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DIVULGAÇÃO CNPEM/LNLS

Publicação da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural


Edição 7 | ano 3 | maio de 2019 | R$ 15,90

PROJETO
JOSÉ ROBERTO
ANDRADE
Engenheiro
estrutural por

SIRIUS
vocação

Por abrigar um sofisticado laboratório, instalação


exigiu rigor extremo em termos construtivos
para assegurar estabilidade estrutural, térmica e
VIADUTO
As lições que a engenharia vibracional, comprovando a capacidade inovativa da
estrutural tira do episódio engenharia estrutural brasileira
ÍNDICE | REVISTA ESTRUTUR A

DIVULGAÇÃO CNPEM/LNLS
ESTRUTURA
EM DESTAQUE ÍNDICE
04 | EDITORIAL 42 | ESTRUTURA METÁLICA
PONTES: É URGENTE TER PLANEJAMENTO AÇO E CONCRETO VIABILIZAM REVITALIZAÇÃO NO
CENTRO PAULISTANO
05 | PALAVRA DO PRESIDENTE
OMN ONM NOMN ONM ONMNO 44 | CASE INTERNACIONAL
LIÇÕES TIRADAS DA TRAGÉDIA ESCOCESA
06 | ENTREVISTA
“ATRÁS DE UM GRANDE ARQUITETO 46 | O QUE ELES
HÁ SEMPRE UM EXCEPCIONAL ENGENHEIRO QUEREM DE NÓS
ESTRUTURAL” COMUNICAÇÃO É A ALMA DA OBRA

22 | PONTES E ESTRUTURAS 48 | NORMAS TÉCNICAS


O CASO DO VIADUTO T5 NA MARGINAL EFEITOS DE SEGUNDA ORDEM E O
PINHEIROS DIMENSIONAMENTO DE PAINÉIS PRÉ-FABRICADOS
DE CONCRETO ARMADO
27 | ESPAÇO ABERTO
PARA PROJETISTAS, DEMANDA POR ESTRUTURA 51 | NOSSO CRAQUE
METÁLICA CRESCEU 40% ENGENHARIA ESTRUTURAL COMO VOCAÇÃO

28 | BOAS PRÁTICAS 54 | NORMAS TÉCNICAS


CONSTRUTIVAS A ERA DA FIXAÇÃO QUÍMICA CHEGOU
FÔRMAS PARA ABERTURA TRANSVERSAL
56 | APRENDENDO COM OS ERROS
EM LAJE NERVURADA
INFLUÊNCIA DO ESTADO LIMITE DE SERVIÇO NO
30 | PONTES E ESTRUTURAS MODELO ESTRUTURAL
UM VIADUTO E MUITAS LIÇÕES
59 | ARTIGO RETRÔ
PROJETO SIRIUS – 33 | VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL LAJES COGUMELO IRREGULARES
PROTENDIDAS
SOLUÇÕES ARROJADAS NÃO HÁ FUTURO SEM PASSADO
64 | NOTAS E EVENTOS
36 | BOAS PRÁTICAS
12 DE PROJETO
SISTEMAS CONSTRUTIVOS ALTERNATIVOS
66 | JOGO DE SETE ERROS
DESCUBRA AS FALHAS

EXPEDIENTE
A Revista Estrutura é uma publicação da ABECE – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
ENGENHARIA E CONSULTORIA ESTRUTURAL, dirigida aos escritórios de engenharia e
engenheiros projetistas, construtoras, arquitetos e demais profissionais do setor.

PRESIDENTE: João Alberto de Abreu Vendramini Carlos Britez, Cesar Pinto, Daniel Domingues Hamburguesa - São Paulo/SP
VICE-PRESIDENTE DE RELACIONAMENTO: Loriggio, Eduardo Barros Millen, Guilherme A. abece@abece.com.br
Ênio Canavello Barbosa Parsekian, Inês L. S. Battagin, Joaquim Mota, Tel.: (11) 3938-9400
José Celso da Cunha, Leonardo Braga Passos, IMPRESSÃO: Editora Gráfica Nywgraf
VICE-PRESIDENTE DE TECNOLOGIA: Márcio Roberto Silva Correa, Mario Cepollina,
Luiz Aurélio Fortes da Silva Milton Golombek, Nelson Covas, Ricardo TIRAGEM: 5.000
VICE-PRESIDENTE DE MARKETING: Leopoldo e Silva França, Selmo C. Kuperman, FOTO DE CAPA: Divulgação CNPEM/LNLS
Leonardo Braga Passos Sergio Hampshire, Valdir Pignatta e Silva.
DIRETORA DE NORMAS TÉCNICAS: EDIÇÃO: Lázaro Evair de Souza, Sylvia Mie – Os artigos assinados ou as entrevistas concedi-
Suely Bacchereti Bueno (Mecânica de Comunicação das refletem as análises e opinião dos autores
ou entrevistados e não necessariamente do Co-
DIRETOR FINANCEIRO: Roberto Dias Leme www.meccanica.com.br)
mitê Editorial da revista.
DIRETORES: Alio Kimura, Cláudio Adler, José JORNALISTA RESPONSÁVEL:
Martins Laginha Neto, Ricardo Borges Kerr, Enio Campoi – MTB 19.194
Tiago Garcia Carmona, Tomas Vieira, Túlio PRODUÇÃO GRÁFICA: MGDesign
Nogueira Bittencourt www.mgdesign.art.br
SECRETARIA GERAL: Elaine C. M. Silva DIAGRAMAÇÃO: Alcibiades Godoy
COMITÊ EDITORIAL: Alexandre Duarte PUBLICIDADE: ABECE – Av. Queiroz
Gusmão, Antonio Laranjeiras, Augusto C. Filho, 1700, Casa 80 - CEP 05319-000 –
Vasconcelos, Augusto G. Pedreira de Freitas, Condomínio Vila Lobos Office Park – Vila

03
EDITORIAL

PONTES: É URGENTE
TER PLANEJAMENTO

O
s recentes acidentes em apesar dessas iniciativas, o Brasil ainda
obras-de-arte especiais (pon- não dispõe de um Sistema de Gestão de
tes e viadutos), além do caso Pontes (ou um Plano de Controle de Qua-
das barragens, tanto no Brasil lidade de Pontes Rodoviárias) unificado e
quanto no exterior, têm levado a comuni- dotado de um banco de dados uniforme
dade técnico-científica a ser questionada e com Índices de Performance similares e
sobre a eficácia da gestão das condições bem definidos, de um módulo de degra-
de serviço e segurança. Ainda que de im- dação baseado em técnicas estocásticas
portância fundamental, a estimativa da de previsão, de um módulo de custos
vida útil em si, é apenas um dos fatores atualizados que permita a quantificação
que pode vir a resultar em falhas e/ou dos riscos e de um módulo de otimização
colapsos. para apoio às decisões de gestão, seja no
Existem diversos outros fatores para âmbito público, seja no privado.
perda de performance das obras de in- Portanto, a situação atual demanda,
fraestrutura. Dentre estes destacam-se de forma urgente, e demandará ainda
o aumento dos níveis de carregamentos, mais no futuro, ações para gerenciar
as falhas na concepção do projeto e na dados relativos a projetos estruturais,
construção, a falta de controle dos dados documentos relacionados à construção,
de projeto e parâmetros de controle de dados de inspeção e manutenção, de for-
funcionamento, e ausência de manuten- de uma perspectiva de sustentabilidade. ma integrada e contínua. Caso o dever de
ção adequada. Todos estes aspectos, Os planos de controle da qualidade cons- casa não seja feito de maneira eficiente
influenciam também na operação das tituem basicamente uma modernização e integrada, e com a urgência necessária,
obras de infraestrutura. Qualquer inter- e aperfeiçoamento dos Sistemas de Ge- o setor de infraestrutura pagará o preço
rupção dessas pode representar impac- renciamento de Pontes criados ao longo das ações emergenciais com seus altos
tos na economia, na sociedade e, em si- dos últimos 30 anos em diversos países. custos diretos e indiretos, o que pode
tuação extrema, gerar tragédias. Estima-se que o Brasil possua mais de inclusive ter efeitos na própria expansão
Cabe citar na área de obras-de-arte 120 mil pontes rodoviárias, entre rodo- da infraestrutura atual, prejudicando o
especiais (pontes, passarelas, viadutos) a vias federais, concessionadas, estaduais crescimento do nosso país. A ABECE está
rede de investigação e inovação europeia e nos municípios. ciente da situação e tem contribuído, por
ACTION TU1406, criada em 2014, que tra- O SGO – Sistema de Gerenciamento de meio de várias ações, para fomentar a
ta do desenvolvimento instruções para o Obras de Arte do DNIT, constitui-se numa discussão e a conscientização sobre esse
desenvolvimento de planos de controle iniciativa pioneira com vistas a promover tema, tanto no meio técnico, quanto nos
da qualidade para pontes rodoviárias. a gestão das pontes brasileiras, apoiado setores público e privado. Neste número
Por planos de controle da qualidade nas informações obtidas, com base na da Revista Estrutura poderão ser encon-
entende-se a especificação do conjunto NORMA DNIT 010/2004 – PRO, Inspeções trados alguns artigos importantes para
de atividades e ferramentas necessárias em pontes e viadutos de concreto armado este fim. Boa leitura a todos!
para propiciar a garantia das condições e protendido – Procedimento e da ABNT
de segurança e de utilização de uma NBR 9452:2016 – Vistoria de Pontes, Via- Túlio Nogueira Bittencourt
ponte ou obra de infraestrutura, dentro dutos e Passarelas de Concreto. Contudo, Diretor da ABECE

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PAL AVR A DO PRESIDENTE | JOÃO ALBERTO DE ABREU VENDR AMINI

A ÚLTIMA COCA-COLA
NO DESERTO

E
ste é o sentimento interno, que dos à corretagem de imóveis. Mérito das
acomete a cada um de nós enge- categorias mais organizadas, que sabem
nheiros. Temos uma ideia profun- se reunir em prol de objetivos comuns,
da de que, individualmente, “sou“ o deixando de lado vaidades pessoais.
ser mais importante do universo. Todos os anos são oferecidas no Brasil
Como disse o professor Mario Sérgio 1,4 milhão vagas para os mais diversos
Cortella, cada um de nós é um indivíduo, cursos de engenharia, das quais 700 mil
dentre 7,5 bilhões de indivíduos perten- são para cursos de ensino à distância.
centes a uma espécie, Homo Sapiens, O que lhes parece esta realidade? Até
dentre 3 bilhões de espécies classifica- quando vamos continuar comentando
das, dentre 30 bilhões de espécies co- nossas mazelas pelos corredores?
nhecidas, que habita o terceiro planeta, A ABECE está disposta a colaborar na
a Terra, dentre nove planetas, que giram quebra destes paradigmas, fortalecendo
em torno de uma estrela anã, o Sol, den- os profissionais de estrutura e a excelên-
tre outras 100 bilhões de estrelas que cia da engenharia, e precisa da colabora-
compõe uma galáxia, a Via Láctea, dentre ção de todos para que suas ações sejam
200 bilhões de galáxias, que se formaram efetivas a fim de tornar realidade a busca
a cerca de 15 bilhões de anos, que per- por melhores condições, por uma enge-
tence a um dos universos possíveis, que nharia de melhor qualidade, mais segura,
provavelmente possui um formato cilín- vel nos tornou pessoas difíceis, áridas e onde os trabalhos possuam execução
drico, e que vai desaparecer. avessas a compartilhar. adequada e remuneração justa.
Veja como “sou“ importante! Nós engenheiros não sabemos dividir, Fortalecer as entidades de classe é um
Quem é você? Quem sou eu? para multiplicar. Não sabemos ceder, dos principais caminhos para que uma
Quem somos nós, engenheiros, para para alcançar um objetivo maior e co- categoria organizada possa alcançar
creditar que o único modo de fazer as mum. Não sabemos ouvir e aceitar uma seus objetivos. A união de seus membros
coisas é como eu faço? Quem somos nós, outra ideia, que não seja a nossa. demonstrará a força e a capacidade de
engenheiros, para acreditar que o único Quem sou eu? Segundo Fernando mobilização e reação de nossa categoria.
modo de pensar é como eu penso? Que Pessoa, somos simplesmente Cadáveres Nós, engenheiros, conhecidos como
somos nós, engenheiros, para acreditar Adiados. verdadeiros “trouble shouting“, já passa-
que a única ideia boa é a que eu tenho? Será que não devemos pensar dife- mos da hora de iniciar a resolução dos
Quem sou eu? rente? nossos problemas.
Pergunta difícil, especialmente para A engenharia brasileira vem sofrendo e A sociedade brasileira não faz a menor
profissionais tão bem preparados, com praticamente agoniza nos últimos anos. ideia da importância do nosso trabalho
formação de alto nível e acostumados a Somos reféns das contratações por leilão e somente somos chamados na agen-
resolver todo o tipo de problema. E tanto eletrônico, quando o correto seria por da negativa e nos acidentes, quando se
é assim que somos cooptados por todas técnica e preço. Nossos honorários de deseja esclarecimentos ou eleger algum
as áreas, e para os cargos mais elevados, projeto estrutural raramente chegam a culpado.
de gerência e direção. Contudo, tal capa- um terço do que cobram nossos colegas É momento de mostrar a importân-
cidade, associada à formação de alto ní- arquitetos, sem falar nos valores destina- cia e a excelência de nosso trabalho!

