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PSI_12_aluno (U2_T1_cap_1.

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2. Freud e a revolução psicanalítica


Ao contrário da maioria dos pionei- expressão de desejos sexuais inaceitá-
ros da nova ciência, Freud não era pro- veis. A hipótese de que a sexualidade
fessor univer sitário. Formou-se em está na origem da esmagadora maioria
Medicina, especializando-se em Neuro- das neuroses incompatibilizou-o com
logia em 1881, na cidade de Viena. Josef Breuer, inspirador do famoso mé-
A par tir de 1886, começou a analisar todo catártico e da “cura pela palavra”.
pacientes no seu consultório – na ver- Freud desenvolveu um método de tra-
dade, uma espécie de escritório. Pouco tamento que possibilitava e ao mesmo
antes do início da sua atividade privada, tempo “exigia” que o paciente falasse
deslocara-se a Paris, onde assistiu ao acerca de si mesmo livremente, sem
modo como, recorrendo restrições, de modo a for-
à hipnose, o famoso neu- necer pistas que permitis-
rologista fr ancês Jean sem desocultar as memó-
Martin Charcot, aparente- r ias enter r adas no seu
mente, tratava os seus pa- inconsciente. Recorreu à
cientes. livre associação e à inter-
Regressando a Viena, pretação dos sonhos
Freud especializou-se no como técnicas terapêuti-
tratamento de per turba- cas. Partindo do princípio
ções neuróticas (tais como de que as neuroses de que
a cegueira e a paralisia de Sigmund Freud (1856-1939). os seus pacientes adultos
que alguns pacientes so- sofr iam tinham or igem
friam sem que houvesse qualquer causa em experiências emocionais infantis
orgânica) e começou a usar a hipnose desagradáveis e afastadas para bem lon-
como método terapêutico. Bem cedo ge da consciência, pensava Freud que
abandonou esta técnica porque muitos tornar esses eventos conscientes per-
pacientes resistiam à sugestão hipnótica mitiria pôr termo aos sofrimentos.
e porque sintomas aparentemente tra- O aspeto mais impor tante da sua
tados regressavam ou eram substituídos teoria é o conceito de Inconsciente di-
por outros. Freud apercebeu-se de que nâmico – vários processos mentais
muitos dos sintomas físicos dos seus pa- inconscientes interagem determinando,
cientes eram causados por fatores men- sem que nos apercebamos, pensamen-
tais e emocionais. Deu especial atenção tos, sentimentos e comportamentos.
ao facto de aqueles terem grande difi- A prática clínica de Freud esteve na
culdade em recordar acontecimentos da base de uma teoria do desenvolvimento
primeira infância, sobretudo aconteci- psicoafetivo em que se destaca a tese
mentos perturbantes e traumáticos. Na da existência de sexualidade infantil
maior parte dos casos, não podiam recor- (entendendo a sexualidade em sentido
dar esses eventos conscientemente, mas lato). A psicanálise, criação de Freud, é
determinados aspetos do seu compor- ao mesmo tempo um método terapêu-
tamento convenceram Freud de que tico e uma teoria sobre a mente, o
tais memórias estavam presentes no seu homem e as suas diversas atividades e
inconsciente, recalcadas, mas ativas. O representou uma das grandes aventuras
caráter per turbante desses aconteci- intelectuais do século XX. Freud mor-
mentos infantis devia-se, segundo Freud, reu em Londres, um ano depois de ter
ao facto de, em grande parte, serem a fugido à sinistra ameaça do nazismo.
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Inconsciente Com a psicanálise, evidencia-se o papel fundamental dos processos


Estrutura da nossa mente psíquicos inconscientes na determinação do nosso comportamento e da
que mais influencia o nosso
comportamento.
nossa personalidade.
Devido ao contributo de Freud, quando atualmente definimos a psico-
logia como o estudo científico do comportamento e dos processos mentais,
por estes últimos entendemos não só os processos mentais conscientes, mas
também os inconscientes. Segundo Freud, a consciência tem um papel muito
menos influente na nossa vida psíquica do que o inconsciente. A consciência
é simplesmente a ponta do icebergue.
A grande novidade da revolução psicanalítica não é a descoberta do
Inconsciente, mas a afirmação de que este domina a nossa vida psíquica
– é a realidade psíquica fundamental.
Desprezada pelos filósofos durante séculos (relegavam o inconsciente
para o plano fisiológico), a noção de inconsciente começa a ser valorizada pelo
filósofo alemão Schopenhauer (1788-1860), defensor da ideia de que o homem
age sem ter consciência dos verdadeiros motivos dos seus atos. Para o filóso-
fo alemão Hartman (1842-1906), o inconsciente tem um papel decisivo na
vida humana porque influencia as nossas ações de todos os dias.

zAssistir aos vídeos: Mas é no plano psiquiátrico que surgem provas da existência do
1. Les géants du siècle – Freud inconsciente. No final do século XIX, o médico francês Hippolyte Bernheim,
in na presença de colegas, sugere a um homem em estado hipnótico que, quan-
http://www.youtube.com do acordar, pegue num guarda-chuva (pertencente a um dos médicos).
/watch?v=sRjsEtyjaWg
Ordena ao homem em estado de hipnose que vá à galeria dando duas voltas
2. Cem anos do livro – A In- de guarda-chuva aberto.
terpretação dos Sonhos
in Ao acordar do estado hipnótico, o homem em questão executa as or-
http://www.youtube.com dens com a maior naturalidade. Quando o Dr. Bernheim lhe pergunta o que
/watch?v=w9ZOawlopPU
está a fazer, ele responde que está a apanhar ar (julga também que o guarda-
http://www.youtube.com -chuva é seu). Ignora a verdadeira razão ou motivo do seu comportamento.
/watch?v=lQLmAqHKGp4
http://www.youtube.com Bernheim provou que pensamentos situados no subconsciente (assim
/watch?v=6lAD5Z6KzbQ se chamava antes de Freud ao Inconsciente) não desaparecem quando o hip-
notizado acorda. Não tendo o sujeito hipnotizado a consciência vigilante
quando recebeu as ordens, executa-as ao acordar sem saber porquê. Há algo
que, no interior de si próprio, governa os seus atos sem que ele o saiba. Ou
seja, fora do campo da consciência, há “outra coisa”, que regista informações
e influencia secretamente o nosso comportamento. O ser humano tem de
admitir que não manda em tudo o que acontece em si sem acusar diabos ou
demónios. São os nossos desejos e impulsos que mandam em nós.
O Inconsciente é, para Freud, um “lugar psíquico” ou um sistema do
nosso aparelho psíquico que contém pensamentos, desejos, sentimentos,
impulsos que estão “situados” nas profundezas da nossa mente, aquém
da consciência. Constitui-se durante a nossa vida psíquica, sobretudo no
decorrer da infância.
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Ao afirmar que o nosso comportamento em geral era governado por z As conceções de Freud
forças e desejos inconscientes, Freud negava, perante a estupefação dos sobre o psiquismo – por agora
seus contemporâneos, que o homem fosse dono e senhor de si mesmo: o pouco aprofundadas – desper-
taram grande polémica na sua
controlo da nossa mente e das nossas ações escapa-nos. O nosso incons- época e foram mal recebidas.
ciente é tão dificilmente sondável como a mente de outra pessoa. Há quem Em primeiro lugar, a ideia de
considere que foi uma grave ferida no orgulho dos seres humanos, durante que somos governados e mo-
séculos considerados animais racionais, conscientes dos motivos das suas vidos por desejos e impulsos
inconscientes feria um pre-
ações. conceito moral – o de que so-
mos agentes conscientes dos
Que “provas” apresenta Freud da existência do Inconsciente? Como se motivos dos nossos atos.
persuadiu da sua existência? Em segundo lugar, a ideia de
que esses desejos inconscien-
Apresentou três manifestações que, no seu entender, provam a existência tes são, maioritariamente, de
e a influência do Inconsciente: as neuroses, os atos falhados e os sonhos. natureza sexual violentava a
“consciência moral” de uma
sociedade que, aparente-
mente, reprimia profunda-
2.1. As manifestações do Inconsciente mente as manifestações da
sexualidade (Freud afirmava
que os impulsos sexuais repri-
2.1.1. As neuroses midos desempenhavam um
importante papel nas doen-
Quando em 1885 começou a tratar uma doente chamada Anna O. ças nervosas).
(cujo nome real era Bertha Pappenheim), Josef Breuer descobriu sintomas Em terceiro lugar, num mo-
surpreendentes. Mesmo em dias de calor muito intenso e com imensa sede, a mento em que muitos psi-
cólogos – especialmente os
paciente não conseguia beber; só comia fruta para saciar a sede. Apresentava americanos sob a influência
outros sintomas tais como cegueira histérica e paralisia do braço. Um dia, sub- do behaviorismo – rejeita-
metida a hipnose, começou a falar de recordações da sua infância. Contou vam a ideia de psicologia
como estudo da consciência
então que, entrando um dia no quarto da governanta inglesa que seu pai e dos estados conscientes
doente contratara, viu com repugnância que o cão daquela estava a beber de (por estes não serem objeti-
vamente observáveis), Freud
um copo colocado em cima da mesa de cabeceira. Por uma questão de edu- não podia deixar de causar
cação, não fez qualquer comentário sobre um facto que considerava horroroso, enorme estranheza. Com
recalcando-o. Mal acabou de relatar este acontecimento infantil, pediu água efeito, identificava a psicolo-
gia com o estudo dos proces-
e bebeu uma grande quantidade. Despertou da hipnose com o copo nos lá- sos mentais inconscientes,
bios e com um ar bastante aliviado. A perturbação emocional desaparecera. algo “muito menos observá-
vel” do que os fenómenos
Freud interpretou os factos do seguinte modo: Quando Anna falava de psíquicos conscientes.
si mesma, muitas vezes lembrava-se de factos há muito tempo reprimidos. O Mas a psicanálise faria o seu
confronto com os factos dolorosos ou embaraçosos produziu um alívio dos caminho, não se confinando ao
plano da psicologia. O método
seus sintomas. Noutros termos, podia pensar-se que Anna se tinha curado psicanalítico iria aplicar-se a
pela palavra. Contudo, a hipnose não era o meio terapêutico adequado por- diversos domínios da cultura
que, se é verdade que a hidrofobia desaparecera, persistiam outros sintomas (psicanálise da religião, da
mitologia, da obra literária e
já descritos. Apercebendo-se dos limites da hipnose, Freud desenvolveria um artística, etc.) e as teorias de
método terapêutico a que chamaria psicanálise. Freud e dos seus “seguidores”
assumiram o estatuto de
Freud estava plenamente convicto de que, à medida que o Inconsci- “conceção sobre o homem, a
civilização, o mundo e a vida”,
ente se torna consciente, o doente pode aperceber-se do modo como certos sendo, assim, objeto de gran-
acontecimentos da sua infância determinaram o seu comportamento atual. des debates filosóficos.
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Relembrar os traumas da infância torna o paciente capaz de resolver confli-


tos que não pôde resolver no passado. Primeiro, porque se apercebe de que
as condições que determinaram esses conflitos já não existem (eram confli-
tos da infância). Segundo, porque pode, confrontando-se com essas vivências
passadas, rever a atitude que tomou a seu respeito e desenvolver comporta-
mentos mais saudáveis.
De que sofria Anna O.? De uma perturbação neurótica chamada hidro-
fobia e de outras neuroses. As neuroses são sintomas ou manifestações de
algo que foi recalcado, impedido de aceder à consciência. O doente ignora
aquilo que recalca, não conhece os desejos escondidos do seu Inconsciente.
São doenças psíquicas que, traduzindo-se em perturbações físicas, resis-
tem à medicação. Muitas das neuroses derivam, segundo Freud, da repres-
são dos impulsos sexuais e agressivos.

