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SUMÁRIO

FRACASSO ESCOLAR AULA 07

7. FRACASSO ESCOLAR 4

7.1 Introdução 4

7.2 Breve histórico das explicações do fracasso escolar 4

7.3 Teorias e perspectivas 6

7.3.1 Concepção médica (organicista) 6

7.3.2 Concepção psicométrica 6

7.3.3 Concepção sociopolítica 6

7.3.4 Teoria da carência cultural 7

7.3.5 Teorias Crítico-Reprodutivistas 7

7.4 Contribuição de Pierre Bourdieu 9

7.5 Fracasso escolar: outras considerações 9

QUESTÕES 13

BIBLIOGRAFIA 17

GABARITO 18
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FRACASSO ESCOLAR
AULA 07

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7. FRACASSO ESCOLAR

7.1 INTRODUÇÃO

O fracasso escolar é um fenômeno recente, pois surgiu com a escolaridade obrigatória a partir do
século XIX, em função das mudanças econômicas e estruturais da sociedade. Ao tratar de fracasso
escolar, é importante observar quando as dificuldades de aprendizagem mascaram as dificuldades
de ensino, ou seja, quando a responsabilidade da escola é encoberta, centrando no aluno o insucesso
de sua não aprendizagem.

As principais causas do fracasso escolar têm sua origem, na maioria das vezes, nos sistemas de
ensino que não conseguem atender às diversidades de necessidades presentes nas escolas, pois
não identifica as inadaptações à aprendizagem, e não leva o aluno a descobrir sua própria modalidade
de aprendizagem. Contudo, outros fatores podem estar relacionados ao fracasso escolar, tais como
o contexto familiar, cultural, social e político.

Apesar dos diversos debates sobre a educação brasileira, o fracasso escolar ainda se impõe de
forma alarmante e persistente. O sistema escolar ampliou o número de vagas, mas não desenvolveu
uma ação que tornasse eficiente e garantisse o cumprimento daquilo que se propõe, ou seja, que
desse acesso à cidadania. (BOSSA, 2008).

7.2 Breve histórico das explicações do fracasso escolar

As ideias atualmente em vigor no Brasil a respeito das dificuldades de aprendizagem


escolar (dificuldades que se manifestam predominantemente em crianças de
famílias pobres) têm uma história. (PATTO, 1999).

Inicialmente, as explicações para as dificuldades de aprendizagem eram dadas pelas diferenças


de classes sociais existentes na sociedade capitalista. Assim, a MANUTENÇÃO DA BURGUESIA
NO PODER se explicava pelas diferenças que foram estendidas para justificar as dificuldades de
aprendizagem dos seguimentos sociais explorados.

Com a disseminação dos conhecimentos de psicologia e o advento do escolanovismo, a partir da


década de 1930, a ênfase volta-se para a atribuição do fracasso às DIFERENÇAS INDIVIDUAIS, baseada
na concepção da hereditariedade apoiada nos estudos de Darwin e o princípio da evolução das
espécies, influenciando o movimento dos testes mentais. Os casos de dificuldade de aprendizagem
começam a ser diagnosticados e tratados por psiquiatras, dando origem a medicalização do
fracasso. Porém, essa explicação é fortemente marcada pela teoria racista em que se considerava
a superioridade da raça branca em relação aos índios, negros e mestiços.

Na década de 1940, observa-se a forte tendência à psicologização das dificuldades da aprendizagem.

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Segundo Patto (1999), as crianças provenientes dos segmentos das classes trabalhadoras dos
grandes centros urbanos integraram em maior número o contingente de fracassados na escola.
O movimento de higiene mental também colaborou para justificar o acesso desigual das classes
sociais aos bens culturais, ao restringir a explicação de suas dificuldades de escolarização ao âmbito
das DISFUNÇÕES PSICOLÓGICAS, apesar do pensamento da escola nova de que a ESTRUTURA E
FUNCIONAMENTO DA ESCOLA e a QUALIDADE DO ENSINO seriam os principais responsáveis pelas
dificuldades de aprendizagem.

