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Referência Bibliográfica: IANNI, Octávio (Org.). Introdução. In: MARX, Karl. Marx
– sociologia. 2 ed. São Paulo: Ática, 1980, p. 7-44.
Comentário Pessoal: O texto introdutório de Octávio Ianni que abre a obra para
discutir a sociologia do próprio Marx trata dos principais elementos da Teoria social
crítica (Produção da sociedade, classes sociais, existência e consciência, e Estado e
sociedade).
Num primeiro momento do texto Ianni reflete sore a produção da sociedade
capitalista. Partindo da mercadoria, o autor apresenta didaticamente a dialética
materialista e histórica como um elemento capaz de revelar os antagonismos e
determinantes que estão por trás dessa categoria. Nesse sentido chega-se a conclusão
que a mercadoria não tem caráter fantasmagórico como gostariam os defensores da
economia política, mas ela é resultante de relações sociais concretas que, diante de uma
contradição fundamental (capital x trabalho assalariado), determina sua constituição.
Portanto, a produção capitalista é engendrada por relações sociais concretas dadas
historicamente que estão postas de forma antagônica na sociedade; daí a relevância da
dialética materialista e dialética histórica.
Ianni trata ainda da teoria de Marx sobre a luta de classes. Afirma ser essa
categoria de Marx fruto, em primeiro lugar, da crítica da filosofia alemã, do socialismo
utópico francês e da economia política inglesa. Nas reflexões críticas a estes campos do
saber Marx afirmava existir uma luta de classes que, em sua trajetória intelectual, se
adensam na compreensão da anatomia da estrutura econômica da sociedade capitalista.
A relação conflituosa entre forças produtivas e relações de produção refletem
contradições mais concretas entre trabalhadores e capitalistas. É essa a contradição
fundamental que movimenta o desenvolvimento do capitalismo. De um lado as forças
produtivas, o trabalhador assalariado, que luta por melhores condições de trabalho, e de
outro o capitalista, as relações de produção, o assalariamento que objetivam a
manutenção do status quo.
Também trata da compreensão da relação entre existência e consciência em
Marx. Toda a digressão feita por Ianni baseia-se na máxima de que a existência
determina e produz a consciência. A estrutura econômica ou base da sociedade burguesa
determina e produz uma superestrutura onde estão a ideologia, o direito, a ciência, etc.
A partir dessa baliza teórica materialista Ianni digressa sobre o desenvolvimento da
consciência da burguesia e do proletariado, ambos os processos determinados pelas
relações sociais concretas e pela luta de classe. Trata da economia política burguesa
clássica e da economia política burguesa vulgar. Ambas constituem formas de
consciência da burguesia, entretanto a economia clássica da burguesia se comprometia
mais fidedignamente com a compreensão do real, na medida em que era necessário nas
relações sociais concretas afirmar-se como um sistema econômico. A economia vulgar
surge num período seguinte, quando se supera a necessidade de instauração do regime
capitalista, sendo o objetivo ulterior o de legitimação. No contexto da consciência do
operário esse processo também é identificável. O operário num primeiro momento passa
a se articular com teorias do socialismo utópico, para só em seguida aderir a uma teoria
revolucionária. Todos esses processos são determinados por relações sociais concretas e
períodos históricos específicos.
Finalmente Octávio Ianni trata da concepção de Estado na obra de Marx, e sua
relação com a sociedade. Ianni relembra que na concepção marxiana o Estado não é
uma abstração que paira isentamente sobre as classes sociais, como queria Hegel. Antes,
na perspectiva de Marx o Estado é produto da estrutura concreta da sociedade
capitalista. A sociedade civil, composta pela relação entre as forças produtivas e as
relações de produção germina o Estado burguês. O Estado burguês, portanto, se
configura como um comitê administrativo dos assuntos privados da burguesia, na
medida em que é uma produção da estrutura social que assume a finalidade de
legitimação do status quo. Entretanto, existem momentos de crise de hegemonia do
Estado, quando as forças burguesas perdem a direção do mesmo, tendo que disputa-lo
com as demais classes. Nesses momentos históricos tem-se a impressão de que o Estado
realmente assume um papel de neutralidade, o que essencialmente é falso, pois sua
natureza é serviçal aos interesses da elite.