2.1.2. Os sonhos
Uma paciente relatou a Freud um sonho em que comprava num grande
estabelecimento comercial um magnífico chapéu muito caro e preto. É este
o conteúdo manifesto do sonho.
Como descobrir o seu significado? As informações recolhidas ao longo
da análise são importantes para a descodificação do sonho, para a revelação
do seu conteúdo latente. Assim, o analista sabe que a paciente está casada
com um homem doente de idade muito avançada e apaixonada por um
homem rico, belo e relativamente jovem.
A interpretação irá considerar cada um dos elementos do sonho como
símbolos de desejos inconscientes, recalcados:

• Oduzirbeloo homem
chapéu simboliza uma necessidade de ostentação para se-
amado.
• O preço elevado simboliza o desejo de riqueza.
• Odechapéu negro, chapéu de luto, representa simbolicamente a vonta-
de se ver livre do marido, obstáculo à satisfação dos seus desejos.

O conteúdo latente do sonho, o seu significado profundo, foi assim re-


velado: significava um desejo inconfessável e inconsciente porque recalcado
(ver o marido morto).
Os sonhos são, para Freud, a realização ilusória de desejos recalcados.
Para Freud, um ato psíquico (emoções, pensamentos, sentimentos, desejos)
inconsciente, devido à sua dinâmica própria, tende a passar à consciência, a
manifestar-se. Para passar ao estado consciente, é submetido ao exame da
censura. Se esta lhe recusa a passagem, tais representações permanecerão no
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Inconsciente. Significa isso que foram recalcadas. O recalcamento é uma Sonho


força que, mediante um mecanismo chamado censura, mantém fora da cons- O sonho é a realização ilusó-
ria de desejos recalcados.
ciência, impede que venham à superfície as tendências anárquicas, as pulsões
demasiado exigentes provenientes do Inconsciente (este quer a satisfação de Recalcamento
todos os desejos). Processo mediante o qual se
impede o acesso à consciên-
Contudo, o recalcamento não implica uma anulação ou supressão das cia de impulsos indesejáveis.
manifestações do Inconsciente. Os desejos e pulsões inconscientes encon-
tram formas disfarçadas de obter satisfação, ou seja, sem que a consciência o
saiba, dá-se, simbolicamente e de forma encoberta, o “retorno do recalcado”.
As satisfações que não são admissíveis são substituídas por outras: o Incons-
ciente consegue o que deseja (manifestar-se), mas não do modo que deseja-
ria (direta e efetivamente).
O sonho é a realização ilusória (simbólica) de desejos inconscientes
(recalcados). “Expressão noturna das nossas frustrações diurnas”, o sonho só
aparentemente é absurdo, incoerente e inútil. Possui um sentido: os desejos
interditos e recalcados encontram nele uma satisfação velada, desviada, sim-
bólica. Por outro lado, como durante o sono a vigilância da censura enfra-
quece, mais facilmente lhe escapam as representações inconscientes que
povoam os nossos sonhos. Compreende-se assim que, para Freud, o sonho
seja a via real de acesso ao Inconsciente (desnuda-o, revela que este não
segue uma lógica racional e que é constituído por impulsos e desejos amo-
rais e irrealistas).

2.1.3. Os atos falhados


No nosso dia a dia cometemos algumas falhas a que não damos relevo
especial. Contudo, para Freud, não é bem assim. Eis algumas dessas «falhas»:

1. O presidente da Câmara dos Representantes Austríaca teria uma vez


dado início à reunião dizendo: “Senhores, verifico a presença de tan-
tos deputados que, por isso, declaro a sessão encerrada.” Para Freud,
este lapso traduz o desejo inconsciente de se ir embora.
2. Uma mulher autoritária e enérgica, falando do marido, relata as pala-
vras do médico durante a consulta: “O médico disse-lhe que não
havia nenhum regime especial a seguir, ele pode comer e beber o
que eu quiser.”
3. Um homem que declarou “Está um belo sono” em vez de “Está um
belo Sol” manifesta inconscientemente o desejo de dormir.
4. Uma mulher conhecida pela tendência para a tagarelice pediu ao
seu merceeiro um “pacote de leite de longa conversação” em vez de
“longa conservação”.
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5. Freud cita o exemplo de um amigo que escreveu uma carta, mas se


esqueceu de a enviar durante vários dias. Finalmente, enviou-a, mas
os Correios devolveram-na porque não tinha destinatário. Pôs a mo-
rada no envelope e enviou-a de novo. Foi outra vez devolvida porque
não tinha selo. Tais “falhas” exprimem inconscientemente o desejo
de a carta não chegar ao seu destino.
6. Uma jovem prometida em casamento a um homem com o qual anti-
patiza bastante faz tudo o que pode para não dizer o que sente du-
rante o encontro. Mais tarde, interrogada pela mãe (que elogia
sempre o “bom partido”), diz-lhe: “Tens razão, é adorível”. Sem que-
rer, deu a entender que o achava horrível.
7. Uma mulher, querendo saber notícias de uma amiga de longa data,
telefona-lhe e, por erro, chama-a pelo nome de solteira. Descobriu-
-se que detestava o marido da sua amiga.
8. Dizer I leave you em vez de I love you pode desencadear uma tem-
pestade….

Todos nós alguma vez já esquecemos uma palavra ou um nome, tendo,


contudo, a impressão de o ter “na ponta da língua”; já trocámos, ao falar,
uma palavra por outra (lapsus linguae); muitos de nós já escrevemos uma
palavra em vez da que voluntariamente pretendíamos escrever; e a quantas
pessoas já aconteceu saírem com o saco do lixo na mão e passarem pelo
contentor entrando com ele no café?
Desatenções? Patetices? Fadiga? É provável, mas, segundo Freud, muito
pouco provável. Com efeito, para Freud, na vida psíquica, a bem dizer, não há
lugar para o acaso. Estes “atos falhados” que poderíamos julgar insignifican-
tes têm um sentido. Estes “deslizes” quotidianos provêm do recalcamento de
desejos, sentimentos e pensamentos que gostaríamos de lançar e encerrar
nos abismos do Inconsciente. São a forma disfarçada de impulsos de que não
temos consciência, mas que são indesejáveis, se se exprimirem. “O Incons-
ciente manifesta-se incessantemente” e os “atos falhados” são o modo,
por vezes grotesco, mas nunca doentio, de os conteúdos e representações
inconscientes vencerem a barreira da censura. É esta a convicção de Freud,
por mais indemonstrável que nos possa parecer.
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AT I V I D A D E 2
Assinale as afirmações verdadeiras (V) ou falsas (F).
Justifique a sua opção.

1. Para Freud, o nosso comportamento é em grande parte incons-cien-


te.

2. Para Freud, a conduta humana é fundamentalmente determinada


por motivações que escapam ao controlo da consciência, da von-
tade e da razão.

3. A grande revolução freudiana consistiu na descoberta do Incons-


ciente.

4. Os conteúdos psíquicos inconscientes, por serem recalcados – impe-


didos de aceder à consciência –, passam despercebidos e por isso
não exercem influência sobre o nosso comportamento.

5. Todas as manifestações do Inconsciente assumem formas doentias.

6. As nossas representações mentais (pensamentos, desejos, senti-


mentos) residem, numa primeira fase, no Inconsciente. Para pas-
sarem a tornar-se conscientes, são, previamente, submetidas à
prova da censura. Se esta recusa a passagem, as representações ou
atos psíquicos permanecem no Inconsciente. Diz-se então que
foram recalcadas, sofreram um recalcamento, foram impedidas de
aceder à consciência.

7. O recalcamento é uma força inconsciente que, mediante um meca-


nismo chamado censura, exerce um movimento favorável aos impul-
sos do Inconsciente que tendem espontaneamente a manifestar-se.

8. O sonho simboliza, isto é, disfarça, por meio de símbolos, desejos


latentes, muitas vezes inaceitáveis e chocantes, que graças a este
subterfúgio ultrapassam a barreira da censura.

9. O sonho tem um conteúdo manifesto – o seu significado subjacente


que se trata de interpretar ou descodificar – e um conteúdo latente
ou simbólico – os acontecimentos de que se lembra quem sonha. zVer os vídeos do Youtube
sobre o filme Freud, além da
alma:
http://www.youtube.com
/watch?v=o-UuyIXtRi0
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2.2. A estrutura da mente humana segundo Freud


A conceção de Freud sobre a mente resulta de uma evolução. Na pri-
meira descrição do aparelho psíquico, Freud apresenta uma visão topográfica
da mente, distinguindo três regiões: o consciente, o pré-consciente e o
inconsciente.

INSERIR ESQUEMA 2 PARA A UNIDADE 2

A porção de espaço que no icebergue corresponde ao Inconsciente ex-


prime simbolicamente que os nossos comportamentos e processos mentais
são dominados por uma dimensão situada nas profundezas do psiquismo e que
exerce a sua influência sem disso nos apercebermos. A passagem dos impulsos
e desejos inconscientes é controlada – segundo esta primeira versão do apare-
lho psíquico – por um mecanismo denominado censura, que recalca o que pode
perturbar a nossa integridade psíquica e a adaptação ao meio social. Mas a
censura não consegue impedir que as pulsões inconscientes encontrem formas
substitutivas e indiretas de manifestação. A enorme dimensão do Inconsci-
ente significa que só temos consciência de uma pequena parte dos conteú-
dos da nossa mente e que do Inconsciente emanam os processos psíquicos.
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A 2.ª tópica ou descrição apresenta uma visão mais completa (integra


os níveis psíquicos anteriormente apresentados) e descreve de modo mais
adequado a interação dinâmica entre as instâncias psíquicas (agora denomi-
nadas Id, Ego e Superego). Eis uma possível representação gráfica da nova
visão do aparelho psíquico:

INSERIR ESQUEMA 3 PARA A UNIDADE 2

Note-se que, além de níveis psíquicos distintos (consciente, pré-cons-


ciente e inconsciente), a 2.ª tópica apresenta três instâncias psíquicas ou
estruturas (Id, Ego e Superego) que asseguram determinadas funções.
Outro aspeto importante: reforça-se a ideia de que o plano inconscien-
te condiciona decisivamente a vida psíquica, dado que não se reduz o incons-
ciente à dimensão mais profunda da mente. Com efeito, se o Id é totalmente
inconsciente, o Id não é todo o inconsciente.

2.2.1. Id, Ego e Superego


O Id, o Ego e o Superego são as estruturas essenciais da personalidade,
estabelecendo entre si uma relação conflituosa à qual se deve o dinamismo
da vida psíquica.