05
ENTRE VISTA | PAULO CAMILLO PENNA

“ATRÁS DE UM GRANDE
ARQUITETO HÁ SEMPRE
UM EXCEPCIONAL
ENGENHEIRO ESTRUTURAL”
NO COMANDO DA ABCP – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO
PORTLAND, A MAIS ANTIGA ENTIDADE DO SETOR, O EXECUTIVO PAULO
CAMILLO PENNA ANALISA O ATUAL MOMENTO DA CONSTRUÇÃO E
DA INFRAESTRUTURA DO PAÍS E DESTACA A NECESSIDADE DE SE
INTENSIFICAR AS PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS PARA ACELERAR A
RETOMADA DO CRESCIMENTO

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C
om uma experiência de apro- ABECE – Qual sua avaliação sobre as como o Minha Casa Minha Vida e o PAC,
ximadamente 30 anos em perspectivas futuras da demanda impulsionaram o setor da construção
importantes cargos no setor brasileira por cimento? civil, tanto na parte habitacional quanto
público, empresas e entidades Paulo Camillo – Cimento é produto im- na de infraestrutura. Não foi a toa que o
setoriais de diversas áreas, Paulo Ca- prescindível para moradias e obras de consumo de cimento duplicou de 35 para
millo Vargas Penna está hoje à frente infraestrutura, e é parte fundamental na mais de 71 milhões de toneladas.
da Associação Brasileira de Cimento cadeia produtiva da indústria da cons- A crise iniciada em 2014, decorrente da
Portland (ABCP). Apesar do pouco tem- trução. O setor tem importância estraté- redução das obras formais, só não foi
po envolvido com a cadeia produtiva gica para o crescimento econômico. Em maior devido as reformas realizadas
da engenharia e da construção, o exe- 2016, segundo estimativas do Constru- pelas próprias famílias e pequenos em-
cutivo é taxativo sobre a atualidade da Business, o setor de cimento gerou um preiteiros, estimulados pela liberação
engenharia estrutural brasileira: “nada Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 5,8 bi- de recursos do FGTS e reforçado pela
devemos ao mundo em termos da qua- lhões, equivalente a quase 10,0% do PIB queda dos juros (Selic) e da inflação,
lidade profissional e projetos”. E, ao fa- da indústria da construção (que reúne fazendo com que boa parte do cimen-
zer uma avaliação sobre a área, diz que to nesse período de crise escoasse via
“por detrás de grandes arquitetos, há revenda.


sempre excepcionais escritórios e pro- Os indicadores de confiança, divulgados
jetistas estruturais”. Na entrevista para pela Fundação Getúlio Vargas, começa-
a ABECE, Penna falou também sobre ram o ano de 2019 com perspectiva posi-
suas perspectivas em relação à retoma- Nossa expectativa tiva. O índice de confiança do consumidor,
da da área de construção civil, detalhou por exemplo, continua ascendente, com
seus planos à frente da ABCP, enume- é ter um segundo reação significativa em janeiro. Já o índice
rou os desafios da indústria cimenteira,
além de destacar a evolução tecnoló-
semestre forte, de confiança da construção civil ficou es-
tável. Embora seja positivo, penso que os
gica que vislumbra para o cimento e, para uma alta de resultados deste 1º trimestre ainda são in-
consequentemente, para os avanços na suficientes para se constatar uma tendên-
forma de projetar no futuro. 3% nas vendas de cia clara e segura de recuperação.
O desempenho do setor é sustentado
ABECE – O início de 2019 indica um cimento em 2019 basicamente por dois segmentos: edifi-


crescimento nas vendas de cimento. cação (comercial, industrial e residencial)
Acredita que pode haver uma rever- e infraestrutura, como já mencionado. O
são da tendência negativa dos últi- início da recuperação está sendo puxado
mos anos? pelo mercado imobiliário que, no final do
Paulo Camillo – As vendas de cimento ano passado, segundo dados da Abrainc,
no mercado interno em janeiro de 2019 entidade que reúne as incorporadoras,
cresceram 4,2% frente a janeiro de 2018. máquinas e equipamentos para a cons- mostraram que o número de lançamen-
Já em fevereiro, as vendas por dia útil trução) e empregou 28,4 mil pessoas, tos imobiliários cresceu 30%, no acumu-
- que considera o número de dias tra- equivalente a 3,3% da população ocupa- lado de janeiro a novembro de 2018.
balhados - registraram queda de 2,3% da na indústria da construção.
em relação a janeiro, e redução de 3,2% A partir de 2004 diversos fatores colo- ABECE – Sabemos que o segmento de-
sobre fevereiro de 2018. As vendas nos caram a indústria do cimento no rumo pende do aumento dos investimen-
últimos quatro anos acumulam um de- do crescimento: ambiente macroeconô- tos em obras de infraestrutura e da
clínio de quase 30% e ainda encontra, mico favorável, aumento da renda real e demanda imobiliária. Está otimista
neste início de ano, um cenário incerto da massa salarial real, redução dos juros quanto a essas duas áreas?
para a recuperação. Apesar do reaqueci- e da inflação, expansão do crédito imo- Paulo Camillo – Na infraestrutura, prin-
mento do mercado imobiliário, aponta- biliário por parte do governo e bancos cipal indutor do consumo de cimento,
do nos últimos meses, o setor não conta privados, crescimento dos investimentos ainda não observamos melhoras, em
com um ambiente consistente capaz de em obras de infraestrutura. E tudo isso decorrência da ausência de investimen-
conduzir a um crescimento sustentável foi fundamental para a alavancagem da tos, causado pelo déficit fiscal e dos
que possibilite essa recuperação. Nossa construção civil e, consequentemente, programas de concessão que ainda não
projeção é que o primeiro semestre de do consumo de cimento. Marcos regu- performaram conforme o esperado. Sob
2019 apresente um crescimento pró- latórios imobiliários trouxeram melhor essa ótica, os governos federal, estadual
ximo de 1,5%, e a expectativa é de um ordenamento jurídico no setor da cons- e municipal devem promover ações para
segundo semestre ainda mais forte, ala- trução e possibilitaram a capitalização reverter a crise atual como a manutenção
vancado principalmente pelo possível das construtoras e incorporadoras no dos importantes programas habitacio-
início/retomada das obras de infraes- mercado acionário, bem como o retorno nais e de infraestrutura. Isso reforça que,
trutura da União, que deve nos ajudar a dos bancos privados ao financiamento mais uma vez, a iniciativa privada preci-
fechar o ano com alta de 3%. imobiliário. Programas do governo, tais sará fazer investimentos expressivos na

7
ENTRE VISTA | PAULO CAMILLO PENNA

forma de Concessões, Parcerias Públi- técnico e cofinanciamento do Banco Mun- (concentração de vazios por falha de
co-Privadas (PPPs) entre outras ações dial, esse estudo identificou alavancas preenchimento dos pilares, vigas e lajes),
conjuntas, e essas políticas públicas tem para redução de emissões em médio e e que, muitas vezes, se transformam no
que ser aceleradas. Basta recordar os longo prazos, ancorada em 4 pilares: efi- que classificamos de vícios ocultos (não
recentes leilões de privatização dos ae- ciência energética, uso de adições para visíveis a olho nu), e que podem levar, em
roportos, portos e da Ferrovia Norte Sul redução da quantidade de clínquer no ci- casos extremos, ao colapso das estrutu-
que tiveram surpreendentes resultados. mento, uso de combustíveis alternativos, ras. Os concretos autocicratizantes ou au-
A área imobiliária é preponderante, mas em substituição aos combustíveis fósseis torregenerantes, produzidos com aditivos
necessita de crédito abundante e aumen- não renováveis e inovação tecnológica cristalizantes ou cepas de bactérias, que
to de renda para a população. pela captura e estocagem de carbono. O com o passar do tempo, colmatam fissu-
mencionado documento foi apresentado ras surgidas ou a seus próprios micros va-
ABECE – Além das questões econô- oficialmente às autoridades brasileiras no zios internos, conferem maior impermea-
micas, quais os demais desafios en- último dia 03 de abril em evento na Con- bilidade ao material e consequentemente
frentados pela indústria de cimento federação Nacional da Indústria (CNI), em maior durabilidade frente a agentes agres-
no Brasil? Brasília, que reuniu cerca de 100 profissio- sivos. Um terceiro são os concretos de
Paulo Camillo – Nos dias atuais, o maior nais ligados à questão, junto com ONGs, elevada resistência. Ganhos significativos
desafio diz respeito às questões ambien- membros do parlamento e lideranças em- de resistência mecânica e de durabilidade
tais relativas às mudanças climáticas, cuja presariais. proporcionados pelos novos compostos
legislação é cada vez mais abrangente e de cimento podem resultar em projetos
restritiva. Como a complexa indústria do ABECE – Teme uma possível perda de estruturais mais esbeltos sem pôr em ris-
cimento é intensiva em capital, energia e hegemonia do concreto na constru- co questões de segurança.
consumo de matérias primas, o proces- ção civil?
so de produção naturalmente apresen- Paulo Camillo – Não enxergo ameaça ABECE – Que avaliação faz dos proje-
ta emissões, mais particularmente CO2, nesse sentido, mas sim uma acirrada com- tos estruturais elaborados hoje pela
exigindo constante e redobrada atenção petição entre materiais. O cimento em si engenharia brasileira?
com o meio ambiente. Daí a antiga e gran- não possui substituto, mas os sistemas Paulo Camillo – A engenharia estru-
de preocupação e mobilização global do construtivos sim. E os materiais concor- tural brasileira sempre teve reconheci-
setor com as questões ambientais de rentes buscam ocupar seus espaços. Com- mento, seja no âmbito nacional como
modo a reduzir a sua pegada de carbono, pete à nossa indústria e principalmente às internacional, pela qualidade de seus
em linha com a Comissão Mundial sobre o entidades representativas – ABCP e SNIC profissionais e pela comprovada ma-
Meio Ambiente e o Desenvolvimento esta- – cuidarem em reforçar as qualidades dos terialização de obras altamente arro-
belecida em 1987 pela ONU, Organização sistemas à base de cimento, no que se re- jadas. Apesar de dedicar-me há pouco
das Nações Unidas, que ficou conhecida fere a custo, qualidade e durabilidade. E mais de 3 anos ao setor de cimento e
como Comissão Brundtland, por ter sido sabemos que o concreto goza do domínio mais diretamente à cadeia produtiva da
presidida pela então primeira-ministra da de sua utilização por parte do projetista, construção que emprega o concreto, já
Noruega, Gro Bruntdland, cujo objetivo do especificador, do construtor, e que o havia tido a oportunidade de perceber
era estudar a relação entre o desenvol- material reúne as características que aten- que, por detrás de grandes arquitetos,
vimento econômico e a conservação do dem as expectativas da cadeia produtiva existem sempre excepcionais escritó-
meio ambiente. Para nosso setor, significa da construção. É difícil imaginar um mun- rios e Engenheiros Estruturais. Posso
investir em medidas de eficiência energé- do sem cimento e concreto. mencionar, sem destacar ou privilegiar
tica e intensificar o uso de matérias-pri- ninguém e com todo o respeito à clas-
mas e combustíveis alternativos. ABECE – Do ponto de vista tecnológi- se, a parceria de Oscar Niemeyer, com
co, qual será a evolução do cimento? Joaquim Cardozo (in memorian), ou com
ABECE – Como está essa questão no Paulo Camillo – Nas últimas décadas, Bruno Contarini, ou com José Carlos
Brasil? os aditivos químicos foram sem dúvida Sussekind. Ou então a de Ruy Ohtake
Paulo Camillo – Em virtude de esforços a grande revolução dos concretos, por com Mário Franco, dentre inúmeras ou-
realizados há décadas, a indústria brasi- conferirem aos mesmos, características tras “duplas” de destaque.
leira do cimento registra um dos menores especiais, privilegiando a facilidade de Soma-se a essa constatação que quan-
níveis mundiais de emissão de CO2 por aplicação e a durabilidade, entre tantos do da fundação da Associação Brasi-
tonelada produzida. Além disso, somos outros aspectos. E eles seguirão manten- leira de Normas Técnicas (ABNT) em
o segundo país do mundo a lançar o Ma- do esse papel de inovação, porque novos 1940, das duas primeiras normas con-
peamento Tecnológico do Cimento, deno- produtos surgirão e novas propriedades duzidas pela entidade, uma delas era a
minado Roadmap Brasil sobre mitigação serão propiciadas ao concreto, no sentido NB 1, Projeto e Execução de Obras de
das emissões de CO2 no processo de fa- de aumentar produtividade e qualidade. Concreto Armado, chamada de “norma
bricação de cimento até 2050. Produzido Posso citar os concretos autoadensável mãe” da engenharia de concreto. Hoje,
em parceria com a Agência Internacional – já bastante empregados – que tratam decorridos quase 80 anos e tendo pas-
de Energia (IEA) e a Iniciativa de Sustenta- de evitar as falhas de concretagem, cor- sado pelas necessárias revisões – todas
bilidade do Cimento (CSI), tendo suporte riqueiramente chamadas de “bicheiras” com ampla e irrestrita colaboração dos

