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1ª unidade – Filologia Românica

Prof. Msc. Tânia Regina Carvalho S. Leite

Departamento de Nome: ____________________________________________ n°: ____


Letras Período: 6º Turma: ______ Data: ___/___/___

Origem da Filologia Românica


Por Prof. Msc. Tânia Regina Carvalho S. Leite

1. Definição de Filologia

A palavra filologia tem a sua origem na Grécia. Em grego philos quer dizer "amigo"
e logos, palavra, discurso. Portanto, a filologia é a área do conhecimento que, através dos
textos escritos, estuda a língua e a cultura de um povo.
A necessidade de definir a autenticidade dos textos surgiu quando um povo que
adquiriu uma alta cultura desenvolve a consciência deste estado e deseja preservar da ação
do tempo as obras que fazem parte do seu patrimônio cultural.
Entretanto, segundo Silveira Bueno (1959), o conceito de filologia não nos chegou
de forma clara e precisa, mas, assim como todos os conceitos científicos, passou por várias
transformações até chegar ao conceito atual.
Platão aplicava o termo filologia de forma ampla. Para o filósofo grego, o termo
filologia designava a conversação elegante, fluente e erudita. Assim, para Platão, Filologia
era o mesmo que erudição, não existindo diferença entre eruditus, grammatikus e
philologus. Contudo, não podemos confundir grammaticus, pessoa de grande erudição que
versava sobre as grandes ares de conhecimento de sua´época, e o grammatista, aquele que
ensinava as regras da expressão oral e escrita de uma língua.
De acordo com Silveira Bueno (idem), “a filologia não estuda, portanto, a língua em
si mesma, tratando de conhecer-lhe todas as regras para bem falar ou escrever, nem
tampouco vai pesquisar-lhe a origem, acompanhando-lhe a evolução através de todas as
suas fases históricas, mas unicamente como instrumento que serviu de expressão ao
pensamento, `as emoções artísticas de um povo”. Assim sendo, a filologia tem como função
a interpretação do pensamento e da cultura de um povo através de seus documentos
escritos, deste modo, “onde não houve documentos literários, não há filologia”.
Seguindo o pensamento do autor, não podemos, então, falar de uma filologia tupi-
guarani, visto que este povo não nos deixou documentos escritos. Da mesma forma, só
podemos nos referir a uma filologia portuguesa a partir dos Cancioneiros, por se tratarem
dos mais antigos documentos escritos em Língua Portuguesa.

2. O trabalho filológico

Como já dissemos, os documentos escritos constituem o campo de estudo da


filologia para que , através de lês, se conheça o pensamento um povo, assim como a sua
produção literária, porém, para que isto ocorra, o filólogo deve encontrar-se preparado em
diversas áreas do conhecimento para que seja capaz de desempenhar as seguintes funções:

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1. Estabelecer através do estudo e análise dos manuscritos as diversas versões do
texto;
2. Corrigir os possíveis erros encontrados nos textos e restaurá-los em toda a sua
possível perfeição.
3. Esclarecer os pontos obscuros dos manuscritos, completando-os em suas falhas,
restituindo-os, enfim, ao seu estado tal qual os deixou o seu autor em sua época.
4. Estabelecer a autenticidade de textos anônimos ou autoria duvidosa, colocando-os
em sua época devida, também faz parte do trabalho do filólogo a análise do texto de
diversos pontos de vista: morfológico, sintáxico e semântico bem como o estudo do
objeto de que o texto trata.

3 Filologia Clássica; Filologia Românica e Filologia Portuguesa

Filologia Clássica

Como já sabemos, a filologia tem como objetivo conhecer a civilização e a cultura


de um povo através de seus documentos escritos, tendo como principal instrumento a língua
em que estes documentos foram produzidos. Assim sendo, segundo Silveira Bueno (idem,
p. 22) “quantas forem as civilizações deixadas em certas e determinadas línguas, tantas e
quantas serão as filologias”
De acordo com Ilari (2002), a partir do Humanismo, muitos estudiosos começaram
a se interessar pela cultura clássica, surgindo assim um especial interesse pelos textos
produzidos pelos gregos e romanos como instrumento de manipulação das informações
sobre a época a que se referiam os textos antigos, o que exigia um conhecimento muito
grande das línguas antigas. A esse interesse pelas literaturas antigas chamou-se Filologia
Clássica. Portanto, a filologia clássica busca desvendar a civilização greco-romana através
do estudo da produção literária deixada por seus poetas e prosadores. De acordo com
Silveira Bueno (1959), este estudo poderá ser feito independentemente um do outro, ou
poderá também ser comparativo, confrontado os aspectos semelhantes nas línguas e
literaturas desses povos.

