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PactoNacionalpela

AlfabetizaçãonaIdadeCerta

ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS DE 6 A 8 ANOS


Relatos de experiência docente
Everaldo Silveira Jilvania Lima dos Santos Bazzo
Lilane Maria de Moura Chagas Maria Aparecida Lapa de Aguiar
Rosângela Pedralli (Organizadores)
VOLUME I
ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS DE 6 A 8 ANOS
Relatos de experiência docente
VOLUME I
Everaldo Silveira Jilvania Lima dos Santos Bazzo
Lilane Maria de Moura Chagas Maria Aparecida Lapa de Aguiar
Rosângela Pedralli (Organizadores)

ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS DE 6 A 8 ANOS


Relatos de experiência docente
VOLUME I

PactoNacionalpela
AlfabetizaçãonaIdadeCerta

UNIVERSIDADE FEDERAL
DE SANTA CATARINA
LEO
ÚC
DE
N

NUP
ES

PU

BL
Õ

ICAÇ

UFSC-CED-NUP

Florianópolis, 2016
UNIVERSIDADE FEDERAL
PactoNacionalpela DE SANTA CATARINA
AlfabetizaçãonaIdadeCerta
REITORA
COORDENADORA
Roselane Neckel
COORDENADORA GERAL Nelita Bortolotto
Nilcéa Lemos Pelandré VICE-REITORA
VICE-COORDENADORA Lúcia Helena Pacheco
COORDENADORA PEDAGÓGICA Nilcéa Lemos Pelandré
Vânia Terezinha Silva da Luz CENTRO DE CIÊNCIAS DA
EDUCAÇÃO – CED
Comissão Editorial
Everaldo Silveira – MEN/CED/UFSC DIRETOR
Jilvania Lima dos Santos Bazzo – FAED/UDESC Nestor Manoel Habkost
Lilane Maria de Moura Chagas – MEN/CED/UFSC
Maria Aparecida Lapa de Aguiar – EED/CED/UFSC VICE-DIRETOR
Rosângela Pedralli – LLV/CCE/UFSC Juares da Silva Thiesen

Produção Editorial
Ilustração da Capa ÚC
LEO

DE
N
“Pipas” de Usha Roig, 2012 NUP

ES

PU
BL

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ICAÇ

Ilustração da Folha de Rosto


“Pipas” de Usha Roig, 2012 (detalhe) Núcleo de Publicações do Centro de
Ciências da Educação – UFSC-CED-NUP
Projeto Gráfico, diagramação e arte-finalização
Carlos Righi Conselho Editorial
Caren Cristina Brichi – SED/SC
Revisão Carla Peres Souza – UDESC
Amanda Machado Chraim Clara Iracema Bewiahn – SME/Araquari-SC
Maíra de Sousa Emerick de Maria Everaldo Silveira – UFSC
Giedre Terezinha Ragnini Sá – SME/Lages-SC
Jilvania Lima dos Santos Bazzo – UDESC
Jussara Brigo – UDESC
Lilane Maria de Moura Chagas – UFSC
Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária Maira Gledi Freitas Kelling Machado – UDESC
Maria Aparecida Lapa de Aguiar – UFSC
da Universidade Federal de Santa Catarina Rosângela Pedralli – UFSC
Selma Felisbino Hillesheim – SED/SC
A385 Alfabetização de crianças de 6 a 8 anos :
relatos de experiência docente : volume I /
Organizadores, Everaldo Silveira...[et
al.]. – Florianópolis : UFSC/CED/NUP, 2016.
98 p.; il.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-87103-99-4
ISBN 978-85-87103-98-7 (Coleção)

Pacto Nacional pela Alfabetização na


Idade Certa.

1. Educação de crianças. 2. Letramento -


Educação . I. Silveira, Everaldo.

CDU: 37
Às crianças, que...
“A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas.
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.”

Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa.


In: "O Guardador de Rebanhos”
SUMÁRIO

Apresentação da versão digital 08


Apresentação 10

1. Seção I
Leitura e produção textual no ciclo de alfabetização
1.1 Leitura deleite como atividade permanente 13
Andréa da S. Arruda Napoleão, Maria Aparecida Rech Monteiro & Jilvania L. dos S. Bazzo

1.2 Explorando literaturas nas vivências do cotidiano 17


Denize Ferrari, Lisete Hanh Kaufmann & Maira Gledi Freitas Kelling Machado

1.3 Pelos caminhos da literatura: aprendendo o que, como e para que dizer 21
Gésse Andrion Valente & Maria Rosicléa da Silva Guarezzi

1.4 Aprender a escrever: lendo, brincando e refletindo sobre a


língua portuguesa 26
Marlise Schuck Klunk, Teresinha Staub & Maira Gledi Freitas Kelling Machado

1.5 Viajando pelas cartas 29


Helena Vogt & Lisete Hahn Kaufmann

1.6 Produção textual no ciclo de alfabetização: dos contos de fada


à reflexão sobre a língua portuguesa 35
Jovana Agne da Silveira, Karin Rosskamp & Jilvania Lima dos Santos Bazzo

1.7 Ludicidade e letramento: o projeto brincar para aprender 39


Marcio Alexandre Siqueira & Eliana Krieser Wollinger

1.8 Projeto “colcha de retalhos”: integrando escola e família


nas ações de ensino 44
Denise Friedrich, Elaine Müller & Maira Gledi Freitas Kelling Machado

1.9 Projeto “oficina de jogos”: participação ativa dos familiares no


processo de apropriação da leitura e da escrita das crianças 47
Marcio Alexandre Siqueira & Andreia Marise Marques Eger

1.10 De onde vem o que comemos? 52


Vanessa Melo, Débora Medeiros Barroso, Flávia Eberhardt & Carla Peres Souza

1.11 Qual é a cor do amor? 57


Rozeli Honse Bortolanza, Salete Brambila Cibulski, Maira Gledi Freitas Kelling Machado

1.12 A valorização da leitura: ultrapassando os muros da escola 60


Cristiane Aparecida Pereira, Regina Maria da Silva Delduque
1.13 Literatura dos clássicos e sistema de escrita alfabética:
uma experiência de alfabetizar na perspectiva do letramento 63
Jenny Isabel Diel Bertoldi, Morgana Patrícia Rozza Tasca, Roselete Fagundes de Aviz

1.14 Mundo ao alcance de todos? Possibilidades de letramento na esfera


escolar a partir de contos universais 68
Marcio Alexandre Siqueira, Feliciana P. Cardoso

1.15 Leitura e arte no ciclo de alfabetização: brincando e aprendendo com a


aproximação dos componentes curriculares Língua Portuguesa e Artes 73
Nilcéia Farias Rocha, Ana Dirce De Vila, Ana Cicilia Demétrio

1.16 Trabalhando o gênero receita: possibilidades para a alfabetização 76


Angelita Bada Ronconi, Nadir Bada Tramontin, Ana Cicilia Demétrio

1.17 Apropriação e desenvolvimento por meio do trabalho


com cantigas populares 81
Iloni Frey Manfrói, Marli Nicodem Immig, Lisete Hahn Kaufmann

1.18 Aprendendo com receitas: que delícia! 84


Iloni Frey Manfrói, Marli Nicodem Immig, Lisete Hahn Kaufmann

1.19 O trabalho com reciclagem no espaço escolar: refletindo sobre o futuro 89


Janaita Dalmoro, Juçara E. Stefanes, Rosângela B. de S. da Silveira

1.20 Projeto Reciclagem: resgatando brinquedos e brincadeiras 95


Sheila Beppler dos Santos, Fernanda Coelho dos Santos
Apresentação da versão digital

Esta coletânea, composta por cinco volumes, nasce de um desejo – gestado


no plano da coordenação e dos encontros de formação ocorridos por ocasião
do PNAIC/UFSC – de publicizar as ações didático-pedagógicas levadas a
termo por alfabetizadores de diferentes regiões de Santa Catarina. Tal coletâ-
nea materializa, portanto, esse desejo com dupla finalidade: (i) dar visibilida-
de aos importantes trabalhos desenvolvidos por esses profissionais e (ii) soci-
alizar trabalhos educativos que carregaram consigo avanços em relação ao
que tem se feito historicamente em processos de alfabetização via escolariza-
ção formal, a fim de que possam contribuir tanto como inspiração para o deli-
neamento de ações didático-pedagógicas outras quanto como ponto de parti-
da para discussões em cursos de formação inicial e continuada.
Os mencionados cinco volumes têm convergências e especificidades na sua
organização. Esses volumes convergem, em linhas gerais, quanto à apresenta-
ção de relatos de experiências produzidos em coautoria por alfabetizadores,
orientadores de ensino, formadores e, em alguns casos, supervisores, os quais
derivaram de planejamento por projetos ou sequências didáticas, tal qual defi-
nido no material-base da formação do PNAIC. Marca a especificidade dos
volumes o critério para aproximação dos relatos que figuram em cada qual
deles: nos primeiros dois cadernos, a opção de organização foi por concentrar
trabalhos que privilegiavam Leitura e Produção textual no primeiro deles e
trabalhos que se debruçavam sobre a Educação Matemática no segundo; já
nos três últimos cadernos, buscou-se articulação mais explícita com os docu-
mentos oficiais de ensino (DCNs, 2013; PCSC, 2014; BNCC, 2016),
aproximando os relatos ali apresentados nas áreas do conhecimento –
Linguagens, Ciências Humanas e Ciências Naturais e Matemática.
A decisão pela publicização digital deste material não descura da ciência
de que, como parte de um processo formativo que é, ele apresenta avanços,
mas também fragilidades, ambos de natureza filosófico-epistemológica e teóri-
co-metodológica. Tal ciência, no entanto, a nosso ver, não anula as suas con-

8
tribuições para o campo da alfabetização, na medida em que são bastante
escassos exemplos de ações didático-pedagógicas convergentes com a con-
cepção de alfabetização assumida no/pelo Pacto, que se quer na perspec-
tiva do letramento. Isso porque, por algum tempo, estudiosos do funda-
mento teórico que sustenta tal concepção (os Estudos do Letramento)
mostraram-se reticentes quanto à apresentação de encaminhamentos meto-
dológicos precisos, incluindo exemplos, se não por outras razões, pelo
zelo em não produzir modelos que pudessem ser replicados, o que contra-
poria a defendida necessidade de considerar os usos situados da escrita.
A replicação modelizada das ações levadas a efeito em classes de alfa-
betização e convertidas nos relatos registrados nestas páginas certamente
não foi o motor de nosso desejo de publicação na forma impressa e na for-
ma digital desta coletânea, ainda que eventualmente isso possa ocorrer.
Se assim o for, contamos com compreensão aguda de Vigotski (1968)1
acerca do processo de desenvolvimento humano pela apropriação, que ten-
de a demandar inicialmente um movimento de imitação para passar então
a um movimento autônomo em relação ao objeto do conhecimento. Por
outro lado, se a nossa compreensão acerca das contribuições deste materi-
al se confirmar, ele servirá como desencadeador, a ser ressignificado,
expandido, realinhado, discutido, problematizado, em favor do que é a ati-
vidade-fim do processo formativo, que teve como embrião o PNAIC e no
qual todos e cada um de nós nos engajamos: a apropriação do Sistema de
Escrita Alfabética nos/para os usos sociais da escrita por todas as crian-
ças, tomando como ponto de partida do trabalho educativo práticas socia-
is e, no bojo delas, os diferentes componentes curriculares das áreas do
conhecimento em relação interdisciplinar, sem, contudo, secundarizar suas
especificidades.
Organizadores da coleção

1
Registra-se a compreensão de que a Teoria Histórico-Cultural de Vigotski, ainda que apresente
alguns compartilhamentos – concepção de sujeito e de língua, grosso modo – com os Estudos do
Letramento, tem por fundamento outra corrente filosófico-epistemológica. Eximimo-nos de apre-
sentar tais distinções, em razão de seu afastamento dos propósitos de um texto de apresentação.

9
Apresentação

A concepção da alfabetização na perspectiva do letramento apresenta-se


aos educadores como um grande desafio. Configura-se pela necessidade de
reflexão contínua, articulando a todo o tempo teoria e prática no planejamen-
to de ações didático-pedagógicas, as quais partem, inevitavelmente, da práti-
ca social.
Nessa perspectiva, trabalhar interdisciplinarmente deixa de ser uma opção
e passa a ser uma condição. Além disso, o trabalho interdisciplinar não pode
ser entendido como uma mera aproximação dos componentes curriculares
derivada de uma temática comum.
O conceito de interdisciplinaridade no contexto do letramento, portanto,
está envolto em uma maior complexidade: na alfabetização que assume como
ponto de partida a prática social, o que une diferentes componentes curricu-
lares é justamente a própria prática social, uma vez que, nela, os objetos da
cultura que se dão a conhecer articulam sempre diferentes campos do conhe-
cimento. Essa articulação, por sua vez, não pode ser ignorada pelos educado-
res, sob pena de se negligenciar o que move a ação desses profissionais, que é
o ato de levar sujeitos que não conhecem a conhecer, e de contribuir para que
esses sujeitos se apropriem de conhecimentos – a exemplo da língua escrita –
que são fundamentais para o seu desenvolvimento e para a sua inserção soci-
al efetiva. Nesse contexto, a pergunta que passa a mover o planejamento dos
educadores, então, não é “o que mais é possível trabalhar?”, mas sim “o que
mais é necessário trabalhar?”, isso porque o que fundamenta sua ação como
profissionais da educação é a contribuição objetiva e deliberada para a for-
mação de sujeitos heterogêneos na origem.
Parece inegável que alinhar-se à alfabetização na perspectiva do letramento
e, com ela, à interdisciplinaridade, não significa desconsiderar as especifici-
dades dos componentes curriculares ou, como quer Vigotski (2007 [1978],
p. 104), “Cada assunto tratado na escola tem a sua própria relação específi-
ca com o curso do desenvolvimento da criança [...]”.
10
Assim concebendo, os dois conjuntos de relatos em tela foram organizados
tendo como crivo a ênfase dos trabalhos em determinadas áreas. No primeiro
caderno, os autores enfatizam os componentes da área de Linguagens, espe-
cialmente de Língua Portuguesa. Já no segundo caderno de relatos, o foco se
volta aos componentes associados às áreas das Ciências da Natureza e da
Matemática, sobremaneira ao componente curricular Matemática.
Ainda, importa registrar que, adotar como critério a organização dos
cadernos de relato com base na ênfase em áreas de conhecimento não signifi-
ca ignorar que, em alguma medida, os trabalhos contemplam componentes
de outras áreas. O risco dessa aproximação é válido por favorecer duas possi-
bilidades de leitura, quais sejam: a de consultas pontuais ou a leitura linear
dos volumes, o que torna profícua essa forma de organização.
Outro aspecto que cabe frisar é o de que todos os relatos apresentados nes-
tes dois cadernos foram orientados metodologicamente, em convergência com
o definido pelo material norteador do PNAIC, por projetos e/ou por sequên-
cias didáticas. Esse comportamento evidencia um avanço em direção a pro-
cessos de ensino mais consequentes e comprometidos com sujeitos reais,
vivos, corpóreos.
Desta forma, são apresentados neste volume relatos fundamentados meto-
dologicamente em um desses dois encaminhamentos e debruçados mais forte-
mente no trabalho com a área de Linguagens, com ênfase no trabalho com lei-
tura e produção textual, dois grandes eixos do processo de alfabetização.
Por fim, a apresentação do critério de aproximação desses trabalhos exime
a necessidade de se realizar categorizações entre eles, de modo que o leitor
encontrará aqui trabalhos pospostos a partir deste único fio condutor: ações
de ensino ocupadas em facultar a apropriação do Sistema de Escrita
Alfabética nos/para os usos sociais da escrita por crianças nos Anos Iniciais
do Ensino Fundamental, processos levados a termo por profissionais com
diferentes perfis – alfabetizadores, orientadores de estudo e formadores –
integrantes do PNAIC/SC.

11
Seção I
Leitura e produção textual no ciclo de alfabetização

A criança não precisa seguir escrevendo até a exaustão,


mas até agora uma gravura espera aqui pela sua
assinatura, uma história espera ali pelas palavras que lhe
faltam, mais além uma gaiola pelo pássaro a ser desenhado
em seu interior, ou, em outro lugar, cachorro, burro e galo
esperam pelo seu au-au, i-ó, i-ó e cocoricó.

Walter Benjamin

12
LEITURA DELEITE COMO ATIVIDADE PERMANENTE
Andréa da Silva Arruda Napoleão1
Maria Aparecida Rech Monteiro2
Jilvania Lima dos Santos Bazzo3

Neste relato de experiência socializare- as convidamos a manusear livremente os tinha menos autonomia, curiosidade e
mos algumas vivências de leitura das diferentes livros disponíveis. imaginação para inventar histórias a
crianças do primeiro ano, turno matuti- À medida que os alunos mais ativos partir da leitura pictórica e de algumas
no, do Ensino Fundamental do Centro escolhiam uma obra para ser lida, dois ou palavras.
Educacional Municipal Professora três alunos iam se aproximavam e ali se
Maria Iracema Martins de Andrade, do constituía um pequeno grupo. Obser-
Município de São José – Santa Catarina. vamos que os mais experientes liam para
A turma é composta por 19 crianças. os demais colegas, enquanto outros prefe-
Como atividade permanente, a leitura riam a leitura individual, sem estabelecer
precisa fazer parte do cotidiano do qualquer relação com a professora ou
processo de alfabetização numa aborda- com os colegas.
gem lúdica, com contextos significativos
para os estudantes, priorizando sempre o
protagonismo e a autoria dos infantes. Figura 3 - Crianças lendo e lendo
Fonte: acervo pessoal da professora
Ao serem aprofundados os conheci-
mentos sobre o currículo, o planejamento
e a perspectiva teórica trazidos nos
Cadernos de Formação do PNAIC –
Plano Nacional pela Alfabetização na
Idade Certa (BRASIL, 2013a; 2013c;
2013c), os tempos e os espaços para a Figura 1 - Alunos lendo sozinhos
Fonte: acervo pessoal da professora
aprendizagem da leitura e da escrita das
crianças precisaram sofrer algumas alte-
rações em sala de aula e além dela. Entre
essas mudanças, com o objetivo de garan-
tir acesso e aprimoramento do gosto pela
Figura 4 - O que você está lendo?
leitura, foi criado um “Cantinho da Fonte: acervo pessoal da professora
Leitura”.
Inicialmente, apresentamos o espaço 1
Professora Alfabetizadora. Professora efetiva das
para as crianças e realizamos uma conver- redes municipal e estadual de São José/ SC, atuando
na alfabetização há 17 anos. Habilitada em Pedagogia
sa sobre os livros, sobre os momentos (Educação Infantil, Séries iniciais e Educação
Figura 2 - Crianças lendo para crianças Especial), e especialista em Práticas Pedagógicas
destinados à leitura e às brincadeiras e Interdisciplinares.
Fonte: acervo pessoal da professora 2

interações que aconteceriam ao longo do Professora Orientadora de Estudo. Pedagoga habilita-


da em Educação Infantil e Séries iniciais do Ensino
ano. Durante o diálogo, as crianças se Fundamental, especialista em “Práxis Pedagógica
Interdisciplinar sobre o Meio Ambiente”. Professora
mostraram bastantes curiosas em relação Durante esse processo, pudemos anali- efetiva da SME/São José/SC, atuando na função de
coordenadora pedagógica e orientadora de estudo do
ao acervo, sua origem e seu destino final. sar atentamente as atitudes das crianças, PNAIC/SC.
3
Formadora da área de Linguagem. Doutora em
Após sanar as dúvidas e aguçar ainda seus hábitos e preferências de leitura. Educação (UFBA). Professora da
Udesc/Faed/Departamento de Pedagogia. Formadora
mais o espírito curioso das crianças, nós Identificamos quem tinha mais e quem do PNAIC, área da linguagem, em 2013 e 2014.

13
Também foi possível registrar algumas realização da leitura em voz alta das sobretudo porque criamos as condições
ideias para planejar atividades diversifi- crianças. necessárias para o desenvolvimento dos
cadas de reflexão sobre o sistema de escri- educandos. Como eles aprendem a partir
ta alfabético e, de um modo geral, sobre de formas mais elaboradas da linguagem
os eixos da língua portuguesa (oralidade, oral, assim será seu aprendizado nas
leitura, produção escrita, análise linguís- demais formas de manifestação da
tica), assim como anotar os nomes dos linguagem: escrita, plástica, cinematográ-
livros escolhidos e se foram realizadas fica, musical etc.
leituras individuais ou em grupo. Essas Como lembra Vygotsky, a criança
informações foram preciosas para o inicia e realiza seu aprendizado da
desenvolvimento da aula e das sequências linguagem oral ao conviver com as formas
didáticas posteriores. Figura 6 - Roda da leitura mais elaboradas da linguagem oral, parti-
Outra experiência merece destaque: a Fonte: acervo pessoal da professora cipando no meio social em que está inseri-
realização de uma roda de conversa sobre
o livro que o grupo escolheria para ser
lido pela professora. Surgiram muitas
opções de leitura, tendo sido decidido o
título por meio de uma votação.
Interessante que, durante esse processo,
as crianças individualmente tinham que
apresentar os livros por elas escolhidos e
justificar suas sugestões. Mais interessan-
te ainda era perceber a desenvoltura das
crianças para defender suas opções.
Depois de muita negociação, o grupo
elegeu o Livro “1,2,3 Era uma vez...”, de
Ingrid Biesemeyer.

Figura 7 - Professora lendo para as crianças


Fonte: acervo pessoal da professora

Sempre alternávamos a realização da. Nunca imaginamos separar a criança


dessa atividade permanente: rodas de que se inicia nas formas primitivas da
conversa; leitura em voz alta com ou sem a linguagem oral do convívio dos falantes
Figura 5 – Foto da capa do livro utilizado participação das crianças; leitura de livros mais desenvolvidos. Segundo Vygotsky, é
Fonte: acervo pessoal da professora
escolhidos por elas – para serem lidos por essa referência da linguagem oral mais
Desta forma, lemos o livro estimulando elas ou pela professora, entre outras desenvolvida que permite que a criança se
a interpretação textual e oportunizando ações. Uma das situações mais aprecia- aproprie ao máximo da linguagem oral de
que as crianças falassem sobre o que das pelas crianças foi quando uma delas sua coletividade. Creio que podemos, a
compreenderam. Finalizamos essa ativi- lia na roda e brincava de ser a professora. partir desses dois estímulos [...], refletir:
dade com o manuseio da obra e com a É muito interessante esse movimento,

14
“Por que não fazemos isso em rela- que a leitura de “ler por ler” estava “ensi- “Tem gente que também quer lê sozi-
ção a outras linguagens? Por que nando” as crianças? O que elas aprendi- nho.” (Arthur, 7 anos)
não apresentamos as formas mais am enquanto liam sem um objetivo de “Todo mundo quer aprender a ler.”
elaboradas de desenho à criança ensino explícito? (Hugo, 6 anos)
que está começando a desenhar? Para nos ajudar a compreender esse
Por que não apresentamos as processo, entrevistamos os educandos 4. O que é leitura deleite?
formas mais elaboradas da escultu- com a finalidade de saber o que pensa- “É escutar histórias.” (Cristiano,7
ra à criança que começa a manusear vam sobre o assunto e, ao mesmo, visando anos)
a argila ou a massa de modelar? E fortalecer ainda mais nossa prática peda- “É aprender a ler outras histórias e
da pintura, da dança, etc.? gógica. Fizemos as quatro questões a livros.” (Arthur, 7 anos)
Conhecer o mais elaborado como seguir relatadas e obtivemos os respecti- “É também ir ao cantinho da leitu-
forma de expressão dos outros, vos resultados: ra e também ler gibi.” (Victor, 7
como um alerta para novas inven- 1. O que vocês mais gostam no momento anos)
ções. Desse ponto de vista, a expe- da leitura?
riência do outro é referência de “Nós gostamos muito de ouvir histó- Destacamos que, na primeira pergunta,
como o outro reinventa as práticas e rias, as histórias são legais.” (Vic- o que mais nos chamou a atenção foi a
de como, também nós, podemos tor, 7 anos) consciência das crianças em relação aos
reinventar nossas práticas todos os “É legal ver os desenhos.” (Lucas, benefícios da leitura (“A gente sabe mais
dias.” (MELLO, 2014, p. 3-4). 6 anos) das coisas e fica inteligente”) e à sua
“É bom ver os desenhos, mas dimensão lúdica (“Nós gostamos muito
também as letras.” (Alice, 7 anos) de ouvir histórias, as histórias são lega-
“Quando a professora lê pra gente, is”). A segunda questão nos revelou a
nós aprendemos as letras e os núme- importância de continuarmos frequentan-
ros.” (Vinícius, 7 anos) do a biblioteca e planejando ações em
“A gente também sabe mais das conjunto com os demais profissionais
coisas e fica inteligente.” (Cauã, 6 para promover ainda mais atividades em
anos) parceiras (“Eu gosto dos livros da biblio-
“Nós gostamos de ouvir histórias teca”).
Figura 8 - Crianças lendo na roda pra crescer e estudar muito.” (May- Já a terceira pergunta nos emocionou
Fonte: acervo pessoal da professora con, 6 anos) por perceber a clareza das crianças em
relação à necessidade do protagonismo
2. Qual leitura vocês preferem? no processo de aprendizagem da leitura
“Nós gostamos das histórias do (“Tem gente que também quer lê sozi-
Mundinho Azul.” (Marco Antônio, nho”; “Todo mundo quer aprender a
6 anos) ler”). Finalmente, a última questão não
“Eu gosto dos livros da biblioteca.” deixa dúvidas, as crianças compreende-
(William, 6 anos) ram que a leitura deleite é aquela que
promove o gosto de ler, que provoca senti-
3. Preferem a leitura realizada pela mentos, emoções e desejos – seja a leitura
professora ou por vocês? Por quê? feita pelos ouvidos, pelas mãos, pelos
Figura 9 - O que você “lê”?
Fonte: acervo pessoal da professora “Nós gostamos das duas coisas, olhos ou pela boca (BAZZO;
Embora com essa concepção, tínhamos quando a professora conta a história CHAGAS, 2014). Elas também sabem
dúvidas se era produtiva a leitura de livre e quando a gente lê sozinho no que a leitura provoca um estado de frui-
escolha pelas crianças e se elas compreen- cantinho da leitura.” (Nayara, 6 ção, de trabalho intelectual e não precisa
diam o sentido da leitura deleite. Será anos) atender a uma utilidade imediata e racio-
15
nalmente justificável (“É também ir ao modo prazeroso, lúdico e que, embora
cantinho da leitura e também ler gibi”). não explicitado, há sim intencionalidade
Face ao exposto, destacamos que o obje- pedagógica bem definida e com intera-
tivo desta atividade permanente é, sem ções positivas tanto para as crianças quan-
dúvida, proporcionar momentos de to para nós, as professoras.
alegria, de reflexão e de exercícios que
incentivem as crianças a se tornarem seres
humanos mais sensíveis, mais criativos e REFERÊNCIAS
mais livres, informando e formando leito- BAZZO, Jilvania Lima dos Santos; CHAGAS,
res. Lilane Maria Moura. Leitura de fruição no
Programa Nacional de Alfabetização na Idade
Com a leitura deleite, as crianças apren- Certa no Estado de Santa Catarina. In: Revista
dem a compreender os diferentes textos Linha Mestra, Campinas, SP, ano 8, n. 24, p.
144-162, jan./jul. 2014.
do universo literário, nos múltiplos senti-
BRASIL. Ministério de Educação. Secretaria de
dos que o leitor pode produzir durante a Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão
leitura, e assim desenvolver as habilidades Educacional. Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa. Currículo na
e as competências leitoras necessárias: alfabetização: concepções e princípios. Ano 01.
Unidade 01. Brasília: MEC, SEB, 2013a.
saber escutar; saber apreciar os diferentes
BRASIL. Ministério de Educação. Secretaria de
tipos de textos; saber defender uma ideia Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão
ou saber apresentar (contra) argumentos; Educacional. Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa. Planejamento
saber produzir sentidos; saber perceber os escolar: alfabetização e ensino da língua
efeitos de sentidos de um texto; saber portuguesa. Ano 01. Unidade 02. Brasília:
MEC, SEB, 2013b.
participar das interações e dialogias no
BRASIL. Ministério de Educação. Secretaria de
espaço da sala de aula ou fora dela; saber Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão
argumentar e respeitar os turnos de fala; Educacional. Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa. Ludicidade na
saber produzir gestos leitores; saber reali- sala de aula. Ano 01. Unidade 04. Brasília:
zar suas próprias leituras etc. MEC, SEB, 2013c.
MELLO, Suely Amaral. As linguagens, as
Concluímos, então, que foi gratificante armadilhas e a utopia. Disponível em:
perceber as respostas das crianças diante <http://alb.com.br/arquivo-
morto/edicoes_anteriores/anais16/prog_pdf/pro
dos questionamentos referentes ao g13_03.pdf>. Acesso em: 15 out. 2014.
momento da leitura deleite, já que muitas
vezes planejamos e desenvolvemos nossas
atividades e não oportunizamos a fala e a
escuta atenta das crianças e de suas
percepções. Assim, com esta atividade
permanente, ao ouvir o que as crianças
pensam sobre esse tempo e espaço desti-
nados à leitura, fica claro que elas sabem
o valor da leitura e também que nosso
trabalho está auxiliando na formação de
leitores autônomos e inventivos.
Com as respostas das crianças, com as
reflexões decorrentes dessa interação e
com as leituras complementares acerca da
questão, concluímos que a leitura ocupa
papel na vida diária dos estudantes de
16
EXPLORANDO LITERATURAS NAS VIVÊNCIAS DO
COTIDIANO
Denize Ferrari1
Lisete Hanh Kaufmann2
Maira Gledi Freitas Kelling Machado3

Este trabalho foi desenvolvido com calor! Profe, está muito frio aqui, faz isso Alguém já conhecia? Sabe por que/ para
crianças do primeiro ano do Ensino funcionar. que usamos? Onde encontramos esse
Fundamental, matutino e vespertino, da Nesse cenário, portanto, surgiu a ideia tipo de texto? Quando utilizamos? Vocês
Escola de Educação Básica Padre de escrever uma carta pedindo soluções já receberam algum destes? Em que situ-
Vendelino Seidel, de Iporã do Oeste – para reverter essa situação. Assim, inici- ação? Quando? Vocês já fizeram algum?
Santa Catarina, perfazendo um total de ou-se a sequência com a apresentação de
33 educandos, dos quais 14 eram do quatro cartazes confeccionados pela
período matutino e 19 do vespertino, com professora (bilhete, convite, cartão e
idades entre 6 e 7 anos. A atividade acon- carta), introduzindo o trabalho com
teceu no ano de 2013. textos interpessoais, garantindo o direito
Como de costume, o planejamento de aprendizagem que trata deste conteú-
desenvolvido se enaltece com necessida- do: “Compreender e produzir textos orais
des ou questões levantadas pelos educan- e escritos de diferentes gêneros, veicula-
dos, envolvendo assim os conteúdos bási- dos em suportes textuais diversos, para
cos que a Proposta Curricular apresenta, atender a diferentes propósitos comuni- Figura 2 – Cartazes confeccionados
Fonte: acervo pessoal da professora
tendo a Literatura como ferramenta de cativos, considerando as condições em
articulação entre a questão levantada e o que os discursos são criados e recebidos” Em seguida, cada grupo apresentou o
conteúdo a ser explorado. (BRASIL, 2012), relacionando a situa- seu texto, lendo em voz alta e expondo
Nesta sequência didática se evidencia ção-problema ao conteúdo a ser desenvol- suas conclusões para toda turma. A
o quanto é fundamental dar importância vido. discussão foi intensa, alguns já haviam
às questões do dia a dia, sem deixar de feito convites de aniversário com suas
trabalhar os conteúdos básicos necessári- mães, outros levaram bilhetes para
os. Assim, o ponto de partida foi uma situ- alguém, alguns já haviam recebido
ação em que a escola estava passando há cartões (de Natal, Boas Festas,
dois anos, sem que as autoridades compe- Aniversário). Após as apresentações,
tentes tomassem a devida providência. A este material ficou exposto na sala.
escola possui duas alas, um prédio novo Na continuidade, cada gênero apre-
e, mais à frente, uma ala antiga na qual sentado e discutido foi trabalhado separa-
ficam as turmas dos anos iniciais e onde damente, abordando: características,
haviam sido instalados climatizadores em Figura 1 – apresentação de cartazes meios em que circulam, finalidade,
Fonte: acervo pessoal da professora
todas as salas, porém estes não podiam importância, necessidade, enfim, aspec-
ser ligados, pois as instalações elétricas A professora começou a aula com a tos gerais.
eram antigas e não comportariam a carga. formação de grupos e entregou um cartaz O primeiro a ser abordado foi o bilhete.
Diante dessa situação, os educandos para cada aluno, deixando que lessem e 1
Alfabetizadora. Pedagoga, especialista em Educação
questionavam, principalmente nas situa- compartilhassem o que sabiam entre eles. Infantil e Séries Iniciais. Professora Alfabetizadora
efetiva da Rede Pública Municipal de Itapiranga.
ções de intenso calor do verão e no frio do Após este contato inicial, foram levan- 2
Orientadora de Estudos. Pedagoga, especialista em
Educação. Professora Alfabetizadora efetiva da Rede
inverno: Professora, por que não pode tadas questões como: Que tipo de texto é Pública Municipal de Itapiranga.
3
Formadora. Mestre em Educação, formadora de
ligar o climatizador? Não aguento de esse que o grupo tem? Para que serve? Linguagem.