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engenheiros estruturais brasileiros –, a Consultiva, desenvolve desde 2005, a ABECE – Que avaliação faz da recém
ABNT NBR 6118 - Projetos de estrutura campanha pela Manutenção do Ambien- aprovada Norma ABNT NBR 16697,
de concreto, segue sendo a referência te Construído, cujo objetivo é alertar so- que unificou normas relacionadas ao
brasileira e reconhecida, em 2014, como ciedade e governos sobre a importância cimento Portland? Quais as razões
“Norma Padrão Internacional” pela In- de políticas permanentes de manuten- para essa unificação?
ternational Standardization Organization, ção de equipamentos públicos e obras Paulo Camillo – As atualizações das nor-
ISO, maior e mais importante organismo de arte urbanas. A campanha tem como mas são uma necessidade, em face da
internacional de normalização*. ação central a elaboração de estudos – constante evolução das técnicas e das tec-
Por fim e para sustentar ainda mais a intitulados Infraestrutura: prazo de nologias, incorporando o que há de mais
atualidade e qualidade dos profissionais validade vencido (PVV) –, nos quais é atual da normativa internacional aplicá-
e seus projetos estruturais, cria-se em avaliado o estado aparente de conserva- vel ao País, além de regulamentar o que
1994 a ABECE, que neste ano comemora ção de pontes, viadutos, estradas, gale- foi pesquisado e aplicado com sucesso. A
seu Jubileu de Prata, reunindo a catego- rias pluviais, entre outros. Neste estudo nova norma de especificação de cimento
ria e atuando intensamente no aprimo- realizado em 2006, a equipe do Sinaenco Portland recebeu a identificação de ABNT
ramento dos projetistas estruturais. Em constatou irregularidades em diversas NBR 16697 e unificou 8 normas, a saber:
resumo: nada devemos ao mundo em obras da cidade e de municípios vizinhos, 1 - Cimento Portland Comum – CP I e CP
qualidade profissional e de projetos. constatação que recentemente vimos I-S (ABNT NBR 5732); 2 - Cimento Portland
Composto – CP II (ABNT NBR 11578); 3 -
Cimento Portland de Alto Forno – CP III
(ABNT NBR 5735); 4 - Cimento Portland
Pozolânico – CP IV (ABNT NBR 5736); 5 - Ci-


mento Portland de Alta Resistência Inicial
– CP V ARI (ABNT NBR 5733); 6 - Cimento
Portland Resistente a Sulfatos – RS (ABNT
Ganhos de resistência e NBR 5737); 7 - Cimento Portland de Bai-

durabilidade dos novos tipos de xo Calor de Hidratação – BC (ABNT NBR


13116); 8 - Cimento Portland Branco – CPB
cimento resultam em projetos (ABNT NBR 12989).
E todos os requisitos para os tipos de ci-
estruturais mais esbeltos sem mentos citados foram contemplados na
nova norma. A sugestão de se ter uma
risco à segurança


norma unificada veio de exemplos inter-
nacionais que já adotam essa prática,
como é o caso da Argentina, do México e
países da União Europeia, beneficiando
principalmente os consumidores pela
facilidade de consulta e diferenciação
dos vários tipos de cimento. Não há
novamente nos jornais por força dos aci- impacto dessa nova norma nas ativi-
ABECE – Qual sua análise técnica so- dentes dos viadutos da Marginal Pinhei- dades de projeto estrutural porque os
bre os recentes episódios de colapsos ros na Zona Oeste da cidade e Marginal níveis de resistência à compressão dos
de estrutura de pontes e viadutos Tiete na Zona Norte. cimentos contemplados nessa nova nor-
ocorridos no país? Em recentíssimo workshop promovi- ma seguem inalterados. Quanto à qua-
Paulo Camillo – Pontes e viadutos são do pelo SINAENCO sobre a questão, o lidade, o consumidor não deve verificar
também chamados de obras de arte, e to- secretário municipal de Infraestrutura mudanças significativas, pois não houve
dos sabemos que qualquer obra de arte Urbana e Obras, Vitor Aly, durante sua alterações nos requisitos de desempe-
requer cuidados. Em outras palavras: rea- apresentação destacou que a Prefei- nho, representados pelos valores de
lizar inspeções e manutenções com o ob- tura de São Paulo, planeja investir até resistência à compressão nas diferentes
jetivo de perpetuar ao máximo a vida útil. fins de 2019 cerca de R$ 80 milhões em idades de controle, nem tampouco com
A meu juízo e o que depreendo é que os inspeções, vistorias e laudos técnicos, relação aos tempos de pega, finura e ex-
acidentes decorreram da inexistência do contemplando 185 pontes e viadutos pansibilidade. Saliente–se que o cimento
que acabo de comentar. Ainda que as es- da capital. A própria ABECE em fins de é um dos produtos com maiores índices
truturas de concreto apresentem vida útil fevereiro promoveu, em parceria com de conformidade no Programa Setorial
bem acima da de projeto, esse comporta- Poli-USP e IBRACON, evento similar des- da Qualidade do PBQP-H do Ministério
mento não exclui as inspeções periódicas tacando a importância da inspeção e das Cidades.
dessas obras. manutenção das obras de arte, evento
O SINAENCO, Sindicato Nacional das que foi finalizado com palestra do pró- ABECE – Quais são seus planos à fren-
Empresas de Arquitetura e Engenharia prio secretário Vitor Aly. te da ABCP? Pode relacionar os prin-

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ENTRE VISTA | PAULO CAMILLO PENNA

cipais desafios da entidade no médio dutivas integradas e atuantes na forma volver o mercado e principalmente seu
e longo prazos? de redes capilares e de grande cobertu- emprego com qualidade e segurança. Além
A ABCP é uma entidade técnica de ex- ra e abrangência, o que modernamente disso, a ABCP dispõe de um laboratório de
celência, reconhecida pelo setor e pela foi batizado de “ecosistemas”. E essa es- excelência em ensaios de controle tecno-
cadeia produtiva da construção. São truturação de “ecosistemas” da cadeia lógico de cimento e concreto, que não é
mais de 8 décadas de experiência práti- produtiva, transformada em platafor- exclusivo da indústria, mas que presta ser-
ca e tecnológica da mais alta qualidade mas digitais, seguem e serão mais ainda viços a cadeia produtiva da construção.
em benefício da sociedade, contribuin- incrementadas, como Comunidade da Destaco isso porque muitas vezes, ape-
do com áreas estruturantes, relevantes Construção, Grupo Paredes de Concreto, sar dos 80 anos da ABCP, comemorados
e nevrálgicas do desenvolvimento sócio Programa de Desenvolvimento Empresa- em 2016, muitas vezes segue a impres-
econômico de um país, como a infraes- rial (PDE) com destaque em Artefatos de são que o centro de pesquisa que a in-
trutura e a habitação. Tamanho envolvi- Cimento, Projeto Soluções para Cidades, dústria mantém é exclusivo das cimen-
mento e contribuição só encontram na Projeto Vias Concretas entre tantos. teiras. Merece destaque os eventos que
palavra “incremento” a sua razão de ser, Sem que se abandone nenhuma de nos- a ABCP promove e/ou co-organiza como
pois o cimento constrói qualidade de vida sas ações e atividades, merecerá impor- nossos cursos técnicos de atualização,
e desenvolve cidades. Onde há gente, há tante atenção a parte relativa a vias, en- nosso Congresso de Cimento, nossa feira
construção e onde há construção, há ci- tendendo-a como toda a infraestrutura de negócios que é a Concrete Show, den-
mento. Assim é motivo de muita respon- que envolve pavimentação urbana de tre tantos outros, haja vista que capaci-
sabilidade presidir esta entidade, com a ruas e calçadas, assim como a pavimen- tar e transferir tecnologia fazem parte do
orientação de fazê-la ainda mais impor-
tante e integrada. Meu envolvimento com
o setor já existia, haja vista eu estar di-
rigindo o Sindicato Nacional da Indústria


do Cimento (SNIC) desde o final de 2016,
já com o propósito de aumentar a siner-
gia entre as duas entidades. Não só entre
elas, é claro, mas também no plano inter- Inspeções e manutenções
nacional, como destaca uma das 6 pre-
missas básicas que possui a ABCP, que é
garantem ao máximo a vida útil
do intercâmbio internacional. em perfeitas e seguras condições
Recentemente a criação da Global Ce-
ment & Concrete Association, GCCA, de pontes e viadutos
que já tomamos parte reforça a impor-


tância que acabo de destacar sobre a
integração internacional, reunindo insu-
mo fabricado e produto aplicado. Aliás,
minha larga experiência no comando de
importantes entidades setoriais repre-
sentativas traz a certeza que o trabalho
exitoso só é alcançado se desenvolvido
integrado com toda a cadeia produtiva do tação rodoviária, uma vez que logística e DNA da Associação. Não pode haver dú-
setor e do segmento. Isto é fundamental. mobilidade urbana tem papel fundamen- vida que para o desempenho de minhas
E tal diretriz, já materializada no exercício tal na competitividade e desenvolvimen- atribuições tenho o apoio de uma equipe
individual de cada entidade, sem dúvida to econômico do nosso país. Agora se própria de profissionais gabaritados e
será mais efetiva quando praticada com nos voltarmos aos aspectos técnicos de experientes em cada uma das entidades
a integração da ABCP e SNIC, levando be- fabricação do cimento, nosso foco estará representativas.
nefícios maiores para todo o segmento concentrado, como já vem acontecendo
da construção civil, acima de tudo para o nos últimos anos, nas questões mundiais (*) O reconhecimento da ABNT NBR 6118
Governo em todas suas esferas. das mudanças climáticas, que também como norma padrão internacional pela In-
Avançar no posicionamento da ABCP nos afligem em face da legislação cada ternational Standardization Organization
(ISO), foi fruto de um intenso trabalho de-
como centro de excelência em serviços vez mais abrangente e restritiva, soma-
senvolvido pela ABECE por intermédio da
ao mercado, assim como na integração das às questões de normalização do ci- atuação das engenheiras Suely Bueno (na
com a cadeia produtiva com as quais nos mento Portland. época conselheira e hoje diretora de Nor-
relacionamos com ênfase na da constru- Na ABCP minha atribuição é a de orientar, mas Técnicas da ABECE), representando a
ção, e com o Governo em todas as suas conduzir e promover estudos técnico-cien- ABNT e Sofia Carrato Diniz, da Universidade
Federal de Minas Gerais. Ambas participa-
esferas, são sem dúvida as principais tíficos e pesquisas sobre o cimento e seus
ram do TC-71, um subcomitê da ISO. A NBVR
prioridades. As últimas duas décadas produtos derivados e sistemas construti- 6118 foi submetida à votação de 38 países
foram de estruturação de cadeias pro- vos que o empregam, de modo a desen- que integram o TC-71.

10 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


ESTRUTUR A EM DESTAQUE | PROJETO SIRIUS

SOLUÇÕES
ARROJADAS

NOVAS INSTALAÇÕES DE UM DOS MAIS IMPORTANTES


LABORATÓRIOS PARA A CIÊNCIA BRASILEIRA, O
PROJETO SIRIUS, EM FASE FINAL DE IMPLANTAÇÃO
EM CAMPINAS, CONFIRMA A CAPACIDADE DA
ENGENHARIA ESTRUTURAL NACIONAL EM VENCER
DESAFIOS E REALIZAR OBRAS QUE PODEM SER
CONSIDERADAS REFERÊNCIA MUNDIAL EM INOVAÇÃO
E TECNOLOGIA CONSTRUTIVA

O
POR FABRÍCIO TARDIVO * Laboratório Nacional de Luz propôs, em 2012, a desenvolver uma
Síncrotron (LNLS) integra o fonte de luz síncrotron de quarta ge-
Centro Nacional de Pesqui- ração, que demanda aceleradores de
sa em Energia e Materiais elétrons e outros equipamentos que
(CNPEM), organização super visiona- exigem instalações de alto desempe-
da pelo Ministério da Ciência, Tecno- nho, nas quais características como
logia, Inovações e Comunicações, e estabilidade (dimensional, térmica e
opera, em Campinas-SP, a única fonte vibracional), são imprescindíveis, bem
de radiação síncrotron da América La- como uma necessária proteção radio-
tina. Batizado de Sirius, o projeto se lógica.

