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CULPABILIDADE
1. Natureza jurídica e conceito
A definição da natureza jurídica da culpabilidade depende do conceito analítico adotado para o
crime. Para os adeptos do conceito tripartido, clássico ou finalista, a culpabilidade é elemento
do crime (fato típico + ilicitude + culpabilidade); já para os adeptos do conceito bipartido,
necessariamente finalista, a culpabilidade é pressuposto de aplicação da pena.
Conceito → A culpabilidade é definida como o juízo de reprovabilidade, o juízo de censura que
recai sobre a formação e a manifestação da vontade do agente. A partir da culpabilidade, faz a
análise se a pessoa envolvida na prática de um fato típico e ilícito deve ou não suportar uma
pena.
2. Teorias da culpabilidade
O Código Penal, de índole finalista, adota a teoria normativa pura. A culpabilidade é formada
por três elementos, nessa ordem: imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e
exigibilidade de conduta diversa. Isto é, se a imputabilidade está presente, passamos à análise
do segundo elemento, a potencial consciência da ilicitude e, por último, a exigibilidade de
conduta diversa.
3. Coculpabilidade
Proposta doutrinária criada pelo argentino Eugenio Raul Zaffaroni para definir a concorrência
de culpabilidades, isto é, não é o agente o único culpado pela prática da infração penal.
Segundo o autor, as pessoas não nascem, crescem ou se desenvolvem em condições de
igualdade, nos mais diversos setores - educação, cultura, esportes, saúde, suporte emocional,
ensino etc.-; nem todos têm nem tiveram as mesmas oportunidades na vida. Muitos foram
marginalizados, excluídos pela família, sociedade e Estado e, justamente por isso, possuem
tendência maior à prática de infrações penais. Logo, a culpabilidade não é exclusiva dessas
pessoas, havendo também culpabilidade da família, da sociedade e do Estado.
Essa teoria não tem previsão legal no Brasil, não passando de uma proposta doutrinária. Há
duas posições acerca de sua aplicabilidade:
1. Sim, pode ser utilizada como atenuante genérica inominada, também chamada de atenuante
de clemência, nos termos do artigo 66 do CP.
2. Não. STJ - HC 187.132: a aplicação dessa teoria acabaria por estimular a prática criminosa.
2ª perspectiva fundamental. Reprovação mais severa no tocante aos crimes praticados por
pessoas dotadas de elevado poder econômico. Àquelas pessoas que foram excluídas,
marginalizadas, o crime é mais atrativo, bem como sua prática é mais aceitável, embora não
justificável. Diversamente, o tratamento deve ser mais severo em relação àqueles dotados de
maior poder econômico, que dele se utilizam ou dele abusam para praticar crimes contra o
sistema financeiro, o sistema tributário, lavagem de capitais, pois motivados pela ganância,
pela cobiça.
Questiona-se: Essa teoria pode ser utilizada como agravante genérica no Brasil? Não, pois as
agravantes devem ter previsão expressa em lei, dada a prejudicialidade ao acusado (não se
admite analogia em prejudicialidade do réu). Não obstante, tem sido usada na primeira fase de
aplicação da pena, com fundamento no artigo 59, caput, do CP, como circunstância judicial
desfavorável.
Aula 7.2
4. Dirimentes
São as causas de exclusão da culpabilidade, que recaem sobre cada um dos elementos da
culpabilidade, isto é, sobre imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de
conduta diversa.
Atenção: não confundir as dirimentes com as eximentes (excludentes da ilicitude).
IMPUTABILIDADE
1. Imputabilidade
1.1. Introdução
Por ser o primeiro e mais importante elemento da culpabilidade, é bastante comum a doutrina
indicar a imputabilidade como um pressuposto da culpabilidade.
1.2. Conceito
O CP não definiu imputabilidade. No artigo 26, caput, consta a definição da falta da
imputabilidade e, a partir desse conceito, definimos imputabilidade.
É a capacidade de entender e de querer. É a capacidade mental de entendimento e de
autodeterminação. Entender o caráter ilícito do fato e determinar-se de acordo com esse
entendimento.
2. Inimputabilidade
2.1. Causas
i. Menoridade
ii. Doença mental
iii. Desenvolvimento mental incompleto
iv. Desenvolvimento mental retardado
v. Embriaguez completa fortuita ou acidental
2.2. Sistemas para identificação da inimputabilidade
i. Biológico: basta a presença da deficiência mental para que a pessoa seja tratada como
inimputável.
ii. Psicológico: pouco importa se a pessoa apresenta ou não algum problema mental. Basta seja
verificada uma alteração de comportamento no momento da conduta.
iii. Biopsicológico: fusão dos dois sistemas anteriores. A pessoa deve apresentar um problema
de saúde mental, bem como uma alteração de comportamento no momento da conduta.
