Sei sulla pagina 1di 35

Revista do Conselho Federal de Economia – COFECON Ano VIII - Nº 27 - Janeiro a Março de 2018

Perspectivas para 2018:


economistas debatem conjuntura econômica

Entrevista: O fluxo financeiro integrado e a


Perspectivas para 2018 produtividade sistêmica da Economia
Tânia Bacelar e Armando Castellar Ladislau Dowbor
A questão regional brasileira após a Acreditando no crédito
tempestade recessiva: uma agenda para Roberto Troster
os estados das regiões Norte e Nordeste
Felipe de Holanda
EXPEDIENTE SUMÁRIO
PRESIDENTE
Wellington Leonardo da Silva
VICE-PRESIDENTE
Bianca Lopes de Andrade Rodrigues EM 2018, RETOMAR O CRESCIMENTO ECONÔMICO
CONSELHEIROS EFETIVOS COM INCLUSÃO E PROTEÇÃO SOCIAL: O BRASIL NÃO É O
Antônio Corrêa de Lacerda
Antonio Melki Junior
Antonio Ubirajara de Pádua Galvão
MERCADO FINANCEIRO...........................................................................................4
Bianca Lopes de Andrade Rodrigues
Denise Kassama Franco do Amaral
Eduardo Rodrigues da Silva NOTA DO COFECON SOBRE POLÍTICA FISCAL ............................................6
Felipe Macedo de Holanda
Fernando de Aquino Fonseca Neto
Henri Wolf Bejzman
Júlio Flávio Gameiro Miragaya
Maria Auxiliadora Sobral Feitosa
PERSPECTIVAS PARA 2018

Manoel Castanho e Natália Kenupp ......................................................................................8


EDITORIAL
Nei Jorge Correia Cardim WELLINGTON LEONARDO DA SILVA
Nelson Pamplona da Rosa PRESIDENTE
Paulo Brasil Corrêa de Melo ENTREVISTA | Armando Castelar e Tânia Bacelar...................................................... 12
Pedro Andrade de Oliveira
Sérgio Guimarães Hardy
Waldir Pereira Gomes O FLUXO FINANCEIRO INTEGRADO E A PRODUTIVIDADE
Wellington Leonardo da Silva
SISTÊMICA DA ECONOMIA | Ladislau Dowbor................................................... 22

A
CONSELHEIROS SUPLENTES
Arthur Nemrod Menezes Guimarães
Clóvis Benoni Meurer
Evaldo Silva 2018, O ANO QUE VIVEREMOS EM PERIGO | Luís Eduardo Assis............... 28
Henrique Jorge Medeiros Marinho Brasil convive com crises econômicas desde jurídicas quanto das físicas, apropriando-se de parcela
João Bosco Ferraz de Oliveira
Luiz Antonio Rubin CRIPTOMOEDAS E A BITCOIN 1822. Além da atual, foram extremamente relevante do PIB em função disto, e que quase nada
Marcelo Pereira Fernandes
Maria do Socorro Erculano de Lima Por Gílson de Lima Garófalo e Terezinha Filgueiras de Pinho ......................................... 32 graves as ocorridas em 1929, 1973-80, 1990- investe em financiamento para criação da infraestrutura e
Maurílio Procópio Gomes
Paulo Roberto Polli Lobo 92 e 1999-2004. Cada uma delas, enquanto duraram viabilização de empreendimentos produtivos, e mantém
Paulo Salvatore Ponzini ACREDITANDO NO CRÉDITO
Ricardo Valério Costa Menezes seus nocivos efeitos, foi tida como a maior de todos refém o executivo federal em função do extorsivo
Róridan Penido Duarte Roberto Luis Troster ........................................................................................................... 39
Sávio de Jesus Tourinho da Cunha os tempos. Não é diferente em relação à atual, cuja preço cobrado para o financiamento da dívida pública.
Sebastião Demuner
Wilson Roberto Villas Boas Anuntes origem remonta, entre outras razões, a 2008, com o
A QUESTÃO REGIONAL BRASILEIRA APÓS A TEMPESTADE
CONSELHO EDITORIAL desmoronamento da ciranda financeira e hipotecária A bem da verdade, é importante registrar que este
Wellington Leonardo da Silva (Coordenador) RECESSIVA: UMA AGENDA PARA OS ESTADOS DAS REGIÕES
Antonio Corrêa de Lacerda construída a partir do sistema imobiliário americano, cenário também se agrava pela letargia da sociedade,
Antônio de Pádua Ubirajara e Silva NORTE E NORDESTE | Felipe de Holanda ............................................................ 44
Denise Kassama Franco do Amaral tendo seus reflexos espalhados pelo mundo a partir cujos esforços para exigir a adequada regulamentação do
Dércio Garcia Munhoz
Eduardo José Monteiro da Costa EDUCAÇÃO NO FOCO DO COFECON | Júlio Poloni ....................................54 das interconexões do sistema financeiro mundial e das sistema financeiro nacional são praticamente inexistentes.
Fernando de Aquino Fonseca Neto
Felipe Macedo de Holanda economias. Mesmo as anteriores, em sua quase totalidade,
Gilson de Lima Garófalo
EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL: UM LONGO CAMINHO A SER
José Luiz Pagnussat contaram com forte contribuição de origem externa. Os argumentos e dados trazidos a lume por
Júlio Miragaya
PERCORRIDO............................................................................................................... 58
Luiz Carlos Delorme Prado nossos colaboradores são de qualidade impar,
Roberto Bocaccio Piscitelli
Róridan Penido Duarte
COMPLEXIDADE ECONÔMICA
É nesta quadra que nossos articulistas trazem para raramente disponível nos meios de comunicação
Sidney Pascoutto da Rocha
Waldir Pereira Gomes o debate os temas centrais desta edição, os quais tradicionais, e contribuem para a análise técnica
Fernando de Aquino Fonseca Neto .................................................................................... 60
COMISSÃO DE COMUNICAÇÃO
Júlio Miragaya (Coordenador) guardam relação intrínseca com dois dos mais graves de algumas das razões pelas quais o Brasil é uma
Antonio Corrêa de Lacerda
Antonio Melki Jr. entraves para o desenvolvimento brasileiro: os injustos pátria tão injusta e cruel em relação à sua população.
Denise Kassama Franco do Amaral
Felipe Macedo de Holanda desequilíbrios regionais e um sistema financeiro nacional
Jin Whan Oh
Wellington Leonardo da Silva que cobra taxas de juros exorbitantes, tanto das pessoas Desejo a todos os Economistas bom proveito da leitura!
ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO
Natália Kenupp – Assessora de Imprensa
Manoel Castanho – Jornalista
Júlio Poloni – Jornalista
PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO
Lume Comunicação

ISSN 2446-9297

As ideias e informações contidas nos artigos publicados nesta revista são de responsabilidade de cada
autor, não devendo ser interpretadas como endossadas ou refletindo o pensamento do Conselho Federal
de Economia.

2 Economistas
Economistas - nº 24 -- Abril
nº 27 a Junho de- 2018
- Jan/Mar 2017 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 3
Nota do Cofecon

EM 2018, RETOMAR O CRESCIMENTO ECONÔMICO


COM INCLUSÃO E PROTEÇÃO SOCIAL:
O BRASIL NÃO É O MERCADO FINANCEIRO

O
Conselho Federal de Economia tem se posicio- No 22º Congresso Brasileiro de Economia (CBE), re-
nado e defendido a retomada do crescimento alizado em setembro de 2017 em Belo Horizonte (MG),
econômico, condição essencial para a redução com a participação de mais de 1.200 economistas e aca-
da taxa de desemprego e para a elevação da renda na- dêmicos de todo o país, o documento final do evento fri- É imperativo que a
cional. Mas não a qualquer custo, e sim propiciando a sava que “Os bancos e as grandes corporações pretendem vontade soberana
inclusão e a proteção social e promovendo a melhor dis- impor seus interesses ao conjunto da sociedade brasilei- do povo esteja
tribuição da renda e da riqueza. Ocorre que a retomada ra. É imperativo que a vontade soberana do povo esteja acima dos anseios e
do crescimento em curso vem acompanhada de uma per- acima dos anseios e receios do mercado”. receios do mercado
sistente piora dos indicadores sociais. Os empregos que
estão sendo gerados, por exemplo, são essencialmente O que se assiste no cenário brasileiro é a constatação
informais ou precários. de uma enorme pressão do “mercado”, especialmente o
financeiro, sobre a arena política e institucional em suas Após recente decisão proferida pela justiça federal de É sintomático que a condenação veio no momento em
Dessa forma, devemos avaliar se as propostas de refor- diversas esferas. Os últimos acontecimentos no cenário Porto Alegre, as manchetes evidenciaram que a senten- que o governo federal fixou o novo Salário Mínimo em
mas em curso concorrem para a retomada do crescimento político e judiciário evidenciaram a grande influência ça contemplara o desejo do mercado financeiro. É im- R$ 954,00, reajuste de 1,81% (míseros R$ 17,00) que se-
nos termos desejáveis, ou têm sido pautadas apenas pelas que o mercado financeiro tem nas decisões políticas, eco- portante frisar que não só o julgamento em questão mas quer repõe o INPC (2,06%). Trata-se do menor reajuste
demandas do mercado financeiro. É o caso da Reforma nômicas e institucionais. vários atos do Poder Judiciário têm recebido críticas e do SM em 78 anos, desde sua instituição em 1940. De
Tributária, que não pode focar apenas na simplificação ressalvas de diversos juristas respeitados e consagrados. outro lado, os 43 bilionários brasileiros possuem, segun-
tributária, como quer o mercado, que é desejável, mas Ora, o Brasil não se restringe ao mercado financei- O Poder Judiciário não pode ser visto como algo imacu- do a Forbes, fortuna estimada em R$ 549 bilhões, com
insuficiente. Ela deve efetivamente mudar nosso modelo ro. Não pode o interesse econômico de investidores e lado, isento de equívocos e desvios. aumento de R$ 65 bilhões em relação a 2016, ou R$ 1,5
tributário regressivo, que tem sido historicamente o prin- especuladores substituir a vontade de 208 milhões de bilhão a mais cada um, em média.
cipal instrumento de concentração da renda e da riqueza brasileiros, por qualquer que seja. Ao mercado financei- Não só o julgamento em
no país. ro interessa a politização da justiça, a judicialização da questão mas vários atos do Poder O que se requer nesse momento tão grave da vida na-
política ou, mais ainda, a criminalização da política, para Judiciário têm recebido críticas cional é a prevalência dos interesses da população num
A retomada em curso vem que ele reine soberano, e assim, imponha sua agenda de e ressalvas de diversos juristas processo democrático e isento de pressões e constrangi-
acompanhada de uma persistente reformas: previdenciária, tributária, fim da Lei do Salário respeitados e consagrados. mentos do capital financeiro e especulativo.
piora dos indicadores sociais. Mínimo etc.
CONSELHO FEDERAL DE ECONOMIA

4 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 5


Nota Cofecon
para redução das reservas internacionais.” p.37]

NOTA DE POLÍTICA FISCAL Topo da pirâmide: Concordamos que o setor público gasta mal.

A
10% mais ricos Seria muito proveitoso elevar a eficiência des-
política fiscal atual, orientada para reverter o plo, não teria se mantido em torno de 1,7%, de jul/2012 a Gastam 21% de sua renda ses gastos, reduzindo privilégios de castas do
crescimento recente da dívida pública em re- jan/2013 (3,0%, de ago/2017 a dez/2017) sem o mercado em tributos – sendo 10% serviço público; com planejamento mais es-
lação ao PIB, tem descuidado da promoção da deixar de financiá-la. Por outro lado, também não é a taxa em tributos indiretos. tratégico e maior controle nas despesas com
justiça social com medidas de política econômica, pro- mínima exigida para o controle da inflação, pois outros ciência, tecnologia e inovações; priorizando e
postas e adotadas, que oneram os mais pobres mantendo instrumentos podem ser utilizados pelo Banco Central incentivando a elevação da qualidade da educa-
privilégios dos mais ricos. Essa tendência se reflete: (i) para auxiliar e contenção de pressões inflacionárias de ção, seja a prestada pelas instituições públicas
na reforma da previdência como forma de reduzir os flu- demanda. seja pelas privadas beneficiadas com recursos
xos de transferências para segmentos de baixa renda; (ii) públicos; fortalecendo programas de medicina
nos tetos estabelecidos na Emenda Constitucional nº95, Precisamos desconstruir a ideia preventiva, dentre outros. Contudo, repudiamos
obrigando a comprimir gastos sociais; (iii) na manuten- de que os níveis de taxa de juros a estratégia de aumentar a eficiência dos gastos
ção dos custos financeiros da dívida pública ainda desne- seriam como uma lei da natureza. apenas como forma de reduzir o seu montante,
cessariamente altos; e (iv) na não elevação da tributação atingindo gastos sociais e com a promoção do
sobre os mais ricos. No mesmo sentido, não se sustenta o argumento, in- Base da pirâmide: desenvolvimento socioeconômico.
sistentemente colocado pela grande mídia, de que a carga 10% mais pobres
De início, benefício previdenciário no Brasil, para o tributária no Brasil seja demasiada. Carga tributária sobre gastam 32% de Em termos de política fiscal, é essencial
setor privado (RGPS), não deve ser considerado de for- quem? Segundo o IPEA, os 10% mais pobres no Brasil sua renda em identificar as medidas mais apropriadas no cur-
ma estrita, como uma transferência do governo apenas gastam 32% de sua renda em tributos – sendo que 28% tributos – sendo to e no longo prazos. Para não comprometer a
para os que não conseguem garantir o sustento com seu desse total são indiretos, sobre produtos e serviços. Em 28% desse total promoção da justiça social, no curto prazo pro-
trabalho ou capital. Toda a argumentação dos defensores contrapartida, a parcela dos 10% mais ricos da população em tributos põe-se reduzir mais as taxas básicas de juros e
da reforma trata dessa forma, quando essas transferên- gasta apenas 21% de sua renda em tributos, sendo 10% indiretos. o volume de reservas internacionais; retornar
cias, no Brasil, têm função adicional, qual seja, reduzir em tributos indiretos. [Equidade fiscal no Brasil: impac- com o imposto de renda sobre lucros e dividen-
a concentração de renda, funcionando como um imposto tos distributivos da tributação e do gasto social, 2011]. reduzir os gastos primários, identificando como principal dos distribuídos e com a CPMF; eliminar privi-
de renda negativo para os beneficiários que possuem ca- Tais resultados decorrem de maior tributação sobre o a reforma da previdência, como proposta pelo governo. légios abusivos das castas do serviço público, em geral
pacidade laborativa. Claro que existem alternativas me- consumo do que sobre a renda, da ausência de impostos instaladas no legislativo e no judiciário. No longo prazo,
lhores de diminuir as desigualdades, mas o que se pre- que alcancem mais aos ricos e da possibilidade que têm Apesar disso, não deixa de alertar para distorções fis- elaborar uma reforma previdenciária que não aumente as
tende, neste momento, é retirar essas transferências sem de expedientes para obter tratamento tributário mais fa- cais importantes, à margem desses gastos, que precisam desigualdades, no sentido de que eventuais reduções em
redirecioná-las para gastos socialmente mais relevantes, vorável, como a constituição de empresas para registrar ser enfrentadas, como a regressividade do sistema tribu- transferências do RGPS nominadas de previdenciárias
mas somente para melhorar resultados fiscais sem retirar rendas, despesas e patrimônios pessoais tário [“Devido à existência de muitas fontes de renda não sejam direcionadas a segmentos sociais mais carentes;
dos com maior capacidade contributiva. tributáveis (tais como ganhos de capital e dividendos), realizar ampla reforma tributária, que torne o sistema
O relatório do Banco Mundial intitulado Um Ajuste a tributação sobre a renda pessoal não afeta os ricos de progressivo; elevar a qualidade do gasto público, em
Precisamos desconstruir a ideia de que os níveis de Justo, encomendado pelo governo e recentemente divul- maneira adequada.” p.35] e os altos custos financeiros particular os alocados em educação, ciência, tecnologia
taxa de juros no Brasil seriam como uma lei da natureza. gado, tendo como proposta analisar os gastos primários, do setor público brasileiro [“O nível de reservas inter- e inovações, caminho mais promissor para o almejado
Por um lado, não é verdade que se pratica a mínima exi- apresenta, como principal conclusão, que o governo bra- nacionais também é bastante alto para padrões interna- desenvolvimento socioeconômico.
gida pelo mercado para financiar a dívida pública, pois, sileiro gasta mais do que pode e, além disso, gasta mal. cionais, o que acarreta um custo fiscal significativo. (...)
se assim fosse, a taxa básica real, para um ano por exem- Com isso, recomenda uma série de medidas destinadas a Seria importante estudar cuidadosamente se há escopo CONSELHO FEDERAL DE ECONOMIA

6 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 7


Matéria de Capa
Em nota oficial aprovada durante a 682ª Sessão Ple- do ideal ou do que o país necessita, a taxa obtida naquele
nária, o Cofecon alertou para o fato de que “os empre- trimestre estava muito próxima do nível máximo alcan-
gos que estão sendo gerados (...) são essencialmente çado na série histórica iniciada em 1996. Desde então
PERSPECTIVAS PARA 2018 informais ou precários”. A este fator, soma-se a entrada houve uma série de quedas, com alguma alta pontual, e
em vigor da reforma trabalhista sancionada pelo pre- o mínimo histórico foi atingido no segundo trimestre de
Por Manoel Castanho sidente Michel Temer. “A reforma trabalhista aumenta 2017: 15,25% de um PIB que já havia decrescido mais
e Natália Kenupp
a informalidade”, argumenta Nelson Barbosa. “Vamos de 7% nos dois anos anteriores.
ver uma situação parecida com a dos Estados Unidos,

N
com o desemprego caindo, o volume de emprego au- “O investimento caiu muito nos últimos anos por
os anos de 2015 e 2016 a “Mas são muitos os fatores que im- professor da FGV. “Quando se sai mentando, mas com precarização das relações de tra- causa de pouco investimento público, principalmente
economia brasileira viveu pedem uma retomada do crescimen- de uma recessão como a que o Brasil balho. O salário não cresce tanto. O desemprego cai, petróleo e gás. A incerteza de um ajuste permanente ten-
um período de forte reces- to sustentável. É preciso um aumen- enfrentou, os primeiros empregos a mas não são empregos seguros ou com remuneração de a provocar o adiamento de decisões de investimentos
são, no qual a atividade econômica to dos investimentos e expansão da reagirem são os por conta própria e adequada”. de maior porte”, analisa o ex-ministro Barbosa. “Tanto
acumulou uma queda superior a capacidade produtiva, não apenas a informais. Na sequência vem o em- o investimento quanto o emprego têm recuperação lenta
7,2%. Embora alguns sinais de re- ocupação da capacidade ociosa. Es- prego formal”, aponta o secretário Outro indicador bastante afetado pela recessão foi o porque exigem um compromisso de anos. E os inves-
cuperação já possam ser sentidos, tamos em fase de estabilização, não de acompanhamento econômico do investimento. No terceiro trimestre de 2013 a taxa de timentos foram muito atingidos pelo setor imobiliário,
indicando que o fundo do poço pode de retomada”. Ministério da Fazenda, Mansueto investimento nominal era de 21,52% do PIB. Embora que está muito fraco e que vai demorar para recuperar,
ter ficado para trás, o crescimento Almeida. vários economistas afirmem que o número está aquém caiu muito, ficou ocioso”, avalia Porto Gonçalves.
econômico de 2017 foi bastante mo- Enquanto alguns indicadores
desto e ainda há um longo caminho iniciaram uma recuperação, outros
a percorrer para que a atividade eco- atravessaram o ano de 2017 pati-
nômica retorne ao nível pré-crise. A nando. É o caso do emprego: houve
produção industrial é um exemplo: meses de aumento e de redução dos
apresentou crescimento de 2,5% no postos de trabalho com carteira as-
ano passado, mas nos três anos an- sinada, segundo dados do Cadastro
teriores havia acumulado um tombo Geral de Empregados e Desempre- “Quando se sai de uma
de 16,7%. gados (Caged). Ao final de 2017, o recessão como a que o Brasil
saldo foi de uma perda de 20.832 enfrentou, os primeiros
“Estamos vivendo uma recupera- empregos. Embora o número seja empregos a reagirem são os
ção cíclica. Como a economia caiu negativo, é bastante menor que o por conta própria e informais.
demais, agora volta ao nível mé- 1,32 milhão de postos de trabalho O desemprego cai, mas não
dio”, aponta o economista Nelson fechados em 2016. são empregos seguros ou com
Barbosa, professor da Fundação remuneração adequada”.
Getúlio Vargas (FGV) e ex-ministro “O comportamento do emprego Nelson Barbosa
do Planejamento e da Fazenda no é lento na recuperação da economia
governo Dilma Rousseff. Ele aponta porque há muitos encargos e o em-
que a recuperação ganhou força no presário deve pensar bastante antes
final de 2017, com crescimento no de contratar alguém”, explica o eco-
consumo e nas vendas do comércio. nomista Antonio Porto Gonçalves,

8 Economistas - nº 26
27 - Out/Dez
Jan/Mar - 2017
2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 9
A inflação, medida pelo Índice de Preços ao demandas políticas, são mais de 30 ministérios, o que Para Barbosa, o principal problema do Brasil é
Consumidor Amplo (IPCA), foi de 2,95% em 2017. é pouco usual no mundo”, aponta o professor Porto institucional: “As instituições não funcionam e há
Pela primeira vez desde a adoção do regime de metas Gonçalves. “Há uma fraude enorme na previdência tanto superposição de poderes, com interferências na área
de inflação, em 1999, o resultado do ano fica abaixo da em relação a receita quanto ao benefício, talvez nem do outro. Desde 2016 o que vale no passado pode ser
meta estabelecida. Isso porque a margem de tolerância, precisasse de reforma se não houvesse essas fraudes”. ilegal no futuro, com aplicação retroativa de novas
que anteriormente era de 2 pontos percentuais, passou teses, gerando incertezas para o setor privado e o
a ser de 1,5 ponto, e a meta para 2017 era de 4,5%. A Mansueto Almeida acredita que a relação dívida bruta/ governo. Assim o mercado e o Estado não funcionam
inflação baixa permitiu que a taxa básica de juros fosse PIB pode permanecer em 74% do PIB em 2018 e nos bem. Hoje vemos poderes com grande capacidade
reduzida, fechando o ano em 7%. próximos anos. “Mas para que este cenário se realize, é de decisão e nenhum poder de responsabilidade, um
importante que o governo federal cumpra com a emenda desbalanceamento paralisando coisas importantes
“Não há excesso de demanda. do teto dos gastos. Para isso, é essencial a reforma para a economia. Enquanto a crise de governabilidade
Será um ano de inflação da previdência e maior parcimônia na concessão de não for solucionada é difícil o Brasil ter crescimento
controlada, entre 3% e 5%. O aumentos salariais e contratações no serviço público”. sustentável”.
Banco Central tem adotado uma
postura mais independente e a
inflação deve ser dominada. A “A recuperação da construção civil é
taxa de juros baixou bastante, importante, porque havia grande quantidade
mas a redução está no limite, de imóveis em estoque. Com a melhoria da
vai baixar muito pouco além do renda dos consumidores e a queda dos juros,
que já está. Com a segurança o estoque já diminuiu bastante. O próximo
na economia, os juros fixados passo é a retomada do investimento no setor”.
ficam melhores”. Mansueto Almeida
Antonio Porto Gonçalves.
Mansueto Almeida vê uma redução nesta ociosidade: As eleições de outubro são um componente importante
“A recuperação da construção civil é importante, porque no cenário de 2018. Os brasileiros elegerão deputados
havia grande quantidade de imóveis em estoque. Com estaduais e federais, senadores, governadores e
a melhoria da renda dos consumidores e a queda dos presidente – e nenhum político com intenções de eleger-
juros, o estoque já diminuiu bastante. O próximo passo se quer tomar medidas impopulares às vésperas do
é a retomada do investimento no setor”. O economista sufrágio. As medidas econômicas tomadas nos últimos
acredita numa recuperação generalizada já em 2018 quatro anos – desde o ajuste fiscal realizado ainda no
e menciona o crescimento na produção industrial e governo Dilma, passando pela PEC do teto de gastos
no comércio varejista após três anos de queda destes e pela reforma trabalhista e chegando até a reforma da
indicadores. E o resultado previsto na agricultura é bom. Previdência – estarão no centro da discussão eleitoral.
“Apesar de o IBGE esperar uma safra 6% inferior à de
2017, o resultado esperado para 2018 (226,1 milhões de “A ideologia permeia o debate político, mas acredito
toneladas) é o segundo maior da série histórica iniciada que a ideologia do Brasil deveria ser a de modernização
em 1975”, afirma Almeida. A safra de 2017 marcou do governo, do estado, da estrutura tributária. O Brasil
um recorde no país e ajudou a reduzir os preços dos tem uma área tributária completamente equivocada,
alimentos. uma bagunça de impostos. O setor público responde às