Nesse período, a explicação da superioridade deixa de ser racial e passa a ser cultural. A razão não
é mais pela existência de raças inferiores, mas de culturas inferiores, disseminando, assim, a ideia
de que o meio cultural do qual as crianças pobres fazem parte é deficitário de estímulos, valores,
hábitos, habilidades e normas, o que dificultaria a aprendizagem.

A “deficiência” da população “inferior culturalmente” é, mais tarde, “contemplada” com a promessa


de igualdade de oportunidades através de programas de educação compensatória que já nascem
condenados ao fracasso, quando partem do pressuposto de que seus destinatários são menos
aptos à aprendizagem escolar. A escola compensatória supostamente reverteria às diferenças ou
deficiências culturais e psicológicas das classes “menos favorecidas”. O resultado, portanto, é a
reafirmação das deficiências da clientela como a principal causa do fracasso escolar.

Até a década de 1980, as tentativas de explicação do fracasso escolar estavam voltadas para
culpabilizar principalmente o sujeito que sofria o fracasso e a sua família. O livro “A Produção do
Fracasso Escolar: histórias de submissão e rebeldia” escrito por Maria Helena Patto (além outras
obras da autora), rompe com os estereótipos do racismo, da medicalização e da carência cultural,
chamando a atenção para a necessidade de análise do contexto sócio-político que apresenta
muitas contradições, uma vez que está fundada nos ideais liberais em que foi estruturada a
sociedade capitalista.

Um dos princípios dos ideais liberais se caracteriza pela atribuição do sucesso do indivíduo ao mérito
próprio, esforço de cada um e quem não consegue o sucesso é porque não se esforçou o bastante,
pois as oportunidades são iguais para todos.

Forgiarini e Silva (2007) apresentam os resultados do estudo de Angelucci et al, de 2004, sobre
produções escritas, no período de 1991 a 2002, em mestrados e doutorados, na cidade de São
Paulo, tanto nos cursos de Pedagogia e Psicologia das universidades, quanto nos da Fundação
Carlos Chagas, e foi observado que nas 71 obras selecionadas para análise, o fracasso escolar é
compreendido como:

   problema psíquico: a culpabilização das crianças e de seus pais (foco no aluno)

   problema técnico: culpabilização do professor (foco no professor)

   questão institucional: a lógica excludente da educação escolar (foco na política pública como
determinante do fracasso escolar)

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   questão política: cultura escolar, cultura popular e relações de poder (foco nas relações de
poder estabelecidas no interior da instituição escolar, mais especificamente na violência praticada
pela escola ao estruturar-se com base na cultura dominante e não reconhecer – e, portanto,
desvalorizar – a cultura popular).

7.3 Teorias e perspectivas

São encontradas nas literaturas da área, pelo menos cinco perspectivas ou concepções do fracasso
escolar: concepção médica, psicométrica, sócio política, teoria da carência cultural e a visão crítico-
reprodutivista.

7.3.1 Concepção médica (organicista)

As primeiras explicações ao fracasso escolar resultaram da medicina, o que implicava em atribuir


determinantes biológicos às causas da problemática. Assim, as dificuldades de aprendizagem
estariam relacionadas a noções “de congenitabilidade e de hereditariedade, atribuindo todas as
perturbações que não fossem causadas por lesão cerebral a disfunções neurológicas ou a retardos
de maturação imputados a um equipamento genético defeituoso.” (Bossa, 2008, p. 23). A concepção
organicista perdurou por muito tempo e ainda é observada atualmente.

7.3.2 Concepção psicométrica

Em decorrência dos testes de inteligência, o fracasso escolar foi associado ao déficit intelectual (o
baixo QI). Assim, a boa aprendizagem era associada à inteligência e o fracasso a debilidade mental.
A capacidade que uma criança apresenta num teste pode ser apenas uma parte do seu potencial; é
possível que conflitos bloqueiem as possibilidades de usá-lo.

Bossa (2008), em concordância com outros autores, afirma:

No campo das dificuldades de aprendizagem o que importa não é considerar


apenas o potencial intelectual demonstrado pelo sujeito no momento do exame, mas
também o potencial que possui e não pode usar. Nesse sentido, somente estudando
a singularidade do sujeito podemos compreender o sentido do sintoma escolar (p.
23).

