Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
A Gnose de Schopenhauer
por Chrystian Revelles Gatti, do Lectorium Rosicrucianum
Meio século antes da Sociedade Teosófica de Blavatsky e Olcott, foi o filósofo alemão
Arthur Schopenhauer quem ergueu a ponte entre a sabedoria do ocidente e a tradição
oriental. Influenciado por Platão, Kant e pelo Misticismo Cristão, ele considerou a
descoberta das literaturas sânscritas como a maior dádiva do século e anunciou que a
filosofia e sabedoria dos Upanishads renovariam a fé ocidental. Para interpretarmos
corretamente a Metafísica Schopenhauriana, será necessário situar sua obra no espaço e
no tempo, em sua localização histórica e geográfica – compreender quais foram suas
influências, seu contexto, e o paradigma do Pensamento Ocidental do XVIII,
especialmente a situação da Filosofia Alemã da época.
https://www.hadnu.org/publicacoes/267-a-gnose-de-schopenhauer 2/9
27/05/2019 A Gnose de Schopenhauer
https://www.hadnu.org/publicacoes/267-a-gnose-de-schopenhauer 4/9
27/05/2019 A Gnose de Schopenhauer
A Tradição Oriental
A Magnum Opus (grande obra) de Arthur Schopenhauer é seu livro “O Mundo como
Vontade e Representação”, uma das obras mais importantes do século XIX, fortemente
influenciada pelos conceitos orientais do Hinduísmo, Budismo e Taoísmo como “Maya”
(ilusão), “YinYang” (dualidade), “Dukkha” (sofrimento), “Karuna” (compaixão) e
“Nirvana” (iluminação). Amigo pessoal de Goethe, foi por meio deste que Schopenhauer
frequentou círculos intelectuais pioneiros e esteve em contato direto com os primeiros
tradutores e divulgadores da filosofia oriental na Europa. Arthur Schopenhauer leu a
tradução latina dos antigos textos Hindus que o escritor francês Anquetil du Perron
traduziu diretamente da versão persa do Príncipe Dara Shikoh entitulada Sirre-Akbar
(“O Grande Segredo”). Após interpretar o Bhagavad Gita, Schopenhauer considerou
estes textos a mais elevada leitura do mundo, portadora de conceitos sobrehumanos.
A Obra de Schopenhauer
A Teologia da época soava como uma série de perplexidades organizadas de um reino
puramente conceitual e abstrato, sem conexão alguma com o mundo e com a vida,
enquanto a sabedoria universal preservada pelo oriente era, pelo contrário, uma
filosofia Do Mundo e Da Vida, cujo objetivo não era enrodilhar o homem em uma teia
de abstrações emaranhadas mas, ao invés disso, conduzir o homem para a saída deste
labirinto, dissipando as ilusões e projeções do Ego e visando a libertação do sofrimento
da vida e do mundo. Entre os paralelos especiais que sua filosofia guarda com os
ensinamentos de Gautama está a ideia da Ignorância e do Desejo como origem de todo
o sofrimento. A Ignorância Fundamental consiste em tomar as Representações (os
conceitos, os objetos, os fenômenos) como Realidade e ver a si mesmo como separado
do resto. Consequentemente, o ignorante interpreta a existência como uma luta
incessante, uma guerra de todos contra todos. Para Schopenhauer, esta é a origem do
egoísmo inato dos indivíduos que, incapazes de conceber a unidade dos seres e
compreender que cada indivíduo é apenas a expressão de uma universalidade que o
https://www.hadnu.org/publicacoes/267-a-gnose-de-schopenhauer 5/9
27/05/2019 A Gnose de Schopenhauer
transcende e engloba, é impelido a lutar contra os outros e contra o mundo, sem saber
que, com isso, volta-se contra si mesmo. É da piedade pela infelicidade e pelo
sofrimento inerente à condição humana que desabrocha a rosa da compaixão
impessoal, a compreensão de que todas as vozes são, essencialmente, a voz do Uno, da
Vida.
Misticismo Cristão
Jakob Böhme foi um místico cristão alemão que tratou intensamente do Problema do
Mal e da Natureza da Divindade, e deixou um legado que posteriormente inspirou
diversas manifestações culturais e artísticas no Ocidente, como a Teosofia, a Maçonaria,
o Rosacrucianismo, o Martinismo, os quadros e poemas de William Blake, a psicologia
de Jung, e especialmente o Idealismo Alemão de Baader, Schelling, Schopenhauer e
Hegel – este último chega ao ponto de declará-lo “o primeiro filósofo alemão”. Böhme
teve uma experiência mística da visão da Unidade do Cosmos, e escrevia para si mesmo
no intuito de reter as impressões que chegavam diretamente à sua consciência. Para ele,
Deus era a Onipresença Eterna situada além do Espaço e do Tempo e, para alcançá-la, o
homem haveria de transpassar seus próprios portões do inferno, já que “a vontade e a
imaginação do homem perverteram-se de seu estado original. O homem se rodeou pelo
mundo de sua própria vontade e imaginação” e, com isso, perdeu Deus de vista. Louis-
Claude de Saint-Martin, filósofo francês que dedicou a vida a traduzir, interpretar e
divulgar a obra de Böhme, diz que “A verdade não pede mais que fazer aliança com o
homem; mas quer que seja somente com o homem e sem nenhuma mistura com tudo o
que não seja fixo e eterno como ela. Ela quer que esse homem se lave e se regenere
perpetuamente e por inteiro na piscina do fogo e na sede da unidade”, ou seja, o homem
não pode apreender o Infinito por meio dos sentidos, dos desejos ou da razão egoísta,
mas por meio de “uma condição na qual a vontade do homem, despindo-se de tudo o
que é terrestre, torna-se divina e absorvida na autoconsciência”. É dessa forma que, de
acordo com Bohme, o homem e o Deus Incognoscível “se fundem em uma só força”.
Eles “se despertam mutuamente e se conhecem entre si. Neste conhecimento consiste o
verdadeiro entendimento, que segundo o caráter da eterna sabedoria, é imensurável e
abismal, sendo do Um que é o Todo. Uma vontade única, iluminada pela luz divina,
pode brotar deste manancial e manter a infinidade. Desta contemplação escreve esta
pena.”. O psiquiatra Richard Maurice Bucke escreveu em 1901 o “Estudo da Evolução da
Mente Humana” e, explorando o conceito de “consciência cósmica”, cita Jakob Böhme,
entre outros, como exemplos da manifestação de uma forma superior de consciência.
https://www.hadnu.org/publicacoes/267-a-gnose-de-schopenhauer 6/9
27/05/2019 A Gnose de Schopenhauer
A Ideia de Inconsciente
Quando agimos e pensamos no cotidiano, acreditamos estarmos no controle de nossas
ideias, ações e pensamentos, mas existe algo que nos move. A Filosofia de
Schopenhauer dá um nome para esta força primária que nos influencia muito mais do
que qualquer lógica, moral ou razão – a Vontade. De acordo com Schopenhauer “a
Vontade é um cego robusto que carrega um aleijado que enxerga”, e nossa consciência
objetiva é o aleijado. Por isso, Schopenhauer é um dos precursores da ideia de
Inconsciente. É a partir da ideia de Schopenhauer sobre a “Vontade” que Eduard von
Hartmann escreve Filosofia do Inconsciente em 1869, influenciando toda a psicologia
posterior e especialmente os trabalhos de Freud e Jung.
https://www.hadnu.org/publicacoes/267-a-gnose-de-schopenhauer 7/9