Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
EDUARDO
MONDLANE
Faculdade
de
Letras
e
Ciências
Sociais
Departamento
de
Arqueologia
e
Antropologia
Curso
de
Licenciatura
em
Arqueologia
e
Gestão
do
Património
Cultural
Disciplina:
Gestão
do
Património
Cultural
em
Moçambique
Por:
Albino
Jopela
TEMAS
V
&
VI
-‐
SISTEMAS
DE
GESTÃO
DO
PATRIMÓNIO
CULTURAL
&
PROTECÇÃO
DO
PATRIMÓNIO
CULTURAL
EM
MOÇAMBIQUE
1.
Premissas
de
um
sistema
de
gestão
do
património
O
termo
sistema
de
gestão
pode
ser
definido
como
sendo
uma
série
de
processos
que,
integrados,
visam
produzir
um
conjunto
de
resultados,
alguns
dos
quais
voltam
a
alimentar
o
sistema
de
modo
a
criar
uma
espiral
ascendente
de
melhoria
contínua
do
sistema,
suas
ações
e
realizações
(UNESCO-‐ICCROM-‐ICOMOS-‐IUCN
2013).
Um
sistema
de
gestão
para
o
património
cultural
ajuda
a
conservar,
gerir
e
salvaguardar
um
determinado
bem
patrimonial
(material
ou
imaterial)
de
modo
a
proteger
os
valores
patrimoniais
e,
sempre
que
possível,
aumentar
os
benefícios
sociais,
económicos
e
ambientais
para
além
dos
limites
desse
mesmo
bem.
Um
sistema
de
gestão
para
o
património
cultural
visa
sempre
alcançar
resultados
positivos
no
concernente
ao
cuidado
do
bem
patrimonial
e
aspirações/objetivos
das
partes
interessadas.
É
possível
identificar
seis
características
básicas
que
são
comuns
a
todos
sistemas
de
gestão
do
património
(‘menor
denominador
comum’),
ou
seja,
os
componentes
críticos
que
podem
ser
encontrados
em
todos
os
modelos,
podendo
ser
agrupadas
em:
• três
elementos
-‐
quadro
legal,
quadro
institucional
e
recursos;
• três
processos
-‐
planeamento,
implementação
e
monitoria;
Apesar
das
características
comuns,
cada
sistema
de
gestão
é
moldado
ou
definido
pelo
contexto
socioeconómico,
político
e
cultural
do
meio
em
que
se
encontra
e
vários
outros
factores
(por
exemplo,
recursos
disponíveis)
que
estão
em
constante
mutação
(são
dinâmicos).
Assim,
um
sistema
de
gestão
deve
ser
regularmente
revisto
e
actualizados
para
responder
a
alterações
ocorridas
no
bem
ou
no
contexto
envolvente
desse
mesmo
bem.
Para
ser
eficaz
um
sistema
de
gestão
de
património
precisa:
a) Abraçar
a
diversidade:
cada
sistema
de
gestão
de
património
é,
em
certa
medida,
único
porque
o
mesmo
é
moldado/definido
pelas
necessidades
específicas
do
património
que
se
pretende
cuidar,
bem
como
o
contexto
cultural
e
factores
sociais,
político-‐económicos
e
ambientais;
Texto
3
10/03/2015
1
b) Clareza
e
coordenação:
um
sistema
de
gestão
é
cíclico,
por
isso
é
importante
avaliar
o
seu
processo
e
realizações
de
modo
a
ajustar
as
suas
actividades
em
curso
e
melhorar
o
próximo
ciclo;
c) Prevenir
riscos
de
desastres:
um
sistema
de
gestão
deve
ser
suficientemente
flexível
para
lidar
com
acontecimentos
imprevisíveis,
tais
como
desastres
naturais
ou
flutuações
nos
recursos
financeiros
e
humanos
disponíveis
para
gestão;
d) Adoptar
uma
abordagem
participativa:
um
entendimento
compartilhado
do
bem
patrimonial
e
seu
significado
por
todas
as
partes
interessadas
e
seu
envolvimento
nos
processos
de
gestão
pode
mudar
radicalmente
a
forma
como
um
sistema
de
gestão
é
concebido.
2.
Diversidade
dos
sistemas
de
gestão
do
património
A
gestão/salvaguarda
do
património
cultural
tem
sido
orientada
por
dois
sistemas
distintos
e
com
estatutos
diferentes,
mas
em
muitos
casos
complementares:
o
sistema
formal
ou
moderno
e
o
sistema
tradicional
de
gestão
e
salvaguarda
(custódia
tradicional).
No
continente
africano
o
sistema
formal
de
gestão
e
salvaguarda
foi
introduzido
com
a
o
colonização
e
legitimado
pelas
instituições
do
Estado
através
da
adopção
de
instrumentos
legais
e
das
normas
aplicáveis
ao
património
cultural.
Pela
sua
natureza,
este
sistema
tornou-‐se
hegemónico
no
concernente
à
gestão
e
salvaguarda
da
herança
cultural
das
comunidades
(Jopela
2006).
Por
seu
turno,
o
sistema
de
custódia
tradicional
é
apanágio
de
muitas
comunidades
que
vivem
nas
proximidades
de
sítios
do
património
cultural.
A
custódia
tradicional,
enquanto
modelo
de
gestão
e
salvaguarda
do
património
é
anterior
à
ocupação
colonial
e
é
regido
por
sistemas
políticos,
sociais,
religiosos
e
éticos
das
comunidades
locais.
É
orientado
pelas
necessidades
do
dia-‐a-‐dia
(uso
e
práticas)
das
comunidades
e
legitimado
pelos
direitos
históricos
de
uso
e
aproveitamento
dos
recursos
naturais
e
culturais
existentes
e
disponíveis
localmente
(Jopela
2011).
2.1.
Os
sistemas
tradicionais
de
gestão
e
salvaguarda
do
património
(Custódia
Tradicional)
Embora
o
termo
custódia
tradicional
não
seja
explicitamente
utilizado
na
vasta
literatura
sobre
estudos
do
património,
a
sua
utilização
deliberada
nesta
discussão
visa
interligar
conceitos
e
temáticas
relacionados
com
os
sistemas
de
conhecimento
indígena,
património
cultural
imaterial
e
gestão
comunitária
dos
recursos,
na
perspectiva
de
analisar
o
modo
como
alguns
sítios
do
património
têm
sido
tradicionalmente
cuidados
pelas
comunidades
locais,
em
algumas
regiões
da
África.
Custódia
tradicional
é
um
subconjunto
do
amplo
sistema
tradicional
de
uso
e
gestão
de
recursos.
Estes
sistemas
tradicionais
podem
ser
definidos
como
um
corpo
cumulativo
de
práticas,
conhecimentos
e
crenças
sobre
a
relação
entre
os
seres
vivos
(incluindo
o
Homem)
com
o
seu
meio
ambiente.
Este
corpo
é,
por
sua
vez,
gerado,
preservado
e
transmitido
num
contexto
tradicional
e
intergeracional
(Taylor
&
Kaplen
2005:1646).
Sendo
um
complexo
de
conhecimentos,
práticas
e
crenças,
os
sistemas
tradicionais
de
Texto
3
10/03/2015
2
gestão
incluem
a
visão
do
mundo
de
uma
sociedade,
bem
como
um
corpus
não
escrito
de
hábitos
e
costumes
(Berkes,
Colding
&
Folke
2000:1252).
Nestes
sistemas
tradicionais
de
gestão
o
uso
de
bens
do
património,
quer
sejam
culturais
ou
naturais,
é
regida
por
regras
consuetudinárias
ou
leis
que
são
aplicadas
pelos
‘guardiões
da
tradição’.
Estes
indivíduos
são
os
principais
responsáveis
pela
organização
do
uso
e
salvaguarda
dos
recursos.
Tal
inclui
a
criação,
uso
e
reprodução
de
mecanismos
sociais,
tais
como
ritos
e
tabus,
para
manter
o
respeito
pelos
lugares
que
são
culturalmente
importantes
ou
considerados
sagrados
pela
comunidade
(Mantjoro
1996).
No
geral,
os
sistemas
tradicionais
de
gestão
têm
como
objectivo
promover
o
uso
sustentável
dos
recursos
culturais
e
naturais
e
implicitamente
salvaguardar
as
qualidades
e
os
valores
desses
locais.
O
termo
custódia
tradicional
refere-‐se,
portanto,
a
todos
os
mecanismos
e
acções
levadas
a
cabo
pelas
comunidades
locais,
guiadas
por
costumes
e
sistemas
de
crenças
que
visam
o
seu
uso
contínuo
e
a
preservação
do
sítio,
dos
seus
valores
e
seu
ambiente
circundante,
incluindo
a
salvaguarda
da
importância
simbólica
desse
mesmo
sítio
(Jopela
2011).
Desde
o
período
pré-‐colonial
inúmeras
comunidades
em
muitas
partes
da
África
tiveram,
e
muitas
ainda
têm,
sistemas
de
custódia
tradicional
para
assegurar
o
respeito
pelos
lugares
que
são
culturalmente
importantes
(Joffroy
2005).
A
custódia
tradicional
está
firmemente
ancorada
no
património
imaterial
visto
que
as
tradições,
os
valores
éticos,
os
costumes
sociais,
os
sistemas
de
crenças,
as
cerimónias
religiosas
e
outros,
são
elementos
constitutivos
dos
sistemas
tradicionais
de
gestão
dos
recursos
em
muitas
sociedades
Africanas
(Munjeri
2002).
