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A
CONSELHEIROS SUPLENTES
Arthur Nemrod Menezes Guimarães
Clóvis Benoni Meurer
Evaldo Silva 2018, O ANO QUE VIVEREMOS EM PERIGO | Luís Eduardo Assis............... 28
Henrique Jorge Medeiros Marinho Brasil convive com crises econômicas desde jurídicas quanto das físicas, apropriando-se de parcela
João Bosco Ferraz de Oliveira
Luiz Antonio Rubin CRIPTOMOEDAS E A BITCOIN 1822. Além da atual, foram extremamente relevante do PIB em função disto, e que quase nada
Marcelo Pereira Fernandes
Maria do Socorro Erculano de Lima Por Gílson de Lima Garófalo e Terezinha Filgueiras de Pinho ......................................... 32 graves as ocorridas em 1929, 1973-80, 1990- investe em financiamento para criação da infraestrutura e
Maurílio Procópio Gomes
Paulo Roberto Polli Lobo 92 e 1999-2004. Cada uma delas, enquanto duraram viabilização de empreendimentos produtivos, e mantém
Paulo Salvatore Ponzini ACREDITANDO NO CRÉDITO
Ricardo Valério Costa Menezes seus nocivos efeitos, foi tida como a maior de todos refém o executivo federal em função do extorsivo
Róridan Penido Duarte Roberto Luis Troster ........................................................................................................... 39
Sávio de Jesus Tourinho da Cunha os tempos. Não é diferente em relação à atual, cuja preço cobrado para o financiamento da dívida pública.
Sebastião Demuner
Wilson Roberto Villas Boas Anuntes origem remonta, entre outras razões, a 2008, com o
A QUESTÃO REGIONAL BRASILEIRA APÓS A TEMPESTADE
CONSELHO EDITORIAL desmoronamento da ciranda financeira e hipotecária A bem da verdade, é importante registrar que este
Wellington Leonardo da Silva (Coordenador) RECESSIVA: UMA AGENDA PARA OS ESTADOS DAS REGIÕES
Antonio Corrêa de Lacerda construída a partir do sistema imobiliário americano, cenário também se agrava pela letargia da sociedade,
Antônio de Pádua Ubirajara e Silva NORTE E NORDESTE | Felipe de Holanda ............................................................ 44
Denise Kassama Franco do Amaral tendo seus reflexos espalhados pelo mundo a partir cujos esforços para exigir a adequada regulamentação do
Dércio Garcia Munhoz
Eduardo José Monteiro da Costa EDUCAÇÃO NO FOCO DO COFECON | Júlio Poloni ....................................54 das interconexões do sistema financeiro mundial e das sistema financeiro nacional são praticamente inexistentes.
Fernando de Aquino Fonseca Neto
Felipe Macedo de Holanda economias. Mesmo as anteriores, em sua quase totalidade,
Gilson de Lima Garófalo
EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL: UM LONGO CAMINHO A SER
José Luiz Pagnussat contaram com forte contribuição de origem externa. Os argumentos e dados trazidos a lume por
Júlio Miragaya
PERCORRIDO............................................................................................................... 58
Luiz Carlos Delorme Prado nossos colaboradores são de qualidade impar,
Roberto Bocaccio Piscitelli
Róridan Penido Duarte
COMPLEXIDADE ECONÔMICA
É nesta quadra que nossos articulistas trazem para raramente disponível nos meios de comunicação
Sidney Pascoutto da Rocha
Waldir Pereira Gomes o debate os temas centrais desta edição, os quais tradicionais, e contribuem para a análise técnica
Fernando de Aquino Fonseca Neto .................................................................................... 60
COMISSÃO DE COMUNICAÇÃO
Júlio Miragaya (Coordenador) guardam relação intrínseca com dois dos mais graves de algumas das razões pelas quais o Brasil é uma
Antonio Corrêa de Lacerda
Antonio Melki Jr. entraves para o desenvolvimento brasileiro: os injustos pátria tão injusta e cruel em relação à sua população.
Denise Kassama Franco do Amaral
Felipe Macedo de Holanda desequilíbrios regionais e um sistema financeiro nacional
Jin Whan Oh
Wellington Leonardo da Silva que cobra taxas de juros exorbitantes, tanto das pessoas Desejo a todos os Economistas bom proveito da leitura!
ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO
Natália Kenupp – Assessora de Imprensa
Manoel Castanho – Jornalista
Júlio Poloni – Jornalista
PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO
Lume Comunicação
ISSN 2446-9297
As ideias e informações contidas nos artigos publicados nesta revista são de responsabilidade de cada
autor, não devendo ser interpretadas como endossadas ou refletindo o pensamento do Conselho Federal
de Economia.
2 Economistas
Economistas - nº 24 -- Abril
nº 27 a Junho de- 2018
- Jan/Mar 2017 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 3
Nota do Cofecon
O
Conselho Federal de Economia tem se posicio- No 22º Congresso Brasileiro de Economia (CBE), re-
nado e defendido a retomada do crescimento alizado em setembro de 2017 em Belo Horizonte (MG),
econômico, condição essencial para a redução com a participação de mais de 1.200 economistas e aca-
da taxa de desemprego e para a elevação da renda na- dêmicos de todo o país, o documento final do evento fri- É imperativo que a
cional. Mas não a qualquer custo, e sim propiciando a sava que “Os bancos e as grandes corporações pretendem vontade soberana
inclusão e a proteção social e promovendo a melhor dis- impor seus interesses ao conjunto da sociedade brasilei- do povo esteja
tribuição da renda e da riqueza. Ocorre que a retomada ra. É imperativo que a vontade soberana do povo esteja acima dos anseios e
do crescimento em curso vem acompanhada de uma per- acima dos anseios e receios do mercado”. receios do mercado
sistente piora dos indicadores sociais. Os empregos que
estão sendo gerados, por exemplo, são essencialmente O que se assiste no cenário brasileiro é a constatação
informais ou precários. de uma enorme pressão do “mercado”, especialmente o
financeiro, sobre a arena política e institucional em suas Após recente decisão proferida pela justiça federal de É sintomático que a condenação veio no momento em
Dessa forma, devemos avaliar se as propostas de refor- diversas esferas. Os últimos acontecimentos no cenário Porto Alegre, as manchetes evidenciaram que a senten- que o governo federal fixou o novo Salário Mínimo em
mas em curso concorrem para a retomada do crescimento político e judiciário evidenciaram a grande influência ça contemplara o desejo do mercado financeiro. É im- R$ 954,00, reajuste de 1,81% (míseros R$ 17,00) que se-
nos termos desejáveis, ou têm sido pautadas apenas pelas que o mercado financeiro tem nas decisões políticas, eco- portante frisar que não só o julgamento em questão mas quer repõe o INPC (2,06%). Trata-se do menor reajuste
demandas do mercado financeiro. É o caso da Reforma nômicas e institucionais. vários atos do Poder Judiciário têm recebido críticas e do SM em 78 anos, desde sua instituição em 1940. De
Tributária, que não pode focar apenas na simplificação ressalvas de diversos juristas respeitados e consagrados. outro lado, os 43 bilionários brasileiros possuem, segun-
tributária, como quer o mercado, que é desejável, mas Ora, o Brasil não se restringe ao mercado financei- O Poder Judiciário não pode ser visto como algo imacu- do a Forbes, fortuna estimada em R$ 549 bilhões, com
insuficiente. Ela deve efetivamente mudar nosso modelo ro. Não pode o interesse econômico de investidores e lado, isento de equívocos e desvios. aumento de R$ 65 bilhões em relação a 2016, ou R$ 1,5
tributário regressivo, que tem sido historicamente o prin- especuladores substituir a vontade de 208 milhões de bilhão a mais cada um, em média.
cipal instrumento de concentração da renda e da riqueza brasileiros, por qualquer que seja. Ao mercado financei- Não só o julgamento em
no país. ro interessa a politização da justiça, a judicialização da questão mas vários atos do Poder O que se requer nesse momento tão grave da vida na-
política ou, mais ainda, a criminalização da política, para Judiciário têm recebido críticas cional é a prevalência dos interesses da população num
A retomada em curso vem que ele reine soberano, e assim, imponha sua agenda de e ressalvas de diversos juristas processo democrático e isento de pressões e constrangi-
acompanhada de uma persistente reformas: previdenciária, tributária, fim da Lei do Salário respeitados e consagrados. mentos do capital financeiro e especulativo.
piora dos indicadores sociais. Mínimo etc.
CONSELHO FEDERAL DE ECONOMIA
NOTA DE POLÍTICA FISCAL Topo da pirâmide: Concordamos que o setor público gasta mal.