Comentário Pessoal: José Paulo Netto introduz seu texto mostrando a natureza dos
debates sobre os dilemas metodológicos das teorias sociais. Passando por Durkheim e
Weber, é em Marx que o autor enfatiza uma teoria social alvo de inúmeras críticas,
balizadas por sua natureza ideopolítica. É sobre o método da teoria social crítica de
Marx de que trata este texto.
Antes de prosseguir com a exposição das dificuldades próprias ao método da
teoria social crítica de Marx, Netto propõe discutir alguns equívocos que cercaram essa
teoria. Chama atenção para alguns teóricos (Plêkhanov e Kautsky) da II internacional
que divulgaram uma teoria geral de Marx, isto é, que se propõe a explicação de tudo.
Essa lógica manualesca do método marxiano rejeitou o árduo trabalho de análise da
realidade para aplicar de forma simplista o método "geral" de Marx a qualquer realidade
histórica. Deriva dessa tendência a ideia de classificar a teoria marxiana como
fatorialista, isto é, teoria que pensa a sociedade como resultado da determinação de um
único fator, o econômico. As críticas da teoria social crítica caminham em dois eixos: 1
- ausência das questões culturais e simbólicas na teoria de Marx; 2 - teoria social
evolucionista, teleológica e determinista. O autor defende a ideia de que essas críticas
não passam de equívocos teóricos que podem ser superados com uma simples ida à
fonte.
Tratando da natureza do método marxiano, Netto afirma ser ele uma longa
elaboração teórica. Marx inicia sua vida acadêmica na década de 1840 e dedica 40 anos
de sua vida à análise da sociedade burguesa. Netto afirma que o método desenvolvido
por Marx é fruto de um longo esforço para compreensão da realidade da sociedade
burguesa, método este que só ficou pronto depois de 15 anos de dedicação heurística.
Foi o acúmulo crítico de Marx que permitiu com que este se instrumentalizasse para
análise da sociedade burguesa. A economia política inglesa - primeiramente apresentada
por seu parceiro Engels - de Ricardo e Smith, a filosofia alemã de Hegel e de Feuerbach
e o socialismo utópico francês de Owen e Fourier que permitiu que, criticamente, Marx
elaborasse seu método.
Netto também discute o conceito de teoria para Marx antes de expor o caráter
teórico-metodológico da teoria social crítica. Para Marx a teoria é a "reprodução ideal
do movimento real do objeto pelo sujeito". Ou seja, o objeto da análise marxiana é
concreto, tem existência objetiva. Entretanto, a existência objetiva do objeto da teoria
social crítica é construída pela atividade dos homens, o que mostra uma relação
intrínseca entre sujeito/objeto. Esse caráter da implicação do sujeito no objeto da Teoria
social de Marx não prejudica a objetividade deste método. A comprovação da validade
deste método está na prática social. Netto dá exemplos de Leis desenvolvidas como
resultado da análise da sociedade burguesa, que até hoje tem ressonância na realidade.
Nesse processo heurístico, Netto afirma ser, para Marx, o sujeito pesquisador um sujeito
absolutamente ativo, pois a realidade não se revela imediatamente. Portanto, o sujeito
pesquisador deve ter um acúmulo crítico, a fim de superar as aparências fenomênicas da
realidade.
Netto ainda propõe uma discussão sobre as formulações teórico-metodológicas
que balizam o método da teoria social crítica. Discute o processo de construção desse
método por Marx e Engels. Trata do caráter original deste método de partir da
concreção histórica da realidade (ponto de partida). Trata ainda da concepção de história
que, de base materialista e dialética, é considerada como processo, sempre em mutação
e em desenvolvimento, na medida em que a atividade dos homens determinam forças
produtivas e relações de produção que movimentam a história da sociedade. O processo
de aproximação dessa realidade em movimento permite que se estabeleçam categorias -
abstrações teóricas, como reprodução ideal do movimento real do objeto - de
compreensão do objeto. Esse movimento de partida determinado pela realidade se
relaciona a outro movimento de abstração (concreto pensado) - momento de
estabelecimento das categorias apreendidas pela realidade. Esse é o movimento que
permite a superação de uma compreensão imediata da realidade.
