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Curso: Letras Português/Inglês

Disciplina: Análise do Discurso


Turmas: 5º e 6º Períodos
Docente: Genilse C. Lucas

Os devires se definem em um campo de multiplicidade, desdobramento da


diferença, onde as forças que constituem o corpo entram em uma zona de vizinhança,
fronteiriça, uma co-presença: o barco deixa o porto seguro e encontra o mar (é para isso
que navios são feitos), algo se transforma ao se relacionar com este oceano de forças.
Há uma multiplicação de si no acontecimento, no encontro.
Os devires serão sempre marcados por acontecimentos e transições. O cais se
torna distante, o mar, nosso amigo. Mas entendemos que a importância deste conceito
não está apenas em seu entendimento, mas em suas possibilidades práticas, o que
justifica esta série de textos.
Mas não podemos confundir o devir nem com semelhança, nem com analogia.
Ele é real, muito real, é possível senti-lo em todas as células do corpo. O devir abre a
forma homem para modos não humanos de individuação. Seu objetivo é abrir para a
criação de novos territórios, abre para a criação de novas subjetividades. Precisamos
deste conceito de Deleuze e Guattari para pensar outros processos de subjetivação pois
nele encontramos uma originalidade para as relações de velocidade e repouso que
constituem o corpo.
O devir é sempre um ponto de partida, mas que não se sabe necessariamente
onde vai chegar. O devir-animal, criança, mulher, são apenas os primeiros passos de
uma dança sem coreografia. Troca-se um céu por um deserto que deve ser povoado. Há
de se aprender a improvisar; uma arte dos encontros se faz a cada passo, criações
contínuas serão exigidas em cada curva deste caminho. Mas não precisamos nos
preocupar com a solidão, um devir acontece por expansão, contágio, ou seja, ele sempre
encontra companhias em sua viagem. Os processos de devir encontram uma alegria
enorme que retorna de sua própria efetuação. A potência desta expansão não quer
capturar o outro! A liberdade começa a andar juntamente com a liberdade do outro! O
caminho torna-se a casa do nômade, um caminho mais livre e com mais companhias!
Que o devir funcione sempre a dois, que aquilo que se devém devenha tanto
quanto aquele que devém, é isso que faz um bloco, essencialmente móvel, jamais
em equilíbrio”
– D&G, Mil Platôs 4, p. 112

Podemos pensar em uma tipologia dos devires, para dar conta de algumas de
suas possibilidades. Claro que não conseguiríamos dar conta de todas as variações
porque o devir rapidamente cai em zonas desconhecidas. Suely Rolnik e Guattari falam
de um devir-cidadão, devir-negro, devir-índio, devir-homossexual e outros dos quais
não falaremos aqui. Há sempre mais modos de experimentar a vida do que poderíamos
descrever. Por isso todos os devires escapam das representações, eles só podem indicar
algumas trilhas, pouco usadas e ainda desconhecidas pela maioria.

Devir é, a partir das formas que se tem, do sujeito que se é, dos órgãos que se
possui ou das funções que se preenche, extrair partículas, entre as quais
instauramos relações de movimento e repouso, de velocidade e lent idão, as mais
próximas daquilo que estamos em vias de devir, e através das quais devimos. É
nesse sentido que o devir é o processo do desejo”
– D&G, Mil Platôs 4, p. 67