7.3.3 Concepção sociopolítica

Segundo Patto (1999) o processo social de produção do fracasso escolar se realiza no cotidiano
da escola e é o resultado de um sistema educacional congenitamente gerador de obstáculos à
realização de seus objetivos. Diversos autores da área entendem que o fracasso escolar é um

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problema social e politicamente produzido. Seus trabalhos representam denúncias e protestos ao


descaso do Estado com a educação.

7.3.4 Teoria da carência cultural

A teoria da carência cultural surgiu e desenvolveu-se nos Estados Unidos, durante a década de
1960. No que diz respeito ao fracasso escolar, a teoria da carência cultural defendeu que o fracasso
estaria diretamente ligado a privação cultural do educando, entendendo a cultura popular como
pobre em estímulos necessários ao desenvolvimento psíquico da criança.

Patto (1997) traça um período da trajetória das explicações do fracasso escolar centradas no aluno
e sua família:

A história das explicações do chamado “fracasso escolar” das crianças das classes
populares é feita de uma sequência de ideias que, em linhas gerais, pode ser assim
resumida: na virada do século, explicações de cunho racista e médico; a partir dos
anos trinta, até meados dos anos setenta, as explicações de natureza biopsicológica:
problemas físicos e sensoriais, intelectuais e neurológicos, emocionais e de
ajustamento; dos primeiros anos da década de setenta, até recentemente (mas
ainda predominante nos meios escolares), a chamada teoria da carência cultural,
nos termos em que foi gerada nos E.U.A., nos anos sessenta, no calor dos movimentos
reivindicatórios de negros e latino-americanos e como resposta oficial à questão:
por que essas pessoas não alcançam os melhores lugares na sociedade norte-
americana? Centenas de pesquisas que absorveram o maior investimento de verbas
públicas para fins não bélicos naquele país responderam: porque não alcançam o
mesmo nível de escolaridade dos brancos. E por que isso acontece? Porque negros
e minorias latinas são portadores de deficiências físicas e psíquicas contraídas cm
seus ambientes de origem, principalmente em suas famílias, tidas como insuficientes
nas práticas de criação dos filhos. Pouco depois, a teoria da carência tornou-se, pela
influência de antropólogos funcionalistas, teoria da diferença cultural, segundo a
qual essas pessoas fariam parte de uma subcultura muito diferente da cultura de
“classe média”(sic), na qual estariam baseados os programas escolares. Em outras
palavras, as crianças das chamadas minorias raciais não se sairiam bem na escola
porque seu ambiente familiar e vicinal impediria ou dificultaria o desenvolvimento
de habilidades e capacidades necessárias a um bom desempenho escolar. (p. 282).

7.3.5 Teorias Crítico-Reprodutivistas

Saviani (2008) apresentas uma síntese das teorias da educação abrangendo as teorias não-críticas
(pedagogia tradicional, pedagogia nova e pedagogia tecnicista) e as teorias crítico-reprodutivistas
(teoria da escola enquanto violência simbólica, teoria da escola enquanto aparelho ideológico do
estado).

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A visão crítico-reprodutivista desempenhou um papel importante no Brasil, pois de alguma forma


contribuiu para as críticas à pedagogia autoritária do regime autoritário e a pedagogia tecnicista.
Assim, essas teorias alimentaram reflexões e análises dos movimentos de oposição à pedagogia
oficial e à política educacional dominante.

Scalcon (2002) cita Saviani (1985) a fim de expor o que este observa nas teorias crítico-reprodutivistas:

Chamo de concepção crítico-reprodutivista a tendência que, a partir das análises dos


determinantes sociais da educação, considera que a função primordial da educação
é dupla: reprodução das relações sociais de produção e inculcação da ideologia
dominante. É, pois, crítica já que postula que a educação só pode ser compreendida
a partir dos seus condicionantes; e reprodutivista, uma vez que o papel da educação
se reduz à reprodução das relações sociais, escapando-lhe qualquer possibilidade
de receber um influxo transformador. (SAVIANI, 1985 apud SCALCON, 2002, p. 97).