17
Após sua caracterização, os educandos pijama mais bonito e qual venceria a Na sequência, foram escritos os nomes
foram desafiados a fazer um bilhete para competição. dos animais no quadro, e teve início uma
o colega, sendo recomendado pela votação para eleger a máscara que mais
professora que ninguém deveria ficar sem gostaram.
receber. Depois, fizeram um para a
mamãe.
No dia seguinte, chegou a vez do
cartão. Decidiu-se, no coletivo, que faría-
mos um cartão de aniversário. Como não
havia nenhum educando que estivesse
aniversariando naquele dia, procurou-se
saber se alguém estava. Desta forma,
descobriu-se que era aniversário da dire-
tora.
Assim, os alunos produziram um Figura 5 – Foto da votação para a escolha da
máscara que mais gostaram
cartão, seguindo o exemplo confecciona- Fonte: acervo pessoal da professora
do e exposto na sala. A professora atuou
como escriba, e os enfeites ficaram por Figura 3 – foto da capa do livro utilizado Posteriormente, foram abordados
Fonte: acervo pessoal da professora
conta da criatividade de cada um. conceitos matemáticos, como: registro
Convidamos a diretora para vir até a sala Isso gerou a ideia de realizar uma festa pictórico e numérico da pontuação na
de aula, cantamos os parabéns a ela e das máscaras. Para tanto confecciona- votação, classificação e ordenação dos
entregamos os cartões. mos, juntos e oralmente, um convite que mais votados, indicando a sua posição.
Como tema de casa, foi solicitado que depois foi registrado no quadro para que Com o trabalho desenvolvido, as crian-
fizessem um cartão para professora. No copiassem; os enfeites ficaram por conta ças puderam estabelecer relações de seme-
dia seguinte, cada um apresentou seu de cada um. Como tema de casa, deviam lhança e de ordem, utilizando critérios
cartão e o entregou. Ficaram belíssimos. pintar e enfeitar a máscara. diversificados para classificar, seriar e
O terceiro gênero trabalhado foi o ordenar, estimulando leitura e escrita dos
convite. Esta atividade iniciou com a números, a fim de representar grafica-
leitura da história “Viviana, a Rainha do mente quantidades e aprimorando os
Pijama”, de Steve Webb, traduzido por registros. Das atividades orais, como por
Luciano Vieira Machado. A história exemplo, a contagem foi essencial para
aguça a imaginação sobre o reino dos estabelecer o valor cardinal dos números.
animais, uma vez que a pesonagem Com os dados obtidos, explorou-se
Viviana se questiona como os animais se ainda a resolução de pequenos proble-
vestem quando vão dormir. Ela então mas, tais como: Qual foi a diferença de
resolve dar uma festa do pijama para pontos do primeiro colocado para o
Figura 4 – crianças com as máscaras confeccio- segundo? Quantos pontos fizeram juntos
encontrar as respostas de seus questiona-
nadas - Fonte: acervo pessoal da professora
mentos. Para que a festa ocorra, Viviana os três primeiros colocados? Quantos
confecciona convites, confere os endere- No dia seguinte a agitação das crianças pontos foram registrados ao todo?
ços e os remete aos animais, que a respon- foi geral, todas chegaram empolgadas com Com isso, os educandos foram estimu-
dem com bilhetes cordiais. suas máscaras caracterizadas e querendo lados a construir estratégias de cálculo
Parte da história foi contada em um dia saber o final da história. Após a leitura do mental e estimativo, envolvendo dois ou
e o final ficou para o dia seguinte, com um final da história, então, organizou-se um mais termos. As crianças também foram
clima de suspense, uma vez que os alunos desfile, onde cada um se apresentou e desafiadas a elaborar, interpretar e resol-
queriam saber qual dos animais teria o imitou o respectivo animal da máscara. ver situações-problema, utilizando suas

18
estratégias pessoais, onde puderam regis- todos, fomos até o correio para que as
trar da forma que melhor compreendiam, crianças observassem e compreendessem
seja por desenho ou por representação o processo de envio de cartas. Lá, a aten-
numérica. dente explicou o porquê do selo e do
Para finalizar a sequência didática dos carimbo.
textos informativos, chegou o momento
de escrever a carta que deu início a esta
sequência didática. Para isso, iniciou-se a
conversa sobre a questão dos climatizado-
res que não podiam ser ligados, e a
professora questionou: O que podería-
mos escrever para o responsável pela esco- Figura 8 – Foto do jornal local e da notícia
la a fim de resolver este problema que há publicada - Fonte: acervo pessoal da professora
dois anos está do mesmo jeito?
Muitas foram as ideias e colocações
dos educandos. Vários questionamentos
também surgiram: Quem é o responsá-
vel? Onde ele mora? O que ele faz?
Depois de todas as dúvidas sanadas e
voltando o foco para a carta e sua caracte-
rização, os educandos foram relatando o
Figura 7 - Em frente ao correio com as crianças
que queriam dizer e pedir para o respon- Fonte: acervo pessoal da professora
sável da Secretaria de Desenvolvimento
Regional. Com esta atitude, o trabalho desenvol-
Neste momento, a professora atuou vido foi parar até no jornal da região, auxi- Figura 9 – Foto da capa do livro utilizado
Fonte: acervo pessoal da professora
como escriba, e os alunos foram relatando liando ainda mais para que o pedido dos
a situação com suas falas, pedindo uma alunos fosse atendido, o que aconteceu no Nos dias em que estava sendo aplicada
solução sobre a rede elétrica das salas da início do ano de 2014, e as aulas desse esta sequência didática, durante um
ala antiga, para que pudessem utilizar os ano iniciaram com grande festa e mais encontro da formação continuada do
climatizadores, uma vez que já estavam uma reportagem de agradecimento no PNAIC, uma colega alfabetizadora trou-
instalados e não podiam ser ocupados jornal. xe o livro “O Carteiro Chegou”, de Janet
devido às instalações elétricas antigas e Para enriquecer ainda mais o desenvol- e Allan Ahlberg, que apresenta uma
precárias. vimento desta sequência didática, um história envolvendo contos clássicos,
Com a carta pronta e assinada por aluno trouxe o livro “Feliz Aniversário, como “Chapeuzinho Ver melho”,
Tina!”, de Tim Warnes, que mostra “Cachinhos Dourados”, “João e o Pé de
cartões de aniversário e bilhetes presos Feijão”, entre outros nos quais os perso-
aos presentes que Tina vai recebendo de nagens recebem e enviam cartas com
seus amigos, contribuindo ainda mais avisos, convites, cartão postal, folders e
para a fixação das aprendizagens referen- assim por diante, o que serviu de fecha-
tes a estes gêneros aqui abordados. mento da presente sequência didática,
Os educandos desenvolveram todas as enriquecendo as aprendizagens
atividades de maneira prazerosa, e as A sequência didática aqui apresenta-
aprendizagens foram recíprocas e grada- da, além de resolver uma situação que
tivas, conforme as capacidades e as difi- estava pendente, propiciou conexões de
Figura 6 - conversa com a funcionária do correio
Fonte: acervo pessoal da professora culdades de cada educando. aprendizagem com diversas áreas do

19
REFERÊNCIAS
AHLBERG, Janet; AHLBERG, Allan. O carteiro
chegou. Tradução de Eduardo Brandão. São
Paulo: Editora Companhia das Letrinhas, 2007.
BRASIL. BRASIL. Ministério da Educação.
Secretaria de Educação Básica. Acervos
complementares: alfabetização e letramento
nas diferentes áreas do conhecimento. Brasília,
DF: 2012b.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de
Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão
Educacional. Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa. O trabalho com
gêneros textuais na sala de aula. Ano 02.
Figura 10 – Foto da capa do livro Unidade 05. Brasília: MEC, SEB, 2012a.
Fonte: acervo pessoal da professora JORNAL EXPRESSÃO. Edição 412. 19 de
setembro de 2013. Alunos encaminham carta
conhecimento. O contato com as literatu- pedindo solução do problema da sua sala.
Itapiranga, SC: 2013. p. 29.
ras, por exemplo, desenvolveu conceitos e
WARNES, Tim. Feliz Aniversário, Tina! São
características de diferentes gêneros Paulo: Editora Ciranda Cultural, 2001.
textuais (carta, convite, cartão e bilhete), WEBB, Steve Webb. Viviana, a Rainha do
Pijama. Tradução de Luciano Vieira Machado.
práticas de leitura e escrita, apropriação Distribuído pelo FNDE, para alunos do 3º ano.
do Sistema de Escrita Alfabética de São Paul: Editora Salamandra, 2013.
forma a compreender que a fala pode ser
reproduzida através da escrita para se
comunicar e interagir. A confecção das
máscaras, dos enfeites e a apresentação,
bem como os enfeites do convite e do
cartão de aniversário fizeram parte da
apreciação da Arte. A votação, a compu-
tação dos dados, o gráfico de classificação
dos mais votados, a seriação e a ordena-
ção e a resolução de problemas aborda-
ram conceitos matemáticos. Nas
Ciências, trabalhou-se com os animais,
com os sons que produzem e suas caracte-
rísticas.
Por fim, verificou-se que os trabalhos
desenvolvidos interdisciplinarmente
contribuem para práticas eficazes e
aprendizagens significativas por meio de
vivências, estudos e muito trabalho de
leitura, reflexão e produção de textos.

20
PELOS CAMINHOS DA LITERATURA:
APRENDENDO O QUE, COMO E PARA QUE DIZER
Gésse Andrion Valente1
Maria Rosicléa da Silva Guarezzi2

Este trabalho foi realizado com uma rural. Os alunos também foram instiga- mudanças através do tempo e a importân-
turma de segundo ano do Ensino dos a falar dos seus conhecimentos pré- cia da relação entre o passado e o presente
Fundamental do Colégio Municipal vios/memórias. como fonte histórica constituinte da nossa
Maria Luiza de Melo, situado no Por meio dessa intervenção pedagógi- sociedade.
Município de São José – Santa Catarina. ca, a literatura proporcionou inúmeras Por meio de uma aula expositiva e
A turma era composta de 23 crianças experiências para as crianças. A partir de dialogada, os educandos puderam obser-
com idades entre 7 e 9 anos; duas profes- vários estímulos de encorajamento, elas var fotos de uma apresentação visual em
soras; uma regente de classe e uma passaram a sentir o livro também em seus slides sobre os meios de comunicação do
professora auxiliar de Educação Es- aspectos estéticos, cheiros, texturas, passado e do presente, assim como o
pecial. As sequências didáticas aqui rela- cores, tamanhos, palavras e desenhos – os primeiro computador, vários tipos de
tadas fazem parte da realização de um quais também foram imaginados pelo cartões postais, cartas, os primeiros tele-
Projeto Institucional intitulado “Troca- autor, em um momento de criação e fones e máquinas fotográficas etc. Nesse
Troca Literário”, cujo objetivo principal envolvimento com o mundo. Portanto, momento, a literatura deleite apreciada
é favorecer às crianças o desenvolvimento podemos dizer que, a partir da base teóri- foi o livro “Guilherme Augusto Araújo
do gosto pela leitura. ca e científica desta proposta pedagógica, Fernandes”, de autoria de Mem Fox e
A cada ano, durante a realização do a qual atravessa este planejamento, os ilustração de Julie Vivas. Esse livro trou-
projeto, as turmas escolhem um livro de alunos também tiveram a oportunidade xe o tema “memória” e nos ajudou a
literatura infantil e infanto-juvenil, a de descobrir culturas e, por meio delas, discutir sobre a importância de lembrar e
turma em tela escolheu a obra "Fazenda tornou-se possível desvendar mundos que guardar elementos do passado para a
ponto com", uma história divertida de perpassam pelas linguagens artística e lite- formação dos seres humanos e da cultura.
autoria do escritor Jótah que destaca a rária. No passo seguinte, a prática da leitura
importância dos meios de comunicação e da escrita partiu também do interesse
na nossa sociedade. A narrativa se passa das crianças pelas cartas, e discutimos
em uma fazenda onde os bichos estão sobre como esse modo de se comunicar
conectados por meio da Internet. ainda existe nas nossas vidas. Para iniciar
Iniciamos os trabalhos explorando o essa aula, fizemos a leitura do livro “Vivi-
livro no cantinho da leitura, um momento ana, a Rainha do Pijama”, de autoria de
muito esperado pelas crianças. Sentadas Steve Webb. O livro conta a história de
confortavelmente, as crianças realizaram Viviana, uma menina que resolve escre-
a leitura. Após a realização da leitura ver cartas para vários animais, convidan-
individual, a professora fez um convite Figura 1 - No cantinho da leitura do-os para a sua festa do pijama.
Fonte: acervo pessoal da professora
para que as crianças pudessem “poeti-
zar” a história por meio de ilustrações Partindo dos personagens da obra 1
Professora Alfabetizadora. Pedagoga, especialista em
artísticas sobre os personagens e curiosi- "Fazenda ponto com" e do repertório das Educação Infantil (UFSC), professora da rede municipal
de São José/SC.
dades, bem como analisassem informa- crianças, realizamos um estudo histórico
2
Professora Orientadora de Estudo. Professora efetiva
da rede municipal de ensino de São José e atualmente
ções sobre o autor/ilustrador, os tipos de sobre os principais meios de comunicação atua como diretora do ensino fundamental - anos inicia-
is, do Colégio Municipal Maria Luiza de Melo, onde está
comunicações que envolviam os persona- utilizados e sobre as práticas culturais lotada há 26 anos. Graduada em Pedagogia (UNIVALI)
e especialista em Gestão Escolar (UFSC), orientadora
gens, os tipos de animais, o meio de vida mais recorrentes, bem como sobre suas de estudo do PNAIC/SC, em 2013 e 2014.

21
Após a leitura da obra, tivemos uma al, assim como sobre as formas de se cons- corresponder, a grande maioria decidiu
grande conversa com as crianças sobre a truir um texto, ressaltando questões sobre chamá-los de “Amigo Misterioso”.
razão de escrevermos cartas, e explicamos parágrafos, letras maiúsculas no início Depois desse intenso processo, a turma
que estas possuem um modo próprio de das frases e nos nomes próprios, ortogra- recebeu a visita do carteiro, momento
serem escritas, ou seja, possuem regras de fia e padrões de escrita das letras cursivas. muito esperado por todos. O carteiro
escrita, funções sociais diferenciadas, Antes de enviar as cartas, elas foram chegou cheio de histórias, trazendo
selos, envelopes etc. revisadas pela professora e reescritas muitos sorrisos e interagindo com o
O tipo de carta selecionado para as pelas crianças. Nesse primeiro momento, grupo. Tiramos muitas fotos e tivemos
atividades com as crianças foi a carta a turma ficou bastante dividida, pois os muitas conversas sobre essa profissão,
pessoal, uma vez que demonstra proximi- alunos que já estavam alfabetizados que é tão importante na nossa sociedade.
dade entre os interlocutores. Cabe surpreenderam, ficando visíveis os seus Assim, as cartas foram levadas ao seu
lembrar, entretanto, que também foram avanços em relação à construção de destino e as crianças, depois dessa despe-
explorados os diversos estilos de carta textos. Já os alunos que ainda estavam se dida, passaram a sonhar com as possíveis
para que os educandos pudessem conhe- apropriando dos princípios do sistema de respostas dos seus amigos misteriosos, as
cer e dialogar a partir de seus conheci- escrita alfabética tiveram algumas dificul- quais vieram uma semana depois.
mentos prévios a respeito do tema. dades com a ortografia e com a constru-
Após a conversa, um exemplo de carta ção dos parágrafos, inclusive com os espa-
foi redigido no quadro e, a partir dele, as ços entre as palavras. As crianças que
crianças puderam começar a escrever as ainda não estavam alfabetizadas, por sua
suas. vez – e, neste caso, uma pequena minoria
Assim, a primeira carta produzida no – apresentaram dificuldades maiores,
quadro com as crianças foi um primeiro pois sabiam o queriam comunicar nas
contato. Em seguida, a sala ganhou uma cartas, mas não tinham autonomia para a
caixa de correio e os alunos foram encora- construção das palavras e das frases, apre-
jados a escrever para amigos que ainda sentando uma escrita em processo bem Figura 2 - Primeiras cartas para os Amigos
Misteriosos - Fonte: acervo pessoal da professora
não conheciam do outro segundo ano, a inicial com agrupamento de letras sem
turma 28, da professora Fabíola. valor (ABTOFH) e com valor sonoro
Podemos dizer que o momento que se (MU AMGU – “Meu amigo”).
sucedeu foi de muita concentração e escri- No momento da reescrita das cartas,
ta, pois os alunos tiveram a oportunidade cada aluno recebeu uma orientação indi-
de escrever a sua própria carta. Cada vidualizada sobre como transcrever o
criança recebeu um papel pautado e teve texto revisado, o que fez com que essa
a liberdade de se comunicar através da parte da escrita precisasse de um tempo
linguagem escrita. Exploramos com as maior, pois todas as crianças foram aten-
crianças, além do como e do por que, o didas a fim de ter suas dúvidas em relação
que dizer para os amigos da outra turma. à escrita sanadas. Depois dessa etapa,
Essa primeira escrita foi bem diversifi- houve uma intervenção coletiva para ensi-
cada, pois algumas crianças ainda esta- nar como devia ser preenchido o envelo-
Figura 3 - Enviando as cartas para os Amigos
vam inseguras quanto ao que dizer e ao pe. Assim, cada criança pôde também
Misteriosos - Fonte: acervo pessoal da professora
como dizer, enquanto outras já faziam criar o selo com desenhos, identificar-se
várias perguntas ao interlocutor e diziam como remetente colocando o seu nome Dando continuidade às reflexões sobre
várias coisas sobre si. completo, nome da escola e o número da os meios de comunicação, voltamos a
A todo o momento houve a intervenção turma, assim como o do destinatário, mas mergulhar na história da bicharada da
pedagógica no sentido de lembrar sobre como os alunos ainda não conheciam os fazenda – do livro "Fazenda ponto com".
os padrões de escrita de uma carta pesso- nomes das crianças com quem iriam se Descobrimos que iria acontecer uma festa
22
surpresa de aniversário para o persona- dado à criança a oportunidade de contar mento dos animais presentes na obra,
gem fazendeiro, mas o mais legal foi saber um pouco dessa experiência e do signifi- realizamos sua classificação e estudamos
que, nessa fazenda globalizada, os bichos cado do objeto guardado dentro da caixa mais detalhadamente os mamíferos, as
se comunicam de muitas formas e cada da memória. aves, os insetos e os anfíbios. As crianças
um de uma maneira bem particular, aprenderam sobre as onomatopeias e
como, por exemplo, por meio de reca- refletiram sobre os modos de comunica-
dos/bilhete, e-mails, MSN, celular, ção dos animais. Por meio de atividades
Internet, entre outros. orais de interpretação de texto, os estu-
Esses tipos de comunicação já eram dantes descobriram que cada animal
conhecidos pelas crianças, e muitas delas possui um som diferenciado e que para
disseram que faziam uso deles. Mas a cada som existe um nome específico.
grande interrogação dos educandos era: Na história, são mostrados também
“Como eram os modos de se comunicar animais que não são característicos do
quando os meus pais tinham a minha Figura 4 - A caixa da memória meio rural e do Brasil, mas que foram
Fonte: acervo pessoal da professora
idade?” convidados para o aniversário do fazen-
A partir desse questionamento, então, A partir dos diálogos realizados com as deiro. Assim, em uma roda de conversa,
chegamos à conclusão que, uma vez que crianças e suas famílias sobre os modos instigando os alunos sobre seus conheci-
cada pessoa possui um modo particular distintos de cada geração estabelecer os mentos prévios, nós descobrimos que no
de guardar suas memórias e lembranças, contatos e a comunicação, nós decidimos país há diversidade de animais, mas que
os pais haveriam de ter guardado alguns construir um blog da turma com o objetivo alguns não são naturais do nosso ecossis-
objetos que nos remeteriam à comunica- de fortalecer os vínculos entre os alunos, tema, como o leão africano, o canguru
ção em tempos passados. Desta forma, as seus familiares e a escola, apresentando australiano, o porco canadense e a vaca
crianças foram desafiadas a pesquisar os acontecimentos e o aprendizado da suíça, por exemplo.
com suas famílias e/ou amigos sobre suas turma. Atualmente, o blog conta com Após essa conversa, experimentamos
lembranças. Para isso, construímos uma inúmeras fotos e momentos do grupo em com as crianças a construção de escultu-
caixa da memória, contribuindo para que diversas situações de aprendizagem, ras de animais em materiais diversos,
as crianças aprendessem a história a como aulas-passeios, atividades artísti- tendo como base a reutilização do rolinho
partir das relações entre o passado e o cas, teatros etc. do papel higiênico. Nesse momento, vári-
presente. Na sala de informática, as crianças os materiais (papéis coloridos diversos,
Dentro da caixa havia um caderno sempre leem as novas informações da tecidos coloridos, colas coloridas etc.)
para anotar as recordações do familiar turma, opinam e apresentam ideias para foram espalhados sobre algumas mesas e
entrevistado, com a indicação para que, aprimorarmos ainda mais esse canal os educandos experimentaram a criativi-
junto com a caixa, fosse colocado um obje- comunicativo. Os textos produzidos dade e a livre expressão, sendo instigados
to de memória que remetesse às lembran- pelas crianças ganham outro colorido, a perceber a beleza de detalhes de cada
ças dessa pessoa. Dentre alguns objetos pois ultrapassam os limites da sala de animal e o resultado foi um festival de
depositados, contamos com fotos antigas, aula e atingem outros leitores. O resulta- cores e de surpresas.
cartões postais, brinquedos antigos, do desse trabalho se encontra disponível Para fechar os estudos sobre os anima-
livros de literatura infantil antigos. no seguinte endereço: is, a turma fez um passeio de aprendiza-
No caderno de anotações, fomos agra- <http://www.turma26nossosprojetos.bl gem no Horto Florestal situado no bairro
ciados com surpreendentes histórias. Em ogspot.com.br/>. Córrego Grande, em Florianópolis. Foi
sua maior parte, foram escritas com letras Após o estudo sobre os meios de comu- uma experiência muito importante, pois
cursivas pelas mães das crianças e foram nicação, retomamos a leitura do livro puderam observar de perto vários anima-
contadas para todos a cada novo retorno "Fazenda ponto com" para aprofunda- is e plantas nativas da Mata Atlântica.
da caixa. A cada início de aula, assim, mos também os conhecimentos das crian- Um ponto que chamou muito a atenção
fazíamos a leitura das anotações e era ças sobre os animais. A partir do levanta- dos alunos foi a quantidade de sementes e
23
a variedade de folhas encontradas pelo manuseando-os, lendo e observando as Ao final, as crianças puderam ilustrá-la.
caminho. Orientamos as crianças a sele- imagens que cada modelo continha. As respostas em relação à escrita foram
cionar aquelas que encontrassem no Explicamos como se escreve em um surpreendentes, pois ficou clara a
chão. cartão, considerando o seu formato carac- progressão das crianças. Elas tinham o
Ao chegarmos à sala, com a seleção de terístico, pois os espaços para a escrita são que dizer e para quem dizer, tão impor-
folhas e sementes realizada pelas crian- menores e, ao lado, já é necessário colocar tantes quanto o como dizer. Elas também
ças, fizemos um belo mural o endereço do destinatário. Lembramos tinham muito conhecimento, porque
também que as pessoas costumam leram, porque interagiram em espaços
comprar cartões quando viajam para algu- escolares e nãos escolares, porque estuda-
. ma cidade, e que estes podem conter fotos ram e tiveram ao seu lado sempre uma
de lugares turísticos e que, muitas vezes, professora com clareza de sua função so-
as pessoas compram cartões para colecio- cial: ensinar as crianças a ler e a escrever.
nar e guardar como recordação e objeto
de memória.
O segundo passo, então, foi confeccio-
nar o cartão postal com os alunos. Cada
criança ganhou um cartão para que
Figura 5 - Aula passeio – Horto Florestal
Fonte: acervo pessoal da professora
pudesse escrever para o seu amigo corres-
pondente da turma 28. Os alunos tinham
assunto, ou seja, tinham o que dizer:
Horto Florestal de Florianópolis ou
"Fazenda ponto com”. É essencial regis-
trar que todas as correspondências troca-
das com as crianças da turma 28 foram
respondidas por elas e entregues na nossa
caixa de correio. Os alunos tiveram a Figura 7 - Carta da aluna Nicoly
oportunidade de ler e de socializar as Fonte: acervo pessoal da professora

respostas obtidas de seus amigos, que já


Figura 6 - Coleção de folhas e sementes não eram mais misteriosos, e todos passa-
Fonte: acervo pessoal da professora
ram a se conhecer melhor, principalmente
Após termos socializado os conheci- pelo viés da escrita e da função social do
mentos adquiridos com a aula-passeio no gênero trabalhado.
Horto Florestal e confeccionado o mural, Como culminância do Projeto “Pelos
as crianças desejaram contar para os caminhos da literatura: aprendendo o
amigos misteriosos como havia sido o que, como e para que dizer” as crianças
passeio e o que mais tinham aprendido. produziram uma carta para os seus fami-
Depois de uma conversa sobre o gênero liares. A partir de uma roda da conversa,
textual mais apropriado e mais interes- nós recordamos os mais variados momen-
sante para enviar ao amigo, optamos por tos que tivemos na escola, propondo que
enviar um cartão postal. As crianças elas lembrassem o que lhes foi mais signi-
lembraram que este gênero textual era ficativo para contar às suas famílias nas
muito comum na época de seus pais e que cartas. Rememoramos a estrutura de Figura 8 - Carta da aluna Ana Clara
Fonte: acervo pessoal da professora
permanece atualmente. uma carta pessoal e como as ideias devem
A partir daí, os educandos exploraram ser organizadas. Assim como na primeira Para finalizar, nós levamos as cartas ao
diversos modelos de cartões postais, carta, houve revisão e reescrita textual. correio do bairro Kobrasol, onde se
24
encontra a nossa escola. A ida ao correio mando que as crianças são seres humanos REFERÊNCIAS
foi uma aventura; fomos andando pelo que possuem direitos, como ao ensino, à BISSOLI, M. F.; CHAGAS, L. M. M. Infância e
leitura: formação da criança leitora e produtora
calçadão da Avenida Central, na qual se aprendizagem, à brincadeira, às intera- de texto. Manaus: Valer, 2012.
encontram variados estabelecimentos ções e ao seu desenvolvimento pleno a BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de
comerciais. As crianças foram instigadas partir de diferentes formas de apropria- Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão
Educacional. Pacto Nacional pela
a observar e a ler as mais diversas placas ção de conhecimento. Alfabetização na Idade Certa. A
aprendizagem do sistema de escrita alfabética.
encontradas pelo caminho. Ano 1. Unidade 3. Brasília: MEC, SEB, 2012a.
Assim que chegamos ao correio, fomos BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de
recebidos pelos funcionários e encami- Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão
Educacional. Pacto Nacional pela
nhados para a parte interna do local, Alfabetização na Idade Certa. A apropriação
onde um profissional da área explicou do sistema de escrita alfabética e a
consolidação do processo de alfabetização.
para os alunos cada passo que a sua carta Ano 2. Unidade 3. Brasília: MEC, SEB, 2012b.
daria até chegar ao local endereçado no BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de
envelope. Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão
Educacional. Pacto Nacional pela
Essa atividade proporcionou muitos Alfabetização na Idade Certa. A organização
aprendizados: a colagem dos selos, os do planejamento da rotina no ciclo de
alfabetização na perspectiva do letramento.
carimbos, a visita ao local, o caminhar Ano 2. Unidade 2. Brasília: MEC, SEB, 2012c.
pelas ruas do bairro até o retorno à esco- VIGOTSKI, L. S. Imaginação e criação na
infância: ensaio psicológico. Livro para
la. A partir dessas grandes experiências, professores. Apresentação e comentários de
com certeza estimamos que crianças e Ana Luiza Smolka. Tradução de Zoia Prestes.
São Paulo: Ática, 2009.
professoras nunca mais esquecerão
desses dias, de todos os conhecimentos Figura 10 - Cartas devidamente carimbadas
Fonte: acervo pessoal da professora
produzidos e das aprendizagens signifi-
cadas ao longo desse trabalho realizado De certo a literatura nos permitiu cami-
com a turma do segundo ano do Colégio nhar pela interdisciplinaridade dos
Municipal Maria Luiza de Melo. conhecimentos científicos, sejam eles
linguísticos, artísticos, históricos, geográ-
ficos e biológicos, através das inúmeras
experiências aqui socializadas. As desco-
bertas efetivadas priorizaram a ampliação
dos repertórios culturais das crianças.
Com elas, descobrimos um mundo de
palavras e significados, nos encontramos
com diversos meios de se comunicar,
imaginar, receber e transmitir pensamen-
tos, sentimentos e ações. Essas descober-
Figura 9 - Conhecendo o correio tas vieram ao encontro do social, do histó-
Fonte: acervo pessoal da professora
rico e do cultural, por via das expressões
As sequências didáticas socializadas do ser humano enquanto um ser que se
neste relato foram planejadas a partir da comunica e se relaciona vivendo as diver-
visão de educação como um processo que sas formas de criações provindas social-
abrange e envolve sujeitos de diferentes mente e historicamente através dos
contextos sociais e culturais. Destacamos, tempos.
ainda, que a forma interdisciplinar aqui
apresentada visa respeitar a infância, afir-
25
APRENDER A ESCREVER:
LENDO, BRINCANDO E REFLETINDO SOBRE A LÍNGUA
Marlise Schuck Klunk1
PORTUGUESA Teresinha Staub2
Maira Gledi Freitas Kelling Machado3

A sequência didática foi elaborada a máticas – neste caso, o significado de sobre o que poderia acontecer na história,
partir do livro “O pirulito do pato”, de metade. suas compreensões e interpretações.
Nilson José Machado. Acreditamos que Iniciamos a primeira aula da sequência
a literatura infantil é um recurso fantásti- sentando todos os alunos no cantinho da Algumas intervenções:
co que oportuniza excelentes reflexões leitura, onde apresentamos o referido Profª: O que é “Pito”?
para a aquisição da leitura e da escrita; livro. Iniciamos pela exploração da Aluno D: Levar um “xingão”.
além disso, proporciona ao aluno imagi- imagem (capa), inferindo dela a história Vamos continuar. O PATO DINO,
nação, criatividade, solidariedade, que seria contada, o autor, o ilustrador, a QUE FEZ, ENTÃO? DEU O
amizade, compreensão, respeito, intera- coleção e a editora. PALITO PRO SEU IRMÃO!
ção, participação e vários outros aspectos Fizemos os seguintes questionamentos: Prof.ª: Vocês concordam com a atitude
sociais, cognitivos, afetivos e emocionais do Pato Dino?
que se fazem presente. Prof.ª: O que vocês enxergam na capa Turma: Nãoooooooooooo!
O trabalho foi realizado com alunos de do livro? Profª: O que será que a mamãe vai
duas turmas de primeiro ano do Centro Aluna A: Palavras e números. fazer?
Educacional São João do Oeste – Santa Aluno B: Um Pato segurando o piruli- Aluno A: A mãe pede para repartir com
Catarina, sendo uma das turmas consti- to. o irmão.
tuída por 15 alunos e, a outra, por 18 Aluno C: Título do Livro. Aluno D: Vai ficar de castigo.
alunos; todos com idades entre 6 e 7 Aluno D: O pato ganhou um pirulito e Profª: Vamos ler? Para descobrir?
anos. dormiu com ele. ... DISSE A MAMÃE PATA: “...
No início do ano letivo foi criada uma Aluno D: Professora, ele está de olho S E U V I VA L D I N O ! N Ã O É
rotina de trabalho com as turmas. fechado dormindo, segurando o pirulito. ASSIM! POBRE DO LINO!
Diariamente a professora lia para os DIVIDA AO MEIO/ SEM
alunos, tendo como objetivo a aquisição A maioria dos alunos falou do pato e TRUQUE ALGUM. UMA
da leitura, da escrita e o desenvolvimento do pirulito, e os incentivamos a observar, METADE PRA CADA UM”...
da fala com compreensão no processo da além do pato, outras ilustrações que Prof.ª:A Mamãe Pata fez o quê?
alfabetização, a fim de que todas as crian- aparecem na capa. Turma: Explicou e fez repartir.
ças tivessem todos os direitos de aprendi- Continuando a leitura:
zagem respeitados e consolidados em Prof.ª: Por que no topo da capa do livro . . . “ E R A U M A A M I GA D A
cada ciclo, respeitando os diferentes diz: Histórias de Contar? MAMÃE PATA , CHAMADA
conhecimentos e capacidades básicas Aluna A: Ela vai ler o livro muitas XOCA, NADA CORDATA...”
para o pleno desenvolvimento. vezes porque gostou. Aluna C: professora, o que significa
O objetivo deste trabalho, assim, era Aluno B: Por que tem números no livro CORTADA?
reconhecer unidades fonológicas, como professora?
1

sílabas, rimas e terminação de palavras; Aluno C: Não sei professora, leia logo o Professora Alfabetizadora. Pedagoga, especialista em
Educação Infantil e Séries Iniciais. Professora
estabelecer relação entre grafema e fone- livro. Alfabetizadora efetiva da Rede Pública Municipal de
São João do Oeste.
ma; perceber a importância da utilização 2
Orientadora de Estudos. Pedagoga, especialista em
Educação. Professora Alfabetizadora efetiva da Rede
de uma linguagem simbólica na represen- Continuando, lemos o livro para os Pública Municipal de São João do Oeste.
3
Mestre em Educação, formadora de Linguagem
tação e na modelagem de situações mate- alunos, fazendo paradas e questionando PNAIC/UFSC.

26
Profª: O que você pensa? ria, mas não gostaram da atitude dos Depois, a história foi relida com boa
Aluna C: Acho que é chato. patos Chato e Dino, os quais não concor- entonação, objetivando que os alunos
Como muitos tinham a dúvida, recorre- daram em dividir o pirulito; e apoiaram a percebessem a presença das rimas nas
mos ao uso do dicionário. A professora atitude de Zinho, que dividiu seu pedaço estrofes.
leu o significado da palavra. do pirulito com seu amigo Lino. A partir disso, foram escolhidas algu-
No parágrafo que diz: TUDO Depois, cada um contou aos colegas e à mas palavras de cada parágrafo para
IGUALZINHO,/SEM TRUQUE professora a parte da história que mais produzir novas rimas, por exemplo: abra-
ALGUM./ PEGUEM: UM gostou e, após essa etapa, cada criança ço – cansaço.
TERÇO PRA CADA UM!” escreveu e desenhou sua parte preferida Outras palavras também surgiram:
Profª: Que som é esse que é tão bom? no caderno. Quando todos terminaram, pirulito, irmão, pedacinho, sorrir, amigo,
A turma: Rimaaaaaaaaaaaaaa. leram sua parte em voz alta para a turma. atenção, acertar, aposta.
Continuando a leitura: JÁ ESTAVA
T U D O / A C E RTA D I N H O , /
QUANDO CHEGOU/ O PATO
ZINHO.
Profª: Quais são as palavras que
rimam?
Tu r m a : A C E RTA D I N H O E
ZINHO
Profºª:Muito bem!

E assim, terminada a leitura da histó-


ria, todos puderam refletir sobre as atitu-
des dos personagens de forma positiva e
negativa.
Também perguntamos aos alunos:
“Qual personagem que foi egoísta? Por
quê?”. E eles responderam:

Turma: O PATO CHATO. Ele não


quis repartir o pedaço dele com
ninguém. Figura 1 – leitura e comentários sobre a história
Fonte: acervo pessoal da professora
Prof.ª: e o PATO DINO? O que ele
fez? Após a leitura da história e dos comen- Observamos que os alunos gostaram
Aluna B: No começo ele não quis repar- tários realizados, trabalhamos com a pala- dessa atividade e não demonstraram difi-
tir, deu o palito pro irmão, mas depois vra “pirulito”, explorando a quantidade culdade em realizá-la. Assim, oportuni-
ele se arrependeu e já ia dividir com o de letras, de sílabas e de sons, desafiando zamos a eles um novo desafio com o jogo
irmão. os alunos para que escrevessem outras troca-letras, da caixa amarela, tendo
Prof.ª: Que legal! Nós também, quan- palavras a partir das letras dessa. Fomos como objetivos: comparar palavras, iden-
do agimos de uma maneira não muito realizando intervenções individualmente tificando semelhanças e diferenças sono-
boa, podemos voltar atrás e agir bem. durante a escrita dos alunos. ras entre elas; compreender que ao trocar-
Então o Pato Dino foi solidário e repar- Constatamos que os alunos escreveram mos uma letra transformamos uma pala-
tiu o pirulito dele com todos. uma grande diversidade de palavras, e foi vra em outra palavra; compreender que as
oportunizado que lessem suas palavras sílabas são formadas por unidades meno-
As crianças gostaram muito da histó- para o grande grupo. res. Esse trabalho foi realizado em grupos
27
e necessitou da ajuda da professora. crianças encontram formas para resolver
Podemos afirmar que foi muito significa- seus conflitos (BRASIL, 2012, p. 5).
tivo e gratificante e que será usado em
outros momentos com as turmas de
primeiro ano.
Como na história a Mamãe Pata teve
dificuldade para dividir o pirulito, apro-
veitamos o momento para trabalhar o que
é um inteiro e o que são metades, por
meio do jogo cara-metade.

Figura 2 – Brincando com jogo


Fonte: acervo pessoal da professora

Figura 3 – conversa e modelagem


Também usamos um pirulito gigante Fonte: acervo pessoal da professora
para ser divido em partes iguais entre os
alunos, mas esse recurso não deu muito Os educandos demonstraram ter gos-
certo, pois o pirulito não permitiu a divi- tado muito da forma como a experiência
são em partes iguais. Por isso, cada crian- foi desenvolvida. Interagiram uns com os
ça confeccionou o seu pirulito gigante outros e, juntamente com a professora,
com massa de modelar e depois o cortou em um clima dinâmico e divertido, produ-
ao meio para observar se a partes ficaram ziram novos significados para o ato de
iguais. Na sequência, oportunizamos que aprender.
os alunos fizessem a divisão do pirulito tal Podemos afirmar que os objetivos do
qual esta aconteceu no final da história projeto foram alcançados e, por meio de
lida e representassem no seu caderno de atividades lúdicas e de trabalho sistemáti-
atividades. co, as crianças puderam refletir sobre a
Verificamos que alguns alunos tiveram Língua Portuguesa.
dificuldade em modelar o pirulito com a
massa, já outros tiveram facilidade. REFERÊNCIAS
Por fim, podemos dizer que a atividade BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de
Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão
desenvolvida foi muito interessante e os Educacional. Pacto Nacional pela
alunos aprenderam brincando, pois é em Alfabetização na Idade Certa. Vamos brincar
de construir as nossas e outras histórias. Ano
momentos como esse, oportunizados 02. Unidade 04. Brasília: MEC, SEB, 2012.
dentro da escola, que as crianças revelam 47p.
maneiras de representar, inventar e criar,
e é por meio dessas oportunidades que as
28
VIAJANDO PELAS CARTAS

Helena Vogt1
Lisete Hahn Kaufmann2

Para iniciar o trabalho da sequência


Conceição, 29 de agosto de 2013.
didática, levei os alunos de segundo e
terceiro ano a um pátio gramado, nos Querido Aluno
Você e seus colegas estão convidados a
fundos da escola, onde sentamos no chão participar de um encontro especial, em minha
casa, com desfile e escolha do pijama mais
e conversamos informalmente sobre o legal. Na segunda-feira, na segunda aula,
gênero textual com o qual pretendia vamos tomar mate e conversar com uma
estilista sobre o processo de produção de um
trabalhar. Perguntei a eles quem já havia pijama, desde a ideia até a peça pronta. Traga
escrito ou recebido cartas; o que eles havi- um bilhete com o desenho de seu pijama e sua
Figura 2 - Imagem do momento da leitura curiosidade.
am sentido ao escrever ou receber cartas; Fonte: acervo pessoal da professora Com carinho,
Profª Helena.
com que finalidade as cartas haviam sido
enviadas etc. Por meio das respostas a rem o que sentiram durante a leitura, ou
esses questionamentos, pude observar seja, quais impressões e sensações o livro bilhete recebido da professora, ou seja,
que o uso de cartas pelas crianças se limi- havia causado em cada uma. Elas adora- fazer o desenho de um modelo de pijama.
tava mais a bilhetes, convites e e-mails. ram. Por sugestão dos alunos, então, fize- No dia combinado, os alunos compare-
Seguindo com a atividade, apresentei mos uma leitura dramatizada, cada um ceram ao encontro com os olhos brilhan-
aos alunos o livro “Viviana, a rainha do sendo um personagem. do pela curiosidade, e de bilhetes em
pijama”, de Steve Webb (2013) (parte Feito isso, passamos a analisar o gênero mãos.
do acervo 3.1 – terceiro ano – do PNDL textual carta, sua finalidade, seu estilo, A estilista convidada explicou-lhes, de
2013). Juntos, analisamos a capa, a suas características, sua estrutura. En- maneira bem simples, como acontece o
contracapa e a dedicatória do livro, ante- treguei às crianças um convite seguindo processo de produção de uma peça desde
cipando sentidos. Esse exercício foi reali- os mesmos moldes do livro e as convidan- o desenho até a confecção; organizou um
zado enquanto estávamos sentados no do para um encontro em minha casa, com desfile de pijamas (desenhos) e uma vota-
chão, de modo que todos conseguissem uma estilista (graduada em moda)3, ção para escolher o pijama que as crian-
visualizar as ilustrações. conforme se observa a seguir. ças mais haviam gostado e lhes disse que
Li o livro para as crianças, interpreta- Para este encontro, as crianças deve- ele seria produzido. Foi uma festa! Como
mos o texto e, após, as desafiei a descreve- riam levar um bilhete em resposta ao houve um empate na escolha do pijama, a
estilista levou os dois modelos escolhidos
Viviana, a rainha do pijama
Autor(a): Steve Webb e prometeu produzir um deles (que seria
Imagens: Steve Webb escolhido pelos colegas do curso de mode-
Já pensou, uma festa de pijama animal? Pois na obra lagem do SENAI- Blumenau).
Viviana, a rainha do pijama, Viviana acordou com uma
curiosidade: ‘Quando os animais vão pra cama dormir, que 1
Pedagoga, Especialista em Educação, Alfabetizadora
tipo de pijama costumam vestir?’ Então resolveu mandar na Escola de Ensino Fundamental Ludgero Wiggers,
convites para o leão, o pinguim, o jacaré... Na carta-convite Município de Itapiranga, SC.
2
anunciava uma surpresa: um prêmio para o pijama mais Pedagoga, Especialista e Mestre em Educação, pro-
‘animal’. Todos responderam com bilhetes cordiais. Quem fessora no Curso de Pedagogia e Matemática da FAI
será o vencedor? Essa narrativa leve e cheia de recursos Faculdades de Itapiranga, SC. Orientadora de Estudos
do PNAIC da turma da GERED de Itapiranga, SC, no
visuais atraentes pode tanto ser lida com autonomia por ano de 2013 e Formadora do PNAIC, 2014 e 2015,
crianças que já têm uma leitura fluente, quanto gerar uma UFSC, SC.
3
boa roda de leitura compartilhada. Joyce Vogt, Bacharel em Moda e Estilismo pela FURB
– Blumenau, Técnica em Modelagem de Vestuário pelo
SENAI Blumenau, professora instrutora dos cursos de
Figura 1 - Imagem da capa e sinopse da história “Viviana, a rainha do pijama - Fonte: Webb (2013). modelagem e vestuário do SENAI.

