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HISTÓRIA: NOVOS PROBLEMAS +
aC 4d as:

pronunciamento espanhol, o tipo de “acontecimento” banal. Que faz ele?


Aprende espanhol, nas traduções de Chateaubriand e de' Bernardin de Saint- aU. VE.
dio
sala, 4
Perrc que paraem divertilo muito! Logo lê Lope e Calderón, para final-
As DAE ADO.
mente escrever à Enpels: “E agora, em cheio em Don Quixote”. O bom e Basso!
Qualis ..
prante mulitanto anarquista Anselmo Lorenzo, quando viu Marx em Londres,
em ESTE, ficou estupefato diante da cultura hispânica de seu interlocutor; admi- titia cs
pato
ativo, mas ultrapassado, a qualificará de “burguesa”; só que, na série de ar-
apos de 1450, Marx deu uma visão histórica da Espanha da qual o
culo NIX só mediu as lições: todos os prandes traços esboçados, nenhum
contra-senso cometido, e, em certos desenvolvimentos sobre a guerra de Inde-
pendência, uma análise que nunca foi ultrapassada.
Há, é verdade, o peénio. Há também o método, Perguntamo-nos se Marx
alguna vez deserou “escrever ema história”. A resposta encontra-se ai. Para
vm activo sobre uma quiliarada ele não escreveu uma “história da Espanha,
Mas deteditou ser necessário pensar a Espanha historicamente,
Tudo pensar historicamente, eis af o marxismo. Que seja ou não, após
so tudo, um “historicismo”, trata-se (como para o humanismo) de querela de O retorno do Jato * w».
palavras. Tenho desconfiança somente das nepgações apaixonadas, E importante
saber, parece, que O ubjeto de O capital não era a Inglaterra. Naturalmente,
pois era O capital, Mas a pré-história do capital denomina-se Portugal, Espa-
nha, Elotanala A história se pensa no espaço, como no tempo. “PIERRE NORA

o.
A himória universal, escreve Marx, não existiu sempre: em seu aspecto de a
“história universal, a história. é um resultado. Tuas “o de di
id is +

Amda uma tiase chave, Nascido da colonização e do “mercado mundial”, A CHAMADA história “contemporânea” tem "como baseid MMAgeENS CON
o capitalismo a história, Certamente não “unificou”: ISSO Será
traditórias; filha degenerada de uma história mais nobre —><a. da Antiguidade,
a tareta de um outro modo de produção, da Idade Média e dos Tempos Modernos — e condenada asie. vivendo à sua
Aqui a ultima ambição do historiador encontraria seu lugar, “A história sombra; soberana inspiradora de, qualquer interrogação sobre o. passado, digna
universal” é cu ontem. Sua hora não passou; Há algo de risível nesses propó- «do interesse geral, visto que é depositária dos segredos do presente. Nenhuma
tos fequentemente ouvidos: sabemos muita coisa, há muitos especialistas, O
mundo Cc muto grande para que um livro, um homem, uma pedagogia aborde dessas imagens é completamente falsa.
a “história universal”. Esse enciclopedismo implícito encontra-se nos . antípodas É verdade que a história contemporânea ainda não encontrou nem sua
ta noção de “história raciocinada”, de “história total”, “de conceito de histó- identidade nem sua autonomia. Fruto da história puramente francesa, nasceu
Gis simplesmente.
| das reformas que Victor Dummy introduziu no ensino, sepupdário, fazendo jus-
Podemos pensar em três tipos de empreendimentos: 1º “tratados de his- tiça À cesura imposta à história nacional pela Revolução. Esses três quartos de
ferido, O que não seria mais absurdo do que “tratados de psicologia” ou de século não, foram senão uma sequência, a duração da .vidas homem a
2º histórias nacionais claramente periodizadas a rtir da crono- partir da qual os métodos científicos em vias de elaboração tinham poucas
dos modos de produção, estes sistematicamente estudados a apreensões.
partir dasINo mesino sentido, novas circulares poderiam também legitima-
forças produtivas e das relações sociais, dos tempos diferenciais, das combina-
mente fazê-la partir do início da III República, da Primeira Guerra Mundial
ç0es de estruturas regionais; 3º histórias universais bastante informadas para
não esquecer nada de essencial nos traços que compõem o mundo maderno, ou da Segunda: em nenhum caso o princípio de continuidade .seria atingido,
ias bastante esquemáticas para tornar claros os mecanismos explicativos. Em
todos os níveis a história marxista encontra-se por fazer. E é história e nada
Nas. Nesse sentido, toda “história verdadeira” seria uma história “nova”.
º Versão remanejada de um artigo publicado em Communications,
tenta história “nova” privada de ambição totalizante é uma história de início
envelhecida. o titulo “L'événement monstre”.
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~© RETORNO DO FA oye “fF 5 $tvig
HISTORIA: NOVOS ‘PROBLEMAS Po

ume. tradicio que fazia: do ‘historlador o' grande ordenador. do scontecimento,


Contudo, nenhuma época se viu, Como a nossa, viver seu presente como o pigmaliio que lhe confere.on nio o dignus es intrare, no momehto em que...
ji possuida de um sentido “histérico”. E somente isso seria suficiente para EE * a>
Se ed ee ae

doti-la de uma identidade, para fibertar a histéria contempordnea de sua im- eg oy hoy
perfeicio. As guerras totais e as transformacdes revolucionarias, a ‘fapidez das 4. ub so. > em |
comunicacées € a penctragio das economias modernas nas sociedades tradicio- + A tog) "4
nais, ein resume, tudo G que se costuma entender por “mundializacéo” asse- Tk gaat ng : ’
gurou uma mobilizagio peral das massas que, por tras do front dos aconteci- lis wae bee oe Fr
mentos, outrora representavam os civilizados da histéria; ao passo que os movi- a = 1 so
mentos de colonizagio, lopo depois de descolunizagao, integravam a_ histori-
CG BeOS. =

