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MANUAL TÉCNICO DO PROFESSOR DO

ENSINO FUNDAMENTAL I
PROJETO SNIPE

Solar Colégios
Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE FOMENTO

Autor: José Antonio Alcázar

Colaboraram:

Carlos Amador
José Amat
Joan Curcó
Manuel González
Juan Gutiérrez
Pedro de la Herrán
Carmen Lomas
Ignacio Mirón
Pilar Mosteiro
Jesús M. Pastor
Benigno Sáez
Mahue Sánchez
Mireia Tintoré
Ángel Trascasa
Francisco Vendrell

Para uso exclusivo do professorado

de Educação Fundamental l

dos colégios que desenvolvem

o PROJETO SNIPE

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

ÍNDICE
Capítulo I - INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 8
Capítulo II - FINALIDADES EDUCATIVAS ................................................................................... 11
A. Desenvolvimento físico corporal ..................................................................................... 12
B. Formação do intelecto .................................................................................................... 12
C. Fortalecimento da vontade ............................................................................................. 13
D. Formação da afetividade ................................................................................................. 14
E. Formação cristã: doutrina e vida ..................................................................................... 14
Capítulo III - OBJETIVOS GERAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL I................................................. 16
Capítulo IV - ORIENTAÇÕES GERAIS SOBRE A INCORPORAÇÃO NO CURRÍCULO DOS EIXOS
TRANSVERSAIS ........................................................................................................................ 19
A. EDUCAÇÃO FAMILIAR...................................................................................................... 20
B. EDUCAÇÃO MORAL ......................................................................................................... 23
C. EDUCAÇÃO PARA O TRABALHO, ATRAVÉS DO TRABALHO ................................................ 35
D. EDUCAÇÃO PARA A CONVIVÊNCIA E PARA OS VALORES SOCIAIS ..................................... 37
E. EDUCAÇÃO PARA A SOLIDARIEDADE, O DIÁLOGO, A PAZ E A NÃO DISCRIMINAÇÃO ........ 38
F. EDUCAÇÃO AMBIENTAL................................................................................................... 40
G. EDUCAÇÃO PARA O AMOR (AFETIVA E SEXUAL) .............................................................. 41
H. EDUCAÇÃO COMO CONSUMIDOR ................................................................................... 51
I. EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE FÍSICA E MENTAL ................................................................... 52
Capítulo V - ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS ......................................................................... 53
A. ASPECTOS GERAIS ........................................................................................................... 53
1. O PROFESSOR EDUCADOR ........................................................................................... 53
2. A TAREFA DO PROFESSOR ............................................................................................ 57
3. MOTIVAÇÃO ................................................................................................................ 58
4. A ATENÇÃO PESSOAL AOS ALUNOS.............................................................................. 59
5. DESENVOLVIMENTO SISTEMÁTICO DE CAPACIDADES E HABILIDADES .......................... 61
6. A LINGUAGEM COMO VEÍCULO DO PENSAMENTO ...................................................... 67
7. O TRABALHO AUTÔNOMO E COOPERATIVO DO ALUNO .............................................. 68
8. A TRANSFERÊNCIA DO APRENDIZADO E APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA ..................... 68
9. O CLIMA FAVORÁVEL PARA A APRENDIZAGEM ............................................................ 69
10. A AVALIAÇÃO ............................................................................................................ 70
11. USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS ................................................................................. 71

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12. ATITUDE POSITIVA. DESENVOLVIMENTO DA SEGURANÇA E AUTOESTIMA DOS ALUNOS


....................................................................................................................................... 71
13. O RESPEITO AO RITMO PESSOAL DE APRENDIZAGEM ................................................ 72
14. O JOGO COMO UM RECURSO DIDÁTICO .................................................................... 72
15. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL.......................................................................................... 73
B. SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM....................................................................................... 73
1. Situações de aprendizagem comuns a toda etapa do Ensino Fundamental I................. 73
2. Situações de aprendizagens específicas anos iniciais do Fundamental I ........................... 79
A. O programa neuromotor: reforço dos padrões básicos de movimento ........................ 79
B. Audições musicais ....................................................................................................... 85
C. Passeios de aprendizagem ........................................................................................... 91
D. Os bits de inteligência ................................................................................................. 95
E. Atividades de linguagem: poesias, trava-línguas, adivinhações e canções .................... 97
3. Situações de aprendizagens específicas dos anos subsequentes do Fundamental I .......... 98
A. Os Bits de Aprendizagem e os Campos Semânticos ou Famílias ................................... 98
B. Desenvolvimento do pensamento estratégico através do xadrez ................................. 99
C. As saídas de observação .............................................................................................. 99
D. O Teatro .................................................................................................................... 101
C. ORIENTAÇÕES PARA CADA ÁREA DE APRENDIZAGEM .................................................... 101
1. Conhecimento do meio natural e social ..................................................................... 101
2. Linguagem e Literatura .............................................................................................. 105
3. Matemática ............................................................................................................... 112
4. Outros idiomas .......................................................................................................... 119
5. Educação Artística ..................................................................................................... 121
6. Educação Religiosa .................................................................................................... 124
7. Educação Física.......................................................................................................... 126
Capítulo VI - PROGRAMAÇÃO DE ATIVIDADES ....................................................................... 136
1. AS UNIDADES DIDÁTICAS QUINZENAIS .......................................................................... 136
2. A GLOBALIZAÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL .............................................................. 138
3. AS ATIVIDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM ................................................................. 140
4. A MOTIVAÇÃO DAS APRENDIZAGENS ............................................................................ 143
5. A PREPARAÇÃO DAS AULAS ........................................................................................... 146
6. OS DEVERES DE CASA .................................................................................................... 148

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Capítulo VII - CONHECIMENTO, PROJETO PESSOAL E AVALIAÇÂO PERSONALIZADA DO ALUNO


............................................................................................................................................. 150
A. CONHECIMENTO DO ALUNO ......................................................................................... 150
1. Aspectos gerais.......................................................................................................... 150
2. Perfil do desenvolvimento da criança de seis anos ..................................................... 151
3. Perfil do desenvolvimento da criança de sete anos .................................................... 153
4. Perfil do desenvolvimento da criança a partir dos oito anos ...................................... 155
5. A Puberdade.............................................................................................................. 174
B. ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO DE CADA ALUNO ................................................... 177
1. Avaliação inicial ......................................................................................................... 177
2. Avaliação Contínua, Global e Formativa ..................................................................... 178
3. Informes trimestrais .................................................................................................. 179
Capítulo VIII - ADAPTAÇÕES CURRICULARES .......................................................................... 180
Capítulo IX - MEIOS DE ORIENTAÇÃO PESSOAL E COLETIVA .................................................. 182
A. EDUCAR NA LIBERDADE ................................................................................................ 182
B. MEIO DE ORIENTAÇÃO PESSOAL: A PRECEPTORIA ......................................................... 186
1. Conhecer e estimar o aluno: ganhar sua confiança .................................................... 187
2. Qualidades do preceptor ........................................................................................... 188
3. Educando cada pessoa............................................................................................... 189
4. Conteúdo da preceptoria ........................................................................................... 191
5. O preceptor e a qualidade docente ............................................................................ 193
6. O preceptor e as atividades extraescolares ................................................................ 195
7. O preceptor dos alunos do Snipe ............................................................................... 195
C. MEIOS DE ORIENTAÇÃO COLETIVA ................................................................................ 196
1. O professor encarregado de classe (PEC) ................................................................... 196
2. O ambiente educativo da sala de aula ....................................................................... 196
3. Reunião de turma ...................................................................................................... 197
4. O Conselho de turma ................................................................................................. 199
5. Os encargos dos alunos ............................................................................................. 202
6. O Programa de Formação Humana: Virtudes ............................................................. 203
7. As assembleias .......................................................................................................... 204
8. As convivências ......................................................................................................... 204
D. ATIVIDADES PROMOVIDAS PELA CAPELANIA ................................................................. 205

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Capítulo X - O AMBIENTE E A CONVIVÊNCIA ESCOLAR O CLIMA DA SALA ............................... 207


A. IMPORTÂNCIA DO AMBIENTE ESCOLAR......................................................................... 207
B. CONDIÇÕES DO AMBIENTE ESCOLAR ............................................................................. 207
C. O AMBIENTE ESCOLAR PERSONALIZADO ....................................................................... 210
D. CONVIVÊNCIA E DISCIPLINA ESCOLAR ........................................................................... 213
E. SITUAÇÕES QUE MERECEM ATENÇÃO ESPECIAL ............................................................ 217
1. O Refeitório ............................................................................................................... 217
2. Os novos alunos ........................................................................................................ 218
3. Os descansos ............................................................................................................. 219
4. Deslocamento dos alunos pelo colégio ...................................................................... 220
5. Os aniversários .......................................................................................................... 220
6. Os alunos doentes ..................................................................................................... 221
7. As festas do colégio ................................................................................................... 221
8. O Oratório ................................................................................................................. 222
Capítulo XI - A EDUCAÇÃO DAS VIRTUDES HUMANAS NO PROJETO SNIPE ............................. 223
A. ORDEM ......................................................................................................................... 228
B. LABORIOSIDADE. AMOR AO TRABALHO BEM FEITO ....................................................... 236
C. VIRTUDE DA GENEROSIDADE......................................................................................... 247
D. VIRTUDE DA RESPONSABILIDADE .................................................................................. 259
E. VIRTUDE DA ALEGRIA .................................................................................................... 261
F. VIRTUDE DA PIEDADE: HÁBITOS DE VIDA CRISTÃ ........................................................... 265
G. VIRTUDES HUMANAS E AÇÕES INCIDENTAIS ................................................................. 268
Capítulo XII - OS PAIS DOS ALUNOS ....................................................................................... 271
A. O PRECEPTOR E OS PAIS DOS ALUNOS........................................................................... 271
B. A FORMAÇÃO PERMANENTE DOS PAIS.......................................................................... 275
C. CASAIS ENCARREGADOS DE CLASSE (CEC) ..................................................................... 277
Capítulo XIII - ORGANIZAÇÃO DE ESPAÇOS E TEMPOS ........................................................... 279
A. ORGANIZAÇÃO MATERIAL DA AULA .............................................................................. 279
B. ORGANIZAÇÃO DO TEMPO. HORÁRIOS ......................................................................... 279
Capítulo XIV - AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM ................................. 281
A. AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO .......................................................................... 281
B. AVALIAÇÃO DO PROJETO CURRICULAR .......................................................................... 282

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

Tradução e adaptação: Simone Schimidt, Onilda Brito

Revisão e adaptação: Ana Cláudia Oliveira

Janeiro, 2016

Este material não pode ser reproduzido ou veiculado sem permissão por escrito da
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Capítulo I - INTRODUÇÃO

É patente nos nossos dias que a tarefa educativa não consiste apenas em
ensinar ou aprender a ler, escrever, saber algo de matemática e armazenar
conhecimentos, cada vez mais volumosos e mutáveis. É fundamental preocupar-se
com o desenvolvimento da capacidade de comunicação; do acesso e processamento
crítico da informação; da capacidade de identificação, questionamento e resolução de
problemas; do uso do raciocínio abstrato e científico e, por fim, da utilização
consciente e crítica dos recursos tecnológicos, em especial do mundo virtual e das
redes sociais. Além disso, a complexidade dos problemas atuais e a globalização dos
mesmos evidenciam a necessidade de cultivar a dimensão ética em todos os
estudantes.

A realidade, respaldada pelas estatísticas, mostra que muitos estudantes


chegam ao final da educação básica com uma série de conhecimentos melhor ou pior
assimilados, mas sem possuir habilidades básicas para o aprendizado escolar como: ler
compreensivamente um texto, avaliar segundo determinados critérios, analisar,
sintetizar, manejar adequadamente um dicionário, organizar o tempo pessoal de
trabalho.

É evidente que uma grande porcentagem dos alunos com “fracasso escolar”
tem capacidade intelectual para não se encontrar nessa situação. Sabemos que o
rendimento escolar envolve fatores como motivação, esforço pessoal, tempo dedicado
ao estudo, incentivo familiar e reforço do ambiente social. Contudo, ainda que esses
fatores sejam favoráveis, é inegável que é muito difícil manter a motivação e o esforço
pessoal, quando as estratégias pedagógicas não se demonstram eficazes para superar
os níveis de competência estabelecidos.

Por outra parte, o perfil ético deve ser desenvolvido com a formação da
consciência, a transmissão de valores e a formação das virtudes.

Uma abrangente formação intelectual e uma adequada formação ética de


nossos alunos constitui a dupla meta a que nos propomos no Projeto Curricular Snipe
para o Ensino Fundamental I.

A grade curricular e algumas estratégias pedagógicas dos dois primeiros anos


do Projeto Snipe enlaçam com o Projeto Optimist, aproveitando o final dos períodos
sensitivos, concorrendo para a melhor configuração cerebral e preparando o adequado
desenvolvimento subsequente da capacidade intelectual. Ao mesmo tempo, enfatiza-
se a aprendizagem dos conteúdos instrumentais básicos: ler, escrever e calcular.

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O interesse principal no Projeto Snipe é o desenvolvimento sistemático


realizado por meio do trabalho diário realizado em sala, ou seja, um plano de estudo
que contempla:

 As capacidades ou habilidades de pensamento (desenvolvimento cognitivo);


 O conhecimento e o raciocínio moral, o fortalecimento da vontade por meio da
vivência das virtudes e do cultivo da afetividade (desenvolvimento moral e
ético).

É nessa faixa etária, antecedente à adolescência, que se apresenta a maioria


dos períodos sensitivos ótimos para a aprendizagem das habilidades intelectuais e para
a educação da vontade. Como as estratégias de pensamento fundamentais e as
principais virtudes são interiorizadas nesses anos, torna-se importante proporcionar
numerosas ocasiões de sistematização.

O desenho do Projeto Snipe exige:

 Identificar os hábitos de comportamento fundamentais e as principais


habilidades de pensamento, sequenciando segundo o grau de complexidade.
 Desenhar um plano de estudo que integre em seus conteúdos as estratégias de
pensamento e os hábitos de trabalho e de conduta que foram identificados.
Esse plano de estudo assume os conteúdos dos PCN para o Fundamental I.
 Estabelecer as linhas metodológicas mais adequadas para a consecução da
dupla meta proposta (desenvolvimento intelectual e ético).
 Adaptar e/ou eleger os recursos didáticos que melhor correspondam a essa
perspectiva.
 Formar os professores na fundamentação teórica, métodos e práticas sobre a
aprendizagem dos processos de pensamento e a formação moral e ética.
 Envolver os pais no desenvolvimento do projeto, programando atividades
familiares integradas ao plano de estudo.
 Oferecer aos pais uma assessoria educativa familiar através das entrevistas com
o preceptor e de outros meios formativos que se demonstrarem oportunos
(palestras, workshops, atividades promovidas pela Capelania do colégio, etc.).

A dupla meta proposta pelo Projeto Snipe, com suas ferramentas


metodológicas próprias, constitui um desafio para a equipe docente. O projeto requer
um modo distinto de enfocar o processo de ensino-aprendizagem e implica uma
atitude de renovação por parte do professor. O projeto só terá garantia de êxito se
houver uma autêntica mudança da mentalidade dos professores envolvidos, pois serão
eles que concretizarão o projeto no dia a dia de sala de aula. Logicamente, não se trata
de mudar por mudar, mas de melhorar constantemente a qualidade da ação educativa

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diária. Aqueles que têm a arte de ensinar procuram colocar todos os meios ao seu
alcance para que seus alunos aprendam e mantenham sempre, em qualquer
circunstância, o entusiasmo por aprender.

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Capítulo II - FINALIDADES EDUCATIVAS

A primeira coisa a se fazer em um Programa de Ensino é elaborar os objetivos,


considerando-se os fins educativos almejados. Quando se elabora um objetivo, são
expressos com a maior precisão possível os fins concretos que se pretendem alcançar
em uma determinada atividade educativa.

A diferença entre finalidades e objetivos consiste em que as finalidades


estabelecem os resultados últimos a que se espera que os alunos alcancem, enquanto
que os objetivos referem-se a resultados concretos. As finalidades são bastante
extensas, descrevem um estado ou uma intenção geral, amplos, não indicam o que se
deve fazer e não são diretamente avaliáveis.

Nossas finalidades ou intenções educativas sintetizam as linhas mestras de uma


educação centrada na pessoa, conforme a concepção cristã do homem e da vida.

A formação da pessoa para o exercício responsável de sua liberdade leva-a ao


conhecimento de sua estrutura básica e das leis naturais de seu desenvolvimento, a
fim de conseguir que a ação educativa incida adequadamente em cada uma das etapas
da vida.

O direito irrenunciável e a principal responsabilidade da educação dos alunos


correspondem, por natureza, a seus pais, com os quais o colégio colabora em sua
tarefa indelegável de primeiros educadores.

A primeira atenção deve ser dada aos pais dos alunos, assegurando dessa
forma uma eficaz colaboração entre a ação educativa familiar e a do colégio. Assim, os
pais proporcionam a seus filhos uma educação coerente, pois família e colégio
compartem os mesmos ideais educativos.

O colégio busca a educação personalizada dos alunos, de cada um como pessoa


única e exclusiva que alcançará o máximo desenvolvimento possível de suas
capacidades e aptidões. Isto requer conhecer cada aluno, respeitá-lo, atender suas
necessidades e características pessoais, amá-lo como é e inspirar-lhe confiança e
segurança.

Promove-se uma formação completa que favorece o pleno desenvolvimento da


personalidade, manifestado em diversos aspectos que se harmonizam na unidade da
pessoa e da ação educativa.

Para educar a pessoa é preciso atender à totalidade do ser humano: a


corporeidade, a inteligência, a vontade, a afetividade e seu sentido transcendente.

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Primeiramente, atender à corporeidade que é simultaneamente a base


condicionante e o meio pelo qual realizamos boa parte de outras funções. Depois, o
objetivo da educação é ensinar a pensar ou ensinar a buscar a verdade; ajudar a
fortalecer a vontade, de modo que a pessoa esteja em condições de aderir livremente
à verdade encontrada, podendo segui-la e superando as dificuldades que encontre,
orientando os sentimentos e afetos.

Além disso, o homem é um ser social, aberto a Deus e aos outros, e deve
aprender a dar e a dar-se, não somente a receber. Deve aprender a amar.

A inteligência, alimentada pela verdade, pela vontade fortalecida, pelas


virtudes que ajudam a viver conforme a convicção da verdade, e o coração, disposto a
amar a verdade vivida, fundem-se na unidade exclusiva de cada homem (unidade de
vida), sendo possível a felicidade, própria das pessoas coerentes, firmes e estáveis.

Educação completa e íntegra. Integridade que não é soma ou justaposição de


diferentes aspectos, mas a integridade da unidade harmônica de todos esses aspectos
na unidade da pessoa e da ação educativa, atendendo à singularidade de cada pessoa.

A. Desenvolvimento físico corporal


Através de atividades físicas e esportivas, principalmente, desenvolvem-se as
aptidões sensoriais e motoras. Fomentam-se a atitude de superação pessoal, o espírito
de cooperação e outras virtudes humanas, ao mesmo tempo em que se promovem
hábitos de saúde e de higiene pessoal.

B. Formação do intelecto
Orienta-se para proporcionar conhecimentos, hábitos e técnicas de trabalho
intelectual, bem como para favorecer o desenvolvimento das habilidades. Em
educação, não cabe um doutrinamento manipulador, nem uma atitude
aparentemente neutra, já que, com a palavra e com a conduta, sempre se parte de
alguns princípios e se apresentam alguns conteúdos morais determinados, corretos ou
não.

A diferença entre doutrinar e educar, em muitos casos, não está tanto no que
se ensina, mas em como se ensina. O importante é respeitar os alunos, ajudando-os a
assimilar e personalizar os valores que lhes são diretamente apresentados, os critérios
de vida e as virtudes, promovidos através de um processo educativo que fomente um
saudável espírito crítico.

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Deve-se alcançar um clima em que os alunos exponham e defendam sua


própria argumentação, e o professor escute com atenção e respeito as reflexões dos
alunos, procurando oferecer-lhes os pontos de apoio indispensáveis para que
encontrem por si mesmos uma sólida fundamentação racional.

Ensinar a pensar, a desenvolver o próprio critério, é fundamental no


desenvolvimento do aluno que descobre e aprecia os valores e os integra livremente
em sua vida pessoal. Não se trata somente de admirar a verdade, mas de adquirir
convicções firmes.

C. Fortalecimento da vontade
A educação da vontade tem como objetivo procurar que cada aluno se forme
no esforço e na responsabilidade pessoal, desenvolvendo hábitos que fortaleçam sua
capacidade de decisão e permitam colocar em prática o que foi livremente decidido. A
vontade se educa mediante o desenvolvimento das virtudes humanas, que facilitam
viver de acordo com critérios éticos de conduta livremente aceitos, conformes com a
dignidade pessoal.

Por meio da educação da vontade, os alunos são capazes de viver com fortaleza
os compromissos que adquiriram livremente, superando os obstáculos que possam
apresentar-se. Adquire-se, dessa forma, maturidade pessoal, pois aceitam as
consequências das próprias decisões. Uma vontade forte permite ao aluno ter
confiança em si mesmo e ser capaz de se governar, fazendo o que deve ser feito,
dominando os sentimentos do momento. Permite-lhe, portanto, ser livre, equilibrado,
sereno, senhor de seus próprios atos.

Pensar é requisito indispensável, mas não suficiente, para uma atuação correta.
É necessário ajudar os alunos a fortalecerem a vontade e a adquirirem virtudes
humanas.

A aquisição de hábitos morais fortalece a segurança pessoal ao proporcionar


facilidade e energia para conseguir as metas a que se aspira. Pelo princípio de
harmonia das virtudes, quando uma delas melhora, aperfeiçoam-se as outras, pois
todas residem na unidade da pessoa. Por isso, é interessante apoiar-se nas qualidades
do aluno, reforçando seus pontos fortes pessoais, sem recorrer a comparações, nem
estimular atitudes de competição desleal com os outros.

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D. Formação da afetividade
Junto à formação da inteligência e ao fortalecimento da vontade, é necessário
também atender ao desenvolvimento da afetividade. Os sentimentos contam na vida
pessoal porque influem significativamente na formação das atitudes e das motivações.
Ter bons sentimentos facilita uma firme vontade para o bem.

As vivências e valores que se apóiam no sentimento e na afetividade enraízam


fortemente na consciência. Devemos ensinar os alunos a compreender e orientar as
tendências e os sentimentos. Educar os sentimentos é contar com eles, demonstrá-los
conscientemente, para que ajudem a vontade a tender para o bem.

É preciso educar ensinando a esforçar-se dia a dia para fazer o que deve ser
feito: aproveitar o tempo, tirar partido dos próprios talentos, procurar vencer os
defeitos do próprio caráter, buscar sempre fazer algo a mais pelas pessoas que estão
ao nosso redor, manter uma relação cordial com todos, etc.

O coração é uma força para o homem: quando vai pelo caminho da verdade e
do bem, os sentimentos nobres contribuem para lhe dar força e brio; mas os
sentimentos não nobres podem acabar extraviando o entendimento mais reto.

A pessoa motivada vê a meta como algo grande e positivo que pode conseguir.
Pelo contrário, com a indiferença, não se pode cultivar a vontade. O homem
entusiasmado sabe o que quer e aonde vai, está sempre vigilante e não se desmorona.
Até nos piores momentos há um vestígio de esperança debaixo das cinzas. Aí se apoia
a capacidade de recomeçar outra vez, o que faz a grandeza das pessoas.

E. Formação cristã: doutrina e vida


Tudo isso é válido também para a formação cristã que requer alimentar a
inteligência com a doutrina da fé, ajudar o aluno a adquirir hábitos de conduta e de
piedade pessoal e a colocar o coração e o entusiasmo em viver conforme o querer de
Deus.

Todas as atividades de atendimento espiritual que se oferecem no colégio têm


caráter voluntário, com muito respeito à liberdade das consciências, o que é muito
importante, pois esse respeito é exigido pela natureza do ato de fé e pelos próprios
princípios da moral.

Efetivamente, não há nada mais íntimo e voluntário que o ato de fé ou que o


amor a Deus. O respeito à liberdade, porém, não significa relativizar os conteúdos da
fé ou da moral, para adaptá-los ao sentimento ou ao modo pessoal de ver as coisas.

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Não é também deixar de estimular e convidar a pessoa para receber com interesse e
proveito a formação espiritual.

A liberdade das consciências pressupõe o direito fundamental de qualquer


pessoa de buscar e aceitar a verdade; de formar sua consciência de acordo com a
verdade encontrada; e de seguir os ditames de sua própria consciência.

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Capítulo III - OBJETIVOS GERAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL I

Para satisfazer uma intenção ou finalidade educativa é imprescindível


fragmentá-la e concretizá-la em pequenas metas que expressem condutas ou
resultados observáveis, isto é, objetivos que podem ser definidos como a descrição de
uma conduta ou de um resultado que esperamos sejam alcançados em determinado
prazo de tempo.

A primeira concretização de uma intenção educativa são os objetivos gerais de


etapa que estabelecem quais capacidades pretendemos conseguir em cada uma das
etapas educativas, neste caso, o Ensino Fundamental I.

Os objetivos gerais são formulados em forma de capacidades inter-


relacionadas, não como condutas mensuráveis, nem indicando o grau de
desenvolvimento que será diferente em cada aluno. Não são, portanto, diretamente
avaliáveis, embora inspirem os processos de avaliação que permitirão analisar o
avanço global que os estudantes alcançaram em suas capacidades.

Esses objetivos se referem a capacidades gerais que serão trabalhadas em


todas as áreas, ainda que cada uma delas, por sua peculiar configuração, incida de
modo diferente em seu desenvolvimento.

A criança dessa idade tem características psicológicas e desenvolvimento físico


e mental peculiares. Por essa razão, o Ensino Fundamental I é um nível com
substancialidade própria, em que há momentos ótimos para a aprendizagem e a
aquisição de hábitos de conduta.

A seguir, enumeram-se os objetivos gerais para o Ensino Fundamental I no


Projeto Curricular Snipe, considerados os Programas Curriculares Oficiais.

Ao finalizar o Ensino Fundamental I, como resultado do processo de ensino e


aprendizagem, o aluno terá desenvolvido a capacidade de:

1. Conhecer e prezar o próprio corpo, contribuindo para seu desenvolvimento


biológico e perceptivo-motor, praticando atividades físicas adequadas à sua idade e
vivendo os hábitos elementares de higiene e saúde corporal.

2. Apreciar a atividade física, tanto em atividades individuais como nas coletivas


ou de competição, valorizando a importância que a prática do exercício físico e a
participação nos jogos têm para a melhoria de suas habilidades motoras e para o
cultivo de uma atitude de superação pessoal, de respeito, de espírito cooperativo, bem
como da fortaleza e de outras virtudes humanas.

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3. Colocar em prática suas decisões pessoais e cumprir os compromissos


adquiridos, com o conselho e ajuda de seus pais, desenvolvendo a fortaleza para
superar os obstáculos que possam apresentar-se.

4. Agir com autonomia e segurança em suas atividades habituais e nas relações


de grupo, desenvolvendo a capacidade de tomar decisões, com iniciativa e
responsabilidade, e de estabelecer relações afetivas.

5. Participar ativamente no planejamento e realização de atividades, aceitando


as normas e regras estabelecidas, articulando os objetivos e interesses próprios com os
dos outros membros do grupo, respeitando os diferentes pontos de vista e assumindo
as responsabilidades que lhe correspondam.

6. Estabelecer relações equilibradas e positivas com as pessoas com quem se


relaciona (família, colégio, vizinhos, amigos...) e praticar as normas de comportamento
que regulam as relações sociais, cultivando as virtudes sociais e cívicas (delicadeza,
sinceridade, justiça, generosidade, respeito, etc.) e os hábitos de convivência,
cooperação e solidariedade com todas as pessoas – em especial com as mais
necessitadas –, que levam à aceitação e à compreensão das diferenças de sexo, classe
social, crenças, raça, etc. e à recusa de qualquer discriminação.

7. Compreender e produzir mensagens orais e escritas em português,


atendendo a diferentes intenções e contextos de comunicação. Compreender e
produzir mensagens orais e escritas simples e contextualizadas em língua estrangeira
(inglês).

8. Utilizar os diferentes meios de expressão (verbal, corporal, visual, plástica,


musical e matemática) para se comunicar, desenvolvendo o raciocínio lógico, verbal e
matemático, assim como a sensibilidade estética, a criatividade e a capacidade para
valorizar e apreciar as obras e manifestações artísticas.

9. Utilizar na resolução de problemas simples os procedimentos oportunos para


obter a informação pertinente e representá-la mediante códigos, levando em conta as
condições necessárias para sua solução.

10. Identificar e apresentar questões e problemas a partir da experiência diária,


utilizando os conhecimentos adquiridos, os recursos disponíveis e a colaboração de
outras pessoas, se for necessário, para resolvê-los de forma autônoma e criativa.

11. Compreender os fatos e fenômenos do ambiente natural e social,


estabelecendo as relações pertinentes entre os mesmos, e contribuindo ativamente,
no que for possível, na defesa, conservação e melhoria do meio ambiente.

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12. Conhecer o patrimônio cultural, participar em sua conservação e melhoria,


e respeitar a diversidade linguística e cultural como direito dos povos e indivíduos,
desenvolvendo uma atitude de interesse e respeito para o exercício deste direito.

13. Conhecer e prezar os elementos e as características básicas do patrimônio


natural, cultural e histórico de cada região do país, contribuindo para a sua
conservação.

14. Adquirir noções e hábitos de caráter ético e religioso que levem a prezar a
importância dos valores básicos da cultura e do espírito e a adquirir gradualmente um
sentido mais profundo da liberdade e da responsabilidade mediante o
desenvolvimento de virtudes humanas e de suficiente critério moral.

15. Conhecer os conteúdos básicos da doutrina católica e as fundamentais


exigências pessoais e sociais da fé, tomando consciência de sua condição de filho de
Deus e de membro da Igreja, esforçando-se por se comportar como tal e respeitando a
liberdade das consciências.

16. Conhecer, através de seus pais e da oportuna ajuda escolar, a dignidade e o


sentido do amor humano.

17. Aplicar as técnicas de trabalho intelectual (processos de pensamento,


habilidades mentais, técnicas de estudo, etc.) necessárias para realizar sua tarefa com
a maior perfeição possível, cuidando dos pequenos detalhes de ordem, pontualidade,
limpeza e cuidado com os instrumentos de trabalho, valorizando a obra bem feita
como meio de aperfeiçoamento pessoal – humano e espiritual – e de serviço ao bem
da sociedade.

18. Empregar com proveito e iniciativa o tempo livre, mediante a prática


habitual das preferências esportivas e culturais.

19. Utilizar as técnicas de informática básicas para o desenvolvimento de


capacidades lógicas, criativas e a resolução de problemas de diferentes tipos.

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Capítulo IV - ORIENTAÇÕES GERAIS SOBRE A INCORPORAÇÃO NO CURRÍCULO


DOS EIXOS TRANSVERSAIS

A educação deve potenciar o desenvolvimento integral da pessoa e preparar as


crianças e jovens para viver seu papel de cidadãos ativos e responsáveis em uma
sociedade em contínua mudança. Isto requer que, através do ensino e aprendizagem
das diferentes áreas do currículo, sejam desenvolvidos alguns grandes temas, em
relação muito direta com as finalidades educativas plasmadas no Projeto Educativo,
tais como a educação moral, a educação para a convivência e os valores sociais, a
educação em e para o trabalho, etc.

Esses grandes temas, que dizem respeito à atividade educativa escolar,


chamam-se temas ou eixos transversais, já que "atravessam" e estão presentes nas
diferentes etapas educativas e nas diferentes áreas que compõem o currículo dessas
etapas.

Não são, portanto, temas marginais ou secundários, nem conteúdos a trabalhar


de uma forma isolada em algum objetivo, área ou bloco de conteúdos. São temas
importantes que impregnam a atividade educativa, que aproximam a escola à vida e
favorecem o desenvolvimento integral da pessoa.

Os temas transversais estão nos conteúdos das diversas áreas, já que


constituem aspectos muito importantes da cultura básica de todo cidadão.
Apresentam-se como um conjunto de conteúdos que interagem em todas as áreas do
currículo escolar. Seu desenvolvimento afeta a globalidade do currículo, não se
tratando, portanto, de um conjunto de ensinamentos autônomos, mas sim de uma
série de elementos de aprendizagem sumamente globalizados, presentes em todas as
áreas.

Não existem pautas metodológicas específicas que tratem dos temas


transversais, mas se deve levar em conta a metodologia própria de cada área, de
acordo com o estilo de ensino previsto para todo o processo de ensino e
aprendizagem.

É positiva a experiência de dedicar um ou vários dias por ano para um


tratamento mais sistemático, com mais profundidade e presença na vida escolar, de
alguns temas transversais. Toda a comunidade escolar participa nesses dias da
preparação e desenvolvimento desses temas.

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Os Temas Transversais definidos neste Projeto Educativo são os seguintes:

A. A educação familiar.
B. A educação moral.
C. A educação para o trabalho, através do trabalho.
D. A educação para a convivência e os valores sociais.
E. A educação para a solidariedade, a cooperação, o diálogo, a paz e a não
discriminação (por razão de sexo, raça, religião, ideias políticas, classe social,
etc.).
F. A educação ambiental.
G. A educação para o amor (afetiva e sexual).
H. A educação como consumidor.
I. A educação para a saúde física e mental.

A. EDUCAÇÃO FAMILIAR
Por natureza, o direito irrenunciável e a responsabilidade da educação dos
alunos correspondem a seus pais, a quem o colégio ajuda em sua tarefa insubstituível
de primeiros e fundamentais educadores.

A família é o âmbito próprio para o mais profundo desenvolvimento da pessoa:


as atitudes fundamentais diante da vida, a formação moral e religiosa, o uso
responsável da liberdade e, geralmente, a orientação e o cultivo da personalidade se
educam principalmente no seio familiar. Nele, a pessoa recebe os primeiros e mais
decisivos estímulos para o seu desenvolvimento. Família e colégio necessitam-se
mutuamente, mas o protagonismo corresponde à família.

A responsabilidade dos pais na educação de seus filhos abarca todos os seus


aspectos. Também sua aprendizagem, enquanto esta atividade seja um meio
fundamental para a formação da inteligência e da vontade, da pessoa. O colégio que
os pais responsavelmente escolhem para seus filhos, fazendo uso de seu direito, é um
complemento educativo da família, nunca um substituto.

Quando família e colégio são dois ambientes equilibrados e coincidentes em


valores, assentam-se as mais firmes bases para uma educação de qualidade: o projeto
educativo pessoal, no seio da família, e o currículo escolar devem estar em harmonia.

Corresponde ao centro educativo, em primeiro e principal lugar, ajudar os pais


dos alunos a ser de fato o que lhes corresponde por direito: os primeiros e principais
educadores de seus filhos.

Originariamente, os pais – o casal em comum – são os únicos que têm o direito


e o dever de educar seus filhos. Os professores participam desse direito-dever

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subsidiariamente, na medida em que os pais, sentindo-se insuficientes para realizar


algumas de suas funções educativas, lhes dão este encargo e lhes solicitam ajuda, sem
que deixem por isso sua responsabilidade.

De fato são os pais quem devem propor as metas educativas para seus filhos,
quem traçam as linhas mestras de um autêntico projeto educativo pessoal: o que
quero para meu filho? Como quero educá-lo?

Na prática, começam a responder a essas perguntas quando escolhem um


determinado tipo de centro educativo para seus filhos.

A educação familiar é antes de tudo uma educação positiva, de acolhimento


incondicional, em que o filho é amado sem qualquer outro motivo que não por ser
filho, e é nesse lugar onde aprenderá a amar.

No seio familiar e no ambiente escolar devemos esforçar-nos por descobrir as


boas possibilidades de cada um de nossos filhos e alunos, para lhes dar oportunidade
de crescer; descobrir também os valores de cada um com os quais pode enriquecer
sua vida pessoal e sua vida compartilhada com os demais.

As profundas mudanças operadas nos últimos anos com relação aos valores,
mais ou menos aceitos socialmente, têm afetado à família em um grau muito maior
que aos centros escolares. É da própria família de onde deve surgir a principal e mais
eficaz reação.

Muitos pais estão preocupados com a má influência do ambiente social no


desenvolvimento da personalidade de seus filhos. Não percebem, na maioria das
vezes, a poderosa arma que têm em suas mãos: a educação familiar, de um alcance e
profundidade muito maior que a influência que seus filhos recebem no ambiente
social.

Quanto mais consciente, perseverante e coerente seja a ação educativa


familiar, menor será a influência do ambiente social na experiência de vida que os
filhos vão adquirindo. É preciso voltar a descobrir que nem sequer a formação
intelectual é tarefa exclusiva da escola, embora o seja preferentemente, mas, também
nesse campo, a família tem sua responsabilidade.

A criação e a manutenção de uma cultura familiar, no mais pleno sentido do


termo cultura, decorrem do cultivo intelectual que acontece na comunicação, na ajuda
e no esforço mútuo, em um ambiente de segurança, de amor e de aceitação.

Quando falta esta vida educativa familiar, os filhos sofrem importantes


carências em seu desenvolvimento. As mais recentes pesquisas e a experiência da

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psicologia clínica dos últimos anos manifestam cada vez mais claramente a
importância do tempo compartilhado entre pais e filhos, para um desenvolvimento
equilibrado das crianças e para a construção de uma vida familiar saudável.

Essas pesquisas destacam especialmente o interesse da brincadeira e das


preferências em comum entre pais e filhos. Está demonstrado que a interação
filhos/pais desenvolve a linguagem e a inteligência, favorece o desenvolvimento
pessoal e a saúde mental, torna possível a sociabilidade, a abertura aos demais e ao
meio.

Pode-se afirmar precisamente que os pais que realizam atividades educativas


com seus filhos em casa conseguem que as crianças tenham bom desenvolvimento
intelectual e volitivo. Trata-se de uma relação que requer, antes de tudo, dedicar
tempo aos filhos, sendo mais importante a qualidade do que a quantidade. Deve ser
uma relação realmente educativa, gratificante, em que se tenha prazer de estar com
os filhos, com cada filho. Devem ser momentos intensos, sem pressas, com afeto, com
cada um.

Quando isso acontece, quando há autêntica convivência familiar, as crianças


aprendem a assumir diferentes papeis e adquirem habilidades de relação, abertura e
comunicação. Está comprovado que as crianças que brincam em família desenvolvem
destrezas intelectuais e sentido do regramento social por meio das normas. Falar com
os filhos requer dar-se a conhecer e conhecê-los, e esse conhecimento gera e aumenta
o amor; requer expressar as próprias emoções e ensiná-los a expressar as suas; requer
ensinar a resolver os problemas dialogando; além de muitos outros efeitos positivos.

A experiência nos diz que, neste mundo vertiginosamente agitado, muitas


vezes a dedicação dos pais aos filhos fica reduzida a uns fins de semana cada vez
menos compartilhados. Devem-se encontrar modos de facilitar e incentivar que os pais
intervenham na educação de seus filhos, apontando-lhes oportunidades para isso e
levando-os a se sentirem seguros sobre suas práticas educativas.

Este eixo transversal tem como objetivo primordial, dentre toda atividade
docente, oferecer aos pais ocasiões e meios de agir educativamente com seus filhos,
conscientes de que a principal participação dos pais no currículo é a que podem
realizar em seu próprio ambiente familiar, pelo bom exemplo e compartilhando o
tempo com os filhos em atividades realmente educativas e enriquecedoras para toda a
família.

O colégio deve animar os pais, com uma disposição positiva, para que
dediquem o melhor de seu tempo aos seus filhos. Os pais necessitam de entusiasmo,
da segurança de se sentirem capazes de educar muito bem seus filhos, e de uma ampla
gama de sugestões práticas de modos de fazer educativos na família. As entrevistas

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iniciais de ingresso de uma nova família no colégio representam um momento


especialmente oportuno para insistir nessa ideia.

A condição indispensável para que o protagonismo dos pais seja eficaz é a


coerência com a colaboração que o colégio presta aos pais, para um autêntico projeto
educativo pessoal para cada filho.

Um modo de favorecer esse protagonismo é mantê-los informados dos


conteúdos que se trabalham em cada momento no colégio e das possibilidades que o
seio familiar oferece para melhor aprendizagem desses conteúdos. Por isso, é
importante estabelecer uma informação frequente e fluida do colégio para as famílias
sobre o conteúdo e os objetivos das atividades escolares que seus filhos realizam, bem
como dos sucessos que vão alcançando e das dificuldades que encontram.

Outras maneiras práticas, dentre muitas, de potenciar a ação educativa familiar


a partir do colégio, são:

 Oferecer aos pais um resumo periódico da programação dos objetivos


fundamentais de aprendizagem, de modo que possam colaborar como lhes for
possível na consecução desses objetivos.
 Orientar os pais sobre atividades culturais, excursões, passeios e visitas que
possam realizar com seus filhos.
 Oferecer aos pais instrumentos que ajudem e fomentem a unidade e o diálogo
familiar, como meios básicos de formação dentro da família.
 Dar uma orientação mais prática às reuniões gerais, cursos intensivos e aulas
permanentes, organizadas pelo colégio para as famílias, de modo que se
trabalhem e sugiram modos práticos de atuação educativa familiar. Promover,
nessas reuniões, o intercâmbio de experiências positivas de umas famílias a
outras, que entusiasmem e deem segurança.
 Informar os pais sobre brincadeiras ou jogos que possam conectar a
aprendizagem escolar com a vida familiar.

B. EDUCAÇÃO MORAL
Os organismos educativos internacionais apresentam o caráter prioritário que
se deve dar à educação moral nos diferentes sistemas educativos. A UNESCO
recomenda a seus países membros orientar a atividade educativa de acordo com as
seguintes prioridades:

 desenvolvimento moral
 atitudes e hábitos de comportamento
 aptidões

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 habilidades e destrezas (saber fazer)


 conhecimentos

Sentido e conteúdo da educação moral


A sociedade atual necessita com urgência de uma educação moral para a
infância e adolescência, talvez em consequência da crise social generalizada que se
evidencia na insegurança do cidadão, na disseminação de doenças ou nos atentados à
vida e ao meio ambiente. Nos ambientes sociais, culturais e políticos, abriu-se caminho
à necessidade de um enfoque ético elementar sobre o qual possam apoiar-se as
relações humanas, tanto na esfera privada como na pública.

Não obstante, não há um consenso sobre a necessidade de uma educação ética


no que se refere ao conteúdo da formação moral. Consequentemente, não há também
um consenso sobre as técnicas educativas que devam ser aplicadas, precisamente
porque não há um acordo geral sobre o conceito de pessoa.

A educação pressupõe uma fundamentação antropológica, a partir da qual se


condiciona a educação ética.

Se entendermos a pessoa como um ser singular e irrepetível, isto é, como um


ser racional e livre, capaz de se abrir a Deus e aos outros, a educação ética somente
poderá ser entendida como educação da liberdade e da responsabilidade do aluno,
que deve descobrir por si mesmo a verdade e com ela se comprometer, já que não há
exercício da liberdade sem responsabilidade, sem compromisso. A coação e a
massificação são inimigas da formação moral.

A educação ética, portanto, consiste em provocar no aluno a inquietação por


descobrir os valores objetivos aos quais deve acomodar sua conduta, além de uma
ajuda para fortalecer sua vontade, de modo que possa responder livremente às
exigências da verdade ou da própria dignidade pessoal, da própria natureza.

O doutrinamento manipulador e a neutralidade como reducionismos


A educação moral não tem nada a ver com a imposição externa de normas
morais amparadas na coerção, inerente às relações de superioridade, que não
respeitam a liberdade do educando para escolher por si mesmo.

Não é também a introdução de um liberalismo absoluto que exclui qualquer


princípio condutor da conduta fora do próprio arbítrio. O doutrinamento conduz ao
fanatismo, e o liberalismo a falta solidariedade.

O doutrinamento, ao ignorar a liberdade do homem – ainda mais da criança –,


esquece que ninguém pode ser obrigado a amar ou a odiar, ou a se propor um
determinado fim em sua conduta. No máximo, pode-se obrigar um homem a realizar

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um ato externo, mas sua dignidade se fundamenta precisamente em sua capacidade


de decidir por si mesmo o sentido de sua ação, e para sentir como deveres morais os
impulsos instintivos.

Efetivamente, o animal não pode resistir ao impulso de se alimentar quando


sente fome; o homem, no entanto, tanto pode resistir a esse impulso – por exemplo,
quando deve seguir uma dieta por prescrição médica –, como considerar sua
alimentação como um dever moral.

Pelo contrário, um liberalismo absoluto deixaria o aluno desconcertado, nas


mãos de seus instintos, sujeito ao que tiver vontade em cada momento, sem resposta
às exigências da própria dignidade.

Nessa perspectiva, a capacidade de escolher inerente à liberdade está limitada


pela racionalidade, que impõe uma orientação teleológica ao exercício da liberdade. O
homem é livre na medida em que é capaz de descobrir o bem e segui-lo, enquanto que
desperdiça sua liberdade quando dá as costas à verdade, isto é, quando entende sua
liberdade como capacidade de expansão ilimitada de sua própria subjetividade,
prescindindo da dignidade da pessoa.

Se a liberdade é o ponto de partida, a educação ética requer encontrar o modo


de apresentar à criança os valores morais para que possa descobri-los por si mesmo,
admirar-se diante deles, admiti-los e fazê-los vida própria livremente.

No entanto, a criança não descobrirá os valores abstratamente, mas sim


encarnados em seus pais, em seus professores ou em outras pessoas que estão ao seu
lado como exemplos ou modelos vivos aos quais vale a pena imitar, que ofereçam
motivos para serem da mesma forma, mais do que terem o que têm.

A apresentação dos valores ou dos contra valores é inseparável na tarefa


docente, pois não é possível uma educação neutra. Efetivamente, o professor oferece
sempre a seus alunos um modelo de conduta, dependendo de como desenvolve a
aula, do texto que escolhe, do modo de tratar a cada pessoa ou de realizar a avaliação.
Queira ou não, oferecerá um exemplo de amor à verdade, de generosidade, de justiça,
de alegria; ou, pelo contrário, apresentar-se-á como modelo de arbitrariedade, ou de
cinismo, ou de ceticismo.

Uma pretensa posição neutra do professor responderia a uma determinada


filosofia de educação que postula um relativismo radical e que prescinde de valores
absolutos, entendendo a liberdade pessoal como capacidade ilimitada de opção. Esse
professor aumentará a perplexidade de seus alunos por não lhes apresentar pontos
firmes de referência, certezas que lhes ajudem a descobrir e a seguir a verdade. Age de

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modo semelhante a pessoa que mande seguir uma estrada desconhecida da qual
previamente foi retirada a sinalização mais elementar.

De fato, não é possível uma educação ética mediante um simples


doutrinamento, com mandatos que não ofereçam a razão da verdade. Tão pouco é
possível educar eticamente, apresentando os valores morais como se fossem
determinações relativas para cada situação histórica, ou como um conjunto de
princípios indeterminados abandonados ao arbítrio caprichoso do próprio eu.

Entendemos, portanto, a educação moral como educação da responsabilidade,


da capacidade que o homem tem para se comprometer com a verdade. Nesse sentido,
a educação moral nada mais é que a ajuda a cada aluno para que descubra por si
mesmo o sentido dos valores e se decida a se comprometer com um projeto pessoal
de vida.

A natureza humana, fonte dos valores


Educar em quais valores? Não podem ser outros a não ser aqueles que têm sua
fonte e sua justificação na dignidade da pessoa, na sua natureza criada e redimida, e
que permitem o auto desdobramento da personalidade do educando. Esses valores
são chamados de virtudes, na tradição humanista do ocidente, ou seja, hábitos
operativos que se adquirem pela repetição de atos e concedem ao homem a facilidade
para o bem a que se refere a virtude. Por exemplo, dizer sempre a verdade, no caso da
sinceridade, ou adquirir o conceito psicológico de pensar sempre nos outros, no caso
da generosidade.

Se a dignidade humana é a fonte que nos permite conhecer os valores, será


necessário partir de um conhecimento correto sobre o conteúdo dessa dignidade
radical da pessoa, que torne possível um acordo entre os educadores sobre os valores
que devam ser cultivados no processo educativo.

Mas esse acordo sobre a dignidade pessoal, um pressuposto da educação, não


se alcança sem recorrer a uma instância transcendente, que lhe sirva de fundamento e
apoio, porque, como mostra a experiência, sem um apoio transcendente, a dignidade
da pessoa se submete ao arbítrio do mais forte, ou à mudança de critérios de cada
momento histórico.

Ou encontramos um fundamento objetivo, transcendente, ou nada impedirá


que a pessoa se submeta ao mais forte ou ao mandato de uma maioria de opressores,
ou que fique encerrada sobre si mesma ao decidir sobre o bem ou o mal em função de
interesses meramente subjetivos.

No entanto, considerar que o homem é uma criatura, de natureza racional e


livre, chamado a ser feliz e a uma vida eterna após a morte, leva-nos à lei moral

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impressa em sua natureza, que o homem é capaz de conhecer e aceitar como princípio
que rege sua conduta e como garantia de realização pessoal.

A educação religiosa tem claras e importantes implicações na educação moral.


Há conhecimentos, disposições, atitudes, sentimentos, motivos e intenções que são
evocados e se desenvolvem muito bem através da educação religiosa e da prática de
uma vida de fé.

O homem conhece a lei moral através de sua consciência. O que lhe dita a
consciência é resultado da reflexão pela qual a pessoa por si só pondera uma situação
concreta à luz dos princípios morais. Por isso, a educação moral ajuda os alunos a
responderem à seguinte pergunta: “Esta ação está de acordo com minha dignidade de
pessoa?”.

A educação moral se alcança, sobretudo, através das relações pessoais, nas


quais o exemplo daquele que serve de modelo exerce uma influência sobre o
educando que o leva a imitá-lo, a procurar fazer seus os valores e os ideais que
contempla feitos vida no outro.

Na família, a formação moral se adquire através do convívio cotidiano, mais


com os atos do que com as palavras, com exemplos vivos de respeito e preocupação
pelos demais, espírito de serviço, disciplina, limpeza, ordem, cuidado dos pequenos
detalhes materiais, da sinceridade, em suma, de virtudes. O amor, a confiança e o
agradecimento favorecem a formação da consciência e são condições básicas de um
ambiente autenticamente educativo.

A educação moral é um eixo transversal que diz respeito a todos os


ensinamentos, como diz respeito à totalidade da pessoa. Não pode ser entendidos à
margem dos demais aspectos da educação, como um adendo. Isto significa que não se
trata de considerar a moral como uma área de aprendizagem que se acrescenta às
demais, mas sim de tornar presente em cada uma das atividades escolares toda a
riqueza do homem, que aplica as normas morais livremente assumidas às
circunstâncias de cada situação.

Assim, a educação na liberdade se realizará através de diversos momentos nos


quais o aluno é colocado frente à sua responsabilidade de decidir em cada situação, de
acordo com o ditame de sua consciência bem formada, aplicando pessoalmente os
princípios gerais – os valores que assumiu – à situação concreta para decidir em
consequência, buscando o bem.

A formação moral, portanto, não é uma casuística externa, sob a forma de um


receituário ou de um código detalhado de conduta que sufoca a personalidade,

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levando-a a um desequilíbrio interior, a um apoucamento pessoal. Uma boa educação


moral, pelo contrário, é fonte de liberdade por sua permanente referência à verdade.
Para que uma ação seja moralmente imputável deve ser livre, deve ser ocasião de
compromisso pessoal, para a qual são necessárias a deliberação racional e a decisão
livre.

A educação consiste em ajudar a criança a desenvolver suas capacidades e a


superar suas limitações. O primeiro desses aspectos – desenvolvimento de
potencialidades – responde com mais propriedade ao conceito de educação. Entre
refrear o mau e se esforçar pelo bom, é importante primar pela consecução do bem,
que acaba trazendo consigo a superação do mal.

A educação moral tem componentes cognitivos, volitivos e afetivos que devem


ser desenvolvidos harmonicamente: ao mesmo tempo em que se vai adquirindo um
sistema de ideias morais, aprende-se a aplicar as normas morais às circunstâncias de
cada situação, por meio de um discurso racional e prudente.

Para passar à ação correta, além da decisão, é necessária a orientação –


segundo os ditames da razão – das tendências e paixões. É por isso que a formação da
consciência consiste, primordialmente, em facilitar ao aluno o raciocínio moral que o
leva à reta aplicação dos princípios e normas morais. Consiste também em fortalecer a
vontade – respeitando a liberdade pessoal –, para que seja capaz de seguir o ditame da
consciência, ordenando a influência da afetividade. Centrar-se em um desses aspectos
apenas significaria um reducionismo: intelectualismo ético ou voluntarismo
sentimental.

Formação do entendimento
Já se advertiu que a educação moral na liberdade não pode ser entendida como
relativismo moral, mas que é necessário apresentar ao aluno os princípios morais
como reflexo da verdade objetiva, que se pode conhecer e que se fundamenta na
dignidade natural da pessoa humana e não no consenso ou na determinação relativa
de um momento histórico.
Não cabe também uma atitude aparentemente neutra, já que, pela palavra e
pela conduta, sempre se parte de alguns princípios e se apresentam alguns conteúdos
morais determinados, corretos ou não.

A diferença entre doutrinar e formar a consciência, em muitos casos, não está


tanto no que se ensina, mas em como se ensina. O importante é respeitar os alunos,
ajudando-os a assimilar e personalizar os valores que lhes são apresentados, os
critérios de vida e as virtudes que são promovidos através de um processo educativo
que fomente um saudável espírito crítico.

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Deve-se alcançar um clima no qual os alunos exponham e defendam sua


própria argumentação, e o professor escute com atenção e respeito as suas reflexões,
procurando oferecer-lhes os pontos de apoio indispensáveis para que encontrem por
si mesmos uma sólida fundamentação racional.

Ensinar a pensar, a desenvolver o próprio critério, facilita enormemente o


desenvolvimento moral da criança que recebe os valores através do juízo da razão,
integrando-os na unidade da pessoa.

A moralidade tem muito a ver com a dimensão racional do homem: o que é


moral é sempre o mais razoável, o que melhor se ajusta à realidade das coisas. A
educação da consciência é, ao mesmo tempo, educação para a reflexão, para o sentido
crítico, que busca a visão objetiva.

Fortalecimento da vontade
Pensar é requisito indispensável, mas não suficiente, para uma atuação moral
correta. É necessário ajudar os alunos a fortalecer a vontade e a adquirir virtudes
humanas. A educação moral objetiva também a ordenação dos processos instintivos,
favorecendo uma disposição generosa para o bem que, em certas ocasiões, exige
sacrifício e renúncia para superar o próprio egoísmo.
A aquisição de hábitos morais fortalece a autoestima do estudante e sua
segurança pessoal, facilitando o alcance das metas a que aspira. Pelo princípio de
harmonia das virtudes, quando melhora alguma dessas qualidades, aperfeiçoam-se ao
mesmo tempo todas as demais, porque todas residem na unidade da pessoa.

Por isso é interessante apoiar-se nas qualidades do aluno, reforçando seus


pontos fortes pessoais, sem recorrer nunca a comparações com os demais, nem
estimular atitudes de competição com os outros. Não se pode esquecer, ainda, que
uma das motivações fundamentais da pessoa é a participação na atividade, em um
clima de comunicação cordial.

É comum agrupar as virtudes morais em dois campos: o individual e o social.


No primeiro, estariam integradas a sinceridade (naturalidade, simplicidade, aceitação
da própria identidade), a honra (retidão, honestidade, boa vontade), a
responsabilidade (sentido do dever, capacidade de cumprir os compromissos
adquiridos), a humildade (autenticidade, coerência), a vigor (fortaleza, constância,
paciência, serenidade, magnanimidade), a laboriosidade (intensidade no trabalho,
aproveitamento do tempo, acabar bem o que se começa), temperança (sobriedade,
austeridade, pudor, desprendimento), alegria (otimismo, bom humor), ordem e
espírito esportivo. Todas essas virtudes, como tal, referem-se ao outro. Caso contrário,
não seriam virtudes, mas um mero aperfeiçoamento egoísta.

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Entre as virtudes que implicam alteridade, poderiam ser apontadas: a piedade,


o respeito (às convicções, aos bens, à fama), a sociabilidade (diálogo, veracidade,
sinceridade), a solidariedade (espírito de serviço na vida familiar, escolar, profissional e
social, generosidade, agradecimento, cooperação ao bem comum), a justiça, a
caridade (delicadeza no trato, amabilidade, companheirismo, amizade, lealdade e
fidelidade), cidadania (respeito e cumprimento dos deveres cívicos, sujeição à lei justa
e à autoridade).

Formação da afetividade
Junto ao cultivo da inteligência e da vontade, é necessário também atender ao
desenvolvimento da afetividade. Os sentimentos contam na formação moral porque
influem significativamente na formação das atitudes e motivações. Ter “bons
sentimentos” facilita uma firme vontade para o bem. As vivências e valores que se
apóiam no sentimento e na afetividade enraízam fortemente na consciência.

O “impulso” ou “tendência” é uma força ou inclinação que brota no interior do


homem e expressa anseios, necessidades ou capacidades humanas. Não somos donos
de nossas tendências e sentimentos, mas podemos educá-los: contar com eles, expô-
los quando seja conveniente, para que ajudem a vontade a tender para o bem.

Em suma, o objetivo da educação moral é precisamente o de integrar a razão, a


vontade e o sentimento, a cada ato da pessoa. Isto significa alimentar a inteligência
com o conhecimento dos princípios morais e ensinar a refletir para que seja tomada a
decisão mais apropriada possível a cada situação.

Significa ainda examinar depois se a ação decidida está de acordo com o fim
que foi buscado. Por outra parte, para fortalecer a vontade é preciso proporcionar ao
educando, de acordo com seu grau de maturidade, ocasiões para agir livremente de
acordo com os fins de que se apropriou, ou seja, facilitar ao aluno oportunidades de
exercício.

Assim, para educar na virtude da solidariedade, oferecer-lhe ocasiões que lhe


permitam sair de si mesmo para ajudar aos demais, realizando obras de serviço, e
colocá-lo em contato com a dor e a doença do outro.

A educação moral no Ensino Fundamental


Por volta dos seis anos acontece o despertar da razão e com ela o da
consciência moral. A criança começa a ter noção dos valores, mas predominam os
componentes racionais e mecânicos (a regra conhecida e repetida muitas vezes).
Nessa idade, a criança tem um grande interesse pelas regras que aplicam e
interpretam exageradamente. Não convém ironizar nem ridicularizar esses
extremismos da criança, pois fazem parte de uma fase da evolução de sua consciência.

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Tudo o que surge por primeira vez na consciência fica marcado e depois vai sendo
configurado. Ridicularizar, sem mais nem menos, os exageros da criança na aplicação
das normas morais pode prejudicar a formação de sua consciência.

Por volta dos oito ou nove anos, dá-se um grande desenvolvimento do sentido
moral. É a idade da diferenciação. A criança começa a considerar e analisar os motivos
e as consequências das ações, e a consciência moral torna-se mais coerente.

O raciocínio do estudante dessa idade depende em grande parte daquilo que


possa observar e perceber, reduzindo-se à compreensão de ideias concretas e ligadas à
realidade que vive. Também se desenvolve a capacidade de considerar várias
alternativas para resolver um problema e a capacidade de se colocar a partir do ponto
de vista do companheiro.

Esse período constitui a etapa de maior desenvolvimento do critério moral,


pelo progresso cognitivo, pelo crescente poder de interiorização e pelo grande número
de oportunidades de participação e desempenho de papeis novos em todos os
ambientes onde a criança se desenvolve.

Seus sentimentos morais tornam-se independentes dos sentimentos morais


dos pais. A vida moral vai se relacionando com os preceitos divinos. O
desenvolvimento intelectual alcançado lhe facilita a realização de seus próprios juízos
morais. O pensar analítico facilita diferenciar o bem do mal e contribui para maior
valorização moral tanto da própria conduta como da alheia.

A atitude crítica a que antes se fazia referência vai refletindo-se na tomada de


postura ante os mandatos e proibições dos pais e professores, o que leva a criança a
observar a conduta dos que a rodeiam e a regular sua vida de acordo com o que
observa. Provém daí a força moral do que veem, especialmente na vida familiar e
escolar.

A norma de comportamento é descoberta como algo que tem valor em si


mesmo, não somente como imposta pelos adultos. Isso proporciona maior
consistência à conduta.

A disposição psicológica dessa etapa é ótima para receber retamente os


critérios morais (clareza mental, objetividade, maior interiorização, equilíbrio
psicossomático, confiança, etc.).

Formam-se os ideais infantis com seus “heróis”. Os meninos se sentem atraídos


pelas aventuras, por quem é valente e excepcional; as meninas, pelo que é romântico
e pelos grandes ideais. Nessa idade (maturidade da infância, antes da puberdade),

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quando ainda não se dão os problemas típicos da adolescência, pode-se avançar muito
no desenvolvimento sistemático de aptidões e virtudes.

Nessa etapa se forma a consciência de si mesmo diferenciada y se configura a


personalidade tipicamente masculina ou feminina. O menino adota papeis de
identificação com um dos pais, o de seu próprio sexo. Os interesses se vão centrando
mais no mundo de seus companheiros que no dos adultos.

Quando são menores não distinguem entre igualdade e justiça. Compreendem


o que é justo, em parte, através das regras das brincadeiras e da obediência a seus
pais. Também percebem o que é “injusto” pela sensação de revolta que as situações
injustas lhes provocam.

Por volta dos 10 ou 11 anos, as crianças começam a dar-se conta de que ser
justo não tem razão de ser em se dar ou tratar a todos do mesmo modo. É importante
apoiar esse descobrimento, ajudando-as a considerar as distintas idades e
necessidades de seus irmãos ou companheiros.

Com o uso da razão, compreendem o valor moral da verdade e são capazes de


se esforçar por vivê-la, embora às vezes custe, mostrando com suas palavras e ações o
que são interiormente.

O amor à verdade é vivido então como consequência da justiça. Está muito


relacionado com a confiança e com o exercício da autoridade dos pais. As crianças
costumam perceber facilmente quando são enganadas e captam rapidamente a
qualidade da sinceridade de seus educadores.

Nesse campo, uma vez mais, o exemplo dos pais e professores tem um papel
fundamental e tanto podem aprender a amar a verdade como a ser excelentes
mentirosos.

Importa-lhes muito o que os outros pensam deles. Surge o sentimento da


vergonha ao se saber julgado por outro e, mais tarde, o medo ao ridículo ou à crítica. É
o momento de ensinar a superar esse medo, para ser capaz de tomar decisões morais
baseadas na verdade, embora não “fique bem”.

A formação moral deve estar impregnada de sentido positivo, evitando-se um


tom de ameaça que impede que o ensino moral seja assimilado, ou que seja colocado
como uma questão relativa à puberdade. Além disso, o sentido positivo evita os
escrúpulos.

O ensino moral deve ser administrado e fundamentado convenientemente. A


melhor fundamentação – pela própria natureza humana – é a religiosa, procurando,
além disso, não abandonar as razões humanas e de convivência. Em seu lar e no

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colégio, é imprescindível o ambiente de disciplina, carinho e segurança emocional para


que se vá permeando a formação.

Objetivos:

1) Conseguir na família, no colégio e na sala um clima moral baseado na


responsabilidade, na sinceridade, na justiça e na preocupação pelos outros.

2) Apoiar o crescimento da criança como agente moral: que aprende, pensa, sente,
decide e age.

3) Promover o desenvolvimento de relações de cooperação, ajuda e respeito mútuo,


frente a um excessivo individualismo e egocentrismo.

Trata-se de estimular em cada criança:

 O sentido de autorrespeito e de respeito aos demais.


 A conduta cooperativa com seus irmãos e companheiros.
 A capacidade de se colocar no lugar do outro.
 O raciocínio moral (os juízos morais).
 A amabilidade.
 O amor à verdade e à sinceridade.
 A responsabilidade, evitando a competitividade egoísta.
 O companheirismo e a amizade.
 O sentido da justiça e da generosidade.
 O hábito de tomar decisões que suponham levar à prática seus
raciocínios ou sentimentos morais.
 O vigor e a sobriedade.
 A atitude de participar e de compartilhar responsabilidades na família,
na sala e com seus amigos.
 O hábito de cumprir seus deveres cívicos e cooperar na vida social.
 Ter consciência de que é fácil dizer o que é correto, mas costuma ser
custoso colocá-lo em prática.
 O hábito do diálogo.
 O ter razões para sua própria conduta.

Meios:

 O desenvolvimento comum dos ensinamentos.


 Estimular a reflexão moral nas conversas pessoais com o preceptor.
 Programa de educação em valores. É conveniente que inclua:

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 Aquisição de alguns conceitos morais básicos que respondam a suas


inquietudes e questionamentos, de acordo com sua capacidade.
 Comentários razoáveis com os alunos sobre as regras morais (objetivo
semanal de formação) que lhes são propostas e suas concretizações em
poucas e pequenas normas (ações incidentais), as quais os alunos se
sintam estimulados a viver diariamente.
 Dramatizações (role-playing) nas quais a criança viva o papel do outro.
 Deliberações e juízos morais sobre exemplos da literatura infantil ou da
vida real (pequenos casos).
 Participação dos alunos no planejamento e na avaliação das atividades
de ajuda a companheiros, trabalho cooperativo, serviço social e obras
de misericórdia. Junto a algumas atividades de solidariedade com os
mais necessitados (campanhas de Natal, algumas coletas, etc.),
devemos promover tudo o que requer serviço na família e com os
próprios companheiros, compreensão e ajuda de uns com os outros. Se
queremos que depois estejam em condições de ser solidários com
atitudes de serviço, temos de acostumá-los primeiro a que descubram
as necessidade dos que estão ao seu lado e se entusiasmem por
remediá-las.
 O Conselho de turma (a partir do 5º ano).
 Encargos da sala.
 Criação de modelos através da literatura e do cinema infantil.

Nas atividades de diálogo e reflexão sobre livros ou filmes, não se trata de


apresentar somente o bom, mas também refletir sobre o que não está bem, de
maneira que, eles mesmos entendam e raciocinem porque é bom ou mau, sem
interromper continuamente as narrações com considerações moralizantes,
normalmente pouco eficazes.

Os livros devem ser interessantes, ricos em acontecimentos e que apresentem


sentimentos e juízos acessíveis às crianças, procurando que o interesse da ação
se incline para o bom e o justo, para a escolha do melhor.

Nessa etapa, os alunos costumam gostar de biografias simples, de histórias, de


narrações. As histórias românticas não costumam agradar aos meninos. É
conveniente fazer bons guias de trabalho para o “plano básico de leitura”, de
modo que se tire muito proveito dos três ou quatro livros escolhidos que devem
ser lidos e trabalhados com profundidade.

Da mesma forma se pode proceder com os filmes, selecionando os que têm mais
conteúdo formativo e interesse para essas idades. Podem ser assistidos e

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comentados em família, com um roteiro elaborado por um professor, que tenha


relação com o plano de formação dos alunos da turma.

C. EDUCAÇÃO PARA O TRABALHO, ATRAVÉS DO TRABALHO


Para que haja autêntica educação de qualidade é indispensável conseguir que
os alunos trabalhem e se esforcem por aprender. Um bom professor consegue motivar
os alunos para o estudo, ensina-os a trabalhar e os ajuda a se esforçar. O esforço
pessoal racional e ordenado é por si mesmo educativo e é o melhor índice de
maturidade e de grau de responsabilidade dos alunos.

O trabalho é um dom de Deus através do qual o homem se realiza, ganha o


próprio sustento e o de sua família, participa na obra criadora de Deus e contribui para
o bem comum e para o progresso da humanidade. O trabalho é, portanto, um direito
fundamental do homem e um dever moral de primeira instância.

Para que o trabalho sirva como meio de educação deve priorizar a pessoa, não
o resultado objetivo desse trabalho. Do ponto de vista educativo, é um requisito rico
em consequências: deve-se dar atenção ao aluno que trabalha e ao esforço que
realiza, assim como ao nível objetivo alcançado (que será fruto desse esforço por
trabalhar bem), sem que isto signifique não lhe dar a importância que tem; por outra
parte, para que um trabalho seja educativo, devem-se colocar em jogo as faculdades
pessoais, isto é, deve ser livre e consciente, realizado intencionalmente, assumindo a
responsabilidade da própria tarefa.

Consequentemente, é preciso oferecer aos alunos as razões de seu trabalho,


sem reduzir o horizonte das tarefas escolares ao cumprimento de uma obrigação
penosa que não teria alternativa a não ser realizá-la, até que chegue o tempo de férias.
Nesse sentido, educar é despertar e fomentar nos alunos a satisfação pelo trabalho
bem feito, desenvolver sua capacidade e seus desejos de trabalhar bem, já que
somente o trabalho os conduzirá a uma maior felicidade.

A falta de esforço não somente conduz a um rendimento escolar insatisfatório,


mas impossibilita também a preparação para a futura vida profissional, ou seja, um
estudante que habitualmente não se esforça corre o risco de fracassar em seus
estudos e de não se preparar para a vida. Por isso, é um desrespeito ao aluno evitar-
lhe o esforço, fazendo por ele um trabalho que pode contribuir para sua formação. Se
for essa a ação, seu progresso humano fica limitado e suas naturais aspirações
educativas são empobrecidas. É conveniente motivá-lo para que trabalhe bem, mas

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sem esquecer que é necessário o esforço, de modo que enraízem hábitos e virtudes
que possam facilitá-lo.

Nesse sentido, o dirigismo ou super protecionismo (tão opostos a uma


educação em liberdade) ocasionam um grave prejuízo na formação da vontade, de
virtudes tão importantes como a fortaleza, o vigor, a laboriosidade ou a constância.

O educador não é um repetidor de lições nem um simples transmissor de


conhecimentos. Seu trabalho é muito mais rico: orienta e estimula os alunos,
dispondo-os para o esforço que o estudo exige, para que trabalhem com alegria. O
professor deve considerar esta tarefa como um objetivo fundamental de seu trabalho.

O bom exemplo dos professores deve estar sempre presente na vida colegial,
assim como o empenho em utilizar, sempre que for possível, estímulos positivos para
conseguir o esforço diário dos alunos e conseguir o enraizamento dos hábitos do
trabalho e da fortaleza que ajudam a superar os desânimos e a natural preguiça,
causas importantes do abandono e do fracasso escolar.

Para conseguir a atenção dos alunos e o esforço subsequente, são tão


importantes os conteúdos objetivamente considerados como o modo de transmiti-los.
Por isso é necessário que o professor não somente conheça bem a matéria, mas que
faça atrativas e variadas as aulas, provocando a participação ativa dos alunos. Tudo
num ambiente de ordem e tranquilidade que os estudantes necessitam para fazer seu
trabalho, o que não é contrário à variedade de aulas, à sua participação ativa, à alegria,
ao bom humor e à confiança entre os alunos e o professor.

Além de uma preparação adequada, determinando os objetivos que se


pretendem alcançar e ponderando o esforço que se pode pedir a cada aluno, é
necessário que o professor distribua racionalmente a carga de trabalho que vai exigir.
Sem um bom planejamento das tarefas escolares, que dose adequadamente o esforço,
não se favorece o hábito da laboriosidade.

Se houver, porém, um bom planejamento do trabalho individual, dentro e fora


da classe, acompanhado por um seguimento continuado e pessoal (avaliação
formativa e contínua), o trabalho diário do aluno será favorecido.

Somente o trabalho bem feito educa, pois incide diretamente na melhora


pessoal do aluno. Por isso, é muito importante exigir habitualmente um trabalho bem
feito, correto em seu conteúdo e bem cuidado em sua apresentação. Não basta
qualificar como insuficiente um trabalho mal apresentado; convém fazer que o
estudante corrija as deficiências com cuidado até que esteja bem feito, com a
intervenção educativa que for necessária.

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Por último, para que um aluno possa realizar com qualidade seu trabalho, além
de suficiente capacidade e dedicação, necessita também conhecer o modo de realizá-
lo. Os alunos fazem render melhor o tempo e o esforço pessoal quando conhecem e
empregam adequadamente as técnicas de trabalho intelectual que cada professor
deve ensinar-lhes como um aspecto fundamental do desenvolvimento de sua matéria.

Resumindo, o trabalho é um meio educativo por excelência, sem o qual não é


possível conseguir a formação da personalidade, nem o enraizamento dos valores
humanos. O colégio é antes de tudo lugar de trabalho, onde os alunos devem aprender
a fazer render seu tempo e esforço. Para consegui-lo, é indispensável que os
professores preparem muito bem suas aulas, ensinem a trabalhar e façam seus alunos
trabalhar com perfeição, da mesma forma que se esforçam por ser exemplo de
trabalho bem feito.

D. EDUCAÇÃO PARA A CONVIVÊNCIA E PARA OS VALORES SOCIAIS


Educação social e cívica
Boa parte deste tema transversal é assumida pela "educação moral", tal e
como foi aqui apresentado. De modo mais específico, trabalham-se a atitude de
serviço aos demais através dos encargos e a compreensão de algumas normas
elementares de comportamento social.

Os encargos são pequenas parcelas de responsabilidade cotidiana que a criança


realiza colaborando com os demais companheiros da turma no bom funcionamento de
sua sala. É interessante motivar as crianças, tornando-as conscientes de que graças a
seu esforço tudo funcionará muito bem.

Os encargos ou pequenas responsabilidades de sala fomentam a preocupação


pelos outros, o espírito de serviço e o sentido da cooperação através da consciência de
ser útil para os demais e do reconhecimento do trabalho realizado por seus
companheiros/as.

Também serão trabalhadas ao longo de toda etapa as normas de


comportamento social mais comuns, expondo seu sentido de respeito e consideração
para com os demais.

Educação para o trânsito


A Educação para o trânsito deve dotar os alunos e alunas dos conhecimentos e
experiências necessários sobre sinais de trânsito, vias de comunicação, possibilidades
físicas para atravessar uma rua ou utilizar um meio de locomoção, causas que

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provocam os acidentes, etc. Deve conseguir também que as crianças tomem


consciência de sua responsabilidade social para a melhoria das condições de circulação
a fim de evitar possíveis acidentes. Procurará criar hábitos de comportamento nos
estudantes, tão necessários no mundo e na sociedade em que devem desenvolver-se.

Na área de Conhecimento do Meio, estabelecem-se conhecimentos sobre os


elementos e sinais de trânsito, além de se estimular outros referentes à conduta que
permitam a aquisição de hábitos determinados para se desenvolver em situações
concretas. Busca-se ainda o conhecimento das redes e infraestruturas de transporte,
fazendo a criança participar das pautas de atuação no uso de qualquer dos meios de
transporte, privados ou coletivos.

Também está relacionada à educação do trânsito a educação da cidadania:


comportamento como usuários das vias públicas e dos transportes coletivos,
responsabilidades como pedestres e motoristas, etc.

E. EDUCAÇÃO PARA A SOLIDARIEDADE, O DIÁLOGO, A PAZ E A NÃO DISCRIMINAÇÃO


Solidariedade e cooperação
O autêntico desenvolvimento pessoal e moral deve ser buscado dentro da
sociedade em que se vive. A educação da solidariedade e, em geral, a formação das
virtudes sociais e dos bons sentimentos e atitudes para com os outros (compreensão,
aceitação, generosidade, colaboração, compaixão, solidariedade, justiça...) devem
iniciar-se nos ambientes sociais mais próximos à criança: a família e o colégio.

