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PONTA GROSSA
2018
ANA MARIA FURQUIM DE CAMARGO
DANIELE B. RODRIGUES
EDILSON ROSSA
SIMONE MOREIRA FERRAZ
PONTA GROSSA
2018
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 04
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................................... 07
2.1 O Câncer ........................................................................................................................... 07
2.2 Formação de grupos ........................................................................................................ 07
2.3 Construção dos Vínculos ................................................................................................. 09
2.4 Sobre o processo de adoecimento .................................................................................... 10
3 DESENVOLVIMENTO ..................................................................................................... 11
4 CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 15
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 18
RESUMO
Este trabalho tem por finalidade apresentar dados referentes ao projeto realizado com
pacientes com câncer submetidos a tratamento quimioterápico em um hospital numa cidade
do estado do Paraná, no ano de 2017, sob a condução e acompanhamento do setor de
Psicologia Hospitalar da instituição. Foi desenvolvido oito encontros grupais presenciais
mensais com temas diferenciados definidos a partir das demandas, levantadas antes do início
dos encontros em grupo, por meio de entrevistas individuais semi dirigidas, aplicação
individual de teste de depressão (Escala de Beck) e com análise individual sob a abordagem
clínica. Os encontros tiveram o embasamento da Psicologia Positiva, que segundo os relatos
apresentados pelos pacientes facilitou a adesão nesse projeto e as mudanças de atitudes
apresentadas. A partir das relações afetivas observadas entre os participantes durante os
encontros em grupo, surgiu o interesse em analisar esses vínculos e a influência no tratamento
de câncer dos pacientes para tanto foi utilizada a técnica de Grupo Focal para levantar mais
informações sobre esse tema, utilizando como referencial teórico a Teoria dos Vínculos de
Pichon-Rivière e, também, a contribuição dos autores David Bohm sobre diálogos e de
Kübler-Ross com seu olhar clínico sobre a vida, adoecimento e morte.
INTRODUÇÃO
Esse trabalho tem como objetivo analisar a influência do vínculo estabelecido entre
visão do paciente de forma ampla e sistêmica, onde cada profissional atua além da sua
responsabilidade técnica. Isso faz com que aumente a percepção de sinais e sintomas
apresentados pelo paciente, familiar e/ou cuidador e seja sinalizado na equipe, para ocorrer
são aqueles que a doença não permite mais cura. Essa interação proporciona atendimento
facilita a percepção de aspectos afetivos e emocionais que precisam ser trabalhados, tais como
dentre outros.
Ross. Tal fato era observado diariamente e constatado durante o tratamento quimioterápico e
geralmente a equipe solicita o suporte do profissional Psicólogo, para auxiliar na relação com
1
Voluntárias foram pessoas que não tinham vínculo profissional e afetivo com os participantes do grupo,
necessitando da assinatura do Termo de Voluntariado previamente estabelecido.
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E por tais sentimentos serem tão semelhantes entre todos os pacientes e seus
forma mais ampla, podendo abordar as temáticas apresentadas nas entrevistas semidirigidas e
grupal, para acolher a dor referente à perda da identidade do corpo sadio. Esse foi o ponto
Para obter a adesão e participação dos pacientes e familiares nesse projeto foi
estabelecer o Contrato Psicológico 2. A partir desse contrato que foi construído em conjunto,
participantes.
ocorrência dos encontros, mesmo aqueles que nunca havia se encontrado durante o
tratamento. E o que mais chamava a atenção dos pesquisadores nessa interação era a busca
isolar ou manter-se em silêncio. Dessa forma, nas tarefas propostas pelo Coordenador foi
observado que o grupo sinalizava a necessidade da participação ativa dos membros, inclusive
2
Contrato Psicológico implica em explicar a filosofia e metodologia do trabalho, podendo ser escrito ou verbal,
e quanto mais explícito for mais se cria um grau de compromisso e responsabilidade com o Coordenador e com o
Grupo (CASTILHO, 2007)
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requerendo o posicionamento sobre o motivo das ausências nos encontros, o que evidenciava
no decorrer desse projeto. Foi desenvolvido no período de um ano, com oito encontros
entrevistas individuais semi dirigidas, aplicação de teste de depressão (Escala de Beck), com
sexualidade, perdas e lutos, ressignificado /fechamento), com duração de três horas mensais.
realização desta pesquisa com base na percepção dos pesquisadores referente à diferença de
projeto. Para tanto, foi utilizado a metodologia de coleta de dados do Grupo Focal4, no último
encontro presencial do grupo, para levantar mais informações sobre esse tema com os
participantes. As análises dos dados coletados foram realizadas tendo como embasamento o
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Psicologia Positiva é Campo da teoria e pesquisa psicológica que focaliza nos estados psicológicos positivos e
satisfatórios, em traços individuais ou força de caráter e em instituições sociais que tornam a vida mais válida de
ser vivida (VANDERBOS, 2010, p. 762).