Assim,
a
visão
holística
que
muitas
comunidades
ostentam
em
relação
à
essência
do
património
natural
e
cultural,
é
uma
das
características
da
custódia
tradicional.
Nesta
óptica,
paisagens
naturais
são
essencialmente
concebidas
como
um
reflexo
da
interacção
entre
as
pessoas
e
o
seu
ambiente
natural,
no
espaço
e
no
tempo.
Segundo
Sætersdal
(2004:200),
sob
o
ponto
de
vista
cosmológico,
as
paisagens
são
culturalmente
aprendidas
e,
de
forma
independente
ou
colectiva,
experimentadas.
Através
do
processo
da
experiência
cultural
em
uma
paisagem,
o
conhecimento
individual
ou
colectivo
associa-‐se
a
determinados
lugares
e
muitas
vezes
o
passado
se
mistura
com
o
presente.
Na
maioria
das
comunidades
em
África,
crê-‐se
que
os
espíritos
ancestrais
vivem
em
sítios
especiais
na
terra,
como
é
o
caso
de
florestas,
árvores
gigantescas,
lagoas
e
poços
naturais,
grutas
ou
abrigos
rochosos
(Sheridan
&
Nyamweru
2008).
Deste
modo,
não
constitui
surpresa
que
alguns
sítios
arqueológicos,
inseridos
nestas
paisagens
espirituais,
como
o
amuralhado
de
pedra
do
Grande
Zimbabué
(no
Zimbabwe)
ou
assentamentos
populacionais
abandonados
nas
Florestas
Mijikenda
Kaya
(no
Quénia)
sejam
considerados
como
os
santuários
pelas
suas
comunidades
locais
contemporâneas.
Os
sistemas
de
custódia
tradicional
têm
os
seus
alicerces
nas
tradições
(embora
tais
tradições
sejam
constantemente
redefinidas
e
alteradas
pela
sociedade)
e
as
Texto
3
10/03/2015
3
comunidades
legitimam
o
seu
direito
de
uso
dos
recursos
através
da
herança
e
de
processos
históricos.
A
definição
legal
de
direito
de
propriedade
não
é
a
mais
importante,
mas
sim
as
vivências
das
tradições
pois
estas
definem
e
legitimam
o
direito
de
propriedade
(Rudmin
&
Berry
1987:1).
Os
guardiães
responsáveis
pelos
locais
sagrados
executam
várias
tarefas
tradicionalmente
definidas
em
épocas
diferentes
e
em
diferentes
níveis
administrativos,
técnicos
e
espirituais.
Consequentemente,
o
direito
de
custódia
sobre
o
património
cultural
ou
natural
é
considerado
inalienável
visto
que
a
custódia
não
pode
ser
transferida,
nem
como
oferta
e
nem
mesmo
numa
transacção
comercial.
No
contexto
dos
sistemas
de
custódia
tradicional
existe
uma
ligação
estrita
entre
o
uso
do
património
e
o
sustento
das
comunidades
locais
no
dia-‐a-‐dia.
A
integração
de
sítios
arqueológicos
(por
exemplo,
sítios
com
pinturas
rupestres)
na
dinâmica
socioeconómica
das
comunidades
contemporâneas,
através
de
rituais
de
invocação
de
chuvas,
é
uma
boa
ilustração
desta
característica
dos
sistemas
tradicionais.
Os
rituais
de
invocação
e
controle
das
chuvas,
que
muitas
vezes
ocorrem
em
locais
do
património
(locais
sagrados)
são
muito
importantes
para
a
comunidade
visto
que
do
controle
da
chuva
depende
a
boa
campanha
agrícola,
consequentemente
a
saúde
e
ordem
social
no
seio
da
comunidade
(Macamo
&
Sætersdal
2004).
Pelo
exposto
acima
torna-‐se
evidente
que
os
sistemas
de
custódia
tradicional
protegem
o
património
cultural
e
natural
através
de
práticas
socioeconómicas
e
religiosas
muitas
vezes
sustentáveis.
Práticas
estas
que
têm
sido
desenvolvidas
e
aperfeiçoadas
ao
longo
dos
tempos.
Com
a
colonização,
os
sistemas
formais
de
gestão
foram
introduzidos
em
todo
o
continente
Africano.
No
quadro
destes
sistemas,
a
gestão
do
património
passou
a
ser
regida
por
um
conjunto
de
instrumentos
legais
(legislação
cultural);
implementada
através
de
processos
administrativos
definidos
pelo
Estado;
orientada
e
informada
pela
ciência
(Arqueologia,
História,
Conservação
e
outras
áreas
do
saber);
e
dirigida
pelos
profissionais
ou
especialistas
em
património
(Mumma
2005).
Uma
das
implicações
práticas
deste
cenário
foi
que
com
a
introdução
da
legislação
cultural,
os
sítios
do
património
tornaram-‐se
propriedade
do
Estado.
Por
outro
lado,
a
legislação
cultural
introduzida
no
período
colonial
não
visava
proteger
a
diversidade
do
património
cultural
africano,
mas
sim
proteger
e
promover
alguns
sítios
que
serviam
os
interesses
da
ideologia
colonial.
Por
exemplo,
a
ênfase
na
protecção
do
património
imóvel
após
a
adopção
da
primeira
legislação
sobre
património
cultural
em
Moçambique
(o
Diploma
Legislativo
nr.
825
de
1943),
centrou-‐se
na
preservação
de
monumentos
que
testemunhavam
e
exaltavam
a
presença
colonial
portuguesa
(Macamo
2006).
De
facto,
a
gestão
do
património
cultural
é
actualmente
concebida
como
sendo
todos
“os
processos
orientados
por
políticas
públicas
e
legislação
relativa
ao
património,
que
conservam
e
protegem
o
património
cultural
e
ao
fazê-‐lo,
constroem
e
definem
as
relações
entre
os
interesses
dos
governos,
gestores
do
património
e
das
comunidades
locais"
(Smith
2004:9).
Na
gestão
formal
do
património
a
protecção
legal
dos
sítios
arqueológicos
Texto
3
10/03/2015
4
através
de
legislação
cultural
aparece
como
um
dos
principais
mecanismos
de
conservação.
O
papel
das
comunidades
locais
na
custódia
de
sítios
do
património,
através
de
práticas
cerimoniais,
tem
sido
observado
um
pouco
por
todo
continente
Africano.
Sempre
que
sítios
do
património
são
concebidos
como
oráculos
para
a
comunicação
com
os
ancestrais
e
consequentemente
usados
em
diversas
práticas
culturais
(por
exemplo,
rituais
de
controle
das
chuvas
ou
cerimónias
de
iniciação),
esses
lugares
geralmente
beneficiam
de
um
sistema
de
custódia
tradicional
(Ndoro
2003;
Jopela
2006).
Muitas
comunidades
contemporâneas
têm
interesse
na
cultura
material
do
passado
(sítios
arqueológicos)
para
negociar
e
reconstruir
suas
identidades
presentes
e
suas
visões
ritualizadas
do
mundo
(Pwiti
et
al.
2007).
Esta
é
a
razão
pela
qual
estes
sítios
se
tornaram
lugares
de
importância
espiritual
(locais
de
interacção
com
mundo
dos
espíritos
ancestrais)
e
servem
de
fontes
de
inspiração,
fertilidade,
saúde
e
bem-‐estar.
A
primeira
responsabilidade
dos
depositários
do
património
(estejam
estes
integrados
num
sistema
de
gestão
formal
ou
tradicional)
é
conservar
os
valores
que
fazem
do
lugar
um
sítio
culturalmente
importante.
Qualquer
estratégia
de
gestão
para
sítios
do
património
deve
ter
em
conta
o
contexto
sociocultural
local
(os
valores
intangíveis
associados
aos
sítios
e
os
sistemas
tradicionais
de
gestão
caso
existam)
e
considerar
as
comunidades
associadas
ao
sítio
(ou
paisagem)
como
sendo
o
principal
grupo
interessado
ou
responsável
pela
custódia
ou
gestão
do
sítio
(Mitchell,
Rössler
&
Tricaud
2009).
De
facto,
a
melhor
abordagem
para
a
gestão
não
só
dos
aspectos
tangíveis
mas
sobretudo
dos
valores
intangíveis
associados
ao
património
é
aquela
que
dá
aos
seus
‘legítimos
depositários’
o
direito
de
uso
e
directa
responsabilidade
na
sua
conservação,
uma
vez
que
a
sobrevivência
de
tais
valores
está
dependente
das
dinâmicas
culturais
e
das
necessidades
contemporâneas
dessas
mesmas
comunidades
(Katsamudanga
2003:3).
Nesta
perspectiva,
os
sistemas
de
custódia
tradicional
fornecem
uma
oportunidade
para
a
gestão
eficaz
do
património
cultural
e
natural,
na
medida
em
que,
em
muitos
aspectos,
eles
têm
orientação
filosófica
de
conservação
enraizada
na
comunidade,
desfrutam
de
certa
legitimidade
institucional
e
incorporam
valores
culturais
(Sheridan
2008).
Pese
embora
o
potencial
da
custódia
tradicional
como
sistema
de
gestão
autenticamente
descentralizado
e
com
base
comunitária
não
seja
contestado,
alguns
autores
têm,
por
outro
lado,
defendido
que
durante
o
último
século
houve
uma
‘asfixia’
dos
sistemas
tradicionais
de
gestão
(Berkes
2001).