10 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 11


Entrevista
Armando Castelar
e Tânia Bacelar

ACP: A economia brasileira vai crescer


bem mais do que em 2017. Do lado da TBA: Não vejo sinais de recuperação expressiva,
demanda, o crescimento será puxado pelo apesar do potencial do país. O consumo das
consumo das famílias (3,1%) e formação famílias – que é a variável com mais peso na
bruta de capital (5,2%) demanda agregada – não sinaliza retomada forte
e os investimentos continuam patinando face a

A T
um ambiente de fortes incertezas.

rmando Castelar Pinheiro é professor da Univer- ânia Bacelar de Araújo é professora aposen-
sidade Federal do Rio de Janeiro e coordenador tada da Universidade Federal de Pernam-
do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV). buco e sócia da Ceplan Consultoria Eco- 2. Economistas: Quais são os sinais que mostram que a economia pode estar em recuperação? E que ou-
Obteve o grau de PhD em Economia pela Universidade da nômica e Planejamento. Graduou-se em Ciências tros sinais ainda mostram a economia patinando? Quais os riscos de uma frustração do crescimento em 2018?
Califórnia, em Berkeley, e em sua carreira atuou como ana- Econômicas pela Universidade Católica de Pernam-
lista da Gávea Investimentos, pesquisador do IPEA e chefe buco e obteve o Diploma de Estudos Aprofundados ACP: Os sinais de recuperação já estão nas contas há a expectativa de que a difícil situação fiscal vai ser
do Departamento Econômico do BNDES, tendo lecionado (DEA) e o doutorado pela Universidade de Paris I, nacionais, nos indicadores da produção industrial, nas equacionada pelo novo governo a tomar posse em 2019,
nos programas de pós-graduação da PUC-Rio e da Fundação Panthéon-Sorbonne, e em sua carreira exerceu vá- vendas do varejo, na absorção doméstica de máquinas possivelmente com a reforma da previdência e aumen-
Getúlio Vargas (EPGE). rios cargos públicos. e equipamentos, no aumento do emprego e da massa to de tributos. O receio de que isso não ocorra é um
salarial etc. Obviamente, tudo a partir de um patamar dos fatores segurando o investimento, que em condi-
Na entrevista a seguir, Armando Castellar e Tânia Bacelar falam sobre as perspectivas econômicas para o ano de 2018. inicial muito ruim, depois da forte contração de 2015- ções normais deveria crescer 10% ou mais este ano. Se
2016. Também incluiria nesta lista os sinais vindos do houver sinais de que o próximo o governo não vai focar
1. Economistas: O Brasil vem de uma crise na qual enfrentou dois anos de forte recessão e um ano de mercado de crédito, que reforçam a visão de que o con- no ajuste fiscal, a confiança vai cair e, junto com ela, o
crescimento moderado. Há sinais de que uma recuperação expressiva possa ocorrer em 2018? Em caso afir- sumo deve ser o principal suporte da retomada este ano. investimento e o ritmo de recuperação do emprego.
mativo, que setores da economia devem liderar esta recuperação? Estamos iniciando uma fase positiva do ciclo do cré-
dito ao consumo, em que as famílias já completaram, Estamos iniciando uma
ACP: A economia brasileira vai crescer bem mais do que TBA: Não vejo sinais de recuperação expressiva, ou quase, seu processo de desalavancagem financeira. fase positiva do crédito ao
em 2017. Até certo ponto, o que veremos neste ano é uma apesar do potencial do país. A chamada “agenda das Com menos renda comprometida com o serviço das consumo, em que as famílias
típica recuperação cíclica, fruto do relaxamento da política reformas”, foco central da atuação do Governo - não suas dívidas, elas tendem a consumir mais e movimen- já completaram, ou quase, seu
monetária, por sua vez facilitado pela queda do preço dos ali- tem impactos relevantes para a dinâmica da econo- tar a economia. Algo semelhante ocorre com as empre- processo de desalavancagem
mentos e desvalorização do dólar. Adicionalmente, há uma mia no curto prazo. O consumo das famílias – que sas, só que mais lentamente. financeira.
importante recuperação da confiança na qualidade da política é a variável com mais peso na demanda agregada –
econômica, que ajuda a estimular o investimento e o consu- não sinaliza retomada forte e os investimentos conti- Há dois grandes riscos. Um é externo: o processo TBA: A maioria das previsões para 2018 apontam
mo. No IBRE estimamos um crescimento de 2,8% do PIB nuam patinando face a um ambiente de fortes incer- de normalização da política monetária nas economias para um crescimento modesto para o potencial do país
em 2018. Pelo lado da oferta, devido a uma forte recuperação tezas. Quem puxou o crescimento modesto de 2017 avançadas pode reduzir o fluxo de capitais para os (em torno de 3%), mas superior ao de 2017. Uma mu-
da indústria (3,7%) e uma retomada, ainda que comparati- foram as exportações – que pesam relativamente emergentes e pressionar o preço dos ativos brasileiros, dança brusca no cenário externo (do Governo Trump
vamente mais modesta, dos serviços (2,4%). Do lado da de- pouco – associadas ao dinamismo da agropecuária reduzindo o espaço para a manutenção de uma políti- pode vir tudo, por exemplo...) e internamente, o proces-
manda, o crescimento será puxado pelo consumo das famílias que liderou o crescimento do lado da oferta (mas ca monetária frouxa. Esse processo pode ser agravado so eleitoral ainda muito indefinido pode embutir surpre-
(3,1%) e formação bruta de capital (5,2%). que também pesa muito pouco no PIB). por uma revalorização do dólar, ainda que esse não seja sas desestabilizadoras.
um cenário provável. O outro grande risco é interno:

12 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 13


3. Economistas: A inflação cedeu em 2017, em grande parte por causa da recessão, o que permitiu que mudando o modelo de financiamento dos investimentos Cabe lembrar que estamos
a taxa de juros fosse reduzida. Qual deve ser o comportamento da inflação em 2018? E qual o limite para a (com menos presença do Estado e aposta mais firme no mudando o modelo de
queda da Selic? Qual o cenário para o comportamento do câmbio? protagonismo do investimento privado) o que embute, in- financiamento dos investimentos
clusive, mudança na cultura dos investidores potenciais, o que embute mudança na cultura
ACP: A inflação ano passado cedeu pela recessão, por de alimentos (1,56%), que vão devolver uma parte da o que não é fácil de fazer num país onde o rentismo avan- dos investidores potenciais.
um forte choque deflacionário de alimentos e pela apre- deflação do ano passado. çou tanto e o discurso liberal esconde grande tradição de
ciação cambial. A safra em 2017 foi recorde, basta olhar demanda pela ação pública por parte dos investidores!
o crescimento que esperamos do setor agropecuário no TBA: Além da recessão, que foi superada em 2017,
ano de 2017, impressionantes 12,6%. Mesmo com uma a queda do preço dos alimentos associada a uma super
boa safra este ano, não veremos condições tão favorá- safra teve papel relevante para a inflação baixa e a atua- 5. Economistas: Em 2017, a geração de empregos, segundo o IBGE, foi, em sua quase totalidade, de in-
veis para a inflação. O câmbio também não deve dar a ção do Banco Central também contribuiu. As projeções formais ou precários. Qual a tendência para 2018? De que forma a reforma trabalhista pode impactar esse
mesma contribuição. O grande diferencial positivo, por apontam para mudanças de rota nesse ambiente, em indicador?
outro lado, será uma inércia inflacionária muito mais fa- 2018. Portanto, a inflação para 2018 está sendo proje-
vorável, por conta da baixa inflação de 2017 (2,95%). tada em termos uma modesta aceleração. Com isso, a ACP: Av recuperação do emprego, mais cedo e mais mo espírito de flexibilização: em geral o emprego e a par-
Selic tende a reduzir seu ritmo de queda. Já o câmbio é forte do que indicava a recuperação da atividade, foi a ticipação na força de trabalho aumentaram, beneficiando
No IBRE esperamos uma inflação de 3,4% em 2018, mais difícil de projetar pois seus determinantes externos boa notícia no mercado de trabalho em 2017. A má notícia especialmente os trabalhadores menos qualificados.
ainda bem abaixo da meta. O aumento em relação a têm muito peso atualmente e a política americana é um foi que isso se deu por conta da alta das ocupações infor-
2017 é devido a um processo natural de retomada do dos riscos importantes a enfrentar nesse ano. Em condi- mais. Em 2018, esperamos uma volta do crescimento do Eu coloco duas ressalvas. A primeira é que os impactos
crescimento econômico, alguma pressão de preços ad- ções normais, não deve ultrapassar muito seu patamar emprego formal, com criação líquida de pouco mais de 1 da reforma dependerão de como o judiciário implemen-
ministrados (5,14%) e a uma pequena volta dos preços atual. milhão de postos de trabalho no Caged, mas ainda longe tará a legislação. Caso os juízes se neguem a aplicar a
de retornar ao pico de formalidade que experimentamos nova lei, coisa que eu duvido um pouco que aconteça,
antes da recessão. A participação das ocupações informais a reforma será pouco eficaz, ou poderá até aumentar o
ACP: Esperamos uma inflação de 3,4% em
2018, ainda bem abaixo da meta. deve continuar subindo, não só este ano, como também contencioso. A minha segunda ressalva é quanto à “pejoti-
TBA: A inflação para 2018 está sendo projetada
em termos uma modesta aceleração. Com isso, a no resto da década. zação”, que pode ter impactos negativos sobre a arrecada-
Selic tende a reduzir seu ritmo de queda. ção tributária; mas eu acho que, tanto o Governo Federal
Quanto à reforma trabalhista, eu sou otimista. Havia quanto o Ministério Público estão de olhos abertos para
uma grande incerteza jurídica, por parte do empregador, evitar que essa prática seja adotada desenfreadamente nas
4. Economistas: A taxa de investimentos passou três trimestres consecutivos abaixo de 16% e atingiu de quanto custaria efetivamente contratar um trabalhador. relações trabalhistas.
16,08% no 3º trimestre de 2017. Há alguma possibilidade de retomada do investimento em 2018 ou a capaci- Basta ver o número de casos novos na Justiça Trabalhista
dade ociosa e a incerteza eleitoral deverão manter o indicador num nível baixo? a cada ano: no setor privado, algo como seis novos casos TBA: O empego foi uma variável muito afetada pela
para cada 100 trabalhadores empregados. Eu acho que a crise atual. O que foi dramático, pois o país vinha de uma
ACP: Haverá, sim, uma volta do investimento em os dois lados: se houver um sinal claro de que as refor- reforma veio, principalmente, para pacificar temas polê- situação anterior de quase pleno emprego (coisa rara no
2018: no IBRE prevemos uma alta de 5,2% da formação mas serão aprovadas em 2019, o investimento pode sur- micos, como horas extras, acordos coletivos, terceiriza- Brasil). No momento, o desemprego vem caindo, lenta-
bruta de capital, o que com um PIB subindo 2,8% signi- preender positivamente, especialmente se as condições ção e outros. A diminuição da incerteza do empregador na mente, e ainda temos 12,3 milhões de desempregados,
fica uma pequena recuperação da taxa de investimento. de liquidez externa (preços de ativos brasileiros etc.) per- hora de contratar permitirá uma mais rápida expansão do o que mostra a gravidade da situação. Mas vale destacar
Porém, o investimento é o componente mais volátil do manecerem tão favoráveis como nesta virada de ano. emprego, principalmente formal. duas tendências recentes: i) o número de desocupados
PIB e o mais afetado pela incerteza. Acredito que seu deixou de crescer, sendo em dezembro de 2017 igual ao
resultado efetivo dependerá bastante das expectativas em TBA: Sua questão embute a resposta. As duas variáveis Também sou otimista por conta da experiência de ou- contingente observado em dezembro de 2016. Entre de-
relação ao processo eleitoral. Obviamente, isso vale para terão grande influência. Mas cabe lembrar que estamos tros países que fizeram reformas trabalhistas com o mes- zembro de 2016 e o mesmo mês de 2017, o número de

14 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 15


forte concentração da renda e da riqueza. Temos várias zação vivida nos anos 80 e com o apoio da Constituição
ACP: Sou otimista por conta da experiência “ maquinas” de geração e alimentação da desigualdade Federal de 1988 esta velha tendência foi se modificando
TBA: Como se não bastasse a crise recente,
de outros países que fizeram reformas
uma macrotendência importantíssima é a de social... Daí sermos uma das sociedades de mais eleva- e várias conquistas melhoraram os indicadores sociais do
trabalhistas com o mesmo espírito
ocorrerem mudanças estruturais profundas
de flexibilização: em geral o emprego
no mercado de trabalho mundial e nacional, dos índices de desigualdade social do mundo. Em finais país. A crise recente foi uma “ducha fria’ nesta trajetória,
e a participação na força de trabalho
aumentaram, beneficiando especialmente
associados principalmente aos novos padrões do século passado, só perdíamos para Honduras e Serra mas tudo indica que a força do DNA vai voltar a operar
técnicos e à hegemonia crescente da geração da
os trabalhadores menos qualificados.
riqueza na esfera financeira.
Leoa nos indicadores de desigualdade, ao mesmo tempo nos próximos anos... A não ser que a força das conquistas
em que o país se colocava entre as maiores, diversificadas ilumine novas lutas e impulsione novas iniciativas.
e dinâmicas economias do mundo. Desde a redemocrati-
ocupados cresceu em 2,7 milhões, mas ii) deve-se destacar cado de trabalho mundial e nacional, associados princi-
que destes, 1 milhão adentrou o mercado de trabalho como palmente aos novos padrões técnicos e à hegemonia cres- 7. Economistas: A economia brasileira precisa de um novo ajuste fiscal? Quais seriam as mudanças
autônomo. Esses números falam por si para indicar em que cente da geração da riqueza na esfera financeira. É nesse estruturais mais apropriadas no curto e no longo prazos? Quais as consequências para a economia brasi-
contexto foi feita a reforma trabalhista: um ambiente alta- ambiente que serão implementadas as novas regras defini- leira da nova lei que limita os gastos não financeiros? E quais os impactos para os mais pobres, que tanto
mente desfavorável aos trabalhadores. Como se não bas- das na Reforma Trabalhista brasileira, donde os impactos dependem dos serviços públicos?
tasse a crise recente, uma macrotendência importantíssima de curto prazo ainda estão sendo apenas sinalizados, mas
é a de ocorrerem mudanças estruturais profundas no mer- os de médio e longo prazo serão muito relevantes.
ACP: O novo presidente terá de enfrentar o problema O gasto público vinha numa trajetória explosiva, que
6. Economistas: A retomada do crescimento vem sendo acompanhada de melhoria ou piora dos indi- fiscal brasileiro. Os gastos públicos vinham crescendo prometia jogar o país numa grande crise, com a volta da
cadores sociais? O Cofecon tem afirmado que “a retomada do crescimento econômico é desejável, mas não há décadas muito acima do PIB, na faixa de 6% ao ano inflação alta, que penaliza especialmente os mais pobres,
a qualquer preço, e sim, preservando e ampliando a inclusão e a proteção social”. O crescimento divorciado acima da inflação, e esse quadro não é sustentável, como como aprendemos no período anterior ao Plano Real.
dessas duas premissas é indesejável ou inexorável? também não é conter o aumento do gasto derrubando o Basta ver que entre 1997 e 2017 o gasto primário da
investimento público. União subiu de 14% para 19,5% do PIB, depois de já ter
ACP: A retomada do crescimento é necessária. Nenhu- por suas prerrogativas, mas confundem os seus interesses aumentado muito entre 1985 e 1996, ainda que para esse
ma sociedade se mantém coesa com o PIB decrescendo com o da maioria da população, em especial daqueles A aprovação da reforma da previdência como proposta período não tenhamos estatísticas inteiramente compatí-
3% ao ano, com uma taxa de desemprego de 12% e com com menor influência no debate político. pelo governo é fundamental, mas possivelmente outras veis com essas que citei.
uma inflação de 10%. O empobrecimento da nação como medidas serão necessárias para colocar o gasto público
um todo é geral num quadro econômico como o viven- Temos de batalhar para fazer reformas que devolvam à e, consequentemente, o endividamento público em uma Uma das consequências disso foi o crescimento ex-
ciado em 2015-16. E nada é mais inclusivo que o cres- nossa economia a capacidade de crescer, principalmente trajetória sustentável de longo prazo. Há uma longa lista plosivo da dívida pública a partir do final de 2013, que
cimento econômico e a baixa inflação. Basta ver o que a capacidade de se tornar mais produtiva. É com o traba- de esquemas de subsídios (financeiros e tributários) que abalou a confiança e ajudou a jogar o país na recessão
aconteceu em 2004-13, quando o crescimento puxou a lhador se tornando mais produtivo que ele poderá elevar precisam ser descontinuados. A desoneração da folha de de 2015-16. A Emenda Constitucional 95, que instituiu o
massa salarial e o rendimento dos mais pobres, promo- sua renda: qualquer coisa fora disso não é sustentável salários, que o IPEA mostrou não ter trazido benefícios, teto dos gastos, foi uma tentativa de recuperar a confian-
vendo uma forte redução da desigualdade. a médio e longo prazo. Temos também de eliminar as também deve ser descontinuada. Também temos de gas- ça dos agentes econômicos e ao mesmo tempo provocar
barreiras que impedem a concorrência entre empresas e tar melhor: na educação, por exemplo, o Brasil gasta mais um debate político mais sério sobre quais as prioridades
Nada é mais inclusivo focalizar melhor nossas políticas públicas, para que os que a maioria dos países da OCDE, como proporção do para o gasto público. Até então, todas as demandas eram
que o crescimento econômico subsídios públicos cheguem àqueles realmente pobres. PIB, mas com resultados bem inferiores. Também sou a acomodadas, como se o céu fosse o limite para o gasto
e a baixa inflação. favor de cobrar de quem pode pagar nas universidades público.
TBA: Talvez esse seja o mais importante desafio da públicas. Por fim, algumas medidas na área da arrecada-
Tenho certeza de que não é isso que o Cofecon tem em sociedade brasileira: combinar crescimento econômico ção, como a tributação de fundos exclusivos, fazem todo Eu acredito que a situação dos mais pobres sem a
mente, mas às vezes vejo esse debate focado nos interes- com melhoria das condições sociais. O nosso DNA carre- sentido e é uma pena que o Congresso ainda não tenha emenda do teto de gastos estaria muito pior, sem a gente
ses de grupos privilegiados, que legitimamente brigam ga outra tendência: combinar dinamismo econômico com aprovado isso. ter saído da recessão e com risco de a inflação estar mais

16 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 17


alta, em vez de mais baixa. Vale também mencionar que a e depois os internos). O déficit operacional é o indica- ro que os políticos sejam honestos no sentido de deixar pela influência do momento político do país. A afirma-
Emenda 95 preservou o valor real das despesas públicas dor que mede o hiato entre despesas e receitas públicas. claro que a dinâmica do gasto previdenciário, se não al- ção de que o foco central eram os “privilégios” foi sendo
com educação e saúde, que não podem subir menos que Mas, hoje, só se fala das despesas primárias e déficit pri- terada pelas leis, acabará sendo equacionada pelo canal questionada, os interesses do setor financeiro no merca-
a inflação. E agora é o momento para elegermos políti- mário, bastando para isso ver a chamada “Lei do Teto” da inflação, e que o custo dos privilégios para alguns é a do de previdência privada foram elemento dificultador
cos identificados com o interesse dos realmente pobres das despesas primárias aprovada em 2017. E as despesas falta de recursos para políticas sociais mais abrangentes para uma mais ampla aceitação das mudanças propos-
e dispostos para isso a sacrificar os privilégios daqueles financeiras??? E as receitas e sua composição??? E as e para investir mais. tas... Uma CPI do próprio Congresso questionou o diag-
que recebem subsídios públicos sem deles precisar. Por renúncias de receitas para favorecer os mais ricos? Não nóstico e a proposta... No final, deixamos para um novo
exemplo, como sugeri acima, se cobrando de quem pode vamos discuti-las? A agenda é muito mais ampla, para TBA: Infelizmente o debate de um tema tão sério momento. O processo de envelhecimento da população e
pagar nas universidades públicas, para que mais dinheiro uma verdadeira discussão sobre a crise fiscal brasileira. foi feito por inciativa de um Governo cuja legitimida- muitas das regras atuais geradoras de privilégios tendem
sobre para a educação básica, onde a proporção de po- A força dos rentistas bloqueia o debate de certas rubricas, de é questionada (posto que não saiu de um processo se a estimular a retomada do debate.
bres é bem maior. a força das corporações de elites específicas trava outras eleição direta, mas de um processo de impeachment que
discussões... e por aí vai...No final, se termina propondo leva ao poder um presidente com baixíssima aprovação A proposta inicialmente enviada
TBA: Esta é uma pergunta muito importante. O Es- cortar gastos com itens estratégicos para atender à popu- popular). Mas, além da questão de quem lidera o debate, ao Congresso foi amplamente
tado brasileiro entra em crise fiscal desde os anos 80 do lação que mais precisaria do Estado, como os gastos com a proposta inicialmente enviada ao Congresso foi am- rejeitada pela sociedade, tanto
século passado, quando deixou de ser superavitário e foi saúde, assistência social e até educação, por exemplo! plamente rejeitada pela sociedade, tanto que o Governo que o Governo não conseguiu
se tornando refém de seus credores (primeiro os externos não conseguiu votos suficientes no Congresso, sobretudo votos suficientes no Congresso.
TBA: Só se fala das despesas primárias e déficit 9. Economistas: Há no Congresso Nacional a discussão sobre reforma tributária, particularmente sobre a
ACP: A Emenda Constitucional 95, que instituiu o primário, bastando para isso ver a chamada “Lei do
teto dos gastos, foi uma tentativa de recuperar a Teto” das despesas primárias aprovada em 2017. A simplificação da estrutura tributária. Isso é suficiente ou não? Seria preciso ir além, mudar radicalmente nosso
confiança dos agentes econômicos e ao mesmo agenda é muito mais ampla, para uma verdadeira modelo tributário, reconhecidamente regressivo? Que alterações poderiam ser feitas?
tempo provocar um debate político mais sério discussão sobre a crise fiscal brasileira.
sobre quais as prioridades para o gasto público.