■ Id: viver segundo o princípio do prazer


A sua atividade é regida por um só princípio: o princípio de prazer.
Procura satisfazer imediatamente os seus impulsos e instintos – obter prazer
ou evitar a dor – desconhecendo as circunstâncias, se a realidade o permite
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z A vida psíquica é, para ou não. Não tendo qualquer conhecimento do que é a realidade, o Id pro-
Freud, dinamizada por um cura satisfazer as suas pulsões (descarregar a tensão, reduzi-la de modo que
conflito de forças que se de- o organismo se sinta confortável). O Id é, em grande parte, animado pelo
senrola em grande parte fora
da perceção consciente do
impulso sexual.
indivíduo. O psiquismo é uma
totalidade dinâmica, apesar
de as suas estruturas compo-
• Éinstintos,
formado por tudo o que herdamos e está presente à nascença:
pulsões, desejos. De entre os instintos destacam-se o
nentes terem diferentes fun-
instinto de vida e o instinto de morte (agressivo e destrutivo). É o
ções e serem regidas por dife-
rentes princípios. Há uma es- reservatório dos impulsos biológicos mais básicos que dinamizam a
treita interação entre o Id, o nossa ação ou dão energia ao comportamento. Freud considera que
Ego e o Superego, raramente
é o reservatório da energia psíquica a que chama libido.
resultando o comportamento
da influência isolada de uma
das estruturas psíquicas. • Équicos
totalmente inconsciente. Contém uma parte dos elementos psí-
recalcados, mas não é todo o inconsciente.
z Assistir aos seguintes • Está totalmente desligado do mundo real, da realidade externa. É
vídeos no Youtube: completamente irrealista, não distinguindo o que é desejável do
1. Freud in que é permitido e possível.
http://www.youtube.com
/watch?v=sl8tQtjO7Jk&f
eature=related • Não atua segundo princípios lógicos e morais. Desconhece o prin-
cípio lógico de não contradição porque nele coabitam, sem se neu-
2. Sigmund Freud – Docu-
mentary in
tralizarem mutuamente, instintos de vida e instintos de morte; é
http://www.youtube.com amoral porque pretende realizar tudo o que lhe agrada sem se preo-
/watch?v=C_AXSd4wxgM cupar com o facto de isso ser bom ou mau.
3. The century of the self in
http://documentary-
log.com/?id=95
■ O Ego: sejamos realistas!

zO Id, o Ego e o Superego O princípio segundo o qual o Ego atua é o princípio de realidade.
são as estruturas essenciais Regulando-se por este princípio, o Ego, que começa a desenvolver-se por volta
da personalidade, estabele- dos 6 meses, adia a satisfação dos impulsos do Id até que o objeto apropria-
cendo entre si uma relação
conflituosa à qual se deve o
do a essa satisfação surja na realidade.
dinamismo da vida psíquica.
O Ego desempenha o papel de executivo e de mediador em relação
Id
Dimensão totalmente incons-
ao Id: decide que instintos e pulsões podem, na realidade, ser satisfeitos e
ciente do psiquismo que, cons- de que modo. O Ego, na verdade, desenvolve-se a partir do Id e existe para
tituída por pulsões inatas satisfazer as necessidades deste e não para as frustrar. Mas é realista: sabe
(agressivas e sexuais) e por
tudo o que vai sendo repri-
ou aprende que nem tudo é possível, que para termos certas coisas temos de
mido, é o grande reservatório renunciar a outras. Não podemos fazer tudo o que queremos. O Id não tem
da energia psíquica, a matriz qualquer relação direta com a realidade, com o mundo exterior. Para entrar
dinâmica do desenvolvimen-
em contacto com a realidade e agir sobre ela, precisa do Ego. Ao mundo fan-
to pessoal.
tasioso e irrealista do Id, o Ego opõe a realidade do mundo externo. O Ego
Ego
Estrutura psíquica que se for- não é inimigo do Id: está, de certa forma (realista), ao seu serviço.
ma por diferenciação a partir
do Id. Mas a diferença não Cumprindo o papel de mediador entre as exigências instintivas do Id e
significa oposição absoluta. as possibilidades que a realidade oferece, o Ego tenta defender-nos contra o
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assalto desenfreado das paixões e impulsos irrealistas do Id. Procura conciliar Regendo-se pelo princípio de
realidade, o Ego está intima-
as divergências que existem entre as pulsões sexuais, agressivas e destru- mente ligado ao Id, procu-
tivas, e os limites que a realidade impõe. Adaptação à realidade, eis o seu rando de forma realista satis-
lema. O princípio de realidade não exclui o princípio de prazer. fazer os impulsos deste. O seu
realismo está ao serviço do
prazer e de necessidades bá-
sicas.
■ O Superego: cumpre o teu dever! Superego
A dimensão moral do nosso
Se o Id é o representante das pulsões e o Ego o da realidade, o Super- funcionamento psíquico que
ego é o representante da moralidade: diz-nos, não o que podemos ou não procura impor ao Id e ao Ego
os princípios e normas mo-
fazer, mas o que devemos ou não devemos fazer. Eis o que há de funda- rais interiorizados através do
mental a dizer sobre o Superego: processo de socialização.
Pressiona o Ego para refrear
• O3-5Superego
anos.
forma-se ou começa a desenvolver-se por volta dos e também reprimir os impul-
sos do Id. Pune as transgres-
sões, desencadeando senti-
• Éeoderesultado da educação que recebemos, do conjunto de punições
recompensas de que fomos alvo. É o representante interno
mentos de culpa e de ansie-
dade que podem ser excessi-
vos e mentalmente esgotan-
dos valores, normas e ideais morais de uma sociedade, transmitidos tes.
essencialmente pela educação dos pais. Estes valores, normas e
ideais – interpretados pelos pais e educadores – são transmitidos à
criança, que os interioriza (processo de introjeção) de tal modo que
se tornam inconscientes (pelo menos o modo como foram interiori-
zados).

• Um Superego demasiado repressivo – fruto de uma educação se-


vera – é uma ameaça ao nosso desenvolvimento saudável, tor-
nando-nos inibidos, complexados, vítimas de sentimentos de
culpa exagerados, etc.

• Ooutros
Superego vigia-nos dentro de nós. Reprime certos atos, favorece
e, em certa medida, é indispensável para uma vida equilibrada
no seio da sociedade.

• O papel do Superego é triplo:


1. Inibir ou refrear os impulsos, sobretudo de natureza sexual e agres-
siva, que, provenientes do Id, podem arrastar o Ego em virtude da
sua forte pressão.
2. Persuadir o Ego a substituir objetivos realistas por objetivos mo-
rais e moralistas.
3. Procurar a perfeição moral (por isso há nele uma tendência para
bloquear a libertação dos instintos).

A vida psíquica desenrola-se sob o signo do conflito intrapsíquico. O


Id centra-se no prazer, na gratificação imediata dos impulsos, e ignora a reali-
dade. O Superego sobrepõe a moralidade à realidade. Entre a força dos impul-
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sos instintivos e as ameaças de punição do representante da moralidade está


o Ego, que Freud, metaforicamente, compara a um “escravo” que tem de agra-
dar a dois senhores em luta um com o outro. Se já era difícil, dados os constran-
gimentos da realidade, encontrar forma de satisfazer as pulsões do Id, o surgi-
mento do Superego (cujo desenvolvimento se conclui com a ultrapassagem
do complexo de Édipo, como veremos) traz problemas acrescidos. Com efeito,
o Superego tende a bloquear permanentemente a gratificação das pulsões.
Neste “colete de forças”, a racionalidade e o equilíbrio do Ego ameaçam des-
moronar-se. Uma vez que surgiu a partir do Id, vai tentar satisfazer os impulsos
deste, mas tendo em conta o que a realidade permite e o que a moralidade
admite.

AS ESTRUTURAS DA MENTE HUMANA


Exemplificação do
Caraterísticas Estatuto seu comportamento
Componente primitiva do nos- É o representante das nossas Necessidade a satisfazer: a
so psiquismo. necessidades e desejos mais fome.
É a sede de forças ou impul- básicos. Imaginemos uma situação
sos irracionais, ilógicos, des- Não conhece outro princípio a em que, esfomeados, quere-
controlados e perigosos. não ser o de prazer: “Satisfaz mos comer, mas não pode-
ID

Totalmente inconsciente. Está os teus desejos”. mos pagar.


desligado da realidade, não O Id dir-nos-ia “Come porque
sabe adaptar-se a ela para tens de comer”, sem pensar
aceitavelmente satisfazer os em possíveis punições nem se
seus impulsos e necessidades. é correto ou incorreto agir
assim.

Começa a desenvolver-se por É o representante do “prag- Dada a mesma necessidade e


volta dos 6 meses. matismo” e do “realismo” na na mesma situação, o Ego dir-
Procura satisfazer as neces- relação com o mundo externo. -nos-ia “Se for possível comer
sidades de uma forma realis- Age segundo o princípio de sem pagar, fá-lo”, ou seja,
EGO

ta e apropriada de modo a realidade: “Façamos o que é “Podes comer sem pagar des-
evitar problemas à nossa possível fazer, tendo em con- de que ninguém repare; caso
integridade psíquica e física. ta as circunstâncias”, ou seja, contrário, faz o que é real-
É racional e tem a noção do “é permitido o que não nos mente aconselhável”.
que é possível fazer de acordo causar problemas”.
com as circunstâncias.

Começa a formar-se por volta É o representante da mora- O Superego dir-nos-ia: “Para


dos 2, 3 anos. lidade. Nele estão interio- satisfazer a fome, deves pa-
SUPEREGO

Enquanto o Ego é “pragmá- rizadas as normas social- gar”, ou seja, “Deves agir cor-
tico” o Superego é tendencial- mente estabelecidas relativa- retamente, não por medo de
mente moralista. mente ao bem e ao mal. castigos e punições, mas por-
Aspira à perfeição moral, Age segundo o princípio do que assim é que deve ser”.
reprimindo, muitas vezes de dever. “Faz o bem ou evita o Roubar é sempre um crime,
forma excessiva, as infrações mal porque assim deve ser.” seja visto ou não.
à moralidade.
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AT I V I D A D E 3
I
Copie as atividades seguintes e preencha
cada um dos espaços em falta:

1. Para Freud, o aparelho psíquico é constituído por três estruturas:


... .

2. O ... é o fundo biológico da personalidade que contém a energia de


instintos básicos como o instinto sexual e impulsos agressivos e des-
trutivos, além de memórias recalcadas. Não tem o sentido da reali-
dade, é amoral e irracional. Procura a satisfação imediata dos seus
impulsos sem ter em conta se é socialmente apropriado. Funciona
de acordo com o princípio ... .

3. O ... é a parte da mente modificada pelo contacto com a realidade


externa. Lida com as limitações e constrangimentos que a realidade
impõe. É o executivo da personalidade porque procura tomar deci-
sões racionais. Funciona de acordo com o princípio ... . Tenta satis-
fazer os impulsos do Id de acordo com o que é realmente possível,
embora não tome decisões segundo princípios ... .

4. O ... é a dimensão moral da personalidade. Tem em consideração


não somente se uma ação é realmente possível, mas sobretudo se é
boa ou má, correta ou incorreta. A sua única e exclusiva preocupa-
ção é saber se os impulsos sexuais e agressivos do ... podem ser
satisfeitos de acordo com as normas morais. Pressiona o ... para
controlar o ... segundo princípios morais que muitas vezes assumem
forma repressiva.

5. O ... estabelece padrões ideais de comportamento e procura de-


senvolver um sentido ... que puna o comportamento incorreto com
sentimentos de culpa. É a interiorização dos valores morais da
sociedade, formando-se sobretudo mediante a interação com os ... ,
que impõem regras e proibições, insistindo com a criança para que
controle os seus impulsos biológicos.

6. Enquanto «executivo da personalidade», o ... procura gerir a energia


psíquica de modo que se produza uma harmonia interna entre ... ,
condição necessária de uma relação saudável com a realidade. Para
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governar sensatamente o nosso psiquismo, o ... tem, de acordo com


a realidade, de frustrar ou de satisfazer os impulsos do ..., ao mesmo
tempo que vigia o ... . Não pode deixar que nenhum destes assuma
uma posição dominante, tarefa hercúlea que exige uma grande
quantidade de energia psíquica. Ora, na personalidade humana, fre-
quentemente o ... controla mais energia do que devia: temos a pes-
soa agressiva, demasiado impulsiva e, em certos aspetos, «primitiva».
E, também com frequência, é o ... que detém energia a mais: temos
então o Ego abafado pelo moralismo, pela intransigência moral,
esmagado pela ideia de culpa.

II
Assinale as afirmações verdadeiras (V) ou falsas (F).
Justifique a sua opção.

1. O Id é um conjunto de pulsões totalmente inconscientes que cons-


titui toda a nossa realidade psíquica.

2. O Ego funciona segundo o princípio do prazer, isto é, um processo


mediante o qual aprendemos a adiar o nosso desejo de satisfação
imediata e adotamos formas mais realistas e apropriadas de alcan-
çar tal objetivo.

3. O Superego pode ser algumas vezes excessivamente moralista e re-


pressivo, mas dá ao indivíduo padrões de comportamento que lhe
permitem regular a sua conduta moral e avaliar os seus pensamen-
tos, sentimentos e ações. É uma espécie de Ego ideal e corresponde
ao que designamos por «consciência» moral, apesar de parcialmente
inconsciente.

4. O Id e o Ego não têm moralidade.

5. O Id é uma estrutura psíquica que resulta da socialização.

6. Numa situação de adultério, o Ego dirá «O que estou a fazer é


moralmente incorreto».