Referindo-se especificamente ao método de Marx, Netto adverte o leitor para
que não se crie expectativas quanto a definição e descrição de procedimentos
metodológicos para entender o método em Marx. Netto afirma ser o método uma
perspectiva assumida pelo sujeito pesquisador para abstrair o movimento real do objeto.
Portanto, em Marx, não existe dissociação entre método e teoria. Nesse contexto, Netto
apresenta três categorias teórico-metodológicas de Marx: totalidade, contradição e
mediação. Apresenta a totalidade como um complexo de complexas determinações.
Essas determinações só podem ser compreendidas mediatamente, partindo do singular
ao universal. Essa totalidade não é estática, mas dinâmica, daí o seu caráter
contraditório, na medida em que é resultado da contradição entre as demais totalidades.
Essas são as três categorias que determinam uma ortodoxia marxista, no que se refere ao
método.
Por fim, Netto apresenta a relação entre o método de Marx e a pesquisa em
Serviço Social. O autor mostra como a pesquisa surge tardiamente na profissão (décadas
de 1970-80), mas que, com esse recurso é possibilitada uma aproximação com a teoria
social crítica. Num primeiro momento Marx foi interpretado de forma equivocada por
parte da categoria por influência de um marxismo positivista. Posteriormente, com a
maturidade da categoria, essa relação se torna fecunda. Netto mostra a importância dos
profissionais assumirem uma atitude investigativa diante da realidade a qual estão
inseridos. Tendo a teoria social crítica como insumo, Netto propõe três atitudes para os
profissionais desenvolverem a atitude investigativa: Conhecer a realidade sócio-
histórica brasileira; conhecer a relação particular entre expressões da Questão social e
Política Social; e apropriar-se criticamente da produção teórica sobre a realidade em que
o profissional atua.
Comentário Pessoal: No primeiro capítulo da obra Marx parte do ponto elementar que
o permitirá compreender a economia política da sociedade burguesa: a mercadoria. A
respeito da natureza da mercadoria afirma existir elementos qualitativos e quantitativos.
Em relação ao elemento qualitativo da mercadoria trata do valor de uso, aquele medido
por sua grandeza de utilidade. Entretanto, além do valor de uso as mercadorias são
trocadas. Essa relação de troca não é feita a partir dos valores de uso das mercadorias,
mas a partir de seu valor quantitativo. Valor para Marx é o tempo de trabalho médio
dispendido para a produção do valor de uso. É este elemento quantitativo que determina
a mercadoria, pois nem todo o valor de uso é mercadoria, mas toda a mercadoria possui
valor de uso e valor (no sentido quantitativo) de troca.
Ainda tratando da complexidade que compõe a mercadoria Marx discorre sobre
as formas de trabalho que estão contidas nessa categoria elementar da sociedade
burguesa. Primeiro trata do trabalho útil. Afirma ser a mercadoria portadora desta forma
de trabalho que a diferencia das demais mercadorias. Trata-se de um trabalho útil,
concreto, na medida em que se valoriza um objetivo qualitativo, específico do trabalho,
suas qualidades; um casaco de lã e não de linho, por exemplo. Marx trata também do
trabalho humano. Essa forma de trabalho, abstraída de todas as características
qualitativas do trabalho, isto é, sem considerar se o casaco é de lã ou de linho, resta
apenas o caráter quantitativo do trabalho, o dispêndio de trabalho necessário para a
produção de um produto; trata-se do tipo de trabalho que produz valor, trabalho
abstrato.
Marx discorre ainda sobre a forma do valor de troca ou do valor, pois o valor se
expressa exclusivamente na relação de troca. Afirma existir uma primeira forma do
valor: forma do valor simples. Nesta forma estão presentes o valor relativo e o valor
equivalente. Na relação de troca que se estabelece entre uma mercadoria A e B o valor
relativo manifesta-se na medida em que B reflete o valor de A numa abordagem
quantitativa. Nessa mesma relação de troca de mercadorias A e B só podem estabelecer
relações de permuta em função de um elemento em comum, num sentido qualitativo,
que é o trabalho humano (abstrato). Esse caráter de equivalência entre as mercadorias A
e B, a despeito do aspecto quantitativo, expressa o valor equivalente.