A ação que gera hábitos é o principal critério educativo na formação social.


Qualquer projeto educativo coerente deve procurar que os alunos prestem realmente
serviços a outras pessoas, e não apenas que se façam especulações sobre as
necessidades sociais.

Convém insistir na importância da formação de hábitos de interesse pelos


outros e de obras de serviço na vida diária, no seio familiar e do colégio, com seus
irmãos e colegas, conscientizando cada aluno da importância de descobrir as
necessidades dos mais próximos (pais, irmãos, colegas, amigos...). Insistir também na
importância da solidariedade e da generosidade: pequenas renúncias em favor dos
mais necessitados (algum brinquedo, etc.).

Educação para o diálogo


O ser humano foi criado para se relacionar com os demais homens, com o
mundo e com Deus. Essa capacidade de abertura se manifesta de modo especial na

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capacidade de diálogo e de encontro pessoal. É importante cultivar a capacidade de


diálogo dos alunos, junto às capacidades de compreensão e respeito.

Quem está aberto ao diálogo, à relação interpessoal sincera, distancia-se do


individualismo egoísta ou do coletivismo despersonalizado. Educar para o diálogo
também é, de certo modo, educar para o amor que acontece no encontro
interpessoal.

Em todas as matérias se procurará incentivar a atitude de diálogo entre os


alunos e o professor, principalmente com o trabalho em pequenos grupos e outras
técnicas participativas. As entrevistas pessoais com o preceptor são também uma
ocasião propícia para este fim.

Educação para a paz


A educação para a paz é proposta como uma educação a favor de um conjunto
de virtudes como a justiça, a cooperação ou a solidariedade. É necessário tomar como
ponto de partida a ideia de que daremos paz se a tivermos, e a teremos se cada um se
esforçar por afastar de si o egoísmo.

Adquire especial importância a atitude do professor em sua tarefa docente:


coerência entre suas ideias e suas ações, comportamentos, metodologia, etc. Por
outro lado, a particular situação do mundo atual, repleto de conflitos sociais, políticos,
econômicos e étnicos, confere um extraordinário interesse à educação para a paz.

Nossa proposta se fundamenta em trabalhar, a partir de todas as áreas,


procedimentos que favoreçam a cooperação, a solidariedade, a compreensão, o
diálogo, a solução pacífica dos conflitos e o respeito às opiniões e às diferenças alheias.

No que se refere à educação não sexista ou que promova a igualdade de


oportunidades para ambos os sexos, se procurará:

 Evitar a utilização de uma linguagem sexista.


 Valorizar positivamente as características próprias da personalidade masculina
e feminina.
 Incentivar o gosto, tanto dos meninos como das meninas, pelas tarefas
domésticas.
 Evitar qualquer atitude de uma aplicação mais permissiva da moral aos alunos
de um sexo que aos de outro.
 Os protagonistas das atividades de aprendizagem serão tanto as meninas como
os meninos.

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F. EDUCAÇÃO AMBIENTAL
De forma gradual e por meio de um conhecimento ativo do ambiente, os
alunos e alunas se envolvem na conservação e respeito do meio, formando-se uma
mentalidade de responsabilidade na preservação dos recursos naturais disponíveis, de
acordo com suas possibilidades. Pretendemos conseguir a aquisição de hábitos e
atitudes de ação individual e coletiva em seu ambiente mais próximo.

Os professores devem aproveitar também este tema transversal para despertar


nos alunos o agradecimento a Deus pela obra da Criação.

Este eixo transversal é tratado como resposta urgente aos graves problemas
ambientais que nosso mundo tem enfrentado. A solução consiste em criar e
desenvolver uma consciência de conservação do meio ambiental. Serão trabalhados
com especial intensidade os conteúdos de procedimentos e atitudes, sem esquecer os
conceitos que estão reunidos nas diferentes áreas e, mais concretamente, nas de
“Conhecimento do Meio”, “Educação Física” e “Educação Artística”.

A esse respeito, fazemos nossos os objetivos da Educação Ambiental propostos


pelos PCNs:

 Ajudar os alunos e alunas a adquirir uma consciência do meio ambiente


global e ajudá-los a se sensibilizar por essas questões.
 Ajudar os alunos e alunas a adquirir uma diversidade de experiências e
uma compreensão fundamental do meio e dos problemas inclusos.
 Ajudar os alunos e alunas a compreender os valores do meio ambiente
e a ter interesse e preocupação por eles, motivando-os de tal modo que
possam participar ativamente na sua melhoria e proteção.
 Ajudar os alunos e alunas a adquirir as atitudes necessárias para
determinar e resolver os problemas ambientais.
 Proporcionar aos alunos e alunas a possibilidade de participar
ativamente nas tarefas que têm por objetivo resolver os problemas
ambientais.

Como atividades concretas, propomos:

 Passeios de aprendizagem pelo entorno natural e saídas da sala (para a


sala da natureza, para o jardim, para o reservatório, praça, rua, etc.),
fazendo que os alunos vejam as coisas que sujam e contaminam a água,
o ar, a terra; observando os cestos de lixo e fazendo uso deles;
compreendendo a utilidade das plantas, das árvores, das zonas verdes,
etc.
 Na sala, fomentando que parte da decoração seja de pequenos animais,
como algum pássaro, e de plantas de interior, cuidadas pelas crianças.
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Mantendo sempre um ambiente ordenado e limpo, recolhendo o


material depois de cada atividade.
 Saídas de observação, visitas culturais e convivências de pesquisa no
meio.
 Incluir no programa de ações incidentais alguns pequenos hábitos,
como fechar as torneiras depois de utilizá-las, apagar as luzes, etc.

G. EDUCAÇÃO PARA O AMOR (AFETIVA E SEXUAL)


Atualmente, o termo educação sexual é muito utilizado. No entanto, seria mais
adequado falar de Educação para o Amor ou de Educação da Afetividade, pois envolve
tanto a informação sexual (o que cada pessoa deve saber sobre a sexualidade, de
acordo com sua idade e circunstâncias) quanto a formação da vontade, o
amadurecimento dos sentimentos, passando pelo conhecimento próprio e formação
da autoestima. A expressão educação da afetividade parece refletir melhor a ideia de
educação integral da pessoa.

A sexualidade é vivida de modo propriamente humano quando, além de


conhecida e assumida, integra-se em um projeto global de vida, digno de uma pessoa
humana. Pelos estreitos vínculos que há entre a dimensão sexual da pessoa e seus
valores morais, este aspecto da educação deve levar os filhos e alunos a conhecer e
estimar as normas morais, como garantia necessária para um crescimento pessoal
harmônico e responsável no campo afetivo.

A Educação da Afetividade busca desenvolver uma consciência reta dos


fenômenos sexuais vinculados à maturidade da vida humana, à ideia do amor
verdadeiro, à ideia da família, da geração, tudo isso dentro do plano ordenado para o
fim último e transcendente do homem.

Esta educação deve ajudar a criar uma consciência esclarecida, fortalecendo a


ideia de que, quando o homem se deixa levar por seus impulsos, estes o tiranizam e
degradam.

No passado, a informação sexual, tanto na família como no colégio, era


considerada como um tabu; agora, em muitos casos, tal informação caiu no extremo
contrário, e igualmente errado: viu-se massificada, desligada da educação integral,
reduzida a uma simples instrução e desvinculada da formação ética-moral.

A informação sexual só tem valor educativo e formativo, se estiver


acompanhada dos aspectos morais, sociais e espirituais presentes em qualquer outro
aspecto da educação da pessoa, considerada em sua integridade e unidade. Dessa
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forma, conscientes da dignidade da pessoa, dotada de inteligência e de vontade, faz-se


necessária a educação da afetividade, ou seja, uma educação para o amor.

Na situação sociocultural de hoje em dia urge proporcionar às crianças,


adolescentes e jovens uma educação para o amor, afetiva e sexual, que atenda a uma
concepção do homem unitária e completa, veraz, positiva, íntegra e gradual. O silêncio
nessa matéria, por parte dos educadores (pais e professores), resulta antipedagógico,
sobretudo quando o sexo está presente na rua e no lar através dos meios de
comunicação.

Assim, a Educação da Afetividade permitirá aos alunos adquirir a dimensão


autêntica do amor e do sexo, ressaltando o imenso valor que tem a possibilidade da
doação pessoal, estimulando o autorrespeito bem como o respeito ao outro e, por fim,
ajudando no desenvolvimento de uma personalidade equilibrada e firme.

Para que os objetivos da Educação da Afetividade sejam alcançados, é


necessário que a formação neste campo se realize gradualmente, adequando-se às
idades, circunstâncias e singularidades dos alunos, levando em consideração o que
cada idade necessita e é capaz de assimilar adequadamente.

Os mediadores na Educação da Afetividade: pais e professores


A família é o lugar apropriado para a educação da efetividade. Aos pais
corresponde este dever e direito. Os pais devem proporcionar a seus filhos uma
verdadeira formação sobre a vida, a família, o amor e o sexo. Isto requer que os pais se
preparem, caso não o estejam fazendo, para poder orientar bem a seus filhos. É neste
aspecto que reside a principal ajuda que o centro educativo pode oferecer aos pais. O
colégio tem uma tarefa subsidiária: estimula, ajuda e coopera com os pais, situando-se
no mesmo espírito que os anima.

A amizade entre pais e filhos – sustentada pelo carinho, manifestado em ações


concretas –, o ambiente amável que se vive no lar, a unidade familiar, as virtudes que
os filhos observam em seus pais, os conselhos e conversas oportunas, etc., são
aspectos de fundamental importância para que os filhos interiorizem a educação da
afetividade.

Esse clima favorecerá que os filhos procurem confiadamente seus pais em


busca de explicações ou esclarecimentos, quando surjam dúvidas ou inquietações
sobre o tema do sexo, ou sobre qualquer outro tema importante para suas vidas.
Deste modo, os pais terão a oportunidade de formar corretamente seus filhos na
dimensão sexual de suas vidas e se colocarão meios eficazes para prevenir o risco de
que adquiram uma visão errônea ou incompleta da sexualidade, resultado geralmente

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de uma informação enviesada, tardia ou incompleta que possam receber em outros


ambientes.

A formação dos hábitos adequados, especialmente os relativos ao modo de


vida e ao desenvolvimento da formação pessoal, facilitarão o ordenamento da
tendência sexual de acordo com a dignidade da pessoa considerada em sua totalidade.
A melhor educação para o bom exercício da sexualidade é a que dão os pais formando
a consciência dos filhos, para que se respeitem a si mesmos, respeitem aos demais e se
façam respeitar pelos outros, para que se esforcem com alegria por ideais nobres.

O centro educativo pode e deve colaborar com os pais nesta tarefa através dos
meios pedagógicos que tem à sua disposição: desenvolver de modo positivo, delicado
e oportuno, através do ensino regular, os temas relativos à sexualidade; proporcionar
ocasiões na vida do colégio que promovam o desenvolvimento de hábitos e atitudes
que complementem o amadurecimento afetivo de cada aluno ou aluna; e assessorar
os pais dos alunos com os meios de que necessitem – argumentos, modos de dizer,
orientações, etc. – para que realizem uma informação sexual personalizada com cada
um de seus filhos ou filhas.

A informação sexual na escola deve assegurar uma aprendizagem correta dos


conceitos que configuram a conduta sexual e suas finalidades com os métodos
didáticos mais adequados para cada etapa. Parece coerente, por exemplo, expor
sempre os temas relacionados à informação sexual com referência ao matrimônio e à
família. No centro escolar, é preciso ter um especial cuidado nos programas e no
material didático que se emprega, ao dar aulas sobre temas relacionados com a
sexualidade humana, pois um material educativo com caráter excessivamente
naturalista, em que as manifestações sexuais estivessem divorciadas dos conteúdos
éticos e morais, poderia produzir grave dano na apreensão do conceito de sexualidade
que se vai propor aos estudantes, e dificultaria neles o desenvolvimento da virtude do
pudor, que, retamente entendido, significa e manifesta o respeito à dignidade do
corpo humano.

A importante tarefa de colaborar com os pais na educação da afetividade, que


inclui uma esclarecida informação sexual, requer dos professores uma esmerada
preparação e algumas qualidades específicas, entre as quais vale a pena destacar:

a) Maturidade afetiva do educador: personalidade madura, equilíbrio psíquico,


visão exata e completa do significado e valor da sexualidade, coerência de vida.
Somente quem integrou corretamente a própria sexualidade em sua vida está
em condições de educar neste aspecto.

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b) Suficiente preparação psicopedagógica e profissional: o educador deve ter


uma concepção positiva e construtiva da vida; profunda formação ética e moral;
preparação didática séria que permita captar situações que requeiram uma
atenção especial; capacidade para comunicar aos pais os aspectos positivos e
negativos do processo educativo de seus filhos.

c) Sentido de responsabilidade: cada educador deve ter presente que a educação


e a formação dos alunos requerem sua total dedicação e responsabilidade
profissional, sendo muito consciente de que a tarefa que está realizando tem um
papel complementário da família.

Os meios de comunicação social


É evidente que os meios de comunicação, em especial o cinema e a televisão,
exercem grande influência, na maioria das vezes desfavorável, em tudo o que se refere
à informação sexual e à educação para o amor. Também é grande a influência e o
poder atrativo da televisão sobre os espectadores, especialmente se são menores, pois
afeta, de modo especial, à formação de estilos de vida.

Diante dessa realidade, os pais necessitam defender a saúde moral de seus


filhos, evitando os programas nocivos (por seu conteúdo ou pelo modo como se trata),
formando seus filhos para que façam um uso sensato e moderado da televisão,
ensinando-os a selecionar os programas, compartilhando com eles afinidades que
unam a família e permitam o diálogo, compartilhando também alguns programas
televisivos que permitam iniciar diálogos familiares sobre temas de interesse e formar
o senso crítico, etc.

Seria muito negativo que na família e no centro educativo fosse gerado um


ambiente em que se considerem “normais” situações claramente contrárias à
dignidade da pessoa humana e à sua condição de filho de Deus. Deve-se procurar
formar cultural e moralmente os estudantes, colocar os meios necessários para que os
filhos adquiram critérios e uma consciência reta, apresentar aos jovens modelos
autênticos que facilitem positivamente o bom desenvolvimento de suas
personalidades.

Resumindo, podemos falar de algumas condições para uma educação da


afetividade adequada:

- Informação sexual veraz, clara e completa

É fundamental que a informação sexual se realize com veracidade,


naturalidade, precisão e delicadeza, sem reduzi-la à exposição dos mecanismos
biológicos. Aos filhos se deveria falar de tal forma que, ao mesmo tempo em

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que sejam orientadas suas curiosidades e tendências, fossem ensinados e


ajudados a assimilar a informação recebida e a orientar seus comportamentos.

- Informação sexual oportuna

Os pais devem aproveitar as ocasiões mais favoráveis para dar informações


sexuais aos filhos. Essas ocasiões se apresentam comumente quando o menino
ou a menina perguntam sobre o tema, ou em determinados momentos do
desenvolvimento, em torno dos sete anos ou ao chegar à puberdade. Uma
oportunidade que convém aproveitar ocorre quando a mãe ou alguma pessoa
conhecida está grávida.

Também deve ser gradual, adaptada à maturidade física e psicológica da


criança ou jovem, à sua idade, capacidade de assimilação, sexo e ambiente em
que se desenvolve.

- Informação sexual pessoal

A informação sexual que se dá aos filhos deve estar integrada no contexto do


amor humano e da família, o que requer que tal informação seja oferecida
pessoalmente a cada filho, pois cada um deles entende as coisas melhor desde
sua própria e única forma de ser.

- Informação sexual com sentido positivo, mesmo nas circunstâncias sociais da


atualidade

Deve estar mais orientada para os valores e para o amor do que para denunciar
riscos e perigos. No entanto, é interessante considerar que com frequência os
pais consideram os filhos mais inocentes do que eles mesmos foram, e, além
disso, livres dos perigos e tropeços que padeceram em sua infância e juventude.
Temos que aceitar a realidade de que, atualmente, serão poucos os rapazes e
moças que não tenham contemplado na TV ou no cinema cenas eróticas mais ou
menos desafortunadas.

- Informação e formação

É necessário também ensinar aos filhos o sentimento do pudor e da intimidade,


e ajudá-los a formar uma consciência clara, de acordo com sua dignidade
pessoal, sendo conscientes de que não se pode dar uma informação sexual à
margem da moral, dos componentes éticos e espirituais de cada pessoa.

A educação da afetividade no Ensino Fundamental I


Sendo esta uma fase de tranquilidade evolutiva, de maior equilíbrio
psicológico, a curiosidade intelectual se satisfaz pela compreensão. É o momento mais

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adequado para iniciar uma verdadeira educação da afetividade que permita ao menino
ou à menina enfrentar do modo menos perturbador os problemas da adolescência.

Nessa etapa forma-se a consciência de si mesmo diferenciada e se configura a


personalidade tipicamente masculina ou feminina. A criança adota papeis de
identificação com um dos pais, normalmente, o de seu próprio sexo. Os interesses vão-
se centrando mais no mundo de seus companheiros que no dos adultos.

Surge a curiosidade pelo papel do pai e da mãe na geração (como o bebê entra
no ventre da mãe?). Convém responder com disponibilidade e veracidade às
perguntas, de forma natural, sem adotar uma atitude de desconforto, utilizando uma
linguagem correta, simples, sem metáforas, de modo que se possa compreender a
explicação. Os pais “silenciosos” acabam gerando um clima de mistério e vergonha
neste aspecto.

O Conselho Pontifício para a Família, na Declaração Sexualidade Humana:


verdade e significado (8.XII.1995), propõe quatro princípios gerais nos quais deve se
apoiar a informação sexual:

1. Toda criança é uma pessoa única que deve receber, por isso, uma formação
individualizada. Dado que os pais compreendem, conhecem e amam a cada um
de seus filhos em sua singularidade, têm melhor condição para decidir o
momento oportuno de dar as diferentes informações, de acordo com o
crescimento físico e espiritual de cada filho.

2. A dimensão moral deve sempre fazer parte das explicações.

3. A educação na castidade e as oportunas informações sobre a sexualidade


devem ser oferecidas no contexto mais amplo da educação do amor.

4. Os pais devem dar a informação sexual com extrema delicadeza, mas de forma
clara e no tempo oportuno. Para valorizar o que se deve dizer a cada um, é muito
importante que os pais peçam, antes de tudo, luzes ao Senhor na oração e
conversem entre si, para que suas palavras não sejam demasiado explícitas nem
demasiado vagas.

Convém que os conteúdos do Ensino Fundamental I que tratam da informação


sexual(especialmente nas áreas de Conhecimento do Meio e Religião) se integrem e
sejam informados aos pais com antecedência, sugerindo-lhes modos concretos de
aproveitar a ocasião que lhes oferecem os programas escolares para incidir neste
aspecto nas conversas com seus filhos.

Entre os sete e os oito anos

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Nesta idade as crianças têm uma consciência clara do que é bom, do que é mau
e do que é pecado. Em muitos lugares, nesta idade, são preparadas para a Primeira
Confissão e para a Primeira Comunhão. É interessante colocar os meios para que a
criança compreenda que Deus deu ao homem e à mulher o sexo para um uso nobre e
maravilhoso: o amor entre marido e mulher, orientado à geração de novas vidas. É o
momento mais adequado para ensinar os filhos a serem agradecidos a Deus por todas
as coisas maravilhosas que nos deu.

Qual é o papel do pai?

É bastante frequente que nessa idade os filhos perguntem qual é o papel do pai
na procriação, a que podemos argumentar o seguinte:

 Deus deu ao homem a capacidade de produzir uma espécie de semente


que deposita dentro do corpo da mulher, para que aí comece a se
formar e a crescer um filho. Quando este filho cresce o suficiente
dentro da mãe, então pode vir ao mundo e nascer.
 Para que os pais colaborem com Deus no nascimento dos filhos, Ele
estabeleceu que seus corpos pudessem se unir, devido às diferenças
nos corpos do papai e da mamãe, e comece a crescer um filho dentro da
mamãe. Depois de nove meses, esse filho nasce.
 Os pais amam muito seus filhos e se preocupam com sua educação, sua
alimentação, sua roupa, sua saúde, sua alegria, etc.

O Pontifício Conselho orienta as famílias aconselhando: “Desde a mais tenra


idade, os pais podem observar inícios de uma atividade genital instintiva na criança.
Não se deve considerar como repressivo o fato de corrigir delicadamente esses hábitos
que poderiam chegar a ser pecaminosos mais tarde, e ensinar a modéstia, sempre que
seja necessária, à medida que a criança cresce. É importante que o juízo da negação
moral de certos comportamentos, contrários à dignidade da pessoa e à castidade,
sejam justificados com motivações adequadas, válidas e convincentes tanto no plano
racional como no da fé e num quadro positivo e de alto conceito da dignidade
pessoal”.

Entre os oito e os nove anos

Como se gera um filho?


Nessa idade os filhos costumam perguntar por onde passa a semente do pai ao
ventre da mãe. A esta pergunta deve-se responder com toda naturalidade e se pode
sugerir o seguinte argumento, sabendo que cada pai pode utilizar argumentos
similares:

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 Ao se unirem os corpos do pai e da mãe, a semente do pai se introduz,


por meio do órgão sexual masculino, no interior do corpo da mãe,
através dos órgãos sexuais femininos, e se gera uma nova criança.
Nesse momento Deus põe a alma no novo filho e desta maneira lhe dá a
vida.

As meninas costumam perguntar “Por que não é bom que uma mamãe solteira
tenha um filho?”. Diante desta pergunta, com toda naturalidade, a mãe pode
argumentar que não é o que foi estabelecido por Deus: o normal é que o marido ajude
a mãe a cuidar, educar e manter o filho.

A Declaração anteriormente mencionada aponta, no n. 85: “Não são raras as


violências sexuais com as crianças. Os pais devem proteger seus filhos, sobretudo
educando-os na modéstia e na reserva diante de pessoas estranhas, dando-lhes,
também, uma adequada informação sexual, sem antecipar detalhes e particularidades
que poderiam perturbá-los ou assustar.”

Entre os nove e os dez anos


A dimensão moral, na qual se molda a educação para o amor, deve fazer parte
das explicações. É esse o melhor momento para falar para os filhos, de forma sempre
positiva, sobre o valor sublime da limpeza de coração e do valor positivo da castidade.

Cada homem e cada mulher estão chamados a viver o dom da sexualidade


segundo o plano de Deus – Deus que é Amor – no contexto do matrimônio ou da
virgindade. Alguns argumentos que poderão ajudar são sugeridos a seguir, sabendo
que estes devem ser abordados no momento mais oportuno, quando as crianças
fizerem alguma pergunta, ou provocando o tema em alguma conversa pessoal, se for
necessário:

 Ressaltar o fato de que as pessoas que vivem bem, ordenadamente, a


sexualidade e a afetividade, adquirem com mais facilidade muitas
virtudes valiosas: alegria, lealdade, honradez, sinceridade consigo
mesmo e com os demais, e, sobretudo, sua relação com o amor
autêntico. Somente quem sabe viver assim saberá amar no matrimônio
ou na virgindade.
 Aproveitar o argumento de quão admirável é aquela pessoa que, por
amor a Deus e para servir melhor aos outros, renuncia o uso do sexo e
vive o celibato: como leigo, no sacerdócio e na vida religiosa.
 Comentar os vícios em que pode cair uma pessoa que não viva uma vida
sexualmente reta (considerar também os pensamentos e atos).
 Também nesse contexto e quando pareça mais oportuno, é importante
educar os filhos no uso dos meios de comunicação (que com frequência

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apresentam tendências e comportamentos desviados), dotando-lhes de


senso crítico e apresentando sempre modelos positivos de conduta.

Diante das tendências ou comportamentos desviados, para os quais se requer


grande cautela e prudência para distinguir e avaliar as situações concretas, é
interessante recorrer a um especialista de segura formação científica e moral, para
identificar não somente os sintomas mas também as causas, e ajudar às pessoas com
seriedade e clareza a superar as dificuldades.

Os argumentos expostos nesta seção e nas anteriores podem ajudar os pais na


tarefa de orientar seus filhos. É importante ter um estilo natural e aberto ao responder
às perguntas que os filhos fazem ou ao iniciar uma conversa com os filhos sobre o
tema.

Cada pai de família pode com seu talento e experiência, utilizar outros
argumentos adequados ou usar aqueles que aqui foram expostos com suas próprias
palavras.

É preciso que sempre se dê uma explicação certa e realista na qual nunca falte
alusão à ação de Deus, pois suprimir a intervenção divina seria faltar à verdade.

Entre os dez e os treze anos

a) Atenção à puberdade

Ao final do Fundamental I, na pré-adolescência, é interessante informá-los,


adiantando-se, sobre as mudanças físicas que irão sofrer e, deste modo, preparar a
puberdade: crescer em amizade com os filhos, fortalecer sua vontade, afiançar sua fé
religiosa. É um bom momento para manter conversas sobre temas atuais que os meios
de comunicação apresentam, ressaltando o lado positivo.

Os especialistas recomendam dar esta informação antes que aconteçam tais


mudanças, pois, de um lado, se evitará que os filhos se surpreendam ou se assustem
com o que lhes ocorre e, por outro, ao não estar desperto ainda o instinto sexual, não
lhes produzirá nenhuma perturbação negativa.

Se quando pequenos é indiferente que a informação seja dada pelo pai ou pela
mãe, agora é conveniente que o pai fale com os filhos e a mãe com as filhas.

Às vezes pode acontecer que nem um nem outro encontrem o momento


oportuno para isso. Talvez preocupados pelo que têm a dizer, vão dando tempo para o
assunto e, quando se decidem a fazê-lo, os filhos já sabem de tudo e pode ser que
tenham aprendido de fontes pouco idôneas. Para evitar “enrolar”, alguns pais fixam
uma data: quando a filha fizer onze anos, quando o filho fizer doze. Nesse dia acontece

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a conversa, aconteça o que acontecer. Essa data não é aleatória pois, de uma forma
geral, o despertar da sexualidade é diferente no homem e na mulher. Costuma ocorrer
nas meninas aos doze anos e um pouco depois nos meninos.

A puberdade é um período de grandes alterações psicossomáticas. Além da


capacidade de procriar e do desenvolvimento dos caracteres secundários, ocorrem
também profundas mudanças interiores: mudanças de humor que vão desde a euforia
à depressão, desejos de estar sozinho e de não falar com ninguém, uma emotividade –
irritações e lágrimas – à flor da pele, manifestada principalmente em casa, etc.

b) Prevenir os filhos das mudanças que ocorrerão

As mudanças no corpo do rapaz são: crescimento rápido, aumento do apetite,


aparecimento de pelo no rosto, axilas, púbis; mudança de voz. E, sobretudo, o
desenvolvimento e primeira atividade dos órgãos genitais. O rapaz experimenta a
primeira ejaculação que, geralmente, costuma ocorrer durante o sono. Produz-se de
forma natural, com uma sensação de prazer.

O rapaz deve saber que isso vai acontecer e que é normal que assim ocorra.
Que isso se repetirá de vez em quando. A roupa e os lençóis se mancham, mas os
adultos sabem e não há nada de especial; troca-se a roupa e está tudo bem.

As meninas também experimentam transformações importantes. As formas se


arredondam, alargam-se os quadris e se desenvolvem os seios. O pelo também
aparece nas axilas e no púbis. Com tudo isso, o principal acontecimento é a primeira
menstruação. Um dia sentirá mal estar e algumas dores no ventre, e se dará conta de
que sangrou pela vagina e que manchou suas roupas íntimas. Deverá saber que isso é
normal, que não está doente, simplesmente que tem inicio a maturidade sexual.
Saberá também que, a partir desse momento, cada mês se repetirá o mesmo
fenômeno.

Convém que toda menina esteja avisada e preparada para este fato, porque, se
não estiver, em alguns casos pode acontecer um choque psíquico que dificulta a
posterior maturidade afetiva. Coincidindo com a menstruação, a menina costuma
experimentar um cansaço físico, às vezes dores e também uma inquietação,
melancolia e irritabilidade.

Os rapazes e as moças descobrem o outro sexo e a mútua atração. Devem


saber que é normal, mas devem também saber direcionar esses impulsos e tendências.

A educação da afetividade, já iniciada anteriormente, adquire aqui um caráter


importante, pois a perfeita adaptação social dos adolescentes depende de uma boa
educação da afetividade.

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Os pais que, em etapas anteriores, souberam conversar com seus filhos de


todos os temas que surgiram ao longo dos dias, poderão, sem dificuldade, continuar
esse diálogo em torno aos novos interesses de seus filhos. Uma advertência: deve-se
levar a sério tudo o que dizem e com seriedade, examinar os prós e os contras do que
apresentam, dando-lhes elementos de juízo e ampliando-lhes horizontes para que eles
mesmos tomem suas próprias decisões.

Mas os pais que antes não falaram com seus filhos possivelmente agora não
consigam ultrapassar a barreira da intimidade, porque entre os sentimentos novos que
experimentam os adolescentes está o de não querer deixar ninguém entrar em sua
intimidade. Somente, e não com facilidade, falarão de suas coisas aqueles cujos pais
ganharam desde sempre sua confiança, porque se mostraram em toda ocasião abertos
ao diálogo e à compreensão.

O Conselho Pontifício para a família insiste que não é suficiente comunicar


informações sobre sexo junto a princípios morais objetivos. É também necessária uma
ajuda constante para que cresça a vida espiritual dos filhos, de modo que seu
desenvolvimento biológico e os impulsos que começam a experimentar se encontrem
sempre acompanhados por um crescente amor a Deus Criador e Redentor e por uma
consciência clara da dignidade de toda pessoa humana e de seu corpo.

Portanto, para superar as dificuldades, podemos aconselhar: disciplina dos


sentidos e da mente, prudência atenta para evitar as ocasiões de quedas, guarda do
pudor, moderação das diversões, ocupação saudável, recurso frequente à oração e aos
sacramentos da Penitência e da Eucaristia, devoção à Nossa Senhora.

H. EDUCAÇÃO COMO CONSUMIDOR


Na sociedade atual, o consumo é um elemento importante que está presente
em parte de nossas atividades diárias; por isso, é necessário proporcionar à criança
alguns instrumentos de análise e crítica que lhe permitam adotar uma atitude pessoal
frente às ofertas de todo tipo que recebe da sociedade de consumo. A tomada de
consciência ante o excesso de consumo de produtos desnecessários deve começar na
escola.

Intimamente unida ao consumo se encontra a publicidade; o mundo da


publicidade se pode e deve trabalhar nas diferentes áreas do Ensino Fundamental I.

Trata-se de estudar o tema do consumo em todas suas vertentes, com uma


metodologia criativa e prática, estabelecida em torno à experiência pessoal que

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mostre os fatores relacionados e implicados na atividade diária. Estabelecer também


comportamentos críticos e responsáveis em matéria de consumo.

Será estimulado nos alunos espírito crítico ante o consumo e a publicidade e


lhes serão oferecidos os meios necessários para que possam agir como consumidores
capazes de efetuar uma escolha consciente de seus direitos e responsabilidades.

Através das diferentes áreas do Currículo, os objetivos propostos para a


Educação do consumidor são:

 Proporcionar uma atitude crítica e responsável diante de sua própria


condição de consumidores.
 Adquirir conhecimentos básicos sobre direitos e deveres como
consumidores.
 Gerar boas atitudes de sobriedade.

I. EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE FÍSICA E MENTAL


Este tema transversal diz respeito a uma numa referência contínua de práticas
consideradas saudáveis, complementando toda atividade de aprendizagem com
hábitos que implicam a compreensão e o cuidado da saúde.

Os núcleos de elaboração destes conteúdos são:

 Segurança, prevenção de acidentes e primeiros socorros.


 Cuidados pessoais: higiene e saúde.
 Alimentação saudável e completa.
 Uso de medicamentos e prevenção de toxicomania.
 Relações humanas. Saúde mental.
 Serviços sanitários e solicitação de ajuda.

É preciso prestar especial atenção:

1. À higiene geral dos alunos (a lavagem das mãos, dos dentes, a ducha depois
de praticar exercício físico, etc.).

2. Aos hábitos referentes à comida: dieta equilibrada e nutritiva. Prevenir a


tendência (sobretudo nas meninas) ao emagrecimento. Os caprichos nas refeições.

3. A proporcionar um ambiente de brincadeira e trabalho sereno, em que os


alunos possam se sentir seguros e não ansiosos ante a aprendizagem e a vida escolar.

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Capítulo V - ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS

A. ASPECTOS GERAIS

1. O PROFESSOR EDUCADOR
Cada professor é um educador que ensina sua matéria sabendo que se trata de
um meio para que os estudantes adquiram conhecimentos e maturidade,
desenvolvam ao máximo suas aptidões e construam sua personalidade exercitando-se
nas virtudes.

Seu principal trabalho é colaborar com os pais dos alunos a que estimulem o
trabalho de cada um dos filhos em idade escolar para que amadureçam como pessoa,
sendo capazes de se valorizar por si mesmos.

Dimensão orientadora do trabalho de todo professor


A consecução dos objetivos educativos requer necessariamente que se
programem atividades bastante variadas – não meramente cognitivas – que permitam
ao aluno refletir e repetir com frequência atos com os quais se exercite nas virtudes. O
aluno necessita encontrar, durante sua permanência nas aulas, situações concretas em
que exercitará as virtudes que seus professores lhe propõem viver.
Entre as atividades que se podem programar, algumas terão por objeto a
valorização das virtudes e o estímulo de sua aquisição (por exemplo, a importância da
ordem na pesquisa experimental, a influência dos vícios e das virtudes na decadência
ou no auge de diferentes civilizações, etc.), e outras oferecerão ocasiões concretas
para exercitá-las, como participar em um trabalho em equipe – solidariedade –,
informar sobre as dificuldades que encontra na matéria ou sobre o trabalho realizado
– sinceridade –, ajudar a um companheiro – espírito de serviço –, ter a mesa de
trabalho e o material da disciplina ordenado, esforçar-se por ter boa apresentação do
caderno de atividades, ou ser pontual ao chegar à aula, ou ao apresentar um trabalho.

Cada professor deve determinar a intencionalidade educativa que pretende às


atividades programadas. Como cada matéria oferece diferentes possibilidades, é
imprescindível que a equipe educadora de cada grupo ou nível de alunos esteja de
acordo.

Além de conhecer e valorizar o programa de formação humana é necessário


integrá-lo no trabalho diário concreto que cada professor realiza, de acordo com as
características e métodos próprios de cada área.

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O professor está diretamente implicado no esforço comum por conseguir que


os alunos façam seus os objetivos de orientação programados. Podem servir como
exemplos de atuação nesse sentido: breves comentários sobre o objetivo da aula,
quando se apresenta a oportunidade de fazê-lo ou buscando intencionalmente essa
oportunidade; estar pendente de que os alunos vivam na sala aspectos concretos do
objetivo proposto; corrigir e animar; e, sobretudo, ser pessoalmente a pessoa que se
exercita no esforço por melhorar pessoalmente justamente naquilo que pretende dos
alunos.

A orientação acadêmica pessoal não é uma função apenas do preceptor de


cada aluno, mas corresponde a todos os professores, a cada um nas matérias que
leciona. Se todo professor realiza uma função orientadora de seus alunos através de
seu trabalho diário, é óbvio que deve manifestá-la, sobretudo, no que se refere à
aprendizagem da matéria que ensina, com um seguimento personalizado de cada
aluno dentro e fora da sala, adiantando-se no que for possível às dificuldades para
arbitrar os meios mais oportunos para cada caso: uma atividade de reforço, o repasso
dos objetivos fundamentais com um grupo reduzido ou uma nova explicação de um
tema determinado de especial dificuldade ou interesse.

Assim, o trabalho do preceptor se centra no assessoramento educativo da


família e na orientação pessoal do aluno – vida familiar, hábitos de trabalho,
planejamento do estudo, aquisição de virtudes, formação do critério, uso do tempo
livre, vida de piedade, etc. –, sem que deva empregar um tempo excessivo em resolver
as dificuldades específicas dos alunos em alguma matéria.

A dimensão orientadora do professor se manifesta particularmente em duas


grandes tarefas: trabalhar com a maior perfeição possível e exigir um trabalho bem
feito de seus alunos.

A equipe educadora
A ação educativa do professor não é fruto de uma atuação solitária, mas sim
solidária e coordenada com uma equipe de educadores.

O conjunto de professores que trabalham com um mesmo grupo de alunos


constitui uma Equipe Educadora. São especialistas de diferentes funções docentes ou
orientadoras que atuam coordenadamente em favor da educação completa de cada
estudante.

O trabalho em equipe com os demais professores não significa renunciar ao


próprio estilo. Tem sua razão de ser na coerência e continuidade que devem ter as
aprendizagens e formação dos alunos com a orientação de seus professores.

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A equipe de professores é a que programa as atividades docentes e de


orientação e avalia o trabalho realizado. Deste modo, aperfeiçoa-se o rendimento dos
recursos humanos e materiais disponíveis no colégio. De outra forma, os alunos seriam
submetidos a diferentes critérios educativos e metodológicos, prejudicando a
coerência e sistematização de seu processo de formação.

O contraste de opiniões nas reuniões da equipe educadora limitará o perigo de


subjetividade nas apreciações de cada professor, tendo presente que se deve evitar
dar um caráter definitivo aos juízos sobre o trabalho das pessoas. Como consequência,
cada professor integra sua programação no plano geral de cada turma e do colégio.

Os professores do ensino fundamental I submetem-se a Coordenação


Pedagógica ou a um Professor Coordenador de Área, designado pela Equipe de
Direção.

Qualidades do educador
A tarefa de educar requer naquele que a exercita um mínimo de qualidades
pessoais, tais como competência, atitude, entusiasmo profissional e interesse por
melhorar continuamente a própria formação, junto à maturidade pessoal e ao
equilíbrio emocional indispensáveis em quem deve orientar os demais.

Por outra parte, como em qualquer relação pessoal, o empenho por cuidar
habitualmente dos pequenos detalhes de delicadeza no trato – o sorriso habitual, o
modo de vestir e de se expressar, os pormenores que refletem tom humano – facilitam
o clima de profissionalismo e confiança mútua necessários para que se possa produzir
um verdadeiro diálogo pessoal.

Para desempenhar bem esta tarefa não é preciso ser uma pessoa excepcional,
mas são imprescindíveis o empenho eficaz para se formar e o espírito de serviço para
atender a cada família e a cada aluno como se fossem os únicos. Essas qualidades
estão acompanhadas pelos defeitos e erros normais de qualquer ser humano, desde
que não contradigam a figura do professor.

Antes de tudo, o educador necessita possuir a preparação profissional


suficiente para:

1. saber aonde vai: conhecimento profundo do que é o homem e a família, e do


que contribui para sua melhora;

2. saber com quais meios conta: conhecer muito bem suas matérias, o plano de
formação e os diferentes meios e técnicas de ensino e orientação;

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3. saber onde se pode chegar agora: conhecimento do aluno, de suas


possibilidades e limitações;

4. saber quando e como se deve ou se pode agir: prudência e tato, tanto para
aproveitar e provocar ocasiões propícias, como para atender às situações imprevistas.

Para tanto, o professor necessita de estudo e reflexão sobre o próprio trabalho,


sobre cada aluno.

A educação deve estar fundamentada pelo respeito às pessoas, sempre num


clima de alegria que costuma acompanhar o trabalho bem feito e a busca do bem; de
compreensão e de cordialidade que ajudam a que todos se sintam pessoalmente
acolhidos e abram as portas à confiança e ao respeito, manifestados em numerosos
detalhes práticos como: chamar a cada pessoa por seu nome; olhar o rosto quando
falar e escutar com atenção – também no gesto –; respeitar o ritmo de trabalho de
cada um e respeitar ao máximo sua autonomia, confiando nas suas capacidades;
corrigir sem maus modos; evitar qualquer tipo de atropelo, menosprezo ou
humilhação, etc.

Assim, o professor não será somente a pessoa especialista em uma disciplina a


quem se vai para pedir ajuda diante de um problema ou necessidade, mas também a
pessoa que se adianta para prevenir, que estimula e ajuda a se esforçar por alcançar o
projeto pessoal decidido.

Os estímulos positivos são sempre mais eficazes que as repressões ou


correções com carga negativa. O professor deve descobrir os aspectos positivos –
também diante das limitações e dificuldades – de cada família e aluno, para se apoiar
neles e estimular a melhora, sem considerar nunca a ninguém como um caso perdido.

Convém evitar parecer que há preferência a determinadas famílias ou alunos.


Deve-se atender a todos, porque todos podem melhorar, com paciência. A acepção de
pessoas anularia a eficácia do trabalho do professor. Evitar, porém, a manifestação de
preferências de umas pessoas a outras não significa tratar a todas por igual, porque
em educação o verdadeiramente eficaz é tratar desigualmente aos desiguais: a cada
família ou aluno, de acordo com sua situação, segundo o momento, ainda que sem
favoritismos.

Para isso, o professor deve se esforçar por se acomodar à mentalidade do


ouvinte, de colocar-se no lugar do outro ao raciocinar, animar e corrigir; com firmeza
para superar as dificuldades, o que não é dureza ou frialdade, mas calma, energia,
integridade.

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O professor educador necessita coerência para agir e ensinar, para estimular


desejos de melhora, já que educar não é apenas um modo de se ganhar a vida, é
ajudar a ser pessoas, e essa tarefa compromete.

É particularmente importante, portanto, a estabilidade emocional, a clareza de


exposição, a simplicidade de caráter, a constância no seguimento de metas e objetivos,
o carinho e o sentido positivo.

O educador é um promotor de autonomia que não cria dependências, mas


fomenta que cada família e aluno aceitem a responsabilidade de suas decisões, que
pensem e decidam por si mesmos segundo suas possibilidades e grau de maturidade,
sem afogar a personalidade, as energias, mas orientando-as para o bem.

2. A TAREFA DO PROFESSOR
A tarefa do professor não se limita à que se realiza na presença dos alunos, já
que também é fundamental a adequada preparação de seu trabalho, bem como a
avaliação dos resultados da atividade docente. Por essas razões, os professores se
ocupam resumidamente das seguintes tarefas:

1. Informar, atender e orientar aos pais dos alunos – responsáveis em todos os


aspectos da educação de seus filhos –, de quem são seus principais
colaboradores.

2. Cuidar de seu próprio aperfeiçoamento pessoal e profissional através do


estudo, da reflexão sobre o próprio trabalho, sobre experiências diversas e
sobre a participação na pesquisa ativa dos problemas educativos.

3. Elaborar os planejamentos anuais e mensais.

4. Estimular o trabalho dos alunos, seu esforço por aprender.

5. Dirigir a aprendizagem dos alunos, ensinar e orientar, colaborando com os


estudantes em sua aprendizagem e formação.

6. Valorizar todos os aspectos do desenvolvimento pessoal de seus alunos.

7. Avaliar o rendimento dos estudantes, a qualidade dos materiais educativos e


dos programas.

8. Participar construtivamente no trabalho em equipe dos professores,


buscando a unidade e a coordenação com a Equipe Educadora e com a Direção
do colégio.

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O professor: mediador dos processos de aprendizagem dos alunos


A qualidade da aprendizagem depende fundamentalmente da qualidade do
ensino; e esta da qualidade do trabalho dos professores, de modo que os melhores
recursos materiais nunca podem compensar um ensino deficiente.

É preciso que cada professor descubra seu papel de mediador na aprendizagem


de seus alunos, de facilitador de suas descobertas. É o aluno quem, em última
instância, modifica e reelabora seus esquemas de conhecimento, construindo sua
própria aprendizagem.

Nesse processo, o professor atua como guia e mediador na aquisição


significativa de aprendizagens, que permitem estabelecer relações entre os conteúdos
previamente assimilados e os novos, assim como chamar a atenção sobre possíveis
deficiências que impeçam a aprendizagem.

O professor, ao ensinar, oferece as condições necessárias para que seus alunos,


por si mesmos, aprendam. A partir desta perspectiva, mais do que proporcionar
informação sobre o pensamento e suas funções, o professor deve proporcionar as
condições para que seus alunos pensem e para que pensem e aprendam cada vez
melhor.

3. MOTIVAÇÃO
A motivação é um recurso pedagógico importante. O professor que sabe
motivar os estudantes costuma alcançar os objetivos a que se propõe. Em certa
medida, o rendimento escolar é consequência da qualidade da motivação.

Um fator que não pode ser esquecido na prática diária é que os alunos
precisam saber quais trabalhos estão sendo pedidos, quais objetivos devem alcançar,
quais meios têm para consegui-lo e como serão avaliados. A desmotivação para um
aprendizado decorre muitas vezes de uma situação de ignorância mais do que a
atitude negativa do estudante. Saber para que se faz algo, isto é, conhecer a relação
existente entre as atividades que realiza e os objetivos que pretende conseguir,
constitui a base da motivação.

De pouco serviria ensinar muito se os alunos não aprendessem quase nada. O


professor deve estar pendente de colocar os alunos numa situação de aprendizagem
constante, que lhes interesse e lhes satisfaça.

O conhecimento dos resultados, que será sempre pessoal, é um forte estímulo


para corrigir os erros e melhorar. Para tanto, é interessante indicar aos alunos os
resultados de seus trabalhos com a maior antecedência possível. O reconhecimento do

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bem feito no trabalho escolar é percebido pelo aluno como um sucesso, e a esperança
de obter mais sucesso estimula a reiterar o comportamento aprovado pelo professor.
O reconhecimento dos acertos de um aluno – ou de um grupo de alunos – numa tarefa
determinada, motiva mais que a informação sobre as deficiências.

O registro dos progressos na consecução das metas propostas e o


conhecimento das causas do sucesso ou do fracasso numa tarefa determinada
aumentam a motivação para a aprendizagem.

As atividades devem ser dosadas de tal forma que, a partir das mais acessíveis,
o aluno vá obtendo êxitos sucessivos. Se a exigência é pouca, os alunos mais
brilhantes, que reagem positivamente diante do desafio, perdem o interesse. Se a
dificuldade é excessiva, os menos capazes perdem a motivação. Como não é possível
encontrar tarefas que sejam adequadas para todos os alunos simultaneamente, torna-
se imprescindível uma diferenciação dos objetivos.

A motivação consiste em estimular o esforço e em estabelecer uma dificuldade


razoável para que a tarefa seja possível. As mudanças moderadas no nível de
dificuldade e complexidade de uma tarefa favorecem a motivação em quem a realiza.
As mudanças bruscas provocam rejeição e podem conduzir ao desânimo.

Convém relacionar os conteúdos de aprendizagem com os interesses e


necessidades próprias de cada grupo de alunos (de acordo com sua idade, ambiente,
etc.). O progresso é mais rápido quando os alunos reconhecem que a tarefa coincide
com seus interesses imediatos. Assim mesmo, a motivação é maior quando o material
didático que se utiliza é variado e adequado ao conteúdo.

4. A ATENÇÃO PESSOAL AOS ALUNOS


Os alunos de uma mesma turma apresentam diferentes estilos e ritmos de
aprendizagem. Essa realidade tem algumas consequências para o trabalho do
professor: cada estudante requer atenção pessoal para ajudá-lo a conhecer-se a si
mesmo, a desenvolver suas aptidões especiais e a que aceite serenamente suas
deficiências, estimulando-o a superá-las com os meios adequados, ao mesmo tempo
em que se procura reforçar nele a ideia de que o resultado do estudo e do trabalho
depende principalmente de seu próprio esforço. Essa atenção pessoal exige:

a) Conhecer a cada aluno – suas possibilidades e limitações, virtudes e defeitos


– para estabelecer um diagnóstico o mais exato possível de sua situação
pessoal e de suas possibilidades de melhora; para determinar o rendimento
que se pode esperar, estimulando-o depois a que alcance o nível mais alto de

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acordo com sua capacidade, sem aceitar como satisfatório um rendimento


inferior. Fruto deste conhecimento, será possível estabelecer – de comum
acordo com os pais e com o próprio aluno – um projeto pessoal de melhora
para cada escolar.

b) Desenvolver as atividades escolares de maneira que se respeite o ritmo


pessoal de aprendizagem. Por isso, em cada unidade didática se distinguem
dois tipos de objetivos:

 Os objetivos fundamentais que devem ser dominados por todos os


alunos, por responder aos conteúdos básicos e por sua importância
formativa.
 Os objetivos individuais que permitem aprofundar em qualquer aspecto
da unidade didática e estender o interesse cultural dos alunos, de
acordo com a capacidade ou as preferências pessoais de cada um. Esses
objetivos devem ser exigidos, já que asseguram o desenvolvimento da
personalidade própria de cada estudante. Dentro destes objetivos é
preciso destacar:
 Os objetivos individuais atribuídos: requerem uma ampliação
relativamente aos objetivos comuns e devem ser estabelecidos
pelos professores para cada aluno ou grupo de alunos.
 Os objetivos livres, propostos pelo aluno ou escolhidos entre
uma oferta variada, e que respondem a seus interesses e
preferências.

c) Utilizar recursos metodológicos dinâmicos que favoreçam a possibilidade de


cada estudante realizar as aprendizagens programadas de acordo com seu
ritmo e estilo pessoal para tirar o seu máximo. O desenvolvimento de
capacidades, a aquisição de conhecimentos e a promoção das virtudes e
valores, necessitam de um enfoque metodológico geral que fomente a
atividade do estudante e sua participação na sala. Esse enfoque, através da
utilização de diferentes métodos e situações de aprendizagem, facilita também
o trabalho cooperativo e solidário, assim como a ajuda entre companheiros.
Entendemos o termo “métodos dinâmicos” como um conjunto de estratégias
didáticas que permitam e estimulem os alunos a participar como protagonistas
de sua própria aprendizagem.

d) Realizar uma avaliação personalizada que leve em conta o diagnóstico e


prognóstico realizados, e centre a atenção na satisfação dos resultados mais do
que na suficiência. Para consegui-lo, realiza-se a avaliação contínua – ou
formativa – ao longo de todo o processo educativo, precedida pela avaliação

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inicial ou de diagnóstico, no começo de cada turma ou ciclo, e matizada pela


avaliação global no término de cada período avaliativo.

e) Oferecer aos alunos o assessoramento acadêmico pessoal de cada professor


nas matérias que dá, de modo que, com a orientação da avaliação formativa
que detecta tão logo se produzam os sucessos ou as deficiências, para
reconhecê-los ou remediá-las, possam alcançar os melhores rendimentos. Do
mesmo modo, já que todo professor é um educador, são oferecidas aos alunos
a ajuda e orientação pessoal que sejam necessárias para seu adequado
desenvolvimento moral.

5. DESENVOLVIMENTO SISTEMÁTICO DE CAPACIDADES E HABILIDADES


O amadurecimento do neocórtex, a experiência e as motivações das crianças
nessa idade, permitem que suas aprendizagens se realizem com rapidez. Além disso, a
estabilidade emocional capacita-os para uma aprendizagem sistemática.

Através do plano de estudos (isto é, do trabalho cotidiano realizado nas aulas) e


da ação educativa familiar, o principal interesse da atividade educativa nessa etapa
está no desenvolvimento sistemático:

 das capacidades ou habilidades básicas de pensamento


(desenvolvimento cognitivo).
 do conhecimento e juízo moral, do fortalecimento da vontade através
das virtudes humanas e do cultivo da afetividade (educação moral).

É a etapa oportuna para o desenvolvimento do pensamento operativo


concreto, através da gradual apreensão intelectual. O processo natural é a passagem
do intuitivo e imaginativo ao racional, para chegar a sintetizar e estruturar os próprios
conhecimentos. A inteligência senso motora passa a ser lógica, ainda que necessite dos
sentidos para captar as coisas, já que o juízo abstrato virá depois, em torno dos 13
anos.

Ainda não são capazes de abstrair, mas necessitam do concreto, apoiando-se


sempre nas impressões sensoriais (manipulação e experiências) e nas representações
(“realismo infantil”). São capazes de relacionar ideias simples, mas chegar a uma
definição geral é ainda difícil. Seu pensamento é intuitivo, muito apoiado nas imagens.
Começam a raciocinar por si mesmos a partir dos porquês, e são frequentes as
perguntas sobre o porquê ou para quê das coisas. O professor deve considerar e,
inclusive, instigar essas perguntas.

Nossos alunos vão dedicar ao estudo os próximos anos e é importante que


contem o quanto antes com as ferramentas de aprendizagem mais adequadas. Dessa

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forma, contribuiremos para que tenham uma percepção positiva de si mesmos e de


suas capacidades – autoestima – e uma adequada motivação para o estudo.

Nesses anos do Ensino Fundamental I acontecem os períodos sensitivos da


aquisição das habilidades intelectuais mais básicas e fundamentais, por isso é preciso
aproveitar esse tempo para uma aquisição com mais facilidade e perfeição.

Estratégias de aprendizagem incorporadas nos programas


Um ensino que, como o presente Projeto Curricular, integre um programa de
desenvolvimento cognitivo necessita de:
a) objetivos realistas, expressados com tal clareza que seja possível determinar
se foram ou não alcançados; adaptados ao desenvolvimento evolutivo e cognitivo
prévio dos alunos; que tenham valor por si mesmo e respondam a componentes ou
aptidões importantes da capacidade de pensamento. Essas aptidões e habilidades
mentais devem ser trabalhadas no Ensino Fundamental I de uma forma coordenada,
graduada e sistemática, em todas as matérias, em todas as turmas e com um nível de
domínio progressivo;

b) procedimentos de ensino concretos de cada uma das habilidades ou


capacidades selecionadas;

c) procedimentos de avaliação formativa e somativa para os processos de


aprendizagem dos alunos e para os métodos de ensino do professor; que seja
examinado se os alunos adquiriram as capacidades, procedimentos, conhecimentos,
hábitos e atitudes que o programa pretende ensinar; e até que ponto os métodos
empregados são aptos para facilitar este desenvolvimento. É interessante também
conhecer se o ensino tem efeitos substanciais e duradouros sobre o pensamento e a
vida dos alunos;

d) procedimentos de recuperação.

Integração plena no currículo escolar


Não se trata de preparar uma classe especial para o desenvolvimento de
habilidades, o ensino de técnicas ou a promoção das virtudes humanas, com o perigo
de não haver transferência do que foi aprendido ao resto das atividades escolares e à
vida pessoal. Este programa se desenvolve através do currículo das diferentes áreas,
do plano de estudos, de modo coordenado e sistemático.

O objetivo é que as estratégias ensinadas cheguem a se consolidar em hábitos


permanentes de atuação, como consequência do trabalho diário em todas as matérias.
Evita-se assim que os alunos vejam as estratégias de aprendizagem como uma matéria
na qual não se reprova e para a qual não se deve dar importância.

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O ensino de pensamento se concretiza em atividades a realizar todos os dias,


de modo que as matérias sejam programadas levando-se em conta quais aptidões se
quer melhorar ou conseguir, através do trabalho diário na área de aprendizagem que
se oferece. Não se trata de tirar importância da assimilação de conhecimentos, mas de
que os alunos aprendam muitos conhecimentos e muito bem, porque aprenderam a
aprender, desenvolveram suas capacidades.

Como as habilidades selecionadas para cada turma serão trabalhadas


diariamente na sala, é lógico que também seja avaliado o nível de domínio que cada
aluno nelas vai alcançando.

Para realizar esse seguimento, é interessante contar com um simples registro


de observação que permita valorizar os aspectos mais significativos do programa de
trabalho estabelecido pela Equipe Educadora. Também convém contar com alguns
instrumentos de avaliação que meçam da forma objetiva o grau de aquisição das
diferentes habilidades. Os resultados da avaliação têm, sobretudo, um valor formativo,
como instrumento para a orientação pessoal do aluno e, quando necessário, para
estabelecer um plano de recuperação.

A seguir se apresentam duas listas: a primeira apresenta um esquema das fases


do pensamento, e cada uma das fases está definida por uma série de habilidades
intelectuais. É o suporte teórico do programa de desenvolvimento cognitivo do
Projeto. A segunda é mais extensa e concreta: está organizada, para facilitar a
compreensão e o trabalho de programação dos professores, em sete habilidades
básicas do pensamento que se podem e devem desenvolver no Ensino Fundamental I,
e vem acompanhada por alguns hábitos de trabalho e atitudes para o estudo que
também devem ser cultivados nessa etapa.

Fases do pensamento: atitudes intelectuais

A. Fase Receptiva/Perceptiva

 Observação. Atenção. Concentração.


 Leitura de textos
o de planos e mapas
o de representações gráficas/simbólicas
o de imagens
 Percepção oral
 Identificação
 Recontagem e medição
 Uso de fontes de informação

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B. Fase Reflexiva/Elaborativa

 Análise
 Comparação
 Ordenação. Classificação
 Experimentação
 Cálculo
 Inferência. Juízo
 Formação de conceitos
 Interpretação. Valorização. Avaliação. Crítica
 Tomada de decisões
 Solução de problemas
 Síntese. Resumo. Definição

C. Fase Extensiva/Criativa

 Extrapolação. Prognóstico. Generalização


 Imaginação
 Interrogação
 Modificação
 Criação

D. Fase Aquisitiva/Retentiva

 Memorização mecânica
 Memorização compreensiva
 Evocação de conhecimentos

E. Fase expressiva/Prática

 Expressão oral
 Expressão escrita
 Expressão técnica
 Expressão artística: plástica, corporal, musical
 Expressão comportamental (ética)

Habilidades de Pensamento e Hábitos de trabalho no Fundamental I

A. Coletar dados e informação

 Medir. Estimação de medidas


 Anotar

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 Contar
 Observação dirigida e livre
 Observar diferenças e semelhanças
 Observação e atenção visual e auditiva (discriminação de sons e ritmos)
 Manejo de registros de observação
 Percepção sensorial
 Identificação
 Ler
 Uso de fontes de informação
 Escutar
 Perguntar
 Questionários
 Entrevistas
 Pesquisas

B. Organizar a informação

 Comparar
 Ordenar
 Classificar
 Seriar
 Relacionar
 Colecionar

C. Elaborar a informação

 Descrição de situações
 Analisar
 Interpretar
 Resumir. Sintetizar
 Identificação da ideia principal. Sublinhados
 Representações gráficas
 Mapas conceituais
 Esquemas simples de chave

D. Compreensão e Expressão

 Leitura compreensiva. Rendimento leitor


 Expressão oral e dramática
 Escritura: ortografia, redação, composição

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 Vocabulário: compreensão significativa de conceitos (encontrar relações de


semelhança, analogia e oposição de conceitos). Consultar o dicionário

E. Cálculo

 Automatização dos processos de cálculo


 Cálculo mental
 Operações
 Estimação de resultados
 Valorização da solução de uma operação (razoabilidade da resposta)

F. Processos de identificação, apresentação e resolução de problemas

 Iniciar na formulação de hipóteses simples sobre acontecimentos


 Avanço de explicações de fatos ou soluções de problemas, previsão de
consequências
 Razoamento
 Procurar várias soluções a problemas apresentados
 Comprovação da hipótese. Verificação dos resultados

G. Compreensão e raciocínio espaço temporal

 Sequências
 Localização em mapas e planos
 Interpretação de gráficos simples

H. Hábitos e técnicas elementares de estudo

 Horário de estudo
 Uso de agenda
 Distribuição do tempo de estudo
 Ordenar as tarefas
 Planificar e organizar o trabalho
 Tomar notas
 Técnicas simples de memorização mecânica e compreensiva
 Reconhecer as ideias principais. Sublinhar
 Avaliar as próprias realizações

I. Atitudes frente à aprendizagem

 Curiosidade intelectual, indagação, admiração


 Emoção frente à descoberta
 Aprender dos erros

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 Afã de saber as razões das coisas


 Satisfação pelo trabalho bem feito
 Respeito à produção alheia
 Clareza na expressão
 Cuidado e limpeza na apresentação dos trabalhos
 Afã de superação. Esforço

6. A LINGUAGEM COMO VEÍCULO DO PENSAMENTO


A língua é o veículo do pensamento. Na medida em que nossos alunos utilizem
a língua com maior precisão, ordem e rigor, seu pensamento será também mais
ordenado e preciso. Todo professor é de Língua e dedica boa parte de seu tempo de
ensino a trabalhar os aspectos procedimentais da língua: ler, escrever, falar, cada vez
com maior perfeição.

O aspecto mais básico é a leitura. Muitas dificuldades de aprendizagem de


alunos de anos superiores têm sua origem em deficiências na leitura. Nunca se termina
de aprender a ler melhor, compreendendo mais, julgando o que se lê, diferenciando o
fundamental do acessório, etc.

Devem ser colocados os meios para que os alunos se expressem cada vez com
maior fluidez e perfeição, tanto oralmente como por escrito, oferecendo numerosas
ocasiões de exercício.

Outro aspecto fundamental do ensino de língua em qualquer idade é a


aquisição e uso de um vocabulário rico. No ensino de todas as matérias se procurará
que os alunos conheçam e utilizem os termos científicos próprios da área, bem como
aqueles que apresentem dificuldades ortográficas.

A atividade de teatro, integrada nas programações de Língua Portuguesa e


Educação Artística, tanto lido como interpretado junto aos colegas ou em alguma festa
familiar, melhora a dicção, a expressão oral, a desenvoltura para falar em público, etc.

É interessante promover todo tipo de concurso de contos, poesias, narrações,


bem como leitura recreativa, através do “plano básico de leitura”, de modo que se
aproveite muito os três ou quatro livros escolhidos que devem ser lidos e trabalhados
a fundo, com atividades de diálogo e reflexão crítica sobre o que foi lido (tertúlias ou
colóquios literários).

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7. O TRABALHO AUTÔNOMO E COOPERATIVO DO ALUNO


O professor deve promover a aprendizagem autônoma, tanto independente
como cooperativa, de seus alunos, de modo que possam ser progressivamente capazes
de planificar e controlar sua própria aprendizagem. Ao ganhar em autonomia, os
estudantes estarão em melhores condições de enfrentar os problemas que se
apresentarem todos os dias, poderão prever as consequências de seus atos e
aprenderão de seus erros, de modo que tomarão suas decisões com mais
responsabilidade.

É interessante favorecer o agrupamento flexível e o trabalho cooperativo dos


alunos. Assim, podem-se agrupar de diferentes maneiras na aprendizagem de diversas
áreas e igualmente podem formar grupos pequenos em alguma ocasião e grupos
grandes em outra. Trata-se de colocar a formação de grupos ao serviço da
aprendizagem sem submetê-la às normas rígidas de formação de grupo fixa. Para
consegui-lo, utilizam-se as quatro situações de aprendizagem seguintes:

 Trabalho individual
 Trabalho em equipe
 Trabalho com o grupo da classe
 Trabalho em grande grupo

Os hábitos de generosidade, compreensão, colaboração, companheirismo e


justiça se reforçam mediante os trabalhos em equipe. Deve-se sugerir como primeiro
objetivo individual dos estudantes suficientemente capazes, a ajuda a seus
companheiros na realização das tarefas escolares, especialmente as de domínio dos
objetivos fundamentais que possibilitam a recuperação.

8. A TRANSFERÊNCIA DO APRENDIZADO E APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA


O aluno compreende melhor um novo conteúdo de aprendizagem quando o
relaciona significativamente com algo já aprendido, com conteúdos de outras áreas,
com a realidade circundante. A aprendizagem se transfere e se assimila então com
muito mais facilidade.

O professor deve proporcionar oportunidades para colocar em prática os novos


conhecimentos, de modo que o aluno possa comprovar o interesse e a utilidade do
que foi aprendido e assim consolidar aprendizagens que transcendem o contexto no
qual se produzem. Por outra parte, convém procurar a relação das atividades de
ensino e aprendizagem com a vida real dos alunos, partindo sempre que seja possível
de suas experiências e conhecimentos prévios.

Aplicando estas ideias ao desenvolvimento do pensamento, podemos afirmar


que o que se aprende pensando adquire-se mais profundamente, isto é, fica mais fácil
de lembrar, desenvolve o próprio pensamento e é possível a transferência dessa
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aprendizagem para outras áreas e para sua vida pessoal, de maneira que o aluno possa
interpretar e resolver novas situações que se apresentem com o que foi aprendido.

Nesse sentido, não se trata de que os alunos adquiram conhecimentos sobre


técnicas de trabalho intelectual, mas de que as assimilem sistematicamente, com o
exercício, utilizando-as em seu trabalho diário, para que se convertam em hábito de
trabalho e em um estilo próprio de aprender.

A participação dos alunos, distinta de acordo com sua maturidade, no


planejamento, observação e avaliação de sua aprendizagem, tanto procedimental
(desenvolvimento cognitivo) como atitudinal (desenvolvimento moral), facilita o
progresso em seu modo de pensar e de agir. Essa participação favorece a atuação
responsável, já que os estudantes são conscientes do que fazem e porque o fazem,
bem como das vantagens de tal proceder.

Convém incentivar a aprendizagem por descoberta: preencher de conteúdo as


excursões e os passeios culturais, em conexão com os programas de estudo, de modo
que se fomentem a observação sistemática, a percepção atenta de diferenças e
semelhanças, a classificação com distintos critérios e outras habilidades de
pensamento, mediante cadernos de campo, fichas de observação e registro, etc.

Também favorece a aprendizagem por descoberta o recurso frequente aos


trabalhos práticos nos laboratórios e oficinas, que promovam a reflexão, formulação e
comprovação de hipóteses.

9. O CLIMA FAVORÁVEL PARA A APRENDIZAGEM


A atmosfera interpessoal na qual se desenvolve o trabalho escolar deve
permitir ao aluno sentir-se apoiado, estimado, respeitado como pessoa, e capaz de
dirigir e orientar sua própria ação. A sala deve constituir um ambiente agradável de
trabalho.

O ambiente educativo da sala deve favorecer, além do exercício das virtudes, o


desenvolvimento das habilidades do pensamento. Para isso, é necessária uma
atmosfera na qual possam expressar-se as ideias e opiniões sem temor ao ridículo, na
qual se estimule e reconheça o esforço por pensar e explicar as coisas, por dar razões,
ainda que não sejam as do livro de texto.

A decoração da sala deve ser sugestiva e variar com certa frequência: fotos,
pôsteres, trabalhos, mapas, etc., que se empregam nas classes para diferentes
atividades.

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10. A AVALIAÇÃO
É patente que os alunos estudam dependendo de como avaliam seus
professores, isto é, colocam-se os meios para que os alunos aprendam aquilo do que
mais tarde lhes será avaliado. Convém, portanto, apresentar na programação como
vamos avaliar os objetivos didáticos a que nos propusemos e, depois, traçar as
atividades de aprendizagem com as quais conseguiremos que os alunos superem as
atividades de avaliação programadas.

A avaliação formativa nos permite descobrir tanto os êxitos como as


deficiências ou lacunas na aprendizagem dos alunos (consequentemente, também em
nosso trabalho de mediação), e nos orienta para potenciá-los ou superá-las quanto
antes, de modo que motivem ou não impeçam a aquisição e domínio de novas
aprendizagens.

As sessões de interavaliação (ou pré-avaliação), nas quais se constata se os


alunos assimilaram os objetivos fundamentais previstos para cada avaliação,
respondem plenamente a esse caráter formativo para os alunos e professores e
informativo para os pais. Para podê-las realizar, é imprescindível ter bem definidos os
objetivos fundamentais e os individuais, e elaborados alguns programas de
aprendizagem que se adaptem ao tempo de que se dispõe.

A avaliação não se refere unicamente aos conhecimentos, mas também à


aquisição de hábitos e de técnicas de trabalho, isto é, ao grau de desenvolvimento das
habilidades intelectuais e de interiorização dos valores.

É patente que o desenvolvimento cognitivo e moral não se pode medir com a


mesma objetividade com que se medem os conhecimentos que se retiveram em um
determinado momento. Não se mede também com objetividade a importância do
valor qualitativo que têm os progressos que os alunos alcançam em seu
desenvolvimento pessoal. A observação sistemática do comportamento e trabalho dos
alunos em diferentes situações da vida escolar é a ferramenta mais apta para a
avaliação desses aspectos.

Vale a pena destacar o caráter preventivo da avaliação. Uma dificuldade para a


aprendizagem diagnosticada e tratada oportunamente costuma ser superada
satisfatoriamente em um prazo de tempo razoável.

Não se deve empregar a avaliação do rendimento acadêmico dos alunos como


uma “arma de poder” para manter a disciplina na sala. Não tem sentido que a conduta
incorreta de um aluno modifique a qualificação que merece por sua aprendizagem.
Isto não quer dizer que os comportamentos negativos não necessitem de correção,
mas que esta se realiza de outras formas.

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11. USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS


A incidência das novas tecnologias, em especial a informática, na sociedade
atual, manifesta a necessidade de que os alunos entrem em contato com os
computadores (tablets, etc.) de um modo adequado, dentro da sistematização de um
programa educativo.

O uso do computador favorece:

 a aprendizagem autônoma;
 a realização de atividades de reforço e aprofundamento;
 a integração entre iguais;
 o trabalho em equipe, com autonomia sobre o professor;
 a autocorreção e a correção compartilhada (ambas facilitam a
descoberta do valor positivo do erro como meio de avançar na
aprendizagem);
 o respeito ao ritmo pessoal de aprendizagem;
 a preparação do aluno para ser usuário crítico.

12. ATITUDE POSITIVA. DESENVOLVIMENTO DA SEGURANÇA E AUTOESTIMA


DOS ALUNOS
O professor deve tratar sempre seus alunos com uma atitude positiva:

a) reconhecer o esforço e os êxitos obtidos;

b) estimular informando o que está bem feito e o que se pode fazer melhor;

c) animar para que construam uma imagem real e positiva de si mesmos e


reforcem os sentimentos de eficácia e segurança.

A autoestima – valor que uma pessoa dá a si mesma – depende, em boa


medida, do conceito que tenham as pessoas que estão ao redor do estudante (pais,
familiares e professores). Quando o aluno se sente estimado, propõe metas mais
realistas, aceita os demais como são, aprende com maior eficiência e aplica sua
criatividade nas novas situações que lhe são apresentadas.

Não se trata de elogiar por elogiar, sem moderação nem motivo. Reconhecer o
positivo de uma pessoa ou de seu trabalho ajuda-a a sentir-se bem com ela mesma e a
motiva a aceitar o esforço que uma aprendizagem requer, já que está segura de suas
capacidades.

O elogio excessivo e sem propósito costuma provocar que a motivação das


ações do aluno deixe de ser interna, para passar a ser por uma recompensa externa,

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em forma de elogio, com o que a satisfação de ser capaz de fazer algo bem feito e de
tê-lo feito passaria para um segundo momento.

13. O RESPEITO AO RITMO PESSOAL DE APRENDIZAGEM


O domínio de um conteúdo de aprendizagem requer tempo, que difere de
acordo com o ritmo pessoal. A aprendizagem tem um caráter progressivo. Convém
prever estratégias metodológicas que tornem possível que o tempo designado para a
aprendizagem seja, na maior medida possível, um tempo ocupado em aprender.

A distribuição do tempo de ensino e aprendizagem de cada período de


avaliação deve contemplar que um aluno possa dedicar, se o necessita, todo seu
tempo de aprendizagem a dominar os objetivos fundamentais programados. Do
mesmo modo, os alunos que conseguem assimilar rapidamente os objetivos
fundamentais necessitam dispor de tempo na sala para alcançar o maior número de
objetivos individuais de que sejam capazes.

O exercício mais amplo possível – abordado a partir do trabalho das diferentes


áreas de aprendizagem –, orientado pelo professor, que aumenta a dificuldade na
medida em que o aluno tenha possibilidades de superar com sucesso as tarefas que
lhe são propostas, é o caminho mais eficaz para o desenvolvimento das habilidades
mentais.

No horário escolar, além dos tempos dedicados tradicionalmente a tal ou qual


matéria, deve haver tempo para brincar e para a vida espontânea e pessoal dos
alunos. É preciso um tempo para pensar, falar e agir sobre temas e atividades situados
fora das matérias do currículo escolar: sobre a vida, o que o diverte ou o que lhes
custa, sobre o que se trabalhou na sala durante um período de tempo, sobre o
andamento das Ações Incidentais e o Plano de Formação; sobre a próxima excursão,
passeio cultural ou festa que se vai realizar.

14. O JOGO COMO UM RECURSO DIDÁTICO


A atividade lúdica é um recurso especialmente adequado nesta etapa
educativa. É necessário romper a aparente oposição entre jogo e trabalho,
considerando este como esforço para aprender e aquele como diversão ociosa. Em
muitas ocasiões as atividades de ensino/aprendizagem terão um caráter lúdico e em
outras exigirá dos alunos um maior grau de esforço, mas, em ambos os casos, deverão
ser motivadoras e gratificantes, condição indispensável para que os estudantes
constituam suas aprendizagens.

Os jogos com regras são um poderoso instrumento para a resolução de


problemas, pois motivam os alunos, desenvolvem a criatividade, o raciocínio lógico,
preparam os estudantes para a construção e para o estudo dos modelos matemáticos
e da aplicação a situações concretas da vida real.

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Os jogos de estratégia favorecem o desenvolvimento das habilidades de


resolução de problemas e constituem um poderoso instrumento metodológico nas
mãos dos professores. Torna possível que os alunos pesquisem novas técnicas na
resolução de problemas, empregando estratégias específicas, tais como entender bem
a regras do jogo (ler bem o problema e identificá-lo), explorar diferentes possibilidades
permitidas pelas regras, planejar e realizar estratégias com um fim previsto, comprovar
os resultados da estratégia empregada. Além disso, proporcionam ocasião de buscar
analogias, regularidades, habituam os alunos a processos de reflexão e de análise da
reflexão dos outros, etc.

Os jogos quebram a rotina dos exercícios mecânicos – demasiadamente


utilizados no ensino – proporcionando maior motivação e estímulo. Colaboram no
desenvolvimento moral das crianças, ao proporcionar ocasiões de conhecer as
próprias habilidades e limitações, de respeitar as regras, aprender a ganhar e a perder,
a reconhecer os sucessos dos companheiros, a trabalhar em equipe, etc.

15. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL


Pretende-se despertar no aluno um interesse pelo meio ambiente que se
traduza numa atuação responsável e coerente com o mesmo. Através de experiências
na sala ou nos laboratórios, de atividades na “Sala da Natureza”, dos passeios de
observação sistemática e das convivências de pesquisa (convivências em um ambiente
natural, quando se trabalha um tema específico, globalizando as diferentes
perspectivas das áreas do currículo), os alunos descobrem os recursos que o próprio
ambiente oferece como lugar de aprendizagem onde observar, experimentar e
pesquisar o meio ambiente e suas relações com o ser humano.

B. SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM

1. Situações de aprendizagem comuns a toda etapa do Ensino Fundamental I

A. Organização da sala de aula em Zonas de trabalho


A organização da sala de aula em zonas de trabalho (ou atividades) consiste em
circunscrever espaços dentro da sala onde os alunos realizarão atividades de
aprendizagem. As atividades programadas para as zonas de trabalho devem ser
atividades de investigação, experimentação e manipulação de objetos, enfatizando
assim a aprendizagem por descoberta e o desenvolvimento de habilidades. As três
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áreas que realizam atividades em zonas de trabalho são Português, Matemática e


Conhecimento do Meio, mas no 1º e 2º anos deve haver também uma zona de Artes.
Outras possíveis zonas de trabalho são Jogos e Computação. As atividades propostas
podem ser individuais ou em grupo. Não se realizam nas zonas de trabalho atividades
de reforço ou ampliação, pois estas podem ser realizadas numa organização
tradicional da sala de aula.