7. Na mesma situação, o Ego dirá «Deves usar uma forma de proteção


contra doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada».
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8. Uma vez formado o Superego, o Ego é confrontado com a tarefa


cada vez mais complexa de conciliar as exigências do Id, do mundo
exterior e do Superego. Por exemplo, quando o Ego de uma criança
tende a satisfazer um impulso do Id batendo num colega para obter
um brinquedo atraente, o Superego pode advertir que tal comporta-
mento é errado. O Ego tem de decidir qual das duas forças (Id ou
Superego) vencerá esta luta interior – conflito intrapsíquico – ou ela-
borar um compromisso, como as crianças brincarem à vez com o
objeto.

9. Para Freud, o comportamento humano tem uma base energética


dominada por impulsos de dois tipos: sexuais e agressivos.

10. O Id, dimensão totalmente inconsciente da personalidade, é o reser-


vatório da energia psíquica que se defronta com obstáculos e restri-
ções de ordem moral e social.

11. Inato, o Id tende imediatamente à autossatisfação, procurando, sem


ter em conta os constrangimentos da realidade, obter o prazer e
evitar a dor.

12. O Ego procura encaminhar os impulsos desenfreados do Id para


uma satisfação que seja uma solução de compromisso entre o que
desejamos e o que realmente podemos obter, dados os obstáculos e
as restrições do meio. Por isso, é a entidade a que o Id se submete
conscientemente.

13. O Ego preocupa-se com duas eventualidades: 1) que o Id fique fora


de controlo e determine comportamentos cujos efeitos podem ser
severamente negativos e 2) que o Superego se descontrole e, tor-
nando-se extremamente moralista, nos faça experimentar senti-
mentos de culpa excessivos acerca de transgressões reais ou
imaginárias.
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Prazer sexual
Toda a sensação agradável
2.3. O desenvolvimento psicossexual
provocada pela estimulação
de uma determinada zona do Baseando-se no estudo de casos de vários pacientes (adultos na esma-
corpo. gadora maioria), psicanalizando-os, Freud convenceu-se de que os problemas
(sintomas) de que sofriam seriam o resultado de experiências traumáticas
z Assistir ao vídeo do vividas nos primeiros anos de existência. Examinando as recordações que eles
Youtube sobre Freud e a tinham de eventos da infância, descobriu as suas motivações inconscientes e
teoria da sexualidade:
http://www.youtube.com
construiu a sua teoria psicossexual do desenvolvimento da personalidade.
/watch?v=dQer8W_rl8A
Segundo Freud, o ser humano desenvolve-se através de cinco estádios.
Cada estádio representa uma complexa interação entre o impulso natural
para a obtenção do prazer (centrado conforme o estádio numa determinada
zona do corpo a que Freud deu o nome de zona erógena) e fatores ambien-
tais que influenciam o modo como lidamos com os desejos sexuais ou eróticos.
Em cada estádio do desenvolvimento, o prazer deriva de uma determinada
zona do corpo, centrando-se nela (zona erógena). O modo como os pais li-
dam com os impulsos sexuais e agressivos dos seus filhos nos primeiros anos
da infância é crucial para um desenvolvimento saudável ou não da personali-
zPara Freud, a sexualidade é dade. A criança deve encontrar um equilíbrio entre a sua necessidade de
prazer e as restrições (ou a permissividade) dos pais. Daqui resulta um
a componente fundamental
da realização do ser humano. conflito, uma luta interna. Em cada estádio do desenvolvimento, o indivíduo
O impulso sexual e a procura vive o conflito entre os seus impulsos biológicos e as expetativas sociais
do prazer erótico determinam
de forma poderosa o desen- (de que os pais são os agentes transmissores e representantes). Freud usa o
volvimento afetivo do ser termo psicossexual para se referir ao modo como a vivência dos nossos
humano. Mas a sexualidade impulsos sexuais no confronto com o meio envolvente tem impacto psico-
não é exclusivamente sinó-
nimo de ato sexual: sexua-
lógico no tipo de pessoas que viremos a ser. Como todos vivemos em cir-
lidade é toda a atividade cunstâncias ambientais diversos, temos ambientes familiares diferentes e
corporal que, centrando-se respondemos de modo diferente às experiências socializadoras, daí resul-
em diferentes zonas eróge-
tarão diferenças entre os indivíduos quanto ao seu modo de ser.
nas, em diferentes momen-
tos, tende para o prazer, a
autossatisfação. Segundo O que é um desenvolvimento afetivo ou psicossexual relati-
Freud, o prazer sexual não se vamente saudável?
reduz ao prazer genital. Se-
xualidade não é sinónimo de Em cada estádio do desenvolvimento, há sempre um certo grau de
genitalidade. Assim, pode fa-
frustração e de ansiedade quando se trata de passar ao estádio seguinte. Se
lar-se de sexualidade infantil.
O que entende Freud por houver ansiedade excessiva, o desenvolvimento é perturbado, verificando-se
satisfação sexual ou erótica? uma fixação do indivíduo nesse estádio. A fixação é uma cessação parcial do
Toda a sensação agradável desenvolvimento que se traduz na persistência de comportamentos que são
cuja fonte é um determinado
órgão ou região corporal. A caraterísticos do estádio do desenvolvimento no qual ocorreu.
sexualidade não se reduz
nem à manipulação nem ao A fixação é uma ligação extremamente forte a uma pessoa, a um
contacto genital. As pulsões objeto ou a uma atividade, que era apropriada somente nos primeiros
sexuais centram-se, desde o estádios do desenvolvimento. Diz-se de uma pessoa que contraiu uma fixa-
nascimento, em diversos ór-
gãos do corpo e satisfazem- ção quando parou num dado estádio do desenvolvimento. A fixação num
-se de modos muito distintos. dado estádio do desenvolvimento não impede todo o posterior desenvolvi-
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mento, mas, a menos que um ser humano ultrapasse cada estádio de forma
bem sucedida, não poderá cumprir plenamente o que é exigido pelos estádios
posteriores. Por exemplo, uma criança que não passe de forma bem sucedida
pelo estádio fálico provavelmente não resolveu o complexo de Édipo e pode
sentir hostilidade a respeito de um dos progenitores (o do mesmo sexo). A
criança poderá ao longo da vida sofrer as consequências deste conflito não
resolvido (ou mal resolvido).

As fixações ocorrem habitualmente devido a excessiva frustração ou


excessiva satisfação na expressão da energia sexual e agressiva num dado
estádio do desenvolvimento psicossexual. Segundo Freud, uma personali-
dade bem ajustada implica geralmente um equilíbrio entre forças em compe-
tição. A criança, e mais tarde o adulto, não devem ser demasiado egocêntricos
(egoístas) nem demasiado moralistas. Pais que são muito autoritários, casti-
gadores ou controladores e pais que são indiferentes, demasiado permissivos
e indulgentes na educação dos filhos terão crianças emocionalmente pertur-
badas, com dificuldades de adaptação à vida por causa das fixações.

Por exemplo, a criança excessivamente dependente que se fixou num


determinado estádio pode tornar-se demasiado dependente mais tarde na
vida, quando confrontada com experiências frustrantes ou desafios difíceis
de resolver. Significa isso que regressou a um ponto de fixação.

É importante salientar que fixação e regressão são condições relativas. zPode definir-se desenvol-
Num indivíduo, a fixação e a regressão raramente são completas, absolutas. vimento como o conjunto de
transformações quantitativas
Habitualmente, a maior parte dos aspetos da personalidade de um indivíduo e qualitativas que desde o
desenvolver-se-á normalmente, mas o seu comportamento pode, em certos momento da conceção e ao
longo de toda a vida marcam
pontos, ser caraterizado por atos infantis, acriançados, efeitos de certas fixa-
a existência de um indivíduo.
ções anteriores. As modificações quantitati-
vas manifestam-se sobretudo
no plano físico (altura, peso,
etc.) e fisiológico, mas tam-
bém podem referir-se ao au-
2.3.1. Os estádios do desenvolvimento mento do número de com-
petências e de habilidades.
psicossexual As mudanças qualitativas são
São cinco os estádios do desenvolvimento psicossexual: estádios oral, alterações psicológicas como,
por exemplo, a evolução das
anal, fálico, de latência e genital. aptidões intelectuais e as alte-
rações no modo como nos
relacionamos com os outros
■ O estádio oral (do nascimento aos 12/18 meses) e com o que nos acontece.
No princípio, era a boca. Durante os primeiros meses de vida, grande
parte da interação da criança com o mundo externo processa-se mediante a Estádio oral
boca e os lábios. O prazer centra-se nessa área. A relação com a mãe assume Fase inicial do desenvolvi-
mento psicossexual carate-
especial significado, estabelecendo-se essencialmente através do seio mater- rizada por atividades que se
no, que não simplesmente alimenta, mas também dá prazer. centram no prazer oral.
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É levando os objetos à boca que o bebé explora o meio envolvente. A


sucção, necessária à alimentação, emancipa-se progressivamente dessa função,
tornando-se por si mesma uma fonte de prazer, de gratificação erótica. Com
a dentição, a atividade oral diversifica-se: morder e mastigar enriquecem a
panóplia de formas de exploração oral – agora mais agressiva – dos objetos.
As atividades orais são também fonte de potenciais conflitos. O con-
flito mais significativo deste estádio tem a ver com o processo do desmame.
Uma excessiva frustração das pulsões ou dos impulsos erógenos ou um
excesso de satisfação desses mesmos impulsos podem conduzir a um resul-
tado semelhante: a fixação. Por fixação no estádio oral entenda-se ficar psi-
cologicamente preso a formas de obtenção do prazer que se centram na boca,
nos lábios e na língua.

Marcas da vivência do estádio oral


na personalidade adulta
Se uma pessoa enquanto bebé foi desmamada ou demasiado cedo ou
muito tarde, desenvolverá uma fixação no estádio oral e posteriormente na
vida sentirá a necessidade de atividades que consistem, simbólica e real-
mente, em obter gratificação oral: fumar, beber e comer muito, roer as
Pulsão unhas, consumir frequentemente pastilhas elásticas, bombons, passar horas
Força ou energia que se ex- a conversar ao telefone. Uma pessoa profundamente marcada pela fase oral
prime procurando a redução do seu desenvolvimento – lembremos que é um período de grande depen-
de tensões. As pulsões são
forças, impulsos que, nascen- dência em relação a quem cuida de nós e em que prevalece a incorporação
do no organismo, provocam de objetos (alimentos, chuchas) – poderá apresentar, quando adulta, carate-
certos comportamentos. Es- rísticas como a credulidade (‘engolir’ tudo o que lhe dizem), mas também
tão na fronteira entre o somá-
tico e o psíquico.
humor sarcástico, ‘má-língua’, grande capacidade de argumentação ou obsti-
nação na defesa das suas ideias, espírito crítico (disposição para ‘morder e
Libido triturar’ as ideias dos outros) e, por outro lado, passividade e dependência.
A energia – de natureza se-
xual e agressiva – que carate- Neste estádio, o Id reina durante muito tempo quase sem oposição,
riza as pulsões. mas o Ego já está em desenvolvimento.

E S TÁ D I O O R A L
ZONA EXPERIÊNCIA CARATERÍSTICAS ADULTAS
IDADE ERÓGENA OU CONFLITO ASSOCIADAS A PROBLEMAS
DECISIVO E A FIXAÇÕES NESTE ESTÁDIO

• Tendência exagerada para


atividades de satisfação
Do oral (comer, beber, fumar,
nascimento Boca, beijar).
aos lábios Desmame • Credulidade.
12/18 e língua • Agressividade verbal.
meses • Gosto pela discussão.
• Passividade.
• Dependência.
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■ O estádio anal (dos 12/18 meses aos 3 anos) Estádio anal


Fase do desenvolvimento em
A partir do primeiro ano de vida, a principal fonte de prazer erótico que o prazer erótico deriva da
passa a ser o ânus, embora a estimulação oral continue a dar prazer. Du- estimulação do ânus ao reter
e expelir as fezes. Trata-se
rante este período do desenvolvimento psicossexual, o prazer sexual deriva ainda de uma forma de sexua-
da estimulação do ânus ao reter e expelir as fezes. lidade autoerótica, centrada
em determinada zona do
A experiência marcante no estádio anal consiste em aprender a corpo do sujeito.
controlar os músculos envolvidos na evacuação. A criança terá de apren-
der que não pode aliviar-se onde e quando quer, que há momentos e lu-
gares apropriados para tal efeito. Pela primeira vez, de forma sistemática,
constrangimentos externos limitam e adiam a satisfação dos impulsos inter-
nos. O princípio de realidade conjuga-se com o princípio de prazer. A neces-
sidade de adquirir hábitos higiénicos e de controlar as pulsões do Id mostra
que o Ego (começou a desenvolver-se a partir dos 6 meses) já se formou. O
confronto com as imposições paternas, o medo de ser punido e o desejo de
agradar aos pais mostram que o Superego está a formar-se.