cidade de tipo ocidental sociedades inteiras que, ainda ontem, dormiam o sono I, ‘A PRODUGAO DO, ACONTECIMENT Olea: 3. or
' et i: oo OM 4 4!
dus povos “sem histéria” ou o siléncio da opressio colonial. Essa vasta demo-
Mee ape | OP ts a
cratizacio da histéria, que fornece ao presente sua especificidade, possui sua CAMS
ldgica ‘e suas leis: uma delas --- a Gnica que aqui deseyamos tsolar -- € que a > won Ps i, Eee «
alualidade, essa cieculagdo generalizada da percepgio histésica, culmina num E a0s mass media que'se deve o reaparecimento do mohdpélio da’ histé-
fendmeno nove: o acontecimento. Seu aparecimento parece datar do ultimo ria. De agora em diante esse monopélio Ihes pertence. Nag ‘ddssas sociedades
teow do século XIX, ou seja, entre a puerra de 1870 e o incidente de contemporineas é por intermédio deles e somente por eles acontecimento
signa Fo PCG

na Franca, entre a Comuna e o Caso Dreyfus. marca a sua presenca ¢ nZo nog pode evitar. Py dr
Mas nio é suficiente dizer: que se colam ao real a ponto..de: se tornarem
f impossivel nio colocar em’ relagéo o acontecimento rapido desse pre- sua parte -integrante e que nos restituem sua presenca ‘imediata,, quando abra-
sente histdrico, feito do sentimento de das massas no destino ~na-
cional, com o esfurgo de uma peracio de historiadores posilivistas para criar, gam os’ contornos ¢ peripécias, quando fazem parte
is Q$
prensa, thdio, imagens no agem apenas como meios dos quai:
do cortejo Oa
aconteci-
nv Mesme momento, uma escola histérica propriamente cientifica, Ora, todo mentos seriam relativamente independentes, mas como a prdpria jcondicio de
o trabalho dos positivistas consistiu precisamente, por um lado, em fundamentar a sua existéncia, A publicidade dé forma a sua répria produt
histdria no estudo do passado, cuidadosamente separado do presente, ¢, por outro,
em movimentar esse passado por um encadeamento continuo de “acontecimen-
fos capitis podem ter lugar sem que se fale deles
retrospectivamente, como a perda 0 poder por Mao apds © grande
tus”. “A histéria sé nasce para uma época quando esta esta completamente passo adiante, que constitui o acontecimento., O fato He terem Acontecido nfo
morta; o campo da histéria é o passado'.” Animada pela ambigéo de trans- os torna histéricos. Para que haja acontecimento .é; necessirio’ que seja Co-
purtat para o campo das ciéncias suciais os métodos das ciéncias experimentals,
nhecido. Sf °

essa equipe de historiadurés ndo procurou sendo atestar um F porque as afinidades entre tal tipo de acontecimento’¢ tal meio de
fato, reconstruf-lo pacientemente para retomar todo o passado através de uma comunicacio . sio tio intensas que eles nos parecem = inseparaveis. Como nao
série de acontecimentos cunstituidos por uma reunido de fatos, e remeter a des: colocar, por exemplo, a difusio de uma imprensa de grande tiragem, a canstt-
continuidade de acontecimentos Gnicos & cadeia de uma causalidade continua. tuicio de uma classe média de Ileitores pela instrugZo primaria obrigatéria ¢ a
Tudo se passa, portinto, como se os positivistas tivessem emprestado ao pre- urbanizacio do fim do século XIX em relagio com os escindalos do inicio da
sente o principal elemento daqueles que deviam modelar sua visio, mas para IIl Republica, o caso do canal do Panam, a importancia dada:,A vida polltica
rejeitar sua validez exclusiva no passado; como se tivessem, eles para quem
¢ parlamentar, a querela sobre a a rivalidade das ages euro-
o historiador nao deveria ser ‘de tempo algum nem de pais algum, acusado o
péias, em resumo, com o prdprio sistema que. reveste a Dessa
forma, o caso Dreyfus talvez constitui, na Franca, a primeira irrupcio de um
acontecimenta inesperado do presente, mas para exercizar inconscientemente acontecimento moderno, 0 protétipo dessas imagens de Epinal, safdas armadas
seus perigos, nio permitindo ao acontecimento o direito de cidadania senao do ventre das. sociedades industriais ¢ cujos hist6ria. contempo-
num passado inofensivo. A pactic da condigao de que o presente, dominado rinea nio cessarh de reproduzir, a partic de uma matriz comparavel, Rumores
pela tirania do acontecimento, foi proibido de residir na histdéria, ficou enten- iniciais, exploragio do siléncio por uma imprensa de .de direita, para
dido que a histéria seria constrnida sobre o acantecimento. ‘ms

As modalidades dessa distribuicio, as conseyiiéncias desse choque de Civi- oa na adivinhados


‘mentos cfera do poder,
na esfera racismo.
do poder, popullt)
racismo populit, de dois de dois
grandes corpo’ dos mais considerados, o Exército e¢ a Justi¢é,- filth momento
lizagio, por mais importantes que sejam, nZo no» concernem aqui. O essencial,
critico para o regime republicano, grandes princ{pios abstratos: afrontados em
para definir esse estatuto do acontecimento, é essa transposi¢ao. Os post-
torno de uma sé cabeca, dicotomia do mundo em bons e maus, suspense all-
tivistas santificaram com o selo da ciéncia ao mesmo tempo que inauguraram
regen ane Pate I ARSED AES, te OR ee ee Ne Nee re + pore Sw rem eam eee PE ee ee
Agel a
IIISTORIA: NOVOS .PROBLEMAS “eS. ORETORNO DO FATO 8 SS 7B <r 4

mentado por falsos documentos e confidéncias em cadeia, apelo a por curso de 30 de maio do general De Gaulle, que nio apareceu;na televisho, zr