Filologia Românica

Durante a expansão do Império Romano, o latim dialetou-se dando origem a várias


línguas modernas que, por sua vez, desenvolveram uma literatura própria. A esse grupo de
idiomas originados do latim, deu-se o nome geral de línguas românicas. Com o passar do
tempo, essas línguas foram se transformando a ponto de se tornarem incompreensíveis aos
leitores modernos, necessitando de estudo para a sua interpretação. Surge assim, a filologia
românica, responsável por buscar a compreensão de civilizações distintas, mas com origem
em comum – o latim, como a italiana, , espanhola, francesa, romena, provençal e a
portuguesa, através de seus documentos e produção literária.

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Filologia Portuguesa

A Filologia Portuguesa surge no século XII com o poema “A Canção da


Ribeirinha”, de Paio Soares de Taveirós, considerado o texto mais antigo da literatura
portuguesa. A língua falada nesta época era o galego-português, devido à integração
lingüística e cultural existente entre Portugal e a região da Galiza. Assim, as primeiras
produções literárias portuguesas são registradas em galego-português e literariamente
constituem um período denominado de Trovadorismo. Contudo, como a Galiza é anexada
ao território espanhol, gradativamente, essa região perde a sua influência sobre Portugal,
sendo que, no século XV, o português se separa do galego, tornando-se uma língua
independente.

Atividade I
1. Com o passar do tempo, o conceito de Filologia sofreu algumas transformações.
Cite os diversos conceitos aplicados a Filologia desde Platão até os nossos dias.

2. Cite as principais funções atribuídas ao filólogo.

3. Explique a importância do Humanismo para a Filologia Clássica.

4. Quais os objetos de estudo da Filologia Clássica, da Filologia Românica, e da


Filologia Portuguesa?

5. Poderia um filólogo estudar a civilização de um povo indígena? Justifique sua


resposta.

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Métodos da Filologia Românica
1. Métodos da Filologia Românica

A preocupação em preservar a cultura e o passado existe desde a época da criação


da famosa biblioteca de Alexandria, quando foram compiladas as obras antigas da literatura
grega, sobretudo de Homero, mas, só a partir de 1500, com o advento da Renascença,
aumenta o interesse dos estudiosos pela história cultural do seu país, com particular
interesse pela filologia dando origem à história literária. Isto ocorreu porque neste período
renascia no ocidente o interesse pelo seu passado que, por sua vez, remetia à Antiguidade
greco-latina.
Neste contexto, temos que ressaltar a importância dos humanistas no trabalho árduo
de reconstrução do nosso passado histórico. Ao humanista cabia a tarefa de, primeiramente,
descobrir os manuscritos que ainda existiam, confronta-los e tentar obter o texto original do
autor. Neste processo foram necessários séculos de buscas e pesquisas.

2. Método Comparatista

O interesse pela Filologia Clássica gerou estudos mais profundos sobre as línguas
antigas, como instrumento importante na compreensão destes povos que constituem o pilar
da civilização ocidental. Este estudo, contudo, só podia ser histórico.
Franz Bopp, no início do século XIX, com a publicação do livro Sobre o sistema
de conjugação da língua sânscrita, em confronto com o das línguas grega, latina, persa e
germânica , na busca da protolíngua, dá origem ao método comparatista, utilizando em
seus estudos a classificação genealógica, ou seja, considerando afins aquelas línguas que se
desenvolveram a partir de um único idioma.,conseguindo, através dos seus estudos,
estabelecer as semelhanças existentes entre as línguas clássicas, o que justificava a origem
comum dessas línguas.
Segundo Ilari (2002, p.18), o método utilizado por Bopp, que foi aplicado por Jakob
Grimm nos estudos sobre as línguas germânicas, deu ao estudo das línguas “um caráter
genético, e fez aparecer a preocupação de reconstituir, pela comparação, o indo-europeu,
considerando como a língua comum das línguas das principais culturas clássicas”.
De certa maneira, podemos dizer que François Raynaouard foi um dos primeiros
estudiosos a percebeu que, para obter um conhecimento mais profundo da língua francesa,
era indispensável investigar os antigos documentos e dialetos modernos. Contudo,
Raynaouard cometeu um equívoco ao anunciar que todas as línguas neolatinas originaram-
se a partir do provençal. Apesar disso, seus estudos contribuíram para evidenciar muitos
fenômenos da evolução das línguas neolatinas.
Porém, de acordo com Bassetto (2005), Friederick Diez tornou-se o pai da
Filologia Românica aplicando o método histórico-comparatista no estudo das línguas indo-
européias. Para o autor, o método histórico-comparativo é aplicável a casos de grupos de
línguas genealogicamente afins. Assim, dados colhidos nas línguas com as mesmas origens
são comparados entre si para se lhes encontrar a forma originária, determinar a ocorrência

