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Fichamento do texto: Por um Olhar Brasileiro

- “(...) É claro que existe racismo nos EUA. É claro que existe racismo no Brasil.
Mas são espécies distintas de racismo, em decorrência da contextura histórica de
cada projeto colonizador, da formação cultural diversa dos colonizadores de cada
um desses países e do modo como se desenhou a trajetória social dos povos
brasileiro e norte-americano. (...)”;

- “(...) Trata-se agora da necessidade de demonstrar, contrariando as evidências


disponíveis, que o “racismo à brasileira” (dissimulado, mascarado) é pior do que o
racismo ianque, embora nunca tenhamos tido, entre nós, coisas como banheiro
para preto e banheiro para branco (ou três banheiros: um para homens brancos;
um para mulheres brancas; outro para negros, independentemente do sexo), Ku
Klux Klan ou a proibição de casamentos interétnicos, que até o ano de 1967
vigorava ainda em nada menos do que dezesseis estados norte-americanos. (...)”;

- “(...) Nos EUA (e só nos EUA, entre todos os países das Américas) qualquer
indivíduo que tenha um mínimo de “sangue negro” é automaticamente classificado
como negro. É a “regra de descendência” - hypodescent (ou one drop) rule, que não
abre espaço algum para mestiços. O sujeito é irremissivelmente black - ou white.
(...)”;

- “(...) É que, ao tempo em que nossos racialistas tentam nos impor a dicotomia
norte-americana, investindo contra a multiplicidade cromática brasileira, o que se
está vendo agora, nos EUA, é o movimento inverso. A crítica e a recusa do padrão
bipolar. Cresce a cada dia o número de mestiços, de mulatos norte-americanos, que
não querem mais se identificar nem ser identificados como negros. (...)”;

- “(...) Quem configurou o - e deu visibilidade ao - hoje chamado “mito da


democracia racial” (cuja paternidade se costuma atribuir a Freyre) não fomos
simplesmente nós, os brasileiros. Mais que nossa, a cristalização de tal fantasia
sociorracial foi, sobretudo, obra dos norte-americanos. Negros, em boa parte. Já
no século XIX, antes mesmo da Abolição, diversos escritores e viajantes
estrangeiros anotavam fascinados - ou rejeitavam com horror - uma suposta
inexistência de barreiras raciais no Brasil, a intimidade e a quase fraternidade
reinantes nos contatos entre pretos e brancos, o fato de a cor não aparecer como
obstáculo à ascensão social, etc. (...)”;

- “(...) antropofagia cultural é assimilação crítica, incorporação subversiva e


reinventora, e não complacência, permissividade programática. (...) Devoração
crítica não é vale-tudo. E o jogo que estamos vendo, no caso da transplantação
incontinente do racialismo, é uma outra coisa. É submissão mental. (...)”;

- “(...) E o fato é que esta exportação de modelos e conceitos descontextualizados,


como se eles tivessem valor universal, nos atingiu em cheio, transformando parte
considerável do ambiente universitário brasileiro numa espécie de McDonald’s de
construções ideológicas e sanduíches conceituais alheios. (...)”;

- “(...) Ou seja: em vez de ser artificial e compulsoriamente embutido neste ou


naquele compartimento racial, em vez de subsumir na classe dos ‘brancos’ ou na
dos ‘negros’, o mestiço aparecia como tal, como entidade nova e diversa, diante da
sociedade que se formava em nossas latitudes tropicais. (...)”;

- “(...) Tentar nos levar de volta a um rígido binarismo racial, ainda que a partir de
boas intenções políticas, é um retrocesso. (...)”;

- “(...) ‘Assim, o receio aos pretos resultou em políticas e leis que apenas
perpetuaram e institucionalizaram os próprios medos contra os quais essas
políticas eram, pelo menos em parte, dirigidas.’ Medo que desembocou em algo
que nunca tivemos por aqui: o racismo de Estado (...)”;

- “(...) Se, para um brancos norte-americano, o fato de um negro ter ascendência


branca em nada alterava a sua condição de negro, para um negro, ao contrário, ser
descendente de brancos contava - e muito. O negromestiço, em sua prática da vida,
não aceitava a regra e descendência. Se havia ancestrais brancos em sua
genealogia, dava-lhes o realce possível. (...)”;