ACP: O sistema tributário brasileiro hoje é caótico, ter uma tributação mais focada na renda e no patrimônio
8. Economistas: Qual a sua opinião sobre a reforma de previdência proposta e quais os ajustes e medidas gera um custo excessivo para as empresas e causa inú- e menos no consumo.
corretivas que poderiam ser implementadas na previdência social? meras distorções na alocação de recursos. Além disso,
é regressivo, sendo muito calcado em tributos indiretos, TBA: Uma “agenda de reformas”, tema tão valori-
ACP: Sou a favor da proposta original do governo e homens e mulheres, funcionários públicos e do setor que oneram especialmente o consumo e, portanto, im- zado atualmente, deveria começar pela Reforma Tribu-
lastimo que a sua aprovação, que parecia certa em maio privado, urbanos e rurais etc. Terceiro, o diferencial de pactam desproporcionalmente os mais pobres. Qualquer tária. Ela ajudaria a discutir muitas outras. O sistema
do ano passado, tenha acabado se mostrando inviável idade entre a concessão de benefício previdenciário e simplificação é bem-vinda e ajudará bastante a vida das tributário brasileiro é uma das “máquinas de gerar e
neste governo. Pelo menos debatemos muito o assunto, de benefício assistencial, de forma que trabalhadores de empresas no Brasil. Porém, simplificar é suficiente? Não. reproduzir desigualdades e de dificultar a operação de
como estamos fazendo aqui, e isso é importante. baixa renda que contribuam para a previdência não se- É preciso ter tributos mais neutros, que não distorçam a nossa economia”. Além de atuar como elemento pro-
jam punidos em termos relativos. As medidas corretivas alocação de recursos e prejudiquem a produtividade O motor de desigualdade social é um entrave ao melhor
Eu considero que são três os elementos mais impor- que eu sugiro vão no sentido de respeitar integralmente mundo todo está se movendo para o sistema de Imposto desempenho da economia nacional, dificultando, inclu-
tantes que inspiram a reforma proposta pelo governo, esses princípios, que acabaram sendo afrouxados na ne- sobre Valor Agregado (IVA). Eu, particularmente, acho sive, a competitividade de nossas empresas. Contem
ainda que alguns pontos não tenham sido incluídos des- gociação política. que deveríamos seguir o resto do mundo e migrarmos distorções gritantes (como a isenção de lucros e divi-
sa forma na versão final. Primeiro, a instituição de uma nosso sistema para o IVA, que incida de forma uniforme dendos, as alíquotas muito baixas de impostos sobre a
idade mínima de 65 anos, ajustável para cima conforme Nós temos agora, com as eleições de 2018, uma janela em todos os setores. O risco de não fazermos isso é per- riqueza, enquanto carrega a carga nos que ganham me-
aumente a expectativa de sobrevida nessa idade. Segun- para discutirmos esses temas e decidirmos qual modelo dermos competitividade frente aos nossos pares e, con- nos e nos que produzem bens e serviços...). O ICMS é
do, a unificação das regras para todos os trabalhadores, de previdência queremos e como o financiaremos. Espe- sequentemente, empobrecermos. Além disso, precisamos um despropósito... E por aí vai! Infelizmente, a maioria

18 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 19


dos empresários prefere concentrar sua energia na críti- tica à composição da mesma... Assim, a mera simplifi- aos trabalhadores brasileiros. tantos anos e tanto esforço para elevar o crescimento e a
ca ao tamanho da carga tributária (haja visto o famoso cação não basta, embora seja uma diretriz importantís- inflação, como começamos a ver agora.
impostômetro, ou o “pato”), ao invés de enfrentar a crí- sima! É preciso ir mais fundo. TBA: não respondeu.
Quanto à “financeirização”, não há dúvida de que a tec-
ACP: O sistema tributário brasileiro é regressivo, 11. Economistas: De que forma o “Risco Trump” nologia ajuda muito a integração internacional dos merca-
TBA: Só se fala das despesas primárias e déficit
sendo muito calcado em tributos indiretos, que
primário, bastando para isso ver a chamada “Lei do pode influenciar a economia brasileira em 2018? dos e a sofisticação financeira, e essas são tendências que
oneram especialmente o consumo e, portanto,
impactam desproporcionalmente os mais pobres.
Teto” das despesas primárias aprovada em 2017. A Quais as chances de uma crise econômica mundial pu- vão continuar em cena. Basta ver o que tem acontecido
agenda é muito mais ampla, para uma verdadeira
discussão sobre a crise fiscal brasileira.
xada por uma possível elevação da taxa de juros nos com as criptomoedas. Desde que bem regulado, esse pro-
EUA? Uma particularidade do capitalismo nas últi- cesso é positivo e vai ajudar no desenvolvimento da eco-
mas décadas tem sido a sua crescente financeirização e nomia mundial. Eu acho que, após a crise de 2008, houve
10. Economistas: 2018 é um ano eleitoral. Que impacto a eleição tem sobre o PIB? Quais temas econô- um contínuo aumento da concentração da renda e da maior e melhor regulação dos mercados financeiros e que
micos devem estar no centro da campanha presidencial e quais deveriam estar? Que fator é mais importante riqueza. Esse processo tem limites ou é uma tendência ela conseguirá manter o setor financeiro seguro. Agora, é
destravar para que o Brasil possa finalmente sair da crise? do sistema? preciso estar vigilante: no setor financeiro há muita gente
inteligente buscando formas de ganhar dinheiro, inclusive
ACP: A eleição de 2018 ainda está bastante incerta. a reação será positiva. O impacto em 2018 não será muito ACP: Nosso cenário no IBRE assume a permanência dando voltas na regulação ou mudando-a.
Até hoje, não se sabe se o ex-presidente Lula realmente grande, pois a incerteza eleitoral só impactará a economia de um cenário externo benigno, com elevada liquidez nos
não poderá concorrer, como tudo indica, qual será o can- de forma mais significativa no segundo semestre e sua in- mercados internacionais e aceleração do crescimento do Em nível global temos tido uma
didato do governo, se o centro vai se dividir, se aparece- fluência sobre o consumo das famílias, que é o alicerce PIB mundial. Qualquer mau humor externo que eleve a grande redução da desigualdade,
rá um candidato competitivo sem passado na política... da retomada, é menor. Porém, um quadro eleitoral muito aversão ao risco dificulta nossa vida, tanto por afetar nos- com o crescimento mais rápido
Também não se sabe qual será a postura dos candidatos e incerto vai influenciar o investimento e o desempenho de sas exportações, como por diminuir a “complacência” do em países até alguns anos atrás
como suas propostas vão repercutir junto aos eleitores. As 2019. investidor externo com nosso quadro fiscal ruim. Todos pobres, como China, Índia e
pesquisas, claro, dão indicações, mas a intenção de votos esses “Riscos Trump” afetariam a economia brasileira ao Vietnã, por exemplo.
tão antes do pleito é um indicador muito imperfeito. Aumentar a produtividade é tanto mudar o humor dos mercados internacionais. Isso posto, o
a solução para o crescimento impacto de guerras comerciais em que os EUA se envol- O aumento da concentração de renda e da riqueza é um
Espero que nas eleições se discutam temas considera- como para a redução da pobreza. vam e o risco de crises geopolíticas são relativamente pe- problema sério nos países ricos, especialmente nos EUA.
dos polêmicos, como a necessidade de reforma na previ- quenos. O maior risco externo, hoje, é de uma normaliza- Acredito que ele continuará tendo grande influência sobre
dência, o papel do estado na economia, a privatização das Para a crise em si, considero que o fator mais impor- ção da política monetária mal conduzida nos países ricos. a política e que eventualmente haverá algum tipo de trans-
estatais, a reforma do sistema tributário e como resolver tante é equacionar a dinâmica da dívida pública. Em re- formação mais dramática nessas sociedades. A eleição de
a crise da segurança pública. Meu receio, porém, é que lação ao crescimento de médio prazo, o problema maior Eu acho que as chances de crise mundial são muito bai- Trump e o Brexit já são os primeiros sinais disso. Ago-
o populismo prevaleça, seja com a ideia de que o pro- é o baixo crescimento da produtividade que caracteriza a xas, se não zero. Obviamente, um aumento significativo ra, é importante entender que em nível global temos tido
blema fiscal é supostamente fácil de resolver, seja com a economia brasileira desde os anos 1980. Se não fizermos da taxa de juros nos países ricos diminuirá o fluxo de ca- uma grande redução da desigualdade, com o crescimento
proposta de que o autoritarismo é a solução para o difícil a produtividade crescer mais rápido, o Brasil vai estar pital para países periféricos, como o Brasil. Investidores mais rápido em países até alguns anos atrás pobres, como
problema da segurança. condenado a uma semi estagnação da renda per capita, internacionais terão menos apetite para comprar nossos China, Índia e Vietnã, por exemplo. A África também
um empobrecimento relativo, e provavelmente a crises ativos e haverá um risco razoável de que a economia bra- tem crescido acima da média mundial. Tudo indica que
Caso a eleição seja marcada pelo apoio dos eleitores cíclicas recorrentes, como vimos nas últimas décadas. sileira sofra nova contração. Porém, eu não vejo chances esse processo de redução da desigualdade entre países vai
a discursos de extrema direita ou extrema esquerda con- Assim, aumentar a produtividade é tanto a solução para de isso acontecer. Principalmente porque as economias continuar. Além disso, em muitos países como o Brasil e
trários às reformas econômicas, os agentes econômicos o crescimento como para a redução da pobreza. E para dos países ricos também vão sofrer muito com uma ele- outros na América do Sul a desigualdade caiu.
reagirão negativamente. Caso ela seja marcada por apoio elevar a produtividade precisamos gerar ocupações de vação rápida dos juros. É muito pouco provável que os
ao candidato de discurso centrista, de apoio às reformas, produtividade mais alta do que as que hoje são oferecidas bancos centrais desses países permitam isso, depois de TBA: não respondeu.

20 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 21


Artigo
Ladislau Dowbor
No mercado interno o essencial é o segundo motor cado, as pessoas físicas pagavam, em outubro de 2017,
que representa o consumo das famílias, pesando cerca de 132,91% ao ano sobre ‘Artigos do Lar’ nos crediários,
60% no total. Se as famílias não consomem, as empresas 65,35% em empréstimo pessoal dos bancos, 297,18% no
O FLUXO FINANCEIRO INTEGRADO E A não produzem, e ambos setores passam a pagar menos cheque especial e 326,14% no rotativo do cartão. Para
impostos, o que reduz a capacidade de o Estado realizar se ter ordem de grandeza, na França o empréstimo pes-
PRODUTIVIDADE SISTÊMICA DA ECONOMIA investimentos em infraestruturas e em políticas sociais. É soal no banco custa menos de 5% ao ano, os crediários
“O sistema financeiro nacional [será] estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses o círculo vicioso em que nos encontramos travados. raramente ultrapassam 10% ao ano. Os juros praticados
da coletividade. ” - Constituição Federal de 1988, art. 192º
no Brasil constituem simplesmente um sistema legal de

A
As famílias reduziram o seu consumo, já a partir de agiotagem, tornado possível pela eliminação do artigo
produtividade sistêmica da nossa economia relativamente pequena pois deveríamos estar mais próxi- 2012 e de maneira mais acentuada em 2013 e nos anos 192º da Constituição que regulamentava o SFN.
depende da adequada alocação de recursos. mos ou acima de 20%, caso fosse utilizada de maneira seguintes, porque se endividaram. O SPC constata que,
Os recursos financeiros em si não representam racional, asseguraria um crescimento acima de 3%, para em 2017, 61 milhões adultos (39% do total) estão ‘ne- Os juros praticados constituem
nada, são hoje sinais magnéticos nessa era do intangível sermos moderados. No entanto, assistimos ao retrocesso gativados’, ou seja, não estão conseguindo honrar os um sistema legal de agiotagem
e do imaterial. Mas permitem sim, dependendo de quem e estagnação impressionantes. Para onde estão indo os re- compromissos de gastos anteriores, que dirá fazer novas tornado possível pela eliminação
os maneja e com que fins, gerar desenvolvimento do país cursos? compras. Estamos falando dos adultos que têm finanças do artigo que regulamentava o
ou levá-lo à estagnação ou à recessão. No nosso caso, no comprometidas, mas se somarmos as suas famílias, esta- SFN da Constituição.
Brasil, conseguimos levar a produtividade dos nossos re- A economia funciona com quatro motores: o mercado mos falando seguramente de mais da metade de popula-
cursos financeiros para o vermelho. O problema tão pro- externo, a demanda das famílias, o investimento e produ- ção brasileira. O aumento do endividamento das famílias As taxas de juros para pessoa jurídica são tão escanda-
palado do déficit e do ajuste fiscal representa apenas um ção empresariais, e o investimento em infraestruturas e está bem documentado. Em janeiro de 2005 o estoque losas quanto as para pessoa física, proporcionalmente. O
fragmento do problema. O sistema financeiro, consistindo nas pessoas (políticas sociais) por parte do governo. No de dívida familiar representava 18,42% da renda mensal, estudo da ANEFAC apresenta uma taxa praticada média
em fluxos, tem de ser visto de maneira integrada. Brasil, o mercado externo, ainda que importante, pesa elevando-se para 43,86% em 2013 e chegando a mais de de 65,92% ao ano para pessoa jurídica, sendo 31,37%
pouco no conjunto. As exportações atingem cerca de 200 46% em 2015. para capital de giro, 37,67% para desconto de duplicatas
Podemos partir de uma cifra básica de referência, o bilhões de dólares, 11% do PIB, nada determinante neste e 149,59 % para conta garantida. Ninguém em sã consci-
nosso PIB de 2017, parado em seus 6,3 trilhões de re- país de grandes dimensões em que o mercado e atividades Em si o endividamento não seria crítico se não fos- ência consegue desenvolver atividades produtivas – criar
ais. Isso nos permite ter ordens de grandeza, uma coisa internas representam basicamente 90% da dinâmica eco- sem as taxas de juros aplicadas sobre essas dívidas. Con- uma empresa, enfrentar o tempo de entrada no mercado
tão simples como o fato de 63 bilhões de reais desviados nômica. Não somos Singapura, nem Taiwan, nem Coreia forme os dados da Associação Nacional dos Executivos e de equilíbrio de contas – pagando esse tipo de juros.
dos processos produtivos representarem 1% do PIB. Uma do Sul. Somos um gigante de 210 milhões de habitantes. de Finanças, Administração e Contábeis (ANEFAC), Aqui, o investimento privado e a produção são direta-
taxa de investimentos de 16% do PIB, como é a que temos Se a economia interna não funciona, o mercado externo que apresenta os juros efetivamente praticados no mer- mente atingidos.
hoje, representa cerca de 1 trilhão de reais. Essa quantia, pode ajudar, como está ajudando agora, mas não resolve.
MOTORES DA ECONOMIA BRASILEIRA – percentual relativo ao PIB

Investimento e produção
Mercado externo: 11%
empresariais: 21%

LADISLAU DOWBOR
Investimento em infraestruturas
Economista e professor titular de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica Demanda das famílias: 60% e nas pessoas (políticas sociais)
de São Paulo. Foi consultor de diversas agências das Nações Unidas, governos e
municípios, além de várias organizações do sistema “S”. Autor e co-autor de cerca de 40
por parte do governo: 8%
livros, toda sua produção intelectual está disponível online na página dowbor.org.

22 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 23


As grandes empresas têm como negociar juros mais senta as taxas de juros cobradas aqui sobre esse estoque. damento público só se justifica se a capacidade financeira indireto: o canadense pode ter salário inferior ao ameri-
baixos por meio do BNDES enquanto as multinacionais No cálculo que inclui as dívidas de pessoas físicas e de gerada no governo permite uma dinamização da econo- cano, mas tem acesso gratuito universal à creche, escola,
aproveitam juros abaixo de 5% ao ano no exterior. Mas pessoas jurídicas, crédito livre e direcionado, o fluxo de mia que rende mais do que o custo da dívida. Com uma saúde, espaços de lazer e outros. O bem-estar familiar é
as pequenas e médias empresas estão condenadas a pegar juros extraídos pelos intermediários financeiros chega a Selic fixada em 25% ano em julho de 1996, permanecen- muito superior e a economia mais performante. A perda
empréstimos nas agências onde têm suas contas e irão pa- 1 trilhão de reais, 16% do PIB, resultado direto das taxas do neste nível (chegou a 46%) durante a era FHC, e situa- da capacidade de expansão desse acesso universal a bens
gar juros surrealistas. O mundo empresarial, que já está absurdas que vimos acima. da na faixa de 14% na era Lula e Dilma (primeiro manda- públicos gratuitos, pelo desvio dos recursos para o serviço
sendo paralisado pelo travamento da demanda, consta- to), o endividamento público se constituiu em mecanismo da dívida, representa um recuo em termos de desenvolvi-
ta que recorrer ao crédito para passar pela fase crítica é A intermediação financeira não é atividade fim e sim de transferência dos nossos impostos para os donos dos mento. Particularmente absurdo, nesse contexto, é a EC
proibitivo. Além disso, como a elevada taxa Selic permite atividade meio, portanto, representa um custo. Sua fun- títulos. Não se tratou aqui de financiar o governo, mas de 95/2016 travar as políticas públicas, mas não o gasto com
ganhar mais e sem esforço com aplicações financeiras do ção econômica depende da capacidade de fomentar a drenar os seus recursos, desviando os nossos impostos e juros, de longe a principal fonte de esterilização dos re-
que investindo na produção, prática que se generalizou, economia, mediante uma remuneração que precisa ser travando a capacidade de fomento econômico do Estado. cursos públicos.
a recessão foi inevitável. A inflação caiu não por alguma moderada. Em outros termos, a relação custo/benefício
habilidade particular de política macroeconômica, mas dos bancos tem de ser positiva. A manchete dominical Em 2015, como vemos no gráfico acima, que me foi A perda da capacidade de
simplesmente porque com a economia quebrada as em- do jornal O Estado de São Paulo, em 18 de dezembro de comunicado por Antonio Corrêa de Lacerda, o serviço da expansão desse acesso universal
presas passaram a empurrar seus estoques inclusive com 2016, resumiu bem a questão: “Crise de crédito tira R$1 dívida pública drenou meio trilhão de reais (8% do PIB) a bens públicos gratuitos, pelo
perdas. Inflação se equilibra financiando com crédito ba- Tri da economia e piora recessão”. No mesmo período de essencialmente para bancos, mas também para grupos in- desvio dos recursos para o serviço
rato o consumo das famílias e o investimento das empre- 12 meses em que a economia brasileira afundava, o Itaú ternacionais. Atribuir o déficit das contas e a necessidade da dívida, representa um recuo em
sas, ou seja, equilibrando a demanda com maior oferta, e apresentou aumento de lucros de 32% e o Bradesco de de um ajuste fiscal ao excesso de ‘gastos’ com políticas termos de desenvolvimento.
não quebrando ambas. 25%. Os americanos e europeus se espantam com o spre- sociais constitui uma farsa. O déficit foi essencialmente
ad bancário de 35%, um ganho sem precisar se dedicar ao gerado pelo serviço da dívida pública. O déficit das ativi- Vimos que os intermediários financeiros extraem, sob
A elevada taxa Selic permite trabalhoso processo de identificar projetos, financiar in- dades próprias do governo, o chamado ‘resultado primá- forma de juros pagos pelas famílias e pelas empresas, o
ganhar mais e sem esforço com vestimentos, enfim, fazer a lição de casa: usar o dinheiro rio’ das contas públicas, nunca ultrapassou 2% do PIB. Na equivalente a 16% do PIB. Aqui vemos que parte dos nos-
aplicações financeiras do que para dinamizar a economia, em vez de extorquir produto- União Europeia se recomenda que não passe de 3%. Nada sos impostos, no valor de cerca de 6% a 8% do PIB, con-
investindo na produção, prática res e consumidores. de anormal. No nosso caso, são 8% do PIB que poderiam forme os anos, é também transformada em juros por meio
que se generalizou. dinamizar a economia através do investimento público, da dívida pública. É bom lembrar que, embora a taxa
O quadro já crítico piora naturalmente com a paralisia em grande parte reaplicados na dívida pública que explo- Selic tenha baixado para perto de 7%, a inflação baixou
Segundo o Banco Central, o estoque de dívida das fa- do quarto motor da economia que são os investimentos de. mais ainda, e o estoque sobre o qual incidem esses juros
mílias e das empresas representa cerca de 3,1 trilhões de públicos em infraestruturas e políticas sociais. Os juros aumentou radicalmente, o que significa que, em termos
reais, quase metade do PIB. Muitos países apresentam internacionalmente praticados sobre títulos do governo si- Não há dúvidas sobre o efeito multiplicador dos inves- reais, o dreno continua. Se somarmos os três drenos, so-
um volume maior de endividamento, mas nenhum apre- tuam-se na faixa de meio a um por cento ao ano. O endivi- timentos públicos em infraestruturas. Mas, curiosamente, bre a demanda das famílias, a capacidade de investimento
o conjunto de investimentos em políticas sociais como das empresas e a capacidade de investimento do Estado,
JUROS EFETIVAMENTE PRATICADOS NO MERCADO saúde, educação, segurança e outros são apresentados estamos falando em mais de 20% do PIB esterilizados.
Pessoas físicas
entre nós como ‘gastos”, quando há tempos em contabi- Não há economia que possa caminhar assim.
lidade se entende essas rubricas como investimento nas
pessoas. Inclusive foram esses tipos de investimentos que Há outros espaços de subutilização de recursos. Por
geraram os principais milagres econômicos, em particular exemplo, os fundos de pensão manejam um estoque de
na Ásia, mas também na Finlândia e em outros países. Na recursos da ordem de 730 bilhões de reais (12% do PIB).
132,91% 65,35% em empréstimo 297,18% 326,14% no
nos crediários pessoal dos bancos no cheque especial rotativo do cartão realidade o bem-estar das famílias depende em parte da Em muitos países, há uma regulação do setor que assegu-
renda, a economia out-of-pocket, mas também do salário ra que esses recursos sejam investidos produtivamente, de