O
declínio
destes
sistemas
tem
sido
atribuído
às
alterações
causadas
pelo
sistema
colonial;
a
hegemonia
dos
modelos
de
gestão
e
políticas
culturais
eurocêntricas
que
os
países
adoptaram
no
período
pós-‐
independência;
as
mudanças
nas
conjunturas
político-‐económica
e
sociocultural
nos
quais
os
sistemas
tradicionais
operam;
e
aos
processos
históricos
tais
como
reformas
agrárias,
migrações
e
globalização
(Ndoro
&
Pwiti
2001).
Assim,
no
entender
destes
estudiosos,
pari
passu
com
a
actual
tendência
de
defender-‐se
o
uso
dos
sistemas
de
Texto
3
10/03/2015
5
custódia
tradicional
para
a
gestão
efectiva
do
património,
incorre-‐se
no
risco
de
adopção
de
estratégias
falaciosas
de
gestão,
guiadas
por
visões
estereotipadas
assentes
num
conjunto
de
suposições
sobre
'comunidade
local',
'tradição'
e
'sistemas
de
crenças
religiosas’.
Os
sistemas
de
custódia
tradicional
são
portanto,
em
grande
parte,
dependentes
de
mecanismos
e
instituições
sociais
locais
que
regulam
o
uso
dos
recursos
e
estas,
por
sua
vez,
são
afectadas
pela
conjuntura
económica
e
política
na
qual
elas
se
inserem.
Uma
vez
que
as
instituições
sociais
são
dinâmicas,
os
sistemas
tradicionais
são
igualmente
propensos
à
mudanças
(Ndoro
2006;
Sheridan
2008).
Embora
muitas
paisagens
sejam
locais
do
‘património
vivo’
com
valores
intangíveis
associados,
elas
são
muitas
vezes
moldadas
por
práticas
de
utilização
tradicional
que
são
influenciados
pelos
desenvolvimentos
dentro
de
um
ambiente
político
e
económico
muito
mais
amplo
(Mitchell,
&
Rössler
Tricaud
2009).
Fenómenos
históricos
contribuíram
para
incorporar
novos
sistemas
de
valores
no
modo
das
comunidades
de
conceber
o
seu
ambiente
natural
e
espiritual
(Pearson
e
Sullivan,
1995).
Ademais,
cada
geração
utiliza
o
passado
de
maneira
diferente,
fazendo
diferentes
reivindicações
(ignorando
algumas
reivindicações
do
passado)
e
criando
um
passado
relevante
para
o
contexto
político
actual
(Smith
2004:195-‐203).
É
por
essa
razão
que
a
sacralidade
de
sítios
do
património
é
susceptível
à
mudanças
ao
longo
do
tempo.
Portanto,
embora
o
sistema
de
custódia
tradicional
constitua
um
modelo
de
gestão
baseado
em
valores,
“ele
segue
as
mudanças
da
organização
social
das
sociedades
africanas
assim
como
o
fluxo
de
mudanças
históricas
do
continente”
(Sheridan
2008:20).
Consequentemente,
qualquer
definição
que
apresente
os
sistemas
de
custódia
tradicional
como
instituições
constantes
e
imutáveis
desde
o
período
pré-‐colonial,
é
altamente
duvidosa,
porque
os
contextos
locais
não
são
isolados,
tradicionais
ou
desconectados
dos
processos
históricos
à
larga
escala.
Sistema
Formal
de
Gestão
do
Sistema
da
Custódia
Tradicional
Património
1. Introduzido
com
o
colonialismo
1. Existência
pré-‐colonial
2. Escrito/enunciado
em
textos
legais
2. Fontes
não
escritas
de
(legislação)
conhecimento
3. Implementado
por
meio
de
3. Implementado
através
de
sistemas
processos
legais
políticos,
sociais,
religiosos
e
éticos
4. Informado
pela
ciência,
tecnologia
4. Informado
pelas
necessidades
(de
e
"especialistas"
do
património
uso/práticas)
do
dia-‐a-‐dia
das
5. Adquirir
legitimidade
no
aparato
comunidades
do
Estado
(com
base
nas
normas
5. Adquirir
legitimidade
dos
direitos
aplicáveis
a
nível
nacional)
históricos
e
consuetudinários
de
uso
6. Cultura
está
separada
natureza
e
posse
dos
recursos
(terra)
(património
cultural
vs.
natural)
6. Abordagem
holística
da
natureza
e
da
cultura
Texto
3
10/03/2015
6
3.
Elementos
de
um
sistema
de
gestão
do
património
Um
sistema
de
gestão
do
património
é
uma
estrutura,
muitas
vezes
permanente,
composto
por
três
elementos
importantes:
um
quadro
jurídico
que
define
as
razões
para
a
sua
existência,
uma
instituição
que
dá
forma
à
sua
necessidade
de
organização
e
de
tomada
de
decisão
e
recursos
(humanos,
financeiros
e
intelectuais)
que
são
usados
para
torná-‐lo
operacional.
a) Quadro
legal:
o
mandato
que
capacita
pessoas
e
organizações
para
agir.
Ele
define
o
que
constitui
património
e
os
critérios
para
a
sua
conservação
e
gestão,
geralmente
por
meio
de
legislação.
b) Quadro
institucional:
a
estrutura
organizacional
que
define
a
estrutura
operacional
e
os
métodos
de
trabalho
que
permitem
que
as
ações
a
serem
tomadas.
c) Recursos:
os
meios
humanos,
financeiros
e
intelectuais
que
criam
capacidade
operacional
e
facilitam
os
processos
de
gestão.
3.1.
Quadro
Legal
A
legislação
do
património,
como
qualquer
outra
legislação,
pode
ter
muitas
finalidades:
regular,
autorizar,
sancionar,
declarar.
Os
marcos
legais
para
a
gestão
do
património
cultural
pode
ser
formalizada
na
legislação
especificamente
elaborado
para
o
património
ou
podem
ser
um
subproduto
da
legislação
geral
usado
para
fins
de
património.
Alguns
marcos
legais
podem
ter
um
carácter
informal
(não
escritos).
Eles
podem
resultar
de
um
consenso
liderado
pela
comunidade
ou
fruto
de
práticas
consuetudinárias
que
passaram
de
geração
em
geração.
Assim,
um
quadro
jurídico,
seja
ele
formal
ou
não,
deve
fornecer
os
instrumentos
necessários
para
regulamentar
a
proteção
do
patrimônio
cultural.
O
quadro
jurídico
governa
todos
os
aspectos
do
sistema
de
gestão
para
um
bem
patrimonial.
É
através
do
quadro
jurídico
que
um
Estado,
muitas
vezes,
define
o
património
cultural
que
precisa
de
proteção,
de
acordo
com
critérios
que
podem
depender
da
idade
ou
de
proveniência,
uma
mistura
de
ambos,
ou
ainda
de
outros
factores.
Existem
dois
tipos
comuns
de
legislação:
• Designação
específica
dos
sítios
do
património
como
sendo
de
especial
importância
para
o
Estado
e,
portanto,
sujeitos
a
controles
específicos;
• Total
regulamentação
do
desenvolvimento
espacial
que
pode
incluir
políticas
específicas
para
a
protecção
de
sítios
do
património
ou
paisagens.
Tais
formas
de
regulação
são
normalmente
uma
parte
essencial
de
uma
gestão
sistema
para
um
bem
do
património.
As
principais
fontes
de
legislação
para
o
património
cultural
incluem:
• Decretos
constitucionais:
determinações
que
derivam
da
constituição
de
um
país;
Texto
3
10/03/2015
7
• Legislação
nacional,
regional
ou
local,
adoptada
especificamente
para
a
conservação
do
património
cultural
e
gestão;
• Costumes
tradicionais
e
práticas
estabelecidas.
Existe
no
entanto
outra
categoria
de
legislação
que
tem
um
impacto
sobre
a
conservação
e
gestão
do
património
cultural,
nomeadamente:
• Leis
de
planeamento
urbano,
leis
ambientais,
leis
de
terras
e
as
leis
de
controle
de
exportação.
• Direito
internacional,
por
exemplo,
as
convenções
internacionais,
como
a
UNESCO
1972
(deve
ser
“domesticada”).
Um
quadro
jurídico
eficaz
para
o
património
cultural
possui
as
seguintes
características:
• Disposições
claras
para
inventários,
proteção,
demarcação
do
bem
patrimonial
e
políticas
de
intervenção;
• Uma
directiva
clara
para
articulação
com
os
diversos
grupos
interessados
para
permitir
uma
ampla
consulta
e
participação;
• Provisões
para
integrar
as
preocupações
de
desenvolvimento
sustentável
local
em
todas
as
áreas
do
sistema
de
gestão
património.
3.1.1.
Questões
relevantes
para
a
avaliação
do
quadro
legal
a) A
Constituição
da
República
faz
menção
ao
património
cultural?
b) Qual
é
o
peso
da
legislação
em
matéria
de
património
cultural
em
relação
a
outra
legislação?
c) Será
que
o
actual
enquadramento
jurídico
garante
que
a
legislação
do
património
cultural
e
os
respectivos
planos
tenham
prioridade
em
relação
a
outra
legislação
e
planos
(por
exemplo,
sobre
os
planos
de
desenvolvimento
do
território)?
d) A
legislação
em
vigor
está
sendo
usada?
É
eficaz?
e) As
políticas
são
implementadas?
3.1.2.
Quadro
legal
para
a
protecção
e
gestão
do
património
cultural
em
Moçambique
Em
Moçambique
existe
uma
legislação
de
protecção
do
património.