As ideias da perspectiva crítica-reprodutivista possuem uma preocupação com a problemática das


escolas serem o meio onde se reproduzem as relações de poder vigentes na sociedade. Assim, a
escola apresenta-se comum reflexo da sociedade capitalista. Um espaço cultural, onde os alunos
são selecionados e treinados para um desempenho adequado no trabalho. Desta forma, as causas
do fracasso escolar, que antes eram procuradas fora do sistema escolar, agora se voltam para um
enfoque onde os fatores intraescolares prevalecem como causadores desse insucesso.

Resumo da Ópera
De acordo com Patto (1999), até os anos de 1970 houve um
predomínio das explicações das causas do fracasso escolar
em função das características biológicas, psicológicas e sociais
dos alunos, em detrimento à explicação que considerava os
aspectos estruturais e funcionais do sistema de ensino como
determinante desse fracasso.

Durante os anos de 1970 tentou-se superar o discurso fraturado sobre as causas do fracasso escolar
que passou a ser explicado pela teoria da Carência Cultural, que defendia que as deficiências
do ambiente cultural das chamadas classes baixas produziam a deficiência no desenvolvimento
psicológico infantil, ocasionando as dificuldades de aprendizagem e de adaptação escolar.

Também na década de 1970, conviveu-se com a teoria crítico-reprodutivista, a qual introduziu a


possibilidade de se pensar o papel da escola no âmbito de uma concepção crítica de sociedade.
Forneceu, ainda, as ferramentas conceituais para o exame das instituições sociais enquanto lugares
nos quais se exercem a dominação cultural e a ideologização a serviço da reprodução das relações
de produção.

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7.4 Contribuição de Pierre Bourdieu

Bourdieu Pierre, sociólogo francês, formulou, a partir dos anos de 1960, uma resposta para o
problema das desigualdades escolares, que até então, entendia a escola pública e gratuita como
a garantida de igualdade de oportunidades entre todos os cidadãos. Os indivíduos competiriam
dentro do sistema de ensino, em condições iguais, e aqueles que se destacassem por méritos ou
dons individuais seriam levados, por uma questão de justiça, a avançar em suas carreiras escolares
e, posteriormente, a ocupar as posições superiores na hierarquia social. A escola seria, nessa
perspectiva, uma instituição neutra, que difundiria um conhecimento racional e objetivo e que
selecionaria seus alunos com base em critérios racionais (NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2002).

No entanto, pesquisas na área revelaram que o desempenho escolar não dependia, tão simplesmente,
dos dons individuais, mas da origem social dos alunos (classe, etnia, sexo, local de moradia, entre
outros). Assim, muitas expectativas de mobilidade social através da escola foram frustradas, e a
decepção dessa “geração enganada”, alimentou críticas que contribuíram para o movimento de
contestação social de 1968.

Onde se “via” igualdade de oportunidades, meritocracia, justiça social, Bourdieu passa a ver
reprodução e legitimação das desigualdades sociais por meio do fracasso dos alunos. A educação,
na teoria de Bourdieu, perde o papel que de instância transformadora e democratizadora para ser
vista como uma das principais instituições por meio da qual se mantêm e se legitimam os privilégios
sociais. Tratando, dessa forma, de uma inversão total de perspectiva. Nogueira e Nogueira (2002)
apontam o posicionamento de Bourdieu frente a essa escola reprodutora de desigualdades sociais:

Bourdieu questiona frontalmente a neutralidade da escola e do conhecimento


escolar, argumentando que o que essa instituição representa e cobra dos alunos são,
basicamente, os gostos, as crenças, as posturas e os valores dos grupos dominantes,
dissimuladamente apresentados como cultura universal. A escola teria, assim, um
papel ativo – ao definir seu currículo, seus métodos de ensino e suas formas de
avaliação – no processo social de reprodução das desigualdades sociais (pp. 18-19).

7.5 Fracasso escolar: outras considerações

Para Weiss (1997) o não-aprender na escola é uma das causas do fracasso escolar, mas a questão
é, em si, mais ampla. A autora considera como fracasso escolar uma resposta insuficiente do aluno
a uma exigência ou demanda da escola, e ela estuda a questão por diferentes perspectivas: a da
sociedade, a da escola e a do aluno.