24 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 25


BRASIL: DESPESAS COM JUROS (EM R$ BILHÕES) como drenam a economia e sequer pagam os impostos que o estoque recursos do Brasil em paraísos fiscais atin-
devidos. Todos os grandes bancos e financeiras dispõem ge 520 bilhões de dólares, cerca de 1,7 trilhões de reais,
600 de departamentos técnicos para ajudar na sonegação, com equivalentes a 26% do PIB. Desse total, menos de 3%
501,8
500 procedimentos chamados de ‘otimização fiscal’. foram repatriados.
400
311,4 O que restou do artigo 192º da Constituição ainda reza A economia financeira do Brasil vaza por todos os la-
300
236,7 248,9 que “o sistema financeiro nacional [será] estruturado de dos. Não somos os únicos a enfrentar o desafio da finan-
162,5 165,5 171,0 195,4 213,9
200 forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País ceirização. Nas últimas décadas as aplicações financeiras
100 e a servir aos interesses da coletividade”. Estamos habi- têm rendido no mundo cerca de 7% ao ano, enquanto o
tuados a qualificar de desvios, roubo ou corrupção tudo PIB cresce na ordem de 2 a 2,5%. Os fluxos financeiros
0
que pode ser considerado ilegal. Mas a realidade é que a se dirigem, naturalmente, para onde rendem mais, e não
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
grande corrupção, os grandes desvios realmente significa- é na produção, pois aplicações financeiras rendem mais
Fonte: BCB / Elaboração e Prognóstico (p): ACLacerda *Total setor público consolidado
tivos em termos de descaminhos da economia, têm hoje do que investimentos produtivos. No Brasil o sistema é
forma a poder cobrir as futuras necessidades dos aposen- do sistema tributário. Nosso sistema não só não corrige, suficiente força política para gerar a sua própria legalida- apenas muito mais deformado. A financeirização amplia
tados. No Brasil, esses fundos podem aplicar até 100% do como agrava os desequilíbrios. No Brasil, 56% da carga de. Em termos substantivos, os que gerem nossos fluxos o rentismo, e agrava a absurda concentração de riqueza.
total em títulos da dívida pública. Assim a pensão com- tributária incide sobre o consumo, sob forma de impostos financeiros simplesmente deixaram de ‘servir aos interes-
plementar dos mais prósperos é em boa parte financiada indiretos. Como os mais pobres transformam a quase to- ses da coletividade’ e passaram a travá-los. Taxas de juros O nosso problema nunca foi de ajuste fiscal. Se somar-
pelos impostos de todos e em particular dos mais pobres. talidade da sua renda em consumo, são eles os que pagam que em qualquer país ou circunstância constituiriam usura mos o travamento do consumo das famílias e da ativida-
proporcionalmente mais impostos. O caso absurdo da lei e seriam, portanto, proibidas, aqui são perfeitamente le- de produtiva empresarial, o desvio dos recursos públicos
Há deformações semelhantes em outros setores, mas o que isenta lucros e dividendos de tributação é particu- gais. para o serviço da dívida, o agravamento gerado pela es-
que nos interessa aqui é o fluxo integrado, a deformação larmente grave. Aprovada em 26 de dezembro de 1995, trutura da carga tributária, a evasão fiscal, a evasão para
radical do sistema de intermediação financeira do país, essa lei favorece obviamente os ganhos dos afortunados A realidade é que os grandes o exterior e o amplo uso dos paraísos fiscais, sem dúvida,
que em vez de financiar a economia e dinamizar o inves- no topo da pirâmide social. Acrescente-se a inexistência desvios realmente significativos temos uma economia disfuncional. Não sonhamos aqui
timento produtivo, gera custos de intermediação para to- de imposto sobre a fortuna, o nível simbólico de imposto em termos de descaminhos da com uma solução milagrosa. O nosso objetivo é mostrar
dos. É o que Gerald Epstein e Juan Antonio Montecino, do sobre herança, a alíquota superior muito baixa do impos- economia têm hoje suficiente força que no centro de uma economia que funcione está o mar-
Roosevelt Institute, em pesquisa sobre o fluxo financeiro to de renda e a virtual inexistência do Imposto Territorial política para gerar a sua própria co zero da ciência econômica: a alocação racional dos re-
integrado nos EUA, chamaram de “produtividade líquida Rural (ITR), e temos de constatar que o sistema tributário legalidade cursos. A regra de ouro realmente existente é que a remu-
negativa da alta finança”. Em vez de servir a economia, aprofunda a deformação de maneira grotesca. Trata-se de neração dos agentes econômicos deve ser minimamente
os intermediários financeiros dela se servem. Mais popu- um sistema organizado de recompensa dos improdutivos. A própria ilegalidade também adquiriu dimensões im- proporcional à contribuição que eles dão para a economia.
larmente, os americanos dizem que hoje “o rabo abana o pressionantes se apoiando, em particular, no desajuste sis- Devemos recompensar quem mais multiplica as riquezas,
cachorro”, the tail is wagging the dog. O poder econômico dos mais ricos, em particular dos têmico, no fato de tentarmos regular a política financeira não quem é mais esperto em drená-las. Ao apresentar o
grandes bancos, transformou-se em poder político, o que nacional num contexto em que as finanças são essencial- fluxo financeiro integrado, buscamos mostrar que as so-
O fluxo integrado em vez de permite aumentar o dreno dos recursos. O Sindicato Na- mente globais. No seu estudo sobre o Brasil, a Global Fi- luções são sistêmicas, exigindo um novo pacto para o de-
financiar a economia e dinamizar cional dos Procuradores da Fazenda Nacional (SINPRO- nancial Integrity estima os vazamentos para o exterior por senvolvimento. No estudo A Era do Capítal Improdutivo
o investimento produtivo gera FAZ) estima a evasão fiscal em cerca de 600 bilhões de sub e sobrefaturamento no país em 35 bilhões de dólares (2017), apresentamos os mecanismos em detalhe, com
custos de intermediação. reais. Essa evasão evidentemente não é por parte dos anuais, quase 2% do PIB. E a Tax Justice Network estima tabelas, fontes e as propostas correspondentes.
assalariados, que têm o imposto descontado em folha e
A maior parte dos países que funcionam, quando frente pagam impostos indiretos incluídos nos preços dos produ-
*Ladislau Dowbor, economista, é professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, e consultor de várias agências das Nações Unidas. Os dados mencionados no presente
a essa deformação, buscam resgatar o equilíbrio por meio tos, e sim por parte dos mais ricos. Não só não investem, resumo podem ser consultados online no estudo A Era do Capital Improdutivo no site http://dowbor.org

26 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 27


Artigo
Luís Eduardo Assis
ça nos fundamentos da política econômica após o ‘impe- A equipe econômica atual teve o mérito de reconhecer
achment’ da presidente Dilma. A queda da inflação, por a gravidade do déficit fiscal. Também avançou no des-
exemplo, seria reflexo da ‘ancoragem das expectativas’ mantelamento das ideias equivocadas da Nova Matriz
2018, O ANO QUE promovida pelo Banco Central, ao passo que o cresci- Econômica, o que significa muito. Mas daí não decorre
mento da economia seria uma reação do setor privado ao que a recuperação do PIB seja seu crédito exclusivo. É
VIVEREMOS EM PERIGO encaminhamento de uma solução para o crônico déficit bom lembrar que estamos diante de uma recuperação cí-
das contas públicas. Muita calma nesta hora. O Banco clica – os condicionantes para uma recuperação susten-
Central parece aceitar, sem constrangimento, os louros tada do emprego e da renda ainda não estão colocados.
da vitória contra a inflação. De fato, não foi pouca coisa. É cedo para comemorar. Em grande parte, a modesta
Em apenas dois anos, o IPCA caiu de 10,7% para 2,9%. expansão do PIB que tivemos em 2017 – e que vai se es-

S
Mas o que explica a queda tão significativa da inflação? tender ao longo de 2018 – tem origem na própria queda
abe-se já, a esta altura, muitas coisas sobre 2018. saldo da balança comercial deve ser menor, mas ainda da inflação. Foi a queda da inflação que permitiu certa
Há forte consenso entre os economistas no sen- assim acima de US$ 50 bilhões. As reservas permanecem Em primeiro lugar, a própria recessão, resultado da elevação dos salários reais. Deflacionada pelo IPCA, a
tido que este ano marcará a recuperação da ati- altas e estáveis. O déficit em transações correntes deve combinação entre taxas de juros extremamente elevadas variação do rendimento médio nominal habitualmente
vidade econômica. De acordo com a pesquisa Focus do subir, mas sem que isto se transforme em grande proble- e contenção de crédito de bancos públicos e privados. recebido registrou um crescimento de 2,7% nos últimos
Bacen, a expectativa do mercado para o crescimento do ma, dada a farta liquidez internacional. Esta combinação, que se mostrou letal para o nível de doze meses terminados em novembro de 2017. Como
PIB neste ano passou de 2% em setembro último para atividade, também surtiu efeito sobre os preços. Além da houve também algum crescimento no nível de emprego,
2,7% atualmente. As previsões devem aumentar ainda A expectativa do mercado para recessão, o governo Temer e sua equipe econômica fo- a massa salarial real, calculada a partir da PNAD con-
um pouco e não será surpresa se a expansão alcançar 3%. o crescimento do PIB neste ano ram brindados com uma safra agrícola excepcionalmente tínua, subiu um pouco mais no mesmo período: 3,6%.
Não é grande coisa, mas serve para marcar o fim de um passou de 2% em setembro último volumosa, no rastro de condições climáticas muito favo- Inflação baixa também permitiu o corte de juros. Juros
período muito difícil. A inflação também deve ficar baixa. para 2,7% atualmente. ráveis. No IPCA, o item “Alimentação no Domicílio” mais baixos, por sua vez, no contexto de aumento da
A previsão é de um IPCA em torno de 4%, número mais despencou de uma variação positiva de 9,4% em 2016 massa salarial, redundaram em queda da inadimplência,
alto que em 2017, mas ainda assim ameno. Pelo lado das Parece tudo muito bem, mas esta é uma visão super- para uma queda de nada menos que 4,9% no ano pas- que recuou de 3,7% em dezembro de 2017 para 3,2% em
contas externas, também não se vislumbra turbulência. A ficial do que nos aguarda. Para analistas mais entusias- sado. O feijão mulatinho roubou a cena: seu preço caiu dezembro de 2017, a taxa mais baixa em vinte e cinco
economia mundial deve continuar crescendo (3,9%, de mados, a melhoria atual que contrasta com o quadro de 44,6% no ano passado, depois de ter subido 102% em meses. Menor inadimplência também estimulou o cres-
acordo com o FMI), o que sempre facilita nossa vida. O penúria econômica de 2015-2016 está a refletir a mudan- 2016. Vamos aqui convir que a queda de preço do fei- cimento de novas concessões de empréstimos. O volume
jão mulatinho não tem nada a ver com a habilidade do de crédito concedido para pessoas físicas até novembro
Banco Central ancorar expectativas. De forma análoga, de 2017 cresceu 4,75% em termos reais. .
o crescimento do produto não pode ser automaticamente
associado à recuperação das expectativas que sobreveio Tudo isto significa que sabemos que 2018 será um ano
à instauração do governo Temer. . de recuperação, mas sabemos pouco além disso. Para
evitar que o crescimento que vivemos hoje seja mais que
Estamos diante de uma um ‘voo de galinha”, é preciso que enfrentemos a crise
recuperação cíclica – os fiscal. Em que pese o discurso triunfalista do governo, há
condicionantes para uma ainda muito a ser feito para enfrentar esta questão essen-
recuperação sustentada do cial, até porque sequer existe consenso sobre a gravida-
LUÍS EDUARDO ASSIS emprego e da renda ainda não de do problema. Mesmo a instituição de um teto de gas-
*Economista. Foi diretor de política monetária do Banco Central estão colocados. tos está longe de ser a solução. Pouco adianta limitar por
e professor de economia da PUC-SP e da FGV-SP decreto o crescimento das despesas públicas. Convivem

28 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 29


argumento segue como álibi muito tentador para quem tica brasileira estão hoje circunscritos a uma dimensão
A modesta expansão do
acha que não deve ser chamado a pagar esta conta. Se o confinada inferior. Enquanto Brasília chafurda na politi-
PIB que tivemos em 2017
rombo vem da corrupção, quem não é corrupto, a grande cagem, o resto do Brasil trabalha e o país prospera. Doce
– e que vai se estender
maioria, não se considera parte do problema e se nega a ilusão. Não é assim que funciona. Se não houver uma
ao longo de 2018 – tem
ser parte da solução. saída política para a crise fiscal – apenas para citar o
origem na própria queda
problema mais agudo – a tênue recuperação de 2018 irá
da inflação.
A dificuldade em equacionar o de encontro, cedo ou tarde, a um muro de pedra.
problema fiscal está justamente
no fato de que é preciso escolher Se não cabe esperar – pelo seu caráter impopular –
quem vai pagar a conta. que temas espinhosos de política econômica sejam dis-
cutidos ao longo da campanha presidencial em 2018 , o
A primeira conclusão, portanto, é que sabemos pouco que será abordado ? É bastante provável que fiquemos
sobre a economia em 2018. A recuperação do produto já no terreno ignaro das soluções simples. O risco que te-
está encomendada e vai ganhar algum ímpeto, mas esta- remos que enfrentar é que os discursos eleitorais sejam
mos longe de iniciar um ciclo longo de crescimento. Se eivados por propostas populistas. É fácil e tentador para
sabemos pouco sobre a economia, sabemos ainda menos a esquerda vender o diagnóstico de que o Brasil é apenas
sobre os rumos da política. Talvez hoje o único consenso um país injusto. É fácil e tentador para a direita ater-se
sobe o quadro eleitoral é que ele será absolutamente de- a um enfoque moralizante, autoritário e preconceituoso.
cisivo para a evolução do país nos próximos anos. Mais
do que em qualquer eleição presidencial recente, o Brasil 2018 será mais um prenúncio do
está hoje diante de uma encruzilhada. Do ponto de vista que teremos mais adiante do que
hoje a obrigação de não gastar e o direito de ser benefi- se há déficit é porque o Estado injeta mais recursos na econômico, a escolha que fizermos agora será objeto de propriamente um ano marcado
ciário do gasto. Se não for engendrada uma forma insti- economia do que dela retira – e não menos. Daí deriva estudo dos historiadores do futuro. O ajuste fiscal é crí- por realizações.
tucional de revisão de direitos, esta contradição levará a que enfrentar este problema implica ou aumentar a carga tico, mas isto não significa que este será um tema recor-
impasses que serão dirimidos pelo Poder Judiciário. Daí tributária ou reduzir gastos. Aumento de impostos hoje rente na campanha. O combate ao déficit público exige Ao fim e ao cabo, tudo isto significa que 2018 será
até a queda do limite de gastos será um pequeno pas- enfrenta um claro rechaço por parte da sociedade. Se- sacrifícios e este não é um assunto exatamente popular. importante pelo seu caráter de rito de passagem. Ele
so. Propugnar pela redução dos gastos públicos é muito quer a taxação dos fundos de investimento exclusivos, Mais fácil procrastinar ou, melhor ainda, desqualificar o tem tudo para ser mais um vestíbulo, um prenúncio do
simples. Analistas internacionais não se cansam de exer- que corrigiria um inexplicável privilégio, foi aprovada problema. Há quem acredite no Boi Tatá, na Cuca e no que teremos mais adiante do que propriamente um ano
citar sua imodéstia e recomendar que o Brasil faça sua pelo Congresso no ano passado. Corte de gastos, por sua Saci Pererê. Há também acredite que o déficit da previ- marcado por realizações. Se o ambiente econômico me-
“lição de casa”. Trata-se de um raciocínio tão ingênuo vez, esbarra em direitos adquiridos. Não é simples, não é dência não existe. lhorar o suficiente para permitir um processo eleitoral
quanto tosco. O Brasil, como entidade decisória única, fácil. Se não avançamos no desenho de um regime fiscal que não esteja pautado por propostas populistas, teremos
não existe. Não há sentido em ver o país como se fosse é porque ele esmorece diante de uma barreira de inte- As incertezas políticas acabam condicionando a ex- boas chances de seguir adiante com as reformas que fo-
um estudante relapso que não consegue ver que não vai resses cristalizados que só poderiam ser confrontados se tensão da recuperação econômica. Não deixa de ser ins- rem possíveis e avançar na construção de uma sociedade
passar de ano se não se aplicar. As decisões do país, na pudéssemos contar com um governo com credibilidade e tigante o fato de que a economia tem conseguido sair mais próspera e mais justa. Caso contrário, se prevale-
verdade, refletem uma multiplicidade de diagnósticos apoio popular - o que não é o caso. Nasce deste impasse do pântano da recessão em meio a uma crise política e cerem propostas que negam a necessidade de um ajuste
e interesses, como é típico de regimes democráticos. A e da dificuldade política de escolher perdedores a ideia institucional sem precedentes. Os mais apressados não fiscal, não teremos outra escolha senão vagar a esmo,
dificuldade em equacionar o problema fiscal está justa- encontradiça de que a corrupção é a causa fundamental hesitam em apontar que houve um descolamento entre indefinidamente, presos na armadilha de um crescimento
mente no fato de que é preciso escolher quem vai pagar a do rombo nas contas públicas. Não é, como sabem to- política e economia e se comprazem em pensar que os medíocre que tem tudo para acirrar a desigualdade social
conta. Ao contrário do que sugere a percepção do leigo, das as pessoas que examinaram os números. Mas este complexos emaranhados que caracterizam a vida polí- que é nosso flagelo.

30 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 31


Artigo
Gílson de Lima Garófalo
e Terezinha Filgueiras
de Pinho Pastore (2018) ressalta que, embora existam exceções Atualmente, existiriam mais de 1.000 criptomoedas
raras, como por exemplo nos casos de países em que alternativas, todas voláteis, denominadas, no conjunto,
hiperinflações ocorram e a moeda corrente, com todas de Altcoins e movimentando diariamente, no conjunto,
as desejáveis características, tais como ter curso legal, dezenas de bilhões de dólares. Ao lado da Bitcoin,
exclusividade no pagamento de tributos, constituir objeto de consideração em parte subsequente, é oportuno
medida e reservade valor, além de estar sob controle enumerar algumas delas.
através de uma política monetária de estabilidade de
poder aquisitivo, chegue ao extremo de ser substituída • Ethereum (ETH) = antepondo-se à Bitcoin, foi
pela de outros países, dando curso a dolarizações, o projetada para funcionar como meio de pagamento
fato é que as criptomoedas estão florescendo em nações eletrônico de ponto-a-ponto, (ou peer-to-peer), focando
CRIPTOMOEDAS estáveis. Exemplificam essa situação os Estados Unidos, em contratos inteligentes, executados quando condições
a Eurolândia e o Reino Unido. específicas são atendidas. Pode ser usada para codificar,
E A BITCOIN descentralizar, tornar seguro e comercializar tudo que
As criptomoedas estão possa ser programado: votações, nomes de domínio,
florescendo em nações estáveis. transações financeiras, crowdfunding (ou financiamento
Por Gílson de Lima Garófalo e
INTRODUÇÃO Terezinha Filgueiras de Pinho coletivo), governança de empresas e estados, contratos
Informações coletadas em fontes diversas dão conta de e acordos de qualquer tipo e até mesmo propriedade
Atualmente a mídia em geral, e a econômica em parti- de decifração complexa e difícil, objetivando garantir a 1992 como a data de origem da criptomoeda, quando na intelectual. Há também o Ethereum Classic (ETC), uma
cular, têm se preocupado e dado ênfase às criptomoedas respectiva proteção e segurança. Ao contrário da moeda Intel Corporation teria aflorado a ideia de criação de uma continuação da plataforma original do Ethereum surgida
ou ao criptodinheiro. Assim, o propósito desta contribui- tradicional, existem apenas no universo virtual. moeda digital anônima independente com o objetivo de como consequência de ataque de hackers ao sistema da
ção é discorrer didaticamente sobre o assunto facilitando mudança da estrutura das empresas, removendo o Estado mesma.
sua compreensão mesmo por quem não esteja diretamente O controle das criptomoedas, por seguir um sistema do controle das operações financeiras. Em 1998, na
envolvido com a matéria. descentralizado, não envolve a administração por institui- Universidade de Washington, foi apresentada a proposta • Cardano (ADA) = Conhecida por Ethereum do Japão,
ções financeiras e bancos. Elas substituem parcialmente do B-money, sistema de internet financeiro gratuito aos tendo em vista que em sua oferta inicial no mercado,
Segundo os dicionários, criptografar nada mais é do as transferências internacionais realizadas através de pa- usuários e isento de impostos. Nessa mesma época foi 95%dos participantes eram japoneses. É considerada
que converter um arquivo num código secreto, com o in- pel moeda, gerando oscilações de preços, além da espe- tentada a criação de uma moeda digital, o Bit Gold, o uma plataforma dinâmica e econômica.
tuito de que as informações nele contidas não possam ser culação. Utilizadas como investimento, mas igualmente qual não prosperou por não terem sido equacionados
lidas até serem decodificadas. Dessa maneira, as cripto- servindo para compra e venda no âmbito do mercado pa- problemas, dentre os quais o de rastreamento de • BlackCoin (BLK) = criptomoeda top. Pode ser
moedas são moedas digitais, inventadas por programado- ralelo, preocupam e enfrentam oposição dos bancos cen- transações e respectiva descentralização. E os problemas entendida como um banco público no qual contas não
res e criptografadas através de uma série de códigos-fonte trais dos diferentes países. prosseguiram insolúveis por uma década. podem ser congeladas. Permite efetuar pagamentos a
qualquer pessoa no mundo em questão de segundos. O
Em 2008, Satoshi Nakamoto, misterioso personagem usuário pode criar uma conta desde que baixe o software
pressupostamente japonês, sugere o conceito de Bitcoin, e este, por não possuir um proprietário, não pode ser
GÍLSON DE LIMA GARÓFALO
fundamentado em uma cadeia de informações sobre as fechado. É uma grande reserva de riquezas como seria
Economista, Vice-Presidente de Comunicação do Sindicato transações realizadas. No ano seguinte, era criada começando o ouro.
dos Economistas no Estado de São Paulo e Professor Titular da
a ser desenvolvida a Criptomoeda Bitcoin. Nakamoto teria
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
deixado o projeto em 2010, sendo, desde então, raras as • Stellar (XLM) = em relação à Bitcoin efetua transações
informações sobre o seu paradeiro ou o capital que detenha, mais rápidas e não utiliza a mineração. Atraiu parceiros
TEREZINHA FILGUEIRAS DE PINHO embora se estime este em um milhão dessa moeda. de peso como a IBM.

Economista do Instituto Federal de Educação, Ciência e


Tecnologia da Roraima - IFRR.