Marcas da vivência do estádio anal


na personalidade adulta
Se a educação do asseio, isto é, se a regulação dos impulsos biológicos Fixação
da criança, é demasiado exigente e severa, esta pode reagir aos métodos re- Resposta psicológica que se
dá porque as necessidades
pressivos retendo as fezes. Se este modo de reagir for simbolicamente ge- caraterísticas de um certo
neralizado a outros comportamentos, a criança desenvolverá, segundo Freud, estádio do desenvolvimento
foram ou excessiva ou insufi-
um carácter anal-retentivo. Em termos psicológicos, esta fixação pode dar
cientemente satisfeitas.
origem a um indivíduo caraterizado pela teimosia, mania da pontualidade,
avareza, egoísmo, e pela obsessão com a ordem e a limpeza. É importante
notar que, se for a mãe – como é ainda frequente – a “treinar” de forma se-
vera a criança para ser asseada, podem produzir-se sentimentos latentes de
hostilidade em relação à “treinadora”. Eventualmente, a generalização dessa
hostilidade pode tornar conflituosa e difícil a relação posterior com o género
feminino.

Mas a criança pode reagir às excessivas exigências de higiene e limpeza


de outra forma: em vez de reter as fezes e de infligir sofrimento a si própria,
revolta-se contra a dureza e repressão do treino, expelindo-as nos momentos
menos apropriados. Freud fala, neste caso, por generalização simbólica, de
caráter expulsivo-anal.

O caráter expulsivo-anal é o protótipo de todos os traços expulsivos da


personalidade: crueldade, assomos de fúria, irritabilidade, sadismo, tendên-
cias violentas e destrutivas e também desorganização, para mencionar ape-
nas alguns.
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Contudo, se o treino da criança não assumir aspetos repressivos, se os


pais adotarem uma estratégia firme mas suave, aplaudindo, por vezes de uma
forma calorosa e entusiástica, o controlo apropriado das funções excretoras,
a criança formará a noção de que a defecação é uma atividade importante,
digna de apreço. Por estranho que isso nos possa parecer, esta ideia é, segun-
do Freud, e mais uma vez em termos simbólicos, a base da criatividade e da
produtividade, da entrega positiva a uma causa e da generosidade.

E S TÁ D I O A N A L
ZONA EXPERIÊNCIA CARATERÍSTICAS ADULTAS
IDADE ERÓGENA OU CONFLITO ASSOCIADAS A PROBLEMAS
DECISIVO E A FIXAÇÕES NESTE ESTÁDIO

• Tendência para a avareza,


meticulosidade, obstina-
ção excessiva, preocupação
Dos Aprender com a ordem e a limpeza
12/18 a controlar (caráter retentivo-anal).
meses Ânus as funções
aos orgânicas • Tendência para a crueldade,
de evacuação sadismo, violência e destru-
3 anos
tividade, rebeldia e desor-
ganização (caráter expul-
sivo-anal).

Estádio fálico ■ O estádio fálico (dos 3 anos aos 6 anos)


Fase do desenvolvimento Durante o estádio fálico, os órgãos genitais tornam-se o centro da
afetivo em que se vive a pri-
meira experiência sentimen- atividade erótica da criança através da autoestimulação. É o período em
tal significativa. O rapaz que muitas crianças começam a masturbar-se, a aperceber-se das diferen-
compete com o pai pelo amor
da mãe e a rapariga compete
ças anatómicas entre os sexos e de que a sexualidade faz parte das rela-
com a mãe pelo amor do pai. ções entre as pessoas.
É de tal modo importante
esta experiência que o está- Vimos que, nos dois primeiros estádios (oral e genital), a satisfação
dio fálico poderia denomi-
nar-se estádio do complexo
sexual era essencialmente autoerótica, centrada na autoestimulação de
de Édipo/Eletra. determinadas zonas do corpo. No estádio fálico, numa primeira fase, a sexua-
lidade da criança é ainda de natureza autoerótica.

Dedicando bastante tempo a examinar o seu aparelho genital, as crian-


ças manifestam uma curiosidade extrema por questões sexuais, apesar dessa
curiosidade ultrapassar a sua capacidade de compreensão. Não tendo uma noção
clara da ligação entre os órgãos genitais e a função reprodutiva, elaboram fan-
tasias e crenças acerca do ato sexual e do processo de nascimento que são
completamente desadequadas. Assim, podem pensar que uma mulher engra-
vida porque comeu o seu bebé e que o nascimento consiste em expeli-lo pela
boca. O ato sexual é frequentemente considerado um ato agressivo.
PSI_12_aluno (U2_T1_cap_1.2):projFILOS_10 12/09/24 12:20 Page 37

Os prazeres da masturbação e as fantasias da criança na sua atividade Complexo


autoerótica constituem a base para uma importante mudança de direção da de Édipo/Eletra
Conjunto de inclinações e
libido, dos impulsos libidinais. Segundo Freud, a criança, a partir de deter- impulsos que se caraterizam
minada altura, desenvolve uma forte atração sexual pelo progenitor do sexo pela rejeição inconsciente do
oposto e sentimentos agressivos e de hostilidade em relação ao progenitor do progenitor do mesmo sexo e
pela vontade de ser o único
mesmo sexo. É, no plano da fantasia e a nível inconsciente, a primeira
objeto do amor e afeto do
experiência de amor heterossexual. No caso dos rapazes, o desejo de afas- progenitor do sexo oposto.
tar o pai e de ficar com a mãe só para si é um conflito inconsciente denomi-
nado complexo de Édipo. A descoberta do complexo de Édipo era, para Freud,
uma das grandes inovações da psicanálise. A denominação inspira-se na tra-
gédia grega Rei Édipo, de Sófocles, na qual Édipo, abandonado à nascença,
mata, sem o saber, o pai e casa com a mãe.
O complexo de Édipo manifesta-se em vários comportamentos do rapaz:
intrometer-se, agarrando-se às pernas da mãe, quando ela e o pai se abraçam;
recusar que o pai se ofereça para brincar com ele e preferir a mãe; querer que
seja esta e não o pai a dar-lhe de comer; dizer que vai casar com a mãe
quando for crescido ou desenhar os elementos do agregado familiar, à exce-
ção do pai.
Para Freud, todos os rapazes (considerava que o complexo de Édipo era
universal) desejam, inconscientemente, matar os seus pais e possuir as suas
mães. Note-se bem que o rapaz não tem consciência, não se apercebe desse
desejo incestuoso. Sendo inaceitável e intolerável, o seu acesso à consciência
é bloqueado. Contudo, como já sabemos, permanecerá no inconsciente e não
deixará de fazer sentir os seus efeitos, provocando considerável ansiedade e
desconforto psíquico. Para o rapaz, o pai é um rival que gostaria de afastar ou
de ver desaparecer. Esse desejo pode provocar sentimentos de culpa muito
fortes. Por outro lado, a criança sente que, a nível inconsciente também, que-
rer tomar o lugar do pai pode enfurecê-lo. A hostilidade associa-se ao medo.
Medo de quê?
O rapaz receia, tem pavor de que o pai castigue o seu desejo sexual pela
mãe retaliando de forma severa. E que forma mais severa do que cortar o mal
pela raiz? O rapaz teme que o pai o castre, eliminando assim a base ou a fonte
dos seus impulsos. Ao temor inconsciente de perder os órgãos genitais
deu Freud o nome de “ansiedade de castração” ou “complexo de castra-
ção”. Esta fantasia da criança tem, de acordo com Freud, efeitos positivos:
dá-se o recalcamento do desejo sexual incestuoso e forma-se um mecanismo
de defesa chamado identificação. O rapaz irá imitar e interiorizar as atitudes
e comportamentos do pai. Ser como o pai fará com que este pareça menos
ameaçador. Identificando-se com o pai (com os aspetos desejáveis do pai), o
rapaz transforma os seus perigosos impulsos eróticos em afeto inofensivo
pela mãe, ao mesmo tempo que, de uma forma indireta, satisfaz os seus
impulsos sexuais a respeito da mãe. Na verdade, a identificação com o pai
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tem subjacente uma limitação fundamental (só o pai pode ter relações
sexuais com a mãe), embora, de forma simplesmente simbólica, permita ao
rapaz, através do pai, ter acesso à mãe (quanto mais se parecer com ele mais
facilmente se pode imaginar, inconscientemente, no lugar do pai).

A TRAGÉDIA DE ÉDIPO

Édipo era filho de Laio e de Jocasta, soberanos de Tebas. Nascera sob o signo da
maldição de Pélope, a quem Laio, arrastado por amores libidinosos, raptara o filho
Crisipo, fugindo com ele quando o adestrava nas corridas de carros. Ultrajado na sua
dignidade e ferido nos seus sentimentos de pai, Pélope proferiu contra o ingrato hós-
pede terrível imprecação: «Laio, Laio, oxalá que nunca tenhas um filho; ou, se chegares
a tê-lo, que venhas a perecer às suas mãos!».
Esta súplica foi atendida. Quando Laio consultou o oráculo de Delfos, Apolo res-
pondeu-lhe: «Dar-te-ei um filho, mas está decretado que hás de perecer às mãos
dele… Assim o determinou Zeus, filho de Crono, atendendo às terríveis maldições de
Pélope, cujo filho raptaste; foi ele quem pediu para ti todos estes castigos».
Para fugir a tão funesta predição, Laio e Jocasta decidiram desfazer-se da criança ao
nascer. Ligaram-lhe os pés e entregaram-na a um dos seus pastores, para que a expu-
sesse no monte Citéron, onde as feras a devorariam. O pastor, condoído do menino,
que recebeu o nome de Édipo (= dos pés inchados), deu-o a outro pastor de Corinto,
para que o criasse como filho. Os reis de Corinto, Pólibo e Mérope, que não tinham fi-
lhos, adotaram a criança.
Certo dia, num banquete, um conviva negou que Édipo fosse filho verdadeiro dos reis
de Corinto. Correu Édipo a Delfos, para consultar o oráculo de Apolo sobre a sua ori-
gem. Soube ali estar-lhe reservado o mais horrível destino: matar o pai e casar com a mãe.
Aterrado, Édipo já não regressou a Corinto. No caminho de Dáulis, cruzou-se com
outro cavaleiro, com o qual, por motivo de precedência, se travou de razões, acabando
por derribá-lo da sege e matá-lo em legítima defesa. Sem saber que matava seu pai Laio!
Prosseguiu viagem, rumo a Tebas, que ao tempo era devastada por um monstro
horrível, cabeça e rosto de donzela, corpo, patas e cauda de leão: era a temível Esfinge.
Enviado por Zeus à terra, para castigo dos tebanos, o monstro divertia-se a propor
enigmas aos transeuntes. Quem não soubesse decifrá-los, pagava com a vida a igno-
rância inculpável.
Já havia sido oferecida a mão da rainha viúva de Laio, Jocasta, a quem resolvesse os
problemas da Esfinge. Édipo apresentou-se ao monstro, que lhe propôs esta adivinha:
«Qual é o ser que anda com quatro pés, com três e com dois, e quanto mais são os pés
em que se apoia, mais devagar caminha?». Édipo, afoito, respondeu-lhe sem hesitação:
«Ouve, ainda que não te agrade a minha voz e a tua perdição, cantora malfadada! Esse
ser é o homem: quando criança, apoia-se sobre as quatro extremidades; quando velho,
procura um terceiro pé – o bastão – a que se arrima, vergado ao peso dos anos!».
A esfinge, vencida, precipitou-se no abismo e Tebas respirou, livre do horrendo tri-
buto de vidas humanas que lhe vinha pagando.
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Em prémio de tal proeza, Édipo consorciou-se com Jocasta e instalou-se no trono


