíbli­
co que devemos m anter sempre diante de nós: Deus é soberano, mas
nós somos responsáveis.
José havia alcançado esse equilíbrio. Q uando aquela mulher egíp­
cia, pagã e rica tentou seduzi-lo, ele já tinha sua reação preparada. Pre­
cisava decidir o que fazer quanto à esposa de Potifar. Ele dormiria ou
não com ela? E José precisava tomar essa decisão todos os dias porque
ela tentava seduzi-lo todos os dias. Ele não foi provado apenas uma vez,
porém o era diariamente — ela nunca o deixava em paz. Não é preciso
muita imaginação para concluir que ela deve ter usado todos os truques
femininos possíveis e imagináveis na tentativa de fazê-lo ceder.
A ênfase deste livro tem sido o fato de que Deus é soberano e de
que todas as coisas estão sob o Seu cuidado e o Seu plano providen­
ciais. Ele está no controle!
Essa é a mensagem central. Todavia, esse princípio fundamental
não nega o fato de que o hom em é responsável por suas escolhas e
decisões! Tal verdade está presente na resposta primorosa de José ao
convite daquela m ulher ímpia: Como, pois, posso eu cometer este grande
mal, e pecar contra Deus?
Capítulo 5 99

José não hesitou nem racionalizou. Ele não minim izou ou subes­
tim ou a seriedade da tentação — e foi por isso que saiu correndo, não
andando, daquela nuvem de perfume e daquele aposento! Ele chamou
o convite dela de grande mal. Isso era absolutamente claro para José. Ele
não podia nem iria trair o seu Deus soberano.
C ontudo, José era humano, 100% hom em , e isso não deve ter
sido fácil. Deus colocou a Predadora no caminho de José para provar
o coração e a determinação desse jovem. Enquanto dia após dia a m u­
lher desavergonhada jogava seu charme para cima de José, Deus estava
provando o caráter, a pureza e a fidelidade do Seu servo.
U m dia, a Predadora pensou ter armado uma cilada perfeita. Não
havia mais ninguém em casa, e, quando José apareceu, ela o agarrou,
puxando-o para a sua cama. Mas, em vez de aceitar sua proposta sexual,
ele literalmente correu do quarto.
Para a Predadora, aquela fora a última gota. Você já ouviu o velho
ditado “Hell hath no fury like a wom an scorned” [A fúria do inferno
não pode ser comparada à de uma m ulher desprezada]? Sentindo-
-se desprezada pelas inúmeras negativas de José, a Predadora decidiu
vingar-se.

E aconteceu que, ouvindo o seu senhor as palavras de sua mulher, que lhe
falava, dizendo: Conforme estas mesmas palavras m e fe z teu servo, a sua ira
se acendeu. E o senhor de José o tomou e o entregou na casa do cárcere, no
lugar onde os presos do rei estavam presos; assim, esteve ali na casa do cárcere.
G ê n e s is 39.1 9,2 0

S em d ire ito a lib e rd a d e c o n d ic io n a l

N o m om ento seguinte, José estava sendo algemado e levado para o


calabouço. Por que ele havia sido preso? O que tinha feito de errado?
Nada. Agira da forma correta! E agora José estava pagando por isso
porque uma m ulher iníqua havia mentido. Ela cometera perjúrio só
para arruinar a vida de José. Com o não pôde roubar-lhe a pureza, a
esposa de Potifar fez questão de que José fosse punido.
Thomas Watson, um pregador londrino do século 17, disse:
“Aquele que comete peijúrio é o excremento do diabo” . E aquela
100 Mesmo quando faz você voltar à estaca zero, Deus está no controle de retrocessos.

m ulher era exatamente isso. Por causa da sua acusação mentirosa e


vingativa, a carreira bem-sucedida de José como executivo da proprie­
dade de Potifar havia chegado ao fim. Agora ele estava na cadeia.
Para José, fora um retrocesso doloroso, uma providência contra­
ditória. Ele havia agido retamente e agora sofreria as conseqüências.
José acabara de perder tudo o que havia trabalhado tão duro para
conquistar. Sua posição, seus privilégios e seu poder na propriedade de
Potifar desapareceram como uma nuvem de fumaça. Isso não era um
retrocesso qualquer. Era um retrocesso doloroso.
Todavia, Deus está no controle de retrocessos dolorosos e muitas vezes
trabalha de modo estranho. Além disso, havia um a razão para o retrocesso.
Aliás, isso fazia parte de uma brilhante estratégia divina. Porém, na­
quele m om ento, sentado no chão úm ido de um calabouço escuro e
fedorento, José não conseguia enxergar nada disso.

O S E N H O R , porém, estava com José, e estendeu sobre ele a sua be-


nignidade, e deu-lhe graça aos olhos do carcereiro-mor. E o carcereiro-mor
entregou na mão de José todos os presos que estavam na casa do cárcere; e
ele fa z ia tudo o que se fa z ia ali. E o carcereiro-mor não teve cuidado de
nenhum a coisa que estava na mão dele, porquanto o S E N H O R estava
com ele; e tudo o que ele fa z ia o S E N H O R prosperava.
G ê n e s is 3 9 .2 1 -2 3

R epare como aquela frase transformadora aparece novamente: O


Senhor, porém, estava com José. Nós vimos essa frase pela prim eira vez
quando o filho seqüestrado de Jacó foi comprado por Potifar; agora
ela aparece de novo.
Você alguma vez sofreu um retrocesso doloroso? Isso pode não
parecer verdade, mas o Senhor está com você. Será que Ele está plane­
jando algo que você não consegue ver?

Interrompemos e s t e p r o g r a m a ...

Gostaria de interrom per esta análise da batalha de José contra a tenta­


ção sexual para frisar um princípio importante: retrocessos dolorosos
Capítulo 5 101

às vezes podem ser experimentados no âmbito profissional. Também


podem ser de natureza financeira, emocional ou física.
Ravi Zacharias, em um m om ento crítico de sua vida, sofreu um
doloroso retrocesso profissional. Ele é um evangelista e apologista que
tem sido usado pelo Senhor no m undo inteiro. Mas, quando era jo ­
vem, estava confuso quanto ao rum o que sua vida deveria tomar. E n­
tão um dia teve a certeza de que havia encontrado sua vocação. Ele
decidira tornar-se um piloto da aeronáutica em seu país de origem, a
índia.
Junto com um amigo, R avi viajou até a distante base militar onde
teria de passar pelos testes extenuantes requeridos para admissão no
programa de pilotos. Centenas de jovens competiam p or um punhado
de vagas. Em seu livro W alkingfrom East to West [Andando do Leste
para o Oeste], Ravi contou:

D epois de u m a bateria com pleta de testes m entais, físicos e de


resistência, fiquei radiante de alegria ao saber que, das centenas
de candidatos, eu havia ficado em terceiro lugar, e m e u am igo em
quarto. O s oficiais responsáveis pelos testes pareciam im pressio­
nados. Eles sabiam que eu possuía u m a excelente resistência física
p o r haver praticado m uitos esportes.
N aq u ela no ite, liguei para a m in h a fam ília excitado e disse: “E u
v o u conseguir. Preciso apenas passar p o r um a entrevista co m o
oficial su p erio r am an h ã” .
N a m an h ã seguinte, sen tei-m e co nfiante diante do oficial supe­
rio r — u m h o m e m ru d e e g ordo — , p ro n to para en trar em ação.
D epois de fazer várias perguntas sobre m eus valores, esperanças e
sonhos, ele m e su rp reen d eu c o m u m a declaração direta:
“ Filho, estou rejeitando v o c ê ” — disse ele bruscam ente. “ O
quê?” , pensei em udecido. “Você está sendo rejeitado pela aero­
n áu tica” — rep etiu ele. F iquei sem saber o que dizer. N ã o podia
acreditar n o que estava o u vindo. A ntes que eu pedisse um a expli­
cação, ele disse: “ N este trabalho você precisa m atar, e psicologica­
m e n te você é incapaz disso” . O que eu p o d eria responder? Fiquei
102 Mesmo quando faz você voltar à estaca zero, Deus está no controle de retrocessos.

trem en d am en te abalado. A o ver as lágrim as bro tarem em m eus


olhos, ele acrescentou: “E stou lhe fazendo u m favor, m e u jovem .
P ode acreditar” .
Q u a n d o saltei do tre m em D eli, u m g ru p o de familiares e am i­
gos m e aguardava c o m guirlandas de flores. A quele foi u m dos
piores dias da m in h a vida. S en ti-m e absolutam ente hum ilhado!
F iquei m u ito conflitado; mas, n o fundo, o que eu precisava era
en c o n tra r um a razão para acreditar que o que m e acontecera não
fora sim plesm ente u m a derrota. E u perguntava a m im m esm o:
“ Será que D eu s está b lo q u ean d o m eus passos?”
Fiquei pensando nisso p o r vários dias. F inalm ente alguém suge­
riu que eu fosse conversar c o m u m m issionário canadense que es­
tava hospedado na Jo c u m e n q u an to visitava nossa cidade. O n o m e
dele era R ussell Self. Q u a n d o nos encontram os, derram ei m eu
coração e co n te i-lh e sobre a m in h a decepção.
O Sr. Self fico u sentado m e ouvin d o , balançando a cabeça. E n ­
tão m u rm u re i com igo m esm o: “Ele deve estar p e n sa n d o :‘Esse j o ­
v em está desperdiçando o m e u te m p o ” ’. M as, para m in h a surpresa,
ele m e resp o n d eu c o m u m conselho sábio: “As vezes ficam os tão
confiantes em nós m esm os — disse ele — que não sabem os que
existem m uitas portas pelas quais não deveríam os entrar. D eus não
apenas abre portas; Ele tam b ém as fecha. E p o r vezes o faz de m a­
neira bastante dolorosa” .
“Esta deve ser um a dessas ocasiões” , pensei com igo. M as essa
descoberta não aliviou m in h a dor.
“ O que m uitas vezes deixam os de enxergar” — acrescentou ele
— “ é que algum as dessas portas fechadas revelam as pistas mais
im p o rtan tes sobre aonde o S en h o r q u er nos levar” . -
Q u e pista D eus q ueria m e dar?
Ele disse:“L em bre-se do que a B íblia nos ensina n o Salm o 37.23:
O s passos de um homem bom são confirmados pelo Senhor, e ele deleita-se
no seu caminho. D eus te m tu d o sob controle, R avi. A cho que é isso
que você precisa apren d er co m essa situação” . E ntão ele abriu sua
Bíblia, in clin o u -se em m in h a direção e leu: Entrega o teu caminho
ao Senhor; confia nele, e ele tudo fará. (Zacharias, 2006, p. 139-141)32
Capítulo 5 103

Ravi queria pilotar aviões. O Senhor queria que ele alcançasse


milhões de pessoas pela pregação e pela escrita. Q uando Ravi era jo ­
vem, não fazia a m enor ideia de que esse era o plano de Deus. A única
coisa que sabia era que havia sofrido um retrocesso doloroso.

P erplexo n a prisão

O Senhor estivera com José na casa de Potifar e agora estava com ele
na prisão. E tem mais: o Senhor prosperou José e deu-lhe graça aos
olhos do carcereiro. Em pouco tempo, José havia se tornado respon­
sável pela prisão inteira.
José amava o sucesso que havia experimentado no palácio de
Potifar. Ele aprendera diversas coisas à medida que Potifar lhe dele­
gara cada vez mais responsabilidade. José descobrira talentos que não
sabia que tinha. A mansão de Potifar era imensa, por isso José teve de
aprender a fazer orçamentos, planilhas, inventários e a administrar os
recursos humanos. Depois de algum tempo, ele havia aprendido tudo
que podia ser aprendido naquela posição. José não sabia disso, mas já
havia extraído todas as lições possíveis daquela situação.
José gostava de sua posição e de seus privilégios, mas não podia
continuar ali, pois Deus queria que ele aprendesse outras coisas. E
onde ele as aprenderia? N a prisão do faraó! Em pouquíssimo tempo,
José estava dirigindo a prisão, assim como havia dirigido a grande
propriedade de Potifar.
Aquela era mais uma etapa da sua preparação. E é justam ente
nisso que consistem os retrocessos dolorosos: Deus interrom pe nossos
planos, esperanças e sonhos para cum prir o Seu plano em nossa vida.
As vezes uma prova severa nos deixa estonteados e cegos. Se não
tivermos cuidado, o choque e a desorientação causados por essa perda
nos levarão à depressão e até ao desespero.
U m dos melhores amigos de W inston Churchill era um físico
brilhante e excêntrico, o professor universitário F. A. Lindemann. O
professor era um gênio, e nada comprova m elhor sua maneira peculiar
de encarar a vida do que algo que ele fez durante a Primeira Guerra
Mundial.
104 Mesmo quando faz você voltar à estaca zero, Deus está no controle de retrocessos.

E m 1916, pilotos da Força A érea R e a l inglesa estavam m o rre n d o


todos os dias ao m erg u lh arem seus aviões. E ntão, n o centro de
pesquisa aeronáutica R oyal Aircraft Establishm ent e m F arnborough,
L in d em an n desenvolveu, c o m precisão m atem ática, um a m anobra
que, segundo ele, tiraria qualq u er aeronave do parafuso.
O s pilotos afirm aram que sua ideia não funcionaria. E ntão o
professor ap ren d eu a pilotar, d eco lo u n u m voo sem paraquedas,
co lo co u o avião em parafuso d eliberadam ente e o tirou do para­
fuso c o m tan to sucesso que, a p a rtir de então, passou a requerer-se
q u e todos os pilotos iniciantes dom inassem a m anobra criada p o r
ele. (M a n ch ester, 1983, p. 781)33

U m a luta inesperada que assola nossa vida pode levar-nos a m er­


gulhar em parafuso no abismo devastador da depressão. Em bora pre­
firamos acreditar que conseguiríamos sair desse parafuso, às vezes a
pressão das circunstâncias é m aior do que podemos suportar. A solu­
ção, porém , não se encontra numa fórmula matemática, mas sim numa
fórmula bíblica.

S a i n d o do p a r a f u s o

N o Salmo 119.68a é apresentada uma verdade transformadora: Tu


[Deus] és bom e abençoador.
Q uando somos cegados por uma reversão surpreendente em nos­
sas circunstâncias favoráveis, perdemos imediatamente o equilíbrio e a
estabilidade. Perdemos o controle e caímos em parafuso no despenha-
deiro da depressão. Nesses m omentos, é preciso acionar a cordinha do
paraquedas, a qual revela a verdade em meio ao caos.
Assim que a vida com a qual está acostumado e na qual se sen­
te confortável desmorona, a que você tenta agarrar-se? Você precisa
agarrar-se à verdade.Talvez tenha sido ferido ou acusado injustamente,
ou talvez as lutas o tenham deixado atônito. Qual é a sua âncora em
m omentos de angústia e perda? Você precisa ancorar-se na verdade da
benignidade de Deus. O Senhor é bom e faz o bem.
Capítulo 5 105

Nossa prim eira reação ao sofrermos uma perda é questionarmos a


benignidade de Deus.Todos nós já fizemos isso. Mas posso ser sincero?
Precisamos amadurecer na fé. Precisamos superar nossas feridas e de­
cepções e ancorar nossa vida e nossas emoções na verdade de Deus. E
essa verdade é bem simples: Deus é bom , faz o bem , e está no controle
de tudo.
Talvez eu não consiga enxergar, sentir, entender ou apreciar essa
verdade. C ontudo, de uma coisa estou certo: Deus é bom. E, se Aquele
que controla todas as coisas perm itiu que eu sofresse esse retrocesso
doloroso, então Ele me mostrará a Sua benignidade de alguma manei­
ra que não consigo enxergar neste mom ento.

Q uando D eus se q ü est r a

Voltemos a M artinho Lutero. Aliás, antes de voltarmos a Lutero, vol­


temos a Johannes Gutenberg, o brilhante inventor da prensa móvel,
que m orreu amargurado. Permita-me mostrar como Deus usou um
retrocesso doloroso na vida de Lutero para que seu caminho se cru­
zasse com a invenção de Gutenberg.Trata-se de um a situação tão im ­
provável que só Deus poderia tê-la planejado.
Q uando Lutero, um padre católico, enfrentou a Igreja Católica
R om ana em 1517 porque ela havia se afastado radicalmente dos ensi­
namentos bíblicos, ele se tornou um hom em marcado. Sua vida passou
a correr grande perigo. Enquanto viajava para Worms, na Alemanha,
para se defender diante do imperador, sua expectativa era de que seria
queimado vivo. Essa era a punição corriqueira para aqueles que desa­
fiavam a autoridade da Igreja.
Lutero se recusou a retratar-se diante do imperador. Então rece­
beu um dia para reconsiderar sua decisão. Q uando ele se apresentou
novamente diante do imperador, perguntaram -lhe diretamente se re­
nunciaria aos ensinamentos de seu livro. Sua resposta se tornou um
clássico:

A não ser q u e alguém m e convença p elo testem u n h o das E scritu­


ras Sagradas o u c o m razões decisivas, não posso retratar-m e (pois
106 Mesmo quando taz você voltar à estaca zero, Deus está no controle de retrocessos.

não creio na infalibilidade do Papa, n e m dos concílios, p o rq u e é


m anifesto que freq u en tem en te se tê m equivocado e contradito).
Fui vencido pelos argum entos bíblicos que acabo de citar e m inha
consciência está cativa à Palavra de D eus. N ão posso e não quero
revogar, p o rq u e é perigoso e não é certo agir contra sua própria
consciência. Q u e D eus m e ajude. A m ém . (V e i t h , 2005, p. 70)34

O caos se instalou imediatamente. Lutero foi levado para fora do


prédio, enquanto se ouviam gritos demandando que ele fosse lançado
à fogueira. Alguns dos presentes ouviram Lutero murm urar: “Estou
perdido” (Veith, 2005, p. 71)35.
Em bora houvessem lhe prom etido que ele poderia voltar a
W ittenberg em segurança, Lutero foi intimado a retornar a Worms
em três semanas. Enquanto viajava de volta para casa numa carruagem
com alguns amigos, seu grupo foi repentinam ente atacado por homens
armados. Lutero não sabia ao certo se os agressores eram soldados do
im perador ou do papa, mas sabia que a intenção deles era feri-lo. A n­
tes de ser seqüestrado, ele conseguiu pegar seu Novo Testamento em
grego e sua Bíblia em hebraico. Então foi levado por seus captores
para um destino desconhecido. Sem dúvida, naquele m om ento Lutero
pensou apenas no pior.
Tratava-se de um retrocesso doloroso. Ele pensava que teria pelo
menos três semanas para colocar sua vida em ordem. Mas agora o fim
parecia estar próximo. Era uma amarga decepção, uma providência
contraditória. Por que Deus permitira que ele fosse seqüestrado no
pior m om ento possível?
Entretanto, naquela noite, quando chegaram a um castelo remoto,
Lutero descobriu que seus captores haviam sido enviados por seu bom
amigo Friedrich der Weise [Frederico, o Sábio], mem bro do colégio
eleitoral da Saxônia. Ele pensara que o seqüestro significava o fim da
sua vida. Porém, na verdade, Lutero havia sido seqüestrado por seu
amigo para que sua vida fosse salva.
N o castelo, ele trocou o hábito de m onge por vestimentas de ca­
valeiro, passando a ser conhecido como Cavaleiro George. Lutero era
Capítulo 5 107

grato por sua vida ter sido poupada; contudo, sentia-se muito solitário
no castelo. Estava longe de seus amigos e alunos. Durante vários meses
ele ressentiu sua permanência naquele lugar, embora soubesse que era
a única solução segura.
Então Lutero teve uma ideia. Por que não usar todo aquele tem ­
po livre para traduzir a Bíblia para o alemão? Se as pessoas pudessem
ler suas próprias Bíblias, as coisas seriam diferentes! Até aquele m o ­
m ento somente os padres podiam lê-la, já que estava escrita em latim.
Mas, se ele conseguisse traduzi-la para a linguagem com um do povo,
este poderia gravar a Palavra de Deus em seu coração.
E foi exatamente isso que Lutero fez. A Bíblia que ele traduziu
para o alemão abalou toda a Europa e continua sendo a tradução con­
sagrada da Bíblia em alemão (Veith , 2005, p. 77)36.
O tem po que Lutero passou no Castelo de W artburg transformou
a vida dos milhões de pessoas que leram sua tradução das Escrituras ao
longo dos séculos. Ele pensou que m orreria pelo fogo, mas a intenção
do Senhor era que Lutero incendiasse toda a Europa com o poder da
Palavra. Essa é a beleza das providências contraditórias de Deus.
E existe outra preciosidade nessa história. As prensas móveis de
Gutenberg, que na época de Lutero existiam em toda a Alemanha,
começaram a publicar milhares e milhares de exemplares da Bíblia
traduzida por ele. U m a coisa era Lutero traduzir a Bíblia, outra era sua
tradução ser impressa e distribuída a milhares de pessoas.
Cem anos antes, isso não poderia ter acontecido. N o entanto, a
providência de Deus estava trabalhando tanto na vida de Gutenberg
como na de Lutero. E a Palavra foi difundida, dando origem à Reforma.
Q uando somos abalados por uma providência contraditória, que
não faz sentido algum para nós, precisamos dar um passo atrás, deixar
nossa pulsação galopante se acalmar por um m om ento, e lembrar que
o Senhor está trabalhando (de algum modo) em nosso favor.
N o m om ento em que Lutero foi seqüestrado, tudo o que ele p o ­
dia enxergar era um retrocesso doloroso. N ão lhe passava pela cabeça
que Deus transformaria aquela situação para promover um extraordi­
nário avanço do evangelho.
108 Mesmo quando faz você voltar à estaca zero, Deus está no controle de retrocessos.

0 QUE NÃO ACONTECEU

José deve ter entrado em choque durante sua prim eira noite no cala-
bouço egípcio.Tudo o que havia conquistado acabara de lhe ser tirado.
N o seu entender, ele jamais teria outra oportunidade. N ão podia en­
xergar nenhum a esperança para o seu futuro. Sua reputação havia sido
aniquilada por uma m ulher extremamente poderosa e influente. D o
ponto de vista de José, ele não tinha nenhum futuro no Egito.
Imagine que o Senhor tivesse sentido pena desse jovem sofrido
e desapontado. Imagine que Ele tivesse visitado aquele calabouço à
m eia-noite e sussurrado as seguintes palavras ao ouvido de José:
“José, escute bem. Eu sei que você está sofrendo e também sei
que não pode com preender o porquê de tudo isso estar lhe aconte­
cendo. Sei que essa situação deve estar sendo devastadora para você.
Por isso, decidi fazer algo que não costumo fazer. Decidi lhe contar o
motivo por que o coloquei aqui. Está pronto? Bem, é o seguinte:
D entro de pouco tempo, você dirigirá esta prisão. Eu lhe darei
graça aos olhos do carcereiro, e ele entregará tudo em suas mãos, exa­
tamente como Potifar.Você aprenderá coisas aqui que não poderia ter
aprendido na casa do oficial. Por isso coloquei você aqui. D entro de
algum tempo, dois dos oficiais do faraó serão presos. Eles terão sonhos
distintos, e você interpretará o sonho de cada um deles. U m dos ofi­
ciais viverá, e o outro morrerá, exatamente conform e a sua interpreta­
ção. Q uando um deles voltar a trabalhar para o faraó, você pedirá a ele
que não se esqueça de você, mas ele se esquecerá. Eu o farei esquecer,
e você permanecerá aqui por mais dois anos.
Está me acompanhando, José? Ao fmal desse período, darei um
sonho ao faraó que o deixará apavorado. Ele chamará todos os seus
magos e conselheiros, mas nenhum deles será capaz de interpretá-lo.
Então farei o copeiro se lembrar de você. Ele falará de você ao faraó
e lhe contará sobre os sonhos que você interpretou. O faraó mandará
chamá-lo, você se apresentará diante dele e anunciará que eu enviarei
sete anos de prosperidade seguidos de sete anos de fome.Você o acon­
selhará a escolher um hom em sábio para administrar o Egito durante
os anos de prosperidade, para que o m undo inteiro possa sobreviver
Capítulo 5 109

à fome. Ele apontará você para a tarefa, transformando-o no segundo


hom em mais poderoso do mundo.
Depois disso, José, trarei seu pai e seus irmãos ao Egito, e você
estará perto deles novamente.Você e seus irmãos formarão as 12 tribos
de Israel, e por interm édio da sua família trarei m eu Filho ao mundo.
Ele nascerá de uma virgem e dará a Sua vida pela redenção de muitos.
Por isso você está aqui. Entendeu?”
José responderia: “ Sério? Isso é incrível! Q uanto tempo disse que
terei de ficar aqui?” “Dois anos.” “E enquanto isso o Senhor cuidará
de m im e proverá todas as minhas necessidades neste lugar?” “Isso
mesmo.” “Então está bem. Estou dentro.”
N ão foi isso que aconteceu. N a verdade, José não fazia a m enor
ideia do plano que Deus tinha para ele.
Porém, nós não andamos por vista, mas sim pela fé. Q uando so­
fremos um retrocesso doloroso, Deus não nos dá explicações deta­
lhadas da situação nem de como pretende consertá-la. Ele pede que
confiemos nele, crendo que Ele é bom e que fará o bem ainda que não
consigamos enxergar as evidências disso no momento.
E esse o propósito dos retrocessos dolorosos. Por isso, não perm a­
neceremos neles por m uito tempo.
C a p ítu lo 6

Mesmo quando a esperança é interceptada,


Deus está no controle de esperanças despedaçadas

A esperança é a pilastra que sustenta o m undo.


— Caio Plín io S e g u n d o

Howard Head era um atleta sofrível que transformou radicalmente


dois esportes: o esqui e o tênis. Tudo isso aconteceu por causa da sua
esperança frustrada de tornar-se um bom atleta.
Desde pequeno, Howard queria ser um bom esquiador. Mas, por
causa da sua falta de habilidade atlética, quase sempre que tentava
encarar um declive ele quebrava os esquis de madeira. M esmo assim,
manteve a esperança de um dia tornar-se um esquiador habilidoso. O
fato de essa esperança algumas vezes ter quase se esvaído não im pediu
Howard de tentar algo que naquele m om ento pareceu uma loucura.
Q uanto mais ele pensava no assunto, mais se convencia de que
seu problema com o esporte não era sua falta de habilidade como
esquiador, mas sim os esquis! Então, em 1941, Howard Head, um en­
genheiro brilhante, pegou os seis mil dólares que havia ganhado no
pôquer e devotou toda a sua energia à construção de esquis feitos de
materiais aeronáuticos (Landrum , 1993, p. 161)37.
112 Mesmo quando a esperança é interceptada, Deus está no controle de esperanças.

Seus amigos pensavam que ele havia enlouquecido. Todos sabiam


que os melhores esquis eram feitos de nogueira. Sem se deixar inti­
midar, Howard investiu vários anos de sua vida desenvolvendo um es­
qui que combinava diversos materiais e era virtualmente inquebrável.
C om isso, o m undo do esqui foi transformado para sempre. H ead Skis
se tornou a companhia mais poderosa no ramo.
Por fim, Howard H ead vendeu sua companhia e ficou m ultim i­
lionário. Nesse meio tempo, tam bém realizou seu sonho de tornar-se
um bom esquiador. R ico e aposentado, construiu uma quadra de tênis
em seu quintal e gastou cinco mil dólares em aulas. Porém, mais uma
vez, sua falta de habilidade atlética parecia bloquear-lhe o caminho.
Para que pudesse praticar sozinho, ele adquiriu um a máquina ar-
remessadora de bolas de tênis da marca Prince, mas ficou logo con­
vencido de que esta podia ser aprimorada. Então Howard comprou
a companhia que a fabricava e passou alguns meses aperfeiçoando a
máquina. Em um curto período de tempo, sua versão aperfeiçoada
conquistara 50% do mercado (Landrum , 1993, p. 161)38.
Todavia, ele continuava sendo um jogador de tênis medíocre. En­
tão lhe ocorreu que seu problema talvez fosse a raquete. Ele deveria
aumentar seu tamanho. Mais uma vez, seus amigos pensaram que ele
havia enlouquecido — raquetes maiores eram contra as regras do tênis.
Howard H ead investigou os manuais oficiais de tênis e descobriu
que não havia nenhum a regra especificando o tamanho da raquete.
Segundo as normas, era perm itido jogar tênis até com uma máquina
de waffles se quisesse. Então ele desenvolveu uma raquete cinco cen­
tímetros mais larga e sete centímetros e meio mais com prida que as
habituais. Assim que começou a usar a própria raquete, Howard ficou
impressionado com a melhora em seu desempenho.
Depois de inúmeras tentativas e erros e extensivos testes em labo­
ratório, Howard finalmente obteve resultados que comprovavam que
a área de contato ideal da sua raquete era 20% maior do que a de uma
raquete comum. A raquete Prince se tornou o padrão ouro no tênis,
e em 1982 Howard Head vendeu a Prince Tennis por 62 milhões de
dólares. Com o não tinha esperança de tornar-se um m elhor jogador
Capítulo 6 113

de tênis a menos que aperfeiçoasse o equipamento, foi exatamente isso


que ele fez. E todos se beneficiaram.
Entretanto, a maioria das pessoas perde a esperança com relação a
assuntos significativamente mais importantes — e mais próximos do
coração — do que o esqui ou o tênis.
Qual é a importância da esperança? Sabemos que o hom em pode
viver sem água por apenas alguns dias e sem comida por algumas se­
manas. N o entanto, nada mata mais rápido o coração do que a falta de
esperança. Q uando a esperança morre, a vida acaba.

J ogando o jogo da vida

José não estava preocupado em jogar tênis. Ele estava preocupado com
o curso de sua vida. Em bora estivesse a apenas dois anos de uma gran­
de realização, esse jovem precisava travar uma batalha primeiro. Tinha
de lutar contra as esperanças despedaçadas.
Com a sabedoria que Deus lhe deu, Salomão descreveu bem os
efeitos de uma esperança frustrada: A esperança demorada enfraquece o coração,
mas o desejo chegado é árvore de vida (Pv 13.12). E um excelente resumo.
Q uando nos enchemos de esperança de que nosso sonho está
prestes a realizar-se e de repente tudo vai por água abaixo, nosso co­
ração desfalece. N ão existe dor mais profunda do que o sofrimento
emocional. E todos nós já passamos por isso.
A esperança despedaçada é como um chute no estômago. Q uan­
do uma grande esperança é frustrada, a vida pode tornar-se um infer­
no na terra.
Esperanças destroçadas muitas vezes andam lado a lado com a de­
cepção e o desgosto. Perdemos a esperança quando somos esmagados
e surrados pelas decepções e tristezas da vida. Você já passou p or isso,
e eu também.

A ndei u m a m ilha c o m o prazer,


C onversam os p o r to d o o cam inho,
M as n e n h u m a de suas palavras
T o rn o u -m e sequer u m p o u c o mais sábio.
114 Mesmo quando a esperança é interceptada, Deus está no controle de esperanças.

A n d ei u m a m ilha co m o sofrim ento


E le não disse u m a palavra,
M as ó q u an to p u d e aprender,
Q u a n d o tive o so frim en to ao m e u lado.