Os objetivos gerais que se pretendem alcançar são: assimilação de novos


conhecimentos por meio de descobertas (experimentação e manipulação de
materiais), desenvolvimento de destrezas e habilidades de pensamento (capacidade
de observação, orientação espaço-temporal, lateralidade, coordenação motora,
destreza manual, capacidade de análise, classificação, cálculo, etc.) e aquisição de bons
hábitos (autonomia, ordem, cooperação, responsabilidade, generosidade).

A organização da sala em zonas de trabalho permite que os alunos trabalhem,


sozinhos ou em grupos, com autonomia. O professor, por sua vez, circula pela sala e
observa os alunos desenvolvendo suas atividades. Isso facilita a atenção pessoal que o
professor pode dar a cada aluno. É aconselhável que seja o PEC quem acompanhe os
alunos nas zonas de trabalho. Portanto, ele deve ser o professor de Português,
Matemática e Conhecimento do Meio da sala.

Distribuição das zonas dentro da sala de aula


Facilitam a distribuição das equipes e do trabalho que na sala existam quatro
zonas de trabalho, sendo três fixas (Português, Matemática e Conhecimento do Meio)
e uma que irá mudando ao longo do ano letivo (Educação Artística, Computação,
Inglês, Jogos, etc.).

O mobiliário se distribui no espaço disponível de forma que as zonas fiquem


demarcadas. Deve-se notar a clara distinção entre as zonas pelos materiais, cartazes e
objetos que apresentam.

Os armários que se utilizam para separar uma zona da outra devem medir no
máximo 1 m de altura. Devem ser planejados para que todos os materiais estejam à
vista e ao alcance dos alunos. Convém posicionar de forma contígua as zonas de
trabalho que inter-relacionam atividades.

Os alunos devem saber utilizar todos os materiais presentes numa zona. Ao


introduzir um material novo na zona é preciso mostrar aos alunos e explicar como se
utiliza. Isso garante a autonomia e iniciativa do trabalho dos alunos.

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Programação das atividades para as zonas de trabalho


A programação das zonas é quinzenal. Também a decoração da zona pode
variar a cada quinzena, acompanhando a mudança de atividades.

A preparação do trabalho em zonas exige muita atenção por parte do


professor. É necessário programar com antecedência as atividades e preparar o
material que poderá ser usado. Logicamente isso não inviabiliza que, com flexibilidade,
o professor inclua temas ocasionais que lhe pareçam pertinentes.

Na programação das atividades deve-se distinguir entre atividade obrigatória e


opcional. A primeira é dita obrigatória porque será realizada por todos os alunos e está
relacionada aos objetivos fundamentais (OF), que devem ser atingidos por todos. A
segunda é dita opcional porque está relacionada aos objetivos individuais (OI) e atende
ao desenvolvimento acadêmico e interesse de cada aluno em particular. O fato de
existirem atividades obrigatórias não significa que devam estar presentes sempre.
Pode acontecer que em uma zona, todas as atividades sejam opcionais, e os alunos
elegerão o que preferirem. O importante é que, ao programar as atividades, o
professor tenha claro quais objetivos pretende atingir.
As zonas funcionam simultaneamente, isso quer dizer que numa mesma aula
cada grupo estará trabalhando em uma zona distinta. Uma experiência positiva é
dedicar duas tardes para o trabalho em zonas. Como o tempo de trabalho em zonas é
um tempo de trabalho da área, não é preciso um acréscimo no horário de aulas.

Em uma semana, as quatro equipes passarão por todas as zonas. Como


habitualmente as aulas são de 50 minutos, é possível planejar as atividades de forma
que permita o rodízio. O tempo de duração de cada atividade pode ser marcado tanto
pelo professor quanto pelo aluno, segundo sua capacidade de realização. Outra
experiência positiva é, no momento de efetuar o rodízio, alternar Português com Artes
e Matemática com Conhecimento do Meio. A ideia seria equilibrar atividades mais
exigentes do ponto de vista cognitivo com atividades mais manipulativas ou lúdicas. Ao
final da quinzena cada grupo terá passado duas vezes por cada zona.

Com flexibilidade, é possível estruturar o rodízio de outra forma. Por exemplo,


que os grupos permaneçam a aula inteira (os 50 minutos) numa mesma zona. Nesse
caso, o rodízio é feito de uma aula para outra, de forma que ao final da quinzena cada
grupo terá passado uma vez por cada zona. Tudo sempre dependerá do objetivo do
professor ao planejar o trabalho das zonas.

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Avaliação do trabalho nas zonas


O controle do trabalho realizado na zona é fácil de ser feito, já que muitas vezes
as atividades ficam registradas no caderno do aluno. Ao propor as atividades, o
professor pode utilizar as propostas do livro didático como também criar atividades
originais.

Convém organizar uma planilha onde se registrem as atividades feitas por cada
aluno e o modo como foram feitas. Outra ação interessante é manter um fichário com
as atividades realizadas de forma a construir um banco de ideias para ser usado e
aperfeiçoado nos anos posteriores.

Nas zonas de trabalho a avaliação é formativa. É interessante perceber se o


aluno vai atingido os objetivos propostos para essa situação de aprendizagem:
assimilação de novos conhecimentos por meio de descobertas, desenvolvimento de
destrezas e habilidades de pensamento e aquisição de bons hábitos.

A biblioteca da zona de trabalho


Ela é complementária à biblioteca da sala de aula (ou do colégio). Deve ser
montada de acordo com o tema trabalhado na quinzena. Ao terminar a unidade
didática quinzenal, os livros são devolvidos à biblioteca da sala (ou do colégio) e
trocados por outros livros relacionados com o novo tema quinzenal. Alguns livros de
consulta geral, relacionados com a área da zona, podem ser fixos na biblioteca, tais
como enciclopédias, dicionários, vida animal, paisagens, etc. A estante de livros deve
ser planejada de maneira que facilite o acesso dos alunos.

Os recursos materiais nas distintas zonas de trabalho


Os materiais necessários para a realização das atividades propostas para a
quinzena devem estar ao alcance dos alunos. Convém que sejam simples, de baixo
custo, fáceis de conseguir ou de elaborar.

Além disso, cada zona contará com materiais básicos para a realização das
atividades: papel, cartolina, cola, massa de modelar, tesoura, lápis de cor, tinta, etc. O
material deve estar ao alcance dos alunos. Um aluno pode ser encarregado de zelar
pela ordem do material e ajudar na distribuição do mesmo durante a atividade.

Na zona de Português, nos anos iniciais, podemos oferecer:

 Livros de leitura
 Fichas de exercícios de escrita ou caligrafia
 Confecção de murais

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 Jogos de palavras cruzadas


 CD de histórias
 Pequeno quadro imantado ou branco (para ditados)
 Jogos de palavras (formar sílabas, palavras, frases, etc.)
 Um banco de poesias, adivinhações e trava-línguas
 Fichas de ortografia
 Obras de teatro (para que os alunos encenem)
 Exemplos de caligrafia
 Exemplos de composição escrita

Na zona de Matemática, podemos oferecer:

 Réguas
 Ábacos
 Potes de materiais como: botões, bolas de gude, etc.
 Dominó de números
 Jogo de damas
 Tangram
 Jogo de três em raia
 Jogos matemáticos
 Jogos de números
 Jogos de compra e venda (manejar dinheiro)
 Fichas ou cadernos de cálculo
 Pequeno quadro branco ou imantado

Na zona de Conhecimento do Meio, podemos oferecer:

 Terrários
 Vasos para plantas
 Pacotinhos de sementes
 Aquários
 Quebra cabeças de paisagens
 Filmes sobre a vida animal ou sobre a natureza
 Fichas de animais e vegetais
 Instrumentos de medição (termômetro de ambiente, barômetro, bússola, etc.)
 Mapas cartográficos

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Na zona de Educação Artística, podemos oferecer:

 Pinceis
 Vários tipos de papeis
 Vários tipos de tintas
 Massa de modelar, plastilina
 Cavalete para pintura
 CD de músicas
 Lã, ráfia, barbante
 Jogos de construção

B. Visitas culturais
A visita cultural é uma situação de aprendizagem para todas as áreas, não
somente para a área de Conhecimento do Meio, como se poderia supor ao princípio. A
propósito de uma visita cultural, os alunos podem efetuar medições, quantificar dados,
classificar, fazer gráficos, descrever, relatar, narrar, assimilar um vocabulário
específico, desenhar, dramatizar, etc. Sempre que seja possível, as visitas culturais
estarão relacionadas com os conteúdos das unidades didáticas trabalhadas. Assim, os
alunos poderão atualizar seus conhecimentos e estarão mais motivados.

Deve-se realizar um mínimo de uma visita cultural por trimestre, se o sistema


de avaliação for trimestral. Se for bimestral, deve-se programar uma saída cultural por
bimestre.

É uma boa experiência guardar os trabalhos realizados pelos alunos (descrições,


desenhos, fotografias) em uma pasta que passa a formar parte da biblioteca da sala de
aula.

Com finalidades similares às saídas de observação, as visitas culturais se


diferenciam destas por ampliar o campo de observação para além das proximidades do
colégio. Costumam ocupar toda uma jornada escolar.

O plano de visitas culturais realiza-se no princípio do ano, procurando que não


se repitam lugares visitados pelo mesmo grupo de alunos em anos anteriores. Lugares
apropriados para receber uma visita cultural são: Corpo de bombeiros, um aeroporto,
uma estação de tratamento de água, museus, sala de concertos, feiras artesanais,
emissoras de TV, estufas, zoológicos, jardim botânico, monumentos históricos,
parques públicos, etc.

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C. Uso da tecnologia
Em um local na sala instalam-se um ou dois computadores com programas
educativos, além de uma impressora. Os alunos trabalharão em grupos de dois ou três
alunos. Os alunos devem ver e utilizar o computador como uma ferramenta a mais no
processo de aprendizagem. É importante que o trabalho seja autônomo, que não
requeira grande atenção por parte do professor, ainda que este deva estar atento e
disponível para os alunos.
Os objetivos do uso do computador na sala de aula são de ajuda ou apoio a:

 Leitura e escrita
 Cálculo
 Conhecimento de cultura, tradições culturais, ambientes naturais, etc.
 Criatividade
 Autoconfiança
 Autoavaliação
 Aprendizagem de outro idioma

O uso do computador em sala de aula favorece:


 A aprendizagem autônoma
 O trabalho em equipe, com autonomia em relação ao adulto
 A autocorreção e a correção recíproca
 O desenvolvimento da motricidade manual, da atenção discriminativa, da
estruturação espacial e do pensamento simbólico estruturado
 O descobrimento significativo da linguagem escrita

2. Situações de aprendizagens específicas anos iniciais do Fundamental I


Os primeiros anos do Projeto Snipe apresentam uma continuidade
metodológica com o Projeto Optimist. A intenção pedagógica é aproveitar o final do
período mais favorável para a correta configuração cerebral. Isso garante também que
a transição do aluno da Educação Infantil para o Ensino Fundamental ocorra de um
modo suave e gradativo.

A. O programa neuromotor: reforço dos padrões básicos de movimento


Como sabemos o padrão motor consiste na combinação de movimentos
organizados, segundo uma disposição espaço-temporal concreta, e constitui a base ou
fundamento de uma habilidade motora. Assim, os padrões de movimento podem

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compreender - desde combinações motoras simples - até sequências corporais muito


estruturadas e complexas.

Os padrões motores básicos, ou fundamentais, são aqueles que correspondem


à motricidade humana natural, sem aprendizagens específicas, uma vez atingidos os
respectivos níveis de amadurecimento orgânico. Contudo, somente através da prática
e do treinamento serão adequadamente desenvolvidos e se tornarão eficazes.

Os padrões básicos da motricidade humana têm seu momento privilegiado de


desenvolvimento justamente até os 7 ou 8 anos. A organização dos movimentos
integrados a esses padrões, assim como a estimulação sensorial que os acompanha,
são elementos imprescindíveis para o processo de organização funcional neurológica,
de forma que o desenvolvimento motor encontra-se na base do desenvolvimento
intelectual das crianças.

Os padrões básicos de movimento reforçados nos primeiros anos do Ensino


Fundamental são: engatinhar, caminhar (padrão cruzado), marchar, correr, dar
cambalhotas, rolar, braquiação, saltar, pendurar-se, balançar-se, girar, lançar, bater a
bola, receber, equilibrar-se.

Organização e estrutura dos circuitos neuromotor


Os movimentos descritos se realizam integrados a um circuito neuromotor. É
interessante integrar os diferentes exercícios em um circuito porque se tornam mais
atraentes para o aluno e facilitam o trabalho do professor.

Os circuitos serão compostos de três ou quatro estações. Em cada estação se


exercita um padrão de movimento. Os alunos ficarão distribuídos em tantos grupos,
quantas forem as estações planejadas. Os alunos passarão por todas as estações. A
experiência recomenda que o professor dedique mais atenção a uma estação por dia,
para que possa corrigir os movimentos que não se ajustam ao padrão.

Os diferentes exercícios serão realizados de maneira gradual. Os exercícios


serão mais difíceis para algumas crianças do que para outras. As dificuldades devem
ser planejadas, ou detectadas, de maneira a evitar situações de incapacidade. É de
grande eficácia educativa manifestar aprovação sincera, mediante um sorriso, palavras
de felicitação, etc.

Os exercícios propostos devem ser encarados pelos alunos e pelo professor


com uma atitude lúdica e positiva, portanto, sem reprovações. Se um aluno não
executa corretamente um exercício, o professor indicará a ele o que não foi bem feito,

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animando-o e mostrando-lhe o exercício bem feito por outro colega ou orientando


seus movimentos.

Durante toda a Educação Infantil, os alunos exploraram o ambiente de maneira


natural, global e espontânea. Paulatinamente, através dos circuitos neuromotor, foram
ajudados na elaboração dos padrões motores elementares. A partir de agora, no
entanto, se buscará uma progressiva consciência das ações motoras segmentárias e
uma coordenação global dos padrões mais eficaz. Além disso, se buscará uma melhor
utilização funcional dos padrões, através da progressiva exigência de sua adequação
espaço-temporal.

Continua sendo importante dirigir a atenção dos alunos para os aspectos


perceptivos do movimento. É fundamental desenvolver a capacidade de percepção
própria e do ambiente, num contexto dinâmico, utilizando para isso os padrões
motores básicos. Isso acontece nos exercícios propostos, nas tarefas jogadas e nos
jogos de baixa organização.

O jogo e as tarefas jogadas facilitam a exploração e experimentação dos


movimentos; permitem ao aluno descobrir novas possibilidades, selecionar
movimentos eficazes e melhorar o desempenho pessoal.

O programa neuromotor, nos primeiros anos no Ensino Fundamental I, está


integrado à área de Educação Física. O circuito neuromotor é realizado três dias na
semana, durante 30 minutos. Nos outros dois dias ocorre a aula de Educação Física,
que inclui também o trabalho com os padrões motores.

Descrição da execução dos distintos padrões que são reforçados nos anos iniciais do
Projeto Snipe, com indicação do grau de dificuldade básico

Engatinhar: o movimento deve ser em esquema cruzado, desenvolto e rítmico:


- quando a mão direita se move para frente, a perna esquerda também se move para
frente. Quando isto ocorre, o olhar se dirige para a mão que se moveu para frente.
- o engatinhar em esquema cruzado continua com a fase oposta, quando a mão
esquerda e a perna direita se movem para frente, o olhar (e não a cabeça) se dirige
para a mão que se moveu para frente.
- a palma da mão deve estar plana e voltada para baixo e com os dedos voltados para
frente.
Para ter êxito devem ser cumpridos os seguintes requisitos:

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1. Avançar em esquema cruzado preciso.


2. Avançar com os joelhos separados à distância de um palmo da mão da criança.
3. Avançar com ritmo desenvolto.
4. Avançar com os dedos estendidos para frente.
5. Avançar, arrastando a parte de cima dos pés no chão.
6. Avançar, movendo perna direita e mão esquerda e vice-versa.
7. Avançar, dirigindo o olhar para a mão que está à frente.

Para que o movimento incida no crescimento e na configuração neuronal, deve


ser exercitado durante mais de 7 minutos seguidos a cada vez.
Sugere-se: engatinhar em qualquer direção e sentido e a qualquer velocidade.
Engatinhar junto a um colega ou em perseguição ou em competição.

Caminhar (em padrão cruzado): a marcha se realiza, apoiando o pé, do


calcanhar até os dedos. As mãos balançam de modo sincronizado e alternado com as
pernas. O padrão é cruzado. Para forçar esse padrão é interessante que o dedo
indicador da mão direita aponte, com certa ênfase, para a ponta do pé esquerdo,
dirigindo também o olhar e alternando o movimento direita/esquerda. A precisão e a
coordenação são mais importantes que a velocidade – melhor será realizar o
movimento devagar. O deslocamento deve ser feito, seguindo uma linha, por cima de
uma passarela ou banco sueco.
Sugere-se: caminhar com perfeição em qualquer velocidade e tamanho de
passo; coordenar a marcha seguindo linhas de formas geométricas; caminhar seguindo
o ritmo musical mudando de direção e sentido.

Marchar: na marcha, a mão direita bate suavemente o joelho esquerdo,


quando este está levantado, e do mesmo modo, a mão esquerda bate no joelho
direito.
Sugere-se: realizar o padrão correndo.

Correr: a perna que impulsiona se estende rápida e completamente, para


realizar bem sua ação. Para aumentar o comprimento do passo da corrida, o joelho da
perna que não está apoiada no chão deve estar mais elevado. Os braços balançam
próximos das costelas e estão flexionados no cotovelo em ângulo reto, opondo-se às
pernas. O padrão é cruzado. O movimento deve ser realizado com ritmo, sem
precipitações, dominando o corpo, evitando as tensões.
Sugere-se: controlar a partida, a parada e a mudança de direção da corrida;
ajustar a velocidade da corrida ao deslocamento de objetos (bolas, por exemplo) ou de
outros colegas.

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Dar cambalhotas: executa-se apoiando as palmas das mãos no chão (para o


impulso), apoiando a cabeça e deslizando sobre as costas, completamente encurvada,
desde a nuca até o quadril. As pernas vão juntas e bem flexionadas. Os calcanhares se
apoiam nos glúteos, para facilitar a posição final em pé. Pode ser praticada para frente
e para trás.
Sugere-se: realizar corretamente o padrão em uma superfície horizontal e
terminar de pé.

Rolar: deitado no chão, corpo esticado e braços ao longo do corpo, formando


um todo que rola de lado, procurando não se desviar.
Sugere-se: rolar com rapidez e com uma correta posição corporal em
superfícies horizontais ou descendentes; alterar o sentido do rolamento sem alterar a
posição corporal.

Braquiação: consiste em se pendurar em uma escada horizontal, procurando


passar, uma a uma, por todas as barras e voltar ao ponto de partida.
Sugere-se: percorrer a escada inteira; efetuar giros pela mudança da posição
das mãos, sem deslocamento.

Saltar: consiste em um desprendimento do chão, como consequência da


extensão rápida de uma ou ambas as pernas, deixando o corpo suspenso
momentaneamente no ar. O padrão consta de quatro etapas:
1. A posição prévia de agachamento, na qual os braços devem ficar estendidos
por trás do tronco.
2. O desprendimento da superfície de apoio, que se produz pela extensão das
pernas e pés, junto com o movimento simultâneo dos braços, para frente e
para cima.
3. A fase do voo, na qual ocorre o que se pretende com o salto: deslocamento do
corpo em qualquer direção, lançar ou agarrar um objeto, manter um esquema
rítmico etc.
4. A fase da queda, na qual se devem buscar boas condições de equilíbrio.
Sugere-se: aperfeiçoar o padrão de saltos com pés juntos; saltar com os pés
juntos distâncias superiores à própria estatura; saltar com os pés juntos em todas as
direções; deslocar-se saltando com uma única perna.

Pendurar-se: manter-se com o corpo suspenso (sem contato com o chão). Essa
suspensão se realiza por meio das mãos, das pernas, ou de ambas, que se agarram a
algum tipo de suporte.
Sugere-se: elevar ambas as pernas, estendidas, para frente; resistir, sem soltar-
se, quando um colega puxa pelos pés.
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Balançar-se: deslocar o corpo de forma pendular, enquanto se está suspenso


em algum lugar. O balanço pode ser para frente, para trás, ou lateral, e se produz,
normalmente, com o auxílio do movimento simultâneo das duas pernas, ou se
intensifica através dele.
Sugere-se: balançar-se, sem o auxílio de ninguém, em todas as direções (para
frente, para trás e lateralmente), aumentado a amplitude do movimento.

Girar: é o movimento mediante o qual o corpo muda de orientação, por meio


de uma rotação em torno de um eixo longitudinal. O giro pode adotar diferentes
formas:
1. Giro sobre a parte anterior de um pé. Ocorre mediante a rotação rápida da
cabeça na direção do giro, acompanhada pelo movimento dos braços.
2. Giro no ar. A mecânica de execução é praticamente a mesma, porém, se realiza
durante a fase de voo num salto.
3. Giro sobre a ponta de um pé e o calcanhar do outro pé. Utiliza-se para mudar a
direção ou sentido, durante a marcha, ou corrida.

Sugere-se: girar sobre a ponta de um e outro pé, controlando a posição e o


equilíbrio.

Lançar: consiste em lançar um objeto no espaço, para que siga uma trajetória
determinada. As formas mais comuns de lançamento são as que se realizam com a
mão, ou com o pé.
1. Lançamento com uma mão por cima do ombro. É a forma mais natural de
lançar. Na fase preparatória, o corpo está voltado para o lado do braço que
lança, a perna contrária está à frente e o braço que lança está deslocado para
trás e dobrado pelo cotovelo, quase em ângulo reto. O lançamento se produz
mediante uma distorção do tronco, seguida do deslocamento horizontal do
cotovelo para frente e da extensão do mesmo, dando um passo com o pé
correspondente para frente, para equilibrar-se.
2. Lançamento com o pé. O padrão se inicia com um movimento para trás com a
perna que executa o chute, com o joelho flexionado. Na ação do lançamento, a
perna que chuta se desloca para frente e a perna de apoio se flexiona
ligeiramente. O braço oposto à perna que chuta se opõe a esta, para equilibrar
a posição do corpo.

Sugere-se: realizar corretamente o padrão de lançamento por cima do ombro,


estando parado; realizar corretamente o lançamento com o pé, estando parado;
realizar lançamentos com alvos, com ambas as mãos.

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Bater a bola: consiste em impulsionar sucessivamente uma bola contra o chão.


Quando se quica a bola próximo ao corpo, o impulso se realiza mediante um
movimento de flexão-extensão do cotovelo, mantendo a mão imóvel. Para quicar a
bola longe do corpo, durante uma corrida, o impulso se realiza com o movimento da
mão (da munheca).
Sugere-se: quicar e segurar a bola em distintas posições (em pé, ajoelhado,
sentado, etc.); quicar várias vezes seguidas com uma única mão.

Receber: trata-se de segurar (normalmente com as mãos) um objeto


arremessado. Ao receber o objeto, os olhos devem permanecer abertos e seguir a
trajetória do mesmo. Os braços se colocam arqueados à frente do corpo. As mãos
ficam com as palmas meio de frente, uma para a outra. Os dedos polegares próximos e
os demais para cima. As duas mãos entram em contato ao mesmo tempo com o
objeto, para agarrá-lo e absorvem o seu impacto com um movimento de flexão dos
cotovelos, aproximando o objeto do corpo.
Sugere-se: receber com previsão bolas arremessadas; receber com as mãos
bolas que rebotam.

Equilibrar-se: o equilíbrio é a capacidade de manter o corpo em uma posição


estática ou dinâmica, contra a força da gravidade. É um componente básico do
movimento e constitui uma condição de toda ação motora eficiente. Esta habilidade
fundamental deve ser desenvolvida juntamente com cada um dos padrões básicos, à
medida que cada um deles o exija, nas suas distintas circunstâncias e formas de
execução.
Sugere-se: deslocar-se com soltura sobre bancos suecos invertidos; adotar
distintas posições e efetuar vários movimentos apoiando-se sobre um único pé em
cima de um banco sueco invertido; controlar o equilíbrio na realização dos padrões
motores aprendidos.

B. Audições musicais
O desenvolvimento da capacidade intelectual está associado ao
desenvolvimento sensorial. Quanto mais exercitamos os diferentes sentidos, mais
favorecemos o desenvolvimento global da inteligência e a capacidade para o
aprendizado. Além das atividades de expressão musical incluídas na área de Educação
Artística, programam-se para cada ano, as audições musicais.

As audições musicais:
 Desenvolvem o sentido auditivo;
 Facilitam a aprendizagem de outros idiomas;

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 Favorecem a capacidade de ouvir e a discriminação auditiva;


 Cultivam a sensibilidade estética do aluno e o gosto pela música;
 Criam um ambiente adequado para a interpretação musical, a expressão
pessoal e a criatividade.

A audição musical é uma atividade diária, de 3 a 6 minutos de duração, que


deve acontecer num ambiente de alegria e atenção. A mesma peça musical é usada
durante uma quinzena.

Antes de cada audição, o professor dirá a época de composição, o autor da


peça, o nome da peça e o movimento e o ritmo. Por exemplo: vamos ouvir uma obra
da época Barroca. O compositor chama-se Antonio Vivaldi. A peça chama-se As Quatro
Estações: Primeiro concerto: A primavera. 1º Movimento – Allegro.

O professor transmitirá essas informações aos alunos imediatamente antes de


começar a audição. Enquanto os alunos se acomodam para a audição e o professor
prepara o cd, é interessante comentar outras informações complementares, como
dados biográficos sobre o autor, noções culturais, dados históricos referentes ao
período de composição da obra, etc. Pode ser interessante utilizar bits dos retratos dos
compositores, dos instrumentos musicais, etc. Estas novas informações ou brevíssimas
explicações podem contribuir para uma participação ativa do aluno.
Não se deve impedir que os alunos comentem informações sobre a audição
que tenham aprendido nos dias anteriores. O que sim deve ser evitado é provocar
situações de exame sobre a audição. Não se fazem avaliações diretas e imediatas
sobre as audições. O professor apenas observa a atitude dos alunos.

Os alunos podem acompanhar a música realizando algum movimento, mas em


silêncio, sentados nos seus lugares. Não se devem programar as audições em
momentos de relaxamento, por exemplo, após as refeições. É interessante garantir um
bom nível de atenção para que esta situação de aprendizagem dê resultado.

Nas reuniões periódicas do corpo docente, os professores devem avaliar e


programar as audições musicais evitando qualquer tipo de improvisação. É
aconselhável que cada equipe docente disponha do material suficiente: CD, bits, fichas
com informações adicionais. Em alguma ocasião, pode-se alternar a audição pela
projeção de um vídeo ou de um concerto.

Organização e estrutura das audições musicais


É interessante que, ao longo dos primeiros anos do fundamental, as audições
musicais abarquem os distintos momentos da história da música e das diferentes

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formações musicais que se dão em cada época, de modo que os alunos possam captar
o mais característico de cada uma delas e percebam suas diferenças. Com exemplos
auditivos, pode-se conhecer a evolução da orquestra, nas variadas fases musicais e
pode-se, ainda, ensinar o aluno a distinguir os instrumentos musicais pelo som.

São especialmente indicados os concertos e as sonatas. Cabe ao professor


explicar aos alunos as características dessas duas formações musicais. As aberturas
servem para explicar aos alunos o que é uma ópera. Mais adiante, os alunos podem
escutar uma pequena ária. Tem grande valor educativo a música sacra. Podem ser
programadas audições de oratórios, réquiem e paixões. Esse tipo de música é ideal
para que os alunos conheçam o que é um coro e as distintas vozes que o compõem.

As três épocas musicais mais importantes são: a barroca, a clássica e a


romântica. De cada uma delas convém programar audições de distintas formações,
como orquestra, música de câmara, concertos, sonatas para diferentes instrumentos,
aberturas, árias, música sacra. Também é preciso mencionar a época moderna, ainda
que a maioria das obras dessa fase não é indicada para as audições nessa faixa etária.

Listagem dos principais compositores e peças mais indicadas para o trabalho nas
séries iniciais

A época barroca
A maioria da música barroca é ideal para as audições musicais. Suas formas são
simples e bonitas. Os compositores barrocos compuseram um amplo repertório para
distintas formações musicais: concertos, sonatas, música de câmara, cantatas,
oratórios, concerto grosso (concerti grossi). Os compositores selecionados da época
barroca e suas obras são:
Compositor Obra

A. Vivaldi (1676-1714) As quatro estações. A Primavera. 1º movimento

J. S. Bach (1658-1750) Concerto para violino e orquestra. 2º movimento

G. F. Handel (1685-1759) Música aquática n. 10. Allegro

G.P. Telemann (1681-1767) Concerto para flauta doce. 1º movimento

G. F. Handel (1685-1759) Concerto para Harpa. 1º movimento Andante-allegro

J. S. Bach (1658-1750) Oratório de Natal. 1º dia. n. 1

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A. Vivaldi (1676-1714) Gloria. Primeira parte: gloria

G. Torelli (1658-1709) Concerto para trompete. 3º movimento. Allegro

G. B. Pergolessi (1710-1736) Concerto. Harmônico n.1. 2º movimento. Allegro

A. Corelli (1653-1713) Concerto Grosso n. 1. 4º movimento. Allegro

D. Scarlatti (1685-1757) Sonata para piano

G. P. Telemann (1681-1767) Concerto. Polaco. 1º movimento. 2ª parte. Allegro

A época clássica
Também nessa época encontramos muitos fragmentos que servem para as
audições musicais. Os compositores clássicos descobrem a sinfonia. Continua a
produção de sonatas, música de câmara, concertos e música sacra. Os compositores
sugeridos são:
Compositor Obra

L. Boccherini (1743-1805) Música noturna de Madri. Pasacalle. Allegro

H. Haydn (1723-1809) Sinfonia 100 “ A militar”. 4º movimento. Allegro

C. W. Gluck (1714-1787) Orfeu e Eurídice. Dança das fúrias

L. Mozart (1719-1787) Sinfonia dos brinquedos n. 4. Minueto

W. A. Mozart (1756-1791) Pequena serenata noturna n. 4. Rondo Allegro

W. A. Mozart (1756-1791) Sinfonia 40. 1º movimento. Molto allegro

L. V. Beethoven (1770-1827) Sinfonia 5. 1º movimento. Allegro con brio

L. V. Beethoven (1770-1827) Sinfonia 6. 4º movimento. Allegro “A tempestade”

A época romântica
Existe uma clara diferença entre a primeira e a segunda fase do romantismo. A
maioria das obras da primeira fase é adequada para a audição musical infantil. Já as da
segunda fase são mais difíceis de entender e não convém que sejam trabalhadas nessa
faixa etária. Destacam-se as obras para orquestras, para a música de câmara,
concertos e aberturas. Os compositores sugeridos são:

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Compositor Obra

F. Mendelsohn (1809-1847) Sinfonia 4 “italiana”. 1º movimento. Allegro

F. Chopin (1810-1849) Valsa em ré bemol

F. Schubert (1797- 1828) Quinteto em lá maior. “A truta”. 4º movimento

P. Tchaikovsky (1840-1893) Quebra-nozes. Marcha dos soldadinhos de


chumbo

A. Dvorak (1814-1904) Sinfonia 9 “o novo mundo”. 1º movimento

E. Grieg (1843-1907) Suíte “Peer Gynt”

J. Brahms (1833-1897) Concerto para violino. 4º movimento. Allegro


giocoso

G. Bizet (1839-1875) “Carmem”. Prelúdio

C. Saint-Saëns (1835-1921) Carnaval dos animais n. 7. Aquarium

R. Wagner (1813-1883) A valquíria. Cavalgada das valquírias

M. Mussorgsky (1839-1881) Uma noite no monte Calvo

Rimsky-Korsakov (1844-1908) Capricho espanhol

A época moderna
Os compositores sugeridos são:
Compositor Obra

I. Stravinsky (1892-1917) O pássaro de fogo

X. Benguerel (1931- ) Música reservada

E. Granados (1867- 1916) Goyescas. Intermezzo

M. de Falla (1876-1946) O amor bruxo. Dança do fim do dia

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Sugestão de fichas de apoio para as audições musicais. Essas fichas podem ser
guardadas num fichário na sala de aula. Podem também ser fichas organizadas no
computador, de forma que vários professores tenham acesso. Tudo dependerá de
como a equipe pedagógica queira se organizar.

Época: Romântica

Compositor: Piotr Ilich Tchaikovsky (1840-1893)

Audição: Suíte do Balé Quebra-nozes. Marcha dos soldadinhos de chumbo

Versão:________

CD:_______ Faixa:_______ Duração: 2’25’’

Temos o bit do compositor: sim ( ) não ( )

Informação Adicional

A - Biografia
Tchaikovsky nasceu em Votkinsk, na Rússia no ano de 1840.
Tchaikovsky começou a estudar piano aos cinco anos de idade. Logo se mostrou
como um precoce talento para a música. Seus pais, no entanto, queriam que o filho
fosse advogado. Tchaikovsky cursou a carreira de Direito, mas não chegou a terminá-
la. Dedicou-se inteiramente à música. Foi professor de Teoria musical no Conservatório
de Moscou e escreveu sinfonias, concertos, óperas e balés.
Suas obras mais conhecidas são: O lago dos cisnes, A bela adormecida, O
Quebra nozes, Abertura Romeu e Julieta, Abertura 1812.

B – Musical
Balé: composição musical em que os bailarinos expressam pensamentos e
sentimentos através da dança.
Na audição ouvimos uma autêntica marcha militar. Os soldados estão alinhados
e começa o desfile.
É fácil ouvir os soldados desfilando ao ritmo do tema principal, que vai se
repetindo muitas vezes, ao som dos instrumentos de sopro, acompanhados por
violinos que parecem vir atrás empurrando o desfile.

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C. Passeios de aprendizagem
Passear aprendendo e aprender passeando, poderia ser uma descrição
resumida desta situação de aprendizagem, que consiste em realizar um breve passeio
diário pelo colégio, exteriores, jardins etc. Tal atividade oferece várias oportunidades
de aprendizagem para os alunos e a possibilidade de melhorar o grau de empatia entre
o professor e os alunos. Com os passeios rompe-se a barreira das paredes da sala de
aula para sair à natureza e aprender diretamente dela, em um clima de alegria e
tranquilidade. A aprendizagem por meio do passeio pode ser dividida em três
momentos:
a) Em primeiro lugar, indicar o motivo do passeio (vamos dar um passeio para...).
Ao preparar a turma para o passeio, é importante recordar as normas básicas
de comportamento a serem respeitadas, ressaltando alguns aspectos como:
ficar perto do professor, percorrer o caminho sem gritar, não incomodar as
outras salas de aula durante o percurso. Nos primeiros meses é importante que
os alunos adquiram esses hábitos de ordem e atenção, que permitirão obter
maior rendimento dessa estratégia de aprendizagem.
b) Em segundo lugar, a realização do passeio, que permite observar a
espontaneidade dos alunos e incentivar atitudes positivas perante novas
aprendizagens.
c) Em terceiro lugar, ao retornar à sala de aula, os alunos podem realizar durante
alguns dias diversas atividades relacionadas com o passeio.

O passeio é realizado diariamente, com hora fixa para o início, sempre a


mesma, e com duração de, no máximo, 15 minutos. O mesmo passeio é realizado
durante 2 semanas. Na primeira semana, o professor irá nomeando os objetos. Na
segunda semana, o professor ampliará a informação. Desse modo conseguimos que os
alunos desenvolvam a curiosidade intelectual, a capacidade de observação e análise,
ao mesmo tempo em que enriquecem notavelmente o vocabulário.

Em cada passeio, além dos nomes dos objetos, transmite-se também algum
conceito básico (por exemplo, é diferente de..., está acima..., junto a...). Para cada
passeio, trabalham-se no máximo três conceitos básicos diferentes.

O percurso do passeio deve ser programado com antecedência e as paradas


previstas estarão relacionadas com o vocabulário que se quer transmitir aos alunos. É
importante que todos os alunos consigam ouvir o que o professor fala e visualizar o
objeto indicado. Para isso, é conveniente que os alunos se organizem em volta do
professor e - que este - fale alto e claro.

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Em cada parada, o professor indica o objeto e seu respectivo nome. Os nomes


dos objetos devem ser precisos – não servem as generalizações (como árvore, por
exemplo) – é necessário especificar (araucária, mangueira, jacarandá etc.). Os passeios
incluirão de 10 a 15 nomes de objetos. Na segunda semana, esses nomes podem ser
ampliados com características que permitam descrever, adequadamente, o objeto. A
informação será transmitida, empregando-se sempre os mesmos termos. O
vocabulário é determinado de acordo com o progresso de cada turma.

Durante o passeio, não se fazem perguntas aos alunos sobre o vocabulário


aprendido, mas não há inconveniente em que os alunos, espontaneamente, nomeiem
os objetos observados. Em princípio, estão previstas quatro paradas durante o passeio.
No entanto, esse número pode ser flexibilizado segundo as circunstâncias (espaço
físico do colégio, número de alunos, etc.). Como mínimo, devem ser realizadas sempre
duas paradas durante o passeio.

Cada professor deve preparar uma programação anual de passeios,


estabelecendo os percursos, o vocabulário e os conceitos básicos que serão
transmitidos. Os percursos dos passeios variam de acordo com a faixa etária dos
alunos.
Para um melhor aproveitamento da atividade, quando as turmas ultrapassam o
número de 30 alunos, é conveniente dividir em dois grupos. Enquanto um grupo
realiza o passeio, o outro fará uma atividade em sala de aula.

Também constitui uma boa experiência realizar, em alguns dias, além do


passeio programado, um passeio em inglês. Nesse caso se construirá um percurso e
vocabulário próprios.

Outra experiência que costuma trazer bons resultados é programar


mensalmente um passeio mais longo pelo colégio. Neste passeio se repassa o
vocabulário de forma geral e se realiza alguma atividade, como observar coisas novas,
etc.

Lista de possíveis conceitos básicos que podem ser trabalhados num passeio

Acima Metade

Abaixo Centro

Através Tantas

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Longe Lado

Perto Começando

Junto a Outro

Dentro Semelhante

Fora Nem primeiro, nem último

No meio de Nunca

Dentre Debaixo

Algumas, mas poucas Sempre

Poucas Faz par com

Muitas Tamanho mediano

Ao redor de Direita

Em cima Esquerda

Embaixo Frente

Sobre Atrás

Mais Adiante

Menos Aberto

Entre Fechado

Inteiro Cada

Mais perto Separadas

Mais longe Unidas

Vários Igual

Esquina Em ordem

Detrás Terceiro

Fila Isolado

Diferente Em conjunto

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Depois Alto

Quase Baixo

Apresentamos dois exemplos de programação de um passeio de aprendizagem.


As palavras em destaque (amarelo) são aquelas que serão acrescentadas na segunda
semana. Nesse caso, começa-se com menos vocabulário e totalizam-se 10 palavras no
final da segunda semana:

Programação A Programação B

10 objetos 10 objetos

3 conceitos básicos 3 conceitos básicos

Parada 1 Parada 1

lugar: sala da diretora lugar: secretaria

vocabulário: mesa de madeira vocabulário: balcão de atendimento


é de fórmica
conceito: em frente da janela
conceito: mais alto que a mesa
vocabulário: telefone é de plástico
vocabulário: máquina de xerox
conceito: está em cima da mesa

Parada 2 Parada 2
lugar: sala da diretora lugar: recepção

vocabulário: armário tem duas vocabulário: tem duas poltronas e


portas são de tecido.
conceito: em frente da mesa vocabulário: mesa lateral

conceito: ao lado do sofá

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Parada 3 Parada 3

lugar: sala da diretora lugar: jardim

vocabulário: janela é de ferro vocabulário: tem grama e um


caminho de pedras

Parada 4
Parada 4
lugar: sala da diretora
lugar: portão de entrada
vocabulário: piso de cerâmica da
cor cinza vocabulário: é de ferro da cor branca

conceito: é liso conceito: este é mais baixo que o


muro

D. Os bits de inteligência
Os bits de inteligência são unidades de informação apresentadas aos alunos na
forma adequada ao seu momento evolutivo. O objetivo dessa técnica é aumentar a
capacidade de reter informação e estruturar a base para a aquisição de conhecimentos
sólidos. Os bits estimulam a inteligência, aumentam o vocabulário, melhoram a
capacidade de atenção e desenvolvem a memória. Os bits de inteligência devem
reunir as seguintes características:
1. Apresentar um único conteúdo: cada bit deve conter apenas um elemento.
Nada serviria, por exemplo, um bit no qual aparecem vários animais, quando a
intenção é mostrar apenas um.
2. Ter uma boa definição de imagem: o objeto deve ser identificado com clareza e
sem equívoco, quer seja um desenho ou uma fotografia.
3. Conter uma informação correta: a informação que acompanha cada bit deve
ser a mais exata possível, de interpretação unívoca. Por exemplo, um
chimpanzé será apresentado como CHIMPANZÉ e não como um macaco.

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4. Ser novo, claro e grande: deve conter uma informação nova para o aluno, sem
outros elementos que distraiam a atenção e no tamanho adequado para que se
veja sem dificuldade.

Cada coleção de bits contém 10 unidades (fichas). O tema de cada coleção é


definido pela equipe docente, considerando as informações culturais que se queiram
trabalhar com os alunos. As coleções podem ser confeccionadas pelos próprios
professores ou compradas prontas.

Material necessário para a confecção de bits de inteligência:

 Ficha de cartolina branca, com boa gramatura, de 30x30 cm.


 Fotografias ou desenhos com imagens bem definidas e grandes. As imagens
devem ocupar pelo menos a metade da cartolina.
 Caneta hidrocor ponta grossa.
 Cola.
 Papel contact (outra possibilidade é plastificar os bits).

As imagens escolhidas são coladas na cartolina. É importante observar se há


suficiente contraste entre a imagem e o fundo branco, para facilitar a visualização dos
alunos. No verso da cartolina escrevem-se a identificação da imagem e as informações
adicionais que se queira transmitir.

Modo de passar os bits de inteligência


A passagem dos bits sempre se faz num clima sereno. Os alunos devem estar
em silêncio e atentos ao professor. A coleção que está sendo trabalhada é apresentada
diariamente, duas vezes ao dia (manhã e tarde). Cada apresentação dura no máximo 2
minutos. A mesma coleção é trabalhada durante uma quinzena. Na segunda semana,
quando os alunos normalmente já conhecem bem a coleção, pode-se mudar
diariamente a ordem de apresentação dos bits.

Ao iniciar a passagem dos bits, o professor sempre anuncia o tema da coleção.


Em seguida, começa a apresentar os bits, um por vez, de forma rápida, ao mesmo
tempo em que transmite com clareza uma das informações que se encontra no verso
da cartolina. Nos primeiros três dias da primeira semana, transmite-se aos alunos
apenas uma informação de cada bit. Nos dois dias restantes, acrescenta-se mais uma
ou duas informações. Na segunda semana, podem-se acrescentar mais informações na
medida em que se perceba que os alunos vão assimilando.

Sempre que possível, convém que em cada sala de aula estejam arquivadas
todas as coleções de bits que serão trabalhadas durante o ano. É uma boa experiência
utilizar as coleções já trabalhadas em atividades nas zonas de trabalho.

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E. Atividades de linguagem: poesias, trava-línguas, adivinhações e canções


Procura-se, por meio dessas atividades, variadas e frequentes, que os alunos
adquiram uma articulação mais clara e desenvolvam a memória e a compreensão
verbal.

Poesias: sugere-se iniciar o dia recitando os versos de um poema e propondo


sua memorização ao longo do dia. O professor deve saber de memória o poema ou os
versos escolhidos. Deve recitar com o ritmo e modulação adequados. Repete-se o
poema duas ou três vezes, sem explicações. Em seguida, o professor incentiva os
alunos a que repitam as palavras ou trechos de que tenham gostado mais. Pouco a
pouco, o professor ajuda a que todos, juntos, recordem o poema e o digam em voz
alta. Por fim, o professor ajudará os alunos a descobrir o significado do poema. Pode
haver outro momento, no final da manhã ou à tarde, quando se retoma essa atividade.
É essencial evitar o cansaço e manter o interesse em aprender. A escolha do poema
admite flexibilidade. Se forem poemas curtos, podem ser quinzenais. Se o poema for
mais longo, o professor pode dividi-lo em duas etapas: na primeira semana, os alunos
memorizam a primeira parte e na segunda semana, o restante.

Os trava-línguas exercitam a musculatura buco-facial, ocasionando um melhor


domínio da articulação. Isso repercute numa expressão oral mais rítmica, clara e
rápida. Trabalha-se, ao menos, um trava-língua por quinzena. Primeiro, o professor o
apresenta. Em seguida, os alunos aprendem frase por frase, para mais tarde uni-las.
Começarão por dizê-lo devagar para depois dizê-lo com rapidez, ritmo e clareza.

As adivinhações agradam muito aos alunos. É uma estratégia para desenvolver


a compreensão e estabelecer relações entre conceitos. Para que isso seja assim, evita-
se uma simples memorização e trabalha-se o porquê da relação. Apresenta-se uma
adivinhação por semana. Contudo, nada impede que o professor trabalhe mais do que
uma, ou mesmo, volte a trabalhar adivinhações já conhecidas pelos alunos.

Canções: cantar é um momento de prazer. Além disso, aprender a cantar é


aprender a controlar a respiração. O melhor momento para cantar é pela manhã, pois
reaviva a atividade mental e facilita o despertar da respiração, que normalmente é
atenuado durante as horas de sono. A música também tem um componente relaxante.
Os alunos cantam de pé, de frente para o professor, que dirige o canto. Antes de
começar a cantar, os alunos devem realizar alguns exercícios vocais como
aquecimento. Só então cantarão a música que estão aprendendo. Os alunos repetem a
canção tanto em coro como individualmente. É uma experiência positiva que os pais
saibam quais são as canções trabalhadas no colégio, para que possam cantar com os
filhos em casa.

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3. Situações de aprendizagens específicas dos anos subsequentes do Fundamental I

A. Os Bits de Aprendizagem e os Campos Semânticos ou Famílias


Os Bits de Aprendizagem
Os Bits também são um meio para a aprendizagem nas diferentes áreas, em
concreto, para transmitir conhecimentos pontuais. Nestes dois últimos ciclos
pretende-se transmitir conhecimentos concretos e organizados aos alunos, com uma
técnica diferente da exposição oral ou das quais estejam familiarizados. Trata-se de um
apoio à assimilação dos conhecimentos previstos para cada matéria.

O professor de cada matéria planeja e "passa" os bits em sua própria aula. Cada
coleção é independente e pode constar de mais ou menos elementos, ainda que não
convém que contenham mais de 8 ou 10. No caso das classes em que entrem vários
professores, é necessário que exista uma certa coordenação, para que todos não
passem sua coleção de bits ao mesmo tempo.

Como por exemplo, para Linguagem pode-se confeccionar bits com letras,
palavras ou frases que vão sendo assimiladas através do processo leitor. Podem ser
muito úteis para palavras com dificuldades ortográficas. Também podem ser utilizados
na Matemática para a aprendizagem das tabuadas de soma, subtração e multiplicação,
como reforço do cálculo mental, com as formas geométricas etc. Para o Conhecimento
de Mundo pode-se elaborar bits de notas musicais, pinturas famosas, músicos e
artistas, para serem utilizados na área de Educação Artística.

Os Campos semânticos ou Famílias


As coleções de Bits de Aprendizagem, que tenham maior interesse para a
aprendizagem de alguma área, podem ser trabalhadas com maior profundidade
através da técnica dos Campos Semânticos ou Famílias.
Trata-se simplesmente de apresentar todos os bits em um painel ou grande mural, que
fique exposto na sala ou em alguma área durante outro período, com um título
genérico (mamíferos domésticos, por exemplo). O professor nomeia uma vez ao dia
cada uma das figuras, mencionando algumas características comuns e diferenciadoras.

Outra possibilidade é a de confeccionar alguma coleção de minibits que


contenham estas características, para que as crianças joguem com eles nas zonas de
trabalho.

Os campos semânticos serão trocados quando assimilados pelos alunos, ao


juízo do professor.

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B. Desenvolvimento do pensamento estratégico através do xadrez


A aprendizagem do jogo de xadrez envolve fatores intelectuais, de
aprendizagem e de personalidade.
 Intelectuais: desenvolve o raciocínio abstrato, a memória (sobretudo em
relação às pautas lógicas) e a imaginação criativa.
 Relacionados com a aprendizagem: o próprio treino da memória, fortalece a
atenção e a concentração, assim como o hábito de organizar o próprio tempo
e o próprio trabalho.
 De personalidade:
o Treina a capacidade de tomar decisões e de se responsabilizar por elas.
Neste caso as decisões são tomadas baseando-se na reflexão e na
análise das circunstâncias.
o Desenvolve o desejo de superação.
o Acostuma a perder o medo de enfrentar os problemas e a não se sentir
retraído ante qualquer dificuldade.
o Educa as qualidades desportivas: o jogo limpo, a análise dos fracassos
para extrair conclusões positivas e o respeito ao oponente.

O curso de xadrez desenvolve-se durante quatro anos consecutivos, do 3º ao 6º


ano do Ensino Fundamental (Níveis I a IV). Serão dedicados 90 minutos quinzenais.

Curricularmente está integrado à área de Matemática, como desenvolvimento


do bloco de raciocínio lógico.

Materiais:

 Tabuleiro Mural Magnético (pode ser confeccionado em aula);


 Um tabuleiro com peças para cada dois alunos;
 Blocos de anotações de partidas.

A partir do segundo nível, pode-se ir incorporando jogos de xadrez por computador,


segundo seu grau de dificuldade (como o Chess-base ou o Fritz-2). Também interessa
introduzir o relógio de jogo a partir do segundo nível.

C. As saídas de observação
São deslocamentos curtos pelo entorno próximo ao colégio. Não necessitam da
utilização de meios de transporte, nem outros preparativos fora do planejamento. Os
conhecimentos e experiências são enriquecidos em grande medida com estas saídas.

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As saídas de observação são imprescindíveis para realizar um trabalho de


investigação e para desenvolver as capacidades de observação e coleta de dados e
informação.

Devem ser realizadas duas saídas quinzenais (uma cada semana), centrando-se
em aspectos diferentes em cada uma delas. Convém dedicar uma das saídas para
observar uma série de coisas fora da quinzena, por exemplo, as mudanças produzidas
nas plantas em cada estação, ou fenômenos ocasionais e imprevisíveis como, um
temporal, um dia de vento..., que não podem ser planejados em tempo determinado,
porém deve-se saber aproveitá-los.Nestas saídas, é importante que os alunos levem o
caderno de campo e quando for preciso fazer coletas de amostras devem levar sacolas,
potes, caixas, máquina fotográfica e todo material que for necessário.

A duração da saída de observação será de 10 a 15 minutos, com exceção de quando o


deslocamento, ou o percurso até o local de observação, seja maior que o habitual.

As finalidades das saídas são:


 contato direto com o ambiente à sua volta;
 desenvolvimento da capacidade de observação, discriminação de formas,
tamanhos, memorização...;
 interiorização de atitudes positivas frente à natureza;
 aumentar o vocabulário;
 recolher dados e materiais;
 praticar e melhorar hábitos de conduta;
 observar a atitude ante a aprendizagem.

Não podemos esquecer que os alunos devem aprender a observar. À medida


que se familiarizem com esta técnica, os resultados de suas observações irão
melhorando. É compreensível que, no início, não dirijam suas observações aos pontos
que previmos, ou que não cheguem às conclusões que esperávamos. Podemos ajudá-
los oferecendo-lhes hipóteses, porém nunca os substituindo.

É muito importante que se estabeleça uma comunicação fluida entre o


professor e os alunos.

Em muitas ocasiões, os dados e os materiais coletados nas saídas, serão


trabalhados em aulas seguintes.

Programação das saídas


As saídas devem estar bem planejadas para que sejam úteis e aproveitadas
pelos alunos. Na programação da saída se especificará:
 o motivo da saída;
 o lugar de observação ou itinerário a percorrer;

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 os elementos nos quais se centrarão a observação;


 as perguntas para centrar a atenção e o interesse dos alunos;
 algumas hipóteses para que os alunos as comprovem;
 as amostras de materiais que devem recolher, se for o caso;
 o vocabulário a ser empregado: substantivos, adjetivos e verbos.

D. O Teatro
O Programa de Teatro, integrado nas áreas de Língua portuguesa e Educação
Artística, melhora, entre outros fatores, a dicção, a expressão oral e corporal, a soltura
para falar em público, ao mesmo tempo em que aumenta a segurança pessoal e ajuda
a superar inibições.

Está previsto que se dedique a esta atividade uma hora semanal da área de
Educação Artística (Dramatização) e uma hora quinzenal da área de Língua Portuguesa.

Convém estimular, as peças teatrais ou grupos de teatro que podem ser


apresentadas nas festas familiares, convivências, etc.

C. ORIENTAÇÕES PARA CADA ÁREA DE APRENDIZAGEM

1. Conhecimento do meio natural e social


O primeiro aspecto a ser considerado é que a área de Conhecimento do Meio
apresenta uma estreita relação com praticamente todas as demais. Na confecção dos
questionários, na consulta de documentos, na elaboração de relatórios, é necessário
recorrer à área de Português, por exemplo. Na elaboração e aplicação de estatísticas,
gráficos ou escalas de quantificação, é necessário recorrer à área de Matemática. Os
conteúdos de Educação Artística ou Educação Física podem complementar alguma
atividade de Conhecimento do Meio ao oferecer experiências ou reflexões sobre o
espaço e o movimento.

O segundo aspecto a ser considerado é que os alunos dessa faixa etária


encontram-se na fase do pensamento concreto, apoiando-se em impressões sensoriais
(manipulações e experiências) e em representações (o realismo infantil). São capazes
de relacionar ideias simples, mas chegar a uma definição geral, mais inclusiva, ainda é
uma tarefa difícil. Apresentam um pensamento intuitivo apoiado em imagens.

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Por isso, ao tratar do Conhecimento do Meio, é interessante adotar uma


metodologia globalizadora, que leve em consideração a inter-relação com os
conteúdos das demais áreas e que integre as diversas aprendizagens, favorecendo a
utilização da experiência pessoal do aluno como a aquisição de novas experiências.
O aluno possui um conjunto de experiências e ideias sobre a realidade que o
rodeia. Isso deve ser usado como ponto de partida para novas descobertas e
aprendizagens. É preciso saber aproveitar essas experiências prévias para organizar a
aprendizagem de forma que o aluno avance para conhecimentos mais complexos e
elaborados.

Portanto, um primeiro passo seria fazer uma avaliação inicial que proporcione
dados sobre a situação em que se encontra o aluno nas questões que são o objeto de
aprendizagem e assim definir o ponto de partida de cada aluno ou grupo de alunos.
Essa avaliação pode ser realizada mediante uma observação sistemática (conversas,
jogos e brincadeiras, etc.).

As atividades propostas devem ser motivadoras de forma a estimular a


curiosidade e promover uma atitude positiva e proativa em relação à aprendizagem.
É interessante incentivar a aprendizagem por meio da descoberta, valendo-se
do grau de curiosidade e do perfil questionador tão próprio dessa faixa etária. É
interessante também ajudar que os alunos percebam que o ambiente que os rodeia é
um lugar de aprendizagem. Para isso, é preciso ensinar a observar, investigar e analisar
o meio ambiente e suas relações com o ser humano. Um exemplo disso são as saídas
de observação (estudos do meio) e as visitas culturais, sempre em conexão com os
programas de estudo, que despertam no aluno um interesse pelo meio ambiente,
traduzindo-se em uma atuação responsável e coerente de respeito e preservação.

A observação como técnica de coleta de informação, a subsequente


organização e sistematização do que foi observado e a atividade experimental que
habitua o aluno a indagar outras possíveis situações e a resolvê-las, constituem a base
da atividade da área de Conhecimento do Meio.

Estudo do meio
São deslocamentos curtos pelo entorno do colégio. Não é necessária a
utilização de meios de transporte, nem outros preparativos além da própria
programação. Os conhecimentos e experiências se enriquecem em grande medida
com estas saídas.

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As saídas de observação são imprescindíveis para realizar um trabalho de


pesquisa em sala e para desenvolver as capacidades de observação e coleta de dados e
informações.

Programam-se duas saídas de observação por quinzena (uma por semana),


explorando em cada uma delas aspectos diferentes. Convém dedicar uma das saídas
para observar as diferenças havidas durante a semana, como, por exemplo, as
mudanças das árvores em decorrência da estação do ano, etc. É possível também
explorar alguma circunstância ocasional como uma chuva.

Nas saídas de observação os alunos devem levar um caderno de campo para


efetuar os registros. Caso se preveja a coleta de material, levam-se os recipientes
adequados, além da máquina fotográfica.

O tempo previsto para uma saída de observação é de 15 a 20 minutos, salvo


que se programe uma visita a algum lugar mais distante do entorno da escola.

A finalidade das saídas de observação


1. Manter um contato direto com o meio ambiente.
2. Desenvolver a capacidade de observação, discriminação de formas e tamanhos,
memorização e análise.

3. Interiorizar atitudes positivas em relação ao meio ambiente.

4. Aumentar o vocabulário.

5. Organizar dados e materiais.

6. Praticar e melhorar hábitos de conduta.

7. Observar a atitude do aluno frente ao aprendizado.

É muito importante que se estabeleça uma comunicação fluida entre professor


e alunos. Estes estão aprendendo a observar. À medida que vão se familiarizando com
essa estratégia, a qualidade das observações e análises irá melhorando. O professor
pode ajudar propondo hipóteses ou chamando a atenção para algum fato. Contudo,
não deve substituir o aluno na tarefa de observar e analisar.

Muitas vezes, se trabalhará em sala de aula com os dados ou materiais


coletados numa saída de observação.

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A programação das saídas de observação


Para que as saídas cumpram a sua finalidade é importante que sejam
preparadas com antecedência. Na programação da saída deve-se especificar:
1. O tema (ou motivo) da saída.

2. O local da observação ou o itinerário a ser feito.

3. Os elementos ou aspectos nos quais o professor incentivará a observação.

4. As perguntas que orientaram a atenção e o interesse dos alunos.

5. As hipóteses que serão levantadas para que os alunos comprovem.

6. O tipo de dado ou material que se coletará.

7. O vocabulário que se explorará: substantivos, adjetivos, verbos, etc.

Objetos de observação nas saídas e atividades posteriores em sala


1. Vegetais: flor, folhas, troncos, raízes, tipos de árvores, germinação, formação do
fruto, etc.

2. Estudo de aspectos morfológicos ou do ciclo de vida das plantas a serem obervadas.

3. Animais: artrópodes e outros invertebrados, répteis, anfíbios, aves e peixes,


mamíferos.

4. Solos: tipos de solo, erosão, rochas e minerais.

5. Montagem de terrários, aquários, viveiros para cigarras ou lagartas, etc.

O uso do caderno de campo


Tanto nas saídas de observação como nas visitas culturais convém utilizar um
caderno de campo. Nele o aluno anotará as observações feitas ou os dados
necessários para elaborar os trabalhos em sala de aula.

Em campo, os alunos registrarão os dados e farão desenhos ou esquemas do


que observaram. Em sala de aula poderão trabalhar com mais atenção esses dados e
completar e colorir os desenhos e esquemas. Se o caderno permitir que se destaquem
as folhas, estas podem ser arquivadas em pastas segundo a ordem ou tipo de assunto
(observação de animais, vegetais, ambientes, etc.).

A Zona de Trabalho na área de Conhecimento do Meio natural e social


A organização da sala de aula em zonas de trabalho facilita que o aluno escolha
o tipo de atividade que mais lhe interesse (Objetivos Individuais) e oferece múltiplas
oportunidades de ação (metodologia ativa). Além disso, promove o relacionamento do

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aluno com o professor (atenção pessoal e assessoramento acadêmico) e com os


demais colegas de sala.

Essa disposição da sala de aula favorece o ritmo de trabalho de cada aluno,


tanto dos mais proativos e adiantados quanto dos que necessitam reforçar os
Objetivos Fundamentais. Ao favorecer a iniciativa individual e a criatividade tendo em
conta o ritmo pessoal, as zonas de trabalho promovem a aprendizagem autônoma.

Convém que a ambientação da zona seja muito cuidada. A decoração deve ser
mudada a cada quinze dias, acompanhando o tema ou motivo da saída. Seu objetivo é
criar um ambiente sugestivo e rico em estímulos. A zona, no entanto, pode contar com
elementos fixos, como: terrários, aquários, gaiolas com Hamster, coleções de minerais,
coleção de sementes, coleção de insetos, herbários, coleção de conchas, material para
trabalho em campo (binóculos, lupas, termômetro de ambiente, bússola, máquina
fotográfica, recipientes para coleta de material, redes de coleta, etc.), Atlas
cartográfico, documentários sobre vida selvagem ou meio ambiente, jogos educativos,
revistas ou artigos de divulgação científica, maquetes, pastas para arquivar os
trabalhos dos alunos, etc.

O lúdico na área de Conhecimento do Meio


A atividade lúdica é um recurso especialmente adequado para esse período
escolar. É importante superar a aparente oposição entre o lúdico e trabalho, que vê o
segundo associado ao esforço de aprender, enquanto o primeiro é entendido como
uma diversão ociosa. Hoje, sabemos que não é assim. Em muitas ocasiões as atividades
de ensino-aprendizagem terão um caráter lúdico e em outras exigirão dos alunos um
maior esforço, mas, em ambos os casos, deverão ser motivadoras e gratificantes.

2. Linguagem e Literatura
A leitura
Será a principal atividade dessa etapa escolar. Nossa pretensão é que os alunos
leiam muito, leiam bem e que desfrutem lendo. O bom leitor não nasce, mas se faz. É
importante que ao concluírem o Ensino Fundamental I os alunos tenham adquirido o
hábito da leitura. Como acontece com a aquisição de qualquer hábito, trata-se de um
processo lento que deve ser conduzido pelo professor de forma gradual e persuasiva.
Os livros, textos ou artigos escolhidos devem instigar o interesse e o prazer do aluno.

A leitura será uma atividade diária que ocupará, ao menos, 15 minutos,


distribuídos entre leitura expressiva e compreensiva.

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Na leitura expressiva se ensinará ao aluno a ler com correção, boa entonação,


ritmo e agilidade. São técnicas que requerem um exercício constante. Ao trabalhar um
texto concreto, cada aluno lerá 5 linhas e passará a vez ao próximo aluno. Convém que
o professor participe da atividade como mais um. Além de ensinar o modo correto de
ler, essa atitude do professor será um fator motivador de inestimável valia.

Com atenção, o professor deve corrigir os defeitos da leitura que os alunos


apresentem: assinalar as palavras com o dedo, mover a cabeça, voltar sobre o lido
(regressões), movimentos oculares mais reduzidos, etc. Além disso, quando a leitura
for silenciosa, convém evitar a vocalização (movimento de lábios ou de garganta).

Na leitura compreensiva se procurará selecionar textos vivos, interessantes e


com possibilidades interpretativas. O aluno deve ser encorajado a atuar como um
“explorador” que adentra num mundo novo que precisa ser desvendado e conhecido.
Assim estaremos ensinando o aluno a pensar e a decifrar, a interpretar e a descobrir a
informação. Em última análise, estaremos incentivando o aluno na arte de refletir.
Devemos ter o cuidado para não confundir compreensão leitora com retenção na
memória de alguns fatos ou dados mais ou menos relevantes. Durante a leitura, se
procurará identificar a ideia principal, o argumento, os protagonistas, a mensagem ou
ponto de vista apresentado pelo autor, onde se desenvolve a ação, qual a ambientação
histórica, etc. Enfim, na atividade diária de leitura compreensiva, o professor proporá
questões que envolvam raciocínio, interpretação, avaliação crítica, estrutura, relações
espaços-temporais e lógica.

Com a periodicidade oportuna podem ser realizados exercícios de leitura para


verificar o progresso e o nível de cada aluno.

Sugestão para o processo de avaliação leitora


Prepara-se um texto, bem selecionado, com 270 a 300 palavras. Os alunos o lerão em
leitura silenciosa. O professor deve estabelecer previamente um meio para conhecer a
velocidade leitora de cada aluno. Uma possível técnica é que o professor escreva na
lousa a numeração de 1 a 100. Como nenhum aluno demorará menos do que dois
minutos para ler o texto o professor escreverá a sequência numérica e ao iniciar o
terceiro minuto irá assinalando – ao compasso dos segundos - os números. Os alunos à
medida que terminem a leitura levantam a cabeça e anotam o número que o professor
está indicando na lousa. Assim se poderá conhecer a velocidade leitora de cada aluno.
Terminada a leitura, o texto é recolhido, e os alunos deverão responder a um
questionário de 10 perguntas. O tempo para responder o questionário pode ser de 15
a 20 minutos.

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A correção do questionário indicará ao professor o nível de compreensão


leitora de cada aluno: 6 acertos equivalem a 60% de compreensão, 9 acertos
equivalem a 90% de compreensão. Uma compreensão leitora dita satisfatória não
deve ser inferior a 70%. Quando um aluno apresenta uma compreensão leitora inferior
a esta cifra, o professor orientará o aluno a reduzir sua velocidade leitora e assim, com
mais fixação no texto, aumentar a compreensão.

Convém que o professor mantenha um registro do perfil leitor de cada aluno.


Devem ser observados os seguintes aspectos:

1. Velocidade leitora (nº de palavras lidas em um minuto)

2. Precisão e expressão (erros de pronúncia e entonação)

3. Compreensão leitora (entender o que foi lido)

4. Modalidade leitora:

 Subsilábica (soletrar)
 Silábica (leitura de sílabas)
 Vacilante (leitura insegura, com pausas indevidas e regressões)
 Corrente (leitura correta e com ritmo adequado)
 Expressiva (leitura corrente com entonação e traços expressivos
adequados)

A Biblioteca dentro da sala de aula


Além da Biblioteca do colégio, é muito positiva a organização de uma biblioteca
dentro da sala de aula. Os livros podem ser trazidos - doados - pelos próprios alunos. A
leitura pode ser exercida como um passatempo ou como recompensa a alguma ação
positiva. Cabe ainda ao professor criar em sala situações que estimulem e favoreçam o
gosto pela leitura.

O Vocabulário
O vocabulário está na base de todas as atividades escolares. É preciso cuidar
muito bem da seleção dos textos e contextos que vamos oferecer aos alunos. Se estes
não respondem aos seus interesses, capacidades e necessidades suscitarão no aluno
um desprezo ou indiferença a uma atividade que será básica para o seu
desenvolvimento intelectual. Portanto, os textos escolares e literários devem
responder à realidade psicológica, de aprendizagem e educativa dos alunos.

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Partindo, pois, da frase ou contexto, extraímos o vocábulo que será o objeto de


consideração e estudo. Feito isso, o texto se torna luminoso e compreensível.
Voltamos a usar o mesmo vocábulo em uma nova frase ou contexto destacando outra
vez o seu significado. Com essas ações estamos trabalhando a compreensão leitora do
aluno.

A leitura e a escrita se convertem em atividade mecânica quando o aluno


desconhece - de forma significativa - os termos que lê ou escreve. A atividade perde
seu sentido e anula seu valor formativo, retardando o desenvolvimento global do
aluno e facilitando o surgimento de hábitos deficientes.

Espera-se que o professor tenha lido e trabalhado todos os textos que o aluno
utilizará durante uma avaliação (ou mesmo, exercícios de sala). Deverá sublinhar todos
os vocábulos que estime sejam mais difíceis para todos ou mesmo para alguns alunos.
Pode-se fixar um conteúdo de vocabulário para cada semana, por exemplo, 10
palavras. Elas serão objeto de um estudo sistemático e depois serão referência na
avaliação.

Os exercícios de vocabulários devem ser muito variados e com um caráter


lúdico, de forma que permita a participação ativa e prazerosa do aluno. O trabalho
diário de vocabulário permitirá incrementar de forma sistemática, paulatina, mas
eficaz o vocabulário passivo do aluno bem como a capacidade para compreender o
que leem ou ouvem. Sempre que seja possível, convém oferecer um vocabulário
gráfico, pois aumentará a capacidade de compreensão e retenção.

Todas as áreas de aprendizagem devem desenvolver uma atividade de


vocabulário em cada tema ou unidade.

Utilizar as palavras cujo significado vão aprendendo é uma atividade e


capacidade bem complexa que professor poderá explorar e incentivar na expressão
oral e escrita. Constituirá o vocabulário ativo do aluno.

Expressão oral
A expressão oral é a primeira e mais natural forma de expressão, não só da
criança, mas de todo ser humano. É a mais utilizada e conhecida. A comunicação oral
está presente em todas as relações interpessoais: na relação com os pais, professores
e demais colegas de sala, nos meios de comunicação social, etc.

É conveniente criar um ambiente na sala de aula que seja estimulante, em que


a palavra seja protagonista. Para isso é preciso estruturar um leque amplo de

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possibilidades e situações de comunicação. Todos os alunos devem sentir-se


motivados e à vontade por notarem que sua expressão oral é respeitada e estimulada,
mesmo que a princípio não seja adequada.

Estrutura de uma aula de expressão oral


1. Percepção de modelo. Somente se aprende a falar bem ouvindo bons
exemplos de linguagem oral e praticando, assiduamente, em situações de
comunicação. Uma boa maneira de apresentar modelos de linguagem ou comunicação
é por meio dos recursos audiovisuais: vídeos, CD, etc.
2. Compreensão. É necessário ir explicando de forma amena e paciente o
modelo apresentado. O aluno deve perceber como é o modelo e o que deve fazer para
imitá-lo. A utilização dos recursos audiovisuais permite parar, avançar, retroceder,
facilitando assim essa tarefa.
3. Assimilação. Não basta a explicação por parte do professor, nem para uma
primeira compreensão por parte do aluno. Este necessita assimilar, incorporar à sua
experiência e vivência o que foi aprendido. Para isso, convém que os alunos exercitem
o aprendido em situações criadas pelo professor.
4. Utilização. Será o momento de demonstrar que é capaz de responder
pessoalmente ao modelo apresentado, interagindo com ele.

Técnicas de expressão oral


Podem ser agrupadas do seguinte modo:
1. Técnicas de diálogo: conversas, debates, colóquios, dramatizações, tempestade de
ideias.
2. Técnicas de monólogo: narração, exposição, descrição, recitação.

3. Técnicas de leitura oral: individual (monologada), coletiva (dialogada).

Estas técnicas se realizam habitualmente em situações reais, desenvolvendo e


estimulando a linguagem espontânea. Essas situações abarcam todas as possibilidades
que a vida colegial proporciona:

 A relação professor-aluno na qual a linguagem espontânea do aluno se


desenvolve graças à relação de confiança e afeto mútuo. Reveste-se de
interesse o aprendizado da linguagem que permite ao aluno manifestar o
conhecimento que vai adquirindo de si mesmo.
 A conversa sobre temas de atualidade, sobre acontecimentos do dia a dia da
sala de aula, sobre interesses despertos pelos estudos realizados em sala ou
por leituras feitas pelos alunos. É importante que todos os alunos consigam
manifestar-se, vencendo possíveis timidezes.

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 A deliberação em comum para tomar decisões que afetem o dia a dia da turma.
Para tanto, o funcionamento e a rotina da sala de aula devem estar concebidos
como algo no qual todos devem participar e pelo qual todos são responsáveis.
 O trabalho em grupo, em todas as áreas. Isso exige uma detalhada e prévia
planificação do professor. Se os alunos sabem a todo o momento o que se
espera deles, temos maior garantia de uma boa participação, motivação e
disciplina.
 Os alunos devem sentir a necessidade e o interesse por comunicar aos demais
suas ideias, sentimentos e vivências. Portanto, é preciso criar um clima de
confiança, abertura, respeito mútuo que estimule a expressão espontânea dos
alunos.
 As brincadeiras (como os jogos) e as atividades extraescolares são um meio
eficacíssimo para o desenvolvimento das habilidades linguísticas orais.

Paralelamente com estas situações reais, o professor pode simular situações


que permitam ao aluno a aquisição de um novo vocabulário e o descobrimento e/ou
domínio de outras técnicas de comunicação.

O que avaliar
1. Compreensão oral: se ouve bem, se escuta com atenção e respeito, se compreende
o que escuta.
2. Expressão oral: vocabulário (propriedade, uso devido, riqueza), correção gramatical,
pronúncia correta (com entonação e ritmo), uso de elementos paralinguísticos (gestos,
música, etc.), ordem lógica na exposição das ideias, ordem cronológica e espacial,
domínio das técnicas de expressão oral que foram trabalhadas em sala, uso excessivo
de expressões de reforço (né, pois é, então, etc.).

Expressão escrita
Os alunos do Snipe devem ser capazes de fazer exercícios de composição
escrita com essas características:
1. Boa apresentação, limpeza e respeito às margens.
2. Letra legível e cuidada.
3. Sem faltas ortográficas em palavras estudadas em seu nível ou em níveis
anteriores.
4. Uso correto do ponto final, do ponto parágrafo, da vírgula, do ponto de
interrogação e de exclamação.
5. Emprego de vocabulário com precisão e riqueza próprias para a faixa etária.
6. Capacidade de escrever vários parágrafos.
7. Apresentação de uma ordem lógica, temporal e espacial básicas.
8. Apresentação de frases gramaticalmente bem construídas.

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9. Manifestação de traços pessoais como personalidade, originalidade e


criatividade.

Estes nove valores que queremos ver plasmados nos exercícios de redação dos
alunos devem ser ensinados de maneira sistemática, intencional, um a um,
repetidamente e na prática.

Algumas orientações metodológicas


O tema sobre o qual os alunos irão escrever deve ser bem proposto pelo
professor, de forma a gerar verdadeiro interesse. Sem interesse não há motivação. Os
temas podem ser propostos tendo como base as experiências dos próprios alunos.
Outra possibilidade é que o professor traga um assunto novo para a sala de aula e
apresente aos alunos gerando curiosidade e a ambientação necessária. Convém evitar
temas demasiado gerais ou abstratos. Ao mesmo tempo devem ser suficientemente
abertos para possibilitar que os alunos exercitem a criatividade.

A ambientação necessária para o início da atividade de composição escrita


pode ser feita por meio da observação de situações reais (um dia de chuva, a
preparação da escola para uma festa, etc.) ou a leitura de textos ou histórias que
sirvam como modelo (nesse caso o professor deve fazer uma leitura expressiva que
envolva os alunos).

O professor pode realizar, durante vários dias, atividades prévias à redação.


Com isso trabalhará substantivos, adjetivos e verbos que depois os alunos poderão
utilizar na redação. O vocabulário trabalhado pode ficar escrito na lousa ou numa
cartolina afixada na sala. Os alunos podem copiar as palavras no caderno e assim vão
se familiarizando com os novos vocábulos.

Como se pode notar, antes de propor que os alunos escrevam sobre um tema,
é preciso dedicar momentos de preparação (para gerar a motivação adequada). Depois
que as redações são corrigidas pelo professor, é preciso dedicar outra aula para
trabalhar os erros individuais e coletivos, por exemplo, por meio da reescrita. Na
correção, os erros devem ser assinalados com claridade, facilitando que o aluno os
identifique e retifique.