meio de catta aberta e manifestos, aparecimento significativo do neologismo mas cuja encerrou precisamente 0 acontecimento,
de “intelectual” que mostra. uma nova fungéo social mediadora da opiniao Se tipos de. acontecimentos, como a invasio de Praga, as conferéncias de
de massa’, 0 caso Dreyfus teve tudo da imprensa*e tudo lhe forneceu®. Seu imprensa politica ou o desembarque: na Lua, nos parecem ‘irredytivelmente
papel nio foi diminufdo pela concorréncia. A ela se deve a volta de um tipo ligadgs A imagem, ¢ nos parecem que deveriam sé-lo em maior &rau, no deve-
de acontecimentas: aquele onde os fatos se escondem e demandam a Critica da riamos concluir a partir dal que a televisio seja assimilavel & “parifactualidade”.
informacio, a confrontacio de testemunhos, a dissipagio do segredo mantido Mas ela fornece & democracia do acontecimento um passo decisivo. Inicial-
pelos desmentidos oficiais, o colocar em -questZo principios que apelam a inte- mente porque o pequeno nimero de canais e sua atual falta de diferenciacéo
ligéncia ¢ a reflexZo, o apelo obrigado a um saber: prévio que somente a im- assegura a menor dispersio possivel do relatério. H& varios meios de comen-
prensa escrita pode fornecer e recordar, Pois do jornal local ao didrio Nacio- tar os Jogos Olimpicos, existem muito poucos de mostré-los. E ,¢ada um sabe
nal, do drpao de grande tiragem ao semanario de somente a imprensa ‘que se trata de uma montagem, e, portanto, de uma escolha orientada dle ima-
dispoe de uma gama de virtualidades sem cival, um -leque excepctonalmente gens, prevalece a impressio do vivido mais perto, Cada um € apanhado, mat
rico de manipulagao da realidade. Dessa forma, a guerra da Argélia nao per- ou bem, sd ou em grupo, sempre desprovido, pela novidade-‘televisada que
tence inteiramente 2 imprensa, mas episddios particulares, como o problema marca o desconhecido, e com uma critica acerba. A teleyisio, éxpara a vida
das torturas ou a narrativa das negociacdes, continuam especialmente agrega- moderna o que.era o campanirio para a aldeia, (© angelys da, in-
dos a cla. Todo o Water ate na sua fase divulpadora deve-se 4 imprensa, dustrial, mas portadora de uma palavra imprevista; ¢, como disse Mac Luhan,
antes de passar, ma sua fase judiciaria, 4 televisao. um media frio, ‘aquele que, entre todos, favorece a domicllio a
. Outros fendmenos histéricos, ao contrério, dependem do radio. Uma boa mais intensa patticipacio; essa participacio, se ousamos dizkr, seh" pRhticipacio,
essa mistura exata de distancia ¢ intimidade que é para forma mais
parte do periody de entce-guerras e¢.a ‘Segunda guerra mundiat foram moderna, e geralmente tnica de que dispdem, de viver a histérix’tontempo- —
percebidas auditivamente, Uma certa época da histérta contemporanca come- -_
tinea, Nos. dois sentidos do termo, o acontecimento é projetadostilangado na
ca com as conversas democriticas inauguradas por Roosevelt, com os dis-
yida privada ¢ oferecido sob a forma de espetaculo. |
cursos fulminantes de Nuremberg, que a televisio, no estrangeiro, talvez
tivesse matado pelo ridiculo ou pela certeza de suas conseqiiéncias. Uma outra
Os mass media, dessa forma, fizeram, da histéria uma ¢ torna-
cam a acontecimenta monstruoso.
>. Nao porque sai, por definicio, do ‘ordinirio,
comeca para os arabes com os discursos de Nasser; ainda uma outra, para o + [ a

mas.
Congo dos anos 60, onde era suficiente a um homem de Estado negro estar ques redundancig intrinseca ao sistema tende a ‘procuzit, >: sensacior
em vias de afirmar através das ondas. que teria .tomado o poder para que o nal, fabrica permanentemente © NOVO, ince an ne oe quan
poder Ihe pertencesse efetivamente. Palavra radiofénica que funciona em dife- Meee eee aceticimento,
interesse em 0 acon
ouou como
como
podetlam
oe 1" on
faSer'crer.
rentes niveis. F ela antes de mais nada quem assegurca a importincia do acon- performances de uma informacio ébria com seus novos poderds, Péal’ como—a
tecimento, caracterizada pela quantidade de palavsas que ele desencadeia:—voz célebre emlssio de Orson, Welles sobre o desembarque de“marciands, A pré-
que informa, explica, comenta, critica, parafrascia, extrapola, conjectura, eco pria. informac%o. segrega seus anticorpos, ¢ a imprensa escrita ‘ou no
publico de conversacies ptivadas e, as vezes, veiculo unico da modernizacao. seu conjunto, tetia como efeito, antes de tudo, limitar o° desefitédéimento de
Franz Fanon mastrou o papel revoluciondrio desempenhado pela voz dos &ra- ‘uma “selvagem. Assegura aos, media uma posi¢io crescente sobre os
bes na Arpélia em puerra*, e sabemos qual instrumento de penetragao da acontecimentos, Mas o sistema de detecgio consti tuido pel os mass" media nfo
histéria oO transistor continua a desempenhar no continente africano, Mas é pode “genio favorecer a, eclosio de acontecimentos macicos, efses* vulcdes ; da
4 prépria histéria, pela voz de seus atores, que o ridio permite falar, reati- ‘atualidade que recentemente tomaram impeto com a Guerra Seis Dias,
vando dessa furma, numa vasta escala, o mais poderoso motor da histéria desde -Maio de. 68, a. invesio de ,Praga, a partida do general De Gaulle esta morte,
CG Sf
ou a alunissagem. americana, acontecimentos monstros que se':fep
os profetas ¢ os oradores gregos. Os media transformam em atos aquilo que
nio teria sido sen3o palavra no af, dio ao discurso, a declaracio, a conferéncia repetirgo, na verdade, sempre mais freqiientemente. oe
de imprensa a solene eficdcia do gesto irreversivel. Maio de 1968, como §a- Ei-para-o historiador que,‘ monstruoso, 0 acontecimento -moderno "se apre-
hemos, foi o festival da palavra agitadora; todas as formas coabitaram para ‘genta mais vantajoso. Pois de todos.aqueles que lhe dizem respeito, € 0 mais
constituir 0 préprio acontecimento®: palavra de “icetes ¢ palavra andnima, ‘pa- despojado.-.O : acontecimento permaneceria, num sistema tradicional, , privilegio
lavea mural e palavra verbalizada, palavra estudanti’ e palavra operdria, pala- de sua fungio. Ele era quem ‘She fornecia seu Jugar e seu valor, ¢ nada pene-
vra inventiva ou citativa, palavra politica, poética, pedagdgica ou messianica, trava-na histéria sem seu consentimento. De agora em diante, 6 acontecimento
palavra sem palaveas ¢ palavra-bruto, desde a noite das barricadas do Quartier oferece-se a ele do exterior, com toda a forca de um dado, antes de sua elabo-
[atin, onde Os transistores repercutiam instantaneamente nos quatro cantos _da racio, antes do trabalho do tempo. FE mesmo com muito mais for¢d’na medida
provincia noturna os incidentes que se tornavam um acontecimento, até o dis- em que os media impdem imediatamente o vivido como histéria, que o pre-
"HISTORIA: ~_s . Og RETORNO DO FATO “bh
“Seis ar