A sociedade (perspectiva mais ampla e de certo modo permeia as demais). Neste âmbito estaria o
tipo de cultura, as condições e relações político-sociais e econômicas vigentes, o tipo de estrutura
social, as ideologias dominantes e as relações desses aspectos com a educação escolar. Ao estudar
o fracasso escolar de um aluno, não se pode desconsiderar as relações existentes entre a produção

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escolar e as oportunidades reais que determinada sociedade possibilita aos indivíduos. As condições
socioeconômicas e culturais terão influências nos aspectos intrapessoais.

Na perspectiva da escola, em seus diferentes níveis, a autora aponta a escola como o maior
contribuinte do fracasso escolar de seus alunos. E esta perspectiva não pode ser analisada isolada
da anterior, pois os sistemas de ensino (público ou particular), refletem a sociedade em que está
inserido. Weiss (1997) aponta como causas as escolas desestruturadas, a falta de profissionais
qualificados, professores sem apoio material e pedagógico, desqualificados pela sociedade, pelas
famílias etc. “É preciso que o professor competente e valorizado encontre o prazer de ensinar para que
possibilite o nascimento do prazer de aprender” (WEISS, 1997, p. 18).

A terceira perspectiva diz respeito ao aluno, ou seja, o fracasso escolar e as condições internas de
aprendizagem do aluno, focando, assim, a questão da intrasubjetividade.

Cabe, então, a atenção para os aspectos orgânicos, cognitivos, emocionais, sociais e pedagógicos
que levam o aluno a não aprender. Os três enfoques do fracasso escolar, expostos por Weiss
(1997) não são excludentes entre si. O fracasso escolar é causado por uma conjugação de fatores
interligados que impedem o bom desempenho do aluno.

Weiss (1997) destaca que na prática diagnóstica, é necessário levar em consideração alguns
aspectos ligados às três perspectivas de abordagem do fracasso escolar, “A interligação desses
aspectos ajudará a construir uma visão gestáltica da pluricausalidade desse fenômeno, possibilitando
uma abordagem global do sujeito em suas múltiplas facetas” (WEISS, 1997, p. 22).

ASPECTOS CARACTERÍSTICAS

Relacionados à construção biofisiológica do indivíduo que aprende. Estão


Orgânicos relacionados a alterações nos órgãos sensoriais, diferentes problemas do sistema
nervoso central e demais alterações orgânicas.

Estão relacionados basicamente ao desenvolvimento e funcionamento das


Cognitivos estruturas cognoscitivas em seus diferentes domínios. Inclui aqui também aspectos
ligados à memória, atenção, antecipação etc.
Estão relacionados ao desenvolvimento afetivo e sua relação com a construção
Emocionais do conhecimento e a expressão deste através da produção escolar. Remete aos
aspectos inconscientes envolvidos no ato de aprender.
Estão relacionados à perspectiva da sociedade em que estão inseridas as famílias e
Sociais a escola. Incluem, além da questão das oportunidades, o da formação da ideologia
em diferentes classes sociais.

Contribuem muitas vezes para o aparecimento de uma “formação reativa”


aos objetos da aprendizagem escolar. Estão incluídas as questões ligadas à
Pedagógicos metodologia do ensino, à avaliação, à dosagem de informações, à estruturação das
turmas, à organização geral etc. que influindo na qualidade do ensino, interferem
no processo ensino-aprendizagem.

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Collares e Moysés (1993) chamam a atenção para a “biologização” dos conflitos vividos na sociedade.
O reducionismo biológico faz das situações da vida e o destino dos indivíduos e grupos explicados
ou, reduzidos, a características individuais. Essa visão isenta de responsabilidades todo o sistema
social ao “culpabilizar a vítima”.

No ambiente escolar, o processo de biologização geralmente se manifesta através da “doença”


imputada ao aluno. Collares e Moysés (1993) expõe o processo de biologização como forma de tratar
o fracasso escolar na perspectiva da saúde do indivíduo.

Desloca-se o eixo de uma discussão político-pedagógica para causas e soluções


pretensamente médicas, portanto inacessíveis à Educação. A isto temos chamado
de medicalização do processo ensino-aprendizagem. Recentemente, por uma
ampliação da variedade de profissionais de saúde envolvidos com o processo (não
mais apenas médicos, mas também o enfermeiro, o psicólogo, o fonoaudiólogo,
o psicopedagogo), temos usado a expressão patologização do processo ensino-
aprendizagem (p. 14 – grifo meu).