A
10% mais ricos Seria muito proveitoso elevar a eficiência des-
política fiscal atual, orientada para reverter o plo, não teria se mantido em torno de 1,7%, de jul/2012 a Gastam 21% de sua renda ses gastos, reduzindo privilégios de castas do
crescimento recente da dívida pública em re- jan/2013 (3,0%, de ago/2017 a dez/2017) sem o mercado em tributos – sendo 10% serviço público; com planejamento mais es-
lação ao PIB, tem descuidado da promoção da deixar de financiá-la. Por outro lado, também não é a taxa em tributos indiretos. tratégico e maior controle nas despesas com
justiça social com medidas de política econômica, pro- mínima exigida para o controle da inflação, pois outros ciência, tecnologia e inovações; priorizando e
postas e adotadas, que oneram os mais pobres mantendo instrumentos podem ser utilizados pelo Banco Central incentivando a elevação da qualidade da educa-
privilégios dos mais ricos. Essa tendência se reflete: (i) para auxiliar e contenção de pressões inflacionárias de ção, seja a prestada pelas instituições públicas
na reforma da previdência como forma de reduzir os flu- demanda. seja pelas privadas beneficiadas com recursos
xos de transferências para segmentos de baixa renda; (ii) públicos; fortalecendo programas de medicina
nos tetos estabelecidos na Emenda Constitucional nº95, Precisamos desconstruir a ideia preventiva, dentre outros. Contudo, repudiamos
obrigando a comprimir gastos sociais; (iii) na manuten- de que os níveis de taxa de juros a estratégia de aumentar a eficiência dos gastos
ção dos custos financeiros da dívida pública ainda desne- seriam como uma lei da natureza. apenas como forma de reduzir o seu montante,
cessariamente altos; e (iv) na não elevação da tributação atingindo gastos sociais e com a promoção do
sobre os mais ricos. No mesmo sentido, não se sustenta o argumento, in- Base da pirâmide: desenvolvimento socioeconômico.
sistentemente colocado pela grande mídia, de que a carga 10% mais pobres
De início, benefício previdenciário no Brasil, para o tributária no Brasil seja demasiada. Carga tributária sobre gastam 32% de Em termos de política fiscal, é essencial
setor privado (RGPS), não deve ser considerado de for- quem? Segundo o IPEA, os 10% mais pobres no Brasil sua renda em identificar as medidas mais apropriadas no cur-
ma estrita, como uma transferência do governo apenas gastam 32% de sua renda em tributos – sendo que 28% tributos – sendo to e no longo prazos. Para não comprometer a
para os que não conseguem garantir o sustento com seu desse total são indiretos, sobre produtos e serviços. Em 28% desse total promoção da justiça social, no curto prazo pro-
trabalho ou capital. Toda a argumentação dos defensores contrapartida, a parcela dos 10% mais ricos da população em tributos põe-se reduzir mais as taxas básicas de juros e
da reforma trata dessa forma, quando essas transferên- gasta apenas 21% de sua renda em tributos, sendo 10% indiretos. o volume de reservas internacionais; retornar
cias, no Brasil, têm função adicional, qual seja, reduzir em tributos indiretos. [Equidade fiscal no Brasil: impac- com o imposto de renda sobre lucros e dividen-
a concentração de renda, funcionando como um imposto tos distributivos da tributação e do gasto social, 2011]. reduzir os gastos primários, identificando como principal dos distribuídos e com a CPMF; eliminar privi-
de renda negativo para os beneficiários que possuem ca- Tais resultados decorrem de maior tributação sobre o a reforma da previdência, como proposta pelo governo. légios abusivos das castas do serviço público, em geral
pacidade laborativa. Claro que existem alternativas me- consumo do que sobre a renda, da ausência de impostos instaladas no legislativo e no judiciário. No longo prazo,
lhores de diminuir as desigualdades, mas o que se pre- que alcancem mais aos ricos e da possibilidade que têm Apesar disso, não deixa de alertar para distorções fis- elaborar uma reforma previdenciária que não aumente as
tende, neste momento, é retirar essas transferências sem de expedientes para obter tratamento tributário mais fa- cais importantes, à margem desses gastos, que precisam desigualdades, no sentido de que eventuais reduções em
redirecioná-las para gastos socialmente mais relevantes, vorável, como a constituição de empresas para registrar ser enfrentadas, como a regressividade do sistema tribu- transferências do RGPS nominadas de previdenciárias
mas somente para melhorar resultados fiscais sem retirar rendas, despesas e patrimônios pessoais tário [“Devido à existência de muitas fontes de renda não sejam direcionadas a segmentos sociais mais carentes;
dos com maior capacidade contributiva. tributáveis (tais como ganhos de capital e dividendos), realizar ampla reforma tributária, que torne o sistema
O relatório do Banco Mundial intitulado Um Ajuste a tributação sobre a renda pessoal não afeta os ricos de progressivo; elevar a qualidade do gasto público, em
Precisamos desconstruir a ideia de que os níveis de Justo, encomendado pelo governo e recentemente divul- maneira adequada.” p.35] e os altos custos financeiros particular os alocados em educação, ciência, tecnologia
taxa de juros no Brasil seriam como uma lei da natureza. gado, tendo como proposta analisar os gastos primários, do setor público brasileiro [“O nível de reservas inter- e inovações, caminho mais promissor para o almejado
Por um lado, não é verdade que se pratica a mínima exi- apresenta, como principal conclusão, que o governo bra- nacionais também é bastante alto para padrões interna- desenvolvimento socioeconômico.
gida pelo mercado para financiar a dívida pública, pois, sileiro gasta mais do que pode e, além disso, gasta mal. cionais, o que acarreta um custo fiscal significativo. (...)
se assim fosse, a taxa básica real, para um ano por exem- Com isso, recomenda uma série de medidas destinadas a Seria importante estudar cuidadosamente se há escopo CONSELHO FEDERAL DE ECONOMIA
N
com o desemprego caindo, o volume de emprego au- “O investimento caiu muito nos últimos anos por
os anos de 2015 e 2016 a “Mas são muitos os fatores que im- professor da FGV. “Quando se sai mentando, mas com precarização das relações de tra- causa de pouco investimento público, principalmente
economia brasileira viveu pedem uma retomada do crescimen- de uma recessão como a que o Brasil balho. O salário não cresce tanto. O desemprego cai, petróleo e gás. A incerteza de um ajuste permanente ten-
um período de forte reces- to sustentável. É preciso um aumen- enfrentou, os primeiros empregos a mas não são empregos seguros ou com remuneração de a provocar o adiamento de decisões de investimentos
são, no qual a atividade econômica to dos investimentos e expansão da reagirem são os por conta própria e adequada”. de maior porte”, analisa o ex-ministro Barbosa. “Tanto
acumulou uma queda superior a capacidade produtiva, não apenas a informais. Na sequência vem o em- o investimento quanto o emprego têm recuperação lenta
7,2%. Embora alguns sinais de re- ocupação da capacidade ociosa. Es- prego formal”, aponta o secretário Outro indicador bastante afetado pela recessão foi o porque exigem um compromisso de anos. E os inves-
cuperação já possam ser sentidos, tamos em fase de estabilização, não de acompanhamento econômico do investimento. No terceiro trimestre de 2013 a taxa de timentos foram muito atingidos pelo setor imobiliário,
indicando que o fundo do poço pode de retomada”. Ministério da Fazenda, Mansueto investimento nominal era de 21,52% do PIB. Embora que está muito fraco e que vai demorar para recuperar,
ter ficado para trás, o crescimento Almeida. vários economistas afirmem que o número está aquém caiu muito, ficou ocioso”, avalia Porto Gonçalves.
econômico de 2017 foi bastante mo- Enquanto alguns indicadores
desto e ainda há um longo caminho iniciaram uma recuperação, outros
a percorrer para que a atividade eco- atravessaram o ano de 2017 pati-
nômica retorne ao nível pré-crise. A nando. É o caso do emprego: houve
produção industrial é um exemplo: meses de aumento e de redução dos
apresentou crescimento de 2,5% no postos de trabalho com carteira as-
ano passado, mas nos três anos an- sinada, segundo dados do Cadastro
teriores havia acumulado um tombo Geral de Empregados e Desempre- “Quando se sai de uma
de 16,7%. gados (Caged). Ao final de 2017, o recessão como a que o Brasil
saldo foi de uma perda de 20.832 enfrentou, os primeiros
“Estamos vivendo uma recupera- empregos. Embora o número seja empregos a reagirem são os
ção cíclica. Como a economia caiu negativo, é bastante menor que o por conta própria e informais.
demais, agora volta ao nível mé- 1,32 milhão de postos de trabalho O desemprego cai, mas não
dio”, aponta o economista Nelson fechados em 2016. são empregos seguros ou com
Barbosa, professor da Fundação remuneração adequada”.