Ortografia
A escrita é uma ação mecânica. Para conseguirmos essa resposta mecânica, é
necessário termos a imagem da palavra fixada na mente. Escrevemos tanto melhor
uma palavra quanto melhor temos fixada a imagem visual e motriz da mesma.

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Desenvolveremos o método viso-audio-motor-gnósico. Apresentamos as


palavras ressaltando sua dificuldade ortográfica, pronunciamos e pedimos que os
alunos as pronunciem. Explicamos o seu significado. Depois, de forma lúdica,
realizamos diversos exercícios visuais e motores para que os alunos consigam essa
resposta mecânica que os levará a escrever corretamente a imagem fixada.

Os alunos devem escrever a palavra com o dedo no ar e sobre a superfície da


mesa. Usando a cabeça, com os olhos fechados. Com o lápis e com a caneta (indicando
em vermelho o sinal ortográfico que ofereça alguma dificuldade, caso haja). Com letras
maiúsculas e minúsculas.

O conteúdo de ortografia semanal supõe o aprendizado de 5 a 8 palavras


novas. Essas palavras fazem parte do vocabulário básico que o aluno trabalhará na
semana (leituras, textos de Conhecimento do Meio, etc.).

As palavras são copiadas num cartaz, em letras grandes, escrevendo em


vermelho os sinais que apresentem alguma dificuldade. Na segunda-feira, as palavras
são afixadas na sala. Se possível, podem-se elaborar bits com cada uma delas. Cada
dia, o professor dedicará 5 ou 7 minutos para realizar as atividades prévias à redação -
propostas anteriormente ou pensadas pelo professor -, até assegurar que as 5 ou 8
palavras foram aprendidas por todos os alunos.

As regras ortográficas devem ser ensinadas paulatinamente, uma de cada vez, e


de acordo com os objetivos propostos. Usa-se sempre o método indutivo: relação de
palavras, observação, comparação, indução da regra, aplicação e exercícios.

Linguagem: estrutura gramatical e sintaxe


Metodologicamente devemos apresentar a língua como uma estrutura, como
um conjunto de elementos relacionados entre si. Os exemplos devem ser
cuidadosamente escolhidos. Devem ser simples, claros e acessíveis a todos os alunos.
Assim compreenderão quais as funções assumidas pelas palavras: sujeito, predicado,
núcleo, concordância, etc.
Paulatinamente, os alunos irão reconhecendo as diferentes classes de palavras,
suas formas, concordâncias, relações e funções, sempre a partir de uma perspectiva
prática, nunca conceitual.

3. Matemática
Dividimos a área de Matemática em seis grandes blocos: numeração,
operações, medidas e magnitudes, representação e orientação espacial, geometria e
tratamento da informação. Optamos por separar numeração e operação por

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entendermos que cada bloco tem suficiente entidade para ser estudado de forma
própria.

No aprendizado de matemática, não se pretende que os alunos simplesmente


aprendam e dominem alguns procedimentos ou que dominem alguns conceitos. O que
verdadeiramente importa é que através de um conceito, devidamente internalizado,
cheguem a um procedimento e vice-versa. Adquirem assim uma atitude. Nossa
intenção deve ser criar as bases de um pensamento lógico-matemático.

Aprendizagem de matemática e estilos cognitivos


O material didático deve ser variado e incentivar o autoaprendizado. Contudo,
isso não é suficiente para que os alunos aprendam e incorporem o conhecimento às
suas vidas. O professor deve criar um bom vínculo com a sala e atender
individualmente cada aluno, segundo suas necessidades e estilos cognitivos.

Nem todos os alunos aprendem da mesma maneira. Também os professores


terão seu próprio estilo de apreensão da realidade. Certamente um professor de estilo
cognitivo divergente ajudará melhor aos alunos que apresentem o mesmo estilo de
captação da realidade. No entanto, temos que nos esforçar para oferecer a todos
suficientes possibilidades para que aprendam de acordo com suas características. Em
última análise, a parte fundamental do aprendizado corresponde ao aluno. Cabe ao
educador ajudar a que aprendam, nunca substituí-los nessa tarefa. Para isso, é
importante criar em sala de aula um ambiente rico em estímulos, disciplinado e
sossegado. Evitam-se situações vexatórias ou de nervosismo. Na aula de matemática
deve reinar um ambiente de exigência e cooperação. É necessário que todos se sintam
valorizados e reconheçam suas características (pontos fortes e fracos) sem que isso
seja tomado como desculpa para diminuir o esforço.

Interdisciplinaridade
A interdisciplinaridade é um aspecto relevante na área de matemática. Na
medida do possível, procuraremos relacionar os conteúdos específicos com outras
áreas do conhecimento, em especial com Conhecimento do Meio e Português (no que
diz respeito ao bom entendimento dos enunciados e problemas de lógica).
Como premissa, é necessário procurar que o aprendizado de Matemática tenha
seu fundamento na realidade. Somente pelo contato permanente com a realidade, os
alunos chegarão a entendê-la, e evitaremos o surgimento de fobias e traumas.

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Matemática e atividades de manipulação


No aprendizado de Matemática partimos do concreto para o abstrato, do
particular para o geral. Enfim, partimos da realidade concreta e próxima do aluno para
chegar à lei ou enunciado geral.

Todo novo aprendizado começará pela manipulação de objetos. Por exemplo,


se pretendemos que aprendam a longitude de uma circunferência começaremos por
medir empiricamente o comprimento de várias circunferências: com cordas, com tinta
que se aplica nas bordas de uma moeda, etc. Posteriormente, se fará a relação dessas
medidas com o raio e o diâmetro. Só então se introduzirá a fórmula do comprimento.
Então o aluno poderá aplicar e memorizar a fórmula.

Sendo fundamental o aspecto manipulativo, é preciso seguir no processo de


aprendizagem. O aluno exercitará muitas vezes as fórmulas matemáticas até chegar à
sua memorização e à perfeita aplicação na solução de problemas.
O professor deve certificar-se de que todos os alunos compreendem o
problema proposto e, por meio do trabalho em equipe e/ou de atividades de
manipulação, encontrar a solução. Em primeiro lugar, deverão descobrir o que se
pergunta. Em segundo lugar, saber como aplicar as estratégias adequadas para
encontrar a solução. Em terceiro lugar, descobrir a regra geral e, por último, deverão
chegar à generalização do conhecimento.

O êxito nessa linha metodológica é garantir que o aluno realize muitos


exercícios. Por exemplo, para que descubram o conceito de uma operação devem fazê-
la muitas vezes de todas as maneiras possíveis e com domínio. Se não oferecemos ao
aluno tempo suficiente para que pratique e aprenda, estamos dificultando que
descubra novos conhecimentos.

Metodologia concêntrica e avaliação prévia


Apesar de termos trabalhado as quatro operações básicas nos primeiros anos
do Ensino Fundamental, a experiência demonstra que é benéfico continuar a exercitar
essas competências no aluno. Deve-se partir, sem dúvida, do que o aluno sabe, para
daí chegar a novos conhecimentos. No entanto, não devemos deixar de lado os
conhecimentos anteriormente adquiridos. É preciso continuar trabalhando esses
conteúdos para que não sejam esquecidos. Na área de matemática, pela importância
que têm esses conhecimentos básicos como ponto de apoio para novas aprendizagens,
devemos ter o cuidado de que os alunos os tenham sempre presentes.
O maior inimigo da aprendizagem é o esquecimento. Isso ocorre sempre que se
deixa de utilizar uma estratégia ou conhecimento. Em matemática a destreza e rapidez
no raciocínio advêm do exercício constante. Por isso, a prática contínua e a avaliação

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inicial de cada novo conteúdo quando descobrimos quais são as ideias, conceitos ou
habilidades que os alunos trazem é a única maneira de seguir um caminho seguro para
o bom desenvolvimento intelectual.

Matemática e pensamento
O grande objetivo no estudo da área de matemática é que os alunos adquiram
estratégias intelectuais e desenvolvam um pensamento lógico.

Não se trata de que os alunos memorizem uma série de caminhos para chegar
a uns tantos resultados, ainda que isso também seja necessário. O mais importante é
que os alunos consigam descobrir, sozinhos, suas próprias estratégias. Muitas vezes
nos surpreenderemos com a complexidade lógica das mesmas. O descobrimento e uso
dessas estratégias facilitam a memorização.

Unicamente pelo contínuo uso de situações (problemas) lógicas é que o aluno


irá aprendendo novas formas de pensamento lógico personalizadas. A missão do
professor consistirá em apresentar essas exigências, com alegria e como um desafio
que estimule o aluno. O professor organizará com atenção esses exercícios de lógica,
buscando em várias fontes (livros, sites, etc.) ou mesmo construindo seus próprios
exercícios.

Orientação espacial
Assim como a aquisição de estratégias cognitivas é algo básico, também o é o
desenvolvimento da capacidade espacial. Esta habilidade é objeto de outras áreas do
currículo, mas a área de matemática oferece uma grande contribuição.

Começa-se, nos alunos das fases iniciais, pelo descobrimento da lateralidade


corporal própria. Depois vem a lateralidade com relação aos demais. O objetivo, em
qualquer caso, é que conheçam e dominem o espaço que os rodeia.

Esse ponto é de fácil integração interdisciplinar com as áreas de educação


física, artes ou Conhecimento do meio. As implicações com a área de linguagem
também são fáceis de perceber. Muitas dificuldades apresentadas no processo de
leitura-escrita podem ser sanadas com adequado desenvolvimento da capacidade
espacial.

Estratégias de cálculo
Pretende-se com as estratégias de cálculo que os alunos sejam capazes de
descobrir maneiras de realizar mentalmente as operações. Não se trata que
memorizem simplesmente as estratégias ensinadas pelo professor, mas que eles
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mesmos descubram formas de fazê-lo de maneira mais fácil. Toda estratégia que se
memoriza sem a devida interiorização está fadada ao esquecimento. Esta é a primeira
razão para não se obrigar a aprender – pura e simplesmente – estratégias de cálculo
mental. Uma segunda razão, talvez mais profunda, é que através da matemática
buscamos desenvolver aptidões nos alunos. Não devemos pretender que os alunos
dominem e tenham automatizado o algoritmo da divisão, que sem dúvida é
fundamental, mas que dominem o conceito de divisão e, só mais tarde, dominem e
automatizem o algoritmo.

Será necessário, portanto, programar possíveis estratégias de cálculo mental


para que os alunos possam praticá-las e concluir uma regra geral. Deve haver uma
semelhança entre as novas situações de cálculo apresentadas e, por outro lado, deve-
se deixar um tempo para que os alunos recordem as estratégias já adquiridas. Em
resumo, trata-se de aprender pelo uso, sem esquecer as estratégias deduzidas
anteriormente. Isso só será positivo com a prática diária ou quase diária.

Matemática e jogo
As brincadeiras e os jogos despertam fortemente o interesse das crianças na
faixa etária a que se dirige o nosso projeto. Por isso, é extremamente oportuno utilizar
metodologias lúdicas no processo de ensino-aprendizagem. Mas o professor deve ter
claro que não se trata de brincar ou jogar, simplesmente. A criança nessa faixa etária
está aberta ao mundo – sua curiosidade é acentuada – e o que mais quer é aprender.
Em outras palavras, o nosso objetivo é que os alunos aprendam e que também
entendam que a tarefa intelectual exige esforço. Esforço este que vale a pena. Mas
tudo isso pode acontecer num ambiente distendido e positivo.

As aulas de matemática devem estar repletas de desafios intelectuais


apresentados de forma lúdica. A equipe educadora deve estruturar uma grande
quantidade de jogos e/ou brincadeiras que facilitem a aquisição de estratégias e que
sirvam para inter-relacionar ou induzir novos conhecimentos.

Os jogos também são úteis para aqueles dias difíceis que, pelo motivo que for,
os alunos encontram-se mais cansados ou agitados. É preciso conseguir que continuem
trabalhando mesmo em condições adversas. Na maioria das vezes, isso será possível se
mudamos a atividade normal, e o próprio aluno se interesse pela matéria.
Um meio muito propício para conseguir integrar o jogo dentro da atividade
normal da área de Matemática são as zonas de Matemática.

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Resolução de situações-problemas
A resolução de situações-problemas será uma parte fundamental nas quais se
deve incidir continuamente. Em primeiro lugar, será a metodologia utilizada para que
os alunos cheguem a novos conhecimentos. Em segundo lugar, o resolver situações
problemáticas ajudará a que integrem os conteúdos de matemática com outras áreas.
Em terceiro lugar, servirá para que aqueles alunos que tendem a um pensamento mais
analítico desenvolvam essa capacidade e aprendam a concretizar e, ao mesmo tempo,
para que aqueles alunos com pensamento mais sincrético desenvolvam sua
capacidade de análise.

Em todo caso, será necessário seguir alguns passos para chegar a tudo isso. Um
dos objetivos do projeto Snipe para a área de Matemática é, portanto, utilizar
estratégias de resolução de problemas que impliquem: ler e entender a pergunta,
representar graficamente o problema, analisar e escrever as possibilidades, escolher
os dados e operações necessárias e comprovar o resultado.

Será bom que num primeiro momento essa resolução de problemas se realize
de maneira manipulativa, para chegar mais tarde a entender qual a pergunta que está
sendo feita, a escolher os dados necessários para trabalhar, a estimar um possível
resultado, a determinar as operações que serão realizadas e a comprovar o resultado
final.
Deve-se dar muita importância para a estimação do resultado antes de se
efetuar qualquer operação. Isso é uma preparação para o uso futuro da calculadora.
Os equívocos que ocorrem no uso da calculadora normalmente relacionam-se com a
dificuldade de identificar a pergunta do problema e quais são os dados fornecidos e
como devem ser relacionados entre si. Uma estratégia interessante é introduzir no
problema dados irrelevantes ou desnecessários como forma de obrigar a que o aluno
busque circunscrever a pergunta. É fundamental insistir no entendimento da pergunta,
pois só assim é possível chegar a uma solução válida.

Aqui, como sempre, interessa mais a aquisição de estratégias do que a


resolução concreta. Logicamente é difícil separar uma da outra e, portanto, quando o
aluno acerta na solução do problema também estará aprendendo a estratégia. Em
todo caso, convém lembrar-se dos passos indicados no objetivo exposto
anteriormente.

A zona de Matemática
Como já foi dito, na área de matemática queremos desenvolver o pensamento
lógico dos alunos. Portanto, partiremos de situações concretas nas quais o aluno
descobrirá o problema que é proposto e os possíveis caminhos para encontrar a
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solução. As zonas de trabalho na área de Matemática são de grande valia para alcançar
esse objetivo.
A zona de Matemática é a situação de aprendizagem na qual o aluno trabalha
de forma mais autônoma e pode dedicar mais tempo a suas atividades preferidas.
Respeitar o ritmo de aprendizagem de cada aluno é a única maneira para que todos
aprendam. Por outro lado, também é possível incentivar a aprendizagem cooperativa
dentro do grupo, com o trabalho tutorial, em que uns ensinam os outros.

As atividades propostas na zona de Matemática devem envolver os


conhecimentos já adquiridos e possibilitar o desenvolvimento de novos caminhos de
autoaprendizagem. Enfim, o trabalho por zonas estimula o cooperativismo, a
autoaprendizagem, o autocontrole, a responsabilidade e o aumento da autoestima.

Sugestão de atividades para a zona de Matemática


As atividades elencadas são possíveis sugestões. Cabe a cada professor pensar
nas características de seus alunos ao propor uma atividade.
1. Cálculo: crucigramas nos que faltam números, testes sobre as operações básicas
para serem realizados no menor tempo possível, dominós de números, etc.
2. Numeração: descobrir a regra numa série numérica, descobrir a razão nas séries de
objetos desenhados, descobrir mediante perguntas o número pensado por outro
aluno, decomposição de números, três em raia com números, etc.
3. Orientação espacial: montagem de quebra-cabeças, encontrar o caminho mais curto
entre dois pontos, construção de figuras geométricas, reprodução de figuras a partir
de um modelo, montagem de barcos ou aviões em miniatura, etc.
4. Situações-problema: resolver situações propostas pelo professor, criar novas
situações para que os outros grupos resolvam, etc.

Horário nas aulas de Matemática


A experiência demonstra que não é necessário viver o mesmo horário todos os
dias. Convém variá-lo para que a aula não se torne monótona. O que deve haver é uma
boa estruturação que favoreça o trabalho dos alunos. As atividades que devem estar
incluídas em todas as aulas de matemática são, segundo as diferentes idades:
 10 minutos de cálculo.
 10 minutos de resolução de problemas.
 3 ou 4 minutos de numeração.
 5 minutos para aprender algo novo ou relembrar conceitos já sabidos.
 Atividades de aplicação de conteúdos estudados.
 Resumo das atividades desenvolvidas e correção dos exercícios realizados (nos
casos em que seja possível, fazer de forma coletiva, sendo que para os
primeiros anos convém que a correção seja individual).

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 Trabalho em zonas nos dias previstos.

4. Outros idiomas
No processo de ensino-aprendizagem de Inglês (ou de uma terceira ou quarta
língua) os seguintes aspectos devem ser considerados:
1. Facilitar o máximo input linguístico para os alunos:
 Aulas em inglês.
 Predominância do método direto, aplicado de forma flexível. Aprendizagem de
temas acadêmicos e culturais que permitam a aplicação do vocabulário dentro
da escola.
 Promover a dedicação do tempo livre dos alunos para a leitura ou para a
utilização de recursos audiovisuais e afins que permitam a ampliação do
conhecimento.
2. Dar destaque à linguagem formal acadêmica. Importância da linguagem escrita,
sobretudo da leitura, como base para o trabalho autônomo e individualizado. Para isso
se intensificará a utilização de textos expositivos e argumentativos, sem deixar, no
entanto, de utilizar também textos literário-criativos.

3. Ressaltar o caráter globalizador (sincrético) mais do que o analítico. Aprender a


trabalhar com textos (compreensão e expressão). Partir do texto apreciado
globalmente para seus elementos constitutivos.

4. Valer-se de uma metodologia eclética. Propor atividades comunicativas. Utilização


de todos os tipos de técnicas que ajudem a alcançar os objetivos propostos
(repetições, exercícios, explicações na língua nativa, se necessário), de forma que
aquilo que pudesse parecer tedioso ou mecânico se transforme em meio de
comunicação, jogo ou criatividade. O professor usará o Inglês em sala sem restrição
(vocabulário, gramática, etc.), mas buscando ser compreendido através de outros
meios (gestos, repetições, contextos). Convém organizar atividades de curta duração e
muito intensas em que são trabalhados conteúdos variados, procedimentos de
trabalho e textos.

5. Deve-se dar um tratamento positivo ao erro, pois ele é um indicativo de que os


alunos estão aprendendo. Nesse sentido é importante que procuremos:
 Mostrar em que se equivocaram e explicar o porquê.
 Orientar para a autocorreção.
 Mostrar exemplos positivos de como se diria ou faria aquilo.

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6. Procurar que o aluno responda sempre de modo ativo ao que lhe é proposto. Ajudar
a que fixem metas em cada atividade. Planejar tarefas que facilitem a concentração e
que suponham um pequeno esforço.
O jogo ganha destaque entre as atividades. Muitas vezes, o jogo será a própria
atividade proposta: adivinhações, solução de problemas, competição entre equipe,
etc.
Devem-se empregar todos os meios ao nosso alcance para garantir e manter a
motivação dos alunos: escolha de textos interessantes, recompensas imediatas ao
esforço dos alunos, elogios (reforço da autoestima), atenção e valorização de aspectos
das personalidades dos alunos, etc.

7. Promover a formação de virtudes. Valorizar as tarefas bem acabadas, o cuidado com


os detalhes, o trabalho cooperativo.

8. Estabelecer rotinas positivas cuja repetição será benéfica para os alunos:


 Todo dia comentar brevemente sobre o tempo.
 Toda sexta-feira conversar sobre os planos para o fim de semana.
 Toda segunda-feira conversar sobre o que fizeram no fim de semana.
 Cumprimentar os alunos, sempre em inglês, ao encontrá-los pelos corredores
do colégio.

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

5. Educação Artística

Artes Plásticas
Com a educação plástica pretende-se ensinar a criança a olhar, analisar e
compreender as imagens transmitidas pelos diferentes meios de comunicação:
expressões tradicionais (pinturas, esculturas, etc.) ou modernas (fotos, cinema,
imagens virtuais, etc.). Pretende-se também que o aluno consiga sistematizar sua
atividade espontânea, desenvolver sua criatividade e sua capacidade de comunicação.

Para alcançarmos esses objetivos temos que oferecer ao aluno, de acordo com
sua maturidade pessoal e social, uma gama de possibilidades, de sensações, emoções
e vivências. A utilização de todos os sentidos, a variedade e riqueza de estímulos, a
familiaridade com diferentes tipos de técnicas e materiais unidos às experiências
pessoais dos alunos e seus conhecimentos prévios favorecerão esse processo.

A linguagem plástica baseia-se na representação de formas feita por meio da


percepção de imagens bidimensionais e tridimensionais. Com isso chega-se a uma
linguagem icônica, que favorece a comunicação criativa e enriquecedora.

Com as composições plásticas as crianças dessa faixa etária aprendem a


valorizar os elementos básicos da composição artística: traçados, cores, formas
texturas e volumes. Dessa maneira aprendem a compreender os distintos elementos
que conformam uma obra de arte e a analisar sua composição estética.

Pelo conhecimento dos materiais adquirem a destreza e o domínio necessários


para criar suas próprias imagens. Podemos utilizar todo tipo de material, inclusive
material reciclado ou descartável, e empregaremos as técnicas adequadas à faixa
etária.
O aprendizado nessa área desenvolverá as seguintes capacidades:
 Ler a imagem.
 Analisar uma obra artística.
 Sentir prazer ao apreciar uma expressão artística.
 Usar a representação plástica como meio de expressão.
Os conteúdos didáticos devem abarcar tanto conceitos como técnicas e
atitudes, de modo que o aluno consiga controlar e dirigir suas atividades de percepção
e expressão artística com uma autonomia cada vez maior.
No final do Ensino Fundamental I espera-se que o aluno tenha adquirido:
 Um adequado conhecimento de materiais e técnicas de expressão artística.

121
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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

 Interesse, rigor e paciência na busca de novas e personalizadas formas de


expressão.
 Respeito e curiosidade em relação a diferentes produções artísticas e a
distintas produções culturais.
 Valorização do trabalho individual e em grupo.
 Gosto e prazer diante da atividade plástica.

Música
Educar musicalmente significa transmitir a linguagem musical de forma viva.
Aprender a escutar e produzir música. Será uma educação formativa e estética, na
medida em que tenhamos pensado em canções e peças musicais que estejam de
acordo com os interesses e aptidões interpretativas dos alunos.

A educação musical tem um caráter progressivo. Será a continuação da


educação infantil e deve se adaptar em cada momento às capacidades e interesses
específicos dos alunos. Apresenta também um caráter integral, pois mais do que uma
matéria especial, deve ser entendida como um apoio às demais áreas e como uma
forma de ajudar no desenvolvimento da personalidade da criança.

A sistematização das audições começa na educação infantil. As audições


desenvolvem a audição da criança, favorecem a capacidade de escuta e discriminação
auditiva, cultivam a sensibilidade estética e o gosto pela música, ao mesmo tempo em
que geram um clima favorável para a interpretação e expressão musical.

Com a educação musical espera-se que os alunos sejam capazes de observar,


analisar e apreciar as diferentes realidades sonoras, em particular a musical, produzida
por meio de instrumentos e pela voz humana. Procuraremos preparar o aluno como
intérprete e receptor da música, como realizador expressivo e criativo e como
conhecedor dos rudimentos e da técnica musical, levando-o a reconhecer o papel da
música na sociedade e saber apreciar criticamente suas variadas manifestações.

Um dos principais objetivos dessa matéria é introduzir a criança no mundo da


música como uma experiência prazerosa, fazendo-a participar ativamente nas
audições e interpretações musicais e criando a oportunidade para que realize suas
próprias produções.

Convém trabalhar a música, o movimento e o jogo dramático com a mesma


naturalidade com que as crianças andam, correm e se comunicam. Para tanto, devem
aprender o valor do silêncio e a perceber, escutar, discriminar, expressar comunicar e
elaborar seu “pensamento musical”.

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

A compreensão da linguagem técnica se realizará paulatina e organicamente de


maneira que desenvolvam a capacidade criadora e aprendam a interpretar e a
expressar-se cada vez com maior técnica e estética. Os recursos utilizados serão a voz,
os instrumentos, os movimentos e as audições ativas. O aprendizado da leitura e
escrita da notação musical se fará mediante a seleção de um repertório apropriado à
faixa etária. A metodologia escolhida deve permitir primordialmente a familiarização
do aluno com a realidade musical, priorizando a participação ativa mais do que a
transmissão de conceitos.

A destreza manual deve ser desenvolvida nos alunos muito antes que entrem
em contato com algum instrumento. É preciso desenvolver todas as possibilidades e
capacidades motoras esperadas para a faixa etária com a qual estamos trabalhando.

A educação musical no projeto Snipe deve proporcionar no final do ciclo as


seguintes capacidades:
 O reconhecimento e compreensão da linguagem musical.
 A identificação de formas e frases musicais.
 A percepção e memorização de fragmentos musicais.
 A expressão vocal e instrumental.
 Os hábitos de ordem, do trabalho bem feito e do esforço pessoal.

Arte Cênica
Com a dramatização o aluno amplia largamente suas possibilidades de
comunicação e expressão. Utiliza sua voz e seu corpo, o espaço e o tempo como
recursos cênicos que enriqueçam sua expressão.

Esta área apresenta um caráter eminentemente interdisciplinar, conectando


com facilidade com as áreas de Linguagem, de Educação Física e de Inglês (ou outros
idiomas).

Através dos exercícios dramáticos, da encenação teatral, da mímica, da troca


de papeis, do uso de marionetes, etc., o aluno desenvolve suas capacidades e explora
as possibilidades de sua personalidade. A habilidade para a representação dramática
depende das oportunidades que são oferecidas e da aprendizagem de recursos
teatrais adaptados à faixa etária.

Máscaras e maquiagem podem ser usadas para gerar segurança nas crianças no
momento em que se apresentarem diante dos colegas. Os objetos usados nas

123
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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

encenações estimulam a capacidade espacial e podem ser úteis na elaboração de


pequenas improvisações individuais ou coletivas.

6. Educação Religiosa

A. Características do ensino religioso no nosso projeto


1. Exposição do núcleo essencial da mensagem cristã anunciada pela Igreja Católica.
2. Diálogo aberto e respeitoso com outras áreas do saber, que ajude ao aluno a realizar
uma síntese entre fé e cultura.
3. Favorece a abertura do aluno à transcendência, oferecendo uma hierarquia de
valores e atitudes e um sentido para a vida.
4. Desenvolve um trabalho o mais interdisciplinar possível, de maneira a contribuir
para a consecução dos objetivos gerais do projeto Snipe.

B. Orientações metodológicas para as aulas de religião


1. Partir da experiência do aluno. A reflexão sobre situações do dia a dia, próprias ou
alheias, pode servir como ponto de partida para alcançar uma compreensão mais
profunda do Evangelho.
2. Privilegiar a linguagem audiovisual. Os alunos dessa faixa etária ainda estão na fase
concreta. A observação de gravuras, desenhos, filmes ou fotografias incita ao diálogo e
à reflexão. Também é importante estimular a capacidade auditiva por meio de
canções.
3. Conceder uma particular importância à atividade pessoal do aluno. O trabalho
individual favorece o processo reflexivo e contribui para uma aprendizagem
significativa. No entanto, isso não tira a importância do trabalho em grupo, que é uma
boa estratégia para o desenvolvimento da dimensão social do aluno. O trabalho em
pequeno ou grande grupo oferece a possibilidade de participação de todos além do
intercâmbio de ideias.
4. Aplicar estratégias de indagação. Sua principal característica consiste em servir de
estímulo ao aluno para realizar atividades de busca e pesquisa que podem ser muito
variadas. É interessante incentivar a “aprendizagem por descoberta”, aproveitando a
grande curiosidade e o perfil indagador do aluno nessa faixa etária. A coleta de
informações e sua posterior organização e sistematização constituem um meio muito
adequado para a aprendizagem significativa.
5. Empregar simultaneamente diversas técnicas de didáticas. Sabemos que os alunos
aprendem mais quando o professor aplica diversas técnicas de ensino-aprendizagem.
Umas vezes recorrerá à exposição oral do tema, outras suscitará o diálogo com os
alunos a partir da observação de gravuras ou da audição de uma canção, outras
poderá ser interessante o trabalho em grupo, em outro momento será interessante
pedir um exercício de expressão plástica. O professor poderá utilizar essa diversidade
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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

de estratégias sem perder nunca de vista os objetivos que pretende alcançar em cada
caso. É preciso selecionar muito bem as atividades para que sejam motivadoras,
estimulem a curiosidade e promovam uma atitude positiva em relação ao aprendizado.
6. Ter consciência de que os alunos são diferentes entre si. No processo educativo
procuramos que cada aluno alcance seu máximo desenvolvimento pessoal e exercite
realmente suas capacidades. Para isso cabe ao professor o desafio de adaptar os
ensinamentos e as atividades às possibilidades, necessidades e interesses de cada
aluno. O trabalho individual, bem programado, facilita sem dúvida que cada criança
desenvolva melhor o ritmo de aprendizado que lhe é próprio.
7. Estimular a expressão pessoal do aluno. Além de oferecer um claro conhecimento
da mensagem cristã, a formação religiosa deve contribuir para que os alunos adquiram
um bom sentido crítico e que sejam capazes de expressar seus próprios sentimentos,
opiniões e convicções de forma serena e respeitosa.
8. Desenvolver a linguagem e o vocabulário religioso básico. Já vimos anteriormente
que a leitura e a escrita se convertem em atividade mecânica quando o aluno
desconhece - de forma significativa - os termos que lê ou escreve. Por isso convém que
o professor de ensino religioso esteja bem coordenado com a área de Linguagem para
que possa utilizar as técnicas mais adequadas, segundo a faixa etária com a qual
trabalhará, de maneira a garantir um aprendizado significativo. É muito importante
que tanto na Biblioteca de sala de aula quanto na do colégio haja uma boa seleção de
livros relacionados com a fé ou com os valores cristãos.
9. Valorizar a memória. A memorização não é a única nem a principal estratégia no
processo de ensino-aprendizagem. No entanto, é uma estratégia válida que não deve
ser desconsiderada, tal como preconiza o Papa João Paulo I: “certa memorização das
palavras de Jesus, das passagens bíblicas mais importantes, dos dez Mandamentos, das
fórmulas da Profissão de Fé, de algumas orações essenciais, de pontos chaves da
doutrina cristã, é uma verdadeira necessidade 1”. Evidentemente o papel da memória
irá adquirindo uma importância gradual à medida que os alunos forem crescendo.
Quando são pequenos – no 1º e 2º ano do Fundamental – podem aprender orações e
fórmulas doutrinais bem simples.
10. Estabelecer as bases para um diálogo com a realidade cultural. Mostrar a
influência mútua entre a fé cristã e a estruturação da cultura ocidental na qual
estamos inseridos. Ajudar que os alunos sejam capazes de avaliar os fatos culturais
(ideias, comportamentos, etc.) à luz da fé.
11. Criar nas aulas de religião um clima que facilite a liberdade do aluno. Deve-se agir
assim, não somente pelo respeito a um possível pluralismo religioso entre os alunos,
mas também pelo imperativo evangélico: o conhecimento da fé é oferecido e não

1
Cfr. Exortação Apostólica Catechesi Tradendae, n. 55

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imposto. No diálogo com os alunos, o professor de religião tem a oportunidade de


testemunhar que a fé cristã oferece respostas às grandes questões existenciais.
12. Transmitir um conteúdo especificamente religioso. O professor deve estar atento
para que a aula não se desvirtue para temas de ordem geral e de simples análise de
fatos e acontecimentos. Deve também estar atento para que o uso de recursos
metodológicos - partir da experiência do aluno, análise de filmes, etc. – não leve a uma
redução na transmissão da mensagem cristã. O ensino religioso deve ser claro e levar o
aluno a adquirir, pouco a pouco, uma visão elementar da fé católica e dos conceitos e
atitudes chaves da mensagem cristã.

C. Materiais e recursos didáticos


O professor de religião frequentemente será, no Ensino Fundamental I, o
professor regente. Nada impede que possa ser algum outro professor da equipe
educadora (o professor de Educação Física ou Artes, etc.). Nas aulas de religião se
empregarão recursos didáticos semelhantes aos empregados nas outras áreas:
 Observação de fotografias, gravuras e quadros.
 Projeção de vídeos.
 Pintura e desenho, modelagem e recortes.
 Dramatizações.
 Audições de músicas religiosas, clássicas e populares.
 Leituras de textos da Bíblia e em especial do Evangelho.
 Leitura de testemunhos cristãos positivos (exemplo dos santos).
 Técnicas de expressão escrita (a partir do momento que os alunos sejam
capazes).
 Técnicas de expressão oral.
 Visitas culturais (igrejas, catedrais, museus, etc.).
 Interpretar gráficos, localizar em mapas, fazer esquemas e resumos.
 Técnicas simples de memorização mecânica e compreensiva.
 Pesquisas em livros, dicionários, etc.

7. Educação Física
A área de Educação Física envolve um aprendizado vivenciado de seus
conteúdos, uma vez que estes dizem respeito a todas as experiências relacionadas ao
corpo e ao movimento do aluno. Os alunos são protagonistas desse aprendizado.
Pouco a pouco vão conhecendo e dominando os movimentos e enriquecendo seu
comportamento motor.

O movimento constante e investigador é uma realidade inerente ao aluno


nessa etapa escolar. Daí que os conteúdos da área de Educação Física sejam relevantes

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e significativos para os alunos. Cabe ao professor a tarefa de direcionar o potencial


motriz, dotando-o de riqueza e eficácia.

A vitalidade motriz dessa faixa etária deve ser contemplada na elaboração das
atividades e deve ser atendida na concepção metodológica das aulas. Nesse sentido, é
bom evitar as organizações rígidas dos alunos, exposições ou demonstrações
demoradas, etc. Todo o ambiente escolar deve favorecer a espontaneidade e a
autonomia do comportamento motor infantil.

O desenvolvimento do comportamento motor requer capacidade de esforço e


implica relação com os demais. Esse processo é uma escola de valores humanos e
sociais, que ajudam ao reto desenvolvimento da personalidade da pessoa.

A brincadeira ou o jogo é uma atividade na qual intervêm todas as faculdades


(físicas, cognitivas, volitivas e estéticas) da criança, provocando seu desenvolvimento e
permitindo que o mesmo seja espontâneo, pleno e alegre. Enquanto joga, a criança
explora o mundo físico e o ambiente social: aperfeiçoa conceitos, amplia e enriquece o
vocabulário, exercita sua capacidade de atenção e memória, alimenta sua imaginação,
melhora seu condicionamento físico e a aplicação funcional das habilidades motoras.

Por tudo o que foi dito, os processos de ensino-aprendizagem na área de


Educação Física devem adotar sempre uma metodologia ativa, isto é, a escolha de
estratégias didáticas que levem os alunos a serem os protagonistas da sua própria
aprendizagem. O processo de ensino-aprendizagem consistirá em propor situações
motoras nas quais o aluno, partindo de seus interesses e do grau de capacidades
prévias, tenha que utilizar as faculdades motoras para resolver novas situações.

O enfoque globalizador na área de Educação Física


A área de Educação Física não foge da grande característica curricular do
projeto Snipe: a interdisciplinaridade. No caso da Educação Física as linhas de conexão
com as demais áreas se estabelecem em dois planos: o procedimental e o temático. No
plano procedimental procura-se integrar as destrezas motoras básicas nas diferentes
capacidades que serão desenvolvidas nas demais áreas (motricidade fina, lateralidade,
noção espacial, etc.). No plano temático, o fio condutor é determinado pelos centros
de interesse, como, por exemplo, o conhecimento do corpo humano e suas funções.

Em relação ao conteúdo específico da Educação Física, o enfoque


interdisciplinar sugere também contemplar algumas pautas de intervenção educativa:
a) no começo dessa etapa escolar, as crianças não apresentam uma aptidão física
diferenciada, pelo contrário, os esquemas corporais e movimentos são globais, sem
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diferenciar claramente os segmentos corporais. A intervenção educativa deve levar à


superação desse sincretismo, promovendo situações que permitam analisar e
relacionar o todo com suas partes, além de enriquecer os esquemas corporais e
espaços-temporais, ajudando a estruturar o esquema corporal de cada aluno.
b) A razão evolutiva exposta unida às características neurológicas da faixa etária com a
qual trabalhamos, aconselha que as tarefas motoras tenham as seguintes
características: propor exercícios globais de fácil execução, para pouco a pouco
localizar os segmentos corporais; partir de movimentos naturais e espontâneos da
criança, focando a atenção em aspectos perceptivos do movimento (do próprio corpo
ou do ambiente); propor ações motoras contextualizadas que impliquem
funcionalidade motora (os jogos, por exemplo), mas que exijam concentração.
c) Toda situação motora, cotidiana ou esportiva, exige do aluno capacidades de
percepção, decisão e execução. Por isso mesmo, toda tarefa de aprendizagem deverá
exigir a utilização ótima dessas três capacidades, ainda que o grau de complexidade
com que cada uma vai ocorrendo dependerá da tarefa concreta e do estágio de
desenvolvimento físico do aluno.

Sobre as unidades didáticas


O aprendizado de qualquer conteúdo motor, dado ao seu caráter cíclico e
progressivo, leva o professor a questionar-se sobre as habilidades e conteúdos prévios
necessários para que se possa aceder a novos conhecimentos ou habilidades.
Identificar os esquemas motores e conhecimentos prévios dos alunos constitui o ponto
de partida para a programação e o desenvolvimento de situações e atividades, pois
condicionará o êxito dos novos processos de ensino-aprendizagem.

Nos 1º e 2º anos é fundamental desenvolver a habilidade do aluno para


perceber a si mesmo e o entorno num contexto dinâmico, utilizando para isso padrões
motores básicos em tarefas jogadas ou jogos de baixa organização. Essas situações
permitem a espontaneidade, são motivadoras e adaptam-se à maioria dos alunos.

A partir do 3º ano se inicia a análise das ações segmentárias para conseguir


uma correta execução técnica das habilidades motoras básicas. A análise das diversas
estratégias empregadas pelos alunos nos exercícios e jogos permitirá também o
aprendizado funcional eficiente e criativo das habilidades básicas nas mais diferentes
situações. A utilização dos esquemas motores em outras situações permite aumentar
seu desempenho. Nessa etapa é necessário incentivar a observação do próprio corpo e
do movimento a ser realizado, com todos os sentidos possíveis, a fim de adquirir uma
boa consciência corporal. São úteis as situações que permitam aos alunos sentirem a
tensão muscular (na contração e no relaxamento), as mudanças de posição e a busca
do equilíbrio, o ritmo respiratório, etc.

128
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A observação e análise dos movimentos permite ainda o desenvolvimento da


capacidade de relação entre os segmentos corporais. Nos primeiros anos do Ensino
Fundamental I devem ser estabelecidas relações simples e progressivamente chegar a
relações mais complexas e refinadas.

Todo o processo anterior leva, no final de uma ou várias sessões, a tirar


conclusões, tanto no que diz respeito à atividade motora em si, quanto aos aspectos
relacionados com a mesma: hábitos de higiene física e mental, boa alimentação,
valores humanos, etc. Para que as conclusões sejam bem captadas pelos alunos, elas
podem ser expressas de forma verbal ou por escrito.

Para comprovar o grau de aprendizagem dos esquemas motores que os alunos


vão adquirindo convém observar o desempenho dos alunos nas tarefas jogadas ou
jogos. Deve-se observar a capacidade de resposta dos alunos diante de novos
estímulos e a capacidade de selecionar as ações motoras mais adequadas para dar
uma resposta correta e eficaz.

Sobre a técnica metodológica


Existem diversos estilos e técnicas de ensino na área de Educação Física que
não são nem melhores nem piores, quando comparados entre si. Tudo depende do
para que, para quem e de como serão utilizados. Isso exige, portanto, uma escolha
consciente do professor, que deve dominar o conceito e as aplicações dos diversos
estilos, técnicas de ensino e estratégias práticas.
A título de orientação sobre o que foi dito anteriormente, vale o exemplo sobre
um elemento metodológico básico em Educação Física: o jogo. Como todo recurso
didático e metodológico, o jogo não é a panaceia para os problemas de ensino-
aprendizagem. Ele apresenta vantagens e desvantagens. Por exemplo, ele é um mau
instrumento para a aprendizagem de elementos de execução complexa, mas
demonstra-se um recurso adequado - por seu fundamento de busca e de atividade
contextualizada e lúdica – para aprender a utilização funcional das destrezas e
habilidades motoras em situações nas que a habilidade perceptiva e a tomada de
decisões são exigidas.

Sobre a intervenção docente


O objetivo final de um projeto educativo é conseguir eficácia na intervenção
educativa, nos processos de ensino-aprendizagem. Em tal caso, a aula constitui o
centro efetivo do projeto docente. A aula é o instrumento operativo que permite ao
professor desenvolver sua atividade de ensino e aos alunos seu processo de
aprendizagem, a partir de uns conhecimentos prévios, na busca de novos objetivos
educativos. Mas, se tais objetivos não são alcançados, ocorre um fracasso do plano
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docente, que deve ser devidamente analisado. A aula representa, então, o elemento
chave do projeto curricular, por ser o cenário da construção de novas aprendizagens.

Os fatores metodológicos que fundamentam o desenvolvimento de uma boa


aula de Educação Física podem ser agrupados em cinco blocos: apresentação da
atividade, implicação motora do aluno, clima positivo da aula, atenção pessoal dos
alunos, aprendizagem do jogo. A seguir apresentamos algumas exigências didáticas
que requerem cada um deles visando à eficácia docente:

Apresentação da atividade
a) explicar para os alunos os objetivos da aula facilita a aprendizagem e
incrementa a motivação. Isso pode levar a uma colaboração mais ativa por parte dos
alunos e facilita, depois, a autoavaliação.
b) adotar a posição mais conveniente em cada momento, para que a
mensagem seja bem entendida. Para dar informações gerais ao grupo, o professor
deve posicionar-se de forma que todos o vejam e ouçam bem. Para dar orientações
individuais, o professor deve aproximar-se do aluno a quem se dirige. Para observar a
atividade, o professor se posicionará onde consiga ver claramente a todos os alunos.
c) os deslocamentos do professor atenderão sempre a um motivo concreto, de
acordo com o que necessita cada fase da tarefa: seguimento do grupo para observar e
corrigir movimentos, percorrer o grupo de maneira ordenada, para que cada aluno
receba uma atenção individual, etc.
d) proporcionar a informação necessária e adequada para a formação teórica
dos alunos.
e) despertar o interesse, captar e manter a atenção dos alunos, durante a
apresentação da tarefa motora, são requisitos metodológicos de uma boa informação.
f) destacar com claridade os indicadores de êxito e as condições que permitem
obter o maior êxito na tarefa. Isso facilita que os alunos formulem uma ideia geral da
tarefa e elaborem seu programa motor concreto. Ao iniciar o aprendizado de uma
habilidade, são necessárias poucas informações, como muito, um ou dois critérios para
o êxito da habilidade. Os demais dados devem ser acrescentados gradativamente ao
longo do processo.
g) justificar a tarefa que os alunos irão realizar. Ao apresentar uma tarefa, o
professor procurará justificar sua importância dentro do processo de ensino-
aprendizagem e os requisitos para sua realização. Essa explicação pode ser mais
técnica (científico) ou mais informal, dependendo do tipo de tarefa e da idade dos
alunos.
h) escolher com atenção o local e a situação dos alunos para a passagem das
informações de maneira a evitar distrações e garantir a compreensão de todos.

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i) dar a maior quantidade possível de feedback aos alunos sobre a execução das
tarefas e resultados atingidos, tanto em nível coletivo quanto individual.
j) organizar as tarefas segundo uma correta progressão de aprendizagem. As
atividades devem ser apresentadas aos alunos numa sequência pensada para conduzir
à boa execução dos movimentos e habilidades. A análise do grau de intensidade e/ou
complexidade de cada tarefa permitirá modificá-las ou adaptá-las às necessidades
pontuais da sala, de grupos ou de alunos específicos.
k) controlar as contingências. As possíveis ocorrências numa aula de Educação
Física são de ordem metodológica, quanto à forma de realização dos exercícios, e as
relativas à segurança dos alunos na realização dos exercícios. No primeiro caso, o
professor deve estar atento para efetuar a devida correção; no segundo caso, convém
desenvolver um trabalho preventivo revisando as instalações que serão usadas pelos
alunos, relembrando aos alunos as normas de segurança antes do início das atividades;
coibir ações não controladas e atitudes perigosas; prever a ajuda necessária em tarefas
que impliquem risco; advertir os alunos sobre os elementos da tarefa que exigem mais
atenção.
l) selecionar a técnica de aprendizagem mais eficaz segundo o objetivo a ser
atingido.
m) selecionar a estratégia prática mais condizente com o objetivo proposto.

Implicação motora do aluno


Por implicação motora entendemos o tempo efetivo durante o qual o aluno
está realizando uma atividade motora na aula de Educação Física. O tempo usado na
atividade física é o fator chave para o desenvolvimento da competência motora, ainda
que os níveis que se alcancem estarão subordinados também a outros fatores, como:
adequação das tarefas aos objetivos propostos, habilidades prévias do aluno,
motivação, feedback do professor, etc. Por isso, é fundamental:
a) prever na grade horária, pelo menos, três aulas por semana de Educação
Física.
b) incrementar, nos 1º e 2º anos do Fundamental, a atividade motora com
atividades de conteúdo perceptivo-motor (Padrões motores), e a partir do 3º ano, com
o oferecimento de escolas esportivas (vôlei, futsal, etc.) e campeonatos internos.
c) garantir o maior tempo possível de atividade motora durante a aula.
d) propor tarefas específicas que estejam adequadas aos objetivos propostos.
e) propor tarefas que tenham um grau de dificuldade suficiente para desafiar
positivamente o aluno, ao mesmo tempo em que sejam exequíveis pelo empenho
pessoal.
f) transmitir de forma breve e objetiva as informações sobre a tarefa a ser
realizada. Essa objetividade por parte do professor redunda num ganho de tempo para
a implicação motora do aluno.
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g) motivar constantemente a atividade motora do aluno. A motivação dos


alunos nas aulas de Educação Física é algo muito natural, mas o professor deve estar
atento e incrementar ainda mais a motivação do aluno – por meio de feedbacks ou
palavras de incentivo. Chamar a atenção dos alunos para o bom desempenho
individual ou coletivo é também uma forma de motivação.
h) controlar e acompanhar o deslocamento do grupo da sala de aula ao
vestiário ou a quadra (e vice versa) para garantir a ordem, a rapidez e a segurança.
i) programar bem cada aula prevendo: o material que será usado, a reserva do
espaço a ser utilizado, etc. A programação prévia ajuda a que o maior tempo possível
seja dedicado à atividade física.
j) organizar grupos de trabalho (equipes) estáveis por um período mais ou
menos longo. A organização dos alunos por equipe favorece o trabalho em conjunto e
agiliza o tempo da aula de Educação Física. As equipes podem ser formadas tanto pelo
professor como pelos alunos, tudo dependerá da idade dos mesmos e dos objetivos a
serem atingidos.
k) convém evitar jogos de eliminação, pelo menos na parte principal da aula. É
importante que todos os alunos possam participar o maior tempo possível das
atividades.
l) convém programar bem as atividades de forma que não haja filas de espera
aguardando o momento de participar.
m) verificar constantemente que todos os alunos estão participando das
atividades. Esse olhar atento do professor é fundamental para que todos se sintam à
vontade nas aulas.
n) animar que os alunos desenvolvam outra atividade física fora do colégio.

O clima positivo da aula


Um clima positivo durante a aula e uma boa interação educativa exige do
professor:
a) demonstrar um sincero interesse por todos os alunos.
b) procurar ser justo e tratar a todos com igualdade.
c) aceitar com simpatia as características pessoais de cada aluno e os resultados
que, honestamente, vão obtendo ao longo das aulas.
d) mostrar uma permanente atitude de ajuda e estímulo.
e) elogiar os esforços, especialmente dos alunos que apresentam uma
dificuldade concreta. O elogio deve ser breve e proporcional. Não é necessário que
seja feito em público, muitas vezes a aproximação do professor e a conversa direta
com o aluno manifesta mais atenção e gera mais confiança no aluno.
f) permitir que os alunos manifestem com liberdade suas opiniões.
g) exigir que todos sejam educados e tolerantes com os companheiros.

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h) estabelecer normas claras de comportamento. Lembrá-las oportunamente,


sem esperar que sejam desrespeitadas para fazer isso.
i) evitar por completo o uso de ironias, comportamentos descorteses ou
violentos. Coibir também essas atitudes nos alunos.

Um aspecto que precisa ser considerado quando nos referimos a um clima


positivo durante a aula é o tema da disciplina e das possíveis sanções no caso de
situações disciplinares mais sérias. De um modo geral, é preferível evitar sanções,
salvo em casos extremos. Como uma ação positiva convém que as normas de conduta
sejam claras e bem conhecidas pelos alunos. Quando acontecem problemas
disciplinares durante a aula de Educação Física, o professor deve intervir com
prontidão e firmeza, mas de modo sereno. Nunca convém agir de forma precipitada ou
indignada. Sempre que seja possível, convém relacionar a sanção com a falta
cometida. Também não se apresenta formativo usar a supressão da atividade física
como sanção. Caso não pareça haver alternativa, é preciso garantir que o aluno se
ocupe em outra atividade, se possível, relacionada com a atividade física.

Atenção pessoal aos alunos


O aluno condiciona o processo de ensino-aprendizagem com suas
características pessoais: seu grau de maturidade, o desenvolvimento de suas
competências motoras, seu ritmo pessoal de aprendizagem, seus interesses e
motivações pessoais. Naturalmente o professor tratará a cada aluno de acordo com
sua singularidade. Com essa atenção pessoal ajuda-se o aluno a conhecer-se, a
desenvolver suas aptidões, a reconhecer suas deficiências e os meios para superá-las.
Nesse processo deve ficar claro para o aluno que qualquer processo de melhora
pressupõe o esforço pessoal.

Esta atenção pessoal exige do professor estabelecer um quadro prévio, o mais


real possível, do nível de aprendizagem de cada aluno. Somente com esse
conhecimento, o professor será capaz de determinar o rendimento que se pode
esperar de cada aluno. Além disso, nos casos em que se detecte uma deficiência será
possível trabalhá-la desde o início, evitando impactar a posterior evolução do aluno ou
do grupo.

A verificação do nível inicial de cada aluno que entra na etapa do Ensino


Fundamental é importante também porque em muitos casos a procedência dos alunos
é diversa.

Como as aptidões prévias de cada aluno constituem o ponto de partida


obrigatório para que sua aprendizagem seja significativa, a verificação do nível inicial
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de cada aluno não é somente necessária no 1º ano, mas pode ser feita no início de
cada novo ciclo acadêmico ou, inclusive, no início de cada novo conteúdo. Além disso,
é preciso conhecer seus ritmos de aprendizagem, de maneira a garantir uma
intervenção educativa eficaz.

Se, através das verificações prévias, o professor constata algum tipo de


deficiência, deve lançar mão do que chamamos adaptação curricular, um processo
didático que possibilita a atenção pessoal aos alunos, enquanto ajusta a aprendizagem
às diferentes realidades individuais. Caso as diferenças entre os alunos sejam pouco
significativas, bastará uma informação suplementar segundo a qualidade da execução
individual dos exercícios. Caso as diferenças sejam muito significativas, o professor
provavelmente terá que alterar a progressão da matéria (aumentando ou diminuindo a
variedade ou frequência de atividades), variar a metodologia, sugerir treinamentos
fora do horário das aulas, etc. Todas essas medidas sempre serão adotadas de acordo
com a coordenação pedagógica para que haja uma ação educativa unitária.

No que se refere a alunos com um desempenho acima da média, o professor


proporá objetivos individuais adequados e estimulantes, de maneira que nunca fiquem
inativos ou entediados durante as aulas.

No que se refere a alunos portadores de necessidades especiais, o professor


deve estudar juntamente com a coordenação e, se houver necessidade, com o
profissional especializado que segue a criança, a melhor forma de adaptar o currículo e
de projetar os resultados que se podem esperar do aluno. É interessante também
projetar uma linha de superação, compatível com as circunstâncias da criança.

Como podemos perceber, nessa atenção pessoal aos alunos, o professor deve
conjugar: o conhecimento do nível inicial geral do grupo, o conhecimento do nível
inicial de cada aluno e o marco referencial dos graus de destrezas (habilidades e
competências) esperadas para cada faixa etária. Assim, é possível construir um projeto
curricular real, flexível e estimulante. Como é lógico, não se deve esperar uma resposta
motora única e válida para todos, mas, melhorar a competência motora de cada aluno
com relação a seu ponto de partida e de acordo com seu potencial de aprendizagem.

Por fim, o professor deve assegurar-se de que cada aluno cresça no esforço e
na motivação por melhorar sempre mais o seu desempenho em todos os âmbitos:
motor (habilidades esportivas), conceitual (teoria esportiva) e comportamental
(valores humanos relacionados com a prática esportiva).

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Os ensinamentos do jogo
Dado que uma boa parte das aulas de Educação Física inclui algum tipo de jogo,
parece aconselhável recordar certos aspectos metodológicos sobre a apresentação dos
jogos e sobre a ação pedagógica.
Ao apresentar a atividade aos alunos, quando se tratar de algo novo para eles,
o professor deve garantir que todos ouçam e entendam bem as regras e as
características do jogo. Todos sem exceção devem entender o jogo.
O jogo representa uma situação privilegiada para a intervenção educativa. O
professor observará o jogo e o desempenho dos alunos não somente do ponto de vista
técnico, mas também comportamental. Nesse sentido, o educador pode aproveitar o
jogo para:
a) ensinar, com o motivo da arbitragem, a obediência, o respeito ao juiz e as
regras.
b) estimular o autocontrole: evitando a desordem e a grosseria.
c) ensinar a usar a inteligência. A criança deve perceber que se administra sua
força sua corrida é mais eficaz. Se estiver mais atenta ao jogo, sua reação é mais
rápida.
d) ensinar valores como o trabalho cooperativo, solidariedade, o respeito ao
oponente, etc.

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Capítulo VI - PROGRAMAÇÃO DE ATIVIDADES

1. AS UNIDADES DIDÁTICAS QUINZENAIS

Em cada unidade didática, distinguem-se dois tipos de objetivos:

 Os Objetivos Fundamentais, que devem ser dominados por todos os alunos,


por responderem aos conteúdos básicos e pela sua importância formativa.
 Os Objetivos Individuais, que permitem aprofundar em quaisquer dos aspectos
da unidade didática e estender ao interesse cultural dos alunos, segundo a
capacidade ou às preferências individuais de cada um. Também devem ser
exigidos, uma vez que asseguram o desenvolvimento da personalidade própria
de cada estudante. Dentro destes objetivos, por sua vez, devem-se ressaltar:
o Os Objetivos Individuais Atribuídos, que supõem uma ampliação a
respeito dos objetivos comuns e devem ser estabelecidos pelos
professores, para cada aluno, ou para o grupo de alunos.
o Os Objetivos Livres, propostos pelo aluno — por atenderem aos seus
interesses e preferências — ou escolhidos entre uma variada oferta.

Esta distinção:

 favorece uma Metodologia Ativa de ensino-aprendizagem na aula;


 respeita e atende à diversidade do alunado;
 respeita o ritmo e a capacidade de cada um, procurando o rendimento mais
satisfatório possível de cada aluno: trata-se de colocar todos os meios
necessários (entre eles, o tempo adequado) para que todos os alunos dominem
o fundamental e estejam em condições de continuar sua aprendizagem sem
lacunas, uma vez que se oferece aos alunos mais capazes a possibilidade de
realizar outras atividades mais complexas;
 facilita que todos os alunos aprendam os conteúdos básicos e importantes,
necessários para aprendizagens posteriores;
 permite uma autêntica orientação de trabalho pessoal do aluno;
 estimula e proporciona a aprendizagem autônoma do aluno.

Os Objetivos Fundamentais
 Os conteúdos básicos da matéria são: importantes, necessários (base,
fundamento) para aprendizagens posteriores. Todos os alunos (que não

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tenham problemas especiais de aprendizagem) devem ser capazes de aprendê-


los.
Podem haver objetivos fundamentais que durem todo o ano (geralmente
aqueles que se referem a procedimentos), o que será fundamental é o nível ou
o grau de dificuldade, que deverá ser exposto detalhadamente.
 Não tem por quê serem fáceis, nem poucos, nem curtos, nem somente de
conhecimentos.

Os Objetivos Individuais
 Não se trata de adiantar o tema seguinte, mas de aprofundar o tema que está
sendo trabalhado, por meio de atividades que suponham colocar em prática
mais capacidades e de um modo mais perfeito. Tampouco necessitam ser
difíceis ou "de grande nível": alguns serão e outros não.
 Devem ser realmente individuais: não serão os mesmos para todos.
 Ajudar um colega em sua aprendizagem, por exemplo, pode ser um objetivo
individual importante para um determinado aluno.

A distribuição do tempo de aprendizagem


A. Primeira semana dedicada à aprendizagem de objetivos fundamentais.
 O trabalho de aula é geralmente (não tem que ser sempre) conjunto. Vai-se
trabalhando (não somente ou unicamente expondo) os objetivos fundamentais
e realizando as atividades necessárias para assegurar a interiorização.
 É muito importante ir comprovando se todos os alunos estão aprendendo
adequadamente (avaliação formativa).
 Aos alunos mais capazes pode-se propor dois tipos de objetivos individuais: a
monitoria de algum companheiro com especial dificuldade e algumas
atividades especiais (mais adequadas ao seu nível de aprendizagem).
 Ao final deste período avalia-se (não necessariamente com um exame geral) a
assimilação das aprendizagens propostas e trabalhadas.
 O aluno que supere todos ou quase todos (85-90%) dos objetivos
fundamentais, passará a trabalhar os objetivos individuais na semana seguinte.

B. Aprendizagem dos objetivos individuais atribuídos (o mais comum deveria ser que
estes objetivos atribuídos não superassem 30-40% dos objetivos individuais que um
bom aluno trabalha. Dentro dos atribuídos estariam:
 Aprendizagem (se for o caso) de 10% dos objetivos fundamentais não
totalmente assimilados. Isto impõe o sentido comum de que: por serem
objetivos fundamentais, interessa colocar os meios para que sejam dominados
por todos os alunos.

137
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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

 Monitorias. Levando em conta que o aluno não será monitor todos os dias. Este
objetivo individual será especialmente valorizado, porém, não podemos abusar
das monitorias de modo que impeça o aluno de aprender mais objetivos.
 Trabalho dos objetivos individuais atribuídos propriamente: aqueles objetivos
que, sem ser fundamentais, supõem uma primeira ampliação e
aprofundamento dos objetivos fundamentais: são os que todos os alunos
deveriam saber mais dos fundamentais (é frequente que os professores que
pontuam excessivos objetivos fundamentais, incluam estes objetivos
individuais atribuídos nos objetivos fundamentais.)

Em um segundo momento, nos encontraremos com:

 Alunos de menos capacidade ou mais lentos, que continuam reforçando os


objetivos fundamentais porque ainda não os superaram. Isto supõe que os
alunos que aprendem o que tinham por aprender, tem a possibilidade real de
demonstrar ao professor que conseguiram superar os objetivos fundamentais e
passar aos objetivos individuais atribuídos.
 Alunos que trabalham os objetivos individuais atribuídos.
 Alunos que trabalham os objetivos individuais de livre escolha, quer seja dentre
os propostos pelo professor ou sugeridos pelo próprio aluno.

Nesta segunda semana também cabe a explicação para toda a classe de alguns ou de
todos os objetivos. Bastaria, por exemplo, dedicar 10 minutos para explicar algum ou
alguns objetivos a todos os alunos. Na sequência, cada um trabalharia no seu nível,
com suas atividades.

A Recuperação
A Recuperação está incorporada no mesmo processo: nas semanas de objetivos
individuais, os alunos seguirão o seu ritmo de recuperação dos objetivos fundamentais
não alcançados, com o tipo de atividades que necessitam.

2. A GLOBALIZAÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL

O termo "ensino globalizado" converteu-se, no decorrer do tempo, em um


tópico que foi acrescentado ao se falar dos primeiros níveis de escolarização, porém, é
necessário especificar os conteúdos.

Em primeiro lugar, é importante considerar a diferença entre métodos globais e


ensino globalizado. Os métodos globais de ensino podem — e devem — ser utilizados

138
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na aprendizagem de uma só matéria (área natural, área social, leitura/escrita etc.), e


consistem em adquirir as aprendizagens através do seguinte processo:

 Observação do objeto ou fenômeno a ser estudado, através do contato, em seu


estado normal ou natural. A esta fase corresponde a utilização de sínteses
iniciais ou visão de conjunto da estrutura e conteúdo de uma área ou de uma
unidade da mesma.
 Análise mais detalhada de seus componentes e da relação entre eles.
 Síntese final para alcançar, de novo, uma visão global ou integradora, porém
desta vez, mais coerentemente coordenada.

O ensino globalizado pretende, como os métodos globais, aproximar a criança


do conteúdo da aprendizagem. Para isso, parte-se do princípio, que a máxima
aproximação se dará quando os conteúdos são apresentados com a mesma
estruturação ou organização que a criança os percebe na realidade.

Considera-se que um método é globalizado quando, as aulas se desenvolvem


por meio de um centro de interesse, integrando um grupo de disciplinas, e os objetivos
vão sendo desenvolvidos por meio das diferentes atividades que serão realizadas.

Dando um passo além, é necessário organizar as matérias de estudo, simulando


situações reais, para que os alunos cheguem as soluções. As matérias parceladas, tal
como frequentemente são estudadas, não respondem, geralmente, a uma situação
vital.

As situações apresentadas devem responder aos interesses das crianças, às


suas experiências, vivências e necessidades. Para isto, utiliza-se projetos concretos que
devem ser trabalhados e realizados pelos alunos, através dos quais, vão descobrindo
verdades e adquirindo conhecimentos, destrezas e valores necessários para poder dar
resposta a sua curiosidade. A globalização, segundo o que viemos dizendo, é uma
necessidade psicológica da criança, não somente porque esta capta os fenômenos de
uma forma global, mas também porque necessita de uma resposta global às suas
indagações, e não várias respostas em função da matéria que corresponde a cada
momento. Por isso se tem dito que a globalização leva a uma resposta que relaciona,
entre si, os dados sobre uma realidade, vistos pelas diferentes ciências que a estudam.

A globalização não é uma matéria que se possa estudar, é um estilo de ensino,


um modo de trabalhar que considera todas as disciplinas como colaboradoras para a
compreensão de uma única e complexa realidade. Na vida não existem "disciplinas"
separadas, e sim "situações concretas".

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Portanto, as globalizações, tal como se tem entendido majoritariamente até


agora, consistiam em desenvolver um centro de interesse para o qual era necessário
lançar mão das diversas matérias ou saberes. Desta forma, os conteúdos de ditas
matérias não se adquirem sistematicamente, mas sim em função do que encaixava nos
ditos centros de interesse.

No entanto, é necessário levar a diante a globalização de tal forma que ela


mesma exija o desenvolvimento sistemático de todas, e cada uma das aprendizagens
das distintas áreas. Isto é, que a realização dos diversos projetos esteja baseada em
todos os conhecimentos que estão previstos adquirir em cada área. Deste modo, se
consegue um ensino de acordo com a psicologia infantil, experimental, motivador, e
garante aprendizagens integradas e, ao mesmo tempo, diversificadas em áreas. Com
ela, consegue-se que os conhecimentos das diferentes matérias não sejam aprendidos
de forma abstrata, mas sim como reflexo de uma realidade próxima do aluno.

3. AS ATIVIDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM

A seleção das atividades de ensino-aprendizagem melhor adaptadas para cada


aluno, através das quais se alcançarão os objetivos previstos, constitui, sem dúvida
alguma, a tarefa mais importante e completa de toda a programação.

As atividades devem ser organizadas por meio de tarefas ou pequenos projetos


com sentido que a criança deve executar. A tarefa é um conjunto organizado de
atividades que orienta o processo de aprendizagem do aluno.

Requisitos da atividade
1. Intencional. O amadurecimento natural das diferentes aptidões não pode ser
chamado educativo; é educativo o que é adquirido por meio de esforço voluntário,
intencional, de um modo mais ou menos direto.

2. Na educação nos interessam os atos que aperfeiçoam a criança. O acerto do


educador consiste em potencializar as energias que possuem uma clara e valiosa
ênfase de aperfeiçoamento, deixando sem oportunidade de desenvolvimento as que
tenham um caráter negativo. Interessam, pois, os atos de valor positivo.

3. A realização de algo externo é sinal de assimilação interior.

4. Os atos verdadeiramente positivos são aqueles que comprometem toda a pessoa, os


que colocam em jogo as energias psíquicas e biológicas.

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Tipos de atividades
A seguir serão apresentados diferentes tipos de atividades necessárias para o
desenvolvimento de uma unidade didática completa, indicando as fases que
caracterizam o modelo de aprendizagem.

a) Atividades de iniciação

São aquelas propostas pelo professor com a finalidade de motivar e introduzir a


aprendizagem, ou de facilitar ao aluno a relação com experiências ou conhecimentos
anteriores. Exemplos: Debates sobre um ponto ou um tema relacionado com a
unidade didática, apresentação de livros, folhas ou objetos, excursões, passeios etc.

b) Atividades de Exploração

Inclui o conjunto de atividades mais características dos métodos ativos. Sua


finalidade é que os alunos tenham a oportunidade, a ocasião de descobrir a
informação. Exemplos: observar objetos, situações. Medir, classificar, colecionar, ler,
manipular, perguntar, comparar, desenhar etc.

c) Atividades de integração

São aquelas de caráter individual ou grupal, que estão direcionadas para os


alunos organizarem e relacionarem os dados obtidos. Exemplos: Fazer informativos
orais ou escritos, debates de sínteses (colocadas em comum) etc.

Queremos destacar a importância dessas atividades. Os dados obtidos pelo


aluno na fase anterior, se não se inter-relacionam, não serão aprendidos como partes
de um todo, mas sim de forma isolada.

d) Atividades de criação

São aquelas que se produzem como resultado da transformação dos


conhecimentos adquiridos em elementos ativos para novas aprendizagens, surgidos
como consequência da autoestimulação da criança, que provoca processos de
curiosidade e de criação imaginativa. Exemplos: realizar experiências, formular e/ou
resolver problemas etc.

e) Atividades de fixação

Este tipo de atividade tem como finalidade consolidar o aprendizado e evitar o


esquecimento. São tarefas tradicionais de exercitação e memorização. Exemplo:
repetir, perguntas e respostas, revisão etc.

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f) Atividades de aplicação

São dirigidas para proporcionar ocasiões de verificação, e comprovação de suas


próprias descobertas ou para fazer uso do que foi aprendido. Exemplo: realizar
experiências, formular e/ou resolver problemas, etc.

Princípios do ensino ativo a que se referem as atividades


a) As situações problema, frequentemente, colocam em tensão a atividade mental,
enquanto que as dogmáticas incitam a passividade.

b) Estimula-se mais a atividade dos alunos com dificuldades acessíveis. Quando o


professor faz e resolve tudo, não há espaço para o esforço pessoal. Mas quando a
dificuldade é insolúvel e ultrapassa os meios que o aluno dispõe, aparecem a
frustração e a passividade.

c) O aprender operativo é um "aprender fazendo". Trata-se de um fazer que, em


algumas ocasiões, acontecerá pela realização de um trabalho externo e, em outras,
limita-se a desenvolver as capacidades do estudante. Sempre que seja factível, o aluno
deve realizar algo bem feito, materializando a sua aprendizagem.

d) Na programação de trabalho, o professor deverá pensar menos, no que ele vai


fazer, e mais no que o aluno irá realizar.

e) A atividade interessante é o melhor meio de manter a disciplina. A indisciplina nas


crianças desta idade provém, quase sempre, do aborrecimento.

f) As tarefas mais motivadoras são as que possuem maior significado real para a
criança.

g) É importante estimular a atitude de superação, mantendo cada um em competição


consigo mesmo, para que consiga conhecer suas conquistas o quanto antes. Não há
nada que convide mais à passividade do que sentir-se anônimo, perdido entre a massa.

h) Devemos cultivar o trabalho autônomo. As atividades que levam a criança à


autoaprendizagem são, por si só, mais eficazes e motivadoras que aquelas em que se
requer a ajuda do professor. Estas deve reduzir-se ao essencial, já que qualquer
intromissão, no que cada um pode realizar por si só, é pedagogicamente
contraproducente.

Ao selecionar atividades deve-se levar em conta:

 as necessidades educativas dos alunos;


 os recursos (materiais, humanos, de tempo) que se dispõem;
 sua incidência na promoção de hábitos;

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 sua dimensão integral de potencializar um maior número de capacidades.

4. A MOTIVAÇÃO DAS APRENDIZAGENS

Motivar é predispor os alunos ao esforço. É oferecer razões, motivos de valor


capazes de despertar nos alunos a atenção e o interesse. Os motivos ou razões mais
eficazes e de efeitos mais duradouros, sempre são os internos: os sobrenaturais —
agradar a Deus com o próprio trabalho — e os nobres humanos, como sentir a
satisfação do cumprimento do próprio dever e de realizar um trabalho bem feito, a
alegria de servir e de sentir-se capaz de fazer algo pelos demais.

A primeira fonte de motivação para a aprendizagem é o desejo natural por


saber. O ir aprendendo, motiva, por sua vez, novas aprendizagens. Dito de outro
modo: um ensino eficaz, é por si só motivador. De fato, os alunos declaram sentir-se
mais motivados pelo professor que prepara cuidadosamente suas aulas, que sabe
organizar o trabalho, que exige de forma razoável um rendimento proporcional e que
revisa as tarefas diariamente.

Uma realidade que na prática não se deve esquecer é a de que os alunos


devem saber desde o primeiro momento que trabalho lhes é pedido, quais objetivos
devem alcançar e quais meios possuem para consegui-lo. A desmotivação para uma
aprendizagem deve-se mais, em muitas ocasiões, à uma situação de ignorância, do
que, a uma indisposição atitudinal do estudante. Saber para que se faz algo, ou seja,
conhecer a relação existente entre as atividades que realiza e os objetivos que
pretende conseguir, é enormemente motivador.

As tarefas criativas são mais motivadoras que as repetitivas. Deve-se priorizar a


motivação externa nas tarefas rotineiras e de memorização, e a motivação interna nas
tarefas de aprendizagem conceitual, resolução de problemas e que impliquem
criatividade.

O conhecimento dos resultados é um forte estímulo para corrigir os erros e


melhorar, por isso, deve-se indicar aos alunos os resultados dos seus trabalhos o
quanto antes possível. O reconhecimento dos acertos no trabalho realizado é
percebido pelo aluno como um êxito, e a esperança de obter mais êxito estimula a
reiterar o comportamento aprovada pelo professor. O reconhecimento dos acertos de
um aluno ou de um grupo de alunos em uma tarefa determinada, motiva mais que o
reconhecimento do fracasso. O registro dos progressos na consecução das metas

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propostas pode com frequência aumentar a motivação interna, assim como conhecer
as causas do êxito ou do fracasso em uma determinada tarefa.

As atividades devem ser graduadas de tal forma que, a partir das mais fáceis, o
aluno vá obtendo êxitos sucessivos. O grau de dificuldade da tarefa deve ser
adequado. Se a exigência é pouca, os alunos mais brilhantes, que reagem ante o
desafio, perdem o interesse. Se a dificuldade é excessiva, os menos capazes perdem a
motivação. Como não é possível encontrar tarefas que sejam adequadas a todos os
alunos, simultaneamente, é imprescindível uma diferenciação dos objetivos. A
motivação consiste em estimular o esforço e em estabelecer uma dificuldade razoável
para que uma tarefa seja possível. As mudanças moderadas, no nível de dificuldade e
complexidade de uma tarefa, favorecem a motivação em quem a realiza, ao serem
atraentes e agradáveis. As mudanças bruscas provocam atitude de recusa e podem
conduzir ao desânimo.

A relação com a vida extraescolar é uma fonte poderosa de motivação. Quando


se relaciona de forma significativa, um novo conteúdo com algo já aprendido, com
conteúdos de outras áreas ou com a sua realidade, o aluno o compreende melhor e a
aprendizagem se globaliza, sendo assimilado com muito mais facilidade, que o
conteúdo carente de sentido.

A elaboração significativa das tarefas escolares gera motivação e as tarefas


repetitivas e descontextualizadas, não. A aprendizagem é significativa quando tem
sentido para o aluno, coisa que não ocorre com a aprendizagem de memorização
mecânica.

É necessário valorizar as tarefas e esforços realizados pelos alunos, pois se isso


não é feito com certa frequência, a motivação inicial tende a extinguir-se e, em
consequência, faz cair o nível de rendimento.

O grau de estimulação dos alunos deve ser o adequado: se a estimulação é


muito reduzida não se produzem mudanças; se é excessiva, pode produzir ansiedade e
frustração.

A atmosfera interpessoal na qual se desenvolve o trabalho escolar deve


permitir ao aluno sentir-se apoiado, estimado, respeitado como pessoa e capaz de
dirigir e orientar a sua própria ação. Um ambiente de otimismo aumenta a motivação.
O professor que promove autonomia no trabalho, promove a motivação e a
autoestima. O centrado em si, controla-a e a atenua.

As estratégias operativas e participativas são mais motivadoras que as passivas


e dogmáticas. Os resultados são melhores quando o aluno descobre as verdades, e

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quando as tarefas são realizadas sem coação. Comprometer o estudante em uma


determinada tarefa ou trabalho, leva a um resultado muito positivo.

Ao utilizar um método de ensino indutivo, é interessante inserir ocorrências,


fatos e situações ocasionais da vida real dos alunos no desenvolvimento do tema
correspondente; relacionar o que se ensina com a realidade vivenciada pelo aluno;
partir de fatos e acontecimentos da atualidade, que tenham relevância; utilizar a
experimentação etc. Trata-se de fazer, na medida do possível, que a teoria seja
extraída da prática, procedendo do particular para o geral, do conhecido ao
desconhecido, dos fatos aos princípios, do simples para o complexo.

Convém relacionar, sempre que seja possível, os conteúdos de aprendizagem


com os interesses, necessidades e problemas próprios de cada grupo de alunos
(segundo sua idade, ambiente etc.). O progresso é mais rápido quando os alunos
reconhecem que a tarefa coincide com seus interesses imediatos. Dessa forma, a
motivação é maior quando o material didático, que se utiliza, é variado e adequado ao
conteúdo.

O elogio é útil se surge de um modo espontâneo, não pensado


antecipadamente, e se é dirigido a um trabalho ou esforço concreto. Um aluno
acostumado a frequentes elogios pode cair na vaidade ou sentir-se julgado,
negativamente, quando não é elogiado. Às vezes, um elogio pode ser apresentado
como uma avaliação negativa do resto da classe.