12 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


DIVULGAÇÃO CNPEM/LNLS

EDIFÍCIO PRINCIPAL No interior desta edificação será implan- prevendo-se um sistema reticulado,
Composto por laboratórios, área de tada a blindagem dos aceleradores, divi- composto por pilares e vigas, sendo as
engenharia, hall de entrada, área de dindo a mesma em dois anéis, externo e mesmas solidarizadas por lajes maciças
apoio, auditório e praça de alimentação, interno. Para interligar estes dois anéis, em todos os níveis, formando assim
o edifício principal do Sirius apresen- foram projetadas 7 passarelas metálicas um conjunto monolítico. Por se tratar
ta aproximadamente 69.000m² de área que vencem um vão de 30,0m. de uma edificação circular, a mesma
construída, divididos em quatro níveis Estudou-se a concepção em estru- foi concebida adotando eixos radiais a
principais. Sua forma predominante é a tura pré-moldada, mas devido aos re- cada 6 o, resultando no total de 60 eixos
circular, tendo o raio externo de aproxi- quisitos vibracionais ela foi projetada (eixos numéricos). A locação dos pila-
madamente 120m e o interno de 66,0m. em concreto armado moldado “in loco”, res, na sua grande maioria, está no cru-

13
ESTRUTUR A EM DESTAQUE | PROJETO SIRIUS

FIG. 1 – PERSPECTIVA DO MODELO MATEMÁTICO REPRESENTATIVO – ESTRUTURA PRINCIPAL

zamento dos eixos radiais com 8 eixos vibracionais, foi gerado um modelo ma- A cobertura da edificação foi concebi-
perimetrais (eixos alfanuméricos). temático representativo da estrutura da em treliça arqueada tubular espacial
Os pilares transferem as cargas para através de modelagem numérica pelo metálica, requisitos da arquitetura e das
as fundações que são compostas por software TQS versão 15, no qual foram análises vibracionais.
1032 estacas tipo hélice contínua, dividi- realizados os cálculos dos carregamen- As treliças principais estão locadas so-
das em 4 diâmetros (40, 60, 70 e 80cm). tos e dimensionamento. A estrutura foi bre os eixos radiais, também espaçados
Também por solicitações vibracionais, projetada com fck≥30MPa e para a classe a cada 6o e resultando no total de 60 treli-
foram utilizados blocos de uma única es- de agressividade ambiental CAAII, defini- ças e apresentam uma extensão de apro-
taca sobre cada pilar, travados por vigas da na ABNT NBR 6118/2014. ximadamente 55,0m, vencendo o maior
de fundação. Com o intuito de permitir Apresenta-se a seguir uma perspectiva vão de 33,0m.
a movimentação térmica da estrutura, do modelo gerado:
implantou-se aparelhos de
apoio metálico unidirecio-
nal coincidentes com eixos
radiais, formando assim 25
juntas de dilatação. Optou-
-se por aparelhos metálicos
devido aos requisitos vibra-
cionais, durabilidade e faci-
lidade na manutenção.
Também fará parte da
edificação uma ponte rolan-
te com capacidade de 20tf,
destinada a movimentação
de qualquer componente
instalado sobre a região
das blindagens e hall expe-
rimental.
Para se avaliar o com-
portamento da estrutura
submetida ao conjunto de
solicitações e limitações FIG. 2 – MODELO UNIFILAR DA COBERTURA PRINCIPAL

14 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


FIG. 3 – PERSPECTIVA DO MODELO MATEMÁTICO REPRESENTATIVO – PORTARIA

FIG. 4 – SEÇÃO TRANSVERSAL TÍPICA – BLINDAGEM

Apoiada sobre aparelhos de apoio me- pos, com o intuito de garantir a melhor últimos 2,0m serão concretados após 6
tálico, suporta todas as instalações da performance vibracional. meses.
edificação e transfere estes carregamen- Esta laje apresenta aproximadamen- Além do tempo a ser aguardado para a
tos para os pilares de concreto da edifica- te 90m de raio externo, resultando em segunda etapa de concretagem, aditivos
ção principal. 565m de extensão facetada em 50 par- no concreto e o controle da temperatu-
Para análise dos carregamentos e di- tes iguais, assim como a estrutura da ra ambiente (nesta fase toda edificação
mensionamento da estrutura, utilizou-se blindagem, foi implantada também é em estará executada e climatizada com uma
o auxilio o software STRAP2012, mode- concreto moldado “in loco”, sem juntas variação máxima de 1oC) serão responsá-
lando os elementos através de elemen- de dilatação. veis para minimizar o efeito de retração,
tos de barra. Para permitir a inexistência de juntas permitindo assim a não execução de jun-
Estruturas Secundárias de dilatação, inicialmente a concretagem tas de dilatação.
Também faz parte do projeto estrutu- será realizada em faixas médias de 23,0m Gerou-se modelos matemáticos re-
ras externas como: túnel de acesso, por- de extensão, separadas por 2,0m. Estes presentativos com o auxílio do software
taria, subestação, reservatório elevado e
caixas de retardo. Para estas estruturas,
manteve-se a concepção de concreto ar-
mado moldado “in loco”.

BLINDAGEM
A blindagem possui um formato cir-
cular de raio médio de 80m e sua seção
transversal é similar a uma galeria. Para
garantir o confinamento da radiação e
permitir que a área externa esteja segu-
ra, foram adotadas paredes laterais e laje
superior de 100cm de espessura média.
Toda blindagem está apoiada em uma
laje estrutural de 90cm de espessura,
sobre uma camada de solo modificado
e 1332 estacas tipo hélice contínua com
40cm de diâmetro. Esta solução foi defi-
nida após análises, inclusive dos protóti- FIG. 5 – PERSPECTIVA DO MODELO MATEMÁTICO REPRESENTATIVO – TRECHO DA BLINDAGEM

15
ESTRUTUR A EM DESTAQUE | PROJETO SIRIUS

SAP2000, através de elementos finitos, SUBSOLO mentarmente às duas técnicas anterio-


com o intuito de avaliar o comportamen- O projeto exigiu estudos dos níveis de res, a provável composição litológica,
to da estrutura submetida ao conjunto ruído culturais presentes no solo. Essas grau de fraturas, geometria das primei-
de solicitações e limitações vibracionais informações serviram para balizar as ras camadas de subsolo e a profundida-
e movimentações/retrações. empresas que concorreram para contra- de do substrato rochoso. Outro aspecto
tação do projeto executivo. O processo estudado do terreno relaciona-se com
de reconhecimento do terreno incluiu o comportamento do solo em resposta
PROJETO um mapeamento geofísico e de sonda- às perturbações do seu entorno. Para
CONCEITUAL gens (à percussão e mistas), que per- isso pequenas bases de concreto foram
O projeto conceitual do Sirius foi mitiu saber a composição estratificada cravadas em cinco pontos distintos e so-
desenvolvido em conjunto com um do solo e do seu substrato rochoso. O bre elas foram instalados sismógrafos.
escritório de arquitetura, contratado levantamento geofísico valeu-se de três A coleta dos dados ao longo do tempo
para esta etapa. Para esse trabalho, a técnicas: • MASW (Multichannel Analy- permitiu conhecer o perfil de vibrações
equipe valeu-se de toda a experiência ses of Surface Waves) para determinar existente na época e correlacioná-lo às
ganha pelos envolvidos durante visitas os parâmetros técnicos do terreno até suas principais causas.
e da análise de relatórios e projetos de uma profundidade aproximada de 40
laboratórios similares espalhados pelo m. • HVSR (Horizontal to Vertical Spec-
mundo. Assim, foram incorporados tral Ratio) para determinar as frequên- FUNDAÇÃO
vários conceitos, como: 1) A interna- cias características do local. • Sísmica à Serão duas. A primeira, composta por
lização dos laboratórios de apoio e refração a partir da medida do tempo 910 estacas com diâmetros entre 40
escritórios de pesquisadores, técnicos de propagação de uma onda sísmica centímetros (e um metro) e profundida-
e engenheiros, de forma a aproximar gerada em um ponto da superfície e da de média de 18 metros, será intertra-
o pesquisador do objeto final de seu medição simultânea de diversos outros vada com vigas baldrames, tendo como
trabalho. 2) A disposição das áreas pontos, é possível determinar, comple- função suportar a estrutura do prédio.
de apoio em torno do hall onde se lo-
calizam as linhas de luz e aceleradores
para se ter uma barreira térmica. 3) A
utilização do pátio interno para alo- O QUE É UM SÍNCROTON
car as casas de máquinas reservatórios
e demais equipamentos que compõem
a central de utilidades da edificação. 4)
A possibilidade de instalação futura
de linhas de luz extralongas (com na-
nofoco) e de suas estações experimen-
tais de forma independente ao prédio
dos aceleradores.

PROJETO SÍNCROTRON DE DIPOLO MAGNÉTICO (À ESQUERDA) E SÍNCROTRON ONDULADOR (À


DIREITA). (FONTE: LNLS/CPNEM)
EXECUTIVO
Em setembro de 2012 iniciaram-se os Síncrotron é uma máquina que ace- a circunferência do anel. Por essa ra-
trabalhos de elaboração do Projeto Exe- lera partículas carregadas, geralmen- zão, os elétrons sofrem acelerações e
cutivo da edificação do Sirius. A previsão te elétrons, a velocidades altíssimas, desacelerações sucessivas e de alta
inicial, de 42 mil m2, foi alterada em 2014, próximas à da luz. Essas partículas frequência, produzindo, assim, uma
para 68 mil m2 de área construída, capaz são direcionadas a um grande anel radiação muito mais “luminosa”.
de abrigar um anel de armazenamento circular, onde são defletidas pela pre-
com circunferência de 518 metros. As sença de um intenso campo magné- DEFINIÇÃO DE LUZ
atribuições técnicas da empresa encar- tico. A aceleração centrípeta sofrida SÍNCROTON
regada foram definidas de acordo com a pelas cargas elétricas durante as A luz síncrotron é uma radiação
especificação elaborada pela equipe de curvas no interior do anel produzem eletromagnética que pode ser usa-
engenharia do LNLS. Neste documento ondas eletromagnéticas que podem da para a observação das estruturas
estavam descritas todas as entregas a ser usadas pela investigação científica internas dos materiais, como átomos
serem feitas pela contratada à cada uma para diversos fins. e ligações químicas. Esse tipo de ra-
das disciplinas integrantes do projeto, Os síncrotrons de 4ª geração, como diação é produzido quando partículas
assim como as especificações de de- o Sirius, contam com diversos polos dotadas de carga elétrica são desvia-
sempenho e premissas de construção e magnéticos invertidos, chamados de das de sua trajetória por um campo
funcionamento do edifício e de suas ins- onduladores, distribuídos por toda magnético externo.
talações.