O termo medicalização refere-se ao processo de transformar questões não-médicas, eminentemente


de origem social e política, em questões médicas, isto é, tentar encontrar no campo médico as causas e
soluções para problemas dessa natureza. A medicalização ocorre segundo uma concepção de ciência
médica que discute o processo saúde-doença como centrado no indivíduo, privilegiando a abordagem
biológica, organicista. Daí as questões medicalizadas serem apresentadas como problemas individuais,
perdendo sua determinação coletiva. Omite-se que o processo saúde-doença é determinado pela
inserção social do indivíduo, sendo, ao mesmo tempo, a expressão do individual e do coletivo. (Moysés;
Collares, sd).

As fazer uma análise crítica dos fundamentos da psicologia escolar, no que tange o fracasso escola,
Meira (2003) destaca algumas considerações:

“(...) as dificuldades escolares, sobretudo das crianças pobres que frequentam


as escolas públicas, são produzidas pelas condições e práticas escolares
ineficientes e preconceituosas” (p. 23).

“(...) a primeira condição para que possamos desenvolver práticas criticamente


comprometidas é a compreensão do fracasso escolar a partir de uma análise
aprofundada do fenômeno educacional como síntese de múltiplas determinações e
que se situa em um contexto histórico concreto” (p. 27).

“A compreensão do fracasso escolar não como um problema do aluno, mas


como um processo produzido nas condições sociais; nas histórias escolares;
nas práticas pedagógicas; nos mecanismos institucionais; nas relações que se
constroem cotidianamente nas escolas deve necessariamente se traduzir em
uma definição do objeto, do processo e das consequências da avaliação” (p. 30).

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“(...) o objeto de avaliação não é o aluno, mas sim as diferentes relações e práticas
que produzam a queixa em relação ao aluno (...) nesse sentido, em nenhum momento
os dados podem ser utilizados para justificar de forma naturalizante as dificuldades
escolares do aluno, mas para se entender melhor as múltiplas determinações
presentes neste processo de produção do fracasso” (pp. 30-31).

Bossa (2008), a partir da experiência clínica psicopedagógica, toma a perspectiva que considera o
fracasso escolar como um sintoma. O sintoma escolar, para a autora, refere-se a todo tipo de entrave
que leve ao fracasso escolar, seja decorrente de aspectos culturais, sociais, familiares, pedagógicos,
orgânicos, intrapsíquicos etc. e/ou na interação entre esses aspectos.

Numerosas pesquisas e trabalhos de intervenção têm-nos orientado para a produção


social do fracasso escolar, alertando-nos quanto à perigosa tendência de tornar
natural aquilo que é historicamente construído. Passa a ser natural esperar que o
psicólogo descubra uma categoria para a criança, reforçando a crença segundo a
qual ela seria culpada pelo seu fracasso, isto é, que o indivíduo malsucedido o é
devido a questão unicamente individuais. Esse pensamento pressupõe a igualdade
de oportunidades – um dos ideais presentes na Revolução Francesa e que se tornou
ideologia (MACHADO, 1997, pp. 73-74).

E assim, atribuindo ao aluno às causas do fracasso, a lógica de exclusão parece dominar as


instituições. A exclusão escolar pautada em expectativas quanto ao nível de desempenho do aluno.
Ao abordar a avaliação dos conteúdos, Manzano e Gordo (1997) sinalizam:

O que se evidencia por meio das práticas avaliativas é que a escola, em vez de
tornar os conteúdos de ensino mais significativos e, consequentemente, interessantes
para os alunos, se organiza a partir de expectativas que não levam em conta as
características dos alunos como grupo social, servindo à exclusão daqueles oriundos
da classe trabalhadora, pois são eles que mais se distanciam das normas e regras
estabelecidas. Sob uma aparente seleção técnica, realiza-se uma seleção social,
com consequências na autoimagem e autoestima dos alunos (p. 130, grifo meu).