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Pequeno grupo de pessoas que possuem características comuns e são selecionados para discutir um assunto
com o qual têm experiência pessoal. Um líder conduz a discussão e a mantém em foco (VANDERBOS, 2010, p.
457).
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teóricas sobre diálogo explicado por David Bohm, com olhar clínico sobre a vida,
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 O Câncer
de células malignas, podendo espalhar-se para outras regiões do corpo (metástase). As causas
são variadas, podendo ser externas ou internas ao organismo, estando ambas inter-
relacionadas.
um ambiente social e cultural. As causas internas são, na maioria das vezes, geneticamente
externas. Entretanto, estudos mostram que questões de ordem afetiva e emocional também
responsável por mais de cento e noventa mil mortes no Brasil por ano e requer uma
cada caso.
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INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2017.
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de dados de forma que represente um acréscimo ao conhecimento da pessoa que a recebe. Por
isso o ato de comunicar importa uma determinada carga de informação e pressupõe troca de
ideias.
Quando alguém diz alguma coisa geralmente o interlocutor não responde com o
mesmo significado que o emissor deu às suas palavras. Os significados são
similares, mas não idênticos ao que denota a diferença entre a mensagem e a
interpretação. E ao considerar essa diferença e perceber algo novo, incluem-se novas
reflexões e pontos de vista (BOHM, 2005, p. 29).
conteúdos, que são comuns a todos os envolvidos, que se dá quando as pessoas fazem uma
tornando-se abertos para algo novo e diferente. Mesmo estando apenas entre duas pessoas há
Bohm (2005) explica que o poder de um grupo cresce mais rápido que o número de
integrantes. Quando um grupo mantém diálogo até os seus membros se conhecerem inicia um
movimento coerente de pensamento e comunicação, pois envolve também o que não é dito. É
algo subjetivo, complexo, porém que possibilita a mudança de pensamento. Passa a exigir
mais flexibilidade de pontos de vista para reconhecer a verdade. Quando isso acontece, é
frustrações, sensações de caos, sensação de que não vale a pena persistir. Surge carga
emocional e dúvidas quanto à permanência no grupo. Se persistir, daí sim inicia o processo de
transformação.
determinadas situações, com um objetivo em comum. Uma das suas tarefas é a socialização,
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um. Na convivência com os demais se constitui uma nova história, que se desenvolve nesse
quiserem cooperar e trabalhar juntas, precisam ser capazes de criar algo em comum, a partir
das discussões e ações mútuas, ao invés de algo que seja transmitido por uma autoridade,
sobre vínculo, possibilitando que novas emoções e sentimentos possam ser manifestados, bem
vinculação e interação com o meio inserido. A partir daí pode haver a identificação com o
Pichon-Rivière (1988, p. 26) “enfatiza que nenhum paciente apresenta um tipo único
de vínculo, sendo todas as relações mistas”. Paralelamente, Bohm (2005) reforça em sua
teoria que no diálogo ninguém tenta vencer, “Se um ganha, todos ganham. Não se tenta
prevalecer visões de mundo individuais, pois diante de erros, todos ganham”. É um processo
participativo, onde não se joga um contra o outro, mas sim um com o outro. E essa relação é
Adoecer faz parte do ser humano, vários já passaram por esse processo. Pode ser
entendido como uma manifestação biológica da pessoa pode ser considerada como um
Cada ser humano é formado por influências genéticas que distinguem suas
características, mas com o passar do tempo é muito influenciado pelo meio em que vive
único e cada necessidade precisa ser entendida a partir do problema da pessoa analisada.
Nessa conjuntura, a psicologia atua como uma ciência que procura respostas para
que se sentem fragilizados principalmente quando descobrem que estão com alguma doença
grave.
Kübler-Ross (1988, p. 43) cita em seu livro que o sujeito ao tomar conhecimento da
sua doença sente e/ou repete a frase: “Não, eu não, não pode ser verdade”. Esta negação é
visível, tanto em pacientes como familiares, quando recebem a notícia da patologia e seu
Quando não é mais possível manter firme o primeiro estágio de negação, esse
pergunta: “Por que eu?” (Kübler-Ross, 1988, p. 55). Tal etapa geralmente requer a
paciente, embora por um tempo mais curto. Se, no primeiro estágio, não consegue enfrentar
tentativa de ser bem-sucedida a segunda fase, o qual busca entrar com algum acordo que adie
o desfecho inevitável: “Se Deus decidiu levar-me deste mundo e não atendeu a meus apelos
cheios de ira, talvez seja mais condescendente se eu apelar com calma.” (KÜBLER-ROSS;
1988 p. 87).