16 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


Já a segunda fundação suportará o piso aceleradores quanto os das linhas de uso de pontes rolantes com capacidade
do hall experimental e a blindagem dos luz serão separadas (dos pisos do res- para 20 toneladas, instaladas sobre a
aceleradores. Além de suportar o piso tante das edificações) por juntas veda- região das blindagens e hall experimen-
e componentes sobrepostos, ela tem das por elastômeros. Dessa maneira tal (com piso de concreto de 60 centí-
a função de evitar os recalques dife- será garantida a total separação entre a metros de espessura). Tais aberturas
renciais e a propagação de vibrações, área experimental e o restante da edi- serão cobertas por vigas de concreto
sejam elas geradas internamente ou ficação. em duas camadas, com 50 centímetros
provenientes dos ambientes externos. cada uma, que poderão ser removi-
A fundação será composta por uma das sempre que houver necessidade.
camada de 2,85 metros de profundi- A EDIFICAÇÃO O acesso de pessoal aos aceleradores
dade de solo modificado, obtido a par- Sua estrutura será feita em concreto será feito pelas 10 chicanes localizadas
tir da remoção do solo local, seguida armado fundido in loco e todos os seus na parede interior da blindagem. Por
pela mistura com cimento e aplicação pisos, incluindo o térreo, serão também elas também se fará o acesso de parte
em pequenas camadas, com alto grau construídos em lajes de concreto ar- das utilidades do Interior da blindagem
de compactação. O processo confere mado. Assim, a estrutura apresentará (ar condicionado, iluminação e outras).
maior resistência (especificado 2 MPa) grande rigidez, reduzindo a propaga- Todo o cabeamento de potência, sinal
e rigidez, mitigando vibrações propa- ção de vibrações provenientes da ação e controle dos aceleradores adentra-
gadas pelo solo. Na região da blinda- dos ventos, da circulação de pessoas e rão na blindagem através de passagens
gem dos aceleradores, a camada de do funcionamento dos equipamentos e por canaletas sob o piso e a parede in-
solo modificado será apoiada em 1322 das instalações. A cobertura será feita terna. Por canaletas semelhantes será
estacas, com 40 centímetros de diâ- em telha zipada de perfil cônico com também feita a transposição das tubu-
metro e 15 metros de comprimento. A isolamento de baixa transmitância tér- lações dos circuitos hidráulicos de es-
interface entre o solo modificado e as mica. Isso confere grande estanqueida- tabilização térmica, de gases e ar com-
estacas será feita por duas camadas de de térmica e economia de energia, ga- primido. Aberturas na parede interna
solo-cimento (seixo-cimento), contidas rantindo o controle de temperatura de estão previstas para os guias de onda
por geogrelhas e apoiadas em capiteis alta estabilidade exigido pelo ambiente. das cavidades, as linhas de transferên-
sobre as estacas. Todas as estacas de A estrutura de sustentação da cobertu- cia de hélio líquido e linhas de visada
fundação serão do tipo hélice continua ra será construída em aço, com as vigas para referenciamento externo da ma-
(monitorada), o que confere à fundação principais treliçadas com seção triangu- lha de alinhamento. Na parede externa,
grande uniformidade construtiva. lar. As paredes internas, em sua maio- em cada face de saída de linha de luz
ria, serão do tipo dry-wall preenchidas estão previstos furos para a passagem
com lãs de vidro. Já a fachada externa dos aparatos para a linha e suas insta-
PISO CRÍTICO do prédio será feita em pele de vidro lações. Esses furos são especialmente
Denomina-se assim o piso onde se- sombreada por brises. desenhados de forma a garantir o total
rão instalados os aceleradores e as bloqueio da radiação durante a opera-
linhas de luz. A sua concepção é re- ção dos aceleradores.
sultado de estudos e simulações que
BLINDAGEM DOS
incluíram a construção de pisos e es- ACELERADORES
tacas-protótipos para a escolha do mo- Construída sobre um piso monolíti-
INSTALAÇÕES
delo com melhor desempenho quanto co de concreto com 90 centímetros ELÉTRICAS
à estabilidade e vibrações. Apoiado de espessura, suas paredes e cober- Dois fatores determinaram a necessi-
sobre uma camada com 15 centímetros turas espessas, também em concreto, dade de alterar a forma de conexão com
de espessura de BGTC (brita graduada abrigarão os três aceleradores (Linac, a rede de energia elétrica: o aumento
tratada com cimento), que reveste o Booster e anel de armazenamento) e esperado da demanda e a necessidade
solo modificado, o piso dos acelerado- linhas de transporte, proporcionando de Instalações de alta disponibilidade.
res foi feito com concreto armado de a devida estabilidade dimensional e Com um salto na demanda de energia
90 centímetros de espessura. Executa- mecânica aos equipamentos, garan- previsto de 3 MVA para 15 MVA quando
do em 20 segmentos entre os quais se tindo que a área externa esteja livre em plena operação, tornou-se impera-
deixará uma faixa com dois metros de de radiação durante à operação dos tiva a Implantação de uma subestação
largura. O piso destinado às linhas de aceleradores. Toda a blindagem será em 138 kV, em substituição à atual co-
luz terá espessura de 60 centímetros e construída sem juntas de dilatação nexão em média tensão (11.4 kV). Ten-
estará ligado ao dos aceleradores por e constituirá, ao término da con- do em vista a alta disponibilidade dos
meio de barras de transferência. Entre cretagem, em uma peça única com aceleradores, as duas subestações de
seus segmentos estão previstas juntas mais de 500 metros de comprimen- média tensão previstas para esta edi-
de dilatação especiais, que permitam to médio. A blindagem principal terá ficação operam com circuitos redun-
a circulação de dispositivos, sem que 20 aberturas em seu teto, as quais per- dantes. Os ramais alimentadores, seus
sofram desgaste prematuro ou causem mitirão a movimentação de qualquer cubículos de medição, proteção e ma-
vibrações indesejadas. Tanto o piso dos componente dos aceleradores com o nobra até seus transformadores abai-

17
ESTRUTUR A EM DESTAQUE | PROJETO SIRIUS

xadores serão duplicados, o que per- por meio do desligamento de parte dos casos de descargas atmosféricas quanto
mitirá a continuidade da operação caso equipamentos. para situações de falhas em equipamen-
ocorra a falha de um deles. tos e instalações. 2) O perfeito funciona-
Para atender à expectativa de qualida- mento dos equipamentos e instrumen-
de de energia demandada pelas fontes CIRCUITOS DE tação científica dentro de um ambiente
dos aceleradores, estão previstos quatro REFRIGERAÇÃO com a presença de sistemas eletrônicos
conjuntos de UPS (no-breaks) configura- de alta potência e intensos campos ele-
dos para redundância N+ 1, com potência
E ESTABILIZAÇÃO tromagnéticos. O projeto prevê uma re-
de 900+300 KVA cada. Esses equipamen- TÉRMICA sistência de aterramento de 1,2 Ohms.
tos suprimem as oscilações momentâ- Estão previstos oito circuitos fecha- Além do sistema tradicional de captores,
neas da rede elétrica, operam com alto dos, os quais utilizam água ultrapura a interligação elétrica de toda a ferragem
fator de potência e, devido à tecnologia como meio circulante. Eles são forma- será utilizada na armação das estruturas,
fly-wheel, proporcionam rendimentos dos por um conjunto automatizado de pisos e estacas de concreto. No solo, uma
acima de 95% sem a necessidade do uso pressurização que permite manter a malha com 4,5 quilômetros de fios de co-
de baterias. pressão do sistema constante, fazendo bre será interligada às armaduras das
variar a vazão à medida que as cargas a estacas. Finalmente, também compõe o
demandam. Esse circuito é importante sistema de aterramento um grande anel
ÁGUA GELADA para a estabilidade dos sistemas de con- formado por cabos de cobre ligados à
A produção de água gelada, com suas trole de temperatura dos diversos com- hastes de aterramento distribuídas no
4500TRs (15,8 MW) de potência térmica, ponentes e permite o uso racional da perímetro do terreno e interligadas ele-
é destinada ao sistema de ar condiciona- energia. Os sistemas de bombeamento tricamente à malha sob os prédios.
do, sistemas hidráulicos de refrigeração utilizados valem-se de um mecanismo
e de estabilização térmica de componen- de controle computadorizado que utiliza DISTRIBUIÇÃO DE
tes e sistemas das linhas de luz, labora- algoritmos capazes de determinar a con-
tórios e aceleradores. Por meio de 10 figuração mais eficiente para cada situa- NITROGÊNIO LÍQUIDO
chillers com condensação a ar, parte da ção de operação. Para evitar a geração Para atender o consumo de 18 mil li-
água produzida será utiliza diretamente de vibrações pela circulação de líquidos tros de nitrogênio líquido por dia, previs-
nos equipamentos de ar condicionado, nestes circuitos, as tubulações serão su- tos para a operação de 40 linhas de luz,
enquanto uma segunda parcela será di- perdimensionadas, de forma a se obter serão instalados dois tanques criogê-
recionada aos circuitos de estabilização baixas velocidades nicos com capacidade para 60 mil litros
térmica. A terceira parte será armaze- cada, que será alcançada gradualmente.
nada em tanques de termoacumulação ATERRAMENTO (Para detalhes estruturais acesse
para serem utilizados nos períodos de O sistema de aterramento da edifica- http://site.abece.com.br/index.php/
ponta (energia elétrica mais cara), per- ção tem duas finalidades: 1) A proteção publicacoes, onde está arquivada a
mitindo a economia de energia elétrica de pessoas e equipamentos, tanto para íntegra do artigo).

CONCRETO, O ASTRO PRINCIPAL DO SIRIUS

D
POR ROBERTO DAKUZAKU ** entre as partes críticas da sem juntas, com circunferência média
edificação do Projeto Sirius, de 520m.
o piso especial e a blin- O projeto executivo do piso espe-
dagem dos aceleradores cial, das paredes e da laje do túnel de
foram os grandes desafios de enge- blindagem estabeleceu a divisão da
nharia. Exemplos: Piso Especial sem concretagem em 20 etapas e definiu
fissuras, de 90cm de espessura, com que o fechamento do vão, denomina-
tolerância de ± 10mm em torno de seu do “gavetas”, só poderia ser concre-
nível de referência; deformação má- tado após 90 dias das concretagens
xima da superfície de 0,25mm a cada das placas do piso, paredes e laje. Os
10m durante um ano. Blindagem sem estudos dos traços do concreto espe-
fissuras; controle dimensional das pa- cial foram feitos pela consultoria STK
redes internas e de locação de alguns – S. Takashima, contratada pela Ra-
furos com tolerância de 10mm. Outro cional Engenharia, responsável pela
desafio: tanto o piso, quanto a blin- obra. Após a fase de avaliação, que
dagem deveriam ser uma única peça, demandou esforço de um grupo de

18 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


trabalho com todos
os envolvidos com
a obra, escolheu-se
a Concrelongo, que
instalou uma central
de concreto no can-
teiro de obras.
Toda automatiza-
da, a central permitia
controle total da umi-
dade dos agregados
e, em todos os car-
regamentos, as pe-
sagens eram monito-
radas, o que permitia
controle de umidade
em tempo real, o que
possibilitou rígido
acompanhamento do
concreto fresco e dos
tempos de pega, fun-
damentais para o êxi-
to da concretagem.

DOSAGEM rijecimento prematuro de uma casca yy Adição de macrofibra polimérica


Sabendo das dificuldades em tra- superficial, fenômeno conhecido por estrutural álcali-resistente, fina-
balhar com concretos densos, coesos, “crusting”, os temidos “borrachudos”. lidade, reforçar o concreto de
com baixa exsudação, abatimentos de (Para mais detalhes sobre as espe- elementos espessos, controlar
160mm a 200mm, espessuras eleva- cificações, acessar http://site.abe- e diminuir abertura de possível
das, volumes consideráveis, tempo de ce.com.br/index.php/publicacoes, ocorrência de fissuras
lançamento do concreto de 12 horas onde está arquivada a íntegra do yy Adição de aditivo compensador
a 14 horas, procuramos simplificar as artigo). de retração a base de oxido de
dosagens tendo como diretrizes a trin- Dados de entrada, especificados em cálcio, Tipo G
ca “menos água, menos cimento, me- projeto, adotados para definir os estu- yy Temperatura de controle de re-
nor será a retração” e antes de finalizar dos de dosagens e qualificação de for- cebimento do concreto inferior a
o desenho das dosagens, o executor necedores de ingredientes dos traços: 20°C, temperatura máxima atin-
do piso foi consultado para definir os yy Concreto aparente classe de re- gida pelo concreto endurecido
prazos de manutenção da trabalhabili- sistência C 30 – fck 30MPa 50°C, (posteriormente este limite
dade e a faixa de abatimento especifi- yy Módulo de deformação tangente foi estendido para 65°C, tempera-
cado para lançamento. inicial Eci 0,3fck ≥ 30GPa tura aceitável, para eliminar a pos-
yy Retração por secagem do concre- sibilidade de eventual formação
to ≤ 0,02% na idade de 28 dias de etringita tardia (DEF) no futuro,
ADITIVO yy Teor de ar incorporado ≤ 3%, índi- patologia que já se manifestou em
Foi realizado com fabricantes de ce de exsudação ≤ 2%, construções de algumas regiões
aditivos sua customização até chegar yy Abatimento do concreto fresco, do Brasil e pode causar deteriora-
ao produto ideal para obter um con- classe S160, “slump-test” entre ção de peças de concreto).
creto fresco refrigerado com gelo e 160mm a 220mm
reforçado com 4kg/m³ de macrofibra yy Dimensão máxima do agregado
polimérica de boa trabalhabilidade, graúdo – 19mm
ESCOLHA DO CIMENTO,
homogêneo, sem segregar, obter lon- yy Emprego de cimento de baixo ca- ADIÇÕES E ADITIVOS
ga e adequada manutenção de slump lor de hidratação, tipo CP III, CP Nesta etapa de serviço, antes de
durante o lançamento de até 3 cama- IV ou de baixa retração como o iniciar os estudos de traços, para sub-
das de concreto com espessuras de cimento especial Silimax produzi- sidiar a escolha do tipo de cimento dis-
20cm a 35cm sem formação de juntas do pela LafargeHolcim, consumo ponível na região da obra, ensaios ra-
frias e ocorrências da secagem e en- mínimo de 350kg/m³ ramente executados para estudos de