sente nos impGe em maior grau o vivido. Uma imensa promocio do imediato pelas. mudancas de acontecimentos sucessivos, 0 cabo do ‘acontecipento mals
ao histérica ¢ do vivido ao lendirto opera-se no momento mesmo em que o macico, no | momento mesmo em que a histéria faz sentir sua degradacio em
se cncontea canfuso nos seus habitos, ameagado nos seus—poderes, fatos ootidianos. ¢. Radke ofadie ¢
wontcontade com o que se apliava, em outro lugar, a reduzir. Mas trata-se do O acontecimento é o maravilhoso das sociedades democriticas..’Mas a
Mesmo acontecimento 7?
Pp ria‘integracdo das massas teve por efeito integrar também o ,maravilhoso.
A literatura popular e operisia de antes da metade do século XIX mostra que
o -fanthstico tradicionalmente tomava seus elementos do extramyndg, ,No pre
sente momento é a propria sociedade industrial que os fornece, Dessa forms
obtém-se um efeito de sobremultiplicagio quando as performances dp, sociedade
tecnocrhtica parecem precisamente imitar os temas do fantastico, tradicional.
Foi o caso, por exemplo, da primeira alunissagem americana’, al obe-
decia ao contraste explorado legitimamente pelos organizadores desse show in-
WW. AS M ETAMOREOSES DO ACONTECIMENTO terplanetério: inimaginivel demonstragio de técnico fealizado com essa
‘preciso completamente onfrica, superselecio ‘dos tres herdis com identi ticacbes
com o fisico de superman das historias em quadrinhos, utilizagig da estética
futurista do Jem de onde. emergiam na televisio escafandros livres do peso da
Terra, contraste ‘entre a imensidio dos meios financeiros, humanos, polfticos es
Na medida em que efetivamente o acontecimento se tornou intimamente frapilidade dos reflexos fisicos ¢ nervosos de trés simples homens; © imaginirio
ligady a sua expressao, sua significagao intelectual, préximo de uma primeira fundamentado no superpoderio Cientifico do mundo moderno alimentando-se |
ternta de elaboracdo histérica, ésvaziou-se a favor de suas virtualidades emo-
a 7
sonho da humanidade. Inst&ncia do real, instancia infor-
cionais, A realidade propde, o imaginario dispde. Para que o suicidio de atom. indthncia 20 mesmo tempo: o desembarque
Martlyn Monroe possa tornar-se um acuntectmento, é necessdrio, e é suficiente, na Lua fol o modelo do acontecimento moderno. bs

que milhoes de homens e¢ mulheres possam vec nele o drama do star system, a Sua condicio devia-se a retransmissdo direta pelo Telstar. ‘A-‘rapidez da
infehz vendedora que se escondia por tras da supervedeta, a tragédia da beleza retransmissio sem divida nio éa causa suficiente ‘da transformagio- do aconte-
mterrompida, a infelicidade da existéncia mais dissimulada, a futilidade de qual. cimento, ‘mas sem davida a causa necessirla. Vimos isso demonstrado quando
quee sucesso, E os miatores incéndios escapam fregiientemente a quem ateou da luta ‘de boxe Classius Clay-Frazier, que fol. um acontecimento“em' todos os
a menor fagulha: o acontecimento aproximou-se do fato cotidiano, nascido ele
palses onde a televisio a: retransmitiu diretaniente, mas nio na Franca, que 60
proprio no intertor do século XIX, onde se elaborava a sociedade industrial.
viv a retransmissio posteciormente. Abolindo os prazos,- desenvolvendo a acio
A diferenca entre os dois fendmenos é teoricamente bastante nitida. incerta sob: nossos:olhos, miniaturalizando o vivido, o direto acabé, Qrrancal
O acuntecimento pertence por natureza. a uma categoria, bem catalogada da
20 acontecimento seu carkter histérico para. projeté-lo no vivido iat masses ‘ 7
tazav histénica: acontecamento politico ou social, cientifico, local
ou nacional, seu lugar se inscreve nas mibricas dos jotnais.: Mas no interior de |, E para restitul-lo sob a forma de espethculo. A teatralidade. propria
sua categoria bem marcada, o acontecimento se. faz assinalar por sua impor- tantos scontecimentos contemporincos € assegurada pela” publicidade -ou, pelo
tancia, a novidade da mensagem, tante menos indiscreto quanto menos banal. contrério, & a teanamissio diteta que lhe confere essa dimensio? Mas de qual-
O fato cotidtano ocupa um lugar simetricamente inverso*: afogado no que se. quer forma, a democracia do acontecimento e a espetacularidade. progr
no mesmo movimento, A histéria contemporinea .poderia simbolicamente int-
encontra espalhado, fora de categoria, consageado ao inclassificavel ¢€ ao que
naa € importante, remete, por outro Jado, a um conteiido estranho a um con- ciar-se com as palavras de Goethe 2 Valmy: “E vés podereis dizer; Eu al es-
texto de convenqdes socials, pela légica de uma causalidade. seja corrompida tava!”... O do acontecimento smodetno _encontra-se no seu: desenvol-
(do tipo: uma mie assassina seus quatro filhos) seja trocada (do tipo: um vimento numa cena -imediatamente pdblica, em nio estar jamais ‘sem., reporter-
homent morde seu cao). E essa relagdo tedrica que se esfuma. Nao que nao
nem -' ¢3 ador-repérter, em ‘ser visto se fazendo, ¢€> ,.,esse
gs & ~
See Od A atwalidade tanto mua especificidade com relagio A Histéria qu
haja mais diterenga entre o fato cotidiano eo acontecimento; mas sobre qual-
quer acontectmento no sentida moderno do termo, o de massa quer seu perfume ji histérico, Dat essa impressio de jogo m
poder enxertar qualquer coisa do fato cotidiano: seu drama, sua magia, seu realidade, de divertimento dramstico, de festa que a sociedade dé -a,,s1; propria
misterin, sua estranhezs, stut poestt, sua tragicomicidade, seu poder de com- através do grande acontecimento, Todo mundo e ninguém «tomss'paste, pols
pensagao ¢ de identilicagao, o sentimento da fatalidade que o acompanha, seu todos formam a massa da qual ninguém pertence, Esse acontétiento sem
luxo ¢ sua gratuidade. OQ imaginario pode, dessa forma, apropriar-se de qual- historiador é feito da participacio afetiva das massas, o 86,¢ Unico. melo que
quer fato cotidiano —- o caso Dreyfus como Maio de 68 — e fazé-lo atravessar, elas tém de participar na.vida publica: participacio exigenteve alienate, ve
186 ©
NOVOS PROBLEMAS. ee eee TS A RR eee UE Bett. a «
“O RETORNO DO FATO