Trata ainda da forma de valor total ou desdobrada que nada mais é do que uma
relação de troca interminável entre as mercadorias A, B, C, D, E, etc. Essas múltiplas
relações de troca manifestam formas de valor relativa e desdobradas, posto que várias
mercadorias expressem o valor de dada outra mercadoria. Ademais, essas múltiplas
relações de troca entre mercadorias também expressam a forma valor de equivalente
particular, posto que a relação de equivalência seja sempre em relação à outra
mercadoria.
Discorre também sobre a forma de valor universal. Nessa forma de valor de
troca modificam-se os valores relativos e de equivalência. Uma mercadoria (A) serve de
valor universal pelo qual as outras (B, C, D, E, etc.) expressarão seu valor relativo.
Nessa perspectiva a mercadoria A assume o papel de equivalente universal. Ao
contrário do sistema de troca de valor desdobrado, onde a equivalência era particular de
cada relação específica, nesta forma de valor universal a mercadoria A é o equivalente
universal para o valor das demais.
Em seguida Marx trata de uma quarta forma de valor de troca: a forma dinheiro.
Ao contrário das formas I e II, esta última forma se assemelha mais com a forma III. Na
forma III o equivalente universal é a mercadoria linho. Nesta última forma o equivalente
universal também é uma mercadoria, o ouro, mas quando o ouro assume a forma-
dinheiro, i.e., quando ele se constitui como revelador do preço das outras mercadorias,
ele se diferencia da forma III. Portanto, a equivalência universal das formas III e IV se
diferenciam pela forma-dinheiro que assume a mercadoria ouro daquela última.
Finalmente, terminando o primeiro capítulo de seu livro Marx trata do fetiche da
mercadoria. Na relação de troca que se estabelece no mundo das mercadorias é comum
dotá-las de características metafísicas, como se suas características fossem naturais e
sua efetivação fosse de ordem abstrata. Marx desnuda o caráter social da mercadoria,
mostrando que o sistema de troca que se estabelece é o responsável por escamotear os
processos sociais que determinam a produção e a circulação da mercadoria. O trabalho
humano, abstraído de suas características qualitativas, é o que engendra valor na
mercadoria e não os atributos naturais desta última. No processo de troca das
mercadorias o trabalho humano abstrato é desconsiderado e as relações sociais entre os
produtores são convertidas em relações sociais entre coisas (mercadorias). Nessa
direção fetichista não é a produção que explica os caracteres da mercadoria, mas são as
relações entre as próprias mercadorias que se jactam de explicar seus atributos.
Comentário Pessoal: Na primeira parte de seu texto sobre o método das ciências
sociais Durkheim propõe discorrer sobre a natureza do fato social; objeto da sociologia.
De caráter distinto das ciências biológicas e da natureza o fato social tem natureza
externa e coercitiva em relação aos indivíduos sociais. Podem se configurar em
pensamentos, ações e práticas externas e que exercem poder coercitivo sobre os
indivíduos. São maneiras de fazer e de ser coletivas, de profundo caráter coercitivo
exterior.
O capítulo II tratará das regras relativas à observação dos fatos sociais. Num
primeiro momento do texto, o autor apresenta a regra fundamental: tratar os fatos
sociais como coisas. Basicamente essa regra caminha na direção de relacionar a
sociologia de Durkheim ao método indutivo, isto é movimento que vai do objeto à ideia.
