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JOGRAL
1. RESUMO
2. INTRODUÇÃO
1
. Dados eleitorais: http://www.eleicoes2014.com.br/luiz-fernando-pezao/
2
Fontes de registro da grande mídia a respeito da greve: http://www.revistaforum.com.br/2014/03/05/sem-
apoio-sindicato-garis-rio-continuam-em-greve/
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/03/1422758-garis-do-rio-conseguem-aumento-de-37-e-
voltam-ao-trabalho-apos-oito-dias-em-greve.shtml
3
Notícia vinculada pela Agência Brasileira de Notícias e a nota do próprio sindicato dos professores do
Rio de Janeiro: http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2013-09-22/em-greve-professores-das-
redes-municipal-e-estadual-do-rio-fazem-passeata-no-rio-de-janeiro
http://seperj.org.br/ver_noticia.php?cod_noticia=4569
4
Notícias veiculadas a respeito da greve dos rodoviários http://g1.globo.com/rio-de-
janeiro/noticia/2014/06/trt-decide-em-audiencia-que-greve-de-rodoviarios-do-rio-e-ilegal.html
confirmou que chamada “crise da representatividade” estava presente no Rio de Janeiro.
Estas greves tiveram um ponto em comum: a rejeição da base para com a direção sindical
institucionalizada. Os Garis, profissionais da educação e rodoviários permaneceram em
suas greves apesar de suas direções sindicais terem aceito acordos desvantajosos. A
comunicação interna do levante de 2013/2014 e estas greves acima mencionadas, tiveram
como marco a descentralização, com a presença de cartazes muitas vezes individuais com
grande diversidade de pautas, panfletos, o chamado microfone humano e uma rejeição
latente aos carros-de som e/ou ao próprio sistema representativo.
Se existe alguma frase que traduza consenso sobre o levante de 2013 no Brasil é:
''Ninguém esperava...'' milhões de pessoas nas ruas, barricadas pelo Brasil inteiro, a
onipotente Rede Globo desmoralizada. Não há um ouvido que não tenha escutado em
uma manifestação a palavra de ordem ‘’a verdade é dura, a Rede Globo apoiou a
ditadura’’, carros da Record, Bandeirantes entre outras emissoras da nobreza midiática
expulsos e atacados5, o governador do Estado sede da Copa do Mundo, Sergio Cabral –
PMDB, pedindo ''como um pai'' pelo fim das manifestações em frente a sua residência no
Leblon6, livros anarquistas novamente compondo provas de crimes em mesas das
delegacias de todo o país7, o Estado novamente divulgando fotos de militantes políticos
no disque-denúncia8 , fotos de agressões policiais em manifestações de rua em São Paulo
http://direito-do-estado.jusbrasil.com.br/noticias/3072864/rodoviarios-entram-em-greve-no-rio-de-janeiro
5
A constante expulsão de reportes da grande mídia foi noticiada pela mesma grande mídia: (acessado em
24/02/2018)
1.http://odia.ig.com.br/noticia/brasil/2013-06-18/caco-barcellos-e-hostilizado-por-manifestantes-em-sao-
paulo.html
2.http://noticias.r7.com/sao-paulo/reporter-da-globo-e-expulso-de-concentracao-no-largo-da-batata-
18062013
3.http://portalnoar.com/vandalos-viram-e-saqueiam-carro-de-emissora-de-tv-durante-protestonatal/
6
Governador Sergio Cabral pede fim dos protestos de maneira cômica: (acessado em 24/02/2018)
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/07/cabral-diz-que-nao-e-ditador-e-pede-fim-de-protestos-
na-frente-da-sua-casa.html
7
Livros anarquistas apreendidos, as ideias voltando a serem perigosas para o Estado (acessado em
24/02/2018)
1.http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1301767-policia-apreende-armas-brancas-e-livro-na-
casa-de-suspeito-de-vandalismo.shtml
2.http://www.sul21.com.br/jornal/federacao-anarquista-gaucha-denuncia-invasao-da-sua-sede-na-cidade-
baixa/
8
Novamente fotos de militantes perseguidos pelo Estado com o título ''procura-se'': (acessado em
24/02/2018)
1 - http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/03/disque-denuncia-divulga-cartaz-com-fotos-das-
ativistas-sininho-e-moa.html
e Rio de Janeiro figurando nos principais jornais do mundo9. Simultaneamente com a
dura luta contra a repressão do Estado, uma batalha mostrou-se evidente dentro da própria
manifestação, no meio acadêmico e na imprensa, a luta pela representação/e ou
apropriação do levante.