mais diretivas ao corpo clínico e instituição de saúde. É muito comum, nessa etapa, ver as
pessoas buscarem segunda opinião, realizar novamente os exames para confirmar se não
houve alguma falha no resultado, buscar outras instituições de saúde. Algumas vezes isso
Quando o paciente não pode mais negar sua doença, evidenciando-se pela
necessidade de cirurgia, hospitalização, novos sintomas e debilidade física, surge a
alternância de fase. A revolta e raiva cederão lugar a um sentimento de grande
perda, que pode apresentar muitas facetas diferenciadas na sua autoimagem e
autoestima, porém sem perder a esperança (KÜBLER-ROSS, 1988, p. 91).
3 DESENVOLVIMENTO
Grupo Focal para levantar informações sobre vínculo, no último encontro do grupo
presencial, a partir da percepção dos próprios pacientes e familiares que estavam submetidos
realizado. Com isso, através da forma de comunicação e da interação entre os envolvidos foi
técnicas da Psicologia Positiva, que foram utilizadas em todos os encontros presenciais desse
grupo durante o projeto, as quais geravam reflexões dos sentimentos que beneficiariam o
com os participantes, sendo realizado o Grupo Focal para investigar a opinião sobre o vínculo
2. Você acha que a sua participação no grupo impactou no seu tratamento? Justifique.
As minhas dificuldades em
lidar com o diagnóstico, Muito bom esse vínculo,
Ajudou-me muito, me gerou
tratamento e querer ter mesmo estando em outra
1 uma descoberta interior e me
contato com pessoas que cidade. Foi um lindo presente
fortaleceu.
estivessem passando pelas para a minha vida.
mesmas dificuldades que eu.
Na maneira de eu pensar e
Gerou mais amor ao próximo,
superar. Também na
3 A proposta apresentada. solidariedade, gratidão e
proximidade de pessoas com
amizades.
o mesmo problema.
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Muito respeito e
Saber que o trabalho em Troca de experiências, dividir
21 solidariedade. É um grupo
equipe ajuda. angústias e aprender a ouvir.
super divertido.
4 CONCLUSÃO
foi identificado pela redução de ansiedade na relação com a equipe multidisciplinar; diante
dos procedimentos, muitas vezes invasivos, mas necessários para o processo terapêutico
medicamentos que causam reações adversas, internações, etc.); redução de sintomas físicos
sentimentos, através do diálogo aberto e franco, com a garantia de haver o acolhimento. E isso
de encarar os problemas. Houve muitas reflexões sobre os aspectos que geraram no passado
sentimentos semelhantes e vieram à tona nesse momento da doença, o que tornou crucial para
que fortaleceu as relações e o empoderamento para novas ações. Esse processo foi
verbalizado inúmeras vezes nos encontros, o que facilitava o estabelecimento do vínculo, que
E com esse novo olhar, que deu início a novos projetos de vida, incluindo ações
pessoais e sociais, mas principalmente sem perder a identidade criada nesse grupo.
dando abertura para ações em conjunto. Hipóteses levantadas referentes a lacunas emocionais
outros. Aquilo que incomodava antes deixa de ser um fardo e se torna um objeto de
tratamento e cura para as emoções e possíveis enfermidades. E isso foi manifestado no grupo
por várias vezes, inclusive com relatos de redução de sintomas da quimioterapia e resultados
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no tratamento acima do esperado. Com isso, tal processo gerou amadurecimento, sendo
encorajamento para mudar tudo que pode ser mudado e serenidade para aceitar em paz o que
não pode mais ser alterado. E nesse sentido, a força do grupo foi essencial. Nos momentos de
familiares. Essa troca de experiência gerou calma e serenidade para a tomada de decisões,
vitimismo para o protagonista da sua própria história, o que tornou muito forte e evidente
nesse grupo.
também, através das suas verbalizações de não aceitação do término do projeto, mesmo
todos os encontros.
esse aprendizado no dia a dia é o que tornou esse projeto especial para todos envolvidos.
6
Software para smartphones utilizado para troca de mensagens de texto instantaneamente, vídeos, fotos e áudios
através de uma conexão à internet.
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REFERÊNCIAS
BOHM, D. Diálogo: Comunicação e Rede de Convivência. São Paulo: Palas Athenas, 2005.
KÜBLER-ROSS, E. 8. ed. Sobre a morte e o morrer: o que os doentes terminais têm para
ensinar para médicos, enfermeiros, religiosos e aos seus próprios parentes. São Paulo: Martins
Fontes, 1988.