29
registrou em um mapa impresso que lhes
foi fornecido.
Realizamos diversas atividades escritas
relacionadas às informações sobre as cida-
des de Blumenau e Itapiranga, além de
cálculos e resolução de situações-
problema envolvendo medidas de
comprimento (tecido, distâncias), siste-
Figura 4 - Imagem da professora e seus alunos ma monetário (valor do PAC) etc.
acessando a internet. - Fonte: acervo pessoal da professora
as etapas da produção do pijama, além de
um código para rastreio do objeto no site
da ECT. Os alunos perceberam, pelas
fotos, que ambos os modelos escolhidos
estavam sendo produzidos. Novamente
conversamos sobre esse gênero textual e
Figura 3 - Imagens dos dois pijamas escolhidos
elaboramos um esquema com as informa-
Fonte: elaborado pelos alunos ções do slide sobre as etapas de produção
Em outro momento, estudamos a loca- das peças.
lização geográfica de Blumenau e de Ita- Em seguida, acessamos o site dos
piranga no Google Maps, em mapas e em Correios, rastreamos o pacote e lemos
livros. Viajamos de Itapiranga a Blu- outras informações e serviços. Também
menau pelo Google Earth; comparamos localizamos no mapa as cidades pelas
relevo, urbanização, tipos de moradia, quais o pacote passava e cada criança
atividades econômicas; e visualizamos a
empresa onde trabalha a estilista
(FURB, SENAI).
Conforme combinado previamente,
por e-mail a estilista informou sobre o
andamento da produção do pijama (ain-
da sem revelar qual dos dois seria produ-
zido), anexando fotos e comentando
sobre a enchente4 e sobre a Oktoberfest,
que estava acontecendo na cidade de
Blumenau, acontecimentos comuns às
duas cidades. Também pudemos desco-
brir outras relações entre ambas as cida-
des, em especial a migração e a cultura.
Assim, analisamos o gênero e-mail,
atentando para suas características, e o
comparamos com o gênero carta. Por Figuras 6 e 7 - Imagens das atividades escritas
fim, produzimos coletivamente uma Fonte: elaborado pelos alunos
Figura 5 - Passeando por Santa Catarina -
resposta ao e-mail da estilista. Rastreamento; Outros serviços e informações do
4
Dias mais tarde, recebemos outro e- site dos Correios; Localização das cidades; Enchente que estava ocorrendo nas cidades de
Blumenau e Itapiranga, SC, no mês de agosto de
mail com slides em anexo contendo todas Registro em mapa - Fonte: acervo pessoal da professora 2013.

30
Figura 11 - Criança reescrevendo sua carta
Fonte: acervo pessoal da professora

Figura 8 - Imagens das crianças ao receberem os pijamas


reza do sistema de escrita da língua [...] e
Fonte: acervo pessoal da professora o funcionamento da linguagem que se usa
Finalmente chegou o grande dia, quan- de título e autor – que fomos descobrir na para escrever”. Percebemos que esses
do recebemos o recado de que um pacote contracapa como sendo o remetente. dois aspectos estiveram presentes na
endereçado aos alunos do segundo e do Feito isso, lemos as cartas contidas no escrita da carta. Ainda, segundo as auto-
terceiro ano da EEF Ludgero Wiggers livro (cada um lia um pouco e passava ras, “o aluno vai adquirindo o sistema no
havia chegado. Foi aquela festa! para o outro). uso social dos gêneros”. A criança autora
Como residimos na zona rural, os Com o auxílio do livro referido, refleti- da carta escrita acima, por exemplo, já
Correios não entregam correspondência. mos sobre características e estrutura do demonstra ter entendido como funciona a
Então, semanalmente, o motorista de gênero textual, e cada aluno produziu sua escrita e está na fase de consolidação
ônibus retira do correio da cidade de carta, as quais foram lidas pelos alunos, desse processo.
Itapiranga as cartas simples e os avisos de analisadas e revisadas coletivamente, rees- Utilizando o projetor multimídia,
chegada e os deixa no mercadinho em truturadas quando necessário e passadas então, realizamos a leitura (em slide) do
frente à escola. a limpo. livro “O Carteiro Chegou”, de Janet &
Dessa forma, o pacote foi retirado por Allan Ahlberg (2007), e, em seguida, a
outra pessoa com a autorização da profes- interpretação, a discussão e os comentári-
sora e continha uma grande surpresa: os em relação livro.
dentro havia um pijama para cada um dos Em outro momento, também visitamos
alunos e uma cartinha pedindo que cada a “caixa do correio” no mercadinho da
um deles escrevesse se o seu pijama havia
servido e o que havia achado da surpresa.
Com o objetivo de produzir a carta
resposta, apresentei o livro “Correspon-
dência”, de Bartolomeu Campos de
Queirós e Angela Lago, do acervo do
PNBE/2005. Refletimos sobre a capa
Figura 10 - Professora fazendo o atendimento
no formato de envelope e sobre a ausência individual - Fonte: acervo pessoal da professora

A atividade de escrita e reescrita


desenvolvida pela professora possibilitou
a avaliação da escrita das crianças. Para
Faria e Cavalcante, (2015, p. 33) “a
Figura 9 - Imagem das crianças no momento da aprendizagem da escrita envolve dois Figura 12 - Imagem da carta escrita pelo aluno
leitura - Fonte: acervo pessoal da professora processos concomitantes: entender a natu- Tiago, do terceiro ano - Fonte: elaborado pelo aluno

31
como era o endereçamento e os remeten-
tes das diferentes cartas que as crianças
retiraram. A partir desses exemplos, ende-
reçamos os envelopes para as cartas
produzidas. Como a escola ficava no inte-
rior e não foi possível levar todas as crian-
ças, duas colegas foram escolhidas pelo
grupo para acompanhar a professora e
entregar as cartas no correio que fica na
Assim como todo mundo, os contos de fadas gos- sede do município, – distante 25 km da
tam de mandar e receber cartas. João, por exem-
plo, mal tem tempo de agradecer o gigante pelas
comunidade.
ótimas férias que sua galinha de ovos de ouro lhe Em grupos, as crianças redigiram cole-
proporcionou. Cachinhos Dourados aproveita pa-
ra se desculpar com a família Urso por ter causa- tivamente um bilhete aos pais das alunas
do confusão na casa. E o que seria da bruxa sem o
catálogo de ofertas do Empório da Bruxaria, que escolhidas para acompanhar a professo-
esse mês oferece uma promoção especial de mis-
tura para torta Menino Fofo? Por isso, quando o ra, solicitando a autorização para realiza-
carteiro chega é sempre uma festa, e todo mundo
o convida para entrar. Mas às vezes - especial-
rem essa tarefa.
mente em caso de Lobo Mau - ele prefere recusar Desta forma, enquanto os demais
o chazinho e dar no pé o mais rápido possível. O li-
vro, que é todo contado em rimas, vem cheio de
cartas de verdade, postais, livrinhos e convites,
com envelope e tudo.
Figura 17 - Imagens das crianças no Correio de
Figura 13 - Imagem da capa e sinopse do livro Itapiranga, SC, enviando as cartas para a estilista,
Fonte: www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?
que mora em Blumenau, SC
comunidade da Linha Conceição, em Fonte: acervo pessoal da professora

Itapiranga, e retiramos as correspondên- alunos compareceram a duas aulas de


cias para familiares e vizinhos. Ressaltei Educação Física, as colegas escolhidas
o comprometimento com a entrega da pelo grupo foram aos Correios juntamen-
correspondência ao destinatário e com te levar as cartas em companhia da
sigilo em relação à correspondência de Figura 15 - Escrita da carta coletiva pelos professora. Lá as meninas receberam
outrem (algumas cartas e extratos bancá- grupos - Fonte: acervo pessoal da professora informações e folders da atendente e, no
rios tinham sido enviados a mais de ano). dia seguinte, repassaram aos colegas as
Após essa visita das crianças, então, as informações recebidas.
famílias desenvolveram o hábito de verifi- Dando continuidade às atividades,
car a “caixa” com mais regularidade. realizei avaliações diferenciadas com os
De volta à sala de aula, observamos alunos das duas turmas, a fim de verificar
se haviam entendido as características
dos gêneros estudados, ou seja: carta, e-
mail, bilhete, convite.
Para concluir, coletivamente redigimos
uma carta para a personagem Viviana,
relatando como havia sido nosso “Con-
curso de Pijamas” e tudo o que havíamos
aprendido a partir dele no decorrer da
sequência didática.
Quando oportunizamos aos alunos
Figura 14 - Crianças observando a caixa do
correio da comunidade Figura 16 - Carta coletiva
aprendizagens com interações reais, elas
Fonte: acervo pessoal da professora Fonte: acervo pessoal da professora tornam-se mais significativas e passam a
32
permear suas atitudes. A partir dessas uma lembrança inesquecível na memória.
Linha Conceição, Itapiranga, 4 de novembro de
2013 atividades, por exemplo, meus alunos Por fim, é possível concluir que o traba-
Querida Viviana!
passaram a se comunicar mais por meio lho interdisciplinar desenvolvido com
Estamos te escrevendo para contar algumas da escrita, passaram a redigir cartinhas essa turma bisseriada envolveu diversas
coisas que aconteceram por aqui, por causa da
tua ideia de fazer a “Noite do Pijama”. Somos ou bilhetes para as avós, para as madri- áreas do conhecimento, quais sejam:
alunos do 2º e 3º anos da Escola de Ensino
Fundamental Ludgero Wiggers, de Linha nhas, para mim ou para os colegas que Língua Portuguesa, com as diversas leitu-
Conceição, Itapiranga, SC. É uma escola do
campo, com poucos alunos, mas com muita estavam de aniversário. ras, pesquisas e produções escritas reali-
vontade de aprender. Nossa turma tem onze
alunos: quatro do 2º ano e sete do 3º ano.
A empolgação pelo “projeto dos pija- zadas; Matemática, por meio da explora-
A nossa professora Helena, leu para nós a tua mas” – como eles o definiam – continua- ção das distâncias entre as cidades, do
história no livro “Viviana, a Rainha do Pijama”.
Amamos. Então ela nos convidou (com uma va. Fiz então um kit para partilhar esta estudo sobre a população, sobre o sistema
cartinha bem parecida com a tua) para um
Concurso do Pijama. Nós levamos o desenho da história com as famílias, e cada criança monetário e da resolução de operações
nossa criação e nos encontramos com uma
estilista, na casa dela. levou para casa os livros de literatura com situações aditivas e multiplicativas;
A estilista nos explicou as etapas do processo trabalhados, o slide com o passo-a-passo História, pesquisando sobre a origem das
de produção de um pijama e também que iria
produzir o pijama que fosse o preferido da turma. da produção dos pijamas feito pela nossa festas germânicas de ambas as cidades,
Fizemos uma votação para escolher o pijama mais
bonito, mas houve empate. Então ela levou os três colaboradora estilista, outro slide conten- sobre as migrações, os costumes e as
modelos, e ficamos na expectativa para ver qual
ela e seus colegas do SENAI em Blumenau iriam do objetivos, conteúdos e atividades tradições; Geografia, por meio do estudo
escolher e produzir.
Dias depois chegou um e-mail dizendo que
desenvolvidas, ilustrados com fotos. da localização geográfica das cidades de
estavam produzindo pijama masculino e feminino.
Ficamos em festa pois então dois colegas iriam
Todos os slides foram impressos e enca- Blumenau e Itapiranga, SC; e Arte, uma
ganhar pijamas. Nesse e-mail, anexou fotos da dernados. Além disso, levaram um cader- vez que as crianças foram desafiadas a
enchente que teve em Blumenau no mês de
setembro e da Oktoberfest. Em nossa no no qual eu, como professora, escrevi criar modelos de pijamas a partir de dese-
comunidade, o rio Peperi-guaçu e o Rio Macaco
Branco também estavam transbordando, mas não uma carta explicando o objetivo do traba- nhos. Importante ressaltar, também, que
causaram tanto estrago. E nosso município é o
Berço Nacional da Oktoberfest. lho realizado e solicitando que cada famí- todas as áreas do conhecimento foram
Enquanto esperávamos, aprendemos mais
sobre como escrever bilhetes, cartas, convite e e-
lia também escrevesse uma cartinha com trabalhadas de forma interdisciplinar,
mails. Lemos outros livros onde apareciam textos
desse tipo: “Correspondência” de Bartolomeu
suas opiniões e observações. sem privilegiar uma ou outra.
Campos de Queirós e Angela Lago e “O Carteiro A cada dois ou três dias, então, um Segundo Lima, Teles e Leal (2012, p.
Chegou” de Janet & Alan Ahlberg.
Em outro e-mail, a estilista mandou a explicação aluno levava o material para casa, lia com 7), “os diferentes componentes curricula-
de cada etapa da produção dos nossos pijamas,
desde o desenho que o Tiago e a Caroline fizeram a família e produzia uma cartinha no res devem ser contemplados, porém não
até estarem prontos. Também mandou o código de
rastreio dos correios e desse jeito podíamos ver
caderno. De volta à classe, esse estudante de modo fragmentado, com divisão estan-
em que cidades os pijamas passavam. Nós
olhávamos na internet e marcávamos no mapa.
lia a carta redigida pela família. que do tempo escolar, mas sim, de forma
Disse ainda, que estava mandando uma surpresa Com o final do ano letivo se aproxi- integrada, sem perder de vista o contexto
para todos e que gostaria de receber uma cartinha
nossa para ver se os “clientes” estavam mando, surgiu a ideia de fazer uma “Fes- de cada área”. Com certeza as atividades
satisfeitos.
Estávamos muito ansiosos quando o pacote ta do Pijama”. Assim, em uma noite de foram planejadas de modo interdiscipli-
chegou. Cada menina recebeu um pijama
igualzinho ao que a colega Caroline desenhou e sexta-feira, todos os alunos passaram a nar, a fim de contemplar cada área do
os meninos o pijama criado pelo Tiago. Ficamos
muito felizes com o presente e escrevemos as
noite na casa da professora. Brincaram conhecimento.
cartinhas com capricho. nos arredores de casa até anoitecer e, Para as referidas autoras, “contemplar
Escolhemos as colegas Suéli e Janaína, do 2º
ano para irem levar nossas cartinhas no correio, após o banho, todos de pijama, assistiram os conteúdos necessários em cada área de
na cidade de Itapiranga, que fica a 25 km de
nossa comunidade. a filmes, criaram e apresentaram teatri- conhecimento, as diferentes estratégias
Nossa história a professora vai contar no
Seminário estadual do PNAIC, em Balneário
nho com fantoches e se divertiram a valer. didáticas, as diversas formas de organiza-
Camboriú e todos juntos resolvemos também Após a meia-noite, vencidos pelo cansa- ção das atividades, as variadas formas de
contar essa história para você. Nós falávamos e a
professora escrevia no quadro, depois ela iria ço, estavam todos dormindo. avaliação, requer planejamento, intencio-
digitar.
Afinal, precisamos te agradecer, pois copiamos No dia seguinte, com um roteiro elabo- nalidade”.
tua ideia. Acho que não faz mal, não é?
rado anteriormente com os pais, cada Outro aspecto a destacar no presente
Um abraço e tudo de bom para você. criança foi levada para sua casa pela trabalho foi o uso constante da tecnologia
Alunos do 2º e 3º ano da EEF Ludgero Wiggers. própria professora. As crianças estavam como suporte didático pedagógico. Ler e
com um sorriso maravilhoso no rosto e responder os e-mails (correspondência
33
on-line), ler um livro projetado, pesquisar QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de; LAGO,
Angela. Correspondência. Belo Horizonte:
no Google Maps são atividades que insti- Editora RHJ, 2004. (Do acervo do PNBE/2005)
gam e motivam as crianças, as quais são WEBB, Steve. Viviana, a rainha do pijama.
Traduzido por Luciano Vieira Machado.
muito curiosas por natureza e participa- Distribuído pelo FNDE, para alunos do 3º ano.
ram ativamente de todas as atividades São Paulo: Editora Salamandra, 2013.
desenvolvidas.
Para finalizar, destaca-se que uma das
contribuições do trabalho aqui relatado
foi a de articular as diferentes áreas do
conhecimento, fato que possibilitou
desenvolver nas crianças habilidades e
conceitos diversificados, permitindo que
a alfabetização acontecesse na perspecti-
va do letramento. Essas crianças foram
além da sala de aula: ampliaram suas
percepções em relação ao mundo em que
vivem.

REFERÊNCIAS
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Letrinhas, 2007.
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Brasília: MEC, SEB, 2012.
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Secretaria de Educação Básica. Diretoria de
Apoio à Gestão Educacional. Pacto Nacional
pela Alfabetização na Idade Certa: currículo
na perspectiva da inclusão e da diversidade. As
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Básica e o Ciclo de Alfabetização. Brasília:
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Diretoria de Apoio à Gestão Educacional.
Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade
Certa: planejando a alfabetização e dialogando
com diferentes áreas do conhecimento. Ano 2.
Unidade 6. Brasília, DF: MEC, SEB, 2012.

34
PRODUÇÃO TEXTUAL NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO:
DOS CONTOS DE FADAS À REFLEXÃO SOBRE A LÍNGUA
Jovana Agne da Silveira1
PORTUGUESA Karin Rosskamp2
Jilvania Lima dos Santos Bazzo3

O relato de experiência a seguir sociali- Com o objetivo de que participassem de


zado foi desenvolvido na Escola de interações orais, questionando, sugerin-
Educação Básica Simão José Hess, do, argumentando e respeitando o turno
composta por um público bem diversifica- de fala, as crianças foram convidadas a
do, uma vez que recebe alunos de diver- recriar coletivamente uma história de
sos bairros da cidade de Florianópolis – contos de fadas para aprender a segmen-
Santa Catarina. A escola oferece Ensino tar palavras em textos e refletir sobre sua
Fundamental e Ensino Médio, mas a adequação aos interlocutores e à formali-
maioria das matrículas é destinada para dade do contexto ao qual se destina
este último nível de escolaridade. Vale (BRASIL, 2012, p. 33-37). Figura 1 - Crianças lendo no “Cantinho da
leitura” - Fonte: acervo pessoal da professora
registrar que a maior parte dos pais dos Nos registros de observação, a profes-
alunos trabalha no entorno da Uni- sora percebeu o interesse dos alunos pelas
versidade Federal de Santa Catarina histórias de contos de fada, as quais
(UFSC), e que este trabalho aconteceu fazem parte do acervo que constitui a
com as turmas de primeiro ano do Ensino atividade de leitura, permanente em sala
Fundamental, nos períodos matutino e de aula. Esse interesse também abrangia
vespertino. os jogos e as brincadeiras envolvendo figu-
Tanto a turma do período matutino ras geométricas, bem como o uso do
quanto a do vespertino eram compostas Tangram e de blocos lógicos.
por 21 alunos cada, com faixa etária entre No primeiro momento, os alunos tive-
5 e 7 anos de idade. Nem todos os alunos ram contato com contos de fadas, por
frequentaram a educação infantil nem meio de leitura, de visualização de gravu-
tiveram experiências de aprendizagem ras e do filme “O Patinho Feio”. Em
com a língua escrita e com grupos de inte- seguida, a professora conversou com as
ração social. Dificilmente as turmas esta- crianças sobre as características dos
vam completas para que fosse dada contos de fadas, levando em conta a
sequência a uma produção de conheci- época em que foram escritos bem como os Figura 2 - Capa do livro “O bosque das figuras
mento de modo mais efetivo, pois o índice sentimentos e as reflexões que cada um planas” - Fonte: acervo pessoal da professora
de assiduidade é pequeno. Como nesta provocava, por exemplo, o sentimento de
fase escolar não há qualquer tipo de ser ou não acolhido pelos familiares ou A partir daí, ocorreu uma intensa
responsabilização dos adultos, as famíli- amigos, ou de se sentir diferente dos procura, uma busca incessante por um
as, muitas vezes, acabam ignorando o outros e não pertencer a determinado exemplar dessa obra, até que foi encon-
direito de aprendizagem da criança, o grupo, como no caso da obra “O Patinho 1
Pedagoga e especialista em Práticas Interdiscipli-
nares.
que provoca lacunas no desenvolvimento Feio”. 2
Pedagogia (UNIVALI/Itajaí) com habilitação em Séries
do processo de ensino e aprendizagem. Durante as leituras realizadas, o grupo Iniciais, Orientação Educacional e Fundamentos
Metodológicos para o Magistério. Pós-graduada em
De qualquer modo, a experiência aqui “descobriu”, com o auxílio da professora, Educação a Distância.
3
Formadora da área de Linguagem. Doutora em
narrada é uma representação dos desafios que havia um livro interessante chamado Educação (UFBA). Professora da
Udesc/Faed/Departamento de Pedagogia. Formadora
e das possibilidades criadas pela turma. “O Bosque das Figuras Planas”. do PNAIC, área da linguagem, em 2013 e 2014.

35
trado em mídia digital (HALL, 2014). buídos aos alunos papéis coloridos e importante para que as crianças apren-
Depois de muita conversa, a professora alguns materiais para montar persona- dessem a respeitar o turno de fala, questi-
compartilhou com as crianças outro site gens, objetos e situações que aparecem na onando e sugerindo as mudanças que
que trazia uma adaptação da obra, cujo história. consideravam necessárias.
nome era “A História do Bosque das
Figuras Geométricas” (PORTUGAL,
2014a; 2014b).
Essa adaptação foi lida num segundo
momento pela professora, com o auxílio
do projetor de imagens. A partir daí, as
crianças foram sendo questionadas sobre
os contos de fadas: “Quem sabe o que é
um conto de fada? Quais contos de fadas
vocês conhecem? Quais os que lemos em Figura 7 - Montando a maquete
Figura 4 - Criança cortando e inventando
sala? Quem gosta de contos de fadas? Fonte: acervo pessoal da professora Fonte: acervo pessoal da professora

Por quê?”. Em seguida, a docente focou


as questões no texto lido: “Sobre o que
trata essa história? Quem é Pinóquio?
Quem já ouviu outra história com o
Pinóquio? Já viram na natureza árvores
com os formatos apresentados no livro?
Na rua ou na escola, tem alguma forma
igual a essas? Como se chamam essas
formas? O que são formas geométricas?
O que é figura plana?”.
Figura 5 - Crianças criando as árvores Figura 8 - Produzindo o cenário
Fonte: acervo pessoal da professora Fonte: acervo pessoal da professora

Figura 3 - Criança desenhando quadrados Figura 6 - Criança desenhando círculos menores Figura 9 - Decidindo em equipe
menores - Fonte: acervo pessoal da professora Fonte: acervo pessoal da professora Fonte: acervo pessoal da professora

A professora, então, apresentou os sóli- Depois, os alunos iniciaram a produ- A etapa seguinte foi partir para a
dos geométricos (paralelepípedo, cubo, ção da maquete intitulada “Bosque das produção textual. Assim, iniciamos o
pirâmide, esfera, cilindro e cone) e, a figuras planas”. Elas conversaram entre processo de recontar “A História do
partir da apresentação e da manipulação si sobre a posição dos objetos e cada uma Bosque das Figuras Geométricas” por
dos objetos pelas crianças, ela represen- argumentava e opinava acerca dos meio de estímulos à imaginação dos
tou no quadro as figuras que cada sólido elementos que iriam compor o “bosque”. alunos. Foi solicitado que imaginassem
contemplava. Na sequência, foram distri- Este foi, certamente, um momento muito uma festa, e, em seguida, eles foram ques-
36
tionados: “Como começa a história? professora perguntava ao grupo: “– so. Então, ele pediu para os guardas reti-
Quem eram os personagens principais? Pinóquio foi à festa? Quem mais faz rarem o Pinóquio da festa. Lá fora, ele
Onde acontece a história?”. parte da história? Que problema aconte- ficou sozinho, triste e começou a chorar.
ceu na festa? Como foi solucionado esse A rainha, vendo a cena, ficou com muita
problema? Como terminou a história?”. pena do Pinóquio e o levou de volta para
Finalizando a produção textual, a turma a festa. Daí, Pinóquio pediu desculpas ao
escolheu o título. rei.
A história construída pelos alunos do O rei e a rainha, sensibilizados com o
primeiro ano do Ensino Fundamental a gesto do Pinóquio, o adotaram e eles vive-
partir dos contos de fadas contou com ram felizes para sempre.”
diversas intervenções da professora.
Com essa atividade as crianças perce- Pinóquio e Ana Clara no Bosque
beram a importância de ler e de reler suas das Figuras Planas
Figura 10 - Pose de artista
Fonte: acervo pessoal da professora ideias para atender à compreensão dos Alunos do Primeiro Ano 2
leitores para os quais o texto se destina, o
que possibilita que este fique cada vez “Era uma vez um menino chamado
mais bem elaborado. Pinóquio que, ao entrar no Bosque das
A seguir, é apresentada a versão final Figuras Planas, encontrou uma rainha.
dos textos produzidos pelas crianças, Ela mostrou para ele um monte de coisas,
tendo a professora como escriba e leitora que o bosque era dividido por um rio, de
experiente: um lado ficava a área VIP – expressão
inglesa que significa very importante
Pinóquio no Bosque das Figuras person e significa espaço reservado para
Planas pessoas muito importantes, de prestígio e
Figura 11 - Festa no castelo
Fonte: acervo pessoal da professora
Alunos do Primeiro Ano 1 poder – e do outro lado a área não-VIP.
No lado VIP, tinha um castelo que
“Era uma vez uma rainha chamada dentro havia umas formas de círculos em
Clara, que morava num castelo no formato de triângulos. A rainha mostrou
Bosque das Figuras Planas. Pinóquio também o lado não-VIP. Pinóquio viu que
era um boneco feito de figuras planas que as árvores eram diferentes, as folhas tinham
foi conhecer o Bosque. A rainha mostrou o formato de pentágono e hexágono.
tudo que tinha lá, especialmente um rio A rainha convidou Pinóquio para a
que separava a área VIP – expressão festa no castelo. Todos no bosque, de
inglesa que significa very importante ambas as áreas, foram convidados.
person e significa espaço reservado para Pinóquio dançou com uma menina
Figura 12 - “Bosque” das crianças
Fonte: acervo pessoal da professora
pessoas muito importantes, de prestígio e chamada Ana Clara, que logo se apaixo-
poder. naram. Mas, de repente, o Hulck da área
A partir do momento que uma criança A rainha convidou Pinóquio para uma não-VIP pegou a Ana Clara e o
finalizasse sua ideia, a professora ia festa no castelo. Ele foi à festa e conheceu Pinóquio foi obrigado a lutar com ele. Foi
convidando outras para participar, solici- os amigos da rainha, que eram no formato um alvoroço que só! O Hulck desmaiou,
tando que descrevessem como eram os de círculo e triângulo. Todos da área VIP a rainha ordenou que a festa continuasse
personagens ou como era o “Bosque”. e não VIP foram à festa. O rei chamado e os convidados, incluindo os apaixona-
Desse modo, todos os alunos iam partici- Romeu estava se divertindo quando dos, voltaram a dançar como se nada
pando e dando continuidade à história. Pinóquio tropeçou e derramou o suco na tivesse acontecido.
Quando parecia não haver mais ideias, a roupa da majestade, o rei, que ficou furio- Pinóquio construiu uma casa no Bos-

37
que das Figuras Planas, se casou com a repetições de palavras (sinalizadas pela PORTUGAL. Ministério da Educação.
Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino
Ana Clara e eles viveram felizes para professora) na versão inicial da sua histó- Superior. Programa de formação contínua
sempre.” ria e a possibilidade de resolução apre- em matemática para professores do 1.º ciclo
do ensino básico (PRODEP). Disponível em:
Com essa experiência, as crianças pude- sentada pela docente. <http://www.ipg.pt/user/~mateb1.eseg/doc/o%2
0bosque%20das%20figuras%20planas.pdf>.
ram observar que a produção de um texto Versão inicial produzida pelas crian- Acesso em: 15 ago. 2014b.
requer muito mais que um amontoado de ças:
frases. Perceberam a necessidade de
manter um espaço entre uma palavra e Era uma vez um menino chamado
outra, entre um parágrafo e outro, e que Pinóquio que entrou no Bosque das
para tornar o texto mais fluido e mais boni- Figuras Planas e encontrou uma rai-
to, muitas vezes é preciso encontrar nha. A rainha mostrou para Pinóquio.
formas diferentes de escrever as ideias. A
professora, por outro lado, como leitora Versão final a partir do diálogo entre a
experiente, pôde também participar professora e as crianças:
desse processo, inserindo e sugerindo alte-
rações no texto para torná-lo ainda mais Era uma vez um menino chamado
atraente e garantir a coerência entre os Pinóquio que, ao entrar no Bosque das
eventos anunciados pelos alunos antes e Figuras Planas, encontrou uma rainha.
depois de cada cena. Ela mostrou para ele um monte de
Na turma do primeiro ano 1, por exem- coisas.
plo, a palavra “especialmente” e a expli-
cação sobre o significado da palavra Diante dos resultados alcançados,
“VIP” ou do uso das expressões “lá podemos afirmar que nosso trabalho tem
fora”, “vendo a cena”, “então”, “daí”, contribuído para que as crianças vivenci-
“sensibilizados com o gesto do Pinó- em de maneira lúdica, já no primeiro ano
quio”, “o adotaram” foram inserções do ciclo de alfabetização, atividades de
feitas pela docente para eliminar palavras leitura e de escrita que possibilitem a
repetidas ou desnecessárias e, mais do reflexão sobre as características da língua
que isso, garantir a organização textual e portuguesa associadas a uma sistematiza-
a compreensão do leitor, sempre com a ção de estudos sobre o sistema de escrita
participação das crianças. alfabética.
Já na turma do primeiro ano 2, por
exemplo, como os educandos mantiveram
a divisão dos lados divididos pelo rio, a REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de
professora sugeriu de igual modo a inser- Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão
ção da explicação da expressão inglesa Educacional. Pacto nacional pela
alfabetização na idade certa. Currículo na
“VIP” e a inclusão das expressões “de alfabetização: concepções e princípios. Ano 01.
ambas as áreas”, “que logo se apaixona- Unidade 01. Brasília: MEC, SEB, 2012.
ram”, “Mas, de repente”, “Foi um alvo- HALL, Andreia. O bosque das figuras planas:
aventuras matemáticas de Pinóquio. Disponível
roço que só”, “incluindo os apaixona- em: <http://pt.scribd.com/doc/30843816/o-
dos”. Além disso, a utilização de vírgula Bosque-Das-Figuras-Planas#scribd>. Acesso
em: 10 ago. 2014.
e a supressão das repetições de palavras e PORTUGAL. Universidade de Aveiro.
do “e” ajudaram o grupo a refletir sobre Departamento de Matemática (UA/DMAT).
Circo matemático. Disponível em:
as singularidades da língua escrita, sobre- <https://www.ua.pt/dmat/>. Acesso em: 06 jun.
tudo quando as crianças observaram as 2014a.

38
LUDICIDADE E LETRAMENTO:
O PROJETO “BRINCAR PARA APRENDER”
Marcio Alexandre Siqueira1
Eliana Krieser Wollinger2

A sequência didática que ora apresen- Portanto, se a brincadeira facilita a intera- Em nossa prática na sala de aula,
tamos resultou de um trabalho desenvol- ção com o mundo, também contribui com buscamos mesclar momentos de estudo
vido com o projeto “Brincar para o processo de alfabetização, pois a crian- (mais formais) e de diversão (mais
Aprender”. As atividades que compõem ça que se envolve, sente maior prazer em livres), valorizando as modalidades de
este relato de experiência foram realiza- aprender. atividades em grupo nas quais haja inte-
das pela alfabetizadora Prof.ª Eliana Temos que, pela perspectiva histórico- gração entre os educandos.
Krieser Wollinger, com a colaboração da cultural, a criança (e mais claramente o No final das atividades propostas para
Mestra em Educação Prof.ª Denise homem em última instância) não nasce cada período de aula, permitíamos que as
Stollmeier de Aviz – Orientadora de estu- dotada de modos de pensamento tipica- crianças brincassem com jogos de tabulei-
dos do PNAIC/SC – Polo de Joinville e mente humanos, pois estes são construí- ro, massa de modelar, bonecas, carrinhos,
região nordeste catarinense. A atividade dos através de processos sociais de intera- peças de armar etc., até que certo dia
foi realizada com alunos de duas turmas ção e mediação. Este movimento dialéti- surgiu o questionamento de um aluno
de primeiro ano, formadas por 21 e 23 co é conceituado como processo de huma- para a professora:
alunos, respectivamente, com idades nização (ZAMONER, 2014; REGO,
entre 6 e 7 anos, na Escola Básica 2011), o que tacitamente significa que, Do quê você brincava quando era crian-
Professora Úrsula Kroeger, no Muni- ao transformar o ambiente para satisfazer ça? Os brinquedos eram os mesmos?
cípio de Indaial – Santa Catarina. suas necessidades, o indivíduo transfor-
Durante o ano letivo de 2013, as duas ma a si mesmo. Os outros colegas da turma também
turmas mantiveram uma rotina diária de O escopo precípuo da formação das manifestaram interesse em saber a respos-
trabalho com leituras de deleite, para auxi- funções psicológicas superiores se consti- ta que seria dada pela professora, fato que
liar na aquisição de novas palavras que tui na vivência da cultura e da internaliza- gerou a motivação para imaginar como
aumentassem o repertório de seu vocabu- ção dos modos de comportamento histori- transformar a questão dos brinquedos e da
lário e também no processo de leitura e camente engendrados e organizados. brincadeira em uma sequência didática.
escrita. Também participaram de diver- Nesse contexto a escola se insere, Acreditamos que as formas lúdicas de
sas atividades lúdicas que envolveram a propiciando aos indivíduos acesso ao interação social realizam a formação
exploração de conceitos matemáticos, conhecimento científico formado ao cognitiva e afetiva do intelecto para pavi-
conceitos das ciências e da expressão longo da experiência humana, comple- mentar o caminho de construção do
comunicativa, por meio de oralidade e mentando o acesso aos saberes de manei- conhecimento, que constitui os processos
gestualização. ra pedagogicamente sistematizada. de aprender:
Entendemos que “Brincar para apren- Já não podemos considerar como alfabe-
der” é uma abordagem de ensino e apren- tizado o sujeito que apenas conhece as A relação entre o desenvolvimento, o
dizagem que se mostra significativa para letras, aquele que domina as atividades bási- brincar e a mediação, são primordiais
o educando, pois como afirma a cas de ler e escrever, “mas aquele que sabe
1

Secretaria da Educação Básica “na usar a linguagem escrita para exercer uma Professor graduado em Licenciatura Plena em
Matemática pela Universidade Federal do Paraná e
infância a atividade principal da criança é prática social em que essa modalidade da Mestre em Educação Matemática pelo
PPGECM/UFPR; Atuou como Formador em
a brincadeira e que, com base nela, a língua é necessária” (SOARES, 2005, p. Matemática do Polo Dois – Joinville e região nordeste
catarinense no PNAIC-2014.
criança aprende a interagir e compreen- 47). Em outras palavras, aquele que exerce 2
Professora e alfabetizadora da Secretaria Municipal
de Educação do Município de Indaial, SC. Atuou como
der o mundo” (SEB, 2012, p. 14). o letramento em sua socialização. Alfabetizadora no PNAIC-2013/14.