Deve-se evitar a repreensão pública, o sarcasmo, as comparações, a sobrecarga


de tarefas e, em geral, todas as condições desfavoráveis para o trabalho escolar. Ao
contrário, convém utilizar, quando necessário, a repreensão de forma privada. Os
castigos nunca significam uma motivação para o trabalho do aluno. Sempre são mais
eficazes as palavras de ânimo, a confiança nas suas possibilidades de retificação, e o
reconhecimento dos aspectos positivos na conduta e no trabalho do aluno.

As expectativas do professor, sobre o aluno, são profecias que se cumprem por


si só. O aluno costuma render o que o professor espera dele.

A competição, bem entendida, pode ser um excelente recurso de motivação,


quando utilizada de forma grupal, ou quando o aluno a exerce consigo mesmo
(autocompetição), sem esquecer que a aprendizagem cooperativa é mais motivadora
que a aprendizagem individualista e competitiva.

A atitude positiva do professor atua como um poderoso fator de motivação em


seus alunos, já que provoca, neles, atitudes positivas ante a sua pessoa e o trabalho
escolar. Servem como exemplo de atitudes positivas, as seguintes:

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 levar em consideração a opinião dos alunos;


 aceitar as respostas dos alunos, corretas ou não, como tentativas de aprender;
 ser paciente;
 corrigir com bons modos;
 interessar-se pelas dificuldades e problemas pessoais dos alunos;
 reconhecer os esforços dos alunos;
 ter senso de humor;
 ocupar-se equitativamente de toda a classe e tratar a cada um segundo as suas
condições individuais.

5. A PREPARAÇÃO DAS AULAS

A razoável e eficaz atuação educativa do professor se apoia em duas ideias


fundamentais que devem sempre estar presentes:

 Em primeiro lugar, banir a ideia de que a função do professor é explicar o


conteúdo de um tema. A tarefa de um professor é estimular e orientar o
trabalho dos estudantes. Com palavras de Rogers: quanto mais o professor
ensina, menos o aluno aprende.
 Em segundo lugar, uma atividade educativa — uma "lição" no sentido
tradicional da palavra — pode ser estruturada e, é conveniente que o seja,
previamente. Porém a realização do ensino, que é fundamentalmente
comunicação com os estudantes, é complexa, variada, rica e nela intervém, em
grande medida, a disposição e as atitudes do professor.

Sobre essas duas ideias, tanto o desenvolvimento como a realização de uma atividade
educativa completa, que pode ser uma lição, uma unidade didática ou uma sessão
escolar, deve ter os seguintes passos:

1. estudo da situação;
2. estímulos;
3. corpo do trabalho;
4. avaliação;
5. tomada de decisões.

Estudo da situação
É a etapa prévia que geralmente se ignora, com a qual se corre o risco de faltar
eficácia a toda a atividade escolar por falta de fundamento. Este primeiro passo tem
como fim chegar a uma apreciação correta da realidade, que o professor utilizará para
iniciar um ensinamento. O estudo da situação consiste simplesmente na apreciação do
estado dos elementos que a constituem:

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 comprovar que o material que se deve utilizar esteja convenientemente


disposto;
 comprovar as disposições e conhecimentos prévios dos alunos para abordar o
trabalho do qual se trata.

Estímulos
O conhecimento da situação de aprendizagem permite, ao professor, iniciar
com segurança a sua tarefa, gerando nos alunos uma motivação positiva. O estímulo
dos estudantes inclui duas tarefas: informação clara do que se vai fazer e motivação no
sentido estrito.
Quanto a motivação, deve-se dar a importância que ela tem, mas não convém
dramatizar a situação. Muitos professores chegam a acreditar que se não se realiza
uma cuidadosa motivação, os estudantes não aprendem, esquecendo-se do atrativo
que tem a tendência natural a aprender. Existe uma boa probabilidade da motivação
surgir pela satisfação inicial de ter aprendido algo. Também não podemos esquecer
que a maior motivação para o aluno é a personalidade do professor, seu interesse e o
modo ágil, ameno, científico e variado de como prepara as suas aulas.

Corpo do trabalho
Ao preparar a aula, deve-se levar em conta que a etapa de trabalho é a mais
importante, pela qual se deve dedicar a maior parte do tempo. É também a etapa em
que o professor necessita utilizar todos os recursos pessoais e materiais. Através das
atividades de aprendizagem os alunos colocam em prática e desenvolvem as suas
capacidades e destrezas.
Para estimular e orientar as atividades dos alunos, o professor tem ao seu
alcance todos os recursos que, sistematicamente, se estudam na metodologia
educativa e que convém não correr o risco de esquecer: a palavra, o material
pedagógico, a lousa e as mídias.

Avaliação e Tomada de decisões


É o último momento, posterior ao andamento do programa de atividades,
porém previsto de antemão na programação.
Trate-se de conhecer até que ponto os objetivos programados foram
conquistados, para tomar outras decisões que levem as melhoras necessárias. A
avaliação vai acompanhando os demais momentos da unidade didática.

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6. OS DEVERES DE CASA

Entende-se por dever escolar, toda a atividade encomendada pelo professor,


para que seja realizada por um aluno em sua própria casa.

Não importa o tipo de tarefa: memorizar um texto, estudar uma lição, resolver
um problema, fazer uma tradução, um desenho, uma composição escrita, preencher
uma ficha, ou fazer uso de múltiplos trabalhos práticos como recortes, coleções,
construções, etc.

Na hora de pensar na importância dos deveres escolares deve-se levar em


conta o seguinte:

1. A preparação para a vida é uma das manifestações do fim da educação. Ao


programar os deveres escolares, o professor deve lembrar que é fundamental procurar
que as situações reais sejam motivo de reflexão no colégio e, por sua vez, que as ideias
que foram adquiridas no colégio, tenham aplicações na vida externa do estudante. Por
outro lado, são um meio, não o mais importante, para conseguir uma comunicação
diária entre os pais e os professores. O aluno é portador do que se pensa e se vive na
família e é preciso que, essas realidades, sejam utilizadas no colégio.

2. Todas as entidades educativas que atuam sobre um aluno devem estar relacionadas
entre si, sendo assim, a família e o colégio devem manter uma relação constante de
mútua cooperação.

3. Os deveres são necessários para que o aluno, estimulado, orientado e ajudado no


colégio, encontre-se em uma periódica e regular situação na qual a sua aprendizagem
dependa de seu esforço pessoal, sem contar com as ajudas externas de outras
pessoas, concretamente do professor ou colegas. É um bom momento para iniciar os
hábitos de estudo, por isso, é aconselhável que o professor fale com os pais e lhes
aconselhe uma série de detalhes para que este trabalho seja eficaz: hora, lugar, tempo
idôneo etc.

Os deveres e o trabalho em casa devem exigir pouco tempo, o menor possível


para que cada estudante consiga cumpri-los. Não obstante, se a criança encontra gosto
e satisfação nelas, pode-se fazer deste princípio uma exceção. É uma boa ocasião para
levar em conta a possível pró-atividade ou recuperação dos alunos.

Os trabalhos exigidos devem ser supervisionados pelo professor, para que não se
perca boa parte da motivação e eficácia desse trabalho.

Os deveres escolares serão utilizados sempre que necessário, e procurar-se-á:

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 que se adaptem às necessidades dos alunos;


 que sejam planejados e controlados pelo professor;
 que possam ser objeto de comunicação e relação com outros membros da
família;
 que não requeiram gasto econômico extraordinário.

Além disso, convém que reúnam algumas das seguintes condições de eficácia:

 que sirvam como campo de aplicação das ideias adquiridas no colégio. As


aprendizagens de matemática, conhecimento de mundo etc., serão
verdadeiramente vivas, na medida em que forem utilizadas para
compreender a realidade familiar e social, na qual o aluno se desenvolve;
 que facilitem o desenvolvimento e realização dos projetos pessoais e
objetivos individuais;
 que estimulem a criatividade do aluno facilitando o desenvolvimento de
seus passatempos e aptidões especiais;
 que promovam conversações ou trato — não ajuda material — de pais ou
irmãos.

Indicadores de conduta positiva do professor ante os deveres escolares:

 destaca a importância dos deveres;


 indica ou comenta o procedimento para fazer as tarefas que encomenda;
 oferece a possibilidade de realizar trabalhos voluntários;
 sugere que se anote o dever na agenda;
 indica o tempo aproximado de execução;
 assegura-se de que todos os alunos tenham compreendido a tarefa;
 averigua as causas pelas quais não se tenha feito os deveres;
 corrige os deveres com prontidão;
 pede para refazer atividade mal apresentada;
 sugere trabalhos diferentes para os distintos grupos de alunos;
 está pendente de que o aluno não se veja, realmente, sobrecarregado pelo
excesso de deveres escolares.

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

Capítulo VII - CONHECIMENTO, PROJETO PESSOAL E AVALIAÇÂO


PERSONALIZADA DO ALUNO

A. CONHECIMENTO DO ALUNO
Nenhuma tarefa educativa deve surgir, sem primeiro ser considerada a quem
está destinada; os professores precisam conhecer as características da pessoa a quem
será dirigido seus ensinamentos. Este conhecimento torna-se, relativamente, simples
de ser adquirido quando se conta com uma elementar base psicológica.

É necessário conhecer a cada aluno para orientar seu correto desenvolvimento


e adaptação ao grupo e ao centro escolar. Também, para estar em condições de
prevenir as possíveis dificuldades e superar as que se apresentem nesta etapa, básica
para as aprendizagens posteriores.

Ainda que o objetivo deste Manual não seja o de abarcar todas as técnicas
possíveis de conhecimento do aluno, oferecem-se aqui os aspectos elementares para
um professor de Ensino Fundamental.

1. Aspectos gerais
As crianças, como todas as pessoas, em qualquer lugar, são infinitamente
diversas, independentemente de que procedam de uma determinada classe social,
cultural ou econômica; daí a dificuldade que a psicologia evolutiva tem na hora de
estabelecer delimitações precisas das características que se manifestam em
determinadas idades. Por conseguinte, as características evolutivas agrupam-se
segundo os processos mais significativos que têm lugar nestas idades.

Atualmente, não existe dúvida de que um bom desenvolvimento sensório-


motor durante a infância é a base para uma aprendizagem adequada. Este
desenvolvimento incide de forma notável no psiquismo das crianças, uma vez que o
desenvolvimento intelectual apoia-se na maturidade do sistema nervoso. Os exercícios
físicos que a criança realiza favorecem o desenvolvimento de sua percepção, atenção,
inteligência, vontade etc. São, além do mais, a melhor prevenção para as dificuldades
de leitura e escrita.

No sexto ano de vida, aproximadamente, aparecem mudanças fundamentais na


criança, tanto somáticas quanto psicológicas. É uma etapa de mudança e transição.
Nela, que antes era equilibrada e cujo desenvolvimento fluía com suavidade e

150
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lentidão, surgem novos impulsos, sentimentos e ações. Nesta idade, tende aos
extremos: sua conduta começa a desintegrar-se, algumas vezes é briguento e outras
retraído. Também é a idade das mudanças físicas (queda de dentes, infecções etc.).

Deve-se levar em consideração que na evolução do ser humano sucedem-se


dois períodos: o primeiro tem como características mais peculiares a ação, a expansão,
a captação e o progresso; enquanto que no segundo momento se organizam,
assimilam e amadurecem as mudanças ocorridas na fase anterior. A criança de 6 anos
encontra-se no primeiro desses períodos, dirigida à atividade e ao desenvolvimento
progressivo.

Não se trata simplesmente de aperfeiçoar habilidades que já possuía aos 5


anos, mas sim, que se adentra em territórios completamente desconhecidos, explora
novos caminhos. Este é mais um passo ao encontro de sua maturidade evolutiva.

Em contrapartida, a idade de 7 anos geralmente é um momento de assimilação


e acomodação das experiências adquiridas nas etapas anteriores. A bipolaridade
explosiva dos seis anos abre espaço à ordenação das novas experiências e impressões.
Esta vivência de seu mundo interior não é feita na solidão, mas tomando consciência
dos demais como "outros eu", como pessoas semelhantes a ele. A partir desta idade, o
desenvolvimento evolutivo da criança caracteriza-se pela abertura e uma maior
maturidade em todos os sentidos.

2. Perfil do desenvolvimento da criança de seis anos


As crianças com seis anos completos ou a ponto de completar, normalmente já
adquiriram algumas destrezas e um desenvolvimento que se pode sintetizar da
seguinte forma:

Desenvolvimento motor
 Participa de atividades direcionadas para aumentar a resistência física e a força
muscular, com brincadeiras de ritmo, música e bola;
 Tem uma perna e uma mão mais hábeis; possui um hemisfério dominante. Vai
amadurecendo e interiorizando sua estrutura espacial e temporal;
 É uma idade tipicamente ativa. A criança encontra-se em atividade
frequentemente;
 Equilibra conscientemente seu próprio corpo no espaço. Possui equilíbrio e
controle de seus movimentos. Começa a interessar-se por sua própria
anatomia.

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Desenvolvimento cognitivo
 Começa a articular todos os sons e experimenta-os. Usa corretamente os
tempos verbais, os plurais e os pronomes. Troca informação objetiva, porém
lhe custa expressar ideias e sentimentos. Gosta de adivinhações e de jogos de
palavras. Adquire um vocabulário crescente e usa de forma correta a maioria
das palavras que conhece. Compreende frases elaboradas. Lê
compreensivamente.
 Passa da aprendizagem intuitiva ao pensamento concreto. Segue acumulando
experiência suficiente para distinguir entre realidade e fantasia. Este mundo de
realidades se forma graças a sua maior memória para recordar as experiências
e a sua maior capacidade para simbolizá-las;
 Quer aprender coisas. Mais que "para que serve?", pergunta "como funciona?".
Encanta-se com contos de aventuras reais: já não lhes interessam os contos de
fada. É capaz de projetar a maneira de resolver um problema e de
compreender suas consequências. Identifica um objeto pelo tato.
 Quer agradar o seu professor. Necessita seu elogio, atenção e ajuda. Deseja
seriamente trabalhar, apesar de seus altos e baixos.
 Instintivamente a criança identifica-se com tudo o que lhe acontece e está ao
seu redor. Por isso, está capacitado a interiorizar novos conhecimentos e novas
experiências pessoais e culturais. Seus desenhos espontâneos são mais
realistas. Capta o primitivo e simples da natureza: casa, árvore, etc.

Desenvolvimento afetivo e social


 Possui iniciativa. A criança de seis anos demonstra que se sente apta para lidar
com sua rotina diária, que pode ser líder de seus companheiros e que pode
aceitar o afeto de quem lhes cuida habitualmente e desenvolvê-lo. Desfruta da
companhia dos demais, ainda que siga querendo fazer as coisas à sua maneira.
 É o centro do seu próprio universo. Egocêntrico. Dominador, obstinado e
agressivo. Emocionalmente excitável, desafiador. Tem um comportamento
inconsequente ao tentar encontrar formas de relação que tenham êxito. Troca
frequentemente de amizades. Baseia-se em suas normas para julgar seus atos e
os de seus companheiros de brincadeira.
 Recorre aos adultos para receber conselhos sobre as normas morais e culturais.
Assimila os padrões de conduta próprios da cultura em que vive. Possui certa
noção do bem e do mal, relacionado, ainda fundamentalmente, com atividades
aprovadas ou desaprovadas por pais e professores.
 Tem dificuldade para decidir. Reage lenta ou negativamente ante uma ordem,
porém, passado o tempo, pode colocá-la em prática espontaneamente, como
se se tratasse de sua própria ideia.

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 Agrada-o ter grande número de coisas suas, porém não as cuida. Seu sentido
ante a propriedade alheia é débil, assim, pega o que vê e deseja,
independentemente de quem seja o proprietário. Extremamente dominante
quanto às coisas que lhe pertence.
 Tem medo de barulhos, sobretudo aos elementos da natureza (chuva, trovão),
de seres humanos e de fantasmas.
 A mãe já não é o centro do seu mundo, agora, ele mesmo é quem ocupa este
lugar. Esta autonomia da criança frente às mães, ainda não é completa, sendo
muito sensível aos estados de ânimo e às tensões. Respeita e admira mais o
pai, lhe agrada brincar com ele.
 Brinca com as demais crianças, especialmente m grupos pequenos e da mesma
idade, ou pouco maiores que ela. Tem grande interesse em fazer novos amigos,
em ter amigos e estar com eles. Nas brincadeiras há discussões e brigas, pelo
fato de cada um querer fazer as coisas à sua maneira. Em suas relações abunda
o sentido de reciprocidade: "você me faz isso, eu te faço aquilo..." Porém essa
inclinação à briga contribui para o amadurecimento e faz parte do processo de
integração. Em suas relações utiliza, com frequência, o sentido de
reciprocidade: "você me faz isso, eu lhe faço aquilo..."

Aquisição de hábitos de conduta


 Ainda está no período sensitivo da sinceridade;
 Começam os períodos sensitivos das virtudes humanas básicas (laboriosidade,
generosidade, amizade, fortaleza etc.), que formam o caráter e durarão até os
doze anos, começo da puberdade.

Desenvolvimento religioso
 Terminou o período sensitivo da existência de Deus e das primeiras práticas de
piedade e ainda não começaram outros períodos sensitivos de
aprofundamento, que levam a viver as práticas adquiridas.
 É importante não esquecer a importância que tem, o exemplo de seus pais e
educadores, para o desenvolvimento da sua vida cristã.

3. Perfil do desenvolvimento da criança de sete anos


Desenvolvimento motor
 É menos ativo, menos impulsivo e mais concentrado em si mesmo que a
criança de seis anos.
 Consciente de seu corpo. Pudor natural.

153
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 Completa a definição de sua lateralidade dominante. A coordenação alcançada


permite-lhe iniciar na atividade desportiva.

Desenvolvimento cognitivo
 Suas capacidades vão ficando mais complexas e melhor diferenciadas. A
atividade cognoscitiva manifesta-se, fundamentalmente, através da percepção
e compreensão da informação, a memória, a geração de ideias e hipóteses, a
avaliação, o raciocínio e a associação livre de ideias. Estes processos se aplicam
aos conceitos, às regras, às imagens e aos símbolos.
 Cada vez é mais capaz de falar dos conceitos (em detrimento das imagens) que
vai formando e pode comunicá-los.
 Concretiza e interioriza mais suas estruturas de espaço e tempo.
 Vai melhorando a sua capacidade de trabalho individual. Deseja completar sua
tarefa, uma vez começada. Propenso a esperar muito de si.
 Produz-se um notável aumento na qualidade de execução de problemas que
requeiram atenção. Continua aumentando a capacidade de memória imediata.
 Exige com impaciência a atenção e ajuda do professor e tende a afeiçoar-se a
ele.

Desenvolvimento afetivo e social


 Mais consciente de si mesmo e introvertido. Parece viver em "outro mundo".
Reflete mais, antes de atuar; não que seja mais medroso, mas está mais
deliberativo.
 Está desenvolvendo seu sentido ético (distinção do bem e do mal), não
somente a respeito de si, mas também em relação às outras pessoas.
 Sensível ao elogio e à crítica. Ansioso em agradar, comparando-se com os
demais, o que facilita a disciplina.
 Sofre menos pesadelos. É a figura central de seus sonhos.
 O interesse e sentimento familiar são muito intensos. Melhora a relação com a
mãe e ocorrem menos tensões que antes. Geralmente, é bom com os irmãos,
porém, frequentemente, ciumento. Quer ter seu próprio lugar no grupo
familiar.
 Brinca mais socialmente e vai diminuindo a inclinação pela competição. É
menos dominador, interessa que aprenda a perder. Prefere companheiros de
brincadeiras, mais velhos que ele. Começa a insinuar-se a verdadeira
cooperação, por isso, um bom momento para iniciá-lo no trabalho em equipe.

Aquisição de hábitos de conduta


 Ainda está no período sensitivo da sinceridade.

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 Começam os períodos sensitivos das virtudes humanas básicas (laboriosidade,


generosidade, amizade, fortaleza etc.), que formam o caráter e durarão até os
doze anos, começo da puberdade.

Desenvolvimento religioso
 Nesta idade, deve-se despertar na alma da criança o "sentido de Deus". Deus é,
antes de tudo, um bom Pai que o conhece, o ama, que o cuida e o acompanha
sempre. Deus Pai nos enviou seu Filho Jesus, para salvar-nos e guiar-nos até o
céu.
 É um bom momento para desenvolver a capacidade de diálogo simples e
espontâneo da criança com Deus como Pai, com Jesus como Irmão e Amigo,
com Maria, Mãe de Deus e nossa, com seu Anjo da Guarda; também para
fomentar o amor a Jesus Sacramentado com pequenas Visitas a Jesus e a
devoção confiada à Santa Maria, por exemplo, celebrando suas festas de algum
modo.
 Convém que as crianças tenham ocasião de expressar corporalmente, através
de gestos simples, sentimentos religiosos, como ajoelhar-se, beijar o crucifixo
ou uma imagem da Virgem, fazer o sinal da Cruz etc.
 É importante, também, ajudar a criança a criar algumas atitudes básicas
humanas e religiosas, partindo da experiência de valores humanos
fundamentais. Junto com as normas de conduta que se vão oferecendo à
criança, vai-se dando as motivações religiosas das mesmas, principalmente
através do exemplo de Jesus e Maria.

4. Perfil do desenvolvimento da criança a partir dos oito anos


Antes de enumerar algumas das peculiaridades específicas, das crianças desta
idade, deve-se deixar claro que seu desenvolvimento constitui uma sequência
contínua, sem interrupções bruscas, nem saltos de uma etapa para outra, ainda que os
diversos estudiosos do tema apontem com denominações concretas cada estágio pelo
qual transcorre esta evolução. Desta forma, a passagem de um momento evolutivo a
outro não ocorre da mesma maneira, nem na mesma idade em todas as pessoas, ainda
que ocorra de forma aproximada, o que permite singularizar cada idade com matizes
diferenciados, sabendo que em toda esta etapa predominam as mesmas
características, que se modificam paulatinamente conforme a passagem dos anos.
Estas características variam em profundidade entre o início e o final do Projeto Snipe,
momento em que os alunos alcançam, de forma geral, o estágio de operações formais,
que supõe mudanças decisivas em sua forma de aprender e relacionar-se.

155
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Após estas observações, apontam-se as peculiaridades consideradas mais


relevantes nas alunas e alunos da segunda etapa, e que fundamentam a ação
educativa. Os pontos que serão destacados a seguir, são basicamente comuns, porém,
podem aparecer em maior ou menor grau, segundo as condições pessoais e
socioculturais de cada aluno e aluna. Convém tê-los em conta porque, de forma geral,
servirão como apoio para a atuação em sala de aula. De qualquer forma, é
imprescindível o conhecimento pessoal de cada um dos alunos.

Desenvolvimento físico
 As crianças de 8 a 10 anos crescem fisicamente a um ritmo mais lento que em
idades anteriores, porém são sensivelmente mais altas e "espigadas" que as da
etapa anterior (6 e 7 anos).
 Os meninos são mais delgados, as meninas, em contrapartida, são ligeiramente
mais altas e seu aspecto é mais arredondado, com maior abundância de tecido
adiposo no tórax e nos quadris; estas características prevalecerão até a
adolescência, na qual os meninos ultrapassarão as meninas em altura e
musculatura. Até os 10 anos, em algumas meninas, já se manifestam traços de
pré-puberdade.
 As proporções corporais variam pouco. O tamanho está muito relacionado com
a procedência sociocultural e racial. Os que possuem uma nutrição adequada,
controle médico e higiene, podem ter altura e força maiores dos que carecem
de tais cuidados.
 Entre os 8 e 10 anos a altura e a força é muito valorizada entre os meninos, e,
proporciona, aos mais desenvolvidos, prestígio social e maior êxito nas
atividades desportivas. Influencia a conduta, a personalidade, o autoconceito e
a segurança.

Os desenvolvimentos biológicos mais notáveis são:


 A visão está totalmente desenvolvida. Há total coordenação entre as duas
vistas e existe uma maturidade e preferência lateral ocular. Também podem
estar superadas algumas alterações visuais infantis, como o estrabismo.
 A percepção auditiva de estímulos e tons está totalmente desenvolvida nestas
idades.
 As proporções do rosto vão mudando e a expressão é mais madura; o crânio
cresce mais, já que quase todo o desenvolvimento cerebral está realizado. As
feições adquirem um tamanho semelhante ao que terão de adulto, devido à
mudança de dentição sofrida entre os 6 e 8 anos, com o conseguinte
crescimento das mandíbulas.
 O sistema ósseo atravessa uma etapa de lento crescimento. Os ossos são,
todavia, mais flexíveis, com menor risco de fraturas, o que facilita a

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flexibilidade para o movimento, a agilidade e a atividade físico-desportiva que


tanto os atrai.
 O sistema nervoso atinge a maturidade até os oito anos. Durante alguns anos
prosseguirá — ainda que a ritmo mais lento — a associação neuronal. Como
consequência do desenvolvimento dos tecidos corticais do cérebro, produzem-
se mudanças rápidas nas capacidades mentais, como recordar, abstrair, atribuir
significados a pessoas e objetos, classificar, associar e discriminar, o que
permite à criança realizar melhores aprendizagens e ajustes pessoais e sociais.
 O sistema digestivo funciona corretamente e já foram superadas dificuldades
tipicamente infantis, ainda que seja preciso cuidar da alimentação, porque
podem aparecer alterações endócrinas: gordura ou magreza notáveis, que
repercutem em outras áreas de conduta e adaptação.

A frequência ao colégio é mais regular, pois as típicas enfermidades infantis são


menos frequentes, ainda que persistam algumas, associadas às mudanças climáticas,
como as gripes e alergias. As meninas podem ser mais propensas às doenças típicas de
estação, e os meninos aos problemas gastrointestinais.

Convém ter uma atenção especial às doenças imaginárias ou reativas a estados


emocionais inadequados. Podem aparecer como mecanismos para melhorar ou aliviar
situações alteradas ou mal toleradas. Entre elas, interessa destacar os vômitos, as
gastrites, a anorexia nervosa, a enurese, a asma ou as reações alérgicas sem causa
física. Podem ser sintomas de uma relação interpessoal inadequada, seja familiar ou
no colégio. É necessário detectar e tratar o quanto antes melhor, estes
comportamentos, e averiguar suas causas.

Desenvolvimento Motor
Caracteriza esta etapa de passagem dos 6-7 anos aos 8-10, uma grande
abertura e maturidade, acompanhadas de vitalidade, expansividade e curiosidade por
tudo o que lhe rodeia e pelo movimento. Seu corpo e interesses fazem com que este
momento seja ideal para iniciar e aprimorar habilidades motrizes porque:
 seus corpos são muito flexíveis e estão maduros para dominar exercícios e
esportes com simplicidade;
 são muito audazes. Sentem-se muito dispostos e com grande motivação para
ensaiar tudo o que é novo e treinar, esforçando-se todas as vezes que seja
necessário, em exercícios repetitivos, até conquistar o hábito motor;
 não se importa em cometer erros e repetir as mesma ação uma e outra vez,
para conseguir padrões musculares, até conquistar a perfeição;
 possuem uma grande disposição para aprender e maior tempo para exercitar-
se na prática se lhes são oferecidas oportunidades;

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 É o momento idôneo de adquirir interesses novos e enriquecer seus tempos


livres, o que estimulará a sua inteligência e sociabilidade.
 O exercício motor proporciona alegria, segurança e saúde.
 Ainda que não haja um progresso substancial na evolução dos centros nervosos
— sua maturação já está praticamente acabada —, as investigações sobre o
desenvolvimento motor coincidem em que nos encontremos no período
sensitivo da aprendizagem das técnicas de execução motriz, de modo que o
treinamento nestas destrezas e habilidades motrizes básicas, produzem os
máximos níveis de eficácia. Terão maior domínio nas habilidades motrizes que
forem exercitadas neste período: desenhar, escrever bem, pintar, modelar,
dançar, atividades desportivas.
 A precisão nos movimentos e a rapidez de execução aumentam notavelmente.
É a época da coordenação fina e adaptação ao espaço e ao tempo das ações
motrizes e sensoriais. Poderíamos dizer que passa de ser dominado pelos seus
movimentos a dominá-los.

Os aspectos quantitativos do movimento vão se tornando, gradualmente, mais


patentes: corre mais, pula mais, lança com maior potência e precisão, aguenta um
esforço durante mais tempo etc. Aumenta a riqueza das condutas motrizes, que se
traduzem em:

 maior destreza na manipulação de objetos, dos utensílios de trabalho ou de


jogo. A motricidade fina se aperfeiçoa: usa as mãos independentemente uma
da outra, brinca com os dedos, pode escrever durante um tempo prolongado
etc.;
 possibilidade de realizar por si só, com maior perfeição, atos como vestir-se e
despir-se, comer, etc., que antes realizava de forma mais torpe;
 perfeita coordenação de pés e mãos;
 destreza nos exercícios físicos.

Consequência disso é a satisfação que encontra nos jogos e exercícios físicos,


nas excursões ou saídas de estudo. Outra manifestação é a tendência de exibir suas
habilidades e força, e competir com seus companheiros.

Podem exceder-se no exercício físico, porque lhes custa relaxar após um jogo
ou um pouco de esporte. Convém estar pendente para evitar o esgotamento ou a
super excitação.

Sua compreensão das regras e o desenvolvimento de seus interesses sociais, os


levam a preferir, paulatinamente, os jogos de associação de regras.

Definida sua lateralidade, são mais hábeis em seus comportamentos motores e


lhes agrada ostentar suas habilidades. O domínio da lateralidade, facilita a correta
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localização e orientação espaço temporal, a comunicação com os demais e a memória


em termos de tempo e espaço.

A compreensão espaço-temporal é condição prévia para compreender as


relações antecedente-conseguinte em termos de causalidade; também tem relação
com:

 o desenvolvimento da atenção. A capacidade para manter atenção e postura, já


é bastante duradoura — várias horas ao dia;
 a habilidade gráfico-estrutural (capacidade de fixar-se, reter, interpretar e
representar estruturas graficamente), especialmente importante para a
aprendizagem da ortografia;
 o interesse pelos fenômenos do meio físico e social, ao facilitar a compreensão
de mudança, de movimento, da sucessão espaço-temporal;
 a capacidade de ordenar acontecimentos e ideias;
 a capacidade de distribuir seu tempo, de programar atividades segundo um
horário.

Os interesses por estas atividades começam a diferenciar-se segundo o sexo. É


o período onde existe mais diferenciação sexual. Os meninos preferem exercícios e
esportes ou atividades onde predominam a força e o risco. Eles gostam dos esportes
grupais, como o futebol, o basquete, o handebol, o rúgbi, as corridas, as atividades de
carpintaria, as maquetes, o aeromodelismo. As meninas mostram maior interesse
pelas habilidades artísticas, como a pintura, a colagem, a costura e aquelas em que
usam o ritmo e o equilíbrio — ginástica rítmica, balé, dança — e também pelos
esportes menos bruscos, como tênis, natação, hipismo.

Quando se trata de jogos grupais ativos, tanto as meninas como os meninos,


escolhem realizá-los com pessoas do seu próprio sexo. São as idades onde existe maior
rejeição intersexual para jogos e diversões.

Dentro dos problemas mais comuns que podem apresentar-se a nestas idades,
está a inabilidade motriz, quer dizer, a falta de controle do movimento do corpo e de
agilidade para ser preciso e eficaz na realização de atividades físicas. As causas podem
ser:

 atraso maturativo geral;


 corpos muito obesos ou muito magros e débeis;
 muito baixo nível intelectual (limites ou atrasos fortes);
 muito alto nível intelectual que os leva a preferir atividades intelectuais às de
movimento;
 falta de oportunidades e motivação para o desenvolvimento.

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Levando em consideração, o grande interesse que estas crianças têm pelos


jogos e os esportes cooperativos, assim como as possibilidades educativas que têm
este tipo de atividades, privá-los delas deixariam os alunos sem uma importante fonte
de motivação extraordinária e poderia acarretar diversos danos que se deve ter em
conta, como:

 menor desenvolvimento físico e intelectual;


 menor harmonia corporal, agilidade, domínio, destreza;
 menor capacidade de integrar-se em grupos e socialização;
 menor naturalidade, soltura, independência e respeito a normas impostas;
 falta de estímulos que diminuam a capacidade de diversão, relaxamento e
equilíbrio pessoal.

Desenvolvimento Intelectual
É a idade propícia para o desenvolvimento do pensamento operativo concreto,
através da paulatina apreensão intelectual. O processo natural que seguem é a
passagem do intuitivo e imaginativo ao racional, para chegar a sintetizar e estruturar
seus próprios conhecimentos. A inteligência sensório-motora passa a ser lógica, ainda
que necessite dos sentidos para captar as coisas, já que o raciocínio abstrato virá
depois, por volta dos 13 anos. Começam a raciocinar por si mesmos a partir dos
porquês, e são frequentes as perguntas sobre o porquê e o para quê das coisas.

O amadurecimento do neocórtex, a experiência e as motivações das crianças


destas idades, permite que suas aprendizagens se realizem com rapidez. A estabilidade
emocional lhes capacita para uma aprendizagem bastante sistemática.

Está abandonando a subjetividade e o egocentrismo próprio da primeira


infância, e o pensamento se faz mais lógico e mais capaz de captar as propriedades
objetivas das coisas. Não são capazes de abstração, necessitam do concreto, apoiando-
se sempre nas impressões sensoriais e nas representações ("realismo infantil"). É capaz
de relacionar ideias simples, porém chegar a uma definição geral é particularmente
difícil. É um pensamento intuitivo, muito apoiado nas imagens.

Para a construção do pensamento, os meninos destas idades, se apóiam nas


próprias experiências e na informação que lhes chega a cada momento.

Manifestam uma curiosidade intelectual muito grande, assim como desejo de


exploração e necessidade de perguntar. Convém proporcionar-lhe muitas
oportunidades para que capte novos conhecimentos e os relacione entre si: é
importante, falar frequentemente com ele. A prática da argumentação e o raciocínio
na conversação colaboram no seu desenvolvimento mental.

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Sua curiosidade é ativa, busca sensações, percepções e informações novas,


como explorar lugares conhecidos ou desconhecidos (bairro, localidade, casa),
desmontar aparatos (carrinhos, rádios, relógios), saber seu funcionamento e resolver
problemas práticos. O novo e desconhecido o leva à ação e à manipulação e, por este
meio, à aprendizagem. Sua curiosidade é mais enciclopédica, tem mais interesse pelos
relatos e histórias, mostrando-se ávido pela informação, mas nem sempre a classifica.
Neste sentido, necessita da orientação do professor para gerir esse começo do desejo
consciente de saber, sobre as áreas de aprendizagem, e para frear a curiosidade não
positiva sobre a intimidade dos demais e aspectos que requeiram segredo e discrição.

Desenvolvem sua criatividade através de coisas sem serventia, objetos


fantásticos, com sentido prático. Os trabalhos manuais, construções, dobraduras etc.,
tem um atrativo especial e servem para o desenvolvimento das habilidades
intelectuais e para dar chance à criatividade e aplicação do aprendido.

A capacidade de atenção aumenta paulatinamente e vão se tornando capazes


de reter maior número de estímulos de modo mais duradouro, ainda que continuem
precisando mudar, com certa frequência, de atividade.

Possuem capacidade de discriminação, assim como facilidade para combinar


objetos, distingui-los, agrupá-los e distribuí-los segundo suas características. Esta
capacidade combinatória facilita as deduções e a escolha do vocabulário adequado,
assim como o agrupamento das partes em um todo. É o momento oportuno para se
exercitar na memorização de detalhes e conjuntos de elementos, na classificação e
combinação de elementos, e nas medições.

A diferenciação e distinção de atributos de alguns objetos ou fatos de outros,


constitui um jogo divertido, que exercita aptidões intelectuais e que se deve
potencializar. Dentro deste capítulo, destacam-se os processos de "operações
concretas": agrupamentos, seriações e classificações (ordenar objetos, determinar
atributos, diferenciar cores, tamanhos), base da transição entre o concreto e tangível e
a abstração.

A finalidade de suas perguntas e "porquês" é averiguar a origem e o fim das


coisas. Não lhe satisfaz a resposta tranquilizadora com a qual se contentava a criança
de 3 ou 4 anos, pois já busca conhecimento dos processos, o para que servem as
coisas, qual é a origem das pessoas e animais — interesse pela vida — qual é o fim das
pessoas — transcendência —, que mecanismos regem ou determinam os processos
climáticos, as mudanças de estação ou as leis da natureza.

Tem grande interesse pelo o que afeta o seu entorno, natureza, vida, normas,
leis, mecanismos (indagar como funcionam carros, máquinas...), porém ainda não são

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capazes de abstrair, transladar conceitos, aplicar normas ou leis a processos diferentes


etc.

O pensamento adquire um papel predominante, de modo que grande parte da


atividade e dos interesses da criança concentram-se no terreno da descoberta e do
desenvolvimento intelectual. Encontra-se mais analítico e há uma maior disposição
para a observação, que é importante aproveitar.

Também desperta o sentido crítico, já que, à medida que a criança adquire


maior compreensão da realidade — deixa de aceitar os conteúdos da experiência, de
forma ingênua, e reflete sobre si mesmo, o que faz e a repercussão de sua conduta
perante as pessoas de sua convivência. A criança nesta idade observa criticamente de
modo especial os pais e educadores, com um sentido inflexível da justiça.

Uma prova de seu senso crítico é que já não acata ingenuamente os mandatos
ou proibições dos pais e professores. Adotam uma postura crítica, pedindo explicações
e querendo que lhes deem razões para o que os mandam ou proíbem fazer, além de
observar a conduta dos mais velhos tentando adequar a sua, a daqueles que
observam. Tem aqui a grande importância do exemplo.

Estão convencidos de que devem submeter-se às normas coletivas e são rígidos


em seu cumprimento, exigindo dos outros — com sentido de justiça. Entretanto, são
muito sensíveis ao companheirismo, ao altruísmo, e ao respeito as normas
estabelecidas. Submetem as explicações à razão crítica e julgam — ainda que sem o
devido conhecimento — sobre as pessoas, as coisas, a vida e a morte. Gostam de
informar-se e fazer perguntas para irmãos mais velhos, adultos de confiança, ou
consultar em livros e comprovar as informações. Querem descobrir o mundo e como
funcionam as coisas.

Sentem inquietude intelectual e desejo de aprender, tentam resolver os


problemas por via reflexiva, para encontrar soluções.

A atividade manipulativa vai dando espaço à experimentação científica,


desenvolvendo a curiosidade por conhecer a norma que os fenômenos seguem, ao
sucederem-se. A repetição dos fatos os possibilita a enquadrá-los em sucessões
estáveis, das quais se extrairá leis físicas e normas de comportamento.

O sentido prático facilita a compreensão numérica e se concretiza na medida


que a criança toma consciência dos usos que pode dar ao cálculo e à numeração.

É um bom momento para educar a laboriosidade, de modo que se estabeleça o


hábito de um trabalho sério e ordenado, que lhes preparará para vencer a tendência à
desordem e a falta de vontade que aparecerá na puberdade. Podem propor-se e

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esforçar-se por cumprir um pequeno horário de trabalho. É interessante que


aprendam a utilizar uma agenda para as suas tarefas escolares.

Ainda apresentam condutas negativas frente aos avanços conquistados


intelectualmente neste período:

 Ainda são acomodados e preferem que lhes comentem os fatos a interpretá-


los e deduzi-los por si só, porém, deve-se estimular que o façam, pois assim
se favorece o pensamento indutivo e dedutivo.
 Têm tendência a se deixar levar pelo superficial, atrativo ou "mágico" dos
impulsos momentâneos, interpretando as coisas a seu modo, sem se
preocuparem muito em contrastar as opiniões com os fatos.
 São volúveis, têm mudanças emocionais e de ânimo frequentes e são muito
impulsivos — querem ver tudo muito depressa. Isto faz com que sua
curiosidade seja, às vezes, pouco dócil e indiscreta.

Os educadores devem ter presente que todo estímulo de aprendizagem possui


fases estacionárias e, todo desenvolvimento tem períodos de retrocesso. Sua tarefa
agora consiste em ser guia, em estar pendente de oferecer numerosas ocasiões para
que, cada aluno, desenvolva ao máximo as possibilidades que esta etapa educativa
oferece, tão rica em interesses, de tão fácil motivação e de desenvolvimento
equilibrado.

As dificuldades mais frequentes que podem surgir nesta etapa são as


dificuldades escolares, causadas por problemas linguísticos ou por uma aquisição
deficiente da leitura/escrita; por problemas físicos ou motores já considerados, ou por
problemas de adaptação e ajuste pessoal, que afetam a conduta e o rendimento.

Na ordem intelectual, as dificuldades mais frequentes são:

 Os que se devem à limitação intelectual leve, que não permite ao aluno seguir
o ritmo normal da classe, devido a uma baixa compreensão das aprendizagens.
Estes alunos representam uma porcentagem muito baixa nas classes normais, e
exigem uma dedicação e planejamento especiais do professor, bem como um
trato cuidadoso dos colegas para evitar situações frustrantes.
 Em maior número existem os problemas de atenção/dispersão nos alunos
destas idades, dada a sua vulnerabilidade de interesses e sua grande
mobilidade.
 Também se apresentam com certa frequência os problemas de hiperatividade,
às vezes, unidos com os anteriores.

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Desenvolvimento linguístico
A maioria das crianças nesta idade, já adquiriu um bom nível de domínio da
linguagem oral e é frequente que tenham assimilado a leitura/escrita. No entanto, é
um período de suma importância para a consolidação das habilidades instrumentais
básicas e o aperfeiçoamento progressivo das habilidades de comunicação.
No que diz respeito à linguagem oral, deve dominar todas as consoantes, inclusive as
de aquisição tardia: "CH"; "J", "S", "Z", "L" e "R", mesmo que estejam incluídas em
palavras relativamente difíceis de pronunciar. Existe, portanto, ao final deste período,
uma estabilização da pronúncia, entonação clara e boa expressão.

O vocabulário continua se ampliando, embora em um ritmo mais lento,


conforme avançam na idade. Graças a sua curiosidade e interesse pela leitura e uso do
dicionário, compreende e inclui em seu vocabulário palavras mais complexas, inclusive
as cultas. O aumento do vocabulário tem grande correlação com o ambiente
sociocultural da família. Geralmente, as meninas são frequentemente superiores aos
meninos no uso da linguagem.

Percebe-se com maior clareza um progressivo domínio no uso da gramática.


Talvez a correção expressiva e compreensiva das estruturas linguísticas seja o maior
avanço nesta idade. Adquire e melhora o uso dos:

 Pronomes possessivos (nosso, vosso e seu)


 Advérbios e preposições de espaço e tempo (por exemplo, exteriormente,
interiormente, posteriormente, imediatamente etc)
 Tempos verbais não usados até então, como o Condicional Passado (Se eu
tivesse sido capaz de esquiar ...), ou o mais que perfeito (ainda não tinha
comido).
 Concordância entre oração-preposição principal e subordinada (Se mamãe
tivesse vindo no verão, poderia ter nadado)
 Proposições circunstanciais ("Para que todo mundo fique contente, será
necessário que faça bom tempo.")
 Compreensão, já que inverte a ordem natural e se usa pouco.

A reflexão da linguagem não se deu até este período. Agora mostra capacidade
de julgar se uma frase é correta ou não, se um enunciado foi feito com as regras
estabelecidas ou não. Já existe uma tomada de consciência do que se fala e se lê. É o
momento idôneo para fundamentar as bases de uma boa compreensão e expressão
linguística.

Um dos interesses prioritários neste momento é o gosto pela leitura, sobretudo


por aquelas em que predominam o diálogo entre personagens e as que contém ação.
A leitura, por ser argumentativa, oferece à criança raciocínios que ele ainda não é

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capaz de realizar por si mesmo, e por isso vai aprendendo. Embora realidade e fantasia
ainda se encontrem justapostas, consegue distinguir o mundo real do fantástico.

A maioria das crianças fica muito bem lendo, e é preciso aproveitar este
interesse para fortalecer ou promover hábitos leitores e gosto por todo o tipo de
leitura. Nesta idade, lhes interessa especialmente os livros de aventura, leem e
devoram livros em casa, no colégio e podem ser bons usuários da biblioteca. Preferem
as leituras amenas do que as científicas ou de divulgação.

Entre os temas que mais lhes agrada nas leituras, pode-se destacar:

 Os temas de aventuras relacionados com a natureza ou descobrimento de


lugares exóticos, vida e costumes de zonas pouco conhecidas ou inexploradas
da Terra: novelas como "A Volta ao Mundo em 80 Dias", “Viajem ao Centro da
Terra", "A Ilha Misteriosa", “Mobby Dick” etc. Também se interessam,
igualmente, por filmes ou reportagens sobre estes temas.
 As experiências e aventuras vividas por turmas ou crianças de sua idade, que
realizam travessuras.
 Aventuras históricas, biografias de personagens ou heróis famosos: rei Artur, El
Cid, Júlio César, Alexandre - O Grande. Também personagens bíblicos ou
religiosos: Moisés, Patriarcas e Profetas, vidas de Santos e, de um modo muito
especial, a vida de Jesus Cristo.
 Maravilhas da natureza, paisagens e costumes de lugares como: a selva, os
polos, as ilhas do Pacífico. Também maravilhas do mundo: Pirâmides Egípcias, A
Grande Muralha da China...

Embora este tipo de leitura lhe agrade, não se interessa pelas científicas,
geográficas ou históricas em si, mas sim aquelas escritas sobre a natureza e a história,
não pela ciência em si, mas pela aventura, pelo "mágico" e misterioso que apresentam.
Estas leituras podem ser uma fonte de motivação, que lhes conduza a interessar-se
pelas ciências, a história ou a geografia..

Demonstram interesse pelas leituras de jornais ou revistas, mas gostam muito


mais das histórias em quadrinhos, histórias com ilustrações que apoiam o relato e suas
fantasias imaginativas e motrizes.

Podem mostrar preferências determinadas segundo o sexo:

 Os meninos gostam de ler, por ordem de preferência, histórias em quadrinhos,


livros de aventuras (índios, selva, mistério, polícia, guerra, travessuras de
crianças de sua idade etc.), ficção científica, livros sobre esportes, natureza,
viagens e humor. A ciência, os magos e invenções também os agradam.

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 As meninas gostam dos livros ilustrados, dos contos de fada, de animais e


biográficos, os de ação, os de travessuras de meninas de sua idade, humor e
novelas sentimentais onde tenha uma heroína. Também gostam das histórias
bíblicas e as de heróis legendários ou históricos.

Colocar livros ao alcance das crianças e motivar a leitura com comentários e


expectativas, é o básico para aumentar sua evolução psicológica, assegurar seu
interesse pela cultura e formação, e evitar o tédio nos momentos de ócio.

Nestas etapas, são muitas as crianças cuja aprendizagem não é adequada a


suas possibilidades, nem ao nível de maturidade próprio da idade e, como
consequência, sofrem um fracasso importante em suas aprendizagens linguísticas e
nas demais áreas. Em geral, tal falta de competência e rendimento tem sua origem em
anos anteriores, e geralmente deve-se a:

 falta de maturidade em algum fator importante da aprendizagem da língua;


 iniciação pouco fundamentada ou mal reforçada da aprendizagem da
leitura/escrita;
 iniciação forçada na leitura/escrita;
 métodos de leitura/escrita mal planejados ou não concluídos adequadamente,
segundo o progresso de cada criança.

Tudo isso tem como resultado um atraso pedagógico linguístico, que


normalmente se engloba sob a denominação de dificuldades de aprendizagem ou
sintomas disléxicos, por suas manifestações serem parecidas com esta disfunção. É de
suma importância não passar por alto nestes problemas, pensando que se trata de
problemas de maturidade que com o tempo se resolvem. O tempo, por si só, não pode
resolver nenhum destes transtornos, e além do mais, pode agravá-los e impossibilitar
uma reeducação eficaz. É necessário diagnosticar muito bem o que acontece a cada
uma destas crianças para poder iniciar a sua reeducação, o quanto antes. Quanto mais
se atrasa em começar, mais profundas serão as consequências para a aprendizagem
atual e futura da criança.

Mesmo que tenham sido tratadas, ainda se pode encontrar autênticas dislexias
ou sequelas, como é o caso da disgrafia ou disortografia, embora isto aconteça com
menor frequência. Os sintomas principais são a separação indevida de letras, sílabas e
palavras, as confusões, omissões ou adições indevidas em leitura e escrita. Como
consequência, apresenta-se um nível, muito baixo, de leitura, compreensão e
expressão.

As consequências, de ambas dificuldades, coincidem com um baixo rendimento


na área de linguagem e em toda a aprendizagem, desencadeando, por sua vez, outros

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problemas como baixo autoconceito, timidez, desajustes na adaptação e integração


social.

Desenvolvimento afetivo
A afetividade passa por um período de latência, que se interrompe em alguns
momentos de excitação ou incerteza. Nesta etapa se forma a consciência diferenciada
de si mesmo, e se configura a personalidade tipicamente masculina ou feminina. A
criança adota papéis de identificação com um dos seus pais, o do seu próprio sexo. Os
interesses ficam mais centrados no mundo dos seus companheiros, do que no mundo
dos adultos.
Esta diferenciação fica mais visível em brincadeiras, nas quais os meninos
centram-se na força e rendimento físico, e, no âmbito escolar, interessam-se mais
pelas relações com as coisas, enquanto as meninas interessam-se mais, pelas relações
com as pessoas.

O interesse pelos temas sexuais tem um caráter marcadamente intelectual. É o


momento mais adequado para iniciar uma verdadeira educação sexual, não
unicamente informação, que permita à criança encarar de modo menos perturbador,
os problemas da adolescência. Deve ser feito de forma gradual, com franqueza,
acomodando-se à sua mentalidade e à sua capacidade de compreensão, antecipando-
se à sua curiosidade natural.

Sua atitude de realismo ante o mundo manifesta-se com maior distância, no


trato social (exceto com os companheiros de sua idade). A vida afetiva vai ficando mais
discreta. Os fenômenos afetivos ficam encobertos, pelo desenvolvimento do
pensamento e da sociabilidade que se produz nestas idades.

A falta de maturidade afetiva leva-os a querer chamar atenção, a serem


percebidos e sentir-se queridos, assim como a sentir inveja, a ter certa tendência à
crueldade e a excluir alguns colegas do trato, monopolizando a companhia de outros.

Os sentimentos não são muito duradouros e oscilam entre a alegria e a tristeza,


embora a alegria seja mais permanente, pois predomina neste período uma atitude
otimista, de bom humor.

Os sentimentos familiares vão perdendo força em favor dos sociais. Ainda


assim, lhes agrada muito conversar com seus pais, que respondam todas as suas
perguntas e participam dos planos e atividades familiares.

Os novos problemas ou situações podem gerar ansiedade e atitudes de


insegurança, que se manifestam em inquietação e desassossego levando-os, com
frequência, a reagir e, depois, a esquecer das experiências desagradáveis e os temores.

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O exercício físico e as brincadeiras ajudam a criança a superar estes momentos de


instabilidade.

Todos estes traços de imaturidade afetiva repercutem na atenção, que também


oscila segundo o seu estado de ânimo, embora seja capaz de fixá-la, voluntariamente,
quando um assunto atrai o seu interesse.

Nesta idade, existe um aumento da autoestima ou sentimento positivo de si


mesmo, por seu aspecto físico, por sua forma de comportar-se, pelos trabalhos que é
capaz de realizar, graças ao reconhecimento que os adultos fazem e, sobretudo, as
outras crianças de sua idade. Necessita contar com a aceitação e a aprovação de seus
iguais, e se acomoda aos modos de vestir, falar e comportar-se dos colegas de sua
turma.

Mostram-se mais seguros de si, mais extrovertidos e independentes.


Definitivamente, vai-se conquistando uma estabilidade emocional e certo controle de
sua vida, que permanecerá até que — aos onze ou doze anos — as mudanças
orgânicas da puberdade perturbem o equilíbrio conquistado.

Os problemas mais frequentes no campo afetivo, nas crianças desta idade, são
a dependência — fruto da superproteção — e os ciúmes.

Uma criança de oito ou nove anos depende, todavia, de seus pais em muitos
aspectos de sua vida. Contudo, quando os pais, por impaciência ou desejo desmedido
de perfeccionismo, querem evitar incômodos aos seus filhos, fazendo pela criança o
que ela é perfeitamente capaz de fazer por sua própria conta, leva-os a acostumar-se a
não fazer, prejudicando seu desenvolvimento nos hábitos de ordem ou
responsabilidade.

Esta atitude gera nas crianças uma dependência doentia de seus pais. A criança
dependente solicita continuamente a atenção do adulto, quer seja seu professor ou
seus pais, em detrimento da relação com outras crianças de sua idade. Isto ocorre
preferencialmente no caso de filhos únicos ou de pais excessivamente "preocupados".
Em algumas ocasiões, estes desejos de atenção da criança, não provém das
situações descritas, mas de uma especial sensibilidade do seu temperamento, e devem
ser atendidas.

Diante do problema da dependência dos pais e professores, deve-se fazer que


realizem por si sós as tarefas que sejam capazes de realizar sem ajuda,
supervisionando-as. Convém insistir com os pais na necessidade de serem mais
desprendidos de seus filhos, para que possam desenvolver sua própria autonomia.
Desprendidos, porém dispostos quando solicitem uma ajuda necessária.

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Os ciúmes ocorrem, com maior frequência e intensidade, no caso de em que o


intervalo de um filho para o próximo seja de três ou quatro anos, durante os quais a
criança vá mantendo um posto do "rei" da casa. Geralmente, o ciúme acontece com
maior frequência, nos primogênitos. O nascimento de um irmão supõe compartilhar a
atenção dos pais e familiares, ao que a criança, frequentemente não está muito
disposta. Por isso, acontece algumas vezes, um pequeno retrocesso em seu
comportamento, imitando o irmão menor, para recuperar a atenção perdida. O ciúme
pode manifestar-se através da agressividade — beliscar seu irmão, não querer
emprestar as coisas etc. — e frequentemente acompanham pessimismo e problemas
de relacionamento com colegas de classe.

O tratamento de comportamentos ciumentos logo no início, não é difícil, desde


que se dê maior atenção ao mais velho nos momentos em que a mãe se encontra
ocupada com o menor. Geralmente as alusões de que por ser mais velho, é mais
responsável, são atrativas para a criança, mas dão poucos resultados.

Desenvolvimento moral e da vontade


Este período constitui a etapa de maior desenvolvimento do critério moral,
pelo progresso cognitivo, pelo crescente poder de interiorização e pelo grande número
de oportunidades de participação e desempenho de novos papéis, em todos os
ambientes, onde a criança se desenvolve.

Os sentimentos morais vão ficando independentes dos sentimentos dos pais. O


desenvolvimento intelectual atingido facilita a realização de seus próprios juízos
morais. O pensamento analítico facilita a diferenciação entre o bem e o mal e contribui
a uma maior valoração moral, tanto da própria conduta, quanto da alheia. Por outro
lado, a vida moral relaciona-se com os preceitos divinos, com o que Deus permite ou
proíbe.

Geralmente aceitam, sem crítica, os valores dados pelos adultos, embora as


vezes, sejam excessivamente justiceiros ou inflexíveis, sobretudo com seus irmãos
menores. No final desta etapa, começa a surgir o desejo de independência, e é
necessário insistir na obediência, com motivações positivas. É muito importante
explicar-lhes o "porquê", já não basta somente o "que" e o "como".

A atitude crítica reflete na sua postura ante as ordens ou proibições dos pais e
professores. A criança observa a conduta daqueles que estão à sua volta e regula a sua
vida segundo o exemplo que vê. Os alunos destas idades são particularmente
receptivos, tanto para a ação educativa dos pais e professores, como para as
influências da televisão, da publicidade e de outros meios de comunicação.

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A maior parte dos períodos sensitivos da educação da vontade transcorre antes


dos doze anos. Dedicar atenção e tempo à educação dos filhos, nestes anos, evitará a
maior parte dos problemas que podem surgir nos anos críticos da adolescência. É um
momento especialmente propício para o desenvolvimento de algumas virtudes
humanas básicas, aprendendo a lutar se superar, lutando em pequenas metas. Devem
ser criadas diversas ocasiões, tanto em casa como no colégio, para que as crianças
possam exercitar-se na prática das virtudes. No capítulo dedicado à educação das
virtudes fazemos referência minuciosa a cada uma que convém ser estimulada, de
forma especial, nestas idades. Convém conduzir positivamente sua forte inclinação
para a amizade e o companheirismo, ajudando-os a entender que esses valores
supõem entrega aos demais, espírito de colaboração e de serviço, de lealdade e de
solidariedade.

A inclinação ao esforço físico, à aventura e à competição, pode favorecer a


aquisição de hábitos de resistência e austeridade, virtudes especialmente necessárias
para os anos seguintes. As pequenas "mesadas" periódicas lhe ajudarão a aprender a
conhecer o valor do dinheiro e a aprender a economizar.

Os encargos, em casa e no colégio, são gratificantes, pois a criança sente-se


importante e útil. Ao mesmo tempo em que se preparara para ser mais responsável.

A capacidade de raciocínio, o interesse pela integração no grupo e o vivo desejo


de justiça, favorecerão o nascimento de normas ou regras de comportamento. A
disciplina e o autodomínio, aspectos importantes na educação, são essenciais para o
desenvolvimento harmônico da personalidade das crianças.

A meta de toda disciplina é orientar a conduta, de modo que as pessoas se


adaptem favoravelmente aos grupos sociais a que pertencem. As crianças destas
idades assimilam e cumprem muito bem as normas, necessitam delas.
Frequentemente adaptam-se a elas com facilidade, pois satisfazem muitas das suas
necessidades:

 Facilitam uma adequada adaptação pessoal e social;


 Proporcionam-lhes sentimentos de segurança, ao indicar-lhes o que podem e
não podem fazer;
 Evitam os frequentes sentimentos de culpa e vergonha por seu mal
comportamento;
 Permitem-lhes serem aceitos nos grupos sociais;
 Aprendem a se comportar com ações positivas, gerando admiração o que
coopera para potencializar sua autoestima e sentirem-se queridos.
 Ajudam a formar a sua consciência, influindo de forma positiva nas tomadas de
suas próprias decisões.

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Porém, de modo especial neste período, é preciso cuidar muito que as normas de
convivência atendam certos requisitos:

 que sejam poucas, razoáveis e adaptadas à sua idade e compreensão;


 que haja congruência e consistência entre elas, de forma que a própria norma
seja compreendida pela criança, dando-lhe condições de assumi-la;
 que sejam cumpridas pelos adultos que a exigem;
 que haja sanções razoáveis, combinadas anteriormente, para aqueles que não
as cumprem, voluntariamente;
 que possa haver uma recompensa pelo esforço realizado, para adequar a
conduta ao estabelecido.

As crianças desta idade se encontram em um ótimo período para formar a sua


consciência moral. É um momento oportuno para iniciar as pequenas iniciativas de
auto exigências, de forma que seja conquistada uma colaboração respeitosa de todos
ante as normas de convivência, favorecendo um autêntico clima moral na classe.

Desenvolvimento social
Estão em um período de assimilação tranquila e de adaptação à realidade. A
ampliação do raio de movimento e experiência, e a conquista do ambiente, facilitadas
pelo domínio do sistema motor e por seu desenvolvimento psicológico, produzem um
aumento da vitalidade que se manifesta em uma maior atividade. É por excelência, a
idade social da infância: desagrada-lhe estar só. Desenvolvem um comportamento
social e aprendem a respeitar regras do jogo através das turmas de companheiros.
Este desenvolvimento da sociabilidade é fruto de seu amadurecimento intelectual, que
o convida a abrir-se ao mundo que o rodeia, repercutindo assim, no comportamento
social.
Agradam-lhe as atividades de clube e as excursões lhe dão ocasião de satisfazer
seu gosto pela aventura.

No relacionamento com os seus colegas a criança vai desenvolvendo a sua


autonomia e o sentido de solidariedade e de cooperação.

Sem deixar de amar o âmbito familiar —agrada-lhes participar dos planos e


atividades familiares —abre-se completamente para a turma de colegas, indo além de
suas fronteiras familiares. A constatação desta nova realidade influi notoriamente em
sua vida e no desenvolvimento de sua personalidade. O normal é que isto ajude a
criança a desenvolver as virtudes sociais, como o espírito de serviço, a generosidade, a
confiança, a alegria, etc. Porém, quando existe um excesso de protecionismo familiar
este novo ambiente social pode ser visto como algo agressivo, semeando medo e
insegurança interior. Mesmo com este risco, a criança tem uma grande capacidade de

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adaptação, sendo muito inclinada à atividade permanente com outros. Não teme o
ridículo, e mais que isso, adora destacar-se. Este desejo de participar em qualquer
atividade é um bom instrumento, nas mãos do professor, para suscitar seus interesses
e mantê-lo motivado no exercício da tarefa educativa.

As atividades que mais potencializam o desenvolvimento social dos 8 aos 10


anos são os jogos ou brincadeiras. Como temos dito, nesta etapa as crianças atingem
um maior interesse pela socialização em grupo; por esta razão, os jogos coletivos vão-
se impondo aos individuais, e os grupos de jogos são mais numerosos e de atividades
muito variadas, prevalecendo, na maioria, o interesse pelo movimento, pela ação e a
competição. As crianças buscam medir sua agilidade e força com os demais para
afirmar a sua individualidade, procurando sobressair-se e serem aplaudidas por suas
proezas. No jogo as crianças buscam:

 satisfazer suas necessidades de movimento, interesses intelectuais e


necessidades afetivas;
 segurança e autoafirmação;
 novas experiências;
 ser valorizados;
 ser aceitos e necessitados pelos outros.

Os jogos e brincadeiras que praticam estão diretamente relacionados com as


destrezas e hábitos intelectuais a consolidar, com o grau de integração social que
desejam conquistar e com a situação afetivo-emocional que atravessam. Observar
como a criança brinca, ajudará no trabalho de conhecer o seu nível de
desenvolvimento: sua maturidade, tanto intelectual quanto motriz, e seus interesses.
Entre os nove e os onze anos, as brincadeiras de meninos e meninas mostram
interesses contrapostos.

Nos meninos, as brincadeiras de polícia e ladrão, cowboy e pistoleiros, vão


perdendo o interesse. Gostam mais dos jogos competitivos e desportivos, assim como
aqueles que implicam combinações numéricas ou de vários elementos, nos quais se
possa aplicar a lógica e o raciocínio, como os jogos de mesa (dominós, baralho, bingo).
Também lhes interessam os jogos de tabuleiro, no qual o êxito depende de uma
atuação estratégica, segundo o valor e a posição das fichas, como o jogo de damas ou
o xadrez.

As meninas apresentam agora, maior interesse por brincadeiras de esconderijo


e lançamento de bola a um concorrente da equipe contrária, pular corda, elástico e
brincadeiras em grupo. Também gostam de jogos de tabuleiros.

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Os jogos em equipe são grande atrativo para ambos os sexos, onde participam
várias crianças e se combinam muitos elementos ou variáveis inter-relacionadas, onde
é preciso vencer.

Com o exercício destes jogos e brincadeiras, ao final da etapa, dá-se por


abandonada a fantasia, dando um passo em direção à conquista da realidade física e
social, iniciando o treinamento das relações com o meio, através do grupo.

Os alunos destas idades possuem domínio corporal e equilíbrio suficientes para


patinar, subir em diferentes lugares, escalar muros, rochas, árvores. Adquiriram
grande habilidade de movimentos no salto, na corrida, pular obstáculos durante a
caminhada ou corrida, manter-se ereto sobre objetos móveis etc. Como a grande
maioria das crianças já tem esta habilidade desenvolvida, o desafio está na
competência: por isso o jogo torna-se mais competitivo (quem sobe mais alto, quem
corre mais, etc., complicando a dificuldade ou combinando diferentes habilidades).

A integração social está muito relacionada com os jogos de grupo, com o


fortalecimento dos laços afetivos e com aceitação de normas. Agora são grupos de um
só sexo: meninos com meninos, meninas com meninas.

Estamos na idade das diferenciações psicológicas no campo do sexo. Meninos e


meninas vão adquirindo uma forte consciência das diferenças que os separam. Esta
separação dos sexos — que permite que os meninos e meninas afirmem,
respectivamente, sua masculinidade e sua feminilidade — não é sistemática, nem
agressiva, como o será na adolescência, mas sim, um distanciamento no trato por
interesses distintos.

Nestas idades, sobretudo até os nove anos, a criança adquire amizades mais
sólidas, adapta-se melhor ao grupo que é mais estável e estabelece pequenas normas
para a sua organização, cresce no seu desejo de superação, necessita comparar-se com
os demais e demonstrar sua importância pessoal. Aparecem as primeiras lideranças
entre as crianças que atraem mais simpatia.

A criança busca seu lugar no grupo e lhe preocupa não ficar bem perante os
demais. A turma é o núcleo social nesse período. Forma-se sem intervenção do adulto,
tem caráter unissexual e ativo. As explorações, os combates, as proezas, as
construções, tudo isso lhes representa.

Desenvolvimento religioso
Costuma ser o momento oportuno para a Primeira Confissão e Comunhão,
precedidas e continuadas de catequese oportuna. São anos que devem ser
aproveitados para solidificar a religiosidade, para dar as bases doutrinais que devem

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deixar marca profunda em sua alma. Alguns de seus "porquês" serão ocasião próxima
para falar-lhes de Deus e com sentido sobrenatural de múltiplas incidências. Não se
deve deixar de dar conselhos religiosos ainda que, por enquanto, não sejam capazes
de compreendê-los em todo o seu sentido.

A catequese habitual — a transmissão de maneira íntegra e elementar dos


principais mistérios da fé cristã e sua repercussão em sua vida moral e religiosa —,
tanto no âmbito escolar, através das aulas de religião, como no familiar, são ambientes
idôneos para apresentar-lhes a doutrina cristã básica.

A aprendizagem dos conceitos fundamentais da doutrina não deve se deter


numa mera memorização, pois é importante que fique gravada na inteligência e no
coração da criança.

Os sentimentos religiosos estão imbuídos de "temor" de Deus, de castigos e de


desgostos. O natural é que, ao final desse processo, como ocorreu com o temor ante o
castigo e desgosto dos pais, o amor se imponha como força determinante, o que supõe
um passo decisivo na formação da consciência pessoal. Para tanto, a formação moral
deve ter um sentido positivo, reafirmando a importância de se fazer o bem. Ao expor a
lei moral e os mandamentos, deve-se destacar a força e a beleza da vida cristã, que
reside no amor e na misericórdia divinas.

É a idade mais apropriada para introduzir a criança, de forma orgânica, na vida


da Igreja, por meio da preparação imediata à confissão e à comunhão, procurando
facilitar a recepção consciente e frequente a esses sacramentos.

Nesse período, em que se desperta a admiração pelas pessoas, pelo herói,


interessa suscitar na criança a admiração e o amor por Cristo, que é a Suma Bondade e
que morreu na Cruz para salvar os homens. É Ele a figura mais atrativa que se pode
apresentar a elas, junto à de Santa Maria, a boa Mãe.

A sociabilidade que desperta e impulsiona a buscar amigos especiais é o


momento idôneo para falar-lhes de Cristo Amigo. A Comunhão é o encontro com esse
Cristo, o melhor Amigo, que nunca abandona nem atraiçoa e sempre perdoa porque
nos quer bem.

5. A Puberdade
A puberdade é, antes de tudo, um fenômeno de natureza corporal.
Biologicamente está marcada pelo surgimento da capacidade procriativa, como se esta
capacidade fosse o rito de passagem à vida adulta. É uma etapa de adaptação e
consolidação à esta nova circunstância. Nela, o mais característico, é o progressivo

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desenvolvimento das possibilidades implícitas na pessoa. Assim, se a puberdade é algo


que se dá no marco da existência biológica, a adolescência representa o
desenvolvimento do afetivo e do espiritual e inicia-se quando surgem as primeiras
mudanças corporais, especificamente as sexuais. Até os 11-12 anos, nos meninos (nas
meninas um pouco antes) aparecem transformações: pelos, crescimento nas pernas e
mudanças na voz, transformações que geram desarmonia motora e expressiva, típica
desta etapa, em contraste com a graça e flexibilidade da criança.

Nesta idade, todas as características de estabilidade e equilíbrio que se


manifestaram quando criança, entram em crise e, as rápidas mudanças orgânicas que
se aproximam, anunciam uma nova instabilidade própria de uma etapa de maturidade
e crescimento. Os adolescentes tornam-se inquietos, com reações emocionais muito
contraditórias. Nesse período há desarmonia geral no comportamento, como reações
contrapostas, negativas e extremas, como apatia, isolamento, agressividade e uma
diminuição dos rendimentos escolares. Há um desmoronamento da conduta infantil.

No período crítico de maturação, aparentemente predominam os aspectos


negativos, sendo necessária a paciência e a fortaleza dos pais e professores e uma
grande confiança com o filho ou aluno. Deste modo conseguirão conduzi-lo, corrigi-lo e
ajudá-lo a amadurecer. Incentivar o otimismo e o espírito esportivo, oferecer aos
alunos e alunas grandes motivações, que darão sentido ao que devem fazer.

Dentro do campo das funções intelectuais, a primeira mudança importante é a


transformação do pensamento lógico-concreto, em abstrato. O pensamento começa a
não mais depender da imaginação. Outro importante aspecto é a substituição da
memória mecânica pela lógico-discursiva. Essa mudança influencia decisivamente nas
qualificações escolares, já que a capacidade de reter mecanicamente tende a cessar e
a memória lógico-compreensiva ainda está insuficientemente exercitada. Convém
destacar a virtude da laboriosidade, ajudando-os a trabalhar todos os dias.

Até os onze ou doze anos, as crianças passam por um período de


sistematização do pensamento. Existe então um interesse ao objeto concreto, que
começa a atrair por si mesmo, por seu valor intrínseco. Já não se entusiasmam por
qualquer objeto, mas por uma série de objetos determinados que ordenam,
organizam, sistematizam, colecionam.

No âmbito das tendências, destacam-se a falta de unidade e congruência dos


próprios impulsos, fato palpável na avidez de experiências que se concretizam no
interesse por aventuras, excursões, exploração de cavernas, acampamentos, etc. Esta
sede de experiências também se expressa intelectualmente no afã de ler e na
curiosidade investigativa: jogos de química, invenções, ações que se alternam com

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

repentinos períodos de tédio ou apatia. Sentem, nesse período, necessidade de


estarem ocupados, de exercitarem-se fisicamente e de dominar a imaginação. Por isso,
é muito oportuno estimular hobbies, como esportes, excursões, acampamentos,
atividades manuais e leituras amenas e de qualidade.

O sentido da amizade não está maduro. Nesta fase existe poderosa influência
da turma que, às vezes, se submete incondicionalmente ao líder ou tenta tiranizar os
menos dotados. É muito importante conhecer o ambiente do grupo de amigos. Dessa
forma, é possível incutir nos filhos o respeito ao outro e procurar que os alunos se
empenhem em ajudar um ao outro. Deve-se promover a delicadeza no trato mútuo e o
espírito de serviço. Os encargos na família e no colégio ajudam as crianças a combater
o egoísmo e crescerem em solidariedade.

Também nesta idade, a sexualidade de faz notar como tendência consciente e


de notável força. O ato de superar, sem grandes problemas, a aparição deste
componente depende, em grande parte, de como se foi educado durante a infância.
Nessa idade reforça-se o sentido do pudor e é preciso insistir na importância da
higiene e do asseio diário.

No terreno afetivo, chamam a atenção a falta de estabilidade geral (bruscas


mudanças de humor) e a intensa excitabilidade (predisposição ao medo e à ansiedade,
e maior curiosidade aos filmes com esse tema). O mais importante e característico
desta etapa é o começo do desenvolvimento da própria intimidade.

Aparecem, nessa fase, comportamentos egocêntricos e presunçosos (fala em


primeira pessoa, sente-se vítima, ruboriza-se quando alguém fala dele, etc.), como
uma desconfiança generalizada. Necessita de segurança e podem aparecer
sentimentos de dúvida e inferioridade. Muitas vezes, o enfrentamento com pessoas ou
situações é, sobretudo, autoafirmação. Diante desse quadro, é preciso estar atentos
para ajudá-los a evitar complexos. Uma boa atenção pessoal ajudar-lhes-á conhecer as
boas qualidades que possuem, como ponto de apoio não só para a segurança pessoal,
mas também para poder colocá-las a serviço dos demais. Com um sentido otimista e
positivo da educação, as crianças aprenderão a aceitar as suas próprias limitações e a
conhecer seus defeitos, que é a primeira condição para lutar para superá-los.

Insegurança pessoal que provoca igualmente hipersensibilidade e sentido do


ridículo, paradoxalmente, seguidos de um vivo desejo de liberdade, autoafirmação e
autossuficiência, que, às vezes, leva os adolescentes a rechaçar a autoridade. A
passagem da etapa pré puberdade para a adolescência propriamente dita, é
responsável pela transformação corporal ao mesmo tempo que desintegra o
comportamento do pré adolescente e, as mudanças afetivas e psicológicas tornam-se,
nessa fase, mais importantes.

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

B. ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO DE CADA ALUNO


A avaliação dos alunos, conhecer até que ponto conseguiram alcançar os
objetivos programados é, juntamente com as atividades de programação, ensino e
orientação, uma tarefa fundamental de todo professor.

As atividades de avaliação devem estar integradas ao processo educativo e


desenvolvidas de forma contínua e global. Somente deste modo será possível
introduzir, no momento oportuno, as adaptações e os apoios necessários de acordo
com os progressos que os alunos conquistam, sem esperar o final de um período de
tempo muito longo. A informação aos pais desses progressos em determinados
momentos do percurso da etapa, deve ser entendida como reflexo desta avaliação.

Na avaliação dos alunos do Snipe, entendida como processo, podemos


distinguir: a avaliação inicial, a avaliação contínua, a global e formativa e os resultados
finais.

Acredita-se em uma concepção da avaliação educativa unida ao serviço do


ensino-aprendizagem e integrada aos afazeres diários da sala de aula e do colégio. É
um ponto de referência para melhorar os processos de aprendizagem.

Uma característica dessa avaliação é que deve ser global, contínua, formativa,
reguladora e orientadora do processo educativo. Cabe ao corpo docente aprovar os
critérios de avaliação mais adequados. A apreciação sobre o progresso dos alunos será
expressa de acordo com o Regimento escolar do centro educativo.

Avaliação do processo de ensino e do projeto curricular


É necessário elaborar um Plano de avaliação da prática docente e do Projeto
Curricular do Colégio. Indicam-se alguns aspectos que estas avaliações devem incluir:

1. Avaliação inicial
Refere-se ao conhecimento prévio do aluno e sua situação de aprendizagem
como ponto de partida da atividade educativa. Por isso deve-se ter presente as
seguintes dimensões do aluno:
 escolarização anterior (Ed. Infantil e Anos iniciais do Ensino Fundamental)
 ambiente e dados familiares
 constituição física e saúde
 aptidões intelectuais
 nível de desenvolvimento
 conhecimentos que possui
 traços de personalidade
 adaptação

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

 hábitos de comportamento

No início do ano, deve-se solicitar a documentação dos alunos que procedem


de outros colégios. É muito positiva a experiência das equipes educadoras do ciclo
atual de fazerem reuniões com os professores do ano anterior, com o objetivo de
estudar a documentação dos alunos e trocar experiências e informação. Pode ser
interessante preparar a primeira entrevista de preceptoria com os pais tendo em conta
os dados conhecidos nessa reunião. Convém fazer entrevista com os pais das crianças
com dificuldade de aprendizagem ou outros problemas, o quanto antes.