Garth Brooks não é um teólogo, mas alguns anos atrás compôs


uma música de teor bastante teológico. O título é simplesmente Some
o f G od’s Greatest G ijtsA re Unanswered Prayers [Orações não respondidas
às vezes são os melhores presentes de Deus].
Vemos um emprego que queremos, alguém com quem gostarí­
amos de casar ou um sonho para nossa vida e começamos a orar. E
algumas vezes Deus diz não. Orações não respondidas frequentemente
resultam em esperanças estilhaçadas.
A música de Garth Brooks conta a história de um hom em que
vai a uma reunião com os antigos colegas do ensino médio acompa­
nhado da esposa. Ali ele encontra a garota por quem era apaixonado
no colégio, a jovem com quem queria tão desesperadamente se casar.
Sua oração não fora respondida na época, deixando seu coração par­
tido. Mas agora ele está de mãos dadas com a resposta àquela oração.
Orações não respondidas muitas vezes são os melhores presentes
de Deus. Porém, como vimos, quase sempre só conseguimos compre­
ender isso muitos anos depois, quando olhamos para nossa vida em
retrospectiva.
Deus está no controle das orações não respondidas e das esperan­
ças despedaçadas. Sua providência dirige nossa vida, realizando aquilo
que é m elhor para nós. Neste exato m om ento, Deus está tecendo sua
vida para a glória e a honra do Seu nome. Ele sabe exatamente o que
está fazendo, mesmo quando nossa esperança é despedaçada.
Esperanças estilhaçadas são uma das ferramentas na oficina do
Senhor. “Se é verdade que a oficina da providência não contém ape­
nas ferramentas de todos os tipos e tamanhos, mas também a mão
habilidosa que as manuseia, não poderíamos dizer que tais ferramentas
seriam tão incapazes de produzir seus efeitos por si mesmas quanto
um machado, uma serra ou um formão seriam incapazes de entalhar
Capítulo 6 115

um a tora de m adeira e transform á-la em um a bela figura sem as mãos


de u m habilidoso artesão?” (Flavel, 1678, p. 32)39
Q uem além de Deus poderia usar esperanças destroçadas como
uma ferramenta providencial para realizar o que Ele tem de m elhor
para nós? O Senhor é o maior dos artesãos.
Isso pode ser visto com clareza na história de José. Nós o havía­
mos deixado na prisão. Com o você se lembra, ele não tinha sido co­
locado lá por ter feito algo errado. Estava lá porque seguira o Senhor.
Com o resultado disso, fora acusado falsamente.
C ontudo, pela benignidade e pelo favor de Deus, José logo se
tornou responsável por toda a prisão. O Senhor fez com que ele cha­
masse a atenção do carcereiro, por isso foi encarregado de administrar
um “departam ento” de tremenda importância.
Embora Deus tivesse sido gracioso ao conceder a José a respon­
sabilidade de dirigir a prisão, essa não era uma tarefa que ele teria
ambicionado fazer. José não queria sequer estar ali.Você ia querer? É
claro que não.
Duas coisas acontecerão nos próximos dois capítulos da vida de
José: ele se encherá de esperança, e sua esperança será despedaçada. Parecem
capítulos a serem evitados a qualquer custo, mas são parte do plano.

0 COPEIRO E 0 PADEIRO

E aconteceu, depois destas coisas, que pecaram o copeiro do rei do Egito e


o padeiro contra o seu senhor, o rei do Egito. E indignou-se Faraó muito
contra os seus dois eunucos, contra o copeiro-mor e contra o padeiro-mor. E
entregou-os à prisão, na casa do capitão da guarda, na casa do cárcere, no
lugar onde José estava preso. E o capitão da guarda pô-los a cargo de José,
para que os servisse; e estiveram muitos dias na prisão.
E ambos sonharam um sonho, cada um seu sonho na mesma noite; cada
um conforme a interpretação do seu sonho, o copeiro e o padeiro do rei do
Egito, que estavam presos na casa do cárcere. E veio José a eles pela manhã
e olhou para eles, e eis que estavam turbados. Então, perguntou aos eunucos
de Faraó, que com ele estavam no cárcere da casa de seu senhor, dizendo:
Por que estão, hoje, tristes os vossos semblantes? E eles lhe disseram:Temos
116 Mesmo quando a esperança é interceptada, Deus está no controle de esperanças.

sonhado um sonho, e ninguém há que o interprete. E José disse-lhes: N ão


são de D eus as interpretações? Contai-mo, peço-vos.
Então, contou o copeiro-mor o seu sonho a José e disse-lhe: E is que em
meu sonho havia uma vide diante da m inha face. E , na vide, três sarmen­
tos, e ela estava como que brotando; a sua flo r saia, e os seus cachos ama­
dureciam em uvas. E o copo de Faraó estava na m inha mão; e eu tomava
as uvas, e as espremia no copo de Faraó, e dava o copo na mão de Faraó.
Então, disse-lhe José: Esta é a sua interpretação: os três sarmentos são
três dias; dentro ainda de três dias, Faraó levantará a tua cabeça e te res­
taurará ao teu estado, e darás o copo de Faraó na sua mão, conforme o
costume antigo, quando eras seu copeiro. Porém lembra-te de m im , quando
te fo r bem; e rogo-te que uses comigo de compaixão, e que faças menção
de m im a Faraó, efa ze -m e sair desta casa; porque, de fato, f u i roubado da
terra dos hebreus; e tampouco aqui nada tenho feito, para que me pusessem
nesta cova.
Gêne si s 40.1-15

Vamos colocar-nos no lugar de José por um instante. Ele estava


preso, tendo sido falsamente acusado de ser um predador sexual. Estava
desesperado para sair daquele lugar, mas fora promovido ao cargo de
“assistente executivo” do carcereiro. José tinha um escritório espaçoso,
alguém que sempre lhe trazia um cafezinho assim que ele chegava de
manhã, e ainda uma secretária que o ajudava a administrar a prisão.
Então, um dia, dois oficiais do faraó foram encarcerados. Ambos
haviam feito algo que o deixara furioso. N ão eram presos insignifi­
cantes. Pelo contrário, eram pessoas estratégicas na administração do
Egito.
Todo chefe de Estado ocasionalmente organiza banquetes para
os dignitários que o visitam — às vezes esses banquetes acontecem
quatro a cinco vezes por semana. Era aí que o padeiro entrava em ação.
Esse sujeito não estava confeccionando sonhos na padaria da esquina.
Ele era como um chef de fama internacional, responsável pela produ­
ção de iguarias finíssimas para os convidados do faraó. Se o padeiro-
-m or estivesse vivo hoje, teria seu próprio programa no Food Channel.
Capítulo 6 117

O copeiro-mor era mais importante ainda. Era um hom em de in­


teira confiança do faraó, que, antes de oferecer-lhe vinho, provava a
bebida. Q uando o copeiro tomava um gole de vinho, todos prendiam
a respiração por um minuto, esperando para ver se ele cairia morto. O
fato de ele não cair m orto significava que o vinho era seguro, e que os
“paramédicos” podiam voltar a “assistir ao jogo” . O copeiro-mor prote­
gia o faraó do envenenamento, arriscando a própria vida a cada refeição.
Ele era um oficial digno de confiança, um valioso membro da corte.
Então, um dia, esses oficiais foram lançados na prisão que estava
sob o comando de José. Este procurou conhecer bem os dois, e, com
o passar do tempo, certo grau de relacionamento foi desenvolvido
entre eles.
Os homens já estavam sob a responsabilidade de José no cárcere
havia algum tempo, quando algo extraordinário ocorreu. N a mesma
noite, ambos tiveram sonhos que os deixaram bastante confusos e de­
primidos. Q uando José notou o semblante ansioso deles na manhã
seguinte, perguntou o que tinha acontecido.
Os oficiais taciturnos responderam que haviam tido sonhos per­
turbadores durante a noite. José pediu a eles que os contassem. Ambos
não conseguiam entender o que significavam, mas, como José lhes
declarou, Deus poderia dar uma interpretação clara a respeito.
Q uando o copeiro e o padeiro contaram tudo a José, o Senhor
imediatamente deu a este uma interpretação clara e exata. A mensa­
gem para o copeiro era que em três dias ele seria restaurado à sua p o ­
sição e voltaria a servir ao faraó. A mensagem para o padeiro era que
em três dias ele seria enforcado.
N o terceiro dia, tudo aconteceu conform e a interpretação que o
Senhor dera a José. Por isso, quando o faraó m andou chamar o copeiro
de volta ao trabalho, José se encheu de esperança. Em algum m om ento de
sua sentença de duração indeterminada, José com certeza deve ter se
perguntado se algum dia conseguiria sair daquela prisão. Ele não podia
chamar a A CLU [American C ivil Liberties Union — U nião Americana
pelas Liberdades Civis] nem contratar um advogado. N ão estava nos
Estados Unidos, mas no Egito.Talvez ele tivesse de ficar naquela prisão
pelo resto da vida.
118 Mesmo quando a esperança é interceptada, Deus está no controle de esperanças.

Mas e agora? Agora José conhecia alguém da corte! O hom em


responsável pela vida e pelo bem-estar do faraó era seu amigo. José
havia lhe feito um favor, encorajando-o num m om ento difícil; talvez
nesse m om ento o copeiro pudesse apelar junto ao faraó em seu favor.
Ele certamente faria isso!
Esse foi o prim eiro raio de esperança que José experim entou em
sabe-se lá quanto tempo. Ele deve ter se sentido como Howard Head
quando produziu sua nova raquete.
O fato de o copeiro e o padeiro terem ido parar na prisão com
José não podia ter sido apenas um a coincidência. E com certeza
o fato de Deus haver lhe dado a interpretação exata dos sonhos
não tinha sido acidental. R ealm ente, nada daquilo fora um acaso,
n en h u m daqueles eventos acontecera por sorte! Deus havia orques­
trado tudo, e um dia o copeiro se tornaria o passaporte que tiraria
José da prisão. Bastava que aquele hom em dissesse um a palavra ao
faraó, e José seria solto.
Você não pensaria assim se estivesse no lugar de José? E claro! Se
ainda duvida que José tenha se enchido de esperança, observe nova­
m ente o que ele disse ao copeiro quando este estava sendo solto:

Porém lembra-te de m im , quando tejo r bem; e rogo-te que uses comigo de


compaixão, e que faças menção de mim a Faraó, e fa ze-m e sair desta casa;
porque, de fato, f u i roubado da terra dos hebreus; e tampouco aqui nada
tenho feito, para que me pusessem nesta cova.
G ê n e s is 40.1 4,1 5

Aí está! “Fale de m im ao faraó e me tire daqui!” N ote ainda que


José menciona que sua esperança já tinha sido despedaçada duas ve­
zes. Primeiro, quando seus irmãos o venderam como escravo; depois,
quando ele estava começando a recuperar um pouco do equilíbrio,
tornara-se alvo de uma falsa acusação de estupro.
Em suma, as últimas palavras de José quando o copeiro estava
saindo da prisão foram: “Por favor, não se esqueça de mim!” E o que
o copeiro fez? Esqueceu-se de José.
Capítulo 6 119

0 silêncio de D eus

Depois disso, o que aconteceu? A resposta a essa pergunta é um gran­


de e gordo nada. Absolutamente nada. Por isso, a esperança de José se
despedaçou.
Trazendo a situação para hoje, poderíamos dizer que José ficava
esperando o telefone tocar, mas nunca tocou. Checava sua caixa de
mensagens cinco vezes por dia — e nada. Verificava repetidamente
seu e-mail, achando que o copeiro se comunicaria com ele, mas nada
acontecia. O silêncio era ensurdecedor.
C. S. Lewis disse que Deus fala conosco [sussurrando] quando
estamos sendo consolados, mas grita quando estamos sofrendo. [“A
dor é o megafone de Deus.”] José estava sofrendo. Sua esperança tinha
sido adiada mais uma vez, e mais uma vez seu coração fora partido.
Pela terceira vez em sua vida suas esperanças tinham sido destroçadas,
e dessa vez a situação parecia irreversível.
Isso me lembra uma notícia que li alguns anos atrás sobre um
grande cardume de atuns que estava migrando para a costa de Cape
Cod, em Massachusetts — um acontecimento muito raro. N enhum a
migração de atum havia sido vista na Nova Inglaterra nos últimos 47
anos. Logicamente, a pesca do atum pode ser um negócio bastante lu­
crativo. Alguns compradores japoneses estavam oferecendo até 50 mil
dólares por um grande atum-rabilho.
A notícia de que havia atum para dar e vender a 50 km da costa
se espalhou com rapidez. Você não precisava ter uma licença de pesca
nem experiência, apenas um barco e o equipamento adequado. M ui­
tas pessoas ficaram sabendo quanto estavam pagando por um atum e
decidiram que pescar não seria má ideia. Elas pegaram seus barquinhos
e partiram para o mar. E muitas foram bastante bem-sucedidas. C on­
tudo, existe uma diferença entre fisgar um atum e apanhar um atum.
Em 23 de setembro, o Christi A n n e em borcou enquanto travava
uma batalha com um atum. N o mesmo dia, outra embarcação peque­
na, o Basic Instinct, teve o mesmo infortúnio. O dono do barco estava
atrás dos 50 mil dólares, mas acabou perdendo seu barco e por pouco
não perdeu a vida. O utro barco, o Ofjicial Business, uma embarcação de
120 Mesmo quando a esperança é interceptada, Deus está no controle de esperanças.

tamanho considerável, com 8,5 m de com prim ento, afundou enquan­


to tentava apanhar um atum de 272 kg. O atum literalmente arrastou
o barco para debaixo d’água ( M y r a & S h e l l e y , 2005, p. 59)40.
Isso é que eu chamo de esperança despedaçada. Você está perti­
nho da maior guinada da sua vida, mas não consegue concretizá-la.
Q uando José se despediu do copeiro, este representava seu atum
de 50 mil dólares. N o entanto, quando o carcereiro o esqueceu, a
esperança de José afundou mais rápido que um barquinho sendo ar­
rastado para o fundo do mar por um atum-rabilho de 180 kg. José se
encheu de esperança de que o copeiro seria seu passaporte para a li­
berdade. Mas sua esperança com eçou a emborcar quando ele não teve
mais notícias do seu antigo companheiro de cela.
Em bora José provavelmente não soubesse disso na época, ele ha­
via acertado em cheio quanto ao copeiro e ao que esse oficial do faraó
poderia fazer por ele. José tam bém estava certo ao presumir que nada
daquilo havia acontecido por acidente. O Senhor realmente lhe pro­
porcionara um relacionamento significativo. Porém, no m om ento em
que foi restituído ao cargo, o copeiro apagou por completo José de sua
mente. Ao voltar ao trabalho, esqueceu-se do rapaz que interpretava
sonhos na prisão.
C om o era possível ele se esquecer de uma coisa dessa? H á apenas
uma explicação para isso: o Senhor o fez esquecer. N ão era o m om en­
to certo. Dois anos depois, aquele oficial do faraó se lembrou subita­
mente de José. E foi o Senhor que o fez lembrar-se.
E m Provérbios 21.1 vemos por que isso acontece: Como ri­
beiros de águas, assim é o coração do rei na mão do S E N H O R ; a tudo
quanto quer o inclina. O Senhor inclina o coração dos reis e o dos
copeiros. Ele os faz lem brar e tam bém esquecer. Isso porque D eus
está no controle.
O copeiro realmente se tornaria o passaporte para a liberdade de
José. Mas José não teria nenhum a notícia dele por dois longos anos.
Nada é mais devastador do que uma esperança despedaçada.Você
se enche de esperança só para vê-la ser frustrada logo depois. Isso já
aconteceu a todos nós.
Capítulo 6 121

Fora do controle

Q uando nossas esperanças são despedaçadas, nossa vida parece ter per­
dido totalmente o controle. Não há mais plano, nem estrutura, nem
organização. Nada mais faz sentido. Q uando nossas esperanças são es­
tilhaçadas, a “cola” que m antém a vida estruturada se perde — ou pelo
menos essa é a impressão que temos.
Abraham Lincoln era um desastre ambulante. E ninguém sabia
m elhor disso do que seu parceiro W illiam H erndon. Este descreveu
assim o hom em com quem trabalhou durante anos:

E le não tin h a n e n h u m sistema, n e n h u m a ordem ; ele não tinha u m


escrevente, u m a biblioteca, u m arquivo o u u m livro-caixa. Q u a n ­
do escrevia u m a nota, ele a jogava em u m a gaveta, colocava-a no
bolso do colete o u d en tro do chapéu [...] mas no h o m e m in te rio r
a sim etria e o m é to d o prevaleciam . Ele não tin h a u m escritório
organizado e não precisava de caneta n e m de tinta p o rq u e tinha
u m a oficina na cabeça. (Johnson , 1997, p. 438)41

Q uando nossas esperanças são despedaçadas, podemos desestru-


turar-nos rapidamente. A impressão que temos é de que nossa vida
não tem nenhum sistema, nenhum a ordem, nenhum a estrutura. Nada
parece estar acontecendo de acordo com nossa agenda ou nosso ca­
lendário. Mas na m ente de Deus existe uma simetria e um método.
Ele trabalha em meio a esperanças estilhaçadas. Estas constituem ape­
nas mais uma ferramenta na oficina da Sua providência.
O Senhor estava por trás do silêncio do copeiro. Essa situação
deve ter sido absolutamente excruciante para José. Sua única espe­
rança na vida era de que o copeiro se lembrasse dele. E isso estava no
calendário de Deus, mas não aconteceria até que o Senhor desse a
ordem.
Davi sabia m uito bem o que era ter as esperanças despedaçadas.
Contudo, também conhecia a fidelidade de Deus. Ao lermos o Salmo
57.2,3a, percebemos que ele estava vivendo uma situação dificílima.
122 Mesmo quando a esperança é interceptada, Deus está no controle de esperanças.

Estava cercado de inimigos, e a destruição pairava sobre a sua cabeça.


Aqueles sujeitos não estavam brincando nem fazendo ameaças vazias:
eles queriam matar Davi.Veja o que Davi disse quando se encontrava
bem naquela situação crítica e desalentadora:

Clamarei ao D eus Altíssim o, ao D eus que por m im tudo executa. E le dos


céus enviará seu auxílio e me salvará.

Veja como um tradutor capturou a essência dessa passagem:

Clamarei ao D eus Altíssim o, a Deus, o transatorx d o s m e u s n e g ó c io s.


E le d o s c é u s e n v ia r á s e u a u x ílio e m e s a lv a rá .

C uidando dos n o sso s negócios

Você sabe o que significa estar envolvido numa transação comercial.


Consiste num negócio em processo de ser acordado ou já fechado.
M antendo isso em mente, considere o Senhor como o transator de
seus negócios. E Ele quem realiza tudo por você, quem cuida dos
negócios pertinentes à sua vida. E mesmo quando você se encontra
numa situação similar à de Davi, que estava escondido numa caverna,
ou à de José, que estava preso sob uma acusação falsa, o Senhor per­
manece tom ando conta dos seus negócios.
Talvez você esteja paralisado, mas Deus não. Independente da sua
situação, o Senhor é quem está cuidando de tudo o que lhe diz respei­
to. Será Ele quem fará tudo por você.
Entenda isto: não im porta como as coisas se apresentem em qual­
quer m om ento de sua vida, a providência de Deus jamais trabalha con­
tra você. Ela atua sempre a seu favor. Mesmo quando o Senhor parece
ter perm itido que seus planos e esperanças fossem esmagados, Ele não
está agindo contra você.
Isso é uma promessa, é a verdade. O Senhor é o transator de todos
os seus negócios.

x A quele qu e realiza u m a transação.


Capítulo 6 123

Q uem está em Cristo sabe que Deus nos ama tanto que enviou o
Seu próprio Filho para m orrer por nós. Porém, talvez você diga: “Eu
sou um grande pecador” . Sim, isso é verdade, e foi por isso que Deus
enviou o Senhor Jesus. Ele está a seu favor, e, como Davi disse no Sal­
mo 57.3, Ele dos céus enviará seu auxílio e me salvará.
Deus está prestes a enviar-lhe o Seu auxílio porque Ele é o gran­
de transator dos seus negócios.
Q uando sua esperança é despedaçada por causa do aparente silên­
cio de Deus, o plano do Senhor para a sua vida continua em vigor. Seu
plano não pode ser frustrado, tampouco adiado. Também não pode
ser obstruído, impedido, nem sair do cronograma do Senhor. Deus
cumprirá a obra dele em sua vida, cuidará dos seus negócios. N inguém
pode resistir ao Seu plano. N inguém , absolutamente ninguém, pode
atrapalhá-lo.
Mas nem sempre vemos as coisas dessa forma. Q uando nos en­
contramos na caverna das circunstâncias ou na prisão das decepções,
a prim eira coisa que fazemos é questionar Deus ou julgar a maneira
como Ele está trabalhando. Aliás, às vezes parece que o Senhor não
está fazendo nada, que Ele tirou férias prolongadas, e então começa­
mos a m urm urar e a reclamar.
Todos nós já passamos por isso e tivemos essa atitude. Em vez de
agradecermos a Deus e entregarmos a Ele o nosso caminho, começa­
mos a julgar precipitadamente nossas circunstâncias e a questionar a
benignidade do Pai. Começamos a acusar o Senhor como um ávido
prom otor de justiça acusa um time de lacrosseXI.

N em tão elem entar , m e u caro W atson

Em todo este livro, tenho feito várias referências a Thomas Watson e


John Flavel, dois ingleses que viveram no século 17. Duas obras desses
autores têm sido meus livros de cabeceira nos últimos oito anos: A li

XI A lusão a u m episódio o c o rrid o em 2006 em q u e três m em b ro s d o tim e m asculino de lacrosse da D u k e


U niversity em D u rh a m , na C arolina d o N o rte , fo ram falsam ente acusados de estupro. A repercussão desse
caso resultou, en tre outras coisas, na interdição d o advogado de acusação, M ike N ifong.
124 Mesmo quando a esperança é interceptada, Deus está no controle de esperanças..

Thingsfor Good [Todas as coisas para o bem] ,jde Watson, e The Mystery
o f Providence [O mistério da providência], de Flavel. Comprei os dois na
mesma livraria no mesmo dia e venho digerindo ambos desde então.
Q uando se trata da providência de Deus, tanto Watson como Flavel
sabem do que estão falando. O assunto aparece em todas as páginas das
suas obras. Ambos eram homens brilhantes, mas não escreviam apenas
para impressionar o pessoal de O xford ou de Cambridge. Eles viviam
essas verdades debaixo de pressão e perseguição inimagináveis.
Você tem ideia do que aconteceria se o governo de repente de­
cretasse que todos os pastores que pregassem o evangelho de Jesus
Cristo deveriam ser imediatamente removidos de suas igrejas? Era
exatamente isso que estava acontecendo na Inglaterra em 1662.
A Igreja e o Estado eram a mesma entidade na época, e com isso
o rei de repente ordenou a remoção imediata de todos os pastores
conservadores que cressem na Palavra de Deus de suas igrejas. Eles
foram proibidos de pregar e obrigados a m anter uma distância de oito
quilômetros de qualquer cidade. Depois de perderem suas igrejas e seu
único meio de sustento, esses pastores foram expulsos das cidades sem
nenhum a provisão para si nem para suas famílias. Esse evento ficou
conhecido como The Great Ejection [A grande expulsão].
Tanto Watson como Flavel foram expelidos de suas igrejas. Watson
escreveu o livro A li Things fo r Good para encorajar seus colegas que
também haviam sido expulsos de suas igrejas.
O pai de John Flavel era um dos pastores que haviam sido expul­
sos. Ele foi preso, m orrendo pouco depois durante a peste de 1665.
Flavel teve de lidar com a amargura de ver o pai ser falsamente acusado,
emprisionado e empobrecido. Com o se isso não bastasse, sua própria
vida estava em constante perigo. Ele foi expulso de sua igreja, de sua
casa, e forçado a viver sob a pressão diária de saber que poderia ser
preso, torturado e m orto a qualquer momento.
Então, quando John Flavel nos aconselha a não prejulgarmos o
agir de Deus no m om ento em que as coisas não vão conform e gos­
taríamos, ele sabe por experiência própria do que está falando. Seus
escritos não eram um mero exercício intelectual. Flavel escrevia sobre
Capítulo 6 125

sua vida e sua experiência. Ele vivia das promessas e da providência


do Senhor e sabia que Deus estava trabalhando em meio às suas es­
peranças frustradas. E isso era algo que não lhe faltava. Ele conhecia a
realidade de ter tido as esperanças despedaçadas em sua vida e em sua
própria família.
José teve suas esperanças destroçadas quando o copeiro se esque­
ceu dele. Mas um dia, dois anos depois, o copeiro se lembraria de José
na hora certa.
Q uando a resposta do seu pedido de oração é adiada, não sig­
nifica obrigatoriamente que Deus está dizendo não. Talvez Ele esteja
dizendo não no m om ento — por mil razões das quais você não tem
a m enor ideia. C om o se costuma dizer, os atrasos do Senhor não são
necessariamente Suas negativas.
Ele está no controle e sabe o que está fazendo mesmo quando
nossas esperanças são despedaçadas. Tudo isso constitui apenas um elo
na trama que Deus está tecendo para você, seus filhos, os filhos dos
seus filhos e as gerações vindouras.

Q uando os p ie d o s o s são m o r t o s

Q uando Steve Saint tinha cinco anos, esperava que seu pai voltasse
de sua expedição à selva a tempo para o jantar. Todavia, seu pai não
voltou, assim como os outros quatro homens que estavam com ele no
coração da Floresta Amazônica. N enhum deles saiu de lá vivo. Foram
atravessados pelas lanças dos índios Aucas no dia 8 de janeiro de 1956.
Os Aucas na verdade são índios da tribo Waodani, mas também
são conhecidos como Aucas, que significa assassinos selvagens. A espe­
rança que Steve tinha de ver seu pai de novo foi estilhaçada. Esse é um
remédio amargo para um m enino de cinco anos. Entretanto, acompa­
nhado da mãe, da tia e de algumas das esposas dos outros missionários
martirizados, Steve continuou vivendo entre os homens e as famílias
que mataram seu pai.
A bondade de Deus tirou esses assassinos da escuridão espiritual
e os aproximou dele. O episódio resultou num fruto tremendo, mas o
126 Mesmo quando a esperança é interceptada, Deus está no controle de esperanças.

fato é que a esperança de um m enino de cinco anos foi despedaçada


ao perder o pai daquela maneira. Foi uma tragédia devastadora. Entre­
tanto, 50 anos mais tarde, em seu extraordinário livro E nd o f the Spear
[Ponta da lança], Steve compartilhou seu ponto de vista sobre como
teve suas esperanças destroçadas naquele dia tão triste.

E sto u apenas con jectu ran d o , já que n e n h u m de nós p o d e co n h e ­


cer a von tad e do Senhor, mas acho q u e o plano de D eus era que
aqueles cinco h o m en s m orressem n aquele dia. Sei que isso talvez
ofenda algumas pessoas de opinião mais estreita qu an to aos parâ­
m etros segundo os quais D eus deve operar, mas não creio que o
q u e o c o rre u ao m e u pai e aos seus q uatro am igos te n h a pegado o
S en h o r de surpresa. T am b ém não acho que D eus tenha sim ples­
m en te p e rm itid o aquele acon tecim en to . N ão. D epois de c o n h ecer
os detalhes do que sucedeu em 8 de ja n eiro de 1956 — enq u an to
eu aguardava ansioso que o p o n tin h o do p eq u e n o avião 56 H e n ry
do m e u pai aparecesse sobre as m o n tanhas de Penny R id g e — ,
creio que o en volvim ento do S en h o r n o que aconteceu foi m u ito
m aio r do que u m m ero descuido [...]
Inúm eros fatores tiveram de trabalhar ju n to s para que os eventos
daquele dia transcorressem da m aneira com o transcorreram . F ato­
res dem ais para que eu acreditasse q u e tu d o aquilo ocorrera p o r
acaso. C h e g u e i à conclusão de que D eus não o lh o u para o outro
lado. Ele não apenas p e rm itiu que isso acontecesse. Ele planejou
tudo. E m b o ra para m im não ten h a sido fácil chegar a essa co n clu ­
são, creio que ela é acertada.
E u paguei u m e n o rm e p reço pessoal pelo que aconteceu n aq u e­
le dia em Palm B each [Praia das Palmeiras]. M as tam b ém tive o
privilégio de ver da p rim eira fila o desenrolar dessa história nas úl­
tim as cinco décadas. P u d e v er em p rim eira m ão que m uitas coisas
boas resultaram disso. C reio que só D eus seria capaz de criar um a
história tão incrível a p a rtir de u m evento tão trágico.
N ão p o d e ria n e m com eçar a relatar sobre os m ilhares de pessoas
que m e con taram co m o o S en h o r usou o que aconteceu em Palm
Capítulo 6 127

B each para transform ar suas vidas para m elhor. A lém disso, para
m im seria suficiente saber que, p o rq u e M incaye m ato u o m eu pai,
m in h a fam ília agora te m o privilégio de am á-lo e de ser am ada p o r
ele. E p o rq u e m e u pai, Jim , E d, P e te r e R o g e r estavam dispostos
a m o rrer, K im o, D y u w i, G ikita, O m p o d ac,T em en ta, G aba, O dae,
T idi, D aw a, C aw aena, C o b a, G aacam o, seus filhos, netos, bisnetos
e m uitos outros terão u m a o p o rtu n id a d e de viver. Se eu pudesse
voltar n o tem p o agora m esm o e reescrever o roteiro desse filme,
não m u d aria u m a cena sequer. C o n seg u i co m p reen d er que a vida
é com plexa e cu rta dem ais para que a história seja dirigida p o r
am adores. P refiro deixar o M estre C o n ta d o r de H istórias escrever
a m inha. (S a i n t , 2005, p. 59, 60)42

Howard Head não se tornou um jogador de tênis m elhor até


conseguir uma grande raquete. Você não vai conseguir superar a de­
cepção de suas esperanças despedaçadas até que entenda que precisa
de um grande Deus.
E eu tenho uma boa notícia: você não precisa inventar um grande
Deus para que sua vida melhore. Ele já existe, sempre esteve e sempre
estará presente. E o transator dos seus negócios e cumprirá aquilo que
lhe diz respeito. Em m eio às suas esperanças despedaçadas, o Senhor
enviará Seu auxílio do céu e o ajudará.
Sem querer desrespeitar nenhum dos dois esportes, Deus tem
planos muito, m uito maiores para você do que simplesmente melhorar
sua habilidade no esqui ou no tênis.
C a p ít u l o 7

Rebaixado e colocado no banco dos reservas. ..


Deus está no controle das esperas prolongadas

Aguardo o S E N H O R ; a m inha alma o aguarda, e espero na sua palavra.


S a lm o 130.5

Embora Albert Einstein fosse um gênio, assim como todos os alunos


de pós-graduação, ele levou anos para concluir sua tese de doutorado.
O dia em que Einstein finalmente apresentou sua tese de doutorado
em física ao seu professor foi uma ocasião marcante para ele.
Algumas semanas depois, ele recebeu o trabalho de volta com
uma observação. Sua tese havia sido rejeitada. O professor a achara
curta demais. O fato deixou Einstein bastante decepcionado. U m a
tese rejeitada poderia significar mais um ou dois anos de trabalho ex­
tenuante. Isso significava ainda que ele teria de esperar pelo diploma,
além de não poder candidatar-se a nenhum emprego como catedráti-
co, já que todos exigiam o diploma.
Einstein precisava encontrar um jeito de driblar a espera. Foi aí
que teve um a ideia. Ele se sentou e releu sua tese. Então fez um acrés­
cimo — não de um capítulo ou de um parágrafo. Para dizer a verdade,
acrescentou apenas uma frase à tese inicial e entregou-a novamente ao
professor.
130 Rebaixado e colocado no banco dos reservas... Deus está no controle das esperas.

Sua tese foi prontam ente aceita, e Einstein de algum m odo con­
seguiu evitar a longa espera. Só um gênio poderia realizar tal proeza.
Essas coisas não funcionam assim para o restante de nós, pobres m or­
tais com Q I abaixo de 180.
Esperar é como comer cascalho. N inguém em perfeito juízo deseja
fazê-lo. Por quê? Porque nenhum de nós gosta de esperar — por nada.
José tinha sido encarcerado por causa de um a falsa acusação. Ago­
ra era obrigado a esperar. Q uanto tem po demoraria a ser solto, se é
que isso aconteceria? Ele não tinha ideia. Sabemo? pelo relato bíblico
que José perm aneceu no calabouço por dois anos, mas ele não ima­
ginava que seria assim. Devia achar que ficaria preso por anos a fio e
que acabaria m orrendo naquele lugar.
Q uando você está esperando numa prisão egípcia ou quando está
preso em uma circunstância difícil, não há m uito que fazer. E quanto
mais você espera, mais desencorajado fica.
Por que Deus não faz algo miraculoso e muda instantaneamente
nossa situação quando estamos esperando? R o b ert J. M organ tem uma
excelente resposta para isso:

E m b o ra m ilagres ainda aconteçam , D eus os usa co m m oderação.