39
para a construção de novas aprendi- volvimento, a sua organização e, a A professora solicitou, então, que as
zagens. Existe uma estreita vincula- partir daí, de planejar ações pedagó- crianças pesquisassem em casa com os
ção entre as atividades lúdicas e as gicas. (TASSIGNY, ROLIM; pais ou com os avós quais eram os brin-
funções psíquicas superiores, assim GUERRA, 2008, p. 177). quedos e jogos que estes utilizavam na
pode-se afirmar a sua relevância infância.
sócio-cognitiva para a educação Com essa preocupação em mente, o Na aula seguinte, listamos no quadro
infantil. As atividades lúdicas podem projeto “Brincar para Aprender” surgiu de giz todos os nomes dos brinquedos que
ser o melhor caminho de interação da curiosidade das crianças em conhecer apareceram na pesquisa dos educandos,
entre os adultos e as crianças e entre os brinquedos de “ontem”, aqueles que muitos deles já em desuso e, por conve-
as crianças entre si para gerar novas os seus pais e avós tinham para brincar niência, selecionamos aqueles que eram
formas de desenvolvimento e de quando eram crianças, fazendo relação os brinquedos mais conhecidos da turma
reconstrução de conhecimento. com os que elas têm para brincar hoje. Na e/ou os que a maioria possuía.
( TA S S I G N Y, R O L I M ; realização do projeto foram desenvolvi- Escolhemos trabalhar dessa maneira
GUERRA, 2008, p. 180). das diversas atividades, tais como caça- porque alguns dos brinquedos citados
palavras, montagem de gráficos, jogos de não eram conhecidos por todos e não
De fato percebemos que, durante a brin- estimativa com figuras de brinquedos, tínhamos em mãos uma amostra deles, de
cadeira, a criança cria um universo parale- jogos de estimativa com imagens de brin- forma que seria pouco significativo seu
lo por meio do desenvolvimento de sua cadeiras, pesquisas sobre a história de uso para essa atividade.
imaginação, lugar onde se liberta dos alguns brinquedos, confecção de brin-
condicionamentos sociais e das regras de quedos com materiais recicláveis (“suca-
comportamento, transformando, reassi- tas”), adivinhas, visita a uma fábrica de
milando e ressignificando regras, bem brinquedos de madeira etc.
como as adequando com vistas a garantir
seu lugar no espaço. É na brincadeira que
a criança se permite vivenciar outros
papéis sociais (como o de professora,
mãe, pai, astronauta etc.), sentindo-se esti-
mulada a lidar com situações de alegria e
de frustração, e preparando-se para a vida
adulta e para seu futuro trabalho. Figura 2 - Imagens dos brinquedos selecionados
Fonte: acervo pessoal da professora
A escola deve, portanto, incentivar o
uso didático dos brinquedos e das brinca- Destacaremos aqui com maior ênfase a
deiras, uma vez que: Figura 1 - Turma reunida para a atividade atividade com as palavras-cruzadas, na
Fonte: acervo pessoal da professora
qual, com os nomes de brinquedos esco-
[...] a brincadeira facilita o aprendi- Iniciamos a atividade propriamente lhidos, montamos o jogo “Palavras-
zado e ativa a criatividade, ou seja, dita questionando: Quais brinquedos cruzadas Coletivas”. Brito (2010) afir-
contribui diretamente para a constru- vocês têm em casa? Quais desses vocês ma que através do uso dessa brincadeira
ção do conhecimento. Portanto os acham que os pais de vocês tinham? pode-se ampliar significantemente o voca-
professores devem estar atentos para Nesse instante, todos quiseram falar ao bulário e exercitar o domínio ortográfico
essa prática lúdica e aprimorar uma mesmo tempo e foi importante estabele- nas atividades de escrita, permitindo a
contextualização para as brincadei- cer um critério para que cada um tivesse a segmentação das palavras, a identificação
ras. Por meio da observação do brin- oportunidade de se manifestar. As das letras e o reconhecimento de rótulos.
car, os educadores são capazes de respostas foram anotadas pela professora O jogo com as palavras-cruzadas pode
compreender as necessidades de no quadro de giz, tendo ela servido como ser utilizado desde a educação infantil,
cada criança, os seus níveis de desen- escriba nesse momento. pois seu uso pedagógico enriquece o voca-
40
bulário, além de auxiliar na compreensão Para jogar a cruzadinha, as crianças com a palavra que se deseja formar por
das diferentes áreas do conhecimento, foram agrupadas de acordo com seu nível meio da junção das letras soltas é uma
inclusive na visualização matemática. de escrita naquele momento. Cada grupo atividade bastante desafiadora para
Ao criarmos um jogo próprio e custo- escolhido ia ao quadro e formava o nome quem está construindo seu aprendizado.
mizado para a turma, permitimos que os de um brinquedo, utilizando as letras e
alunos se vissem representados pelos obje- colando-as no local correto.
tos e conceitos neles inseridos, valorizan-
do a pertinência dos mesmos para o
grupo. A utilização desse recurso didáti-
co em sala de aula tem por finalidade
desenvolver a atenção, a cooperação, esti-
mular o raciocínio e a análise linguística.
Como referência para o preenchimento Figura 6 – Experimentação no quadro das
cruzadas - Fonte: acervo pessoal da professora
da cruzadinha “Nomes de brinquedos”,
os alunos receberam as imagens dos brin- Figura 4 – Educandos selecionando letras
Fonte: acervo pessoal da professora
quedos numerados e o diagrama com os
espaços para cada letra que deveria ser
utilizada para escrever o nome de cada
objeto. Para que todos pudessem visuali-
zar a cruzadinha, ela foi colada no
quadro.

Figura 7 – Aluna percebe que sua palavra tem


letras a menos - Fonte: acervo pessoal da professora
Figura 5 – Formando sílabas
Fonte: acervo pessoal da professora
Ao perceber, por exemplo, que um
Ao preencher as lacunas com as letras grupo demonstrava dúvidas no momento
que formam determinada palavra e verifi- de formar o nome do brinquedo, os de-
car que sobra algum espaço na cruzada, a mais auxiliavam, fazendo o som das letras
criança entra em conflito e supõe que tem para que o grupo com dúvidas também
algo errado, pois ela sabe que está faltan- avançasse e conseguisse concluir a ativi-
Figura 3 - A cruzadinha preparada para a
do alguma letra da escrita convencional dade com acerto.
atividade - Fonte: acervo pessoal da professora
ou que fez a contagem de letras erronea-
A professora cortou todas as letras que mente.
seriam utilizadas para completar a cruza- Os alunos utilizavam-se do alfabeto
dinha, sem sobras, e as colocou sobre móvel nas suas carteiras para montar as
uma carteira, todas misturadas e próxi- palavras e, ao finalizá-las, aguardavam
mas ao quadro. A intencionalidade aqui para socializar com os colegas.
exposta era a de que, conforme as letras Embora o quadro das palavras-
fossem usadas na composição das pala- cruzadas e os brinquedos fossem os
vras, a criança notasse que elas iam mesmos, notamos que a atividade se Figura 8 – O quadro das cruzadas completo
Fonte: acervo pessoal da professora
acabando e, portanto, que não poderia tornava desafiadora a cada vez que as
haver letras sobrando sobre a mesa ao letras eram novamente embaralhadas. Após, foi realizada a leitura oral da
final do jogo. Fazer a figura conhecida corresponder-se quantidade de letras que formavam o

41
nome de cada brinquedo, da quantidade ção da atividade proposta, que, quando argumentativa sejam preservadas mesmo
de sílabas, do nome do brinquedo que uma equipe auxiliava a outra, fazendo o que seu domínio linguístico do idioma
possuía a maior e a menor quantidade de som das letras e sílabas, possibilitava padrão ainda esteja em processo de aqui-
letras, dos que têm mais vogais e mais avanços significativos no processo da alfa- sição. Aprender as regras gramaticais e
consoantes, do brinquedo maior e do betização. Esses avanços ficaram eviden- de sintaxe é um processo muito mais
menor, e assim por diante. Com isso tes quando o grupo, ao ouvir os sons das simples que construir o pensamento críti-
buscávamos que os alunos percebessem letras, conseguia formar o nome do brin- co e ter uma prática reflexiva sobre a ativi-
que o tamanho do objeto não tem relação quedo corretamente, relacionando a dade.
com a quantidade de letras necessárias língua oral à escrita e, assim, compondo
pra escrever seu nome. Um “boi”, por suas palavras. As crianças têm seu Temos que alfabetizar para dar ao
exemplo, é um animal grande que tem um próprio ritmo de aprendizagem e, por homem do povo sua palavra, para que
nome pequeno, ao passo que um “passa- isso, notamos a importância do trabalho ele possa escrevê-la, para ajudá-lo a
rinho” é um animal pequeno que possui em equipe, de forma que esta envolva não destruir seu discurso em troca de
um nome grande. momentos prazerosos e desafiadores que um discurso escolar estereotipado.
venham a favorecer a construção de novos Também para que escreva de maneira
conhecimentos. ortograficamente correta, mas que
Assim, é interessante e válido o traba- essa ortografia não limite, não
lho com diversos gêneros textuais para destrua, não mate a língua escrita que
que os educandos percebam qual o tipo ele pode produzir. (FERREIRO,
de gênero mais adequado às diversas situ- 1984).
ações comunicativas em que eles estão
envolvidos. Por exemplo, se a pessoa Cabe sempre lembrar que a língua é
Figura 9 – Aluno completa uma das palavras pretende ir ao mercado fazer as compras um organismo em constante evolução,
Fonte: acervo pessoal da professora
semanais, o gênero textual “lista” é o mais com diversas incursões regionalistas que
Com a consolidação da atividade de indicado; se deseja fazer um comentário modificam a entonação da pronúncia das
palavras-cruzadas, coletivamente deu-se sobre o atendimento dispensado aos palavras, da construção de frases e
continuidade à sequência didática e cada clientes nesse mesmo mercado, então o sentenças e mesmo do estilo de comunicar
aluno recebeu uma cruzadinha individual gênero textual “resenha” será mais indi- ideias e fatos.
para completar. A atividade vivenciada cado. Para o processo de alfabetização e
propiciou uma importante reflexão acerca Segundo Emília Ferreiro (1984), o letramento, é importante se valer de
do processo de escrita e leitura, na qual os aluno constrói seu conhecimento inde- recursos como a ludicidade, que permite
educandos puderam trocar experiências e pendentemente da camada social à qual ao educando construir seu conhecimento
auxiliar uns aos outros. pertence; esse processo acontece por meio enquanto brinca, discute e negocia com
do acesso a textos lidos e escritos desde os seus colegas de turma sobre as formas de
primeiros anos de vida, ou seja, tanto completar as atividades propostas pelo
crianças pobres quanto ricas poderão ter educador. O jogo reforça os laços de
nível semelhante de aprendizado desde amizade e de respeito entre os participan-
que tenham recebido idênticas oportuni- tes que disputam as partidas.
dades de contato com a linguagem escri- Outro ponto importante que observa-
ta. O que realmente influencia a constru- mos é que em turmas nas quais há estu-
ção do conhecimento é a variação de dantes em diferentes estágios de apropri-
idade, e nunca a sua condição social. ação da linguagem escrita é muito impor-
Figura 10 - Atividade de consolidação
Concordamos com a reflexão da tante que os grupos de alunos que reali-
individual - Fonte: acervo pessoal da professora
pesquisadora de que é fundamental que a zam as atividades em conjunto sejam o
Pudemos observar, durante a realiza- criticidade do cidadão e sua capacidade mais heterogêneos possível, para que, do
42
convívio com a forma de enfrentamento çou sucesso na realização da sequência
dos desafios propostos ao grupo, tanto didática relatada, aliando elementos lúdi-
alunos com maior domínio da escrita cos a práticas de letramento e fomentando
quanto aqueles com menor domínio nos educandos vontade de aprender a ler
sejam motivados a completar as tarefas. e a escrever as palavras, bem como potên-
Aliás, para os estudantes com menor cia para conseguir alcançar seus objeti-
domínio das estruturas linguísticas e das vos.
correspondências entre grafemas e fone-
mas, participar no mesmo grupo com os
que apresentam maior facilidade de REFERÊNCIAS
aprendizado permite superar o desânimo BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de
Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão
e o medo paralisante de não saber qual o Educacional. Pacto Nacional Pela
próximo passo necessário para dar Alfabetização na Idade Certa. Ludicidade na
sala de aula. Brasília: MEC, SEB, 2012.
sequência à atividade.
BRITO, Carmen Lúcia Romão et al.
Como resultado dessa atividade, sob o Habilidades de letramento após intervenção
fonoaudiológica em crianças do 1º ano do
aspecto do processo de aquisição da alfa- ensino fundamental. In: Revista da Sociedade
betização, verificamos que as crianças Brasileira de Fonoaudiologia, v. 15, n. 1, p.
88-95, 2010.
que estavam no nível silábico com valor
FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana.
sonoro, com ênfase só nas vogais ou só Psicogênese da língua escrita. São Paulo:
nas consoantes, perceberam que era Artmed, 1984.
necessário utilizar mais de uma letra para SOARES, Magda; BATISTA, Antônio Augusto
Gomes. Alfabetização e letramento: caderno
cada sílaba, buscando com isso unificar a do professor. Coleção Alfabetização e
representação do fonema ao grafema. Já Letramento. Belo Horizonte: Ceale/FaE/UFMG,
2005. 64p.
as que escreviam na hipótese silábica sem TASSIGNY, Mônica Mota; ROLIM, Amanda
valor sonoro, notaram a relação dos sons Alencar Machado; GUERRA, Siena Sales
com as letras. Todas as crianças avança- Freitas. Uma leitura de Vygotsky sobre o Em tempo...
brincar na aprendizagem e no desenvolvimento
ram no processo de alfabetização. infantil. In: Revista Humanidades, v. 23, n. 2,
Outras atividades que foram desenvol- p. 176-180, 2008. Nosso “Alex”, assim ele se chamava e
ZAMONER, Angela. Contribuições da Teoria nos provocava a chamá-lo... Foi curto seu
vidas paralelamente, como a confecção de Histórico‐Cultural para o currículo escolar. In: X
brinquedos a partir de sucatas, valoriza- período de vida (43 anos!!!) e curto
ANPED SUL, Florianópolis, out. 2014.
ram a criatividade e a imaginação dos foram seus momentos conosco no
educandos, demonstrando que não é PNAIC/SC. Atuou em 2014 como
necessário comprar brinquedos caros e formador no Polo 2: Joinville e região,
sofisticados para que seja possível diver- representando a área da Matemática.
tir-se com os colegas. Inclusive, a motiva- Márcio Alexandre Siqueira se empe-
ção inicial do projeto foram, justamente, nhou na escrita de artigos e relatos com
os brinquedos do passado, época em que seus colegas. Suas palavras registradas
era muito comum a confecção de “carri- farão parte de nossas reflexões pedagógi-
nhos” com latas cilíndricas, bonecas de cas e, assim, poderão acalentar o coração
pano ou mesmo a substituição destas por daqueles mais próximos que conheceram
um tijolo. A criatividade no momento de a pessoa do “Alex” em outras tantas face-
brincar era o que fazia a diferença para tas. Como não controlamos o fluxo da
que um jogo fosse ou não divertido. vida... ele partiu em fevereiro de 2016,
Compreendemos, desta maneira, que o antes de ver concretizada essa publicação
projeto “Brincar para aprender” alcan- da qual faz parte.

43
PROJETO “COLCHA DE RETALHOS”:
INTEGRANDO ESCOLA E FAMÍLIA NAS AÇÕES DE
Denise Friedrich1
ENSINO Elaine Müller2
Maira Gledi Freitas Kelling Machado3

A Escola Municipal Integral Bela · O que é uma família? numerosas quanto eram antigamente.
Vista está localizada no Bairro Jardim · Quantas famílias podemos ter? Neste momento aconteceu uma discussão
Bela Vista, no Município de Itapiranga – · Por que as famílias são importantes? sobre o porquê de isso estar acontecendo,
Santa Catarina. O projeto “Colcha de · O que as famílias têm a nos oferecer? e algumas conclusões foram encontradas,
Retalhos” foi executado pela professora · Todas as famílias são iguais? como, por exemplo: condições financeiras
Denise Friedrich em uma classe de tercei- para sustentar muitas pessoas; pais preo-
ro ano, com 26 alunos. A intenção de Em seguida foi exposto o tema do cupados em dar estudo aos filhos, os
desenvolver esse projeto partiu da neces- projeto com a contação da história “O quais envolvem mais custos; questões rela-
sidade de ampliar um trabalho coletivo livro da família”, que mostra claramente cionadas às drogas e à violência. Com
incluindo a família no processo de ensino- que as famílias são diferentes, únicas e isso, surgiram diversas opiniões sobre o
aprendizagem, como parceira, colabora- especiais, portanto. Após conhecer a assunto.
dora e estimulando a aprendizagem do história, os alunos tiveram a oportunida- Após essa conversa, foi realizada uma
aluno. As atividades foram realizadas em de de identificar e relatar a qual família leitura coletiva do texto e, individualmen-
abril de 2013. pertencem, e com isso puderam perceber te, cada aluno teve a oportunidade de ler
A família e a escola são duas institui- que cada família, na verdade, possui um parágrafo. Em seguida, foi realizada
ções com importantes responsabilidades diversos estilos diferentes. uma compreensão leitora do texto por
educacionais e de formação do educan- escrito no caderno.
do. Assim sendo, nada melhor que traba- Após essa atividade, foram propostas
lhem juntas para que o processo de situações-problema envolvendo os gastos
formação educacional da criança seja das famílias em supermercados e feita
significativo e eficaz. uma relação entre gastos de famílias
Tendo em vista que a escola é uma numerosas e de famílias menos numero-
instituição formada por “profissionais da sas.
educação”, cabe a ela dar o primeiro Para que a ponte entre família e escola
passo para que essa parceria aconteça realmente acontecesse, foi enviado aos
mais intensamente. É de fundamental pais um convite para que viessem até a
importância que a família participe do escola para estreitar ainda mais essa rela-
mundo escolar da criança, apesar dos ção. Nessa visita foi-lhes proposto falar
seus compromissos profissionais. Essa Figura 1 - O Livro da Família sobre sua família, sua infância, sua profis-
Fonte: acervo pessoal da professora
união é imprescindível, diante da necessi- são, bem como realizar alguma atividade
dade que ambas as instituições têm de se A partir das diferenças dos componen- para envolver a turma. O mais importan-
complementar, formando uma espécie de tes familiares, foram trabalhadas as te era proporcionar uma convivência
colcha de retalhos no processo educacio- noções de conjuntos, em Matemática,
1
nal do aluno. utilizando de elementos da própria histó- Professora Alfabetizadora. Pedagoga, especialista em
Educação Infantil e Séries Iniciais. Professora
O início das atividades se deu a partir ria, bem como de elementos reais das famí- Alfabetizadora efetiva da Rede Pública Municipal de
Itapiranga.
de uma conversa sobre “família”, por lias dos alunos. 2
Orientadora de Estudos. Pedagoga, especialista em
Educação. Professora Alfabetizadora efetiva da Rede
meio dos seguintes questionamentos: Em outro dia, foi feita a relação com as Pública Municipal de Itapiranga.
3
Mestre em Educação, formadora de Linguagem
famílias atuais, que não são mais tão PNAIC/UFSC.

44
entre os integrantes das famílias dos tremi um montão, mas vendo todas aque-
alunos. las crianças e, principalmente, meu filho
Para a surpresa das educadoras, os me olhando encantado, me realizei como
pais realmente se empenharam e colabo- nunca antes.”
raram, fazendo a diferença neste projeto. Durante o período de visitas das famíli-
As visitas foram agendadas com as famíli- as as crianças fizeram um desenho sobre
as e aconteceram ao longo das semanas as temáticas “Minha Família” e minha
subsequentes. “Minha Escola”, nomeando os compo-
Um dos pais, inclusive, mostrou às nentes familiares.
crianças como é seu dia a dia no Batalhão Figura 3 - Visita ao corpo de bombeiros
Fonte: acervo pessoal da professora
de Corpo de Bombeiros, enriquecendo
ainda mais a atividade. - “Quando recebi o convite fiquei
Nesses momentos de partilha, a satisfa- imaginando o que eu poderia apresentar,
ção tanto dos pais quanto dos alunos era eu pensava não ter condições para fazê-
perceptível. A fala de uma das mães, aqui lo. Porém, como não queria deixar meu
transcrita, demostra isso: filho decepcionado, me encorajei, escolhi
um texto e levei para a turma. Nossa,

Figura 4 - Desenho da Família e da Escola feito


por um aluno - Fonte: acervo pessoal da professora

Esse desenho teve como objetivo ver


como cada criança enxerga sua família e
sua escola, sendo a grande chave para a
formação de uma colcha de retalhos.
Cada criança, desta forma, trouxe de casa
um pedaço de retalho que serviu de base
para a colcha e, nos retalhos, foram cola-
dos os desenhos. Em seguida, todos os
pedaços foram reunidos e, assim, nasceu
uma enorme colcha, “A Colcha de
Retalhos”.
As crianças também pesquisaram com
seus pais sobre sua árvore genealógica e
as compartilharam com a turma. Nesta
atividade tivemos alguns problemas quan-
to à paternidade de alguns alunos, tendo
em vista que na certidão constava “pai
desconhecido”. Essas crianças estavam
muito sentidas e foi necessário trabalhar
com elas a noção de que pai também é
aquele que cria e dá amor.
Como última atividade, trabalhou-se
Figura 2 - Atividades desenvolvidas pelos pais na escola
com um poema de Paulo Freire, “A esco-
Fonte: acervo pessoal da professora la”. O poema foi trazido para a realidade

45
BRASIL. Ministério de Educação. Secretaria de
Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão
Educacional. Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa. Planejamento
escolar: alfabetização e ensino da Língua
Portuguesa. Ano 01. Unidade 02. Brasília:
MEC, SEB, 2012.
FREIRE, Paulo. A escola. Poema. Disponível
em:
<http://www.cuidademim.com.br/site/index.php
?option=com_content&view=article&id=125:a-
escola-e&catid=45&Itemid=82>. Acesso em: 20
nov. 2015.
PARR, Todd. O livro da família. 1. ed. São
Paulo: Panda Books, 2003.

Figura 5 - Produção da colcha de retalhos com os desenhos das crianças


Fonte: acervo pessoal da professora

das crianças, culminando com um acrós- Durante todo o desenrolar do projeto


tico de palavras e frases com tudo o que o foi visível a alegria e a satisfação dos
projeto executado ensinou, tendo como alunos por estarem dentro da sala espe-
palavras-chave “família” e “escola”. rando por mais uma visita, por mais uma
Desta forma, é possível afirmar que o atividade lúdica, por mais uma experiên-
trabalho atingiu o objetivo proposto, uma cia decorrente deste projeto, o qual foi
vez que, após o momento de visitação, avaliado pelas educadoras o mais positi-
constatou-se a presença mais frequente vamente possível, uma vez que, além de
dos pais na escola, não somente para a envolver as crianças, envolveu também
retirada do boletim escolar ou quando suas famílias e toda a escola. Isso sim
solicitados pela direção e professores, significa fazer “a ponte”, fazer a diferen-
mas sim participando ativamente do ça.
processo de elaboração do conhecimento
dos alunos. Quando não conseguiam vir
pessoalmente, deixavam um registro
escrito no caderno das crianças, demons- REFERÊNCIAS
trando a importância dada à educação BLOG DA PROFESSORA GEGÊ. Disponível
dos filhos. Percebeu-se também que os em: <http://profgege.blogspot.com.br>. Acesso
em: 20 nov. 2015.
pais sentiram-se valorizados pela impor-
BRASIL. Ministério de Educação. Secretaria de
tância recebida da escola. Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão
Por sua vez, as crianças conseguiram Educacional. Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa. Planejando a
compreender as diferenças existentes nas alfabetização: integrando áreas do
famílias e sentir o quanto é prazeroso ter conhecimento. Projetos Didáticos e Sequências
Didáticas. Ano 01. Unidade 06. Brasília: MEC,
os pais presentes na escola. SEB, 2012.

46
PROJETO “OFICINA DE JOGOS”:
PARTICIPAÇÃO ATIVA DOS FAMILIARES NO PROCESSO
DE APROPRIAÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA DAS Marcio Alexandre Siqueira1
CRIANÇAS Andreia Marise Marques Eger2

O projeto “Oficina de jogos” foi reali- oficina aconteceram no contraturno, uma pelo fracasso escolar do aluno [...], a
zado com 10 alunos de segundo e terceiro vez em cada semestre, com duração de sua contribuição para o desenvolvi-
ano que apresentavam dificuldades de aproximadamente 3h e 30min cada. mento e aprendizagem humana é
aprendizagem, sendo 5 deles do período A ideia desse projeto surgiu ao obser- inegável. Um dos seus papéis princi-
matutino e, os demais, do período vesper- varmos que somente as aulas de reforço pais é a socialização da criança, isto é,
tino. O projeto aconteceu na Escola escolar e a recuperação paralela, em sala sua inclusão no mundo cultural medi-
Municipal Francisco Jablonsky, no e de forma convencional, não eram sufici- ante o ensino da língua materna, dos
Município de Araquari – Santa Catarina, entes para sanar as dificuldades de apren- símbolos e regras de convivência em
tendo sido idealizado pela Alfabetizadora dizagem dos alunos que foram alvo do grupo, englobando a educação geral
e Prof.ª Andreia Marise Marques Eger, programa, pois estes continuavam com e parte da formal, em colaboração
com colaboração e supervisão da Prof.ª baixo rendimento escolar. com a escola. (POLÔNIA;
Alcemira Amara da Cunha, Coor- Sabendo da importância da participa- DESSEN, 2005).
denadora Pedagógica da SEMED ção da família, pensamos em uma alterna-
Araquari e Orientadora de Estudos do tiva que pudesse envolver cada família no Em consonância com as autoras,
PNAIC/SC (2013/14) – Polo 2: região processo de aprendizagem de seus filhos. entendemos que o processo de aquisição
de Joinville e nordeste catarinense. Polônia & Dessen (2005) refletem que: da educação formal possui mais chances
Iniciamos esta estratégia de ensino- de ser bem sucedido se for apoiado e valo-
aprendizagem no ano de 2013, e a re- Apesar de a família ser apontada rizado pelas famílias, sendo fundamental
aproveitamos em 2015. As atividades da como uma das variáveis responsáveis a participação ativa dos pais e responsá-
veis.
Porém, de início, não sabíamos ao
certo o que “inventar” para fazê-los
perceber a importância que tinham na
aprendizagem, no desenvolvimento e no
sucesso escolar de seus filhos.
Refletindo sobre a forma como as aulas
de complementação escolar eram direcio-
nadas a jogos pedagógicos desenvolvidos
pela equipe pedagógica da escola, vimos
que poderíamos desenvolver intervenções
pedagógicas que pudessem trazer as famí-
lias para a situação didática escolar, e que

1
Professor graduado em Licenciatura Plena em
Matemática pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR) e Mestre em Educação Matemática pelo
PPGECM/UFPR. Atuou como Formador em
Matemática do Polo 2 – Joinville e região nordeste
catarinense no PNAIC-2014.
2
Professora da Secretaria Municipal de Educação do
Figura 1 - Pais e alunos produzindo jogos Município de Araquari, SC. Atuou como Alfabetizadora
Fonte: acervo pessoal da professora no PNAIC-2013/14.

47
isso poderia resultar na aprendizagem Ao aluno deve ser dado o direito de como o desenvolvimento da atenção e da
significativa dos alunos, pois “A constru- aprender. Não um aprender mecâni- memória; ou, ainda, sejam eles benefícios
ção de jogos didático-pedagógicos, além co, repetitivo, de fazer sem saber o sociais – aprendizado de convívio, de acei-
de ser uma opção divertida e instrutiva que faz e por que faz. Muito menos tação das vontades dos outros jogadores,
para os alunos entrarem em contato com o um aprender que se esvazia em brin- ora cedendo ora recebendo, exercitando o
objeto de estudo, facilita o trabalho do cadeiras. Mas um aprender significa- respeito ao outro e a si próprio.
educador”, conforme advogam Kahl, tivo do qual o aluno participe racioci-
Lima e Gomes (2007) e que seria um nando, compreendendo, reelaboran-
dos valores a nortear o nosso trabalho. do o saber historicamente produzido
Ainda, pesquisadores como Brainer et e superando, assim, sua visão ingê-
al (2012) lecionam que: nua, fragmentada e parcial da reali-
dade. O material ou o jogo pode ser
As atividades lúdicas possibilitam fundamental para que isto ocorra.
que as crianças reelaborem criativa- Neste sentido, o material mais
mente sentimentos e conhecimentos e adequado, nem sempre, será o visual-
edifiquem novas possibilidades de mente mais bonito e nem o já constru- Figura 2 – Educando e pai realizando atividade
com apoio da professora
interpretação e de representação do ído. Muitas vezes, durante a constru- Fonte: acervo pessoal da professora
real, de acordo com suas necessida- ção de um material o aluno tem a
des, seus desejos e suas paixões. oportunidade de aprender matemáti- Com esse embasamento, portanto,
(BRAINER et al, 2012, p. 6). ca de forma mais efetiva. Em outros convidamos os familiares responsáveis ou
momentos, o mais importante não o representante legal de cada criança para
Assim, entendemos que esse processo será o material, mas sim, a discussão e participar da oficina. Assim, juntos,
de reelaboração do real, que constitui a resolução de uma situação problema crianças e familiares produziram os jogos
formalização da aprendizagem, é um dos ligada ao contexto do aluno, ou que seriam utilizados, de modo a tornar
aspectos centrais da formação escolar. ainda, à discussão e utilização de um mais significativa a utilização desse mate-
Quando trabalhamos o caderno peda- raciocínio mais abstrato. (FIO- rial, bem como propiciar que as crianças
gógico do PNAIC Ano 1 – Unidade 4 – RENTINI; MIORIM, 1990). aprendessem as regras a serem seguidas
“Ludicidade na sala de aula” (BRA- em cada jogo – sempre com o apoio, a
SIL, 2012), no qual a importância do O posicionamento dos referidos auto- supervisão e a interação da professora titu-
lúdico, do brincar e do jogar em sala de res corrobora com nossa visão de que os lar e da auxiliar de cada turma.
aula é enfatizada, concluímos que havía- jogos são instrumentos mediadores, e não Foram realizadas duas oficinas, uma no
mos optado pela escolha apropriada. unicamente objetos de divertimento e primeiro e outra no segundo semestre, com
Na página 7 deste mesmo caderno, há recreação; eles devem ser concebidos com o intuito de reforçar a aprendizagem e de
uma citação de Bittencourt e Ferreira objetivos claros de letramento, de forma a permitir que esses alunos pudessem acom-
(2002) na qual as autoras apontam que conduzir o aprendiz à apropriação da panhar o desenvolvimento dos demais cole-
as atividades com jogos promovem situa- linguagem e da ciência, de maneira lúdica gas de classe.
ções em que as crianças aprendem concei- e criativa. Esperávamos, com a oficina, incentivar
tos, atitudes e desenvolvem habilidades Além disso, numerosos benefícios rela- a produção individual dos educandos e
diversas, integrando aspectos cognitivos, cionados ao desenvolvimento infantil são permitir que, em parceria com seus pares
sociais e físicos. Elas ainda defendem que associados à prática de jogos educativos, (pai, mãe ou representante da família de
seu uso pode motivar o envolvimento sejam eles físicos – aprimoramento da cada aluno), pudessem criar caminhos
genuíno do educando, permitindo a apre- motricidade, da exercitação do sistema para a ação e para a reflexão sobre o estu-
ensão dos conteúdos curriculares. osteomuscular e nervoso, da expressão do, para a leitura e para a escrita e para o
Está muito claro em nossas preocupa- corporal e do equilíbrio; sejam eles cogni- pensamento lógico-matemático. Com a
ções com a didática do ensino que: tivos – desinibição, estímulos intelectuais, participação de todos esses agentes, se
48
reforça a zona de desenvolvimento proxi- entre o texto e a ilustração, jogo das pantes, mas outras configurações
mal do estudante, colaborando para sua operações (adição e subtração), jogo das também são possíveis, ficando a cargo
efetiva aprendizagem. Com base nisso, situações-problema, entre outros. dos jogadores estabelecer as regras,
fomos criando instrumentos, na forma de Alguns desses jogos serão apresenta- como, por exemplo, a quantia inicial
jogos, que respeitassem as dificuldades dos a seguir, com uma breve descrição dos de peças por participante, ou se o
apresentadas por cada criança e as auxili- objetivos que se espera alcançar com cada participante deve passar a vez ou
asse em sua superação. um deles, bem como da forma como são comprar outras peças da mesa em sua
É normal que os indivíduos venham a utilizados: jogada, caso ele não possua peça que
apresentar dificuldades de aprendizagem complete o par figura-palavra.
em alguma fase da vida, e a escolha didá- · Jogo da memória do alfabeto ilustra- · Bingo de palavras: com este jogo espe-
tica apropriada pode facilitar o processo do: com esse jogo espera-se que os ra-se desenvolver a linguagem verbal
de apropriação da linguagem escrita. alunos conheçam as letras do alfabeto dos alunos, bem como seu raciocínio e
e seus nomes, relacionando-as com a sua capacidade de reconhecer as pala-
[...] sabemos que muitas crianças figura correspondente. As peças são vras ditadas, associando-as com as
aparentam dificuldades para domi- embaralhadas com as imagens para figuras presentes na cartela do jogo.
nar o Sistema de Escrita Alfabética baixo e uma criança por vez vira duas
(SEA). O que tem sido identifica- peças, verificando se conseguiu
do como dificuldade individual, formar o par correto.
levando inclusive à reprovação, · Jogo da memória das sílabas simples:
pode ter outras razões, inclusive a com este jogo espera-se que os alunos
adoção de estratégias de ensino que compreendam que as palavras são
não contemplam as necessidades compostas por sílabas, e que identifi-
diversificadas dos estudantes. quem a sílaba como unidade fonológica
(BRAINER et al, 2012, p. 8). e segmentem as palavras em sílabas. As
Figura 3 – Pai e educando preparam juntos um
peças são embaralhadas com a imagem
dos jogos com palavras.
Percebemos, portanto, que a dificulda- para baixo e uma criança por vez vira Fonte: acervo pessoal da professora
de de aprendizagem pode se originar duas peças, verificando se conseguiu
também de uma dificuldade pedagógica, formar o par correspondente. · Quebra-cabeça das palavras: inicial-
o que pode atrapalhar o letramento dos · Dominó das sílabas simples e das difi- mente, cada aluno recebe peças
sujeitos e aliená-los de uma participação culdades ortográficas: o objetivo deste contendo sílabas; com as imagens
crítica na sociedade. Mais do que a assi- jogo é o de que os alunos leiam as pala- voltadas para cima, eles embaralham
milação do SEA, queremos que os vras do dominó, compreendam o que as peças, devendo escolher as peças
educandos possam realizar leituras e leram e identifiquem a figura que com as sílabas corretas para formar as
produções de texto conforme as necessi- corresponde à palavra lida. O aluno palavras ditadas. O objetivo deste
dades oriundas de sua prática social quan- recebe um jogo de dominó com trinta jogo é o de que os alunos compreen-
do esta assim exigir. peças (cada peça contendo uma pala- dam que as palavras são formadas
Com vistas a desenvolver nosso traba- vra e uma figura), as embaralha com a por sílabas e que as sílabas precisam
lho na oficina, então, selecionamos os imagem virada para baixo, e inicia a estar em determinada ordem para
seguintes jogos: jogo da memória do alfa- partida com o representante de sua que formem palavras com sentido.
beto ilustrado, jogo da memória das síla- família, cada um escolhendo aleatori- Ao final do jogo, os alunos precisam
bas simples, dominó das sílabas simples e amente dez peças. Vence a partida o ler as palavras que formaram e inter-
das dificuldades ortográficas, bingo das primeiro que conseguir terminar o pretar o que leram.
palavras, quebra-cabeça das palavras, jogo com as peças que estiverem de · Quebra-cabeça das frases: o objetivo
quebra-cabeça das frases, quebra-cabeça posse. O jogo, nessa configuração, deste jogo é o de que os alunos
das cantigas infantis, jogo da relação pode ser praticado por até três partici- compreendam que as frases são
49
compostas por palavras. Cada aluno bem como da interpretação das palavras,
recebe as palavras embaralhadas e das frases, dos pequenos textos que
deve formar as frases corretamente. compunham as cantigas tradicionais e
Depois, deve ler em voz alta as frases dos problemas matemáticos tornaram a
montadas. Uma variação desse jogo é atividade significativa não apenas para os
quando o próprio educador escolhe e educando, mas também para as famílias,
lê uma frase de sua listagem de frases que tiveram a oportunidade de revisitar o
pré-determinadas. conhecimento ortográfico e semântico,
· Quebra-cabeça das cantigas infantis: Figura 4 – Uma mãe auxilia seu filho a fazer a além de reforçar as relações de afetivida-
com este jogo espera-se que os alunos correspondência das palavras no jogo de e o sentimento de companheirismo e
Fonte: acervo pessoal da professora
formem cantigas infantis já conheci- colaboração.
das e trabalhadas, ordenando as pala- Percebemos que os jogos acima descri- Com esses jogos, portanto, quisemos
vras de forma que a cantiga fique orga- tos possuem muita familiaridade com a oferecer uma diversidade de situações
nizada. Cada aluno recebe um enve- cultura de folguedos de nossa região. que permitissem contemplar qual o refor-
lope com as cantigas recortadas em Jogos como dominó, cartas e bingo, por ço necessário para cada criança, visando
palavras e precisa montá-las. No exemplo, fazem parte da tradição familiar oportunizar o máximo de aprendizado
mesmo envelope está contida também araquariense e também da sociedade possível.
a cantiga completa para que o aluno brasileira de forma geral, e por isso são Foi gratificante e emocionante ver
confira posteriormente. mais facilmente assimilados pelos pais e como os pais e representantes dos alunos
· Jogo da relação entre o texto e a ilus- responsáveis, os quais conseguem se envolveram nas atividades, sendo notá-
tração: neste jogo, cada aluno recebe compartilhar mais facilmente os conheci- vel a motivação e a alegria de cada pai ao
um envelope com diversos pequenos mentos de linguagem e matemática com ver os avanços de seu filho. Cada educan-
textos e suas ilustrações separadas. seus filhos. do, ao término da oficina, levou seus
Espera-se que os alunos leiam os A interatividade entre os jogadores e a jogos para casa a fim de continuar brin-
textos, compreendam o que leram e participação ativa dos familiares no cando e reforçando a aprendizagem.
encontrem a ilustração correspon- processo de aquisição da leitura e escrita, Conquistamos resultados extremante
dente ao texto lido.
· Jogo das operações: nesse jogo os
alunos recebem uma cartela com nove
cálculos e um envelope com os resul-
tados. Espera-se que resolvam as
operações (adição e subtração) e colo-
quem sobre cada operação o resulta-
do correto. Os cálculos são realizados
em uma folha à parte e com o auxílio
de material concreto (palitos de pico-
lé).
· Jogo dos problemas: neste jogo, os
alunos recebem uma folha com vários
problemas e outra com os resultados.
Espera-se que interpretem os proble-
mas, encontrem a solução por meio
de cálculos e relacionem o problema
com o resultado correto. Figura 5 – Visão geral do espaço da oficina, realizada na biblioteca da escola
Fonte: acervo pessoal da professora

50
positivos relacionados ao letramento dos FIORENTINI, Dario; MIORIM, Maria A. Uma
reflexão sobre o uso de materiais concretos e
estudantes. O envolvimento destes na jogos no Ensino da Matemática. In: Boletim da
prática social da negociação, aqui repre- SBEM-SP, v. 4, n. 7, 1990.

sentada pelas regras dos jogos e a interati- KAHL, Karoline; LIMA, Maria Elza de Oliveira;
GOMES, Izabel. Alfabetização: construindo
vidade com seus entes familiares, por alternativas com jogos pedagógicos. In:
Extensio: Revista Eletrônica de Extensão da
quem nutrem apreço emocional, bem UFSC, v. 4, n. 5, 2007.
como o apoio psicológico destes fez com POLONIA, Ana da Costa; DESSEN, Maria
que educandos que estavam em um nível Auxiliadora. Em busca de uma compreensão
das relações entre família e escola. In:
de alfabetização pré-silábico conseguis- Psicologia Escolar e Educacional, v. 9, n. 2,
sem chegar ao nível alfabético ao final do p. 303-312,

ano letivo; alunos que não conseguiam


relacionar quantidades com numerais
passaram a realizar cálculos simples; e,
além disso, houve um avanço psicológico
e emocional, pois estas crianças se senti-
ram incluídas, amadas e assistidas,
melhorando muito a autoestima e a auto-
confiança de cada uma delas.
Por meio da atividade relatada, conse-
guimos aproximar a família da escola,
fazendo com que os familiares percebes-
sem a enorme importância que têm no
desenvolvimento e na aprendizagem de
seus filhos, fortalecendo os laços entre a
família, o educando e a escola – uma recei-
ta de parceria que comprovadamente deu
certo. Isso tudo sem mencionar a impor-
tância de articular a teoria com a prática
no âmbito educacional, levando o estu-
dante a apreender os conhecimentos histo-
ricamente construídos durante o desenvol-
vimento de cada jogo.