19
ESTRUTUR A EM DESTAQUE | PROJETO SIRIUS

dosagens foram solicitados aos princi- do software b4cast versão 4.03 con- PLANOS DE CONCRETAGENS
pais fabricantes, entre estes, a calori- siderando as dosagens previamente
metria, calor de hidratação e retração estudadas e definidas em laboratório,
E RESULTADOS
do cimento. Algumas combinações de geometria das estruturas e condições Os planos de concretagens foram
mistura de cimento e adição de pozo- de lançamento do concreto. Vários fa- elaborados após discussões pelo Gru-
lana, de forma a promover a análise do tores integram o modelo matemático po de Trabalho para tirar duvidas e
qual poderia se adequar a menor taxa como, por exemplo, a temperatura obter sugestões de todos facilitou os
de cinética de hidratação e apresentar de lançamento e velocidade de lança- serviços das equipes de produção.
menor retração hidráulica em conso- mento do concreto fresco, condições Isso foi decisivo para o bom andamen-
nante ao parâmetro especificado pelo ambientais (temperatura ambiente e to dos trabalhos, pois resultou em pla-
projeto e dimensões dos elementos da velocidade do vento), características nos simples e de fácil entendimento
blindagem. do cimento, dosagem do concreto uti- das equipes de produção, como este
Após análise dos resultados de en- lizado, características térmicas e me- a seguir, para o piso especial de 60cm.
saios, foi escolhido o cimento tipo CP cânicas do concreto, base de apoio en- Das diversas etapas, vencidas com
III 40 RS, por atender como sendo de tre outros. (Acessando http://site. muitas dificuldades em termos de
baixo calor de hidratação e apresen- abece.com.br/index.php/publica- fundações, camadas de estruturação
tar menor retração por secagem. De- coes, verá tabelas e gráficos com de solo e sub-base, sobre as quais se
finido o cimento, agregados, aditivo e os resultados de ensaios sobre tais apoiam os pisos do túnel e das áreas
adições, os traços estudados foram características) de testes, pode-se depreender:
verificados e validados no laboratório
neutro da ABCP – Associação Brasilei-
ra de Cimento Portland, em São Paulo.

ESTUDO TÉRMICO
Após definidos os traços de con-
creto foram realizados estudos térmi-
cos, realizados pela Desek, antes do
início da concretagem do protótipo
do piso especial de 90cm. Os resul-
tados foram favoráveis à não fissura-
ção da estrutura por causas térmicas.
O protótipo foi instrumentado e as
temperaturas atingidas pelo concreto
confirmaram as temperaturas obtidas
nos estudos térmicos. Em função das PROTÓTIPO DO PISO yy Os resultados obtidos no concre-
dimensões das estruturas de concreto to, além de corresponder às ex-
das paredes, piso e laje foi realizado ESPECIAL DE 90CM E pectativas especificadas em pro-
estudo térmico para avaliar o desen- BLINDAGEM jeto, apresentam dados dignos de
volvimento das temperaturas e res- Rarissimo de ser executado, um novas pesquisas tecnológicas;
pectivas tensões de origem térmica de protótio do túnel de blindagem e piso yy Exemplo disso são as caracterís-
forma a minimizar os riscos de fissu- especial de 90 cm em tamanho real, ticas de muito baixa presença de
ração na estrutura. A partir do estudo similar a um “fied mockup” foi construi- fissuras, mesmo em peças de ele-
foi avaliada a melhor temperatura de do e testes de traços de concreto, des- vadas espessuras e formas geo-
lançamento do concreto fresco para moldantes, armadura de pele, formas métricas desfavoráveis;
minimizar a ocorrência de indesejáveis de madeira e tela de aço expandido, yy As fissuras eventuais encontradas
fissuras e que poderiam ser caminhos agente retardador de superfície, ex- nas primeiras idades – sob intensa
preferenciais para fuga de radiações ecução de corte verde serviram para inspeção de todos os envolvidos,
O concreto foi especificado com treinamento e capacitação das equi- mostram-se ao longo do tempo
fck de 30MPa aos 28 dias, módulo de pes de concretagens e de execução quase imperceptíveis, como em
deformação tangente inicial superior dos pisos especiais e blindagem, além estudos similares de auto cicatri-
a 30GPa e relação água-cimento (a/c) de permitir a avaliação do acabamento zação;
inferior a 0,40. Para o cálculo de tem- do concreto após a desforma e elab- yy Como a obra se desenvolveu com
peraturas e tensões adotou-se mode- oração dos procedimentos de trat- variações climáticas – pelo cro-
lo tridimensional baseado no método amento do concreto aparente e dos nograma executivo e condições
dos elementos finitos (MEF) através planos de concretagens. ambientais variáveis, houve ne-

20 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


cessidade de contínuo trabalho buiu para incrementar positivamente a BUREAU DE PROJETOS – Instrumen-
de ajustes e melhorias, por parte resistência mecânica, módulo de elas- tação da Placa Teste e Relatório
de toda a equipe; ticidade, durabilidade e acabamento de Leitura – Projeto Sirius – RIS-SP
yy Os valores de variações volumétri- das estruturas de concreto aparente. 103/17 Julho de 2017
cas e movimentações das peças, CHODOUNKY, MARCEL A. Boletim Téc-
sob intenso controle de termô- nico 6 – ANAPRE. São Paulo, 2008.
metros e tensores, com registros
REFERÊNCIAS RELATIVAS DESEK. Relatório Técnico – Projeto Si-
contínuos ao longo de meses, AO CONCRETO rius – Estudo térmico do concreto
mostraram-se superiores aos va- A TECNOLOGIA DE CONCRETO APLI- do piso especial tipo “B” TAK-PSI-RT-
lores entendidos como necessá- CADA AO SISTEMA DE BLINDAGEM -01-2016-R0B. São Paulo, 2016.
rios para esta obra, porém muito DE UM ACELERADOR DE PARTÍCU- DESEK. Relatório Técnico – Projeto Si-
inferiores aos dados usuais utili- LAS – PLANEJAMENTO E ESTUDO rius – Estudo térmico do concreto
zados para dimensionamento de DE DOSAGEM PARA O PROJETO do Túnel de Blindagem TAK-PSI-RT-
obras de construção civil; SIRIUS – 60º CONCRESSO BRASILEI- -01-2017-R0. São Paulo, 2017.
yy O processamento de todas as de- RO DO CONCRETO – Anais do 60º IBRACON- Concreto: Ciência e Tecno-
terminações de temperaturas e Congresso Brasileiro do Concre- logia, São Paulo, 2011
deformações obtidas precisa de to – CBC 2018 – Setembro/2018 –
metodologia e tempo – de forma a IBRACON – Roberto Dakuzaku – S. (*) Fabrício Tardivo – ENGETI Consul-
obter-se informações para novos Takashima Consultoria e Assesso- toria e Engenharia
desafios. ria Ltda., Oscar Horácio Vigna Sil- (**) Roberto Dakuzaku - Consultor in-
Por fim, os resultados conseguidos va – Laboratório Nacional de Luz dependente, sócio diretor na S.Ta-
neste projeto evidencia ser possível Síncrotron LNLS - Infraestruturas kashima Consultoria e Assessoria
executar boas concretagens, minimi- Especiais, Paulo Bina – Monobeton e engenheiro civil
zar gastos desnecessários com re- Soluções Tecnológicas Ltda., Selmo
FICHA TÉCNICA
trabalhos e incentivar os fabricantes Chapira Kuperman – Desek Ltda.,
brasileiros como a empresa fornece- Eduardo Funahashi – Desek Ltda. e Proprietário – CNPEM – Centro
dora da junta metálica, inicialmente Júlio Rodrigues – Racional Engenha- Nacional de Pesquisa em Energia e
Materiais, organização social super-
especificado um sistema importado, ria Ltda.
visionada pelo Ministério da Ciência,
que desenvolveu o produto durante as PROJETO SIRIUS: ESTUDO DE CASO Tecnologia, Inovações e Comunica-
reuniões do GT. Outro aspecto impor- PARA ESCOLHA, QUALIFICAÇÃO ções (MCTIC).
tante a ser ressaltado em obras como E APROVAÇÃO DO CIMENTO Construção – Racional Engenharia
o Projeto Sirius é a continua contribui- PORTLAND PARA PISO INDUSTRIAL Ltda.
ção para aprimoramento das estrutu- EM CONCRETO - 60º CONCRESSO Projeto estrutural – Engeti Con-
ras de concreto e avanço da tecnolo- BRASILEIRO DO CONCRETO – Anais sultoria e Engenharia S/S Ltda.
Projeto executivo dos pisos –
gia de concreto no Brasil. do 60º Congresso Brasileiro do Con-
Monobeton Soluções Tecnológicas
Exemplos, o aditivo desenvolvido e creto – CBC 2018 – Setembro/2018 Ltda.
customizado para o concreto especial – IBRACON - Naguisa Tokudome – Consultoria em tecnologia de
empregado no túnel blindagem do Votorantim Cimentos, Roberto Da- concreto – S. Takashima Consulto-
acelerador de partículas tem sido uti- kuzaku - S. Takashima Consultoria e ria e Assessoria Ltda.
lizado em outros projetos onde os res- Assessoria Ltda., Dener Altheman Controle tecnológico – Concre-
ponsáveis se interessam em aprovar – UNISAL Campus São José, Vicen- mat
Concreto do piso especial e blin-
traços com menos cimento, minimizar te Bueno Verdiane – Votorantim
dagem – Concrelongo Serviços de
e até zerar patologias nas estruturas Cimentos, Adriana Falcochio Rivera Concretagem Ltda.
em execução, evitando juntas frias, – S. Takashima Consultoria e Asses- Volume de concreto especial, re-
falhas de concretagens, entupimentos soria Ltda. e Mauricio Bianchini – frigerado e reforçado com ma-
na linha de bombeamento do con- Votorantim Cimentos. crofibras – 22.000 m³
creto, reduzir devolução de concreto ASPECTOS CONSTRUTIVOS E ESTA- Cimento – Tipo CP III 40 RS – Vo-
vencido, equipe e maquinas paradas, BILIDADE. Disponível em <http:// torantim Cimentos, fábrica de Santa
Helena – SP.
custo com horas extras e bota fora w w w.lnls.cnpem.br/sirius/aspec-
Aditivos para concreto e des-
contribuindo com o meio ambiente na tos-construtivos-e-estabilidade>. moldante para formas – MC Bau-
redução de emissão de poluentes pela Acesso em 02 abril 2018. chemie
indústria cimenteira. BINA, PAULO – Pisos industriais e pa- Aditivo compensador de retra-
Outro exemplo foi o emprego do vimentos com fibras: O desenvol- ção tipo G a base de óxido de
aditivo compensador de retração a vimento e o futuro – Revista nº 56 cálcio, macrofibra polimérica e
base de óxido de cálcio tipo G além de 2009 – Concreto e Construções – agente de cura quimíca – Cons-
truquímica
reduzir a retração do concreto contri- IBRACON

21
PONTES E ESTRUTUR AS | LIÇÕES DE ENGENHARIA

O CASO DO VIADUTO T5
NA MARGINAL PINHEIROS

RELATO DETALHADO DO HISTÓRICO DE CONSTRUÇÃO DO VIADUTO, DAS


POSSÍVEIS CAUSAS DO DESNIVELAMENTO E TAMBÉM DE TODAS AS FASES
DE DIAGNÓSTICO, AVALIAÇÃO DA SITUAÇÃO, AS DIVERSAS PROPOSTAS DE
REPARO E DO PROJETO DE RECUPERAÇÃO DA OBRA

POR EQUIPE EGT ENGENHARIA


FABIO FANTE
1. DESCRIÇÃO DO VIADUTO
FABIO PRADO O viaduto T5, com seus 11 apoios, tem 560m de comprimen-
FERNANDO STUCCH to. Ele tem duas juntas dilatação sobre os pilares P9 e P5, que
GUILHERME TOALDO
KALIL SKAF definem o trecho central de 227m cujo apoio P9 cedeu 1,6m
MARCELO WAIMBERG no dia 15/11/18. Esse trecho tem 4 vãos de 51; 62,5; 62,5; 51 m.
MATHEUS MARQUESE

Seção de Vão - almas de 60cm e laje de fundo de 10cm. Nos


apoios almas de 80 cm e laje de 30 cm.

22 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


Projeto original da Cablagem – 8 cabos de 231 m com 31 cor-
doalhas de 12,5mm de uma ponta à outra, em cada alma.