32 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 33


• Litecoin (LTC) = criada em 2011 por um ex-engenheiro bitcoin
O “código” da Bitcoin
da Google, ao contrário da Bitcoin utilizada para
contempla a produção de
compras mais caras, ocupa espaço nas microtransações, No cenário tupiniquim, a Bitcoin, em seu nono ano
21 milhões de moedas.
possuindo confirmação destas de forma mais rápida e de existência, é a criptomoeda mais famosa, despertando
Esgotados, nenhum
melhor eficiência de armazenamento e, como ferramenta curiosidade e eventual interesse de nela investir. Como
adicional será criado,
de comércio, a complementa. Conta com considerável moeda virtual não existe fisicamente, sendo um código
razão que a leva a ser
suporte da indústria, volume de negociações e liquidez. caracterizado pela tecnologia e inovação, constituindo
reconhecida como um ouro
um sistema de comunicação funcionando através da
digital, pois apenas tal
• Monero (XMR) = moeda virtual descentralizada internet, chamado na ciência da computação como
montante irá existir.
tal como a Bitcoin, não sendo descendente da mesma. “protocolo”. Neste sentido, assemelha-se ao e-mail,
Caracteriza-se como um sistema monetário fungível e não constituindo espécie de linguagem universal, permitindo
rastreável. Tem, de modo intrínseco, um nível elevado de que computadores diferentes consigam se comunicar
privacidade comparativamente às demais criptomoedas. realizando as mais diversas tarefas específicas. Além disso, por trás da Bitcoin está a inovação genial A aquisição das Bitcoins é efetuada online através de
Lançado em 18/04/2014, o site foi fechado em 2017 do Blockchain (Pastore, 2018), tecnologia criando um “exchanges”, ou seja, plataformas específicas das quais
devido à ilegalidade de funcionamento. Os protocolos tradicionais tais como os de acesso às meio de troca confiável, garantindo a impossibilidade de a mais conhecida é denominada ‘Mercado Bitcoin’.
páginas da internet funcionam de modo cliente-servidor. falsificar ou modificar o registro de transações realizadas. Para investidores que possuam conta em uma corretora
• Zcash (ZEC) = fundada em 2016, oculta automatica- No caso da Bitcoin não fazem essa distinção: todo cliente Essa tecnologia registra as transações mundialmente de valores a sistemática assemelha-se à negociação
mente a fonte de envio e, também, informações do desti- é também um servidor. Tais protocolos são chamados de efetuadas garantindo, em princípio, segurança e no mercado de capitais via internet à medida que
no se posicionando como forma de efetuar transações de peer-to-peer, ou p2p, não podendo ser desligados por integridade e, a cada uma delas, é gerado novo “código” permite sejam enviadas ordens de compra e venda
maneira um tanto mais particular. terceiros. Não existe um servidor central responsável a ser acrescentado àquele preexistente da Bitcoin e onde maiores de 18 anos e com local de residência
pela moeda: todos os participantes do protocolo Bitcoin devidamente comprovado têm possibilidade de acesso
• DogeCoin (XDG) = tem como símbolo o Doge, são ao mesmo tempo clientes e servidores do sistema. Da mesma forma que não existe a uma conta aberta com CPF válido. Em linguagem
cachorro de raça Shiba que se popularizou por rosnar uma empresa responsável pelo mais técnica, se trata do “home broker”, sistema
como se fossem palavras em inglês. Efetivamente, a Bitcoin é um sistema de comunicação e-mail, não existe uma entidade disponibilizado pelas corretoras pata conectar seus
funcionando em cima da Internet, e nada mais que isso. responsável pela Bitcoin. clientes ao pregão eletrônico no mercado de capitais.
• Ripple (XRP) = é uma rede de sistema de pagamentos Da mesma forma que não existe uma empresa responsável Possuindo a conta aberta na plataforma, por exemplo,
em código aberto objetivando ultrapassar barreiras de pelo e-mail, não existe uma entidade responsável por ela. O “código” da Bitcoin contemplaria, ao ser concebido, naquela mencionada, basta transferir o dinheiro para
taxas impostas pelas instituições financeiras, sendo Como mencionado, trata-se apenas de um protocolo de a produção de 21 milhões de moedas lembrando que, concretizar a compra que pode ser de 1 Bitcoin ou de
atualmente a terceira criptomoeda com maior volume de comunicação, que define uma unidade digital, de emissão como já mencionado, em torno de 1 milhão estaria em frações da moeda a partir de R$ 50,00. Os investidores
transações no mundo. limitada. mãos do seu próprio idealizador. Hoje, restaria menos de informam quanto desejam adquirir ficando à espera de
25% a serem mineradas. um vendedor.
Além da moeda mais conhecida, mais de 1.000 outras criptomoedas
alternativas voláteis movimentam diariamente dezenas de bilhões Embora seja possível acessar a rede de computadores As corretoras brasileiras especializadas na compra
de dólares no ambiente digital. e minerar uma Bitcoin, há necessidade de conhecimento e venda das Bitcoins são em torno de uma dezena
em programação e dedicação para desvendar o código, destacando-se: FoxBit, Walltime, MercadoBitcoin,
ou seja, não se trata de tarefa fácil. Certamente, esgotados BitcoinTrade, Bitcointoyou, BitCâmbio, FlowBTC,
os 21 milhões, nenhum adicional será criado, razão que BitInvest, Rippex e Braziliex. Normalmente cobram
a leva a ser reconhecida como espécie de ouro digital, entre 0,3% e 07% sobre o valor da operação, tanto de
de natureza escassa, pois apenas tal montante irá existir. compradores como dos vendedores.

34 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 35


Os investimentos em Bitcoins, de acordo com a Receita em falindo a “exchange” ou caso seja ela hackeada, internet. dos diferentes países, uma realidade considerada como
Federal, caso ultrapassem o patamar de valor histórico o investimento desaparecerá ou virará pó. Segundo • Não requer a existência de contas bancárias, de modo algo possível, mudando completamente a economia e
de aquisição de R$ 5.000,00, devem constar na relação especialistas, o conveniente é criar uma carteira virtual que hoje todos os desbancarizados só precisam de um o mundo (Empiricus, 2018). De qualquer maneira, aos
de bens quando do preenchimento da Declaração Anual (ou efetuar um backup off-line uma vez que a Bitcoin Smartphone para poder usar o Bitcoin. aplicadores cabe o alerta de que investir em Bitcoin é
do Imposto de Renda. A tributação sobre a transação das como código que é, se pode ficar livre dos hackers, não • Custo mínimo de transação. algo arriscado, razão pela qual não se deve comprometer
mesmas é devida quando a moeda for vendida com lucro. significa que esteja imune a problemas técnicos os mais • Transferências sem risco de fraude. É matematicamente parcela relevante do patrimônio pessoal. A propósito, vale
Assim, nas alienações cujo lucro total no mês for superior diversos) para armazenar a moeda adquirida, através de impossível fraudar Bitcoins. Recebendo a transação 6 ilustrar com a história seguinte:
a R$ 35.000,00, incide a alíquota de 15% a título de ganho software baixado e rodado no computador do investidor. (seis) confirmações, o que demora uma hora, é impossível
de capital. Existem sites para essa providência ou carteiras em forma revertê-la. Transações de cartão de crédito levam até 90 Muitos macacos viviam perto de uma aldeia. Um dia,
de aplicativo para efetuar a armazenagem com relativa ou 120 dias para serem irreversíveis. um comerciante chegou para comprar esses macacos
A tributação sobre a transação segurança visando resguarda contra possível ataque por • Com Bitcoin, gastar a mais para ter um intermediador anunciando que pagaria US$ 100 cada. Os moradores
das criptomoedas é devida quando hackers. garantindo a segurança do comprador é opcional, achavam que esse homem estava louco, mas apesar de
a moeda for vendida com lucro. permitindo que negociações pela Internet aconteçam sem acharem estranho alguém comprar simples bichanos
Os potenciais investidores em criptomoedas, incluindo intermediações de administradoras de banco ou cartões, por tal preço, resolvem vender alguns dos macacos. E a
Por outro lado, segundo instrução vigente e pendente de a Bitcoin, devem ser advertidos sobre alguns aspectos. • Ninguém pode confiscar ou congelar o dinheiro. A notícia se espalhou como um incêndio e muitas pessoas
deliberação futura, da Comissão de Valores Mobiliários Inicialmente, são moedas sem lastro, sem regulação e acessibilidade é exclusiva do investidor que pode, se se interessaram.
- CVM, os fundos estão proibidos de investir, de forma de alta volatilidade. Nesse contexto, ao contrário do necessário, memorizar suas chaves privadas. A Bitcoin é
direta, isto é, compra a moeda pura e alocação dentro do papel-moeda tradicional, não contam com a garantia exclusiva. Investir em Bitcoin é algo
portfólio, nessa e em qualquer outra criptomoeda. Nos comprobatória que valha ou comprove o que por elas é arriscado, razão pela qual não
investimentos indiretos, caso dos derivativos, objetivando pago. Sequencialmente, nenhum país as teria adotado Complementarmente, além de investir na Bitcoin, se deve comprometer parcela
diminuir riscos de aplicações diretas, a recomendação é como moeda oficial, permanecendo, assim, à margem muitos pensam em minerá-la. O processo é complexo relevante do patrimônio pessoal.
para que seja aguardada uma decisão final do Órgão, pois, de legislações ou normas legais específicas. Por fim, tal demandando a instalação de um software de mineração
por enquanto, nenhuma das criptomoedas é reconhecida e qual no mercado de capitais, as cotações são sensíveis, no computador. Trata-se de uma dificuldade muito Depois de alguns dias, o comerciante retornou
como ativo financeiro. podendo oscilar exageradamente para cima ou para baixo grande e mesmo com a possibilidade de processar e anunciando que pagaria US$ 200 por cada macaco.
em face de acontecimentos até fortuitos, incluindo a própria levar adiante a ideia, validar transações e a cada período Agora, até os aldeões mais preguiçosos correram para
Segundo Ming (2018), ocorre um vício grave no especulação e/ou manipulação por grandes investidores. de tempo determinado ganhar uma pequena fração da pegar os macacos restantes e venderem por tal preço.
posicionamento da CVM, ou no desconhecimento da Por outro lado, historicamente a única condição necessária moeda, o desgaste do equipamento será inevitável e o Em outro dia o comerciante anunciou que compraria os
história da moeda. Esta, no passado remoto, tinha a sua para que algo apresente valor e utilização como meio de gasto com energia tão alto que acabariam ultrapassando macacos a US$ 500. Os aldeões começaram a perder o
utilização na forma de ossos, conchas e folhas de tabaco. troca é que seja escasso e divisível em partes menores. o lucro obtido minerando. Ademais, o código se modifica sono! Entretanto, pegaram tudo o que restava, cerca de
Na evolução histórica, deixando de lado outras alternativas Como visto, a Bitcoin atende a isso. automaticamente uma vez que foi desenhado para seis ou sete macacos e receberam tal importância por cada
que a configuraram, chega-se à situação presente em que que existam apenas 21 milhões de Bitcoins. Aliás, um um. Nessa altura, ficaram esperançosos quanto a próxima
passa a ser preponderantemente escritural, isto é, retratada As criptomoedas são moedas sem dispêndio com eletricidade é tão significativo que algumas oferta do comerciante. Entretanto, este anunciou que iria
sob a forma de depósitos bancários e títulos apenas lastro, sem regulação e de alta empresas brasileiras processadoras preferiram se instalar para casa por uma semana e no retorno estaria disposto
registrados em computador movimentados por cartões de volatilidade. no Paraguai, país em que a tarifa energética é menor. a pagar US$ 1.000 por cada animal. Nisto pediu ao seu
plástico ou até por um clique em celular. empregado para cuidar dos macacos que havia comprado,
Adicionalmente, segundo Viaba (2012), há vantagens CONSIDERAÇÕES FINAIS os quais estavam todos enjaulados.
Importante mencionar que não se deve deixar dinheiro diversas relativamente aos meios existentes, destacando-
parado na conta na plataforma de compra e venda se: Certamente é impossível prever se no futuro a Os aldeões ficaram tristes já que não haveria mais
tendo em vista inexistir proteção do investimento, pois, • Transferência global, instantânea, quase de graça, pela Bitcoin, como moeda global, virá a substituir aquelas nenhum para vendê-los. Neste momento, o empregado

36 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 37


Artigo
Roberto Luis Troster

disse-lhes que venderia secretamente alguns macacos especialista mundial em bolhas de mercado, cita ser a
por US$ 700 e a notícia se espalhou como um fogo. Bitcoin uma bolha envolta em misticismo tecnológico.
Com efeito, poderia haver um lucro de US$ 300 por cada Dessa forma, como bolha de ativo constitui esquema de
macaco. No dia seguinte o empregado conseguiu vender uma pirâmide na qual os primeiros que nela investem
todos os macacos a tal preço. Os ricos compraram os ganham muito dinheiro porque novos investidores são
ACREDITANDO NO CRÉDITO
bichanos em grandes lotes enquanto os pobres pegaram atraídos ao mercado, e o lucro que os investidores iniciais
dinheiro emprestado de especuladores para fazê-lo. realizam atrai ainda mais gente. O processo pode continuar
Todos cuidaram dos bichos na expectativa da volta do por anos antes que algo, como um teste de realidade ou a Por Roberto Luis Troster
comerciante – o que não aconteceu. Correram então para simples exaustão do pool de otários potenciais, provoque

A
o empregado, mas este também desaparecera. Os aldeões o fim súbito e doloroso da festa.
então perceberam que haviam comprado a US$ 700 cada palavra dinheiro tem muitos sinônimos, como A taxa média do cheque especial
macaco e agora eram incapazes de vendê-los. Como bolha de ativo, o Bitcoin bufunfa, cantante, capim, caraminguá, casca- divulgada na Nota à imprensa do
constitui uma pirâmide na qual lho, cobres, dindim, fundos, gaita, gás, grana, Banco Central (29/01/2018) foi de
Moral da história: o Bitcoin será o próximo negócio os primeiros que nela investem guita, jabaculê, jibungo, metal, mosca, nota, pasta, pa- 323,0%. Entretanto, o custo para o
de macacos. Isto fará muitas pessoas falirem e alguns ganham dinheiro porque novos taca, pecúnia, pila, prata, tostão, tubos, tuncum, vento, tomador foi de 343,4%.
desonestos ricos neste negócio de macacos. É assim investidores são atraídos. verba, vintém e zinco. Apesar de tantos nomes, seu signi-
que isto vai funcionar. Em outras palavras, a historieta ficado é cristalino para todos. Dificultando ainda mais a compreensão, nas informa-
objetiva uma explicação didática de Valor e Demanda. Como meio de pagamento eletrônico não existe uma ções aos clientes, um mesmo número pode significar va-
Alta lucratividade, caracteristicamente uma demanda razão plausível e prática para utilizar a Bitcoin, a não ser Para o custo do dinheiro, a taxa de juros, é diferente. lores bem diferentes. Se um gerente informa a taxa de
inercial retroalimentada e, no fim, muitos irão ficar com o o desejo de anonimato tal e qual nos casos envolvendo Existem muitos critérios para serem determinadas. As ta- 7%, pode se referir a uma aplicação em que a taxa é anu-
“mico”, ou seja, com os macacos. drogas, sexo e outros bens do mercado negro. De xas médias do sistema por modalidade variam de 7% ao al. Já para empréstimos, o padrão é usar a taxa mensal,
pasmar, ainda, que mesmo em conferências sobre essa ano até 401% anuais e taxas de instituições individuais portanto, os mesmos 7% mensais equivalem a 125% anu-
Krugman (2018), mencionando Robert James Shiller, criptomoeda, ela chega a ser recusada como pagamento que podem superar 1.000% ao ano. Algumas são indexa- alizados. No caso da aplicação, o imposto, que varia de
professor de economia da Universidade de Yale (USA), dos participantes! das ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI), ao zero a 22,5%, é descontado do total a ser pago pelo banco
Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), ao Índice e o retorno é menor do que o informado. Já no caso do
Nacional da Construção Civil (INCC), à Taxa de Juros crédito, o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF),
REFERÊNCIAS: de Longo Prazo (TJLP). Seu entendimento é uma tarefa que depende do prazo da operação, é informado depois e
• BAZAN, Vinicius. O que é Bitcoin e como investir? Empiricus. 2018. Disponível em: https://www.empiricus.com.br/artigos/bitcoin/ Acesso complexa para a maioria dos cidadãos. cobrado do cliente, portanto aumenta o custo financeiro,
em 05/01/2018.
• BRANT, Danielle e PORTINARI, Natália. O que são e para que servem as criptomoedas, como a bitcoin? Folha de São Paulo. 25/09/2017.
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/09/1921472-o-que-sao-e-para-que-servem-as-criptomoedas-como-a-bitcoin.shtml
Acesso em 10/01/2018.
• JAKITAS, Renato. CVM proíbe fundo de investir em criptomoeda. O Estado de São Paulo. 13/01/2018, p. B8.
• JAKITAS, Renato. Bitcoin cai abaixo de US$ 10 mil e assusta investidor. O Estado de São Paulo. 18/01/2018, p. B9.
• KRUGMAN, Paul. Bitcoin é bolha envolta em misticismo tecnológico e terminará em desastre”. Tradução de P. Migliacci. Folha de São
Paulo. 30/01/2018. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/colunas/paulkrugman/2018/01/1954613-bitcoin-e-bolha-envolta-em-mis-
ticismo-tecnologico-e-terminara-em-desastre.shtml Acesso em 31/01/2018. ROBERTO LUIS TROSTER
• MING, Celso. O Bitcoin e a história da moeda. O Estado de São Paulo. 19/01/2018, p. B2.
• Muito além do Bitcoin: conheça 10 criptomoedas que competem no mercado. Jornal do Brasil. 21/01/2018. Disponível em: http://www.jb.com. Economista - prêmio Gastão Vidigal, e doutor em economia pela Universidade
br/economia/noticias/2018/01/21/muito-alem-do-bitcoin-conheca-10-criptomoedas-que-competem-no-mercado/ Acesso em 22/01/2018 de São Paulo, foi economista chefe da FEBRABAN e lecionou na USP e PUC-
SP, é autor de livros e artigos, palestrante e consultor de empresas, governos e
• PASTORE, Afonso C. Moedas e criptomoedas. O Estado de São Paulo. 13/01/2018, p. B8.
instituições financeiras, incluindo o Banco Mundial e o FMI.
• VIABA, Wladston. O que é Bitcoin? Um Guia para os Curiosos e Futuros Investidores. Bussola do investidor. 2012. Disponível em https://blog.
Correio eletrônico: robertotroster@uol.com.br
bussoladoinvestidor.com.br/o-que-e-bitcoin/ Acesso em 02/01/2018.
• GLG/TFP – janeiro/2018

38 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 39


e os mesmos 7% informados ao tomador de financiamen- Note-se, se o pagamento à vista for uma operação financeira, tanto para relacionamentos eficientes e jus- grave do sistema. No ano passado, o lucro dos bancos
to (taxa mês sem IOF) podem significar um valor vinte de crédito deveria pagar IOF. Mas não; é apenas para a tos, como para diagnósticos acertados dos problemas e teria mais que dobrado se não houvesse perdas por mo-
e quatro vezes maior que o que o aplicador recebe pelos estatística das jabuticabas, que com isso faz com que a das retificações a serem feitas. Obviamente, não é o que rosidade. Mas em vez de corrigir as causas, se conserta
seus 7% (taxa ano sem IR). relação crédito/PIB aumente, a inadimplência diminua e acontece. É cristalino que há opacidade e uma complexi- o efeito, que é facilitar a execução de garantias, que tem
a taxa média apresentada aparente ser menor do que é. dade desnecessária. como efeito a desvalorização de ativos, apenas.
Nas informações aos clientes, um Dessa forma, a taxa média do cartão para empresas, ti-
mesmo número pode significar rando os pagamentos à vista da conta, sobe de 71% para Há mais incongruências no sistema. Em 2016, a taxa Em vez de corrigir as causas, se
valores bem diferentes. 141%. básica de juros foi reduzida pela metade, mesmo assim a conserta o efeito.
relação crédito/PIB caiu. Em média a taxa do cheque es-
A taxa média do cheque especial divulgada na Nota à É assustador, mas o método das jabuticabas aponta, pecial foi 16 vezes maior que a do capital de giro, entre- Com taxas médias de concessão para empresas em
imprensa do Banco Central (29/01/2018) foi de 323,0%. na última estatística divulgada pelo Banco Central, uma tanto foram feitas mais concessões às pessoas jurídicas 62% ao ano – nove vezes maiores que a SELIC - e de
Entretanto, o custo para o tomador foi de 343,4%. Sis- taxa média de crédito para pessoa jurídica de recursos na linha mais cara. Mais da metade das pessoas jurídicas rolagem de dívidas em difíceis 323% anuais (quaren-
tematicamente se subestima a taxa usando um artifício livres de 17% ao ano, enquanto que a taxa média de con- tem apontamentos de inadimplência nos birôs de crédi- ta e oito vezes mais altas), não é racional esperar uma
semântico afirmando que o IOF é pago pelo tomador, cessões, do fluxo, sem operações à vista, é de 62% anuais to. É um perde-perde para empresas e cidadãos (sessenta inadimplência baixa. As taxas de juros elevadas, como
portanto, não deveria entrar no cálculo. É um disparate, - um absurdo. milhões têm anotações de atrasos), para o Governo (que são reajustadas, e a oferta restrita de algumas linhas de
um caso único em todo o sistema tributário brasileiro. arrecada menos), para o país (que cresce abaixo do seu financiamentos fazem com que problemas temporários
Há mais distorções: a pizza da margem calculada mos- potencial) e para a intermediação financeira (que tem um
O calendário usado também varia: para quem recebe tra que impostos diretos mais o compulsório, Fundo Ga- desempenho aquém de seu potencial).
juros do sistema, valem os dias úteis (252 por ano) e para rantidor de Crédito e encargos fiscais são menores que o
quem paga, os dias são corridos e podem ser 360 dias se “lucro e outros dos bancos”. Usando todas as combina- Nos últimos anos, a rentabilidade do sistema minguou,
for ano comercial ou 365 dias caso seja o ano calendário. ções de juros e taxas de inadimplência possíveis, a parte assim como o número de instituições financeiras dimi-
do leão (IOF, IR, PIS, COFINS E CSLL) é maior que nuiu, a quantidade de agências bancárias declinou e os
Para o cálculo da margem (spread) do sistema existem a dos banqueiros. Note-se que as contas não incluem o saldos de concessões e de total de crédito encolheram.
três metodologias possíveis: a do estoque, a do fluxo e a efeito dos compulsórios, do FGC e dos créditos tributá- Há dez anos, o lucro dos bancos correspondia a 2,0%
das jabuticabas. A avaliação do estoque se faz com a car- rios, portanto, a parte do governo é bem mais alta ainda. do PIB, atualmente, a menos de 1,4%. Feita a ressalva
teira de crédito existente, às taxas que incidem em cada de que há algumas instituições que conseguem melhorar
um dos empréstimos, e se calcula a média. O valor mede A parte do leão seus resultados.
a taxa média despendida num determinado período e o (IOF, IR, PIS, COFINS E CSLL) é
crescimento da carteira, excluídos as concessões, amorti- maior que a dos banqueiros. Há também falhas na compreensão da dinâmica do sis-
zações e inadimplência. Outra maneira de calcular é pelo tema. Um exemplo é o que aconteceu com as medidas
fluxo, que estima o quanto está custando o dinheiro novo As informações de crédito para os bancos e os birôs para reduzir o custo do rotativo do cartão de crédito. En-
que está sendo concedido. A média varia tanto se as taxas de crédito também apresentam falhas: exigem-se muitos volveu até o Presidente da República, que veio a público
mudarem como se a composição – com aumento ou di- dados dos clientes, mas não há reciprocidade retornan- anunciar a medida. Tiveram sucesso na diminuição da O SFN empresta
minuição das linhas de crédito concedidas, e como varia do a ele o nível de risco que ele representa. Insiste-se taxa do rotativo de empresas de 348% ao ano para 241% proporcionalmente pouco,
o custo na margem. A terceira forma de calcular é a das no modelo de assimetria de informações, contrário à boa anuais, mas com o efeito colateral de aumentar a taxa do opera na metade de sua
jabuticabas, que combina as duas, portanto, não mede prática de política bancária. Algo que vai ser agravado parcelado de 33% ao ano para 141% anuais. Trocaram capacidade, cobra caro em
bem nem o estoque nem o fluxo, e tem algumas particu- com a nova lei do cadastro positivo (Lei 12.414/2011). seis por meia dúzia. juros, é ineficiente e tem
laridades, como computar como operação de crédito os baixa legitimidade.
pagamentos à vista com cartão de crédito. A transparência é fundamental para a intermediação Outro exemplo, a inadimplência, é o problema mais