M esm o nas Escrituras, os m ilagres não representam o padrão de
co n d u ta do Senhor. M uitas pessoas p resu m em que a Bíblia está
cheia de m ilagres, mas isso não é verdade. M ilagres em série o co r­
reram apenas d u ran te alguns p eríodos da história bíblica — d u ­
rante o êxodo, nos m inistérios de Elias e Eliseu, durante a vida de
C risto e p o r in te rm é d io dos p rim eiros apóstolos.
N a m aio r parte da Bíblia, D eu s aju d ou Seu povo de form a o r­
dinária e providencial, em vez de o perar de m o d o abertam ente
sobrenatural. O m esm o é verdade hoje. E p o r isso que os cristãos
m aduros prestam atenção aos acidentes, in fo rtú n io s e c o in cid ên ­
cias da vida, já que tais na realidade não existem . O que existe é
apenas a o rd e m providencial de D eus, que cuida dos seus filhos
q u e o buscam e confiam nele, e cuja m ão invisível guia, guarda,
ord en a e reord en a suas circunstâncias. (M organ, 2001, p. 86, 87)43
Capítulo 7 131

Às vezes somos obrigados a esperar em circunstâncias desconfor­


táveis e difíceis, sem que tenhamos a m enor ideia de qual será o fmal
da história. Mas mesmo então — e especialmente nesses m om entos —
Deus está trabalhando.
O profeta Isaías esclareceu bem isso:

Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu,


nem com os olhos se viu um D eus além de ti, que trabalhe para aquele
que nele espera.
Is a ía s 64 .4

Quando José estava na prisão, Deus lhe deu a habilidade de inter­


pretar os sonhos do copeiro e do padeiro. Isso foi u m milagre. Mas, à
exceção dessa interferência miraculosa de Deus, José teve de esperar.
D urante esse período de espera, todas as suas necessidades foram su­
pridas enquanto o Senhor girava lenta e diariamente a roda da pro­
vidência em sua vida. José não via milagres todos os dias, mas experi­
mentava a providência divina.
Muitas vezes pensamos que o Senhor só opera por milagres.
Esse é o grande erro da Igreja contem porânea. C ontudo, Deus está
sempre trabalhando. Enquanto esperamos, o Senhor age. Talvez Ele
não nos explique por que nos faz esperar, mas o Todo-poderoso não
tem obrigação de explicar coisa alguma. Ele sabe exatamente o que
está fazendo.
A espera representa um a grande parte da vida cristã. O p rin c í­
pio da espera pelo agir e pelo tem po do Senhor pode ser encontra­
do em toda a Bíblia. N o entanto, essa é a últim a coisa que qualquer
u m de nós deseja fazer. O cascalho é duro de roer e impossível de
digerir!
Às vezes, enquanto esperamos, nós nos perguntam os p or que o
Senhor está dem orando tanto para m udar nossa situação. Isso sim­
plesm ente não faz nenhum sentido para nós. Esperamos, esperamos
e esperamos. Aparentem ente, nada acontece — e isso nos deixa cada
vez mais frustrados.
132 Rebaixado e colocado no banco dos reservas... Deus está no controle das esperas.

0 PROPÓSITO P R O V ID E N C IA L DA ESPERA

Em determinado m om ento de sua vida, o pastor sul-africano Andrew


M urray se encontrou num a situação bastante difícil e adversa. E n­
quanto esperava por uma solução, ele escreveu as seguintes linhas em
seu diário:

N ã o devo m e esquecer de q u e estou aqui:


1. P o r o rd e m de D eus;
2. Sob os cuidados de D eus;
3. Sob o trein am en to de D eus;
4. Pelo tem p o de D eus. (M organ, 2001, p. 13)44

Essas quatro observações não são verdadeiras apenas na vida de


Andrew Murray, mas também na sua e na minha. E são visíveis na vida
de José. Aliás, eu gostaria de tomar emprestadas as anotações de Murray
para este capítulo sobre esperas prolongadas.

J osé esper o u por o r d e m de D eus

C om o vimos, o propósito de Deus na vida de José era que este se


tornasse o corregente do faraó. Mas, antes que esse propósito se cum ­
prisse, José precisava “ficar com as barbas de m olho” na cadeia por dois
anos. D urante esse período, ele não sabia por que estava na prisão ou
quanto tempo teria de perm anecer ali. Sabia apenas que estava num
lugar onde não desejava estar.
Isso muitas vezes acontece conosco. Q uando somos submetidos
a um longo período de espera, não conseguimos enxergar um a boa
razão para isso.
Para muitos homens, a viagem mais interessante do m undo seria
uma expedição de caça ou pesca nas regiões remotas do Alasca. M eu
amigo R ocky McElveen trabalha lá há 30 anos como guia e fornecedor
de equipamentos esportivos. Ele tem ajudado a realizar os sonhos de
centenas de homens, incluindo presidentes dos Estados Unidos, execu­
tivos, líderes ministeriais e seus familiares ( M c E l v e e n , 2006, p. 5)45.
Capítulo 7 133

Por ter vivido no interior desse estado extraordinário e guiado


inúmeras excursões, R ocky já enfrentou muitos perigos. Ele sobrevi­
veu a desastres de avião, ataques de ursos-cinzentos e nevascas ater­
radoras — tudo isso num só fim de semana (brincadeirinha!). R ocky
relatou suas experiências incríveis num livro cativante intitulado W ild
M en, W ildA laska [Homens selvagens, Alasca selvagem],
U m a das histórias mais impressionantes é sobre um grupo de
caçadores que teve de esperar, embora não fizesse ideia do porquê
da espera. Eles estavam numa região remota e elevada onde um dos
homens, R o n , acabara de caçar um imenso alce. Ele havia limpado e
cortado o animal em pedaços, com isso os demais componentes do
grupo teriam de carregar centenas de quilos de carne, além da cabeça
e das galhadas, para o acampamento onde pegariam o avião.
Q uando se está numa região isolada e selvagem, existe um peque­
no problema: no m om ento em que um grande animal é cortado, o
cheiro de sangue pode ser detectado a vários quilômetros de distância
por lobos e ursos. R ocky relatou:

A cam inhada de volta ao acam p am en to seria assustadora. P rim eiro


teríam os de atravessar o vale, cruzando a tu n d ra e diversos ribeiros,
através de florestas de am ieiros e arbustos; depois precisaríam os
cruzar u m cân io n m u ito ín g rem e e descer ou tro desfiladeiro es-
corregadiço até a pista de aterrissagem que ficava a alguns q u ilô­
m etros de distância dali. C ad a m o ch ila pesava entre 70 e 90 quilos.
E u sabia que Jared precisaria de ajuda, então decidi cham ar o u tro
guia, Jo n , que tam b ém é o m e u co zinheiro g o u rm et. Liguei para
o m e u piloto, Joel, e p ed i que ele trouxesse J o n e m e levasse de
volta à pousada.
“Estarei de volta am an h ã” , disse eu a R o n q u ando Jo el e J o n ch e­
garam . “E n q u a n to isso, Jo el p o d e ajudá-lo a caçar u m urso ou u m
lobo. Se eu fosse você, acam paria n o local on d e m ato u o alce.”
(M cE lveen , 2006, p. 158)46

R ocky entrou no avião e partiu. Isso foi em 10 de setembro de


2001 .
134 Rebaixado e colocado no banco dos reservas... Deus está no controle das esperas.

E u não podia ter antecipado isso, mas a partir da m anhã seguinte


n e n h u m avião particular estaria voando p o r u m b o m tem po. R o n ,
Jared e Jo n teriam de se virar sozinhos, incomunicáveis e sem nen h u m
envio de suprim ento p o r vários dias. (M cE lveen, 2006, p. 158)47

N a manhã seguinte aconteceram os ataques terroristas às torres


gêmeas e ao Pentágono.

O FAAXU m anteve e m terra todos os voos dom ésticos p o r u m


p erío d o indefinido, e isso incluía o m e u avião. N e n h u m guia ou
pilo to tin h a perm issão de voar n o Alasca; c o m isso, n in g u é m p ô d e
so co rrer as centenas de caçadores isolados em acam pam entos re­
m otos. O s p o u co s afortunados que p o d iam ser alcançados de b ar­
co o u de quadriciclos fo ram contatados e resgatados.
U m p ilo to am igo m e u levantou v oo n u m a tentativa desesperada
de levar suprim entos até u m caçador que ele sabia te r p o uca água
e com ida, mas foi forçado a p ousar o avião p o r aviões de caça
F -14. (M cE lv een , 2006, p. 159)48

R ocky não pôde chegar até os caçadores. E eles esperaram, es­


peraram e esperaram. Não faziam a m enor ideia do motivo por que
R ocky não havia aparecido. Aquela tarde chegou ao fim e logo escu­
receu. Agora eles teriam de passar a noite com centenas de quilos de
carne numa região cheia de ursos e lobos. A última coisa que queriam
era um encontro com os lobos. E com certeza não precisavam de um
urso se aproximando do acampamento, em busca de um lanchinho
noturno. Mas ambos os cenários eram possibilidades bastante reais.
R ocky não apareceu na manhã nem na tarde seguinte. A escuri­
dão chegou mais uma vez. R o n , Jared e Jon tinham muito com que
se preocupar. Eles estavam incomunicáveis, a centenas de quilômetros
da cidade mais próxima. Pensaram que o avião de R ocky havia caí­
do. E quanto mais tempo esperavam, mais o medo e a preocupação

xn A Federal A viation A d m in istratio n (FAA) é a en tid ad e go v ern am en tal responsável pelos regulam entos e
todos os aspectos da aviação civil am ericana.
Capítulo 7 135

aumentavam. N ão havia explicação alguma para aquela espera. C om


o passar do tempo, começaram a se perguntar se algum dia consegui­
riam sair dali. A espera não fazia nenhum sentido para aqueles homens
aparentemente abandonados à própria sorte.
Da pousada, R ocky contatou as famílias dos caçadores e infor­
m ou-lhes que estes tinham suprimentos em abundância, e que ele
voaria para resgatá-los assim que os voos fossem liberados. N o dia 13
de setembro, R ocky finalmente pôde mandar seu piloto buscar os
caçadores exaustos.
Q uando o avião pousou, um dos caçadores desabafou sua frus­
tração antes mesmo que o piloto pudesse sair do avião: “O nde vocês
estiveram esse tem po todo? Cadê o Rocky? Ele ficou de term inar
a caçada comigo!” O piloto respondeu educadamente: “ Os Estados
Unidos foram atacados por terroristas” .
Inicialmente os caçadores pensaram que o piloto estava brincan­
do. C ontudo, alguns segundos depois perceberam que ele estava falan­
do sério, e muito.
Sim, aqueles homens tiveram de esperar numa situação bastante
perigosa e precária. Mas existia uma razão m uito boa para tal espera,
da qual eles nada sabiam.
Algum tempo depois, um dos caçadores escreveu o seguinte para
Rocky:

N u n c a m e esquecerei do m o m e n to e m que aterrissam os na pista


de terra atrás do H o ltn a Lodge, taxiando até a pousada e vendo seu
rosto so rrid en te e barbado acenar para o avião. E u desem barquei,
abracei você e senti u m tre m e n d o alívio p o r você estar bem .V ocê
fez u m a retrospectiva dos eventos que o co rre ra m entre os dias 11 e
13 de setem bro. Disse que, desde o advento da aviação na A m érica,
aquela havia sido a p rim eira vez em que todos os voos dom ésticos
tin h am sido detidos p o r tan to tem po.
N u n c a m e esquecerei do q u e você disse logo em seguida. Você
o lh o u para o céu e disse: “ R o n , D eu s está no controle, e não eu.
Talvez não enten d am o s esses eventos, mas D eus vê o passado, o
136 Rebaixado e colocado no banco dos reservas... Deus está no controle das esperas.

presente e o futuro, e E le está n o controle de tudo. Precisam os


confiar n ele” . ( M c E lveen, 2006, p. 1 6 2 ,163)49

Os caçadores não podiam ver uma boa razão para a sua espe­
ra. Entretanto, havia uma boa razão — eles apenas não conseguiam
enxergá-la da sua perspectiva. R ocky teve de esperar tanto quanto
eles. Sabia muito bem por que estava esperando, mas isso não m udou
a situação. Ainda assim ele teve de esperar. R ocky esperou sabendo o
porquê da espera; os caçadores tiveram de esperar no escuro.
Se você está esperando Deus agir, talvez Ele tenha algumas razões
muito boas para a Sua demora. Aliás, eu não diria talvez. C om certeza
Ele tem razões importantes das quais você não tem nenhum conheci­
mento. Então, por que não entrega suas frustrações ao Senhor e confia
nele, certo de que Ele conhece o m elhor caminho?
Vamos lá. Pouse este livro, abaixe sua cabeça, e entregue tudo a
Ele. Diga a Deus o que está em seu coração. Desabafe sua ira, e depois
lhe diga que você está disposto a esperar, ainda que não entenda as
razões para isso.

J osé e s pe r o u so b os c u id a d o s de D eus

José tinha certeza de que o copeiro, por ter acesso direto ao faraó, seria
seu passaporte para fora da prisão. E José estava certo. O copeiro seria
o instrum ento usado por Deus para levar José ao faraó. O problema foi
que José achou que isso aconteceria imediatamente, mas as coisas não
sucederam assim. Ele seria obrigado a ver os dias se arrastarem naquela
prisão por mais dois anos inteiros. Entretanto, o Senhor estava com ele
durante todo esse tempo. José permanecia sob os Seus cuidados.
Q uando R ocky foi forçado a esperar pelo grupo de caçadores
na pousada, ele fez o máximo ao seu alcance para que tudo estivesse
preparado quando o avião finalmente pudesse ir resgatá-los. Porém,
R ocky teve de esperar tanto quanto eles. Suas mãos estavam atadas.
As mãos do Senhor nunca estão atadas. Se as circunstâncias de
nossa vida parecem amarradas, tenha certeza de que foi o próprio
Deus quem as amarrou. Isso faz parte do Seu plano.
Capítulo 7 137

Os caçadores não tinham a m enor ideia do motivo por que esta­


vam esperando. N o entanto, o governo americano havia determinado
que era do interesse da segurança nacional que todos os aviões fossem
mantidos em terra. Havia um bom motivo para a espera daqueles
homens, mas eles não tinham como saber ou imaginar qual era. Sua
espera não fora um erro.
Ficamos perplexos quando Deus nos manda esperar. Esperas pro­
longadas, a nosso ver, não fazem sentido! Mas está tudo sob controle.
Sua espera não é um erro. A. M. O verton expressou m uito bem isso
em seu poema H e M aketh N o M istake [Ele não com ente erros].

Torcidos e to rtu o so s p o d e m ser os cam inhos,


M e u coração p o d e palpitar e doer,
M as e m m in h ’alm a m e alegro e m saber,
Q u e D eu s n e n h u m erro há de com eter.

M eus planos p o d e m até se perder,


M inhas esperanças desaparecer,
M as na direção do S en h o r eu confio,
N aq u ele que o cam in h o m e faz conhecer.

E m b o ra a n o ite seja escura


E o dia pareça n u n ca chegar,
M in h a fé n o S en h o r está segura
N aq u ele que não p o d e errar.

A inda que eu não consiga enxergar


Q u e turv ad o seja o m e u olhar;
V enha o q u e vier, nele irei confiar,
E a Ele tu d o entregar.

Pois logo a névoa se dissipará,


E o S en h o r tu d o claro fará;
A inda q u e escuro pareça o cam in h o m eu,
M e u D eus n e n h u m erro jam ais com eteu.
138 Rebaixado e colocado no banco dos reservas... Deus está no controle das esperas.

Se você tem esperado por muito tempo, saiba que isso não é
um erro. Deus o guardará e o carregará em Seus braços enquanto
você espera nele, e continuará a fazer isso quando a espera terminar.
O Senhor é quem nos carrega, quem supre as nossas necessidades e
sustenta-nos durante todo o curso de nossa vida na terra. As seguintes
passagens deixam isso bem claro:

Salvai, Senhor, vosso povo e abençoai a vossa herança; sede seu pastor,
le va i-o nos braços etern am ente.
S a lm o 28 .9 (A C R F v e r s ã o c a t ó lic a )

Porque este D eus é o nosso D eus para sempre; ele será nosso guia até à
morte.
S a l m o 48.1 4

O uvi-m e, ó casa de Jacó e todo o resíduo da casa de Israel; vós, a quem


trouxe nos braços desde o ventre e levei desde a madre. E até á velhice eu
serei o mesmo e ainda até às cãs eu vos trarei; eu o f i z , e eu vos levarei, e
eu vos trarei e vos guardarei.
Is a ía s 46.3,4

Isso é o que eu chamo de promessa. E ninguém pode tirá-la de


nós!
Thomas Watson estava certo ao escrever que “o cuidado da Pro­
vidência corre paralelo à linha da vida” .

J osé espero u sob o t r e in a m e n t o de D eus

Se o Senhor o chamar a esperar, será imperativo obedecer. A espera faz


parte do treinamento que nos prepara para realizar a obra que Deus
tem para nós. José estava sendo treinado enquanto esperava na prisão.
Ele teve de aprender a esperar o tem po do Senhor.
Gostaria de deixar algo bem claro: existem dois tipos de espera
— e a espera bíblica não é a do preguiçoso, que fica de braços cru­
zados. Tampouco significa que você vai ficar sentado o tem po inteiro
Capítulo 7 139

sem cuidar da vida. Ela não é uma desculpa para a passividade, nem
quer dizer que você vai passar o dia todo contando as flores no papel
de parede ou jogando paciência até a madrugada. Estamos falando de
períodos em que Deus o coloca num a situação difícil e o faz esperar
até que Ele dê uma solução ao seu dilema. Enquanto isso, você cuida
da sua vida, “pega o touro pelos chifres” e faz tudo o que estiver ao
seu alcance.
As Escrituras indicam que José estava disposto a esperar e a traba­
lhar duro. N unca lemos que ele m urm urou contra o Senhor ou ficou
amargurado. Decidira, como é recomendado em 1 Pedro 4.19, confiar
sua alma ao fiel Criador, praticando o bem.
Esperar é um exercício de fé que demonstra o estado do nosso
coração. Esperar no Senhor é um ato de fé, e esta é o que separa os
homens dos meninos.
Saul e Davi, os dois primeiros reis de Israel, oferecem-nos um
nítido contraste pela maneira como reagiram a situações em que fo­
ram forçados a esperar. Havia uma diferença enorm e entre esses dois
homens. U m estava disposto a esperar no Senhor; o outro, não. U m
estava disposto a ser treinado (Davi); o outro (Saul), não. Assim, Saul
com eçou bem, mas não term inou bem.
Saul era o hom em mais alto de Israel, porém era um fracote, por­
que não tinha coragem de esperar. Certa ocasião, os filisteus haviam
enviado um exército imenso para atacar Israel, seu arqui-inimigo. Apa­
vorado, o povo literalmente tentou esconder-se do exército invasor
em cavernas. Ao ver isso, a fé de Saul derreteu mais rápido que uma
escultura de gelo numa sauna. Em vez de esperar no Senhor pelo
tem po que o profeta Samuel determinara, Saul entrou em pânico e
resolveu agir por conta própria.
Preste bem atenção no que vou dizer: tirar os problemas das mãos
de Deus e tentar resolvê-los sozinho nunca é uma boa ideia. Aliás, o
resultado invariavelmente é um desastre.

Vendo, pois, os homens de Israel que estavam em angústia (porque o povo


estava apertado), o povo se escondeu pelas cavernas, e pelos espinhais, e pelos
penhascos, e pelas fortificações, e pelas covas, e os hebreus passaram o Jordão
140 Rebaixado e colocado no banco dos reservas... Deus está no controle das esperas..

para a terra de Gade e Gileade; e, estando Saul ainda em Gilgal, todo o


povo veio atrás dele, tremendo. E esperou sete dias, até ao tempo que Samuel
determinara; não vindo, porém, Samuel a Gilgal, o povo se espalhava dele.
Então, disse Saul: Trazei-me aqui um holocausto e ofertas pacíficas. E ofe­
receu o holocausto. E sucedeu que, acabando ele de oferecer o holocausto, eis
que Samuel chegou; e Saul lhe saiu ao encontro, para o saudar. Então, disse
Samuel: Q ue fizeste? Disse Saul: Porquanto via que o povo se espalhava de
mim, e tu não vinhas nos dias aprazados, e os filisteus já se tinham ajun-
tado em Micmás, eu disse: Agora, descerão os filisteus sobre mim a Gilgal, e
ainda àfiace do S E N H O R não orei; eforcei-me e ofereci holocausto. Então,
disse Samuel a Saul: Agiste nesciamente e não guardaste o mandamento
que o S E N H O R , teu Deus, te ordenou; porque, agora, o S E N H O R teria
confirmado o teu reino sobre Israel para sempre. Porém, agora, não subsistirá
o teu reino; já tem buscado o S E N H O R para si um homem segundo o seu
coração e já lhe tem ordenado o S E N H O R que seja chefe sobre o seu povo,
porquanto não guardaste o que o S E N H O R te ordenou.
1 S a m u e l 13 .6 -14

O Senhor estava buscando um hom em segundo o Seu coração.


Saul não era esse hom em . Em vez de esperar em Deus, ele tom ou com
impaciência as rédeas da situação e fez o que havia sido claramente
ordenado a não fazer. Sua recusa em esperar foi uma demonstração de
desobediência.
N ão é interessante que, quando Deus procura um hom em se­
gundo o Seu coração, o teste do coração desse hom em esteja em sua
disposição de esperar? Saul não estava disposto a isso. E ele perdeu o
reino que poderia ter pertencido à sua família por muitas gerações.
Saul resistiu ao treinamento do Senhor simplesmente porque não ti­
nha um coração obediente.

J osé espe ro u pelo t e m p o de D eus

Deus é o grande “ cronometrista” durante nossos períodos de espera


prolongada. Davi aludiu a isso com clareza no Salmo 31.15a: Os meus
tempos estão nas tuas mãos.
Capítulo 7 141

Q uando a espera de José na prisão começou, ele não fazia a m e­


nor ideia de quanto tem po duraria. O Senhor havia determinado que
duraria dois anos, e assim sucedeu.
Já passei por quatro períodos de espera prolongada: o primeiro,
logo depois de ter completado 20 anos, durou 18 meses; o segundo,
quando eu já tinha vinte e poucos anos, perdurou 12 meses; o terceiro,
quando chegara aos 30, durou três anos; e o quarto aconteceu perto
dos 40, cuja duração foi de quatro anos.
Passei um bocado de tem po esperando, mas posso garantir que
não fiquei sentado enquanto esperava. Fiz duas faculdades, casei e tive
três filhos.Também pastoreei três igrejas diferentes.Todavia, por outro
lado, Deus me fez esperar um bom tem po enquanto Ele me treinava
para uma obra sobre a qual eu nada sabia.
Gostaria de fazer uma breve narrativa de uma das minhas experi­
ências de espera prolongada, que durou cerca de um ano.

Esperando pelo s i n a l v e r d e

Q uando eu era estudante no seminário, trabalhava à noite numa doca


de carga e descarga para pagar meus estudos. Era um trabalho de meio
expediente em que eu trabalhava quatro horas por noite, o que me
perm itia cursar todas as matérias do seminário e ainda arranjar tempo
para estudar e fazer todos os trabalhos propostos.
Mas então o país foi acometido por uma recessão, e perdi meu
emprego de meio expediente. Procurei outra ocupação por várias se­
manas, porém parecia que todos os empregos num raio de 150 km ha­
viam evaporado. As empresas estavam efetuando demissões em massa.
Tudo dava a entender que eu teria de trancar a matrícula no seminá­
rio, voltar para a Califórnia, onde meus pais moravam, e trabalhar por
um ano para juntar dinheiro para term inar o seminário. Essa parecia
ser minha única opção.
Foi então que, conhecendo a minha situação, um amigo per­
guntou: “Steve, você conhece a X Y Z C orporation?” Esse não era o
verdadeiro nom e da firma, mas digamos que fosse. A empresa que ele
m encionou era a maior empregadora do estado e uma das 50 maiores
142 Rebaixado e colocado no banco dos reservas... Deus está no controle das esperas.

corporações dos Estados Unidos. Seu centro de operações ocupava o


prédio mais alto do estado.
M eu amigo disse ainda que o presidente dessa empresa era amigo
de sua família. Ele o conhecia desde a infância, eram bastante íntimos.
Poucos dias depois, m eu amigo me disse que havia marcado um en­
contro para a tarde seguinte no escritório do presidente. M al pude
acreditar. Por incrível que pareça, esse hom em era um cristão fervoro­
so que sempre havia apoiado o seminário onde eu estudava. Q uando
m eu amigo m encionou minha situação e o fato de que eu estava sen­
do forçado a trancar a matrícula no seminário, aquele senhor sugeriu
que eu fosse ao seu escritório e conversasse com ele.
Senti-me um tanto intimidado ao entrar no majestoso escritório
com vista panorâmica de toda a cidade. Mas o presidente da empresa
era m uito simpático e pediu logo que eu relatasse a m inha situação.
Depois de escutar m inha história, ele sorriu e disse: “Bem, Steve, acho
que o m elhor seria você ficar e term inar seu seminário. Vou falar com
m eu diretor de recursos humanos. Estou certo de que ele encontrará
algum trabalho que possa ajudá-lo a concluir seus estudos.Você pode­
ria voltar amanhã à tarde?”
Eu disse que sim. O maior empregador do estado ia conseguir
um emprego para mim. Confesso que de repente m e enchi de es­
perança. Q uando relatei o encontro ao m eu amigo, ele disse: “Tenho
certeza que amanhã a esta hora você terá um novo emprego. Senão,
esse senhor tem uma fundação multimilionária que concede bolsas de
estudo. D e um jeito ou de outro, ele se certificará de que você term ine
o seu seminário sem precisar voltar à Califórnia” . C om essa notícia,
m inha esperança ficou nas alturas.
N a tarde seguinte, entrei no escritório do presidente da empresa
às 16 horas. Porém, em vez de mostrar-se simpático e acolhedor, dessa
vez ele me pareceu um tanto distante e formal: “ Steve, sinto muito,
mas não tenho nenhum emprego a oferecer-lhe. Gostaria que as coisas
tivessem sido diferentes. Obrigado por ter vindo” . Então ele se levan­
tou e a reunião acabou.
Confesso que fiquei um tanto chocado, não tanto por causa do
emprego, mas pela atitude dele. Ele foi quase frio. Foi isso que me
Capítulo 7 143

deixou perplexo. Será que eu havia feito algo errado ou dito algo
inapropriado? N ão conseguia encontrar nenhum a razão para aquele
comportamento.
“O brigado por ter procurado um emprego para m im ” — disse eu
enquanto me levantava para sair da sala. “Entendo perfeitamente. Mas,
antes de partir, gostaria de deixar algo bem claro: só voltei hoje à tarde
porque o senhor me pediu que voltasse.”
“Perfeitamente. O brigado por ter vindo.”
Eu queria deixar bem claro que havia voltado a pedido dele, já
que seu com portam ento tinha sido tão radicalmente diferente na tar­
de anterior.Tão diferente que cheguei a pensar que eu havia feito algo
para ofendê-lo. Depois de apertar sua mão, saí do imenso escritório e
entrei no elevador. Enquanto andava para o m eu carro, lem bro-m e de
ter pensado: “Pai, a mudança no com portam ento daquele hom em foi
tão radical que isso só pode ter vindo do Senhor” .
Naquele m om ento, eu sabia que aquela fora minha última opor­
tunidade de ficar no seminário. Voltei para o m eu quarto, fiz as malas
e parti para a Califórnia na manhã seguinte.

O utra r o d a d a de espera

Pelo menos, pensei eu, poderia conseguir trabalho numa doca de car­
ga e descarga em San José. Mas o que eu não sabia era que o desem­
prego tam bém havia afetado a Califórnia. Pelos próximos seis meses,
esperei. Falei com todos os encarregados de docas que pude encontrar.
Procurei emprego por toda parte, mas por três meses nada aconteceu.
Finalmente, um dos encarregados me ligou e disse que eu pode­
ria trabalhar uma noite por semana. Isso era m elhor que nada, mas não
era o suficiente. Eu estava m orando na casa dos meus pais e sentia-me
um fracassado. Tinha 25 anos e não estava indo a lugar nenhum . Meus
amigos estavam no seminário, na reta fmal para a formatura. E o que
eu estava fazendo? Eu permanecia sentado. Bem, não me encontrava
sentado somente porque gastava muito tem po preenchendo form u­
lários de recrutamento. Todas as empresas que eu visitava diziam não
ter nenhum a vaga, então preencher formulários o dia todo era uma
perda de tempo.
144 Rebaixado e colocado no banco dos reservas... Deus está no controle das esperas.

É difícil expressar m eu grau de frustração. Era como se o Senhor


tivesse me colocado de molho. Eu estava fazendo tudo o que podia
para arranjar um emprego, mas não havia trabalho em lugar nenhum.
N em mesmo o M cD onalds estava contratando! Eu não cursava o
seminário, não trabalhava e não juntava dinheiro para retom ar os estu­
dos. U m a noite de trabalho por semana foi tudo o que consegui.
Então comecei a ler nas horas vagas. Com ecei a ler muito. Li to ­
dos os livros que eu queria ter lido enquanto estava no seminário, mas
que nunca conseguia ler por falta de tempo. D urante aquele período,
li mais de 40 livros. Isso durou seis meses.
Então uma noite o encarregado se aproximou de m im e disse:
“Steve, em três semanas abriremos uma vaga no horário noturno. Se
você acha que consegue trabalhar à noite, a vaga é sua. Está interessa­
do?” “E claro!” — foi m inha resposta.
Finalmente a espera havia chegado ao fim, e eu estava empolga­
do. Depois de meses sem fazer nada (exceto ler alguns livros muito
importantes que continuam impactando m inha vida), finalmente eu
tinha um emprego. E, com o adicional noturno, eu sabia que conse­
guiria juntar dinheiro suficiente para retomar meus estudos e formar-
-m e no seminário. A espera havia chegado ao fim e m eu próxim o
passo estava claro.Assim pensava eu.
Mas tudo isso m udou domingo à noite quando fui visitar a
Península Bible Church [Igreja Bíblica da Península] em Paio Alto, na
Califórnia. C om o sempre, a igreja estava lotada de estudantes univer­
sitários, jovens solteiros e famílias. Nesses cultos, tanto a música como
as mensagens costumavam ser excelentes, com pregadores como Ray
Stedman, David R o p er e R o n Ritchie.
C ontudo, havia outra coisa que eles sempre faziam: dedicavam 20
minutos do culto ao que chamavam de Body Life [Vida do Corpo]
D urante esse período, o microfone era aberto para todos que dese­
jassem fazer um pedido de oração, compartilhar uma necessidade ou
um versículo. As pessoas levantavam a mão, e um diácono levava o m i­
crofone até elas para que compartilhassem. Esse m om ento era sempre
m uito interessante e espontâneo.
Capítulo 7 145

Naquela noite, o clima estava meio pesado. Todos que compar­


tilharam pareciam ter um grande peso no coração. Enquanto ouvia
aquilo, pensei que um testemunho de resposta de oração seria um a boa
maneira de encorajar a todos.
Q uando aquela parte do culto estava quase chegando ao fim, le­
vantei a mão, e R o n R itchie pediu que o microfone fosse trazido até
onde eu estava. Nos próximos dois minutos, relatei a história de como
eu havia trancado a matrícula no seminário e ficado vários meses na
casa dos meus pais sem fazer nada a não ser esperar. Mas a boa notícia
era que eu finalmente havia arranjado um emprego, e dentro de três
semanas começaria a trabalhar em horário integral.

Uma curveball no últim o m inuto

Q uando o culto acabou, um sujeito se aproximou de m im e apresen­


tou-se. Ele disse que achava que nós já nos conhecíamos de algum
lugar. C ontou-m e de onde era, e eu disse que havia estado em sua
cidade apenas uma vez. Tinha ido visitar uma igreja com um grupo
musical de que eu fazia parte quando estava no ensino médio.
Ele disse que naquela época era o pastor dos jovens daquela igre­
ja e que agora era o pastor principal. Era um sujeito bem-apanhado,
com trinta e poucos anos. Em nossa breve conversa, descobrimos que
tínhamos alguns amigos comuns. Então ele me perguntou se poderí­
amos tomar um café.
N a cafeteria, perguntei-lhe o que o havia trazido à Califórnia. Ele
disse: “Estou buscando alguém que possa ajudar-me a pastorear minha
igreja. Nós acabamos de passar por uma grande transição” .
Então ele me contou que sua igreja era afiliada a uma denom i­
nação, mas havia decidido separar-se dela porque alguns ensinamentos
estavam sendo hiperenfatizados.
Eu conhecia a denominação de que ele estava falando por ter
sido criado nela, e havia chegado à mesma conclusão. D urante a con­
versa, ele me perguntou sobre a m inha experiência e o que eu estava
fazendo. Relatei m inha história, contando-lhe que finalmente havia
arranjado um emprego e que breve poderia retomar os estudos e aca­
bar o seminário.
146 Rebaixado e colocado no banco dos reservas... Deus está no controle das esperas.