€ inuitipla Como
elepuiada ¢ dibtante,
essa
pal} imputente ¢ portanto
| realidade da vida
so f&
suberans,
contemporanea
a
suténoma ¢circunstAncias
que se chama
extremas, se apenas um ruldo que confundisia a inteligibilidade
de seu préprio discurso. Denominamos sempre em maior nurierd acontecimen-
opinido. tos, por angastia do tempo plano ¢ uniforme das sociedad
fissa histéria espera seu Clausewitz para analisar a estratégia do aconte- necessidade de consumir o tempo como objeto, por medo’do“prdprio aconte-
cimento total que, come a guerra, recritou os civis; nao ha mais relaguardas
da nistéria, da mesma forma que niu hd frente unica onde combateriam os lado sua alimentacdo vv eo confecciona de
cimento, A prdépria informativa, r scu pesd prépirio, “exige por sei

militares, O fosso que tradictonalmente separava dois mundos, os dominantes todos of dias: os titulos de France-Soir, por exemplo, i cada edicao,
€ Us dominados da informasio, duas culturas, erudita ¢ “popular, ‘tende a desa- acontecimentos cuja maior parte & de natimortos. Nao ha-entao, como pre-
parecer ou, melhor dizendo, uma hicrarquia imais ‘estével se estabelece no inte. tendia Boorstin®, “pscudo-acontecimentos que postularian a parasitagao de ver-
stor dv mundo da informacqio, no universo dus media. No mundo onde nin- dadeitos acontecimentos por falsos acontecimentos. O artifice’; mas trata-sc
guém esta completamente sem saber nem poder, se fosse através do sufré- de artifice? —~ €a verdade do sistema. Melhor é dizer que soutrora se tinha
gro universal, ninguém teria sobre o acontecimento um monopélio ermanente: necessidade do extraordinério para que houvesse acontecimento ¢€ ‘que © aconte-
vs media parecem fazé-lo dizer, como os sinus de John
» Donne: “Nao. pertende a set, num hoje que alids nada possui ‘de-‘absoluto, seu
cimento
guntes por quem ele dobra, ele dobra por ti!” réprio sensacional, H4& uma lei. de Gresham ‘da ma expulsa
For para todos que De Gaulle pronunciou o Apelo de 18 de junho, mes- boa. A histéria “contemporanea—viu morier acontecimento tral” onde
mo se pouces 0 ouviram; é para todos que um de esqui_ultrapassa derlamos idealmente trocar uma informacio por um fato da seadidade; entramos
3a da
um recorde nas altitudes solitivias, para todos que um carro de combate inflac%o ‘factual e devemos, bem ou mal, integratessa inflacio no
israe-
tecido de nossas existéncias cotidianas.
lease se afunda no deserto: a publicidade & a lei de bronze do acontecimento CO pe et a-al ” {