Durkheim considera científico apenas o movimento teórico que parte do empírico. O
autor critica teóricos que, em suas elucubrações científicas, partiram do abstrato e de
conceitos para explicar os fatos sociais. Crítico desta perspectiva, Durkheim defenderá a
objetividade do método sociológico, na medida em que considera os fatos sociais como
coisas, dignos de observação e classificação, portanto a ciência sociológica só pode
partir do objeto, não da ideia, da objetividade, não da subjetividade. Exposta esta regra
fundamental de tratar os fatos sociais como coisas, Durkheim expõe outro conjunto de
regras referentes à observação. 1 – Afirma ser necessário descartar todas as prenoções e
preconceitos. O autor preocupa-se com o viés e com a falta de objetividade. 2 – Na
mesma direção da primeira, afirma ser necessário romper com as noções vulgares, isto
é, com uma falsa ciência que tem como ponto de partida conceitos abstratos que não
partem do fato em si, mas da ideia. 3 – Propõe o afastamento de dados sensíveis que
correm o risco de ser pessoais e de profundo impacto subjetivo – mais uma vez o autor
preocupa-se com a objetividade.
No capítulo seguinte (III) Durkheim trata das regras relativas à diferenciação dos
fatos sociais entre normais e patológicos (tipos sociais). Essa regra faz parte de uma
abordagem de classificação dos fatos sociais. Como visto, os fatos sociais devem ser
tratados como coisas. Primeiro devem ser observados e depois classificados. No
momento da classificação é necessário distinguir estes fatos entre os tipos normal e
patológico. O tipo normal é (1) quando o fato social é produzido pela média (ordinária
ou maior parte) da sociedade; (2) quando o fato social se refere à generalidade dos
fenômenos e às condições gerais da vida.
No quarto capítulo Durkheim apresenta as regras relativas à constituição dos
tipos sociais. Além da classificação normal-patológico proposta pelo autor existe outra
de natureza mais descritivo-explicativa. Segundo o autor esse processo de classificação
se assemelha ao campo da linguística em relação a classificações de palavras. Portanto,
Durkheim chama esse processo de morfologia social, apesar de também identificar
similitudes com o campo da biologia. A regra que constitui esse processo de
classificação dos tipos sociais está basicamente balizada na ideia de que a classificação
se inicia em tipos sociais mais simples que, por sua vez, carregam a potencialidade de
explicação dos tipos sociais mais complexos.
No capítulo 5 Durkheim discorre sobre as regras relativas à explicação dos fatos
sociais. Passadas as fases de observação e classificação, a proposta agora é explicar o
fato social, explicação que não está dada imediatamente. Durkheim trabalha numa
perspectiva explicativa de causalidade. Compreende que os fatos sociais para serem
entendidos precisam ser lidos na relação intrínseca entre causa e efeito ou finalidade.
Durkheim critica o psicologismo como forma de explicação dos fatos sociais, pois não
se pode superdimensionar os efeitos em detrimento das causas. A causa determinante de
um fato social só pode ser explicada nos fatos sociais antecedentes (uma das regras de
explicação dos fatos sociais). Ademais, afirma ser apenas no meio social, nos
fenômenos sociais, o lugar onde se encontram as explicações para os fatos sociais.
No sexto e último capítulo da obra Durkheim discorre sobre as regras relativas à
administração da prova. Viu-se que o método proposto pelo autor trabalha numa
perspectiva de explicação causal. Entretanto, como colocar os fatos causais à prova?
Ora, de forma semelhante às ciências naturais a proposta é utilizar metodologias
experimentais ou comparativas. O método Durkheimiano prova os fenômenos sociais a
partir de uma abordagem experimental ou comparativa. Afirma ser esse o método
próprio das ciências sociais, na medida em que entende que o fato social só pode ser
explicado quando comparado ao processo de desenvolvimento de todas as espécies
sociais.
Comentário Pessoal: Tonet introduz seu texto apresentando a problemática a qual está
envolta as Ciências Sociais. A complexidade da realidade atual, bem como a crise do
marxismo fez com que as Ciências Sociais caminhassem numa perspectiva de testar
novas metodologias para compreensão da realidade complexa, que tem como baliza a
primazia da subjetividade em detrimento da objetividade. O objetivo do autor, nessa
direção, é tratar do pluralismo metodológico numa perspectiva ontológica, a fim de
compreendê-lo como um falso caminho de explicação da realidade.