40 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 41


de liquidez se transformem em problemas permanentes lítica bancária é antiquada e a solução existe e se chama fato a destacar, no passado, era a preocupação de ban- calendário, rendimento/custo líquido de impostos e cál-
de solvência para empresas e cidadãos. Resumindo, o crédito responsável. O principal defeito dos bancos não queiros com o terceiro componente, a base econômica. culo da margem pelo fluxo. A segunda ação sugerida é
SFN tem informações desnecessariamente complexas, é a ganância de seus gestores, mas sim seu conservado- Um ditado bancário da época era: “Colha os ovos, mas dar um choque de liquidez no sistema, zerando as alí-
empresta proporcionalmente pouco, opera na metade de rismo, mantendo o sistema inadequado para o Brasil de não mate a galinha”. Ilustra o cuidado na articulação quotas dos depósitos compulsórios. Atualmente, há R$
sua capacidade, cobra caro - são 10% do PIB em juros 2018. Empresários do setor não financeiro em vez de dos três elementos para uma contribuição sustentável 469 bilhões desses recursos parados no Banco Central.
pagos, é ineficiente e tem baixa legitimidade. Mais gra- oferecer soluções se contentam com crédito subsidiados dos bancos aos acionistas e ao País. É um montante superior ao total de concessões do SFN
ves são as externalidades, com a negativação de empre- e em culpar banqueiros. divulgado na Nota para a imprensa (29/01/2018). Como
sas e cidadãos que ficam sem acesso ao crédito comer- Atualmente, o quadro é outro. As funções do SFN há pouca liquidez, os bancos destinam os recursos para
cial e bancário. E o elevado custo dos financiamentos A intermediação financeira é sempre a articulação de são diferentes, a inflação acabou, a compensação é em as linhas com retornos maiores, cheque especial, algo
inviabiliza milhares de empreendimentos. É fato, o sis- três componentes fundamentais. O ativo, que contém o tempo real, a tecnologia revolucionou a intermediação, que pode ser corrigido rapidamente.
tema é disfuncional e é um dos fatores mais fortes para crédito, o passivo, com a captação de depósitos, e a base mas a concepção do sistema continua a mesma: retró-
explicar a derrubada da economia brasileira em 2014. econômica, que gera os recursos. Para funcionar bem, grada. E aqui está o ponto central do artigo – os três A primeira medida, imediata, é
Os problemas no crédito começaram antes da crise e tem que se adaptar às circunstâncias. Mas a arquitetura elementos fundamentais estão desarticulados. O passi- a transparência. A segunda é dar
se agravaram mais depois. No quadriênio anterior, de do SFN foi feita na época da inflação alta, em que para vo está hipertrofiado, com certificação, transparência e um choque de liquidez no siste-
2010 a 2013, o PIB cresceu 17,4%, mas a inadimplên- preservar a moeda nacional, o componente do passi- garantias; o componente do crédito está exaurido, com ma.
cia, medida pelo Serasa, aumentou 39,3%. Foi o fator vo tinha que ser fortalecido, com múltipla indexação taxas altas, prazos curtos, morosidade elevada, falta de
mais importante para explicar o arrefecimento da ativi- consoante com a dispersão de preços, liquidez imediata clareza, e com o ônus tributário maior que nas aplica- Mais ajustes são necessários na certificação, nas clas-
dade econômica. para aplicações e vantagens tributárias. Era um sistema ções; e há uma preocupação desproporcional com a sus- sificadoras de risco, nos créditos tributários, na frag-
estático, de um dia; no qual as incertezas inflacionárias tentabilidade ambiental, em vez de com a econômica. mentação de relacionamentos, na indexação, na mar-
Governo e bancos tentam extrair mais do setor não eram altas. O crédito era usado predominantemente para cação original, no mercado de câmbio, na certificação,
financeiro do que sua capacidade de gerar recursos, um equilibrar o caixa de empresas, na dependência de uma Não tem como dar certo. As medidas anunciadas no na moeda remunerada, na precificação de operações, no
imediatismo exagerado. Fazendo uma analogia, é como compensação de cheques demorada, originando um ga- cadastro positivo, na duplicata eletrônica e na aliena- redesconto, na regulação, nas renegociações, na respon-
se numa economia agrícola, as sementes fossem tribu- nho inflacionário para os bancos. O governo se apro- ção fiduciária, entre outras, não vão gerar uma mudança sabilização de excessos, no risco, na transparência e na
tadas pesadamente, uma circunstância em que não se priava de parte desse lucro tributando os financiamentos substantiva. Apesar de que é possível uma transforma- tributação. Podem ser feitos em pouco tempo e causa-
pode esperar uma grande safra. A causa é uma só: a po- e com exigências de caixa e compulsórios altos. Um ção positiva. Os bancos têm potencial de uma grande riam uma transformação memorável. A lucratividade
contribuição ao país e o momento é oportuno para uma aumentaria substancialmente e a contribuição da inter-
rearticulação da intermediação. A inflação está em 3% mediação para o desenvolvimento do País, mais ainda.
ao ano, a relação crédito/PIB está na metade do poten- É possível fazer muito pelo Brasil em pouco tempo. Só
Na época da inflação alta, cial e há uma necessidade de dar legitimidade aos ban- depende do poder executivo. É só querer.
um ditado bancário dizia: cos e ao governo. A mudança mais importante é mudar
“Colha os ovos, mas não a concepção do papel e do funcionamento do SFN. O É paradoxal, agradaria a banqueiros, a governantes e
mate a galinha”. Ilustra Brasil tem um sistema financeiro sólido e rentável e ne- a cidadãos; todavia, insistem em uma concepção de po-
a articulação dos três cessita de um que também seja inclusivo, estável, trans- lítica bancária anacrônica. Lembra a frase de John May-
componentes do SFN parente, eficiente e justo. nard Keynes: “A dificuldade real não reside nas novas
para uma contribuição ideias, mas em conseguir escapar das antigas”. A pala-
sustentável dos bancos aos A mudança pode ser feita rapidamente, em questão vra crédito vem do termo latino credĭtum, que significa
acionistas. de semanas. A primeira medida, imediata, é a transpa- crença e confiança de que pessoa ou empresa é capaz
rência. Deve-se usar uma só régua para medir a taxa de cumprir compromissos assumidos. Urge acreditar no
de aplicações e financiamentos, mesmo prazo, mesmo crédito e na transformação que pode fazer no Brasil.

42 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 43


Artigo
Felipe de Holanda

Monteiro Neto et al (2017), realizam excelente ba- Federal de 1988, ao sabor das diversas conjunturas eco-
lanço do desenvolvimento territorial recente no Brasil, nômicas e políticas, constituem-se em políticas sociais
no período 2000 a 2015. Inicialmente, apresentam uma com fortes impactos regionais. O Programa de Aposen-
revisão histórica da literatura sobre o tema, na qual se tadoria Rural teve grande impacto na redução da pobreza
A QUESTÃO REGIONAL BRASILEIRA APÓS detêm em determinados períodos em que a questão re- regional, com expressivo impacto na capilarização do
A TEMPESTADE RECESSIVA: UMA AGENDA gional brasileira foi alvo de políticas regionais explícitas consumo de baixa renda.
favoráveis e estruturantes, assim como outros períodos
PARA OS ESTADOS DAS REGIÕES NORTE E em que políticas setoriais e sociais (após a promulgação Os anos 90 foram um período de
da Constituição de 1988), tiveram efeitos expressivos so- baixo crescimento da economia
NORDESTE Por Felipe de Holanda 1

bre a redução das desigualdades regionais. O conjunto brasileira e de retorno à preocu-


de investimentos em infraestrutura aplicados nas regi- pação do agravamento dos dese-

O
ões Norte, Nordeste e Centro Oeste, a partir do II PND quilíbrios locais.
tema dos desequilíbrios regionais voltou a Avaliando-se pela hipótese da convergência da renda per (1973-77)3, e que maturaram no final da primeira metade
se evidenciar na federação brasileira, após a capita, um dos mais relevantes indicadores-síntese uti- da década de 1980, são exemplos de políticas setoriais A CF de 1988 também estabeleceu o Sistema de Trans-
profunda crise recessiva ocorrida entre 2014 lizados na literatura especializada2, após mais de meio com impacto expressivo na redução de disparidades re- ferências Constitucionais, base da mais destacada fonte
e 2017, ampliando seu peso como elemento do núcleo século de políticas explícitas, os desequilíbrios regionais gionais de recursos para investimento público e privado, nas re-
central da problemática do desenvolvimento nacional. continuam acentuados no Brasil (Mapas 1 e 2). giões incentivadas, que correspondem a 3% do produto
Há que se considerar também, o efeito ampliador das da arrecadação conjunta do Imposto de Renda e do Im-
MAPAS DE DENSIDADES DA RENDA PER CAPITA REGIONAL BRASILEIRA, COM OS RESPECTIVOS
disparidades regionais das políticas de orientação neo- posto sobre Produtos Industrializados. Deste total, cabe
COMPARATIVOS PERCENTUAIS EM RELAÇÃO AO PIB PER CAPITA NACIONAL, 1959 E 2015.
liberal intensificadas durante os Governos de Fernando ao FNO 0,6%, ao FCO 0,6% e ao FNE 1,8%4.
PIB per capita regional/ PIB per capita regional/ Henrique Cardoso (1995-2002). Para os autores em tela,
média nacional Nordeste média nacional Nordeste
(em %) (36,9%) (em %) (51,2%) os anos 90 foram “um período de baixo crescimento da Além das políticas regionais explícitas, configuradas
Norte Norte
(40,4%) (62,6%) economia brasileira e de retorno à preocupação do agra- sobretudo pelo Sistema de Transferências Constitucio-
Brasil 100% Brasil 100%
vamento dos desequilíbrios locais. (...) Vários estudiosos nais, Monteiro et al (2017) chamam atenção para o fato
36,9 51,2
passaram a especular, neste momento, sobre o aumento de que, nos primeiros quinze anos do século, configu-
40,4 62,6
70,6
Centro-Oeste
117,6
Centro-Oeste das disparidades, depois de um breve interregno, entre raram-se condições muito favoráveis para que as políti-
(70,6%) (117,6%)
96,6 Sudeste 128,0 Sudeste 1970 e 1985, de convergência regional até mesmo a te- cas sociais contribuíssem para a redução do gap do PIB
154,7 (154,7%) 128,8 (128,8%)
mer pela existência de um fenômeno novo, de fragmenta- per capita, além de indiscutíveis ganhos no que tange à
Sul Sul
Fonte: IPEA, IBGE.
(96,6%) 1959 (128%) 2015 ção da nação.” (MONTEIRO, et al, 2017, p. 40). escolarização e saúde das parcelas mais desfavorecidas
das populações dos Estados do Norte e Nordeste. Regis-
Os programas de Seguridade e de inclusão sócio pro- trou-se, no período 2000 a 2012, um crescimento real
dutiva, que foram sendo formulados após a Constituição do salário mínimo superior em 70% à inflação oficial do

1
Presidente do Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos – IMESC. O autor agradece o diligente apoio dos pesquisadores do IMESC Erivam de Jesus Rabe-
lo Pinto Junior, João Carlos Souza Marques e Carlos Eduardo Abdalla, na pesquisa de dados e no apoio à preparação das tabelas, gráficos e mapas.
FELIPE DE HOLANDA
2
Barros (2011) apresenta e testa a consistência do indicador-síntese da renda per capita e de sua convergência, como indicador de desenvolvimento regional.
Conselheiro Federal do Cofecon, é graduado em Economia pela Faculdade de Economia
3
O 2º Plano Nacional de Desenvolvimento, foi implantado durante o governo do general Ernesto Geisel, (1973-77), embora vários dos grandes projetos de infraestrutura nas regiões
e Administração da Universidade de São Paulo e em Ciências Sociais pela Faculdade de incentivadas só foram maturar no final da primeira metade da década de 1980, a exemplo da Complexo Porto do Itaqui/ Estrada de Ferro Carajás/ ALUMAR).
Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e mestre em Economia
pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (1997). É presidente do 4
Tal base perdeu densidade financeira ao longo da década de 1990 e primeira metade da década de 2000, uma vez que o Governo federal passou a privilegiar fontes de arrecadação
não partilhadas pelos Estados e Municípios, principalmente sob a forma de contribuições sociais. A partir de 2007, sob a orientação da Nova Política de Desenvolvimento, PNDR I,
Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (Imesc). tais fundos passaram a crescer acima da taxa de crescimento do PIB e da Arrecadação federal.

44 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 45


crescimento relativo no período, em todas as dimensões Mas, se prestarmos atenção na dinâmica do nível das
do Índice (Longevidade, Educação, Renda), seguida de dimensões do IDHM, na primeira década do século, ob-
De 2000 a 2012, importantes perto pela região Norte e, um pouco atrás, pela região serva-se que enquanto na saúde e na educação houve um
políticas reforçaram o processo Centro Oeste. A intensidade da melhora e a redução no catch up para a média da Região Sudeste na década an-
de capilarização do consumo e de gap entre as regiões que foram alvo de políticas explíci- terior, no caso da renda, o nível alcançado pelo sub indi-
ampliação da escolarização. tas de desenvolvimento regional ficam evidentes, confir- cador da renda das regiões Norte e Nordeste (com maior
mando o caráter socialmente inclusivo de um conjunto destaque para o NE) é superior ao de 2000, mas em nível
de políticas sociais, setoriais e explicitamente regionais muito inferior ao atingido por aquela região e pelo Bra-
aplicadas ao longo do período. sil, em 2010. Este último fato mostra que o desafio da
inclusão sócioprodutiva registrou poucos avanços efeti-
A desagregação dos dados, vista na Tabela 1, entre- vos nos primeiros 15 anos do Século, sobretudo no que
tanto, mostra que os avanços na dimensão educação fo- se refere ao adensamento das cadeias produtivas locais e
ram responsáveis por mais de 2/3 do avanço do IDHM uma maior integração regional, e continua constituindo-
global, destacando-se sua preponderância nos Estados do -se em grande desafio das políticas regionais.
Sul e do Norte, mas também acima de 70% nas regiões
Norte, Nordeste e Centro Oeste. No caso da dimensão O desafio da inclusão sóciopro-
Longevidade, observa-se um aprofundamento do gap das dutiva continua sendo o grande
demais regiões em relação ao Sul e Sudeste. Já no que se desafio das políticas regionais.
refere à dimensão renda, excetuando-se a virtual estag-
nação do IDH-M Renda na Região Sul (que precisa ser Para Monteiro Neto et al (2017), na conjuntura reces-
melhor compreendida), houve modesto avanço no perío- siva que se estabeleceu após 2015, o Governo Federal
período, além do alargamento de sua base de cobertura. estatais (a exemplo da Petrobras), grandes empresas de do em todas as regiões, com destaque para o ainda menor tenderia a “manter o Gasto Social”, tendo em vista seus
Impactos importantes também advieram do Programa construção pesada (todas hoje envolvidas em graus di- dinamismo na região Norte, e tendo a região Nordeste compromissos políticos e escolhas redistributivas”, que
Bolsa Família, do Programa Minha Casa Minha Vida, versos com a Operação lava Jato), e, last but not least, ficado praticamente no mesmo nível da média brasileira. teriam, supostamente, um papel contra cíclico e estabili-
do sistema de financiamento estudantil (FIES) e da inte- grandes operações de crédito do BNDES, que se eleva-
riorização das universidades e escolas técnicas federais, ram rapidamente após 2009 e chegaram a atingir, em va-
como importantes políticas, que reforçaram o processo lores atuais, cerca de R$ 200 bilhões por ano. Tabela 1. Variação acumulada do IDHM, suas dimensões e as contribuições relativas
de capilarização do consumo e de ampliação da escolari- de cada uma delas para a melhora do índice, entre 2000 e 2010 (%)
zação, entre outros efeitos estruturantes. Assim, sob a influência estruturante de políticas regio- Macrorregião Norte Nordeste Centro-Oeste Sul Sudeste Brasil
nais explícitas, políticas sociais e grandes investimentos Variação IDHM 26,8 28,0 18,4 13,8 13,8 18,4
Sobre o papel estruturante desempenhado pelas políti- setoriais, houve inegável redução das disparidades regio- Variação IDHM Renda 9,4 11,6 8,3 0,7 5,1 7,2
cas setoriais na redução das desigualdades regionais no nais no período 2000 a 2012. Nos parágrafos a seguir, Variação IDHM Longevidade 11,6 13,8 8,3 7,2 8,3 12,7
período 2007 a 2014, Monteiro Neto et al (2017) mos- analisaremos algumas nuances do processo, incorporan- Variação IDHM Educação 67,6 66,0 42,4 29,3 26,8 39,7
tram como o PAC se inspirou diretamente na experiên- do na trama explicativa os impactos da tempestade reces- Contribuição do IDHM Renda para 1
cia da União Europeia, “cuja ênfase estava na compre- siva ocorrida no interregno 2014-2017. a melhora do índice 10,6 12,7 14,1 1,9 12,7 2,1
ensão multiescalar da dinâmica territorial e na noção de Idem IDHM Longevidade 13,1 15,1 14,1 19,4 20,6 21,3
identificação e fortalecimento das vantagens competiti- Sob o ângulo da variação intercensitária do IDHM e Idem IDHM Educação 76,4 72,3 71,9 78,7 66,6 66,6
vas (...)”. A equação de financiamento do PAC contava de sua desagregação, no contraste entre 2000 e 2010, vê-
Fonte: IPEA/PNUD.
principalmente com investimentos das grandes empresas -se que a região Nordeste apresentou as maiores taxas de

46 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 47


zador, diante da provável redução de “aplicações de re- cidades, com o agravamento do já crítico problema da média brasileira registrou crescimento entre 2012 e 2017. Polo Petroquímico e de Construção Naval de SUAPE, as
cursos produtivos”. mobilidade urbana, a ampliação do contingente daqueles As demais regiões, com destaque para as regiões Centro Refinarias Premium I e II e COMPERJ foram abando-
sem acesso à água e saneamento, a crise da segurança Oeste e Norte, registraram expressiva queda naquela re- nados ou, a exemplo da Refinaria Abreu Lima, em Su-
Entretanto, são os estados das regiões Norte e Nor- pública, que entrou em fase aguda, com o sucateamento lação, enquanto que a Região Norte e a região Nordes- ape, que conta com o funcionamento apenas do primeiro
deste que pontuaram fortemente no crescimento do con- e infiltração das forças de segurança pública de muitos te registraram as maiores regressões no rendimento real trem do Projeto (Produção de 100 mil barris/dia), tendo
tingente dos extremamente pobres , contribuindo com 5
estados, pelo tráfico, pelo crime organizado. E, cres- médio no período, tendo o indicador revertido, no perío- as obras já realizadas do segundo trem (130 mil barris/
958,4 mil novos extremamente pobres, somente na pas- centemente, após a crise recessiva, ressalte-se o enorme do recessivo recente, ao patamar do 1º trimestre de 2003 dia) provavelmente sido absolutamente depreciadas nes-
sagem de 2016 para 2017 (Tabela 2). Há que se consi- stress social e econômico que vem causando a elevada (NE) e ao patamar 2º trimestre de 2003 (NO). Vê-se, por- ta altura.
derar também o efeito da crise hídrica, que se prolongou desocupação, principalmente no que se refere ao acesso tanto, por este indicador, um movimento de agravamento
de 2010 a 2017, com efeitos particularmente perversos aos empregos formalizados. 6
das disparidades regionais em marcha desde 2012, mas No Gráfico 1, observa-se que a forte compressão do
no semiárido nordestino e nas chapadas maranhenses. que vem se agravando mais rapidamente desde 2015. . investimento público agregado entre 2010 (quando esta
Enquanto a região Norte apresentou em 2016 a maior O que dizer sobre o período mais recente? Uma ver- variável atingiu seu máximo recente) e 2017, foi com-
taxa de crescimento de extremamente pobres, foi na re- dadeira depressão econômica, que subtraiu 9,7% do PIB Para piorar a situação, houve, no período 2015 a 2017, posta a partir da queda real de 50% nos componentes dos
gião Nordeste que se localizou 58,2% da população que per capita brasileiro entre os anos 2014 e 2017, de acor- um dramático encolhimento das aplicações federais des- investimentos agregados do Governo Federal, dos Esta-
ingressou no contingente de extremamente pobres, em do com o IBGE (descontando a variação dos preços). O tinadas ao setor produtivo. A verdade é que muito do ca- dos e dos Municípios, enquanto que o investimento das
2017. que ocorreu com a estrutura do rendimento per capita pital social básico formado ao longo dos PAC I e II pode empresas estatais caiu quase 65% no período, desconta-
dos ocupados ao longo do período, considerado também ter sido perdido de forma irremediável. Projetos como o do o ajuste para variação de preços.
A crise recessiva e o descalabro fiscal do Governo o corte regional?
Federal, acompanhado de profunda crise das finanças
Gráfico 1. Setor Público Brasileiro segundo os diversos níveis federativos, Assim como
públicas em vários estados e municípios da federação, Somente na região Sudeste, que registrou a menor
Empresas Estatais: Evolução dos gastos em Formação Bruta de Capital Fixo (em % do PIB)
contribuiu de forma acentuada para a deterioração da queda nos rendimentos médios reais no período recessi-
qualidade de vida da população das capitais e grandes vo, a relação entre o rendimento médio real regional e a Governo Central Governo Estadual Governo Municipal Estatais Federais Estatais Privadas Total

5,0

4,6
Tabela 2. Brasil e Regiões: % da População Extremamente Pobre na População Total 4,5
e Montante e Variação % dos Contingente de Ext. Pobres em 1996 e 2016 (pessoas)
4,0 4,0 4,0 4,0
Região 1996 2001 2011 2014 2015 2015 2016 2016 2016-2015 2016-2015 3,9
(%) (%) (%) (%) (Ext. (%) (Ext. (%) (Ext. (% a.a.) 1,9 3,7
3,5 3,5
Pobres) Pobres) Pobres)
Norte 12,26 13,93 10,48 6,16 592.036 3,39 888.442 5,02 296.406 1,63 3,2 1,4
1,8 1,9
3,0 1,9 3,0
Nordeste 32,25 31,23 13,24 8,74 3.220.402 5,69 3.882.390 6,82 661.988 1,13 2,9 1,6
2,8 1,4
Sudeste 6,53 7,49 2,47 1,88 1.210.757 1,41 1.031.391 1,19 -179.366 -0,22 2,6 1,1 2,6 2,6 2,6
2,5
Sul 9,32 8,25 2,49 1,53 336.411 1,15 213.978 0,73 -122.433 -0,42 0,9 1,0 1,2
1,1 0,9 2,3
Centro-Oeste 8,91 8,22 2,23 1,15 217.587 1,41 144.661 0,92 -72.926 -0,49 0,8 1,0
1,1 1,0
2,0 0,7
Brasil 14,8 14,80 6,12 4,04 5.577.193 2,73 6.160.861 2,99 583.668 0,26 0,8
0,7 0,6
0,7 0,8 0,9 0,7
1,5 1,0 1,0
Fonte: IPEA/ IBGE 0,8 0,7
0,8
0,6 0,8 1,0
0,7 0,8 1,0 0,6
5
- Definidos conforme metodologia do IPEA, do IBGE e da CEPAL, que mensura a cesta mínima de necessidades de consumo calórico como limiar para a classificação daqueles que 1,0 0,9 0,9 0,5
estejam abaixo da linha de extrema pobreza. 0,7
0,9 0,7 0,6
0,7 0,7 0,7
0,7 0,7 0,5 0,5 0,4
6
- De acordo com a PNAD contínua do terceiro trimestre de 2017, em comparação com o mesmo período do ano anterior, entre as cerca de 1,5 milhão de pessoas que se inseriram no 0,5 0,6 0,6
segmento de ocupados no Brasil naquele interregno, a ampla maioria o fez através de modalidades precárias de relações de trabalho. Considerando essa referência de comparação, foram 0,8 0,7
0,4 0,4 0,4 0,6 0,6 0,5 0,6 0,5
geradas cerca 1 milhão de ocupações classificadas de conta própria, 641 mil empregados sem carteira, 198 mil trabalhadores familiares auxiliares, e 250 trabalhadores domésticos sem 0,3 0,4 0,4 0,3 0,4 0,4
carteira. Vê-se, portanto, que a ainda incipiente retomada do emprego vem se dando exclusivamente a partir de contratações não protegidas pelo estatuto do trabalho. Nos estados do 0,0 0,2 0,2
Norte e Nordeste, o peso relativamente muito maior do trabalho precário vem contribuindo para um movimento de desestruturação do mercado de trabalho mais profundo do que nas
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
demais regiões.