de Tebas. Sem saber, casara com sua mãe!
Já reinava há muitos anos, com descendência de quatro filhos de Jocasta (Polinices
e Etéocles, Antígona e Ismena), quando a peste começou a grassar em Tebas. Morriam
os animais, abortavam as mulheres e definhavam os frutos da terra.
Édipo, compadecido das desgraças que dizimavam o seu povo, procura por todos
os meios acudir-lhe, indagando a causa do mal. Envia Creonte, seu cunhado, ao san-
tuário de Delfos, a consultar o oráculo sobre a causa de tamanha calamidade.
Respondeu Apolo que o causador da peste era o assassino de Laio, que vivia no
reino. Era preciso matá-lo ou expulsá-lo de Tebas.
Propõe-se Édipo descobrir o criminoso e promete vingar pelas suas próprias mãos
a morte de Laio.
Depois de várias peripécias e terríveis suspeitas, Édipo acaba por convencer-se de
que ele próprio é o autor da morte de Laio, seu verdadeiro pai, e de que Jocasta, a
mulher com quem casara, é a sua mãe. Sendo a verdade evidente, Édipo, destroçado e
dilacerado pelo desespero, encontra o corpo morto de Jocasta, que acabara de se
enforcar no interior do palácio real. Édipo, por sua vez, arranca os olhos, desejando
desaparecer e morrer.»
António Freire, O Teatro Grego (adaptado)

A limitação referida é interiorizada sob a forma de tabu do incesto, A “Inveja do útero”


para cuja formação contribuem o sentimento inconsciente de culpa desen- Na rapariga, em crise edi-pia-
na, a “inveja do pénis” é o
volvida pelo Superego e as restrições sociais. Freud sublinha que a repressão reverso da “ansiedade de cas-
do complexo de Édipo ou, mais propriamente, a sua ultrapassagem marca a tração” no rapaz. Karen Hor-
etapa final do desenvolvimento do Superego. Este será o herdeiro do com- ney, de formação psicanalítica,
irá, em meados do século XX,
plexo de Édipo e a instância que se ergue contra o incesto e a agressividade. considerar arbitrária a con-
ceção freudiana. Para Horney,
No caso da rapariga, verifica-se uma crise psicossexual semelhante, o que as mulheres invejam
mas o objeto do desejo é o pai e não a mãe. Se, no caso do rapaz, a mãe nos homens não é o pénis,
era objeto de afeto que se transformou em objeto de desejo sexual, no mas a sua posição social.
Além disso, os homens têm
caso da rapariga, o objeto original do afeto é substituído por outro, o pai, inveja da capacidade de as
que se deseja agora possuir. mulheres darem à luz. É a
chamada “inveja do útero”
Na perspetiva de Freud, a mudança ocorre porque, desapontada por (womb-envy).
verificar não possuir o mesmo órgão sexual que os rapazes, a rapariga sente-
-se “castrada” e responsabiliza a mãe por essa sua condição. Freud definiu este
sentimento inconsciente como “inveja do pénis”. Nas palavras de Freud, “a
rapariga censura a mãe por a trazer ao mundo tão insuficientemente equi-
pada”. O desprezo e o ressentimento marcarão a relação com a mãe nesta
fase. A rapariga transfere o seu amor para o pai – tem o órgão que ela deseja
partilhar com ele –, aspirando a ocupar o lugar da mãe. É a versão feminina
do complexo de Édipo – versão denominada complexo de Eletra.
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Tal como nos rapazes, a forma de resolver o conflito emocional con-


siste na identificação com o progenitor do mesmo sexo. Procurando parecer-se
cada vez mais com a mãe, a rapariga possui, simbólica e indiretamente, o pai.
Contudo, para Freud, a resolução do conflito, no caso das raparigas, é
mais complicada e menos bem sucedida: o complexo de Eletra, apesar de
sofrer algumas modificações no confronto com as barreiras que a moral e
a realidade erguem, tende a persistir em muitas mulheres. Porquê? Se-
gundo Freud, porque a sociedade em geral reprime com menos severidade
(do que no caso dos rapazes) a persistência dos sentimentos de posse em
relação ao pai. Além disso, a “inveja do pénis” e o sentimento de inferioridade
a ela ligado dificultam seriamente a identificação plena com a mãe. Este é,
sem dúvida, um dos aspetos mais polémicos – porventura o mais polémico –
da teoria psicossexual de Freud. O criador da psicanálise afirmava que,
durante o seu desenvolvimento psicossexual, as raparigas viviam uma experi-
ência traumatizante de implicações duráveis: a descoberta de que não tinham
pénis. Por essa sensação de castração e de incompletude censuram as mães
e desenvolvem a “inveja do pénis”, sentimento que, no entender de Freud,
motivará, direta ou simbolicamente, grande parte do seu comportamento
futuro. Apresenta como exemplos de “tentativa de recuperação simbólica” do
que julgam ter perdido a incorporação do órgão masculino na relação sexual,
o desejo de dar à luz crianças do sexo masculino e, muito provavelmente,
diria que a tentativa de aceder a posições de destaque no mundo laboral tra-
duz o desejo inconsciente de compensar uma inferioridade orgânica.

A TRAGÉDIA DE ELETRA
Eletra, princesa de Micenas, é filha de Agaménon e Clitemnestra, sendo irmã de
Orestes e Ifigénia. A rainha, sua mãe, atormentada pelo sacrifício de Ifigénia, une-se ao
sobrinho do esposo. Esse príncipe, Egisto, fora perseguido por Agaménon e privado dos
seus direitos. Retornando a Micenas durante a guerra de Troia, une-se à rainha, com quem
tem um filho, Aletes. Os dois amantes aguardam o retorno do rei para consumar a vin-
gança. Após o assassinato do pai por Egisto e Clitemnestra, Eletra é poupada pela mãe.
Mas consome-se pela perda do pai, Agaménon, a quem adorava. Pedia aos deuses que
lhe enviassem um meio de vingar a sua morte. As suas preces serão atendidas por seu
irmão Orestes, a quem salvara da morte em criança. Prevendo o que viria com a volta de
Egisto, confiou-o em segredo a um velho precetor, que o levou para longe de Micenas.
Por tudo isto, era tratada no palácio como escrava. Temendo que a enteada tivesse um
filho que um dia pudesse vingar a morte de Agaménon, Egisto fê-la casar-se com um
pobre camponês. O marido, todavia, respeitou-lhe a virgindade. Mas é chegado o dia do
retorno de Orestes. A jovem princesa o guiará até aos assassinos do seu pai. Quando,
após a morte de Egisto e Clitemnestra, Orestes foi envolvido e "enlouquecido" pelas Erí-
nias, ela colocou-se a seu lado e cuidou do irmão até ao julgamento final no Areópago
de Atenas. Depois de ser absolvido pelo voto de Atena, Orestes e Pílades, seu amigo,
partem para Táurida em busca de uma estátua de Ártemis. Lá encontrarão Ifigénia como
sacerdotisa de Ártemis. Retornam todos a Micenas e, após as núpcias de Orestes com
Hermíone, Eletra casa-se com Pílades.
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Qual a consequência de fixações durante o estádio fálico?


O que implica não ser bem sucedido/a na resolução do
complexo de Édipo/Eletra?
Fixações que se desenvolvem durante o estádio fálico podem originar
personalidades que, de facto, continuarão a debater-se com crises ou conflitos
de tipo edipiano. Os homens procurarão, de forma obsessiva, mostrar que não
foram ‘castrados’, seduzindo tantas mulheres quantas possível, sendo pais de
muitos filhos ou, como afirmação simbólica de masculinidade, alcançando
grande sucesso na carreira profissional. Mas podem também falhar na sua
vida sexual e profissional em virtude de sentimentos de culpa (recalcados)
por terem competido com o pai pelo amor da mãe. Podem também procurar
em cada mulher com quem se relacionam uma imagem da mãe, o que, como
se sabe, pode perturbar significativamente o futuro da relação. Acontecem
casos de fixação extrema na figura da mãe: é o caso real, apesar de bizarro, de
dois irmãos que, apesar de casados e com filhos, dormem várias vezes por
semana em casa da mãe.
No caso das mulheres, a continuação dos conflitos de tipo edipiano ex-
prime-se numa forma particular de relação com os homens: um estilo parti-
cularmente sedutor, mas ao qual subjaz a negação de qualquer contacto se-
xual (sedução – retraimento). Este tipo de comportamento tem como modelo
a atração original pelo pai (houve atração e repressão ou recalcamento do
desejo). Este padrão comportamental é transferido para interações afetivas
posteriores. É o comportamento típico da mulher que atrai os homens e os
seduz, mas depois fica surpreendida por estes pretenderem relações sexuais
com ela. Uma fixação extrema na figura paterna e a persistência do ódio pela
mãe pode, segundo alguns psicanalistas, estar na origem de casos de anorexia.
Adorando o pai e detestando a mãe, a jovem adolescente pode inconsciente-
mente querer ser como o pai e rejeitar a morfologia feminina que apresenta
(como se sabe, a extrema magreza das anoréticas em geral traduz-se na perda
das formas femininas e num corpo mais próximo do masculino do que do
feminino). O homem ideal é também desejado à imagem do pai, complicando
as relações afetivas.

E S TÁ D I O FÁ L I C O
ZONA EXPERIÊNCIA CARATERÍSTICAS ADULTAS
IDADE ERÓGENA OU CONFLITO ASSOCIADAS A PROBLEMAS
DECISIVO E A FIXAÇÕES NESTE ESTÁDIO

• Falta de maturidade no
plano afetivo.
Dos • Dificuldades no plano do
Complexo
3 anos Órgãos relacionamento sexual.
de Édipo/
aos genitais
/Eletra • Personalidade bipolar: pro-
5/6 anos miscuidade-castidade;
sedução-recusa.
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Estádio de latência ■ O estádio de latência (dos 6 aos 11 anos)


Período de acalmia relativa
das pulsões sexuais sublima- O estádio de latência é o período da vida dos 6 aos 11 anos mar-
das e convertidas em desejo cado por um acontecimento significativo: a entrada na escola e a conse-
de conhecimento, de com-
petência intelectual e física e quente ampliação do mundo social da criança. Recalcadas no inconsciente,
de reconhecimento social. as conturbadas experiências emocionais do estádio fálico, estas não a pare-
Nenhuma fixação ocorre cem perturbar. É como se não tivessem acontecido. Esta amnésia infantil
neste estádio.
liberta a criança da pressão dos impulsos sexuais. A curiosidade da criança cen-
tra-se agora no mundo físico e social e não no seu corpo. A energia libidinal é,
a bem dizer, sublimada, isto é, convertida em interesse intelectual e canalizada
para as atividades escolares, as práticas desportivas, jogos e brincadeiras.
Normalmente, o grupo de pares é constituído por crianças do mesmo sexo,
uma escolha que reforça a identidade sexual da criança. A ultrapassagem
bem sucedida deste estádio é possível se a criança, agora mais independente
dos pais no plano afetivo, desenvolver um certo grau de competência nas
atividades que a atraem e naquelas que lhe são socialmente impostas.
Vários intérpretes de Freud consideram que o estádio de latência é mais
uma pausa do que um período do desenvolvimento psicossexual (não há ne-
nhuma área específica do corpo que possa ser destacada como zona erógena
e nenhum conflito psicossexual). Outras interpretações sugerem que nesta
fase, sobre a qual Freud pouco disse, as crianças aprendem a esconder a sua
sexualidade do olhar desaprovador dos adultos. Seja como for, a relativa
emancipação em relação ao universo familiar prepara o caminho para que o
afeto e a atração sexual assumam uma forma adulta.
No final deste estádio, o aparelho psíquico está completamente formado