Getúlio Vargas (FGV) e ex-ministro “O comportamento do emprego Nelson Barbosa
do Planejamento e da Fazenda no é lento na recuperação da economia
governo Dilma Rousseff. Ele aponta porque há muitos encargos e o em-
que a recuperação ganhou força no presário deve pensar bastante antes
final de 2017, com crescimento no de contratar alguém”, explica o eco-
consumo e nas vendas do comércio. nomista Antonio Porto Gonçalves,
8 Economistas - nº 26
27 - Out/Dez
Jan/Mar - 2017
2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 9
A inflação, medida pelo Índice de Preços ao demandas políticas, são mais de 30 ministérios, o que Para Barbosa, o principal problema do Brasil é
Consumidor Amplo (IPCA), foi de 2,95% em 2017. é pouco usual no mundo”, aponta o professor Porto institucional: “As instituições não funcionam e há
Pela primeira vez desde a adoção do regime de metas Gonçalves. “Há uma fraude enorme na previdência tanto superposição de poderes, com interferências na área
de inflação, em 1999, o resultado do ano fica abaixo da em relação a receita quanto ao benefício, talvez nem do outro. Desde 2016 o que vale no passado pode ser
meta estabelecida. Isso porque a margem de tolerância, precisasse de reforma se não houvesse essas fraudes”. ilegal no futuro, com aplicação retroativa de novas
que anteriormente era de 2 pontos percentuais, passou teses, gerando incertezas para o setor privado e o
a ser de 1,5 ponto, e a meta para 2017 era de 4,5%. A Mansueto Almeida acredita que a relação dívida bruta/ governo. Assim o mercado e o Estado não funcionam
inflação baixa permitiu que a taxa básica de juros fosse PIB pode permanecer em 74% do PIB em 2018 e nos bem. Hoje vemos poderes com grande capacidade
reduzida, fechando o ano em 7%. próximos anos. “Mas para que este cenário se realize, é de decisão e nenhum poder de responsabilidade, um
importante que o governo federal cumpra com a emenda desbalanceamento paralisando coisas importantes
“Não há excesso de demanda. do teto dos gastos. Para isso, é essencial a reforma para a economia. Enquanto a crise de governabilidade
Será um ano de inflação da previdência e maior parcimônia na concessão de não for solucionada é difícil o Brasil ter crescimento
controlada, entre 3% e 5%. O aumentos salariais e contratações no serviço público”. sustentável”.
Banco Central tem adotado uma
postura mais independente e a
inflação deve ser dominada. A “A recuperação da construção civil é
taxa de juros baixou bastante, importante, porque havia grande quantidade
mas a redução está no limite, de imóveis em estoque. Com a melhoria da
vai baixar muito pouco além do renda dos consumidores e a queda dos juros,
que já está. Com a segurança o estoque já diminuiu bastante. O próximo
na economia, os juros fixados passo é a retomada do investimento no setor”.
ficam melhores”. Mansueto Almeida
Antonio Porto Gonçalves.
Mansueto Almeida vê uma redução nesta ociosidade: As eleições de outubro são um componente importante
“A recuperação da construção civil é importante, porque no cenário de 2018. Os brasileiros elegerão deputados
havia grande quantidade de imóveis em estoque. Com estaduais e federais, senadores, governadores e
a melhoria da renda dos consumidores e a queda dos presidente – e nenhum político com intenções de eleger-
juros, o estoque já diminuiu bastante. O próximo passo se quer tomar medidas impopulares às vésperas do
é a retomada do investimento no setor”. O economista sufrágio. As medidas econômicas tomadas nos últimos
acredita numa recuperação generalizada já em 2018 quatro anos – desde o ajuste fiscal realizado ainda no
e menciona o crescimento na produção industrial e governo Dilma, passando pela PEC do teto de gastos
no comércio varejista após três anos de queda destes e pela reforma trabalhista e chegando até a reforma da
indicadores. E o resultado previsto na agricultura é bom. Previdência – estarão no centro da discussão eleitoral.
“Apesar de o IBGE esperar uma safra 6% inferior à de
2017, o resultado esperado para 2018 (226,1 milhões de “A ideologia permeia o debate político, mas acredito
toneladas) é o segundo maior da série histórica iniciada que a ideologia do Brasil deveria ser a de modernização
em 1975”, afirma Almeida. A safra de 2017 marcou do governo, do estado, da estrutura tributária. O Brasil
um recorde no país e ajudou a reduzir os preços dos tem uma área tributária completamente equivocada,
alimentos. uma bagunça de impostos. O setor público responde às
A T
um ambiente de fortes incertezas.
rmando Castelar Pinheiro é professor da Univer- ânia Bacelar de Araújo é professora aposen-
sidade Federal do Rio de Janeiro e coordenador tada da Universidade Federal de Pernam-
do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV). buco e sócia da Ceplan Consultoria Eco- 2. Economistas: Quais são os sinais que mostram que a economia pode estar em recuperação? E que ou-
Obteve o grau de PhD em Economia pela Universidade da nômica e Planejamento. Graduou-se em Ciências tros sinais ainda mostram a economia patinando? Quais os riscos de uma frustração do crescimento em 2018?
Califórnia, em Berkeley, e em sua carreira atuou como ana- Econômicas pela Universidade Católica de Pernam-
lista da Gávea Investimentos, pesquisador do IPEA e chefe buco e obteve o Diploma de Estudos Aprofundados ACP: Os sinais de recuperação já estão nas contas há a expectativa de que a difícil situação fiscal vai ser
do Departamento Econômico do BNDES, tendo lecionado (DEA) e o doutorado pela Universidade de Paris I, nacionais, nos indicadores da produção industrial, nas equacionada pelo novo governo a tomar posse em 2019,
nos programas de pós-graduação da PUC-Rio e da Fundação Panthéon-Sorbonne, e em sua carreira exerceu vá- vendas do varejo, na absorção doméstica de máquinas possivelmente com a reforma da previdência e aumen-
Getúlio Vargas (EPGE). rios cargos públicos. e equipamentos, no aumento do emprego e da massa to de tributos. O receio de que isso não ocorra é um
salarial etc. Obviamente, tudo a partir de um patamar dos fatores segurando o investimento, que em condi-
Na entrevista a seguir, Armando Castellar e Tânia Bacelar falam sobre as perspectivas econômicas para o ano de 2018. inicial muito ruim, depois da forte contração de 2015- ções normais deveria crescer 10% ou mais este ano. Se
2016. Também incluiria nesta lista os sinais vindos do houver sinais de que o próximo o governo não vai focar
1. Economistas: O Brasil vem de uma crise na qual enfrentou dois anos de forte recessão e um ano de mercado de crédito, que reforçam a visão de que o con- no ajuste fiscal, a confiança vai cair e, junto com ela, o
crescimento moderado. Há sinais de que uma recuperação expressiva possa ocorrer em 2018? Em caso afir- sumo deve ser o principal suporte da retomada este ano. investimento e o ritmo de recuperação do emprego.
mativo, que setores da economia devem liderar esta recuperação? Estamos iniciando uma fase positiva do ciclo do cré-
dito ao consumo, em que as famílias já completaram, Estamos iniciando uma
ACP: A economia brasileira vai crescer bem mais do que TBA: Não vejo sinais de recuperação expressiva, ou quase, seu processo de desalavancagem financeira. fase positiva do crédito ao
em 2017. Até certo ponto, o que veremos neste ano é uma apesar do potencial do país. A chamada “agenda das Com menos renda comprometida com o serviço das consumo, em que as famílias
típica recuperação cíclica, fruto do relaxamento da política reformas”, foco central da atuação do Governo - não suas dívidas, elas tendem a consumir mais e movimen- já completaram, ou quase, seu
monetária, por sua vez facilitado pela queda do preço dos ali- tem impactos relevantes para a dinâmica da econo- tar a economia. Algo semelhante ocorre com as empre- processo de desalavancagem
mentos e desvalorização do dólar. Adicionalmente, há uma mia no curto prazo. O consumo das famílias – que sas, só que mais lentamente. financeira.