- “(...) É inútil querer fazer com que sejamos iguais aos norte-americanos,
adotando a regra de descendência. A luta não pode ser contra a mestiçagem e seu
vigor sociocultural. Não pode ser contra a realidade. Pois um primeiro esforço,
condenado de antemão ao fracasso, seria o de tentar convencer mestiços brasileiros
de que eles não são mestiços brasileiros. (...)”;

- “(...) É certo que a importação dessa linguagem acadêmico-militante - desse


elenco de conceitos made in USA - poderá vir a ter, apesar de sua impropriedade e
despropósito, considerável repercussão prática em nosso ambiente político e social
(...)”;

- “(...) Tome-se um sintagma como ‘afrodescendente’. É uma das fórmulas verbais


mais repetidas (e mais lustrosas) do léxico ativista que grupos negro-mestiços
importaram dos EUA nesses últimos anos. Mas, se pode ser perfeita com relação à
situação norte-americana, seu foco não incide sobre nós. Porque tal conceito
sublinha e recorta uma realidade preexistente: o fracionamento étnico nacional.
(...)”;

- “(...) ‘Os primeiros intelectuais que elaboraram a diferenciação dos brasileiros


por categoria étnica ou religiosa foram os nazistas. O movimento nazista não
empolgou a grande maioria dos brasileiros descendentes de alemães, mas também
está longe de ter sido uma minoria completamente irrelevante. De acordo com o
discurso nazista, não haveria povo brasileiro. Não havia, nunca existiram
brasileiros, salvo os indígenas. Havia os luso-brasileiros, os sírio-brasileiros, os
franco-brasileiros, os afro-brasileiros, etc.’ (...)”;

- “(...) Mas a plasticidade da sociedade brasileira - sua extraordinária capacidade


de incorporar, absorver e dissolver - é um fato. O Brasil é realmente um melting
pot - está sempre mais para o padê do que para o apartheid. Mas, embora tanto
aqui quanto nos EUA, o jus soli tenha escanteado o jus sanguinis - vale dizer, a
nacionalidade seja dada pelo lugar de nascimento e não pelo vínculo a uma matriz
étnica - o mesmo não se pode dizer da sociedade norte-americana. Os EUA podem
ser o país imigratório par excellence, mas as situações do imigrante, lá e no Brasil,
são inteiramente diversas. (...)”;

- “(...) De outra parte, me parece empobrecedora esta pasteurização conceitual. Ao


participar ativamente da invenção do Brasil, os negros vindos da África e seus
primeiros descendentes foram também se inventando como brasileiros. E temos de
reconhecer a sua especificidade. Pelé e Cassius Clay (Muhammad Ali) não são
simplesmente ‘afrodescendentes’. Estacionar aí é se condenar e não aprender o que
cada um deles tem de próprio. É perder o essencial. Cassius-Ali é norte-americano.
Pelé, brasileiro. Diversos são os seus modos de olhar a vida e o mundo; distintos
são os seus balés corporais. (...)”;

- “(...) Deixemos de lado, portanto, o palavrório político-acadêmico que escolas


norte-americanas tentam nos impingir. O problema não é a assimilação de
conceitos gerados pela produção intelectual planetária, como o ‘modo de produção’
dos marxistas, a ‘linguagem poética’ do formalismo russo, as classificações
semióticas de Peirce ou a leitura estruturalista das criações mitológicas da
humanidade - coisas que passaram a fazer parte da vida mental de muitos de nós.
A questão não é esta. E sim a transposição de uma situação histórico-cultural
específica para outra, impondo-se ideologicamente sobre particularidades óbvias.
(...)”;

- “(...) O problema, no entanto, não está na idade da idéia, mas na disposição para
aplicá-la, com seriedade, aos temas correntes. Porque a verdade é que os ‘clássicos’
da interpretação do Brasil estão todos velhos. Não por culpa deles. Freyre, Sérgio
Buarque, Caio Prado e Florestan permanecem luminosamente jovens. Nós é que
não temos tido a disposição de mantê-los vivos para nós mesmos. De tocar o barco
de suas idéias - ainda que saibamos que a cultura intelectual de cada país só
amadurece, em funda profundidade, quando parte de seus próprios documentos,
testemunhos, princípios, desenhos, conceitos, intuições e reflexões. Quando parte
decididamente de si mesma. Sem capachismos ideológicos, sem alienações
universitárias. (...)”.

Nome: Karina Seferian Ventura.


Curso: Letras Português/Literaturas - 1º período.
Disciplina: Cultura Brasileira I.
Data: 14/11/2011.

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