O CP adota como regra geral o sistema biopsicológico, no artigo 26, caput (doença mental,
desenvolvimento mental incompleto e desenvolvimento metal retardado). Os demais sistemas
são adotados de forma excepcional. Para os menores de 18 anos adota-se o sistema biológico,
inclusive previsto no artigo 228 da CF e no artigo 27 do CP. O sistema psicológico também foi
adotado como exceção, no tocante à embriaguez completa fortuita ou acidental - no momento
da conduta a pessoa está psicologicamente alterada em razão da embriaguez.
2.3. Menoridade
O CP e a CF adotam o sistema biológico para os menores de 18 anos, para os quais existe uma
presunção absoluta - iuris et de iure - de inimputabilidade, não se admitindo prova em sentido
contrário.
Obs.: Para os maiores de 18 anos há presunção relativa de imputabilidade (admite prova em
sentido contrário).
Súmula 74 do STJ: "Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu requer prova
por documento hábil".
São documentos hábeis à comprovação da menoridade penal: certidão de nascimento, RG,
carteira escolar, documento emitido por órgão oficial.
Aula 7.3
Aula 7.4
3. Semi-imputabilidade
Art. 26, parágrafo único, do Código Penal: "Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um
a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento
mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do
fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento".
Embora o termo “semi-imputabilidade” seja comumente usado pela doutrina e jurisprudência,
há autores que repudiam essa denominação. Cézar Roberto Bitencourt, por exemplo, assevera
a inexistência de meio termo entre imputabilidade e inimputabilidade, preferindo os termos
imputabilidade diminuída ou restrita ou ainda culpabilidade diminuída.
Por meio de alteração recente, o artigo 319, inciso VII, do CPP, ao tratar das medidas
cautelares diversas da prisão, disciplina a internação provisória quando o réu é inimputável ou
semi-imputável.
3.2. Conceito
Para o inimputável, o CP fala em doença mental; já para o semi-imputável, fala em
perturbação da saúde mental.
A diferença diz respeito ao grau. Em síntese, a perturbação da saúde mental também é uma
doença mental, porém em menor grau.
Na inimputabilidade, a doença mental, o desenvolvimento mental incompleto e o
desenvolvimento mental retardado retiram totalmente do agente a capacidade de
entendimento e de autodeterminação; na semiimputabilidade, a perturbação da saúde mental,
que também se caracteriza como doença mental, o desenvolvimento mental incompleto e o
desenvolvimento mental retardado não eliminam completamente a capacidade de
entendimento e de autodeterminação do agente, apenas a diminui.
3.5. Efeitos
Os semi-imputáveis são processados e julgados pela Justiça Penal. Comprovadas autoria e
materialidade, bem como inexistente qualquer excludente da ilicitude, a sentença será
condenatória - ao contrário da sentença proferida em relação ao inimputável, que é sempre
absolutória imprópria.
O magistrado deve respeitar 3 etapas:
1º. Condenação;
2º. Diminuição obrigatória da pena de 1 a 2/3;
3º. Avaliação da necessidade de substituir a pena diminuída por medida de segurança.
- Concluído pela perícia que o réu é semi-imputável, sem periculosidade: cumpre a pena
diminuída.
- Concluído pela perícia que o réu é semi-imputável, com periculosidade: o juiz deve substituir
a pena diminuída por medida de segurança.
O CP adota, em relação ao semi-imputável, o sistema vicariante (substitutivo) ou unitário: o
agente cumpre a pena diminuída ou a medida de segurança. Jamais as duas.
O sistema vicariante/unitário foi implantado no CP pela reforma da Parte Geral promovida
pela Lei n. 7.209/1984.
Na redação original de 1940 o CP adotava o sistema do duplo binário, dualista, dois trilhos ou
dupla via, por meio do qual o semi-imputável primeiro cumpria a pena diminuída, após
passava por uma perícia e, verificada a presença da periculosidade, era submetido à medida de
segurança.
Aula 7.5
EMOÇÃO E PAIXÃO
3. Conceitos e distinções
Emoção e paixão são perturbações do aspecto psicológico do ser humano.
Paixão - tem natureza duradoura, é tida como uma emoção mais intensa; o estado
afetivo/sentimental que acarreta perturbação duradoura do equilíbrio psíquico. Duradoura,
mas não necessariamente eterna. Ex.: ciúme, amor, inveja, fanatismo, ambição.