Além disso, a informação que se recebe dos pais por meio da primeira
entrevista de preceptoria, a observação direta das crianças durante os primeiros dias
de aula, poderão aportar dados significativos para a avaliação inicial:

 a relação com adultos e outras crianças


 o comportamento ante novas situações
 adaptação à sala de aula
 traços de caráter ou temperamento etc.

2. Avaliação Contínua, Global e Formativa


A avaliação dos alunos ou, saber até que ponto atingiram os objetivos
programados é, juntamente com as atividades de programação, ensino e orientação,
uma tarefa fundamental de todo professor.
As atividades de avaliação devem estar integradas ao processo educativo e precisam
ser desenvolvidas de forma contínua e global. Somente dessa forma será possível
introduzir, no momento oportuno, as adaptações e os apoios necessários, de acordo
com os progressos dos próprios alunos.

A avaliação será global porque referir-se-á ao conjunto de capacidades


expressas nos objetivos gerais da etapa e aos critérios de avaliação das diferentes
áreas.

O caráter da avaliação será contínuo, considerando-se como característica


inseparável do processo educativo. O aspecto formativo e orientador proporciona uma
informação constante que permite melhorar tanto os processos como os resultados da
intervenção educativa.

Esta avaliação, ao facilitar o conhecimento dos progressos e dificuldades do


aluno, torna possível uma maior eficácia na aprendizagem, maior estímulo e motivação
para aprender, já que permite ao aluno conhecer imediatamente os pontos em que
está bem e aqueles em que precisa melhorar, diretrizes da abordagem educativa mais
adequada a cada situação.

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

Os professores usarão esse tipo de avaliação durante todo o período letivo, que
se baseia fundamentalmente na observação sistemática dos trabalhos, nas atividades
realizadas pelos alunos, como nos hábitos e atitudes individuais.

A observação direta e sistemática das condutas e do trabalho discente, bem


como as entrevistas com os pais são as técnicas de avaliação mais adequadas às
características dessa etapa educativa.

Os resultados da avaliação constituirão uma base permanente para a


programação das atividades diárias, semanais, quinzenais, etc., para o professor e
servirão também para estabelecer as atividades e procedimentos mais adequados para
guardar ou arquivar quando possíveis dificuldades aparecerem.

3. Informes trimestrais
Os informativos trimestrais de avaliação para os pais têm como finalidade
fundamental fazê-los partícipes das conquistas e avanços conseguidos pelos seus filhos
nos diferentes aspectos do processo educativo. Em algumas ocasiões, é muito
interessante que o informativo venha acompanhado com alguns trabalhos realizados
pelas crianças e traga alguma indicação que ajude a valorizá-los. Os pais geralmente
agradecem quando o professor escreve algum comentário pessoal sobre o aluno, em
tom positivo e estimulante.

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Capítulo VIII - ADAPTAÇÕES CURRICULARES

Podemos considerar o termo adaptação curricular em dois sentidos diferentes:

a) Como uma mudança significativa do currículo, projetada especialmente para um


aluno ou grupo de alunos com graves dificuldades de aprendizagem. Para crianças
excepcionalmente capazes, mas portadoras de necessidades educativas especiais
como deficiências auditivas, motoras ou intelectuais, ou crianças que mostrem graves
dificuldades no seu desenvolvimento emocional ou socioafetivo. Também é o caso das
crianças com habilidades mentais superiores à média, que não encontram motivação
em aprendizagens já assimiladas.

Antes de recorrer a uma adaptação curricular desse tipo, é necessário contar


com um diagnóstico, mais preciso possível, da situação da criança, realizado pela
equipe educativa, com a ajuda técnica e pedagógica convenientemente projetada, na
qual também participem os pais e os professores da criança.

b) A personalização do currículo para um aluno determinado, não significa afastar-se


totalmente do currículo geral. Muitas vezes será uma adaptação metodológica (ajuda
individual a um aluno ou pequeno grupo que alinhe esses conteúdos com métodos de
ensino que se adaptem melhor ao seu estilo de aprendizagem), ou de avaliação
(adaptação dos instrumentos ou procedimentos de avaliação, ao modo de ser e
aprender do aluno), ou da sequência de conteúdos (fixação de alguns conteúdos que
precisam ser reforçados, para avançar mais rapidamente na sequência estabelecida
em um princípio ou para se conectar melhor com os interesses das crianças nesse
período), ou de priorização de alguns objetivos (desenvolvimento de algumas
capacidades), entre outros.

A adaptação curricular é parte do trabalho diário dos professores no exercício


responsável de sua função docente e orientadora, uma vez que exige a autêntica
educação personalizada, pois leva em conta o ritmo e o estilo pessoal de aprender.

Em resumo, realizar-se-ão as adaptações curriculares oportunas, dirigidas a


alunos com necessidades educativas especiais. Estas poderão consistir na adequação
dos objetivos educativos, na eliminação ou inclusão de determinados conteúdos e na
modificação dos critérios de avaliação, como na ampliação das atividades educativas.

As adaptações curriculares levarão aos alunos mais possibilidades de alcançar


as capacidades próprias da educação Snipe, de acordo com suas possibilidades. Essas
adaptações serão precedidas de uma avaliação das necessidades educativas especiais
do aluno.

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Por outro lado, também se levarão em conta aqueles alunos muito dotados,
que progridem com maior rapidez que seus companheiros na execução dos objetivos
estabelecidos.

Os alunos de uma mesma idade, etapa ou ano apresentam diferentes estilos e


ritmos de aprendizagem. De certo modo, todos os nossos alunos têm necessidades
educativas especiais. Esta realidade traz algumas consequências para o trabalho do
professor: cada criança requer a atenção pessoal do educador para ajudar o aluno a
melhor se conhecer, a desenvolver as aptidões especiais, a aceitar serenamente as
limitações, estimulando-os a superá-las com os meios oportunos.

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Capítulo IX - MEIOS DE ORIENTAÇÃO PESSOAL E COLETIVA

A. EDUCAR NA LIBERDADE
Cada homem é um sujeito único, protagonista principal de sua própria história.
Ninguém pode ser educado como outro, nem se pode conseguir a educação seriada de
um conjunto de homens, ainda que vivam em um ambiente comum (a família, o
colégio), onde uns se educam junto aos outros.

A pessoa, ser inteligente, com consciência de si mesma, e livre, pode dispor de


si, pois se pertence e pode dominar seus próprios atos, isto é, possui liberdade pela
qual é capaz de escolher, de se autodeterminar. Trata-se de uma capacidade de
escolha limitada, pois a liberdade só tem sentido se unida à verdade e direcionada
para o bem, que impõe uma orientação a seu exercício.

Não se trata de uma capacidade de expansão ilimitada da própria subjetividade


sem referência à verdade sobre o homem. Assim, o diferencial no qual se fundamenta
a dignidade do homem é sua capacidade de realizar atos deliberados e de conhecer
seus deveres.

A educação é um processo de ajuda à aquisição da maturidade pessoal


procurada através de múltiplos estímulos e em situações muito diversas, para facilitar
ao aluno o livre desenvolvimento de sua capacidade, através da aquisição de
conhecimentos, hábitos e destrezas que lhe facilitem o domínio sobre seus próprios
atos. Um processo que permite ao filho e ao aluno formular seu projeto pessoal de
vida e o ajuda a fortalecer sua vontade de modo que seja capaz de realizá-lo.

Pais e professores precisam estar prevenidos contra os reducionismos que


diminuem a educação: o perigo de doutrinar, em lugar de ensinar; de instruir, ao invés
de educar; de cunhar, em lugar de desenvolver as potencialidades do aluno.

Educar não é colocar o aluno em um molde, mas é um processo que tem seu
ponto de referência na verdade, que o aluno deve ir descobrindo por si mesmo,
através da reflexão, até tomar a decisão de viver conforme com a verdade encontrada.

Um objetivo tão pessoal resiste necessariamente a qualquer intenção de


manipulação exterior ou de doutrinamento: a educação na liberdade respeita o
protagonismo do aluno em seu próprio processo educativo e não o substitui quando
pode ser o interessado quem – com a informação suficiente – selecione algumas metas
acessíveis e os meios para alcançá-las.

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Uma pessoa educada na liberdade é capaz de recusar as respostas fáceis,


porque sua vontade fortalecida pelo exercício está em condições de superar a
superficialidade e de cumprir o próprio dever, ainda que em determinadas ocasiões
apresentem-se dificuldades.

As manifestações práticas da educação na e para a liberdade serão diversas


segundo a idade e a maturidade do educando, mas sempre contam com seu
protagonismo: pais e professores aconselham e orientam, avivando a autonomia do
aluno, de modo que ele não se refugie na falsa segurança que lhe oferece uma
dependência passiva.

Com essa atitude, ajudam o aluno a refletir com fatos sobre as exigências do
dom da liberdade, e a entender que somente tem uma vida coerente quem age com
referência à verdade, ainda que às vezes as alternativas que a verdade ofereça
contrariem os próprios desejos.

O pai ou o professor que desejam educar na e para a liberdade não “dão


sermões”, mas observam e escutam o filho ou aluno com interesse para conhecer o
que desperta sua curiosidade, seus interesses, suas paixões, seus anseios. Coloca-se no
lugar do outro e se esforça por compreender seus pontos de vista, ainda que esteja
numa outra geração.

Definitivamente, mantém a juventude de espírito que lhe permite aprender de


quem está ensinando. Não se trata de substituir a vontade do filho ou do aluno
indicando em cada momento o que ele deve fazer, mas de colocá-lo frente à sua
responsabilidade e de ajudá-lo a tomar suas próprias decisões.

Se a relação pai-filho ou professor-aluno se limitasse a uma exigência de


condutas estereotipadas, o educador talvez conseguisse que o aluno aceitasse uma
indicação, à força de insistir, mas teria perdido a ocasião de ajudá-lo a se conhecer, a
descobrir e fazer próprios alguns critérios de conduta e a vivê-los com liberdade
pessoal.

A educação abarca todas as dimensões da pessoa e exige um desenvolvimento


coerente. É indispensável a harmonia entre as mensagens que a criança recebe em sua
família e na escola, sobretudo na idade escolar; depois, pouco a pouco, irá adquirindo
capacidade para fazer uma síntese pessoal entre mensagens e critérios contraditórios,
mas em idades precoces corre o perigo de desqualificar um dos dois ambientes,
entrando no ceticismo ou em uma confusa agregação de ideias incompatíveis,
fragmentárias, que não oferecem respostas.

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A convivência escolar e familiar configura dois ambientes privilegiados para


aprender a assumir a responsabilidade, a se relacionar, a compreender, a se abrir aos
demais, a se comunicar. A vida diária oferece abundantes oportunidades para dar
atenção aos outros, e não se pode deixá-las passar. Não se pode também cair em uma
reiteração entediante ou em uma insistência sufocante; trata-se de aproveitar o voo,
com naturalidade, a ocasião que oferece uma notícia do jornal ou da televisão, um
acontecimento familiar, qualquer acontecido, grande ou pequeno; as frequentes
perguntas que, se há confiança, surgem com fluidez.

Condutas coerentes com uma educação na e para a liberdade

Buscar a verdade. Fazer pensar

 Aproveitar as ocasiões que a vida familiar oferece para falar com os filhos,
potenciando seu senso crítico.
 Expor as razões, os motivos pelos quais aconselham agir de um modo ou outro.
 Fundamentar racionalmente o que se diz. Distinguir verdade e opinião.
 Ensiná-los a buscar sincera e valentemente a verdade e a ser coerentes.
 Ensiná-los a ponderar as coisas e a raciocinar, sem se deixar arrastar por
estados emocionais passageiros, e a não julgar com precipitação.
 Ensiná-los a considerar as diferentes opiniões e a respeitá-las.
 Ajudá-los a prever as consequências de suas decisões livres.
 Ensiná-los a não aceitar acriticamente o que apresentam os meios de
comunicação.
 Ensiná-los a refletir sobre sua própria experiência.
 Ajudá-los a se aceitar como são, com suas capacidades e limitações, e animá-
los a planejar melhorar, com entusiasmo.

Respeitar a cada pessoa. Compreender. Confiar

 Respeitar as inclinações e habilidades que Deus deu a cada um.


 Não violentar ninguém, não forçar a abertura da própria intimidade, ainda que
seja com a melhor intenção.
 Não pedir o que naquele momento não se pode dar.
 Repreender quando seja necessário sem insultar nem humilhar.
 Oferecer sempre confiança.
 Estar aberto aos aspectos positivos de qualquer nova manifestação cultural ou
estilo de vida.
 Reconhecer que têm razão em tantas ocasiões.
 Falar com clareza, sem oprimir.

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 Ajudar a compreender que fazer o que se deve requer quase sempre um


considerável esforço.
 Valorizar o esforço, não o sucesso. O trabalho bem feito, mais do que o
trabalho que saiu bem.
 Fortalecer a vontade com o exercício das virtudes.

Estimular a responsabilidade

 Estimular e exigir um comportamento correto. Ser exemplo de esforço por


praticar as virtudes.
 Escutar com atenção, esforçando-se por compreender os filhos e os alunos
(sem um diálogo sereno não há verdadeira relação interpessoal).
 Animá-los a arriscar-se, a ser corajosos, a responsabilizar-se pelo que fazem,
sem se esconder no anonimato.
 Proporcionar ocasiões de assumir responsabilidades, de acordo com suas
possibilidades na vida familiar.
 Ajudá-los a recomeçar uma e outra vez, sem se deixar vencer pelo desânimo.
 Promover a participação ativa e responsável na família, mediante os encargos e
a ajuda entre irmãos.
 Respeitar suas decisões responsáveis, ainda que nos desagradem.

Estimular a iniciativa pessoal

 Proporcionar ocasiões de exercitar a autonomia, o autodomínio, a iniciativa, a


capacidade de decidir e a participação.

Resumindo, a vida familiar e a escolar proporcionam numerosas ocasiões de


exercitar a liberdade com sentido de responsabilidade. O diálogo sereno preside a
relação interpessoal no colégio, que proporciona ocasiões de assumir
responsabilidades, de acordo com a maturidade de cada um, fomentando a
participação ativa e responsável.

Como consequência do respeito à liberdade e ao legítimo pluralismo, no


ambiente escolar não se promovem nunca ações políticas partidárias, o que não quer
dizer que não se estimule a inquietação por colaborar na resolução dos problemas que
a sociedade apresenta.

O preceptor é um professor que, como parte de seu trabalho profissional e por


encargo da direção do colégio, assume a responsabilidade do assessoramento de uma
família à que ajuda na educação de seu filho. Esta tarefa requer a orientação pessoal

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do ou dos alunos membros dessa família, de acordo com seus pais, primeiros
educadores.

Nesse sentido, a obrigação principal do preceptor é a de ajudar os pais e o


próprio aluno a desenhar o projeto educativo pessoal, procurando que haja unidade
de critérios e de ação educativa entre a família e o colégio. Ajudar a encaminhar
retamente seus desejos e ilusões. Animar a que organizem atividades e a que
participem responsavelmente em outras.

B. MEIO DE ORIENTAÇÃO PESSOAL: A PRECEPTORIA


No processo de educação personalizada combinam-se os planos que
correspondem a todos os professores e os que são próprios do preceptor. Todos
devem ajudar o aluno a se conhecer, a valorizar o mundo que o rodeia, a fazer reto uso
de sua liberdade, decidindo entre diferentes possibilidades de agir, a esforçar-se por
alcançar um rendimento satisfatório e outros objetivos de formação humana e
espiritual que desenvolvem sua personalidade.

Mas ao preceptor compete um trabalho sistemático que vai além e que se


assenta sobre uma relação pessoal de confiança – sem detrimento do profissionalismo
– com a família, com os pais e os filhos, para ajudar o educando a crescer como
pessoa, dando de si o máximo que permitam suas capacidades, e a se abrir aos demais.

As notas de profissionalismo, confiança e de confidencialidade fazem que não


seja sempre possível a orientação de alguns pais ou algum aluno por um professor
determinado.

Efetivamente, a preceptoria exige uma aceitação mútua que não pode ser
obrigada, mas livre, e uma base de confiança indispensável. Também não se deve
confundir a figura do preceptor com a do professor encarregado de classe de que
trataremos mais à frente.

Cabe distinguir, portanto, a função orientadora do trabalho de qualquer


professor: a que corresponde ao encarregado de classe, através de meios coletivos e
das indicações ocasionais que possa fazer pessoalmente a um aluno; e a que é própria
do preceptor, que requer uma base indispensável de aceitação e confiança mútua.

O preceptor trata a cada aluno de acordo com a exclusiva singularidade da


pessoa, e é peça angular da educação a que o colégio se propõe. Toda a ação
formativa se apoia, de um modo ou de outro, na relação pessoal do preceptor com o
aluno e com seus pais, porque:

a) É colaborador dos pais, a quem corresponde o direito irrenunciável da educação de


seu filho.

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b) É o vínculo entre a família e o colégio que procura a unidade de critérios e de ação


educativa.

c) Promove a formação dos pais, base indispensável para conseguir a de seus filhos.

d) Propõe, atualiza e desenvolve o projeto educativo pessoal de cada aluno, em


estreita relação com seus pais.

1. Conhecer e estimar o aluno: ganhar sua confiança


Antes de tudo, o preceptor necessita alcançar um amplo conhecimento do
aluno: qualidades, limitações, defeitos, ambiente familiar, amigos e circunstâncias de
interesse. Obterá essa informação dos pais, do trato confiado com o aluno, de outros
professores e do serviço psicopedagógico do colégio.

Sempre que surja um problema especial, é necessário informar o coordenador


ou o responsável pela orientação. Mas este conhecimento não é suficiente. A
orientação não é uma técnica fria, mas uma relação pessoal entre um estudante e um
professor que o compreende e em quem pode depositar sua confiança. O melhor
caminho para conseguir uma educação personalizada é colocar o coração, amar a cada
aluno com suas virtudes e com seus defeitos. Efetivamente, o amor é a primeira
condição para educar.

O preceptor educa pessoas para que aprendam a fazer um bom uso de sua
liberdade e a servir aos demais na família e na sociedade. Por isso, deve apoiar sua
atuação educativa não somente nos sentimentos, mas também na razão, para que
façam próprios os critérios e atitudes que lhes permitirão superar o egoísmo, alcançar
sua maturidade pessoal e viver de forma coerente com a fé que professam.

O preceptor procura desenvolver seu encargo com agradável delicadeza, sem


invadir indevidamente a intimidade dos alunos. Por isso, antes de tudo, é preciso que
ganhe sua confiança. Irá consegui-la se amar o aluno; se for leal e guardar o silêncio de
ofício; se agir de acordo com suas convicções e der exemplo de coerência pessoal; se
transmitir segurança e serenidade; se souber entusiasmar; se compreender, enfim, o
aluno e souber colocar-se em seu lugar. Nunca deve mostrar desconfiança, ainda que
em um ou outro caso saiba com segurança que o aluno não está dizendo a verdade. É
muito melhor se deixar enganar para ajudá-lo depois a retificar.

Se um aluno não deseja revelar sua intimidade, é preciso respeitar essa


situação sem forçá-la. Quando falha a base de confiança que permite tratar dessas
questões, convém estudar se não é interessante mudar o preceptor. Pelo contrário,

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quando se conseguiu a confiança de um aluno, é muito recomendável continuar


atendendo-o todo o tempo possível, ao menos durante dois ou três anos. Assim,
respeita-se melhor sua intimidade; melhora a amizade com seus pais, o que permite
alcançar maior incidência formativa na vida familiar; e se evita que seja necessário
dedicar muito tempo a cada ano ao conhecimento inicial do aluno.

O preceptor não se pode limitar a dar bons conselhos, mais ou menos


adequados, segundo o que possa deduzir por alguns dados externos. Antes de tudo,
saber escutar: somente quem tem um autêntico interesse pelas coisas que o aluno
comenta, ainda que aparentemente se trate de coisas de pouca importância para um
adulto, pode chegar à comunicação própria de um trato confiado.

Geralmente, o aluno se conhece pouco e lhe custa manifestar o que lhe ocorre.
Por isso, é preciso ajudá-lo a refletir com sinceridade sobre sua situação pessoal. O
preceptor não força a vontade do aluno, indicando o que ele deve fazer, mas ajuda-o a
tomar suas próprias decisões, com liberdade e responsabilidade. Portanto, é preciso
evitar o risco de uma conversa superficial, contraproducente e sem eficácia, com a
qual somente conseguiria uma aceitação meramente externa dos conselhos: por ficar
bem, por evitar a insistência, etc.

O preceptor está obrigado a guardar delicadamente a discrição e o silêncio de


ofício, com relação ao que um aluno lhe confiou. Este dever moral deve-se viver
também com os pais. Em todo caso, quando se trata de uma questão importante, o
preceptor pode recomendar ao aluno que fale com o sacerdote ou com seus pais;
também pode se oferecer para informar essas pessoas, mas somente o fará no caso de
que o próprio aluno assim o deseje.

É preciso estar atento no relacionamento com os alunos, evitando


manifestações de extrema familiaridade.

2. Qualidades do preceptor
O trabalho do preceptor requer qualidades pessoais de caráter, competência e
entusiasmo profissional. Além disso, é preciso contar com o tempo e o interesse por
melhorar continuamente sua formação, tanto do ponto de vista técnico, como
humano e espiritual. Enfim, deve cuidar os detalhes de tom humano, como o modo de
vestir e de se expressar.

O educador é o primeiro ponto de referência para o aluno na escola de virtudes


em que consiste a preceptoria. Nela deve oferecer uma imagem estimulante a ser
imitada. Efetivamente, para receber este encargo não é preciso ser uma pessoa
excepcional, mas requer o desejo eficaz de se formar e a disposição de corrigir o que

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seja necessário. Assim, seu exemplo se manifestará com naturalidade nas incidências
normais da jornada diária e será para seus alunos um modelo acessível de conduta: um
mestre que trata de viver em todo momento o que ensina e que sabe retificar quando
erra.

A constância, a paciência e a regularidade são três qualidades muito


necessárias. O preceptor deve ser previdente e se adiantar às necessidades dos alunos,
procurará repetir, com fórmulas novas, as ideias fundamentais, e também saberá
esperar: contar com o tempo, ajudá-los a dar um passo depois do outro, ao ritmo
adequado para cada um, sem considerar a ninguém como um caso perdido, porque
cada pessoa é única e tem grande dignidade. Foi criada por Deus à sua imagem e
semelhança, e convidada à sua intimidade. Inclusive no caso extremo de recomendar
aos pais que seu filho abandone o colégio, o preceptor pode permanecer como amigo,
aconselhando-lhes o caminho alternativo que lhe convenha, sempre com um enfoque
positivo.

A alegria é também uma virtude indispensável: a orientação pessoal precisa de


toda a seriedade exigida pelo respeito ao aluno e a suas preocupações, mas se deve
viver sempre em um clima cordial e alegre. O preceptor não é somente a pessoa a
quem se vai quando se precisa porque as coisas vão mal, mas sim o amigo que se
adianta para prevenir, estimular e ajudar a se esforçar por alcançar os objetivos de
trabalho, de melhora do caráter e de conduta que o aluno necessite em cada
momento.

Nesse sentido, são sempre mais eficazes os estímulos positivos que as


repreensões ou as correções com carga negativa. O preceptor deve saber descobrir os
aspectos positivos de caráter e de atitude do aluno, para se apoiar neles e estimulá-lo.
Quando é equânime e evita qualquer imposição, coação ou superproteção, exerce
uma exigência cordial e amável, que ajuda o aluno a refletir, a assumir sua
responsabilidade e a se esforçar.

3. Educando cada pessoa


Não existe uma receita que sirva indiscriminadamente a todos os alunos: o
preceptor não improvisa nada, mas estuda a situação de cada um e prepara as
entrevistas. Deve atender a todos com calma, sem se assustar com nada, sem
desanimar, ensinando-os a lutar com constância para superar seus defeitos e para
consolidar suas virtudes.

Convém evitar até a aparência de preferir uns alunos a outros. Atende-se a


todos, não somente aos que vão bem ou aos que vão mal, porque todos devem
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melhorar. Sem dúvida, a eficácia do trabalho do preceptor fica anulada quando faz
acepção de pessoas, mas este ponto deve ser bem entendido, porque não se deve
tratar a todos os alunos por igual: o realmente eficaz é tratar a cada um segundo suas
necessidades, mas sem favoritismos.

O melhor lugar para as entrevistas dependerá de cada caso. Geralmente, os


alunos costumam preferir o escritório ou uma sala adequada onde possam falar
sentados; em outros casos, será melhor falar enquanto se faz um passeio. De qualquer
modo, parece bom diminuir a formalidade, facilitar a espontaneidade e, sobretudo, a
sinceridade. Deve-se ensiná-los com modos práticos a dizer toda a verdade, com
simplicidade, para que possam ser ajudados.

Na medida do possível convém fazer uma entrevista formal de dez ou quinze


minutos de duração a cada duas semanas. Com bate-papos breves e frequentes,
acompanham-se melhor os alunos, e é possível ajudá-los com mais eficácia a manter o
esforço.

A primeira demonstração de responsabilidade do preceptor é dedicar a este


trabalho as horas previstas em seu horário, sem antepor outros assuntos por mais
urgentes que pareçam. No entanto, é preciso ser consciente de que este encargo não
pode se amoldar a um horário; em muitos casos, será necessário dedicar com
generosidade um tempo superior ao previsto, inclusive fora do horário escolar, para
atender a uma pessoa que o necessite.

Para facilitar a preparação das entrevistas, convém levar uma ficha para cada
aluno sempre em uma pasta ou agenda, não em papeis soltos que são fáceis de
extraviar, onde se anotam de modo discreto os dados de interesse: aniversário, nome
e profissão dos pais, irmãos, telefones e endereços, qualificações e alguma
circunstância de interesse. Não se devem anotar assuntos da intimidade do aluno.

A relação do preceptor com o aluno não pode se limitar às entrevistas formais:


a convivência diária oferece muitas oportunidades para manter uma breve conversa
no corredor, ao final de uma aula, em um momento de descanso ou no refeitório.

Esses contatos esporádicos, que não substituem à entrevista formal, mas que a
pressupõem, têm muito valor para animar, mostrar interesse por um problema, ou
felicitar se conseguiu o objetivo que pretendia. Os alunos devem notar que são
queridos e que nos interessam seus assuntos: suas expectativas, seus problemas, suas
preferências, seu mundo.

O preceptor deve ajudar o aluno a concretizar metas precisas, possíveis e que


requeiram algum esforço, revisando-as nas sucessivas entrevistas pessoais. Sempre
após estudar o que convém a cada um por seu modo de ser, suas virtudes e seus

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defeitos, e por sua situação em cada momento, para melhorar o lado humano, escolar
e espiritual.

No relacionamento com os alunos se devem evitar alguns defeitos:

a) Falar muito, impedindo que seja o aluno quem conte suas coisas.
b) A indiscrição. Uma pessoa que não guarda o silêncio de ofício não pode ser
preceptor.
c) O paternalismo que conduz a superproteger o aluno; ou uma excessiva rigidez
desprovida de carinho, que exige sem oportunidade e não conta com o tempo.
d) A prepotência que leva a presumir uma confiança que ainda não se conseguiu,
e a suscitar antes do tempo alguns temas para os quais se deve esperar o
momento oportuno.
e) Não ser completamente sincero com o aluno e agir com falta de clareza ou com
segundas intenções.
f) Dar sensação de pressa ou de realizar um interrogatório.
g) Não aprofundar, limitando-se a tratar alguns temas de forma superficial numa
conversa trivial.
h) Dar indicações taxativas, como ordens. É muito melhor aconselhar, convencer,
e procurar que o aluno descubra por si mesmo quais metas deve se propor,
porque assim exerce sua liberdade e aprende a se valorizar.
i) Deixar sem concretizar os pontos em que cada um deve melhorar.
j) Por último, ainda que o preceptor procure ganhar a confiança e inclusive a
admiração dos alunos que atende, deve evitar a dependência à sua pessoa, de
forma que em qualquer momento, se for necessário, outro preceptor possa
atender o aluno.

4. Conteúdo da preceptoria
As entrevistas com os alunos podem ter um conteúdo muito amplo, mas não se
pode perder de vista a necessidade de explicar sempre de forma adequada à idade dos
alunos o porquê das coisas, seu fundamento ético, para não ser demasiado permissivo
às suas vontades.
O preceptor não deve diminuir os objetivos da educação: não se trata de
conseguir que os alunos sejam bons meninos ou pessoas de sucesso, mas de formar
homens íntegros. Nas entrevistas, se tratarão os assuntos que convenham em cada
momento, com a maior simplicidade possível, e procurando que seja o aluno quem
fale e manifeste suas disposições interiores. Nas conversas posteriores, pode-se falar,
entre outros, dos seguintes temas:

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a) Estudo. O rendimento acadêmico pode ser o ponto de partida da relação do


preceptor com o aluno e com seus pais. Aqui está em jogo seu prestígio como
orientador, mesmo que não seja para ele o tema mais importante. Deve procurar que
o aluno adquira hábitos estáveis de trabalho, ensinando-o a superar as dificuldades e a
santificar o estudo, oferecendo-o por um motivo sobrenatural. Deve estimular o
esforço diário tanto no caso de um aluno que vá reprovar, como no de um aluno
brilhante que obtém boas qualificações sem esforço, a quem será necessário traçar um
plano de aprendizagem com maior carga de objetivos individuais, ou um plano especial
de aprendizagem de idiomas, para que também adquira a virtude da laboriosidade.

b) Família e caráter. Disposições e defeitos. Carinho e compreensão para com seus pais
e irmãos. Alegria e espírito de serviço em casa. Os encargos familiares. Obediência.
Coisas pequenas: cuidado e ordem da roupa e do uniforme, asseio pessoal. Correção
no vestir, evitando os caprichos: marcas, etiquetas, acessórios, etc. Vocabulário
adequado, sem expressões grosseiras ou irreverentes. Elegância e sobriedade à mesa.

c) Detalhes de serviço. Trabalho em equipe. Cumprimento dos encargos.


Aproveitamento das aulas. Comportamento. Detalhes de limpeza e cuidado das coisas
materiais. Ajuda aos demais no estudo e no que possam necessitar.

d) Sinceridade. Ensinar a amar a verdade e a ser completamente sinceros com Deus,


consigo mesmos e com os demais. Ajudá-los a se conhecer e a chamar às coisas por
seu nome, a ser humildes e dóceis, para colocar em prática os conselhos que recebam:
ser sincero não basta, é preciso lutar para melhorar.

e) Vigor. Aprender a dizer não, exercitando-se na aquisição de pequenos hábitos:


pontualidade ao se levantar e ao começar o estudo, constância diária no trabalho.
Evitar caprichos nas comidas, nas bebidas, na roupa. Adquirir o sentido da luta interior,
fortalecendo a vontade de modo que não se sintam derrotados antes de começar a
luta. Ensinar a recomeçar cada vez que seja necessário. Ajudá-los a vencer a
mentalidade hedonista e a descobrir o sentido positivo do sofrimento, que adquire um
valor transcendente quando se une à Cruz de Jesus Cristo.

f) Amor à liberdade e personalidade. Respeitos humanos e gregarismo.


Companheirismo. Amigos. Influir no ambiente sem se deixar levar. Senso crítico ante
os meios de comunicação social.

g) Formação cultural. Incentivar, desde pequenos, o gosto pelas boas leituras para que
adquiram senso crítico e hábitos intelectuais de reflexão que lhes permitam ser livres.
Ensiná-los a ler, a escrever bem, a falar em público e a expressar com propriedade suas
opiniões argumentando sem violência.

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h) Vida de piedade. Ser perseverantes para ajudar a cada um a ser alma de oração e a
adquirir consciência de sua filiação divina. Ensiná-los a ter uma terna e intensa
devoção a Jesus Cristo presente na Sagrada Eucaristia; procurar que amem a Santa
Missa e adquiram o costume de se confessar com frequência, com sinceridade plena;
ensiná-los a recorrer diariamente à Santíssima Virgem, a São José e aos Anjos da
Guarda, para que se mantenham na presença de Deus; a rezar com pausa e atenção as
orações vocais. Sugerir-lhes que vivam algumas normas de piedade, de acordo com
sua idade.

i) Emprego do tempo livre. Descanso, sono. Saúde. Esportes e diversões. Uso da


televisão e do vídeo. Participação nas atividades de clubes juvenis onde possam
completar a formação que recebem no lar e no colégio.

j) Educação da afetividade (a informação sexual). Procurar que os pais os informem em


tempo, adiantando-se, sobre a sexualidade. Ensinar a viver detalhes práticos de pudor
e de modéstia que lhes permitam uma vida limpa e alegre, sem obsessões. Direcionar
a afetividade, sem reprimi-la. Em muitos casos, será oportuno recomendar aos alunos
que tratem pessoalmente um tema de consciência com o sacerdote. O preceptor deve
atuar com muita prudência, sem nunca dar a impressão de querer intrometer-se. Os
assuntos que se referem à intimidade somente podem ser tratados na medida em que
o aluno se abra com naturalidade, movido por sua confiança no preceptor. Nessas
ocasiões, é bom recordar ao aluno que não falta à sinceridade se prefere não falar.

5. O preceptor e a qualidade docente


É muito importante que os pais saibam desde que o filho ingresse no colégio
que o rendimento acadêmico é um dos temas, mas não o único, que devem tratar com
o preceptor.
No entanto, o rendimento acadêmico tem importância primordial em um
colégio. Para tanto, o preceptor necessita:

a) Partir de uma análise precisa, com o conhecimento das possibilidades e


limitações do aluno, que conseguirá a partir dos dados recolhidos por
observação, da informação fornecida pelos professores, pelos pais e pelo
preceptor anterior. Um bom diagnóstico inicial, que deve ser atualizado ao
longo do ano, torna possível prognosticar o ótimo rendimento do aluno.
b) Conhecer bem o desenvolvimento acadêmico do aluno. Matérias para as quais
está mais ou menos dotado. Recuperações ou avaliações anteriores. No caso de
alunos bem dotados, desenvolvimento de planos complementares:
aprendizagem de um segundo idioma, trabalhos especiais em algumas
matérias, ajuda como monitor a seus companheiros, etc.
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c) Saber se aproveita as aulas e vai ao colégio com o material necessário, se


estuda todos os dias em casa o tempo necessário, se é ordenado, se usa
técnicas de estudo eficazes, quando e onde estuda, etc.

Por essas razões, convém que o preceptor dê alguma aula aos alunos a quem
orienta, embora não seja imprescindível. Em determinados casos é interessante que
continue atendendo a alguns alunos dos quais foi preceptor em turmas anteriores,
ainda que não lhes dê aula.

Os pais de alunos com baixo rendimento agradecem quando são mantidos


informados sobre quando e como se recuperam as matérias e avaliações pendentes,
assim como as datas dos exames importantes. É preferível que esta informação chegue
através da agenda escolar de seu filho. O preceptor pode estar pendente de que tenha
anotadas as informações.

É muito positivo dar a conhecer também aos pais, por exemplo, através de uma
anotação, a melhora e os bons resultados de seus filhos, especialmente quando isso
não é o normal.

A sessão de avaliação é um momento especialmente apropriado para a troca


de informações sobre o desenvolvimento acadêmico de cada aluno. Nela devem estar
presentes todos os preceptores, ainda que não deem aulas nessa turma. Quando for o
caso, sem esperar a avaliação, o preceptor deve informar os professores sobre os
alunos que tenham um problema especial ou sobre os que estão realizando um
particular esforço, para que os animem.

Convém evitar que, motivado por um sincero interesse por ajudar a um aluno,
o preceptor se comprometa diante dos pais a uma dedicação extraordinária de tempo
ou uma atenção que não seja realmente factível. Embora saiba que com uma maior
dedicação de sua parte, ou com mais ordem, poderia acompanhar melhor um aluno, o
preceptor não deve ir à entrevista com os pais com “complexo de culpa” pelos
resultados.

Quando os baixos rendimentos são devidos a dificuldades especiais de


aprendizagem, deficiente nível de conhecimentos básicos, ausência prolongada da
aula, etc., de comum acordo com os pais deve-se prever uma ajuda especial fora do
colégio: aulas particulares, ajuda de algum companheiro mais estudioso, etc. É
conveniente que esta situação se limite ao tempo imprescindível para corrigir a
deficiência, e conseguir que os pais não ajam por sua conta, sem consultar o
preceptor.

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Se o aluno tem problema em uma matéria, em determinados casos pode ser


bom que seja o professor dessa matéria quem fale com os pais. Não obstante, se se
prevê que pode aparecer alguma desavença na entrevista, é melhor que o preceptor
esteja presente. Cada professor procurará ajudar pessoalmente os alunos que não vão
bem em sua matéria, sem deixar nas mãos do preceptor a solução das dificuldades
específicas que tenham seus alunos. No entanto, a solução do assunto caberá ao
preceptor, quando a falta de rendimento tenha sua origem em um problema familiar
ou de saúde, ou em outros aspectos não acadêmicos.

6. O preceptor e as atividades extraescolares


Dentro de suas possibilidades, os preceptores devem dedicar tempo fora do
horário escolar para realizar com os alunos atividades de tempo livre: esportes,
excursões, convivências, visitas a enfermos e outras obras de misericórdia, que
consolidam a amizade com os alunos e permitem um trato mais pessoal.
Essas atividades ajudam a conseguir um clima amplo de confiança,
multiplicador da eficácia dos meios ordinários de formação do colégio. São, além disso,
um bom meio para animar os alunos a participar das atividades dos clubes juvenis.
Também são muito interessantes os passeios curtos, de meia jornada, por exemplo,
em dias letivos, que se podem fazer sem especial preparação, quando sejam
oportunos para descarregar a tensão que se possa ter formado depois de uma semana
de exames, ou durante um trimestre longo.

7. O preceptor dos alunos do Snipe


A partir dos seis anos deve-se falar pessoalmente com os alunos e ir
acostumando-os à entrevista formal com o preceptor. Podem ser suficientes de cinco a
dez minutos a cada quinze dias, mas, sobretudo, convém aproveitar todas as
oportunidades que oferece a convivência diária para atender a cada um e para formá-
lo precisamente através dessas incidências ordinárias.

Tudo quanto se falou com relação aos pais dos alunos tem uma especial
relevância no caso do preceptor dos alunos de 6 a 12 anos. Durante estes primeiros
anos, ele deve ajudar os pais a se formarem, a entenderem com profundidade os
ideais que fundamentam a atividade educativa e a colocá-los em prática em sua vida
pessoal e familiar. Ajudá-los a compreender que são os primeiros educadores e não
podem delegar ao colégio, que tem uma função subsidiária, a responsabilidade da
formação de seus filhos. O colégio existe para ajudá-los a procurar conjuntamente o
desenvolvimento harmônico da personalidade de seus filhos em todos seus aspectos,
para que sejam pessoas íntegras que saibam se valorizar, exercitando sua liberdade.

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Os alunos desta faixa etária são particularmente receptivos, tanto para a ação
educativa dos pais e dos professores, como para as influências da televisão, da
publicidade e de outros meios de comunicação. Adotam como modelos de conduta as
pessoas que admiram, que exercem sobre eles uma grande autoridade. Por isso, os
preceptores dos alunos de 6 a 12 anos devem cuidar muito os detalhes pessoais, para
poder ajudá-los eficazmente.

C. MEIOS DE ORIENTAÇÃO COLETIVA


A orientação se faz também por meios coletivos que, convenientemente
coordenados com o atendimento pessoal dos alunos e de suas famílias, têm uma
grande eficácia.

1. O professor encarregado de classe (PEC)


O professor encarregado de classe é peça chave na qualidade docente e
formativa: é o coordenador de toda a ação educativa que o colégio oferece aos alunos
de um grupo ou de uma sala, que lhe foram designados e para os quais ministra uma
ou várias matérias.
 Coordena a ação docente dos professores, preside a sessão de avaliação e
está atento ao rendimento acadêmico de cada um dos alunos de sua sala;
 Dirige os meios de formação em grupo e serve de apoio à atenção pessoal
dos preceptores;
 É o responsável pela convivência e disciplina do grupo de alunos que
atende, de modo que sua turma viva em um ambiente de alegria, respeito,
colaboração e trabalho, de autodisciplina;
 É também o responsável pelas sessões informativas e outras atividades
dirigidas aos pais de seus alunos.

2. O ambiente educativo da sala de aula


A principal missão do professor encarregado é conseguir uma convivência
ordenada que facilite um trabalho intenso num ambiente de alegria, colaboração e
cordialidade. Deve prestar (e fazer prestar) uma atenção consciente e sistemática à
construção de um ambiente que canalize e multiplique o influxo educativo do colégio;
um clima que facilite o esforço e o desapego do próprio ser na relação com os demais;
um ambiente de disponibilidade para o trabalho individual ou em equipe.

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O professor encarregado de classe se ocupa em conseguir esse clima e ajudar


os demais professores a mantê-lo; procura que todos conheçam muito bem os alunos;
assegura em cada momento a coordenação das diversas exigências, para evitar
situações de angústia e ansiedade seguidas de tempos demasiado tranquilos em que
há pouco esforço.

Para conseguir esse ambiente sereno, tudo é importante: o cuidado dos


detalhes, o material da sala, a decoração e uma distribuição funcional que ajude a
evitar situações de tensão nos alunos. É importante também o empenho de todos os
professores por viver de modo continuado uma série de ações incidentais
programadas sistematicamente com referência ao uso das coisas, ao trato com
professores e companheiros, ao porte pessoal. Essas ações incidentais permitirão a
formação de hábitos de conduta e facilitarão os sentimentos de segurança, dignidade,
autoestima e espírito de serviço.

3. Reunião de turma
A reunião de turma é uma sessão de trabalho periódica do PEC com seus
alunos, para comentar os objetivos docentes, de formação e de convivência, propostos
para os alunos da turma, bem como para valorizar as incidências mais significativas
que tenham acontecido. Os alunos participam, assim, de seu próprio processo
educativo.
A finalidade principal da reunião de turma é fortalecer os laços de
companheirismo, de compreensão e respeito, de amizade e solidariedade entre os
alunos. Pode servir também para conseguir os seguintes objetivos:

a) Promover o aproveitamento acadêmico de todos e conseguir que uns


colaborem com os outros, em grupos de trabalho por disciplinas, quando os
que têm melhor aproveitamento ajudam seus companheiros.

b) Assegurar que nenhum aluno fique isolado, que todos sejam bem atendidos,
de forma que se sintam bem na sala de aula e no colégio.

c) Conseguir um ambiente positivo no qual os alunos vivam sua liberdade,


superando os respeitos humanos, e onde seja natural fazer as coisas bem
feitas.

d) Desenvolver o espírito de iniciativa e o sentido de responsabilidade em todas


as tarefas colegiais e em seu tempo livre.

e) Estabelecer ações práticas que concretizem as normas gerais de convivência,


dependendo da situação específica de cada turma.

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O desenvolvimento da reunião dependerá da idade dos alunos, da situação da


turma naquele momento determinado, como também do modo de ser pessoal do
professor encarregado. Portanto, é um meio aberto, flexível.

A reunião será eficaz na medida em que tenham sido bem fixados os objetivos
pretendidos, preparados os conteúdos: comentar um aspecto da vida colegial,
organizar os grupos de trabalho, corrigir uma conduta coletiva inadequada, transmitir
uma indicação, ou outros que pareçam convenientes.

É necessário prever o modo de apresentar esses conteúdos aproveitando


diferentes situações: um bate papo do professor ou o comentário de um aluno, um
trabalho em grupo com a ajuda de um “caso” ou de um questionário, um
brainstorming, a intervenção do Conselho de turma, uma atividade fora da sala, os
recursos humanos e materiais necessários (convidar a outro professor, ajudar os
membros do Conselho de turma a preparar sua intervenção, fotocopiar algum
documento, preparar o projetor ou o vídeo, ou ter previstos os lugares para o trabalho
em grupos). Decidir então como ressaltar os conteúdos de maior interesse.

Em qualquer caso, a reunião de turma deve manter um tom positivo e


estimulante, evitando-se sempre a crítica amarga ou o tom de bronca. Normalmente,
será conveniente evitar as referências pessoais, para não deixar ninguém mal: é
melhor que o encarregado de classe trate o que seja oportuno com cada aluno, em
particular.

No mesmo sentido, é interessante que os alunos exponham com naturalidade


suas sugestões, ordenadamente, mas sem admitir críticas negativas sobre a pessoa ou
a atuação de um professor ou de um companheiro, quando sejam estéreis e não
ofereçam uma solução. Quando se tratar de uma crítica construtiva, com um tom
adequado, será conveniente recomendar a quem a faz que fale diretamente com o
professor interessado, ou, dependendo do caso, arbitrar outros meios que pareçam
mais oportunos. Que seja o próprio professor encarregado de classe, por exemplo,
quem o faça. A reunião de turma deve ter uma forma muito dinâmica, para evitar que
a sessão seja monopolizada pelas intervenções do professor encarregado.

Quando for evidente uma conduta desagradável, o encarregado de classe


procurará ressaltar algum aspecto que ajude a compreender e a desculpar, ou ao
menos a interromper o julgamento. Os alunos devem ser ajudados a aprofundar nas
causas que os problemas provocaram e a buscar soluções. Inclusive, quando se tratam
de dificuldades causadas por outras pessoas, é importante acostumá-los a se
perguntar o que eles mesmos podem fazer para resolvê-las. É conveniente não
adiantar soluções sem consultar antes a quem compete a decisão, para não
ultrapassar a área de autonomia do professor encarregado de classe.

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4. O Conselho de turma
O Conselho de turma é o órgão de participação dos alunos no governo da sala e
um meio de formação que estimula o senso de responsabilidade, o companheirismo e
o espírito de serviço. O Conselho é também uma ajuda inestimável para conseguir os
objetivos educativos da aula e um meio excepcional para a formação dos alunos
líderes, preparando-os para o futuro.

Normalmente, o Conselho de turma está constituído por cinco alunos eleitos


por votação secreta pelos companheiros de sala: o delegado de turma, o vice-
delegado, e dois ou mais secretários. Não obstante, quando parecer conveniente,
pode-se ampliar para até sete membros. O professor encarregado de classe preside as
reuniões do Conselho de turma.

Os membros do conselho de turma não são “representantes dos alunos” no


sentido estrito do termo. Em nossos colégios, cada aluno se representa a si mesmo e
tem acesso a todas as pessoas com as que necessite tratar (professores,
coordenadores, diretor, etc. ). Sua missão não é apresentar queixas ou reivindicações,
mas servir a seus companheiros.

Funções gerais
As formas práticas de atuação e os assuntos dos quais se ocupa o Conselho de
turma dependem da idade dos alunos. Correspondem-lhes as seguintes funções:
a) Velar pelo bom funcionamento da sala e da convivência, de modo que a
classe tenha um ambiente de trabalho e alegria.

b) Promover a cooperação e a solidariedade entre os alunos do grupo, de


forma que cada um alcance os objetivos previstos, segundo suas possibilidades.
Organizar as ajudas que uns alunos possam prestar a outros, para recuperar
uma matéria ou para adquirir determinadas habilidades.

c) Conseguir a coesão do grupo e sua união com o colégio e assegurar que


nenhum aluno fique isolado.

d) Procurar a participação ativa de todos os alunos nos meios educativos


previstos: nas atividades de formação coletivas, nas entrevistas individuais com
o preceptor, nas convivências, etc.

e) Organizar excursões, visitas culturais e outras atividades que facilitem a


convivência e a amizade entre os alunos, e entre os alunos e os professores.

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Uma possível de divisão de funções


 Delegado: prepara junto com o PEC a ata do Conselho de turma. Ordem do dia.
Supervisiona a atuação dos vogais. Informa dos acordos estabelecidos. Deve ser
integrador.
 Vice-delegado: ajuda ao delegado e o supre. Faz as atas e as revisa com o PEC.
 Secretário de estudos: cuida do rendimento acadêmico geral, como é o
aproveitamento das aulas, fala com professores sobre possíveis calendários de
provas. Análise da carga de deveres semanal ou diária. Pode mapear os
melhores alunos e os alunos com mais dificuldade.
 Secretário de formação: formação humana e espiritual e seguimento dos
encargos da classe. Sugere temas de formação.
 Secretário de atividades escolares e extraescolares. Pode propor e coordenar a
realização de atividades culturais, esportivas, etc.

Eleição do Conselho de turma


O Conselho deve se constituir desde o 1º ano do Ensino Fundamental I, ainda
que não haja inconveniente em iniciá-lo antes. Os alunos o elegem por um ano,
quando finalizar a primeira semana do ano escolar. Em circunstâncias de verdadeira
necessidade, pode ser conveniente proceder a novas eleições na metade do ano ou
estabelecer uma eleição trimestral. Em qualquer caso, deve ficar claro que os cargos
são ocasião de serviço aos demais, não de brilho pessoal, e exigem superar o egoísmo
e a comodidade.

Podem ser candidatos todos os alunos da turma. Convém procurar que se


apresentem aqueles de conduta mais exemplar, com bom rendimento acadêmico, e
capazes de viver a amizade e o espírito de serviço, qualidades necessárias para os
líderes eleitos de cada turma. A eleição pode ser por votos (mais votado seria o
delegado, e assim sucessivamente até completar o quadro) ou por funções.

É preciso dedicar tempo e esforço à formação dos membros dos Conselhos de


turma, pela decisiva influência que têm sobre seus companheiros. É interessante
organizar todos os anos uma convivência especial, breve, por níveis, no início do ano
escolar.

Periodicidade das reuniões


O Conselho de turma se reúne uma vez a cada quinze dias, para conseguir um
funcionamento mais ágil e eficaz. Convém assegurar que não se distanciem as
reuniões, para evitar que fique na prática um órgão inoperante.

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As reuniões acontecem no horário escolar, normalmente durante a pausa do


meio dia, para não prejudicar o andamento docente. Uma hora é suficiente.

Critérios de funcionamento
É conveniente que o professor encarregado de classe presida todas as reuniões,
embora deva manter uma atitude prudente para não intimidar nem impedir que os
membros do Conselho expressem com liberdade suas opiniões e suas propostas de
solução.

O PEC pode preparar uma pauta básica com o delegado de turma, para
assegurar que se tratem todos os temas, evitando improvisações e desordem. É
interessante redigir uma breve ata de cada reunião.

Os diferentes assuntos serão estudados pelos membros do Conselho que


proporão planos de ação concretos com a pessoa responsável para sua execução ou
seguimento. Essa pessoa prestará conta de sua obrigação na reunião seguinte do
Conselho.

O professor encarregado de classe é consciente de que cabem a ele a


competência e a responsabilidade pelo governo da sala, e não aos alunos. No entanto,
a autoridade do professor não é diminuída – pelo contrário, se reforça – quando
impulsiona o funcionamento do Conselho de turma e atende suas sugestões.

Deve ensinar os alunos a participar com sentido de serviço e responsabilidade;


fazê-los ver que ser membro do Conselho significa servir, fazendo-se corresponsável,
em seus justos termos, do bom andamento da sala que representam: sem inibir-se
diante dos problemas reais da sala, mas sem pretender assumir competências que não
lhe correspondam.

É importante evitar que o Conselho de turma limite suas funções a uma crítica
negativa dos professores e do colégio, pois seria uma forma de se esquivar de suas
próprias responsabilidades. Quando percebe que determinado assunto não vai bem, o
Conselho deve informar esse problema ao PEC e, se estiver em suas mãos, sugerir uma
possível solução para corrigi-lo, mas sem cair em uma crítica estéril.

Quando necessário, uma proposta do Conselho de turma pode ir para a direção


do colégio, formulada, porém, de maneira que nem sequer pareça uma pressão dos
alunos à direção do colégio.

O Conselho de turma é um organismo especialmente eficaz nos anos


superiores. Mas é importante que os meninos e meninas, desde pequenos, se

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acostumem a participar ativamente nos assuntos que afetam sua turma, sendo
importante prestar atenção às suas sugestões.

Convém contar com o Conselho de turma para atender especialmente aos


alunos que precisem, para prevenir os problemas de disciplina e para decidir as
sanções que se devam aplicar, conforme o caso.

5. Os encargos dos alunos


Os encargos são um meio de particular eficácia para estimular a
responsabilidade dos alunos e o espírito de serviço aos demais. São pequenas
responsabilidades cotidianas de serviço que permitem colaborar para o bom
funcionamento da vida escolar.

Para que um encargo tenha eficácia educativa, antes de tudo deve ser útil, ou
seja, um serviço efetivo. Os alunos se motivam quando veem que, com o esforço de
cada um em seu encargo, se consegue que a classe funcione bem. Por outra parte,
fomentará a responsabilidade na medida em que o aluno seja consciente de que deve
dar conta (diante de seus companheiros ou do professor) do trabalho realizado ou da
ajuda prestada.

Por outra parte, a responsabilidade requer tomada de decisões pessoais na


escolha das melhores formas de cumpri-los. Ao programar os encargos, deve-se
procurar que fomentem a iniciativa pessoal ao buscar os modos de cumprir essa
obrigação. Nesse sentido, quase sempre será conveniente animar a quem buscou um
novo caminho para realizar sua obrigação, ainda que o resultado não tenha sido
animador.

Os encargos, além de promover a responsabilidade e de facilitar um clima


educativo adequado, potenciam a confiança do aluno em si mesmo, reforçando a
segurança pessoal, quando lhe são encomendadas tarefas acessíveis, ainda que lhe
exijam esforço. Por outra parte, são um bom meio para desenvolver habilidades
através da experiência, porque ao fazer-se cargo de uma responsabilidade o aluno
deve colocar em jogo suas capacidades. Por último, são uma ocasião para exercitar o
espírito de serviço e adquirir a consciência de ser útil aos demais.

Ao distribuir os encargos, convém considerar qual convém a cada um, segundo


seu caráter, virtudes e defeitos. Depois, é preciso explicar-lhe em que consiste o
encargo, para que possa cumpri-lo bem desde o primeiro momento.

A programação e a distribuição dos encargos devem ser feitas com grande


flexibilidade, atendendo à idade, situação e às características específicas de cada

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grupo. Um encargo que foi útil durante um tempo pode tornar-se desnecessário ao
mudarem as circunstâncias; talvez um aluno determinado possa ter vários encargos,
enquanto que no caso de outro será melhor que compartilhe seu encargo com um de
seus companheiros; um encargo que convém a um aluno de Fundamental I pode ser
pouco adequado para um aluno de Fundamental II; etc.

Pode ser conveniente que o Conselho de turma se ocupe de distribuir os


encargos na turma, pensando (com a ajuda do PEC) qual deve ser solicitado a cada um
dos companheiros, evitando os favoritismos.

Além disso, é necessário que o professor encarregado de classe controle


periodicamente o cumprimento dos encargos. É interessante que (como encargo
próprio) alunos mais velhos colaborem com os professores encarregados no
seguimento dos encargos de um grupo de alunos mais novos, para ensinar-lhes os
modos práticos de cumpri-los bem.

A experiência aconselha que, entre os seis e os doze anos, os encargos variem


todos os meses, ou ao menos ao começar o período de uma nova avaliação. Em
determinadas ocasiões, pode ser aconselhável mudar algum encargo antes desse
prazo, embora sempre seja melhor manter a constância em seu cumprimento.

Em qualquer caso, é preciso não perder de vista que os encargos são um meio,
um instrumento ao serviço do processo educativo de um aluno, não um fim em si
mesmo. Todos os professores devem estar atentos para que sejam cumpridos,
especialmente ao começar e terminar suas aulas.

6. O Programa de Formação Humana: Virtudes


É um programa sistemático de educação em valores, adaptado ao momento
evolutivo dos alunos de cada idade, coordenado pelo professor encarregado de classe.

Este programa se desenvolve nas reuniões de turma e atende à formação do


entendimento, ao fortalecimento da vontade e ao cultivo da afetividade. Seu sentido é
completar, sistematizar e assegurar a educação em valores que se dá através do
currículo comum.

Possui um caráter eminentemente participativo e incorpora atividades de


estudo de temas morais, de debate sobre temas da atualidade, de dramatização e
julgamento de situações - promovendo o envolvimento intelectual e emocional dos
alunos -, de estudo e discussão de casos, de cine fórum, de exercícios das virtudes, etc.

203
Solar Colégios
Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

Para realizar com eficácia esse programa, o professor necessita, além de


aprofundar cada vez mais sua formação pessoal (através de conversas, leituras, a
própria reflexão, etc.), desenvolver uma série de habilidades de dinâmica de grupos,
tais como:

 passar rapidamente dos princípios aos exemplos;


 relacionar os interesses e opiniões dos alunos com os materiais que se
apresentam;
 incorporar as notícias de atualidade aos temas de trabalho dos alunos;
 voltar às ideias gerais quando a discussão se detém em um nível
depreciativo;
 abandonar com delicadeza os temas que não provocam reflexão;
 dirigir a discussão fora de âmbitos excessivamente pessoais ou
dolorosos, sabendo ver em toda ocasião o lado positivo das situações
apresentadas.

7. As assembleias
São reuniões de algum membro da Direção do colégio com os alunos de uma
turma ou ano, nas quais se informam acontecimentos relevantes da vida colegial e se
apresentam de modo atrativo os objetivos docentes e formativos para a turma ou ano.

Seu objetivo é dar uma visão geral do centro educativo, favorecendo a unidade
da vida colegial, como também proporcionar aos alunos uma forma de participação na
vida do centro.

É conveniente que tenha um caráter relevante e participativo e esteja muito


bem preparada pelos professores encarregados de classe. Aconselha-se uma
periodicidade trimestral, embora não haja inconveniente em realizar uma assembleia
ao princípio de cada avaliação ou por ocasião de algum fato colegial de especial
transcendência.

8. As convivências
A partir do 1º ano do Fundamental I, os alunos de cada turma realizam uma
convivência de dois ou três dias de duração em um lugar apropriado para tal atividade.

São alguns dias de maior trato entre professores e alunos e dos alunos entre si.
Proporcionam ocasiões para consolidar a confiança, a amizade e a unidade entre os

204
Solar Colégios
Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

alunos, para exercitar a ajuda mútua e as virtudes sociais, e permitem uma formação
humana e cristã mais intensa.

D. ATIVIDADES PROMOVIDAS PELA CAPELANIA


O fato de que a educação considere a dimensão transcendental da pessoa e se
realize com critérios cristãos é consequência da liberdade dos pais ao escolherem o
tipo de educação que desejam para seus filhos e da liberdade dos professores ao
trabalharem de acordo com esse modelo educativo.

O trabalho de formação cristã não se limita a preencher de sentido cristão a


tarefa escolar cotidiana. É necessário, além disso, oferecer aos pais, professores e
alunos, que livremente o desejem, um adequado atendimento espiritual.

A formação cristã busca conseguir a unidade de vida, isto é, a harmonia entre o


modo de pensar e de agir. Apresenta os seguintes aspectos básicos:

 proporcionar uma sólida e profunda formação doutrinal religiosa


adequada à capacidade das diferentes pessoas;
 apresentar um ideal de vida cristã fundamentado na chamada
universal à santidade e na santificação do trabalho profissional e dos
próprios deveres, destacando o sentido da filiação divina, a oração e
a frequência de sacramentos, a Santa Missa como centro e raiz da
vida cristã e a necessidade de uma sensível e intensa devoção à
Santíssima Virgem;
 procurar o desenvolvimento das virtudes humanas, das virtudes
sociais e cívicas, dos hábitos de convivência, cooperação e serviço, e
o sentido da responsabilidade social como exigências da caridade,
principal virtude cristã;
 destacar a vertente apostólica da vida cristã como chamada a
impregnar de sentido cristão as relações com os demais e as
realidades humanas, procurando aproximar de Deus todas as almas.

A missão do capelão no colégio é ocupar-se do atendimento espiritual dos pais,


professores, pessoal não docente e alunos que livremente o desejem e (em
determinados casos) dar algumas aulas de Religião, normalmente para explicar temas
de moral.

205
Solar Colégios
Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

Além do atendimento espiritual pessoal, o sacerdote pode, com alguma


periodicamente dar aulas para cada turma onde expõe algum aspecto da vida cristã,
de modo adequado à capacidade dos alunos.

206
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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

Capítulo X - O AMBIENTE E A CONVIVÊNCIA ESCOLAR O CLIMA DA SALA

A. IMPORTÂNCIA DO AMBIENTE ESCOLAR


No seu conjunto, a influência do colégio acontece envolvendo e condicionando
as tarefas escolares, facilitando-as ou dificultando-as. Junto à atividade programada,
intervêm todos os elementos materiais e pessoais que constituem o colégio. Trata-se
da ação do ambiente que é, ao mesmo tempo, marco e sistema de estímulos para a
vida e convivência humanas. Com toda razão pode-se entender que o centro educativo
é ao mesmo tempo um ambiente para a convivência e um conjunto de estímulos para
a aprendizagem sistemática.

Vai-se ao colégio para aprender; e a aprendizagem não é somente a aquisição


de conhecimentos e habilidades. A simples convivência exerce enorme influência
sobre a formação pessoal. Por isso, é preciso dar-lhe uma atenção consciente e
sistemática.

A necessidade de cuidar do ambiente escolar se percebe claramente quando se


pensa que é ele o canalizador do influxo educativo do colégio. Os distintos fatores da
vida colegial – a leitura e o cálculo, os trabalhos práticos, os passeios de aprendizagem,
os livros e materiais utilizados – atuam produzindo um resultado próprio. Mas todos
convergem e se acham condicionados – ajudados ou obstaculizados – pelo ambiente
cotidiano da sala e do Centro. Para alcançar as finalidades educativas é essencial que
cada membro da comunidade escolar se sinta bem nesse ambiente.

B. CONDIÇÕES DO AMBIENTE ESCOLAR


Enquanto condicionante, o ambiente facilita ou dificulta a vida, por isso há a
necessidade de um ambiente adequado. A educação também requer (exige como
primeira condição) um ambiente adequado, isto é, que facilite o desapego do próprio
ser das crianças com relação às pessoas que estão ao seu redor, que estimule o esforço
e a atividade e que produza sensação de comodidade.

Conforto
O primeiro elemento para se sentir bem é o conforto. Há necessidade de um
conforto material, resultado da adequação dos elementos físicos do ambiente (espaço,
luz, cores, móveis...) a nossas condições biológicas.

207
Solar Colégios
Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

A sala deve estar limpa e ser ampla, com capacidade para estar organizada em
diferentes áreas (com armários separadores, por exemplo), com uma iluminação
adequada, boa ventilação, arejada, de forma que a temperatura seja sempre
agradável.

Deve estar organizada de modo que os deslocamentos, quando se passar de


uma atividade a outra, sejam facilitados, bem como a realização das diferentes tarefas,
com cantos de trabalho amplos e material disposto de modo que possa ser utilizado
pelas crianças.

A decoração deve ser estimulante e variar com frequência: cartazes, fotos,


palavras, projetos, livros, murais, revistas, catálogos... Os cartazes, pôsteres, etc.
devem estar à altura das crianças.

Também faz parte desse conforto material o conforto físico das crianças e a
higiene, ou seja, que possam secar-se se estão molhados, que possam lavar-se se se
sujaram, que levem roupa confortável – adequada à atividade que estão realizando –,
que possam descansar em um canto tranquilo, etc.

Comunicação cordial
A ordem no ambiente é sem dúvida um componente para o conforto. Mas há
também um conforto psíquico que depende da cordialidade nas relações pessoais dos
que compartilham um mesmo ambiente, e da confiança mútua que possuam. O
professor deve tratar os alunos com grande cordialidade, simpatia e espontaneidade,
de modo que todos se sintam muito bem acolhidos. Deve-se manter uma atitude
positiva, evitando o máximo possível os “nãos”.

A cordialidade e qualidade da relação dependem, em boa medida, da convicção


de que a criança é uma pessoa que merece respeito. Os sinais de respeito são
numerosos, por exemplo:

 chamá-la sempre por seu nome ou apelido familiar,


 olhá-la nos olhos quando se fale com ela, colocando-se à sua altura (física),
 não superprotegê-la, ao contrário, ensiná-la quanto antes a agir com
autonomia,
 respeitar o ritmo de trabalho de cada uma,
 escutá-la com atenção (também no gesto) quando nos fala,
 animar seus esforços, animar a fazer bem as coisas, com disposição positiva e
confiança em suas possibilidades,
 indicar-lhe com clareza, com a atitude, com a palavra ou com o gesto
expressivo o que está bem e o que está mal,
 propor-lhe atividades bem graduadas que lhe permitam progredir,

208
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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

 ser firmes quando sua segurança ou a dos demais esteja em perigo,


 evitar qualquer tipo de menosprezo ou humilhação,
 etc.

O professor não é o único que mantém contato com as crianças. Para que a
ação educativa seja efetiva e o clima escolar seja cordial, de agradável convivência, a
equipe educativa e todo o pessoal do colégio, docente ou não, deve ser coerente com
essas indicações, sendo conscientes de que as crianças necessitam sentir ao seu redor
pessoas que as amam para poder adaptar-se à vida escolar.

Estímulo para as atividades e para o esforço


Considerando-se que o colégio é um ambiente de aprendizagem e trabalho,
necessita oferecer conforto, estimular e facilitar a atividade e o esforço dos estudantes
(sem gerar neles ansiedades), e promover agradável disponibilidade para o trabalho,
realizado de forma individual ou coletiva.
Isso requer, em primeiro lugar, um clima sereno na classe, para evitar a fadiga
de algumas crianças que se excitam com facilidade e proporcionar tranquilidade.
Também implica a oportuna variedade das atividades, físicas e intelectuais, que
respondam a suas necessidades naturais de mobilidade e satisfação da curiosidade e
do afã de aprender. É preciso ainda facilitar o resultado positivo das atividades que as
crianças iniciam, animar e estimular a criança inativa e orientar o trabalho cada vez
que seja necessário.

Do mesmo modo, é importante propor gradualmente às crianças atividades


com maior dificuldade, evitando que sua evolução pare, e prestar atenção aos
sintomas de cansaço, de doença ou de possíveis deficiências visuais ou auditivas, tão
frequentes nessas idades.

Em resumo, o ambiente adequado para a educação é aquele no qual a criança


encontra:

 conforto
 estímulo para as atividades e o esforço
 comunicação cordial, carinhosa

As condições objetivas apontadas para um ambiente educativo adequado


encontram-se em estreita relação com as grandes motivações humanas. Sentir-se bem
em determinada situação implica sentir-se seguro, aceito por quem estiver junto e em
comunicação cordial.

209
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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

Em outras palavras, um ambiente adequado é aquele que facilita às crianças a


promoção e o reforço dos sentimentos de segurança, autoconceito positivo e
colaboração.

C. O AMBIENTE ESCOLAR PERSONALIZADO


O ambiente tem um duplo interesse educativo: como meio de educação, já que
nele se reúnem uma abundância de estímulos educativos que estão operando
constantemente na formação das crianças; e como objetivo geral da educação, já que
se pode influir no ambiente para que se torne ainda mais propício para o processo
educativo de quem nele convive. Esta segunda possibilidade obriga à necessidade de
se “construir” um ambiente escolar que exerça uma influência positiva.

A personalização do ambiente implica:

1. na existência de vínculos pessoais entre as crianças e seus professores, isto é,


relações que vão além do puramente didático e do rendimento.
2. na ausência de anonimato na comunidade escolar.
3. na mútua projeção ou reflexo da vida escolar e da vida fora da escola.
4. no sentido familiar e de peculiar atenção a cada menino ou menina.
5. no espírito de iniciativa, flexibilidade e autonomia em professores e alunos.

Sem dúvida, toda a organização do Centro condiciona, de certo modo, seu


ambiente, mas não podemos esquecer que o ambiente nasce fundamentalmente da
própria vida que se desenvolve no colégio.

O ambiente escolar se constrói com os estímulos que nascem da presença,


atitudes e atividades das pessoas que convivem no centro educativo. A influência das
pessoas no ambiente se inicia, reforça ou debilita com a conduta habitual, não com um
ato isolado, que se manifesta em atos análogos repetidos com suficiente frequência.

A continuidade da conduta é manifestação patente de uma tendência estável,


isto é, de um hábito. A partir disso podemos inferir que a possibilidade de modificar o
ambiente radica na possessão (ou formação) e exercício de alguns hábitos que sejam
adequados ao ambiente que se quer construir.

A construção do ambiente através das Ações Incidentais

O Círculo de Educação Personalizada, de 1988 a 1991, dedicou-se ao estudo das


possibilidades educativas do ambiente partindo da observação direta da vida escolar.

210
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Para a observação sistemática se utilizou um marco teórico que tipifica as ações


educativas em quatro categorias. Aqui nos interessa a primeira delas, a Ação
Incidental, momentânea, realizada em um ato singular, já que nela se reflete a
espontaneidade da vida diária.

Na medida em que um professor possa utilizar as Ações Incidentais terá um


meio idôneo para criar e reforçar um ambiente escolar adequado, ao mesmo tempo
em que contribui à formação de hábitos fundamentais para a pessoa humana em sua
vida cotidiana.

Nesse estudo, com referência ao Ensino Fundamental I, estabeleceram-se três


tipos de Ações Incidentais:

1. ações referidas ao cuidado e uso das coisas e instrumentos


2. ações referidas ao trato com companheiros, educadores e outras pessoas
3. ações referidas ao porte e autonomia pessoal no comportamento

Não é difícil perceber que esses três tipos de ações condicionam e modificam
de fato o ambiente escolar. Basta pensar que o homem se relaciona com o que o
rodeia mediante sua presença e sua atividade e através delas influi em seu entorno. O
influxo da presença nasce do que se pode chamar porte pessoal. A atividade se
manifesta no trato com as pessoas e no uso das coisas.

Foi dito anteriormente que um ambiente escolar é adequado para a educação


quando oferece conforto, estímulos para atuar e comunicação cordial.

O conforto de um ambiente é entendido de imediato no sentido material,


baseado na facilidade do uso dos objetos materiais que delimitam e caracterizam o
recinto ou ambiente em que se está: o edifício e as instalações fixas dificilmente são
modificáveis pelo professor.

Faz parte também do conforto a ordem do tempo e o modo de usá-lo para seu
melhor aproveitamento. Outros tipos de objetos, o mobiliário e os elementos
decorativos, podem ser manipulados ou modificados, ordenando-os e reordenando-os
para tornar satisfatória a estadia e a atividade dos estudantes. Em um ambiente de
desordem física dificilmente alguém se encontrará confortável.

Mas o conforto se entende também no sentido estético e psicológico, como


sensação geral de bem estar. O mútuo trato social dos que convivem bem como o
porte pessoal são elementos decisivos.

211
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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

O ambiente propício para o trabalho implica, sobretudo, na utilização


adequada dos espaços e no cuidado e uso dos instrumentos necessários para as
atividades escolares.

Finalmente, se vê com clareza que as relações sociais são o elemento mais


importante para criar um clima psicológico cordial em que todos se sintam
estimulados e orientados para uma convivência real e positiva. Em outras ocasiões, o
mesmo ambiente pode agir como sedativo frente a possíveis situações de ansiedade e
superexcitação.

As Ações Incidentais servem de base para um programa sistemático de criação


de um ambiente adequado e de promoção e reforço de hábitos pessoais.

Programa de Ações Incidentais para o Projeto Snipe


A atenção às Ações Incidentais tem mais garantia de eficácia se considerada
como base de uma atividade sistemática, como programa especial que não necessite
mais tempo que uma sessão inicial com os alunos e a observação continuada na sala,
própria de um professor consciente que se dedica a conduzir os alunos para se
responsabilizarem pela própria conduta e pela de seus companheiros.
Dentro da vida escolar, cada Ação Incidental deve ser entendida como
expressão de um pequeno hábito que deve ser adquirido por todos e cada um dos
alunos. A relação de Ações Incidentais vem a ser uma espécie de temário que indica,
por uma parte, uma série de ideias que os estudantes devem adquirir e, por outra,
uma série de hábitos para levá-las à prática.

A missão do professor é tentar que seus alunos sejam conscientes da


necessidade desses hábitos na vida social, isto é, estimulá-los e orientá-los para que
cheguem a compreender e valorizar as Ações Incidentais.

A fim de realizar um trabalho sistemático de aprendizagem e criação de


hábitos, é necessário ordenar as Ações Incidentais de tal forma que se tenha a
segurança de que a cada uma delas, em um tempo determinado, se prestará a atenção
conveniente.

A preparação do programa de Ações Incidentais exigirá da equipe docente a


distribuição prévia do tempo que se deve dedicar à atenção particular de cada uma
das ações ao longo do ano. Em outras palavras, prever como se devem distribuir as
Ações Incidentais, da mesma forma que se distribuem os temas do questionário de
cada uma das áreas ou matérias incluídas no currículo. A ninguém se deve ocultar que
há infinitas possibilidades de distribuição, que vão desde a atenção de uma ação
depois de outra até a de atender conjuntamente a um grupo delas, trate-se de grupos

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

pertencentes a um mesmo tipo de ações, trate-se de grupos formados por elementos


dos três tipos considerados.

É importante advertir que a eficácia do programa de Ações Incidentais vem


ligada a duas condições essenciais: primeira, que o professor cuide de seu porte e de
sua conduta realizando bem essas pequenas ações em qualquer ocasião; segunda,
procurar que os alunos se interessem pela programação, realização e controle dessas
Ações Incidentais.

Em qualquer caso, a realização do programa deve começar por sua


apresentação, com o objetivo de que os alunos tenham uma ideia clara do sentido e
do valor que as pequenas ações apresentam.

Convém não esquecer que a educação personalizada é uma educação aberta.


No estudo do ambiente é inadmissível não falar dos outros ambientes em que se
movem as crianças; e, em primeiro lugar, do ambiente familiar. É evidente que muitas
das Ações Incidentais são tão próprias da vida escolar como da vida familiar; por
exemplo, agradecer por um favor, saudar, deixar as coisas em seu lugar depois de usá-
las, etc.

Essas ações, expressão de hábitos determinados, devem ser consideradas como


atividades ponte que sejam objeto de atenção na família e na escola simultaneamente.
Devem ser estabelecidos programas conjuntos de Ações Incidentais, de tal sorte que a
atenção a uma determinada ação no colégio se repita na família. Dessa forma se
reforçam mutuamente as influências do ambiente familiar e do ambiente escolar.

D. CONVIVÊNCIA E DISCIPLINA ESCOLAR


Entendemos a disciplina escolar como o domínio de si mesmo para ajustar a
conduta às exigências do trabalho e da convivência próprias da vida escolar, não como
um sistema de castigos ou sanções que se aplicam aos alunos quando alteram o
desenvolvimento normal das atividades escolares com uma conduta negativa. A
disciplina é um hábito interno que facilita a cada pessoa o cumprimento de suas
obrigações, bem como sua contribuição para o bem comum.

Assim entendida é autodomínio, capacidade de atualizar a liberdade pessoal,


isto é, a possibilidade de atuar livremente, superando os condicionamentos internos
ou externos que se apresentam na vida cotidiana, e de servir aos demais.