Estádio genital ■ O estádio genital (após a puberdade)


Fase do desenvolvimento em
que se deve liquidar o com- Na adolescência, em virtude da maturação do aparelho genital e da
plexo de Édipo para que uma
produção de hormonas sexuais, renascem ou reativam-se os impulsos
sexualidade equilibrada e
uma vida psíquica saudável sexuais e agressivos. Em estádios anteriores, o indivíduo obtinha satisfação ou
possam construir-se. É o gratificação erótica mediante a estimulação e manipulação de determinadas
ponto de chegada de uma
zonas do seu próprio corpo. Embora no estádio fálico a sexualidade autoeró-
longa viagem, desde a sexua-
lidade autoerótica à sexuali- tica comece a ser superada, esta ainda não está orientada de uma forma rea-
dade realisticamente orien- lista e socialmente aprovada. Manifesta-se para ser reprimida. Além disso,
tada, caraterística do indiví- tudo se passa na imaginação fantasista da criança.
duo socializado.
O estádio genital é um período em que conflitos de estádios anterio-
res podem ser revividos. Freud dá importância especial à reativação do
complexo de Édipo e à sua liquidação. A passagem da sexualidade infantil
à sexualidade madura exige que as escolhas sexuais se façam, de forma
realista e segundo a norma cultural, fora do universo familiar, sendo os
pais suprimidos enquanto objetos da libido ou do impulso sexual.
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Se os conflitos caraterísticos de estádios anteriores do desenvolvi-


mento forem resolvidos de forma satisfatória, o indivíduo entra no último
estádio psicossexual com a libido organizada em torno dos órgãos genitais e
assim permanecerá toda a vida. A qualidade da gratificação sexual durante o
estádio genital difere significativamente da de estádios anteriores. Na verda-
de, os primeiros afetos e ligações infantis eram essencialmente narcisistas: a
criança estava unicamente interessada no seu próprio prazer erótico. No es-
tádio genital – que estabelece a fusão e integração dos impulsos pré-geni-
tais –, desenvolve-se o desejo pela gratificação sexual mútua, a capacidade
de amar e de partilhar o prazer. Segundo Freud, o estádio genital é o ponto
de chegada de uma longa viagem, desde a sexualidade autoerótica à
sexualidade realisticamente orientada, caraterística do indivíduo sociali-
zado.

E S TÁ D I O G E N I TA L
ZONA EXPERIÊNCIA CARATERÍSTICAS ADULTAS
IDADE ERÓGENA OU CONFLITO ASSOCIADAS A PROBLEMAS
DECISIVO E A FIXAÇÕES NESTE ESTÁDIO

• Ultrapassagem da sexuali-
dade autoerótica.
• Capacidade de sublimação
Gratificação dos impulsos do Id.
Depois
Órgãos sexual
da • Satisfação do desejo sexual
genitais na interação
puberdade de forma socialmente acei-
com outrem
tável.
• Capacidade de amar e de
cuidar.

Embora algumas relações interpessoais nasçam da motivação egoísta zPara uma perspetiva crí-
de simplesmente obter prazer genital, o indivíduo neste estádio final é capaz tica da teoria freudiana do
de se preocupar com o bem-estar da pessoa amada tanto ou mais do que desenvolvimento elaborada
por um teórico de formação
com o seu. Esta capacidade constitui a base de relações duráveis que se pro- também psicanalítica, será
longam pela vida adulta. A sublimação é especialmente importante neste útil consultar o Dossiê ERIK
período porque os impulsos do Id (egoístas, agressivos) continuam e conti- ERIKSON: uma visão epige-
nética da construção da iden-
nuarão ativos. A sublimação significará transformar os impulsos libidinais tidade pessoal.
convertendo-os em energia útil para o casamento, a educação dos filhos e o
desempenho profissional.
Freud acreditava que não havia uma transição automática para o está-
dio genital e que a passagem raramente se cumpria de forma plena. Muitas
pessoas têm menos controlo sobre os seus impulsos do que o desejável e
muitas outras têm dificuldade em satisfazer os impulsos sexuais de modo
adequado e socialmente aceitável. Por isso, a personalidade genital tal como
ele a descreve corresponde mais a um ideal a atingir do que a uma realidade
generalizada.
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O S C I N CO E S TÁ D I O S
D O D E S E N VO LV I M E N TO P S I CO S S E X UA L
TRAÇOS ADULTOS ASSOCIADOS
ZONA ERÓGENA CONFLITOS / EXPERIÊNCIA A PROBLEMAS
(FIXAÇÕES, SOBRETUDO) NUM ESTÁDIO
Oral A criança obtém prazer Otimismo-pessimismo; agressivi-
(do nascimento mediante a atividade oral. dade verbal, impaciência, abuso de
aos 12/18 meses)
O desmame é a experiên- determinadas substâncias – fumar,
Boca cia/conflito central. beber, comer em excesso.

Anal O ânus é o foco da estimu- No caso da personalidade retenti-


(dos 12/18 meses lação e do prazer. A tarefa vo-anal: avareza, obstinação, ten-
aos 3 anos)
crucial consiste em contro- dência compulsiva para a organi-
lar as funções orgânicas, zação, meticulosidade.
aprendendo regras higié- No caso da personalidade expulsivo-
Ânus ni-cas. -anal: desordem, crueldade, vio-
lência destrutiva.

As crianças obtêm prazer Excessiva preocupação, no caso dos


manipulando os órgãos ge- homens, com a afirmação da sua
nitais, desenvolvem a curio- masculinidade; na mulher, segundo
sidade sexual e fantasias Freud, sentimento de inferioridade
Fálico
amorosas e eróticas acerca em relação aos homens que se pro-
(dos 3 aos 6 anos) do progenitor do sexo cura compensar de várias formas.
oposto. A superação do Em ambos os sexos, a fixação no
complexo de Édipo/Eletra estádio fálico, a não ultrapassagem
é tarefa crucial, decisiva do complexo de Édipo/Eletra im-
para o desenvolvimento plica que a sexualidade é inconscien-
Órgãos genitais moral e social. temente associada a sentimentos
de culpa, dado que não se ultra-
É um período de suspen- passou o desejo incestuoso pelo
são ou de acalmia da ati- progenitor do sexo oposto. Assim,
Latência
(dos 6 anos vidade sexual. A curiosi- um comportamento sexual apa-
à puberdade) dade intelectual e o desejo rentemente desinibido pode ex-
de competência sobre - primir, no fundo, medo do sexo.
põem-se à curiosidade
sexual. A energia libidinal
desloca-se para ativida- No estádio de latência não há fixa-
Nenhuma des físicas e intelectuais. ção alguma.

Genital Com o surgimento da pu- Não há fixação específica do está-


(da puberdade em diante) berdade, reacendem-se os dio genital.
impulsos sexuais. O adoles-
cente bem sucedido será,
segundo Freud, o que for
capaz de ter um relacio-
namento sexual maduro
Órgãos genitais com o sexo oposto.

Baseado na sua prática clínica, Freud construiu uma teoria do desenvolvimento pessoal que destacou a compo-
nente erótica e afetiva. As diversas fases ou estádios do desenvolvimento determinam-se conforme as zonas
ou órgãos de satisfação das pulsões. Em termos psicológicos, o desenvolvimento pode deter-se num estádio
intermédio, produzindo-se uma fixação. A fixação em determinado estádio significa que um indivíduo ten-
tará, em maior ou menor grau, obter prazer de uma forma simbolicamente equivalente ao modo de gratifi-
cação próprio do estádio em que se fixou. A fixação ocorre ou porque houve fraca satisfação dos impulsos
num dado estádio (trata-se inconscientemente de compensar esse défice) ou porque houve gratificação
excessiva (inconscientemente não há motivação para ultrapassar tal estádio).
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1. Qual o objeto de estudo da psicologia para Freud?


Para Freud, a psicologia estuda os processos mentais (sobretudo os
fenómenos psíquicos inconscientes) e a influência que exercem sobre
o nosso comportamento e a nossa personalidade. Com a psicanálise evi-
dencia-se o papel fundamental dos processos psíquicos inconscientes na
determinação do nosso comportamento e da nossa personalidade.
Quando atualmente se define a psicologia como estudo do comporta-
mento e dos processos mentais, não se diz só processos mentais conscien-
tes, porque temos em conta, depois de Freud, que há também muitos
processos mentais que têm origem no Inconsciente.
Freud contribuiu para a definição do objeto de estudo da psicologia, mos-
trando-nos que a nossa vida psíquica não se reduz à consciência. Não sendo
o primeiro a falar de Inconsciente, Freud é o primeiro psicólogo a afirmar
que o Inconsciente é a realidade psíquica fundamental. Isto quer dizer que
o nosso comportamento e a nossa personalidade são poderosamente influ-
enciados por processos psíquicos inconscientes. Na nossa vida psíquica,
a consciência tem um papel secundário. Segundo Freud, a consciência
tem um papel muito menos influente na nossa vida psíquica do que o
Inconsciente. A consciência é simplesmente a ponta do icebergue.

2. Que conceção de ser humano está presente nesta teoria?


Somos seres marcados pelo peso do passado (das experiências da in-
fância), pela necessidade de refrear os nossos impulsos e de aceitar a
frustração no confronto com a realidade e pela ameaça de forças desco-
nhecidas que dentro de nós «conspiram» contra a nossa saúde mental.
A teoria freudiana apresenta não só uma nova conceção do aparelho
psíquico (psíquico não é sinónimo de consciente), mas também uma nova
visão do ser humano. Em nós não é a razão que domina. Gostaríamos
de pensar que esta controla os impulsos irracionais. Contudo, Freud diz-
-nos que a nossa vida é dirigida por impulsos, desejos e pulsões de natu-
reza inconsciente (sobretudo de natureza sexual e agressiva). Para Freud,
a nossa integridade psíquica, dadas as pulsões agressivas e libidinais do Id,
exige que recalquemos, que esqueçamos.
O ser humano vive sob o signo do conflito e da ansiedade. A ansiedade
é uma vivência do Ego que se preocupa com duas eventualidades: 1) que o
Id fique fora de controlo e determine comportamentos cujos efeitos podem
ser severamente negativos e 2) que o Superego se descontrole e, tornando-
-se extremamente moralista, nos faça experimentar sentimentos de culpa
excessivos quer acerca de transgressões reais quer de imaginárias. Para re-
duzir a ansiedade, o Ego constitui um conjunto de respostas inconscientes
denominadas mecanismos de defesa do Ego. A constituição da personali-
dade de cada indivíduo é determinada, em grande parte, pelo modo como se
dá a relação entre o princípio de prazer e o princípio de realidade.
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O que somos então para Freud? Seres cuja finalidade ou motivação


essencial é o prazer (embora em «Para Além do Princípio do Prazer»,
Freud afirme que o objetivo último do organismo é o retorno à ausência
total de estimulação, isto é, a morte) e que vivem com receio da sua própria
vontade de prazer. Mesmo a saúde mental é um equilíbrio instável. Não
somos donos de nós próprios, somos uma misteriosa e complexa unidade
de impulsos agressivos e destrutivos e de interdições quase do mesmo si-
nal. Procuramos a reconciliação com nós próprios, a harmonia interior, o
equilíbrio psíquico. Ora, a chave do que somos está em vivências envoltas
num denso véu – há tanto tempo se deram nos primeiros anos de vida – e
recalcadas por razões que nos escapam. Conhece-te a ti mesmo será o lema
da psicanálise e da terapia psicanalítica. Somos o que fizemos de nós
quando ainda não tínhamos uma identidade definida – mas somos mais o
que os nossos desejos e as normas dos outros, essencialmente os pais, fize-
ram de nós.

3. Qual a posição do autor desta teoria acerca dos seguintes


conceitos dicotómicos (Inato/Adquirido; Continuidade/
/Descontinuidade; Estabilidade/Mudança; Interno/Ex-
terno; Individual/Social)?