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de metaplasmos (COLOCAR LEMBRETE), verificar-lhes o significado, a formação de
novos campos semânticos e os motivos que levaram a tal formação.
As pesquisas de Diez, confirmaram que havia entre o latim e as principais línguas
românicas “ uma relação genética semelhante à do indo-europeu com o latim, o grego e o
sânscrito”.Outra grande contribuição deste pesquisador foi descobrir que as línguas
românicas se originaram de uma variedade do latim clássico, conhecida com latim vulgar.
Embora, segundo Bassetto (idem), o método histórico comparatista não obteve os
mesmos resultados satisfatórios em todos os níveis da linguagem, esse método devidamente
utilizado foi, e continua sendo, muito proveitoso para o conhecimento do latim vulgar e,
conseqüentemente, das línguas românicas. A aplicação desse método verificou-se eficaz
também nos estudos das línguas germânicas e eslavas.

3. Os neogramáticos

Diez, fundador da Lingüística Românica, e seus seguidores foram diretamente


influenciados pelo historicismo da filosofia romântica vigente em sua época. Entretanto, a
escola lingüística que sucedeu a geração de Diez esteve ao contrário sob influência das
ciências naturais e do darwinismo. Essa nova escola ficou conhecida como neogramáticos e
seus seguidores opunham-se ostensivamente as orientações comparatistas da época. Os
neogramáticos recomendavam que ,em vez tentar encontrar a protolingua através da
comparação das línguas modernas, os pesquisadores deveriam voltar sua atenção “para as
línguas vivas, onde os processos de evolução lingüística poderiam ser vistos em ação, e
onde poderia ser captado o papel das forças psicológicas que estão na base do
funcionamento e da evolução das línguas” (ILARI, 2002, p.19).
De acordo com os neogramáticos, “as ‘leis fonéticas’ agem de maneira regular,
admitindo exceções apenas quando sua ação é contrariada pela ação da força psicológica da
analogia” (idem, ibidem). Entretanto, essa crença no funcionamento mecânico da evolução
fonética gerou muitas críticas de estudiosos que não concordavam com a tese de que as leis
fonéticas agem de forma absoluta. Mesmo assim, os neogramáticos tiveram uma influencia
muito grande para a lingüística e para a filologia românica. Visto que Ferdinand de
Saussure, o pai da Lingüística Moderna, era neogramático de formação, assim como
Meyer-Lübke, cujas obras Gramática das línguas românicas e Dicionário etimológico
românico (REW) são referencias no estudo da filologia românica.
Segundo Ilari (idem), os neogramáticos foram importantes para os estudos
filológicos por terem refinado o método histórico-comparativo que é fundamental para os
estudos da lingüística histórica em geral e para filologia românica

4. Método Idealista

Como vimos, o estudo histórico positivista dos neogramáticos provocou, desde o


final do século XIX, uma série de reações, dentre as quais destacamos três movimentos: 1)
desenvolvimento da geografia lingüística e valorização dos dialetos locais; 2) movimento
estruturalista, iniciado com Saussure e 3) movimento idealista,, com seu centro de interesse
voltado para o aspecto criativo da língua. Aos dois primeiros corresponde o descobrimento
ou revalorização da história de cada palavra e do conceito da língua como um sistema de
elementos interdependentes. Agora vamos nos concentrar na terceira corrente, que tem