Todo devir é minoritário. Um elemento de variação que não se encaixa, que


escapa, que se descola. Acelerar a diferença é devir, deixando para trás o peso que
impede os corpos de se moverem. Por isso mesmo não há qualquer pretensão de
universalidade. O inconsciente opera por conexões, é aí onde está o acontecimento e se
opera a diferenciação, a diferença brota entre duas multiplicidades que se encontram. A
minoria é um elemento diferenciador da maioria, que nasce destes encontros. Os dois
não se definem pela quantidade, mas sim pela qualidade. Só podemos pensar em um
sujeito em devir se ele se descolar entre a maioria.
Temos um padrão molar: homem, branco, ocidental, adulto, racional,
heterossexual, habitante de cidades.
“O homem é majoritário por excelência, enquanto que os devires são minoritários, todo
devir é um devir-minoritário. […] Maioria supõe um estado de dominação” (D&G, Mil
Platôs).
Este padrão estabelece uma norma, um modelo cuja principal função é orientar o
campo de forças que constituem o homem, os agenciamentos que o produzem. Quando
estabelecemos uma ideia (estamos próximos de Platão aqui), que paira sobre os homens,
todas as relações são submetidas ao modelo transcendente. O ser humano aprende a se
conduzir para alcançar este padrão. As estruturas são mantidas por analogia e imitação.
Mas uma imagem não tem devir! Deleuze e Guattari, ao criarem este conceito procuram
escapar destas formas de conduta, saindo pela tangente, passando por entre os modelos.
A verdadeira revolução acontece quando abre-se espaço para a diferença não
constrangida.

Os devires não são fenômenos de imitação, nem de assimilação, mas de dupla


captura, de evolução não paralela, núpcias entre dois reinos”
– Deleuze & Parnet, Conversações, 66

Uma mulher está em relação secundária para o homem, como esposa, mãe, dona
de casa? A forma mulher talvez, estabelecida pelo poder. Mas o devir-mulher consiste
em pegar as partículas interessantes de cada modelo colocadas em segundo plano. Da
forma mulher, que é contraposta à forma homem, o que destoa? Podemos pegar essas
pequenas linhas de fuga para desmontar a figura da mulher e usar seus afetos e
intensidades para escapar das identidades e ganhar velocidade no processo, aumentar a
potência. Implicação contínua do ser com o fora.
Saindo da representação, não caímos na armadilha da imitação e da analogia.
Não se trata de uma imitação, porque não há modelos, não fazemos tal qual uma
criança, não queremos voltar à pré-escola, não colocamos vestidos e passamos batom
para entrar em um devir-mulher, não uivamos para entrar em um devir-animal, não
quebramos vidraças para entrar em um devir-revolucionário. A imitação é um fracasso.
Ela pode servir para, em um primeiro momento, entrar em uma zona de vizinhança, mas
devir não é seguir um modelo, é uma relação real para além de toda correspondência,
sem semelhança, nem homologia. Comprar uma máquina de escrever e sentar no
Starbucks não é entrar em devir-escritor.
Devir também não é analogia. Porque ainda se está nas estruturas que conduzem
os fluxos do desejo. O devir é um fluxo que escapa, que cria buracos na estrutura e faz
verter desejos que estavam antes condicionados e canalizados. Não me comporto como
o lobo-alfa para, na minha empresa, entrar em devir-animal e ser promovido; não me
comporto de modo infantil para, no meu relacionamento, entrar em devir-criança e ser
amado. Nosso ponto de partida é a perda de fundamento, o corpo não gira mais em
torno de seu eixo, nem de outro corpo maior. Agora ele passa entre, traça uma tangente.
É preciso começar a se pensar em uma ética dos devires que ponha fim à moral
do ressentimento. Estamos em uma luta constante para superar o niilismo e não cair
nos buracos subjetivos que são verdadeiras máquinas de ressentimento. Um devir nunca
se conclui ou se concretiza, ele é um processo de agenciamento do desejo, um modo de
vida que se conduz pelas intensidades. Ele também não é unitário, são coletividades
moleculares, composições ativas! Queremos criar mapas de intensidade:
“Sempre se tem de partir de alguma coisa, ou seja, sempre se tem que dispor de
uma cartografia mínima” (Guattari & Rolnik, Micropolítica).
Todo devir é um rizoma, uma abertura, uma conexão. Buscar uma ética dos
devires é mover-se pelos terrenos de uma ética do menor, mais solta, que resiste frente
aos padrões molares. Estabelecer novas alianças, não filiativas. Nem reprodução, nem
assimilação: o devir é uma transvaloração.

Todos os devires singulares, todas as maneiras de existir de modo autêntico


chocam-se contra o muro da subjetividade capitalística”
– Félix Guattari e Suely Rolnik, Micropolítica – Cartografias do Desejo, p. 50

Fonte: https://razaoinadequada.com/filosofos/deleuze/etica-dos-devires/

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