‘'Todos esses seus lamentos e reclamações – você ao menos sabe o que realmente
quer?’’, esta frase é um arquétipo da pergunta do psicanalista homem para a mulher
histérica (ZIZEK, 2013). O autor utilizou esta frase comparando o comportamento
repressor do psicanalista com o comportamento daqueles que rejeitam pautas
“inalcançáveis”, isto é, dentro do esquema democrático de direito. O recado é claro, “Fale
nos meus termos ou se cale!’’ ou fale em burocracia ou não te escuto! O movimento
Occupy tem muitas semelhanças com o movimento de Junho de 2013 no Brasil, suas
pautas foram muito além do que a institucionalidade poderia oferecer.
2 - http://extra.globo.com/casos-de-policia/disque-denuncia-lanca-cartaz-de-sininho-moa-acusadas-pelo-
crime-de-formacao-de-quadrilha-15593046.html
3 - http://oglobo.globo.com/rio/acusadas-de-chefiarem-os-black-blocs-entram-na-lista-de-procurados-do-
disque-denuncia-15589495
9
Fotos do levante circularam na impressa no mundo inteiro: (acessado em 24/02/2018)
1.http://www.lemonde.fr/ameriques/article/2013/06/14/bresil-manifestations-contre-la-hausse-du-prix-
des-transports_3430069_3222.html
2. http://internacional.elpais.com/internacional/2013/06/14/actualidad/1371171229_461963.html
3. http://oglobo.globo.com/brasil/protestos-ganham-capa-do-new-york-times-8741651
Como mostra Graeber (2015), o movimento Occupy sofreu a mesma crítica e
questionamento: “por que o movimento não tem pautas concretas?” ou “por que não tem
liderança?”, segundo o autor, estes questionamentos poderiam ser sintetizados numa
mesma pergunta: Por que o movimento não se envolveu com a política institucional?
Quadro 1: descritivo das interpretações sobre o Levante e das forças políticas que as compõem.
Fonte: http://www.otal.ifcs.ufrj.br/a-insurreicao-invisivel-uma-interpretacao-anti-governista-da-
rebeliao-de-2013/14-no-brasil/
Os altos custos dos carros de som também entram neste pacote, se quiser falar na
altura ou superar os carros de som de uma determinada organização é simples, compre ou
alugue um mais caro. Segundos os pressupostos liberais de Adam Smith ou Jonh Locke
isto seria não apenas justo como natural, afinal é o livre mercado. Não é surpreendente
que estes movimentos considerem natural esta lógica, já que participam do jogo eleitoral,
um mercado de custos astronômicos e lar da ‘’ livre’’ competição. Estas organizações
naturalizaram as técnicas e os vícios do marketing político, a lógica é a do mercado: na
competição se faz a justiça.
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Dos Santos Moraes, Wallace. 2014 - OTAL (Observatório do Trabalho na América Latina) -
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Teses da Teoria Política Anarco Comunista - Reflexões a partir
do pensamento de Kropotkin. Ver em: http://www.otal.ifcs.ufrj.br/wp-content/uploads/2014/05/TEORIA-
POL%C3%8DTICA-DE-KROPOTKIN-texto-p%C3%B3s-alacip-2013-v.pdf (Acesso: 14/05/2017)
A teoria de Stuart Mill mantêm a relação de comanda/obediência, entretanto
considera que a forma mais evoluída do Estado é o sistema representativo.
A única coisa que justifica o fato de a opinião de uma pessoa valer mais
do que as outras é a superioridade mental individual[...] Se existisse algo como
uma educação realmente nacional, ou um sistema de aferição geral digno de
confiança, a educação poderia ser tomada como critério direto. Na falta desses
meios, a natureza das ocupações das pessoas é uma espécie de aferição. Um
empregador geralmente é mais inteligente que um trabalhador, uma vez
que deve trabalhar com a cabeça[...] MILL, Jonh Stuart, Considerações Sobre
o Governo Representativo – Brasília, Editora Universidade de Brasília - 1990,
p.93, Grifo nosso)
Stuart Mill levanta a questão que trabalhadores também podem apresentar um
grau de inteligência satisfatório, mesmo que não tenham a propensão de estarem aptos a
atividade política. O ponto que nos interessa aqui é que a representação política pressupõe
uma superioridade intelectual, para que assim seja legitimo o representante ''pastoriar'' a
“manada” dos representados (na maioria dos casos, segundo Mill, inaptos ao poder de
governar).
David Graeber (2015) aponta que eleições nem sempre aludiram à um sistema
democrático. No sistema monárquico da Inglaterra, por exemplo, as eleições eram
estruturadas em conjunto com o poder da família real. O poder de escolha representativa
era meramente um mecanismo aristocrático de poder, onde alguns eram recrutados para
serviços de governança monárquica como a cobrança de impostos. O que nos faz refletir
se o poder que nos é conferido para escolher entre representante X ou Y de fato é a prova
cabal de que vivemos numa democracia.