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como seu representante máximo Karl Vossler; que deu continuidade aos estudos de
Benedetto. Croce.
Segundo Humboldt (JIMENEZ, 2006), a língua é uma produção da alma, assim
como outros tipos de manifestação como as artes. Portanto, se a língua é a manifestação da
alma, não pode ser encarada como produto, mas como criação, posto que, segundo o
pesquisador, a alma somente existe como atividade. Assim, Humboldt afirmava que a
língua não é uma mera reprodução da realidade, mas a visão que um falante tem desta
realidade.
A língua, então, constituía a verdadeira identidade de um povo, sua visão do
mundo.. A língua coletiva podia ser concebida como a síntese das línguas individuais,
entretanto, somente a estas últimas aplicava-se o conceito de língua. Porém, as teses
idealistas de Humboldt, talvez porque os interesses da época iam por outros caminhos,
tiveram teve uma repercussão menor que as positivistas de Scheleicher, para quem as
línguas evoluíam conforme a conjunto de leis internas alheias a nossa vontade, idéia
influenciada pelo darwinismo. Posteriormente, o socialismo de Saussure separou a língua
individual da coletiva e colocou como centro de interesse o estudo da língua na norma, à
margem de toda criação individual.
Benedetto Croce (1866-1952), ao se posicionar contra as
teses positivistas e naturalistas, afirmava que a “língua é um
ato espiritual e criador.Seus pontos de vista estão registrados
em a “Estética”. De acordo com Croce, a expressão lingüística
é uma criação constante, uma intuição, um fenômeno estético.
Para ele, não havia um sistema lingüístico exterior ao homem,
sendo a língua pura intuição, e nasce ao mesmo tempo que
esta é auto suficiente. O ato da língua, afirma “não é a
expressão do pensamento e da lógica, mas da fantasia, isto é,
da paixão elevada e transfigurada na imagem, e, portanto,
idêntica a atividade da poesia.
A essência da língua é uma expressão fantástica, poética, musical, a qual, ainda nos
casos em que a língua se converte em signo dos pensamentos e conceitos, na expressão
prática, segue conservando algo de seu caráter genuíno.”
A concepção idealista da língua de Croce foi tomada e levada a prática por Karl
Vossler (1872-1949). A partir do seu livro “Positivismos e Idealismo na Lingüística”,
publicado em 1904, Vossler combateu o método naturalista histórico-analítico e se opôs ao
intuitivo-sintético, segundo o qual toda troca lingüística estava condicionada a alma
humana. O pesquisador, então, tenta ordenar o caos que o conceito da língua enquanto
criação havia originado; ao introduzir o conceito de evolução. Este seria um elemento de
ligação entre o ato puramente estético, individual de Croce e o conceito de língua um tanto
quanto abstrato de Saussure. A evolução considera a língua como instrumento que serve
não somente a função comunicativa, na medida em que as criações individuais coincidem
com as dos outros falantes ou se originam de acordo com algo nacionalmente determinado
e coerente que orienta, aceita ou rechaça as criações individuais. As línguas, além de serem
expressão individual, são também expressão coletiva.
Para Vossler, tanto a criação como a evolução da língua, sem distinção de planos,
dependem do estado de ânimo do individuo, que se converte em lei de troca, se bem que
seu espírito se encontra influenciado por uma mentalidade social. Assim, a troca lingüística

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não é, então, um processo natural, mas uma manifestação de uma nova mentalidade na
cultura de uma comunidade lingüística.
Portanto, a linguagem é, para Vossler, a expressão da alma humana e assim sendo,
a história da língua é idêntica às das várias formas de expressão, como a arte. Enquanto os
filósofos e filólogos antigos buscavam a relação entre a linguagem e a lógica, Vossler
acentua o caráter ilógico da língua. Toda expressão lingüística é individual; cada expressão
é uma recriação que carrega sempre algo da alma do falante e, por isso, pe diferente de
qualquer outra expressão de outros falantes (BASSETTO,2005).
O movimento idealista, desde os primeiros momentos, foi objeto de duras críticas,
provenientes ,em grande parte , de autores positivistas, que tinham ressalvas quanto ao
aspecto criador e individual da língua, assim como a concepção da língua como produto
estético, reflexo de uma determinada cultura. De acordo com Iordan (1967, p.204-205) “o
erro fundamental do idealismo lingüístico, do qual se desprendem de modo natural os
outros, é a negação do caráter lógico da língua, e na importância excessiva do elemento
estético. Chegando-se a confundir língua com arte e, conseqüentemente, Lingüística com a
Estética.”
Outra crítica dirigida à doutrina de Vossler diz respeito à falta de distinção entre
língua e fala, sendo que tudo se reduz ao segundo aspecto. Finalmente, afirmação do caráter
alógico da língua rompe a estreita ligação existente entre pensamento e linguagem, a qual é
tão forte que pe difícil conceber uma sem a outra. Portanto, não se deve esquecer a língua
como veículo de transmissão do pensamento lógico, porque sua função primária é a
comunicação.
Apesar das críticas negativas aos estudos de Vossler e do método idealista, não
podemos deixar de fazer referencia aos pontos positivos de sua tese dos quais podemos
destacar a forma como a alma humana se manifesta na língua, a valorização de quanto de
individual e criador há na língua, o descobrimento do elemento artístico, estético e
espiritual que há em toda manifestação da linguagem, valorização da estilística e da sintaxe
frente ao excessivo influxo da fonética, e por último, a colocação da História da literatura e
da língua no mesmo nível. De qualquer forma, fazer uma análise dos resultados do método
idealista e de Vossler, seu principal representante, é uma tarefa extremamente difícil, visto
que recorrendo a uma citação de A.Alonso, “seu pensamento navega entre constante
dualidade sem oferecer um sistema muito definido”.

