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- “(...) É claro que existe racismo nos EUA. É claro que existe racismo no Brasil.
Mas são espécies distintas de racismo, em decorrência da contextura histórica de
cada projeto colonizador, da formação cultural diversa dos colonizadores de cada
um desses países e do modo como se desenhou a trajetória social dos povos
brasileiro e norte-americano. (...)”;
- “(...) Nos EUA (e só nos EUA, entre todos os países das Américas) qualquer
indivíduo que tenha um mínimo de “sangue negro” é automaticamente classificado
como negro. É a “regra de descendência” - hypodescent (ou one drop) rule, que não
abre espaço algum para mestiços. O sujeito é irremissivelmente black - ou white.
(...)”;
- “(...) É que, ao tempo em que nossos racialistas tentam nos impor a dicotomia
norte-americana, investindo contra a multiplicidade cromática brasileira, o que se
está vendo agora, nos EUA, é o movimento inverso. A crítica e a recusa do padrão
bipolar. Cresce a cada dia o número de mestiços, de mulatos norte-americanos, que
não querem mais se identificar nem ser identificados como negros. (...)”;
- “(...) Tentar nos levar de volta a um rígido binarismo racial, ainda que a partir de
boas intenções políticas, é um retrocesso. (...)”;
- “(...) ‘Assim, o receio aos pretos resultou em políticas e leis que apenas
perpetuaram e institucionalizaram os próprios medos contra os quais essas
políticas eram, pelo menos em parte, dirigidas.’ Medo que desembocou em algo
que nunca tivemos por aqui: o racismo de Estado (...)”;
- “(...) É inútil querer fazer com que sejamos iguais aos norte-americanos,
adotando a regra de descendência. A luta não pode ser contra a mestiçagem e seu
vigor sociocultural. Não pode ser contra a realidade. Pois um primeiro esforço,
condenado de antemão ao fracasso, seria o de tentar convencer mestiços brasileiros
de que eles não são mestiços brasileiros. (...)”;
- “(...) O problema, no entanto, não está na idade da idéia, mas na disposição para
aplicá-la, com seriedade, aos temas correntes. Porque a verdade é que os ‘clássicos’
da interpretação do Brasil estão todos velhos. Não por culpa deles. Freyre, Sérgio
Buarque, Caio Prado e Florestan permanecem luminosamente jovens. Nós é que
não temos tido a disposição de mantê-los vivos para nós mesmos. De tocar o barco
de suas idéias - ainda que saibamos que a cultura intelectual de cada país só
amadurece, em funda profundidade, quando parte de seus próprios documentos,
testemunhos, princípios, desenhos, conceitos, intuições e reflexões. Quando parte
decididamente de si mesma. Sem capachismos ideológicos, sem alienações
universitárias. (...)”.