Depois de alguns minutos, ele disse: “Acho que você é a pessoa


que estou procurando. Por que não vem comigo e me ajuda a pasto­
rear essa igreja?”
Achei que ele tinha enlouquecido. Afinal, eu precisava trabalhar
e ju n tar dinheiro para acabar o seminário. Ele me perguntou quanto
eu ganharia descarregando caminhões. Q uando revelei a quantia, ele
disse que provavelmente poderia pagar-me o mesmo salário.
“Mas eu voltarei para o seminário daqui a seis meses!” — re­
truquei. “Vocês não iriam querer contratar alguém por apenas seis
meses!” C om um sorriso, ele respondeu que seis meses talvez fosse
exatamente o tem po necessário para estabelecer a igreja durante essa
transição.
Era a coisa mais louca que eu já tinha ouvido. Três dias depois ele
me ligou e convidou-m e para passar o fim de semana em sua igreja.
Tinha conversado com os membros da junta, e eles manifestaram o
desejo de conhecer-m e. R espondi que achava que m inha viagem seria
um desperdício de dinheiro e de tempo, já que sua proposta não se
encaixava em meus planos.
“Bem, que outro compromisso você tem para este fim de sema­
na?” Ele havia me pegado. Eu não tinha absolutamente nada para fazer,
com isso não tinha nenhum a desculpa para não viajar. Então, relutante,
aceitei o convite.
Conclusão: depois de esperar seis meses, no dia em que eu deveria
ter começado m eu novo emprego na doca de carga e descarga, estava
dirigindo m eu carro até uma cidade em outro estado para iniciar meu
pastorado de seis meses.
Naquele período, aprendi na prática como liderar uma igreja em
crescimento durante uma transição. Ao fmal da tarefa de meio ano,
voltei ao seminário m unido de uma bagagem ministerial que nunca
teria obtido descarregando caminhões.
Mal sabia eu que, apenas três anos depois, seria chamado para
pastorear uma pequena igreja que também estaria passando p o r uma
grande transição. Sem aqueles seis meses de experiência prática, estou
certo de que não teria dado conta do recado. Ainda assim, o desafio foi
Capítulo 7 147

grande. Porém, o que eu tinha aprendido na experiência anterior me


ajudou a lidar com as questões que tive de enfrentar.
Olhando em retrospecto, o intervalo de 12 meses em que estive
afastado do seminário faz bastante sentido. Enquanto eu me encon­
trava no meio da situação, não conseguia entender o porquê daquilo
tudo. A verdade é que tive muitas experiências agradáveis durante o
período em que trabalhei na igreja. Fiz algumas amizades permanentes
e pude absorver conhecim ento e experiência como nunca antes. Mas
ainda assim o que eu queria mesmo era voltar para o seminário.
Durante meus 12 meses de espera, eu estava mais do que pronto
a ver Deus pisar no acelerador, mas Ele não tirava o pé do freio! Isso
foi motivo de grande frustração para mim. Em minha imaturidade, eu
tinha pouquíssima paz e alegria.
Jeremias enfrentou uma batalha semelhante:

E afastaste da p a z a m inha alma; esqueci-me do bem. Então, disse eu:Já


pereceu a m inha força, como também a m inha esperança no S E N H O R .
Disso me recordarei no meu coração; por isso, tenho esperança. A s miseri­
córdias do S E N H O R são a causa de não sermos consumidos; porque as
suas misericórdias não têm fim . Novas são cada manhã; grande é a tua
fidelidade. Bom ê o S E N H O R para os que se atêm a ele, para a alma
que o busca. Bom ê ter esperança e aguardar em silêncio a salvação do
SEN H O R.
L a m e n t a ç õ e s 3.17,18; 21 -23 ; 25,2 6

R e s u m in d o

É fácil escrever sobre a espera, mas esperar é difícil. Talvez tenha sido
por isso que, enquanto escrevia este capítulo, continuava sendo obri­
gado a esperar. Eu pensava que a resposta à promessa do Senhor tinha
chegado há meses e meses. N o entanto, ainda não chegara.
Enquanto escrevia este capítulo, precisei tirar uma semana de folga
porque em m eu próprio coração eu estava tendo dificuldade de acei­
tar o tem po de Deus. Entendo o conceito da espera prolongada em
minha mente, mas esse entendim ento precisa chegar ao m eu coração.
Q uando todas as demais coisas falham, é preciso voltar às Escrituras.
148 R ebaixado e colocado no banco dos reservas... Deus está no controle das esperas.

Você notou esta frase em Lamentações 3.25m ( a b a ) : Bom é o Se­


nhor para os que esperam por ele? Já depositei a minha confiança nesse
versículo antes e agora estou fazendo isso outra vez. Por alguma razão,
tenho a nítida impressão de que não sou o único.
O capítulo anterior fala de esperanças despedaçadas, e este fala de
esperas prolongadas. H á uma inter-relação entre as duas. O fato é que,
quanto mais tem po esperamos, mais temos de batalhar com esperanças
despedaçadas.
Qual é a solução? Ela se encontra no Salmo 130.5: Aguardo o
S E N H O R ; a minha alma o aguarda, e espero na sua palavra.
Aí está a resposta. Se você está esperando no Senhor, a única ma­
neira de m anter a esperança viva é perm anecer na Palavra dele. Leia a
Bíblia, medite nela e abrace as suas promessas. Faça a obra que Deus
colocou diante de você. Faça tudo o que legitimamente puder fazer
para melhorar a sua situação, mas continue esperando pelo socorro
do Senhor. Independente do que fizer, não feche a sua Bíblia nem a
coloque na prateleira. Se você fizer isso, estará fechando a porta para a
sua única fonte de esperança.
M antenha a sua Bíblia aberta e viva das suas promessas. O Senhor
as cumprirá. Q uando Ele o fizer, você concordará que valeu a pena
esperar. Enquanto isso, não se esqueça de que você está esperando:

1. P or o rd e m de D eus
2. Sob os cuidados de D eus
3. Sob o trein am en to de D eus
4. Pelo tem p o de D eus (M organ, 2001, p. 13)50

Ele tem tudo sob controle, mesmo que esteja faltando um a frase
[para você alcançar o esperado milagre, como ocorreu com a tese de
Einstein].
C a p ít u l o 8

Indivíduos influentes...
Deus está no controle dos poderosos

D eus é a causa das causas.


— C h r is t o p h e r N e s s e

Semana passada, comprei dois livros enquanto estava na livraria


Barnes and Noble: MoonPie: Biography o f an O ut-of-This-W orld Snack
[MoonPie: a biografia de um doce do outro mundo], de David Magee,
e God Is N o t Great [Deus não é grande], de Christopher Hitchens.
M oonPie ganhou de goleada.
Se você já teve o privilégio de com er um a M oonPie™ 1 acompa­
nhada de uma Coca-Cola, sabe o que é ser agraciado pela providência
divina.
Q uanto ao segundo livro... Ao longo dos anos, tenho podido apre­
ciar a coragem de Hitchens em dizer a verdade como ela é com res­
peito a assuntos mundiais, mas ele confunde as coisas quando fala do
cristianismo e de religião em geral. Chega a fazer algumas reclamações

Xl!l D o c e o rig in ário da N o v a Inglaterra, sem elhante ao alfajor, q u e consiste de dois biscoitos re d o n d o s do tipo
m aizena recheados d e m arsh m allo w e co m c o b ertu ra de chocolate, banana o u coco.
150 Indivíduos influentes... Deus está no controle dos poderosos

legítimas sobre certos ensinamentos e práticas religiosas, porém ul­


trapassa os limites quando escarnece do único Deus verdadeiro. Ele
escreveu a seguinte sinopse:

Im agine que você é capaz de realizar u m a façanha que para m im


é impossível: im agine que você consegue idealizar u m criad o r in ­
finitam ente b en ig n o e to d o -p o d ero so , que o co n cebeu, c rio u e
m o ld o u , e então o trouxe a este m u n d o que ele crio u para você, e
q u e ele agora supervisiona e cuida de você m esm o quando você
está d o rm in d o . (H itchens, 2007, p. 1 5 ,16)51

N ão tenho nenhum a dificuldade em imaginar isso. Essa é a his­


tória da m inha e da sua vida. A coisa mais reconfortante do m undo é
saber que existe um Deus que cuida de nós. Hitchens é digno de pena.
O Deus da Bíblia é grande. E Ele não somente é grande, mas também
está no controle de todas as coisas, e isso inclui indivíduos poderosos.

U m a a c u s a ç ã o falsa

N a época de José, o faraó era o hom em mais poderoso da terra. Ele ti­
nha acesso a todos os luxos e privilégios que se pode imaginar (exceto
a MoonPies, pois nasceu uns 2.900 anos antes da criação dessas delícias).
José estava preso no cárcere do faraó. Eu não estou preso, mas
conheço alguém que está. Trata-se de um hom em nascido num res­
peitável lar cristão, que teve uma educação exemplar, ou seja, a última
pessoa que você imaginaria ver na prisão.
Q uem conhece o caso concorda que ele não deveria estar atrás
das grades. Sem querer entrar em detalhes, a situação desse hom em é
a seguinte: ele foi acusado, ju n to a um punhado de indivíduos, de ter
cometido um crime de colarinho branco. Os demais foram acusados
de crimes muito mais graves. Todos, porém, incluindo o advogado de
acusação, concordam que ele não deveria ter sido preso. O fato, po­
rém, é que ele o foi.
Depois de passar anos lutando contra a sua condenação e de ter
gastado praticamente cada centavo que tinha, esse hom em decidiu
Capítulo 8 151

negociar: ele não seria preso, e todo o episódio seria esquecido. Toda­
via, logo depois de firmar o acordo, ele recebeu u m telefonema infor­
mando que iria para a cadeia de qualquer jeito. Algum juiz poderoso
havia intervindo no caso e anulado o acordo.
Então, duas semanas depois do nascimento do seu prim eiro filho,
ele foi encarcerado num a prisão federal por um crime que não tinha
cometido, para cum prir uma sentença que não merecia. Esse hom em
é cristão e havia participado de um grupo de estudo bíblico do qual
eu fora o líder por muitos anos.
Então, como isso se encaixa no conceito de que Deus está no
controle de indivíduos poderosos? O advogado dele entrou com um
recurso, mas, daqui que o seu caso seja revisto, ele já terá cum prido a
sentença.
Alguém muito poderoso invalidara o acordo, mas Deus está no
controle de indivíduos poderosos. Isso faz algum sentido?

0 R ei do s reis e J uiz dos ju íze s

Jesus é o R ei dos reis. Ele detém o controle sobre os reis e os indiví­


duos poderosos. Isso inclui o seu chefe e todos os juízes da terra.
Vbeê se lembra do que está escrito em Provérbios 21.1? Como ri­
beiros de águas, assim é o coração do rei na mão do S E N H O R ; a tudo quanto
quer o inclina.
Isso também abrange primeiros-ministros, presidentes, diretores
executivos, ditadores militares, reitores, chefes de polícia e membros
dos conselhos escolares. Qualquer pessoa em qualquer lugar que ocu­
pe uma posição de autoridade está sob o controle do R ei dos reis.
Q ualquer um que respira Ele controla (Is 42.5). O Senhor está no
controle dos poderosos, dos fracos e de todos os que se encontram
entre esses dois extremos.
Jerry Bridges declarou acertadamente: “Deus reina tanto na terra
quanto no céu. Por razões que só Ele conhece, Ele permite que as pes­
soas ajam de maneira contrária e em rebeldia à Sua vontade revelada na
Bíblia” ( B r i d g e s , 2006, p. 29)32. Mas, ainda assim, Ele está no controle
de indivíduos poderosos. Estes pertencem a Deus e são governados e
152 Indivíduos influentes... D eus está no controle dos poderosos

usados por Ele para os Seus propósitos. E fazem exatamente o que Ele
ordena. Essa é uma declaração e tanto sobre o poder que o Senhor exer­
ce sobre os reis da terra: Ele toma o coração dos poderosos e inclina-o,
como correntes de água, na direção que bem entende.
N em todos os cristãos creem nisso e nem todos os pastores acre­
ditam nesse ensinamento claro das Escrituras.
U m pastor certa vez questionou o poder que Deus exerce sobre
indivíduos poderosos: “Deus não pode simplesmente passar por cima
do livre-arbítrio das pessoas quando este entra em conflito com a Sua
vontade. Já que Deus decidiu criar o m undo da form a como ele é,Ele
não pode garantir que Sua vontade seja feita em todas as situações.
Precisamos tolerar e contornar com sabedoria a irrevogável liberdade
dos agentes humanos e espirituais” ( B o y d apud B r i d g e s , 2006, p. 28)53.
Então, deveríamos presumir que homens poderosos supostamen­
te têm mais poder do que Deus? Eles podem fazer o que bem enten­
dem ,enquanto o Senhor está de mãos atadas?
Provérbios 21.1 declara que Deus subjuga o livre-arbítrio e faz o
que entende como o melhor. Inúmeros outros versículos ensinam o
mesmo princípio. - - .. "
Isso me lembra o rei N abucodonosor no capítulo 4 de Daniel. N a
época, ele era o hom em mais poderoso da terra. N ão é de espantar que
todo aquele mimo, lisonja e adulação lhe tivessem subido à cabeça.
Q uando N abucodonosor assumiu as rédeas do poder na Babilô­
nia, seu ego embarcou numa viagem interestelar. Ele não achava que
Deus era grande, mas sim que ele era grande. Então, um ano depois
de ignorar um alerta de Daniel, N abucodonosor recebeu do Senhor a
m ente de um animal. D urante os próximos sete anos, ele pastou com
as vacas no campo. N o fmal desse período, Deus restaurou sua mente.
Ele se tornou fortem ente inclinado a admitir que o Senhor é grande.
Todavia, de acordo com o pastor que citei acima, o livre-arbítrio
dos seres humanos, assim como dos agentes espirituais, é irrevogável.
Devo presumir que ao m encionar agentes espirituais ele se referia a
anjos e demônios (que são anjos caídos). Então vamos ver se eu en­
tendi: ele está afirmando que a vontade do hom em ou de um anjo
sobrepuja a vontade de Deus.
Capítulo 8 153

C om o é possível que o livre-arbítrio do hom em seja irrevogável,


mas não a vontade do Senhor? Em R om anos 9.16 está escrito que isto
não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece.
C om esse tipo de ensinamento errôneo, não é de se estranhar que
pensemos que indivíduos poderosos estejam no controle. Mas, se cre­
mos nisso, estamos redondam ente enganados. O Senhor é quem con­
trola os indivíduos poderosos. Eles estão à Sua disposição e o servem
24 horas por dia. Eles o servem ainda que estejam em rebelião contra
Ele. Respiram porque Ele perm ite que respirem, e pensam porque Ele
perm ite que pensem (é só perguntar a N abucodonosor). Deus pode
tirar deles a habilidade de pensar e raciocinar em um instante.
Com o vimos, quando líderes ou presidentes pecam, são responsá­
veis por seus pecados. Sabemos que Deus nunca é o autor do pecado
p or causa da Sua santidade absoluta. Porém, Ele usa indivíduos pode­
rosos para os Seus propósitos e, no fim das contas, usa-os para a Sua
glória e para o bem do Seu povo.
N o capítulo 41 de Gênesis, somos introduzidos ao faraó — o homem
mais poderoso da terra. Esse hom em teve dois sonhos (o segundo como
uma continuação ou confirmação do primeiro), José os interpretou, e,
como resultado, o faraó lhe confiou o posto de corregente do Egito.

P or que o f a r a ó t i n h a p o d e r

Em bora R o b ert Moses nunca tenha exercido nenhum cargo político,


ele foi o hom em mais poderoso da história do estado de Nova Ior­
que. Teve mais poder do que qualquer governador, incluindo Franklin
Delano Roosevelt, que governou Nova Iorque de 1928 a 1932.
A menos que você seja nova-iorquino, provavelmente nunca ou­
viu falar de R o b ert Moses. C ontudo, ele talvez tenha sido o burocrata
mais brilhante e poderoso que os Estados Unidos já produziram. Moses
comandava as agências públicas que construíam estradas, pontes, par­
ques e conjuntos habitacionais.
D e acordo com a m onum ental biografia The Power Broker [O poder
do mediador], de autoria de R o b ert C aro,“ele desenvolveu um a má­
quina política que praticamente se tornou um quarto setor do governo.
154 Indivíduos influentes... D eus está no controle dos poderosos

Moses ergueu um im pério e viveu como um imperador. Ele foi o


maior construtor que o m undo já viu” (C aro, 1974, contracapa)54.
C om o R o b ert Moses alcançou uma posição tão poderosa? D i­
versas vezes ele conseguiu escrever projetos de lei consistentes para
deputados estaduais que nunca liam os detalhes grafados em letras
minúsculas. O poder conquistado por Moses praticamente o tornou
um ditador em Nova Iorque por quase quatro décadas. Entretanto, a
verdade é que o Senhor perm itiu que ele alcançasse essa posição de
poder para que pudesse usá-lo para os Seus propósitos.
Antes de analisarmos os sonhos do faraó, consideremos a razão
por que ele era o rei do Egito. C om o alcançou essa posição? A respos­
ta superficial seria que seu pai era o faraó, e que, com a m orte deste, o
título e a posição lhe foram transmitidos, já que ele era o primogênito.
Mas há um a razão mais profunda do que a simples sucessão familiar.
Nosso Deus, soberano, é Aquele que coloca homens e mulheres
em posições de proeminência e poder e os remove. C om o Maria, a
mãe de Jesus, afirmou em seu Magnificat: Com o seu braço, agiu valoro­
samente, dissipou os soberbos no pensamento de seu coração, depôs dos tronos
os poderosos e elevou os humildes (Lc 1.51,52).
Cerca de dois mil anos antes de Maria, o profeta Isaías teve uma
visão surpreendente da grandeza de Deus se comparada aos nossos
conceitos de grandeza terrena. N u m capítulo extraordinário (Is 40),
o Senhor nos exorta a considerar pessoas e nações que vemos como
poderosas e imponentes e a compará-las a Ele. Q uando fazemos isso,
adquirimos uma nova perspectiva das coisas. Em Isaías 40.18, consta
a seguinte pergunta: A quem, pois, fareis semelhante a Deus ou com que o
comparareis?
Sugiro que você leia os versículos abaixo bem devagar, para que
possa apreciar a grandeza do nosso Deus. Considere atentamente o
Seu poder ilimitado:

Q uem mediu com o seu punho as águas, e tomou a medida dos céus aos
palmos, e recolheu em uma medida o pó da terra, e pesou os montes e os
outeiros em balanças? Q uem guiou o Espírito do S E N H O R ? E que
conselheiro o ensinou? Com quem tomou conselho, para que lhe desse
Capítulo 8 155

entendimento, e lhe mostrasse as veredas do juízo, e lhe ensinasse sabedo­


ria, e lhe fizesse notório o caminho da ciência?
E is que as nações são consideradas por ele como a gota de um balde e
como o pó miúdo das balanças; eis que lança por aí as ilhas como a uma
coisa pequeníssima.
N e m todo o Líbano basta para o fogo, nem os seus animais bastam para
holocaustos. Todas as nações são como nada perante ele; ele considera-as
menos do que nada e como uma coisa vã.
Is a ía s 4 0 .1 2 -1 7

N o tempo de José, o Egito era a grande superpotência mundial, o


“m enino grandalhão e malvado do bairro” . As demais nações temiam
o Egito e seu poderio militar. C ontudo, seu dom ínio chegou ao fim, e
o Egito se tornou um a nação praticamente insignificante e desprovida
de influência (ver Ez 29— 32).
M uitos historiadores escreveram sobre a ascensão e a queda das
grandes nações, dentre os quais o mais famoso foi A rnold Toynbee,
que escreveu 12 volumes sobre o assunto.
Em 1976, Sir John Glubb escreveu um ensaio intitulado The Fate
ofEmpires [O destino dos impérios], Glubb expôs sua teoria segundo a
qual os grandes impérios raramente sobrevivem p o r mais de 250 anos
( G l u b b apud O d o m , 1990, p. 186)55.

Por que eles caem? Sir John sugere inúmeras causas. Contudo, a
verdadeira razão, entalhada nas páginas das Escrituras, é que o Senhor
é quem os derruba. Deus está no controle das nações e de seus líderes
poderosos, incluindo os impérios listados a seguir:

Nação Datas Duração em anos


Assíria 8 5 9 -6 1 2 a.C. 247

Pérsia 5 3 8 -3 3 0 a.C. 208

Grécia 331 -1 0 0 a.C. 231

República Romana 2 6 0 -2 7 a.C. 233

Im pério Romano 27 a.C. -1 8 0 d.C. 207


156 Indivíduos influentes... D eus está no controle dos poderosos

Im pério Árabe 6 3 4 -8 8 0 d.C. 246

Im pério M am eluco 1 2 5 0 - 1517 d.C. 267

Im pério Otomano 1320-1517 d.C. 250

Espanha 1 5 0 0 - 1750 d.C. 250

Dinastia Romanov 1682-1916 d.C. 234


(Rússia)

G rã-Bretanha 1700-1950 d.C. 250

(F onte: h t t p : / / d a riu sth e m ed e .trip o d .co m /g lu b b .A c esso 1 7 /0 3 /2 0 0 8 ).36

W inston Churchill afirmou: “ Q uanto mais longe você olhar para


o passado, mais longe enxergará o futuro” .
Então, qual é a nação mais temida nos dias de hoje? Obviamente,
os Estados Unidos da América. Mas muitas pessoas perdem o sono ao
pensarem sobre o poderio nuclear do Irã ou da Coreia do N orte.
Entretanto, em Isaías 40.12-17, vemos que todas as nações são
como nada diante do Senhor. Aliás, elas são menos do que nada e to ­
talmente insignificantes. Então, em vez de preocupar-se com a guerra
nuclear hoje à noite, por que você não lê Isaías 40 antes de dormir?
A China Vermelha, o Iraque, o Talibã, o Hezbollah, o Hamas e
outras nações e organizações terroristas estão sob o controle sobera­
no do Senhor. Elas não são nada, são insignificantes. Tais instituições
podem fazer o mal e causar a destruição? E claro que sim, mas não
podem tocar na vida de um só cristão sem a permissão de Deus. Ele
controla e governa tanto nações poderosas como grupos terroristas.
E nenhum deles se dá conta do seguinte: Deus, o único Deus vivo
e verdadeiro, aponta os seus líderes e determ ina a duração dos seus
governos. E, quando o propósito do Senhor com eles termina, Ele os
sopra, e eles caem.
Isso é o que eu chamo de poder.

Porventura, não sabeis? Porventura, não ouvis? O u desde o princípio se


vos não notificou isso mesmo? O u não atentastes para os fundam entos da
terra? E le é o que está assentado sobre o globo da terra, cujos moradores
Capítulo 8 157

são para ele como gafanhotos; ele é o que estende os céus como cortina e os
desenrola como tenda para neles habitar; o que fa z voltar ao nada os prínci­
pes e torna coisa vã os ju iz e s da terra. E não se plantam , nem se semeiam,
nem se arraiga na terra o seu tronco cortado; sopra sobre eles, e secam~se;
e um tufão, como pragana, os levará. A quem pois me fareis semelhante,
para que lhe seja semelhante? -- d iz o Santo. Levantai ao alto os olhos e
vede quem criou estas coisas, quem pro d u z por conta o seu exército, quem
a todas chama pelo seu nome; por causa da grandeza das suas forças e pela
fortaleza do seu poder, nenhum a faltará.
Is a ía s 4 0 .2 1 -2 6

Grandes líderes constroem palácios. Deus só precisa falar, e siste­


mas solares são instantaneamente criados.
Teddy Roosevelt foi um dos maiores presidentes que os Estados
U nidos já conheceram. Estava habituado ao poder e sentia-se confor­
tável em usá-lo. Mas ele entendia muito bem a origem do verdadeiro
poder. Teddy confessou aos seus amigos: “Depois de uma semana li­
dando com problemas difíceis de serem resolvidos, minha alma des­
cansa quando entro na casa do Senhor e canto de todo o coração:
Santo, Santo, Santo é o Senhor todo-poderoso” (G bant, 1996, p. 176)57.
N ão é de espantar então que “muitas vezes antes de se deitar,
Roosevelt e seu amigo naturalista W illiam Beebe saíssem até a va­
randa da Casa Branca e olhassem para o céu noturno, buscando uma
pequena mancha luminosa próxima à constelação de Pégaso. ‘Aí está
a galáxia espiral de A ndrôm eda’, diziam eles em uníssono. ‘Ela é tão
grande quanto a nossa Via Láctea. E uma das cem milhões de galáxias
que existem no universo. Ela possui cem bilhões de sóis, todos maiores
que o nosso.’Depois de um m om ento de silêncio reverente, Roosevelt
virava-se para o amigo e dizia: ‘J á deu para ver que somos bastante pe­
quenos. Agora vamos para a cama.’” (G rant, 1996, p. 126)58
O presidente Theodore Roosevelt era um hom em poderoso e
com um grande ego. N o entanto, refreava esse ego mantendo os olhos
bem abertos quando olhava para as estrelas. E ele sabia muito bem
que Aquele que as criara não era apenas todo-poderoso, mas também
infinitamente santo.
158 Indivíduos influentes... D eus está no controle dos poderosos

N em todos os indivíduos poderosos gostam de reconhecer que


existe alguém mais poderoso que eles/ Porém, de tempos em tempos
somos relembrados de que juntos eles não passam de um grande e
redondo zero.
Então, por que o faraó era um dos governantes mais poderosos do
m undo na época de José? A resposta é simples: Deus o havia colocado
naquela posição. O Senhor exalta e derruba os poderosos. Q uando
sopra neles, são reduzidos a nada como a Bruxa Malvada do Oeste em
O mágico de O z . E Deus quem aniquila os príncipes e reduz a nada
os juizes deste mundo. Primeiro Ele declara que as nações não são
nada; em seguida, afirma que os juizes e outros indivíduos poderosos
são igualmente insignificantes. Então o Senhor ordena: “Levantem os
olhos e vejam quem criou essas estrelas!”
Indivíduos poderosos gostam de ponderar a própria grandeza,
quando, na verdade, não são nada, são insignificantes. Só ocupam uma
posição de autoridade porque Deus os colocou ali por um período
determinado por Ele para o Seu propósito e a Sua glória. Por isso, o
faraó era o rei do Egito.
N o capítulo 41 de Gênesis, o Senhor está prestes a invadir o ela­
borado sistema de segurança e todas as defesas do faraó para plantar
um sonho bem no meio do seu subconsciente.

S o nho s prazerosos e so n h o s desagradáveis

Q uando o faraó teve os sonhos que mudaram sua vida e o curso da


história? Q uando estava dormindo, é claro. Heráclito observou que
“até os que dorm em trabalham e colaboram para o que ocorre no
universo” . Isso é verdade porque Deus dirige o universo.
O faraó estava prestes a cooperar com o plano de Deus simples­
m ente porque precisava dormir. Isso indica que ele na verdade não
era tão poderoso quanto se imagina. Se você precisa dorm ir todas
as noites, então não tem tanto poder assim. Aliás, em Isaías 40.28, é
revelado um detalhe interessante sobre o poder divino: N ão sabes; não
ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos confins da terra, nem se
cansa, nem sefatiga?
Capítulo 8 159

Deus não dorm e jamais. Ele nunca cai no sono, nunca precisa ti­
rar uma soneca à tardinha. O Senhor não dorm e porque jamais perde
energia. Isso é o que eu chamo de poder!
Mas o faraó, o qual todos temiam e consideravam tão poderoso e
aterrador, precisava dormir. Certa noite, lá para as nove ou dez horas,
ele com eçou a bocejar e a deitar o corpo no trono. Então colocou seu
“pijama de seda” e enfiou-se debaixo de seus lençóis de algodão egíp­
cio de 300 fios para dormir. E, conform e o relato em Gênesis 41.1-8
( n v i ) , foi isso o que aconteceu:

A o fin a l de dois anos, o faraó teve um sonho. Ele estava em p é ju n to ao


rio Nilo, quando saíram do rio sete vacas belas e gordas, que começaram a
pastar entre os juncos. Depois saíram do rio mais sete vacas, feias e magras,
que foram para ju n to das outras, à beira do Nilo. E ntão as vacas feia s e
magras comeram as sete vacas belas e gordas. Nisso o faraó acordou.
Tornou a adormecer e teve outro sonho. Sete espigas de trigo, graúdas e
boas, cresciam no mesmo pé. Depois brotaram outras sete espigas, mirradas
e ressequidas pelo vento leste. A s espigas mirradas engoliram as sete espigas
graúdas e cheias. Então o faraó acordou; era um sonho. Pela manhã, per­
turbado, mandou chamar todos os magos e sábios do Egito e lhes contou os
sonhos, mas ninguém fo i capaz de interpretá-los.

Esses sonhos foram daqueles que fazem a pessoa acordar per­


turbada, com as imagens ainda dançando na tela da mente. O faraó
acordou angustiado por causa do sonho das vacas gordas e das vacas
magras. Talvez tenha percebido que havia algo fora do com um ou
significativo no sonho, que este não resultava apenas do excesso de
“churrasco de coxinhas de rã” que havia comido na noite anterior.
Tentando livrar-se daquela sensação inquietante, é provável que
ele tenha dito a si mesmo “relaxe, foi só um sonho” , tenha virado para
o outro lado e voltado a dormir.
Entretanto, assim que pegou no sono, o faraó teve outro sonho,
dessa vez envolvendo espigas de trigo. Inicialmente, havia espigas
graúdas e boas, mas estas logo foram engolidas por espigas mirradas e
ressequidas pelo vento.
160 Indivíduos influentes... D eus está no controle dos poderosos

Mais uma vez ele acordou e viu que estivera sonhando. Todavia,
não conseguiu esquecer os sonhos. O faraó ficou perturbado porque
sabia que significavam algo. Então, pela manhã, m andou chamar os
magos e sábios do Egito para que os interpretassem (afinal, para que
ele m antinha um bando de sábios na folha de pagamento?).
Aqueles homens deviam ter se formado em “universidades” egíp­
cias equivalentes a Harvard,Yale e Oxford, mas, quando se tratava de so­
nhos, eles eram totalmente incompetentes. Isso porque os sonhos do fa­
raó vieram do Senhor, e as coisas de Deus se discernem espiritualmente.
Seria necessário chamar um hom em que conhecesse Deus para
interpretar os sonhos enviados por Ele. E já estava mais do que na hora
de o copeiro se lembrar daquele extraordinário jovem hebreu que
conhecera no calabouço do faraó.

E ntão o chefe dos copeiros disse ao faraó: “Eloje me lembro de minhas


faltas. Certa v e z o faraó ficou irado com os seus dois servos e mandou
prender-me ju n to com o chefe dos padeiros, na casa do capitão da guarda.
Certa noite cada um de nós teve um sonho, e cada sonho tinha uma inter­
pretação. Pois bem, havia lá conosco um jovem hebreu, servo do capitão da
guarda. Contamos a ele os nossos sonhos, e ele os interpretou, dando a cada
um de nós a interpretação do seu próprio sonho. E tudo aconteceu conforme
ele nos dissera: eu fu i restaurado à m inha posição e o outro fo i enforcado”.

G ê n e s is 4 1 .9 -1 3 ( nvi)

Era tudo o que o faraó precisava ouvir. Seus conselheiros não


sabiam o que fazer, m antinham os olhos esbugalhados como veados
surpreendidos pelo farol alto de um carro na estrada, completamente
inúteis para o rei.
Naquele exato m om ento o hom em mais poderoso da terra per­
cebeu que estava de mãos atadas. Ele não tinha poder para resolver seu
próprio dilema. Foi então que o poder de Deus entrou em ação. De
repente, uma “lâmpada” se acendeu na cabeça do copeiro. C om o ele
poderia ter-se esquecido? Havia um hom em na prisão perfeitamente
capaz de satisfazer a necessidade do faraó.
Capítulo 8 161

E qual era a necessidade do faraó? Ele precisava de um hom em


que soubesse interpretar sonhos acuradamente. N ão queria alguém
que tentasse adivinhar a interpretação ou que quisesse apenas bajular
o chefe com uma explicação agradável e politicamente correta. Algo
havia abalado a alma do faraó, e ele queria saber a verdade — precisava
de alguém que pudesse interpretar de maneira correta e detalhada seus
sonhos perturbadores.