importante recuperação da confiança na qualidade da política é a variável com mais peso na demanda agregada –
econômica, que ajuda a estimular o investimento e o consu- não sinaliza retomada forte e os investimentos conti- Há dois grandes riscos. Um é externo: o processo TBA: A maioria das previsões para 2018 apontam
mo. No IBRE estimamos um crescimento de 2,8% do PIB nuam patinando face a um ambiente de fortes incer- de normalização da política monetária nas economias para um crescimento modesto para o potencial do país
em 2018. Pelo lado da oferta, devido a uma forte recuperação tezas. Quem puxou o crescimento modesto de 2017 avançadas pode reduzir o fluxo de capitais para os (em torno de 3%), mas superior ao de 2017. Uma mu-
da indústria (3,7%) e uma retomada, ainda que comparati- foram as exportações – que pesam relativamente emergentes e pressionar o preço dos ativos brasileiros, dança brusca no cenário externo (do Governo Trump
vamente mais modesta, dos serviços (2,4%). Do lado da de- pouco – associadas ao dinamismo da agropecuária reduzindo o espaço para a manutenção de uma políti- pode vir tudo, por exemplo...) e internamente, o proces-
manda, o crescimento será puxado pelo consumo das famílias que liderou o crescimento do lado da oferta (mas ca monetária frouxa. Esse processo pode ser agravado so eleitoral ainda muito indefinido pode embutir surpre-
(3,1%) e formação bruta de capital (5,2%). que também pesa muito pouco no PIB). por uma revalorização do dólar, ainda que esse não seja sas desestabilizadoras.
um cenário provável. O outro grande risco é interno:
ACP: O sistema tributário brasileiro hoje é caótico, ter uma tributação mais focada na renda e no patrimônio
8. Economistas: Qual a sua opinião sobre a reforma de previdência proposta e quais os ajustes e medidas gera um custo excessivo para as empresas e causa inú- e menos no consumo.
corretivas que poderiam ser implementadas na previdência social? meras distorções na alocação de recursos. Além disso,
é regressivo, sendo muito calcado em tributos indiretos, TBA: Uma “agenda de reformas”, tema tão valori-
ACP: Sou a favor da proposta original do governo e homens e mulheres, funcionários públicos e do setor que oneram especialmente o consumo e, portanto, im- zado atualmente, deveria começar pela Reforma Tribu-
lastimo que a sua aprovação, que parecia certa em maio privado, urbanos e rurais etc. Terceiro, o diferencial de pactam desproporcionalmente os mais pobres. Qualquer tária. Ela ajudaria a discutir muitas outras. O sistema
do ano passado, tenha acabado se mostrando inviável idade entre a concessão de benefício previdenciário e simplificação é bem-vinda e ajudará bastante a vida das tributário brasileiro é uma das “máquinas de gerar e
neste governo. Pelo menos debatemos muito o assunto, de benefício assistencial, de forma que trabalhadores de empresas no Brasil. Porém, simplificar é suficiente? Não. reproduzir desigualdades e de dificultar a operação de
como estamos fazendo aqui, e isso é importante. baixa renda que contribuam para a previdência não se- É preciso ter tributos mais neutros, que não distorçam a nossa economia”. Além de atuar como elemento pro-
jam punidos em termos relativos. As medidas corretivas alocação de recursos e prejudiquem a produtividade O motor de desigualdade social é um entrave ao melhor
Eu considero que são três os elementos mais impor- que eu sugiro vão no sentido de respeitar integralmente mundo todo está se movendo para o sistema de Imposto desempenho da economia nacional, dificultando, inclu-
tantes que inspiram a reforma proposta pelo governo, esses princípios, que acabaram sendo afrouxados na ne- sobre Valor Agregado (IVA). Eu, particularmente, acho sive, a competitividade de nossas empresas. Contem
ainda que alguns pontos não tenham sido incluídos des- gociação política. que deveríamos seguir o resto do mundo e migrarmos distorções gritantes (como a isenção de lucros e divi-
sa forma na versão final. Primeiro, a instituição de uma nosso sistema para o IVA, que incida de forma uniforme dendos, as alíquotas muito baixas de impostos sobre a
idade mínima de 65 anos, ajustável para cima conforme Nós temos agora, com as eleições de 2018, uma janela em todos os setores. O risco de não fazermos isso é per- riqueza, enquanto carrega a carga nos que ganham me-
aumente a expectativa de sobrevida nessa idade. Segun- para discutirmos esses temas e decidirmos qual modelo dermos competitividade frente aos nossos pares e, con- nos e nos que produzem bens e serviços...). O ICMS é
do, a unificação das regras para todos os trabalhadores, de previdência queremos e como o financiaremos. Espe- sequentemente, empobrecermos. Além disso, precisamos um despropósito... E por aí vai! Infelizmente, a maioria
A
As famílias reduziram o seu consumo, já a partir de agiotagem, tornado possível pela eliminação do artigo
produtividade sistêmica da nossa economia relativamente pequena pois deveríamos estar mais próxi- 2012 e de maneira mais acentuada em 2013 e nos anos 192º da Constituição que regulamentava o SFN.
depende da adequada alocação de recursos. mos ou acima de 20%, caso fosse utilizada de maneira seguintes, porque se endividaram. O SPC constata que,
Os recursos financeiros em si não representam racional, asseguraria um crescimento acima de 3%, para em 2017, 61 milhões adultos (39% do total) estão ‘ne- Os juros praticados constituem
nada, são hoje sinais magnéticos nessa era do intangível sermos moderados. No entanto, assistimos ao retrocesso gativados’, ou seja, não estão conseguindo honrar os um sistema legal de agiotagem
e do imaterial. Mas permitem sim, dependendo de quem e estagnação impressionantes. Para onde estão indo os re- compromissos de gastos anteriores, que dirá fazer novas tornado possível pela eliminação
os maneja e com que fins, gerar desenvolvimento do país cursos? compras. Estamos falando dos adultos que têm finanças do artigo que regulamentava o
ou levá-lo à estagnação ou à recessão. No nosso caso, no comprometidas, mas se somarmos as suas famílias, esta- SFN da Constituição.
Brasil, conseguimos levar a produtividade dos nossos re- A economia funciona com quatro motores: o mercado mos falando seguramente de mais da metade de popula-
cursos financeiros para o vermelho. O problema tão pro- externo, a demanda das famílias, o investimento e produ- ção brasileira. O aumento do endividamento das famílias As taxas de juros para pessoa jurídica são tão escanda-
palado do déficit e do ajuste fiscal representa apenas um ção empresariais, e o investimento em infraestruturas e está bem documentado. Em janeiro de 2005 o estoque losas quanto as para pessoa física, proporcionalmente. O
fragmento do problema. O sistema financeiro, consistindo nas pessoas (políticas sociais) por parte do governo. No de dívida familiar representava 18,42% da renda mensal, estudo da ANEFAC apresenta uma taxa praticada média
em fluxos, tem de ser visto de maneira integrada. Brasil, o mercado externo, ainda que importante, pesa elevando-se para 43,86% em 2013 e chegando a mais de de 65,92% ao ano para pessoa jurídica, sendo 31,37%
pouco no conjunto. As exportações atingem cerca de 200 46% em 2015. para capital de giro, 37,67% para desconto de duplicatas
Podemos partir de uma cifra básica de referência, o bilhões de dólares, 11% do PIB, nada determinante neste e 149,59 % para conta garantida. Ninguém em sã consci-
nosso PIB de 2017, parado em seus 6,3 trilhões de re- país de grandes dimensões em que o mercado e atividades Em si o endividamento não seria crítico se não fos- ência consegue desenvolver atividades produtivas – criar
ais. Isso nos permite ter ordens de grandeza, uma coisa internas representam basicamente 90% da dinâmica eco- sem as taxas de juros aplicadas sobre essas dívidas. Con- uma empresa, enfrentar o tempo de entrada no mercado
tão simples como o fato de 63 bilhões de reais desviados nômica. Não somos Singapura, nem Taiwan, nem Coreia forme os dados da Associação Nacional dos Executivos e de equilíbrio de contas – pagando esse tipo de juros.
dos processos produtivos representarem 1% do PIB. Uma do Sul. Somos um gigante de 210 milhões de habitantes. de Finanças, Administração e Contábeis (ANEFAC), Aqui, o investimento privado e a produção são direta-
taxa de investimentos de 16% do PIB, como é a que temos Se a economia interna não funciona, o mercado externo que apresenta os juros efetivamente praticados no mer- mente atingidos.
hoje, representa cerca de 1 trilhão de reais. Essa quantia, pode ajudar, como está ajudando agora, mas não resolve.
MOTORES DA ECONOMIA BRASILEIRA – percentual relativo ao PIB
Investimento e produção
Mercado externo: 11%
empresariais: 21%
LADISLAU DOWBOR
Investimento em infraestruturas
Economista e professor titular de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica Demanda das famílias: 60% e nas pessoas (políticas sociais)
de São Paulo. Foi consultor de diversas agências das Nações Unidas, governos e
municípios, além de várias organizações do sistema “S”. Autor e co-autor de cerca de 40
por parte do governo: 8%
livros, toda sua produção intelectual está disponível online na página dowbor.org.