modermno, Eo eis que ne mesmo movimento a informacio se acha condenada X modernidade segrega o acontecimento, do contraslo.icdas sociedades
a see total, Condenagao tio mais rigorosa no caso em que ela cessa, é seu tradicionais que tinham de preferéncia inclinagio a tornf-lo. rato. 0. —
siléncio que se torna um acontecimento. Os nigerianos interditando aos repér- -imento “vivido das sociedades camponesas era a ‘rotina religiosa, a calamida-
teres O ALESSO a Biafra invadida, a Indonésia massacrando um milhio de comu- de climftica ou a transformacao demografica; uma nao-hist6riae Mas OS po-
nistas sub a indiferenga do mundyu capitalista acrescentam uma_ significacio deres institufdos, as religides estabelecidas tendiam a climinar ‘a novidade, a
complementar ao tripico de cada um desses acontecimentos..O fato de os pro- reduzic seu poder corrosivo, a digeri-la através do rita. Todas.as sociedades
cessos de Leningrad terem ocortido ao mesmo tempo que os de procuram dessa forma perpetuar-se por um - sistema “de que tém
Burgos, e nas mesmas portas fechadas, influenciou a corte na sua manifestacio por f inalidade . negar o acontecimento, pois: o acontecimente €:precisamente
a fuptura qiie colocarla em questio 0 equilibrio sobre o ‘quituelas -sfo
O locutor que toe apds a morte de De Gaulle nio tivesse anunciade pronta-
mente: “O general De Gaulle morreu ontem a tarde”
damentadas.teria ctiado
Como a verdade, os primeiros
0 acontecimento é sempre revulucionario, o ‘BFa0
passos de un acontecimento_politico, O fato de os chineses nio terem conhe. de areia na miquina, o acidente que transforma
cido a aluntssagem americana é um acontecimento -para o universo nio-chinés te. Nio hé ‘acontecimentos felizes, sio sempre catéstrofes, ‘Mas “para
A let do espetaculo é a mais totalitaria do mundo livre. Prey he dois meios; conjuré-lo atcavés. um. sistema ide informacio | sem
Esquartejada dessa forma ‘entre o real -e sua projecio espetacular, a infor. informacdes, ou integré-lo 20 sistema da informagio. ‘Pafseé -inteiros no
macio perdeu sua neutralidade de ‘érpio de simples transmissio, “Fla no era vivem soh o regime da noticia: sem ‘novidade. Leia-se a imprensa, nada de
por natureza, apesat ‘das distorgdes superiores, senao uma corteia de trans- imprevistvel: vida interna do partido, aniversdrios € comemoragbes esperadas,
missav, um ponto de _passapem obrigatério, O acontecimento era -emitido performances de producio, novidades do Ocidente pela deforma:
ransmitido, recebide.. Dai a narrativa, que fazia passat 0 acontecimento de Gio que impressionam pela presuncio, rouconar .da propaganda, ‘tudo é
um meio onde 42 se encontrava Morto a um Meio onde estava amortecido. numa para esvaziat a informac&o daquilo que arriscaria colocar em quest
grande pradagiv tradicional dos mais advertidos aos menos informados. A in- tuicdo que a emite. Os hagidgrafos da Idade Média s6 davam o dia ¢ o més
formagau remetia aum fato da realidade que the era estranho, que ela signi- do acontecimento da vida de um santo, nunca o ano, para inscrever esse acon-
fava. Qualquer que seja a tecnicidade do sentido que The dermos, a Infor- acimenio. uma eternidade sem meméria e, portanto, sem efichcia temporal.
macio, com maitscula, funciona em principio ‘sempre como um redutor de in- O segundo meio de conjurar o novo consiste em fazer dele, até os imate
certeza, Permancceria inintelipivel se nao viesse enriquecec um saber organizado da ‘redundancia, o essencial da mensagem narrativa, arriscando-se a dar ao
reestrulurar oO quadro preestabelecido no qual vem inscrever-se. Ora, conside- sistema de informacio a vocacio de destruir a si proprio: é 0 ‘nosso.
radu globalmente, o sistema informativo dos media’ fabrica o ‘ininteligtvel Isse estado de superinformacao perpétua e de suhinformagéo crénica Ca-
Hombardeta-nos como um saber interrogativo, sem nucleo, sem sentido ue nossas siciedades contemporineas. O | nio per-
espera de nibs sew sentido, nos frustra e nos satisfaz por sua vez com sua
mite “ais evi-
fazer ‘a parte do exibicionismo “factual, Confusio'dhtvitivel, mas fa.
déncta enfadonha: se um reflexo de historiador nao interviesse, isso sccia, nas vordvel a todas as incertezas, as angistias
PUSHY¢ aus panicod Saber € p
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or ATR.
fag TE PROBLEMAS =~
meira forma do poder numa sociedade de informacéo democritica. O coro- e bastante tempo para que eles $6 sentissem a mi consciéncia @ 0 pesar, no inl-
lario Mem sempre é falso: quem detém o poder é tido como quem sabe. Dal .cio de um regime que nfo the prestou senio uma homenagem fanebre € ao
uma dialética nova, prdépria a fazer surgic mas nossas sociedades um tipo de qual, nascido dele, seu pai fez-a injdcia suprema de. nada mudar no testa-
acontecimentos ligados ao segredo, a.polfcia, a conspiragio, ao rumor e€ aos mento la¢énico que dirigira IV Repéblica, sua morte, que 0. inaca-
4
ruidos. Pois é ao mesmo tempo verdadeiro e falso que nao se fala tanto para -bado de suas memérias, chance suprema, tornava mais patética, apareceu como
esconder o essencial, que o sistema que favorece o-nascimento do acontecimen- a cena involuntariamente mais bem desempenhada do grande ator obsecado com