O faraó m andou chamar fo sé, que fo i trazido depressa do calabouço. D e ­


pois de se barbear e trocar de roupa, apresentou-se ao faraó.
G ê n e s is 41 .14 ( nvi)

Durante anos, a providência de Deus vinha preparando aquele jo ­


vem, a quem as rédeas do poder do Egito estavam prestes a ser entregues
pelo próprio faraó. Potifar e o carcereiro haviam feito exatamente a
mesma coisa. Esses homens poderosos haviam delegado sua autoridade a
José. E agora, o próprio faraó, o “bambambã” do poder, o deus vingador
do Nilo, faria o mesmo. Porém, ele ainda não sabia disso.
José perm aneceu no cárcere — que a Bíblia chama de cova —
por dois longos anos. Com o dissemos, é provável que tenha pensado
que viveria o restante dos seus dias naquele lugar fechado e escuro.
Mas, de repente, tudo m udou.
N a Bíblia está escrito que o fizeram sair logo da cova, então José
veio a Faraó (Gn 41.14). Isso é o que eu chamo de ir de um extremo
ao outro! N u m m inuto José estava na masmorra, no m inuto seguinte
se encontrava no palácio. N um m inuto estava na prisão, no m inuto
seguinte, diante do hom em mais poderoso do mundo.
É o que acontece às vezes em nossa caminhada com Deus. Sen­
tim o-nos cercados ou aprisionados em alguma circunstância sombria,
então oramos, e oramos, e oramos, até que começamos a acreditar
que o Senhor perdeu nosso núm ero em algum lugar. D e repente, no
m om ento exato, nosso R ei soberano escancara a porta e saímos dali,
apertando os olhos na luz ofuscante da manhã e apreciando o ar fresco.
A espera pode parecer interminável para nós, mas o Senhor sabe
exatamente-onde estamos e como pretende libertar-nos e restaurar-nos.
162 Indivíduos influentes... D eus está no controle dos poderosos

E Faraó disse a José: E u sonhei um sonho, e ninguém há que o interprete;


mas de ti ouvi dizer que, quando ouves um sonho, o interpretas. E respon­
deu José a Faraó, dizendo: Isso não está em m im ; D eus dará resposta de
p a z a Faraó. Então, disse Faraó a José: E is que em meu sonho estava eu
em pé na praia do rio. E eis que subiam do rio sete vacas gordas de carne
eformosas à vista e pastavam no prado. E eis que outras sete vacas subiam
após estas, muito feias à vista e magras de carne; não tenho visto outras
tais, quanto à fealdade, em toda a terra do Egito. E as vacas magras efeias
comiam as primeiras sete vacas gordas; e entravam em suas entranhas, mas
não se conhecia que houvessem entrado em suas entranhas, porque o seu
aspecto erafe io como no princípio. Então, acordei. Depois, vi em meu sonho,
e eis que de um mesmo pé subiam sete espigas cheias e boas. E eis que sete
espigas secas, miúdas e queimadas do vento oriental brotavam após elas.
E as sete espigas miúdas devoravam as sete espigas boas. E eu disse-o aos
magos, mas ninguém houve que mo interpretasse.
G ê n e s is 4 1 .1 5 -2 4

O rei mais temido da terra esperava obter respostas de u m jovem


escravo estrangeiro. Q uem estava de fato no controle daquela situa­
ção? José, pois havia sido preparado pelo Senhor durante toda a sua
vida para aquele m om ento. Deus lhe daria a interpretação do sonho
que Ele próprio havia implantado no subconsciente do faraó.
Se você parar para imaginar essa cena, verá como ela é irônica.
Aquela situação havia sido inteiramente orquestrada pelo Senhor. O
faraó não estava no controle daquele mom ento. Deus era quem estava.
N o fim, o faraó fez exatamente o que o Senhor queria que ele fizesse.
José propôs um plano para que o faraó se preparasse para a crise re­
velada no sonho. O plano veio de Deus, e o faraó o seguiu fielmente.
Por que ele fez isso? Porque o Senhor está no controle de indivíduos
poderosos.

O utro rei p o d e r o s o

As vezes achamos que indivíduos poderosos detêm o controle absolu­


to das circunstâncias, aparentemente com poder ilimitado.
Capítulo 8 163

Alguns anos atrás, almocei com um executivo que se encontrava


em estado de choque. Ele havia trabalhado por muitos anos numa com­
panhia bastante prestigiosa que tinha como princípio jamais demitir
seus funcionários. Entretanto, junto a milhares de outras pessoas, ele
tinha sido demitido porque a saúde financeira da companhia havia en­
trado em declínio. Ele planejara trabalhar nessa firma por mais seis ou
sete anos. C om isso, teria garantido um futuro financeiramente seguro.
Aliás, esse hom em havia planejado o que faria nos próximos 20 anos de
sua vida. Agora todos os seus planos tinham ido por água abaixo.
E compreensível que esse ex-executivo tivesse sérias preocupa­
ções quanto ao seu futuro. Seu m undo tinha sido virado de cabeça
para baixo por um comitê de recursos humanos que decidira colocá-
-lo no olho da rua.
D urante a refeição ele expressou seu medo e sua ansiedade com
relação ao porvir, e num determinado m om ento eu disse: “Você não
consegue ver que foi o Senhor Jesus Cristo quem o demitiu?” Ele
olhou para m im como se eu tivesse dito um palavrão. “ O que você
quer dizer com isso? Foi o comitê que me despediu!”
Então respondi: “Você realmente acredita que o destino de sua
vida esteja nas mãos de um comitê? Seu plano era perm anecer na
companhia por mais sete anos, mas esse não era o plano do Senhor. Se
Ele quisesse que você trabalhasse nessa firma por mais sete anos, seria
exatamente ali que você ficaria. E nenhum comitê do m undo poderia
m udar isso. O coração do comitê é como corrente de águas nas mãos
do Senhor; Ele o inclina para onde bem entende. É Deus quem dirige
o comitê e foi Ele quem o m andou dem itir você. O Senhor quer que
você faça algo que não estava em seus planos, mas que certamente está
nos planos dele” .
É assim que você precisa ver os indivíduos poderosos em sua vida.
O poder deles foi concedido pelo Senhor, por isso é limitado. Q uando
Deus diz “pulem ” , eles pulam, mesmo que não acreditem nele nem
achem que Ele é grande.
Você se lembra daquele m eu amigo que foi jogado na prisão por
um poderoso juiz? R ecebi uma carta dele semana passada. Acho que,
164 Indivíduos influentes... Deus está no controle dos poderosos

antes de ser preso, ele teria descrito a si mesmo como um cristão que
havia perdido o senso de prioridade em sua vida espiritual e que estava
afastando-se daquilo que sabia ser verdade.
Em sua carta, ele escreveu as seguintes palavras (que cito aqui
com sua permissão):

Steve, te m sido m aravilhoso te r tan to tem p o para refletir, rever e


analisar m in h a vida. N u n c a dispus de tan to tem p o a sós co m o
Senhor. C o m to d a a sinceridade, fazer u m inventário com pleto
da sua vida diante de D eus (sendo b ru talm en te ho n esto consigo
m esm o) não é u m a tarefa fácil. Para dizer a verdade, não gostei de
u m a b o a p arte do que descobri (ou do q ue o S en h o r m e m ostrou).
A gora cabe a m im fazer algo a respeito disso.
Parece q u e sou capaz de enxergar a direção de D eus co m m u ito
mais clareza agora q u e não estou sendo in u n d ad o co m questões
m undanas. Essa é a única coisa boa sobre a prisão. Você não está
sujeito a n e n h u m a pressão. D esco b ri q u e preciso entregar todos os
aspectos da m in h a vida ao Senhor. O mais engraçado o u irônico
é que, e n q u an to estou sentado aqui na prisão, fisicam ente encar­
cerado, n u n ca m e senti tão livre espiritualm ente. Espero que ten h a
conseguido expressar o q u e sinto. P aulo é m u ito m elh o r do que
eu q u an d o se trata de escrever da prisão.
D eus te m falado m u ito com igo. E u realm ente m e desviei do
cam inho nos últim os anos. E m aravilhoso sentir Sua presença o
te m p o todo. E le p ro m e te u jam ais m e deixar o u m e abandonar [...]
Essa é u m a verdade trem e n d a m e n te reconfortante.

N o parágrafo seguinte, ele fez uma pergunta: “Steve, você acha


que Deus às vezes faz com que coisas ‘ruins’ aconteçam de propósito
para trazer Seus filhos de volta ao aprisco?”
Coisas ruins como mandar juizes poderosos anularem um acordo
judicial?
R espondi que sim. E ele concordou. Q ue Deus tremendo!
C a p ít u l o 9

Deus programa o “boletim de meteorologia” ...


Ele está no controle da fome, do clima e
dos desastres naturais

D eus não teve nada a ver c o m os eventos


de 11 de setem bro de 2001.
— P a s t o r a n ô n im o f a l a n d o na t e l e v i s ã o

A frase em Deus confiamos GStá gravada em todas as moedas dos


Estados Unidos. Em 1588, a rainha da Inglaterra ordenou que a frase
“Ele soprou, e eles foram espalhados” fosse cunhada numa medalha de
ouro.59
“Ele soprou e eles foram espalhados.”Por que essa frase foi grava­
da num a medalha de ouro?
Em maio de 1588, a Espanha era a nação mais poderosa do mundo.
Encorajados por essa onda de poder, os espanhóis começaram a consi­
derar a possibilidade de invadir e conquistar a Inglaterra. Para realizar
esse feito, Felipe II, o rei da Espanha, enviou a mais poderosa força naval
do mundo — a M arinha espanhola. A esquadra, formada por mais de
100 navios de guerra, era conhecida como a Invencível Armada. N enhu­
ma nação da terra tinha qualquer esperança em derrotá-la.
166 Deus programa o “boletim de meteorologia”...Ele está no controle da fome, do..

Ao sair da Espanha, a esquadra velejou rum o ao norte em direção


à Inglaterra. Entretanto, antes que pudessem atacar, os navios depa­
raram com uma tempestade monstruosa — na verdade, um furacão
maciço num a região que ficava m uito mais ao norte do que a rota
habitual dos furacões. Então, com seus ventos assassinos, esse furacão
surpreendente praticamente aniquilou a armada espanhola. Foi o fim
da Espanha como superpotência mundial.
Os ventos destruíram os navios antes que estes alcançassem a In­
glaterra. E toda a Inglaterra, incluindo a rainha Elizabeth, sabia que
Deus havia enviado a tempestade. A frase de louvor ao Senhor “Ele
soprou, e eles foram espalhados” foi proclamada em cada vilarejo, pub
e igreja da Inglaterra.
N inguém disse uma palavra sobre a mãe natureza ou um golpe de
sorte. Toda a glória foi dada ao Deus Pai, Filho e Espírito Santo.

Falando e m d e s a s t r e s ...

Im agine que o boletim abaixo acaba de ser veiculado no “Jornal


N acional” :

U m oficial anô n im o n o gabinete do faraó acaba de confirm ar a


seguinte inform ação: D eus abrirá as com portas do céu e inundará a
eco n o m ia do E g ito co m prosperidade nos próxim os sete anos. E n ­
tão Ele fechará a to rn eira do céu e enviará u m desastre natural que
afetará o E gito e todas as nações vizinhas nos sete anos seguintes.
Isso aco n tecerá c o m to d a a certeza e não p o d erá ser im pedido.

Essa foi basicamente a interpretação que José fez dos sonhos que
tanto perturbaram o faraó. Nos dias de hoje, a boa notícia deixaria os
corretores da bolsa de valores e os economistas exultantes. A inflação
cairia, e os lucros chegariam ao teto!
Mas e quanto à segunda parte do boletim informativo — aquela
que afirmou que Deus enviaria uma calamidade duradoura que amea­
çaria a própria existência do Egito como nação?
E provável que todos os membros da corte do faraó tivessem
uma opinião. Se fosse hoje, o tópico seria discutido incessantemente
Capítulo 9 167

no rádio e na televisão. Mas não havia nada que o faraó ou qualquer


outra pessoa pudessem fazer para prevenir o desastre.

A s sete vacas boas são sete anos, e as sete espigas boas são também sete
anos; trata-se de um único sonho. A s sete vacas magras efeias que surgiram
depois das outras, e as sete espigas mirradas, queimadas pelo vento leste, são
sete anos. Serão sete anos de fom e. “É exatam ente como eu disse ao faraó:
D eus mostrou ao faraó aquilo que ele vai fazer. Sete anos de m uita fartura
estão para vir sobre toda a terra do Egito, mas depois virão sete anos de
fom e. Então todo o tempo de fartura será esquecido, pois a fo m e arruinará
a terra. A fo m e que virá depois será tão rigorosa que o tempo de fartura
não será mais lembrado na terra. O sonho veio ao faraó duas vezes porque
a questão já fo i decidida por Deus, que se apressa em realizá-la. “Procure
agora o faraó um homem criterioso e sábio e coloque-o no comando da terra
do Egito. O faraó também deve estabelecer supervisores para recolher um
quinto da colheita do Egito durante os sete anos de fartura. Eles deverão
recolher o que puderem nos anos bons que virão e fa z e r estoques de trigo
que, sob o controle do faraó, serão armazenados nas cidades. Esse estoque
servirá de reserva para os sete anos de fo m e que virão sobre o Egito, para
que a terra não seja arrasada pela fom e.
G ê n e s is 4 1 .2 6 -3 6 ( nvi)

Secas e fomes desastrosas são uma péssima notícia. As pessoas


m orrem por causa delas. E a escassez de alimentos que Deus enviaria
perduraria por sete penosos anos.
Nosso dilema é o seguinte: as pessoas m orrem em tsunamis, terre­
motos e incêndios. E, se Deus está no controle de todos esses eventos,
então é Ele quem as faz morrer. Se o Senhor está no controle desses
acontecimentos, é responsável pelos sofrimentos físicos e emocionais
que resultam deles.
Cerca de 50 milhões de pessoas m orrem a cada ano, seis mil a
cada hora e mais de 100 a cada m inuto60. Mas, quando milhares m or­
rem ao mesmo tem po no mesmo lugar, costumamos perguntar-nos
por que Deus perm ite uma coisa assim.
Com o sempre, JeffBridges nos oferece um conselho sábio:
168 Deus programa o “boletim de meteorologia” ...Ele está no controle da fome, do.

M u ito s cristãos sensíveis acham difícil e n te n d e r os inúm eros d e­


sastres naturais que o c o rre m em to d o o m u n d o — u m te rrem o to
aqui, u m a seca ali, tufões e enchentes acolá. M ilhares de pessoas
m o rre m , e outras p erecem len tam en te de fom e. R eg iõ es inteiras
são devastadas, safras são arruinadas e m oradias destruídas. “P o r
que D eus p e rm ite isso?” , p o d em o s p erg u n tar-n o s. “P o r que D eus
p e rm ite que aquelas criancinhas in ocentes m o rra m de fom e?”
N ã o é errado debater-se co m essas questões, con tan to que m an ­
ten h am o s um a atitude reverente e submissa para c o m D eus. N a
verdade, não se deb ater co m a questão das grandes catástrofes in ­
dicaria u m a falta de com paixão para co m os outros. E ntretanto,
se não tiverm os cuidado, acabarem os tirando o S en h o r do Seu
tro n o soberano e m nossa m en te, co lo c a n d o -o no banco dos réus e
ju lg a n d o -o e m nosso tribunal. (B r id g e s , 2006, p. 58, 59)61

D eus c o n t in u a no tr o n o

Q uando um pastor diz que Deus não teve nada a ver com os eventos
de 11 de setembro (o que a citação no início deste capítulo parece
indicar), ele está tirando Deus do trono. Por que aquele pastor disse
isso? Acho que estava tentando inocentar o Senhor. Ele não quer que
as pessoas pensem que Deus é um sujeito malvado. Mas, quando afir­
ma que o Senhor não teve nada a ver com aquele evento, o pastor está
cavando um buraco ainda mais profundo. Se Deus não teve nada a ver
com o 11 de setembro, então de algum m odo o incidente lhe passou
despercebido, e, se isso é verdade, Ele não está no controle absoluto
de tudo.
A verdade é que o Senhor não precisa que o inocentemos. Ele
não precisa ser defendido ou explicado. Talvez não conheçamos Seus
propósitos ao enviar os eventos de 11 de setembro, mas nem por isso
devemos negar que Ele estava no controle e que até mesmo planejou
o ocorrido.
Porque nós amamos e honramos a Deus, queremos que todos
tenham sentimentos positivos em relação a Ele e que todos tenham
suas perguntas respondidas. Porém, isso jamais vai acontecer. N enhum
Capítulo 9 169

de nós terá todas as suas perguntas sobre o Senhor respondidas nesta


vida. Se a única maneira que você encontrou de sentir-se confortável
com o m odo como Ele trabalha foi enfraquecendo o Seu poder ou
diluindo qualquer um dos Seus atributos para torná-lo mais admirável,
então você não conhece o Deus da Bíblia.
O Deus da Bíblia pode ser conhecido, mas Ele tam bém é incom ­
preensível. O Senhor faz coisas que nos deixam perplexos. [Meus cami­
nhos não são os seus caminhos.] As vezes Ele nos confunde e outras vezes
nos frustra [Meus pensamentos não são os seus pensamentos .] Em outras
ocasiões, faz-nos sofrer. E, por razões que fogem ao nosso entendi­
mento, Ele às vezes usa o clima, ataques terroristas e desastres naturais
para cum prir Seus santos propósitos.
Seu poder absoluto sobre a natureza nos espanta, conform e ve­
mos e m jó 37.1-6,9-13 ( n v i ):

“D iante disso o meu coração bate aceleradamente e salta do seu lugar.


Ouça! Escute o estrondo da sua voz, o trovejar da sua boca. E le solta os
seus relâmpagos por baixo de toda a extensão do céu e os manda para os
confins da terra. Depois vem o som do seu grande estrondo: ele troveja
com sua majestosa voz. Q uando a sua vo z ressoa, nada o f a z recuar. A
v o z de D eus troveja maravilhosamente; ele f a z coisas grandiosas, acima do
nosso entendimento. Ele d iz à neve: ‘Caia sobre a terra’, e à chuva: ‘Seja
um forte aguaceiro’. A tempestade sai da sua câmara, e dos ventos vem o
frio. O sopro de D eus pro d u z gelo, e as vastas águas se congelam. Também
carrega de umidade as nuvens, e entre elas espalha os seus relâmpagos. Ele
as f a z girar, circulando sobre a superfície de toda a terra, para fa zerem tudo
o que ele lhes ordenar. E le traz as nuvens, ora para castigar os homens, ora
para regar a sua terra e lhes mostrar o seu amor. ”

Então, quando um terrem oto mata milhares de pessoas, ou um


tsunami afoga dezenas delas, ou um furacão arrasa uma cidade, ou
aviões são seqüestrados em 11 de setembro e milhares de pessoas m or­
rem, oque tentamos fazer? Tentamos inocentar o Senhor, dizer que
Ele não teve nada a ver com esses eventos. Mas a Palavra de Deus
declara exatamente o contrário:
170 Deus programa o “boletim de meteorologia” ...Ele está no controle da fome, do.

Sucederá qualquer mal à cidade, e o S E N H O R não o terá feito?


A m ó s 3.6b

E u sou o S E N E I O R , e não há outro. E u form o a lu z e crio as trevas; eu


faço a p a z e crio o mal; eu, o S E N H O R , faço todas essas coisas.
Is a ía s 4 5 .6 a ,7

Se você acredita na Bíblia, não pode negar que Deus está no con­
trole das calamidades:

O te rm o traduzido co m o calamidade é a palavra hebraica ra, tra­


duzida c o m m u ito m aio r frequência co m o mal (e tam b ém malva­
do, nocivo, o u perverso). N ã o existe n e n h u m a palavra hebraica mais
fo rte do q u e esta para in d icar tu d o q u e é destrutivo, desastroso e
pernicioso, tan to do p o n to de vista da experiência h u m an a com o
da perspectiva do p ró p rio D eus. (Wake, 2004, p. 72)62

Se ainda resta qualquer dúvida quanto ao fato de que o Senhor


assume total responsabilidade pelas calamidades e pelos desastres que
ocorrem no mundo, observe as seguintes passagens. Mas esteja avisado:
o que esses textos têm a dizer talvez o deixe bastante perturbado.

Vede, agora, que eu, eu o sou, e mais nenhum deus comigo; eu mato e eu
faço viver; eu firo e eu saro; e ninguém há que escape da m inha mão.
D e u te ro n ô m io 32 .39

O S E N H O R é o que tira a vida e a dá;f a z descer à sepultura e f a z tor­


nar a subir dela. O S E N H O R empobrece e enriquece; abaixa e também
exalta.
1 S a m u e l 2.6,7

Q uem é aquele que diz, e assim acontece, quando o Senhor o não mande?
Porventura da boca do A ltíssim o não sai o mal e o bem?
L a m e n ta ç õ e s 3.3 7 ,3 8
Capítulo 9 171

V erdades duras

Em seu livro G od’s Greater Glory [A maior glória de Deus], o Dr. Bruce
Ware analisa cuidadosamente o ensinamento desses versículos:

A m aio ria dos cristãos afirm aria sem hesitar que D eus está no
con tro le de todas as coisas boas que aco ntecem ; afinal, T iago 1.17
declara que todo dom perfeito p ro ced e d o Pai das Luzes. P ortanto,
não deveríam os ficar surpresos o u p ertu rb ad o s ao lerm os nessas
passagens q u e o S e n h o r faz viver, o S e n h o r sara, o S en h o r e n riq u e ­
ce, o S en h o r exalta, o S e n h o r traz dias de prosperidade, o S enhor
endireita, o S en h o r fo rm a a luz, o S en h o r co ncede o bem -estar e
o S en h o r p rom ove o q u e é b o m .
M as o que é su rp reen d en te e elucidativo nesses versículos é que,
nas m esm as linhas, eles a trib u e m a D eus realidades hum anas que se
e n c o n tra m do lado o posto do espectro. O S en h o r não apenas faz
viver, mas Ele tam b ém m ata; E le não apenas sara, mas Ele tam b ém
fere. Aliás, a B íblia diz que o S en h o r em pobrece, o S en h o r abate,
o S en h o r faz to rto , o S en h o r traz dias de adversidade, o S enhor
cria as trevas e a calam idade, o S en h o r traz aquilo que é m au. [...]
Precisam os e n te n d e r as Escrituras, deixando que essas passagens
nos in stru am q u an to à extensão do controle soberano de D eus.
A inda q u e não consigam os co m p re e n d er satisfatoriam ente com o
o S en h o r controla o b e m e o m al sem que o Seu relacionam ento
co m o m al o co m p ro m eta m o ralm en te, esses versículos afirm am
claram ente que D eu s está n o con tro le de am bos. (W a r e , 2004, p.
70, 71)63

Algumas páginas adiante, Dr. Ware discute as implicações morais


de um Deus que controla tanto o bem como o mal.

D eus reina sobre o b e m e o m al, sobre a luz e as trevas, e esse


en sinam ento bíblico, assim co m o m uitas outras passagens das Es­
crituras, nos m ostra q u e D eus contro la tu d o o que acontece em
Sua criação.Tudo!
172 Deus programa o “boletim de meteorologia” ...Ele está no controle da fome, do.

Lembre-se de que em Isaías 45.7, o Senhor disse: E u form o a lu z


e crio as trevas. Contudo, considere juntam ente 1 João 1.5: E esta é a
mensagem que dele ouvimos e vos anunciamos: que Deus é luz, e não há nele
treva nenhuma.
Q ue interessante! Embora Deus controle tanto a luz como as trevas
(Is 45.7), Sua natureza é exclusivamente de luz, e não de trevas (1 Jo 1.5).

E ntão, em b o ra D eu s contro le tan to o b em -estar com o as calam i­


dades (o mal), E le não te m n e n h u m p razer na perversidade. O m al
não habita nele, e Ele não p o d e aprová-lo. E m suma, o S en h o r é
b o m e não m au, em b o ra Ele con tro le o b e m e o mal. Ele jam ais
c o m p ro m e te Sua natureza etern a e santa. N ã o é m anchado pelo
m al tam p o u co o aprova. O m al é co n trário à natureza santa e m o ­
ral de D eus, e Sua atitude c o m relação ao m al é sem pre de ódio e
oposição, e n q u an to Sua atitude c o m relação ao b e m é sem pre de
aprovação e concordância. (W a r e , 2004, p. 1 0 1 ,102)64

N ão precisamos limitar o Senhor e o Seu poder para resolver o


dilema moral relativo à Sua responsabilidade pelo mal. O que devemos
fazer é apenas aceitar o que dizem as Escrituras.

A b r a ç a n d o árvo res e t o r n a n d o - as ocas por dentro

Tenho uma pergunta: será que Deus precisa de permissão para cortar
uma árvore? A resposta é não. O Senhor criou as árvores e é dono de­
las. Ele envia tempestades e incêndios, com isso árvores são destruídas.
Mas às vezes Deus decide simplesmente tornar uma árvore oca.
H á pouco tem po uma cerimônia extraordinária ocorreu em Isra­
el. Enquanto tocava o tronco oco de uma árvore que ele havia trazido
da Europa, um sobrevivente do Holocausto disse a uma audiência
fascinada: “Esta árvore salvou a m inha vida” .
Ao doar a árvore ao M em orial do Holocausto Yad Vashem em
Jerusalém, o polonês Jakob Silberstein contou que se escondera em
seu tronco oco quando os soldados alemães foram procurar judeus na
Tchecoslováquia no final da Segunda Guerra Mundial.
Capítulo 9 173

D urante a guerra, Silberstein, hoje com 83 anos, abrigou-se na


casa de uma senhora tcheca chamada Jana Sudova. Enquanto perse­
guia um coelho, ele encontrou a árvore oca no quintal de Jana e a
escolheu como um possível esconderijo caso fosse descoberto.
Pouco antes das tropas alemãs deixarem aquela área, a Gestapo,
polícia secreta alemã, decidiu realizar uma última operação de busca
aos judeus.
Silberstein correu para a árvore.

E u estava incriv elm en te ap ertado lá dentro. P erm aneci ali p o r nove


horas inteiras, o coração disparado e o co rp o to d o trem endo, certo
de q u e se os soldados chegassem p e rto da árvore p o d eria m escutar
m in h a respiração. D u ra n te to d o esse p eríodo, eu estava m o rre n d o
de m edo. N ã o q u eria m o rre r ali. E u tem ia que eles m e cortassem
co m u m a serra elétrica ou atirassem em m im .

Depois da guerra, Silberstein se m udou para Israel. Ele voltou


à R epública Tcheca em 2005 e, com a ajuda de um jornalista local,
conseguiu encontrar a árvore, que havia sido recentem ente cortada e
estava prestes a ser usada para a confecção de móveis de jardim. Ele
conseguiu que lhe dessem parte do tronco, o qual levou para Israel.
Os pais e três irmãos de Silberstein estão entre os seis milhões
de judeus assassinados pelo regime nazista de A dolf H itler durante a
Segunda Guerra M undial.65
Deus usou uma árvore de tronco oco para salvar a vida de um
jovem. Será que o Senhor planejou que o tronco daquela árvore fosse
oco ou Ele apenas perm itiu que isso acontecesse? E provável que você
esteja se perguntado que importância tem isso.
Q uando se trata de árvores, talvez isso não pareça tão importante.
N o entanto, quando se trata do mal, a história é bem diferente. Bruce
Ware propõe:

Será que a n o ção de q u e D eu s p e rm ite que determ inadas ações


e eventos aco n teçam é u m a ideia bíblica? C onsidere os seguintes
174 Deus programa o “boletim de meteorologia”...Ele está no controle da fome, do.

textos, o n d e os escritores bíblicos p arecem reco n h e cer e adotar


claram ente esse conceito:

M as vosso pai me enganou e m udou o salário d ez vezes; p o ré m D eu s


não lhe p e r m itiu que m e fiz e s s e m al.
G ê n e s is 31.7

E todos aqueles demônios lhe rogaram, dizendo: M anda-nos para aqueles


porcos, para que entremos neles. E Jesus logo lho p e r m itiu . E , saindo
aqueles espíritos imundos, entraram nos porcos.
M a r c o s 5 .12,13a

O, qual nos tempos passados, deixou andar todos os povos em seus pró­
prios caminhos.
A to s 14.16

Porque não vos quero agora ver de passagem, mas espero ficar convosco
algum tempo, se o Senhor o p e r m itir.
1 C o rín tio s 16.7
E isso faremos, se D eu s o p erm itir.
H eb reu s 6.3

(W a re , 2004, p. 106, 107)66

Ware então nos leva à conclusão que nos ajuda a resolver esse
dilema moral:

O que precisamos entender é que D eus perm ite que o m al ocorra


apenas quando Ele sabe que isso irá servir Seus propósitos, jamais
frustrá-los o u preveni-los. Ele pode fazer isso porque, antes que qual­
quer m al ocorra, Ele te m p o d er suficiente para im pedir que aquele
mal específico chegue a acontecer. (W a r e , 2004, p. 1 0 6 ,107)67

Então o Senhor perm ite que o mal ocorra quando serve Seus
propósitos santos e bons. E será que todos esses eventos — o que in­
cluiria furacões, incêndios florestais, deslizamentos de terra, doenças,
acidentes e até mesmo a m orte — fazem sempre sentido para nós?
Capítulo 9 175

Não!Por isso, precisamos ter o cuidado de não acusar o Senhor de


fazer o mal quando Ele o usa para os Seus bons propósitos, mesmo que
não consigamos entendê-los. O que devemos fazer é apenas confiar na
Sua benignidade e no Seu caráter quando as coisas não fazem sentido
para a nossa m ente limitada.

D e vqltâ a J osé

José olhou nos olhos do faraó e disse que haveria sete anos de fartura
seguidos de sete anos de fome absoluta. Fomes severas resultam de um
calor excruciante acompanhado de uma seca prolongada. Em outras
palavras, dias quentes sem nenhum a chuva. E quando você planta suas
safras num clima desse por sete anos, você se depara com uma fome —
um grande desastre natural. Alguém chame a F e m a [Agência Federal
de Gestão de Emergências] e ore para que seus agentes apareçam!
As companhias de seguro chamam os desastres naturais de “atos
divinos” . N ão é interessante que elas tenham mais senso teológico do
que alguns pastores contemporâneos?
Será que o mesmo pode ser dito de desastres que assolam o nosso
corpo?
M eu amigo Paul Lanier é médico. Seu hobby é a musculação. Ele
é um freqüentador assíduo dos estudos bíblicos que ministro em Dalas
às quartas-feiras à noite.
Mas preciso contar-lhe algo sobre Paul. Em bora ele tenha apenas
quarenta e poucos anos, não exerce mais a medicina. E tam bém não
pratica mais a musculação. Aliás, Paul não consegue nem levantar a
mão ou entrar andando na sala. Q uando vai ao estudo, seus amigos o
levam numa cadeira de rodas.
Paul é portador da doença de Lou G ehrig e perdeu a habilidade
de falar há alguns anos. A maioria dos homens acometidos dessa doen­
ça m orre em dois ou três anos. Paul sofre dela há oito. E provável que
tenha conseguido sobreviver tanto tem po assim p or estar em forma
tão extraordinária antes de a doença atacar seu corpo.
A última coisa que me lembro de ter escutado Paul dizer antes
de perder a fala é algo extraordinário. Ele disse com muita dificuldade:
176 Deus programa o “boletim de meteorologia”...Ele está no controle da fome, do.