Como, sobre o pilar P9 do acidente, existe uma junta dilata-


ção e de cada lado dela uma lingueta, é natural que aí corresse
água e que pudéssemos encontrar corrosão da armadura.
Olhando as fotos a seguir, o concreto estava muito compacto
A obra executada coincide com o projeto localizado em ter- e a armadura muito boa, sem nenhuma indicação de corrosão.
mos de forma e armadura frouxa, mas não em termos de arma-
dura protendida. Isso foi percebido quando, ao abrir o caixão
na região da seção danificada, verificou-se que alguns cabos
estavam ancorados dentro do caixão, a 10 m do pilar P8.
As built da Cablagem – obtido por Tomografia

Concreto
Pilares: fck = 15 MPa . . . Superestrutura: fck = 30 MPa
proj 35 MPa testemunho
Armadura passiva . . . . . CA-50: fyk = 500 MPa
Armadura ativa . . . . . . . CP-160/180: fpyk = 1600 MPa ;
fptk = 1800 MPa 2.1.2 – Escorregamento da lingueta
sobre o teflon do aparelho de apoio
2.DISCUSSÃO DAS CAUSAS - Como esse trecho do viaduto é muito longo
(51+62,5+62,5+51=227m), ele encurta muito ao longo dos 1os
DIAGNÓSTICO DO ACIDENTE COM O VIADUTO anos (13cm em ~ 10 anos) por retração e fluência.
T5, MARGINAL PINHEIROS Além disso, entre o verão e o inverno ele encur-
Como sempre, o 1º impulso que temos ao ver um acidente é ta uns 6cm. Imaginando uma condição inicial mais
procurar a causa e entender porque? Entender porque, isto é, provável, de construção em temperatura média,
definir o “diagnóstico”, é sempre o 1º passo a dar, fundamental! teríamos um encurtamento total de 16cm no inver-
Algumas vezes ele está claro e basta um pouco de sensibili- no, 8cm pra cada lado (a obra é simétrica!). Assim,
dade estrutural e conseguimos visualizar o porquê e definir o a possibilidade de escorregamento é plausível e
diagnóstico. deve ser analisada.
Acontece, porém, que algumas vezes as coisas não são assim. Antes da obter o projeto as verificações iniciais
Tudo o que parecia “obvio” não se sustenta e é preciso procurar foram feitas como indica a figura a seguir, consi-
uma hipótese mais consistente. derando a carga vertical V excêntrica de 10cm e
Às vezes, inclusive, não conseguimos encontrar uma hipó- uma força horizontal de atrito de 5%, chegamos
tese que explique claramente o que ocorreu. Conseguimos até 10%. A verificação passava com folga.
apenas descrever algumas delas que são capazes de explicar o Dispondo do projeto, verifica-se que a monta-
acidente, mas não temos como escolher entre elas! gem foi feita com uma excentricidade de 5cm no sentido con-
Vale lembrar que o eng. de estruturas nessa posição está trário à tendência de movimento, de modo que a verificação
numa situação bem pior que a de um médico. O doente não ficou ainda mais folgada.
fala, não reclama de dor, nem quando apalpado, e na maioria De fato, tudo foi projetado de forma adequada (é verdade
das vezes, o órgão que deu origem ao acidente foi esmagado e que esses detalhes só chegaram 4 semanas após o acidente) e
a autópsia fica muito difícil. Aqui, no nosso caso, tivemos sorte, a hipótese de escorregamento fica menos provável, mas ainda
nem tudo ficou esmagado! é possível.
Olhando, no entanto a foto do pilar P9 e suas linguetas logo
2.1.Hipóteses naturais: após o acidente, a seguir, observa-se que a ponta da lingueta
2.1.1 - Corrosão da armadura não escorregou, mas ficou presa na cabeça do pilar. Assim, essa
Vamos chamar o prolongamento da transversina de apoio, é mais uma hipótese razoável que cai por terra. –
do fundo do caixão até o topo do pilar, de “lingueta” (nome de 2.1.3 – Ruptura do canto do pilar
guerra criado na obra), ver desenho a seguir. Uma outra hipótese aventada foi a da ruptura do canto do
pilar, que favoreceria o escorregamento da lingueta. Mais uma
vez essa hipótese não se sustentou, o pilar estava integro, o

23
PONTES E ESTRUTUR AS | LIÇÕES DE ENGENHARIA

que ficou claro no final do macaqueamen- cultasse a operação de macaqueamento, por conta do atrito com
to, quando seu topo foi limpo e mostrou os a lingueta vizinha, uma vez que a junta estava cheia de resíduos.
neoprenes no seu lugar, de fato com o te- 2.3.1 – Esmagamento do concreto da
flon bastante sacrificado. Assim, não houve lingueta a meia altura, lado da junta
ruptura do canto do pilar, nem do canto da Na procura incansável do diagnóstico, decidiu-se estudar a
lingueta, que gerariam um “escorregamento” hipótese de que, por serem velhos (quase 40 anos), os apare-
da lingueta, não mais através do teflon, mas lhos de apoio tivessem deixado
através de uma ruptura de canto do pilar ou de permitir deslizamento. De fato, para forças horizontais
da lingueta. Na foto ao lado o pilar P9 apare- da ordem de 250tf, geradas por deformações impostas ainda
ce integro e apenas um Neoprene. O outro já remanescentes, a lingueta poderia ter sido esmagada a meia
havia sido retirado para análise. altura.
Ok, mas 250tf é muito!!!
2.3.2 – Esgotamento do concreto da lingueta
por fadiga do concreto à compressão
Verificou-se em seguida que, considerado o desgaste por fa-
diga do concreto conforme critério da ABNT NBR 6118, equiva-
lente ao do fibM1990 e Eurocode EC2, a necessária ordem de
grandeza da força horizontal caia pra 200tf. Essa hipótese de
diagnóstico tomou força e parece mais plausível que a descrita
acima. Mas 200tf também é muito!
2.3.3 – Defeito de concretagem na
lingueta do P9
2.1.4 – Insuficiência de armadura de fretagem
Essa hipótese também era, em princípio, plausível.
Observando a foto do P9 no dia do acidente, essa plausibili-
dade se reduz já que a ponta da lingueta não estava esmagada
e ainda apoiava no topo do pilar.
Com a descoberta do projeto, ela se desvaneceu completa-
mente, a armadura de fretagem estava em ordem.
Analisando a lingueta do ponto de vista
2.2.Hipóteses nem tanto naturais: da concretagem, verifica-se que, por conta
2.2.1 – Excesso de protensão das armaduras inferiores das 3 almas e da
A Norma vigente na época, NB116, que prescrevia protensão laje, bem como da fretagem, que toma toda
completa para obras como essa, é a que foi usada e nenhuma a espessura da lingueta, ela deve ter sido
crítica pode ser feita ao projeto por obedecê-la. difícil! Pode ter se formado uma “bicheira”
Foi assim que Freyssinet inventou o C. Protendido, bastante na lingueta, favorecendo sua ruptura por
protensão e pouca armadura, e isso só foi modificado na versão flexo-compressão, com ou sem fadiga.
2003 da ABNT NBR 6118 - Projetos de estrutura de concreto, que Já com o macaqueamento executado e
aliás alguns órgãos do governo, com receio, demoraram a aceitar. com os projetos de alargamento dos pi-
Certamente o encurtamento total (Retração, Fluência e Tem- lares 5 e 9 (para dar mais liberdade para
peratura) calculado para o caso estava bem coberto pelo proje- movimentos horizontais e facilitar a troca de aparelhos de apoio),
to e não é causa do acidente. começaram a aparecer surpresas: apareceram defeitos de con-
cretagem, bicheiras, na lingueta oposta à rompida (pilar P9). Elas
2.3.Hipóteses ligadas a “defeitos ocultos” apareceram quando da operação de injeção das fissuras clara-
Na verdade, quando essa dificuldade de definir o diagnóstico mente visíveis após a demolição da parte remanescente (ver figu-
ocorre, é preciso ser teimoso, criativo e não se cansar de pro- ra ao lado). Dois furos de injeção vizinhos, beberam, como se diz
curar não só no que está visível, mas também no que dizem na linguagem de obra, 4 e 3 litros, totalizando 7 litros.
os modelos de cálculo, que podem começar mais simples e se
necessário se tornar mais complexos.
Observando bem a foto anexa do pilar P9 no dia do acidente,
parece que a lingueta rompeu por esgotamento do concreto a
compressão, à meia altura. De fato, a ponta da lingueta aparece
apoiada no pilar com trecho integro de meio metro de altura
e dele saem dobradas em S as barras de armadura vertical da
lingueta, entrando na parte superior da mesma lingueta, ainda
preservada e ligada à superestrutura. Esse é claramente mais um possível “defeito oculto” que po-
Essa condição de apoio foi sempre razão de preocupação, seja deria ter agravado a condição da lingueta e contribuído para o
com a perda da capacidade de suportar as 700tf, seja porque difi- acidente.

24 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


3.HISTÓRICO DAS ATIVIDADES MAIS
IMPORTANTES.
3.1 Inspeção de 15/11/18 e decisões tomadas
yy Lingueta rompida? Porque? A resposta a essa pergunta,
como visto acima, demorou.
yy Seção transversal danificada a 10m do apoio continuo so-
bre o P8. Fissuras grandes na laje superior, de até 5mm, que
atravessaram o asfalto e esmagamento da laje de fundo.
yy Decisão imediata – escorar os vão P9 a P8 eP8 a P7.
yy Em função de existência de lingueta equivalente à do P9,
escorar trecho próximo ao P5, na outra extremidade da es-
trutura.
3.2 Programa de macaqueamento
do vão que cedeu
Uma vez cimbrada, podemos dizer que “o doente está na UTI”. 3.3. 2ª Reconstrução da Lingueta rompida,
A partir dai é preciso por a obra no lugar, reconstruir a lingue- sobre novos aparelhos de apoio.
ta e recuperar a seção danificada.
São 3 “cirurgias” importantes.
1ª Procedimento para macaqueamento do viaduto, levantan-
do-o até a cota original.
Situação a ser garantida para início da operação:
yy vão que cedeu e seu vizinho escorados;
yy bloco principal de macaqueamento liberado (fckj>40 MPa);
yy montagem da estrutura de reação Protende com os maca-
cos ajustados ao fundo das almas do caixão;
yy junta sem contato no topo das duas estruturas, de um lado
e outro do P9;
yy 6 LVDTs instalados nas almas do caixão, na região da fissura
do pavimento. Um na fissura da alma, logo sob a laje supe-
rior, e outro na parte inferior, logo acima da laje de fundo;

yy Concretagem em 3 faixas horizontais;


yy Concreto com aditivos retardador de pega e superplasti-
ficante;
yy Limitação na relação a/c;
yy Uso de cimento e metacaulim;
yy Uso de água gelada;
yy Cura cuidadosa;
yy Controle de temperatura do concreto – max medido foi 42
graus.
yy topografia preparada para medir o levantamento do tabu-
leiro, especialmente na junta e no eixo do bloco principal, 3.4. 3ª Recuperação e reforço da
mas também em cada uma das transversinas do vão que seção rompida – “danificada”
cedeu e no meio do vão vizinho. Partindo da medição do quadro de fissuração com o tabu-
leiro cedido, do tabuleiro já reposicionado e das leituras da va-
riação da curvatura pelos LVDTs, foi possível montar a figura a
seguir, que mostra que de fato a seção ultrapassou os limites
do ELU, mas se recuperou bastante bem pelo macaquemento.
Como as armaduras foram muito danificadas pelo escoamento,
tiveram que ser reforçadas, o que decidiu-se fazer com fibras
de carbono. Por outro lado, a laje de fundo nessa seção foi es-
magada e teve que ser refeita. Decidiu-se executá-la com 20cm
e reforça-la também com fibras de carbono na face inferior,
uma vez que essa seção era solicitada por momentos positivos
para determinados casos de carga.

25
PONTES E ESTRUTUR AS | LIÇÕES DE ENGENHARIA

4. TERMINADO O PROCESSO DE
RECUPERAÇÃO E REFORÇO
O viaduto foi submetido a prova de carga estática para carga
equivalente a pouco mais que o TB450 da ABNT NBR7188 e a
ensaio dinâmico com caminhão instrumentado de 60ton.
Na prova estática foram utilizados 45 caminhões de 26ton,
sendo 20 no vão de 51m (4 por faixa) e 25 no vão de 62,5m (5
por faixa).
Entrando pela mão usual da marginal, primeiro foram os 25 ca-
minhões do 2º vão gerando o carregamento que gera momento
próximo do máximo nesse vão. Em seguida vieram os 20 do 1º vão
Reforços da laje superior gerando o momento mínimo no apoio P8. Em seguida saíram os
25 dos 2º vão gerando o momento máximo nesse vão. Finalmente,
para testar a lingueta do P5, os 20 caminhões deslocaram-se para
o vão P6-P5, gerando o momento máximo nesse vão e também a
máxima carga na lingueta do P5, simétrica da que rompeu.
Após a prova de carga estática, foi executado o ensaio dinâ-
Reforços da laje inferior mico com passagens excêntricas do caminhão de 60ton com
velocidades crescentes de 30 até 90 km/h. O ensaio terminou
com um freada forte na faixa central a partir de 90km/h.
Em todos os ensaios foram medidos deslocamentos verticais
nas seções críticas dos vãos, deslocamentos horizontais nas lin-
guetas, deformações nas seções críticas, vãos, apoios e seção
danificada. Além disso, no ensaio dinâmico, foram medidas ace-
lerações que permitiram determinar as frequências e os modos
próprios da estrutura.
Como os resultados bateram com as previsões a obra foi libe-
rada para o tráfego.