Esta
legIslação
abrange
tanto
o
património
cultural
(leis,
regulamentos
e
políticas),
como
o
natural
ou
ambiental
(planeamento
e
o
ordenamento
territorial,
gestão
do
solo
urbano
e
águas
marinhas),
sendo
aplicável
para
as
acções
de
conservação,
turismo
e
outras
áreas
conexas.
Os
principais
instrumentos
legais
no
domínio
da
cultura
são:
• Convenção
da
UNESCO
para
a
Protecção
do
Património
Mundial,
Cultural
e
Natural,
1972.
Na
qualidade
de
Estado
Parte
da
Convenção
de
1972,
Moçambique
compromete-‐se
a
assegurar
a
identificação,
protecção,
conservação,
apresentação
do
Património
Cultural
e
natural
situado
no
seu
território,
transmitindo
o
seu
legado
às
futuras
gerações.
Neste
contexto,
o
Estado
Moçambicano
é
responsável
pela
gestão
e
monitoria
da
Ilha
de
Moçambique,
Texto
3
10/03/2015
8
devendo
preparar
e
submeter
relatórios
sobre
o
estado
de
conservação
do
sítio
ao
Centro
do
Património
Mundial.
• Convenção
da
UNESCO
para
a
Salvaguarda
do
Património
Cultural
Imaterial,
2003.
A
principal
finalidade
desta
Convenção
é
salvaguardar
o
Património
Cultural
Imaterial.
Assim,
a
salvaguarda
do
património
por
parte
dos
Estados
Parte
inclui
a
adopção
de
medidas
que
visam
assegurar
a
viabilidade
da
conservação
do
Património
Cultural
imaterial,
incluindo
a
identificação,
documentação,
investigação,
preservação,
protecção,
promoção,
valorização,
transmissão
-‐
essencialmente
pela
educação
formal
e
não
formal
–
e
revitalização
dos
diversos
aspectos
deste
património.
• Lei
nº
10/88
de
22
de
Dezembro
sobre
a
Protecção
do
Património
Cultural
determina
a
protecção
legal
dos
bens
materiais
e
imateriais
do
Património
Cultural
moçambicano.
Esta
lei
aplica-‐se
a
todos
os
bens
do
Património
Cultural
em
geral,
quer
estejam
na
posse
do
Estado
e
dos
organismos
de
direito
público,
quer
sejam
propriedade
privada,
sem
prejuízo
dos
direitos
de
propriedade
que
couberem
aos
respectivos
titulares.
A
lei
estabelece
também
os
termos
de
defesa
e
protecção
dos
bens
culturais
de
outros
países
existentes
em
Moçambique,
tendo
em
conta
as
obrigações
decorrentes
da
aplicação
do
princípio
da
reciprocidade.
• Lei
nº
4/94
de
13
de
Setembro
(Lei
do
Mecenato),
estabelece
os
princípios
básicos
que
permitem
estender
a
acção
das
pessoas
jurídicas,
singulares
ou
colectivas,
públicas
ou
privadas,
que
desenvolvem
actividades,
ou,
financeira
e
materialmente
as
apoiem,
no
campo
das
artes,
letras,
ciência,
cultura
e
acção
social.
• Decreto
nº
27/94
de
20
de
Julho
sobre
o
Regulamento
de
Protecção
de
Património
Arqueológico.
Este
regulamento
define
conceitos
relativos
à
conservação
do
património
arqueológico
e
os
procedimentos
com
vista
a
obtenção
de
licenças
para
a
realização
de
trabalhos
arqueológicos
em
território
nacional.
• Resolução
nº
12/97
de
10
de
Junho
sobre
Política
Cultural
de
Moçambique
e
Estratégia
de
sua
Implementação,
estabelece
o
quadro
de
referência
para
toda
a
legislação
e
normas
que
regulam
a
actividade
cultural
e
para
a
acção
das
várias
entidades
neste
domínio.
De
acordo
com
esta
Política,
o
governo
define
princípios
e
prioridades
de
actuação
nas
varias
categorias/áreas
do
património
cultural,
nomeadamente:
monumentos,
sítios
e
locais
históricos;
Museus;
Arquivos;
Línguas
nacionais;
Elementos
distintivo
das
culturas
locais
(folclore,
traje
e
culinária
típicos,
rituais,
crenças,
medicina
e
poder
tradicionais);
Criação
e
interpretação
artísticas
(música,
dança
e
teatro,
artesanato
e
artes
visuais);
Espectáculos
culturais
e
recreativo;
Cinema
e
audiovisuais;
Literatura.
• Decreto
nº
29/98
de
9
de
Junho
que
determina
a
Protecção
Legal
dos
Bens
Materiais
e
Imateriais
do
Património
Cultural
Moçambicano.
Este
Decreto
alarga
o
âmbito
de
aplicação
da
Lei
nº
4/94,
de
13
de
Setembro,
para
as
áreas
do
desporto
e
meio
ambiente.
Texto
3
10/03/2015
9
• Resolução
no
12/2010
de
27
de
Abril
sobre
a
Política
de
Monumentos
tem
como
objecto
a
preservação
e
valorização
de
Bens
Imóveis
do
Património
Cultural
de
Moçambique,
de
forma
a
garantir
a
sua
fruição
pública.
Abrange
os
monumentos,
conjuntos
e
sítios,
de
acordo
com
o
critério
de
valor
local,
nacional
ou
universal
que
estes
bens
representam.
3.2.
Quadro
institucional
As
necessidades
da
organização
e
tomada
de
decisões
necessárias
para
a
conservação,
gestão
e
salvaguarda
do
património
cultural
tem
levado
à
criação
de
estruturas
institucionais.
Estas
constituem
a
centro
do
planeamento
e
implementação
de
acções
bem
como
da
revisão
contínua
e
aperfeiçoamento
dos
métodos
de
trabalho.
As
instituições
vocacionadas
para
a
área
do
património
possuem
poderes
conferidos
pela
legislação
formal
ou
por
práticas
estabelecidas
ao
longo
do
tempo,
ou
mesmo
uma
mistura
dos
dois.
O
quadro
institucional
pode
ser
fornecido
por
uma
única
organização
ou
por
várias
organizações.
O
quadro
institucional
deve
prever
a
tomada
de
decisão
eficiente
e
facilitar
todos
processos
do
sistema
de
gestão.
Isto
pode
ser
alcançado
através
do
equilíbrio
entre
necessidade
para
a
continuidade
e
a
flexibilidade
organizacional
necessária
para
responder
à
mudança.
Um
quadro
institucional
deve:
• Ser
suficientemente
definido
em
relação
ao
contexto
mais
amplo
da
governação
(incluindo
legislação,
arranjos
institucionais
e
os
processos
democráticos),
proactivo
e
flexível
de
modo
a
lidar
com
conceitos,
tendências
e
necessidades
emergentes;
• Emanar
uma
descentralização
organizacional,
sempre
que
possível,
de
modo
a
que
o
processo
de
tomada
de
decisão
esteja
mais
perto
os
problemas
do
bem
patrimonial,
favorecendo
a
participação
das
comunidades
e
a
promoção
da
abordagens
sustentáveis:
– A
necessidade
de
novas
habilidades
para
lidar
com
os
consequentes
desafios
de
gestão;
– O
risco
de
sobreposição
(repetição
e
desperdício),
falta
de
prestação
de
contas
e
reduzida
transparência
com
o
aumento
da
complexidade;
• Apresentar
uma
estrutura
organizacional
aberta
com
capacidade
operacional
suficiente
para
promover
uma
abordagem
integrada,
ou
seja,
trabalhar
com
os
outros.
Portanto,
deve
garantir
o
envolvimento
adequado
das
partes
interessadas;
• Conter
um
conjunto
de
princípios
orientadores.
Estes
devem
promover
a
conceitos
de
empoderamento
(empowerment),
participação
e
inclusão
dos
vários
grupos
interessados
no
património.
3.2.1.
Questões
relevantes
para
a
avaliação
do
quadro
institucional
• O
quadro
institucional
existente
está
claramente
documentado,
transparente
e
acessível?
Texto
3
10/03/2015
10
• Em
que
medida
o
quadro
institucional
existente
é
adequado
para
a
proteção
dos
valores
patrimoniais
identificados
de
forma
participativa?
• O
quadro
institucional
tem
capacidade
(autonomia,
eficiência,
capacidade
de
resposta,
etc.)
adequada
para
as
necessidades
dos
bens
patrimoniais
para
os
quais
o
mesmo
é
responsável?
3.2.2.
Quadro
institucional
para
a
protecção
e
gestão
do
património
cultural
em
Moçambique:
exemplo
da
Ilha
de
Moçambique,
Património
Cultural
Mundial
A
Ilha
dispõe
ainda
de
um
Estatuto
Específico,
além
de
ser
protegida
pela
Convenção
do
Património
Mundial
da
UNESCO.
O
quadro
institucional
local
é
constituído
pelo
Conselho
Municipal
da
Ilha
de
Moçambique
(CMIM),
pelo
Governo
Distrital
da
Ilha
de
Moçambique
(GDIM)
e
pelo
Gabinete
de
Conservação
da
Ilha
de
Moçambique
(GACIM).
A
este
quadro
administrativo
junta-‐se
a
sociedade
civil,
que
se
encontra
organizada
sob
várias
formas.
As
organizações
e
associações
profissionais
e
culturais
constituem
um
elemento
incontornável
do
quadro
institucional,
social,
cultural
e
económico
da
Ilha.