REFERÊNCIAS
BRAINER, Margareth et al. Que brincadeira é
essa? E a alfabetização? In: BRASIL. Ministério
da Educação. Secretaria de Educação Básica.
Diretoria de Apoio à Gestão Educacional
Secretaria de Educação Básica. Pacto
Nacional Pela Alfabetização Na Idade Certa.
Ludicidade na sala de aula. Ano 01. Unidade
04. Brasília: MEC, SEB, 2012. 47p.
BRAINER, Margareth et al. Ser cuidado, brincar
e aprender: direitos de todas as crianças. In:
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de
Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão
Educacional Secretaria de Educação Básica.
Pacto Nacional Pela Alfabetização Na Idade
Certa. Ludicidade na sala de aula. Ano 01.
Unidade 04. Brasília: MEC, SEB, 2012. 47p.

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DE ONDE VEM O QUE COMEMOS?
Vanessa Melo1
Débora Medeiros Barroso2
Flávia Eberhardt3
Carla Peres Souza4

O trabalho aqui relatado é resultado de de bolo!”, de Elza Calixto e Sílvia Solicitamos que as crianças listassem
um projeto didático desenvolvido no ano Calixto, para iniciar o projeto. A intenci- no quadro os alimentos que mais gostam
de 2013 com uma turma de primeiro ano onalidade foi despertar nas crianças a de comer no café da manhã, no almoço e
do Ensino Fundamental, constituída por curiosidade sobre os processos pelos no jantar.
23 crianças com idades entre 6 e 7 anos, quais passam os ingredientes, desde a
na Escola Clotilde Ramos Chaves. matéria prima até o consumidor. A explo-
A problemática que suscitou o projeto ração do livro começou com uma conver-
foi a seguinte: “De onde vêm os alimentos sa sobre capa, autoria e ilustrador. Em
que consumimos em nossa casa?”, e teve seguida, observamos melhor a imagem do
como objetivo central despertar nas crian- bolo de chocolate da capa e conversamos
ças o senso crítico, provocando questio- sobre quais ingredientes seriam necessári-
namentos e reflexões sobre os processos e os para fazer aquele bolo.
os meios necessários para que um produ-
to final chegue até nós.
Desta forma, utilizamos uma perspec- Figura 3 – Registro feito pelas crianças
Fonte: acervo pessoal da professora
tiva interdisciplinar, articulando conheci-
mentos dos diferentes componentes curri- Em seguida, com essas informações,
culares previstos para o primeiro ano do construímos coletivamente um gráfico de
Ensino Fundamental. barras no qual foram apresentados os
alimentos preferidos de todos.
Realizamos a leitura do gráfico em
conjunto e, assim, os educandos puderam
Figura 2 – Nomes de alimentos ingeridos no verificar como era possível interpretar
café da manhã e no almoço
Fonte: acervo pessoal da professora
esse recurso de representação.
Feito isso, realizamos a leitura da obra
As reflexões e as discussões com as e, a partir da receita de bolo apresentada
crianças abordaram os ingredientes no livro, as crianças foram convidadas a
necessários para a produção do bolo, preparar um bolo e a participar de diver-
levando em conta de onde eles vêm e sas situações de leitura, escrita, escuta e
como são produzidos. Muitas foram as 1
Professora Alfabetizadora. Pedagoga, especialista em
Orientação e Supervisão e em Educação Infantil e
hipóteses levantadas, uma vez que a maio- Séries Iniciais. Professora da Rede Municipal de
Ensino de Camboriú, SC.
ria das crianças já havia visto familiares 2
Orientadora de Estudos. Pedagoga, especialista em
preparando alguma receita de bolo de Supervisão e Metodologia de Ensino. Supervisora
Escolar da Secretaria Municipal de Educação de
Figura 1 – Foto da capa do livro utilizado chocolate, trazendo suas vivências como Camboriú, SC
3
Fonte: acervo pessoal da professora Orientadora de Estudos. Pedagoga, especialista em
referencial para as argumentações. Educação Infantil e Séries Iniciais. Professora da Rede
Municipal de Ensino de Camboriú, SC.
A partir da presunção de que a maioria Antes da leitura da obra, propusemos 4
Formadora. Licenciada em Matemática, especialista
em Educação Inclusiva e Mestre em Educação
das crianças gosta de bolo de chocolate, uma pesquisa na própria turma, a fim de Científica e Tecnológica. Professora dos cursos de
Pedagogia da Universidade do Estado de Santa
escolhemos a obra literária “Que delícia levantar algumas informações. Catarina (CEAD-FAED/UDESC).

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produção oral, além da resolução de Herik: O leite vem da vaca; o óleo da a aula de informática, continuamos o
problemas envolvendo conceitos matemá- fazenda; o Nescau não sei, mas acho assunto na sala de aula e logo surgiu uma
ticos. que é do chocolate. discussão a partir da vivência de uma das
Eduardo: O ovo vem da galinha; o crianças, vejamos:
açúcar vem da cana. Professora, o meu vô tem uma vaca, e
Ana Clara: O fermento vem da fábri- ele tira leite todos os dias para fazer quei-
ca. jo. Estou com uma dúvida, porque o leite
que ele tira da vaca não precisa ir naquela
máquina que a gente assistiu lá no vídeo?
A partir desse questionamento, expli-
camos que, em casa, o leite retirado da
vaca deve ser fervido para que as bactéri-
Figura 4 – Livro aberto em uma das páginas
lidas - Fonte: acervo pessoal da professora as sejam eliminadas, e que isso é bem pare-
cido com o que acontece nas máquinas
A partir do delicioso bolo de chocolate durante o processo observado no vídeo.
preparado pela turma, com ingredientes Ainda, retomamos a conversa sobre a higi-
trazidos pelos alunos, foi possível explorar ene dos alimentos e a importância de
a importância de se tomar cuidados com a observar o tempo de conservação.
Figura 6 – Conversando sobre a receita
higiene ao manusear os alimentos. Fonte: acervo pessoal da professora
Algumas das crianças inclusive usaram
luvas e toucas durante a execução da recei- A etapa seguinte do projeto foi uma
ta. O restante da turma ficou observando pesquisa realizada pelas crianças num
em uma grande roda, onde também discu- supermercado próximo à sua casa. A tare-
tiam a origem dos ingredientes. fa foi verificar o preço dos ingredientes
usados no bolo. A partir das informações
trazidas, trabalhamos com o sistema
monetário com a ajuda de problemas que
envolveram o raciocínio aditivo (adições e
subtrações).
Na continuidade do projeto, retoma-
mos a pergunta que explorava a origem de
cada um dos alimentos. Várias pesquisas Figura 7 – Capa do livro utilizado
Fonte: acervo pessoal da professora
foram realizadas pelas crianças para a
verificação dessas origens. Nesses Em seguida, teve início a reflexão sobre
momentos, contamos com o auxílio de a origem do OVO, a partir da seguinte
Figura 5 – Fazendo o bolo outros profissionais da escola (professora pergunta: “De onde vem o ovo que colo-
Fonte: acervo pessoal da professora
da sala de informática, professora da camos no bolo?” Todos responderam em
Esse momento foi explorado de diver- biblioteca, professor de Ciências dos anos coro: “da galinha!”.
sas maneiras: conversamos sobre o gêne- finais). Assim, iniciamos o trabalho sobre a
ro textual receita, analisamos informa- O primeiro ingrediente pesquisado e origem do ovo e sobre o processo pelo
ções contidas na receita, e as crianças infe- explorado pelos alunos foi o LEITE. A qual ele passa até chegar à nossa casa.
riram acerca da origem dos ingredientes. professora de informática transmitiu um Para introduzir a discussão, realizamos a
Durante a preparação da receita, surgi- vídeo da Internet sobre a origem do leite, leitura da obra “O ovo”, de Milton Délio
ram algumas falas das crianças: mostrando todo o processo pelo qual ele de Oliveira Filho, ilustrado por Alexan-
passa até chegar à nossa mesa. Logo após dre Alves e Ronaldo Lopes.

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final da aula, foi feito o sorteio da codor- estudantes seja trazido e coletado todo
na. mês.
Para encerrar o trabalho sobre o ovo, Posteriormente, confeccionamos um
trabalhamos com a parlenda “A galinha cartaz sobre a origem dos alimentos: vege-
do vizinho”, do livro didático de Língua tal, mineral e animal, retomando o que
Portuguesa que estava sendo utilizado vinha sendo discutido e acrescentando
pelos alunos. novos conhecimentos. O avanço das
O ingrediente explorado em seguida discussões, reflexões e nas produções
foi o ÓLEO, e a pergunta feita ao grupo escritas das crianças eram evidentes.
Figura 8 – Observando uma codorna foi: “De onde vem o óleo vegetal?”. O ingrediente foco do estudo passou a
Fonte: acervo pessoal da professora
Nesse momento contamos com o auxílio ser, então, o AÇÚCAR. Iniciamos as
Após a leitura da obra, realizamos uma da professora da biblioteca, que realizou discussões a partir do questionamento:
atividade sobre os alimentos de origem uma contação de histórias; falou sobre o “De onde vem o açúcar que usamos no
animal, e as crianças pesquisaram sobre o óleo de cozinha, sobre seu uso moderado bolo?”.
assunto. Logo após, assistiram a um e sobre a importância de sua reciclagem, A maioria das crianças já sabia que o
vídeo disponibilizado pela TV Escola na uma vez que é um grande poluente e pode açúcar vem da cana-de-açúcar. A partir
Internet, “De onde vem o ovo?”. ser utilizado na produção de sabão, dessa resposta, explicamos que a cana é
No momento seguinte, levamos para a cosméticos, tintas e outros produtos. uma planta de tronco comprido, fino e
sala de aula uma codorna, apresentando- Ela explicou às crianças que um litro de macio, e que é do suco desse tronco que é
a aos educandos como um dos animais óleo polui um milhão de litros d'água. feito o açúcar, o qual, para chegar até a
que colocam ovos. As crianças ficaram Para uma melhor aprendizagem, realizou nossa casa, passa por alguns processos: a
encantadas com a presença do animal. O uma experiência bem simples com as cana-de-açúcar é colhida; depois é moída
entusiasmo do grupo era evidente, todos crianças, na qual molhou um pedaço de e torna-se garapa; depois de fervida, a
queriam saber tudo sobre ela. Assim, papel e colocou um pingo de óleo, que garapa vira açúcar.
anunciamos que uma das crianças pode- rapidamente se espalhou por ele. As atividades e discussões que se segui-
ria levar a codorna para casa. A euforia ram abordaram alimentos que contêm
foi geral. açúcar. Trabalhamos com uma lista de
palavras (nomes desses alimentos) a
partir das quais as crianças realizaram
separação de sílabas e elaboraram frases.
O ingrediente CHOCOLATE foi
explorado em seguida. Perguntamos:
Figura 10 – Recolhimento de óleo de cozinha “De onde vem o chocolate?”, e apresenta-
Fonte: acervo pessoal da professora
mos às crianças a origem desse ingredien-
A professora da biblioteca também te, explicando o que é o cacau e quais as
distribuiu panfletos educativos sobre a variações que ele pode ter. Falamos
Figura 9 – Desenho feito por uma das crianças reciclagem do óleo a fim de que as crian- também do tipo de chocolate que se usa
Fonte: acervo pessoal da professora
ças entregassem aos pais, informando para fazer bolo, o chocolate em pó.
Para definir quem levaria a cordorna, que, em nosso município, existe um traba- Explicamos todo o processo pelo qual
propusemos uma atividade na qual as lho realizado pela Secretaria do Meio esse ingrediente passa até chegar à nossa
crianças teriam de desenhar a codorna, Ambiente para recolhimento do óleo já casa: como é feita a colheita do cacau, a
dar um nome a ela e escrever um argu- utilizado. Esse trabalho é feito em parce- secagem das sementes, a torrefação, o
mento indicando o porquê deveriam ria com as escolas, onde são instalados processo de trituração e peneiração.
ganhá-la. Em seguida, gravamos alguns tonéis com o objetivo de que todo óleo Problematizamos também sobre o
vídeos sobre o trabalho realizado e, ao consumido em cada escola e na casa dos momento no qual o chocolate vai para
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uma máquina a fim de receber uma emba- guidade. Sempre foi um importante aula diferente com a turma.
lagem. Para finalizar, realizamos a leitura alimento e é utilizado em comidas como O professor iniciou conversando com
do livro de Ana Maria Machado: macarrão e pão. as crianças sobre o bolo que havíamos
“Balas, Bombons e Caramelos”. Em seguida, realizamos uma atividade feito, depois falou do fermento e do
na qual os alunos selecionaram figuras de processo pelo qual ele passa até chegar à
alimentos de origem animal, vegetal e nossa casa.
mineral para a elaboração de um cartaz.
Trabalhamos com escrita de frases a
partir dessas figuras, fazendo também a
separação de sílabas e uma produção
textual.

Figura 14 – Conversa com professor de Ciências


Figura 11 – Foto da capa do livro utilizado Fonte: acervo pessoal da professora
Fonte: acervo pessoal da professora

Feito isso, era a vez de conversar sobre Para que as crianças compreendessem
o TRIGO. “De onde vem a farinha de o processo de fermentação, o professor
trigo?”, questionamos. As crianças então realizou uma experiência na sala de aula.
responderam: “da fazenda”. Usou uma garrafinha de água vazia, três
colheres de fermento, água e um balão.
Misturou o fermento e a água dentro da
garrafa, mexeu bastante e colocou o balão
Figura 13 – Produção textual na boca da garrafa e o balão começou a
Fonte: acervo pessoal da professora
encher, revelando que o processo de
Ao estudar sobre todos esses ingredi- fermentação é uma reação química que
entes do bolo e partindo das discussões e faz crescer.
conhecimentos prévios das crianças, deci- As crianças ficaram muito atentas
dimos trabalhar com o poema “Origem durante toda a aula, encantadas com mais
dos Alimentos”. A partir dele, então, essa vivência. Um dos alunos falou: Isso é
trabalhamos com diversas atividades, ciência!
entre as quais ditado de palavras, escrita
de frases, separação de sílabas, produção
textual e interpretação e texto, conforme
já mencionado.
Figura 12 – Cartaz elaborado
Fonte: acervo pessoal da professora Um dos ingredientes, no entanto,
A partir da resposta delas e de outras ainda não tinha sido trabalhado: o
reflexões das crianças, explicamos que o FERMENTO. Para falar sobre ele,
trigo é um cereal que faz parte da história contamos com o auxílio do professor de Figura 15 – Bilhete para os pais feito por uma
da humanidade desde os tempos da anti- Ciências da escola, que preparou uma das crianças - Fonte: acervo pessoal da professora

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Para finalizar o projeto, que foi um e surpreenderam a professora com os O trabalho desenvolvido foi riquíssi-
sucesso, as crianças produziram um questionamentos e também com a apren- mo! As crianças assumiram o protagonis-
bilhete para os pais pedindo para ir à casa dizagem que obtiveram. Tudo foi obser- mo e a professora mediou de forma
da professora Vanessa a fim de assistir a vado e vivenciado com interesse e entusi- adequada, explorando as contribuições
um filme e tomar café da manhã. A asmo pelos educandos durante a explora- das crianças e oferecendo vivências signi-
função social da escrita se fez presente a ção e a execução do projeto. Foi realmen- ficativas que direcionaram para os objeti-
todo o momento. te gratificante ver todo o empenho recom- vos propostos.
pensado por meio do aprendizado dos Com o projeto, os educandos passaram
pequenos estudantes do primeiro ano do a compreender que tudo que chega na
Ciclo de Alfabetização. mesa passa por um processo de beneficia-
mento. Além disso, a forma como o proje-
Considerações Finais to foi encaminhado revelou que as diver-
O relato revela a preocupação em sas áreas do conhecimento estão articula-
desenvolver com as crianças um projeto das para compreensão de situações do dia
que seja significativo para elas, buscando, a dia.
de forma interdisciplinar, despertar seu O contexto significativo e motivador
senso crítico, sua iniciativa para questio- que se estabeleceu permitiu diversas
namentos e reflexões acerca da origem produções por parte das crianças, tendo
dos produtos que são encontrados no coti- sido fundamental no Ciclo de Al-
Figura 16 – Café da manhã na casa da
diano e dos processos aos quais são fabetização, pois deu sentido àquilo que
professora - Fonte: acervo pessoal da professora
submetidos. foi trabalhado.
Durante essa visita, assistimos ao filme O tema do projeto foram os alimentos.
“A fuga das galinhas” e tomamos um deli- Ao propor uma discussão a partir da re-
cioso café da manhã com alimentos sobre ceita do bolo de chocolate, as crianças
os quais havíamos conversado durante a puderam opinar e participar ativamente,
execução do projeto. Foi um momento uma vez que já haviam vivenciado em REFERÊNCIAS
maravilhoso para todos nós! casa a preparação desse alimento. A FUGA das galinhas. Filme. Direção de Peter
Lord e Nick Park. Bristol/Inglaterra: Aardman
As obras literárias utilizadas ao longo Animations, 2000.
do processo agregaram informações e BORGATTO, Ana Maria Trinconi; BERTIN,
enriqueceram a proposta, dando subsídi- Terezinha; MARCHEZI, Vera. Ápis: letramento
e alfabetização. São Paulo: Ática, 2011.
os à oralidade das crianças e às suas
CALIXTO, Elza; CALIXTO, Silvia. Que delícia
produções escritas. Em todos os momen- de bolo! Belo Horizonte: Dimensão, 2011.
tos foram realizadas discussões e refle- MACHADO, Ana Maria. Balas, bombons,
xões com o grupo, levando as crianças a caramelos. Ilustrações de Elisabeth Teixeira.
São Paulo: Editora Altea, 2011.
argumentarem e a contribuírem com o OLIVEIRA FILHO, Milton Célio de. O ovo.
coletivo. Foram exploradas várias formas Ilustrações de Alexandre Alves e Ronaldo
Lopes. São Paulo: Globo, 2010.
de comunicação e de representação das
RIO DE JANEIRO. Prefeitura da Cidade do Rio
diversas opiniões, além de pesquisas de Janeiro. Secretaria Municipal de Educação.
Figura 17 – produção textual
Fonte: acervo pessoal da professora
realizadas no grupo e pelo grupo. Subsecretaria de Ensino. Coordenadoria de
Educação. Ciências 5° Ano. De onde vêm os
Recursos como quadros, gráficos, carta- alimentos? Poema. Rio de Janeiro: 2013.
Ao término do projeto, as crianças rela- zes, desenhos, textos, poemas, receitas, Disponível em:
<http://pt.slideshare.net/JaneteGuedes/c5-
taram, por meio da escrita, qual havia bilhetes, parlendas, pesquisas de preços, 2bim-2013aluno-1>. Acesso em: 20 nov. 2015.
sido sua parte preferida. problemas matemáticos, experimenta- TV PINGUIN. De onde vem. Episódio 13. De
onde vem o ovo? Vídeo. Disponível em:
As atividades foram um sucesso, as ções, vídeos da internet e filmes também <https://www.youtube.com/watch?v=xaNLpqz8
crianças demonstraram bastante interesse fizeram parte da proposta. Mjg>. Acesso em: 20 nov. 2015.

56
QUAL É A COR DO AMOR?
Rozeli Honse Bortolanza1
Salete Brambila Cibulski2
Maira Gledi Freitas Kelling Machado3

O Centro Educacional Vereador floresta. A narrativa ilustra que a cor do Após a finalização do painel, aconte-
Raymundo Vei está situado no bairro amor é cada um que escolhe, pois o amor ceu um momento de observação e refle-
Progresso, no Município de Maravilha – está em todas as cores. Assim, é preciso xão sobre ele. No entanto, a pergunta
Santa Catarina. Todo ano a escola amar a todas as pessoas, sem discriminar ainda estava sem resposta: qual era a cor
promove um projeto que envolva toda a cor, etnia ou religião, pois nenhuma do amor?
comunidade escolar e, em 2014, a temá- pessoa é igual a outra; não há repetição, Para que ocorresse uma compreensão
tica escolhida foi Cidade das Crianças: nem monotonia: uma completa a outra; acerca da diversidade pessoal, cultural e
Compartilhando conhecimento na diversi- uma apoia a outra, formando assim a social, escolheu-se realizar uma leitura
dade pessoal, cultural e social. humanidade. diária a partir dos livros da coleção “Sen-
O projeto se desenvolveu tendo como Com o grupo sentando em círculo, foi timentos”, proporcionando reflexão
objetivo plantar uma sementinha de sendo contada a história do elefantinho sobre alguns sentimentos presentes na
bondade no coração de cada criança e de que sai pela floresta perguntando a todos vida, como: medo, alegria, tristeza, soli-
cada família, considerando o “dar sem os seus amiguinhos qual é a cor do amor. dão, ansiedade, saudade, raiva, ciúme,
esperar nada em troca”. Neste contexto, Durante esta atividade, algumas questões vergonha e amor.
o segundo ano do Ensino Fundamental, foram feitas às crianças, como, por exem- Após a leitura diária de cada livro,
turno vespertino, com 22 alunos, desen- plo: “O que vocês achavam?” e “Qual então, as educadoras conversaram sobre
volveu o subprojeto Qual é a Cor do cor seria a cor do amor?”. Ao serem ques- esses sentimentos relacionando-os aos
Amor?. tionados, os alunos foram colocando sua comportamentos das pessoas, principal-
opinião, alguns concordando sobre as mente os que se manifestam em casa, na
cores apresentadas e, outros, não. Ao presença de pais e irmãos, e na escola,
final da história, quando o elefantinho com os amiguinhos. Para expressar como
percebe que todas as cores são responsá- estavam se sentindo, todas as crianças
veis pelo amor que se encontra dentro de confeccionaram carinhas ilustrando o
si, conversou-se um pouco sobre o que sentimento, as quais foram dispostas num
cada um achou da história, e as crianças cartaz para que cada um demonstrasse
apresentaram suas interpretações iniciais. diariamente como estava se sentindo.
Conforme a história foi sendo contada, Como a intenção do projeto era envol-
ia sendo montado um painel no qual as ver também as famílias dos alunos, foi
crianças foram colando os animais. organizada uma sacola literária. Nessa
sacola, que foi levada para casa, havia um
livro de literatura infantil que deveria ser

Figura 1 – Foto da capa do livro utilizado


Fonte: acervo pessoal da professora
1
Professora Alfabetizadora. Pedagoga, especialista em
Psicopedagogia Institucional e Clínica e professora da
O ponto de partida foi a história de um Rede Pública Municipal de Maravilha.
2
Orientadora de Estudos. Pedagoga, especialista em
elefantinho que estava curioso para saber Educação Infantil e Séries Iniciais e professora
Alfabetizadora efetiva da Rede Pública Municipal de
qual era a cor do amor e, insatisfeito, saiu Maravilha.
Figura 2 – Painel montado na sala de aula 3
Formadora. Mestre em Educação, formadora de
para perguntar a todos os animais da Fonte: acervo pessoal da professora Linguagem.

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lido com as crianças e um caderno, para Ao longo do desenvolvimento do Nesse livro de receitas do amor foram
registro desse evento familiar. projeto, outras atividades relacionadas à colocadas todas as receitas que os pais
temática também foram trabalhadas, tais mais fazem em casa e que têm relação
como o levantamento entre as famílias de com a história trabalhada. Quando todas
quais receitas são feitas com amor, resul- as receitas estavam na escola, cada crian-
tando na confecção de um livro de recei- ça coloriu e desenhou em sua receita usan-
tas. do a criatividade.
Para ensinar colaboração, participação
e cooperação às crianças, solicitou-se que
cada uma delas trouxesse uma fruta para
a sala, com as quais se fez uma salada de
frutas. Essa receita também foi incluída
Figura 3 – Sacola literária no livro de receitas. Todas as crianças
Fonte: acervo pessoal da professora
ajudaram a desenvolver a receita e cele-
Foi explicado às crianças que a sacola braram a partilha do alimento que, na
teria como personagens principais coletividade, se tornou farto.
Romeu e Julieta, cuja história de amor e Atividades para sistematização do códi-
Figura 4 – Frutas para a salada
ódio entre suas famílias era conhecida por Fonte: acervo pessoal da professora go escrito também fizeram parte do traba-
todos. lho por meio de palavras, frases e textos
Também foi explicado aos alunos que a relacionados ao tema e que despertaram a
sacola iria para suas casas e que ficaria curiosidade das crianças. Também foram
por lá durante dois dias, ao que voltaria exploradas situações-problema relaciona-
para escola a fim de ser encaminhada das ao preço dos alimentos para a receita,
para outra casa. além do hábito de uma alimentação
A família que recebia a sacola também saudável e dos animais envolvidos na
recebia orientações sobre a tarefa que história.
deveria realizar: cada família deveria
fazer a leitura do livro “Qual é a cor do
amor?” e, após a leitura, deveria dialogar
com seus filhos sobre a história e relatar
no caderno, respondendo aos questiona- Figura 5 – Livro de receitas
Fonte: acervo pessoal da professora
mentos lá contidos:

- Quem participou da leitura da história?


- Como foi a experiência de compartilhar com a família o momento de
união durante a leitura?
- Escreva o que acharam desta atividade e se por meio dela é possível
resgatar valores.
- Relate este momento especial de forma criativa (pode ser em forma de
poema, paródia, slogan, receita etc. – da maneira que a família achar
interessante).
- Após o relato, juntamente com a família, o aluno deverá desenhar o
significado da cor do amor.
Quadro 1 – Questionário para as famílias Figura 6 – Relato de uma das famílias
Fonte: acervo pessoal da professora Fonte: acervo pessoal da professora

58
À medida que a sacola voltava para a toda a parte. O amor está no coração. nha de bondade no coração de cada
escola, as educadoras conversavam com O amor acalma o coração, proporcio- criança e de cada família. É dar sem espe-
as crianças sobre a importância de respei- na paz de espírito, resolve todos os rar receber nada em troca.
tar os colegas de classe. Nessas etapas de problemas. Simples assim.
aula foram observadas as respostas das
famílias e foi verificado que as crianças Por meio do desenvolvimento deste
conseguiram compreender o conceito de trabalho, foi possível semear em cada
REFERÊNCIAS
respeito, e entenderam qual é a cor do família a importância do verdadeiro
STRACHAN, L. Qual é a cor do amor? São
amor. amor, por meio de um momento especial Paulo: Brinque-Book. 2007.
Também foi motivo de conversa com as do qual todos participaram lendo a histó-
crianças em sala de aula as atitudes de ria, relatando no caderno e desenhando
desrespeito entre elas, por exemplo: falar qual é a cor do amor para a família. Foi
mal dos amigos, bater, ofender com apeli- um momento no qual cada família pôde
dos por conta de características pessoais: sentar com sua criança para ler a história
ser magro, ser gordo, usar óculos, ser e para relatar o que juntos sentiram e
branco, ser negro etc. Ainda, novamente refletiram sobre a importância do verda-
a turma sentou em círculo para, conjunta- deiro amor.
mente, realizar a leitura dos relatos que Trabalhar com esse tema foi de suma
cada família escreveu, pois os alunos esta- importância, porque o objetivo foi envol-
vam curiosos para saber o que as famílias ver as famílias e as crianças, uma vez que,
dos colegas comentaram sobre “Qual é a hoje em dia, os pais não têm tempo para
cor do amor?”. sentar e ler histórias para elas. Por meio
As educadoras ficaram muito felizes deste trabalho, portanto, foi possível
em ler os depoimentos deixados pelas fazer com que cada família parasse um
famílias, os quais foram maravilhosos e pouco para desfrutar de um momento
emocionantes. com seus filhos e refletir sobre o que é este
A seguir, alguns dos relatos deixados sentimento chamado amor.
no caderno de registro das famílias: As educadoras finalizaram este traba-
lho com a certeza de terem sido o pedaci-
Esta atividade foi de suma importân- nho de um grande conjunto, no qual
cia, pois é um excelente trabalho; faz todos estão unidos à procura de amor, de
sim um resgate, faz sim com que as união e de fraternidade, em uma socieda-
crianças reflitam juntamente com seus de que pensa diferente, sente diferente e
familiares sobre a importância do age diferente. Aí reside a grande riqueza
amor em família, do amor ao próximo, da diversidade, das identidades, dos valo-
ao desconhecido, do amor à natureza, res. Todos podem ser diferentes e ao
ao meio ambiente, enfim, do amor ao mesmo tempo construir algo com o
mundo e à vida. mesmo objetivo, fazendo parte da teia da
Chegamos à conclusão que a cor do vida. Cada pessoa é aquilo que vive; cada
amor pode ser todas as coisas boas da um é um pedacinho da vida de sua famí-
vida, como o nascimento de nossos lia, das pessoas que estão à sua volta.
filhos, e também pode estar em todos A cor do amor, desta forma, pode ser o
os lugares, como num sorriso inocente que cada um desejar, ela depende do
de uma criança. valor que as pessoas atribuem às coisas e
O amor é todas as cores, ele está em às pessoas. O amor é como uma sementi-
59
A VALORIZAÇÃO DA LEITURA:
ULTRAPASSANDO OS MUROS DA ESCOLA
Cristiane Aparecida Pereira1
Regina Maria da Silva Delduque2

A atividade foi realizada com 10 famílias e que seria produzido coleti- interações orais em sala de aula, questio-
alunos da turma de 1º ano do Centro vamente. nando, sugerindo, argumentando e
Educacional Municipal Giovania de · Data, hora, agendamento das casas, respeitando os turnos de fala, sendo este
Almeida – Balneário Camboriú. A ativi- tudo seria elaborado e combinado um direito de aprendizagem do eixo orali-
dade relatada é parte integrante do proje- antecipadamente. dade que deve ser introduzido e aprofun-
to: “Ler para entender o que as palavras · Visitaríamos a biblioteca escolar para dado no 1º ano.
tem a dizer”, realizado durante um a escolha dos livros que seriam lidos. Após a escritura do bilhete, visitamos
semestre. Nesse projeto, foram trabalha- · No laboratório de informática pesqui- nossa biblioteca e realizamos a escolha de
dos diversos gêneros textuais, a exemplo saríamos os autores dos livros, traba- alguns livros.
do bilhete, da receita, do panfleto, da lhando assim o gênero biografia.
entrevista, dentre outros. · Como a leitura das crianças ainda não
A Leitura é um dos Eixos que estava fluente, resolveram contar as
compõem os Direitos de Aprendizagem histórias que criaram, e então no labo-
no Ciclo de Alfabetização e deve ser traba- ratório de informática escolheriam as
lhada em todos os anos de escolaridade, imagens para as histórias em sequên-
porém é importante que a criança perceba cia que iriam contar.
a leitura como ato prazeroso e necessário. · Uma aluna deu a sugestão de confec-
Sua função além do ler por prazer, serve cionarmos um cartão como lembran-
para estudar, para informar, para seguir cinha para cada casa visitada.
instruções, para revisar o que escrevemos. · Outra aluna sugeriu que cantássemos Figura 2 – Alunos do 1º ano escolhendo livros
na biblioteca
Porém, quando se pensa em leitura, é uma música de despedida, a música Fonte: Relato de experiência – Professora Cristiane Ap. Pereira.
quase automático remeter-se ao ambiente “Fico assim sem você” de Adriana Balneário Camboriú – SC, 2013

da sala de aula ou da biblioteca escolar, Calcanhoto, foi escolhida e ensaiada.


No laboratório de informática, pesqui-
talvez a uma roda de leitura ao ar livre.
samos os autores dos livros escolhidos e
Sendo assim, as crianças resolveram
conhecemos a história de cada um.
levar a leitura para mais longe, onde
Resolvemos, então, sermos os autores das
talvez o tempo e a rotina do cotidiano a
histórias que iríamos contar nas casas de
tenham esquecido ou limitado a sua práti-
nossa família e de nossos colegas.
ca. Pensamos então em dividir esta expe-
riência com aqueles que mais amamos: as
nossas famílias.
Iniciamos com uma roda de conversa o
planejamento da atividade. Todos sociali-
Figura 1 – Alunos do 1º ano na roda de
zaram suas ideias, sugestões e críticas.
conversa. 1
Surgiu então “A leitura vai a sua casa”. Fonte: Relato de experiência – Professora Cristiane Ap. Pereira.
Pedadoga, especialista em Anos Inicias e Gestão
Escolar, Professora da Rede Municipal de Ensino de
Balneário Camboriú – SC, 2013
Na roda de conversa decidimos que: Balneário Camboriú.
2
Licenciada em Letras- Português/ Espanhol,
Atividades como a roda da conversa Especialista em Educação Infantil, Séries Iniciais e
Gestão Escolar, Supervisora Escolar da Rede
· O bilhete seria a comunicação com as permitem desenvolver a participação de Municipal de Ensino de Balneário Camboriú.

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Antes de sair para as visitas, realiza- ninos do 1º ano.
mos um ensaio da contação de história e Ao chegarmos às casas, foi grande a
da música. Assim, partimos em dia e hora receptividade, lanches e surpresas prepa-
marcados. Os alunos do 3º ano participa- rados pelas famílias, alguns pais estavam
ram conosco desta atividade. em casa esperando pela turma literária.
Entregamos um cartão de agradeci-
mento para as famílias que nos recebe-
ram.

Figura 3 – Alunos do 1º ano no laboratório de


informática.
Fonte: Relato de experiência – Professora Cristiane Ap. Pereira.
Balneário Camboriú – SC, 2013

Escolhemos as figuras, colorimos e cria-


mos nossas histórias. Figura 6 – Alunos do 1º ano ensaiando a
contação das histórias
Fonte: Relato de experiência – Professora Cristiane Ap. Pereira.
Balneário Camboriú – SC, 2013.

Figura 10 - Cartões de agradecimento


entregues às famílias visitadas
Fonte: Relato de experiência – Professora Cristiane Ap. Pereira.
Balneário Camboriú – SC, 2013
Figura 4 - Texto elaborado pela aluna Evilyn Figura 7 – Alunos do 1º ano juntos com o 3º
(6 anos) ano saindo da escola para visitar as casas. Ler textos não verbais, em diferentes
Fonte: Relato de experiência – Professora Cristiane Ap. Pereira.
Balneário Camboriú – SC, 2013
Fonte: Relato de experiência – Professora Cristiane Ap. Pereira. suportes; ler em voz alta, com fluência,
Balneário Camboriú – SC, 2013
em diferentes situações; estabelecer rela-
Mesmo já conhecendo as histórias uns ções lógicas entre partes de textos de dife-
dos outros, os alunos interagiam escutan- rentes gêneros e temáticas, lidos com auto-
do atenciosamente a leitura da turma do nomia; estabelecer relação de intertextua-
3º ano, bem como as histórias dos peque- lidade entre textos; relacionar textos

Figura 5 - Texto elaborado pela aluna


Maria Helena (6 anos)
Fonte: Relato de experiência – Professora Cristiane Ap. Pereira. Figuras 8 e 9 – Alunos do 1º ano contando as histórias
Balneário Camboriú – SC, 2013 Fonte: Relato de experiência – Professora Cristiane Ap. Pereira. Balneário Camboriú – SC, 2013

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verbais e não verbais, construindo senti- durante o processo de escrita em que o as crianças se tornem efetivamente alfa-
dos, foram direitos de aprendizagem professor é escriba, retomando as partes betizadas e letradas.
introduzidos e aprofundados do eixo da já escritas e planejando os trechos seguin- A prática apresentada também
leitura. tes, sendo estes alguns dos direitos de ressalta a importância de possibilitar o
No eixo oralidade foi possível introdu- aprendizagem no eixo produção textual, acesso da criança ao mundo da leitura,
zir alguns direitos como: planejar inter- introduzidos e aprofundados nesta ativi- através de diferentes portadores textua-
venções orais em situações públicas: expo- dade. is com base em contextos diversificados
sição oral, debate, contação de história; As aprendizagens consolidadas nesta de comunicação, a qual, principalmen-
relacionar fala e escrita, tendo em vista a experiência foram além do esperado. As te nesta primeira fase da alfabetização,
apropriação do sistema de escrita, as vari- crianças sentiram-se valorizadas por deve se dar de forma dinâmica e agra-
antes linguísticas e os diferentes gêneros participarem de uma atividade na qual dável.
textuais; produzir textos orais de diferen- foram autoras interagindo no mundo em
tes gêneros, com diferentes propósitos, que vivem, favorecendo assim o processo
sobretudo os mais formais comuns em de alfabetização e letramento. REFERÊNCIAS
instâncias públicas (debate, entrevista, BARRETO, Vera. Paulo Freire para
exposição, notícia, propaganda, relato de Considerações Finais educadores. São Paulo: Arte & Ciência,
1998.
experiências orais, dentre outros). A atividade relatada surge a partir de
BRASIL. Secretaria de Educação Básica.
No outro dia produzimos um texto cole- um projeto que abrange a leitura como Diretoria de Apoio à Gestão Educacional.
tivo utilizando o gênero relatório, sobre a função social: “Ler para entender o que Pacto Nacional pela Alfabetização na
Idade Certa. Currículo na Alfabetização:
atividade realizada. as palavras têm a dizer”, onde foi oportu- Concepções e princípios: Ano 1: Unidade 1 /
Ministério da Educação, Secretaria de
nizado às crianças a compreensão da Educação Básica, Diretoria de Apoio à
leitura como necessidade para a vida em Gestão Educacional. – Brasília: MEC, SEB,
2012.
sociedade, mostrando que há diversos
CALCANHOTTO, A. Fico assim sem você.
espaços de letramentos além da sala de Música. Álbum: Adriana Partimpim. São
aula para a construção do conhecimento. Paulo: Gravadora Sony BMG/Ariola, 2004.
Paulo Freire responde através de uma
carta a pergunta: para que alfabetizar?”