“Steve, esta doença salvou a m inha vida. Foi um presente de Deus,


pois me trouxe até Ele. Sem ela, eu não teria a vida eterna” .
Em Êxodo 4.11 (NVi),lemos a seguinte declaração sobre o con­
trole absoluto de Deus: “Quem deu boca ao homem? Quem o f e z surdo
ou mudo? Quem lhe concede vista ou o torna cego? N ão sou eu, o Senhor1”
O Dr. D onald Grey Barnhouse, um dos grandes teólogos e pasto­
res do século passado, fez o seguinte comentário sobre esse texto claro
das Escrituras:

N e n h u m ind iv íd u o jam ais nasceu o u ficou cego sem que D eus


tivesse planejado q u e ele fosse cego; igualm ente, n in g u ém nunca
nasceu o u ficou m u d o sem que D eu s tivesse planejado que essa
pessoa fosse m u d a [...] Se você não acredita nisso, você tem u m
D eus estranho q u e possui u m universo que ficou desengrenado e
que Ele não p o d e controlar. (B r id g e s , 2006, p. 61)68

M eu amigo Paul se alegra na soberania de Deus. Ele não está re­


voltado contra o Senhor por ter lhe tirado a saúde física. Será que Paul
gosta das suas circunstâncias? E claro que não. Mas ele sabe que Deus
está no controle delas. Ele confia no Senhor para cuidar da sua família
quando for promovido ao céu. Paul sabe que a m orte está próxim a e
que Deus já planejou o m om ento preciso da sua partida (Hb 9.27).
Ele está em paz com o seu futuro porque tem consciência de que o
Senhor tem tudo planejado. Paul não serve a um Deus que se sente
confuso quanto ao que transcorrerá. Ele serve a um Deus que é dono
do futuro e de tudo o que este reserva — incluindo tornados, terre­
motos, câncer e nevoeiros.
N um a sexta-feira, no dia 30 de abril de 1776, nove mil soldados
americanos sob o comando de George W ashington foram salvos por
um nevoeiro. Sem ter como sair de Brooklyn, em Nova Iorque, os
soldados estavam prestes a serem cercados por tropas britânicas e a
tornarem-se alvos fáceis para o bombardeio dos navios ingleses. Então
W ashington deu uma ordem radical: eles evacuariam os nove mil h o ­
mens assim como todo o seu equipamento, incluindo suas carroças, de
Capítulo 9 177

barco. Teriam de fazer uma travessia de 1,6 km até o outro lado do rio
à noite, sem nenhum a iluminação.
Assim que escureceu, os soldados começaram a carregar os barcos.
N inguém dizia uma palavra e nenhum a luz foi acesa. D urante toda a
noite, fizeram diversas viagens. C om o dia prestes a amanhecer, porém,
muitos homens ainda não haviam sido evacuados. Contudo, para a
surpresa de todos, minutos antes dos primeiros raios de sol iluminarem
a cena, uma densa névoa desceu sobre eles. Era impossível enxergar
mais de dois metros em qualquer direção. “M esmo depois do nascer
do sol, o nevoeiro perm aneceu tão denso quanto antes, enquanto na
margem de Nova Iorque do rio não havia nevoeiro algum” (M c-
C u l l o u g h , 2005, p. 191)69.
Pouco depois das sete da manhã, os últimos soldados desembar­
caram em Nova Iorque, e em poucos minutos o nevoeiro havia se dis­
sipado. Nove mil tropas americanas foram salvas das garras do inimigo
com a ajuda da escuridão e de um nevoeiro. Q uando este se desfez,
os oficiais britânicos ficaram abismados. Puderam ver os soldados de
W ashington acenando para eles do outro lado do rio.
Em seu livro 1766, David M cC ullough escreveu: “Mais uma vez,
inexplicavelmente, as circunstâncias — o destino, a sorte, a providên­
cia, a mão de Deus, como muitos disseram — intervieram ” ( M c ­
C u l l o u g h , 2005, p. 191)70.
N ão foi o destino. N ão foi a sorte. O mesmo Deus que 200 anos
antes havia salvado a M arinha britânica agora a confundia.
Em 1588, Deus soprou, e eles se espalharam.Em 1776, Deus so­
prou, e o nevoeiro se form ou. Davi expressou isso desta forma: O nosso
Deus está nos céus e fa z tudo o que lhe apraz (SI 115.3).

D ez a t o s d iv in o s

As páginas das Escrituras estão cheias de episódios nos quais figura a


intervenção divina por meio das chamadas forças da natureza.
Cerca de 400 anos depois de José, Moisés se apresentaria dian­
te de outro faraó e ordenaria que ele deixasse os israelitas saírem da
terra do Egito. Diversas vezes, o faraó se recusou a obedecer. Então o
178 Deus programa o “boletim de meteorologia” ...Ele está no controle da fome, do..

Senhor enviou dez pragas sobre o Egito, que hoje seriam conhecidas
como desastres naturais. Aliás, foram desastres sobrenaturais, ou seja,
atos divinos.

• A água do Nilo se transformou em sangue (Ex 7.14-25).


• Rãs cobriram a terra (Ex 8.1-5).
• Piolhos se espalharam por toda parte (Ex 8.16-32).
A

• Enxames de moscas desceram sobre a terra (Ex 8.20-32).


• Todo o gado do Egito m orreu de uma praga da noite para o
dia (Êx 9.1-7).
• Feridas purulentas (sarna) surgiram nos homens e nos animais
(Êx 9.8-12).
• O granizo destruiu todas as safras da nação (Ex 9.13-35).
• Enxames de gafanhotos devoraram tudo o que era verde (Ex
10 . 1- 20).
• Por três dias o Egito foi coberto de trevas espessas (Ex 10.21-29).
• Todos os prim ogênitos da terra do Egito foram m ortos (Ex
11.1— 12.30).

Os egípcios e os israelitas não viviam na mesma cidade. Os israeli­


tas viviam em Gósen, local adjacente àquele onde residiam os egípcios.
Havia uma fronteira, e Deus a deixou bem clara quando enviou as
A

pragas (Ex 8.22). As últimas sete não tocaram os israelitas.


“Apenas o grande Deus de Israel poderia controlar o curso do
voo de moscas minúsculas e impedi-las de entrar na terra de Gósen.
O cuidado providencial de Deus sobre Israel ficou evidente em cada
uma dessas sete pragas, já que os israelitas escaparam de todas elas”
( W i e r s b e , 2001, p. 192)71.
Essa foi uma demonstração extraordinária do poder de Deus.
Pense na praga da escuridão. Estava tão escuro no Egito que as trevas
podiam ser apalpadas (Ex 10.21). Em Gósen, contudo, o sol continu­
ava brilhando. A distinção era tão clara que você poderia estar ju n to à
fronteira, do lado de Gósen, com o sol aquecendo o seu rosto, estender
a mão até o lado do Egito e não conseguir mais vê-la por causa da
escuridão.
Capítulo 9 179

A última praga foi a pior. Os primogênitos do Egito m orreram


todos numa só noite, assim como os prim ogênitos de todos os ani­
mais. Mas porque cada uma das famílias israelitas havia sacrificado um
cordeiro e colocado o seu sangue sobre os umbrais da porta de suas
casas, o anjo da m orte passou adiante, e os prim ogênitos israelitas fo­
ram poupados.
Imagine o lamento de dor escutado em todo o Egito naquela
noite terrível! Até o prim ogênito do faraó havia m orrido. E isso não
precisava ter acontecido. Antes de cada praga, o rei havia sido avisado
do que o Senhor pretendia fazer. Se tivesse deixado os israelitas par­
tirem, nenhum a praga teria vindo sobre o Egito. Mas o faraó se recu­
sou a obedecer. A cada episódio, ele endurecia ainda mais o coração.
N o fim das contas, ele mesmo foi o culpado da m orte do filho e dos
outros primogênitos do Egito. Ele se recusou a prostrar-se diante do
soberano Deus de Israel e a obedecer à Sua vontade.

A M A I O R DE TO D AS AS DORES

N ão existe nada mais profundo nem mais doloroso do que a m orte de


um filho. Q uando ensino sobre a providência de Deus, muitas pessoas
m e perguntam o que devemos dizer a pais que acabaram de perder
um filho.
Gostaria de exercer cautela nesse ponto. N unca precisei enterrar
um filho. N unca experimentei essa dor, que é a mais profunda de to­
das. Então, não sei o que é isso.
Joe Bayly sabe muito bem o que é isso porque enterrou três fi­
lhos. Então, acho que deveríamos atentar para o que ele tem a dizer
sobre o que devemos falar a pais enlutados:

E u estava sentado, devastado pelo sofrim ento. U m h o m e m chegou


e co m eço u a falar sobre a m aneira co m o D eus opera, sobre o p o r­
q u ê de tu d o aquilo, sobre p o r que m e u filho havia m o rrid o , sobre
a esperança além do túm ulo. Ele falou sem parar. Disse coisas que
eu sabia serem verdadeiras. M as nada daquilo m e com oveu. Pelo
contrário, eu m al p o d ia esperar que ele fosse em bora. E n tão ele
finalm ente se foi.
180 Deus programa o “boletim de meteorologia” ...Ele está no controle da fome, do.

P o u co te m p o depois, o u tro h o m e m chegou e se sentou ao m e u


lado. Ele não disse nada. N ã o m e fez n e n h u m a pergunta. Apenas
se sen to u com igo p o r mais de u m a ho ra, escu tan d o -m e quando eu
dizia algo, dando respostas breves, fazendo um a simples oração no
final, e partindo. Isso m e com oveu. S en ti-m e consolado. E detestei
v ê -lo partir.

Joe Bayly nos oferece um manancial de sabedoria proveniente


de sua própria dor. Ele era pastor e teólogo. Conhecia a soberania de
Deus e sabia que Ele estava no controle de todas as coisas. Joe conhe­
cia m uito bem o sofrimento de Jó e sabia que o Senhor dá e o Senhor
tira. Mas, em meio ao seu sofrimento, não precisava de versículos bí­
blicos; ele precisava de amigos que o escutassem, que estivessem dis­
postos a sentar-se ao seu lado sem dizer nada.
Joe agora está no céu com os três filhos que o precederam, delei-
tando-se na presença de Jesus. Eles não têm mais dor nem sofrimento.
Todavia, não foi assim na terra. Deus é soberano no céu e na terra.
Porém, quando alguém perde um filho ou uma filha ainda jovem, a
dor é excruciante.
Precisamos ter muito cuidado com as palavras que dirigimos a
pais enlutados. Dizer simplesmente que “Deus está no controle” não
lhes trará grande consolo, embora no fundo saibam que isso é verdade.
Q ue o Senhor nos dê sabedoria nessas situações.
Às vezes os filhos m orrem . Outras vezes sofrem de doenças pro­
longadas. E a única fonte de consolo em todo o universo é a verdade
de que existe um Deus soberano que é bom e abençoador (SI 119.68),
mesmo quando o mal nos atinge.
Margaret Clarkson expressou isso muito bem;

A soberania de D eu s é u m a rocha inexpugnável à qual o coração


h u m a n o precisa se apegar. As circunstâncias de nossas vidas não
são u m acidente; elas p o d e m ser obra do m al, mas nosso soberano
D eus te m esse m al firm e m e n te seguro em Suas m ãos poderosas
[...] T odo o m al está sujeito a Ele, e p o r isso o m al não p o d e tocar
Capítulo 9 181

Seus filhos a m enos q u e Ele o p erm ita. D eus é o S en h o r da histó­


ria h u m an a e da história pessoal de cada m em b ro de Sua família
redim ida. (B r id g e s , 2006, p. 31)72

D e v o l t a a 11 de s e t e m b r o

Este capítulo com eçou com uma pequena citação de um pastor rela­
tiva aos eventos de 11 de setembro de 2001. Ele disse: “Deus não teve
nada a ver com os eventos de 11 de setembro de 2001” .
Muitas vezes nos perguntamos por que tantas pessoas sofreram
e m orreram naquele dia, um dia tão terrível na história dos Estados
Unidos. N o entanto, o que deveríamos nos perguntar seria quantas
pessoas se converteram pela devastação de 11 de setembro.
N ão é possível que o Senhor tenha usado o furacão Katrina para
trazer muitos ao Seu Reino?
Ele usou um pai quebrantado como Joe Bayly para proclamar o
evangelho no funeral de seu filho mais velho — e muitos jovens se
converteram.
Joe Bayly teria preferido que Deus tivesse usado outro método.
Paul Lanier também. Mas eles sabiam que os caminhos do Senhor não
são os nossos caminhos. Apesar disso, Seus caminhos são sempre certos
e bons, mesmo quando estão além de nossa habilidade de compreender.
C a p ítu lo 1 0

Subindo a escada do sucesso egípcia. ..


Deus está no controle de todas
as promoções e avanços

Q u e ro tudo. Agora.
— Q u e e n [b a n d a d e rock ]

Escravo aos 17 anos e rei aos 30. Essa foi a história de José, a qual
representa a maior promoção de todos os tempos. E ele não precisou
falsificar seu currículo para obtê-la.
D e acordo com um estudo recente, mais da metade dos america­
nos já m entiram em seu currículo.
“U m a pesquisa realizada em 2004 pelo Government Accountability
Office (GAO)XIV descobriu que 463 funcionários de oito agências fe­
derais haviam listado credenciais acadêmicas falsas em seu currículo.
Vinte e oito dos mentirosos ocupavam cargos do alto escalão, um nú­
mero que o GAO considerou‘uma subestimação’” .73
D entre eles, os que ocupavam os cargos mais elevados incluí­
am três gerentes com habilitações de segurança máxima na National

XIV Ó rg ão responsável pela au d ito ria, pelas avaliações e investigações do C ongresso dos Estados U nid o s. N o
Brasil, seria u m órgão co m objetivos similares aos da C o n tro la d o ria G eral da U nião.
184 Subindo a escada do sucesso egípcia... Deus está no controle de todas as promoções.

Nuclear Security Administratíon [Administração Nacional de Segurança


Nuclear] e executivos dos departamentos de Segurança Nacional e
Transporte. Esses indivíduos obviamente concordam com o conselho
de W. C. Fields: “Vale a pena trapacear por qualquer coisa que valha a
pena ser ganha” .
Entretanto, se você serve a um Deus que está no controle de tudo,
incluindo promoções, então não precisa falsificar seu currículo para
causar uma boa impressão.
Em vez de dizer que é formado, quando na verdade não concluiu
o curso, simplesmente escreva em seu currículo que você com eteu a
burrice de interrom per os estudos quando faltavam apenas seis m até­
rias para o térm ino da faculdade.Vá em frente, escreva isso. Sua hones­
tidade será apreciada.
O Senhor cuida daqueles que são honestos o suficiente para di­
zerem a verdade. Ele é grande para zelar por suas promoções sem que
você precise m entir sobre suas realizações. Se o Senhor foi poderoso
para cuidar da carreira de José, Ele com certeza pode cuidar da sua.
Os 13 anos de tempestades, turbulências, reveses e decepções
constantes finalmente haviam chegado ao fim. Em menos de uma
hora, José foi do fundo do poço ao pináculo, da masmorra à posição
de corregente do hom em mais poderoso da face da terra. José foi do
lugar mais vil ao posto mais alto do Egito em menos tempo do que
nossos filhos levam para se arrum ar para ir à escola. Foi uma promoção
espantosa.
Assim que José expressou de m odo convincente a urgência da si­
tuação e sugeriu um plano para enfrentá-la, o faraó soube exatamente
que decisão tomar.

E o sonho fo i duplicado duas vezes a Faraó é porque esta coisa ê deter­


minada de Deus, e D eus se apressa a fa zê -la . Portanto, Faraó se proveja
agora de um varão inteligente e sábio e o ponha sobre a terra do Egito.
Faça isso Faraó, e ponha governadores sobre a terra, e tome a quinta parte
da terra do Egito nos sete anos de fartura. E ajuntem toda a comida destes
bons anos, que vêm, e amontoem trigo debaixo da mão de Faraó, para
Capítulo 10 185

m antim ento nas cidades, e o guardem. A ssim , será o m antim ento para
provimento da terra, para os sete anos de fome que haverá na terra do
Egito; para que a terra não pereça de fome. E esta palavra fo i hoa aos olhos
de Faraó e aos olhos de todos os seus servos. E disse Faraó a seus servos:
Acharíamos um varão como este, em quem haja o Espírito de D eus? D e ­
pois, disse Faraó a José: Pois que D eus te f e z saber tudo isto, ninguém hã
tão inteligente e sábio como tu. Tu estarás sobre a m inha casa, e por tua
boca se governará todo o m eu povo; somente no trono eu serei maior que tu.
D isse mais Faraó a José: Vês aqui te tenho posto sobre toda a terra do E g i­
to. E tirou Faraó o anel da sua mão, e o pôs na mão de José, e o f e z vestir
de vestes de linho fino, e pôs um colar de ouro no seu pescoço. E o f e z subir
no segundo carro que tinha, e clamavam diante dele: Ajoelhai. A ssim , o
pôs sobre toda a terra do Egito. E disse Faraó a José: E u sou Faraó; porém
sem ti ninguém levantará a sua mão ou o seu p é em toda a terra do Egito.
G ê n e s is 4 1 .3 2 -4 4

Antes que José percebesse o que estava acontecendo, a tempesta­


de de 13 anos havia cessado. As nuvens se dissiparam e um sol reful-
gente inundou a paisagem de sua vida. Nada jamais seria o mesmo.
Deus pode fazer algo assim por você. Se você acha isso pouco
provável, é justam ente o tipo de pessoa que o Senhor gosta de surpre­
ender com Sua infinita graça e bondade.
Thomas Watson observou que “Deus trabalha de m odo estranho.
Ele cria a ordem a partir da confusão, a harm onia a partir da discórdia.
Ele muitas vezes usa um hom em injusto para fazer justiça” ( W a t s o n ,
1663,1986, p. 60).74
Foi o que aconteceu quando José foi promovido. Talvez sua pro­
moção tenha sido a mais estranha e improvável da História.

U m a p e r g u n t a n o céu

H á algo que eu gostaria de perguntar a José quando o encontrar no


céu. Q ueria saber como ele estava sentindo-se naquela manhã antes de
ser chamado pelo faraó, perguntar se estava animado para um novo dia
quando fez o café, se cantou no chuveiro. Q ueria saber como se sentia
186 Subindo a escada do sucesso egípcia... Deus está no controle de todas as promoções.

numa escala de um a dez, o dez representando o grau máximo de bem -


-estar. Com o será que ele se encontrava em termos emocionais?
Posso dar m inha opinião a respeito? Acho que José não devia
estar sentindo-se m uito bem. N ão acho que ele estava andando pela
cadeia cantando “Este é o dia, este é o dia que o Senhor Deus fez, que
o Senhor Deus fez, eu me alegrarei, eu me alegrarei e serei feliz” .
N ão posso provar isso nem possuo nenhuma evidência bíblica que
sustente minha teoria. O único respaldo das Escrituras que posso ofe­
recer é o fato de que José estava prestes a ser “ressuscitado” . E, que eu
saiba, para que haja uma ressurreição, é preciso que alguém esteja morto.
Acho que José não estava bem porque vinha suportando aquela
tempestade por 13 anos, os dois últimos na masmorra do faraó. Ele
já estava preso havia dois anos. D urante todo esse período, não teve
nenhum a notícia do copeiro-mor.
Posso afirmar o seguinte: se eu fosse José e estivesse vivendo aque­
la situação por 13 anos, sem qualquer perspectiva de mudança, minha
esperança e meus sonhos estariam à beira da morte.
Foi exatamente nesse m om ento que chegou a convocação para
que se apresentasse diante do faraó.

A VERDADE SOBRE AS PROMOÇÕES

Q uando olho para essa história e fico maravilhado ao ver a forma


como a providência de Deus se manifestou na promoção de José, di­
versos princípios me saltam aos olhos. Essa promoção representou a
culminância de um período longo e difícil de 13 anos de desventuras
e decepções. Mas tudo isso, incluindo a extraordinária promoção de
José, foi arquitetado pela providência divina.
Q uando a tempestade de José chegou ao fim, houve uma
í . promoção instantânea, que resultou do fato de José estar
2. perfeitamente posicionado pelo Senhor após um longo período de
3. preparação paciente, que incluiu um teste significativo, em que
José foi
4. propositadamente purificado.
Capítulo 10 187

A promoção instantânea chegou depois de anos e anos de frustra­


ção e espera. Por vezes, José deve ter pensado que sua situação jamais
mudaria. Entretanto, no tem po de Deus, m udou de um m odo que ele
jamais poderia ter imaginado.
Em Efésios 3.20 (n v i ) está escrito:

A quele que é capaz de fa z e r infinitam ente mais do que tudo o que p ed i­


mos ou pensamos, de acordo com o seu poder que atua em nós.

Estou certo de que José tinha uma imaginação fértil. Porém, mes­
mo em seus sonhos mais extravagantes, ele jamais poderia ter imagi­
nado o que o Senhor tinha planejado para sua vida.
N ão se esqueça, contudo, de que ele não começou do topo. José
passou por um processo. E, como já vimos num dos capítulos anterio­
res, antes de promover, Deus prova. Antes que o Senhor elevasse José
a um nível tão m onum ental de poder e responsabilidade, ele precisou
ser provado quanto à sua pureza.

P r o p o s it a d a m e n t e p u r if ic a d o

José devia ser um jovem muito talentoso. A forma acelerada como es­
calou os diversos níveis de hierarquia na casa de Potifar — até que esti­
vesse dirigindo toda a propriedade — revela como ele aprendia rápido.
José com certeza possuía excelentes habilidades interpessoais e uma
inteligência privilegiada. Mas todos nós já vimos jovens talentosos com
um potencial tremendo, porém sem um elemento essencial: caráter.
O caráter de José era testado dia após dia enquanto a m ulher de
Potifar tentava seduzi-lo sem sucesso. José sabia que teria de prestar
contas a Deus por suas ações e seu comportamento. N o entanto, essa
m ulher implacável não desistia. José era um jovem extremam ente ta­
lentoso. Porém, Deus se certificou de que ele fosse propositadamente
purificado subm etendo-o ao fogo da tentação sexual proveniente da
m ulher de Potifar.
R ecentem ente fui lembrado da importância crucial da pureza
na vida daqueles que desejam ser usados por Deus. Estou falando de
188 Subindo a escada do sucesso egípcia... Deus está no controle de todas as promoções.

um telefonema que recebi de um sujeito com quem não falava havia


quase 15 anos. Ele tinha acabado de completar 40. Eu o conheci logo
depois do seu casamento, quando ele tinha 20 e poucos anos.
Trata-se de alguém simplesmente brilhante. Se não me engano,
ele gabaritou o exame do SAT. Q uando o conheci, ele havia acabado
de term inar seu prim eiro doutorado aos 23 anos de idade. Ao nos fa­
larmos na semana passada, ele me disse que já possui três doutorados.
Foi criado num lar cristão. Seu avô era pastor. Esse hom em provavel­
mente sabe a letra de todos os hinos compostos até hoje na história do
cristianismo. D urante toda a sua vida, esteve envolvido com a igreja
até o pescoço, freqüentando fielmente os cultos de domingo e os es­
tudos bíblicos durante a semana.
Q uando o conheci, ele havia acabado de casar-se e estava des-
lanchando em sua carreira. R ico e bem-sucedido nos negócios, meu
jovem amigo investia generosamente na obra do Senhor. Certa vez me
ligou perguntando sobre um ministério específico no qual ele estava
interessado. Descobri depois que havia ofertado mais de 25 mil dólares
àquele ministério — e ele ainda não tinha nem 25 anos.
Pouco depois, ele me ligou convidando-me para almoçar porque
queria conversar comigo sobre tentações na área sexual. Havia lido
m eu livro Point M an [Na linha de frente] e me inquiriu: “Por que as
cem primeiras páginas desse livro falam de tentações na área sexual?”
Respondi: “Porque acho que essa é a maior tentação que as pessoas têm
de enfrentar” . [Ele insistiu:] “Você realmente considera isso um proble­
ma assim tão grave?” [Reafirmei:] “Sinceramente, considero, sim” .
D urante uma hora inteira ele me fez inúmeras perguntas sobre
tentações nessa área. M eu amigo realmente não considerava isso uma
questão assim tão importante. O que eu não sabia era que aquele
hom em recém-casado já havia engravidado outra mulher. Ele estava
casado havia menos de um ano e já estava vivendo uma mentira.
Achei que ele estivesse buscando um conselho bíblico, mas não
era isso que queria. Ele já conhecia a verdade, sabia o que as Escritu­
ras diziam sobre isso. Contudo, estava lutando contra a sabedoria do
Maravilhoso Conselheiro. Ele sabia o que o Senhor queria que ele
Capítulo 10 189

fizesse, mas simplesmente não tinha vontade de fazê-lo. N ão estava


nem um pouco interessado em passar no teste da pureza e do caráter.
O que m eu amigo desejava era encontrar uma forma de perm anecer
no pecado e ao mesmo tem po continuar sendo visto como um h o ­
m em espiritual.
Esse hom em continua ganhando muito dinheiro, porém sua vida
tem sido um desastre após o outro. Toda vez que precisa tom ar uma
decisão importante, ele lê sua Bíblia e escolhe o caminho errado. C om
isso, tem deixado um rastro de esposas e filhos destruídos. E ele tem
apenas 40 anos. Quantas outras vidas ainda arruinará?
Esse sujeito é tão inteligente que chega a ser burro. Ele consegue
gabaritar o SAT, mas não tem nenhum interesse em passar no teste da
pureza. E, a despeito de seus incríveis talentos e potencial, Deus jamais
irá usá-lo.
E ele é o único responsável por isso. Poderia ter resistido às in­
vestidas da “m ulher de Potifar” pelo menos por cinco minutos. Mas a
verdade é que não quis resistir. Então essa escolha determ inou o curso
de sua vida. Graças a Deus, José tom ou um rum o diferente.

P a c ie n t e m e n t e preparado

Nas páginas deste livro, temos examinado o processo de preparação ao


qual Deus submeteu José.Treze anos são um longo, longo tempo. Mas,
quando consideramos os fatos de que José se tornaria o corregente do
Egito aos 30 anos e de que viveria até os 110,13 anos não representam
tanto tempo assim.
Q uando Deus quer fazer uma grande obra em nossa vida, Ele
leva tem po desenvolvendo em nós os traços internos necessários para
a tarefa que nos espera.
W illiam W ilberforce era um jovem que estava desperdiçando sua
vida. Mas o Senhor tinha um plano para ele. Deus o usaria para erra­
dicar a escravidão do im pério britânico.
Q uando estava na faculdade, W ilberforce gastava o dinheiro que
havia recebido de herança bebendo, indo a festas e pensando ape­
nas em si mesmo. Tinha uma mente privilegiada e era extremamente
190 Subindo a escada do sucesso egípcia... Deus está no controle de todas as promoções.

articulado e persuasivo. Todavia, esses talentos eram ignorados e ne­


gligenciados enquanto W illiam continuava a beber e a gastar seu di­
nheiro com os amigos, numa busca incessante pelo prazer. Este era o
resumo de sua vida: amigos e divertimento.
W illiam gostava de beber e de jogar cartas — a dinheiro. Não
trapaceava quando jogava, mas sua m ente era tão brilhante que estava
sempre quilômetros à frente dos outros jogadores. Seu m elhor desem­
penho vinha à tona quando as apostas eram mais altas. Ele ganhava
mais dinheiro jogando cartas do que a maioria dos homens ganharia
num trabalho honesto. Estava matriculado na faculdade, porém jogava
pelo ralo a oportunidade de estudar. Ficava farreando com os amigos
até tarde e levantava cedo no dia seguinte para ir às aulas.
Era hora de W illiam tom ar um rum o na vida. C om o mem bro da
elite inglesa no fmal do século 18, ele decidiu que deveria ingressar na
política. Candidatou-se a um cargo público e gastou 320 mil dólares
na campanha eleitoral. Agora ele era um jovem rico e privilegiado
membro do Parlamento inglês. N o entanto, não tinha nenhum sen­
tido de direção ou propósito na vida. Em seus escritos posteriores,
ele admitiu ter desperdiçado seus primeiros três ou quatro anos no
Parlamento.
U m a mudança profunda ocorreu entre o inverno de 1784, quan­
do tinha 25 anos, e o fmal do verão de 1785. Ele passou a conviver
com um antigo professor, Isaac Milner. Para surpresa de Wilberforce,
ele descobriu que M ilner havia se tornado um fiel discípulo de Cristo.
N o ano seguinte, suas objeções e dúvidas intelectuais foram ero-
dindo, uma a uma. D urante esse período, ele passou do mero “as­
sentimento intelectual” a uma “convicção profunda” ( P i p e r , 2002, p.
124)75. Q uando confessou Jesus como Senhor e creu em seu coração
que Deus o levantou dentre os m ortos (R m 10.9,10), W ilberforce se
tornou uma nova criatura em Cristo. Ele se referia à sua experiência
de conversão como “a grande m udança” ( P i p e r , 2002, p. 125)76.
Deus preparou W ilberforce pacientemente, assim como fez com
José. Ao ler sua biografia, percebi claramente que ele tam bém pas­
sou por uma série de testes que determ inariam o seu caráter e a sua
Capítulo 10 191

absoluta devoção a Cristo.W ilberforce conheceu mágoas e decepções.


Aliás, estas seriam suas companheiras pelo resto da vida. Mas em todo
esse tempo, a providência de Deus o sustentou em meio às tempesta­
des que o assolavam constantemente.
Q uando olhamos para a História, nós nos maravilhamos pela ma­
neira como Deus usou Wilberforce. A vida de milhares de pessoas de
diversas gerações foi positivamente influenciada pela desse hom em .
Ele não apenas libertou os escravos no im pério britânico, com o tam­
bém usou sua riqueza para fundar escolas e orfanatos cristãos p or toda
a Inglaterra. W ilberforce era o tipo de hom em que tocava a vida de
outras pessoas aonde quer que fosse.
Mas o Senhor precisou submetê-lo a anos de dificuldades e pro­
vações pessoais para prepará-lo para a obra que tinha planejado para
ele.
As vezes W ilberforce perdia as forças. Isso lhe parece familiar?
Você já perdeu as forças alguma vez? Já se sentiu exaurido depois de
sofrer onda após onda de adversidade e tribulação? Aquele hom em
conhecia as vagas de uma tempestade tão bem quanto José.
Eles não eram isentos de aflições pessoais. Você também não é.
C ontudo, essas dificuldades e provações vêm das mãos de um Pai ce­
lestial infinitamente amoroso, e o propósito delas é aprofundar-nos,
fortalecer-nos e criar em nós a resistência necessária para a obra que
Ele nos reservou. Q ualquer pessoa que já foi usada p or Deus precisou
passar por esse processo.
N ão existem atalhos.Todavia, o Senhor irá sustentá-lo e abrir um
caminho para você em meio às adversidades.
M artyn Lloyd-Jones fez a seguinte observação. Essas palavras têm
sido uma grande fonte de encorajamento para m im ao longo dos anos:

A fé diz: aquilo q u e Ele co m eço u a fazer Ele continuará fazendo.


O co m eço da obra foi u m m ilagre; então, se E le tem p o d e r para
in iciar u m a obra m ilagrosa, tam b ém te m p o d e r para dar prossegui­
m e n to a ela; o q u e Ele já co m eço u Ele é poderoso para term inar.
Tendo por certo isto mesmo, disse Paulo, que aquele que em vós começou
a boa obra a aperfeiçoará até o dia de Cristo Jesus (Fp 1.6).
192 Subindo a escada do sucesso egípcia... Deus está no controle de todas as promoções.