to € também, mas no apenas, fabricante de ilusbes, que tantas confissdes sua safda, Uma morte brutal, magica, como que cada um deseja inti-
disssmulam uma falsidade. Quer se trate por exemplo do grande panico que mamente,.mas que, nesse caso solene toma formas lendatias do santo chama-
devastou os campos franceses ou da espionite aguda de 1793, quer se trate do vivo a Deus. Morte que, aos olhos do estrangeiro, arrebatou o Ultimo so-
da franco-maconaria associada aos Sabios de Sion na época da revolucao indus- brevivente da guerra mundial, o aliado da URSS, o descolonizador, o ami-
tral, quer se trate da Internacional judia.-sob Hitler, do trotskysmo sob Sté- go dos paises hrabes, oO simbolo do rebelde, Q homem qué: reconheceu a China,
em resumo, o homem que significava alguma coisa para ‘cada'um dos podero-
lin ou do antiimperialismo nos paises descolonizados, é certo que todos esses
exutdrios e¢ bodes expiatérios utilizados por tantos senhores-feiticeiros do po- sos do mundo e que, para o povo francés, fazia as pazes -com-a mais antiga,
a mais venerdvel das tradicdes do reino, a morte do rei. Mas uma morte que,
der cacismatico acompanharam as experiéncias histéricas de participagao nova
pelo arranjo da dupla ceriménia, pela oportunidade do ‘momento, capitalizou
Was massas ha vida ou seja, no sentido que the dava Tocqueville, no a monacquia sobre a heranca da Repiblica, a nostalgia de uma grandeza per-
da democracia. Acontecimentos que traduzem desastradamente, sel- dida e uma fugitiva reconciliagio nacional. E, enquanto por:um ardil da his-
vagemente, tanto a irrupgio das massas na cena quanto a profunda frustra- téria, a ceriménia de Notre-Dame entronizava ironicamente-‘pela segunda vez
Gio das multidées que se langam sobre um falso saber para compensar sua falta © homem.que se “julgava ter demolido gs tabus, foi o-mactpnalismo frances
de noder. Inteiro que escoltou o cortejo de Colombey. A morte deé;.De. Gaulle al dizia
.
Multiplicar o novo, fabricar o acontecimento, degradar a informagciao; sao providencialmente mais do que toda a sua vida havia expressado.
ey
seguramente os meias de se defender, Mas a ambigiidade que se encontra no O imediato torna de fato a decifracio de um acontecimento ao mesmo
coragio da informagio acaba no paradoxo das metamorfoses do acontecimento, tempo mais ficil ¢ mais diffcil. Mais ficil porque choca de imediato, mais
‘diffcll porque se manifesta totalmente de imediato, Num ‘sistema de informa-
cio mais tradicional, 0: acontecimento assinalava por seu préprio conteddo sua
brea de’ difusio. Sua ‘rede de influéncias era,‘cada vez. mais, definida por |
aqueles ‘aos quais tocava, Seu tracgo era, mais linear, Se ‘o acontecimento nfo
conseguisse .a virtude’'de se reduzir a uma dnicea, de suas significacdes, nio teria
+a histéria-imediata tido mais dificuldades, ainda no século XIX; com Marx, Toc-
queville; ‘ou Lissagaray, mas também com tantos comentidotés mais obscuros,
Hl. O PARADOXO DO ACONTECIMENTO em se aproximar da anilise histérica? Os contemporaneos, 'mésiids licidos, ter-se-
iam enganado bastante,’ tal como hoje, sobre a atualidade.‘ Estando dora-
vante cortados os opera-se. uma na incan-
descéncia das significagdes ficamos cegos. Sendo uma novidade importante como
Encontra-se aqui a chance do historiador do presente: o deslocamento da © assassinato de Kennedy instantaneamente. divulgada, sua vocacio & factuali-
mensagem narrativa mas suas virtualidades imagindrias, espetaculares, parasita- dade é imediatamente realizada no universal, mas remete as" profundezas da
rias, tem como efeito assinalar, no acontecimento, a parte do nio factual. Ou emocio mundial A sua fonte, mais depresya: do que desce do circulo dos int-
melhor, de fazer do acontecimento o -lugar temporal e neutro da emergéncia ciados para aqueles aos quais .poderia eventualmente nesse reme-
brutal, isolavel, de um-conjunto de fendmenus sociais surgidos das profun- ter ela carrega tudo, No acontecimento intransitivo, sem e sem
fronteiras, sio os patamares de significagio que se.imbricam e as constela-
dezas € que, sem ele, continuariam enterrados nas rugas do- mental colettvo.
gdes explodidas que se misturam. Cercimo-lo melhor pelo exterior: o que ¢
() acontecimento testemunha menos pelo que traduz do que pelo que revela,
acontecimento e por qué? Pois se ele nao é acontecimento sem consciéncia cri-
menos pelo que é do que pelo que provoca. Sua significagao € na tica, nio hd ent&o acontecimentu que, oferecido a cada um, nilo seja o mesmo
stla ressondncia: cle nio & senio um eco, um espetho da sociedade, uma aber- —
para todos. Limites de limites de meios intetessados, limites tam-
tura. Podemos perguntar-noas 0 que frepresentou, dez anos depois, a morte de bém do tempo: quando pira e o que se torna? As bases‘ do acontecimento,
De Gaulle, um ancido diminufdo, esquecido, Mas um ano apdés seu desapa- as aninésiag coletivas como aquela que aconteceu quanto A‘ guerra da Argélia,
recimento, muito pouco depois que o voto dos franceses © tivesse expulsado os caminhos subterrineos acabam por desenhar seus -cantoriios,
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DO FATO
}ISTORIA: NOVOS PROBLEMAS —