De
entre
estas
organizações,
destacam-‐se,
pela
sua
importância
na
sociedade
civil
e
pelo
seu
número,
as
oito
confrarias
religiosas
existentes,
todas
elas
islâmicas,
reflectindo
a
importância
da
tradição
religiosa
e
cultural
muçulmana
(Ministério
da
Cultura
2010).
3.3.
Recursos
Os
recursos
são
a
base
para
a
capacidade
operacional
e
podem
agrupar-‐se
em
três
categorias
principais:
humanos,
financeiro
e
intelectual.
Estes
permitem
que
o
quadro
institucional
operacionalize
o
mandato
definido
pelo
quadro
legal.
Eles
são
mais
propensos
a
mudanças
frequentes
do
que
os
quadros
institucionais
ou
legais.
Geralmente
são
as
próprias
instituições
que
fornecem
os
recursos
humanos
para
o
património
cultural
que
está
sob
gestão
pública.
No
entanto,
a
mudança
em
muitos
países
a
terceirização
da
perícia
e
obras
levou
a
oportunidades
para
uma
mais
ampla
gama
de
profissionais
e
instituições
do
sector
privado
(por
exemplo,
empreiteiros,
promotores
de
espetáculos,
empresas
de
estudos
de
impacto
ambiental
e
cultural,
etc.)
de
se
envolverem
na
conservação
do
património.
3.3.1.
Recursos
financeiros
Os
recursos
financeiros
são
(em
termos
de
origem,
escopo
e
tempo)
fixos
ou
variável
com
diferentes
fontes
(por
exemplo,
fontes
locais,
internacionais,
ou
empréstimos,
financiamento
privado,
cooperação
internacional,
etc.),
ou
uma
mistura
dos
dois.
Geralmente
tem
sido
orçamentos
governamentais
que
fornecem
os
recursos
financeiros
para
o
património
cultural
sob
propriedade
e
gestão
pública.
Contudo,
dada
constante
exiguidade
de
fundo
público
em
muitos
países,
a
gestão
do
património
tem
sido
financiada
por
outras
fontes
(instituições
privadas).
Os
recursos
financeiros
gerados
diretamente
a
partir
de
bens
culturais
também
têm-‐se
tornado
num
importante
elemento
na
busca
da
sustentabilidade
econômica
do
património.
Texto
3
10/03/2015
11
3.3.2.
Recursos
intelectuais
O
sucesso
da
conservação
ou
programas
de
gestão
e
salvaguarda
depende
do
conhecimento
que
está
sendo
gerado,
mantido
e
actualizado,
tanto
para
as
acções
do
dia-‐a-‐dia
assim
como
para
a
melhoria
dos
sistemas
de
gestão.
Assim,
os
Recursos
Humanos
(com
o
‘know
how’)
dentro
de
um
sistema
de
gestão
são
importantes.
Infelizmente,
o
baixo
nível
de
prioridade
que
os
governos
normalmente
atribuem
a
cultura,
faz
com
que
os
recursos
intelectuais,
como
recursos
humanos
e
financeiros,
sejam
muitas
vezes
escassos
resultando
na
fragilidade
institucional
das
estruturas
com
a
função
de
proteger
e
salvaguardar
o
património
.
As
principais
considerações
para
a
implantação
eficaz
dos
recursos
• Transparência
(auditorias
regulares,
procedimentos
de
revisão
padrão,
relatórios
financeiros
de
qualidade,
uma
abordagem
de
‘livro
aberto’)
e
prestação
de
contas
(clara
distribuição
de
canais
de
responsabilidade
e
de
comunicação);
• Investir
em
capital
natural,
humano
e
social,
refletindo
os
princípios
de
sustentabilidade;
• Um
equilíbrio
entre
a
utilização
de
recursos
internos
(dentro
das
instituições)
e
externos
em
todas
três
áreas,
humana,
financeira
e
intelectual.
Em
particular,
cuidados
devem
ser
tomados
para
evitar
a
perda
de
memória
institucional.
3.3.3.
Questão
relevante
para
a
avaliação
dos
recursos
• Existe
uma
avaliação
regular
dos
recursos
que
são
necessários
para
a
gestão
eficaz
do
sítio
do
património
e
uma
medição
destes
em
relação
aos
recursos
disponíveis?
4.
Processos
no
Sistema
de
Gestão
Património
Os
processos
de
gestão
do
património
compreendem
três
componentes
ou
momentos
principais:
planemaneto,
implementação
e
monitoria.
Planeamento
-‐
Consiste
em
compreender
"quem"
participa
no
processo
de
tomada
de
decisão,
definir
os
objectivos
a
atingir,
as
acções
a
tomar
e
os
respectivos
prazos,
e
registar
estas
propostas
de
modo
a
comunica-‐la
à
todos
actores
e
intervenientes
(parte
interessada)
para
que
estes
possam
avaliar
o
progresso
em
cada
etapa.
Implementação
-‐
Consiste
em
executar
as
acções
planeadas,
verificando
se
estas
resultam
nos
resultados
e
objectivos
definidos
no
início
(planeamento).
Em
caso
de
se
verificarem
disparidades,
são
tomadas
acções
com
vista
a
alcançar
os
objectivos
inicialmente
traçados
Monitoria
-‐
Consiste
na
coleta
e
análise
de
dados
para
verificar
se
o
sistema
de
gestão
está
a
funcionar
de
forma
eficaz
e
produzindo
os
resultados
esperados,
bem
como
a
Texto
3
10/03/2015
12
identificação
de
medidas
corretivas
em
caso
de
falhas
ou
maximização
de
novas
oportunidades.
4.1.
Processo
1:
Planeamento
O
planeamento,
a
execução
e
o
acompanhamento
são
todos
eles
processos
importantes
que
muitas
vezes
se
sobrepõem
na
formação
de
um
ciclo
contínuo,
que
permite
que
ao
sistema
de
gestão
produzir
os
resultados
desejados.
O
sucesso
da
implementação
e
da
eficácia
estratégias
de
monitoria
dependem
muito
do
investimento
feito
na
fase
de
planeamento.
Ao
mesmo
tempo,
é
a
partir
do
“feedback”
das
actividades
de
monitoria
que
se
reforçam
os
alicerces
de
um
bom
planeamento
e
leva
a
melhorias
no
sistema
de
gestão.
4.1.1.
Abordagens
e
desafios
O
planeamento
no
sector
do
património,
como
em
outros
sectores,
é
caracterizado
por
múltiplas
abordagens.
O
planeamento
é
necessário
tanto
a
nível
nacional
como
a
nível
do
bem
patrimonial.
A
nível
nacional,
o
planeamento
preliminar
de
atividades
pode
consistir
na
identificação
e
obtenção
de
consenso
para
o
património
cultural
como
parte
do
processo
de
criação
de
inventários,
medidas
de
protecção
jurídica
e
desenvolvimento
de
medidas
de
conservação
e
de
gestão
adequados
a
longo
prazo.
Para
alguns
tipos
de
património,
parte
do
processo
de
planeamento
já
existe
em
dispositivos
legais
referentes,
por
exemplo,
ao
uso
e
aproveitamento
da
terra.
Neste
nível,
há
coexistência
de
vários
planos
geralmente
sobrepostos,
como
resultado
da
existência
de
diversos
parceiros
(planeamento
autoridades
a
nível
do
Governo
central,
a
nível
provincial,
distrital
e
local
[comunidades],
a
nível
da
comunidade
internacional).
Exemplo
da
Ilha
de
Moçambique.
A
nível
do
bem
patrimonial,
o
processo
de
planeamento
do
sistema
de
gestão
tende
a
misturar
uma
abordagem
de
planeamento
activo
(antecipando
problemas
e
oportunidades)
com
um
planeamento
reativo
(em
resposta
a
problemas
que
possam
surgir)
com
o
bem.
Contudo,
deve
haver
predominância
do
planeamento
activo.
O
planeamento
em
si
é
um
ciclo
que
deve
incluir
as
seguintes
etapas,
que
muitas
vezes
se
sobrepõem:
participação,
consulta,
elaboração,
revisão
e
actualização.
Relativamente
ao
património
cultural
estes
podem
ser
definidos
com
mais
detalhes,
por
exemplo
(de
novo,
passos
que
muitas
vezes
se
sobrepõem):
identificação
das
partes
interessadas
e
coleta
de
informações;
a
identificação
e
caracterização
do
património;
análise
actual
da
situação;
definição
da
visão,
objetivos
e
acções;
elaboração
do
plano
(s);
aplicação,
revisão
e
atualização.
4.1.2.
Considerações
sobre
os
processos
de
planeamento
a)
Consenso
e
os
valores
das
partes
interessadas
Os
objectivos
de
gestão
a
nível
do
bem
patrimonial
devem
estar
enraizados
numa
compreensão
dos
valores
do
imóvel.
Os
valores
dos
bens
culturais
e
as
respectivas
Texto
3
10/03/2015
13
opções
de
conservação
devem
ser
avaliados
com
todas
as
partes
interessadas/participantes
possíveis
para
garantir
um
entendimento
comum
e
o
seu
envolvimento
directo.
Apenas
uma
abordagem
interdisciplinar
para
o
planeamento
vai
garantir
que
as
necessidades
são
antecipadas
e
atendidas
de
forma
eficaz
à
medida
que
surgem.
Uma
abordagem
inclusiva,
quando
bem-‐sucedida,
leva
a
que
os
planos
sejam
adotados
por
todas
as
partes
interessadas
e
tem
o
poder
de
conciliar
as
necessidades
e
expectativas
das
pessoas
ligadas
ao
bem
patrimonial
com
as
necessidades
de
manutenção
dos
valores
patrimoniais
do
imóvel.