5. Método da Geografia Lingüística

Enquanto o método histórico comparativo parte de fatos devidamente comprovados


em textos ou observados nas línguas estudadas, a geografia lingüística se ocupa com a
situação em que uma língua se encontra num determinado momento, em localidades ou em
regiões previamente escolhidas.Não utiliza documentos escritos como objeto de sua
pesquisa, mas investiga sobretudo a linguagem falada.
De acordo com Câmara Jr (1981, p. 94). a geografia lingüística é a técnica mais
moderna de pesquisa na área da dialetologia e consiste na no levantamento de mapas que
indicam a distribuição geográfica de cada traço lingüístico dialetal.
Entretanto, não podemos falar em geografia lingüística sem antes determinarmos o
campo de estudo da dialetologia. Contudo, de acordo com Santiago e Dalpian, para se falar

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em dialetologia, é necessário, primeiramente, determinar os conceitos de língua, dialeto e
fala. Segundo Dubois (apud Santiago e Dalpian, 2006, p.02), língua é um “.sistema de
signos, cujo funcionamento é regido por muitas regras e coerções. Ela é o código que
estabelece a relação de comunicação entre o receptor e o emissor” Para o autor, “dialeto é
uma forma de língua, usada num local restrito, que possui um sistema léxico, sintático e
fonético próprio”, enquanto que “o falar é um sistema de signos que define um quadro
geográfico estreito e é, também, uma forma de língua usada por um determinado grupo
social.”
Assim, segundo os autores, fica difícil diferenciar de forma precisa dialeto e falar. A
tendência é empregar o termo dialeto em sentido mais amplo, ou seja, considerar qualquer
variedade lingüística como dialeto. Portanto, podemos definir como dialetos tanto a
variante falada numa região de um país quanto as usadas por cada um dos segmentos que
formam a população, desde que existam traços de particularidades.
Quanto à definição de dialetologia, segundo Dubois (1995, p.85) o termo , usado
também como sinônimo de geografia lingüística, “designa a disciplina que assumiu a tarefa
de descrever comparativamente os diferentes sistemas ou dialetos em que uma língua se
diversifica no espaço, e de estabelecer-lhes os limites. Emprega-se também para descrição
de falas tomadas isoladamente, sem referencias às falas vizinhas ou da mesma família”.
O termo dialetologia, segundo Santiago e Dalpian, deriva de dialeto, que é a
terminologia tradicional dada às línguas regionais, sendo a análise desses traços o objetivo
principal dos estudos dialetológicos.
O interesse pelos estudos dos dialetos surgiu no século XIX., quando os lingüísticos
começaram a se preocupar com o registro e descrição das diferentes variedades lingüísticas
regionais assim como pelas manifestações da cultura local. A partir de então, a diletologia
deixa de ser um estudo e passa a ser ciência.
De acordo com Ilari (2002), no final do século XIX e nas primeiras décadas do
século XX, várias correntes reagem contra o método histórico comparativo e contra a
maneira como ele conduzia a pesquisa sobre a formação das línguas românicas: dentre estas
novas correntes estão o “idealismo lingüístico” e a escola lingüística de Saussure. Outras,
segundo o autor, surgem como resultado de um contato mais direto com os dialetos
neolatino. Neste último caso estão as orientações que se costumardenominar sob o título
genérico de “geografia lingüística”.
Contudo, não podemos falar do trabalho da geografia lingüística sem mencionarmos
a importância de Jules Gilliéron(1845-1926). Este lingüista suíço, professor e diretor de
dialetologia da École Pratique de Hautes Études, lançou as bases da geografia lingüística
ao dirigir, entre 1897 e 1901, uma pesquisa de campo que consistia em aplicar um
questionário de 1920 perguntas em 639 regiões do território dos dialetos franco-românicos.
A aplicação deste questionário tinha como objetivo levantar dados sobre a fonética ,
morfologia e sintaxe destas regiões. Os resultados obtidos possibilitaram maior
desenvolvimento nos estudos das línguas, a partir de suas variedades, permitindo, assim,
reformulações nas teorias lingüísticas vigentes.
A aplicação do questionário foi realizada com a ajuda de um auxiliar, Edmond
Edmont, ficando a triagem e a interpretação dos dados sob a responsabilidade do próprio
Gilliéron. Os dados obtidos através desta pesquisa de campo resultaram no Atlas
linguistique de la France (ALF), publicado entre 1902 e 1912.
O método de Gilliéron é inovador e de suma importância porque, diferentemente
dos comparatistas que utilizavam essencialmente as fontes escritas, Gilliéron dava