“ S im ” , diz [o poeta] Toplady, “ a obra que Sua benignidade co ­


m e ç o u o braço da Sua força co m p letará” . Este é u m argum ento
irrefutável. (Lloyd-Jones, 1965, p. 158)77

Trata-se de um argumento conclusivo, porque, se Deus começa


uma boa obra, Ele certamente há de sustentá-la e terminá-la. Foi isso
que fez com José e com W illiam Wilberforce, e é o que está fazendo
em sua vida. O Senhor não está interessado em realizar uma obra su­
perficial, e sim profunda.
A seguinte citação de F. B. M eyer nos oferece grande insight:

A o referir-se ao aprisio n am en to de José, o Salm o 105.18 possui


u m a leitura alternativa surpreen d en te: Sua alma entrou no fe n o . Se
atualizássem os a linguagem do texto, leríam os: O ferro entrou em sua
alma. Isso p o r acaso não é verdade? Talvez essa não seja a verdade
ten cio n ad a nessa passagem, m as é u m a verdade m u ito profunda: o
so frim en to e a privação, o ju g o sup o rtado na ju v e n tu d e e a res­
trição forçada da alm a — tu d o isso p roduz a tenacidade de ferro,
o p ro p ó sito inabalável, a resistência e a força que co n stitu em o
alicerce fundam en tal e a estru tu ra de u m caráter nobre. N ã o se
esquive do sofrim ento. S u p o rte -o silenciosa, paciente e resignada-
m en te. Esteja certo de que essa é a m aneira pela qual D eus infunde
ferro à sua espiritualidade. (M eyer, 1995, p. 43)78

P e r f e it a m e n t e p o s ic io n a d o

Com o parte do Seu plano providencial na vida de José, Deus sempre o


colocava no lugar certo, na hora certa. Por isso José estava perfeitamente
posicionado para a promoção que o Senhor havia reservado para ele.
E o lugar do posicionamento providencial de Deus na vida de
José era a prisão. Isso não é típico do Senhor? A providência de Deus
é tão criativa! Ele pode usar uma prisão, uma cadeira de rodas, um di­
vórcio, um retrocesso na carreira ou a perda da reputação para nos po­
sicionar de m odo providencial e perfeito para a obra que tem para nós.
E absurdo pensarmos que alguém que num determinado m o­
m ento não passava de um escravo estrangeiro numa prisão egípcia
Capítulo 10 193

estaria compartilhando o poder com o hom em mais poderoso do


m undo instantes depois. Mas foi exatamente isso que aconteceu se­
gundo o plano soberano de Deus.
Sua atual posição não constitui um empecilho para Deus ou para os pla­
nos que Ele tem para a sua vida. Aliás, foi Ele mesmo quem o posicionou.
Voltemos a W illiam Wilberforce. Ele não estava na prisão; estava
no Parlamento. Porém, à medida que Deus foi trabalhando em sua
vida, W illiam decidiu fazer tudo o que podia para o Senhor. Aos 26
anos, com eçou a mudar totalmente o seu foco. Ele havia desperdiçado
muitos anos e agora queria recuperar o tem po perdido.
W illiam pensou em largar a política e ingressar no ministério,
mas um sábio pastor chamado John N ew ton (o hom em que escreveu
o hino A m a zin g Grace) aconselhou-o a usar seus dons na política e a
perm anecer no Parlamento. Deus poderia usar homens na política
tanto quanto os usava num púlpito.
W ilberforce não conseguia entender isso. Achava que aqueles que
quisessem ser usados de m odo pleno por Deus precisariam dedicar-
-se integralmente ao ministério. Entretanto, o sábio pastor finalmente
conseguiu convencer W illiam de que a posição em que este se encon­
trava era um reflexo da providência divina.
C om esse conselho, o propósito da sua vida com eçou a ficar claro.

M ais de u m ano depois de sua transform ação espiritual, no dia 28


de o u tu b ro de 1787, u m dom ingo, W illiam descobriu sua vocação.
E m u m a página do seu diário, ele escreveu: “ O D eus to d o -p o d e ­
roso co lo co u dois grandes objetivos diante de m im : a supressão do
com ércio de escravos e a refo rm a m oral da sociedade” . A p artir
daquele m o m e n to , ele passou a lu tar p o r esses objetivos co m um a
d eterm in ação sem p recedentes na história do seu país. (B e l m o n t e ,

2002, p. 102)79

W illiam W ilberforce decidiu tom ar o rum o certo e realizar algo


de relevante em sua vida. E ele o fez. Lutou contra a escravatura e
liderou a batalha que levaria à sua abolição em todo o im pério britâ­
nico. Ele dem orou 20 anos para extinguir o comércio de escravos na
194 Subindo a escada do sucesso egípcia... Deus está no controle de todas as promoções.

Grã-Bretanha e mais 26 anos para abolir a escravatura de uma vez por


todas nas colônias inglesas e em todo o im pério britânico (B elmonte ,
2002, p. no verso da capa)80.
William ficou conhecido como o George W ashington da hum a­
nidade. Seu exemplo e caráter foram honrados por ninguém menos
do que Abraham Lincoln. Charles Colson observou:

Se W illiam W ilberforce tivesse se co n te n tad o c o m a vida que a


providência divina lhe havia concedido, ele p o d e ria ter facilm ente
se to rn a d o o p rim eiro -m in istro da G rã-B retanha e, co n seq u en te­
m en te, o líder político m ais p o deroso de sua época. Ele era rico,
culto, espirituoso, u m ex celente c an to r e u m o rad o r brilhante,
além de ser im batível q u ando se tratava de divertir-se o u atrair as
pessoas [...] mas n u m d eterm in ad o m o m en to , sua vida to m o u u m
ru m o m u ito diferente, já que ap aren tem ente D eus tin h a outros
planos para ele. (B e l m onte, 2002, p. I I ) 81

Será que as coisas se encaixaram facilmente quando W ilberforce


decidiu buscar o propósito e a obra que Deus tinha para sua vida? A
resposta é não. Todos os seus dias eram de luta. Sua batalha contra a
escravatura consumiria 46 anos de sua vida (de 1787 a 1833) (P iper ,
2002, p. 117)82.

As derrotas e os retrocessos ao lo n g o do cam inho teriam levado


q ualq u er o u tro político a abraçar u m a causa mais popular. E m bora
W ilb erfo rce jam ais ten h a p erd id o u m a eleição parlam entar dos 21
aos 74 anos, a proposta de abolição do com ércio de escravos foi
d erro tad a 11 vezes antes de ser aprovada em 1807. E a batalha pela
abolição da escravatura só teve u m a v itó ria decisiva três dias antes
da sua m o rte, e m 1833. (P ip e r , 2002, p. 117)83

W ilberforce foi chamado por Deus para realizar uma obra em


prol da abolição da escravatura no im pério britânico. Três dias depois
de concluir o trabalho, ele m orreu. Porém, enquanto sua missão não
fosse cumprida, ele não poderia morrer.
Capítulo 10 195

Instantaneamente p r o m o v id o

Q uando Deus decide promover alguém, a promoção é certa. N inguém


pode impedir o agir do Senhor ou frustrar Seus planos. N um a manhã
José estava supervisionando a cadeia; na manhã seguinte, estava circu­
lando na carruagem do faraó enquanto o povo se prostrava diante dele.
N o Salmo 75.6,7, é dito claramente que a exaltação vem do Se­
nhor: Porque nem do Oriente, nem do Ocidente, nem do deserto vem a exal­
tação. M as Deus é o ju iz ; a um abate e a outro exalta.
Entretanto, como vimos, antes de promover-nos Deus nos testa e
fortalece-nos por meio de adversidades e provações.

P aralelos entre J osé e J esus

A história de José é extraordinária, pois evidencia plenamente a sobe­


rania e a providência de Deus na vida do Seu povo. Mas muitos estu­
diosos têm observado também que a vida de José prenuncia a vinda e
a obra do Senhor Jesus Cristo.

• José foi rejeitado p o r seus irm ãos; Jesus, pelos ju d eu s, Seus ir­
m ãos segundo a carne.
• José foi v en d id o aos ismaelitas p o r 20 m oedas de prata;Jesus foi
v endido p o r Judas p o r 30 m oedas de prata.
• José foi colocado na prisão; Jesus foi colocado na sepultura.
• N a prisão, José apreg o o u a libertação ao co p eiro -m o r; Jesus
p ro clam o u o evangelho aos espíritos aprisionados.
• José tin h a dois com panheiros na prisão — u m foi liberto, e o
o u tro m o rreu ; Jesus tin h a dois crim inosos co m Ele no C alvário
— u m foi perdoado, e o o u tro escolheu a m o rte eterna.
• José foi p ro m o v id o ao trono. Jesus está assentado à direita do
tro n o de D eu s Pai e em breve será coroado R e i dos reis e Se­
n h o r dos senhores. (M eyer, 1995, p. 381)84

Algumas pessoas talvez considerem tudo isso uma coincidência.


Contudo, a esta altura, sabemos que não foi nada menos do que a
providência divina.
C a p ítu lo 11

Do útero a sepultura,
Deus está no controle de todos os eventos da sua vida,
e Ele fará com que tudo coopere para o seu bem

A lgum a vez você c o rre u para se abrigar de u m a tem pestade e


acabou en co n tra n d o frutos inesperados? A lgum a vez, m o vido p o r
tem pestades exteriores, você b uscou a p roteção de D eus e acabou
e n co n tran d o ali frutos inesperados?
— John O wen

Quando começaram sua viagem em 1831, os dois homens tinham


muita coisa em comum. Ambos eram cristãos e acreditavam num Deus
soberano que havia criado o mundo, conform e relatado no Livro de
Gênesis. Sua viagem no HM S Beagle levaria cinco anos. Q uando re­
tornaram à Inglaterra, no entanto, apenas um deles, o capitão R o b ert
FitzRoy, considerava-se um discípulo de Cristo e um crente em Sua
Palavra. Charles D arwin havia abandonado a fé e estava prestes a p u ­
blicar seus escritos sobre a teoria da evolução.
FitzRoy era um navegador brilhante e o inventor do barôm e­
tro FitzRoy. Ele teve uma carreira bem-sucedida e produtiva e atuou
como governador da Nova Zelândia. Mas, pelo resto de sua vida,
198 D o útero à sepultura, Deus está no controle de todos os eventos da sua vida, e.

ressentiu-se de ter capitaneado o navio que acabaria tornando-se o


pano de fundo para os ensinamentos radicais de Darwin.
Se FitzRoy soubesse o que D arw in publicaria posteriorm ente,
não o teria convidado a participar da viagem. FitzRoy se sentiu de
algum m odo responsável pela grande heresia da evolução que acabaria
afastando tantos de Deus e da verdade das Escrituras. O mal que D a­
rw in havia feito enquanto estivera sob sua responsabilidade represen­
tava sangue em suas mãos — ou pelo menos FitzRoy pensava assim.
Por fim, em 1865, dominado pelo sofrimento e em depressão
profunda, FitzRoy se suicidou. Ele nunca se perdoou pelo mal que
D arw in havia feito. O foco de toda a sua vida se tornara a viagem
de cinco anos no HM S Beagle que resultara na teoria da evolução. E
porque FitzRoy não conseguiu afastar seus olhos do mal, este acabou
por destruí-lo.
Ele deveria ter mantido os olhos no Deus que tudo intenta para
o nosso bem.

U m a p e r s p e c t iv a s o b r e a p r o v id ê n c ia

O mal é real, e todos nós já fomos vítimas dele.


Q uando José se dirigiu aos seus irmãos, não minim izou o que es­
tes lhe haviam feito. Eles intentaram o mal quando o venderam como
escravo aos 17 anos (Gn 50.20). Sabiam que o haviam prejudicado.
Q uando o pai deles m orreu, o mal que tinham feito tornou-se
uma fonte de ansiedade, preocupação e culpa: Vendo, então, os irmãos de
José que o seu pai já estava morto, disseram: Porventura, nos aborrecerá José e
nos pagará certamente todo o mal que lhe fizem os (Gn 50.15).
Perfeitamente cientes do que estavam fazendo, eles conspiraram
e planejaram o mal contra seu irmão de sangue.
Joseph Goebbels era o confidente mais próxim o de Hitler. U m
hom em brilhante, porém amargurado por causa dos pés tortos e da
estatura pequena, ele se tornou o ministro de propaganda de Hitler,
atuando como um influente estrategista que convenceu o povo ale­
mão da mentira nazista.
Paul Johnson, um historiador eminente, conta sobre um informe
oficial dado por Goebbels a um grupo seleto de jornalistas no dia 5 de
Capítulo 11 199

abril de 1940, apenas quatro dias antes de os nazistas invadirem a N o ­


ruega. U m dos jornalistas transcreveu o encontro, citando as palavras
de Goebbels. C om a guarda abaixada, Goebbels relatou como H itler
havia ascendido ao poder:

A té agora tem os conseguido m an ter o inim igo no escuro quanto


aos verdadeiros objetivos da A lem anha, assim com o em 1932, quan­
do nossos adversários internos nunca chegaram a perceber aonde
estávamos indo n e m que nosso ju ra m e n to de legalidade não passava
de u m truque. N ó s queríam os to m ar o p o d er legalm ente, mas não
queríam os usá-lo de m o d o legal [...] Eles po d eriam ter-nos im pedi­
do. P oderiam ter p rendido alguns de nós e m 1925 e isso teria sido o
nosso fim. Mas, não, eles nos deixaram cruzar a zona de perigo. E o
m esm o o co rreu na política externa [...] Se eu fosse o p rim eiro -m i-
nistro francês em 1933, p o r exem plo, teria dito o seguinte: “ O novo
chanceler do R e ic h é o h o m e m que escreveu M ein Kam pf, um a
obra que afirm a isso e aquilo. N ã o podem os tolerar a presença desse
h o m e m na E uropa. O u ele desaparece, o u terem os de enfrentá-lo!”
M as eles não fizeram isso. Eles nos deixaram em paz e perm itiram
q ue cruzássemos despercebidos a zona de risco, e co m isso tivemos
a opo rtu n id ad e de navegar ao largo de diversos corais perigosos. E
quando terminamos, estávamos bem armados, melhor armados que eles. E n ­
tão eles começaram a guerra. (Jo h n s o n , 1991, p. 341)85

Assim como esse grupo malévolo arquitetou seu plano perverso,


os irmãos de José planejaram e conspiraram para removê-lo da vida
deles. Estavam dispostos a usar de violência contra José e m entir para
o seu pai sobre o seu desaparecimento.

V io l ê n c ia e m e n t ir a

Tanto a violência como a mentira provêm do mal e sempre andam


juntas.
Alexander Soljenítsin, o dissidente russo que denunciou a to r­
tura e os assassinatos em massa de Stalin e seus seguidores, passou
200 D o útero à sepultura, Deus está no controle de todos os eventos da sua vida, e.

muitos anos numa prisão na Sibéria. Foi naquele terrível Gulag que
ele encontrou Jesus. Anos depois, quando Soljenítsin imigrou para os
Estados Unidos, ele ganhou o Prêm io N obel da Paz. Mas seu relato
foi muito criticado. Isso não deveria surpreender-nos, já que continha
tanta verdade. Em seu discurso, ele demonstrou a conexão entre a
violência e a mentira:

N ão nos esqueçam os de que a violência não pode florescer sozinha;


ela está inevitavelm ente atrelada à m entira. Existe u m vínculo p ro ­
fundo e natural entre as duas: nada p ode acobertar a violência ex­
ceto pela m entira, e a m en tira só é capaz de triunfar pela violência.
T odo aquele q u e anuncia a violência co m o m é to d o inevitavel­
m e n te te m de escolher a m en tira co m o p rin cíp io [...] A atitude
mais simples q u e u m h o m e m c o m u m e corajoso p o d e to m ar é
não p articipar da m en tira n e m jam ais apoiá-la! Q u e a m entira
venha ao m u n d o , que ela até m esm o o dom ine, mas não p o r m eu
in term éd io . (O s G uinness, 2005, p ágina de in tro d u ç ão )86

Todos sabem que no dia 11 de setembro de 2001 o mal perpe­


trou um ataque implacável contra o afluente e próspero estilo de vida
americano.
Sobre aquele dia, Os Guinness escreveu o seguinte:

N o dia 11 de setem bro de 2001, eu tin h a m arcado em m in h a


agenda u m ja n ta r e m M a n h attan o n d e u m g ru p o estaria p arti­
cipando de u m a discussão cujo tem a era o m al. Q u a n d o o ja n ta r
finalm ente aco n teceu u m a sem ana depois do terrível ataque te r­
rorista, as únicas outras pessoas n o h o te l o n d e jan tam o s eram os
sobreviventes de u m a firm a de investim entos que havia perdido
cerca de 70 funcio n ário s d u ran te a tragédia.
U m deles, u m h o m e m que havia conseguido escapar do 104°
andar da segunda torre, c o m p artilh o u conosco seu testem unho
angustiante daquele dia de terror. C o m o disse nosso anfitrião ao
in tro d u zir alguns dos principais textos sobre o mal: “ Q u a n d o li
Capítulo 11 201

alguns desses escritos antes de 11 de setem bro, achei-os dem asia­


d am en te som brios. Q u a n d o os reli depois daquele dia, p o rém , vi
q u e não eram som brios o suficiente” . (O s G uinness, 2005, p. xi)87

E incrível que nossa perspectiva sobre o mal possa m udar com


tanta rapidez.

D or p e s s o a l

Todos nós já fomos vítimas de algum ato de maldade. Alguém tra­


m ou machucar-nos e prejudicar-nos. Talvez tenha sido um colega de
trabalho, um ex-cônjuge ou alguém da família. Assim como existem
diferentes graus de maldade, nossas experiências com pessoas que m a­
quinaram o mal contra nós são distintas. Porém, independente do
grau de maldade, violência ou mentira que tenham dirigido contra
nós, existe uma verdade que se aplica a todos:
O maior de todos os males é perder a própria alma.
O maior de todos os males é viver sem Cristo.
Porém, se estivermos em Cristo, Deus será o nosso Pai. E isso muda
tudo no tocante ao mal, à violência e à mentira lançados contra nós.

Vós bem intentastes mal contra m im , porém D eus o tornou em bem, para
fa z e r como se vê neste dia, para conservar em vida a um povo grande.
G ê n e s is 50.20

O que mais surpreende na providência de Deus é que Ele é p o ­


deroso para transformar em bênção todo o mal que vem contra nós
para nos ferir ou ferir aqueles que amamos.
José entendeu essa verdade, e isso o livrou de tornar-se um h o ­
m em amargurado. R o b ert FitzRoy não tinha essa perspectiva, e isso o
levou ao suicídio.
O apóstolo Paulo declarou essa verdade na conhecida passagem:
E sabemos que todas as coisas contribuem juntam ente para o bem daqueles que
amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto (R m 8.28).
N o texto não está escrito que todas as coisas são boas. O seqües­
tro, o estupro, o divórcio, o incesto, o adultério, a violência e tantas
202 D o útero à sepultura, Deus está no controle de todos os eventos da sua vida, e.

outras enfermidades do coração hum ano não são bons. O que a pas­
sagem afirma é que Deus usa todo o mal, todas as circunstâncias ruins
que ocorrem em nossa vida, para operar o bem em favor daqueles que
o amam e que foram chamados por Ele.
Foi exatamente isso que José declarou aos seus irmãos: “O mal
que vocês planejaram e fizeram contra m im para arruinar m inha vida,
Deus o intentou para o bem, para produzir o presente resultado” . E o
resultado a que ele se referia era que se tornara o corregente do Egi­
to, por isso tinha poder para consolar aqueles que haviam planejado
destruí-lo e prover as necessidades deles. Q ue conclusão estranha para
circunstâncias tão complexas! Estranha, porém maravilhosa.
Thomas Watson escreveu:

Veja a sabed o ria de D eu s, q u e é capaz de tran sfo rm ar as piores


coisas im agináveis para o b e m dos Seus santos [...] O S e n h o r
fez da p risão de José u m d eg rau p ara a sua p ro m o çã o [...] D eus
e n riq u e c e Seus filhos e m p o b re c e n d o -o s [...] O S e n h o r trabalha
de m o d o estranho. E le cria a o rd e m a p a rtir da confusão, a h ar­
m o n ia a p a rtir da discórdia [...] E le m uitas vezes so co rre os Seus
servos q u a n d o suas esperanças estão p ra tic am en te se esvaindo, e
salva-os p o r m e io daquilo q u e eles ach am q u e irá destru í-lo s [...]
O s cam in h o s de D eu s são inescrutáveis (R m 11.33). N ã o devem os)
p ro c u ra r decifrá-los, m as sim ad m irá-los. ;N e n h u m a p ro vidência
de D eu s é d estitu íd a de m isericó rd ia o u de m aravilha. (W atson ,

1663, 1986, p. 60, 6 1 )88

A vida de José foi um milagre que refletiu a benignidade e a


providência de Deus. O Senhor usou o grande mal arquitetado contra
ele para o seu bem. O nascimento dos dois filhos de José mostra com
clareza essa perspectiva:

A n tes dos anos de fom e, A zen a te, filh a de Potífera, sacerdote de O m , deu
a José dois filhos. A o primeiro, José deu o nome de Manassés, dizendo:
“D eus m e fe z esquecer todo o meu sofrimento e toda a casa de meu p a í”.
Capítulo 11 203

A o segundo filh o chamou Efraim, dizendo: “D eus me f e z prosperar na


terra onde tenho sofrido”.
G ê n e s is 4 1 .5 0 -5 2 ( nvi)

W arren W iersbe fez alguns comentários bastante pertinentes so­


bre essa passagem:

O n o m e Manasses significa esquecimento. José não se esqueceu de


sua fam ília n e m dos eventos q u e transcorreram , mas ele se esque­
ceu da d o r e do so frim en to que causaram . Ele cheg o u à conclusão
de que D eu s havia in ten tad o tu d o para o seu b e m (G n 50.20). P or
isso, ao ver seu passado a p a rtir dessa perspectiva, alcançou v itó ria
sobre as más recordações e a am argura.
O n o m e Efraim significa duplamente frutífero. O E gito tin h a sido
u m lugar de aflições para José, mas agora ele tin h a dois filhos e
era frutífero na terra. P orém , o q u e era ainda mais im p o rtan te, ele
se to rn a ria frutífero co m o co rreg en te do E g ito e seria usado p o r
D eus para salvar m uitas vidas, inclusive as de sua fam ília e da nação
de Israel. (W ie r s b e , 2001, p. 150)89

Os irmãos de José intentaram o mal, mas Deus o tornou em bem.


Manassés e Efraim eram testemunhos vivos da benignidade de Deus
para com José. A medida que José via seus filhos crescerem, deve ter
ficado maravilhado com a contínua fidelidade do Senhor. Q uando ele
pensou que sua vida havia chegado ao fim, estava apenas começando.
A mão de Deus esteve sobre José durante toda a sua trajetória, mesmo
quando seu futuro parecia sombrio ou inexistente. C om o vimos, o
Senhor estava com José (Gn 39.2).
O Senhor estava com José e também está com você.Afinal, temos
o mesmo Pai. Por isso, Ele transformará o mal em bem. C om o vimos,
Deus nunca comete um erro ou deslize. M esmo quando as circunstân­
cias não fazem sentido para nós, Ele está trabalhando em nosso favor.
A esta altura já aprendemos que adquirimos uma m elhor pers­
pectiva de nossa vida quando olhamos para trás. E, quando o fazemos,
como sugeriu R . C. Sproul, vemos a mão invisível do Senhor sobre
204 D o útero à sepultura, Deus está no controle de todos os eventos da sua vida, e.

nós, visto que, se apenas um elo estivesse faltando na corrente da nossa


história, nossa vida teria seguido um rum o diferente.

Se quiséssem os jo g a r o jo g o da suposição co m José, teríam os de


voltar à tú n ica de várias cores. Se aquela túnica não tivesse existi­
do, talvez seus irm ãos não tivessem sentido tanta inveja e ciúm es
dele. Se eles não tivessem sentido ciúm es, não o teriam vendido
aos m ercadores de escravos ismaelitas. Se os m ercadores estivessem
viajando na direção oposta, José jam ais teria ido parar n o Egito. Se
ele não tivesse ido para o E gito, não teria sido vendido a Potifar.
Se o u tra pessoa o tivesse com prado, ele jam ais teria sido falsam ente
acusado pela esposa de Potifar. Se a esposa de P otifar não o tivesse
acusado, ele não teria sido preso. Se ele não tivesse sido preso, não
teria c o n h ecid o o padeiro e o copeiro. Se não tivesse co n h ecid o o
copeiro, não teria sido cham ado para in terp retar o sonho do faraó.
Se ele não tivesse sido cham ado a apresentar-se diante do faraó,
José jam ais teria se to rn a d o p rim eiro -m inistro.
Se considerarm os todas essas suposições, concluirem os que, se
não fosse pela tú n ica de várias cores de José, o cristianism o jam ais
teria existido, e todos os capítulos da história h u m an a teriam tido
u m fm al diferente. (S p r o u l , 1996, p. 95)90

Em outras palavras, Deus está no controle.


Gostaria de encerrar este livro com uma oração de John Rylands.
Em bora tenha sido escrita há mais de 100 anos, sua mensagem con­
tinua tão atual e relevante como o sol que nasceu hoje pela manhã.
Q ue Deus seja louvado por Seu cuidado, Sua proteção e Seu
controle sobre nossa vida!

S oberano R e i dos céus,


E ternam ente sábio e gracioso,
Os meus tem pos estão nas Tuas mãos,
E todos os eventos sob o com ando Teu.
Capítulo 11 205

Seu decreto a terra form ou


M eu prim eiro e segundo nascim entos Ele ordenou;
M eus pais, o local e o m om ento em que nasci,
Cada detalhe Ele determ inou.

A quele que no ventre m e form ou,


A té a m orte há de m e guiar;
Cada u m dos dias que eu viver
Seu sábio decreto irá ordenar.

Tem po de saúde e de doença;


Tem po de penúria e de riqueza;
Tem po de adversidade e de tristeza;
Tem po de triunfo e de consolo;

Tem po de suportar o p oder do tentador;


Tem po de experim entar o am or do Salvador,
Cada u m deles virá e passará
C onform e Sua vontade determ inar.

Pragas e m orte poderão m e cercar;


E u não posso m orrer enquanto Ele não ordenar.
N en h u m a seta poderá m e ferir
Se o am or do m eu D eus assim não perm itir.
( R y la n d s ap u d P a c k e r, 2001, p. 9 )91
P erg untas para reflexã o
PESSOAL OU DISCUSSÕES EM
PEQUENOS GRUPOS

C a p ít u l o 1: D e m odo estranho e lento. D eus


está trabalhando

1. Odiado e cruelmente traído pelos seus irmãos, José certamente era


um excelente candidato ao título de vítima. Entretanto, de alguma
forma, em meio a todos os estonteantes altos e baixos de sua vida, ele
não pareceu jamais ter assumido essa posição. Como José conseguiu
manter a cabeça erguida e a confiança em Deus enquanto passava
por circunstâncias pessoais tão horrendas?
2. O autor deste livro comparou a soberania de Deus a “uma pílula
grande demais para ser engolida, que costuma ficar atravessada em
nossa garganta, causando considerável desconforto” . Essa analogia se
aplica à sua vida? Se sua resposta for afirmativa, que aspectos do con­
trole soberano do Senhor mais o incomodam?
3. John Flavel disse: “Assim como palavras em hebraico, algumas pro­
vidências de Deus são mais bem compreendidas de trás para frente”.
Em suas próprias palavras, explique as implicações dessa declaração
em sua vida. O que você consegue enxergar quando olha “de trás
para frente”?
208 Perguntas para reflexão pessoal ou discussões em pequenos grupos

4. A providência de Deus se refere ao Seu controle absoluto. Como isso


pode tornar-se uma fonte de consolo quando situações adversas ou
até mesmo desesperadoras invadem sua vida?
5. José sabia muito bem que sua exaltação ao cargo de corregente do
Egito não se devia ao acaso, a uma coincidência, ao destino, ou sim­
plesmente à sorte. Ele conseguiu enxergar claramente os propósitos
de Deus naquela promoção milagrosa (ver Gn 50.20). Como o reco­
nhecimento da providência e da soberania de Deus nos momentos de
prosperidade pode ajudá-lo a lidar melhor com os retrocessos inevitá­
veis e as situações aparentemente desastrosas que você vivência?
6. Imagine um universo em que Deus não fosse soberano e do qual Ele
não tivesse o absoluto controle. Como você se sentiria ao enfren­
tar um futuro incerto? Que questões o preocupariam ou o fariam
sentir-se inseguro?

C a p ít u l o 2: M esm o q uando os seus so n h o s m o r r e m .


D eus e s tá no c o n tr o le de p e r d a s d e v a s t a d o r a s

1. O Dr.Warfield disse que nada do que acontece no universo surpre­


ende Deus. Não devemos, porém, imaginar que Ele seja indiferente
a esses eventos, embora saiba de antemão tudo o que vai acontecer.
Então, se o Senhor permite que nossa vida seja afetada por tragédias
que Ele poderia prevenir facilmente, por que não deveríamos sentir
que não se preocupa conosco?
2. O autor deste livro disse que, quando José estava no meio de suas
maiores tempestades, “sua vida parecia totalmente fora de controle” .
Tente lembrar-se de um momento em que suas circunstâncias lhe pa­
receram aleatórias e fora de controle. O que você pensou sobre Deus e
o plano dele para a sua vida durante esse período? Consegue imaginar
como poderia ter enxergado as coisas a partir de outra perspectiva?
3. O fato de ter sido traído pelos próprios irmãos deve ter ferido José
como uma paulada na cabeça. Como podemos evitar que emoções
negativas nos dominem em momentos como esse?
Foijados por Deus 209

4. O autor deste livro escreveu o seguinte sobre José: “Se a providência


de Deus não tivesse interferido naquele exato momento, ele teria
morrido. Se Deus tivesse se atrasado apenas 15 segundos, seria tarde
demais para salvá-lo”. Tente lembrar-se de um incidente como esse
em sua vida. De que maneira a providência de Deus o resgatou?
5. John Flavel costumava dizer: “Aprenda a apreciar a providência”. Ele
afirma que, a partir do momento em que começamos a entender a
providência de Deus, “não devemos classificar eventos desse tipo como
coincidência. Devemos darglória a Deus”. Separe alguns momentos agora
para louvar o Senhor por Seu cuidado soberano para com a sua vida.
6. Farrar afirma que, embora Deus tivesse permitido que o inimigo
provasse Jó, Ele permaneceu no controle absoluto de todo o pro­
cesso. Quando você se lembra das provas mais duras que já teve de
enfrentar, esse pensamento o reconforta? Por quê?

C a p ítu lo 3: N ão f o i p o r a c a s o . . .
D e u s e s t á n o c o n t r o l e de t o d a s a s c i r c u n s t â n c i a s

í. J. I. Packer disse que os cristãos podem sentir-se consolados pelo


conhecimento de que cada evento de sua vida “é um novo convite
a confiar no Senhor, obedecer-lhe e regozijar-se nele, sabendo que todas as
coisas concorrem para o nosso bem espiritual e eterno”. Lembre-se
de algum episódio difícil ou devastador que vivenciou. Como as coi­
sas poderiam ter sido diferentes se você tivesse enxergado esse evento
da forma descrita acima?
2 Se Deus está no controle de todos os aspectos da minha vida, e se o mal me
sobrevêm, então Deus não seria responsável pelo mal? Isso não o caracteriza­
ria como o autor do mal? Baseado no que você aprendeu neste capítulo,
como responderia a alguém que lhe fizesse essas duas perguntas?
3. Se Deus é soberano, de que modo você continua sendo responsável
por suas próprias escolhas e decisões?
4. O Senhor é dono de tudo. Ele reina sobre tudo, ordenou tudo e controla tudo.
Enumere algumas circunstâncias de sua vida em que você poderia ter
210 Perguntas para reflexão pessoal ou discussões em pequenos grupos

se sentido encorajado e reconfortado pela segurança contida nessas


palavras.
5. Recentemente a palavra aleatório tem se tornado um termo muito po­
pular no meio da geração mais jovem. De algum modo, ela parece re­
fletir uma cosmovisão baseada num dar de ombros que diz “não estou
nem aí”. Imagine-se acordando um dia pela manhã com a convicção
de que tudo em sua vida é aleatório. Como isso afetaria a sua atitude
em relação aos eventos do dia a dia? Agora, inversamente, como sua
atitude mudaria se você percebesse que na verdade não existem acon­
tecimentos aleatórios, e que tudo ocorre por alguma razão?
6. Em Isaías 44, o Senhor disse de um rei chamado Ciro que Ele o usaria
para'permitir que os israelitas retornassem do cativeiro babilônico a
Jerusalém e a Judá. Entretanto, como nota o autor, essa previsão acon­
teceu muitos anos antes do nascimento desse rei, e até mesmo antes
de a Babilônia ter conquistado Judá. Se você tivesse essa verdade — a
presciência de Deus com relação aos eventos da história humana —
firmemente fixada em sua mente, como isso mudaria a forma como lê
as manchetes do jornal ou reage ao noticiário noturno?

