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Entre o extremismo e a ideologia, a lucidez dos mártires

gazetadopovo.com.br/blogs/felipe-koller/2019/04/30/entre-o-extremismo-e-a-ideologia-a-lucidez-dos-
martires/
April 30,
2019

Imagine um padre que tenha feito de sua paróquia a sede não-oficial de um sindicato de
metalúrgicos. Em suas pregações, fala de justiça social, dos direitos dos trabalhadores,
de liberdade e de paz, mandando o seu recado aos governantes. Defensor da não-
violência na resistência ao autoritarismo, diz: “Não é suficiente para um cristão condenar
o mal, a covardia, a mentira, o uso da força, o ódio e a opressão. O cristão precisa ser em
todos os momentos testemunha e defensor da justiça, da bondade, da verdade, da
liberdade e do amor. Ele nunca deve se cansar de reivindicar esses valores como direitos
tanto para si quanto para os outros”. A mensagem fica ainda mais explícita nos
momentos que antecedem as liturgias, em que ele dá espaço a artistas, poetas e
cantores com seus refrãos subversivos.

Para muitas pessoas, esse é o retrato de um “padre comunista”, que não liga para o
Evangelho e para a doutrina. Mas essas linhas descrevem Jerzy Popiełuszko, um padre
polonês que alçava a voz justamente contra o regime comunista – e que acabou sendo
assassinado por agentes do governo. Em 1984, quando tinha 37 anos, Popiełuszko foi
sequestrado, espancado, amarrado, colocado dentro de um saco com pedras e
arremessado nas águas de uma represa, ainda vivo. Ele foi beatificado por Bento XVI,
como mártir, em 2010.
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Era a partir da fé que Popiełuszko se posicionava firmemente em defesa dos direitos
humanos e contra toda forma de autoritarismo. Mas se ele esteve sob a mira do regime
soviético, Enrique Angelelli, Oscar Romero e Stanley Rother tomaram o partido dos mais
vulneráveis em países que viviam ditaduras de direita – respectivamente Argentina, El
Salvador e Guatemala. Acabaram, todos eles, assassinados e hoje são venerados como
mártires pela Igreja Católica. Angelelli, aliás, foi beatificado no sábado (27), ao lado de
Gabriel Longueville, Carlos de Dios Murias e Wenceslao Pedernera.

Não é absurdo supor que se Popiełuszko tivesse vivido na Argentina e Angelelli na


Polônia, eles teriam agido da mesma forma e tido o mesmo destino, porque o que
estava em jogo não era uma posição no espectro político, adotada por razões
ideológicas, e sim a defesa da dignidade humana, que eles viam como uma exigência do
Evangelho. A cor do autoritarismo não importava.

O que estava em jogo não era uma posição no espectro político, adotada por razões ideológicas,
e sim a defesa da dignidade humana, que eles viam como uma exigência do Evangelho.

Isso é ainda mais curioso no caso dos padres Michał Tomaszek, Zbigniew Adam
Strzałkowski e Alessandro Dordi, assassinados no Peru em 1991 e hoje venerados como
beatos. Eles se posicionavam contra o governo de direita, mas acabaram mortos não por
agentes ligados ao governo e sim por um grupo terrorista de extrema-esquerda, o
Sendero Luminoso. Para a extrema-direita, eram terrucos – como chamavam os
membros do Sendero e, pejorativamente, qualquer camponês que minimamente
aparentasse ser do movimento. Para a extrema-esquerda, eram colonialistas e inimigos
do povo.

A história da Igreja Católica – e mesmo das outras Igrejas cristãs – no século XX é repleta
de figuras como essas. A lista de santos e beatos desse período inclui cristãos
martirizados pelo totalitarismo nazista, fascista e comunista, por milícias de direita e de
esquerda, pela máfia siciliana, pelo fundamentalismo islâmico, pelo narcotráfico, pelo
machismo e pelo nacionalismo.

Muitas vezes eles fogem do estereótipo que se esperaria. Os mortos pelo


fundamentalismo islâmico não eram católicos integristas, mas amantes do diálogo como
Pierre Claverie, Christian de Chergé, Henri Vergés e, no século XXI, Jacques Hamel. Os
mortos por guerrilhas de esquerda não eram obcecados pelo anticomunismo, mas
exemplos de opção preferencial pelos pobres, como Jesús Emilio Jaramillo Monsalve e os
já citados mártires do Peru.

Todos eles, homens e mulheres devotados à oração e íntimos conhecedores da tradição


cristã. A partir dali e da sua proximidade com os mais vulneráveis – marca do agir cristão
– discerniam os rumos de sua ação. Em meio à polarização, são, mesmo para quem não
compartilha da sua fé, sinais de luz e de lucidez, de pé no chão e de fidelidade aos
próprios princípios, de resistência e de abertura.

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Felipe Koller

Editor de conteúdos estruturantes da Gazeta do Povo, é mestre


e doutorando em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica
do Pa...

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