Por
outro
lado,
os
planos
só
são
eficazes
se
os
mesmos
forem
de
consenso
e
oficialmente
reconhecidos.
O
reconhecimento
pode
assumir
a
forma
de
aprovações
e
é
o
primeiro
passo
que
se
da
através
de
mecanismos
locais
de
consulta
às
comunidades.
Posteriormente
aprovações
devem
igualmente
visar
um
nível
sênior
dentro
das
organizações
relevantes
ou
até
mesmo
a
aprovação
do
Conselho
de
Ministros
que
confere
ao
plano
um
cunho
jurídico.
b)
Planeamento
realista
Os
planos
também
são
de
valor
somente
se
existirem
os
meios
para
a
implementação
ou
se
houver
possibilidade
de
obtenção
dos
meios.
O
planeamento
deve
delinear
as
ações
a
serem
tomadas,
usando
uma
variedade
de
parâmetros:
• Definição
de
escopo
(o
quanto
se
vai
fazer);
• A
definição
de
desempenho
(como
é
que
os
resultados
esperados
serão
avaliados/medidos);
• A
definição
de
qualidade
(quais
as
normas
específicas
a
serem
cumpridas);
• Definição
de
custos;
• Definição
de
prazos
para
cada
ação.
c)
Equilíbrio
no
planeamento
Um
processo
de
planeamento
bem-‐sucedido
deve
fazer
o
balanço
entre
acções
de
curto,
médio
e
longo
prazo.
Os
planos
de
trabalho
regulares
(plano
de
trabalho
anual)
devem
ser
complementados
por
planos
estratégicos
de
longo
prazo.
O
planeamento
também
deve
reservar
recursos
como
contingências
especificamente
para
antecipar
a
necessidade
inerentes
à
revisão
contínua
dos
planos
durante
sua
duração
(tempo
da
equipe
de
trabalho
e
custos).
4.1.3.
Alguns
Pontos-‐Chave
• Planeamento
é
muitas
vezes
visto
como
um
fim
em
si
mesmo
("produto
final")
e
não
como
um
estágio
em
um
ciclo
de
processos
que
assegura
que
o
sistema
de
gestão
produza
resultados
de
forma
eficiente
e
eficaz.
• O
termo
"Plano"
sugere
um
documento
sem
vida,
definitivo,
mas
um
plano
muitas
vezes
tem
de
ser
um
documento
vivo
que
evolui
à
medida
que
suas
acções
propostas
sejam
implementadas
e
monitoradas.
Texto
3
10/03/2015
14
• Quando
possível
e
apropriado,
as
capacidades
legislativas
e
institucionais
de
fora
do
sector
do
património
cultural
pode
ser
usado
para
reforçar
os
processos
de
planeamento
do
património.
• Muitas
ferramentas
estão
disponíveis
para
melhorar
as
abordagens
de
planeamento
e
outros
processos
históricos.
Por
exemplo,
o
património
em
Moçambique
é
igualmente
gerido
com
base
nas
diretrizes
do
Plano
Estratégico
da
Cultura
2012-‐2022
do
Ministério
da
Cultura
e
do
Plano
Quinquenal
do
Governo
2009-‐2014.
• Planeamento
deve
identificar
oportunidades
sugestíveis
de
providenciar
benefícios
recíprocos
para
a
sociedade
e
bem
patrimonial
(sustentabilidade
&
desenvolvimento
sustentável).
4.1.4.
Questões
relevantes
• Os
valores
do
bem
patrimonial
estão
suficientemente
compreendidos?
• Há
uma
compreensão
adequada
do
ambiente
(quadro
institucional
e
legal)
em
que
as
organizações
(vários
actores)
operam?
• Há
um
compromisso
das
partes
envolvidas
na
implementação
de
políticas/planos
de
gestão
já
produzidos
ou
a
serem
produzidos?
• O
planeamento
é
definido
pelos
valores
do
sítio
e
pelas
necessidades
dos
usuários
(comunidades
locais,
visitantes,
gerações
futuras)
e
outras
partes
interessadas
(outras
comunidades)?
• O
Planeamento
definiu
as
prioridades
e
metas,
procedimentos,
papéis
e
responsabilidades,
recursos,
prazos
e
riscos
relativos
à
gestão?
4.2.
Processo
2:
Implementação
As
abordagens
para
implementação
variam
consideravelmente
porque
estas
são
influenciadas
pelos
quadros
jurídico-‐institucionais
e
pelas
práticas
locais
para
implementação
e
dos
recursos.
Dos
três
processos
identificados,
a
implementação
é
o
que
mais
dependente
dos
outros
dois:
para
ser
eficaz,
depende
de
um
bom
planeamento,
que
por
sua
vez
depende
de
um
acompanhamento
(monitoria)
eficaz.
No
entanto,
o
planeamento
e
monitoramento
só
existem
para
facilitar
e
melhorar
a
execução,
e
bons
procedimentos
a
nível
de
planeamento
podem
ser
comprometidos
pela
falta
de
acompanhamento
(monitoria).
4.2.1.
Abordagens
e
desafios
Geralmente
as
atividades
planeadas
são
implementadas
por
profissionais
de
instituições
públicas
(nível
nacional
ou
do
bem
patrimonial)
principalmente
nos
sítios
públicos.
No
entanto,
bens
do
património
em
contextos
públicos,
incluindo
paisagens
culturais,
aparecem
mais
e
mais
sob
gestão
de
privados
e
organizações
não-‐
governamentais.
A
fase
de
implementação
do
ciclo
de
gestão
envolve
a
coordenação
de
importantes
tarefas
e
prioridades
e
a
mesma
é
caracterizada
por
duas
operações
paralelas:
Texto
3
10/03/2015
15
• Realização
das
acções
que
foram
planeadas;
e
• Constante
verificação
da
congruência
das
acções
com
os
objectivos
iniciais.
Estas
operações,
ocasionalmente,
precisam
ser
acompanhados
por
mais
dois
processos/duas
acções:
• Abordagens
e
actividades
de
modificação
(se
necessário)
• Identificação
e
superação
de
qualquer
obstáculo.
Por
seu
turno,
as
ações
de
implementação
podem
ser
divididas
em
duas
categorias:
• Ações
de
rotina
'comum':
estas
podem
incluir
programas
de
manutenção
do
sítio,
o
pagamento
de
salários,
coordenação
da
execução,
reparações
de
infraestruturas;
• Ações
específicas
de
uma
só
vez:
estas
podem
incluir
um
trabalho
em
profundidade
de
conservação
ou
melhoria
de
uma
única
área,
a
construção
de
um
centro
de
visitantes,
projetos
de
pesquisa,
melhoria
das
instalações
na
zona
tampão.
4.2.2.
Considerações
sobre
os
processos
de
implementação
A
execução
das
actividades
programadas,
juntamente
com
a
integração
constante
das
acções
correctivas,
favorece
uma
espiral
ascendente
de
melhoria
contínua
nos
processos
de
gestão
do
património.
Erros
cometidos
na
fase
de
execução
são
muito
mais
difíceis
de
resolver
do
que
os
erros
cometidos
durante
o
planeamento
ou
monitoria
quer
a
nível
do
bem
patrimonial
ou
do
sistema
de
gestão.
a)
Ampla
participação
A
execução
efectiva,
bem
como
o
planeamento,
depende
supervisão
por
uma
equipe
interdisciplinar
que
inclui
especialistas
de
todas
as
disciplinas
relevantes
para
os
problemas
a
serem
abordados
que
podem
oferecer
respostas
adequadas
às
novas
necessidades
durante
a
implementação.
Esta
também
depende
de
outras
áreas
de
conhecimento,
incluindo
a
gestão
de
riscos,
comunicação,
etc.
A
implementação
efectiva
depende
da
coordenação
e
da
contribuição
de
todas
as
partes
interessadas
e
isso
requer
habilidades
específicas.
b)
Registo
e
comunicação
Os
mecanismos
de
coleta
de
dados
devem
estar
devidamente
definidos
como
parte
dos
processos
de
implementação,
a
fim
de
fornecer
material
de
base
para
processos
de
monitoramento.
Normalmente,
algum
tipo
de
cronograma
será
usado
para
gravar
sistematicamente
as
atividades
concluídas.
Estes
cronogramas
podem
ser
combinados
com
ferramentas
de
monitoria
para
avaliar
o
progresso
e
para
facilitar
o
replaneamento
eficaz
e
implementação
de
ações
corretivas.
As
estratégias
de
comunicações,
incluindo
os
planos
e
programas,
devem
ser
acordadas
e
adotadas.
Elas
devem
reconhecer
as
diferentes
demandas
de
partilha
de
informações
e
deve
ser
regularmente
ajustado
para
atender
às
necessidades
em
constante
mudança.
Texto
3
10/03/2015
16
c)
Distribuição
de
responsabilidade
A
obtenção
de
resultados
desejados
a
partir
da
fase
de
implementação
depende
da
boa
definição,
implementação
e
manutenção
de
procedimentos,
funções,
responsabilidades
e
mecanismos
de
tomada
de
decisão.
Uma
clara
atribuição
de
responsabilidade
pessoal
de
todos
os
indivíduos
envolvidos
é
importante
para
garantir
a
prestação
de
contas
e
também
a
transparência.
Esta
abordagem
precisa
ser
complementada
pelo
pensamento
independente
e
objetivo
dos
profissionais,
algo
que
precisa
ser
ativamente
encorajados
durante
a
fase
de
implementação.