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QUESTÕES

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QUESTÕES 01

(ESPECIALISTA EM PSICOLOGIA ESCOLAR E EDUCACIONAL/CFP/ QUADRIX/2013) “Muitas


crianças ainda fracassam no contexto escolar e não se sentem capazes de aprender”. Esse é um fato
que constitui a realidade escolar no Brasil. Com base na afirmação, assinale a alternativa correta.

a) Os alunos que não conseguem obter êxito escolar, em geral, fracassam por motivos
relacionados somente ao ambiente familiar desestrutuarado.

b) O fracasso escolar deve ser compreendido considerando aspectos sociais, familiares,
desenvolvimentais e do próprio meio escolar do aluno.

c) Uma solução definitiva para abordar o fracasso escolar seria medicalizar o aluno que
apresenta dificuldades escolares.

d) O fracasso escolar pode ser remediado quando se foca, especificamente, o atendimento no
contexto familiar do aluno.

e) As famílias dos alunos que fracassam, de um modo geral, são negligentes. Especialmente
quando se considera que as mesmas deveriam disciplinar melhor seus filhos.

QUESTÃO 02

(ATECEL/PREF. DE CABACEIRAS/2014) Sobre o fracasso escolar, analise as proposições abaixo e


marque a alternativa INCORRETA:

a) A análise do fracasso escolar deve considerar as questões relativas ao sistema educacional
e suas respectivas políticas públicas.

b) A principal causa do fracasso escolar é a dificuldade de aprendizagem do aluno, decorrente


de problemas de saúde física e emocional.

c) O fracasso escolar está diretamente relacionado à autoestima do aluno no processo de


aprendizagem.

d) A falta do conhecimento didático do docente pode estar relacionada ao fracasso escolar.

e) A teoria da carência cultural exerceu forte influência no Brasil, durante a década de setenta,
para explicação do fracasso escolar.

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QUESTÃO 03

(FUNTEF-PR/PREF. CAMBÉ/2014) O fracasso escolar, ao final dos anos 80, passa a centralizar
questões que envolvem os estudos sobre a escola, tanto no campo da Psicologia como da Educação.
Sobre esse tema, analise as proposições.

I. O fracasso escolar é causado por problemas de ordem emocional e intelectual gerado por privações
materiais, cognitivas e afetivas.

II. Em suas avaliações, o Psicólogo deve refletir sobre a produção social do fracasso escolar.

III. A avaliação psicológica, com aplicação dos testes de inteligência, deve nortear o Psicólogo no pla-
nejamento da sua intervenção.

IV. A análise do fracasso escolar deve considerar o conjunto das relações institucionais, históricas, psi-
cológicas, pedagógicas e sociais que constituem o dia a dia escolar.

Marque a alternativa correta.

a) Somente III está correta.

b) Somente II e IV estão corretas.

c) Somente IV está correta.

d) Somente I, II, III estão corretas.

e) Somente III e IV estão corretas.

QUESTÃO 04

(COMPASS/PREF. CARPINA/2016) A história das explicações não críticas do chamado “fracasso


escolar” das crianças de classes populares é feita de uma sequência de ideias que, em linhas gerais,
pode ser caracterizada nas assertivas seguintes, exceto:

a) As causas das dificuldades escolares eram frequentemente situadas no âmbito sociopolítico
que engendra tal circunstância.

b) Na virada do século XIX ao XX, abundavam as explicações de cunho racista e médico.

c) A partir dos anos 30 até meados dos anos 70, dominaram as explicações de natureza
biopsicológica.

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d) A partir da década de 70 ganhou força a Teoria da Carência Cultural, de origem americana.

e) Com insistência se recorria a causas biológicas e emocionais para justificar o não aprender
por parte dos alunos.

QUESTÃO 05

(COMPASS/PREF. CARPINA/2016) Analise as assertivas atribuindo verdadeiro (V) ou falso (F):

I. Para Bordieu, a cultura escolar se baseia na cultura da classe dominante, e aqueles alunos que já
chegam na escola familiarizados com essa cultura tendem ao sucesso escolar. ( )

II. Segundo Bordieu, a escola é um ambiente neutro de oferta de oportunidades. ( )

III. Bordieu critica a teoria da reprodução ao defender que o fracasso escolar não mantém relação com
a origem social. ( )

a) V, V, F

b) V, F, F

c) V, V, V

d) F, F, V

e) F, V, V

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BIBLIOGRAFIA

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PSICOLOGIA ESCOLAR E EDUCACIONAL

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