O anarquismo é frequentemente associado à rejeição do voto. Para compreender
a rejeição dos anarquistas ao sistema eleitoral estatal é preciso compreender que o voto é
apenas um procedimento técnico, apesar do consenso ser o mecanismo mais utilizado
pelos anarquistas, o voto pode vir a ser um instrumento, em determinados contextos, para
tomada de decisão. Para a teoria anarquista, o grande problema do voto é que o sistema
eleitoral estatal é um instrumento de transferência e legitimação da soberania dos
governantes (Vidal, 2016). A soberania é o domínio que os governantes exercem sobre
seus governados, indo contra ao princípio básico do anarquismo, isto é, “a negação à
autoridade”. Os anarquistas não rejeitam o procedimento técnico do voto em si, rejeitam
a soberania e seus métodos e mecânicos de legitimação.
11
Origem da palavra retirada do site http://origemdapalavra.com.br/site/
12
GELDERLOOS, Peter – Como a Não Violência Protege o Estado – Editora Deriva. 2009.
A tragédia se repetiu no sindicalismo carioca no caso da greve dos Garis em 2014
no Rio de Janeiro. Enquanto a base estava nas ruas e disposta a lutar por novos direitos,
a direção do sindicado optava por acordos escusos com representantes do Estado. Os garis
organizaram sua greve pela base tomando a rua em assembleias públicas e horizontais. A
cidade em pleno carnaval ficou coberta de lixo, evidenciando a importância do trabalho
da categoria, como também propagandeando a greve e as demandas num contexto em que
a cidade se colocava enquanto vitrine para o mundo. A direção do sindicato dos Garis
decretou o fim da greve, fechando acordos com o governo sem qualquer tipo de diálogo
com a base. Entretanto, os garis permaneceram nas ruas e em greve.
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Garis em luta, o movimento ficou conhecido como a onda laranja, uma alusão ao uniforme laranja dos
garis e sua força contra o sindicato.
1.http://oglobo.globo.com/rio/garis-tem-escolta-para-recolher-lixo-espalhado-nas-ruas-da-cidade-
11797196
2.http://www.valor.com.br/politica/3452166/garis-sao-escoltados-por-policiais-e-guardas-municipais-nas-
ruas (acessado em 24/02/2018)
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Os Garis conquistam sua vitória: (acessado em 24/02/2018)
1. http://brasil.elpais.com/brasil/2015/03/21/politica/1426969477_916839.html
2.http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/03/1422758-garis-do-rio-conseguem-aumento-de-37-e-
voltam-ao-trabalho-apos-oito-dias-em-greve.shtml
componente que motivou a rejeição e até mesmo ataques aos carros de som de alta
potência. A demanda eleitoral por novos representantes e a chance de se projetar
politicamente como um negociador direto com o Estado motiva estas organizações a
projetar seus discursos em maior potência do que os outros manifestantes, que na maioria
das vezes detém apenas o poder de sua voz.
O direito de voz é dado para qualquer um, entretanto, é preciso ressaltar que há
um controle sobre o discurso de uma forma altamente democrática, já que se um
manifestante tentar usar o microfone humano para um discurso impopular, ele terá menos
chances de ser reproduzido pelas pessoas ao redor, além de desmotivar discursos
excessivamente longos. Esta prática demanda apenas a ajuda mútua e a organização
horizontal, tática utilizada por organizações autônomas na Revolta dos Governados de
2013.
O carro de som implica altos gastos monetários e cria uma estrutura que exclui
todos os demais manifestantes que não participam da direção partidária ou sindical
garantindo o monopólio da fala aos proprietários do carro som e/ou seus clientes que do
alto tentam determinar as pautas e direções do movimento. O direito a voz em uma
manifestação não pode se basear na quantidade de dinheiro que sua organização dispõe
para caixas de som potentes, isso é uma lógica de competição liberal capitalista. A lógica
de mercado trabalha para que a terceirização da saúde, transporte, educação seja algo
aceitável assim como a terceirização dos nossos direitos políticos, sendo o direito à voz
um direito fundamental e intransferível. Representar alguém pressupõe a ausência do
mesmo, fazer presente quem está ausente. Pois bem, os políticos profissionais acreditam
que fazem isso no Estado, onde o povo nunca esteve, porém o que os proprietários dos
carros de som parecem não perceber ou ignoram é que o povo está presente na rua, não é
preciso representá-lo. ''Dizer ao povo o que ele precisa saber'', constitui como uma
arrogância intelectual das vanguardas políticas, assim como Stuart Mill acreditava na
incapacidade da maioria dos trabalhadores braçais se auto governarem, esta classe de
dirigentes acredita que pode e deve guiar o povo.
BIBLIOGRAFIA
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Anarquista de Análise. Observatório do Trabalho na América Latina (OTAL), 2017. Link disponível em:
http://www.otal.ifcs.ufrj.br/as-nove-governancas-sociais-e-as-cinco-institucionais-preambulo-de-um-
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