4.2.3.
Alguns
Pontos-‐Chave
Os
parâmetros
primários
mencionados
na
seção
de
planeamento
a
nível
de
cada
acção
no
programa
de
trabalho
previsto
(grupo
alvo/escopo,
custo,
qualidade
e
prazos)
agora
precisam
ser
expressos
na
forma
de
especificações
técnicas
precisas
que
são
constantemente
revistos
e
actualizados
para
reforçar
o
processo
de
implementação.
Durante
a
implementação,
é
mais
difícil
de
verificar
se
os
objectivos
gerais,
para
os
quais
as
acções
específicas
estão
sendo
implementadas,
estão
sendo
alcançados.
No
entanto
esta
informação
é
importante
para
informar
qualquer
replaneamento.
Descuidos
comuns
na
fase
de
planeamento
que
tenham
repercussões
negativas
durante
a
implementação
incluem:
• Insuficiência
de
recursos
(particularmente
humanos
e
intelectual);
• Assunção
de
que
equipamentos
e
instalações
estão
adequadamente
mantido
e
acessíveis;
• Infra-‐estruturas
insuficientes
e
inadequadas;
• Incapacidade
de
contornar
ou
acomodar
pressão
adicional
criado
por
novas
realidades
(interrupção
do
abastecimento
de
água;
os
conflitos
entre
as
partes
interessadas),
que
pode
repercutir
negativamente
na
acção
que
está
sendo
implementada.
4.2.4.
Questões
relevantes
• As
abordagens
teóricas
(bons
princípios)
são
postas
em
prática
durante
a
implementação?
• Há
ajustes
periódicos
na
alocação
e
distribuição
de
recursos
humanos,
financeiros
e
materiais
durante
a
implementação?
• Existem
mecanismos
para
assegurar
que
as
informações
e
documentos
produzidos
na
implementação
são
usados
para
informar
as
ações
futuras?
• Existem
mecanismos
para
garantir
que
todos
os
recursos
necessários
estão
disponíveis
ou
serão
assegurados
uma
vez
as
iniciadas
as
operações
de
implementação?
• Existem
mecanismos
em
vigor
para
garantir
que
todas
as
autorizações
e
aprovações
necessárias
são
obtidas?
Texto
3
10/03/2015
17
4.3.
Processo
3:
Monitoria
A
monitoria
envolve
a
coleta
e
análise
de
dados
para
fins
específicos
e
a
sua
avaliação
a
fim
de:
• Verificar
se
o
sistema
de
gestão
está
a
funcionar
de
forma
eficaz;
• Verificar
se
o
sistema
de
gestão
está
produzindo
os
resultados
certos
(resultados
e
efeitos),
incluindo
a
própria
monitoria;
• Estabelecer
quais
as
medidas
correctivas
ou
novas
iniciativas/medidas
a
tomar
em
caso
de
identificação
de
falhas
ou
novas
oportunidades.
A
monitoria
fornece
a
evidência
ou
dados
empíricos
na
base
dos
quais
os
gestores
podem
fundamentar
a
sua
política
de
conservação,
as
necessidades
e
decisões.
A
monitoria
não
deve
ser
simplesmente
a
coleta
de
dados
brutos,
mas
um
processo
que
envolve
análise
de
dados
para
fornecer
informações
relativas
a
evolução
das
condições
de
conservação
e
gestão
de
um
bem
patrimonial.
4.3.1.
Abordagens
e
desafios
A
monitoria
do
património
abrange
temas
diversos
na
avaliação
de
um
sistema
de
gestão,
mas
no
geral
estes
temas
podem
ser
enquadrados
em
duas
áreas
principais:
• A
eficácia
geral
do
sistema
de
gestão:
por
exemplo,
se
os
objetivos
são
alcançados,
se
as
ações
que
têm
sido
implementadas
respeitam
as
metas
definidas
e
tem
cabimento
orçamental,
se
todas
as
partes
interessadas
estão
contribuindo
de
forma
adequada
no
processo
de
tomada
de
decisão,
e
se
existe
um
“feedback”
para
o
sistema
de
gestão
com
base
nos
resultados
alcançados.
• Os
resultados
do
sistema
de
gestão:
por
exemplo,
o
estado
do
local,
se
os
valores
do
património
estão
sendo
protegidos/salvaguardados,
se
há
mudanças
na
autenticidade
e
integridade
do
bem,
a
taxa/ratio
de
deterioração
física
do
património,
e
o
grau
de
engajamento
social
(envolvimento
comunitário).
• A
monitoria
consiste
em
medir
se
o
sistema
de
gestão
está
funcionando,
se
o
estado
do
património
cultural
está
melhorando
ou
piorando,
e
se
os
benefícios
patrimoniais
estão
a
ser
aproveitado
para
o
bem-‐estar
e
desenvolvimento
da
sociedade.
A
monitoria
visa,
igualmente:
– Melhor
alocação
de
recursos
para
a
gestão;
– Melhorar
a
documentação
e
relatórios
de
modo
a
tronar
a
gestão
menos
onerosa,
dispendiosa
sob
ponto
de
gestão
do
tempo
e
que
esteja
em
conformidade
com
os
objectivos
definidos;
– Permitir
a
gestão
de
mudança,
para
promover
uma
atitude
proactiva
em
vez
de
reactiva
para
a
conservação
e
gestão
do
património;
– Ganhar
um
novo
suporte
de
potenciais
parcerias
(doadores),
mostrando
uma
abordagem
coerente
e
bem-‐sucedida.
A
monitoria
olha
para
as
mudanças
ao
longo
de
um
determinado
período
de
tempo,
com
base
em
indicadores
específicos.
No
caso
do
património
cultural,
os
indicadores
deve
mostrar
(na
sua
totalidade)
a
extensão
em
que
bem
patrimonial
tem
preservado
esses
Texto
3
10/03/2015
18
valores
patrimoniais
identificados
como
importantes.
Para
constituir
processo
de
“monitoria”,
os
dados
medidos
e
coletados
durante
esta
fase
devem
ser
analisados
para
que
se
tornem
informação
(não
apenas
dados),
permitindo
que
os
resultados
reais
sejam
comparados
com
os
esperados
(metas
ou
objetivos
do
processo
de
"planeamento").
Esta
informação,
quando
combinada
com
a
análise
de
ações
similares
no
passado,
vai
então
produzir
um
quadro
com
tendências
legíveis.
3.3.
Considerações
sobre
os
processos
de
monitoria
As
metodologias
de
monitoria
e
avaliação
devem
respeitar
a
diversidade
de
abordagens
para
a
conservação
e
gestão
em
vários
contextos
regionais
e
culturais.
No
entanto,
as
seguintes
considerações
serão
comuns
a
muitos
sistemas
de
gestão:
a)
Definição
do
propósito
Iniciativas
de
monitoria
são
úteis
apenas
se
houver
uma
capacidade
de
agir
sobre
a
informação
que
se
produz/recolhe,
se
a
monitoria
for
instigada
por
uma
razão
precisa,
e
se
as
informações
produzidas
alimentarem
de
volta
(“feedback”),
de
forma
cíclica:
• Outro
processo
de
gestão
para
melhorá-‐los
(planeamento
e
implementação);
• O
sistema
de
gestão
mais
amplo,
para
informar
os
ajustes
ao
quadro
legal
e
institucional
e
para
melhorar
o
uso
e
alocação
de
recursos.
Deste
modo,
a
monitoria
pode
ajudar
a
aumentar
o
desempenho
geral
do
sistema
de
gestão
sistema
e
sua
capacidade
de
alcançar
os
resultados
mais
adequados.
Na
verdade,
é
vital
para
definir
os
objectivos
de
cada
processo
de
monitoria,
porque
os
mesmos
podem
visar:
• Avaliar
o
sucesso
e
o
fracasso
de
acções
e
políticas
de
gestão
passadas
e
actuais;
• Informar
o
planeamento
e
a
implementação
futura;
• Atrair
recursos
adicionais;
• Ganhar
consenso
da
comunidade
local
para
as
mudanças
no
bem
do
património
cultural;
• Aumentar
o
apoio
político
para
o
património
cultural;
• Proporcionar
mais
facilidades
para
os
visitantes.
b)
Dados
objectivos
e
fiáveis
Sempre
que
possível,
a
monitoria
deve
ser
realizada
utilizando
uma
metodologia
sistemática
para
reduzir
subjetividade
tanto
quanto
possível
e
empregar
pessoas
com
conhecimentos
técnicos
na
área.
A
recolha
de
dados
de
medição
e
abordagens
irá
depender
do
tipo
de
processo
a
ser
observado
mas
deve
permitir
a
comparação
e
ser
repetitivo
ao
longo
do
tempo.
Os
dados
podem
ser
na
forma
de
fotos,
vídeos,
desenhos
medidos,
entrevistas,
relatórios
escritos.
Estas
observações
devem
ser
comparadas
com
um
determinado
estado
de
conservação
definido
no
passado:
isto
é,
uma
linha
de
base.
A
monitoria
pode
ser
benéfica
para
estruturar
o
processo
de
fiscalização
sob
a
forma
de
um
"plano
de
monitoria"
que
está
diretamente
ligado
à
manutenção
de
valores
do
Texto
3
10/03/2015
19
património
cultural
em
causa.
O
desenvolvimento
do
plano
pode
ajudar
a
ganhar
consenso
sobre
quais
indicadores
que
devem
ser
usados
para
coletar
e
analisar
os
dados
necessários
para
atender
às
necessidades
de
informação.