S
Mas o que explica a queda tão significativa da inflação? tender ao longo de 2018 – tem origem na própria queda
abe-se já, a esta altura, muitas coisas sobre 2018. saldo da balança comercial deve ser menor, mas ainda da inflação. Foi a queda da inflação que permitiu certa
Há forte consenso entre os economistas no sen- assim acima de US$ 50 bilhões. As reservas permanecem Em primeiro lugar, a própria recessão, resultado da elevação dos salários reais. Deflacionada pelo IPCA, a
tido que este ano marcará a recuperação da ati- altas e estáveis. O déficit em transações correntes deve combinação entre taxas de juros extremamente elevadas variação do rendimento médio nominal habitualmente
vidade econômica. De acordo com a pesquisa Focus do subir, mas sem que isto se transforme em grande proble- e contenção de crédito de bancos públicos e privados. recebido registrou um crescimento de 2,7% nos últimos
Bacen, a expectativa do mercado para o crescimento do ma, dada a farta liquidez internacional. Esta combinação, que se mostrou letal para o nível de doze meses terminados em novembro de 2017. Como
PIB neste ano passou de 2% em setembro último para atividade, também surtiu efeito sobre os preços. Além da houve também algum crescimento no nível de emprego,
2,7% atualmente. As previsões devem aumentar ainda A expectativa do mercado para recessão, o governo Temer e sua equipe econômica fo- a massa salarial real, calculada a partir da PNAD con-
um pouco e não será surpresa se a expansão alcançar 3%. o crescimento do PIB neste ano ram brindados com uma safra agrícola excepcionalmente tínua, subiu um pouco mais no mesmo período: 3,6%.
Não é grande coisa, mas serve para marcar o fim de um passou de 2% em setembro último volumosa, no rastro de condições climáticas muito favo- Inflação baixa também permitiu o corte de juros. Juros
período muito difícil. A inflação também deve ficar baixa. para 2,7% atualmente. ráveis. No IPCA, o item “Alimentação no Domicílio” mais baixos, por sua vez, no contexto de aumento da
A previsão é de um IPCA em torno de 4%, número mais despencou de uma variação positiva de 9,4% em 2016 massa salarial, redundaram em queda da inadimplência,
alto que em 2017, mas ainda assim ameno. Pelo lado das Parece tudo muito bem, mas esta é uma visão super- para uma queda de nada menos que 4,9% no ano pas- que recuou de 3,7% em dezembro de 2017 para 3,2% em
contas externas, também não se vislumbra turbulência. A ficial do que nos aguarda. Para analistas mais entusias- sado. O feijão mulatinho roubou a cena: seu preço caiu dezembro de 2017, a taxa mais baixa em vinte e cinco
economia mundial deve continuar crescendo (3,9%, de mados, a melhoria atual que contrasta com o quadro de 44,6% no ano passado, depois de ter subido 102% em meses. Menor inadimplência também estimulou o cres-
acordo com o FMI), o que sempre facilita nossa vida. O penúria econômica de 2015-2016 está a refletir a mudan- 2016. Vamos aqui convir que a queda de preço do fei- cimento de novas concessões de empréstimos. O volume
jão mulatinho não tem nada a ver com a habilidade do de crédito concedido para pessoas físicas até novembro
Banco Central ancorar expectativas. De forma análoga, de 2017 cresceu 4,75% em termos reais. .
o crescimento do produto não pode ser automaticamente
associado à recuperação das expectativas que sobreveio Tudo isto significa que sabemos que 2018 será um ano
à instauração do governo Temer. . de recuperação, mas sabemos pouco além disso. Para
evitar que o crescimento que vivemos hoje seja mais que
Estamos diante de uma um ‘voo de galinha”, é preciso que enfrentemos a crise
recuperação cíclica – os fiscal. Em que pese o discurso triunfalista do governo, há
condicionantes para uma ainda muito a ser feito para enfrentar esta questão essen-
recuperação sustentada do cial, até porque sequer existe consenso sobre a gravida-
LUÍS EDUARDO ASSIS emprego e da renda ainda não de do problema. Mesmo a instituição de um teto de gas-
*Economista. Foi diretor de política monetária do Banco Central estão colocados. tos está longe de ser a solução. Pouco adianta limitar por
e professor de economia da PUC-SP e da FGV-SP decreto o crescimento das despesas públicas. Convivem
disse-lhes que venderia secretamente alguns macacos especialista mundial em bolhas de mercado, cita ser a
por US$ 700 e a notícia se espalhou como um fogo. Bitcoin uma bolha envolta em misticismo tecnológico.
Com efeito, poderia haver um lucro de US$ 300 por cada Dessa forma, como bolha de ativo constitui esquema de
macaco. No dia seguinte o empregado conseguiu vender uma pirâmide na qual os primeiros que nela investem
todos os macacos a tal preço. Os ricos compraram os ganham muito dinheiro porque novos investidores são
ACREDITANDO NO CRÉDITO
bichanos em grandes lotes enquanto os pobres pegaram atraídos ao mercado, e o lucro que os investidores iniciais
dinheiro emprestado de especuladores para fazê-lo. realizam atrai ainda mais gente. O processo pode continuar
Todos cuidaram dos bichos na expectativa da volta do por anos antes que algo, como um teste de realidade ou a Por Roberto Luis Troster
comerciante – o que não aconteceu. Correram então para simples exaustão do pool de otários potenciais, provoque
A
o empregado, mas este também desaparecera. Os aldeões o fim súbito e doloroso da festa.
então perceberam que haviam comprado a US$ 700 cada palavra dinheiro tem muitos sinônimos, como A taxa média do cheque especial
macaco e agora eram incapazes de vendê-los. Como bolha de ativo, o Bitcoin bufunfa, cantante, capim, caraminguá, casca- divulgada na Nota à imprensa do
constitui uma pirâmide na qual lho, cobres, dindim, fundos, gaita, gás, grana, Banco Central (29/01/2018) foi de
Moral da história: o Bitcoin será o próximo negócio os primeiros que nela investem guita, jabaculê, jibungo, metal, mosca, nota, pasta, pa- 323,0%. Entretanto, o custo para o
de macacos. Isto fará muitas pessoas falirem e alguns ganham dinheiro porque novos taca, pecúnia, pila, prata, tostão, tubos, tuncum, vento, tomador foi de 343,4%.
desonestos ricos neste negócio de macacos. É assim investidores são atraídos. verba, vintém e zinco. Apesar de tantos nomes, seu signi-
que isto vai funcionar. Em outras palavras, a historieta ficado é cristalino para todos. Dificultando ainda mais a compreensão, nas informa-
objetiva uma explicação didática de Valor e Demanda. Como meio de pagamento eletrônico não existe uma ções aos clientes, um mesmo número pode significar va-
Alta lucratividade, caracteristicamente uma demanda razão plausível e prática para utilizar a Bitcoin, a não ser Para o custo do dinheiro, a taxa de juros, é diferente. lores bem diferentes. Se um gerente informa a taxa de
inercial retroalimentada e, no fim, muitos irão ficar com o o desejo de anonimato tal e qual nos casos envolvendo Existem muitos critérios para serem determinadas. As ta- 7%, pode se referir a uma aplicação em que a taxa é anu-
“mico”, ou seja, com os macacos. drogas, sexo e outros bens do mercado negro. De xas médias do sistema por modalidade variam de 7% ao al. Já para empréstimos, o padrão é usar a taxa mensal,
pasmar, ainda, que mesmo em conferências sobre essa ano até 401% anuais e taxas de instituições individuais portanto, os mesmos 7% mensais equivalem a 125% anu-
Krugman (2018), mencionando Robert James Shiller, criptomoeda, ela chega a ser recusada como pagamento que podem superar 1.000% ao ano. Algumas são indexa- alizados. No caso da aplicação, o imposto, que varia de
professor de economia da Universidade de Yale (USA), dos participantes! das ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI), ao zero a 22,5%, é descontado do total a ser pago pelo banco
Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), ao Índice e o retorno é menor do que o informado. Já no caso do
Nacional da Construção Civil (INCC), à Taxa de Juros crédito, o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF),
REFERÊNCIAS: de Longo Prazo (TJLP). Seu entendimento é uma tarefa que depende do prazo da operação, é informado depois e
• BAZAN, Vinicius. O que é Bitcoin e como investir? Empiricus. 2018. Disponível em: https://www.empiricus.com.br/artigos/bitcoin/ Acesso complexa para a maioria dos cidadãos. cobrado do cliente, portanto aumenta o custo financeiro,
em 05/01/2018.