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prioridade aos dados que resultam de uma pesquisa de campo. Porém, segundo Ilari (2002,
p.26)), a grande contribuição dos estudos realizados por Gilliéron reside no fato de ter
abandonado definitivamente “a concepção comparatista segundo a qual a dialetação do
latim teria resultado sem outras complicações de um tratamento fonético diferenciado que
as expressões do latim vulgar teriam recebido em cada região”. Para o lingüista suíço esta
concepção não procede e provou que “além da evolução fonética operou crucialmente na
formação dos dialetos românicos a criatividade dos falantes”.
Para Bassetto (2005), a contribuição do método da geografia lingüística para o
estudo das línguas românicas é muito valiosa, apesar do seu caráter unilateral que recolhe
apenas os dados lingüísticos instantâneos. Este método tem o mérito de possibilitar uma
visão geral da situação atual da língua além de realizar o ideal neogramático de estudar a
língua viva. Seus estudos mostraram que as palavras se chocam, migram, arcaízam-se,
renascem ou desaparecem, demonstrando que o fator determinante em todo esse processe é
o aspecto semântico, cuja busca fez nascer outros métodos de pesquisa
Segundo Santiago e Dalpian (2006), as pesquisas de campo empreendidas pela
geografia linguistica permitiram maior compreensão do processo de evolução histórica das
formas lingüísticas. Percebeu-se também que as regiões mais afastadas dos grandes centro
apresentam uma resistência maior às variações, enquanto as regiões centrais e mais
desenvolvidas culturalmente aceitam melhor as inovações lingüísticas.
Através dos estudos realizados pela geografia lingüística foi possível compreender
a contribuição da localização geográfica para o surgimento e consolidação das variedades
lingüísticas regionais.

6. Método “wörter und sacher” (palavras e coisas)

Enquanto os neogramáticos enfatizaram o aspecto fonético; a geografia lingüística


preocupou-se com a semântica, sugerindo a necessidade de se conhecer sempre que
possível, o objeto designado por determinado termo, a fim de se compreender seu
significado. Assim, conhecendo-se a natureza, as formas, o uso dos objetos, é possível
identificar a história das palavras destes objetos.
Hugo Meringer (1842-1929) e Rudolf Schuchardt (1859-1931) fundaram, em 1909, a
revista Wörter und Sachen que dará nome ao movimento que prioriza a pesquisa de
campo em detrimento ao estudo de documentos escritos.
Segundo Ilari (2002, p.31), esse movimento buscava a verdadeira etimologia de uma
palavra através de um estudo minucioso da realidade que ela designa e dos conhecimentos
que a cercam. Para os seguidores desse movimento, os estudiosos da língua deveriam
considerar com mais interesse as “coisas”, em oposição a outros movimentos que
dedicavam atenção quase que exclusivamente às “palavras”.
Como exemplo para ilustrar o estilo de pesquisa desse movimento, Ilari (idem) dá o
exemplo da palavra fígado e de seus cognatos românicos (esp. hígado, fr.foie, it. Fegatto,
cat. e prov. fetge ). De acordo com o autor, estas palavras são a tradução exata da palavra
latina iecur, entretanto, não é possível traçar entre esta e aquelas uma derivação fonética
regular.
Contudo, entre a palavra iecur e as formas *ficatu ou *fícatus que resultam da
comparação das línguas românicas, podemos encontrar uma conexão se considerarmos
mais atentamente a “coisa”,no caso, o fígado das aves. A explicação é a seguinte: o fígado
era um prato muito apreciado e para obter fígados mais saborosos e maiores, costumava-se