[...] para que as pessoas que vivem


numa cultura que conhece as letras
não continuem roubadas de um dire-
ito – o de somar à 'leitura' que já
fazem do mundo a leitura da pala-
vra que ainda não fazem”.
(FREIRE apud BARRETO,
1998. p.77).
Figura 11 - Relatório de visita
Fonte: Relato de experiência – Professora Cristiane Ap. Pereira.
Balneário Camboriú – SC, 2013 O Pacto Nacional pela Alfabetização
na Idade Certa – PNAIC, vem nos
O texto coletivo é uma atividade que trazer subsídios para a realização de
permite planejar a escrita de textos, consi- práticas pedagógicas que considerem a
derando o contexto de produção: organi- realização de atividades diferenciadas, as
zar roteiros, planos gerais para atender a quais possibilitem a consolidação dos
diferentes finalidades, com ajuda de Direitos de Aprendizagem, habilidades
escriba; revisar coletivamente os textos que precisam ser desenvolvidas para que
62
LITERATURA DOS CLÁSSICOS E SISTEMA DE ESCRITA
ALFABÉTICA:
Jenny Isabel Diel Bertoldi1
UMA EXPERIÊNCIA DE ALFABETIZAR NA PERSPECTIVA Morgana Patrícia Rozza Tasca2
DO LETRAMENTO Roselete Fagundes de Aviz3

Apresentação cipal de Jaraguá do Sul – Santa Catarina ais de leitura e escrita, isto é, através
As reflexões que vêm sendo elaboradas – que atende alunos da Educação Infantil de atividades de letramento, e este,
nas formações do PNAIC (Pacto e do Ensino Fundamental. Os educado- por sua vez, só se pode desenvolver no
Nacional pela Alfabetização na Idade res são, em sua maioria, professores efeti- contexto da e por meio da aprendiza-
Certa) mostram o quanto, em nossa histó- vos com graduação e especialização. gem das relações fonema-grafema,
ria de alfabetizadoras, a alfabetização Os alunos são, em sua maioria, mora- isto é, em dependência da alfabetiza-
como concepção tem se apresentado sob dores do bairro ou da região e mostram-se ção (SOARES, 2004, p. 14).
diferentes pontos de vista. Passamos ao participativos e envolvidos com a escola, o
menos por dois momentos que podem ser que pode ser percebido em cada atividade Essa é a razão de a escola ser a princi-
considerados os mais significativos desse proposta pela professora. O trabalho rela- pal agente e promotora do letramento. O
processo: no primeiro, entendíamos que o tado aconteceu em uma turma de 20 acesso a materiais variados, tais como
sistema de escrita alfabética antecedia a alunos, sendo 12 meninas e 8 meninos. A livros, revistas e bibliotecas se faz necessá-
leitura e a escrita. Posteriormente, maioria oriunda da Educação Infantil da rio, diz Magda Soares (2008), porém,
compreendemos equivocadamente que, própria escola. Todos terminaram o ano primeiramente, é preciso que haja escola-
se a criança estivesse imersa em um ambi- alfabetizados. rização real e efetiva da população. Tais
ente cujos textos fossem variados e circu- considerações corroboram com o que afir-
lassem na sociedade, automaticamente a Fundamentação Teórica ma Lopes (2004, p. 43-46) quando diz
apropriação do SEA4 estaria garantida. As famosas expressões: “Ivo viu a uva”, que “Ensinar a usar e a entender como as
O que temos reelaborado em nosso “O boi baba”, “A laranja é amarela” linguagens funcionam no mundo atual é
processo de formação, durante estes dois demarcam período e métodos de alfabeti- tarefa crucial da escola na construção da
anos é a consciência de que a aprendiza- zação tradicionais cujos textos não faziam cidadania”.
gem do SEA é muito complexa, uma vez sentido e a memorização era obrigatória. Neste contexto, os contos de fadas
que envolve princípios que subjazem esse Na década de 1980, porém, o foco percorrem o tempo e são duráveis, porque
sistema e não poderá ocorrer fora das mudou. O uso do texto passou a ser o não falam ao tempo, mas ao homem. Por
práticas sociais de leitura e escrita. centro das práticas pedagógicas. No auge meio dos contos, da literatura, de obras
Nessa perspectiva, compreendendo a do construtivismo mal compreendido, de arte, o homem contempla o mundo e
relação que existe entre alfabetização e passou-se a acreditar que, ao conviver dialoga melhor com os outros. Ele se
letramento, fazemos um recorte de uma com os textos, a criança teria a garantia da torna capaz de ressignificar o cotidiano, a
experiência pedagógica realizada no de aprendizagem do SEA. Tal incompreen- vida e o tempo. A experiência com os
2014 e apresentamos uma sequência de são fez com que o texto passasse a ser o contos de fadas e suas variantes, portanto,
atividades desenvolvida com o conto clás- centro das práticas pedagógicas, porém as pode fazer com que a criança amplie sua
sico “Chapeuzinho Vermelho” e algumas “especificidades” da alfabetização – apro-
de suas variantes. priação do SEA, foram perdidas, como
1

bem afirma Soares (2004). Ao discutir Professora alfabetizadora, pedagoga, Rede Municipal
de Ensino/ Jaraguá do Sul/SC.
Caracterização da Escola e da sobre a questão, a autora argumenta que:
2
Orientadora do PNAIC, pedagoga, Rede Municipal de
Ensino/ Jaraguá do Sul/SC.
Turma 3
Formadora do PNAIC, professora do Curso de
Pedagogia na Universidade do Estado de Santa
A experiência aqui relatada aconteceu [...] a alfabetização desenvolve-se no Catarina (UDESC), Doutora em Educação pela
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
em uma escola da Rede Pública Muni- contexto de e por meio de práticas soci- 4
Sistema de Escrita Alfabética.

63
compreensão do mundo, de si mesma e apresenta um bom aspecto gráfico? As Desta forma, as primeiras atividades
do outro, graças à possibilidade de, por imagens da capa remetem a alguma cultu- desenvolvidas foram de leitura e reconheci-
meio dela, distanciar-se da cotidianida- ra ou estilo em particular? Por que, diante mento das obras que seriam trabalhadas.
de. E, enxergando dessa maneira, a de tantas versões dessa obra, a professora Apresentamos aos alunos, através de leitu-
criança será capaz de ver a si mesma. escolheu essa? Por que, na alfabetização, ra compartilhada, a referida obra clássica
No processo de alfabetização, assim, é significativo o trabalho com a leitura de recontada pelos Irmãos Grimm. Pos-
os contos de fadas necessitam marcar textos ligados à formação do imaginário teriormente, lemos algumas variantes da
presença por muitas razões. Uma delas infantil? obra, inclusive a do filme: “Deu a Louca
pode estar naquilo que Rodari (1982, p.
138) bem esclarece: “A função criativa
da imaginação pertence ao homem
comum, ao cientista, ao técnico; é essenci-
al para as descobertas científicas bem
como para o nascimento da obra de arte”.
Na experiência a seguir relatada,
compreendeu-se que a inserção dos
alunos no mundo da leitura e da escrita
pode, realmente, se efetivar por meio de
um trabalho com os diferentes gêneros
textuais e por meio de leituras diárias de
diversos textos, dentre os quais o texto lite-
rário. Foi possível entender, ainda, que os
clássicos da literatura infantil podem
servir como dispositivos para a apropria-
ção do SEA, considerando a experiência
da alfabetização como um momento de
aprendizagem da linguagem escrita. Os
clássicos da literatura podem ser um
significativo exemplo para refletir com as Figura 1 – Capas dos livros utilizados
crianças sobre a função social para a qual Fonte: acervo pessoal da professora

a escrita foi criada. “Chapeuzinho Vermelho” é um conto na Chapeuzinho”, uma vez que um dos
clássico que tende a atrair as crianças pelo nossos objetivos com as variantes do
Descrição da Experiência enredo, pelas ilustrações, pelo formato e conto era compreender a importância do
Neste relato será apresentado um por seu tema implícito: a busca pela liber- texto documentado por diferentes meios
recorte de uma prática desenvolvida no dade. Isso não significa que, ao trabalhar de comunicação, como ele foi reescrito
ano de 2014, tomando como foco o ensi- com os clássicos nas turmas de alfabetiza- em diferentes mídias. Nesses momentos,
no do SEA e realizada por meio de uma ção, a professora necessite explicar as ques- os alunos demonstravam ainda mais inte-
sequência de atividades com a obra clássi- tões neles apresentadas, mas sim permitir resse pelo trabalho, dizendo que gosta-
ca “Chapeuzinho Vermelho” e outras interpretações variadas na relação com o ram de conhecer versões diferentes da
variantes. escrito, possibilitadas pelas aberturas do história, pois puderam perceber que em
O primeiro objetivo foi o de tomar o fantástico, colocando em prática o que cada versão havia algo engraçado e cria-
livro em sua dimensão literária. As ques- bem diz Held (1980, p. 31): “A narração tivo e, principalmente, que cada versão
tões consideradas para tanto, foram: fantástica convida, em suma, mais que dava um final diferente para o lobo,
Atrai o interesse das crianças dessa faixa qualquer outra, a uma 'leitura aberta', ou oferecendo ao leitor possibilidades varia-
etária? É uma obra sem recortes? A obra mesmo a leituras sucessivas e múltiplas”. das de enfrentá-lo.
64
Nessas atividades de leitura, uma das tipo de dado existia na quarta capa e se percebendo o que a produção escrita reve-
primeiras preocupações era a de que os havia representação de algum selo que lava sobre o desenvolvimento de cada
alunos compreendessem os títulos das indicasse que a obra pertencia a alguma uma para que, a partir do que demonstra-
obras e, a partir disso, entendessem o série ou que havia recebido premiação. vam, pudéssemos elaborar outras inter-
porquê das imagens aparecerem da Depois, fizemos a leitura em voz alta e venções.
forma que apareciam. Para tal compreen- selecionamos algumas ilustrações mais O que temos observado no nosso traba-
são, foram estudadas algumas palavras significativas para comentar. Logo após, lho de alfabetizadoras é que as crianças
que apareciam no título, como a palavra foram propostas atividades, como a em processo de alfabetização apresentam
“coloridos”, por exemplo, retirada do títu- produção de uma lista de personagens grande interesse por desenho, especial-
lo da história “Chapeuzinhos Colo- das obras trabalhadas. Fizemos escrita mente as do primeiro ano. Na atividade
ridos”. As letras da palavra coloridos coletiva e individual, bem como a leitura demonstrada anteriormente, percebemos
foram distribuídas em cores diferentes. dos nomes dos personagens. Posterior- que, embora todas as crianças tenham
Enquanto as crianças observavam as mente, pedimos que os alunos recortas- realizado a experiência estética com os
diferentes cores das palavras, pergunta- sem e colassem o nome de acordo com mesmos materiais, cada uma expressou
mos se havia outras palavras que possu- cada personagem, conforme figuras que de forma bem diferente o que se propôs a
íam o mesmo significado de coloridos, e haviam sido disponibilizadas pela profes- mostrar. Quando perguntadas sobre os
uma das crianças lembrou-se da palavra sora em fotocópia. desenhos, cada uma tentou explicitar o
“colorir”. Aproveitamos, desta forma, A aula seguinte foi dedicada à criação significado de seu registro.
para mostrar outros significados para a de um desenho da obra clássica e à escrita Colello (2012, p. 31, grifo nosso), ao
palavra e para pensar por que o autor da descrição do desenho (personagem, argumentar sobre os processos cognitivos
tinha escolhido a palavra coloridos/de cenário). Neste momento, utilizamos a envolvidos na conquista da língua escrita,
colorir? Conversamos sobre o sentido das escrita de cada criança como elemento destaca:
palavras nos títulos das obras. Logo após, para avaliação de seu processo de apro-
pedimos que recortassem a palavra rece- priação do sistema de escrita alfabética, [...] as relações entre imagens e
bida. Quando as crianças terminaram de
recortar, pedimos que organizassem as
letras e tentassem montar outra palavra.
Com algumas intervenções da professora
e com ajuda dos colegas, os alunos perce-
beram que dava para montar a palavra
colorir. Assim, todos colaram a palavra
no caderno.
No dia seguinte, com as crianças ainda
motivadas pela leitura dos clássicos, pedi-
mos que fizessem somente a leitura da
capa da obra “Chapeuzinho Vermelho: a
verdadeira história”. Pedimos também
que observassem a capa sem abrir o livro,
porém o que interessava não era somente
o título, mas outros elementos da capa,
como o nome do autor, o nome da editora,
onde o nome da editora estava posiciona-
do, se já haviam visto o mesmo logotipo
em alguma outra obra etc. Figura 2 – Produção escrita e desenho das crianças
Depois, pedimos que observassem que Fonte: acervo pessoal da professora

65
texto/desenhar e escrever, processo
cognitivo no qual, com base na distin-
ção entre os atos de desenhar e escre-
ver, a criança descobre as ligações
possíveis entre a imagem e o texto: a
ilustração, a estética, a complementa-
ridade de informações, a recriação de
contextos pelo desenho etc.

Tais considerações demonstram a


importância de, no processo de alfabeti-
zação, inserir propostas que envolvam o
desenho.
Na aula seguinte, a proposta didática
foi uma reescrita, uma nova versão coleti-
va para o clássico. Nesse momento, a
professora foi a escriba, utilizando o
recurso tecnológico multimídia. As crian-
ças, conjuntamente, discutiram, refleti-
ram e tiveram ideias; criaram uma nova Figura 3 – Crianças ilustrando a produção realizada
Fonte: acervo pessoal da professora
história sobre a Chapeuzinho Vermelho
com o objetivo de discutir que todas as nova versão do clássico infantil recriado melhor articulação de suas falas.
coisas podem mudar com o tempo. As pelas crianças. Em conversa com a
verdades são transitórias. turma, concluímos que seria necessário Considerações Finais
O mais importante era que as crianças produzir o convite e, em conjunto, o O trabalho acima relatado trouxe
compreendessem que raízes e opções são convite foi elaborado e formatado no contribuições importantes para o desen-
questões fortes na vida das pessoas. Cada programa de editor de texto. Após, foram volvimento dos alunos. Durante a execu-
educando, de forma voluntária, contou impressos e cada criança ilustrou um ção desse planejamento, várias regulari-
algo que faria parte da história, alguma deles para entregar para outras turmas da dades do sistema de escrita alfabética
coisa curiosa, engraçada, assustadora. A escola e para as famílias. puderam ser exploradas no/para o uso
professora fez algumas intervenções, tais social da escrita, sem com isso nos afastar-
como: onde foi?; quando?; por quê?; CONVITE
mos do universo das crianças.
quem estava lá?; o que mais aconteceu?; ALUNOS E PROFESSORAS DO 1º ANO CONVIDAM PARA
UMA APRESENTAÇÃO DE TEATRO DA CHAPEUZINHO VERMELHO.
O trabalho também foi bastante signifi-
como terminou? DATA: 29 DE OUTUBRO cativo para a professora alfabetizadora,
HORÁRIO: 14h00min
Depois do trabalho de revisão, as crian- LOCAL: AUDITÓRIO DA ESCOLA possibilitando a compreensão de que o
ças ilustraram a versão, que foi impressa e FICAREMOS FELIZES COM SUA PRESENÇA!
ensino do sistema de escrita alfabética
encadernada. Foi entregue uma cópia não precisa ser linear ou desconectado da
para cada aluno, com o objetivo de que Figura 4 – Modelo do convite elaborado vida da criança. Ter o livro literário – no
Fonte: acervo pessoal da professora
compreendessem a importância de consi- caso deste relato, os contos clássicos e
derar, na produção do texto, a questão do Todas as ações envolvidas na dramati- suas variantes – como aliado ao trabalho
portador e do público ao qual a obra se zação contribuíram para o desenvolvi- da alfabetização não significa utilizá-lo
destina, questões que haviam sido conver- mento da oralidade das crianças. Os como pretexto, mas sim dar sentido ao
sadas durante o planejamento do texto. educandos puderam decidir qual perso- que se entende por alfabetização na pers-
Após as ações desenvolvidas e ora rela- nagem era mais adequado ao estilo de pectiva do letramento.
tadas, propusemos a dramatização da cada um, podendo auxiliar os colegas na Dessa forma, a criança, mesmo saben-
66
do que está trabalhando com um texto
ficcional, consegue fazer relação com a
vida, atingindo o real sentido da dimen-
são estética implicada em textos da esfera
literária. E o que é mais importante: se no
caderno dessa criança “o boi babar” é
porque isso tem significado no seu proces-
so de desenvolvimento de novas represen-
tações de mundo, o que inclui a escrita, e
não apenas uma forma de expressão que,
para ela, não possui qualquer nexo.

REFERÊNCIAS
ALMODÓVAR, Antonio Rodríguez.
Chapeuzinho Vermelho: a verdadeira história.
Ilustrações: Marc Taeger. Tradução: Thais
Rimkus. São Paulo: Instituto Callis, 2008.
COLELLO, Sílvia M. Gaparian. A escola que
(não)ensina a escrever. 2. ed. São Paulo:
Summus, 2012.
HELD, Jacqueline. O imaginário no Poder: a
criança e a literatura fantástica. Tradução de
Carlos Rizzi. São Paulo: Summus, 1980.
LOPES, Moita ; L. P & Rojo, R. H. R.
Linguagens, códigos e suas tecnologias. In
SEB/MEC. Orientações curriculares do EM,
pp. 43-46, 2004
RODARI, Gianni. Gramática da fantasia.
Tradução de Antonio Negrini. Direção de
coleção de Fanny Abramovich. São Paulo, SP:
Summus, 1982.
ROBERTS, Lynn. Chapeuzinho Vermelho:
uma aventura borbulhante. Ilustrações David
Roberts. Trad. de Denise Katchuiam Dognini.
São Paulo: Zastras, 2009..
SOARES, Magda. Letramento e alfabetização:
as muitas facetas: In: Revista Brasileira de
Educação, n. 25, jan./fev./mar./abr. 2004.
______. A Escolarização da Literatura Infantil e
Juvenil. In: BRANDÃO, Heliana M. B. et al.
(Org.). A Escolarização da Literatura
Literária - O jogo do livro Infantil e Juvenil.
Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p. 18.
_______. Alfabetização e letramento. São
Paulo: Contexto, 2008.
TORERO, José Roberto; PIMENTA, Marcus
Aurelius. Chapeuzinhos Coloridos.
Ilustrações de Marilia Pirillo. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2010.

FILMOGRAFIA
Deu a louca na Chapeuzinho (Título original:
Trouble in the Hood). Direção: Todd Edwards,
Tony Leech, Cory Edwards. Estados Unidos,
2004. 1 DVD (1h20 min).

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MUNDO AO ALCANCE DE TODOS?
POSSIBILIDADES DE LETRAMENTO NA ESFERA
ESCOLAR A PARTIR DE CONTOS UNIVERSAIS Marcio Alexandre Siqueira1
Feliciana P. Cardoso2

A prática pedagógica aqui relatada foi mente cativa o aluno e o envolve no os estudantes compreendessem que os
realizada pela alfabetizadora Prof.ª processo de aprendizagem [...]. Os contos estão presentes em todas as socie-
Feliciana P. Cardoso, com o apoio da contos ultrapassam a sua própria dades, ultrapassam fronteiras e épocas, e
Prof.ª Fabiane Corrêa do Nascimento, origem e fronteiras, constituindo um sofrem adaptações conforme a cultura de
Orientadora de Estudos do PNAIC/ património coletivo facilmente acedi- cada povo.
SC, e aconteceu em uma turma de tercei- do pela maioria dos alunos. Podem Como introdução à atividade, com o
ro ano composta por 27 alunos com ainda ser utilizados com o objetivo de uso do planisfério, os alunos foram convi-
idades entre 8 e 10 anos, na Escola os ajudar a refletir sobre os seus valo- dados a realizar uma viagem imaginária,
Maria Etelvina de Souza Pereira, em res sociais e o seu papel enquanto na qual atravessariam oceanos e chegari-
Imbituba – Santa Catarina. cidadãos do mundo. (PEREIRA, am a outros continentes.
Nesta sequência didática, mostraremos 2012, p. 28). Fizemos uso, neste momento, de uma
o trabalho realizado com o gênero textual representação no globo terrestre físico
“contos”, relacionando-o com as histórias Assentimos com a visão da referida (com a representação de relevo), pois é a
contadas em outros países e nações. pesquisadora e temos, como um dos valo- que mais se assemelha à realidade de
Anteriormente, havíamos trabalhado com res intrínsecos do letramento, a apropria- nosso planeta, e também de um globo
o gênero “contos de fada”, momento no ção cultural e o acesso ao patrimônio cien- terrestre com a divisão dos países, para
qual os estudantes tiveram a oportunida- tífico da humanidade nas suas distintas facilitar a identificação dos lugares nos
de de ler, ouvir e fantasiar com diferentes formas (linguística, técnico-científica e quais os contos se originaram ou que
versões de cada conto de fada trabalhado. matemática), e desta feita, a literatura retratavam. Aproveitando o tema da
Nossa atividade teve início com questi- surge como importante forma de discurso geografia política, mostramos a forma
onamentos do tipo: “Será que em outros historicamente situado. bidimensional de um planisfério (em espe-
lugares do mundo esses contos de fadas A abordagem multicultural permite cial, o modelo de mapa-múndi de
também são conhecidos? Será que exis- “apreender o outro na sua dignidade, nos Mercator) e comparamos a representa-
tem outros contos ou histórias contadas seus direitos e, principalmente nas suas ção dos países tanto no globo quanto no
por esses povos?”. A partir dessas ques- diferenças” (BETTO apud BE- mapa, para que os educandos pudessem
tões, os alunos discutiram sobre as possi- ZERRA; NASCIMENTO, 2015, p. ver que, no mapa de rolo, o planisfério
bilidades de que, noutras partes do 191), ou seja, permite ver e compreender apresenta enormes distorções, principal-
mundo, outros povos, com diferentes que o outro é sempre diferente de nós, mente no tocante à divisão política dos
culturas, podiam igualmente ter formas mas que, assim como nós, também mere- países.
semelhantes de contar as suas próprias ce os mesmos direitos, dignidade e respei- Os estudantes ficaram muito chocados
histórias, ou de ajustar histórias muito to. Nesse sentido, compreendemos que com a comparação, pois alguns países
conhecidas à sua realidade. desenvolver nos educandos o sentimento que, no globo, tinham tamanho parecido
Pereira (2012), em sua dissertação, de alteridade é construir um cidadão
explana que: voltado para a paz e para a empatia.
1
Professor graduado com Licenciatura Plena em
Matemática pela Universidade Federal do Paraná e
Na sequência, após terem sido debati- Mestre em Educação Matemática pelo
PPGECM/UFPR; Atuou como Formador em
Pelo seu caráter multicultural (os das as hipóteses anteriores sobre o gênero Matemática do Polo Dois – Joinville e região nordeste
catarinense no PNAIC-2014.
contos) surgem como material didáti- conto, buscamos esclarecer alguns aspec- 2
Professora e alfabetizadora da Secretaria Municipal
de Educação do Município de Imbituba, SC. Atuou
co com muito potencial, que facil- tos sobre o tema a ser trabalhado para que como Alfabetizadora no PNAIC-2013/14.

68
com o do Brasil, no mapa de Mercator contingente de descendentes de imigran- por exemplo: “O que vocês acharam da
apareciam imensamente maiores. Um tes) e qual era o país de origem de seus atitude de Ping? E das outras crianças do
dos meninos apontou que a ilha da parentes. reino? Será que o imperador teve uma
Groenlândia, no mapa, era maior que o Outro recurso utilizado para a explora- boa ideia para encontrar seu sucessor?
nosso país, mas que na representação do ção de conhecimentos foram fotos de uma Por quê? Você se identificou com alguma
globo terrestre caberia várias vezes no galeria de imagens do material didático personagem? Qual? Por quê? Alguém já
território brasileiro. de apoio, as quais oportunizaram uma usou de inverdades para conseguir algu-
Explicamos, então, que essas distor- familiarização com os elementos da cultu- ma coisa?”.
ções ocorrem por motivos econômicos e ra asiática, seus usos e costumes. Com essa atividade foi estimulado o
políticos, desde o século XVI, com o obje- desenvolvimento da oralidade e da argu-
tivo de valorizar os países no hemisfério mentação, onde cada estudante expôs sua
norte, “algo convenientemente apropria- opinião sobre as atitudes dos persona-
do essa distorção expandida dos países de gens, comparando esses comportamentos
altas latitudes em comparação às baixas com a nossa realidade. Foi um momento
latitudes, visto que os primeiros eram muito rico de valorização dos aspectos
formados pelas metrópoles expansionis- morais e éticos, tão necessários ao exercí-
tas, enquanto os segundos eram forma- cio da convivência social (GOERGEN,
dos, predominantemente por colônias” 2005; MENIN, 2002; MON-
(SALES, 2012, p. 73). TENEGRO , 2001).
Em consonância com o afirmado por Figura 1 - Assistindo o vídeo em grupo Na continuidade, os educandos reali-
Fonte: acervo pessoal da professora
Lander (2005) “com auxílio dos precei- zaram atividade de interpretação de outro
tos de neutralidade e cientificidade, a De forma similar, mostramos no globo texto, do mesmo gênero literário e presen-
Europa é posta como centro geográfico e o continente asiático e, em especial, a te no material didático de apoio. Após,
culminação de todo o movimento tempo- China, país de origem do conto que seria aconteceu a leitura e a socialização de
ral” e essa centralização europeia no apresentado em seguida. seus escritos. Entendemos como impres-
mapa, apontada também por Harley Os educandos puderam compreender cindível a realização da leitura das própri-
(1989, p. 6), permite “adicionar forças e por que se diz que a China fica “do outro as produções escritas a fim de que o estu-
sentidos geopolíticos à representação”. lado do mundo”, e que a expressão “Fui dante possa perceber que a intencionali-
Tornar países “grandes e fortes” na para China!” indica que a pessoa não dade do registro gráfico é a de preserva-
representação mapográfica, de certa quer ou não está disposta a ajudar. ção da comunicação de ideias e de mensa-
forma, justificaria seu direito explorar Em seguida, os estudantes foram gens para si e para os demais colegas.
territórios e riquezas pertencentes a convidados a ler o conto “O Pote Vazio”, Para ampliar o repertório sobre as
outros povos, como foi o caso do “desco- de Demi (2001). Cada aluno leu uma
brimento e da colonização do Brasil” estrofe e, logo após, todos assistimos ao
realizados pelos portugueses, por exem- vídeo que conta a mesma história, desta
plo. vez dramatizada.
Então, na continuidade da exploração Em uma grande roda, discutimos sobre
do planisfério, foi possível verificar se os a história e houve uma reflexão conjunta.
alunos conheciam e se identificavam os Foi um momento no qual os alunos pude-
continentes, e também se localizavam o ram compartilhar os sentimentos e as
nosso país, indagando qual era o conti- sensações provocados pela história,
nente do qual o Brasil faz parte. destacando os valores ali abordados:
Perguntamos se algum dos educandos honestidade, responsabilidade, lealdade
tinha parentes vindos de outros países e confiança. Foram lançados alguns ques- Figura 2 - Professora dramatiza a lenda do
(uma vez que nossa região possui grande tionamentos para a troca de ideias, como, Tangram - Fonte: acervo pessoal da professora

69
lendas asiáticas, em uma roda de conver- nho, uma palavra são passos fundamenta-
sa, realizamos outros questionamentos is de apropriação do ente simbólico para
complementares, como: “Quem já brin- a constituição da linguagem e das capaci-
cou com quebra-cabeças? Quem sabe dades mentais superiores.
qual foi o primeiro quebra-cabeças inven- Foi concedido um intervalo de tempo
tado? para que os estudantes brincassem com o
Com isso, sinalizamos aos educandos jogo e criassem figuras. Também distribu-
que nosso trabalho seria complementado ímos folhas de papel com o desenho de
com outras atividades. Tangrans para que colorissem, cortassem
Assim, foi mostrada uma caixa aos Figura 4 - Representação figurativa e reproduzissem as figuras do jogo.
Fonte: acervo pessoal da professora
alunos e avisado que iriam conhecer outra Depois, pedimos que escolhessem uma
lenda chinesa, que é uma das versões Após, então, abrimos a caixa e mostra- das figuras que haviam criado e que colas-
contadas sobre o que poderia ser o pri- mos que ela continha um espelho, um sem suas criações em uma folha de sulfite
meiro quebra-cabeças inventado pelo Tangram desmontado e algumas figuras de forma a contar uma história. Desta
homem. Em um primeiro momento, isso montadas. Nossa intencionalidade era a forma, cada aluno mostrou seu trabalho
foi dito sem mencionar o nome da lenda, de familiarizar os alunos com as figuras para a turma e contou a história que havia
deixando os educandos curiosos. geométricas planas e explorar conceitos imaginado para seu personagem.
Com a caixa na mão, portanto, come- geométricos através de habilidades como As crianças se mostraram notadamente
çamos a contar a lenda de um jovem visualização, percepção espacial e análise estimuladas a se apresentar para a turma
chinês que ganhou um presente de seu objetal. quando oportunizamos o uso de microfo-
mestre. Ao final, dissemos que o presente Segurando o espelho, dissemos aos ne, por entenderem que aquele instru-
ganhado pelo jovem estava na casa apre- estudantes que o jovem ficou sem saber o mento é próprio de cantores e artistas –
sentada, e todos ficaram curiosos tentan- que fazer com o presente que recebeu e, figuras pelas quais nutrem simpatia e que,
do descobrir o que era. por acidente, o deixou cair, quebrando-o para eles representam o sucesso. Uma
Em exercícios como esse, gesticular é em sete pedaços. imitação de microfone é suficiente para
fundamental para que os alunos perce- Após contar a lenda por meio de que o contexto de apresentação seja
bam a função oral da comunicação de idei- dramatização, realizamos questionamen- evidenciado. O aspecto negativo do uso
as. Desta forma, gesticular enfatiza o que tos para verificar se os alunos já conheci- desses recursos (microfone e caixa acústi-
é dito e favorece com isso a compreensão am a lenda do Tangram ou alguma outra ca) é que eles amplificam o som, podendo
daquilo que é falado. versão. A partir daí, os estudantes foram atrapalhar o andamento das aulas de
desafiados a criar elementos e persona- outras turmas.
gens do conto “O Pote Vazio” (o pote,
crianças, o imperador, animais etc.), usan-
do as peças do Tangram. A integração de
atividades de educação artística com
elementos das histórias faz com que os
alunos possam exercitar a criatividade e
justificam a montagem de uma cena do
conto por meio de uma representação
simbólica, que muito tem em comum com
a arte moderna e contemporânea. Para Figura 5 - Confeccionando as próprias peças
Foucault3, a atividade de representar é Fonte: acervo pessoal da professora

fundamental para o amadurecimento dos 3


Michel Foucault é um dos expoentes da filosofia

Figura 3 - Aluno explora as figuras geométricas


processos mentais e das capacidades moderna francesa do séc. XX, e apresenta suas ideias
sobre a representação simbólica em seu livro “As pala-
Fonte: acervo pessoal da professora cognitivas; um objeto, uma letra, um dese- vras e as coisas”, de 2002. Ed. Martins Fontes.

70
pondiam à mesma figura geométrica, que um trapézio), e, em grupo, fizeram cópias
só estava sendo nominada conforme uma e criaram um painel usando as figuras do
de suas características (triângulo é quan- Tangram e das três partes.
do a figura possui três ângulos e, em trilá- Para a produção textual, pedimos que
tero, quando possui três lados), assim: os estudantes, além de utilizarem as
gravuras, também mostrassem uma cena
O triângulo é um polígono funda- do desenvolvimento ou do desfecho das
mental, visto que qualquer outro polí- histórias apresentadas na qual houvesse
gono pode ser considerado uma um exemplo de honestidade ou lealdade,
composição de triângulos dispostos relembrando os valores do primeiro conto
Figura 6 - Oralidade na contação da história
lado a lado, daí a importância de um trabalhado. Realizada a atividade, cada
própria - Fonte: acervo pessoal da professora
estudo mais detalhado dos mesmos. grupo foi até a frente da sala para mostrar
É interessante que, para a realização Os triângulos podem ser classificados suas gravuras e ler as histórias, socializan-
de uma apresentação, os educandos quanto aos ângulos (Acutângulo, do com os demais.
sejam estimulados a assumir uma postura Obtusângulo e Retângulo) e quanto
teatral, condizente com o propósito da aos lados (Isósceles, Escaleno e
atividade, ou seja, o estudante deve ser Equilátero). Os triângulos possuem
orientado a permanecer ereto, olhar para em sua composição altura, bissetriz
a plateia, falar com tranquilidade, cuidar interna, mediana e mediatriz, além
da dicção, do volume e da entonação para de ângulos internos cuja soma é igual
que todos os presentes possam escutá-lo e a 180°. (PAIVA, 2009).
enxergá-lo. A realização desse tipo de
atividade pode ser muito prazerosa e Explicamos, ainda, que os quadriláte-
permitir que sejam praticadas a oratória e ros podem ser chamados de quadrângu-
fortalecida a autoconfiança. los. A aluna que motivou essa explicação Figura 7 - Atividades inspiradas pela leitura
Fonte: acervo pessoal da professora
Com a execução dessa atividade, vimos compreendeu o assunto, mas pontuou
o quanto as crianças se envolvem com a não ter gostado desses “nomes diferen-
argumentação e com a explicação da histó- tes”, ensejando uma observação da
ria que querem relatar. professora, que disse ser quase de consen-
É importante dizer que, quando prepa- so geral que esses nomes são “diferentes”,
raram seus próprios Tangrans, os educan- e provavelmente é por conta disso que são
dos foram envolvidos no conceito de todo- pouco utilizados.
parte, tão importante no estudo de frações, Na aula seguinte, os alunos foram
porcentagens, partições e conjuntos. convidados a sentar em círculo para ouvir
Exploramos o reconhecimento das figu- a leitura do livro “As Três Partes”, do
ras geométricas das peças componentes autor Edson Luiz Kozminsk (1986). A
do jogo, caracterizando-as quanto ao história trata de uma casa que resolve se Figura 8 - Montagem da história
Fonte: acervo pessoal da professora
número de lados e de vértices que cada transformar em outras coisas. Para isso,
uma possuía. Por meio dessas proprieda- ela se divide em três partes que se movem, Percebemos que o trabalho desenvolvi-
des, classificamos as figuras em quadrilá- formando novos objetos e vivendo muitas do propiciou a conexão com diferentes
teros e triláteros. Nesse momento uma aventuras. áreas do conhecimento. Em geografia, foi
das educandas nos corrigiu dizendo que o Após terem conhecido a história, a utilizado o planisfério para localização do
nome certo era “triângulos”, o que ense- qual foi explorada oralmente, os alunos continente asiático (de origem do conto)
jou uma explicação para esclarecer ao receberam um molde de cada uma das e para a discussão sobre a localização de
grupo que triângulos e triláteros corres- três partes da narrativa (dois triângulos e nosso próprio país no mundo; em língua
71
portuguesa, os alunos construíram hipó- papel na complementação da educação
teses, lapidaram a produção escrita para realizada pela família e na formação
diversos gêneros textuais, realizaram humana para a cidadania.
leituras diversas, exercitando a criativida-
de, a oralidade e a argumentação; em
matemática, foram exploradas as figuras REFERÊNCIAS
geométricas e os conjuntos; em artes, apri- BARONE, Dalton. O Pote Vazio. Locução de
Dalton Barone. Vídeo. Disponível em:
moramos o uso da imaginação e a coorde- <https://www.youtube.com/watch?v=EK6tnR0l_
nação motora na produção dos tangrans e Ak>. Acesso em: 14 out. 2015.
BEZERRA, Priscila Moura; NASCIMENTO,
das figuras que com eles foram elabora- Robéria Nádia Araújo. Um Conto Chinês:
das. interfaces entre ficção e cultura à luz da
interculturalidade. In: Temática, v. 11, n. 7,
2015.
DEMI. O Pote Vazio. Autor e Ilustrador: Demi.
São Paulo: Martins Afonso, 2001.
GOERGEN, Pedro. Educação e valores no
mundo contemporâneo. In: Educação &
Sociedade, v. 26, n. 92, p. 983-1011, 2005.
HARLEY, John Brian. Deconstructingthe map.
In: Cartographica: The internationaljournal
for
geographicinformationandgeovisualization,
v. 26, n. 2, p. 1-20, 1989.
KOZMINSKI, Edson Luiz. As Três Partes. São
Figura 9 - Cartaz elaborado com a história Paulo: Ática, 1986.
criada pelo grupo - Fonte: acervo pessoal da professora LANDER, Edgardo. Ciências Sociais: saberes
coloniais e eurocêntricos. In: A colonialidade
do saber: eurocentrismo e ciências
sociais–perspectivas latino-americanas, p. 21-
53, 2000.
MENIN, Maria Suzana De Stefano.
Valuesatschool. In: Educação e Pesquisa, v.
28, n. 1, p. 91-100, 2002.
MONTENEGRO, Thereza. O cuidado e a
formação moral na educação infantil. São
Paulo, Educ/ FAPESP, Univ Pontifica Comillas,
2001.
PAIVA, Manoel. Matemática. 1. ed.- São Paulo:
Moderna, 2009.