A dicotomia inato/adquirido
Quanto à relação entre o inato e o adquirido, a teoria freudiana é
conhecida por ser uma teoria que se inspira num modelo homeostático, de
redução dos desequilíbrios orgânicos (destacando ao mesmo tempo o papel
crucial de impulsos biológicos que atuam fora do campo da consciência e
que criam tensões de que o organismo se deve libertar). Freud considera
que o principal motivo do comportamento humano, desde o princípio da
vida, é a procura do prazer sexual – um impulso biológico básico. Sirva
como exemplo o facto de Freud atribuir o nome de estádio genital ao
período da adolescência. Nesta fase, o eventual equilíbrio alcançado por
volta dos 7 aos 11 anos é bruscamente rompido pelo ressurgimento de
impulsos sexuais que correspondem a um aumento do poder do Id. Este
desequilíbrio traduz-se em conflitos psicológicos e comportamentos erráti-
cos.
Apesar da importância crucial dos fatores biológicos, a teoria freudiana
não ignora a educação, o que é adquirido. Com efeito, o Superego é a
representação interna das exigências do mundo social, sendo o resultado
da interiorização de normas e de proibições adquiridas na relação com os
progenitores. O desenvolvimento pessoal envolve em qualquer fase do
desenvolvimento fatores biológicos e ambientais.
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A dicotomia continuidade/descontinuidade
Quanto ao par dicotómico continuidade-descontinuidade, considera-se
que a teoria do desenvolvimento pessoal é uma teoria descontinuista.
Quer isto dizer que concebe o desenvolvimento como um conjunto de trans-
formações que diferem qualitativamente entre si. A perspetiva que acen-
tua a descontinuidade do desenvolvimento entende que esta se dá ao longo
de distintos estádios do ciclo vital. Para os partidários desta perspetiva, o
desenvolvimento é marcado por ritmos diferentes, verificando-se a alternân-
cia entre períodos com mudanças pouco frequentes e relevantes (caso do
período de latência em Freud) e períodos marcados por mudanças abrup-
tas e descontínuas que implicam a passagem a um novo estádio do desen-
volvimento (caso do estádio genital ou do fálico). Sirva como exemplo de
que os estádios são fases qualitativamente diferentes do desenvolvimento
o facto de haver uma diferença qualitativa entre o estádio fálico – em que
o objeto de afeto e de desejo é o progenitor do sexo oposto – e o estádio
genital – em que o objeto de desejo é constituído por pares do sexo oposto
ou por pessoas exteriores ao universo familiar. A passagem da sexualidade
autoerótica – centrada em si ou no seu corpo – à sexualidade que tem
como objeto outro corpo é também uma mudança qualitativa.
A dicotomia estabilidade/mudança
Quanto ao par estabilidade-mudança, há a dizer que significa que as
aquisições de cada estádio são integradas mediante elaboração no estádio
seguinte, produzindo-se uma alteração qualitativa. O que segundo Freud
permanece é a procura do prazer. O que muda são as zonas erógenas asso-
ciadas ao prazer. Da sexualidade centrada na exploração do nosso corpo
evoluímos para uma sexualidade que atinge a forma madura ligada à capa-
cidade reprodutiva e às relações sexuais genitais. Permanecem os impulsos
agressivos e destrutivos do Id, mas muda o modo como nos relacionamos
com a realidade e encaramos a satisfação dos desejos. Contudo, a mudança
pode ser afetada pela fixação. A fixação significa que o desenvolvimento,
em certa medida, cessou num determinado estádio, implicando uma de-
pendência ou falta de autonomia do sujeito. É uma ligação extremamente
forte a uma pessoa ou a um objeto que era apropriada somente nos pri-
meiros estádios do desenvolvimento, mas que é desadequada em estádios
posteriores. Os sentimentos e afetos ligados ao complexo de Édipo são
admissíveis em certa idade, mas não noutras. As fixações ocorrem habitu-
almente devido a frustração ou excessiva indulgência na expressão da ener-
gia sexual ou agressiva num dado estádio do desenvolvimento psicos-
sexual. A fixação num dado estádio do desenvolvimento não impede todo
o posterior desenvolvimento, mas, a não ser que um ser humano ultra-
passe cada estádio de forma bem sucedida, não poderá cumprir plena-
mente o que é exigido pelos estádios posteriores e ficará psicologicamente
preso a sentimentos e formas de satisfação próprios de estádios anteriores.
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A fixação bloqueia o desenvolvimento psicossexual, daí resultando diver-


sas desordens e perturbações comportamentais, e quanto mais intenso for,
menor será o nosso grau de maturidade quando adultos. A passagem ao
estádio seguinte não é efetiva, há um bloqueio psicológico. É o caso da
criança excessivamente dependente, que terá muitas dificuldades em ser,
quando adulto, um indivíduo autónomo. Sofre uma regressão. A regressão
significa um retorno a um estádio anterior do desenvolvimento. A pessoa
que desenvolveu uma fixação no estádio anal pode responder a uma situa-
ção de tensão tornando-se ainda mais obstinada e compulsiva. É impor-
tante salientar que fixação e regressão são condições relativas. Num
indivíduo, a fixação e a regressão raramente são completas, absolutas.
Habitualmente, a maior parte dos aspetos da personalidade de um indiví-
duo desenvolver-se-á normalmente, mas o seu comportamento pode, em
certos pontos, ser caraterizado por atos infantis, acriançados, efeitos de
certas fixações anteriores.

A dicotomia externo/interno
Quanto à dicotomia externo-interno, há a considerar o seguinte:
Em cada estádio do desenvolvimento, o indivíduo vive o conflito en-
tre os seus impulsos biológicos – fatores internos – e expetativas sociais
ou externas (de que os pais são os agentes transmissores e represen-
tantes). O modo como os pais lidam com os impulsos sexuais e agressivos
dos seus filhos nos primeiros anos da infância é crucial para um desenvol-
vimento saudável ou não da personalidade. A personalidade adulta é
determinada pelo modo como resolvemos os conflitos entre as seduções
das zonas de prazer (as fontes erógenas – boca, ânus e órgãos genitais) e
as exigências da realidade, dos outros. Dessa resolução vai depender o
modo como nos relacionamos com os outros, como lidamos com a ansie-
dade e o próprio modo como se efetuará a nossa aprendizagem. Quando os
conflitos não são resolvidos, o indivíduo pode fixar-se em dado estádio do
seu desenvolvimento (este pode, em termos psicossexuais, cessar num dos
primeiros estádios, tornando difícil e desadaptada a evolução da sexuali-
dade autoerótica para a partilha do prazer erótico com outrem). A regres-
são é normalmente determinada por fixações anteriores do indivíduo, ou
seja, este tende, para fugir aos conflitos, a regressar a um estádio onde pre-
viamente se fixara, o que é sinal de falta de autonomia e incapacidade de
enfrentar a realidade e experiências frustrantes. Durante a infância, os
impulsos sexuais mudam de objeto, centrando-se primeiro na zona oral,
depois na anal e finalmente na genital. Em cada um dos três primeiros
estádios (oral, anal e fálico), os pais são decisivos: se permitem uma autos-
satisfação excessiva ou inibem demasiado o prazer erótico da criança,
estarão a impedir um desenvolvimento psicossexual saudável.
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A dicotomia individual/social
A importância atribuída ao papel dos pais mostra que o fator social
tem relativa importância na teoria freudiana do desenvolvimento afeti-
vo. Contudo, o desenvolvimento é entendido em termos psicossexuais e
não de uma forma mais abrangente, ou seja, em termos psicossociais (o
meio não é só a família, mas fatores externos como o meio sociocultural,
os grupos e as comunidades). Esta é uma das críticas de outro grande teó-
rico do desenvolvimento, o dinamarquês Erik Erikson. Para Erikson o
desenvolvimento tem de ser entendido no quadro da relatividade cultural.
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AT I V I D A D E 4
I
Copie as atividades seguintes e preencha
cada um dos espaços em falta:

1. A teoria freudiana do desenvolvimento baseia-se na afirmação de


que existe sexualidade ... .
2. Os estádios do desenvolvimento representam uma sequência de
diversos modos de satisfação dos impulsos ... . A maturação física é
responsável pela sucessão de zonas erógenas e correspondentes
estádios. O desenvolvimento é considerado ... porque as pulsões
sexuais, no seu confronto com a realidade social (familiar em grande
parte) e moral, determinam a aquisição de caraterísticas psicológicas.
3. Freud distingue quatro etapas ou fases fundamentais: os estádios ... .
Entre as duas últimas fases situa-se um período de latência em que
as pulsões sexuais parecem estar apaziguadas, quase totalmente es-
quecidas (... , que nada mais é do que um recalcamento das experi-
ências e sensações anteriormente vividas). A puberdade reativa os
impulsos aparentemente desativados. Se forem transformados e
sublimados pelo Ego, atinge-se o estádio de maturidade psicos-
sexual: o estádio ... .
4. As zonas ... são aquelas partes do corpo que, em cada estádio do
desenvolvimento, constituem fontes especiais de prazer. Freud não
reduz a ... à manipulação ou contacto genital.
5. Freud sugeriu que a resolução positiva dos conflitos próprios de
cada estádio é a condição de possibilidade da maturidade psicoló-
gica. O principal obstáculo a essa maturidade é a ... , o facto de, em
virtude de excessiva satisfação ou excessiva frustração, o indivíduo
ficar psicologicamente preso a dado estádio do desenvolvimento.
6. Quando os conflitos não são bem resolvidos, o indivíduo pode ... em
dado estádio do seu desenvolvimento (este pode, em termos psicos-
sexuais, cessar num dos primeiros estádios, tornando difícil e desa-
daptada a evolução da sexualidade autoerótica para a partilha do
prazer erótico com outrem). A ... é normalmente determinada por
fixações anteriores do indivíduo, ou seja, este tende, para fugir aos
conflitos, a regressar a um estádio onde previamente se fixara, o que
é sinal de falta de autonomia e incapacidade de enfrentar a realidade
e experiências frustrantes. Durante a infância, os impulsos sexuais
mudam de objeto, centrando-se primeiro na zona ... , depois na ... e
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finalmente na ... . Em cada um dos três primeiros estádios (oral,


anal e fálico), os pais são decisivos: se permitem uma autossatisfa-
ção excessiva ou inibem demasiado o prazer erótico da criança,
estarão a impedir um desenvolvimento psicossexual saudável.

II
Assinale as afirmações verdadeiras (V) ou falsas (F).
Justifique a sua opção.

1. Para Freud, a infância tem uma importância decisiva na determina-


ção da personalidade básica do adulto.
2. Em cada estádio, a relação mais importante que se estabelece é
com os pais.
3. O momento crucial do desenvolvimento psicossexual é o estádio fá-
lico, o mais importante de todos os estádios do desenvolvimento
afetivo.
4. A inadequada resolução do conflito ou problema central a resolver
num dado estádio tem como resultado a fixação.
5. A fixação num determinado estádio tem como resultado a imaturi-
dade psicológica.
6. Uma criança que recebeu excessiva gratificação num dado estádio
pode sentir relutância e desconforto em passar a outro estádio.
7. A excessiva tolerância, a desordem e desarrumação, o caráter sub-
misso e a generosidade excessiva são marcas de uma personalidade
expulsivo-anal.
8. A avareza, a obstinação, a meticulosidade, a compulsão pela ordem
são marcas de uma personalidade retentivo-anal, com fixação no es-
tádio anal.
9. A fixação significa ficar psicologicamente preso a comportamentos
típicos de um determinado estádio.
10. O complexo de Édipo, quer na vertente masculina quer na vertente
feminina, é um acontecimento psicossexual sem aspetos positivos.
11. A sexualidade autoerótica é caraterística dos estádios oral e anal.
12. A amnésia infantil significa que a difícil vivência do complexo de Édi-
po foi recalcada e praticamente não se manifesta ou não se manifes-
ta como antes.

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