• BRANT, Danielle e PORTINARI, Natália. O que são e para que servem as criptomoedas, como a bitcoin? Folha de São Paulo. 25/09/2017.
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/09/1921472-o-que-sao-e-para-que-servem-as-criptomoedas-como-a-bitcoin.shtml
Acesso em 10/01/2018.
• JAKITAS, Renato. CVM proíbe fundo de investir em criptomoeda. O Estado de São Paulo. 13/01/2018, p. B8.
• JAKITAS, Renato. Bitcoin cai abaixo de US$ 10 mil e assusta investidor. O Estado de São Paulo. 18/01/2018, p. B9.
• KRUGMAN, Paul. Bitcoin é bolha envolta em misticismo tecnológico e terminará em desastre”. Tradução de P. Migliacci. Folha de São
Paulo. 30/01/2018. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/colunas/paulkrugman/2018/01/1954613-bitcoin-e-bolha-envolta-em-mis-
ticismo-tecnologico-e-terminara-em-desastre.shtml Acesso em 31/01/2018. ROBERTO LUIS TROSTER
• MING, Celso. O Bitcoin e a história da moeda. O Estado de São Paulo. 19/01/2018, p. B2.
• Muito além do Bitcoin: conheça 10 criptomoedas que competem no mercado. Jornal do Brasil. 21/01/2018. Disponível em: http://www.jb.com. Economista - prêmio Gastão Vidigal, e doutor em economia pela Universidade
br/economia/noticias/2018/01/21/muito-alem-do-bitcoin-conheca-10-criptomoedas-que-competem-no-mercado/ Acesso em 22/01/2018 de São Paulo, foi economista chefe da FEBRABAN e lecionou na USP e PUC-
SP, é autor de livros e artigos, palestrante e consultor de empresas, governos e
• PASTORE, Afonso C. Moedas e criptomoedas. O Estado de São Paulo. 13/01/2018, p. B8.
instituições financeiras, incluindo o Banco Mundial e o FMI.
• VIABA, Wladston. O que é Bitcoin? Um Guia para os Curiosos e Futuros Investidores. Bussola do investidor. 2012. Disponível em https://blog.
Correio eletrônico: robertotroster@uol.com.br
bussoladoinvestidor.com.br/o-que-e-bitcoin/ Acesso em 02/01/2018.
• GLG/TFP – janeiro/2018
Monteiro Neto et al (2017), realizam excelente ba- Federal de 1988, ao sabor das diversas conjunturas eco-
lanço do desenvolvimento territorial recente no Brasil, nômicas e políticas, constituem-se em políticas sociais
no período 2000 a 2015. Inicialmente, apresentam uma com fortes impactos regionais. O Programa de Aposen-
revisão histórica da literatura sobre o tema, na qual se tadoria Rural teve grande impacto na redução da pobreza
A QUESTÃO REGIONAL BRASILEIRA APÓS detêm em determinados períodos em que a questão re- regional, com expressivo impacto na capilarização do
A TEMPESTADE RECESSIVA: UMA AGENDA gional brasileira foi alvo de políticas regionais explícitas consumo de baixa renda.
favoráveis e estruturantes, assim como outros períodos
PARA OS ESTADOS DAS REGIÕES NORTE E em que políticas setoriais e sociais (após a promulgação Os anos 90 foram um período de
da Constituição de 1988), tiveram efeitos expressivos so- baixo crescimento da economia
NORDESTE Por Felipe de Holanda 1
O
ões Norte, Nordeste e Centro Oeste, a partir do II PND quilíbrios locais.
tema dos desequilíbrios regionais voltou a Avaliando-se pela hipótese da convergência da renda per (1973-77)3, e que maturaram no final da primeira metade
se evidenciar na federação brasileira, após a capita, um dos mais relevantes indicadores-síntese uti- da década de 1980, são exemplos de políticas setoriais A CF de 1988 também estabeleceu o Sistema de Trans-
profunda crise recessiva ocorrida entre 2014 lizados na literatura especializada2, após mais de meio com impacto expressivo na redução de disparidades re- ferências Constitucionais, base da mais destacada fonte
e 2017, ampliando seu peso como elemento do núcleo século de políticas explícitas, os desequilíbrios regionais gionais de recursos para investimento público e privado, nas re-
central da problemática do desenvolvimento nacional. continuam acentuados no Brasil (Mapas 1 e 2). giões incentivadas, que correspondem a 3% do produto
Há que se considerar também, o efeito ampliador das da arrecadação conjunta do Imposto de Renda e do Im-
MAPAS DE DENSIDADES DA RENDA PER CAPITA REGIONAL BRASILEIRA, COM OS RESPECTIVOS
disparidades regionais das políticas de orientação neo- posto sobre Produtos Industrializados. Deste total, cabe
COMPARATIVOS PERCENTUAIS EM RELAÇÃO AO PIB PER CAPITA NACIONAL, 1959 E 2015.
liberal intensificadas durante os Governos de Fernando ao FNO 0,6%, ao FCO 0,6% e ao FNE 1,8%4.
PIB per capita regional/ PIB per capita regional/ Henrique Cardoso (1995-2002). Para os autores em tela,
média nacional Nordeste média nacional Nordeste
(em %) (36,9%) (em %) (51,2%) os anos 90 foram “um período de baixo crescimento da Além das políticas regionais explícitas, configuradas
Norte Norte
(40,4%) (62,6%) economia brasileira e de retorno à preocupação do agra- sobretudo pelo Sistema de Transferências Constitucio-
Brasil 100% Brasil 100%
vamento dos desequilíbrios locais. (...) Vários estudiosos nais, Monteiro et al (2017) chamam atenção para o fato
36,9 51,2
passaram a especular, neste momento, sobre o aumento de que, nos primeiros quinze anos do século, configu-
40,4 62,6
70,6
Centro-Oeste
117,6
Centro-Oeste das disparidades, depois de um breve interregno, entre raram-se condições muito favoráveis para que as políti-
(70,6%) (117,6%)
96,6 Sudeste 128,0 Sudeste 1970 e 1985, de convergência regional até mesmo a te- cas sociais contribuíssem para a redução do gap do PIB
154,7 (154,7%) 128,8 (128,8%)
mer pela existência de um fenômeno novo, de fragmenta- per capita, além de indiscutíveis ganhos no que tange à
Sul Sul
Fonte: IPEA, IBGE.
(96,6%) 1959 (128%) 2015 ção da nação.” (MONTEIRO, et al, 2017, p. 40). escolarização e saúde das parcelas mais desfavorecidas
das populações dos Estados do Norte e Nordeste. Regis-
Os programas de Seguridade e de inclusão sócio pro- trou-se, no período 2000 a 2012, um crescimento real
dutiva, que foram sendo formulados após a Constituição do salário mínimo superior em 70% à inflação oficial do
1
Presidente do Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos – IMESC. O autor agradece o diligente apoio dos pesquisadores do IMESC Erivam de Jesus Rabe-
lo Pinto Junior, João Carlos Souza Marques e Carlos Eduardo Abdalla, na pesquisa de dados e no apoio à preparação das tabelas, gráficos e mapas.
FELIPE DE HOLANDA
2
Barros (2011) apresenta e testa a consistência do indicador-síntese da renda per capita e de sua convergência, como indicador de desenvolvimento regional.
Conselheiro Federal do Cofecon, é graduado em Economia pela Faculdade de Economia
3
O 2º Plano Nacional de Desenvolvimento, foi implantado durante o governo do general Ernesto Geisel, (1973-77), embora vários dos grandes projetos de infraestrutura nas regiões
e Administração da Universidade de São Paulo e em Ciências Sociais pela Faculdade de incentivadas só foram maturar no final da primeira metade da década de 1980, a exemplo da Complexo Porto do Itaqui/ Estrada de Ferro Carajás/ ALUMAR).
Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e mestre em Economia
pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (1997). É presidente do 4
Tal base perdeu densidade financeira ao longo da década de 1990 e primeira metade da década de 2000, uma vez que o Governo federal passou a privilegiar fontes de arrecadação
não partilhadas pelos Estados e Municípios, principalmente sob a forma de contribuições sociais. A partir de 2007, sob a orientação da Nova Política de Desenvolvimento, PNDR I,
Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (Imesc). tais fundos passaram a crescer acima da taxa de crescimento do PIB e da Arrecadação federal.