Figura 10 - Leitura do registro escrito PEREIRA, Palmira M. S. L. O papel da Cultura


Fonte: acervo pessoal da professora e Literatura no Ensino de uma Língua
Estrangeira: o conto como ferramenta. 2012.
Dissertação (Mestrado)- Oporto, Portugal,
Durante todo o processo de aplicação Universidade do Porto, 2012. Orientador: Dr.
desta sequência didática foi possível veri- Rogelio Ponce de León.

ficar o interesse dos alunos e o prazer SALES, CARLA MONTEIRO. O Mapa Mercator
e o moderno Sistema-Mundo. In: Anais do I
deles no desenvolvimento das atividades, Congresso Brasileiro de Geografia Política,
uma vez que puderam integrar elementos Geopolítica e Gestão do Território, 2014.
Porto Alegre: Editora Letra1; Rio de Janeiro:
dos contos com atividades lúdicas, as REBRAGEO, 2014, p. 71-79.
quais foram muito bem recebidas, como
de costume.
Este também um trabalho de reflexão
sobre valores morais e éticos, comprovan-
do que a escola possui um importante

72
LEITURA E ARTE NO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO:
BRINCANDO E APRENDENDO COM A APROXIMAÇÃO
Nilcéia Farias Rocha1
DOS COMPONENTES CURRICULARES LÍNGUA Ana Dirce De Vila2
PORTUGUESA E ARTES Ana Cicilia Demétrio3

O presente relato de experiência foi foram levantados alguns questionamen-


desenvolvido pela professora alfabetiza- tos: Quem é o autor? Quem é o ilustra-
dora Nilcéia Farias Rocha, da Rede dor? Que materiais foram utilizados para
Estadual EEB Prof.ª Dolvina Leite de retratar as mãos?
Medeiros, do município de Araranguá –
Santa Catarina, sob a orientação da
Orientadora de Estudo Ana Dirce De
Vila.
Salienta-se que esta ideia foi construí-
da a partir das atividades propostas na Figura 3 – Brincando com tinta de diversas cores
Fonte: acervo pessoal da professora
formação/PNAIC – Pacto Nacional
pela Alfabetização na Idade Cer- Chegado o momento de formar os
ta/2014. Figura 1 – Crianças explorando as imagens grupos para montar e ilustrar cada parte
Fonte: acervo pessoal da professora
A professora Nilcéia desenvolveu as do livro, cada grupo ficou com uma quan-
atividades com alunos do primeiro ano do Para a reprodução do livro utilizou-se tidade de mãos, fazendo a contagem de
Ensino Fundamental, turmas 1 e 2, com papel, tinta guache de várias cores, cinco em cinco até chegar ao numeral 50.
idades entre 6 e 7 anos, em uma escola pincéis, canetinhas, lápis de cor e as Todos os grupos receberam uma cartoli-
pública do referido município. No decor- próprias mãos das crianças. Em cima da na, na qual ilustraram a mão de cada um,
rer do ano letivo, os alunos mantiveram mesa, foram disponibilizados as tintas, os recortaram, colaram e realizaram a escrita
uma rotina diária com ênfase à leitura, no pinceis e o papel cartão. da sequência numérica dos dedos.
intuito de nortear as demais atividades. A Em outro momento, foi então realizada Após a realização da atividade, as
seguir, através de uma sequência didáti- a reprodução do livro. Para tanto, cada crianças foram desafiadas com uma situa-
ca, será apresentado o desenvolvimento aluno mergulhava suas mãos nas diversas ção-problema. Primeiramente, foi expli-
do trabalho. tintas de cores diferentes e, em seguida,
A aula teve início com a apresentação apoiava as suas mãos no papel cartão de
do livro “Usando as Mãos”, do autor várias cores, colocando-os para secar –
Michael Dahi. Iniciou-se pela exploração sempre monitorados pela professora.
da capa e, na sequência, o livro foi lido
para os alunos. Após, foi exposto no
quadro parte por parte, para que os estu-
dantes pudessem ter uma melhor visão
das ilustrações. O livro ensinou que com
as mãos é possível fazer desenhos incrí- Figura 4 – Ilustrando com as mãos
Fonte: acervo pessoal da professora
veis relacionados à sequência de números
até 50, e que contando de cinco em cinco 1
Professora Alfabetizadora – Pedagoga – EEB.
é possível aprender soluções criativas Professora Dolvina Leite de Medeiros / Araranguá.
2
Figura 2 – Crianças usando as mãos para a Orientadora de Estudos – Pedagoga – Especialização
para desenhar. Ensino Superior – 22ª GERED / Araranguá
contagem de sequências 3
Formadora Pnaic – Pólo Laguna / SC. Pedagoga –
Logo após a apresentação do livro, Fonte: acervo pessoal da professora Mestre em Educação.

73
parte das crianças, uma vez que estavam conhecimentos que já fazem parte da
desenhando suas próprias mãos e ilus- bagagem dos alunos e a partir das rela-
trando para resolver a situação-problema. ções sobre os números e operações que os
envolvem costumam ser mais rápidas e
eficientes para quem as utiliza, expressam
uma compreensão rica e profunda do
sistema numérico, fornecendo base sólida
para o cálculo mental e por estimativas e
contribuem para o envolvimento num Figura 8 – Exemplo de resolução de situação-
processo de “fazer matemática”. problema - Fonte: acervo pessoal da professora

Na perspectiva do letramento, o traba- trabalhar com situações-problema através


lho com as operações deve estar imerso de um gênero textual, criando, com o
Figura 6 – Resolvendo situações-problema em situações-problema desde o primeiro texto, a oportunidade de fazer a criança
Fonte: acervo pessoal da professora
momento. Isso porque se adota, como pensar, tentar, construir e desconstruir
Para registrar o resultado alcançado, pressuposto, a necessidade de que haja hipóteses, em uma ação dinâmica e de
alguns alunos precisaram da professora um entendimento sobre os usos das interação, oportunizando a ela também
como escriba. Este trabalho foi exposto operações em diferentes contextos e práti- explorar o ambiente e as possibilidades
na sala de aula. cas sociais. O trabalho pedagógico passa que estão ao alcance de forma lúdica,
a promover, então, de forma intencional, prazerosa e que oportunize seu desenvol-
mais atividades dessa natureza, sistemati- vimento cognitivo.
zando o conhecimento construído a partir Realizadas as etapas descritas, os
do universo infantil. alunos relataram oralmente os seus senti-
É possível destacar, no trabalho da mentos em relação ao livro lido e ao painel
professora Nilcéia, a importância de confeccionado. Por meio de suas falas, é

Figura 7 – Situações-problema
Fonte: acervo pessoal da professora

Na continuidade, outra atividade foi


proposta para os alunos. Cada qual rece-
beu uma folha com três situações-
problema. Com seus conhecimentos
prévios, tiveram que desenhar (Figura 7)
e resolver a operação que estava registra-
da na folha (Figura 8).

Eemplos de Situação-problema
Proposta aos Alunos
Em um determinado momento o aluno
Gustavo, com idade de 7 anos, manifes-
tou-se e pediu para resolver um dos
problemas na lousa, argumentando como
chegou à conclusão. O fato é que, estraté-
gias de cálculo construídas a partir dos Figura 9 – Exposição em painel
Fonte: acervo pessoal da professora

74
possível perceber o que os alunos sentem A professora alfabetizadora avaliou articular as áreas do conhecimento dentro
e como se expressam a partir de uma que o trabalho desenvolvido com as de um planejamento que contempla os
história contada. turmas abordou conceitos de outras áreas direitos de aprendizagem do Programa
Os relatos orais culminaram na produ- de conhecimento. Em Língua Portu- Nacional da Alfabetização na Idade
ção de um texto escrito no qual as crianças guesa, os alunos já estavam em contato Certa.
puderam registrar suas impressões. A com gêneros textuais, e desenvolveram a
escrita foi coletiva e teve a professora leitura, a escrita e a interpretação. Em
como escriba. Feito isso, as crianças copi- Matemática, desenvolveram raciocínio
aram o texto no caderno, como forma de lógico, vivência de conflitos para resolu- REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de
registro de uma bela experiência vivida ção de situações-problema, operação de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão
por todos os alunos do primeiro ano. As adição e contagem de numerais. Em Educacional. Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa: operações na
crianças foram convidadas a ler a produ- Arte, desenvolveram a criatividade e o resolução de problemas. Caderno 04. Brasília:
ção, o que foi bastante significativo e desafio de produzir sua própria habilida- MEC, SEB, 2014.
mostrou o quanto aprenderam com as de de fazer arte e de reproduzir uma obra. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de
Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão
atividades propostas. Em Ciências, o trabalho contribuiu para Educacional. Pacto Nacional pela
Além dessas possibilidades, os livros reforçar o estudo sobre os órgãos do senti- alfabetização na idade certa: o trabalho com
gêneros textuais na sala de aula. Ano 02.
de literatura do PNBE – Programa do. Unidade 05. Brasília: MEC, SEB, 2012.
Nacional Biblioteca na Escola – trazem A experiência desenvolvida pela DAHL, M. Usando as mãos: contando de cinco
em cinco. Meca: São Paulo, 2013.
uma grande variedade de títulos, que de professora Nilcéia, entre outros aspectos,
forma intencional trabalham com as mostra as possibilidades de um trabalho
operações e têm sido apresentados com o por sequência didática, integrando vários
principal objetivo de mostrar algumas conhecimentos, em uma tentativa de
possibilidades pedagógicas que favore- proposta interdisciplinar. A professora
çam a construção de uma sala de aula estabeleceu um contato particular com a
com maior sentido para as crianças. literatura, criando diferentes formas para

Figura 10 – Painel confeccionado pelas crianças. Verdadeira obra de arte


Fonte: acervo pessoal da professora

75
TRABALHANDO O GÊNERO RECEITA:
POSSIBILIDADES PARA A ALFABETIZAÇÃO
Angelita Bada Ronconi1
Nadir Bada Tramontin2
Ana Cicilia Demétrio3

Participar do Programa Nacional da


Alfabetização na Idade Certa proporcio-
nou que as autoras deste relato refletis-
sem, realizassem uma revisão de alterna-
tivas para alfabetizar e, principalmente,
discutissem novas estratégias e metodolo-
gias, ampliando o trabalho com sequênci-
as didáticas e compreendendo a aplica-
ção dos objetivos de acordo com os direi-
tos de aprendizagem.
O relato apresentado diz respeito a
uma turma do primeiro ano do Ensino
Fundamental da Escola de Educação
Básica Figueira Jacinto Machado, do
Município de Jacinto Machado – Santa
Catarina. Figura 1 - Alunos do 1º ano da EMEB Figueira-Jacinto Machado professora Angelita Bada Ronconi
Fonte: acervo pessoal da professora
Um dos objetivos desta prática docente
foi abordar as grandezas e as medidas de foram: “Receita serve para a mãe fazer o Assim, a professora explicou que se
massa e capacidade, explorando as esti- bolo; pudim; lasanha; arroz de forno” trata de uma receita para comprar remédi-
mativas, a comparação e a relação etc. os e que, portanto, existem diversos tipos
adequada da grandeza ao objeto a ser A partir dessas respostas, portanto, a de receita. Para exemplificar o exercício, a
estudado. Para isso, trabalhou-se com professora questionou: “É somente este docente sugeriu que uma das alunas, que
unidades de medidas não convencionais, tipo de receitas que vocês conhecem?”; usa óculos, trouxesse a receita de seu
como: xícaras, colheres e copos, presentes “Quando vamos ao médico porque esta- oftalmologista para mostrar à turma.
na maioria das receitas culinárias e utili- mos com gripe, o que acontece?”. A esses Logo após, a professora apresentou a
zadas no cotidiano das crianças. Assim, questionamentos, os alunos responde- atividade aos alunos e convidou a turma
foi dado ênfase à apropriação da leitura e ram: “A mãe faz chá”. “Sim, mas o que o para realizar uma votação e escolher qual
da escrita com significação. médico entrega para a mamãe?”, instigou tipo de receita utilizariam para desenvol-
A aula teve início a partir de questiona- a docente. “Uma folha”, responderam as ver as atividades. Assim, as receitas
mentos visando mensurar o conhecimento crianças. mencionadas pelas crianças foram escri-
das crianças sobre receitas. A partir da Diante dessa resposta, a professora tas no quadro e, posteriormente, a docen-
pergunta “Vocês sabem o que é uma recei- seguiu questionando: “O que é esta te solicitou que um dos alunos registrasse
ta?”, foram dadas respostas como “Não”; folha? Uma receita. E esta receita, para a quantidade de votos que cada receita
“Vejo a mãe usar”, por exemplo. que serve? Para a mamãe fazer bolo?”. recebeu. A receita vencedora foi a de bolo
Também questionou-se: “Que receitas Os alunos responderam negativamente, de laranja.
vocês já viram?”; “Ou conhecem?”; e, ao serem perguntados o que é que suas
“Quais as partes de uma receita?”; “Para mães fazem com a receita do médico, 1

2
Professora
Orientadora
que servem estas receitas?”. As respostas responderam: “Passam na farmácia.” 3
Formadora

76
Na sequência, a professora escreveu a codorna. quantidade em gramas ou milímetros.
receita vencedora no quadro, destacando · Fermento = de pão (seco), de bolo Todos os produtos foram pesados com
a quantidade de cada ingrediente. Todos (biológico). o auxílio do proprietário do mercadinho,
juntos foram lendo a receita, enquanto a verificando-se as medidas de massa.
docente ia instigando dois alunos que Diversos tipos de receita foram apre- Ainda no mercado, as crianças encon-
ainda não conseguem ler a igualmente sentados pela professora, além daqueles traram os produtos por meio da identifi-
participarem da atividade. trazidos pelas crianças. Todas elas foram cação de seus nomes. A docente foi então
Durante a interpretação dos ingredien- expostas no mural, e explicou-se a função mostrando cada um e levando-as a pensar
tes da receita, a professora questionou a de cada uma. sobre a quantidade que cada um possuía.
turma: “Qual o ingrediente principal, Em seguida a professora entregou, em A partir desse exercício, questionou:
aquele que não pode faltar nesta receita fotocópia, a outra parte da receita, ou “Será que os produtos têm a quantidade
para que ela seja deste sabor?”. Após os seja, o modo de preparo. Em conjunto, necessária? Como podemos saber?”.
alunos pensarem por alguns minutos, todos foram lendo e dialogando sobre a Duas crianças responderam: “É só medir
perguntaram o que era sabor. forma de fazer e a importância dessa ou pesar, professora!”. Neste momento, a
Aproveitando essa brecha, a docente parte da receita para o leitor, destacando docente questionou como poderiam
foi explicando, a partir das respostas das a sua função. medir, e outra criança prontamente
crianças, o que significa sabor, até que respondeu: “Ah, não sei.”
todos entendessem. Assim, alguns escre- Assim, a docente foi exemplificando
veram que o ingrediente essencial era o até que os alunos descobrissem que é
açúcar e, outros, que era a farinha. Uma possível utilizar copos ou xícaras para
das meninas disse que o ingrediente saber a medida de cada produto, e que
essencial para dar sabor a esta receita era eles não são todos iguais, portanto não
a laranja. são medidas exatas.
Foi solicitado que as crianças comparti- Concluído esse exercício, para que as
lhassem suas respostas com a turma e, a crianças conseguissem de fato perceber e
partir delas, a professora explicou, dialo- entender na prática as medidas, já em
gicamente, que, na verdade, todos os sala de aula, a professora pediu que reali-
ingredientes eram essenciais, mas para zassem mais uma atividade, a qual consis-
fazer o sabor de laranja, o ingrediente tia em: 1.º passo: separar dois diferentes
principal é o suco da laranja. recipientes; 2.º passo: encher o recipiente
Na sequência, dialogou-se sobre a que parecia maior com água (utilizar
compreensão das palavras (ingredientes) somente esta para realizar as compara-
escritas iguais, mas com significados dife- ções); 3.º passo: determinar em qual dos
Figura 2 - Alunos do 1º ano da EMEB
rentes. Uma lista de palavras foi escrita dois recipientes cabia mais água; 4º
Figueira-Jacinto Machado professora Angelita
no quadro a partir dos ingredientes da Bada Ronconi visita de estudos no mercado vi- passo: registrar.
receita, suscitando a reflexão e a amplia- sualização dos produtos da receita nas medidas de Foram mostrados instrumentos varia-
ção vocabular, como, por exemplo: massa e capacidade dos: copos, xícaras e colheres de diferen-
Fonte: acervo pessoal da professora
tes tamanhos, para que utilizassem enten-
· Leite = em pó, em caixa, direto da Depois, a docente questionou os dendo a quantidade dos produtos em mili-
vaca, em litro. alunos se imaginavam o que eram gramas litros e em gramas.
· Açúcar = branco, preto (mascavo), e milímetros. Como as crianças disseram A atividade elencada, portanto, partiu do
em líquido (gotas) para as pessoas não fazer ideia do que se tratava, a profes- estudo do gênero receita, objetivando levar
com diabete. sora as convidou para irem ao supermer- os alunos à percepção de que a capacidade
· Farinha = de trigo, de mandioca. cado perto da escola a fim de encontrar os de cada recipiente só pode ser desenvolvida
· Ovo = de galinha, de páscoa, de ingredientes, pesquisar os preços e ver a por meio da manipulação de líquidos.
77
Por meio da vivência de experiências recipientes não é o que determina a quan-
relatadas por expressões tais como: “é tidade que este comporta, mas que a dife-
perto”, “está muito quente”, “é alto”, rença está na quantidade de água que
“está pesado”, “mais bonito” etc., em está dentro do recipiente.
que está embutida a ideia de compa- Com essa prática, os alunos desenvol-
ração, mas ainda não aparece a veram suas percepções de capacidade.
unidade de medida. (LOREN- Salienta-se, entretanto, que, para que as
ZATO, 2008, p. 27). crianças consigam chegar a esta conclu-
são, o professor precisa proporcionar oral-
As crianças, a partir da vivência de mente muitas questões, aguçando a curio-
passar líquidos de um recipiente (garra- sidade e aprendizagem dos alunos.
fas, copos) para o outro, desenvolveram a
percepção de quantidade, compreenden-
do qual recipiente comporta mais e qual
comporta menos. Assim, relataram que
poderiam medir a quantidade de suco nos
seus vidrinhos, nos seus potinhos e nas
suas panelinhas, brincando com a água. Figura 5 - Alunos do 1º ano da EMEB
Figueira-Jacinto Machado professora Angelita
Durante a ação de encher e transportar o
Bada, (agrupamento e desagrupamento)
líquido das garrafas e dos potes, as crian- Fonte: acervo pessoal da professora
Figura 4 - Alunos do 1º ano da EMEB
ças criaram, testaram e observaram hipó- Figueira-Jacinto Machado professora Angelita Em outro dia, foi realizada uma ativi-
teses. Bada, experimentando as medidas de capacidade
dade para que as crianças pudessem
As discussões observadas nos grupos não convencional e convencional
Fonte: acervo pessoal da professora compreender um pouco acerca dos núme-
giraram em torno dos conceitos de mais e
ros com vírgula encontrados nas embala-
de menos, e também de que a forma dos Em outro momento da sequência didá-
gens. Certamente não se consolidaram
tica, as crianças trouxeram embalagens
todas as questões abordadas na atividade
para a sala de aula, momento em que se
de adição (com muitos algarismos, siste-
explorou o alfabeto móvel, a escrita, a
ma monetário, números inteiros), mas
leitura e o registro no caderno. A partir
serão desenvolvidas outras situações que
do nome do produto, os alunos foram
reforcem o aprendizado e o entendimento
orientados a fazer troca de consoantes e
das crianças.
vogais, com o intuito de formar novas
Essa atividade surgiu de perguntas
palavras.
realizadas pelas crianças no mercado. A
Na lousa, foram registradas as quanti-
professora ficou em dúvida sobre minis-
dades com base nos algarismos que apare-
trar ou não essa atividade, uma vez que se
ciam nas embalagens dos produtos. A
trata de um assunto bastante amplo, mas
partir disso, esses algarismos eram decom-
como surgiu de questionamentos dos
postos, pois a professora verificou que as
próprios alunos, decidiu realizá-la, tendo
crianças ainda não estavam compreenden-
ficado até mesmo surpresa com o envolvi-
do o valor de cada algarismo.
mento dos pequenos, os quais relataram
Por meio do material dourado, foram
já ir ao mercadinho para a mãe e receber
Figura 3 - Alunos do 1º ano da EMEB reforçados os conceitos já estudados e
Figueira-Jacinto Machado professora Angelita 25 centavos de troco, demonstrando já
introduzido o conceito de centena, a
Bada, experimentando as medidas de capacidade possuir este conhecimento. Essa consta-
não convencional e convencional
partir do qual foram realizadas diversas
tação prova que, às vezes, os educadores
Fonte: acervo pessoal da professora atividades.

78
subestimam a capacidade de aprender
dos alunos.
Instrumento que pode ser usado Usado na
Produtos Preços
na medição não convencional receita
Leite condensado 2,25 Colher, copo, xícara Uma lata

Suco de laranja 2,54 Copo, xícara Um copo


1 quilo de farinha de
2,87 Copo, xícara 3 copos grandes
trigo
1 quilo de açúcar 3,50 Xícara, copo 2 xícaras médias

Fermento Royal 4,90 Colher 1 colher de sopa

6 ovos 1, 80 Prato, pires 6 ovos

17,86

Quadro 1 - Produtos usados na receita, preços


Fonte: acervo pessoal da professora

Assim, após ter finalizado a atividade


descrita, a turma seguiu escrevendo o
preparo da segunda parte da receita,
conforme já estava considerado no plane-
jamento inicial. Primeiramente, então,
estudou a escrita com leituras e análise
das palavras com duas consoantes juntas
na mesma sílaba. Partindo, em seguida,
para a compreensão, para a escrita e para Figura 6 - Alunos do 1º ano da EMEB Figueira-Jacinto Machado professora Angelita Bada,
desenvolvendo a 2ª parte da receita - Fonte: acervo pessoal da professora
a leitura de novas palavras.
Foi registrada uma palavra no quarto e, te os ingredientes para que a receita desse da, na qual a professora teve a oportuni-
a partir dela, cada criança deveria falar certo. Neste momento a professora apro- dade de aprender que é possível alfabeti-
outra palavra com a sílaba indicada, veitou para reforçar a necessidade de zar na perspectiva do letramento, ensi-
trocando vogais e consoantes se fosse padronizar as medidas. nando as medidas não convencionais e
necessário. As palavras construídas A espera da turma para ver se a receita convencionais, bem como a escrita
durante esta atividade são as apresenta- havia dado certo gerou vários questiona- contextualizada desde o primeiro ano,
das no Quadro a seguir: mentos, e as hipóteses foram todas regis- assim como os gêneros textuais. A escrita,
Após, foi executada em sala de aula a tradas para serem respondidas após a desta forma, não precisa ser “decoreba”,
receita estudada, passo a passo, utilizan- degustação. Enquanto o bolo assava, as muito menos mera repetição de sílabas,
do como instrumentos de medida uma crianças realizaram a atividade interpre- mas pode sim ser vivenciada em um jogo
xícara, um copo e uma colher, uma vez tativa da receita por escrito, abordando, de aprendizagem. A introdução de tantos
que era necessário utilizar adequadamen- por exemplo: “Quais os ingredientes da conceitos no planejamento diário, portan-
to, provém de conhecimentos adquiridos
com a formação do PNAIC (Pacto
Líquido Farinha Condensado Laranja Fermento Gramas Nacional pela Alfabetização na Idade
máquina galinha pensando canjica cozimento gruta
Certa).

queijo abelhinha Amanda franjoca ferimento grata


REFERÊNCIAS
quina rainha chorando granja manta grota
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da
Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão
querido galhinho dança - - - Educacional. Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa: grandezas e
medidas. Caderno 06. Brasília: MEC, SEB,
Quadro 2 - Palavras construídas durante a atividade 2014.
Fonte: acervo pessoal da professora
LORENZATO, Sérgio. Educação infantil e

79
Figura 7 - Alunos do 1º ano da EMEB Figueira-Jacinto Machado professora Angelita Bada,
felizes pela receita estar pronta e as medidas serem usadas corretamente
Fonte: acervo pessoal da professora

percepção matemática. 2. ed. rev. e ampl.


Campinas, SP: Autores Associados, 2008.

80
APROPRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO POR MEIO DO
TRABALHO COM CANTIGAS POPULARES
Iloni Frey Manfrói1
Marli Nicodem Immig2
Lisete Hahn Kaufmann3

Este trabalho foi desenvolvido no


primeiro semestre de 2013, com alunos
de duas turmas de primeiro ano da
Escola Municipal de Educação Básica
Cinderela, no Município de Santa
Helena – Santa Catarina. Cada turma
contava com 16 alunos com idades entre
6 e 7 anos. Figura 2 - Manuseando o alfabeto-móvel
Ao longo de 2013, portanto, as turmas Fonte: acervo pessoal da professora

participaram de uma rotina diária de Depois de terem organizado os nomes novas palavras, trocando letras, discutin-
trabalho, tendo a leitura, a escrita e o estu- das cantigas em ordem alfabética e anali- do, analisando. Da mesma forma surgi-
do de gêneros textuais como elementos sado a quantidade de palavras de cada ram hipóteses na outra turma. Foi um
norteadores das demais atividades. nome de cantiga, as crianças separaram momento significativo, pois percebeu-se
A seguir, será relatada uma parte do da caixa do alfabeto móvel as letras que claramente a reflexão sobre a escrita, a
trabalho relacionado à sequência didática compõem a palavra “CANTIGAS”. troca de saberes e a ajuda mútua.
do gênero cantigas, enfocando o estudo Em roda, no chão da sala de aula, o Em um segundo momento, aproveitan-
do Sistema de Escrita Alfabética – desafio era formar novas palavras a partir do a motivação dos alunos, a turma foi
SEA. das letras da palavra em destaque, dividida em duplas, com o desafio de
As atividades iniciaram com as crian- CANTIGAS. realizar a mesma atividade, mas agora
ças pesquisando cantigas que suas famíli-
as conheciam e cantavam para elas e com
elas. Em seguida foi criada uma lista, cole-
tivamente, contendo nomes das cantigas
que, posteriormente, foram escritas em
fichas para serem manuseadas pelos
alunos, que deviam colocá-las em ordem
alfabética.

Figura 3 – Formação de palavras Figura 4 – Desafios na formação de palavras


Fonte: acervo pessoal da professora Fonte: acervo pessoal da professora

O desenvolvimento da atividade foi


muito interessante, pois, inicialmente, os 1
Alfabetizadora. Pedagoga, especialista em Séries
Iniciais e Educação Infantil e professora da Rede
olhares foram de espanto, em ambas as Pública Municipal da cidade de Santa Helena, SC.
2
Orientadora de Estudos. Pedagoga, especialista em
turmas. Na turma vespertina, logo que Educaçãoe professora da Rede Pública Municipal da
uma aluna arriscou uma hipótese e cidade de Santa Helena, SC.
3
Formadora. Pedagoga, especialista e Mestre em
formou a palavra ANA, nome de uma Educação, professora no Curso de Pedagogia e
Matemática da FAI Faculdades de Itapiranga,
Figura 1 - Crianças organizando a lista colega da sala, os outros perceberam a Orientadora de Estudos da GERED de Itapiranga, SC,
no ano de 2013 e Formadora do PNAIC, 2014 e 2015,
de cantigas - Fonte: acervo pessoal da professora possibilidade e se motivaram, sugerindo UFSC, SC.

81
utilizando as letras do envelope e a pala- para que o educando avance no processo
vra em destaque era “FAMÍLIA”. de alfabetização e letramento, torna-se
Esse exercício igualmente envolveu fundamental incluir a reflexão fonológica
diálogo, novas hipóteses, reflexão, leitura nas atividades a fim de que o aluno reflita
e escrita. sobre o funcionamento das palavras escri-
Após a formação das palavras, cada tas e, desta forma, comece a observar
turma fez o registro delas no caderno. propriedades do sistema alfabético, como
a ordem, a estabilidade, a repetição de
letras nas palavras, entre outras possibili-
dades.
Para ampliar o estudo e valorizar a
cultura por meio do resgate das cantigas,
Figura 8 - Mais registros
o momento foi aproveitado também para Fonte: acervo pessoal da professora
cantar e brincar, o que proporcionou
muita interação entre a turma. fa de escrever outra palavra que começas-
Figura 5 – Registro no caderno
Fonte: acervo pessoal da professora
Como os objetivos das educadoras foca- se com a mesma sílaba.
vam o estudo do SEA, aproveitou-se o As atividades realizadas oportuniza-
Percebeu-se, com esta atividade, que interesse dos alunos pelo gênero e o texto ram que os alunos refletissem sobre os
levar os alunos a brincar com as letras de uma cantiga bem conhecida foi traba- segmentos sonoros das palavras, perce-
ajuda, de forma lúdica, na reflexão sobre lhado. Assim, cada aluno recebeu uma bendo que mais palavras compartilham
o sistema de escrita, como também na folha com a cantiga “RODA COTIA”, das mesmas letras e sílabas. Algumas
compreensão dos princípios de funciona- e foi desafiado a realizar a leitura de pala- crianças sentiram dificuldade para escre-
mento da escrita e na socialização de sabe- vras e imagens, verificando se identificava ver outras palavras que iniciassem com a
res com os colegas. de qual cantiga se tratava. mesma sílaba, pois na fase silábica os
Sabendo que a consciência fonológica alunos preocuparam-se em começar com
é um conjunto de habilidades necessárias a mesma letra e não com a mesma sílaba,
conforme foi proposto. Com a interven-
ção da professora, entretanto, que os fez
refletir sobre as letras necessárias para
formar cada som, todos conseguiram
realizar a atividade.
Após todo o trabalho efetuado com o
gênero cantigas, a professora conversou
com os alunos sobre a importância de não
Figura 7 - Explorando as cantigas permitir que essa cultura se perca, e suge-
Fonte: acervo pessoal da professora
riu a confecção de um livro com a coletâ-
Em seguida, a professora começou a nea de cantigas pesquisadas e trabalha-
cantar a cantiga, enquanto os alunos das.
acompanhavam na folha com o dedo e Assim, foi confeccionado um livro em
pintavam as palavras solicitadas pela cada turma. Esse livro visitou as famílias
professora. Posteriormente, as palavras dos alunos e, em cada casa, a criança e a
pintadas também precisaram ser identifi- família deviam ilustrar uma das cantigas,
cadas no caça-palavras. usando a criatividade e diferentes materi-
Na sequência, os alunos copiaram as ais, para que o livro se tornasse um
Figura 6 - Brincando e aprendendo
Fonte: acervo pessoal da professora palavras coloridas no caderno com a tare- compêndio interessante, e também para
82
e divertidos, os quais contribuem para o
desenvolvimento e para a aquisição do
processo da leitura e escrita. Para as
crianças em processo de alfabetização, é
importante propiciar situações de leitura
autônoma com textos curtos e lúdicos,
mas vale ressaltar que é necessário traba-
lhar a sistematização dos conhecimentos
em relação ao SEA e à produção e à
compreensão de textos orais e escritos.
Pode-se afirmar que a escolha dos
textos é tão importante quanto o planeja-
Figura 9 – Elaboração de livros mento das estratégias de mediação.
Fonte: acervo pessoal da professora
Assim, as educadoras procuraram reali-
que as famílias pudessem sentir a gratifi- zar o trabalho relatado de modo a desen-
cação de ter colaborado na construção de volver diferentes capacidades e conheci-
um livro simples, que carrega muito signi- mentos, fazendo com que as aprendiza-
ficado para os envolvidos e que também gens ocorressem em situações significati-
ajuda a transmitir esta encantadora cultu- vas, nas quais as crianças pudessem falar,
ra de cantar e brincar, revivendo emoções escrever, escutar e ler, a fim de que
e fortalecendo os elos afetivos dos alunos possam participar de situações de intera-
com suas famílias. ção real e intervir no espaço em que
vivem.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de
Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão
Educacional. Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa. A
aprendizagem do sistema de escrita alfabética.
Ano 1. Unidade 3. Brasília: MEC, SEB, 2012a.
BRASIL. Ministério de Educação. Secretaria de
Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão
Educacional. Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa. Planejando a
alfabetização: integrando áreas do
conhecimento. Projetos Didáticos e Sequências
Didáticas. Ano 01. Unidade 06. Brasília: MEC,
SEB, 2012b.