48 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 49


Tabela 3. Regiões NO, NE e CO: recursos de política pública com impactos regionais – fundos Salta aos olhos de quem percorre certas localidades nais federais, dos desembolsos do BNDES e das trans-
constitucionais de desenvolvimento, desembolsos do BNDES, PBF e BPCs (2007-2009; 2010- próximas das grandes obras do antigo PAC, a forma- ferências relacionadas aos Programas Bolsa Família e
-2012; 2013-2015; 2015-2017: médias anuais dos desembolsos; 2015; 2016; 2017) ção de extensas favelizações, como por exemplo nas de Benefícios de Prestação Continuada, Monteiro Neto
(R$ Bilhões Inflacionados pelo IPCA acumulado até setembro de 2017. duas margens da BR 101, próximo ao Porto de Suape et alii (2017, p. 40) estruturaram uma tabela agrupan-
Fundos Desem- Crédito de Programas e, em Rosário, no Estado do Maranhão, que era o mais do os fluxos, com uma determinada periodização de
Região/ Período Total
Constitucionais bolsos Investimento Sociais próximo núcleo urbano e de serviços para as obras de três fases, entre 2000 e 20015. Utilizando-se da mes-
terraplenagem da extinta Refinaria Premium I. Impor- ma metodologia, mas agregando dados até o terceiro
Nordeste FNE BNDES FNE+BNDES PBF+BPC Subtotal NE
tante também considerar que o corte do investimento trimestre de 2017, é possível percebermos, na Tabela
2007-2009 (Média anual) 7,0 (26,8%) 8,8 (31,1%) 15,8 (57,9%) 12,4 (42,1%) 28,2 (100,0%)
agregado não se distribuiu de maneira uniforme re- 3, os impactos do aprofundamento da crise fiscal so-
2010-2012 (Média anual) 11,3 (22,4%) 14,3 (32,8%) 25,5 (55,2%) 20,0 (44,8%) 45,5 (100,0%) gionalmente e setorialmente. O que, a menos que haja bre as transferências intergovernamentais e os desem-
2013-2015 (Média anual) 12,6 (20,7%) 18,5 (25,6%) 31,0 (46,3%) 30,0 (53,7%) 61,0 (100,0%) uma imediata e pouco provável recuperação nos inves- bolsos do BNDES. Em 2017, a Região Nordeste, não
timentos em curso, deverá colocará alguns gargalos e obstante a sustentação do montante aplicados nos pro-
2015 11,5 (20,7%) 12,9 (23,2%) 24,4 (44,0%) 31,1 (56,0%) 55,5 (100,0%)
armadilhas inflacionárias no caminho da retomada da gramas PBF + BPC, registrava uma queda da ordem de
2016 11,2 (21,0%) 10,2 (19,1%) 21,4 (40,1%) 32,1 (59,9%) 53,5 (100,0%)
atividade econômica do Brasil. 21,9% no conjunto dos repasses analisado, em relação
2017 16,0 (27,9%) 8,4 (14,7%) 14,8 (42,6%) 32,9 (57,4%) 47,6 (100,0%) à média do período 2013 a 2015. Na mesma base de
Norte FNO BNDES FNE+BNDES PBF+BPC Subtotal NO No que tange à efetividade redistributiva, entre as comparação, houve uma queda de 14,7% nos repasses
2007-2009 (Média anual) 1,9 (10,1%) 11,7 (66,7%) 13,6 (76,7%) 4,6 (23,3%) 18,2 (100,0%) três regiões-alvo das políticas regionais explícitas, que à região Norte e, de impressionantes 62,9%, à região
se originam do sistema de transferências constitucio- Centro Oeste.
2010-2012 (Média anual) 3,1 (10,9%) 19,0 (61,5%) 22,2 (72,4%) 8,0 (27,6%) 30,2 (100,0%)
2013-2015 (Média anual) 2,9 (6,9%) 19,4 (55,1%) 22,3 (62,0%) 12,6 (38,0%) 35,0 (100,0%) REFERÊNCIAS:
• BANCO DA AMAZÔNIA, Relatórios de Atividades e gestão do FNO.
2015 4,0 (10,0%) 22,5 (56,6%) 26,5 (66,5%) 13,3 (33,5%) 39,8 (100,0%) Disponível em: http://www.bancoamazonia.com.br/index.php/fno-institucional/fno-relatorios-atividade-down. Acesso em: 15 fev 2018.
• BANCO DO NORDESTE. BNB Transparente – Contratações: FNE. Site do Banco do Nordeste, 2018.
2016 3,4 (11,8%) 11,4 (39,7%) 14,8 (51,5%) 13,9 (48,5%) 28,7 (100,0%)
Disponivel em: < https://www.bnb.gov.br/bnb-transparente>. Acesso em: 15 fev 2018.
2017* 3,5 (10,9%) 14,2 (44,4%) 15,5 (55,2%) 14,3 (44,8%) 29,8 (100,0%) • BARROS, A. R. Desigualdades Regionais no Brasil: naturezas, causas, origens e soluções. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
• INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Síntese de Indicadores.
Centro-Oeste FCO BNDES FNE+BNDES PBF+BPC Subtotal CO Acesso em: 2018.
• INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA – Ipeadata. Dados macroeconômicos, regionais e sociais.
2007-2009 (Média anual) 10,9 (25,7%) 27,9 (65,7%) 38,9 (91,4%) 3,7 (8,6%) 42,5 (100,0%)
Disponível em: <http://www.ipeadata. gov.br>. Acesso em: 15 fev 2018.
2010-2012 (Média anual) 17,5 (28,2%) 38,0 (61,2%) 55,5 (89,5%) 6,5 (10,5%) 62,0 (100,0%) • MINISTÉRIO DA INTEGRAÇAO NACIONAL (MI). Dados Abertos e Solicitações de Transparência.
Disponível em:< http://www.integracao.gov.br/dados-abertos> Acesso em: 15 fev 2018.
2013-2015 (Média anual) 15,3 (28,5%) 30,4 (56,6%) 45,8 (85,1%) 8,0 (14,9%) 53,8 (100,0%) • MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL (MDS). Ferramenta de Visualização dos Programas Sociais.
Disponível em: < http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/miv/miv.php>. Acesso em: 15 fev 2018.
2015 5,3 (26,6%) 11,8 (59,8%) 17,1 (86,5%) 2,7 (13,5%) 19,8 (100,0%) • MONTEIRO, A. CASTRO, C. N. DE, BRANDÃO, C. A. Desenvolvimento regional no Brasil: políticas, estratégias e perspectivas.
Rio de Janeiro: IPEA, 2017.
2016 4,4 (37,7%) 4,6 (39,5%) 8,9 (77,2%) 2,6 (22,8%) 11,6 (100,0%) • NERI, M. C. A nova classe média. Rio de Janeiro: FGV/IBRE, CPS, 2008.
2017* 8,1 (55,9%) 3,8 (26,5%) 11,9 (82,4%) 2,5 (17,6%) 14,5 (100,0%) Disponível em:<http://www.fgv.br/cps/classe_media>. Acesso em: 18 jun. 2012.
• ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS. Sistema OCB.
Disponível em: <http://www.ocb.org.br/>.Acesso em: 15 fev 2018.
• PACHECO, C. A. A Fragmentação da Nação. Campinas: Instituto de Economia - UNICAMP, 1998.

Vê-se, portanto, que houve incontestável reversão do processo de desconcentração regional ocorrido entre 2000 a • POCHMANN, M. Nova classe média? o trabalho na base da pirâmide social brasileira. São Paulo: Boitempo Editora, 2012.
• SUPERINTENDÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO DO CENTRO-OESTE, Relatórios de Gestão e Desempenho Operacional do FNO.
2012, o qual, a partir de 2015, agravado pela tempestade recessiva e pelo aprofundamento da crise fiscal nas três esferas
Disponível em: <http://www.sudeco.gov.br>. Acesso em: 15 fev 2018.
de Governo, vem dando sinais de reversão e de expressiva piora dos desequilíbrios regionais na federação brasileira. • TESOURO NACIONAL. Transferências Constitucionais Ilegais. Disponível em < www.tesouro.fazenda.gov.br>. Acesso em 15 fev 2018.
Fonte: Monteiro Neto et alii (Metodologia); Relatórios de Gestão e Auditoria da SUDECO (FCO); Relatórios de Auditoria do BASA (FNO); Ministério da Integração, BNB (FNE); • MARQUES, J. C. S. Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste – FNE e Desenvolvimento Regional: o caso do estado do Maranhão
BNDES (desembolsos); Ministério do Desenvolvimento Social (Programa Bolsa Família - PBF + Programa de Benefícios de Prestação Continuada - PBC). * projeções com base nos (2006-2015). Universidade Federal do Maranhão. (Monografia) São Luís, p. 102. 2017
resultados até julho de cada fundo ponderados pelo resultado FNE para nivelar a sazonalidade.

50 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 51


À GUISA DE CONTRIBUIÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA AGENDA PARA OS ESTADOS organizada das Regiões Norte e Nordeste deve ter espaço para ampliar captações externas (de acordo
DAS REGIÕES NORTE E NORDESTE também como foco os desembolsos do BNDES, com os termos da Lei de Responsabilidade Fiscal);
os repasses do sistema financeiro da habitação e a
Conforme a discussão empreendida acima, e da luta pelo reordenamento do federalismo fiscal sistemática de concessão do aval da União para o X. Há também o necessário aprimoramento do corpo
considerando a evolução recente dos gastos públicos brasileiro. Conforme aponta Marques (2017), mais acesso ao financiamento externo, principalmente técnico dos sistemas de planejamento estaduais e
federais e dos indicadores socioeconômicos de 50% dos recursos foram aplicados em projetos no que tange às linhas de crédito das instituições municipais. Este esforço também merece por si só
regionais, alguns pontos se evidenciam na agenda agropecuários tradicionais, sendo ainda atividades multilaterais, a exemplo do Banco Mundial, do uma ação coordenada dos chefes dos executivos
posta para os Estados das regiões Norte e Nordeste: do terciário tradicional (supermercados, comércio e Banco Interamericano de Desenvolvimento e estaduais, no sentido de garantir, através de uma
serviços de baixa produtividade) privilegiadas pela também, do Banco dos BRICs (New Development boa coordenação interfederativa, o aumento da
I. Com a crise fiscal-financeira do Governo Federal quase a totalidade dos recursos restantes. Em suma, Bank); quantidade e da qualidade de servidores (também
e o desarranjo das finanças dos entes subnacionais, uma parcela expressiva destes financiamentos no nível municipal) com capacidade de atuar na
decorrentes em grande parte, dos impactos da subsidiados, direcionada sistematicamente para VIII. No que tange ao BNDES, não é suficiente elaboração e gestão das carteiras de empréstimos
profunda recessão brasileira entre os anos 2014 a atividades com escassos multiplicadores de renda que os recursos financeiros sejam distribuídos direcionados à infraestrutura e ao meio ambiente.
2017, houve uma dramática compressão dos gastos e emprego, além de insignificante do ponto da de maneira a privilegiar os espaços econômicos
federais em suas várias modalidades, e com maior inovação e do aumento da produtividade regionais; subnacionais de menor desenvolvimento relativo, Esta, em termos gerais, constitui-se em agenda
impacto sobre o emprego e a estrutura produtiva sendo também necessário que estejam acoplados prioritária para os Estados do Norte e Nordeste,
nos Estados das regiões Norte e Nordeste; V. Em contraste, os grupamentos de atividades da a uma estratégia de desenvolvimento concertada no sentido de constituir um novo padrão de
agroindústria e do turismo, principais segmentos regional e territorialmente, mobilizando novas e financiamento que permita acessar novas e
II. Tal compressão, ao desestruturar o padrão de com respostas efetivas e mais rápidas na geração de mais ágeis articulações interfederativas; diversificadas e de reorientar as já existentes
financiamento dos Estados das regiões mais pobres empregos e na elevação da produtividade sistêmica fontes de financiamento para a infraestrutura e o
do país, evidencia os limites do pacto federativo dessas economias regionais, têm recebido recursos IX. O tema do Aval da União para a obtenção de meio ambiente. Tal esforço demanda, como parte
herdado da Constituição Federal de 1988; escassos e mal distribuídos nas duas regiões, financiamentos externos é outra variável-chave necessária, a construção de um novo projeto de
embora crescentes no período mais recente. para a nova questão regional brasileira. Nos moldes desenvolvimento regional, que articule, através
III. Por isso, coloca-se de maneira prioritária a atuais, há escasso espaço para a ampliação das do planejamento territorial, de forma multiescalar
revisão do pacto federativo brasileiro, na direção VI. Torna-se necessária uma ação política captações de tais empréstimos pelos Estados do e interfederativa, arranjos de financiamento e de
de, conforme a excelente formulação de Monteiro coordenada entre as principais lideranças políticas Norte e Nordeste, sendo que o processo para aceder governança que delimitem, para cada território
Neto et alii (2017, p. 60), “um novo pacto dos estados do Norte e Nordeste, no sentido de a estes empréstimos vem sendo muito mais lento e definido por determinadas semelhanças fisiografias,
federativo cooperativo, coordenado ou articulado, garantir a reorientação do sistema de transferências burocrático do que exige a complexa governança de acesso e articulados por uma ou um conjunto de
que potencializaria a ação pública conjunta com constitucionais, cuja definição das prioridades das instituições multilaterais, já que demanda, cadeias produtivas dinâmicas ou potenciais, além
repercussões locais relevantes na redução das não podem ficar à mercê da inércia e do cálculo além da tramitação por comissões especializadas de restrições e potenciais ambientais, que permitam
desigualdades socioeconômicas e no estímulo ao microeconômico isolado por parte dos agentes de do Ministério do Planejamento, a aprovação no construir, de forma pactuada territorialmente,
desenvolvimento regional e nacional”; crédito dos Bancos Regionais de Desenvolvimento. Senado. Faz sentido macroeconômico a mobilização a matriz de investimentos públicos e privados
de garantias a partir de alguma variante do antigo prioritários para garantir o processo de adensamento
IV. A questão do fortalecimento e reorientação do VII. A ação política coordenada das mais Fundo Soberano, constituído a partir do acúmulo da estrutura produtiva, com efetiva inclusão sócio
sistema de fundos constitucionais é o primeiro front destacadas lideranças políticas e da sociedade civil de superávits externos da União, para permitir o produtiva, tão gravemente interrompido pela
acesso de estados e municípios adimplentes e com recente tempestade recessiva.

52 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 53


Educação
Por meio de um jogo virtual, os A Gincana é uma que compõem o centro das tomadas
estudantes são instigados a buscar oportunidade para de decisões em nosso país. Essa ex-
soluções para problemas econômicos os competidores periência trouxe um grande estímulo
EDUCAÇÃO NO FOCO DO COFECON como inflação, juros altos e cresci- conhecerem ao nosso futuro como economistas”,
mento negativo do PIB. A Gincana estudantes de outras ressalta Johnny Monteiro.
acontecerá pela oitava vez em 2018. regiões e economistas
dos mais renomados A viagem também serviu para co-
Por Júlio Poloni
A competição ocorre em dois ní- do país. locar os estudantes em contato com o
veis: estadual e nacional. Os Con- universo da Economia de uma forma
selhos Regionais de Economia Desde a primeira edição, os com- mais intensa. Franklin e Johnny visi-
(Corecons) são responsáveis pela re- petidores concorrem a prêmios em taram as sedes do Cofecon, do Banco

A
alização da etapa local. As melhores dinheiro. A partir de 2017, no entan- Central, do Ministério da Fazenda e
Educação é um pilar fundamental para o desen- O Cofecon tem expandido sua duplas de cada estado se classificam to, há uma nova premiação em jogo. do Instituto de Pesquisa Econômica
volvimento de qualquer sociedade. Com essa atuação nos últimos anos, com para a etapa nacional, que acontece Além da recompensa financeira, Aplicada (IPEA). “Nos três dias em
visão, o Conselho Federal de Economia (Cofe- o lançamento de novos projetos, durante os grandes eventos anuais do agora a dupla campeã da etapa Brasília, respiramos história e pude-
con) desenvolve diversos projetos que estimulam a dis- como o Desafio Quero Ser Econo- Sistema Cofecon/Corecons, sendo o nacional também ganha uma via- mos conhecer as instituições dos so-
seminação do conhecimento econômico e a produção de mista e a amplificação de projetos Congresso Brasileiro de Economia gem a Brasília. Os vencedores da nhos de boa parte dos estudantes de
estudos e pesquisas que contribuam com a área da Eco- já consolidados, como a Gincana (CBE) nos anos ímpares e o Simpó- Gincana 2017, Franklin Zummach e Economia. Em especial, pela minha
nomia. Esse trabalho visa alcançar não somente os econo- Nacional de Economia. sio dos Conselhos de Economia (Sin- Johnny Monteiro, da Universidade inclinação à pesquisa, destaco a vi-
mistas, mas também os estudantes de Ciências Econômi- ce) nos anos pares. Regional de Blumenau (FURB), tive- sita ao IPEA. Sem dúvida, a viagem
cas e até mesmo os alunos de Ensino Médio, que estão na “O trabalho da Comissão de Educação tem em sua ram essa experiência. Os campeões tornou nossa formação como futuros
fase de decisão sobre qual carreira seguir. perspectiva o presente e o futuro da profissão no país. É Logo, participar de uma Gincana visitaram locais como a Esplanada economistas mais completa”, reflete
por isso que nossos projetos abrangem não somente eco- Nacional de Economia se traduz em dos Ministérios, a Praça dos Três Franklin Zummach.
Ampliar a participação de estudantes, bacharéis em nomistas, como também estudantes de Ciências Econô- uma experiência única para os com- Poderes, o Palácio Itamaraty, o Me-
Economia e economistas no Sistema Cofecon/Corecons micas e alunos de ensino médio. Nossas ações têm o ob- petidores, que têm a oportunidade de morial JK e a Torre de TV, que conta A visita ao IPEA teve um diferen-
é um dos objetivos estratégicos da autarquia. Os projetos jetivo de valorizar a comunidade acadêmica e estimular conhecer estudantes de outras regiões com uma vista panorâmica da cidade. cial. Além de conhecerem a sede da
educativos, além de fomentar a produção de conhecimen- suas produções. Acredito que se os estudantes notarem o e se relacionar com os mais renoma- “A oportunidade de conhecer Brasí- instituição, os campeões da Ginacana
to econômico no país, constroem pontes que ligam o Sis- trabalho do Sistema Cofecon/Corecons mesmo antes de dos economistas do país que partici- lia foi muito enriquecedora. Tivemos 2017 tiveram a oportunidade de par-
tema Cofecon/Corecons ao seu público-alvo. A Comissão se formarem, eles certamente terão mais segurança e con- pam do evento. o privilégio de visitar as instituições ticipar de um bate-papo com o eco-
de Educação é responsável por planejar e executar os fiança no órgão que regulamenta a futura profissão deles”,
diversos projetos educativos do Sistema. Entre suas atri- reflete Denise Kassama, coordenadora da Comissão de
buições está a promoção de mecanismos que estreitem a Educação do Cofecon.
relação do Cofecon com as universidades que oferecem o
curso de Economia, cursinhos e escolas de ensino médio Gincana Nacional de Economia
do País. A partir dessa diretriz, o Cofecon tem expandido
sua atuação nos últimos anos, com o lançamento de no- Os graduandos em Ciências Econômicas têm a opor-
vos projetos, como o Desafio Quero Ser Economista e a tunidade de entender a conjuntura econômica de um país
amplificação de projetos já consolidados, como a Gincana por meio de uma simulação prática e inteligente. Esse é o
Nacional de Economia. propósito central da Gincana Nacional de Economia. Os estudantes Franklin e Johnny na cerimônia de premiação, em Belo Horizonte, e visitando Brasília.

54 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 55


nomista José Eustáquio Ribeiro Viei- modalidade Tese de Doutorado, com em geral e estimular o desenvolvi-
ra Filho, pesquisador da instituição e a publicação Inovação tecnológica e mento de pesquisas voltadas para o Desafio Quero Ser Economista é o
professor do Programa de Pós-gradu- aprendizado agrícola: uma aborda- conhecimento da realidade brasileira. primeiro contato com a área da Economia
ação em Agronegócio da Universida- gem Schumpeteriana; e ficou em 3º para centenas de jovens de todo o país.
de de Brasília (Propaga/UnB). lugar na categoria Livro de Economia O PBE contempla os melhores
na edição de 2017, com a obra Agri- trabalhos acadêmicos em cinco ca-
“Considero essa iniciativa mui- cultura, Transformação Produtiva e tegorias: monografia de graduação; O intuito da alunos iniciam o curso de Ciências
to positiva. Quando os alunos estão Sustentabilidade. dissertação de mestrado; tese de dou- Escola de Educação Econômicas? Quantos completam o
na faculdade, a grande maioria não torado; artigo científico; e livro de Continuada é curso? Qual o índice de evasão? Em
consegue ver a aplicação de todo o Para José Eustáquio, projetos como Economia. Os autores dos melhores aperfeiçoar o que locais a demanda pelo curso su-
aprendizado de Economia. Por isso o Prêmio e a Gincana contribuem trabalhos de cada modalidade ga- de 700 estudantes de todo o país. processo de formação pera a oferta?
acho importante essa interação com para uma maior aproximação entre as nham recompensa em dinheiro, além dos economistas de
profissionais que já trabalham na área comunidades de estudantes e profis- da viagem ao Congresso Brasileiro O #Desafio é um jogo online em todas as regiões do As respostas de tais questionamen-
e que podem ampliar a visão de mun- sionais economistas. “A Gincana e o de Economia ou ao Simpósio dos que os estudantes se deparam com país. tos são fulcrais para que o Sistema
do econômico dos futuros economis- Prêmio Brasil servem de estímulo a Conselhos de Economia, eventos nos enigmas, vídeos interativos e de- Cofecon/Corecons possa conhecer
tas”, pondera o pesquisador do IPEA. estarmos em constante aprendizado. quais a premiação dos vencedores do safiadoras missões que instigam o Para alcançar todos os públicos de seu público-alvo em sua integralida-
Com dedicação e empenho, sempre PBE tradicionalmente acontece. aprendizado sobre economia. Assim, todas as regiões do Brasil, a Escola de e identificar falhas no processo de
Prêmio Brasil de podemos aprimorar nossos estudos e de uma forma divertida, simples e de Educação Continuada se situará formação dos economistas brasilei-
Economia pesquisas. O reconhecimento vindo Desafio Quero Ser dinâmica os futuros profissionais exclusivamente em ambiente online. ros. Essas informações subsidiarão o
dos nossos pares é muito importan- Economista podem ter um agradável e adequado Todos os materiais e conteúdos serão Cofecon em suas políticas de estímu-
Assim como Franklin e Johnny, te, pois sinaliza que o nosso esforço primeiro contato com a área da Eco- fornecidos a partir de uma platafor- lo ao estudo de economia no país.
José Eustáquio também já participou e trabalho individual estão na direção Os alunos de Ensino Médio têm no nomia. ma única, que poderá ser acessada a
de um projeto educativo do Cofe- correta. O estreitamento dessa rela- Desafio Quero Ser Economista uma partir do site do Cofecon. Em aten- O Censo do
con. O economista foi campeão do ção é muito valiosa”, avalia o econo- possibilidade de conhecer melhor a Escola de Educação ção à qualidade dos cursos de ex- Ensino Superior de
Prêmio Brasil de Economia 2009 na mista. profissão de economista e a atuação Continuada tensão e capacitação que serão ofe- Economia ajudará a
desses profissionais no mercado de recidos pela Escola, a Comissão de identificar falhas no
O Prêmio Brasil de Economia trabalho. Além do conhecimento ad- A partir de uma análise do mer- Educação do Cofecon definiu que processo de formação
(PBE) é o projeto de caráter educa- quirido, os jovens concorrem a prê- cado de trabalho do economista no todos os professores envolvidos no dos economistas
tivo mais tradicional do Sistema Co- mios. Os três primeiros colocados ga- Brasil, o Cofecon identificou uma projeto serão economistas de notório brasileiros.
fecon/Corecons, com 23 edições já nham um notebook, um smartphone e dificuldade que limita o desempe- saber em sua área de atuação, com ti-
realizadas. O objetivo do Prêmio é um tablet, respectivamente. Em duas nho de profissionais que residem em tulação mínima de especialista. Os trabalhos desenvolvidos pela
incentivar a investigação econômica edições, o projeto já mobilizou mais áreas não centrais do país: a falta de Comissão de Educação do Cofecon
qualificação profissional de alto ní-Censo do Ensino enfocam um público bastante amplo,
vel. O intuito da Escola de Educação Superior de Economia porém todos os projetos convergem
Com 23 edições já realizadas, o Prêmio Continuada é aperfeiçoar o processo em um único sentido: fortalecer a
Brasil de Economia (PBE) é o projeto de de formação do economista e viabili- O Censo do Ensino Superior de profissão de economista no país,
caráter educativo mais tradicional do zar o acesso de profissionais e estu- Economia traçará um panorama expandindo suas possibilidades e
Sistema Cofecon/Corecons. dantes de todo o país a conhecimen- completo sobre a formação de eco- estimulando a qualidade em seu
tos específicos da área. nomistas em todo o Brasil. Quantos exercício.