213
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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

Necessidade de algumas normas básicas de convivência


Seria possível pensar que um bom clima na classe ou a atuação positiva
continuada dos professores podem fazer desnecessárias as regras de disciplina, mas
isso seria desconsiderar que essas regras de atuação são o ponto de apoio que
possibilitam o bom clima escolar.
Em efeito, o respeito às pessoas e às propriedades, a ajuda desinteressada aos
companheiros, a ordem e as boas maneiras exigem que todos os que convivem em
uma turma aceitem algumas normas básicas de convivência e se esforcem dia a dia por
vivê-las. O bom clima de um colégio não se improvisa, é questão de coerência, de
tempo e de constância.

São imprescindíveis, portanto, algumas normas que sirvam de ponto de


referência e ajudem a alcançar um ambiente sereno de trabalho, ordem e
colaboração; um marco geralmente aceito, que determina os limites que a liberdade
dos demais impõe à própria liberdade. Para que essas normas sejam eficazes, é
necessário que:

a) sejam poucas e coerentes com o Projeto Educativo;

b) estejam formuladas e justificadas com clareza e simplicidade;

c) sejam conhecidas e aceitas por todos: pais, professores e alunos;

d) se exija seu cumprimento.

No entanto, as normas por si mesmas não são suficientes. Não se consegue a


disciplina escolar mediante uma casuística exaustiva a modo de pequeno código penal
escolar e com a aplicação rigorosa das sanções estabelecidas. A normativa da
convivência não será nunca uma “arma de pressão” nas mãos do professor para
manter artificialmente um ambiente de ordem aparente.

A convivência harmônica e solidária entre todos os que formam o colégio é


consequência de um processo de formação pessoal que leva a descobrir a necessidade
e o valor dessas normas elementares de convivência. Esse processo ajuda a fazê-las
próprias e a aplicá-las a cada circunstância, com naturalidade e sem especial esforço,
porque se converteram em hábitos de autodomínio manifestados em todos os
ambientes onde se desenvolve a vida pessoal.

A disciplina como instrumento educativo


Em um colégio não existem problemas de disciplina: há alguns alunos com
problemas, a cuja formação é preciso atender de maneira particular. Para um
educador, a solução não é excluir aos que incomodam, mas atender a cada aluno ou
aluna com problemas de comportamento, segundo suas necessidades pessoais.

214
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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

Precisamente porque se trata de pessoas em formação que não alcançaram a


maturidade pessoal, é necessário estabelecer um sistema de estímulos
(reconhecimentos e correções), para favorecer o desenvolvimento da responsabilidade
dos alunos. Portanto, mais do que sancionar (recompensar ou penalizar), as normas de
convivência pretendem estimular as disposições positivas dos estudantes e corrigir as
tendências que não favoreçam a convivência ordenada, plena de naturalidade e
solidária entre todos.

Estímulo e correção que exigem uma atuação continuada por parte dos
professores: os alunos não mudam de um dia para o outro. Em educação é
absolutamente necessário contar com o tempo e não esquecer que mais do que
corrigir a desordem que uma conduta provocou, importa a formação de quem
protagonizou o incidente e a de seus companheiros.

Em um sistema educativo fundamentado na liberdade e na confiança, não


devemos diminuir a figura do educador reduzindo-a a de um simples guardião da
ordem.

O professor deve aproveitar as incidências cotidianas para formar os alunos:


para corrigir as condutas negativas e para reforçar os hábitos positivos. Se não se
atendesse também às atuações positivas, alguns alunos poderiam atrair a atenção do
professor mediante condutas negativas. Quando se fala somente de correções,
inevitavelmente o colégio se converte em correcional. O professor deve valorizar a
cada aluno: quando o respeita e o trata como pessoa, normalmente conseguirá que
reaja como pessoa, positivamente.

A disciplina escolar é, portanto, um instrumento educativo. Por isso, antes de


adotar uma medida ante uma conduta inadequada, é necessário conhecer as
correções que esse aluno recebeu anteriormente e como reagiu ante elas; as
circunstâncias do aluno, o momento em que se encontra e os motivos de seu
comportamento anômalo; e considerar a repercussão que teve entre seus
companheiros.

Mais que a sanção, interessa que o autor do incidente não volte a realizar uma
ação semelhante. Devem-se colocar os meios para que o aluno decida retificar sua
conduta. Em primeiro lugar, interessa fazê-lo valorizar com objetividade o que
aconteceu, provocar sua reflexão. Para que uma correção seja realmente educativa é
imprescindível que o aluno considere sua atuação e as consequências, e se concluir
que sua atuação não foi acertada, lamente sinceramente ter atuado desse modo.

Por essa razão, sempre que seja possível, devem-se impor correções que
neutralizem os efeitos da atuação negativa com uma atuação positiva. Ajudar assim o

215
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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

aluno não somente a pedir perdão por sua atuação inoportuna, mas a reparar no
possível o dano causado: limpar o que se manchou; arrumar ou colaborar na reparação
do que se quebrou, e pagar seu custo; pedir perdão publicamente ao ofendido, se foi
pública a ofensa; recuperar o tempo de trabalho perdido, etc.

É importante conhecer bem os motivos da falta, já que a reação do professor e


a sanção que impuser devem ser diferentes quando se tratar de um erro do aluno
(neste caso, haverá que explicar-lhe porque não deve agir dessa maneira); quando for
consequência de um caráter inquieto ou do arrebatamento de um momento; quando
for um reflexo de problemas familiares; ou quando se deve à malícia ou ao cálculo.

Além disso, é preciso ser prudentes, para não estimular atitudes de repúdio,
nem predispor negativamente os alunos frente aos meios de formação do colégio, ou
frente ao trabalho escolar. Por exemplo, não teria nenhum sentido utilizar as
qualificações escolares para sancionar.

Também estão terminantemente proibidos os castigos físicos ou corporais e


todos aqueles que suponham uma humilhação para o aluno pelo tom, pelos maus
modos empregados, ou pela atitude depreciativa ou distante do professor. O castigo
brusco ou violento provoca a aversão do aluno, e ao reprimir uma conduta sem corrigi-
la se está fomentando que os alunos continuem agindo mal às escondidas.

O processo sancionador
É interessante seguir habitualmente uma linha de atuação prevista de
antemão, com passos determinados, que ajude a evitar a arbitrariedade. A sanção
como todo o processo educativo deve ser intencional. Normalmente, podem servir os
seguintes critérios:
a) O professor corrige as faltas leves de um aluno não reincidente com uma simples
advertência.

b) Convém corrigir as faltas de maior importância ou a reincidência nas leves mediante


uma conversa mais prolongada, particular. Um professor pode fazê-lo, mas é melhor
que se encarregue o preceptor ou o professor encarregado de classe. É importante
informar os pais.

c) No caso de que persista um comportamento desordenado, intervirá o chefe de ciclo.


É necessário informar os pais e, dependendo do caso, será conveniente avaliar se o faz
o preceptor ou o próprio chefe de ciclo.

d) Sempre se deve informar o preceptor e a Direção, que intervirá quando as


circunstâncias do caso o aconselhem, com critério restritivo. Sendo possível, deve
resolver estas situações o chefe de ciclo. Entretanto, em determinadas circunstâncias,

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pode ser muito positivo que um coordenador fale com o aluno, para manter uma
conversa sossegada, que o ajude a reagir.

e) Antes de sancionar uma falta grave, é necessário escutar o interessado tão


amplamente como deseje. Às vezes é positivo indicar-lhe que escreva sua versão dos
fatos, justifique sua atitude e sugira a sanção que considere adequada. Nesses casos,
convém ouvir também o conselho de classe.

E. SITUAÇÕES QUE MERECEM ATENÇÃO ESPECIAL

1. O Refeitório
A alimentação adequada é condição para o desenvolvimento somático. Nesta
etapa de crescimento das crianças é imprescindível controlar a quantidade e qualidade
dos alimentos que são oferecidos aos alunos no refeitório escolar.

Orientações sobre o cardápio


1. Organiza-se o cardápio com os diferentes grupos de alimentos, de forma variada e
equilibrada, com a finalidade de oferecer todos os nutrientes necessários para um
crescimento adequado.
2. Deve ser revisado por profissionais em dietética e nutrição.

3. Deve ser elaborado mensalmente e proposto à Direção do colégio, para sua


aprovação.

Informativo aos pais


Nos últimos dias de cada mês, deve-se enviar aos pais o cardápio do mês
seguinte. Desta forma, os pais sabem o que seus filhos comem a cada dia no colégio e
podem harmonizá-lo com as refeições que a criança realiza em casa para conseguir um
bom hábito alimentar.

Tarefas a realizar pela pessoa encarregada do refeitório


 Animá-los a comer todo tipo de alimentos. Favorecê-lo e controlá-lo evitando
conflitos. É preferível ir exigindo pouco a pouco a que se transforme em uma
tortura.
 Insistir nos hábitos elementares e na urbanidade à mesa.
 Manter um clima de alegria e espontaneidade com o “tom” adequado.
 Procurar que nenhum aluno fique sozinho no refeitório.
 Fixar-se em cada um, para conhecê-los melhor e informar os pais.

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Hábitos a manter
 Lavar as mãos antes e depois de comer.
 Abençoar os alimentos.
 Sobriedade, evitar caprichos. Não se deve mudar nenhum alimento porque não
goste, a não ser que os pais o tenham indicado por algum problema médico.
 Sentar-se bem.
 Colocar as duas mãos em cima da mesa.
 Utilizar bem os talheres: colher e garfo como a primeira meta, a faca depois.
 Usar o guardanapo.
 Falar sem gritos.
 Dialogar com os companheiros.
 Deixar o lugar ordenado, limpo e colocar a cadeira no seu lugar.

Esses hábitos devem ser aprendidos e reforçados na família. Se depois do fim


de semana ou das férias se perderam, é importante recordá-lo na entrevista de
preceptoria com os pais.

Excessivo ruído no refeitório


Uma meta de toda equipe de professores deve ser conseguir um clima de
ordem, de conversa com volume de voz normal, sem gritos nem estridências, sendo
cada aluno autônomo nesta atividade. A atitude do professor é a peça chave: se grita,
somente mudarão de conduta ante os gritos.

Grupos de alunos que não comem tudo


A criança que come de tudo em sua casa não costuma apresentar problemas.
Quando há problema nesse sentido, é imprescindível entrar em contato com os pais e
combinar uma ação conjunta. Além disso, nos primeiros dias de aula é interessante
programar cardápios menos “conflitivos”. Pouco a pouco se vai introduzindo um
cardápio mais variado e completo.

2. Os novos alunos
Os novos alunos se enfrentam com um ambiente desconhecido, com situação
diversa e outras pessoas a seu lado. Uma visita prévia ajudará a diminuir esse
“choque”. Procurar-se-á, além disso, que os novos alunos comecem no 2º dia de aula,
de modo que possam ser recebidos com particular afeto.

É conveniente preparar de modo especial os primeiros dias de aula:

 Preparar a aula de um modo especial, com atividades estimulantes e


dinâmicas.
 Mostrar-lhes o colégio e todas suas dependências.

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 Realizar uma entrevista o mais breve possível.


 Interessar-se pelo que fizeram durante o verão, por sua família, pelo
colégio anterior, pedir-lhes que falem de suas coisas favoritas.
 Falar sobre as normas básicas de convivência. Do mesmo modo é
importante ter previsto como receber um aluno novo que comece a
frequentar quando as aulas já começaram.

3. Os descansos
Durante os descansos, os alunos deverão permanecer na área que tenha sido
designada para o seu nível. Nos dias de chuva ou de frio, permanecerão em algum
lugar adequado.

Não convém deixar alunos na sala sem recreio. Quando alguma atividade exija
continuar na sala durante o tempo de descanso, o professor encarregado desta
atividade permanecerá com eles.

Os alunos nunca devem permanecer sozinhos nos descansos. A pessoa


encarregada de atender nestes tempos prestará especial atenção às áreas conflitivas e
evitará que os alunos:

 Saiam das áreas demarcadas.


 Façam brincadeiras perigosas.
 Briguem.
 Deitem na grama ou brinquem nas áreas ajardinadas.
 Sujem o uniforme sentando-se no chão.
 Batam bola nas paredes dos edifícios.
 Brinquem com bolas em áreas onde poderiam ocasionar quebra de
vidros.
 Lancem pedras, etc.
O estacionamento não é área para brincar ou descansar.

Os alunos beberão água e irão ao banheiro durante este tempo para aproveitar
melhor a aula.

A pessoa encarregada de cuidar do descanso observará os grupos ou turmas


que se formam, assim como os alunos que ficam isolados.

Depois do almoço convém evitar as brincadeiras excessivamente violentas.

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Solar Colégios
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4. Deslocamento dos alunos pelo colégio


Para favorecer o ambiente de trabalho e ordem no colégio são necessárias
algumas normas mínimas para o deslocamento dos alunos:

 Subir as escadas e percorrer os corredores sem correr, nem empurrar,


mantendo um tom de voz normal, sem gritos.
 Fechar as portas com cuidado.
 Não sair das salas sem autorização expressa.
 Não entrar sem permissão nos escritórios, secretaria, sala de
professores, etc.
 Não entrar, salvo causa justificada, no edifício, antes do aviso de
começo das atividades.

Ao chegar ao colégio ou ao término dos descansos, os alunos são


acompanhados à sua sala pelo professor que corresponder. Normalmente, convirá que
não entrem conforme vão chegando, mas a turma completa.

O professor evitará enviar alunos, durante as aulas, para cumprir algum


encargo (secretaria, material...). A presença de alunos pelos corredores e escadas em
tempo de aulas é sempre excepcional.

5. Os aniversários
O ambiente de carinho, amizade e confiança que envolve as relações entre o
professor e os alunos leva, com frequência, a celebrar de algum modo os aniversários
na classe. Esse costume não pode ficar limitado à entrega de guloseimas, mas é
necessário ensinar os alunos a viver a sobriedade também nessas circunstâncias.

Convém estabelecer alguns critérios, guiados pela sobriedade, para a


celebração dos aniversários em sala, evitando assim as comparações. Não se deve
esquecer que muitos pais fazem um verdadeiro sacrifício para trazer seus filhos ao
Colégio. Poderia combinar-se, juntamente com os pais, algum detalhe especial (por
exemplo, a sobremesa) para os amigos da criança, substituindo os saquinhos cada vez
maiores de guloseimas.

É frequente que o aluno que faz aniversário convide alguns amigos para irem a
sua casa para a festa de aniversário. Nessas ocasiões, os pais solicitam ao motorista do
ônibus escolar mudança de itinerário ou de parada para que seus filhos compareçam à
festa.

220
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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

Convém cuidar a delicadeza à hora de convidar para que ninguém se sinta


excluído. Poderia ser interessante comentá-lo com os pais na primeira Sessão Geral da
turma.

Por outra parte, a celebração de aniversário fomenta que os pais conheçam os


amigos de seus filhos e se conheçam entre eles.

6. Os alunos doentes
É função do professor encarregado de classe controlar as ausências dos alunos
e suas causas. Quando se tratarem de circunstâncias graves, deve informar o quanto
antes ao diretor.

As ausências imprevistas (doença, acidente, etc.) devem ser comunicadas ao


colégio por telefone. Quem atender ao telefone transmitirá ao professor encarregado
de classe esta informação.

Quando houver um aluno doente, é importante conhecer a doença e o tempo


aproximado de convalescência. Devem ser adotadas as medidas oportunas para que o
doente mantenha a relação com a turma e para que os demais alunos o visitem
ordenadamente.

Se um aluno se sente indisposto durante a jornada escolar, deve-se atendê-lo


na enfermaria e avisar seus pais se não está em condições de continuar as aulas. Os
alunos que se machucam ou que ficam doentes no colégio nunca devem chegar a suas
casas sem um prévio telefonema ou um bilhete, no qual esteja indicado o ocorrido.

7. As festas do colégio
Os colégios organizam uma série de festas ao longo do ano. Aqui se indicam
algumas, como sugestão:

 Festa de Natal
 Festa de Reis
 Dia dos Avós
 Jornada de portas abertas
 Festa da primavera
 Acampamentos
 Festa esportiva

221
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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

Todos estes acontecimentos devem ser muito bem preparados. São atividades
eminentemente educativas, quaisquer que sejam seus protagonistas e expectadores.

As festas do colégio constituem um momento privilegiado de convivência entre


pais, professores e alunos. Nessas ocasiões costumam vir também os avós e outros
familiares e amigos a quem é apresentado o ambiente do colégio.

Embora se cuide habitualmente da limpeza do colégio, é necessário dar mais


atenção quando se vai celebrar algum desses atos nos quais se prevê a visita de
pessoas que normalmente não vão ao colégio, e explicar aos alunos que isso não é
senão uma atenção e delicadeza que se tem com essas pessoas. Pela mesma razão,
pede-se a eles que compareçam especialmente bem arrumados e organizem melhor
suas coisas.

Os pais podem colaborar na organização destas atividades.

8. O Oratório
O oratório é um lugar de oração e recolhimento. Os alunos de Ensino
Fundamental devem ir adquirindo detalhes de urbanidade na piedade. Aqui se
enumeram algumas normas gerais de comportamento no oratório.

 Cuidar da apresentação pessoal, do silêncio, das posturas e detalhes de


delicadeza com o Senhor.
 Benzer-se com água benta ao entrar no oratório.
 Fazer a genuflexão ao passar diante do Sacrário. Se não está o Senhor,
fazer uma inclinação com a cabeça diante do altar.
 A postura mais correta quando se está de pé é a de braços cruzados.
 Seguir atentamente as indicações do sacerdote ou dos professores
quando se esteja celebrando um ato determinado.

Convém fomentar a visita pessoal ao Santíssimo. Nas séries iniciais pode ser
feita por toda a turma, uma vez por semana. O esquema desta visita poderia ser o
seguinte:

 Rezar o Pai Nosso, a Avemaria e o Glória (somente uma vez).


 Deixar um breve tempo de silêncio para que os alunos contem e peçam
coisas ao Senhor.
 Rezar em voz alta a oração da Comunhão Espiritual.
 Dizer a jaculatória de costume para terminar.

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Capítulo XI - A EDUCAÇÃO DAS VIRTUDES HUMANAS NO PROJETO SNIPE

A educação do homem pode resumir-se a ajudá-lo a ser quem é, a alcançar seu


fim, com a ajuda de disposições estáveis (hábitos) que lhe facilitem a prática do bem.

"As virtudes humanas são atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições


habituais do entendimento e da vontade, que regulam os nossos atos, ordenam nossas
paixões e guiam nossa conduta segundo a razão e a fé. Proporcionam facilidade,
domínio e alegria para levar uma vida moralmente boa. O homem virtuoso é o que
pratica livremente o bem", cfr. Catecismo da Igreja Católica, nº 1804.

Valores e Virtudes
Em seu sentido mais pleno, as virtudes configuram a personalidade humana.
Não são um mero verniz, nem um mero acréscimo à atividade educativa. Os valores
são bens conhecidos pelo sujeito como perfeições da natureza humana, que
reivindicam, por tanto, estima e compromisso vitais. Ao atuar de maneira coerente
com os valores, o homem adquire as virtudes.

Na tradição humanista do Ocidente, chamam-se virtudes aos atos operativos


que concedem ao homem a facilidade para fazer o bem, e que se adquirem por
repetição de atos consecutivos e voluntários.

Poderíamos pensar que são muitas as virtudes que interessam educar. Está
correto, porém, o princípio de harmonia das virtudes, que nos ensina que quando
algumas dessas qualidades melhora, a pessoa do estudante melhora como um todo,
portanto, aperfeiçoa-se indiretamente as demais virtudes.

A Família, primeira e principal escola de valores


Um ato isolado não supõe uma virtude. Tampouco alguns atos repetidos ao
azar das circunstâncias ou sem intencionalidade. A virtude supõe uma repetição de
atos dotados de sentido: sabendo o que se faz e por que se faz e querendo atuar assim
em qualquer circunstância e ambiente, estejam outras pessoas presentes ou não.

A família é o âmbito próprio e mais profundo da formação da pessoa: as


atitudes ante a vida, o uso responsável da liberdade e, em geral, o desenvolvimento da
personalidade se forjam no seio da família. Na família também se aprendem as
virtudes sociais, que manifestam que a educação integral nunca é "individualista". Na
família, adquirem-se as virtudes por meio das vivências mais corriqueiras, muito mais
com os fatos do que com as palavras: com exemplos vivos de respeito e preocupação

223
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pelos demais, de espírito de serviço, de disciplina, de limpeza, de ordem, de cuidado


dos pequenos detalhes materiais, de sinceridade, ou seja, de virtudes.

Os pais têm, nas diversas ocasiões cotidianas que nascem da convivência no lar,
inúmeras ocasiões de atuar educativamente com seus filhos, em atividades realmente
educativas e enriquecedoras para toda a família. Essas atuações configuram um clima
familiar que, apoiado na unidade do matrimônio e seu acordo baseado em um projeto
familiar, resultarão em um estilo de educação familiar irrepetível, coerente com o
modo de ser e de atuar de cada casal. Deste ponto de vista, a exemplaridade dos pais é
sempre fecunda.

Os Colégios que implantam o presente Projeto Curricular incorporam como


parte importante de seu ideal educativo um programa de educação em valores por
meio das virtudes humanas (Vamos Crescendo), indispensáveis para uma autêntica
educação de qualidade. Hoje se fala muito de educar para o êxito. Em diversas
ocasiões se ignora tanto a capacidade pessoal quanto à realidade social. Deve-se
pensar que mais do que para a eficácia, educa-se para a felicidade.

Para que a educação nas virtudes alcance a sua máxima realização e se


conquiste a maturidade progressiva e harmônica da criança, é imprescindível a estreita
colaboração entre pais e educadores e o esforço para serem exemplares. A unidade de
intenções e ação proporciona aos filhos a confiança e a segurança de que necessitam.
Pais e mestres são os seus modelos referenciais de conduta para a criança.

Os valores na vida humana. As virtudes básicas


As virtudes como a sinceridade, a honradez, o critério próprio, etc., afetam a
vida inteira do homem e servem para trabalhar bem todas as manifestações da
existência humana. A posse desses hábitos permite falar de "pessoas boas".
É possível identificar uma série de virtudes fundamentais que constituem
pontos de referência para toda a atividade implicada na formação dos alunos, como se
pode ver no quadro a seguir:

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O Homem e a Vida Virtude básica Virtudes anexas

O homem - ser criado, Domínio de si. Temperança.


caído e redimido - Conhecimento próprio. Humildade, simplicidade.
ORDEM Equilíbrio pessoal. Serenidade.
está presente no
Veracidade. Sinceridade.
mundo com um porte (AUTODOMINIO) Sentido da economia e de poupança. Sobriedade.
pessoal (externo e Respeitar a ordem natural.
interno); Higiene e limpeza.
Ordem material.

TRABALHO Empenho no trabalho bem feito. Esforço.


relaciona-se com as Fortaleza.
coisas: utiliza-as para (ESFORÇO)
Laboriosidade. Aproveitamento do tempo.
construir; Paciência. Perseverança. Constância.
Magnanimidade. Audácia.

Justiça. Sentido do dever.


Cidadania.
relaciona-se com
Companheirismo. Amizade.
outras pessoas e as GENEROSIDADE
Lealdade. Fidelidade.
trata segundo sua SOLIDARIDADE
Agradecimento. Perdão.
dignidade.
Respeito. Tolerância. Compreensão.
Colaboração e ajuda. Solidariedade. Delicadeza.
Amabilidade. Espírito de serviço.

Aceitação das normas. Obediência.


Tudo isto em um Uso responsável da liberdade. Maturidade.
âmbito de liberdade Prudência. Reflexão.
RESPONSABILIDADE Capacidade de compromisso com a verdade.
consciente, que o leva
a comprometer-se Coerência. Autenticidade.
(MATURIDADE)
Critério próprio espírito crítico.
Autonomia. Iniciativa.
Decisão. Valentia.
Firmeza de convicções. Flexibilidade.

na busca de uma vida Consciência e satisfação pelo trabalho bem feito.


feliz, plena, satisfeita, ALEGRIA Otimismo. Disposição positiva.
boa Bom humor, esportividade.
Paz.

Fé. Sentido transcendente da vida. Consciência da filiação


divina e da fraternidade.
que se realiza no
Vida cristã – consequência da fé. Relação pessoal com Deus.
encontro pessoal com PIEDADE Culto. Oração. Orientar para Deus os pensamentos, decisões,
Deus ações.
Esperança. Confiança em Deus. Otimismo.
Caridade. Amor a Deus e ao próximo. Apostolado. Serviço.

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Ao estudar o elenco de virtudes básicas e anexas, percebe-se que não é fácil


agrupar as virtudes, visto que umas levam a outras e todas elas estão envolvidas
mutuamente e há várias maneiras cabíveis de se fazer esse agrupamento.

Em primeiro lugar podemos pensar na tendência natural do homem à


felicidade, à complacência em participar do bem, ou seja, a buscar a alegria em
qualquer ato que realiza. Essa tendência universal, própria de toda atividade humana,
pode ser considerada como o motor interior da atuação na qual a pessoa se manifesta.
De fato, a alegria, felicidade na consciência do bem adquirido ou esperado, é o fim de
qualquer atividade humana. É a síntese das aspirações do homem. Além da alegria,
que é fruto da vida virtuosa, consideramos cinco núcleos de virtude, cada um dos quais
representa um tipo de disposição humana para enfrentar a vida e trabalhar no mundo:
ordem, trabalho, generosidade, responsabilidade, religiosidade.

A ordem não é somente a capacidade para organizar os objetos materiais:


sobretudo é a harmonia interior de conhecimentos e tendências. Uma expressão da
ordem é a presença e o decoro pessoal externo. A ordem interior é, por sua vez,
domínio de si mesmo e força para se abrir ao mundo exterior de coisas e pessoas,
situando, no espaço e no tempo, os elementos materiais e espirituais da vida.

O trabalho é a projeção exterior da pessoa que usa as coisas e as aperfeiçoa


segundo suas necessidades, participando na obra criadora de Deus. A exigência de
trabalhar bem, condição sine qua non para que um trabalho seja educativo, carrega
consigo o esforço, o exercício da fortaleza e a laboriosidade.

A generosidade é a culminação das relações humanas. Se a justiça é a virtude


principal das relações sociais, "a cada um se dá o que é devido", a generosidade vai
além: é dar e dar-se sem a estrita medida da justiça. Ser generoso é compartilhar não
somente coisas, mas também a vida, com quem esteja ao redor.

A responsabilidade é reflexo da maturidade de quem é capaz de viver a


liberdade, comprometer a própria vida com a verdade e o bem e as consequências.

A piedade - o homem em relação com Deus - fornece a dimensão


transcendente, o sentido único de nosso ser e fazer. Sem contar com Deus, as demais
virtudes acabariam por se desintegrar.

A finalidade de educação poderia ser resumida na intenção de que em todos e


em cada um de nossos alunos e alunas, desperte e reforce o propósito de ser:

 ordenado em seu porte pessoal e na administração de seu tempo e esforço;


respeitoso com a ordem natural e com a verdade;

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 trabalhador, aspira constantemente ao trabalho bem feito e esforça-se para


consegui-lo;
 responsável em sua livre atuação, comprometido com seu próprio projeto
pessoal de vida;
 piedoso em sua relação com Deus, que dá sentido à sua vida e, fruto dessa
virtude, alegre na atitude frente à vida e ao mundo.

No capítulo sobre educação das virtudes no Projeto Snipe, sugerimos modos de


ação adequados ao desenvolvimento evolutivo dos alunos, com enfoque positivo e
preventivo.

Ao referirmo-nos ao eixo transversal da educação moral, destacamos que para


educar a pessoa é preciso atender a totalidade do ser humano: a inteligência, a
vontade, a afetividade e sua transcendência. Em primeiro lugar, ensinar a pensar, o
que é o mesmo que ensinar a buscar a verdade; em seguida ajudar a fortalecer a
vontade, de forma que a pessoa esteja em condições de aderir livremente -
comprometer-se- com a verdade, segui-la e superar as dificuldades que encontre,
colocando sentimentos e afetos ao serviço de suas livres decisões; por fim, o homem é
um ser social, aberto à relação com Deus e com os demais, e deve aprender a dar, a
dar-se e a amar. A inteligência alimentada pela verdade, a vontade fortalecida pelas
virtudes, que ajudam a viver conforme a convicção da verdade e o coração disposto
para amar a verdade vivida, se fundem na unidade irrepetível de cada homem -
unidade de vida - fazendo possível a felicidade a qual o homem pode aspirar. A
conduta pessoal é fruto do que se pensa, sente, quer. Convém estar prevenido contra
a ruptura da unidade de vida, que leva a atuar de modo desconexo do pensamento e
do coração.

A educação da ordem começa com a própria vida da criança e é necessária para


o correto desenvolvimento físico, psíquico e espiritual. As crianças vão desenvolvendo
o próprio sentido lógico de ordem e tendem a organizar o material por tamanhos, por
tipo, etc.: guardam os carrinhos juntos, as bonecas juntas ou distribuem os livros em
grandes ou pequenos.

O período sensitivo da ordem dá-se com a máxima intensidade entre 1 e 3 anos


de vida. Uma criança de dois anos sabe perfeitamente que cada coisa tem seu lugar.
Como conseguir que as crianças deixem as coisas em seu lugar sem ter que lembrá-las
disso? Deve estar claro para elas onde é o lugar de cada coisa.

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A. ORDEM
A ordem é a virtude que está na base das demais virtudes, serve de apoio a elas
e manifesta-se em múltiplas facetas observadas na vida diária das crianças: como
organizam brinquedos e pertences, como distribuem atividades, como se expressam,
como se preparam para uma viagem ou excursão, etc. A ordem não se refere nem
exclusiva, nem fundamentalmente à ordem material das coisas, mas à ordem na
pessoa: a harmonia, o equilíbrio interior, a moderação, o autodomínio. Por isso, junto
à ordem, há de se considerar um bloco de virtudes relacionadas.

Pode-se pensar, por exemplo, na ordem que facilita a convivência: as pequenas


normas de conduta que facilitam a convivência grata e "ordenada" na distribuição das
responsabilidades, no horário básico (refeições, trabalho, diversão, descanso). Não se
trata de "quadricular a vida", mas de estabelecer regras mínimas que facilitem a
conquista de objetivos valiosos, como, um ambiente escolar ordenado que facilite o
trabalho e a convivência familiar.

Convém recordar que virtudes são os valores incorporados na unidade da


pessoa concreta, na vida de cada um. O perigo é preocupar-se em adquirir destrezas,
simples hábitos que não chegam a ser virtudes.

É certo que os hábitos são a base das virtudes (a virtude é um tipo de hábito).
Porém, a esse hábito, deve-se acrescentar a autoconsciência e a liberdade: atuo com
ordem porque me dou conta do que significa ser ordenado e o quero isso para mim. Se
isto ocorre desta forma, além de dar o imprescindível bom exemplo, esforçaremos
para que os nossos alunos encontrem sentido no que fazem e se proponham a fazê-lo
bem e livremente. Estaremos educando na virtude e a ordem será algo natural na
pessoa, nunca uma mania, que não há razão de ser.

A virtude da ordem
Convém que os alunos saibam onde devem deixar as suas coisas: materiais,
livros, roupas de educação física ou casacos, etc. Com o uso da razão, não se trata de
que os alunos imitem o conceito de ordem que os seus pais ou professorem possuem,
mas de que queiram e aprendam a viver a ordem. Há de exigir deles que suas coisas
estejam ordenadas, porém, de acordo com próprios critérios. Para isso, convém,
durante algum tempo, supervisionar as atividades das quais eles não possuem
experiência e que exijam a ordem. Também se deve perguntar quais as razões do
sistema escolhido para organizar as coisas, a fim de conseguir captar a importância de
encontrar um lugar apropriado para cada coisa, de forma que ela não se estrague, e
que seja possível encontrá-la com facilidade quando dela necessitar.

Um pequeno horário facilita a ordem e o aproveitamento do tempo. Esse


horário básico deve limitar-se ao que se deve fazer regularmente, mais ou menos no

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mesmo horário, como a hora das refeições, de começar a estudar ou a fazer tarefas
escolares, de tomar banho, de dormir. O horário ajuda a fazer as mesmas atividades na
mesma hora (com flexibilidade) e favorece a criação de hábitos (base das virtudes).

Pode ser interessante elaborar um horário com o aluno e animá-lo a deixá-lo


em algum lugar visível de sua casa, a seu alcance. Podemos aconselhar aos pais que lhe
peçam para consultar periodicamente esse horário para saber o que deve fazer em
cada momento. É importante não ter que lembrá-lo a toda hora do que deve fazer,
pois nesse caso, não adquirirá hábitos de responsabilidade pessoal, mas de mero
colaborador, que faz o que as pessoas lhe pedem.

No que diz respeito ao horário de trabalho ou estudo, é importante estabelecê-


lo no começo do ano letivo e animar os pais a exigi-lo do filho desde o primeiro dia.
Devem dedicar um tempo diário ao estudo (a aprender), além de realizar as tarefas
escolares. Se não há exigência, começarão a estudar a poucos dias das provas e, assim,
não conquistarão o autêntico hábito de estudo. A experiência demonstra que os filhos
que começam a estudar todos os dias desde o começo do ano letivo, ainda que seja
pouco tempo (meia hora aos dez anos de idade, por exemplo), melhoram os
resultados escolares notavelmente.

Quando os filhos pedem permissão para um plano distinto do habitual, é muito


interessante ajudá-los a planejar e prever o tempo necessário para cada atividade que
se proponham a realizar. Dessa forma, desenvolverão a capacidade de relacionar o
tempo com as atividades e, consequentemente, serão mais ordenados.

É conveniente aplicar critérios de ordem no uso do tempo livre. Ajudar os filhos


ou alunos a planejar, por exemplo, a partir de terça ou quarta-feira, o que irão fazer no
próximo fim de semana: esportes, sair com amigos, trabalhos, encargos familiares, etc.
Desse modo evita-se que se chegue ao sábado sem saber o que fazer e se perca
tempo.

Por volta dos 9 ou 10 anos, é um bom momento para ensiná-los a utilizar uma
agenda para anotar tarefas escolares, horários das aulas, encargos, aniversários,
anotações gerais, etc. A experiência aconselha lembrá-los frequentemente, no início,
de anotar e consultar a agenda várias vezes ao dia, principalmente pela manhã e pela
noite, ao preparar o material para o dia seguinte.

É muito importante "ganhar a batalha" da ordem antes da entrada na


adolescência, período em que terá que colocar a exigência em outras questões
próprias da nova fase que se inicia. E a ordem, ao estar na base das demais virtudes,
será muito necessária.

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Possíveis objetivos de planos de ação educativa relacionados com a ordem para a


vida familiar:

 ao terminar a jornada, deixar a casa arrumada;


 deixar as roupas bem organizadas e dobradas no lugar adequado;
 aprender a planejar os fins de semana;
 hábitos básicos de higiene pessoal;
 certificar-se de que o que se joga fora realmente não vale a pena;
 apagar as luzes quando não são necessárias;
 cuidar dos livros, cadernos e todo o tipo de material;
 deixar o uniforme de educação física organizado depois de usá-lo;
 fechar com cuidado as gavetas e portas de armários;
 deixar cada coisa em seu lugar ao terminar um trabalho;
 usar uma agenda.
 fazer e respeitar um horário;
 pontualidade (ao levantar-se, ao começar a estudar, nas refeições, etc.);
 deixar a roupa suja no lugar certo para lavar.

Possíveis objetivos de planos de ação educativa relacionados com a ordem para a


vida escolar:

 tampar os potes após usá-los: tintas, colas, tubos, etc.;


 ao término da jornada deixar a sala em ordem (canetas, papéis etc.)
 apagar as luzes quando não são necessárias;
 deixar os casacos de uniforme bem guardados;
 cuidar dos livros, cadernos e todo o tipo de material;
 deixar o uniforme de educação física organizado depois de usá-lo;
 fechar com cuidado as gavetas e portas de armários;
 deixar cada coisa em seu lugar ao terminar um trabalho;
 ter na mesa de trabalho somente o material que vai usar;
 levantar a mão ou fazer outro sinal combinado para indicar que quer falar
durante as aulas;
 respeitar a vez do outro falar;
 ter organizado sobre a mesa o material de trabalho que se usará naquela aula
(livros, materiais etc.);
 deixar a lousa apagada e disponível para que outros colegas a usem;
 levantar-se da cadeira ao entrar um professor ou outro mais importante na sala
de aula;
 não mascar chicletes nas aulas;

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 manter os livros encapados e com o nome;


 entrar na sala de aula e sair dela com ordem, sem atropelo;
 ser pontual.

A virtude da sobriedade
Na atual sociedade de consumo, a sobriedade é uma virtude especialmente
importante. Convém exercitá-la antes da adolescência, etapa do desenvolvimento na
qual se não se possuem hábitos de sobriedade, pode-se deixar influenciar e manipular
mais facilmente.
Nessa idade pode-se centrar a atenção nos caprichos, nos desejos passageiros e
superficiais, sem justificativa. Não cedendo a eles desenvolve-se o autodomínio dos
alunos, para serem capazes de estarem acima dos desejos não satisfeitos ou das
próprias apetências. As pessoas sóbrias estão mais preparadas para suportar carências
e superar as inevitáveis pequenas frustrações.

A pessoa sóbria, que não está presa aos caprichos ou "necessidades" fictícias, é
mais livre e dona de si mesma. A sobriedade supõe colocar ordem e harmonia nos
desejos. Atualmente fala-se muito da correta necessidade de educar para o consumo
adequado. De certa forma, "educar para o consumo" é ajudar o aluno a melhorar na
virtude da sobriedade.

É salutar fazer os pais compreenderem que a vida familiar oferece inúmeras


ocasiões de exercitar-se na sobriedade, com alegria, de modo que não se encare essa
virtude como algo desagradável.

Outro aspecto interessante é que os filhos e alunos conheçam o valor do


dinheiro e aprendam a administrá-lo com critérios de sobriedade. Para isso, pode-se
levá-los às compras uma vez ou outra, para que entendam, por exemplo, quanto custa
comer. Pode-se também animá-los a fazer algum pequeno trabalho especial que seja
remunerado em casa, como dar aulas por um mês a um irmão mais novo. Pode-se
também ensiná-los a dobrar bem suas roupas para que durem mais e se conservem
por mais tempo.

Que aprendam a economizar. Administrar o próprio dinheiro é uma fonte de


aprendizagem importante para a vida. Pode ser interessante que algumas coisas que
desejam comprar (roupa de marca, por exemplo) sejam pagas em parte com o próprio
dinheiro. Caso necessitem de uma calça, por exemplo, os pais podem ajudá-lo com o
valor de uma calça normal e, o que falta para a calça de marca, eles completam com
suas economias. Porém, não devem economizar somente para isso, mas também para
pequenos presentes para seus pais ou irmãos em seus aniversários ou festas.

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É bom que os alunos aprendam a valorizar as coisas, saber o que é necessário e


o que não é, de modo que saibam distinguir o capricho da necessidade ou
conveniência.

É interessante fazê-los refletir sobre o motivo de seus gastos e fazê-los ver a


necessidade que muitas pessoas estão passando, quando, por exemplo, ajudam seus
pais a entregar roupas em bom estado para pessoas sem recursos.

É interessante, em uma das primeiras sessões gerais para pais, colocar-se de


acordo na forma como os filhos convidarão os colegas para comemorar o aniversário
naqueles colégios onde exista esse costume. Pode-se aconselhar algum detalhe sóbrio
e simpático de comemoração, para evitar diferenças entre uns e outros.

De vez em quando, revisar os "pertences" de cada filho para saber se há


brinquedos ou objetos que não utilizam nem necessitam deles, mas podem servir para
outro irmão ou para pessoas necessitadas. Sempre há um pequeno (ou grande)
armazém de objetos que não utilizamos nunca e não fazem mais que ocupar espaço
nos armários, para desespero das mães.

É importante que os pais informem os familiares (especialmente os avós), sobre


os critérios educativos da família neste tema. O ideal seria que o dinheiro que
pensavam em dar às crianças fosse dado aos pais, para que ajudem os filhos a
administrá-lo.

Sobre o uso do dinheiro, não é possível propor um critério geral, pois depende
muito do estilo de cada família, mas pode-se sugerir algumas ideias:

 é recomendável que se dê à criança pouco dinheiro e não se acostume a gastá-


lo em refrigerantes, doces, bugigangas ou máquinas caça prêmios.
 é muito positivo que aprenda a administrar as pequenas quantidades de
dinheiro que recebe dos pais ou familiares, seja como "mesada" ou
remuneração por pequenos trabalhos especiais em casa (os recados e os
encargos cotidianos da casa são obrigação de todos, sem necessidade de
gratificá-los economicamente por isso). Premiar ou castigar com dinheiro,
promove que os filhos se tornem materialistas.

Possíveis objetivos de planos de ação educativa relacionados com a sobriedade para


a vida familiar:

 procurar manter o quarto limpo e organizado;


 limpar os sapatos;
 cuidar das coisas que utiliza para que durem;

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 ter nas escrivaninha apenas o material de que vai precisar;


 evitar chupar ou morder os lápis ou canetas;
 fazer a cama sozinho;
 ajudar a colocar a mesa ou fazer algumas compras ou trabalhos em casa;
 comer de tudo na hora certa, não nos intervalos das refeições;
 não ver tv demasiadamente nem criar dependência aos eletrônicos;
 economizar parte da "mesada".

Possíveis objetivos de planos de ação educativa relacionados com a sobriedade para


a vida escolar:

 cuidar dos livros e material de trabalho;


 comer de tudo;
 não arrancar folhas dos cadernos;
 usar material reciclável para algumas atividades;
 respeitar a decoração do colégio;
 não mascar chiclete nem comer durante as aulas;
 apontar bem os lápis.

A virtude da sinceridade
O período sensitivo da sinceridade é vivido de forma especialmente intensa
entre os três e os dez anos. A princípio, vivem a sinceridade como uma inclinação e,
desde os primeiros momentos, distinguem entre verdade e mentira; sabem que a
mentira é algo que não devem dizer. Durante a etapa infantil, o motivo fundamental
para serem sinceros é que seus pais e professores lhes querem bem, ajudam-nos e
não os julgam.

Ao chegar o uso da razão, começam a entender a importância da sinceridade e


do valor moral intrínseco: o bom é dizer a verdade. É nesse período que se esforçam
por vivê-la, embora, em algumas ocasiões, pode lhes ser custoso.

Os alunos geralmente têm uma grande sensibilidade para serem enganados e


uma grande facilidade para captar a sinceridade de seus educadores. Nesse campo,
como em tudo, o exemplo dos pais e professores tem papel fundamental e tanto pode
fazer com que os filhos/alunos valorizem a verdade ou a mentira.

Convém que pais e professores evitem que a criança adquira essa atitude, ao
retirar-lhes a oportunidade de mentir e não dramatizar suas mentiras. Será mais fácil
se a criança se sentir coberta pela segurança do carinho de seus pais. Convém ajudá-
las a retificar e dizer a verdade, sem humilhá-las.

233
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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

É importante conhecer a razão pela qual a criança mente. O motivo da mentira


nos indicará o caminho para a correção. Quando os pais e professores analisam as
causas que provocaram a mentira, estarão em melhores condições de raciocinar para
corrigir os filhos e alunos. Falsear a verdade por fantasia é muito normal entre três e
seis anos e isso não pode ser considerado uma mentira. Eles acreditam na fantasia
como algo real. Entretanto, é conveniente que comecem a diferenciar o campo do real
do imaginário. Também podem sentir o impulso de ficar bem diante dos seus colegas e
mentir sobre a situação de seus pais, suas posses, suas viagens de férias, etc. Não é
fácil compensar essa necessidade e a escola deve estar atenta quando uma criança faz
alarde de suas posses ou situação. Convém falar com os pais, pois é possível que no
ambiente familiar se esteja dando demasiada importância ao "ter". Nestes casos, é
necessário ensiná-lo com carinho o quanto ele vale, independentemente do que possa
ter e também sobre o que valem seus companheiros e as pessoas com as quais
convive. A mentira por defesa - para evitar um castigo - é mais perigosa e deve ser
afastada com firmeza, pois pode facilmente converter-se em hábito. Por exemplo, uma
criança quebra algo e assegura que já estava quebrado quando chegou. Deve-se
mostrar a ele que não foi assim que aconteceu e que não vamos julgá-lo ou castigá-lo
por isso. Desse modo eliminamos a necessidade de mentir. Ser sincero compensa. Não
convém punir frequentemente: o ideal é agradecer a sinceridade (não se pode
esquecer de que o prioritário é a pessoa) e pensar juntos como se pode resolver a
situação. O esforço por reparar o dano já é corretivo suficiente. Convém castigar
quando não se trata de uma ação isolada, mas de atos repetidos. Em todo caso, é
aconselhável suavizar o castigo sempre que a criança reconheça a falta e também o
mérito de sua sinceridade.

As mentiras das crianças preocupam os pais. Geralmente, nos menores, trata-


se de preencher um vazio interior: recorrem à fabulação - diferente da imaginação
infantil, que não se deve confundir com a mentira - e distorcem a realidade,
defendendo-se momentaneamente de um apuro por medo dos pais ou exagerando o
que possui frente a seus companheiros. Dessa forma, a criança está buscando a
admiração dos demais.

Ainda nesta idade, podem começar a mentir por orgulho, por não admitirem
limitação ou tropeço. Nesse caso, a educação da sinceridade, será paralela à educação
da simplicidade e da humildade, virtudes com as quais está muito relacionada. Trata-se
agora de ajudar as crianças a reconhecer e valorizar as coisas, sobretudo a elas
mesmas, tal como são. Em qualquer caso, é muito importante saber que a virtude da
sinceridade é básica na adolescência e, por isso, devem vivê-la desde pequenos e
conhecer o seu valor.

Diante desse e de outros problemas, o mais importante é a pessoa: deve-se


preocupar fundamentalmente com quem o fez e refletir por que o fez. É sumamente

234
Solar Colégios
Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

importante o diálogo frequente dos pais com o preceptor para busca uma atuação
comum.

Na medida em que os educadores mostram afeto e interesse sincero para com


as coisas e preocupações dos alunos, - ainda que se trate de assunto de pequeno porte
- facilita incutir confiança e sinceridade nos alunos e filhos.

Geralmente é eficaz dar exemplos, contar histórias pessoais de quando éramos


crianças ou de outras crianças de sua idade sobre a importância de não trapacear nos
jogos e de não se esconder por meio de desculpas. Também é necessário que
compreendam que se está bem onde há um ambiente de sinceridade, pois nele existe
alegria.

Algumas orientações educativas


Em nenhum caso deve-se tratar os filhos ou alunos como mentirosos, mas
como pessoas dignas e de confiança, ainda que tenhamos dados para demonstrar que
mentem.
Em geral, ao corrigi-los, não se deve chamá-los de mentirosos. Na realidade,
não o são, nem desejam a mentira. O que aconteceu é que disseram uma mentira.
Neste caso, a mentira é negativa, não a criança. Essa é a forma de motivá-los
positivamente perante o bem e ajudá-los a lutar para ser o que eles realmente sabem
que são: sinceros. A mentira foi um acidente que passou e que não querem repetir.

Podemos apoiar o hábito da sinceridade estimulando as crianças a contarem


coisas de sua vida diária, por exemplo, nas tertúlias familiares ou nas reuniões de
grupo durante as aulas. Se não há comunicação não poderemos orientá-los. É
importante escutar com interesse, sem julgar cada coisa que dizem.

Convém facilitar a aquisição dessa virtude. Se for necessário reprender, que


isso se faça em algumas ocasiões, escolhendo momento adequado, a sós, procurando
não humilhar e possibilitar uma saída honrosa, mostrando-lhe afeto e dando-lhe a
segurança de que vai melhorar.

Alguns meninos e meninas precisam ser ensinados a defender-se das agressões


sem entrar no jogo das mentiras e murmurações, de modo que se acostumem a falar
bem dos demais e a não zombar deles. A confiança nos filhos e alunos ajuda-os
sentirem dor interior por não terem sido sinceros. As atitudes de desconfiança dos pais
e educadores, pelo contrário, facilitam que as crianças mintam. A educação da
sinceridade deve ter um enfoque positivo. Mais que estar propenso a descobrir e
castigar as possíveis mentiras (atitude que contém um fundo de desconfiança) trata-se
de insistir no valor da sinceridade como algo próprio de crianças valentes e de louvar
os atos concretos de sinceridade.

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

Possíveis objetivos de planos de ação educativa relacionados com a sinceridade:

 pedir perdão quando se incomodou e, se possível, compensar essa pessoa;


 evitar apelidos pejorativos e gestos prejudiciais;
 evitar ridicularizar os demais;
 dizer sempre a verdade, com valentia e confiança;
 falar de suas preocupações confiadamente com os pais;
 não mentir nos jogos, não trapacear;
 participar das tertúlias familiares;
 não acusar companheiros ou irmãos, mas alertá-los para que possam ratificar;
 não falar mal dos irmãos e companheiros;
 admitir o erro ou equívoco sem desculpas.

B. LABORIOSIDADE. AMOR AO TRABALHO BEM FEITO


Para conquistar uma autêntica educação das virtudes humanas é indispensável
que os filhos se esforcem para adquiri-las. O esforço pessoal, racional e ordenado, é
por si só educativo e é também o melhor indicador da maturidade e do grau de
responsabilidade.

O trabalho é uma exigência da natureza humana e um dom de Deus, por meio


do qual o homem realiza a si mesmo, ganha o seu sustento e o da sua família, participa
da obra criadora de Deus e contribui ao bem comum e ao progresso da humanidade. O
trabalho é, portanto, um direito fundamental do homem e um dever moral de
primeira importância. O bom exemplo dos pais e professores deve estar sempre
presente na vida familiar e do colégio, como o empenho por utilizar estímulos
positivos para conseguir o esforço diário e conquistar o enraizamento dos hábitos de
trabalho e fortaleza que ajudem a superar os desânimos e a preguiça.

A virtude da fortaleza
Uma das grandes carências da juventude atual é a força de vontade, a energia
interior para enfrentar as dificuldades e desafios que a vida apresenta continuamente.
Desenvolver a capacidade de autodomínio dos alunos converteu-se em um objetivo
educativo primordial, de modo que sejam capazes de esforçar-se para conseguir o
bem; de continuar nesse esforço, ainda que custe, mesmo que não se alcance a
recompensa logo em seguida; ainda que não goste e que tenha que deixar de fazer do
que gosta. Somente as pessoas com essa energia interior serão capazes de desenvolver
a própria personalidade ao resistir às influências negativas do ambiente e à tendência
natural à preguiça, para construir uma vida que valha a pena.

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

O desenvolvimento da fortaleza apoia todas as outras virtudes: não há virtude


moral sem esforço para adquiri-la. No ambiente social o atual, o influxo familiar está
cada vez mais reduzido e a única forma para que os jovens sejam capazes de viver com
dignidade é enchê-los de força interior. A capacidade de esforço está muito
relacionada com a maturidade e a responsabilidade.

A capacidade de exigência amável de pais e professores vai marcar, em boa


medida, o desenvolvimento da capacidade de trabalho e esforço, bem como o das
virtudes relacionadas (constância, perseverança, paciência, etc.). Exigir também custa
esforço. Parece que tudo será mais rápido e menos conflitante, se os educadores
carregarem sozinhos os esforços, renúncias e sacrifícios; porém, sem esforço, a pessoa
não cresce e é preciso exigir essa virtude dos filhos e alunos.

Entre os 7 e os 12 anos transcorre o período sensitivo dessas virtudes: é


quando as aprendem com maior profundidade e naturalidade. Se os alunos são
privados dos esforços, dos desafios e das exigências, chegarão à adolescência com
crises de maturidade e sem energia interior para superar as dificuldades que exijam
empenho e esforço: encontraremos sempre alunos de que não se deixam exigir, pois
não têm força e treinamento necessários para conseguir as metas que se propõem ou
aqueles que entendem o motivo da exigência e a aceita.

Algumas vezes, os pais pretendem evitar que os filhos, com um carinho mal
entendido, esforços e dificuldades que eles mesmos tiveram que superar na
juventude: protegem-nos e substituem-nos, levando-os a uma vida cômoda, sem
exigência, em que não há proporção entre esforço realizado e bens desfrutados. Não
se dão conta de que mais do que proteger os seus filhos para que não sofram, devem
acompanhá-los e ajudá-los para que aprendam a superar o sofrimento.

Para que um hábito bom se converta em virtude é necessário que exista


autoconsciência (entender o que e por que se faz) e voluntariedade (querer fazê-lo).
Por isso é tão importante na educação das virtudes humanas, também no caso da
fortaleza e da laboriosidade, ajudá-los a entender o esforço como algo necessário e
conveniente, bem como motivar e estimular seus desejos de esforçar-se. Educar a
fortaleza supõe colocar os meios necessários para que os alunos sejam capazes de
empreender ações que levem consigo um esforço prolongado, para o qual necessitam
tanto da saúde física quanto da força interior. Essa é a razão pela qual a prática
esportiva frequente é um meio muito adequado para promover a fortaleza, pois há de
se superar a fadiga e o cansaço, chegar até o fim com perseverança, superar
adversidades, etc.

Existem muitas oportunidades na vida cotidiana da família e do colégio para


que as crianças se exercitem em resistir a um impulso, suportar uma dor ou doença,

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

superar um desgosto, dominar a fadiga e o cansaço. Por exemplo, acabar as tarefas


escolares ou cumprir o tempo de estudo previsto antes de brincar, cumprir seu
encargo com constância, etc., são excelentes exercícios de resistência.

Devemos valorizar positivamente e reconhecer interesse e esforços das


crianças, como "aguentar a sede" em uma excursão ou viagem, comer de tudo ou não
comer durante horas, terminar bem um trabalho, deixar a roupa do dia seguinte
preparada à noite, etc. Dessa forma, fomentamos a motivação interna: a satisfação do
trabalho bem feito, a alegria do dever cumprido.

Como sempre, o exemplo dos educadores é crucial: aprenderão muito


observando a alegria nos sacrifícios de seus pais e professores. Queixar-se do trabalho
ou dos esforços que são necessários realizar, contribui para criar um ambiente familiar
contrário à fortaleza: deve-se esforçar por que não há remédio, por que a vida obriga.
É importante insistir com os pais na importância da resistência ou capacidade de
realizar esforços sem se queixar, como aguentar a sede, levantar-se na hora, estudar o
tempo previsto, cumprir compromissos ainda que não se tenha vontade, suportar um
pequeno mal estar sem se queixar. A resistência está muito relacionada com o caráter
de uma pessoa. Junto à resistência, está a valentia de ter decisão e impulso, de forma
que os "medos" infundados não paralisem a personalidade e não tirem a capacidade
de "dar a cara" quando necessário, sem se acovardar pelo "que dirão" ou por
vergonhas tolas.

Com audácia, sem medo do fracasso - que para uma pessoa forte é uma
experiência da qual se pode aprender - nem dos riscos. Não se trata de influenciar os
alunos à coragem desenfreada, mas a de ajudá-los a não serem covardes, nem ter
medo do ridículo. Somente assim serão capazes de comprometer-se em negócios
valiosos, com serenidade e equilíbrio interior, de forma que não se desmoronem
diante da contrariedade ou dos pequenos contratempos e imprevistos, com elegância,
diante do êxito ou do fracasso, sem perder a calma se as coisas saem mal. A paciência
tem muito a ver com a paz interior, com a serenidade, com a segurança. Para educar
na paciência, é necessário um ambiente de segurança afetiva e uma exigência serena.
se a exigência é caprichosa, produz insegurança. Necessitam aprender a esperar, a dar
a cada coisa o seu tempo. Definitivamente, a fortaleza dota a pessoa de senhorio sobre
si próprio, de autodomínio (vencer-se a si mesmo é a batalha mais importante da
vida).

Possíveis planos de ação educativa relacionados com a fortaleza:

 superar, se ainda persistirem, os medos infantis de ficar sozinho, ou no escuro,


da vergonha de falar, de reconhecer a própria culpa, do sentido do ridículo;

238
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 ter paciência quando as coisas não saem como se queria, ou se sofre qualquer
contratempo (por exemplo, não se queixar ou espernear se perder no jogo);
 adotar posturas corretas em classe e em casa, não se deitar sobre a mesa;
 procurar comer de tudo e comer toda a comida que colocou no prato;
 fazer os deveres antes de começar a brincar;
 levantar-se a uma hora fixa e cumprir um horário;
 fazer bem os trabalhos e tarefas;
 ensinar-lhe a não se queixar;
 fazer pequenos sacrifícios pelo bom andamento da casa ou da classe;
 exigir que acabe o que começa;
 aguentar a sede em uma excursão ou calor de verão, o cansaço sem apregoá-lo
a cada 2 minutos;
 cumprir o encargo no momento previsto mesmo que não tenha vontade;
 participar de uma equipe esportiva;
 colocar para si pequenas metas e cumpri-las.

A virtude da laboriosidade
A infância (6 a 12 anos) é um bom momento para educar a laboriosidade, de
forma a arraigar hábito de trabalho sério e ordenado, que preparará as crianças para
vencer a tendência à desordem e à falta de vontade, sintomas que aparecerão com a
puberdade.

Fortaleza e laboriosidade estão muito relacionadas. Quem come o que quer e


quando quer; quem se deita no sofá para ver televisão até a hora que desejar; não será
capaz de aguentar muito tempo estudando ou trabalhando quando precisar fazer o
que não gosta ou que não estiver com vontade.

O baixo rendimento escolar (o estudo é o trabalho dos alunos nessa idade)


geralmente se deve à falta de capacidade ao esforço e ao sacrifício. Os meninos e
meninas, antes da puberdade, manifestam uma grande vontade de aprender, uma
curiosidade muito viva pelo que lhe rodeia. Eles amam fazer coisas novas e, em
seguida, repetir o que aprenderam: gostam de abrir a porta, atender ao telefone,
colocar a mesa, resolver problemas simples dos quais tenha aprendido bem a técnica,
colecionar coisas. Ao passar do tempo, os interesses mudam e seus esforços passam
de uma atividade a outra. Para mantê-los laboriosos, faz falta uma atuação motivadora
discreta por parte do educador, que os anima, que os ensina a trabalhar bem e a
concretizar pequenas metas de melhoria e é exigente. Ao procurar que a criança seja
trabalhadora, laboriosa, tem que levar em conta a dificuldade do trabalho, pois é
muito desmotivador pedir tarefas demasiadamente difíceis ou demasiadamente fáceis.

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A criança de 8 a 11 anos está predisposta a estudar, já que atravessa períodos


sensitivos de afã por aprender e de tendência à curiosidade intelectual, de forma que
lhe é apaixonante saber novas coisas, descobrir. Também gosta de destacar-se e está
disposto a lutar por ser melhor. De fato, quando uma criança dessas idades se
desentende com o estudo, deve-se pensar que existe um problema (de aprendizagem,
de rejeição afetiva ou de vida familiar, geralmente) que teremos que descobrir o
quanto antes para tentar remediá-lo. Com meninos ou meninas destas idades, o
problema nunca é que "não estuda", mas por que não estuda: falta de capacidade, de
motivação ou de técnicas adequadas que tornem frutífero o trabalho.

Interessa, na linha de provocar a autoconsciência e a voluntariedade, semear


motivos profundos, como a ideia de quão importante é cumprir o dever, ainda que não
goste, para agradar a Deus, para servir aos demais. Não se trata de estar fiscalizando e
supervisionando continuamente o trabalho da criança, mas de mostrar satisfação
pelos esforços e ir-lhe exigindo, de maneira razoável, os hábitos necessários no que
mais lhe custa fazer. É melhor ajudá-lo a pensar, decidir e concretizar as tarefas
(também a colocar o coração, a sentir-se contente com as decisões) para, em seguida,
exigir resultados de acordo com a capacidade, tendo o educador o papel de
observador, sem superproteções. De outra maneira será difícil ao aluno/a chegar a
entender que é ele ou ela o interessado em estudar e encontrar o modo de realizar
essas ações com o maior proveito possível.

Os alunos necessitam de um horário claro de trabalho: saber o que devem


fazer, quando e como. Necessitam aprender a organizar seus livros, suas coisas e o
tempo do qual dispõem para o estudo, para o descanso, para cultivar os hobbies, para
a família e para cumprimento das obrigações domésticas ou encargos. O descanso não
vai contra a laboriosidade, mas forma parte dela. Para que nossos alunos trabalhem
bem (estudem bem) convém estar em contato frequente com os pais que devem
orientá-los em detalhes concretos e ajudá-los a colocar as metas mais convenientes.
Um erro muito grande é preocupar-se exclusivamente com notas, média e a futura
carreira. Se quisermos educar na laboriosidade, o centro de nosso interesse será a
pessoa.

Cada vez mais é importante capacitar os alunos para estudar bem: ajudá-los a
desenvolver as capacidades e habilidades implicadas no estudo, de modo que sejam
capazes de aprender autonomamente. A mera acumulação de conhecimentos tem
cada vez menos sentido em um mundo tecnológico. O que importa de verdade são as
virtudes (capacidade de esforço, energia interior, de ordem, de constância, de
laboriosidade, etc.) e as capacidades (de selecionar e analisar a informação, de
identificar, resolver problemas, de tomar decisões etc.)

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Possíveis planos de ação educativa relacionados com a laboriosidade:

 desenvolver capacidades de observação, análise, síntese, atenção, memória,


compreensão, etc.;
 terminar o começado: encargos, trabalhos, comidas, etc.;
 apresentar trabalhos limpos e organizados;
 fazer e cumprir um horário de trabalho para casa;
 refletir antes de perguntar;
 começar a trabalhar na hora prevista;
 trazer o material necessário para o trabalho diário.
 ter em ordem e a pronto o material de trabalho (livros, instrumentos de
trabalho, etc.)

Uma educação completa não se esgota nas aulas ou no domicílio familiar, mas
se prolonga durante toda a vida pessoal.

O aproveitamento do tempo e o uso do tempo livre


O tempo livre é um tempo para viver, para crescer, para aprender, para
descansar e recuperar forças, definitivamente, é um tempo que deve enriquecer a
pessoa. Por isso, a importância de colocar em jogo as virtudes humanas relacionadas
com o trabalho, esforço e ordem para aproveitar muito bem o tempo.

Convém educar os filhos e alunos, de maneira que sejam capazes de dar


repostas pessoais criativas às influências externas ou aos problemas que o ambiente
apresenta. Ficar na defensiva ou manter posturas passivas lhes convertem - em longo
ou curto prazo - em seres manipuláveis e manipuladores. Essa não é uma questão que
afeta somente os filhos. Os pais são os primeiros que devem adotar respostas criativas
para que o tempo livre de seus filhos cumpra a sua tripla missão de descanso, diversão
e desenvolvimento.

A educação para o tempo livre não pode se desvincular da formação das


virtudes: obediência, laboriosidade, resistência, sobriedade, generosidade, etc. As
atividades de tempo livre devem ser ocasião para o desenvolvimento completo da
personalidade, como estímulo eficaz para o amadurecimento pessoal.

Ao falarmos de tempo livre referimo-nos a todo o tempo disponível, isto é, ao


tempo não ocupado pelas atividades escolares nem destinado a outras obrigações.
Esse tempo não é muito grande durante os dias letivos, o que o torna muito fácil de
perdê-lo, porém, o que sobra nos fins de semana e nas férias, exige uma atenção
particular por parte da família e do colégio, para evitar o perigo de que se destrua, em
pouco tempo, o que vem sendo construído com muito esforço: hábitos de trabalho,

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esforço intelectual e progresso nas virtudes. Pelo contrário, é preciso que o tempo
disponível converta-se em um marco para atividades enriquecedoras.

É clara a urgente necessidade de educar para o uso adequado do tempo livre,


ainda mais se levarmos em conta que o tempo de "não trabalho" aumenta se
ensinamos as crianças, adolescentes e jovens a tirarem partido do tempo de ócio, o
que evitará riscos.

Convém destacar que, nesse campo, como em todos os aspectos da vida, a


ação educativa deve desenvolver-se com sentido positivo, apoiando-se em valores e
não em meras proibições.

A seguir desenvolvemos algumas ideias sobre aproveitamento do tempo livre


que podem ser interessantes de trabalhar com alunos e pais.

Organizar planos familiares


O relacionamento frequente e confiante com os filhos oferece inúmeras
ocasiões de conhecê-los melhor, aconselhá-los e ensinar-lhes maneiras práticas de
descansar e passear bem e, aos pais, descobrir até que ponto diverte, descansa e
enriquece programar e desfrutar o tempo livre com os filhos. É um campo muito
amplo, no qual cabem as tertúlias familiares com jogos, concursos, canções, piadas;
esportes, passeios, excursões e visitas culturais a um museu, a um povoado ou a uma
exposição; festas de aniversários preparadas por toda a família, etc. são eventos
igualmente importantes.

As atividades de tempo livre com os filhos fomentam a união, a comunicação e


a participação na família.

Se os pais procuram desfrutar com seus filhos esse tempo livre, desde quando
são pequenos, terão uma magnífica ocasião de criar um ambiente no qual se transmite
desejo de superação, fortaleza, boas ocupações e hobbies. Não obstante, convém
procurar que a organização familiar das atividades de tempo livre não suprima a
iniciativa dos filhos, mas sim que a fomente. O ponto de equilíbrio pode ser alcançado
procurando que, desde pequenos, participem ativamente na preparação dos planos
familiares, sem preconceitos de sugerir, em cada momento, uma ampla gama de
possíveis entretenimentos que lhes enriqueçam: jogos funcionais (movimento),
construtivos (realizar algo), imaginativos (desenvolvimento da fantasia) e jogos com
regras.

O esporte
O esporte desde a tenra idade, as excursões e a vida ao ar livre, em contato
com a natureza, são muito aconselháveis. São ocasiões de diálogo e ajuda mútua.

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O esporte tem grandes possibilidades educativas, por exemplo:

 incentiva o trabalho em equipe e o esforço em conseguir um objetivo comum;


 oferece muitas oportunidades de exercitar o espírito de sacrifício;
 ensina a respeitar as normas do jogo e seu opositor;
 aprende-se a ganhar e a perder;
 estimula o afã de superação pessoal;
 ajuda a crescer nas virtudes humanas, como o companheirismo, a resistência, o
valor, o sentido de justiça, a solidariedade entre outras.

Por essas razões não parece conveniente que as ações punitivas suprimam a
prática esportiva. Não compensa privá-los de algo que lhes beneficia.

Os hobbies
Os hobbies são sempre ocupações diferentes daquelas profissionais, escolhidas
livremente. São formas de atividades inteligentes e capazes de oferecer novas
habilidades e enriquecimento intelectual e artístico. Por isso interessa fomentá-los. Os
hobbies ou passatempos são a melhor vacina contra o tédio.
É muito interessante estimular a prática de hobbies - coleções, bricolagem, maquetes,
eletrônica, etc., o que ajuda os filhos a serem constantes. O mais útil será compartilhar
os próprios hobbies com os filhos, sem impô-los.

Nos períodos de férias, pais e mães podem organizar para os filhos e amigos de
seus filhos, aulas de pintura, culinária, costura, esportes ou qualquer outro
passatempo. Além de ocupar o tempo com proveito, os hobbies desenvolvem a
criatividade e facilitam a descoberta de inclinações profissionais dos filhos.

As leituras
O hábito da leitura permite empregar o tempo livre de modo particularmente
enriquecedor, pois a leitura:
 desenvolve a capacidade crítica;
 aperfeiçoa a linguagem;
 enriquece a forma de expressão;
 melhora a compreensão da realidade;
 proporciona conhecimentos;
 apresenta ideais e modelos de virtudes;
 potencializa a criatividade etc.

Provavelmente, juntamente com a televisão e a influência dos amigos, a leitura


é um dos itens mais importantes na formação da personalidade da criança. Dai a dupla
conveniência de reforçar a prática da leitura e, ao mesmo tempo, neutralizar seus
possíveis efeitos negativos. Nesse campo, o exemplo dos pais é decisivo, quando os
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pais leem, os filhos também leem. Junto ao exemplo dos pais é mister que se dê outra
condição: a de que crianças e jovens tenham ao alcance material de leitura adequado.

No colégio há inúmeros exemplares de literatura infantil e juvenil de qualidade


e valores formativos, adequados a cada idade e nível de maturidade. Também se pode
encontrar orientação em revistas familiares ou em livrarias especializadas e de
confiança.

Compensa dedicar tempo em "contagiar" os filhos pelo amor à leitura e ajudá-


los a formar a própria biblioteca, presenteando-os com livros nas festas familiares,
trazendo-os de viagens do pai ou mãe, em aniversários, etc. Ao mesmo tempo
ajudamos a formar o próprio critério, para saber o que convém ou não ler em cada
etapa de sua vida.

É muito importante selecionar bem as revistas e periódicos que entram no lar,


porque ordinariamente serão lidas pelos membros da família: por isso convém evitar
aqueles títulos que não gostaríamos de ver nas mãos dos filhos.

Até uma determinada idade, os gibis são bons para reforçar o hábito da leitura,
desde que não se abuse desse meio em detrimento de leituras mais formativas. Deve-
se selecioná-los, no sentido de que não contenham inconvenientes no conteúdo e cujo
enfoque seja positivo para a formação dos filhos.

A televisão
A televisão pode ser o entretenimento ao qual mais tempo os filhos dedicam e,
talvez, os pais também. É um meio magnífico para se adquirir conhecimentos e para se
divertir, porém o abuso tem efeitos muito negativos: o primeiro deles é empregar um
tempo desproporcional. Isso prejudicará o rendimento escolar e resultará em estorvo
para a formação da capacidade reflexiva, crítica e criativa dos filhos.

O uso da televisão como recurso fácil para que os filhos não incomodem em casa, tem
consequências muito negativas, porque fomenta a passividade, impede o
desenvolvimento da criatividade, facilita a aquisição de contravalores que destoa da
formação que procuramos dar a nossos filhos. O largo espectro de efeitos
contraproducentes da ampla exposição à tevê tem sido insistentemente denunciado
por especialistas nos últimos anos.

Educar os filhos nesse aspecto é muito mais simples se os acostumamos desde


cedo a pedir permissão para assistir a bons programas de televisão, dentro do horário
estabelecido para que não se perturbe o trabalho ou descanso dos demais.

Convém que não haja mais de aparelho de TV em casa, porque, ao contrário,


será mais difícil controlar o uso da televisão e fomentará o egoísmo, ao permitir que

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cada um veja o canal preferido, prescindindo-se dos demais. Deve-se evitar,


sobretudo, que existam televisões nos quartos.

Um modo de ensinar a ver televisão é selecionar os programas a cada semana,


com os filhos e ver juntos os que pareçam interessantes, inclusive algum filme um
pouco mais delicado, sempre que não atente contra a fé ou a dignidade da pessoa, ou
seja, quando não apresentar inconvenientes a um adulto bem formado. É bom
comentar a profundidade e a forma da mensagem e o modo de apresentá-la. Ver
televisão com os filhos e comentar em seguida o programa é um meio de descanso e
uma excelente forma educativa. Além do mais, anúncios e programas inconvenientes a
qualquer hora, tornam desaconselhável que os filhos vejam sozinhos a TV. Só o
poderão fazer quando tiverem critério suficiente e já adquirido o costume, graças ao
exemplo dos mais velhos em casa, de desligar a TV caso apareça algo inconveniente ou
que não interesse.

É muito produtivo aplicar um critério restritivo ao uso da TV. Desde cedo, pode-
se suprimir uma programação televisiva de baixa qualidade técnica ou moral e
substituí-la por bons filmes, documentários ou cursos de idiomas, desde que se evite o
perigo de roubar muito tempo, em detrimento do estudo, da leitura ou de outros
planos de descanso.

A música
Também é muito bom ouvir música - atual e clássica - com os filhos. Não se
trata de escutar todas as canções dos grupos musicais da moda, mas de estar em
condições de ajudar os jovens a não se deixarem levar pelo afã de adquirir
rapidamente o último disco lançado no mercado. Deve-se desenvolver nos filhos
sentido crítico em relação a músicas que supõem amostra de mau gosto, quando não
ofensa a Deus e menosprezo à dignidade humana.

Ouvir música com os filhos apresentará múltiplas ocasiões para desenvolver o


gosto por boas composições atuais e clássicas e para educar a sensibilidade. Neste
sentido, é interessante procurar que os filhos aprendam a tocar algum instrumento
musical.

Sugestões para aproveitar o tempo livre:

a) Durante a semana

 acompanhar os filhos enquanto lancham ao retornar do colégio. É um bom


momento para escutá-los, eles sempre tem coisas a contar;

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 animá-los a pensar o que se vai fazer no fim de semana, para que não chegue o
sábado "sem saber o que fazer".

b) Nos dias de festa (feriados)

 animar a levantarem em uma hora adequada, para que não percam o dia na
cama. É necessário recuperar as forças, mas sem exagero;
 evitar os dois extremos: encher os feriados com coisas para fazer ou não fazer
coisa alguma;
 praticar esporte com mais intensidade. Aprender algum esporte novo
(montanhismo, natação, tênis, vôlei,,,)
 ajudá-los nas tarefas escolares (não fazê-las por eles). Trata-se de estar
presentes, de exigir amavelmente, de estar disponíveis - ainda que estejamos
aproveitando o tempo em outra coisa ;
 jantar com os filhos e não ligar a tv durante a refeição. Pode-se aproveitar para
conversar e ensinar os bons modos à mesa, sobretudo com o exemplo;
 Organizar um tempo de tertúlia durante a sobremesa, no qual toda a família
possa intervir;
 jogos em família. Existem muitos e muito interessantes para todas as idades;
 praticar algum esporte;
 colaborar nas tarefas domésticas para desafogar um pouco as mães. Os
encargos familiares podem gerar resultados muito bons;
 ir à missa juntos. Em seguida, tomar o café da manhã ou algum lanche na
padaria pode ser atrativo, algumas vezes;
 organizar excursões, passeios ao campo, passeios de bicicleta;
 fazer esporte com os filhos;
 assistir aos seus encontros esportivos;
 visitar museus ou exposições que possam ser atrativas (não "enfiar a cultura à
força")
 falar mais detidamente com algum dos filhos, sem dar lições, interessando-se
sinceramente por eles.
 dedicar um tempo a cultivar algum hobbie.

c) Nas férias

 escolher um local apropriado. Não é obrigatório ir à praia ou lugar onde haja


muita gente;
 as férias são momentos privilegiados para conviver com a família, visitar os
parentes, dedicar tempo aos amigos, ler bons livros, aproveitar a natureza;
 conhecer mais e melhor a natureza e a vida que nos rodeia;
 ajudar nos reparos da casa;

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 organizar festas familiares e convidar os amigos;


 brincar mais, em casa e ao ar livre;
 cantar em família, com os amigos, sozinhos, aprender novas canções;
 praticar ou adquirir algum hobbie;
 tomar café da manhã, almoçar e jantar com os filhos;
 trabalhar, conforme a idade, para ajudar alguém ou para ganhar algum
dinheiro que possa ajudar a família, economizar gastos com roupas, livros,
viagens...
 propor-se uma atividade de duração maior, como aprender um idioma, ir a um
acampamento ou convivência com os amigos;
 um tempo dedicado a repassar alguma matéria escolar ou fazer as atividades
que o colégio encomendou;
 estabelecer, desde o começo, um horário claro, que assegure a convivência
familiar: hora de levantar-se, de fazer refeições, de ler, de ajudar em casa e de
cumprir os encargos, etc.
 distribuir encargos de colaboração familiar entre os filhos pelos quais serão
responsáveis desenvolve o hábito de preocupar-se com os demais e de manter
um clima familiar acolhedor.