Os
indicadores
são
uma
parte
integrante
da
monitoria.
4.3.4.
Alguns
Pontos-‐Chave
A
monitoria
é
muitas
vezes
tida
como
um
mecanismo
de
controle
de
rotina
para
garantir
o
desempenho
e
o
cumprimento
de
determinadas
normas.
Neste
sentido,
a
gestão
da
informação
deve
ser
eficaz
e
dirigidas
por
consultas
dos
usuários.
Como
em
todos
os
processos
de
gestão,
as
próprias
atividades
de
monitoria
devem
ser
regularmente
revistas
para
assegurar
que
as
coisas
certas
estão
sendo
monitorados,
que
o
monitoria
está
sendo
realizada
de
uma
forma
eficaz
e
que
nenhuma
informação
redundante
(desnecessária)
está
sendo
produzida.
Uma
questão-‐chave
ao
especificar
indicadores
e
fontes
de
verificação
é
“quem
é
que
vai
usar
essa
informação?”
Se
a
monitoria
for
levada
a
cabo
sem
uma
agenda
clara,
ela
pode
se
tornar
num
processo/documento
ambíguo
e
incosequente.
Para
além
de
produzir
informações
para
fins
específicos
identificados,
os
programas
de
monitoria
podem
fornecer
dados
para
trabalho
de
pesquisa
mais
amplo
dedicado
às
necessidades
de
gestão
e
identificação
de
oportunidades
relativas/associados
ao
bem.
5.
Resultados
de
um
Sistema
de
Gestão
do
Património
a)
Resultados
(objetivos
a
atingir)
O
sistema
de
gestão
visa
alcançar
determinados
objectivos,
conhecidos
como
resultados.
Os
resultados
refletem
as
alterações
(ou
continuidade)
da
situação
identificada
em
fase
de
planeamento.
A
ênfase
nos
resultados
permite
verificar
se
o
sistema
de
gestão
conseguiu
ou
não
atingir
os
seus
objetivos.
b)
Rendimento
(produtos)
Os
rendimentos
são
os
produtos
e
serviços
tangíveis
a
partir
de
um
programa
de
trabalho
planeado
que
constituem
benefício
directo
ao
património
e
para
a
sociedade
em
geral.
c)
Melhorias
para
o
Sistema
de
Gestão
As
melhorias
dos
sistemas
de
gestão
são
gerados
por
meio
de
medidas
correctivas
e
comentários,
tanto
de
insumos
externos
ou
a
partir
de
dentro
do
sistema
de
gestão,
ou
seja,
por
meio
de
processos
de
monitoria
de
processos
e
avaliação
dos
produtos
e
resultados.
Texto
3
10/03/2015
20
Referências
Berkes,
F.
2001.
Religious
Traditions
and
Biodiversity.
Encyclopaedia
of
Biodiversity
5:
109-‐120.
Berkes,
F.;
Colding,
J.
&
Folke,
C.
2000.
Rediscovery
of
Traditional
Ecological
Knowledge
as
Adaptive
Management.
Ecological
Applications
10
(5):
1251–1262.
Joffroy,
T.
(ed.)
2005.
Traditional
Conservation
Practices
in
Africa.
Rome:
ICCROM.
Jopela,
A.
2006.
Custódia
Tradicional
do
Património
Arqueológico
na
Província
de
Manica:
experiências
e
práticas
sobre
as
pinturas
rupestres
no
Distrito
de
Manica,
1943-‐2005.
Dissertação
de
Licenciatura.
Maputo:
Departamento
de
História-‐UEM.
Jopela,
A.
2011.
Traditional
Custodianship:
a
useful
framework
for
heritage
management
in
southern
Africa?
Conservation
and
Management
of
Archaeological
Sites
13
(2-‐3):103-‐22.
Katsamudanga,
S.
2003.
The
dilemma
of
preserving
intangible
heritage
in
Zimbabwe.
th
Papers
from
the
14 General
Assembly
and
Scientific
Symposium
of
ICOMOS,
Victoria
Falls,
October
2003.
http://www.international.icomos.org/victoriafalls2003.
Macamo,
S.
2006.
Privileged
Places
in
South
Central
Mozambique:
The
Archaeology
of
Manyikeni,
Niamara,
Songo
and
Degue-‐Mufa.
Tese
de
Doutoramento.
Studies
in
Global
Archaeology
4.
Uppsala:
University
of
Uppsala.
Macamo,
S.
&
Sætersdal,
T.
2004.
Archaeology
and
Cultural
Heritage
Management
in
Mozambique
–
Some
experiences
made
and
some
future
challenges.
In
:
Oestigaard,
T.,
Anfinset,
N.
&
Sætersdal,
T.
(eds)
BAR
International
Series
1210:
189-‐200.
Mantjoro,
E.
1996.
Traditional
management
of
communal-‐property
resources:
the
practice
of
the
Sasi
system.
Ocean
&
Coastal
Management
32
(1):
17-‐37.
Milton,
K.
1996.
Environmentalism
and
Cultural
Theory.
Exploring
the
Role
of
Anthropology
in
Environmental
Discourse.
London
and
New
York:
Routledge,
Ministério
da
Cultura
2010.
Plano
de
Gestão
e
Conservação
da
Ilha
de
Moçambique,
Património
Cultural
Mundial.
Maputo:
Direcção
Nacional
do
Património
Cultural.
Ministério
da
Educação
e
Cultura
2007.
Coletânea
da
Legislação
Cultural
de
Moçambique.
1ª
Edição.
Maputo:
DINAC/MEC.
Mitchell,
N.;
Rössler,
M.
&
Tricaud,
P-‐M.
2009.
World
Heritage
Cultural
Landscapes:
A
Handbook
for
Conservation
and
Management.
World
Heritage
Paper
26.
Paris:
UNESCO.
Mumma,
A.
2005.
The
Link
between
Traditional
and
Formal
Legal
Systems.
In
:
Ndoro,
W.
&
Pwiti,
G.
(eds)
Legal
frameworks
for
the
Protection
of
Immovable
Cultural
Heritage
in
Africa:
22-‐24.
Rome:
ICCROM.
Ndoro,
W.
2003.
Traditional
and
Customary
Heritage
Systems:
Nostalgia
or
Reality?
The
implication
of
managing
heritage
sites
in
Africa.
World
Heritage
Papers
13:
81-‐84.
Paris:
UNESCO.
Ndoro,
W.
2006.
Building
the
Capacity
to
Protect
Rock
Art
Heritage
in
Rural
Communities.
In:
Agnew,
N.
&
Bridgland,
J.
(eds)
Of
the
Past
to
the
Future:
Integrating
Archaeology
and
Conservation.
Proceedings
of
the
Conservation
Theme
of
the
5th
World
Archaeological
Congress
Washington
D.C.,
22-‐26
June
2003:
336-‐339.
Los
Angeles:
The
Getty
Conservation
Institute.
Ndoro,
W.
&
Pwiti,
G.
1999.
The
legacy
of
colonialism:
perceptions
of
cultural
heritage
in
southern
Africa
with
specific
reference
to
Zimbabwe.
African
Archaeological
Review
16
(3):143-‐153.
Ndoro,
W.
&
Pwiti
G.
2001.
Heritage
Management
in
Southern
Africa:
Local,
National
and
International
Discourse.
Public
Archaeology
2
(1):
21-‐34.
Texto
3
10/03/2015
21
Pwiti,
G.
1996.
Let
the
ancestors
rest
in
peace?
New
challenges
for
cultural
heritage
management
in
Zimbabwe.
Conservation
and
Management
of
Archaeological
Sites
1:
151-‐160.
Pwiti,
G.,
Nhamo,
A.,
Katsamudanga,
S.
&
Segobye,
A.
2007.
Makasva:
Archaeological
Heritage,
Rainmaking
and
Healing
in
Southern
Africa
with
Special
Reference
to
Eastern
Zimbabwe.
ZIMBABWEA
9:
103-‐111.
Rudmin,
F.W.
&
Berry,
J.W.
1987.
Semantics
of
Ownership:
A
Free-‐Recall
Study
of
Property.
The
Psychological
Record,
37:
257.
Sætersdal,
T.
2004.
Places,
People
and
Ancestors:
Archaeology
and
Society
in
Manica,
Mozambique.
Unpublished
PhD
Thesis.
Bergen:
University
of
Bergen.
Sheridan,
M.
J.
2008.
The
dynamics
of
African
sacred
groves:
ecological,
social
and
symbolic
processes.
In:
Sheridan,
M.
&
Nyamweru,
C.
(eds)
African
Sacred
Groves:
ecological
dynamics
and
social
change:
1-‐41.
Oxford/Athens/Pretoria:
James
Currey/Ohio
University
Press/UNISA
Press.
Sheridan,
M.
&
Nyamweru,
C.
2008
(eds)
African
Sacred
Groves:
ecological
dynamics
and
social
change.
Oxford/Athens/Pretoria:
James
Currey/Ohio
University
Press/UNISA
Press.
Smith,
L-‐J.
2004.
Archaeological
Theory
and
the
Politics
of
Cultural
Heritage.
London/New
York:
Routledge.
Taylor,
B.
&
Kaplan,
J.
2005.
The
Encyclopaedia
of
Religious
and
Nature.
London/New
York:
Thoemmes
Continuum.
UNESCO-‐ICCROM-‐ICOMOS-‐IUCN
2013.
Managing
Cultural
World
Heritage.
World
Heritage
Resource
Manual
Series.
Paris:
UNESCO.
Texto 3 10/03/2015 22