56 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 57


FENECO
“[...] A questão do ensino brasi- de qualidade de ensino de um país Por fim, convidamos todos a
leiro é a baixa qualificação, a partir desenvolvido. acessar o nosso site e ler essa tese
de uma estrutura arcaica, não eco- na íntegra dado que ela aborda
EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL: UM nômica e não condizente com a rea- A FENECO, conclama os outros temas da época, e alguns
lidade brasileira.” discentes e as discentes de Ciências até hoje contemporâneos, como a
LONGO CAMINHO A SER PERCORRIDO Econômicas, bem como, os baixa produtividade do trabalho e
Infelizmente, 45 anos depois Economistas e as Economistas do a deficitária oferta de ensino médio
desse artigo ter sido escrito, ainda há nosso país a lutarmos cada vez profissionalizante (técnico) no Brasil.
um longo caminho a ser percorrido mais, por uma educação básica de
para que o Brasil chegue ao patamar qualidade. Site: www.feneco.org

N
os últimos anos, o Brasil a solução mais assertiva para essa Visconde de Cairu, da Faculdade
experimentou uma grande circunstância. As mudanças neces- de Economia, Administração e Con-
expansão do acesso ao en- sárias envolvem, principalmente, tabilidade da Universidade de São
sino superior, entretanto, em relação aspectos institucionais e estruturais. Paulo encontrou em seus arquivos
à melhoria do ensino básico, os avan- De acordo com Ganimian e Murnane um registro histórico – a tese do II
ços pouco se manifestam. O exame (2014), incentivos bem desenhados Encontro Nacional dos Estudantes
do Programa Internacional de Ava- têm efeitos positivos no desempenho de Economia (ENECO), que ocorreu
liação de Alunos (PISA, na sigla em de professores e alunos, juntamente em 1973. Um dos pontos mais mar-
inglês) mostrou o baixo desempenho com treinamento específico de do- cantes do texto diz respeito às con-
dos alunos brasileiros nas disciplinas centes para prepará-los para alcançar clusões sobre a educação brasileira,
de leitura, matemática e ciência, fi- níveis minimamente aceitáveis de demonstrando, desde aquela época, a
cando respectivamente, nas posições instrução. preocupação dos estudantes de eco-
59ª, 66ª e 63ª entre os 72 países par- nomia com a temática:
ticipantes. Além disso, a forma como o con-
teúdo é ensinado no Brasil conduz os
O Brasil investiu 5,2% do PIB em alunos a serem apenas reprodutores
educação em 2017, todavia, ainda do que leram, mas não os capacita
tem uma das menores taxas de in- a pensarem autonomamente e a so-
vestimento por aluno se comparado lucionarem problemas. Isso explica,
com os países membros da Organi- em grande parte, a péssima perfor-
zação para a Cooperação e o Desen- mance dos mesmos no PISA, visto
volvimento Econômico (OCDE). A que o exame mede a capacidade em
média anual de gasto por aluno no lidar com problemas inéditos que
país, em 2016, foi de US$ 4.328,00 exigem mais do que uma fórmula
contra os US$ 9.317,00 da OCDE. para serem resolvidos e a habilidade
Por outro lado, pesquisas recentes de expressar ideias de forma clara
apontam que o aumento das despe-
sas com educação, por si só, não é Em 2017, o Centro Acadêmico

58 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 59


Seção
Novos Livros

As atividades
COMPLEXIDADE ECONÔMICA produtivas
têm diferentes
capacidades para
Por: Fernando de Aquino Fonseca Neto gerar crescimento
Conselheiro do Cofecon e Doutor em Economia pela UnB e desenvolvimento.
Destacam-se as com
retornos crescentes
de escala e grande
incidência de
inovações.
LIVRO: COMPLEXIDADE ECONÔMICA
– Uma nova perspectiva para entender a antiga
questão da riqueza das nações. 1ª ed. Rio de Janeiro: QUESTÕES TEÓRICAS E DEFINIÇÕES Atividades com retornos crescentes de escala exibem
Contraponto / Centro Internacional Celso Furtado de também, em geral, fortes externalidades de rede produti-
Políticas para o Desenvolvimento, 2017. Para explicar o desenvolvimento econômico, o Prof. va e economias de aglomeração. Esses retornos crescen-
Paulo Gala, da FGV/SP, identifica a abordagem da com- tes, ao lado das economias de aglomeração, geram forças
plexidade como uma reformulação da antiga tradição centrípetas em relação aos polos já existentes, enquanto
estruturalista, originalmente desenvolvida por Rosens- custos de transporte e menores custos de trabalho e de
AUTOR: PAULO GALA tein-Rodan, Nurkse, Lewis, Singer, Hirschman, Myrdal, fatores fixos fora dos polos geram forças centrífugas. A
Chenery, com sua vertente latino-americana formulada localização das redes produtivas, dentro de um país e em
principalmente na Cepal, destacando-se os trabalhos de outros, dependerá da resultante dessas forças.
Prebisch e Furtado. Para essa abordagem, as principais
referências do autor são Hausmann e Hidalgo, criadores Quanto maiores e mais complexas essas redes, maior
da principal fonte que utilizou, o Atlas da complexidade a tendência de se espalharem em vários países, inclusive

E
econômica1, composto de dados de exportação de 120 em alguns países pobres. Os exemplos clássicos são com-
Esse livro é uma demonstração da capacidade mercializável, e a uma microeconomia que precisa de países, ao longo de 50 anos e aberta em mais de 4.000 putadores, automóveis e aviões, que precisam de uma in-
de contribuição da abordagem heterodoxa, ao rendimentos decrescentes para que os mercados alcan- produtos. finidade de fornecedores e produtores, dentro e fora do
apresentar uma discussão muito mais útil do cem um equilíbrio. país de produção, integrados ao processo produtivo: são
processo de desenvolvimento econômico que o que tem Uma comprovação empírica mais exaustiva da as chamadas cadeias globais de valor. (p.29) Não seria a
conseguido a abordagem ortodoxa, com a sofisticação do Seria muito proveitoso se as correntes do pensamento importância desses setores para o desenvolvimento mera participação nessas cadeias que garantiria um alto
modelo de Solow. O apego da ortodoxia a uma meto- econômico em geral, em alguma medida, aceitassem a econômico foi trazida pelo Atlas, que evidenciou que nível de desenvolvimento econômico a um país.
dologia centrada na hipótese de equilíbrio, inspirada na abordagem da complexidade apresentada no livro, mas países ricos se especializam em mercados de competição
Física, mas que a própria Física, em várias situações, já é justo que se reconheça que ela pertence a uma tradição imperfeita e países pobres, em mercados de competição Não sendo essas capacidades produtivas diretamen-
superou, dificulta formulações como a da complexidade heterodoxa que ficou conhecida como estruturalista, cuja perfeita. (p.25) te observáveis, o Atlas traz indicadores indiretos muito
econômica. Ficam restritos a uma macroeconomia com principal característica seria de que os setores da econo-
1
- Atualmente, encontram-se disponíveis duas bases de dados on line: Atlas of Economic Complexity (http://atlas.cid.harvard.edu/), mantida pela Harvard University e coordenada com
um bem, ou no máximo dois, comercializável e não co- mia importam. a participação Hausmann, e The Observatory of Economic Complexity (https://atlas.media.mit.edu/), mantida pelo MIT e coordenada com a participação Hidalgo.

60 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 61


úteis e altamente correlacionados com medidas do ob- políticas industriais e direcionamento estatal somados a Desse modo, para definir um indicador geral não basta abordagem da complexidade, o autor aplica a vários ca-
jetivo final de riqueza e bem estar. Um indicador de co- uma iniciativa privada muito competente, aguerrida e efi- a produção de bens não ubíquos. A solução dos autores sos concretos. Exemplos ilustrativos para a doença ho-
nectividade disponibilizado são clusters de produtos ex- ciente. É claro que não há nenhuma garantia de sucesso. foi um indicador composto, que associasse não ubiqui- landesa foram a Indonésia e a Nigéria, ambos grandes
portados conjuntamente por vários países, funcionando Muitos exemplos de fracasso, corrupção e má alocação dade a diversidade da pauta exportadora. Nessa linha, produtores de petróleo, após os dois choques de preços
como uma medida de “encadeamento produtivo de co- de recursos estão por aí para demonstrar isso, tanto na chegaram a uma medida quantitativa que corresponde nos anos 70. A Indonésia, com política cambial ativa,
nhecimento”. (p.32) Esses clusters indicaram que as ma- história brasileira quanto na mundial. (pp.40-41) fortemente à percepção que se tem do grau de complexi- evitou a apreciação de sua moeda e manteve o dinamis-
nufaturas mantém alta conectividade, em contraste com dade econômica dos diversos países e, ao mesmo tempo, mo do seu setor de comercializáveis agrícola a manufa-
a baixa conectividade das commodities, confirmando que Maior destaque é ostentado pelo índice proposto por apresenta alta correlação com indicadores de prosperida- tureiro. A Nigéria, sem qualquer medida para realinhar o
a industrialização desenvolve as capacidades produtivas Hausmann e Hidalgo para a própria complexidade eco- de, como o PIB per capita. câmbio, valorizado com o grande aumento da entrada de
do país. nômica. Inicialmente, deve-se observar que um país com moeda estrangeira, sofreu as consequências em termos
o tecido produtivo complexo é capaz de produzir bens Para estruturalistas, se não houver postos de trabalho de regressão de seu setor comercializáveis não petrolí-
A chave para a riqueza de uma nação seria manter não ubíquos, ou seja, que poucos conseguem produzir. qualificados, não adianta qualificar a população. Traba- fero.
grandes parcelas de muitas redes produtivas mais com- Contudo, isso não é suficiente, uma vez que existe a não lhadores inseridos em setores tecnologicamente sofisti-
plexas operando em seu território. Isso dependerá do de- ubiquidade natural, devido à escassez, na natureza, de um cados são produtivos por causa das características intrín- Flutuações expressivas de complexidade econômica
senvolvimento de capacidades produtivas no país. bem primário qualquer, como diamantes e urânio. Nestes secas do setor, não por si mesmos. A produtividade de podem ser observadas na Europa, após e introdução do
casos, a não ubiquidade não indica qualquer sofisticação uma empregada doméstica que, depois de treinada, vai euro. Nos países do Sul – Portugal, Espanha, França,
Muitos dos gigantes asiáticos de hoje surgiram com produtiva. trabalhar em uma fábrica, por exemplo, aumenta enor- Itália e Grécia – bolhas de consumo e imobiliária, de-
memente. (p.40) correntes da introdução do euro, levaram a aumentos de
preços naqueles países, deixando os custos de produção
Outro conceito fundamental para a abordagem da elevados e as manufaturas externas relativamente mais
complexidade é o de “doença holandesa”, cunhado pela baratas, o que tem representado grande desestímulo à
The Economist, no final dos anos 70, para os proble- produção manufatureira local e a consequente perda de
mas trazidos pela descoberta de um gigantesco campo sofisticação. Os países do leste, por sua vez – República
de gás, para o setor manufatureiro na Holanda. Trata-se Tcheca, Polônia, Hungria, Eslovênia e Eslováquia – tem
de um processo em que um país possui recursos naturais apresentado crescente sofisticação produtiva, se bene-
abundantes e a custos competitivos, fazendo com que a ficiando da possibilidade de uma política monetária e
expansão de suas exportações provoque a apreciação de cambial ativa, por terem mantido moedas próprias, e da
Os economistas sua moeda. Os demais bens comercializáveis ficarão com proximidade com a Alemanha.
ortodoxos defendem preço muito baixo em moeda local, inviabilizando gran-
que o que se pode de parcela de sua produção, tanto para exportação quanto Embora vantagens comparativas em commodities pos-
fazer para favorecer para o próprio mercado interno, que será invadido por sa dificultar a industrialização, vários países conseguiram
o crescimento importações. Com isso, o país se especializará em produ- sofisticar sua base produtiva, mesmo mantendo produção
econômico é manter zir recursos naturais, com desindustrialização e perda de de commodities em larga escala, como foram o caso dos
instituições adequadas sofisticação produtiva. EUA, Noruega, Finlândia, Malásia, Tailândia e Canadá
e estabilidade
macroeconômica EXPERIÊNCIAS DE DESENVOLVI- Alguns países têm uma base de recursos naturais des-
e elevar o nível e a MENTO ESTUDOS DE CASO proporcionalmente grande em relação ao tamanho da po-
qualidade da educação. pulação. Nesses casos, é possível obter uma alta renda
Após apresentar os conceitos mais importantes para a per capita com baixa complexidade econômica, sem so-

62 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 63


Contudo, as intervenções do Estado têm sido bem mais Sobrevalorizações elevam os preços relativos dos não
intensas. Abertura comercial gradual, gerenciando um transacionáveis, direcionando a produção e o investimen-
O agronegócio pode complexo sistema de barreiras. Política ativa de atra- to para essa modalidade, em geral imóveis (mesmo com
gerar aumento ção de investidores estrangeiros, oferecendo zonas com o auxílio de máquinas sofisticadas, a produtividade entre
de complexidade boa infraestrutura e poucas regulamentações, em troca trabalhadores da construção civil não é muito diferente
produtiva se os de transferência de tecnologia. Exigências de elevados nos diversos países (p.100)) e serviços não sofisticados
tratores, os químicos, conteúdos nacionais, após curtos períodos de operação. (comércio, restaurantes, transportes). Simultaneamente,
as plantadeiras e Sistemas de estímulos e controles para promover eficiên- a lucratividade de bens comercializáveis complexos irá
colheitadeiras forem cia e competitividade. Em que pese a controvérsia sobre se reduzir, ambos os processos concorrendo para a perda
feitos domesticamente os efeitos da intervenção do Estado, com ela, ou apesar de complexidade produtiva do país. Seu efeito de favo-
com competência, dela, a China passou a integrar o grupo das economias recer a importação de bens de capital em geral não vale
como EUA e Canadá, mais sofisticadas e se tornou a segunda maior economia à pena, pois ele não favorecerá à sofisticação da estru-
por exemplo, fizeram. do planeta. (p.95) tura produtiva, com parte substituindo a produção inter-
na, além de tenderem a ser usados, em função da própria
Os dados do Atlas mostram a etapa final da notável sobrevalorização, para ampliar a produção de bens não
transformação tecnológica e de complexidade da eco- transacionáveis, em geral com crescimento de produtivi-
fisticar o tecido produtivo. (p.66) Os principais destaques Uma comparação dos modelos de crescimento asiáti- nomia brasileira, iniciada nos anos 30, e a expressiva dade mais limitado.
seriam Austrália, Chile, Emirados Árabes e Qatar. Mes- co e latino-americano mostra a manutenção da vitalidade retração neste século. Daquela etapa final, temos a me-
mo assim, o desafio de um efetivo desenvolvimento eco- do primeiro, devido a priorização dos ganhos de com- lhoria do perfil exportador, com as exportações de ma- Estratégias nacionalistas e protecionistas foram fun-
nômico, com satisfatório padrão de vida para todos, per- plexidade locais voltados aos mercados mundiais, com nufaturados ganhando destaque na década de 1970, e o damentais para alcançar o desenvolvimento econômico
manece. Os países produtores de petróleo estão entre os incentivos às exportações de manufaturas, sobretudo a II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), com nos países que hoje são ricos, inclusive Inglaterra e EUA,
mais desiguais do mundo, enquanto os países com maior manutenção de câmbio competitivo. O modelo latino-a- muitos projetos modernizantes. A abertura comercial, a muitas vezes considerados exemplos de sucesso do libe-
sofisticação produtiva apresentam os menores níveis de mericano, ao escolher suprir o mercado interno com o partir da década de 1990, permitiu que a alta de preços ralismo. As manufaturas inglesas surgiram e prosperaram
desigualdade. Dentre os citados, apenas a Austrália teria máximo de autossuficiência, limitou a capacidade de ex- das commodities impulsionasse intensamente nossas ex- graças a uma parafernália de medidas protecionistas nos
conseguido distribuir satisfatoriamente a renda, embora pansão de sua indústria e de gerar divisas. Assim, a crise portações nessa modalidade, valorizando a moeda local, séculos XV e XVI, voltadas para roubar a produção de
seja o único que tenha experimentado uma industriali- da dívida encontrou as economias asiáticas com grande o que restringiu o mercado de nossas manufaturas, in- tecidos das cidades holandesas, num primeiro momen-
zação relevante, desarticulada a partir dos anos 90 pelo capacidade de gerar recursos externos para honrar seus clusive o interno, ao favorecer a concorrência dos im- to, e, depois, impedir o avanço das tecelagens na Irlan-
gigantesco crescimento da demanda por commodities, compromissos e seguir sofisticando a sua produção, en- portados. Também comprometeram o desenvolvimento da e na Índia. (p.110). A vitória dos estados do Norte na
pela china. quanto representou a inviabilização do modelo de subs- de nossas manufaturas a elevação dos salários acima da Guerra Civil transformou os EUA num dos mais assíduos
tituição de importações da América Latina, que em si já produtividade, tanto por pressionar o preço dos serviços praticantes da proteção à indústria infante até a Primeira
Os países nórdicos foram capazes de progredir no do- possuía viabilização limitada pelos mercados internos não sofisticados, contribuindo para o câmbio ainda mais Guerra Mundial. (p.107)
mínio tecnológico relacionado a commodities, primeira- dos países, levando os países da região a graus variados valorizado, quanto por reduzir as margens de lucro, de-
mente, no processamento delas – madeira com MDF, por da doença holandesa. sestimulando produção e investimentos. Na perspectiva estruturalista, a nova economia institu-
exemplo – depois na produção das máquinas necessárias cional, originalmente desenvolvida por Douglas North,
para processar e extrair commodities. (p.69) Extração O modelo chinês de crescimento replicou a estraté- POLÍTICAS PARA CONSTRUIR não apresenta recomendações satisfatórias para a pro-
de madeira, pesca e petróleo para o desenvolvimento de gia exitosa do Japão do após-guerra, da Coréia do Sul e COMPLEXIDADE moção do desenvolvimento econômico. De acordo com
suas cadeias produtivas, envolvendo móveis, embarca- Taiwan das décadas de 1970 e 1980 e da Malásia, Indo- aquela visão, ao definir e garantir direitos de proprieda-
ções, plataformas de petróleo e as máquinas e equipa- nésia e Tailândia na década de 1990: câmbio competiti- Como já ficou evidente, a taxa de câmbio é um preço de adequados, arranjos institucionais eficientes levarão
mentos requeridos. vo e exportações de manufaturas para o mundo. (p.91) macroeconômico crucial para se construir complexidade. organizações e indivíduos a investir em atividades pro-

64 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018 65


O investimento público se
justifica principalmente nas
atividades de pesquisa e
desenvolvimento em que o
setor privado não seja capaz
de assumir o tamanho das
perdas financeiras em casos
de fracassos.

dutivas, notadamente na acumulação de capital e conhe- Unido no projeto Concorde e o desenvolvimento da Em-
cimento. (p.110) A garantia de contratos, de um bom sis- braer pela Força Aérea Brasileira, todos favorecendo ao
tema jurídico, de direitos de propriedade etc. não criará, desenvolvimento da indústria aeronáutica.
por si só, uma estrutura produtiva complexa. Da perspec-
tiva que defendemos aqui, a evolução institucional surge Em relação às melhores regras e critérios para a políti-
muito mais como consequência do que como causa do ca industrial, o autor indica os propostos por Dani Rodrik,
aumento da complexidade econômica. (p.111) da Harvard University. O Órgão responsável pela política
industrial deve ter status elevado no governo, equiparado
Fundamentais para construção de complexidade em ao do Ministério da Fazenda e do Banco Central, con-
diversos países têm sido os sistemas nacionais de inova- tar com quadros de reconhecida excelência, atuando na
ção, grupos articulados de instituições públicas e priva- presença de mecanismos de transparência e monitorados
das, geradores intensivos de inovações. Nos EUA temos por um titular de alto nível na hierarquia política. Nessas
o setor militar, com grande parte do volumoso orçamen- condições, os setores público e privado podem se apro-
to voltado para aquisição de equipamentos de crescente ximar para procurar juntos as soluções produtivas mais
sofisticação, para uso bélico, mas que geram inúmeras rentáveis e promissoras, com risco de “captura” minimi-
inovações aproveitáveis para fins comerciais, com des- zado. Os incentivos devem contemplar novas atividades,
taque para a indústria aeronáutica, o computador, que ter duração determinada, metas que permitam ser cance-
teve grande desenvolvimento inicial no MIT com finan- lados com rapidez, com custo minimizado, com poten-
ciamento militar, a internet e o GPS. Efeito similar têm cial de beneficiar múltiplos setores e de gerar spill-overs
os gastos da Nasa, os gastos públicos da França e Reino tecnológicos.

66 Economistas - nº 27 - Jan/Mar - 2018

Potrebbero piacerti anche