Num primeiro momento do texto Tonet afirma ser falsa a ideia de
indissociabilidade das diversas perspectivas metodológicas. O que deve existir é a
abertura para o confronto de ideias, não a relativização da verdade a partir de um
pluralismo dos métodos. É profundamente possível estar aberto ao confronto de ideias e
ainda assim privilegiar determinado método no processo de análise e compreensão da
realidade.
Em seguida o autor apresenta o conceito de Pluralismo Metodológico. Não o
identifica como um simples ecletismo ou relativismo, pois esta proposta metodológica
também está em busca da verdade. Trata-se de um método que propõe articulações
metodológicas, as mais diversas, apelando para a rigorosidade do sujeito-pesquisador no
processo de articulação dialógica com outros paradigmas científicos.
Tratando dos Fundamentos do Pluralismo Metodológico, Tonet discorre sobre a
crise dos paradigmas “antigos” (do século XIX) para compreender a realidade complexa
do século XXI. Nesse sentido, é necessário que a ciência se abra para novos caminhos
metodológicos, a fim de captar, como um caleidoscópio, a realidade complexa. O objeto
de estudo é quem determina o(s) método(s).
Fazendo a crítica ao pressuposto ontológico suprarreferido, Tonet discorre sobre
outro fundamento da diversificação e fragmentação do mundo atual. Partindo de uma
perspectiva de análise ontológica, tendo o trabalho como fundante do Ser Social, afirma
que a substância da relação capital x trabalho modifica historicamente, dando a
impressão para a ciência empirista (aquela que capta apenas o fenômeno) que houve
mudanças essenciais. Entretanto, ainda que a substância modifique historicamente a
essência destes fenômenos é a mesma. É essa perspectiva ontológica que alia totalidade
e heterogeneidade que o empirismo não consegue captar, pois dissocia a fragmentação
aparente do mundo atual da totalidade complexa inaugurada pelo trabalho. Esse
equívoco analítico que afirma ter ruído o mundo do trabalho etc.
Sobre a questão dos paradigmas, o autor critica a ciência burguesa positivista e a
denuncia como fragmentária, desde sempre. Em se tratando do marxismo, o autor
afirma existir uma série de marxismos que interpretaram o método de Marx sem
considerar o elemento ontológico, como no caso do marxismo-leninista. O fato é que
não se pode compreender o método marxiano a partir destas expressões do marxismo
alijadas do caráter ontológico do método. As simples categorias de singularidade,
particularidade e universalidade, por exemplo, já resolveriam os problemas das Ciências
Sociais em relação à crise com a realidade macro e micro.
Finalmente, Ivo Tonet apresenta os equívocos do Pluralismo Metodológico.
Afirma que, primeiramente, um dos equívocos evidentes desta perspectiva que se arroga
científica é o ponto de partida empirista. Tonet chama atenção para o fato de nesta
perspectiva a regência da compreensão do objeto estar no sujeito. Essa característica
gnosiológica, muito influenciada por Kant, legitimou a pluralidade de métodos, bem
como a relativização da verdade, pelo fato de que esta estaria condicionada à
subjetividade do sujeito. Tonet acredita ser essa perspectiva de regência do sujeito em
relação ao objeto um falso caminho. Defende essa ideia mostrando a única abordagem
que conseguiu superar a complexa relação sujeito x objeto no contexto do saber
científico. Na perspectiva ontológica o sujeito está numa relação intrínseca com o objeto
mediado pela práxis. Entretanto, essa relação sujeito x objeto tem regência do objeto,
pois a subjetividade nesse processo nada mais é do que a captação do movimento real
da objetividade. Portanto, a perspectiva histórico-ontológica é a única capaz de captar o
movimento real do objeto e permitir uma verdadeira liberdade no processo de
investigação da realidade; em contraposição às críticas sobre o pretenso dogmatismo do
método marxiano. Ademais, afirma ainda ser a teoria (a reprodução ideal do movimento
real do objeto) um projeto de classe comprometido com a transformação social, daí o
seu caráter ontológico, que objetiva compreender, de fato, a realidade. Nessa
perspectiva, a quem interessa a relativização da verdade?