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alimentar as aves com grandes quantidades de figos. Assim, surgiu a expressão iecur ficatu,
para designar a ave que fora engordada com o figo. Com o passar do tempo, apenas a
segunda parte da expressão (ficatus) sobrevive, passando a significar genericamente o
“fígado”.
Para Bassetto (2005), o movimento “palavras e coisas” rompeu os limites estreitos
dos neogramáticos, buscando o que há de vivo e não sujeito às leis cegas; procurando
estabelecer a etimologia e até a biografia das palavras, deu o devido lugar à semântica e
tornou os estudos filológicos mais objetivos. Assim, com ênfase na semântica e no léxico
de uma língua, buscava identificar os aspectos vivos e as forças criadoras da linguagem.

7. Método onomasiológico

O método onomasiológico, assim como a Geografia Lingüística e o método


“palavras e coisas”, tinha como objetivo investigar os vários nomes atribuídos a um objeto,
animal, planta, conceito, etc, individualmente ou em grupo, dentro de um ou vários
domínios lingüísticos.
Segundo Ilari (idem, p. 31), método onomasiológico “consiste no levantamento de
todas as expressões que designam um mesmo objeto ou conceito”. Esta linha de pesquisa
leva a representar o léxico “como um conjunto de “campos semânticos”, estruturados por
relações de sinomia e posição”.
Para Bassetto (idem), esse método teve uma grande contribuição para os estudos da
linguagem ao permitir identificar a cultura de um povo através do estudo de seu léxico, ou
seja, permite sentir a linguagem viva, traduzindo a vivencia cultural de um povo.

Atividade II

1. Defina o método morfológico. Qual a sua principal limitação?

2. Defina o método comparativo. De que maneira esse método melhora o


morfológico?

3. Qual a finalidade do método comparativo?4. Por que os neogramáticos opunham-se ao


método histórico?

5. O estudo histórico positivista dos neogramáticos provocou o surgimento de


três movimentos principais. Quais são esses movimentos e qual a sua
importância para os estudos lingüísticos?

6. Qual a novidade introduzida pelo método idealista? Quais as principais críticas dirigidas
a esse método?

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7. Embora os resultados obtidos pelo método idealista não sejam precisos, qual a principal
contribuição deste método para os estudos da língua?

8. Qual a definição do texto parra os termos língua, linguagem e dialeto? Pesquise outras
definições e compare-as com a do texto.

9. Defina a Geografia Lingüística.

10. Qual a inovação apresentada pela Geografia Lingüística? Qual a sua contribuição para
a lingüística?

11. Em que consiste o Método “palavras e coisas” ? Qual a sua relevância para os estudos
lingüísticos?

12. Qual a importância desses estudiosos para os estudos da língua?


a) Friederich Schlegel
b) Franz Bopp
c) François Raynaouard
d) Friederick Diez
e) Ferdinand Saussure
f) Benedetto Croce
g) Karl Vossler
h) Jules Gilliéron

Referências
BASSETTO, Bruno Fregni. Filologia românica: a trajetória da herança cultural e lingüís-
tica latina no tempo e no espaço. 1996. Tese (Livre-Docência) – Universidade de São
Paulo, 1996.

CARVALHO, Dolores Garcia e NASCIMENTO, Manoel. Grmática Histórica. São Paulo. Editora
Ática, 1972.

COUTINHO, Ismael. Pontos da Gramática Histórica. 7ed. Rio de Janeiro. Ao Livro Técnico. 1976.

GOULART, Audemaro Taranto e SILVA, Oscar Vieira. Estudo Dirigido de Gramática Histórica e
Teoria da Literatura. São Paulo. Editora do Brasil. 1976.

ILARI, Rodolfo. Lingüística românica. 3.ª ed., São Paulo: Ática, 2000 (Fundamentos, 83)

SILVA NETO, Serafim da. História do latim vulgar. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1957.

TEYSSIER, Paul, História da Língua Portuguesa, Trad. Celso Cunha, 2ª ed. São Paulo,
Martins Fontes, 2004.

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