Ustabelece-se dessa forma, entre um tipo de sociedade ¢ sua existéncia fac- us acontecimentos do passado @.o surgimento de uma especificidade da his-
tual, ‘uma estranha recipte _ulade. Por un lado, éa sucesso de acontecimen-
tdria:contemporanea? 7 6 ke ; A
tas “que constitu a superficie continua da sociedade, que a institut, e a detine, historiador do presente néo pratica entho outra coisa; para conseguir
ha medida mesmo em que a rede de sua represente uma institul- significacées, sen’o o método seriado daquele do passado, com a diferenca de
cio. O sistema de informaio que, na URSS, na China ou nos Estados que sua conduta tem por finalidade, aqui, culminar no acontecimento em lugar
( Inidos, produz por exemplo o XX Congresso, a revolugio cultural | ou o caso de procurar reduzi-lo, Faz conscientemente surgit o passado no presente, em
Calley, ilustra a sociedade por completo: é a forma de sua institucionalizagao. vez de fazer inconscientemente surgir o presente do passado. Sabemos hoje
Mas, inversamente, tais acontecimentos veiculam todo um material de emo- _ que a noite de 4 de agosto no foi somente’a hipocrisia histérica que Raymond
Coes, habitos, cotinas, representaies herdadas do passado que frequientemente Aron viu nas Assembléias Universitérias que reivindicavam em maio de 68.
afloram a superficie da Lugar de projecies sociais € de conthitos la- Era isso evidente em 3 ‘de agosto de 1789 pela manha? Somente o que se segue
tentes, umn acontecimenta € como o acaso para Cournot, 0 encontro de varias permite decidir, ‘a interrupgio dos exames ¢ seu questionamento, E nao ha du-
causais independentes, um raspio do tecido social que o proprio siste- vida de que, reciprocamente, as Assembléias Universitarias tenham expressado
ma tem por fungio tecer, Foo mais importante dos acontecimentos é aquele outra coisa além do que tinham pretendido explicitamente. O acontecimento
jue far readquirie a heranga mais araica, Aqui ainda ° sistema dos _pafses do -tem como virtude unir num feixe significagdes esparsas. Ao historiador cabe
reste fornece um. instrutivo contraponto, Sem davida ele nio é indiferente de desuni-los para voltar da evidéncia do acontecimento a colocagéo em evidéncia
que estejam ausentes os fatos cotidianos. Esse residuo revela a do sistema, Pois a unividade para que se torne inteligivel postula sempre a
partir do modo “menor, o que hi de mais secreto. Expurgando: © que “exes existéncia de .uma série que a novidade faz surgir. Mesmo a afirmacio "e a
vaca além do fato cotidiano ‘no acontecimento, 0 sistema do Leste elimina pelo ‘primeira vez que..." virtualmente a possibilidade de uma segunda.
mesmo movimento a parte incontrolivel ¢ escandalosa de significagdes
— socials “Mesmo se permanecermos no nivel do modelo cibernético da vida social, ¢s-
que aparece NO fato cotidiano.
Pap.
creve corretamente Edgar Morin, o € precisamente 0
A partir desse momento nio é 0 acontecimento, sobre a criagao do qual que permite compreender a natureza da estrutura e o funcionamento do sistema,
nin tem venhum poder, que interessa ao historiador, mas o duplo sistema que Gu seja, o feedback processo de integracéo (ou rejeigio) da informacio, quer
“ce entrecruza nele, sistema formal e sistema de significagao; e ele se encontra dizer, também da modificacio conduzida seja no sistema, seja pelo sistema’? .
mas hem colucado do que ninguém para se apropriar desse sistema. Sobre a do vulcio, o historiador do presente, repetimos, nao tqma parte,
diferentemente do historiador do passado, a quem a duracgio permate fazer artt-
Pois por mais independente que possa parecer, 0 desdobramento de um ficialmente desses vulcdes factuais tantas colinas-testemunhas de uma palsagem
nio tem nada de arbitrario. Se nao é seu aparecimento, pelo
Menos seu surpimente, seu volume, scu ritmo, seus encadeamentos, seu lugar _ que ele haliza; Mas enquanto geédlogo encontra sua soberania. E a ele que cabe
identificar os nfveis geolégicos, as mudancas de explosdes internas e os deto-
relative, suas seqielas e seus obedecem a repularidades que dao 80S fee, nadores secundirios, distinguir as realidades Conflituais fundamentais dos meca-
Hdmecnas aparentemente mais um certo parentesco e-uma morna nismos de integracio e de da Java expulsa, Nao hi diferenga de na-
Os estudas de opinda, de agora em diante: classicos, poderiam wl:
entre uma crise, que é um complexo de_acontecimentos,: ¢ um Acontec-
mente duplicar-se em -anilises que as | mento, que assinala em algum lugar dentro do sistema social:uma ‘crise. Uma
te informacio, o desdobramento dos media, as relagdes da mensagem e da fe- dialética se instaura entre esses dois fendmenos que é o da mpdagca, diante da
Jundine ia, as “reagaes em cadeia da difusio, em resumo, a fenomenologia fore
nal do acontecimento® Um rapido estudo for feito sobre ‘a morte de Joao qual o historiador do passado’ se encontra tao desprovidath 0 quanto
* Sel Bodhistoriador
do presente,
XXHL A que comparagdes conduziriam monografias similares sobre as mot-
O futuro o desmentiria e, desprezando suas. atribuigdes provisérias, desteui-
les nacionais por exemplo, as de Stilin, Kennedy, Churchill, Adenauer, Tv-
ria as séries institufdas para fazer aparecer 0 proprio acontecimento numa outta.
pliatti, Nasser, ‘De Gaulle? Quais homologias nas escansdes de certos escandalos
ak pracessos, casos ‘sem relagao imediata como oO caso Dreyfus € a guerra da
rede, pois permaneceriam ainda significativas suas: improvisadas no
momento critico; fazem parte do préprio acontecimento, Toda va histOria da
Arpélia? A anilise formal conduz, espon’aneamente & anilise de significacao, Revolucio Francesa no século XIX nao faz sendo proclamar 0 inacabado do
ado setia, para comegar, sendo a significagao do aparecimento do sistema tor.
acontecimento Toda @ Jiteratysa sobre ynaig de 68 acompanhe
nial, “que é ele proprio um acontecimento. Pois essa intrusio decisiva de uma
nova -— no fim do século XIX, no preciso momento em que a inseparavelmente seu assunto; revela uma impossivel histéria de maio. A histéria
historia cientifica, com o triunfo do positivismo, nao se apropriou da nocao de contemporfnea, essa exploracdo da atualidade, nau consiste em aplicar ao presente
scontecimento para aplicar somente ao passado sua eficacia exclusiva -— métodos hist6ricos-testados pelo passado; cla é o exorcismo supttmo do acon-
tecimento, a Gltima seqilela de sua resolugio. Mesmo que sejavcontestada pela
exprinua qual mutacio? Quais correla,des estabelecer ‘entre esses dois fendme:
histéria, tal nao impede que assim como o acontecimento,' ela ‘tenha: existido.
Hos cuntemporaneas: © nascimento de uma ciéncia que tem por objeto apenas Batis tos
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O RETORNO DO FATO
182 ~ . .+. HISTORIA: NOVOS PROBLEMAS
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E o nosso presente por inteiro que procura sua prdépria consciéncia através 8. Cf. L'Image, Julliard, 1963. .
do novo estatuto que o acontecimento adquirtu nas sociedades industriais.-A pro- 9. Cf. em particular Abraham Moles, Soclo-dynamique de la oulture, Mouton, 1967.
blemnitica do acontecitnento —- que se encontra por fazer — encontra-se estrei- 10. Cf. Jules Gritt!, “Un récit de presse: les derniers jours d'un ‘grande homme”,
tamente ligada a espectficidade de uma histdéria “contemporanea”.. Numa so- Communications, 8, 1066. E, em geral, os trabalhos do autor, principalmente:
ciedade dita de consumo, talvez o tratamentu ao qual submetemos o aconteci- L'évéinement, technique d’analyse de Pactualité, 196). of VEL
mento seja uma mancira entre outras de reduzie o préprio tempo a um objeto 11. “Principes-d’une socfologle du présent”, em La rumeur d'Orléans, Seull, 1968, p, 225.
de consumo e nele tnvestir os mesmos afetus**, Se é& verdade que a histéria 12. Cf. em particular Jean Baudrillard, Le -syetéme des objets.; Gallimard, 1967.
s5 comeyga quando o historiador faz ao passado, em funcio de seu prdprio wo Wo
presente, perpguntas das quais os contemporaneos nao poderiam ter a menor
idéia, quem nos dira — desde agora — qual ‘inquictacio se esconde por trds
dessa necessidade de acontecimentos, qual nervosismo implica essa ticania, qual
acontecimento. mator de nossa civilizagao expritne a colocacgéo desse vasto sis-
tema do acontecimento que constitut a atualidade?
pela incapacidade de dominar © acontecimento contemporineo, cujas
consequencias naa Conhecemoas, que na época cm que os positivistas registravam
inconscrentemente seu advento para fundar uma ciéncia da histéria, eles assina- Pande 4
O presente com uma imperfeigao de principio. Hoje, quando toda a FT es FETE)
histortografia conquistou sua modernidade a partir do apagamento do aconte-
cimento, a nepagio de sua importincia e sua dissolugao, o acontecimento. nos 4 co desi:
vulla — um outro acontecimento —, e com ele, talvez, a possibilidade mesma
de uma histéria propriamente contemporanea. AP RR,
1 A yy oe!

NOTAS

| 1867. Relatdério ao Ministro sobre os Estudos Histéricos.


2. © termo nasceu em /4 de janeiro de 1898, quando L’Aurore, para reclamar a re-
visa do processo Dreyfus apds a absolvicio de Esterhazy, publicou o “Manifeste
des intellectuels’’.
. Cf. Vatsice Boussel, L’ Affaire Dreyfus et la presse, col. Kiosque, Colin, 1960.
, Cf. Franz Fanon, L’'An V de la révolution algérienne, Maspero, 1959.
. Cf. Roland Barthes, “L’ecriture de l’événement”’, em Communications, 12, 1968.
. Cf. em particular Georges Auclair, Le Mana quotidien, estruturas e funcdes da cré-
nica dos fatos cotidianos, ed. Anthropos, 1970, e Roland Barthes, Mythologies,
Seuil, 1967.
7. Cf. um rico estudo do caso diante da imprensa, realizado pela equipe do Centre
d’Frudes de Presse de Bordeaux e publicado sob a de A.-J. Tudesq.: La
presse ef Uévenement, Mouton, 1973.

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