C a p ít u l o 4: P e g u e e s t e t r a b a l h o e e n g u l a ...
D eus e s tá no c o n tr o le de to d o o seu t r a b a l h o

1. N o Salmo 37.23 está escrito: Os passos de um homem bom são confirmados


pelo Senhor. Farrar concluiu: “Deus está no controle da sua jornada e do
seu destino [...] neste exato momento”. Aplique essa verdade aos aconte­
cimentos de hoje.Você acha que essa declaração do autor deste livro
é exagerada? Presumindo que sua conclusão seja verdadeira, que nova
perspectiva isso lhe traz de tudo o que lhe aconteceu hoje?
2. “N o plano de Deus, nenhum trabalho é uma perda de tempo. No
plano de Deus, todo trabalho é uma preparação.” Do que você gosta
ou desgosta em seu atual emprego?
3. Como você reage à afirmativa:“Às vezes Deus coloca você num tra­
balho que não tem futuro”? Se já passou por isso, você achou difícil
Fogados por Deus 211

confiar nos motivos que levaram o Senhor a deixá-lo naquele lugar


por determinado período? Como aconselharia um amigo (ou um
filho) que se encontre em situação semelhante neste momento?
4. O autor escreve: “Todo beco sem saída e todo trabalho sem futuro
têm um começo, um meio e um fim. Deus estabeleceu um limite ao
redor do seu beco sem saída. Ele quer que você aprenda lições aí que
não podem ser aprendidas em nenhum outro lugar”. Q ue tipos de
lições você já aprendeu em seus becos sem saída?
5. O autor deste livro afirma: “O fato de o Senhor estar com você muda
tudo.Todas as coisas se tornam possíveis”. Quando nos encontramos
num beco sem saída, onde colocamos nosso foco? Será que gastamos
toda a nossa energia tentando encontrar uma maneira de escapar, ou
será que colocamos nosso foco no Senhor, procurando enxergar Sua
mão em meio às nossas circunstâncias? Por que às vezes é tão difícil
escolher a segunda opção?
6. Neste capítulo, Farrar diz que o Senhor deu a José “uma tarefa den­
tro de outra tarefa” . Quais foram essas tarefas? Especule sobre a possi­
bilidade de Deus estar dando a você uma tarefa dentro de outra tarefa
na situação em que se encontra atualmente.

C a p ít u l o 5: M es m o q u a n d o faz você voltar à estaca zer o .


D eus está no c o n tr o le de r etr o c esso s d o lo r o so s

1. Quando nossos meticulosos planos são virados de cabeça para baixo,


às vezes nos sentimos perdidos ou desorientados. Como a Palavra de
Deus pode estabilizar-nos e redirecionar-nos depois de absorvermos
o impacto de um retrocesso doloroso?
2. José deve ter ficado devastado ao perder tudo novamente, logo depois
de ter alcançado o sucesso e o poder mesmo contra todas as expecta­
tivas. Alguma vez você já se sentiu assim? Quando isso lhe aconteceu,
voltou-se para Deus ou tentou depender de suas próprias forças para
superar a perda? Se você depositou toda a sua confiança no Senhor,
de que forma Ele o ajudou?
212 Perguntas para reflexão pessoal ou discussões em pequenos grupos

3. O autor deste livro observou que os planos que Deus tinha para José
eram muito maiores do que ele jamais poderia ter imaginado. Que
planos! Reserve um momento agora para ler a oração encontrada em
Efésios 3.14-20, de preferência usando mais de uma versão da Bíblia.
Medite nas palavras infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou
pensamos. Em que áreas e circunstâncias de sua vida você talvez esteja
limitando o Senhor?
4. Reflita sobre a seguinte afirmação: “Deus tem todo o direito de inter­
romper nossos planos a qualquer momento para que o Seu plano, in­
finitamente superior, seja cumprido em nossa vida. O Senhor não tem
nenhuma dificuldade em remover nosso sucesso quando isso serve aos
Seus propósitos” . Isso significa que nós não deveríamos planejar nada?
Como podemos equilibrar um planejamento prudente com o enten­
dimento de que os planos de Deus devem ter sempre a precedência?
5. Em 1 Timóteo 4.16a consta o seguinte: Atente bem para a sua
(n v i )

própria vida e para a doutrina. Ao comentar essa passagem, Farrar afir­


ma: “Precisamos atentar bem para a nossa maneira de viver e para as
convicções que temos sobre Deus e Sua Palavra”. Por que ele diz
isso? Por que precisamos avaliar nossa conduta à luz do nosso conhe­
cimento da Bíblia?
6. Deus é soberano, mas nós somos responsáveis por nossos atos. Explique esse
fato imutável de acordo com o seu entendimento.

C a p ít u l o 6: M e s m o q u a n d o a e s p e r a n ç a é in t e r c e p t a d a .

D eus e s tá n o c o n tr o le de e s p e r a n ç a s d e s p e d a ç a d a s

1. O autor deste livro afirma: “Mas nada mata mais rápido o coração de
um homem do que a falta de esperança” . Como podemos manter
a esperança viva em nosso coração quando as circunstâncias da vida
parecem aglomerar-se contra nós?
2. O cantor de música country Garth Brooks gravou uma canção in­
titulada Some of God’s Greatest Gifts Are Unanswered Prayers [Ora­
ções não respondidas às vezes são os melhores presentes de Deus].
Fogados por Deus 213

Quando você olha para a sua vida em retrospecto, que orações agra­
dece a Deus por, em Sua sabedoria, não ter respondido?
3. Esperanças despedaçadas são ferramentas que Deus usa para nos refi­
nar e levar-nos à vida frutífera e superabundante que Ele deseja que
tenhamos. Imagine que alguém muito próximo a você sofra uma
decepção profunda e peça-lhe um conselho. Como você poderia
encorajar essa pessoa à luz do que tem aprendido neste capítulo?
4. Como você poderia usar as Escrituras para encorajar alguém pró­
ximo a você que tenha enfrentado decepções e cujas esperanças te­
nham sido despedaçadas?
5. Injustamente preso, José depositou suas esperanças no copeiro que
havia sido liberto da prisão e restaurado ao serviço do faraó. Q ue fim
levou essa oportunidade? Como podemos equilibrar a esperança que
investimos nas pessoas e nossa contínua esperança no Senhor?
6. O autor deste livro observa: “O copeiro realmente se tornaria o pas­
saporte para a liberdade de José. Mas José não teria nenhuma notícia
dele por dois longos anos”. Parece que José acertara na mosca quanto
ao que e ao quem, mas não tinha nenhuma ideia do quando. Por que
Deus adiaria Sua resposta à nossa oração se Sua intenção é exatamen­
te nos conceder essa resposta?

C a p ít u l o 7: R e b a ix a d o e c o l o c a d o n o b a n c o d o s r e s e r v a s ...
D eus está no controle das esperas pro lo ng adas

1. Farrar afirma: “As vezes somos obrigados a esperar em circunstâncias


desconfortáveis e difíceis, sem que tenhamos a menor ideia de qual
será o final da história” . Que tipos de disciplina ou atividades diárias
poderão ajudar-nos a manter a fé quando nos encontrarmos numa
situação como essa?
2. Leia as seguintes passagens do Livro de Salmos: 25.3; 27.14; 37.7,34;
62.5; 147.11. Depois leia Isaías 40.31. O que a Palavra de Deus pro­
mete àqueles que esperam pacientemente no Senhor?
3. Andrew Murray certa vez escreveu: “Não devo esquecer-me de que
estou aqui por ordem de Deus, sob os Seus cuidados, sob o Seu
214 Perguntas para reflexão pessoal ou discussões em pequenos grupos

treinamento e pelo tempo que Ele determinar”. Qual desses aspectos


da espera lhe proporcionam maior consolo e encorajamento neste
momento?
4. O autor deste livro escreveu sobre quando Deus nos pede que espe­
remos pelas respostas às nossas orações urgentes. E propôs: “Por que
você não entrega suas frustrações ao Senhor e confia nele, certo de
que Ele conhece o melhor caminho? Vamos lá. Pouse este livro, abaixe
a cabeça, e entregue tudo a Ele. Diga-lhe o que está em seu coração.
Desabafe sua ira, e depois diga a Ele que você está disposto a esperar —
ainda que não entenda as razões para isso”. Por que resposta de oração
você tem esperado? Tem sido paciente enquanto a espera?
5. Farrar cita alguns versículos bíblicos como evidência de que o Se­
nhor nos sustentará e nos guardará enquanto esperamos que Ele res­
ponda às nossas orações ou livre-nos de uma situação difícil. Separe
alguns minutos agora para ler as seguintes passagens em sua Bíblia:
Salmo 28.9; 48.14; e Isaías 46.3,4. Qual é a principal promessa em
cada um desses versículos?
6. Quais são os perigos de recusarmo-nos a esperar pelo tempo do
Senhor e avançarmos em nosso próprio tempo, baseados em nossa
própria sabedoria?

C a p í t u l o 8 : I n d i v í d u o s i n f l u e n t e s ...
D eus está no controle dos poderosos

1. O autor deste livro escreveu: “A coisa mais reconfortante do mun­


do é saber que existe um Deus que cuida de nós” . De que maneira
podemos cooperar com o Senhor e com o Seu plano para que pos­
samos desfrutar do melhor que Ele nos reservou?
2. Como você poderia usar Provérbios 21.1 e a história de Nabucodo-
nosor, em Daniel 4, em resposta a alguém que não acredita que Deus
possa transcender o livre-arbítrio do homem?
3. Farrar escreveu:“Nosso Deus soberano é aquele que exalta e remove
homens e mulheres de posições de proeminência e poder” . De que
Forjados por Deus 215

forma essa afirmação pode proporcionar a você uma nova perspecti­


va do jogo político que ocorre em nosso país?
4. Em vez de preocupar-nos com o terrorismo, ataques nucleares e
os impérios malignos deste mundo, o autor deste livro sugere que
leiamos Isaías 40 antes de dormir. Que trechos desse capítulo das
Escrituras podem ajudar você a colocar de lado essas preocupações e
simplesmente descansar em Deus?
5. “O faraó estava prestes a cooperar com o plano de Deus”, diz Steve
Farrar, “simplesmente porque precisava dormir” . E foi exatamente
naquela noite que o Senhor lhe enviou os sonhos que impactariam
o seu destino. Que outros exemplos você pode citar de pessoas po­
derosas que estão nas mãos do Senhor, quer o reconheçam ou não?
6. Theodore Roosevelt tinha o costume noturno de olhar para as es­
trelas com o propósito de lembrar-se de sua própria pequenez e
da grandeza de Deus. Que rotina você pode criar para lembrar a si
mesmo de que seu destino, suas provações e oportunidades estão nas
mãos de um Deus soberano que o ama?

C a p ít u l o 9: D eus pr o g r a m a o " b o l e t im de m e t e o r o l o g ia " ...


E le está no controle da fo m e,
do c l im a e d o s d e s a s t r e s n a t u r a is

1. “O Deus da Bíblia pode ser conhecido, mas Ele também é incom-


preensível.”Você acha essa afirmação contraditória? Por quê?
2. O autor deste livro escreveu:“Por isso, precisamos ter o cuidado de não
acusar o Senhor de fazer o mal quando Ele o usa para os Seus bons
propósitos, mesmo que não consigamos entendê-los” . E claro que,
quando somos atingidos pelo mal ou por alguma tragédia, queremos
entender o que Ele está fazendo. De que forma podemos equilibrar
nosso desejo de entender e a fé num Deus cujo modo de trabalhar
muitas vezes está além da nossa capacidade de compreensão?
3. Leia Êxodo 4.11. Que outros insights você pode obter sobre essa pas­
sagem ao compará-la à história do homem que nasceu cego em João
9.1-5?
216 Perguntas para reflexão pessoal ou discussões em pequenos grupos

4. O autor deste livro disse o seguinte acerca de seu amigo com uma do­
ença terminal:“Ele sabe que a morte está próxima e que Deus já plane­
jou o momento preciso da sua partida (Hb 9.27). Ele está em paz com
o seu futuro porque sabe que o Senhor já tem tudo planejado”. Leia
Jó 21.21, Atos 13.36 e Hebreus 9.27. O que esses textos dizem sobre o
tempo da nossa morte? Você se sente reconfortado com a verdade de
que Deus sabe exatamente quando você vai morrer? Por quê?
5. Por que as palavras “Deus está no controle” podem incomodar um
amigo enlutado em vez de reconfortá-lo? O que devemos dizer (se
é que devemos dizer algo) a pessoas nessa situação?
6. Margaret Clarkson disse: “A soberania de Deus é uma rocha inex­
pugnável à qual o coração humano precisa apegar-se. As circunstân­
cias de nossa vida não são acidentais; elas podem ser obra do mal, mas
nosso soberano Deus tem esse mal firmemente seguro em Suas mãos
poderosas [...] Todo o mal está sujeito a Ele, por isso o mal não pode
tocar Seus filhos a menos que Ele o permita” . N o entanto, o mal que
toca nossa vida ainda é o mal. Será que o entendimento de que o mal
não pode tocar-nos a menos que o Senhor o permita é realmente
reconfortante? Por quê?

C a p ítu lo 10: S u b i n d o a e s c a d a d o s u c e s s o e g í p c i a . . .
D eus está no c o n tr o le de t o d a s a s p r o m o ç õ e s e a v a n ç o s

1. O autor deste livro escreveu: “Se você serve a um Deus que está no
controle de tudo, incluindo promoções, então não precisa falsificar
seu currículo para causar uma boa impressão”. Lembre-se das pro­
moções que já obteve. De que maneira você pode enxergar a mão do
Senhor por trás delas?
2. Em apenas algumas horas, o curso da vida de José foi mudado de
modo dramático e permanente. Uma porta foi escancarada diante
dele, e, embora José certamente estivesse surpreso, ele se encontrava
pronto para atravessá-la. Que lições você pode aprender aqui sobre
como andar com o Senhor a cada momento e estar instantaneamente
Foijados por Deus 217

pronto para mudar de direção ou aproveitar uma oportunidade en­


viada por Ele?
3. José recebeu uma promoção instantânea que resultou do fato de ele es­
tar perfeitamente posicionado pelo Senhor após um longo período de
preparação paciente, o qual incluiu um teste significativo em que ele foi
propositadamente purificado. Onde você se posicionaria nessa progressão?
4. Talvez você se encontre no meio de um longo período de preparação.
Nada parece estar acontecendo, e você não vê nenhuma mudança ou
melhora no horizonte. Que palavras de encorajamento pode encon­
trar em Hebreus 12.1-12?
5. Farrar escreveu: “Dificuldades e provações vêm das mãos de um Pai
celestial infinitamente amoroso, e o propósito delas é aprofundar-
-nos, fortalecer-nos e criar em nós a resistência necessária para a obra
que Ele nos reservou”. Leia Romanos 5.1-6. Como o apóstolo des­
creveu o fortalecimento da fé de um cristão por meio de provações?
6. Imagine que você seja um pai ou uma mãe tentando explicar a um
adolescente como o Senhor pode usar nossas decepções e provas para
nos preparar para oportunidades maravilhosas em nosso futuro. Que
palavras você usaria para expressar isso?

C a p ít u l o 1 1 : D o útero à sepu ltu r a . D eus está no controle


de to d o s os even to s da s u a v id a , e E le fará co m que tudo

coopere para o seu b em

1. O autor deste livro cita o exemplo do capitão R obert FitzRoy e de


como a vida desse homem foi destruída pelo fato de ele ter assumido
a responsabilidade pelo mal que Charles Darwin eventualmente in­
troduziu neste mundo [com a sua teoria da evolução]. De que forma
FitzRoy poderia ter sido ajudado se tivesse meditado em versículos
bíblicos como Gênesis 50.20 e Romanos 8.28?
2. Compare o que José disse aos seus irmãos em Gênesis 50.20 sobre o
que se vê neste dia às palavras do Senhor em Mateus 5.10-12. Pode­
mos esperar que Deus sempre reverta uma situação injusta enquanto
218 Perguntas para reflexão pessoal ou discussões em pequenos grupos

ainda estamos vivos? O que Jesus disse sobre a recompensa que Deus
tem reservada nos céus para nós?
3. O autor deste livro afirma: “O que mais surpreende na providência
de Deus é que Ele é poderoso para transformar em bênção todo
o mal que vem contra você para feri-lo ou ferir aqueles que você
ama” . De que maneira você já viu esse princípio atuar em sua vida?
Como usaria essa verdade para aconselhar e reconfortar alguém que
foi ferido por um ataque injusto?
4. José chamou seus dois filhos de Manassés e Efraim. Esses nomes sig­
nificam esquecimento e duplamente frutífero, respectivamente. De que
maneira eles refletem a promoção e a prosperidade repentina que o
Senhor concedeu a José?
5. N o último discurso de Estêvão, antes de ser morto por uma multi­
dão, ele citou o exemplo de José e de como Deus o havia resgatado
do mal (At 7.9,10). Contudo, Estêvão não foi resgatado. Como você
concilia o fato de que Deus pode livrar, e algumas vezes livra, Seus
filhos dos males que os atingem na terra com o fato de que Ele nem
sempre faz isso?
6. Citando Romanos 11.33, onde está escrito que os caminhos do Se­
nhor são inescrutáveis, Thomas Watson observou que não devemos
“procurar decifrar Seus caminhos, mas sim admirá-los”.Você já che­
gou a um estágio em sua vida em que é capaz de louvar a Deus por
circunstâncias difíceis que não consegue entender? Que passo de fé
poderia tomar agora mesmo para demonstrar ao Senhor que você
está determinado a confiar nele, ainda que não entenda os Seus ca­
minhos?
N otas b ib lio g r á fic a s

C a p ítu lo 1

1 F e r g u s o n , Sinclair B.; W r i g h t , D avid F.; P a c k e r , J. I. (ed.). N ew Dictionary ofTheology [Novo


D icionário de Teologia], D ow ners Grove, II: InterVarsity Press, 1988, p. 654.
2 W a r h e l d , B enjam in B. The Christian Workers Magazine, dez. 1916, p. 265-267. D isponível em:
hom epage.m ac. com /shan ero sen th al/refo rm atio n lin k /b b w p red est.h tm . Acesso 1 7 /0 3 /2 0 0 8 .
3 M u r r a y , Jo h n J. B ehini a Frowning Providence [Por trás de um a providência colérica], Carlisle,
PA :T he B anner o fT ru th T ru st, 1990, p. 10.
4 D isponível e m h ttp ://w w w .b ib lía c a to lic a .c o m .b r/2 7 /6 5 /l.p h p . Acesso 26/042012.
5 G r u d e m , W ayne. Bible Doctrine: Essential Teachings o f the Christian Faith [D outrina bíblica:
ensinam entos fundam entais da fé cristã], G rand R apids, M I: Z ondervan, 1999, p. 143.
6 H a l b e r s t a m , D avid. The Education o f Coach [A instrução do treinador], N e w York: H yperion,
2005, p. 2.
7 Ib id ,,p . 3,4.

C a p ítu lo 2
8 W a r f i e l d , B enjam in B. The Christian Workers Magazine, dez. 1 9 1 6 , p. 2 6 5 - 2 6 7 . D isponível em:
h o m ep ag e.m ac.com /shanerosenthal/reform ationlink/bbw predest.htm .A cesso 1 7 / 0 3 / 2 0 0 8 .
9 G i l b e r t , M artin. ChurchilV.A Life [Churchill: um a vida]. N e w York: H e n ry H o lt and Com pany,
1991, p. 956.
10 D isponível em w w w .geocities.com /dw w sm w 56/A storia.htm l.A cesso 1 7 /0 3 /2 0 0 8 .
11 T h o m a s , I. D. E. A Puritan Golden Treasury [U m precioso tesouro p uritano]. Carlisle, PA :T he
B anner o f T ru th Trust, 1997, p. 230.
1 2 D a v is , W alter B ruce. William Carey: Father o f M odem Missions [W illiam Carey: pai das missões
m odernas]. C hicago: M o o d y Press, 1963, p. 58.
13 D o u g l a s , J. D . & C o m f o r t , Philip W (ed.). W ho’s Who in Christian History [Q u em é q uem na
história do cristianism o], W h ea to n , IL:Tyndale, 1992, p. 132.
14 M u r r a y , C apud M e y e r , F. B. Patriarchs o f the Faith [Patriarcas da fé], C h a tta n o o g a,T N : A M G
Publishers, 1995, p. 333.

C a p ítu lo 3
15 D isponível em w w w .hoover.org/publications/policyreview /2 930951.htm l. Acesso 1 7 /0 3 /
2008.
16 B r a d l e y , Jam es. Flyboys [Jovens voadores]. B oston: Little, B row n and Com pany, 2003, p. 194-
197.
17 Ib id .,p . 197.
18 P a c k e r , J. I. Concise Theology [Teologia concisa], W h ea to n , IL:Tyndale, 1993, p. 33.
19 L l o y d - J o n e s , D. M artyn. Great Doctrines o f the Bible [Grandes doutrinas da Bíblia], Vol. 1, God
the Father, God the Son [Deus, o Pai; D eus, o Filho]. W h ea to n , IL: Crossway, 1996, p. 150.
220 Notas Bibliográficas

20 FR A M E ,John M . The Doctrine of God [A dou trin a de D eus], Phillipsburg, PA: P & R Publishing,
2002, p. 59.
21 D isponível em: h ttp ://p t.w ik ip e d ia .o rg /w ik i/H u m m e r. Acesso 3 0 /0 4 /2 0 1 2 .

C a p ítu lo 4
22 M e y e r , F. B. Great Men of the Bible [Grandes hom ens da Bíblia], vol. 1. G rand R apids, M I:
Z ondervan, 1981, p. 115.
23 A m b r o s e , Stephen E. Eisenhower: Soldíer and President [Eisenhower: soldado e presidente], N ew
York: Sim on and Schuster, 1990, p. 11,12.
24 Ib id ., p. 59.
25 Ibid., p. 53.
26 Ibid., p. 44.
27 Ibid., p. 48.
28 S p u r g e o n , C. H . The Treasury o f David [O tesouro de Davi], vol. 2. Pasadena, T X : Pílgrim ,
1983, p. 189.
29 A m b r o s e , Stephen E. Eisenhower: Soldier and President [Eisenhower: soldado e presidente]. N e w
York: Sim on and Schuster, 1990, p. 34.

C a p ítu lo 5
30 L a n d r u m , G len N . Profilcs o f Genius [Perfis de gênios], Buffalo, NY: Prom etheus, 1993, p. 91.
31 V e i t h , G ene E dw ard. A Place to Stand:The Word o f God in the Life of Martin Luther [U m lugar
de descanso: a Palavra de D eus na vida de M artin Luther], N ashville: C um berland, 2005, p. 101.
32 Z a c h a r i a s , R avi. Walkingjrom East to West [C am inhando do leste para o oeste], G rand R apids,
M I : Z ondervan, 2006, p. 139-141.
33 M a n c h e s t e r , W illiam . The Last Lion [O ú ltim o leão], N e w York: D ell Publishing, 1983, p.
781.
34 V e i t h , G ene E dw ard. A Place to Stand: The Word o f God in the Life o f Martin Luther [U m lugar
de descanso: a Palavra de D eus na vida de M artin L uther], Nashville: C um berland, 2005, p. 70.
35 Ibid., p. 71.
36 Ibid., p. 77.

C ap ítu lo 6
37 L a n d r u m , G len N . Profiles o f Genius [Perfis de gênios]. Buffalo, NY: Prom etheus, 1993, p. 161.
38 Ibid.
39 F l a v e l , Jo h n . The Mystery o f Providence [O m istério da providência], Carlisle, P A :T he B anner
o fT ru th Trust, 1678, p. 32.
40 M y ra , H a r o l d & S h e l l e y , M arshall. The Leadership Secrets o f Billy Graham [Os segredos de
liderança de Billy Graham ], G rand R apids, M I: Z ondervan, 2005, p. 59.
41 J o h n s o n , Paul. A History o f the American People [U m a história do povo am ericano]. N e w York:
H arp er Perennial, 1997, p. 438.
42 S a i n t , Steve. E nd o f the Spear [A extrem idade da lança], C arol Stream , IL: SaltRiver, 2005, p.
5 9 ,6 0 .

C a p ítu lo 7
43 M o r g a n , R o b e rt J. The Red Sea Rules [Os estatutos do m ar V erm elho]. Nashville: T hom as
N elson, 2001, p. 86, 87.
44 Ibid., p. 13.
45 M c E l v e e n , R ocky. W ild M en, Wild Alaska [H om em selvagem, Alasca selvagem]. Nashville:
T hom as N elson, 2006, p. 5.
46 Ibid., p. 158.
Foijados por Deus 221

47 Ibid.
48 Ibid., p. 159.
49 Ibid., p. 162,163.
50 M o r g a n , R o b e rt J. The R ed Sea Rules [Os estatutos do m ar V erm elho], Nashville: T hom as
N elson, 2001, p. 13.

C ap ítu lo 8
51 H i t c h e n s , C hristopher. God Is N ot Great:Why Religion Poisons Everything [Deus não é grande:
p o r que a religião envenena tudo]. N e w York: Twelve, 2007, p. 15,16.
52 B r i d g e s , Jerry. Is God Really in Control? [Deus está realm ente no controle?] C olorado Springs:
NavPress, 2006, p. 29.
53 B o y d , G reg apud B R iD G E S.Jerry. Is God Really in Control? [Deus está realm ente no controle?]
C olorado Springs: N avPress, 2006, p. 28.
54 C a r o , R o b e rt A. The Power Broker [O poderoso m ediador], N e w York: R a n d o m H ouse, 1974,
contracapa.
55 G lu b b , Sir Jo h n apud O d o m , G uy R . Mothers, Leadership and Success [Mães, liderança e sucesso].
H ouston: Polybius, 1990, p. 186.
56 D isponível em: h t tp : / / dariusthem ede.tripod.com /glubb.A cesso 1 7 /0 3 /2 0 0 8 .
57 G r a n t , G eorge. Carry a Big Stick:The Uncommon Heroism ofTheodore Roosevelt [C onduzindo
u m grande bastão: o heroísm o in co m u m de T h eo d o re R oosevelt], Nashville: C um berland,
1996, p. 176.
58 Ibid., p. 126.

C a p ítu lo 9
59 D isponível em: w w w .elizabethi.org/us/arm ada.A cesso 1 7 /0 3 /2 0 0 8 .
60 In: w w w .d esirin g g o d .o rg /R eso u rceL ib rary /S erm o n s/B y D ate/2 0 0 5 /2 2 3 _ T h e_ S u p rem acy _
oíL C hrist_ in_an_A ge_of_T error. Acesso 1 7 /0 3 /2 0 0 8 .
61 B r i d g e s , Jerry. Is God Really in Control? [Deus está realm ente n o controle?] C olorado Springs:
NavPress, 2006, p. 58, 59.
62 W a r e , B ruce A. God’s Greater Glory [A mais grandiosa glória de D eus],W heaton, IL: Crossway,
2004, p. 72.
63 Ibid., p. 7 0 ,7 1 .
64 Ibid., p. 101, 102. O bviam ente não podem os, nas páginas deste livro, explorar cada questão e
nuança da soberania de D eus e com o ela opera em relação ao mal. Para isso, precisaríam os de
mais do que u m livro e, até m esm o, mais que um a biblioteca. Sugiro àqueles que querem estudar
este conceito mais detalhadam ente que adquiram God’s Greater Glory [A mais grandiosa glória
de D eus], do Dr. B ruce Ware, u m livro cuidadosam ente fundam entado na obra da providência
divina descrita na Bíblia. N a verdade, sugiro que adquiram dos exemplares dele, sendo que um
para dar de presente ao seu pastor. C o m certeza será u m presente m uitíssim o apreciado.
65 D isponível em: w w w .alertn et.o rg /th en ew s/n ew sd esk /L 0 8 1 6 0 7 5 4 .h tm . Acesso 17/032008.
6 6 W a r e , B ruce A. God’s Greater Glory [A mais grandiosa glória de D eus]. W heato n , IL: Crossway,
2004, p. 106,107.
67 Ibid., p. 106,107.
68 C o m o citado em B r i d g e s , Jerry. Is God Really in Control? [Deus está realm ente no controle?]
C olorado Springs: NavPress, 2006, p. 61.
69 M c C u l l o u g h , D avid. 1776. N e w York: S im on and Schuster, 2005, p. 191.
70 Ibid.
71 W ie r s b e , W arren W The Bible Exposition Commentary: Pentateuch [O C o m en tário Bíblico
Expositivo: Pentateuco], C olorado Springs:Victor, 2001, p. 192.
222 Notas Bibliográficas

72 C o m o citado em B r i d g e s , Jerry. Is God Really in Control? [Deus está realm ente n o controle?]
C olorado Springs: NavPress, 2006, p. 31.

C a p ítu lo 10
73 D isponível em: w w w .forbes.eom /leadership/2007/92/071eadership-resum e-jobs-lead-
careers-cx_ll_0207resum e.htm l?partner= rss. Acesso 1 4 /0 7 /2 0 0 7 .
74 W a t s o n , T hom as. A l i Thingsfor Good [Todas as coisas para o bem ], Carlisle, PA :T he B anner o f
T ru th Trust, 1663, 1986, p. 60.
75 P ip e r , Jo h n . The Roots o f Endurance [As raízes da resistência]. W h eato n , IL: Crossway, 2002, p.
124.
76 Ibid., p. 125.
77 L l o y d - J o n e s , D. M artyn. Spiritual Depression [Desânim o espiritual]. G rand R apids, M I: W B.
Eerdm ans, 1965, p. 158.
7 8 M e y e r , F. B. The Life ofjoseph [A vida de José], Seattle:Y W A M , 1 9 9 5 , p . 4 3 .
79 B e l m o n t e , K evin. Hero for Humanity: A Biography o f William Wilbeforce [H erói para a
hum anidade: um a biografia de W illiam W ilberforce], C o lorado Springs: NavPress, 2 0 0 2 ,p. 102.
80 Ibid., no verso da capa.
81 Ibid., p. 11.
82 P ip e s , Jo h n . The Roots o f Endurance [As raízes da resistência]. W h eato n , IL: Crossway, 2002, p.
117.
83 Ibid.
84 M e y e r , F. B. Patriarchs o f the Faith [Patriarcas da fé]. C h a tta n o o g a,T N : A M G Publishers, 1995,
p. 381.

C a p ítu lo 11
8 5 J o h n s o n , Paul. M odem Times: The Word from the Twenties to the Nineties [Tempos m odernos: a
Palavra dos anos 8 0 aos 9 0 ], rev. ed. N e w York: H a rp er Perennial, 1 9 9 1 , p. 3 4 1 .
8 6 O s G u i n n e s s . Unspeakable: Facing Up to Evil in an Age o f Genocide and Terror [Indescritível:
enfrentando o m al na era do genocídio e do terror], N e w York: H arperSanFrancisco, 2005,
página de introdução.
87 Ibid., p. xi.
88 W a t s o n , T hom as. A liThings for Good [Todas as coisas para o bem ], Carlisle, PA :T he B anner o f
T ru th Trust, 1663, 1986, p. 60, 61.
89 W ie r s b e , W arren W . The Bible Exposition Commentary: Pentateuch [O C o m en tário Bíblico
Expositivo: Pentateuco], C olorado Springs:Victor, 2001, p. 150.
90 S p r o u l , R . C. The Invisible Hand [A m ão invisível]. Dallas: W ord, 1996, p. 95.
91 R Y L A N D S,John c ita d o e m P a c k e r ,J . I. G od’s Plans forYou [P la n o s d e D e u s p a ra v o c ê ] .W h e a t o n ,
IL: C ro ssw a y , 2001, p. 9.
SÉSr \ - r f l

Nosso mundo precisa desesperadamente de pessoas íntegras, fiéis,


ousadas e apaixonadas pelas coisas de Deus. Entretanto, pessoas assim
não nascem prontas; elas são forjadas por Ele, assim como um artífice
que leva uma placa bruta de metal à fornalha e, então, maneja-a cuidado­
samente numa roda inglesa para moldá-la, de modo que ela atinja a forma
que ele projetou e esteja apta a ser usada com eficácia e precisão.
Ao ler este livro — que foca os meios que Deus usou para forjar José
e usá-lo como um instrumento de salvação para sua família e outros — ,
você descobrirá como verdadeiros homens de Deus são moldados e enten­
derá como o Senhor age de modo providencial, suprindo tudo o que você
necessita durante a sua jornada; estranho, conduzindo-o muitas vezes por
caminhos que você não entende, e lento, desenvolvendo sua paciência e
confiança nele. Você desvendará o processo de crescimento, verá com
outros oihos as frustrações e dificuldades que enfrenta no dia a dia e será
fortalecido para continuar a caminhada à sua frente, como uma pessoa
amada e moldada por Deus.

Steve Farrar é graduado pela Califórnia State University em Fullerton, tem mestrado pelo Western
Seminary, em Portland, e doutorado pelo Dallas Theological Seminary. Ele é o fundador e
presidente do M en’s Leadership Ministries, preletor e autor de cerca de 15 títulos, inclusive
do best-seller Point Man: How a man Can Lead His Family [Na linha de frente — Como um
homem pode liderar sua família]. É casado com Mary, tem três filhos adultos e vive em Dallas,
no Texas (EUA).

.. Estrada do Guerenguê, 1851 - Taquara


CENTRAL Rio de j aneiro - RJ - CEP: 22713-001

GOSPEL PEDIDOS: (2 1 )21 87-7 00 0


www.editoracentralgospel.com

Potrebbero piacerti anche