5,0
4,6
Tabela 2. Brasil e Regiões: % da População Extremamente Pobre na População Total 4,5
e Montante e Variação % dos Contingente de Ext. Pobres em 1996 e 2016 (pessoas)
4,0 4,0 4,0 4,0
Região 1996 2001 2011 2014 2015 2015 2016 2016 2016-2015 2016-2015 3,9
(%) (%) (%) (%) (Ext. (%) (Ext. (%) (Ext. (% a.a.) 1,9 3,7
3,5 3,5
Pobres) Pobres) Pobres)
Norte 12,26 13,93 10,48 6,16 592.036 3,39 888.442 5,02 296.406 1,63 3,2 1,4
1,8 1,9
3,0 1,9 3,0
Nordeste 32,25 31,23 13,24 8,74 3.220.402 5,69 3.882.390 6,82 661.988 1,13 2,9 1,6
2,8 1,4
Sudeste 6,53 7,49 2,47 1,88 1.210.757 1,41 1.031.391 1,19 -179.366 -0,22 2,6 1,1 2,6 2,6 2,6
2,5
Sul 9,32 8,25 2,49 1,53 336.411 1,15 213.978 0,73 -122.433 -0,42 0,9 1,0 1,2
1,1 0,9 2,3
Centro-Oeste 8,91 8,22 2,23 1,15 217.587 1,41 144.661 0,92 -72.926 -0,49 0,8 1,0
1,1 1,0
2,0 0,7
Brasil 14,8 14,80 6,12 4,04 5.577.193 2,73 6.160.861 2,99 583.668 0,26 0,8
0,7 0,6
0,7 0,8 0,9 0,7
1,5 1,0 1,0
Fonte: IPEA/ IBGE 0,8 0,7
0,8
0,6 0,8 1,0
0,7 0,8 1,0 0,6
5
- Definidos conforme metodologia do IPEA, do IBGE e da CEPAL, que mensura a cesta mínima de necessidades de consumo calórico como limiar para a classificação daqueles que 1,0 0,9 0,9 0,5
estejam abaixo da linha de extrema pobreza. 0,7
0,9 0,7 0,6
0,7 0,7 0,7
0,7 0,7 0,5 0,5 0,4
6
- De acordo com a PNAD contínua do terceiro trimestre de 2017, em comparação com o mesmo período do ano anterior, entre as cerca de 1,5 milhão de pessoas que se inseriram no 0,5 0,6 0,6
segmento de ocupados no Brasil naquele interregno, a ampla maioria o fez através de modalidades precárias de relações de trabalho. Considerando essa referência de comparação, foram 0,8 0,7
0,4 0,4 0,4 0,6 0,6 0,5 0,6 0,5
geradas cerca 1 milhão de ocupações classificadas de conta própria, 641 mil empregados sem carteira, 198 mil trabalhadores familiares auxiliares, e 250 trabalhadores domésticos sem 0,3 0,4 0,4 0,3 0,4 0,4
carteira. Vê-se, portanto, que a ainda incipiente retomada do emprego vem se dando exclusivamente a partir de contratações não protegidas pelo estatuto do trabalho. Nos estados do 0,0 0,2 0,2
Norte e Nordeste, o peso relativamente muito maior do trabalho precário vem contribuindo para um movimento de desestruturação do mercado de trabalho mais profundo do que nas
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
demais regiões.
Vê-se, portanto, que houve incontestável reversão do processo de desconcentração regional ocorrido entre 2000 a • POCHMANN, M. Nova classe média? o trabalho na base da pirâmide social brasileira. São Paulo: Boitempo Editora, 2012.
• SUPERINTENDÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO DO CENTRO-OESTE, Relatórios de Gestão e Desempenho Operacional do FNO.
2012, o qual, a partir de 2015, agravado pela tempestade recessiva e pelo aprofundamento da crise fiscal nas três esferas
Disponível em: <http://www.sudeco.gov.br>. Acesso em: 15 fev 2018.
de Governo, vem dando sinais de reversão e de expressiva piora dos desequilíbrios regionais na federação brasileira. • TESOURO NACIONAL. Transferências Constitucionais Ilegais. Disponível em < www.tesouro.fazenda.gov.br>. Acesso em 15 fev 2018.
Fonte: Monteiro Neto et alii (Metodologia); Relatórios de Gestão e Auditoria da SUDECO (FCO); Relatórios de Auditoria do BASA (FNO); Ministério da Integração, BNB (FNE); • MARQUES, J. C. S. Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste – FNE e Desenvolvimento Regional: o caso do estado do Maranhão
BNDES (desembolsos); Ministério do Desenvolvimento Social (Programa Bolsa Família - PBF + Programa de Benefícios de Prestação Continuada - PBC). * projeções com base nos (2006-2015). Universidade Federal do Maranhão. (Monografia) São Luís, p. 102. 2017
resultados até julho de cada fundo ponderados pelo resultado FNE para nivelar a sazonalidade.
A
alização da etapa local. As melhores dinheiro. A partir de 2017, no entan- Central, do Ministério da Fazenda e
Educação é um pilar fundamental para o desen- O Cofecon tem expandido sua duplas de cada estado se classificam to, há uma nova premiação em jogo. do Instituto de Pesquisa Econômica
volvimento de qualquer sociedade. Com essa atuação nos últimos anos, com para a etapa nacional, que acontece Além da recompensa financeira, Aplicada (IPEA). “Nos três dias em
visão, o Conselho Federal de Economia (Cofe- o lançamento de novos projetos, durante os grandes eventos anuais do agora a dupla campeã da etapa Brasília, respiramos história e pude-
con) desenvolve diversos projetos que estimulam a dis- como o Desafio Quero Ser Econo- Sistema Cofecon/Corecons, sendo o nacional também ganha uma via- mos conhecer as instituições dos so-
seminação do conhecimento econômico e a produção de mista e a amplificação de projetos Congresso Brasileiro de Economia gem a Brasília. Os vencedores da nhos de boa parte dos estudantes de
estudos e pesquisas que contribuam com a área da Eco- já consolidados, como a Gincana (CBE) nos anos ímpares e o Simpó- Gincana 2017, Franklin Zummach e Economia. Em especial, pela minha
nomia. Esse trabalho visa alcançar não somente os econo- Nacional de Economia. sio dos Conselhos de Economia (Sin- Johnny Monteiro, da Universidade inclinação à pesquisa, destaco a vi-
mistas, mas também os estudantes de Ciências Econômi- ce) nos anos pares. Regional de Blumenau (FURB), tive- sita ao IPEA. Sem dúvida, a viagem
cas e até mesmo os alunos de Ensino Médio, que estão na “O trabalho da Comissão de Educação tem em sua ram essa experiência. Os campeões tornou nossa formação como futuros
fase de decisão sobre qual carreira seguir. perspectiva o presente e o futuro da profissão no país. É Logo, participar de uma Gincana visitaram locais como a Esplanada economistas mais completa”, reflete
por isso que nossos projetos abrangem não somente eco- Nacional de Economia se traduz em dos Ministérios, a Praça dos Três Franklin Zummach.
Ampliar a participação de estudantes, bacharéis em nomistas, como também estudantes de Ciências Econô- uma experiência única para os com- Poderes, o Palácio Itamaraty, o Me-
Economia e economistas no Sistema Cofecon/Corecons micas e alunos de ensino médio. Nossas ações têm o ob- petidores, que têm a oportunidade de morial JK e a Torre de TV, que conta A visita ao IPEA teve um diferen-
é um dos objetivos estratégicos da autarquia. Os projetos jetivo de valorizar a comunidade acadêmica e estimular conhecer estudantes de outras regiões com uma vista panorâmica da cidade. cial. Além de conhecerem a sede da
educativos, além de fomentar a produção de conhecimen- suas produções. Acredito que se os estudantes notarem o e se relacionar com os mais renoma- “A oportunidade de conhecer Brasí- instituição, os campeões da Ginacana
to econômico no país, constroem pontes que ligam o Sis- trabalho do Sistema Cofecon/Corecons mesmo antes de dos economistas do país que partici- lia foi muito enriquecedora. Tivemos 2017 tiveram a oportunidade de par-
tema Cofecon/Corecons ao seu público-alvo. A Comissão se formarem, eles certamente terão mais segurança e con- pam do evento. o privilégio de visitar as instituições ticipar de um bate-papo com o eco-
de Educação é responsável por planejar e executar os fiança no órgão que regulamenta a futura profissão deles”,
diversos projetos educativos do Sistema. Entre suas atri- reflete Denise Kassama, coordenadora da Comissão de
buições está a promoção de mecanismos que estreitem a Educação do Cofecon.
relação do Cofecon com as universidades que oferecem o
curso de Economia, cursinhos e escolas de ensino médio Gincana Nacional de Economia
do País. A partir dessa diretriz, o Cofecon tem expandido
sua atuação nos últimos anos, com o lançamento de no- Os graduandos em Ciências Econômicas têm a opor-
vos projetos, como o Desafio Quero Ser Economista e a tunidade de entender a conjuntura econômica de um país
amplificação de projetos já consolidados, como a Gincana por meio de uma simulação prática e inteligente. Esse é o
Nacional de Economia. propósito central da Gincana Nacional de Economia. Os estudantes Franklin e Johnny na cerimônia de premiação, em Belo Horizonte, e visitando Brasília.