C. VIRTUDE DA GENEROSIDADE
O homem é um ser naturalmente social. A tendência natural é a de que as
relações sejam positivas e contribuam para o pleno desenvolvimento pessoal.

A base destas relações humanas é a virtude da Justiça, pela qual damos a cada
um aquilo a que tem direito.

A justiça é o cimento que permite e facilita a convivência, a base em que se


assenta outra virtude que a transcende e que vai além do mero respeito aos direitos: a
Generosidade.

A generosidade é a disposição firme e estável da vontade para dar tudo o que


se pode, ainda que sobrepasse a medida do justo. A justiça exige dar a cada pessoa o
que lhe é devido. A generosidade coloca o acento em dar mais do que a justiça exige.
Não são virtudes contrapostas: a justiça é o cimento da generosidade, sua condição. A
generosidade é o aperfeiçoamento da justiça.

No marco dessas duas virtudes sociais, podem-se considerar as demais virtudes


humanas que devem presidir a relação entre as pessoas, como a aceitação do outro, o
respeito aos demais, a tolerância, a compreensão, a abertura, a aceitação das normas,

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a obediência, a amabilidade, a cortesia, o agradecimento, o companheirismo, a


amizade, a cidadania, a participação social, o espírito de serviço, a colaboração, a ajuda
e a solidariedade.

A virtude da justiça
As crianças aprendem, nos primeiros anos, com a orientação dos pais,
professores e irmãos mais velhos, que o justo é o que "está bem", e o injusto, o que
"está mal". A princípio, essa aprendizagem se adquire na relação diária com os irmãos
que tem uma idade parecida e com os companheiros de jogos e brincadeiras.

Para as crianças pequenas, a brincadeira é um modo privilegiado de aprender.


Pode-se dizer que brincando aprendem a viver. Aceitam as regras dos jogos com
facilidade e, por meio do respeito às regras, aprendem o valor da justiça. Os pais
assinalam pequenas regras do que pode ou não fazer, quando pode e quando não.
Logo virão as normas impostas pelo colégio e pelos companheiros.

De fato, qualquer educador perceberá, com frequência, como as crianças


pequenas apelam aos adultos para resolver problemas de justiça durante jogos e
brincadeiras. Em contrapartida, mais ou menos a partir dos nove anos, passam a
discutir as regras entre si.

Até oito ou nove anos, convém introduzir uma educação de justiça que
destaque certas normas nos jogos, brincadeiras, na convivência familiar e escolar, que
mostrem com clareza o que é justo e o que não é. Não se trata de conquistar uma
compreensão profunda dos motivos - da qual ainda não são capazes - mas de ajudá-los
a adquirir hábitos com carinho, compreensão e exigência e a distinguir o justo do
injusto. Por isso, é importante reconhecer o bem feito e aquele que tenha atuado mal,
seja consciente de que sua conduta não foi justa. Essas ações constituem uma
preparação para que, mais adiante, as crianças sejam conscientes de que as pessoas
têm direitos e deveres.

As crianças vão compreendendo o que é justo, em parte, por meio das regras
dos jogos e da obediência aos seus pais e professores. Por isso a importância que tem
o exercício da autoridade para a educação da justiça. Também percebem o que é
injusto pela sensação de rebeldia interior que as situações de injustiça provocam.

Convém aproveitar as situações em que sofreram uma injustiça e para ajudá-los


a refletir: por que é mau o que lhe fizeram? O que você sente? O que teria sido justo?
Você, numa situação parecida, o que teria feito? Essa reflexão é importante na
aquisição da virtude da justiça e deve levar ao julgamento de situações, saber colocar-
se no lugar do outro, a compreender e perdoar.

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No caso em que o aluno seja o causador da injustiça, também se impõe a


reflexão por meio do diálogo confiante como principal ferramenta educativa: se você é
bom, por que agiu assim? Como se sentiria se tivessem tratado você dessa forma?
Como podemos reparar o dano que você causou? Como pedir desculpas?

Até os 10 ou 11 anos, as crianças começam a entender que ser justo não


significa tratar a todos da mesma maneira. Devemos apoiar essa descoberta ajudando-
os a considerar as diferentes idades e necessidades dos irmãos ou companheiros. As
tertúlias familiares, nas quais se comentam os assuntos da atualidade e demais temas
de interesse dos filhos, são muito úteis para esse fim.

As sanções
Para que os filhos adquiram um conceito adequado da justiça e se exercitem
nessa virtude humana, os educadores - pais e professores - devem ser eles próprios
justos na relação com seus filhos e alunos.

Para que as sanções sejam eficazes, requerem-se algumas condições: que sejam
poucas, de curta duração, proporcionais à falta cometida, educativas, aplicadas
imediatamente e - se possível - avisadas com antecedência.

 Poucas. Quando se pune continuamente, ou se grita por tudo, esse meio


educativo perde a eficácia.
 Curtas. O importante é que o filho entenda que devido a uma má atuação
merece - por justiça – uma repreensão. Ordinariamente não será benéfico
que "cumpra uma pena" durante semanas.
 Proporcionais. A sanção deve ser imposta em função da falta cometida. A
desproporção frequentemente é motivada pela irritação que sentimos no
momento da repreensão.
 Educativas. Com a sanção pretende-se modificar uma conduta inadequada
da criança. Por isso, as melhores sanções são as que favorecem o hábito
contrário. Por exemplo, se deixou os brinquedos espalhados pela sala de
estar, um “bom castigo” seria guardá-los. Para ser mais ordenado, de pouco
serve deixá-lo sem sobremesa ou sem recreio.
 Imediatas. Com os menores, a sanção deve ser precedida imediatamente à
uma má ação. É pouco eficaz penalizar uma criança pequena no dia
seguinte de ter cometido a falta. A partir dos 9 ou 10 anos pode ser
conveniente que eles mesmos pensem que consequências merecem pelo
comportamento inadequado.
 Avisado antecipadamente. É mais eficaz que na primeira vez se explique os
aspectos negativos do mau comportamento e advirta as crianças de que na

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próxima vez haverá uma sanção. Quando as faltas são graves ou envolvem
questões óbvias, não é preciso uma advertência antecipada.

Se a sanção cumpre as condições necessárias, convém aplicá-la. Se


habitualmente, ante as súplicas, recuamos, os alunos se acostumam a não enfrentar o
que teriam merecido pelas faltas e não crescem em responsabilidade. Por outro lado,
vale a pena insistir que o melhor prêmio é a alegria e a satisfação íntima que se sente
ao fazer as coisas bem.

Possíveis planos de ação educativa relacionados com a justiça:

 aprender a estabelecer acordo com irmão ou companheiro e cumpri-lo em


seguida;
 conhecer, aceitar e respeitar as regras dos jogos;
 respeitar a propriedade alheia: não roubar, não rasgar, pedir permissão para
usar o que é de outro, etc.;
 respeitar necessidades e direitos alheios: o quarto dos irmãos, o silêncio em
momentos de estudo ou trabalho, escutar aos que nos falam, bater à porta
antes de entrar, não interromper uma conversa...
 explicar-lhes o que é justo e injusto e o porquê;
 ajudá-los a refletir diante de fatos injustos (sofridos ou cometidos);
 ensiná-los a pedir perdão e a reparar a injustiça;
 ajudá-los a considerar a diferença de condições e circunstâncias de diferentes
pessoas;
 ensiná-los a colocar-se no lugar do outro;
 devolver o que lhe emprestem no estado em que foi recebido ou até melhor;
 agradecer quando receber ajuda;
 respeitar as normas de convivência escolar e familiar.

A virtude da generosidade
As crianças pequenas tendem ao egoísmo. Por volta dos três anos vivem a
primeira crise do "eu". É sua consolidação com o "eu-corpo", quando descobrem que
são diferentes dos demais. Esta é a idade do "não", em que a obstinação (como
autoafirmação) e a fácil irritabilidade tem certa semelhança com a crise da puberdade,
quando viverão a segunda obstinação do eu, desta vez de si mesmo, do "eu-espírito" .
Essa primeira crise não favorece a tendência ao desprendimento, mas a um grande
sentido de posse.

A partir dos 2 ou 3 anos, as crianças distinguem perfeitamente o "meu-teu" e


gostam de deixar clara esta diferença. A partir dessa idade, deve-se estimular o hábito
de dar, mais como um costume do que como uma virtude, estabelecendo a relação
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entre o dar com a alegria e o querer aos demais. É conveniente fazê-los ver que DAR
algo constitui uma mostra de carinho; que duas pessoas que se querem bem e são
amigas se dão coisas. Nessa fase, interessa que a criança aprenda a esforçar-se por ser
generosa com as pessoas que quer bem ou que lhe são simpáticas, buscando agradar-
lhes. O sorriso, o agradecimento cheio de afetos que reconhece e aprecia o esforço
alheio lhe motivarão a seguir com esses atos com outras pessoas.

Convém desenvolver, na família e no colégio, entre os irmãos e companheiros a


atitude de emprestar coisas uns aos outros, ainda que busquem a contraprestação.
Trata-se de proporcionar muitas possibilidades de que se esforcem para dar e
compartilhar, ainda que os motivos sejam em princípio, insuficientes. Além do mais,
com paciência, pode-se sugerir atos de generosidade e mostrar que as pessoas têm
necessidades.

O período sensitivo da generosidade se vive de modo especialmente intenso


entre os oito e os dez anos. Experimentam o impulso de prestar serviços e ajudar: há
maior abertura frente aos pais e professores. Nessa fase, aparece o sentido natural da
justiça e inicia-se a sociabilidade.

Desde os seis ou sete anos, as crianças experimentam o impulso de ser


generosos, de prestar serviços, de cumprir encargos. É necessário incutir essa
tendência natural, fazendo-lhes descobrir a necessidade de serem generosos e a
alegria depois de sê-lo. São atos de generosidade: escutar, agradecer, perdoar, ajudar
em casa, cuidar de um irmão menor, emprestar coisas a um companheiro, dividir o
sanduiche, repartir os doces, etc.

A generosidade é uma das virtudes que mais aperfeiçoa a pessoa, já que está
muito relacionada ao amor, e necessita da responsabilidade e da fortaleza para
colocar-se em exercício.

Nos primeiros anos escolares, a criança aprenderá com facilidade a esforçar-se


por ser generosa com as pessoas que quer bem ou que lhe são simpáticas, buscando
agradá-las. O sorriso, o agradecimento cheio de afeto, que reconhece e aprecia o
esforço, motivar-lhe-ão a continuar com esses atos também com outras pessoas. É
importante ajudá-la a descobrir a alegria que se desfruta depois de ser generosa
consigo própria: a generosidade também se aprende - e de um modo profundo - sendo
sujeito passivo.

Agora já conseguem converter os hábitos de generosidade que foram


adquirindo desde pequenos em uma autêntica virtude. Desde os 8 ou 9 anos
necessitam motivos para se esforçar em ser generosos, a não buscar a contrapartida
ou outro interesse nas ações em favor dos demais.

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É importante explicar que a generosidade e o serviço aos demais é um dever


das pessoas que se sentem gratificadas pela alegria do dever cumprido e pela
satisfação de realizar algo bom para os demais. Nesta idade já se compreende essa
linguagem. Porém, entendem melhor se dermos exemplos gráficos da alegria de
pessoas generosas e da tristeza das egoístas. Trata-se de aproveitar as oportunidades
que a vida diária oferece, como uma ocasião na qual o filho ou filha se recusaram em
emprestar algo ou não quiseram ajudar alguém, para fazê-los ver o mal pelo qual
passou e fez passar os demais; ou, pelo contrário, o bem que sentiu ao ajudar o irmão
ou a mamãe ou dar aquela esmola.

A generosidade, como toda virtude, conquista-se pela repetição de atos


(conscientes e queridos) até que seja algo natural comportar-se desse modo. Tudo isso
é mais fácil se, na família e na escola, existe um ambiente de participação e serviço. As
crianças aprenderão a ser generosos, sobretudo se respirarem este ambiente em sua
própria casa e na escola. Em um ambiente no qual se vive a generosidade, fala-se bem
das pessoas, sobretudo quando não estão presentes; escuta-se com paciência aos
demais sem atropelá-los; escolhem-se temas de conversas que interessam aos demais;
aceitam-se os encargos com alegria e satisfação por colaborar no lar; cuida-se de
doentes e os visita; economiza dinheiro para poder presentear as pessoas nas festas
de aniversário; dá esmola na paróquia e ajuda aos necessitados, os irmãos menores e
tantas outras manifestações generosas.

Trata-se de oferecer numerosas possibilidades de exercitar-se na generosidade


cada vez que se oferecem motivos pelos quais é bom atuar deste modo: quando se
dão conta de que os demais (em primeiro lugar seus pais, irmãos e companheiros)
necessitam de sua colaboração.

O valor da generosidade é muito difícil de ser apreciado objetivamente, pois


depende do esforço e dos motivos internos da pessoa que dá e se dá, que do ato
exterior que possamos contemplar. Dar do que sobra, dar esperando recompensa, por
vanglória, para se livrar de um problema, não é generosidade. Para que um ato seja
generoso deve-se dar algo de si mesmo com esforço, com a intenção de suprir uma
necessidade da outra pessoa, para o seu bem. Pode-se dar com esforço algo que não
reclama justiça, mas que também não é um bem para a pessoa que o recebe: é o caso
dos mimos, por exemplo.

As crianças saberão perdoar se nos virem perdoando, se promovemos na


família e no colégio uma dinâmica que faça do perdão algo natural. A facilidade para
perdoar, como tudo relacionado à generosidade, é algo que se respira no próprio
ambiente. E a resistência a fazê-lo também.

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Ao educar este hábito não se deve cair no perigo de se contentar em "dar o que
sobra", nem em "ficar bem", ou "aparecer", mas se trata de incentivar a decisão livre
de entregar algo do que se tem para fazer a vida mais agradável aos demais.

A ação, fruto da reflexão, e a decisão pessoal fomentam atitudes profundas, e


constituem o principal critério educativo na formação das virtudes. Uma abordagem
educativa coerente procura que os alunos prestem serviços a outras pessoas, sem ficar
em meras especulações sobre as reais necessidades dos demais. Esse modo de atuar é
o melhor antídoto para a concepção do desenvolvimento pessoal como um exclusivo
autoaperfeiçoamento para extrair de si próprio atitudes e pensamentos egoístas.

O perdão
Perdoar, perdoar de verdade, de coração, é um dos atos mais perfeitos da
generosidade, embora mais difíceis de realizar. Para perdoar, é necessária a segurança
interior e o desejo de servir. Perdoar não é tirar importância do que gerou a mágoa,
nem ser ingênuo. Mas é reconhecer a necessidade da outra pessoa de receber carinho,
aceitação e confiança apesar do que tenha feito.

Possíveis planos de ação educativa relacionados com a generosidade:

 dar uma parte de seu dinheiro como esmola a uma paróquia;


 aprender a descobrir as necessidades de outras pessoas;
 emprestar material de classe aos companheiros, ainda que as vezes lhes
possam estragar;
 ajudar um irmão ou companheiro no estudo;
 saber perdoar e pedir perdão;
 lembrar-se de agradecer;
 dizer por favor ao pedir algo;
 cuidar de um irmão pequeno;
 ajudar os irmãos e companheiros a cumprirem um encargo;
 visitar os avós e passar um tempo com eles;
 visitar e acompanhar os companheiros doentes;
 reservar um dos presentes de Natal ou de seu aniversário para dar a uma
criança necessitada;
 brincar com os companheiros ainda que eles não lhe agradem;
 escutar com interesse a quem fala e respeitar a vez da palavra;
 emprestar roupa, brinquedos aos irmãos;
 praticar obras de misericórdia com a família.

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A virtude da obediência
A virtude humana da obediência consiste em aceitar e realizar com prontidão e
interesse as decisões de quem tem autoridade. A criança pequena obedece porque
reconhece intuitivamente a autoridade dos pais. Eles lhes dão segurança e carinho, e
tudo isso a leva a cumprir a vontade dos pais, ainda que, às vezes, sinta-se inclinada a
desobedecer para provar sua própria força e suas próprias possibilidades de atuar com
independência.

Por volta dos três anos surge o que se pode chamar a idade do "não". Esse
momento do processo evolutivo normal da criança supõe a nascente vontade infantil.
A partir de então, surgem as primeiras argumentações dos motivos que, pouco a
pouco, irão fundamentar a sua liberdade.

Convém unir exigência com razões pelas quais se exige algo, de tal modo que a
criança obedeça (na medida do possível) porque vê que o que lhe pedem é razoável.
Também pode obedecer por carinho aos pais e professores, reconhecendo que sua
obediência é um modo de manifestar isso.

Os educadores correm o perigo de contentar-se com uma obediência mais ou


menos cega, que produza uma aparência de paz e ordem. Desse modo, não se dão
conta de que o mero cumprimento da ordem não desenvolve o hábito da obediência.
Neste sentido, não se trata de conseguir que os filhos obedeçam sem motivo, mas que
adquiram a virtude da obediência, ou seja, que obedeçam e queiram obedecer. É
muito importante que essa virtude esteja consolidada antes da puberdade.

A obediência é muito importante para o desenvolvimento moral e para a


conquista do autodomínio. Quem não foi obediente a seus pais, dificilmente
obedecerá à voz da própria consciência. Uma atuação coerente por parte dos
educadores facilita a obediência. Dificultaríamos a aquisição deste hábito se nos
comportássemos de um modo inconstante e imprevisível, segundo o estado de ânimo
de cada momento, se exigíssemos algumas coisas em uns dias e em outros não.
Obediência e autoridade estão intimamente relacionadas. Para que a obediência seja
eficaz, deve haver autoridade. Nos anos fundamentais para a consolidação desse
hábito, os pais devem exigir o cumprimento de tudo o que se manda.

Não é construtivo que os pais repitam muitas vezes a mesma ordem, pois cada
vez os filhos tardarão mais em obedecer. Por exemplo, não é educativo avisar quatro
ou cinco vezes de que vai perder o ônibus escolar caso não se apressem. Em algumas
ocasiões a crise da obediência é na realidade crise de autoridade dos pais.

Os resultados costumam ser positivos quando damos uma informação:

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 clara, já que, para obedecer conscientemente, os alunos necessitam conhecer o


que se espera deles. Nos assuntos importantes pode ser interessante nos
assegurarmos de que tenham entendido bem o que devem fazer, quando e
como;
 no momento oportuno (não em momentos de irritação);
 apoiada em uma exigência serena, perseverante, amorosa e alegre.

Convém que agradeçamos e estimulemos a obediência das crianças,


reconhecendo o que está bem feito. A obediência é um dever, mas, se os filhos
percebem que valorizamos seus esforços, terão mais interesse em obedecer.

Temos que estar atentos a que:

 cumpram bem o que foi pedido;


 obedeçam, compreendendo a importância do que é pedido;
 evitem as desculpas para se esquivarem da ordem;
 aceitem a ordem sem tentar que outro o faça (irmão, companheiro...);
 obedeçam com prontidão, sem necessidade de repetir a ordem;
 obedeçam com alegria, sem resmungar.

Alguns objetivos de planos de ação educativa relacionados com a obediência:

 escutar com atenção as indicações dos pais e professores, assegurando-se de


que entenderam bem;
 verificar se a ordem foi cumprida;
 pensar no melhor modo de fazer o que nos foi mandado;
 obedecer com alegria;
 não colocar desculpas para evitar encargos.

A virtude do companheirismo
No princípio da escolarização, a criança se depara com um âmbito mais formal
que o da família, no qual existem mais regras de comportamento, horários, notas...
Esse fato oferece várias oportunidades para que a criança amplie o seu campo de
relações sociais: em sua classe encontram-se crianças muito diferentes, com as quais
terá que aprender a conviver.

Os pais devem procurar saber se, no colégio, seu filho brinca e fala com os
outros, se é generoso, se passa mais tempo com algumas crianças do que com outras,
se ele se dá bem com os companheiros, se está fazendo amigos. Esse é um tema muito
importante para falar com o preceptor.

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A criança sente a necessidade de agrupar-se. Os jogos coletivos substituem os


individuais, que agora não são tão atrativos. Aos seis anos, os grupos de jogos (com
uma clara predominância dos jogos de competição, nos quais colocam à prova suas
capacidades e novas destrezas) podem ser maiores e mais estáveis que na Educação
Infantil, o que oferece maiores possibilidades para uma correta adaptação social.

No relacionamento com os demais, começa a reconhecer o seu papel dentro do


grupo, o que pode dar e o que pode receber. O habitual aos seis e sete anos é que a
camaradagem ainda não seja muito sólida e que o grupo seja dirigido por uma criança
naturalmente mais líder. As crianças de temperamento tímido ou que tenham sido
superprotegidas pelos seus pais, normalmente, encontrarão mais dificuldades de
adaptação.

Convém explicar frequentemente aos alunos em que consiste ser um bom


companheiro e porque se deve sê-lo. Para isso é preciso estabelecer critérios:

 formar pequenos grupos ou equipes para jogar ou estudar;


 dar encargos compartilhados (por exemplo, colocar as coisas no quadro de
avisos ou mural da sala);
 facilitar que vão a casa um do outro para brincar;
 ajudar a superar a timidez.

A partir dos oito anos compreende-se melhor o sentido das regras, a


necessidade de ajustar-se a elas e a conveniência de sacrificar os próprios gostos pelo
bem do grupo. O respeito às regras favorece o sentido da justiça, da lealdade e da
ordem.

Entre os 9 e os 12 anos aumenta a necessidade do companheirismo. Por sua


vez, os grupos são mais seletivos e reduzidos que antes: aparece a "turma" ou “gupo”.
A convivência com os companheiros de turma pode ser um estímulo muito positivo
para o desenvolvimento da lealdade, da generosidade, do contar com os demais e de
outras virtudes sociais. Além do mais, o aluno sabe que é julgado pelos companheiros,
de uma maneira distinta de seus pais, o que contribui para a formação de uma imagem
mais realista de si mesmo.

Os pais podem ajudar os filhos a desenvolver o companheirismo procurando


que os filhos tenham tempo para conviver com seus companheiros, e não somente
para ver televisão, brincar no computador ou fazer tarefas escolares. Convém colocar
facilidades para que os colegas vão à casa uns dos outros para brincar ou, por
exemplo, para comemorar aniversário. Nas brincadeiras, ensiná-los a ganhar e a
perder, a não trapacearem e a não desistirem do jogo se estiverem perdendo. Além de
explicar aos alunos a importância do companheirismo e os modos práticos de vivê-lo

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no colégio, convém falar das condutas positivas de companheirismo e corrigir as faltas


que se produzem, com delicadeza.

Entre os 11 e os 12 anos começam as primeiras relações propriamente de


amizade. Até então, somente podemos falar de companheiros de turma ou de
brincadeiras. As meninas amadurecem antes e, aos 10 ou 11 anos já começam a buscar
a amizade.

Não é bom insistir continuamente em quais tipos de amigos convém aos filhos.
Podem-se explicar os motivos e eles devem entender, porém é preciso respeitar suas
preferências, sem imposições diretas, salvo casos especiais.

Alguns alunos, mais introvertidos e menos sociáveis, não se empenham em


fazer um grupo de amigos e, desse modo, correm o risco de perder toda a riqueza que
o contato com outras pessoas de sua idade traz. Sem forçar a relação com alguém em
concreto, é importante colocá-los em contato com grupos esportivos, animá-los a levar
algum companheiro para estudar em casa, motivá-los a compartilhar um hobbie. Se for
o caso, limitar as horas de videogame, computador, televisão ou outras atividades que
potencializem o isolamento.

O habitual será que nossas alunas e alunos selecionem bem as amizades, mas
podemos facilitar isso, procurando que circulem por ambientes em que possam travar
amizade com outros meninos ou meninas de sua idade que tenham costumes e
divertimentos sadios. Em muitas cidades, existem clubes juvenis, promovidos por pais
de família, para que seus filhos aprendam a conviver bem, fazer amigos em ambiente
positivo e receber ajuda na formação pessoal. Essa é uma possibilidade entre muitas.

A virtude da solidariedade e o espírito de serviço


A educação da solidariedade e, em geral, das virtudes sociais e dos bons
sentimentos (compreensão, aceitação, generosidade, colaboração, compaixão,
solidariedade, justiça...) deve começar no ambiente social mais próximo à criança: a
família e o colégio.
Convém insistir na formação de hábitos de interesse pelos demais e pelos
trabalhos de serviço na vida diária, no seio familiar, com os irmãos, familiares, vizinhos
e amigos. É importante que cada filho consiga perceber as necessidades dos mais
próximos (pais, irmãos, amigos...) como sinal e manifestação principal de um amor
generoso e aberto a todos os homens.

Cada um dos atos isolados de solidariedade não devem nunca ser considerados
como fins, mas como meios para fazer nossos alunos conscientes de que na vida, ou se
serve aos demais ou o egoísmo incapacita o homem para a felicidade.

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Possíveis objetivos de planos de ação educativa relacionados com o


companheirismo:

 ajudar os companheiros que não entendem uma lição ou não sabem resolver
um problema;
 levar algum dia (ou ir à casa de outros) para casa amigos para estudar ou
brincar;
 explicar a importância de que os bons companheiros têm na vida;
 participar das atividades de um clube juvenil;
 compartilhar hobbies.
 visitar e anotar as tarefas de um colega doente.

Hoje é um fato comprovado, que existe uma multidão de jovens rodeados de


meios materiais que ganharam sem esforço, pois, pais - com uma boa intenção mal
entendida - isentaram os filhos de trabalhos e tarefas de serviço que deveriam
executar até na própria família. São muitos os que não receberam a recompensa da
satisfação por haver feito algo bom, útil, valioso pelos demais.

Possíveis objetivos de planos de ação educativa relacionados com a solidariedade:

 ajudar algum irmão ou colega com dificuldades de estudo;


 participar de coletas para pessoas necessitadas;
 viver bem os encargos de mútuo serviço em família e no colégio;
 ocupar-se da atenção aos doentes;
 atender a familiares idosos, doentes ou desvalidos;
 praticar obras de misericórdia em família.

A amabilidade. A cortesia. A delicadeza no trato mútuo


A amabilidade significa sintonia com a situação e sentimentos de outro. Para
ser verdadeiramente amável, deve-se tentar sentir-se amigo daquele a quem nos
dirigimos. A amabilidade tem a sua expressão nas boas maneiras, na cortesia, quer
dizer, em palavras e atitudes que fazem com que as relações que estabelecemos com
outros sejam agradáveis.

A delicadeza no trato mútuo manifesta-se em pequenos detalhes que têm


como finalidade fazer a vida alheia mais agradável. Cada pequeno ato pode converter-
se em um hábito e a idade mais eficaz para consegui-lo é entre os seis e os onze anos,
antes da chegada da puberdade.

Algumas pequenas normas de cortesia que podem converter-se em planos de ação:

 utilizar corretamente os talheres nas refeições;

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 usar adequadamente o lenço e o guardanapo;


 vestir-se corretamente;
 comer e beber sem fazer barulho;
 evitar tocar no nariz;
 pedir permissão para algo que não é habitual;
 agradecer;
 evitar fazer ruídos desagradáveis (bocejos, espirros etc.);
 evitar passar entre duas ou mais pessoas quando estão conversando;
 adotar posturas corretas em classe, vestiários e corredores;
 evitar palavras ofensivas;
 evitar palavrões;
 dizer por favor ao pedir algo;
 cumprimentar e despedir-se;
 ceder passagem;
 pedir desculpas quando incomodar alguém;
 falar sem gritar;
 respeitar a vez da palavra;
 escutar, em silêncio a quem fala.

D. VIRTUDE DA RESPONSABILIDADE
A responsabilidade é um reflexo da maturidade da pessoa que é capaz de viver
a liberdade, que compromete a sua vida com a verdade e o bem em um projeto
pessoal de vida, com todas as consequências.

A melhor idade para que essa virtude se consolide é entre os seis e doze anos,
já que as crianças estão em períodos sensitivos que facilitam a conduta responsável:
amor à justiça, disposição para ajudar e colaborar prontamente, desejo de ficar bem,
afã de superação. Essas tendências cooperam diretamente com a necessidade de
cumprir o dever, escolhido ou assumido. Trata-se de predisposições que facilitam a
realização dos compromissos com perfeição.

O valor da responsabilidade se desenvolve quando:

 atribuímos responsabilidades aos filhos ou alunos. Conforme vão crescendo,


será maior o número de situações pelas quais possam se responsabilizar e, o
sentido de responsabilidade irá se aperfeiçoando. Aprende-se a ser responsável
assumindo responsabilidades. Quando os pais e professores depositam
confiança na criança, gera-se um forte estímulo para aderirem aos deveres
propostos.

259
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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

 damos o devido feedback. As crianças necessitam saber se o seu


comportamento é o esperado pelos pais e professores. O reconhecimento do
bem praticado, a satisfação manifestada pelos pais, o louvor, cumprem essa
função. Também é necessário informá-los se não atuaram bem ou como se
esperava. Em boa medida, aprendemos de nossos erros, por meio da
experiência.
 ajudamos as crianças a pensar e avaliar distintas possibilidades de realizar o
que foi decidido. Em sua acepção mais comum, responsabilidade é a
capacidade para decidir apropriadamente e com eficácia. Os alunos precisam
aprender a tomar decisões pessoais com responsabilidade. Para tanto, é muito
interessante fazê-los conscientes das decisões que continuamente estão
tomando e ajudá-los a prever as consequências, pelas quais também são
responsáveis.

Condições para uma atuação responsável


Todos os educadores coincidem no desejo de que seus filhos ou alunos sejam
responsáveis, porém nem todos têm o mesmo conceito de responsabilidade. O erro
mais frequente é confundi-la com obediência. Isso leva a um grande equivoco que traz
enormes consequências educativas. Ao obedecer, a criança faz o que mandam, mesmo
sem estar de acordo. Quando se obedece, tanto a decisão quanto a motivação são
externas à criança. Entretanto, uma atuação responsável implica aceitação pessoal e
livre da tarefa, bem como de uma motivação interna, pessoal, para executá-la. Uma
pessoa obedece para agradar a outra, evitar castigos ou colaborar pelo bem comum;
porém, atua responsavelmente quando decide o que fazer e se motiva a si mesma
para fazê-lo. Quando se atua somente por obrigações impostas, não se chega a
experimentar o êxito ou o fracasso como consequência de uma decisão pessoal da
qual é responsável.

Para que uma atuação possa ser fruto da responsabilidade, é necessário:

 saber o que se deve fazer e como fazê-lo. Por isso é importante indicar ao
aluno o propósito da tarefa e a forma de realizá-la, animando-o a fazer as
perguntas necessárias para fazê-la bem.
 que aceite fazer a tarefa, o que supõe poder não aceitá-la (se não se pode
negar, estamos falando de obediência e não de responsabilidade). Quando
escolhe livremente, estará exercitando sua responsabilidade. Está claro que
algumas tarefas devem cair no âmbito da obediência e as crianças devem
realizá-las por obrigação. É interessante considerar que os alunos devem
aprender a pensar e a decidir por si próprios. A possibilidade de dizerem "não"
algumas vezes faz parte desse processo.

260
Solar Colégios
Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

 capacidade de automotivação. À medida que os alunos vão crescendo, os


educadores devem procurar que a motivação seja cada vez mais interna (que
provenha deles próprios). Quando são menores os motivos são extrínsecos,
mas na medida em que crescem, vão decidindo e agindo por vontade própria.

Se queremos alunos responsáveis, temos que correr o risco da liberdade.


Somente sou responsável por aquilo que decido com liberdade (o que não significa
ausência de ajuda ou conselho).

Liberdade e responsabilidade
Os alunos não ficam responsáveis de repente, ao completarem 16 ou 18 anos.
A aquisição da virtude da responsabilidade é um processo que ocorre pouco a pouco,
durante muitos anos, se aproveitarem as ocasiões que são oferecidas para atuar com
liberdade e exercitar a responsabilidade.
A liberdade nos faz capazes de escolher o bem, a responsabilidade de colocar
em prática essas decisões e de cumprir os próprios deveres da melhor forma possível,
com autonomia e iniciativa.

Alguns indicadores de responsabilidade

 realizar tarefas sem que se necessite lembrar isso a todo momento;


 saber responder pelo que faz;
 não coloca a culpa nos demais sistematicamente;
 ser capaz de escolher entre diferentes opções;
 poder tomar decisões diferentes daquelas que as pessoas tomam em grupos;
 fazer o que diz que vai fazer;
 reconhecer erros pessoais sem necessidade de justificativas complicadas.

E. VIRTUDE DA ALEGRIA
Podemos considerá-la como a virtude humana síntese e resumo de todas as
demais virtudes. A alegria constitui o fim da educação e o fruto de uma vida virtuosa.
Encontra-se envolvida com todas as demais virtudes: aproxima o homem de seu fim,
da sua perfeição, da felicidade possível no tempo.

A alegria é a complacência no bem e qualquer bem pode ser fonte de alegria.


Essa virtude tem muitas e diversas manifestações, segundo os bens aos quais de refira.
Assim, podemos falar da alegria de conhecer, de trabalhar, de contemplar, de conviver
e compartilhar, de viver. Por isso podemos dizer que, de certa forma, a própria vida é
uma geradora constante de alegria. A alegria se aprende e essa aprendizagem é uma

261
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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

das tarefas primordiais da educação. Para "ensinar alegria" é muito importante vivê-la.
Nós, educadores, somos mediadores entre a criança e os valores.

A tendência natural do homem à felicidade e à alegria supõe um otimismo


radical e realista, fundamentado na ideia de que no mundo há algo bom, valioso, que é
possível e conveniente alcançar. Trata-se de um otimismo realista. Somente existe
verdadeira alegria se aceitamos sinceramente a realidade.

Alguns conselhos para conquistar um ambiente alegre


a) Aprender a desfrutar das coisas simples e cotidianas que estão presentes na nossa
vida: conversa, descanso, trabalho, natureza, amizade...Ser conscientes de que a busca
descontrolada e ansiosa pelas satisfações (em geral materiais) conduz à perda do
equilíbrio interior.

b) Sentido positivo diante das pessoas e acontecimentos. É o oposto ao derrotismo e


às atitudes deprimentes e desesperançadas, à visão negativa da vida, que conduz à
inquietude e ao desassossego. Encontraremos alegria quando nos esforçarmos por
descobrir o positivo que sempre (e em maior proporção que o negativo) existe nas
pessoas e situações com as quais nos deparamos.

c) Aceitar as próprias possibilidades e limitações. Viver com alegria o que temos, sem
renunciar a melhorar, mas sem ter atenção centrada quase que exclusivamente no que
nos falta. Não perder tempo com lamentações ou queixa inúteis sobre o que já
aconteceu ou é irremediável: aceitar cada filho pelo o que é e como é.

d) Fazer de nossas ocupações habituais fonte de alegria. Nosso trabalho, seja qual for,
é a expressão da capacidade e aporte à sociedade em que vivemos. É um dos âmbitos -
junto com o brincar e o amor - principais da vida humana, e, portanto, uma das fontes
de satisfação e alegria mais importantes.

e) Bom humor na convivência. Estar bem na família e na escola. Rir em família com
frequência e contagiar a alegria. Criar oportunidades de "passar bem" todos juntos:
almoços especiais, festas, passeios. Não se trata de fazer coisas muito especiais, mas
de fazer especial o estar juntos, por exemplo, assistir a um vídeo em casa, com
petiscos e refrescos, comemorar aniversários em sala de aula ou as conquistas das
equipes esportivas do colégio.

A virtude do otimismo
Não é fechar os olhos à realidade, falsificando-a; nem fazer de conta que nada
acontece, de forma ingênua. O otimismo supõe ser realista e buscar o positivo, ao
invés de centrar-se nas dificuldades. Quando o otimista se centra nas dificuldades, é
para ver que oportunidades se escondem nelas. Levar em conta as dificuldades, mas
saber que, muitas vezes, são superáveis.

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

Todos nós necessitamos viver em um ambiente de alegria. O ambiente de


alegria em família ou em sala de aula provém, em parte, de que os pais e professores
apoiem-se nos pontos fortes das crianças, estimulando-as nas suas capacidades e
possibilidades. Este ambiente deve mostrar com clareza o carinho, que não significa
superproteção. Desse modo, aprenderão a confiar em si mesmos.

Às crianças capazes e confiantes em si mesmas, convém colocar metas maiores


e ajudar que aprendam a encarar um "fracasso" com alegria, descobrindo o positivo de
uma situação negativa.

As crianças com baixa autoestima ou que fracassam frequentemente, precisam


de mais ocasiões de êxito, para conseguirem, por meio do esforço e do apoio de pais e
professores, o que se haviam proposto.

Tratar os alunos com atitude positiva significa:

 parabenizar o que está bem feito;


 indicar o que se pode fazer melhor;
 reconhecer o esforço e as conquistas obtidas;
 animar para que construam uma imagem real e positiva de si mesmos e
reforcem os sentimentos de eficácia e segurança.

A atitude positiva e a autoestima


Essa atitude promove uma autoestima equilibrada. Uma pessoa com uma
autoestima adequada: tem sentimentos e atitudes positivas de si mesmo e dos
demais. É mais fácil que seja uma pessoa sorridente, acolhedora, otimista, capaz de
grandes ideais e projetos. Atentar para o fato de que autoestima e soberba são
diferentes.
Podemos potencializar a autoestima das crianças fazendo que se sintam importantes e
necessárias na família e na escola.

Como melhorar a autoestima das crianças?

 O amor é incondicional

Reconhecer o positivo de uma pessoa ajuda-a a sentir-se bem consigo própria e a


motiva a aceitar o esforço que supõe a aprendizagem, já que sente-se segura de sua
capacidade. O excesso de elogios, sem propósito, pode fazer com que o motor das
ações do aluno deixe de ser interno, para visar à recompensa externa, em forma de
elogio.

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

Os filhos devem saber-se queridos por eles próprios, pelo fato de existirem,
independentemente de qualidades e aptidões e, por conseguinte, de suas notas e
resultados escolares.

 Primeiro, o positivo.

Em qualquer filho, o positivo sempre é maior que o negativo. Para darmos conta disso,
pode ser interessante fazer uma lista das qualidades positivas do filho.
Frequentemente podemos ficar demasiadamente atentos para o que o filho faz mal e
perdemos de vista as coisas interessantes, deliciosas, inteligentes e amáveis que faz.

 Enviar mensagens positivas.

Um sorriso é uma mensagem positiva. Dizer que gosta da forma como fez algum
trabalho também o é. Definitivamente, é necessário dar-se conta do positivo e dizê-lo.
Não se trata de elogiar por elogiar, sem moderação nem motivo. Os elogios mais
eficazes são os que se referem a atuações concretas que ajudam as crianças a
desenvolver uma maior consciência do bem e do mal.

No tom de voz, na expressão facial, pode-se transmitir uma mensagem mais clara do
que com as palavras. Cumprimentam-se os filhos com apreço, alegria e carinho na voz,
o filho reconhecerá a sua alegria, que será para ele, fonte de segurança e de satisfação.
Também com palavras é possível fazê-los ver o quanto somos contentes de tê-los e de
estar com eles. Se continuamente qualificamos como maus e errados por cometerem
erros, acabarão convencidos de que não são capazes de fazerem bem as coisas.

 Dedicar a cada filho um tempo especial.

É um tempo para ficarem juntos, não para dar lições ou repassar o comportamento
dos últimos dias. Trata-se de ir a algum lugar do qual se goste e passar um tempo
juntos, falar de coisas que o filho ou filha queiram. O trato pessoal e frequente é um
gerador de confiança.

 Reconhecer o esforço, o interesse, a dedicação.

Mais que o resultado essa atitude é especialmente eficaz com crianças perfeccionistas
ou com muito baixa autoestima, que pensam que fazem mal as tarefas que lhes são
atribuídas.

 Ensinar a converter as queixas e críticas em sugestões ou pedidos.

Essas crianças podem ter uma imagem negativa de si mesmas e são muito autocríticas.
Quando aprendem a pedir e a sugerir, a tensão ficará reduzida.

 Animar para que tenham iniciativas e ajam por conta própria.

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

Uma das grandes alegrias da infância é descobrir algo e saber-se capaz de agir por si
mesma. Se a criança pode buscar uma resposta, não convém dá-la. Pelo contrário, se a
damos é por que pensamos que eles não podem fazer algo bem e não lhe permitimos
tentar; favoreceremos, desse modo, as dúvidas sobre sua própria capacidade, o que
gera passividade e retraimento.

 Escutar os filhos sem julgá-los continuamente,

Escutar com o coração, com interesse sincero, sem aconselhar ou comentar


continuamente o que dizem. Evitar os "interrogatórios".

 Descobrir a excelência e apoiar-se nos pontos fortes.

Descobrir suas qualidades especiais e informá-los sobre elas: "Você faz desenhos
encantadores". Apoiar-se em pontos fortes: desejo de agradar aos seus pais, boa
disposição para colaborar. etc. para conseguir que queiram melhorar em algum
aspecto concreto.

 Premiar, mais do que castigar.

Às vezes, é necessário punir os filhos por transgredirem certas normas ou regras,


porém, com mais frequência e justiça, devemos reconhecer as boas atuações, que
sempre são mais numerosas. Não se trata de premiar com algo material, o que
normalmente desvirtua os motivos do bom comportamento, mas de agradecer e
reconhecer o bem feito. Um sorriso e umas palavras afetuosas são, muitas vezes, uma
magnífica recompensa.

 Exigência desproporcional.

Deve haver equilíbrio entre o que a criança sabe e pode fazer, de modo que, com
esforço, e, ás vezes, com ajuda, possa realizar. Não convém pedir-lhes tarefas ou
responsabilidades complicadas, sem explicar-lhes bem o que se deve fazer e o que se
espera deles.

F. VIRTUDE DA PIEDADE: HÁBITOS DE VIDA CRISTÃ


A piedade se transmite, fundamentalmente, pelo exemplo. Os alunos devem
ver seus pais e professores rezando com piedade sincera.

O sentimento de confiança em Deus Pai é uma das principais atitudes


religiosas. Pode-se despertá-lo prontamente nas crianças, quando a presença
protetora dos pais lhes infunde segurança e confiança. Antes de incorporá-la no

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

Projeto Snipe, as crianças devem tê-la aprendido de seus pais e professores da


Educação Infantil, a rezar com pequenas frases de oração a Jesus, a Maria e a seu Anjo
da Guarda.

Convém reforçar a oração espontânea e confiante, com diálogos simples com


Deus Pai, com Jesus e com Maria e acostumá-los a rezar ao acordar e ao deitar, ao
começarem as aulas e ao terminá-las. Ensinar-lhes fórmulas simples, fáceis de
memorizar, como oferecimento de obras, benção dos alimentos. Ensinar o sentido das
palavras para que compreendam o que dizem. Deve-se, também, educar os
sentimentos religiosos por meio de gestos simples: ajoelhar-se para rezar, beijar o
crucifixo, fazer o sinal da cruz etc.

Pode-se começar a desenvolver a piedade eucarística nas crianças mediante o


amor a Jesus no Sacrário, ajudando-os a tomar consciência da presença misteriosa,
porém real, de Jesus Sacramentado. Pode-se fazer visitas a Jesus para falar com Ele,
dizer a Ele que Lhe queremos. Também é natural tratar com afeto a Nossa Senhora e a
ter devoção à imagem da Virgem de seu quarto e de sua sala de aula.

Aos seis anos, a consciência moral da criança começa a ser despertada, ou seja,
começa a compreender que certas ações próprias agradam ou ofendem a Deus. Os
pais e educadores devem ter uma grande preocupação por formar a consciência das
crianças que, normalmente se estabelece por volta dos sete anos. Isso permitirá julgar
a bondade ou malícia de seus atos. Por isso, convém inicia-los na necessidade de sentir
um certo pesar por suas más ações, sem oprimi-los ou produzir um sentimento
esmagador de culpa por suas pequenas faltas. Deve-se empregar um tom muito
positivo, falar do carinho e da bondade de nosso Pai Deus e de como devemos
procurar dar a Ele alegrias ao invés de desagrados, ou seja, orientá-los mais no sentido
do amor do que no do temor. Assim aprenderão, pouco a pouco, o significado do
pecado, do arrependimento e do perdão, sem cair nos escrúpulos, evitando produzir
um sentimento esmagador de culpa. Que saibam distinguir o que é pecado e o que não
é e a diferença entre pecado mortal e venial.

Sete e oito anos são idades apropriadas para introduzir a criança, de maneira
orgânica, na Igreja, por meio da preparação imediata à confissão e à comunhão,
procurando facilitar-lhe a recepção consciente e frequente desses sacramentos. É
importante fazê-los compreender a importância da Santa Missa dominical, de forma
que entendam que em qualquer plano ou atividade familiar de fim de semana, leva-se
em conta, em primeiro lugar, o cumprimento do preceito.

Nessa idade, como já se pode prepará-los para a confissão, ensiná-los a


confessar com frequência e regularidade, de forma que adquiram esse hábito com
simplicidade e naturalidade, ajudando-os a descobrir o sentido positivo e alegre do

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

sacramento da penitência. É um momento idôneo para começar a fazer um breve


exame de consciência diário e uma direção espiritual periódica.

A formação moral deve ter um sentido positivo, reafirmando a importância de


se fazer o bem. Ao expor a lei moral e os mandamentos deve-se destacar a força e a
beleza da vida cristã que reside no amor e na misericórdia divinos. Mediante o
exemplo de piedade dos pais e professores, potencializar os hábitos de vida de
piedade iniciados em etapas anteriores para enraizar esses hábitos que irão cristalizar-
se em estilo de vida e em humor próprios de quem confia em Deus e trata de agradá-
lo.

A educação na etapa do Fundamental I é um momento especialmente propício


para a aprendizagem dos conceitos fundamentais da doutrina. Procurar não cair em
mera memorização. Esses conceitos devem tocar na inteligência e no coração da
criança. Esses são anos propícios para solidificar a religiosidade, dar as bases doutrinais
que devem deixar marca profunda na alma.

Nesse período, em que se desperta a admiração pelas pessoas, pelo herói,


interessa suscitar a admiração e o amor por Cristo, que é a Suma Bondade e que
morreu na Cruz para nos salvar. Ele é nosso exemplo, a figura mais atrativa no meio de
tantas que possam nos apresentar.

A sociabilidade, que desperta e impulsiona a buscar amigos especiais, é um


momento adequado para falar-lhes de Cristo Amigo. A Comunhão é o encontro com
Cristo, o melhor Amigo, que nunca abandona nem atraiçoa, que sempre perdoa
porque nos quer. Interessa ensiná-los a falar com Jesus após a Comunhão, com
palavras ou orações simples. A visita ao Santíssimo traz o sentido de estar junto ao
Amigo e falar com Ele, tratá-Lo.

Alguns dos "por quês" infantis serão ocasião próxima para falar-lhes de Deus
com sentido sobrenatural de múltiplas incidências. Embora ainda não sejam capazes
de compreender o sentido profundo de alguns conceitos religiosos, não podemos
deixar de dizê-los. A catequese habitual, tanto no âmbito escolar - por meio das aulas
de religião - quanto no familiar, apresenta-se como modo mais adequado para
apresentar-lhes a doutrina cristã básica.

Outros pequenos hábitos de piedade que os alunos podem adquirir nessa etapa
são: oferecer seu trabalho a Deus, rezar três Ave Marias antes de dormir e rezar o
Santo Rosário (o terço) em família.

267
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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

G. VIRTUDES HUMANAS E AÇÕES INCIDENTAIS


As Ações Incidentais sugeridas para o Projeto Snipe influenciam na criação do
ambiente escolar e na formação de hábitos diários de vida. É fácil perceber que ações
como "guardar o material quando se termina de brincar ou trabalhar", “limpar os
instrumentos de trabalho após o uso”, "não jogar papel no chão", são atitudes que
contribuem para formar hábitos de ordem e de determinação para fazer o que é
preciso fazer.

Pedir as coisas “por favor", "levantar a mão ou fazer outro sinal convencionado, para
indicar que se quer falar em sala", "evitar empurrar os companheiros", "dividir o
material escolar", também são ações da vida infantil que contribuem na formação de
hábitos de generosidade e colaboração, base de toda a vida social. Outras ações como
"manter os cadarços do tênis amarrados", "evitar roer as unhas", contribuem para a
formação da autoimagem e do sentimento inicial de dignidade que começa a
manifestar-se no porte pessoal.

Se as ações foram tipificadas em três categorias, os hábitos que se manifestam


nesses atos, também podem se referir aos mesmos três tipos de atividades. Alguns
hábitos referir-se-ão ao uso das coisas, outros à imagem e conceito de si mesmo, e
outros, finalmente, às relações entre pessoas.

Sem dificuldade pode-se identificar os hábitos de ordem e de determinação


necessários para usar e modificar, se for o caso, as coisas; os relativos ao
relacionamento social, como os de justiça e generosidade, os de colaboração com os
demais; e, por último, os relativos ao decoro e à autonomia pessoal.

As motivações fundamentais da pessoa da criança


O autoconceito ou autoestima influencia no comportamento: quando a criança
se considera inepta ou má, espera fracassar e atua mal em consequência. A segurança
pessoal, em contrapartida, proporciona-lhe energia para esforçar-se por conseguir
novas metas e atua bem em consequência disso.

Os feedbacks positivos que fazemos das crianças contribuem para a forja da


autoestima com tanta força que até as atitudes negativas que a criança tem de si
mesma, podem transformar-se em autoestima, se lhe é oferecido um clima de
aceitação. Não se trata de enganá-las, mas de criar situações nas quais atinjam os
objetivos propostos e confiem mais em si mesmas e em seus pais e professores: trata-
se de combinar o êxito em pequenas coisas com o apoio em momentos de fracasso.

Sugere-se apoiar-se nas qualidades da criança estimulando-a de acordo com


suas capacidades, sem incentivar atitudes de competição com outras. Pelo contrário,
uma das motivações fundamentais da pessoa da criança é a colaboração com os

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

demais: participação em jogos e brincadeiras, trabalhos, ajuda, em um clima de


comunicação cordial.

Um primeiro e muito importante sinal de estima, de valor e de apreço que se


tem às crianças é o tempo e a atenção pessoal que se lhes dedica a cada dia. Devemos
esforçar-nos para sermos ouvintes ativos, interessados pelo que nos dizem. A criança,
mais do que saber, deve-se sentir continuamente querida. A segurança se desenvolve
em um ambiente de confiança, em que inexista o medo de ser julgado. Para que as
crianças sintam essa confiança, nossas palavras devem coincidir com os gestos e
expressões, que as crianças captam com especial rapidez. Procurar evitar os juízos
sobre a pessoa da criança: não é má, ainda que tenha feito algo mal; Não sabe fazer tal
coisa, mas ainda não sabe fazê-la, mas logo aprenderá. Para as crianças desta idade, a
confiança em seus pais e professores é essencial.

Principal influência das Ações Incidentais


Sem a pretensão de tipificar a realidade, é possível estabelecer uma relação
entre os diferentes tipos de Ações incidentais, os diversos hábitos da vida diária e as
motivações fundamentais da pessoa humana.
O quadro abaixo não deve ser interpretado de maneira rígida, como se o uso
das coisas exercesse influência somente no hábito da ordem e no sentimento de
segurança. É preciso entender as relações do quadro como relações principais, não
únicas ou exclusivas.

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

Condições do ambiente Hábitos Motivações

 Ordem
 Laboriosidade
 Esforço
 Resiliência
Comodidade material
 Limpeza e organização no Segurança
(atividades eficazes) material de uso diário

 Justiça
 Obediência
 Respeito às normas de
convivência
Comunicação cordial  Generosidade Colaboração
 Responsabilidade
 Companheirismo
 Solidariedade

 Amabilidade
 Limpeza pessoal
 Educação no
Sensação de bem-estar Autoestima
relacionamento
 Alegria
 Iniciativa

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Manual Técnico Projeto Snipe (Fundamental I)

Capítulo XII - OS PAIS DOS ALUNOS

Já se tratou anteriormente do protagonismo dos pais na educação dos filhos e


como o colégio pode e deve prestar-lhes assessoramento e estímulo para que
desempenhem com qualidade a sua tarefa de primeiro e principais educadores.

É especialmente urgente conscientizar os pais da responsabilidade como


educadores, de modo que haja cada vez menos casais que, por sentirem-se
despreparados para enfrentar essa tarefa, despreocupam-se e delegam essa função ao
colégio.

O que é verdadeiramente importante, por conseguinte, não é "integrar" os pais


ao colégio, mas ajudá-los a recuperar o protagonismo na educação dos filhos,
prestando-lhes o assessoramento de que necessitem. Não queremos dizer com isso
que dedicar tempo e esforço para impulsionar a participação dos pais na vida do
colégio careça de interesse, mas que isso deve estar em segundo plano.

A. O PRECEPTOR E OS PAIS DOS ALUNOS


Os pais escolheram e promoveram o colégio porque desejam uma boa
educação para os seus filhos, porém nem sempre sabem o que é educar, nem que esta
é sua missão primordial. Muitas vezes, será preciso explicar que o colégio prolonga a
ação educativa da família, mas não pode substituí-la.

O preceptor precisa ganhar a confiança dos pais que participarão de bom grado
das entrevistas e aceitarão conselhos, se perceberem que seu filho é querido,
conhecido, compreendido e ajudado pelo preceptor. Isso transparecerá pelo respeito e
carinho com que seu filho falará do preceptor.

As entrevistas de assessoramento familiar ocorrem no colégio. O preceptor


acaba conhecendo o ambiente familiar através das conversas com os pais e o aluno. É
melhor não aceitar convites para almoços ou jantares na casa dos alunos que atende.
Na maior parte dos casos, convém recusar, com muita delicadeza, esses convites que,
normalmente, fazem-se por cortesia, mesmo quando insistem. O preceptor pode
visitar um aluno doente, quando falta ao colégio por vários dias. Logicamente,
combinará com antecedência e pode ir acompanhado de outros alunos de classe, se
não houver perigo de contágio.

A preparação cuidadosa da entrevista é uma manifestação elementar de


profissionalismo e de respeito do preceptor com os pais. Munir-se dos dados mais

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recentes sobre o aluno e de uma pauta guia dos assuntos que devem ser tratados. O
preceptor conhece, por meio dos pais, alguns dados imprescindíveis: como é o aluno,
comportamento em casa, situações familiares que possam influenciar na sua
formação, etc. Por sua vez, dá a conhecer aos pais a atitude de seu filho no colégio,
informa sobre os objetivos educativos do momento. Essa colaboração permite esboçar
o projeto educativo, de acordo com a capacidade e situação do filho.

Desta forma, quando o preceptor conquista a confiança dos pais, pode realizar
um autêntico trabalho de assessoramento familiar, ajudando-os a conseguir em seu
lar, um clima que lhes facilite educar os filhos, a resistir às tendências gerais de
sentimentalidade e falta de sentido cristão que ocorrem na sociedade e a decidir a ir
contra essa corrente, conscientes de que é o único sistema para assegurar a felicidade
do filho.

O preceptor deve ser muito delicado, para chegar a um conhecimento


completo da família. Respeitar a intimidade e evitar os pormenores desnecessários são
atitudes essenciais ao preceptor que deve procurar ser o mais objetivo possível, evitar
as veemências e levar em conta que, normalmente, quem conhece muito bem o aluno,
com todos os antecedentes, são os seus pais. Por muito que pareça conhecê-lo muito
bem o preceptor deve ter prudência de escutar primeiro os pais antes de falar e,
abster-se de opinar quando não se tem dados seguros.

O diálogo com os pais deve ter sempre um enfoque positivo, falar sobre o que
está bem e o que pode melhorar, sempre com esperança. A conversa deve ser
presidida pela sinceridade e pela fineza, para nunca dar a impressão de que se quer
dar lições ou de que se está acima dos pais.

A entrevista deve estar preparada pelas duas partes, para que não perca
eficácia. É conveniente ver os pais por ocasião das avaliações finais, no princípio dos
períodos escolares, ou ao menos, uma vez a cada trimestre. Deve-se fazer o possível
para que participem pai e a mãe. Insistir com delicadeza para que os dois estejam
presentes.

As entrevistas ocorrerão preferencialmente em um escritório, sala de visita ou


hall em volta de uma mesa, sentados em poltronas altas. Evitam-se bancos baixos ou
"infantis". Quando se atende somente o pai, no caso de uma preceptora, ou somente a
mãe, no caso de um preceptor, deve-se atender em local aberto (no hall, por exemplo)
ou em uma sala com a porta aberta, se não for de vidro. São medidas de prudência
ditadas pela experiência.

Diante da pressão contrária do ambiente, a eficácia do trabalho dependerá, em


boa parte, da alta qualidade profissional e humana dos meios empregados: cursos de
orientação familiar, sessões informativas, ciclos de conferências, etc. O preceptor deve

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assegurar-se de que conhece bem os critérios sobre os temas éticos mais debatidos:
fidelidade no matrimônio, paternidade responsável, sentido materialista da vida,
despreocupação prática pela formação dos filhos, drogas, etc. Será bom recomendar
aos pais livros, folhetos, vídeos que interessem a sua situação e comentar o conteúdo
desses materiais em sucessivas entrevistas.

É especialmente necessário incentivar a formação doutrinal-religiosa dos pais


mais jovens que, em muitos casos, desconhecem os conteúdos mais elementares da
fé. Quando se tem a certeza de que uma família não está vivendo em casa algum
aspecto básico da formação que faz parte do currículo do colégio, é necessário
esclarecer a situação, para evitar danos ao aluno submetido à confusão de critérios
divergentes na escola e na sua casa. É o caso dos pais que não vão habitualmente à
Missa aos domingos ou que levam para casa revistas ou vídeos inconvenientes; ou que
permitem aos filhos planos, presentes ou caprichos desproporcionais; ou que não
atendem de fato aos filhos, pelas frequentes e aparentemente pouco justificadas
ausências do lar; ou aos que passam por crises familiares ou no casamento.

Nessas situações, não se pode atuar com pressa. Na maior parte dos casos os
pais vivem assim simplesmente porque não sabem viver de outra forma, pois ninguém
lhes ensinou. É preciso dar-lhes uma base mínima de formação para que possam
entender alguns valores que, talvez, não adquiriram na juventude. O preceptor precisa
ter tato, contar com tempo e com o assessoramento do coordenador ou diretor do
colégio para decidir, em cada caso, como ajudar essa família. No caso de crise
matrimonial, deve-se ser especialmente prudente, sem, de forma alguma posicionar-se
a favor de uma das partes.

É importante que o preceptor esteja presente nas sessões gerais e nos demais
meios de formação que o colégio organiza para os pais. Essas ocasiões oferecem a
oportunidade de aumentar a amizade e comentar brevemente algum ponto de
interesse. Os temas que podem ser tratados nas entrevistas com os pais são muito
variados. O preceptor não pode limitar-se a comentar as notas do aluno ainda que
aparentemente, seja esse o único assunto que preocupe os pais. Para conseguir um
conhecimento amplo da família que permita uma boa assessoria educativa, será
preciso adquirir prestígio diante dos pais: mostrar-lhes que conhece o seu filho e lhe
quer bem. Preparar-se bem para a entrevista, comentar os resultados do plano
traçado na conversa anterior, etc. Entre outros assuntos, tratar dos:

a) Objetivos combinados na entrevista anterior. Falar sobre os meios colocados para


alcançá-los e os resultados obtidos. Analisar os pontos mais destacados, desde a última
entrevista. Comentar sobre o tema de formação vigente no colégio naquele período.

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b) Resultados acadêmicos. É importante tratar esse ponto com profundidade, tanto


pelo interesse dos pais, como pela importância para a formação do aluno. Ressaltar o
interesse em ajudar o aluno a ser bom profissional, a ter espírito de serviço, sem
induzi-lo uma mentalidade competitiva que leva a atitudes não solidárias.

c) Formação humana. Comportamento em casa e no colégio. Caráter do aluno: como


ajudá-lo a desenvolver as virtudes humanas e a corrigir seus defeitos. Exemplos
práticos que permitam aos pais perceberem o que queremos dizer: não é suficiente
recomendar que ajudem o filho a ser muito reto, porque muitos ignoram o que é a
retidão e quais são as suas manifestações na vida diária: detalhes de delicadeza no
trato mútuo e de boa educação: agradecer, pedir as coisas “por favor”, não levantar a
voz, comer de tudo e evitar caprichos, forma de vestir-se e de falar.

d) Atitude educativa dos pais. Possíveis defeitos: superproteção e mimos, ou pelo


contrário, rigidez e exigência excessivas. Exemplo dos pais nos comentários e atitudes
referentes ao trabalho, às relações sociais e de amizade, à virtude da justiça, críticas e
queixas. Tempo que dedicam aos filhos: atenção particular a cada um, para conversar
desde pequenos, dando importância ao que para eles tem, ainda que, objetivamente,
pareça "coisa de criança". Dessa forma, ganharão a confiança dos filhos que
continuarão a recorrer aos pais quando, mais adiante, tiverem preocupações
"importantes".

e) Unidade com o colégio. Disposição para colocar em prática na vida familiar os


critérios básicos que presidem a atividade educativa: participar das reuniões, colaborar
nos eventos, falar, com lealdade, com o preceptor o que pode melhorar no colégio.
Confiar nos professores e reforçar a autoridade deles em casa, pelo modo sereno e
responsável como ouvem as possíveis críticas que os filhos fazem dos professores.

f) Hobbies e interesses. Uso da televisão e vídeos. Tratar com detalhe esse aspecto,
para sugerir aos pais modos que incentivem boas ocupações, em particular a leitura.
Sugerir para eles um plano de uso da televisão que seja verdadeiramente educativo.
Nesse ponto é frequente que os pais cedam com facilidade para conseguir com que os
filhos fiquem quietos. Selecionar os programas e ver televisão com os filhos. Selecionar
vídeos, revistas e publicações que entram em casa.

g) Amigos. Emprego do tempo livre. Participação nos clubes juvenis. Amizades e


ambientes que os filhos frequentam: influência em sua formação. Planos especiais de
aprendizagem de idiomas ou outra habilidade. Cultivo de hobbies, planos para o verão
ou férias: participação em acampamentos, convivências, cursos de inglês etc. Saídas
com os filhos: excursões e visitas culturais.

h) Valores morais e vida cristã. Exemplo dos pais. Ambiente de sobriedade, virtudes
humanas e obras de misericórdia em família. A prática religiosa em casa: Missa

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dominical e frequência aos sacramentos. Costumes que podem ajudar na formação


espiritual dos filhos e na piedade: abençoar os alimentos, rezar as orações da noite e o
oferecimento de obras pela manhã etc.

i) Formação dos pais. Assistência aos meios de formação que o colégio oferece.
Recomendar leituras que melhoram a função dos pais como primeiros educadores.

Da mesma forma que o preceptor deve guardar o segredo de ofício ante os pais
sobre as questões pessoais que o aluno lhe tenha confiado, deve viver igualmente esse
silêncio em relação aos assuntos da intimidade familiar que os pais relataram na
entrevista.

Nunca aceitar presente pessoal dos pais ou dos alunos que atende: deve
recusá-lo com cortesia e firmeza, fazendo-os ver que é uma norma que sempre se
viveu no colégio e que convém manter, sem exceção. Se, por acaso, receber algum
presente que não seja oportuno devolver, deixá-lo com o diretor do colégio, que
decidirá sobre o destino do presente. Se os pais desejam doar algo ao colégio, podem
colaborar com o fundo de bolsas, presentear com algum objeto de culto para o
oratório, etc.

Ainda que haja muita confiança, não se pode admitir críticas estéreis sobre o
colégio ou sobre algum professor. Se isso acontecer, o preceptor defenderá a retidão
de quem tenha sido criticado, fará os pais perceberem que talvez não tenham visto a
situação por todos os ângulos e agradecerá a informação, que levará ao conhecimento
do interessado ou da direção, para melhorar o que se deva.

B. A FORMAÇÃO PERMANENTE DOS PAIS


O colégio oferece aos pais, além das entrevistas de assessoramento familiar com o
preceptor, um programa completo de educação familiar que permite aprofundar as
diferentes facetas da personalidade dos filhos e na atuação deles como pessoas e
como pais:

 Sessões gerais;
 Aulas permanentes;
 Cursos intensivos;
 Atividades de formação pessoal;
 Entrevista com o Capelão;
 Sessões culturais e oficinas.

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Sempre que se organizam atividades, devem ser devidamente preparados os seguintes


aspectos:

 Deve haver um responsável que coordene a tarefa a realizar;


 é necessário preparar antecipadamente os materiais necessários;
 o local de trabalho deve estar em ordem.

É uma atividade que deve dar prestígio ao colégio.

As Sessões gerais
As sessões gerais são reuniões trimestrais com todos os pais de uma classe, na
qual se trabalha sobre um aspecto concreto da educação dos filhos nessa idade e
informa-os das atividades escolares e assuntos que afetem o conjunto de crianças.
É muito conveniente tomar nota das observações e sugestões dos pais sobre qualquer
tema da vida escolar.

As Aulas permanentes
São sessões periódicas (geralmente uma por mês) para pais cujos filhos
estudam uma determinada etapa educativa. A assistência contínua a esse tipo de
sessão facilita a necessária coesão família-escola e é ocasião de refletir sobre como se
está educando os filhos e o que se pode fazer para melhorar essa tarefa.
As sessões de aula permanente podem incorporar uma discussão, em que um
professor ou pai encarregado modera as intervenções dos pais assistentes, que
consultam suas dúvidas com o palestrante, manifestam suas opiniões e oferecem
sugestões sobre os temas tratados na reunião. Podem ter formatos muito distintos,
como:

 ciclo de palestras educativas, preferivelmente seguidas de discussão;


 mesa redonda sobre um tema concreto com vários especialistas.

Cursos intensivos
São programas intensivos de educação familiar, normalmente abordam um
momento evolutivo concreto. São dirigidos por professores especialistas em
Orientação Familiar e apoiados na análise de situações familiares. São muito úteis para
que os pais assistentes aprofundem a sua missão de educadores. Podem desenvolver-
se de um modo intensivo em um fim de semana ou distribuídos em 7 ou 8 semanas
seguidas.

Atividades de formação pessoal


A Capelania do colégio organiza retiros espirituais para os pais que desejem
essa formação. Os pais ou mães, se quiserem, podem manter entrevistas pessoais com
os sacerdotes do colégio.

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Sessões culturais e oficinas


A escola deve ser um foco de cultura para a família. É uma experiência muito
positiva organizar ciclos, conferências, mesas redondas, jantares, convivências para os
pais de alunos.
Em algumas escolas femininas realizam-se "oficinas de materiais". Um grupo de mães
ajuda o colégio e colabora com a equipe de professoras nas seguintes atividades:

 plastificar gravuras de contos usadas nas atividades de linguagem, na


introdução dos centros de interesse, etc.;
 preparar fantasias e adereços para festas de Natal ou fim de ano;

Os pais também encontram muitas possibilidades de colaboração com o colégio:

 decorar áreas de externas, enfeitar com plantas, etc.


 acompanhar as crianças em visitas culturais e romarias;
 facilitar visitas culturais a variados locais de trabalho, etc.
 dar alguma palestra aos alunos sobre aspectos interessantes da profissão que
exerce.

C. CASAIS ENCARREGADOS DE CLASSE (CEC)


Corresponde a todos os pais escolher uma educação congruente com seus
ideais de vida e fixar os objetivos para tais convicções. Os pais devem envolver-se
ativamente nesse direito-dever. No entanto, é oportuno que um grupo de pais assuma
esta responsabilidade, de forma estrutural, e estenda essa ação a todas as famílias do
colégio: são os CEC - casais encarregados de classe.

Sua função primordial é conseguir, por meio de um contato assíduo com as


famílias da turma, o progressivo envolvimento no processo educativo de cada filho:
fixação de objetivos, acompanhamento, dedicação de tempo familiar etc.

Nos colégios deve haver pelo menos um CEC por classe, ainda que possa haver
mais de um. Os CEC são nomeados pela Direção do colégio junto com a Associação de
Pais, para um ano letivo e podem ser reeleitos durante todos os períodos que se
considerem oportunos.

Perfil do CEC

 disponibilidade pessoal e "real": deverão dedicar uma tarde da semana. Uma


para o colégio, as outras, para tratar as famílias.

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 ter certa experiência no colégio e ter demonstrado atitude eficaz e positiva na


colaboração família-colégio (interesse pela preceptoria, preocupação pelas
atividades do colégio, assistência às sessões informativas...)
 ser bom comunicador: saber dialogar, ser cordial, otimista...
 ter certa autoridade moral sobre as famílias;
 não ter, se possível, filhos problemáticos;
 ter iniciativa para conhecer e tratar as outras famílias;
 assumir a missão e se comprometer a desenvolvê-la;
 conhecer e ser conhecido por todas as famílias da sua turma;
 ter alto nível de sociabilidade e gostar da relação social;
 ter ambos os cônjuges possibilidade de participar;
 manter entrevistas periódicas com o PEC.

Função dos CEC

 adquirir máxima capacitação possível, que o colégio lhe proporcionará;


 realizar entrevistas periódicas com as famílias que lhes sejam designadas;
 dispor de algum sistema de controle para as entrevistas com os casais
designados;
 impulsionar a realização das entrevistas de assessoramento educativo com o
preceptor;
 programar atividades com as famílias, dentro e fora do colégio;
 manter reuniões periódicas com a Direção do colégio e os representantes da
Associação de Pais.
 resguardar, sempre, o segredo natural no exercício do seu encargo;
 atender prioritariamente os pais novos e dando informação e orientação;
 transmitir à Direção do colégio as queixas e insatisfações das famílias e
colaborara na melhor forma de resolvê-los.

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Capítulo XIII - ORGANIZAÇÃO DE ESPAÇOS E TEMPOS

A. ORGANIZAÇÃO MATERIAL DA AULA


Para que os alunos dessa etapa possam desenvolver ao máximo todas as suas
capacidades, é necessário encontrar, no colégio, um ambiente rico em estímulos e
afeto. A organização dos materiais é parte integrante desse ambiente educativo de
que a criança necessita. Uma classe bem organizada deve ser um mundo cheio de
estímulos, as paredes cheias de vida.

Todo o material de aula estará ao alcance das crianças em um local previsto e


conhecido.

Um mural ou uma cortiça onde se exponham os trabalhos dos alunos não deve
faltar na sala de aula.

Para evitar que as classes fiquem saturadas de material - só deve estar o que as
crianças vão usar pela temporada - interessa dispor um local pequeno ou um armário
grande que cumpra a função de armazém de recursos materiais. A ordem e a
catalogação desse material facilita o uso frequente e eficaz.

Convém que a equipe educativa estabeleça turnos e horários de utilização (por


exemplo, um ou dois dias por semana) para o material de uso compartilhado. Assim, se
faz possível aproveitar ao máximo os recursos disponíveis.

Os professores devem zelar pela adequada conservação dos materiais didáticos


e que os defeitos se reparem com prontidão.

A equipe educativa proporá, quando necessário, a aquisição ou atualização do


material pedagógico.

B. ORGANIZAÇÃO DO TEMPO. HORÁRIOS


No horário, estarão previstas todas as atividades que se realizarão e o tempo
que se empregará para executá-las. As atividades devem ser variadas e de curta
duração, o que evitará aborrecimento e facilitará os pequenos esforços de atenção.
Progressivamente, as atividades exigirão um maior tempo de atenção continuada.

Ao elaborar o horário, convém levar em conta:

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 As dificuldades: as limitações espaciais, a ocupação das salas multiuso ou do


ginásio, o descanso de outros alunos, a disponibilidade dos professores;
 As vantagens e os recursos com os quais se conta: possibilidades de acesso a
outras dependências, localização de laboratórios, possibilidade de cultivar uma
pequena horta etc.;
 A alternância de atividades de que necessitam as crianças dessa idade:
 tempo entre as atividades de classe e trabalho pessoal;
 entre os momentos de exploração e os de assimilação de
informações;
 entre as atividades de grupo coloquial, individuais e as de
colaboração em pequenos grupos;
 entre as atividades que necessitam atenção e as que exigem
ação.

O estabelecimento de rotinas diárias contribui para estruturar a atividade da


criança e facilita-lhe a interiorização dos marcos de referência temporal. Uma clara
sucessão de atividades ajuda o aluno a construir sua ordem interior. Um dos hábitos
básicos que se deve reforçar nesta etapa é a ordem.

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Capítulo XIV - AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

A. AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO


A avaliação dos processos de ensino está estreitamente vinculada ao processo
de aprendizagem dos alunos. Trata-se agora de constar quais aspectos da intervenção
educativa tem favorecido a aprendizagem e quais poderiam incorporar mudanças ou
melhorias.

Desse modo, as intervenções educativas melhorarão e se adequarão às


necessidades dos alunos, às atuações individuais e da equipe educativa, bem como se
unirá a reflexão à ação educadora, o que resultará maior aperfeiçoamento profissional.

A equipe de professores avaliará:

 A distribuição das unidades didáticas (objetivos, atividades de motivação,


ensino/aprendizagem e de avaliação, seleção de materiais didáticos) e sua
distribuição ao longo do ano letivo (programação/planejamento).
 As atividades de ensino-aprendizagem
o são adequadas aos objetivos propostos? Estão adaptadas à realidade e
interesses dos alunos? Há um progresso razoável nos conteúdos? É
possível trabalhar de modo globalizado? Levam em conta as diferenças
individuais? Promovem a aquisição de habilidades do pensamento e de
hábitos de conduta?
 Os recursos
o Pessoais: Como tem se orientado e desenvolvido as atividades? Como
tem sido a coordenação entre os professores de cada turma e cada
ano? Como tem sido a relação com as famílias: regularidade das
entrevistas pessoais com os preceptores, assistência às reuniões
organizadas pelos pais. Participação dos pais nas atividades de
aprendizagem sugeridas para desenvolver em família. Qualidade dessa
relação. Relação dos alunos entre si e com os professores.
 Materiais
o material utilizado
o adequação das atividades previstas
o necessidade de novos materiais
 Espaços
o funcionalidade e motivação do ambiente na sala de aula
o adequação do espaço externo às atividades previstas

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o organização material da sala de aula (mobiliário, decoração, iluminação,


ventilação etc.)
 Tempos
o a duração programada da unidade didática tem sido correta?
o há tempo suficiente para a realização da atividade prevista?
o há tempo para atividades espontâneas e individuais?
o sugestões sobre modificações no horário
 A eficácia dos métodos de ensino utilizados
 Os resultados das medidas adotadas para a atenção à diversidade de
aprendizagem nos Objetivos Fundamentais e Individuais

O principal procedimento para essa avaliação é a reflexão da equipe educativa,


(que se reunirá com uma periodicidade pelo menos mensal, com uma pauta
estabelecida previamente), troca de experiências, a análise dos progressos realizados
pelos alunos etc.

B. AVALIAÇÃO DO PROJETO CURRICULAR


Ao final de cada ano letivo, nas jornadas de avaliação, a equipe de professores
avaliará o Projeto Curricular vigente e elaborará as propostas de modificações que
serão encaminhadas para a equipe de Direção, visando a elaboração do Plano escolar
do próximo ano. Interessa contar também, com a opinião dos pais dos alunos, por
meio dos canais de colaboração estabelecidos no colégio. Também serão levadas em
conta indicações e sugestões emanadas a partir da assessoria de Solar Colégios.

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