Figura 10 – Registro realizado pelas famílias


Fonte: acervo pessoal da professora

Ao final dessa obra, foi oferecido um


espaço para que cada família registrasse
sua opinião em relação à atividade.
As cantigas são textos de tradição oral
que carregam aspectos sonoros atraentes

83
APRENDENDO COM RECEITAS:
QUE DELÍCIA!
Iloni Frey Manfrói1
Marli Nicodem Immig2
Lisete Hahn Kaufmann3

A sequência didática aqui relatada foi diferentes componentes curriculares: curiosidade dos educandos, as professo-
desenvolvida no 2º semestre de 2013, Língua Portuguesa, Ciências da Natu- ras fizeram um pequeno suspense antes
com as turmas do primeiro ano matutino reza e Matemática. da leitura integral, contando para as
e do primeiro ano vespertino da Escola O estudo iniciou com a contação da crianças uma pequena parte da história:
Municipal Cinderela, no Município de história “O Sanduíche da Maricota”, de “A galinha Maricota preparou um
Santa Helena – Santa Catarina, perten- Avelino Guedes. sanduíche. Mas, antes de conseguir
cente à GERED/SDR de Itapiranga. comer, a bicharada toda começou a
Da turma do período matutino, faziam chegar e a dar palpite para tornar o
parte 16 alunos; ao passo que, na turma sanduíche da Maricota mais gostoso
do período vespertino, estudavam 17 (para eles, é claro). O resultado é difícil
alunos. de explicar. Só mesmo vendo e lendo”.
A sequência didática foi planejada a Após a realização da leitura pela
partir do gênero textual receita. A escolha professora, foram feitas as seguintes
desse gênero decorreu da necessidade de perguntas oralmente aos alunos: “Quem
incentivar melhores hábitos alimentares. era Maricota? Onde ela estava? O que
Além disso, o conjunto de atividades ela queria fazer? O que aconteceu? O
didáticas planejado visou o reconheci- que vocês pensam sobre a atitude da
mento do gênero textual em questão, para Maricota? O que vocês fariam se fossem
que a reflexão sobre sistema de escrita alfa- a Maricota?” Os alunos confrontaram as
bética fosse convertida em uma oportuni- antecipações que tinham feito inicialmen-
dade de apropriação desse mesmo siste- te sobre o texto, o que foi bem significati-
ma por parte dos alunos. vo, uma vez que a atividade despertou um
Assim, a sequência didática foi desen- Figura 1 - Capa da obra “O sanduíche da grande interesse pelo assunto.
Maricota” - Fonte: acervo pessoal da professora
volvida tendo como base os seguintes obje- Com o objetivo de recontar a história,
tivos: (i) Conhecer o gênero receita, sua Antes da leitura do livro, realizou-se a foram oferecidos fantoches aos alunos.
estrutura, características e função social; exploração da capa, mostrando para as Estes, em grupos, encenaram a narrativa
(ii) Oportunizar situações de estudo e crianças apenas a ilustração, escondendo do sanduíche da Maricota, possibilitando
reflexão sobre o sistema de escrita alfabé- o título, a fim de que pudessem expressar o desenvolvimento da oralidade, o que,
tica para avançar no conhecimento e na suas hipóteses. Com esse objetivo, foram para alguns, foi tranquilo, mas para
aquisição da leitura e da escrita convenci- feitas perguntas como, por exemplo: outros não foi uma tarefa muito fácil. As
onal; (iii) Reconhecer a importância de “Sobre o que será que este livro vai falar?
uma alimentação saudável; (iv) Por quê? Que título poderia ter este
Identificar a origem dos alimentos; e (v) livro?”. Na ocasião, as crianças apresen-
1
Pedagoga, especialista em Séries Iniciais e Educação
Infantil, e professora da Rede Pública Municipal do
Trabalhar e interpretar tabelas, gráficos e taram diversas opiniões, como: “a Município de Santa Helena, SC.
2
Pedagoga, especialista em Educação e professora da
situações problemas usando diferentes Maricota comeu um sanduíche”; “O Rede Pública Municipal do Município de Santa Helena,
SC.
estratégias de resolução. sanduíche estava gostoso”; “O galo 3
Pedagoga, especialista e Mestre em Educação, pro-
fessora no Curso de Pedagogia e Matemática da FAI
Por meio dessa atividade e desses obje- também queria um sanduíche”. Faculdades de Itapiranga, Orientadora de Estudos da
GERED de Itapiranga, SC, no ano de 2013, e
tivos, as educadoras procuraram integrar Seguindo com o objetivo de instigar a Formadora do PNAIC, 2014 e 2015, UFSC, SC

84
apresentações foram filmadas para poste-
riormente serem assistidas pela turma.
A atividade realizada proporcionou
uma avaliação da compreensão do texto
de forma lúdica. Neste sentido, contem-
plou-se um dos direitos de aprendizagem
do eixo da oralidade, ou seja, “participar Figura 2 - Imagem das crianças organizando uma lista de ingredientes para o sanduíche
Fonte: acervo pessoal da professora
de interações orais, questionando, argu-
mentando e respeitando os turnos da Na sequência, os alunos foram convi- mas palavras, com o objetivo de contribu-
fala” (BRA SIL, 2012, p. 35). dados a escrever uma lista com alimentos ir para o processo de apropriação do
Segundo Magalhães, Araujo, Achtschin que gostam de comer. SEA pelas crianças.
e Melo (2012, p. 11), “o professor preci- Com o propósito de manter presente o
sa levar em conta os usos que fazemos da gênero mote da atividade em tela, receita,
oralidade na sociedade, promovendo a professora seguiu questionando: “Este
atividades sistemáticas que envolvam os cartaz é uma receita? Por quê? Do que
gêneros orais como, por exemplo, apre- uma receita precisa?”. Para avançar no
sentação de trabalhos, participação em estudo do gênero, foi também apresenta-
entrevistas, contação de histórias”. da às crianças uma receita de salada de
Dando continuidade à sequência didá- frutas.
tica, foi iniciada a problematização inicial Após a leitura da receita da salada de
do gênero receita, encontrado no interior frutas, das discussões e da análise foram
da obra trabalhada com o grupo. A realizadas as seguintes atividades de
Figura 3 - Exemplo de produção textual escrita
professora, então, problematizou os interpretação:
no gênero lista - Fonte: acervo pessoal da professora
seguintes aspectos: “O que Maricota
precisa ter e saber para fazer o sanduí- Após a socialização da lista, a profes- ANALISANDO A SALADA DE FRUTAS

che? O que ela utilizou? Quem da turma sora conversou com os alunos sobre a 1 - OS INGREDIENTES PRECISAM SER:

também gosta de sanduíche? O que importância de se consumir alimentos BATIDOS MISTURADOS

precisamos saber para fazer um sanduí- saudáveis, incluindo mais frutas, verdu- 2 - O TEXTO FOI ORGANIZADO COM:

che? Como se chamam os textos que ensi- ras e comidas preparadas em casa, ao TÍTULO INGREDIENTES

MODO DE FAZER MODO DE SERVIR


nam como preparar comidas? Alguém já invés daquelas industrializadas. Foi apre-
3 - MARQUE COM X A FRASE CORRETA:
viu uma receita? Onde? Quem costuma sentada a pirâmide nutricional e a turma
A RECEITA INDICA ONDE COMPRAR OS INGREDIENTES.
usar esses textos? Quando? A galinha discutiu sobre a importância dos grupos A RECEITA MOSTRA A QUANTIDADE DE CADA INGREDIENTE.
Maricota fez uso de uma receita para alimentares para um desenvolvimento
fazer o sanduíche?” sadio do organismo.
Figura 4 – Exemplo de atividade realizada com
Após os questionamentos, que ajuda- Em outro momento, cada aluno rece- as crianças - Fonte: acervo pessoal da professora
ram a sondar os conhecimentos prévios beu uma ficha com o nome de um recheio
dos alunos sobre o assunto em questão, listado anteriormente. Em seguida, foi Realizadas as atividades, foi proposta
elaborou-se, em conjunto, uma lista realizada a produção de um cartaz, no também uma pesquisa com as famílias:
(gênero textual já trabalhado anterior- qual as fichas foram coladas em ordem
PESQUISE COM SUA FAMÍLIA UMA RECEITA DELICIOSA.
mente) com os possíveis recheios que alfabética, com o propósito de observar a PODE SER DOCE OU SALGADA E ESCREVA.
poderiam ser colocados em um sanduí- letra inicial de cada palavra. Durante essa
Figura 5 – Pesquisa realizada com as famílias.
che. Ao fazer o registro das palavras, produção, as crianças puderam refletir
aproveitou-se também para refletir sobre sobre o emprego das letras e seu valor Desta forma, partindo das receitas
o sistema de escrita alfabética. sonoro nas palavras, bem como sobre a pesquisadas junto às famílias, discutiu-se
semelhança entre as letras inicias de algu- sobre: (i) estrutura do gênero – “Como
85
estão organizadas as receitas? O que
O que Ana sabe sobre... alimentos saudáveis
todas têm em comum?”; (ii) conteúdo
Autor(a): Simeon Marinkovic
temático – “Que assunto as receitas Ilustrações: Dusan Pavlic
exploram? As receitas possuem indica-
ção de autor?”; e (iii) função social – A obra O que Ana sabe sobre... alimentos saudáveis traz
“Qual a importância das receitas? Para diversas perguntas sobre o que pensa, o que fala e o que faz
que servem? Como geralmente tomamos uma garo nha chamada Ana, em relação às suas escolhas
conhecimento das receitas? São textos alimentares. As respostas apresentadas levam o leitor a
refle r acerca da alimentação saudável e da higiene
que ensinam ou divertem? Como perce-
alimentar. Há, ainda, na obra, um convite do autor para que
bemos isso?”.
os pais leiam o livro com seus filhos e discutam com eles
Durante as reflexões e a leitura das re- esses temas, atentando para o que eles dizem e procurando,
ceitas, a professora, como escriba, listou o sempre que possível, responder aos seus ques onamentos e
nome das receitas no quadro para posteri- orientá-los no sen do de uma alimentação saudável.
or leitura e observação, tendo como finali-
dade fazer com que as crianças percebes- Figura 8 - Imagem e sinopse do livro “O que Ana sabe sobre... alimentos saudáveis”
Fonte: Livro dos Acervos complementares, 2012, p. 52
sem as receitas com os títulos parecidos,
iguais e as que mais se destacaram. de uma alimentação saudável, foi realiza- Ainda aproveitando o conteúdo em
da a leitura do livro “O que Ana sabe estudo, foi feito uso do livro didático de
sobre... alimentos saudáveis”, de Simeon matemática a fim de estudar, completar e
Marinkovic. analisar tabela e gráfico a partir das infor-
Após a leitura do livro, diversas ques- mações coletadas dos alunos referente à
tões foram levantadas, buscando-se a preferência dos alimentos apresentados.
compreensão e o aprofundamento da
temática sobre alimentos saudáveis. O
livro contribuiu muito com o estudo, pois,
em diversos momentos durante a leitura
Figura 6 - Atividade realizada por uma criança da história, os alunos conseguiram fazer
Fonte: acervo pessoal da professora inferências, como também relacionar
Em conjunto, foram também destaca- atitudes saudáveis que já costumavam
dos nomes de alimentos presentes nos títu- fazer e outras que precisariam rever.
los das receitas pesquisadas, e proposta a
seguinte atividade:

COPIE DA LISTA UM ALIMENTO COM:

1 SÍLABA

2 SÍLABAS

3 SÍLABAS

4 SÍLABAS Figura 10 - Compreendendo gráficos


Fonte: acervo pessoal da professora

Figura 7 - Atividade envolvendo conhecimento Aprofundando o estudo do gênero rece-


sobre sílabas - Fonte: acervo pessoal da professora ita, foi também contada a história “Que
delícia de bolo!”, de Sílvia Calixto e Elza
A fim de dar continuidade aos estudos Figura 9 - Atividade sobre gráficos e tabelas Calisto.
e fomentar a reflexão sobre a importância Fonte: acervo pessoal da professora

86
cartaz no qual puderam classificar as
Que delícia de bolo! figuras em alimentos de origem animal
Autor(a): Sìlvia Calixto e Elza Calixto e vegetal.
Imagens: Robson Araújo
Para estimular a leitura e a escrita,
A obra Que delícia de bolo! oportuniza o leitor além da compreensão do gênero recei-
conhecer as etapas da produção de alguns dos ta, foi apresentada uma receita com ilus-
ingredientes de um bolo de chocolate, a exemplo do tração dos ingredientes. O desafio
leite, dos ovos e do açúcar derivado da cana-de-açúcar. dessa atividade era o de fazer o registro
Além da proposta de mostrar ao leitor um pouco mais escrito da receita, contendo título,
sobre a cadeia produ va desses alimentos, desde o ingredientes e modo de fazer (o que
campo até o processo de industrialização e
exigiu leitura, recorte e colagem passo a
comercialização, o livro também apresenta sua
passo, na ordem correta).
importância nutricional, bem como suas propriedades
Finalizando o trabalho com o gênero
e algumas curiosidades a ele relacionadas.
receita, cada turma escolheu uma para
Figura 11 - Imagem e sinopse do livro “Que delícia de bolo!”
Fonte: acervo pessoal da professora

O livro também contribuiu para seme-


ar a discussão sobre a origem dos alimen-
tos. Após a socialização dos conhecimen-
tos prévios dos alunos acerca do assunto,
foi proposto um recorte de figuras de dife-
rentes alimentos para a confecção de um

Figura 12 - Imagem das crianças


confeccionando o cartaz
Fonte: acervo pessoal da professora

Figura 15 - Imagens das crianças preparando e


Figura 13 - Imagem da lista de alimentos Figura 14 - Organização da receita pelas saboreando a salada de frutas
animais e vegetais - Fonte: acervo pessoal da professora crianças - Fonte: acervo pessoal da professora Fonte: acervo pessoal da professora

87
Figura 16 - Imagens da exposição das atividades escolares
Fonte: acervo pessoal da professora

desenvolver, ou seja, para preparar e sabo- CALIXTO Elza; CALIXTO Silvia. Que delícia
de bolo. Belo Horizonte: Dimensão, 2013.
rear. Todos contribuíram trazendo os
CORCINO, Patrícia. As crianças de seis anos e
ingredientes. A turma do turno matutino as áreas do conhecimento. In: BRASIL. Ensino
escolheu preparar uma salada de frutas e, Fundamental de nove anos: orientações para
a inclusão da criança de seis anos de idade.
a turma do vespertino, preparou uma vita- Brasília: MEC, 2007.
mina de frutas. DOLZ, Joaquim; SCHNEUWLY, Bernard.
Como produto final da sequência didá- Gêneros orais e escritos na escola. São
Paulo: Mercado de Letras, 2004.
tica aplicada, as receitas pesquisadas e GUEDES, Avelino. O Sanduiche de Maricota.
estudadas em sala foram organizadas de Coleção Girassol. Brasil: Moderna, 2002.
modo a compor um pequeno livro de re- MAGALHÃES, Luciana Manera; ARAUJO, Rita
de Cássia Barros de Freitas; ACHTSCHIN,
ceitas, com o objetivo de circular entre as Simone Borrelli; MELO, Teresinha Toledo
famílias dos educandos. Melquíades de. Planejamento do ensino:
alfabetização/aprendizagem do componente
O livro de ambas as turmas fez parte da curricular – Língua Portuguesa. In: Brasil.
exposição de trabalhos escolares, ocasião Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade
Certa: Planejamento escolar. Alfabetização e
em que foi muito manuseado, lido e Ensino da Língua Portuguesa. Ano 1. Unidade
compartilhado entre pais, filhos e visitan- 2. Brasília: MEC, SEB, 2012.
MARINKOVIC, Simeon. O que Ana sabe
tes. sobre alimentos saudáveis. São Paulo: Volta
Por fim, é possível afirmar que, para a e Meia, 2010.
aprendizagem de fato acontecer, é neces-
sário promover situações planejadas e
diversificadas de ensino, de modo a
ampliar seu conhecimento. Cabe desta-
car, também, que é fundamental que
todas essas aprendizagens aconteçam em
situações significativas, nas quais as
crianças possam falar, escrever, escutar e
ler em situações reais de interação.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de
Educação Básica. Acervos complementares:
alfabetização e letramento nas diferentes áreas
do conhecimento. Brasília: MEC, 2012.

88
O TRABALHO COM RECICLAGEM NO ESPAÇO
ESCOLAR:
Janaíta Dalmoro1
REFLETINDO SOBRE O FUTURO Juçara E. Stefanes2
Rosângela B. de S. da Silveira3

A experiência aqui apresentada advém o necessário para sua subsistência, apresentada. Na conversa, concluíram
de projeto desenvolvido com uma turma desperdiçando recursos que a natureza que foi a partir da ideia do menino de
do terceiro ano da Escola Municipal generosamente colocou à sua disposição. desenvolver um projeto sobre reciclagem
Nossa Senhora de Lourdes, de Joaçaba – Uma das maneiras mais importantes de que o problema da cidade foi soluciona-
Santa Catarina, e teve como temática lutar para que este planeta continue habi- do.
''Quem ama recicla, garantindo o futuro''. tável é por meio da reciclagem. Essa discussão foi promovida com o
Este projeto objetivou sensibilizar os De acordo com os Parâmetros objetivo de incentivar a participação e as
alunos para que se tornem cidadãos cons- Curriculares Nacionais - PCN (1997), interações orais em sala de aula, bem
cientes, aptos a atuarem na realidade soci- “É preciso fazer considerações sobre o como para incitar o levantamento de hipó-
oambiental de um modo comprometido lixo como um importante arsenal de maté- teses e a argumentação por parte dos
com a vida, com o bem-estar de cada um e ria a ser aproveitada como composto orgâ- alunos.
da sociedade, por meio de campanha, nico, ou reciclada, e o problema da Cumprida esta primeira parte, ingres-
atitudes, ações concretas e mudanças de produção de materiais não- degradáveis''. sou-se de fato no projeto.
hábito com o meio onde vivem, através da Sendo assim, a escolha do tema se A professora explicou aos alunos que,
reciclagem do lixo. justificou pela necessidade de sensibilizar assim como na história apresentada em
A unidade escolar referida é constituí- os alunos a desenvolverem práticas de forma de teatro, eles iriam desenvolver em
da por equipe gestora, professores e cuidado com o meio em que vivem, por conjunto um projeto na escola, com o
funcionários. Atende 233 alunos, totali- meio de ações que protejam o futuro do tema ''Quem ama recicla, garantindo o
zando 11 turmas, desde a Educação meio ambiente. Neste contexto, portanto, futuro''.
Infantil até o Ensino Fundamental Anos é indispensável o trabalho do professor Para que o tema fosse melhor compre-
Finais. Os alunos, majoritariamente, como orientador do processo, garantindo endido, foi proposta uma discussão na
pertencem ao nível socioeconômico aos estudantes os direitos de aprendiza- qual alguns aspectos foram ressaltados,
baixo, e possuem idades entre 4 e 13 gem por meio de práticas pedagógicas. por exemplo: O que é amar? Quem ama
anos. A turma na qual se desenvolveu o Para introduzir o tema, foi apresentado pratica ou desenvolve alguma atitude? E
projeto é composta por 28 alunos, com um teatro a partir do gênero textual do os alunos, que atitudes podem praticar, se
idades entre 8 e 9 anos. Esta turma apre- livro “Se o lixo falasse'', do FNDE, do eles amam? O que é futuro? O que se
senta 23 crianças alfabetizadas e 5 crian- programa Pacto Nacional pela Al- encontrará no futuro? O que significa a
ças ainda não alfabetizadas, dentre as fabetização na Idade Certa, do MEC. palavra reciclar?
quais uma é portadora de necessidades O enredo dessa história trata de um Diante das inúmeras e heterogêneas
especiais (CID10-Q90)4. projeto desenvolvido por um menino e respostas dos alunos e com as interven-
Por ser um tema de responsabilidade apresentado à sua professora como forma ções e orientações feitas pela professora,
de todos, devido à grande importância da de solucionar o problema da produção de chegou-se ao consenso de que quem ama
preservação do meio ambiente e do lugar lixo na cidade na qual vive; problema este deve desenvolver práticas de reciclagem,
no qual se vive, surgiu a necessidade de que havia sido relatado pelas próprias para assim amenizar o problema do
promover uma conscientização e uma embalagens ao menino. 1
Professora. Pós-Graduada em Ensino Fundamental e
mudança de valores e de atitudes nos Após o teatro, houve um debate no Educação Infantil e professora da Rede Pública
Municipal da cidade de Joaçaba.
alunos, por meio do tema já indicado. qual os alunos foram questionados acerca 2

3
Orientadora.
Formadora.
O ser humano sempre retirou da terra dos aspectos mais relevantes da história 4
Síndrome de Down.

89
planeta e, consequentemente, garantir o sua composição, e que há uma organiza- posição do lixo jogado no meio ambiente,
futuro. ção convencional para esta separação, da qual resultou uma maquete represen-
Dando sequência ao projeto, discutiu- por meio de cores distintas e lixeiras apro- tando o tempo de decomposição de cada
se sobre o lixo produzido e encontrado no priadas para cada fim. material. Em seguida, foi produzido um
dia a dia. Como sondagem, durante a O momento de leitura teve como objeti- gráfico sobre os dados coletados. Com a
roda da conversa, a professora questio- vo proporcionar ensinamentos sobre o
nou as crianças: como seus familiares assunto por meio do gênero textual, neste
desenvolvem a separação do lixo? O lixo caso, de texto informativo. Este eixo de
da sua casa é separado em quais materia- leitura foi escolhido tendo em vista que a
is? Vocês reutilizam as embalagens? professora desejava fazer com que os
A partir dessas respostas, a educadora alunos antecipassem os sentidos e ativas-
solicitou que os alunos criassem uma lista sem o conhecimento relativo sobre o texto
de lixo produzido por eles, a qual foi soci- que iriam estudar adiante.
alizada posteriormente em um mural. Assim, após a leitura, os alunos reali-
Também foi realizada análise e coleta zaram a separação dos materiais trazidos
de figuras que demonstrassem a situação por eles de acordo com sua composição e
do meio ambiente. com a cor da lixeira, exemplo: plástico-

Figura 1 – Montagem de cartazes na parede


Fonte: acervo pessoal da professora

Na ocasião, foi enviado aos pais um vermelho, vidro-verde, papel-amarelo e


questionário para que respondessem metal-azul.
Figura 3 – Pesquisa, maquete e gráfico
como ocorre o processo de descarte das Dando sequência ao projeto, foi reali- Fonte: acervo pessoal da professora

embalagens na sua casa. Com o questio- zada pesquisa sobre o tempo de decom-
nário respondido, aconteceu a leitura cole-
tiva das ações desenvolvidas em cada famí-
lia.
No desenvolvimento deste projeto
houve também momentos de leitura infor-
mativa sobre o que é a coleta seletiva do
lixo, possibilitando que os alunos perce-
bessem, por meio da leitura, que os mate-
Figura 2 – Leitura e exposição de trabalhos realizados
riais devem ser separados de acordo com Fonte: acervo pessoal da professora

90
consolidação dos dados organizados no processo de transformação do papel em
gráfico, os alunos puderam observar que papel machê, seguindo as orientações do
este lixo pode causar grandes danos ao texto instrucional estudado, e realizada a
meio ambiente. confecção de uma taça com o papel reci-
Dando continuidade, desenvolveu-se clado.
um trabalho com o gênero textual cartaz,
após algumas explanações sobre como
este gênero é caracterizado e como produ-
zi-lo.
Na produção de cartazes, então, a
professora instigou os alunos por meio de
conversa sobre quais atitudes devem ser
praticadas para salvar o planeta, tendo
em vista que este necessita de cuidados.
Logo após, a docente organizou as Figura 5 – Oficinas
Fonte: acervo pessoal da professora
crianças em duplas levando em conta ní-
veis de leitura e escrita diferentes. Após ter sido avaliado o conhecimento
Solicitou, então, que cada dupla pensas- que os alunos haviam adquirido sobre o
se no cartaz que iria criar para divulgar as texto instrucional, chegou a hora de
possíveis atitudes que poderiam ser prati- produzirem texto semelhante. Assim, a Figura 6 – Produção textual orientada
Fonte: acervo pessoal da professora
cadas para amenizar o problema com o professora solicitou que produzissem um
meio ambiente. texto instrucional explicando como ocor- Após as inferências, aos poucos a
A partir da produção dos cartazes, reu o processo de confecção da taça com professora foi verificando as produções
colocou-se em prática algumas destas papel machê. Foi recomendado aos novamente e problematizando, orientan-
atitudes. Foi realizada, por exemplo, uma alunos que planejassem como fariam o do, estimulando a reflexão dos possíveis
campanha de coleta de óleo de cozinha, texto antes de começar a escrever. erros de cada um, pois nada melhor do que
uma vez que costuma ser destinado de Durante a produção, em um primeiro refletir sobre os próprios erros. Em segui-
forma incorreta nas famílias, causando momento, a professora passou de cader- da, a turma foi autorizada a repassar a
sérios danos à natureza. no em caderno analisando como eles esta- produção textual para a folha, sendo poste-
Também foram realizadas oficinas de vam organizando os textos e sanando dúvi- riormente compartilhada com o grupo.
reaproveitamento, confecção de brinque- das sobre a escrita de algumas palavras, É preciso permitir que as crianças
dos e reciclagem de papel, a partir do estu- convenções ortográficas e mesmo sobre a discutam sobre as soluções e mesmo que
do do gênero textual texto instrucional. estruturação dos parágrafos. Estes, no errem, a fim de que possam refletir sobre
Findando o estudo, foi trabalhado com o entanto, já eram alunos alfabetizados. seus erros para superá-los.

Figura 4 – Cartazes e campanha Figura 7 – Reorganizando a produção textual


Fonte: acervo pessoal da professora Fonte: acervo pessoal da professora

91
Figura 8 – Produção de texto finalizada
Fonte: acervo pessoal da professora
Figura 10 – Registros no quadro
Com os alunos ainda não alfabetiza- esclareceu para os alunos que a produção Fonte: acervo pessoal da professora

dos, a produção do gênero foi realizada seria realizada em grupo, tendo início a identificação das letras do alfabeto-
por meio da utilização de um roteiro de pela primeira parte, que era a dos materi- móvel, explorando os fonemas de cada
palavras. Primeiramente, a professora ais. Após esta analogia, trabalhou-se com uma, desenvolvendo por meio desse exer-
cício a consciência fonológica com esses
alunos que ainda não se apropriaram do
sistema da escrita.
No decorrer da atividade, a docente foi
questionando, orientando e auxiliando o
grupo em todas as montagens das pala-
vras desta primeira parte da produção. A
cada palavra montada, os alunos pratica-
vam as tentativas de leitura e registravam
no cartaz cada uma das palavras produzi-
das. Esta atividade não só auxiliou a
resolver as dúvidas, mas também estimu-
lou os alunos para que, de fato, assumam
uma atitude cooperativa, uma vez que a
atividade foi realizada coletivamente.
Na continuidade, a segunda parte da
produção do texto, que é o processo de
como fazer, foi realizada no quadro coleti-
vamente, com a utilização do cartaz já
produzido como banco de palavras.
Figura 9 – Trabalhando com o alfabeto-móvel Por meio desse trabalho, a docente
Fonte: acervo pessoal da professora pôde perceber que qualquer aluno possui

92
tar o tema aos alunos, a professora fez uso
de textos, pequenos vídeos, explicações e
pesquisas, os quais visavam a elaboração
do conhecimento científico. Os conceitos
e aprendizagens foram problematizados a
todo o momento. Os alunos recebiam
explicações e retribuíam com comentários
Figura 11 – Confecção de brinquedos e objetos com garrafas pet acerca do que lhes era apresentado, assim
Fonte: acervo pessoal da professora como também o seu conhecimento era
condições de aprender, o importante é Por meio das atividades desenvolvidas sistematizado e organizado por meio das
focar nas potencialidades individuais e neste projeto, foram abordados os direi- interações orais e de produções escritas.
procurar fornecer condições para que tos de aprendizagem dos componentes de Em matemática, os direitos foram
estas sejam valorizadas. Língua portuguesa, matemática, ciênci- contemplados com o auxílio das pesqui-
Também se trabalhou com o reaprovei- as, artes e educação física. Esses direitos sas no laboratório de informática sobre o
tamento de materiais, por meio da confec- foram assegurados por meio das aprendi- tempo de decomposição de alguns lixos
ção de uma bandeira do Brasil com garra- zagens de conceitos de diversas áreas, o produzidos. Também foi realizado um
fas pet e brinquedos. que foi ocorrendo no desenrolar das estudo em grupo sobre como as informa-
Em consonância com o projeto “Quem proposições metodológicas. ções ficaram organizadas em forma de
ama recicla, garantindo o futuro” há na Em ciências, por exemplo, o desenvol- gráfico.
cidade algumas parcerias, como, por vimento das atividades aconteceu por Foi realizada, ainda, a exploração dos
exemplo, Sebratep Educacional, Afu- meio do conhecimento prévio dos alunos algarismos, trabalhando o sistema de
bra, Tirol e a Gerência de Meio Am- no contato com o tema do projeto e do numeração decimal de forma lúdica e
biente da Prefeitura de Joaçaba, por meio diálogo com o componente curricular de com material concreto. Também se traba-
da coleta de pilhas e baterias usadas. língua portuguesa, ou seja, para apresen- lhou com a diferença de tempo de decom-
posição de um material para outro, com a
representação do material dourado.
Igualmente se trabalhou com situações-
problema que levassem o aluno a perce-
ber que este tempo de decomposição dos
materiais pode influenciar na vida das
pessoas. Para realizar esta e outras situa-
ções que foram propostas, os alunos
buscaram no gráfico a informação do
tempo que o produto levaria para se
decompor e, assim, realizaram as situa-
ções propostas.
Abordando o componente curricular
artes e educação física, foi trabalhado
com oficinas. Realizou-se, então, o
processo de reaproveitamento e recicla-
gem dos materiais. Como era época de
Copa do Mundo, aproveitou-se a oportu-
nidade para trabalhar com a confecção de
Figura 12 – Crianças envolvidas nas atividades do projeto materiais relacionados a este evento,
Fonte: acervo pessoal da professora assim como outros materiais.
93
betização na Idade Certa, que garantiu à
educadora uma atuação profissional cons-
ciente, permitindo que contribuísse de
forma significativa na aprendizagem dos
alunos, preparando-os como futuros cida-
dãos ativos na sociedade na qual estão
inseridos.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da
Educação Fundamental. Parâmetros
Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, 1997.
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental.
Ministério da Educação. Parâmetros
Curriculares Nacionais: 5.ª a 8.ª séries do
Ensino Fundamental. v. 3. (Matemática).
Brasília: SEF/MEC, 1998.

Figura 13 – Trabalhos envolvendo componentes curriculares diversos


Fonte: acervo pessoal da professora

Durante o desenvolvimento do projeto educandos. Entretanto, o projeto “Quem


foi possível perceber, por meio do acom- ama recicla: garantindo o futuro” conti-
panhamento diário das atividades e da nuará sendo desenvolvido durante todo o
avaliação que ocorreu de forma processu- ano letivo, pois é um projeto que não apre-
al e contínua, que houve uma conexão senta um produto final, imediato, mas
entre as diferentes áreas do saber, tornan- sim através da conscientização e das
do possível desenvolver, nos alunos, cons- práticas de atitudes ao longo do ano e futu-
ciência ambiental e atitude de responsa- ramente.
bilidade em relação às suas ações, assim Por fim, é possível afirmar que a prática
como também foi possível desenvolver e pedagógica desenvolvida provém do
ampliar as capacidades linguísticas dos curso do Pacto Nacional pela Alfa-

Figura 14 – Exposição de objetos confeccionados


Fonte: acervo pessoal da professora

94
PROJETO RECICLAGEM:
RESGATANDO BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS
Sheila Beppler dos Santos1
Fernanda Coelho dos Santos2

Este projeto foi realizado pela professora Iniciamos o trabalho com a leitura do editora Educar. Conversamos sobre os
Sheila Beppler dos Santos com uma turma livro “Se o lixo falasse”, do autor personagens do folclore presentes no
do terceiro ano formada por 32 alunos com Fernando Carraro, editora Editorial. filme e sobre suas principais característi-
idades entre 8 e nove 9 anos, na Escola de Conversamos muito sobre a obra e abor- cas, com foco no Saci-Pererê, que foi o
Educação Básica Padre José Maurício, da damos, a partir dela, o fato de que nem personagem com maior destaque no
Rede Estadual do Município de tudo que jogamos fora é realmente lixo. filme.
Blumenau – Santa Catarina.
A ideia do projeto surgiu quando está-
vamos trabalhando sobre saneamento
básico, em Ciências, e estudamos sobre a
coleta de lixo. O objetivo era mostrar para
as crianças que, muitas vezes, aquilo que
colocamos no lixo não é na verdade lixo e
pode ser reutilizado.
Para tanto, foi escolhido o tema folclo-
re, visando resgatar brincadeiras antigas
criadas com materiais que podem ser Figura 2 - O sítio do Pica-pau Amarelo,
reutilizados e produzir instrumentos musi- episódio: O Saci
Fonte: acervo pessoal da professora
cais para apresentação da turma na “II
Noite Cultural da escola”. Surgiu, assim, Também conversamos sobre qual desti-
o projeto “Reciclagem: Resgatando no se deve dar a determinados materiais,
Brinquedos e Brincadeiras”. e que muitos deles podem ser reaproveita-
dos em nossa própria casa. Neste
momento, trabalhamos o conceito de sane- Figura 3 - Atividades realizadas a partir do filme
amento básico no que diz respeito à coleta e das leituras - Fonte: acervo pessoal da professora
do lixo e também o conceito de recicla-
Na sequência, as crianças confecciona-
gem. Em seguida, assistimos ao filme “O
ram o Saci Pererê com material reciclável.
sítio do Pica-pau Amarelo”, episódio “O
Trabalhando, assim, folclore e recicla-
Saci”.
gem. Para tanto, foram utilizados os
Após termos assistido ao filme em
seguintes materiais: jornais, revistas, fita
outro espaço escolar, voltamos para a sala
adesiva e tinta guache.
de aula e fomos procurar o significado da
A partir do trabalho do Saci, as crian-
palavra folclore no dicionário. Os alunos
ças realizaram também uma produção
não tiveram dificuldades para encontrar a
textual, trabalhando o gênero instrução.
palavra, pois já havíamos trabalhado com
eles o uso do dicionário. Assim, fizemos a 1
Alfabetizadora. Pedagoga cursista do PNAIC – Pacto
leitura do livro “Adivinha o que é... Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.
2
Figura 1 - Livro “Se o lixo falasse” Orientadora de Estudo. Pedagoga e orientadora de
Fonte: acervo pessoal da professora
folclore”, da autora Sandra Aymone, estudos do PNAIC.

95
bilboquê, que muitos já conheciam, mas
feito com outro tipo de material. Cada
criança, então, leu uma parte do processo
e discutimos juntos cada etapa, reforçan-
do o que deveria ser feito.
Foi uma atividade onde todos conse-
guiram interpretar as informações e
produzir seu brinquedo, demonstrando
interesse e envolvimento na confecção do
bilboquê.
Após esse exercício de confecção do
brinquedo, instigamos a curiosidade das
crianças com relação às brincadeiras de
antigamente, propusemos uma pesquisa
para descobrir como os nossos pais brin-
cavam.
Após essa pesquisa, construímos gráfi-
cos. Para tanto, explicamos para as crian-
ças o que é um gráfico, qual sua função e
Figura 4 - Confecção da personagem Saci-Pererê seus diferentes tipos, como, por exemplo:
Fonte: acervo pessoal da professora

Os alunos deveriam descrever os materia- raram os materiais utilizados e descreve-


is utilizados e as etapas seguidas até que o ram os passos seguindo a sequência
Saci ficasse pronto. correta para que o Saci ficasse pronto. A
Para fazer esta produção textual, no professora foi escriba durante esse
gênero instrução, em primeiro lugar fize- processo e anotou tudo no quadro.
mos um texto coletivo: as crianças enume- Na segunda etapa, apagamos o quadro
e as crianças ganharam uma folha na qual
descreveram o material e o processo de
confecção. Enquanto escreviam, tiravam
dúvidas sobre a escrita das palavras e,
quando o texto ficou pronto, leram junto
com a professora a fim de verificar se
ainda havia algo a ser corrigido. Para fina-
lizar, as crianças leram suas produções em
voz alta para toda a turma, no microfone.
Em outro momento, fizemos uma ativi-
dade inversa à do Saci. Tínhamos em
mãos um texto instrucional sobre como
fazer um brinquedo com material reciclá-
vel, e, a partir disso, as crianças deveriam
ler as instruções e confeccionar o brinque-
do, trabalhando com a interpretação de
Figura 6 - Seguindo as instruções contidas no
Figura 5 - Produção textual uma informação recebida. texto para confeccionar o brinquedo bilboquê
Fonte: acervo pessoal da professora O brinquedo a ser produzido era o Fonte: acervo pessoal da professora

96
colunas, linhas, barra e pizza. Com essa
explicação, as crianças compreenderam o
que era um gráfico e qual sua finalidade.
Por meio dessa atividade, portanto, os
educandos descobriram quais brincadei-
ras eram realizadas por seus pais quando
estes eram crianças. Perceberam que algu-
mas brincadeiras não são conhecidas por Figura 8 - Atividades realizadas pelos alunos
elas hoje em dia e que, muitas vezes, seus Fonte: acervo pessoal da professora

pais confeccionavam os próprios brinque- sobre a temática. Os grupos fizeram o preencher um envelope.
dos por falta de recursos, assim como está- texto a lápis e, antes de passá-lo para a O conteúdo do convite foi feito coleti-
vamos fazendo com material reciclado. cartolina, lemos em conjunto a fim de veri- vamente no quadro, salientando os itens
Uma brincadeira em especial chamou ficar se havia algum erro. Todos apresen- fundamentais: dia, hora e local do evento.
a atenção das crianças: a brincadeira do taram seus cartazes para a turma e depois O mesmo foi feito com o envelope, onde
elástico. Com base nisso, decidimos fizemos a exposição deles na escola. chamamos a atenção das crianças para o
pesquisar sobre ela e brincar também. destinatário, para o remetente e para os
Para complementar o assunto, fizemos itens fundamentais de cada um deles.
a leitura de um texto presente no livro Quando o envelope e convite ficaram
didático, “Jogando com o passado”, e fize- prontos, fizemos a correção de todos indi-
mos a interpretação. As crianças leram o vidualmente e entregamos um selo para
texto no microfone e conversamos sobre a cada aluno; após, finalizamos os convites
questão da tecnologia, com ênfase para o e levamos para o correio.
fato de que, muitas vezes, as crianças têm
brinquedos individualizadores, e não inte-
ragem com outras crianças.
Para dar continuidade ao trabalho com Figura 9 - As crianças preparando os cartazes
Fonte: acervo pessoal da professora
diferentes gêneros textuais, ensinamos
aos alunos como confeccionar um cartaz, Durante o projeto, fomos ensaiando
considerando tamanho da letra e do diariamente uma música da Turma da
texto, proporção entre texto e imagens, Mônica, chamada “Reciclar o lixo”, para
estética. apresentar na “II Noite Cultural da
Na sequência, as crianças produziram Escola”, onde também foi realizada a
em grupos cartazes sobre o tema recicla- exposição dos trabalhos desenvolvidos e Figura 10 - Mãe recebendo o convite para a II
Noite Cultural da Escola
gem contendo um pequeno texto sobre os para a qual os pais foram convidados. Fonte: acervo pessoal da professora
conhecimentos adquiridos e imagens Para convidar os pais, então, as crian-
encontradas em revistas ou desenhos ças aprenderam a fazer um convite e a Para finalizar o projeto, as crianças
brincaram com aquilo que produziram,
expuseram os trabalhos na “II Noite
Cultural da Escola” (incluindo alguns
brinquedos que tinham produzido com
seus pais, pois havíamos dado de tarefa –
por meio de bilhete – que todos deveriam
produzir um brinquedo com material reci-
clado com a ajuda dos pais e entregar no
Figura 7 - Alunos realizando as atividades
Fonte: acervo pessoal da professora prazo de duas semanas). Fizemos tam-

97
REFERÊNCIAS
AYMONE, Sandra. Adivinha o que é...
folclore. 1. ed. Goiânia, GO: Editora Educar,
2004.
BRASIL. Ministério de Educação. Secretaria de
Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão
Educacional. Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa. Currículo na
alfabetização: concepções e princípios. Ano 1.
Unidade 1. Brasília: MEC, SEB, 2012a.
BRASIL. Ministério de Educação. Secretaria de
Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão
Educacional. Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa. Planejando a
alfabetização; integrando áreas do
conhecimento. Projetos Didáticos e Sequências
Didáticas. Ano 01. Unidade 06. Brasília: MEC,
SEB, 2012b.
CARRARO, Fernando. Se o lixo falasse.
Coleção Planeta de Todos. 1. ed. Barueri, SP:
Editora Editorial 25, 2011.

Figura 11 - Brincadeiras com brinquedos


confeccionados pelos alunos da turma
Fonte: acervo pessoal da professora

bém uma belíssima apresentação, cantan-


do e tocando com chocalhos feitos com
materiais reciclados, por exemplo: latas
com pedrinhas dentro, canos de PVC
com arroz dentro e chocalhos de arame
com tampinhas de metais.
O projeto durou aproximadamente 40
dias, entre os meses de agosto e setembro.
Avaliamos a sequência de maneira muito
positiva, principalmente no que diz
respeito à produção textual e à interpreta-
ção de diferentes gêneros textuais. Fica
muito mais claro e fácil para a criança
produzir e interpretar sobre aquilo que
está vivenciando. Algumas falas e atitu-
des diárias dos educandos em relação à
reciclagem e ao desperdício também
demonstram o quanto aprenderam.

98
PactoNacionalpela
AlfabetizaçãonaIdadeCerta

Ministério da
Educação
Secretarias
G O V E R N O F E D E R A L

Núcleo de Estudos e Pesquisa Secretaria da Educação


Municipais
UNIVERSIDADE FEDERAL
P Á T R I A E D U C A D O R A DE SANTA CATARINA em Alfabetização e Ensino do Estado de de Educação
da Língua Portuguesa Santa Catarina

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