N
os últimos anos, o Brasil a solução mais assertiva para essa Visconde de Cairu, da Faculdade
experimentou uma grande circunstância. As mudanças neces- de Economia, Administração e Con-
expansão do acesso ao en- sárias envolvem, principalmente, tabilidade da Universidade de São
sino superior, entretanto, em relação aspectos institucionais e estruturais. Paulo encontrou em seus arquivos
à melhoria do ensino básico, os avan- De acordo com Ganimian e Murnane um registro histórico – a tese do II
ços pouco se manifestam. O exame (2014), incentivos bem desenhados Encontro Nacional dos Estudantes
do Programa Internacional de Ava- têm efeitos positivos no desempenho de Economia (ENECO), que ocorreu
liação de Alunos (PISA, na sigla em de professores e alunos, juntamente em 1973. Um dos pontos mais mar-
inglês) mostrou o baixo desempenho com treinamento específico de do- cantes do texto diz respeito às con-
dos alunos brasileiros nas disciplinas centes para prepará-los para alcançar clusões sobre a educação brasileira,
de leitura, matemática e ciência, fi- níveis minimamente aceitáveis de demonstrando, desde aquela época, a
cando respectivamente, nas posições instrução. preocupação dos estudantes de eco-
59ª, 66ª e 63ª entre os 72 países par- nomia com a temática:
ticipantes. Além disso, a forma como o con-
teúdo é ensinado no Brasil conduz os
O Brasil investiu 5,2% do PIB em alunos a serem apenas reprodutores
educação em 2017, todavia, ainda do que leram, mas não os capacita
tem uma das menores taxas de in- a pensarem autonomamente e a so-
vestimento por aluno se comparado lucionarem problemas. Isso explica,
com os países membros da Organi- em grande parte, a péssima perfor-
zação para a Cooperação e o Desen- mance dos mesmos no PISA, visto
volvimento Econômico (OCDE). A que o exame mede a capacidade em
média anual de gasto por aluno no lidar com problemas inéditos que
país, em 2016, foi de US$ 4.328,00 exigem mais do que uma fórmula
contra os US$ 9.317,00 da OCDE. para serem resolvidos e a habilidade
Por outro lado, pesquisas recentes de expressar ideias de forma clara
apontam que o aumento das despe-
sas com educação, por si só, não é Em 2017, o Centro Acadêmico
As atividades
COMPLEXIDADE ECONÔMICA produtivas
têm diferentes
capacidades para
Por: Fernando de Aquino Fonseca Neto gerar crescimento
Conselheiro do Cofecon e Doutor em Economia pela UnB e desenvolvimento.
Destacam-se as com
retornos crescentes
de escala e grande
incidência de
inovações.
LIVRO: COMPLEXIDADE ECONÔMICA
– Uma nova perspectiva para entender a antiga
questão da riqueza das nações. 1ª ed. Rio de Janeiro: QUESTÕES TEÓRICAS E DEFINIÇÕES Atividades com retornos crescentes de escala exibem
Contraponto / Centro Internacional Celso Furtado de também, em geral, fortes externalidades de rede produti-
Políticas para o Desenvolvimento, 2017. Para explicar o desenvolvimento econômico, o Prof. va e economias de aglomeração. Esses retornos crescen-
Paulo Gala, da FGV/SP, identifica a abordagem da com- tes, ao lado das economias de aglomeração, geram forças
plexidade como uma reformulação da antiga tradição centrípetas em relação aos polos já existentes, enquanto
estruturalista, originalmente desenvolvida por Rosens- custos de transporte e menores custos de trabalho e de
AUTOR: PAULO GALA tein-Rodan, Nurkse, Lewis, Singer, Hirschman, Myrdal, fatores fixos fora dos polos geram forças centrífugas. A
Chenery, com sua vertente latino-americana formulada localização das redes produtivas, dentro de um país e em
principalmente na Cepal, destacando-se os trabalhos de outros, dependerá da resultante dessas forças.
Prebisch e Furtado. Para essa abordagem, as principais
referências do autor são Hausmann e Hidalgo, criadores Quanto maiores e mais complexas essas redes, maior
da principal fonte que utilizou, o Atlas da complexidade a tendência de se espalharem em vários países, inclusive
E
econômica1, composto de dados de exportação de 120 em alguns países pobres. Os exemplos clássicos são com-
Esse livro é uma demonstração da capacidade mercializável, e a uma microeconomia que precisa de países, ao longo de 50 anos e aberta em mais de 4.000 putadores, automóveis e aviões, que precisam de uma in-
de contribuição da abordagem heterodoxa, ao rendimentos decrescentes para que os mercados alcan- produtos. finidade de fornecedores e produtores, dentro e fora do
apresentar uma discussão muito mais útil do cem um equilíbrio. país de produção, integrados ao processo produtivo: são
processo de desenvolvimento econômico que o que tem Uma comprovação empírica mais exaustiva da as chamadas cadeias globais de valor. (p.29) Não seria a
conseguido a abordagem ortodoxa, com a sofisticação do Seria muito proveitoso se as correntes do pensamento importância desses setores para o desenvolvimento mera participação nessas cadeias que garantiria um alto
modelo de Solow. O apego da ortodoxia a uma meto- econômico em geral, em alguma medida, aceitassem a econômico foi trazida pelo Atlas, que evidenciou que nível de desenvolvimento econômico a um país.
dologia centrada na hipótese de equilíbrio, inspirada na abordagem da complexidade apresentada no livro, mas países ricos se especializam em mercados de competição
Física, mas que a própria Física, em várias situações, já é justo que se reconheça que ela pertence a uma tradição imperfeita e países pobres, em mercados de competição Não sendo essas capacidades produtivas diretamen-
superou, dificulta formulações como a da complexidade heterodoxa que ficou conhecida como estruturalista, cuja perfeita. (p.25) te observáveis, o Atlas traz indicadores indiretos muito
econômica. Ficam restritos a uma macroeconomia com principal característica seria de que os setores da econo-
1
- Atualmente, encontram-se disponíveis duas bases de dados on line: Atlas of Economic Complexity (http://atlas.cid.harvard.edu/), mantida pela Harvard University e coordenada com
um bem, ou no máximo dois, comercializável e não co- mia importam. a participação Hausmann, e The Observatory of Economic Complexity (https://atlas.media.mit.edu/), mantida pelo MIT e coordenada com a participação Hidalgo.
dutivas, notadamente na acumulação de capital e conhe- Unido no projeto Concorde e o desenvolvimento da Em-
cimento. (p.110) A garantia de contratos, de um bom sis- braer pela Força Aérea Brasileira, todos favorecendo ao
tema jurídico, de direitos de propriedade etc. não criará, desenvolvimento da indústria aeronáutica.
por si só, uma estrutura produtiva complexa. Da perspec-
tiva que defendemos aqui, a evolução institucional surge Em relação às melhores regras e critérios para a políti-
muito mais como consequência do que como causa do ca industrial, o autor indica os propostos por Dani Rodrik,
aumento da complexidade econômica. (p.111) da Harvard University. O Órgão responsável pela política
industrial deve ter status elevado no governo, equiparado
Fundamentais para construção de complexidade em ao do Ministério da Fazenda e do Banco Central, con-
diversos países têm sido os sistemas nacionais de inova- tar com quadros de reconhecida excelência, atuando na
ção, grupos articulados de instituições públicas e priva- presença de mecanismos de transparência e monitorados
das, geradores intensivos de inovações. Nos EUA temos por um titular de alto nível na hierarquia política. Nessas
o setor militar, com grande parte do volumoso orçamen- condições, os setores público e privado podem se apro-
to voltado para aquisição de equipamentos de crescente ximar para procurar juntos as soluções produtivas mais
sofisticação, para uso bélico, mas que geram inúmeras rentáveis e promissoras, com risco de “captura” minimi-
inovações aproveitáveis para fins comerciais, com des- zado. Os incentivos devem contemplar novas atividades,
taque para a indústria aeronáutica, o computador, que ter duração determinada, metas que permitam ser cance-
teve grande desenvolvimento inicial no MIT com finan- lados com rapidez, com custo minimizado, com poten-
ciamento militar, a internet e o GPS. Efeito similar têm cial de beneficiar múltiplos setores e de gerar spill-overs
os gastos da Nasa, os gastos públicos da França e Reino tecnológicos.