26 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


ESPAÇO ABERTO | SISTEMAS CONSTRUTIVOS EM AÇO

PARA PROJETISTAS,
DEMANDA POR ESTRUTURA
METÁLICA CRESCEU 40%
PESQUISA DO CBCA REGISTRA TAMBÉM QUE, ESTACAS
METÁLICAS JÁ REPRESENTAM 60% DOS PROJETOS VOLTADOS
PARA FUNDAÇÕES DE OBRAS COMERCIAIS

O
Centro Brasileiro da Constru- pecificados com as estacas metálicas. metálicas sendo as mais empregadas nos
ção em Aço (CBCA), em parce- Em relação ao tipo de laje, as de concreto empreendimentos que utilizaram cober-
ria com o Instituto Aço Brasil e moldado in loco representaram 60,4% das tura em telhas, pois também há laje im-
com a Worldsteel Association, lajes projetadas, e lajes com fôrma colabo- permeabilizada como cobertura. A par-
realizou pesquisa que retrata o uso de rante steel deck e lajes estruturadas em ticipação das telhas metálicas atingiu
sistemas construtivos intensivos em aço perfis de steel framing representaram em 28% das obras pesquisadas.
nas obras brasileiras. Os dados foram conjunto 4,4%. As obras comerciais tam- Os projetistas, sejam de fundação ou
coletados no final de 2018 junto a 185 bém foram as que mais empregaram esse de estrutura, foram os principais defini-
construtoras e 80 projetistas, que repre- tipo de sistema construtivo. dores do sistema construtivo a ser ado-
sentaram cerca de 23% de todo o volume Sobre os tipos de estrutura, as estru- tado e dentre os principais fatores para
de obras entregues em 2017. turas metálicas e mistas vêm ganhando a tomada da decisão estão a preferência
A pesquisa, desenvolvida pela e8 Inte- mercado, chegando a participar de 6,8% do cliente, tipologia da obra, qualidade da
ligência, possibilitou entender os drivers do projetado. O concreto moldado in loco obra e custo, respectivamente.
que norteiam as decisões de construtoras ainda tem uma participação maior, repre- As estruturas metálicas foram desta-
e projetistas sobre sistemas construtivos, sentando 45,3% das obras. Segundo cadas por quatro pontos: velocidade da
além de proporcionar uma visão da por- os projetistas, o uso das estruturas obra, limpeza, praticidade e segurança,
centagem de cada tecnologia construtiva metálicas tem mudado nos últimos com cerca de 70% dos projetistas in-
em relação aos subsistemas das edifica- anos, com aumento de 40% na de- formando que costumam utilizá-las
ções, das fundações às coberturas. manda. Eles apontaram ainda que esse em seus projetos.
Os respondentes das 80 empresas que tipo de sistema tem sido empregado em O CBCA espera que esta gama de in-
prestam o serviço de projeto foram em obras que tradicionalmente empregavam formações forneça subsídios relevantes
sua maioria os próprios tomadores de o concreto. para que as entidades ligadas ao setor da
decisão, como os sócios-proprietários e/ Nos tipos de vedação externa, os pai- construção civil consigam desenvolver
ou ocupantes de cargos de diretoria. néis metálicos representaram 5,3% do programas que contribuam com o de-
mercado com a alvenaria tendo a maior senvolvimento e fortalecimento dos sis-
RESULTADOS EM RELAÇÃO À participação. Já na vedação interna, o temas construtivos em aço e, ao mesmo
VISÃO DOS PROJETISTAS drywall já representa 20,2% do mercado, tempo, auxilie de forma efetiva os profis-
Ao analisar o tipo de fundação, as com forte participação nas Regiões Su- sionais do setor da construção civil.
obras comerciais como os shoppings, deste e Sul. Para acessar essa pesquisa e conteú-
escritórios, escolas, dentre outros, Os tipos de cobertura também foram dos relacionados à construção em aço
representaram 60% dos projetos es- analisados na pesquisa, com as telhas acesse www.cbca-acobrasil.org.br.

27
BOAS PR ÁTICAS CONSTRUTIVAS | CUSTOS REDUZIDOS

FÔRMAS PARA ABERTURA


TRANSVERSAL
EM LAJE NERVURADA
ESTRUTURA MAIS LEVE COM MENOR UTILIZAÇÃO
DE FERRAGEM E TAMBÉM DE CONCRETO RESULTA
EM MAIOR RAPIDEZ NA MONTAGEM

A
POR MARCOS DA COSTA TERRA * s lajes representam 50% a 60% maciça de mesma inércia. Para moldar a
do custo da estrutura. Qualquer laje nervurada com mais produtividade e
economia de concreto nas mes- rapidez utiliza-se fôrmas recuperáveis
mas, representa valores consi- de resinas plásticas (também conhecidas
deráveis além de refletirem em economia como cubetas) que podem ser apoiadas di-
nas vigas, pilares e até nas fundações. retamente no escoramento sem necessida-
Além disso, o menor consumo de concreto de de assoalhar.
trará benefício à humanidade por empre- Para aumentar esta economia, po-
gar menos materiais naturais contribuin- de-se moldar uma abertura transversal
do para a não exaustão da terra. Como nas nervuras utilizando uma fôrma de
disse o professor Francisco Graziano, “O plástico que é fixada nas fôrmas 80x80
concreto é o material mais utilizado no cm com 40 cm de altura.
mundo, superado apenas pela água”, Esta fôrma molda furos no formato
portanto, qualquer redução no consumo triangular, com vértices arredondados
do mesmo é de alta repercussão. que, além de reduzirem concreto,
A laje nervurada se caracteriza pela re- podem servir para passagem de instala-
tirada do concreto dis- ções no interior da laje
pensável da zona de tra- (entre outras, elétricas,
ção de uma laje maciça hidráulicas, incêndios,
e, para manter a inércia, telefônicas e dados),
terá um pouco mais de possibilitando melhor
altura. Como conse- aproveitamento do pé
quência do menor peso direito ou menor altu-
próprio e maior altura, ra na edificação devido
reduzirá também a fer- ser eliminado o espa-
ragem. Serão cerca de FIG. 1 – FÔRMA PARA MOLDAR ço vertical que estas
ABERTURA TRANSVERSAL NAS
30% a redução de aço NERVURAS COLOCADA ENTRE
instalações ocupariam
e concreto que a laje FÔRMAS RECUPERÁVEIS PARA abaixo da laje. Os furos
(*) Marcos da Costa Terra – Engenheiro e diretor
nervurada promoverá LAJE NERVURADAS – FONTE: podem ser em uma ou
técnico ATEX DO BRASIL em relação a uma laje ATEX DO BRASIL - TUBEX duas direções, poden-

28 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


FIG. 2 – ABERTURAS FIG. 3 – SEÇÃO
EM UMA OU DUAS TRANSVERSAL E VISTA
DIREÇÕES – FONTE: DAS ABERTURAS –
ATEX DO BRASIL - FONTE: ATEX DO BRASIL
TUBEX - TUBEX

do aumentar a redução de concreto em d) cobrimentos suficientes e não sec-


até 11% (Laje nervurada Altura= 40 + 5 = cionamento das armaduras (ver Se-
45 cm (sem furos) Consumo de Concre- ção 7).
to=0,219m³/m² para 0,196m³/m² com fu-
ros nas duas direções). Ver quadro abaixo 21.3 Furos e aberturas
(Fonte: ATEX DO BRASIL). 21.3.1 Generalidades
Estruturas, cujo projeto exige a presen-
DE ACORDO COM A ABNT NBR ça de aberturas, devem ser calculadas e
detalhadas considerando as perturba-
6118/2014: ções das tensões que se concentram em
13.2.5 Furos e aberturas torno dessas aberturas, prevendo, além
Quando forem previstos furos e ab- das armaduras para resistir às forças
erturas em elementos estruturais, seu de tração já mencionadas nesta Norma,
efeito na resistência e na deformação também armaduras complementares
deve ser verificado e não podem ser ul- dispostas no contorno e nos cantos das FOTO 1 – FÔRMA 80 X 240(COM ANULADOR DE
NERVURA) X 40 CM(ALTURA) E FÔRMAS PARA
trapassados os limites previstos nesta aberturas. ABERTURAS TRANSVERSAIS NAS NERVURAS.
Norma, obedecido o disposto em 21.3. Os limites para as dimensões de furos FONTE: OBRA BH – PROJETO ESTRUTURAL:
De maneira geral, os furos têm di- e aberturas constam na Seção 13. Nos WETTER L.T.08/11/2018
mensões pequenas em relação ao ele- casos em que estes limites não sejam
mento estrutural enquanto as aberturas atendidos, a verificação estrutural pode
não. Um conjunto de furos muito próxi- ser feita pelo método de bielas e tirantes,
mos deve ser tratado como uma abertura. conforme a Seção 22.
Finalmente, algumas recomendações
13.2.5.1 Furos que atravessam simplificadoras foram informadas por
vigas na direção de sua largura projetistas de estrutura que emprega-
Em qualquer caso, a distância mínima ram em seus projetos lajes nervuradas
de um furo à face mais próxima da viga com estas aberturas:
deve ser no mínimo igual a 5 cm e duas yy Utilizar furos diâmetro 21cm ou re-
vezes o cobrimento previsto para essa tangulares 23x21cm;
face. A seção remanescente nessa região, y y Reduzir a inércia para verificação
tendo sido descontada a área ocupada das deformações. Inércia pondera-
pelo furo, deve ser capaz de resistir aos da= (205.963 cm 4 x 0,57 + 162.397 FOTO 2 – LAJE NERVURADA UNIDIRECIONAL
esforços previstos no cálculo, além de cm 4 x 0,23) : 0,80m=193.438 cm 4 COM ABERTURAS TRANSVERSAIS –
permitir uma boa concretagem. (6%<) Valores obtidos no quadro FONTE: OBRA BH – PROJETO ESTRUTURAL:
da Fig.4; WETTER L.T.08/11/2018
Devem ser respeitadas, simultanea-
mente, para dispensa da verificação, as yy Simular a nervura como viga de lar-
seguintes condições: gura igual a largura média da nervu- yy Empregar Bielas e Tirantes conforme
a) furos em zona de tração e a uma ra e utilizando a mesa colaborante recomendação ABNT NBR 6118/2014
distância da face do apoio de no mí- da capa (viga T); (seção 22) ou Método de Elementos
nimo 2 h, onde h é a altura da viga; yy Verificar os furos como se fossem Finitos ou Sussekind ou Fusco ou TQS.
b) dimensão do furo de no máximo 12 nesta viga; Enfim, por serem os furos localizados
cm e h/3; yy Considerar momentos fletores e cor- no terço médio da altura da nervura da
c) distância entre faces de furos, em tantes os mesmos de uma laje sem laje nervurada (região de menores ten-
um mesmo tramo, de no mínimo 2 h; furos; sões); terem altura um pouco mais de um
terço da altura desta nervura; terem for-
mato que reduz menos a zona comprimi-
da e não interrompe o tirante de tração
e não serem rentes aos apoios onde o
FIG. 4 – QUADRO cisalhamento é máximo, as verificações
COMPARATIVO E DADOS têm obtidos resultados que demons-
TÉCNICOS – FONTE: ATEX tram pouca alteração em relação aos
DO BRASIL – TUBEX
de uma laje nervurada sem furos.

29
PONTES E ESTRUTUR AS | DEBATE

UM VIADUTO
E MUITAS LIÇÕES

MESA-REDONDA PROMOVIDA PELO SEGMENTO DE ENGENHARIA COLOCA


EM EVIDÊNCIA A NECESSIDADE DE ATUAÇÃO HARMÔNICA DAS ESFERAS
PÚBLICA E PRIVADA PARA UMA AÇÃO MAIS EFETIVA EM CASOS DE
ACIDENTES EM ESTRUTURAS DE OBRAS-DE-ARTE

O
debate técnico sobre alguns dos, o debate no encerramento do encon-
episódios recentes de colap- tro levou a diversas reflexões sobre: inexis-
sos estruturais em pontes tência ou insuficiência de banco de dados
e viadutos, com ênfase na sobre o histórico das estruturas existentes
ruptura de parte de um viaduto da pis- no Brasil; judicialização dessas questões,
ta expressa da Marginal Pinheiros, na com consequentes atrasos na execução
zona Oeste de São Paulo, em novembro de serviços de manutenção; necessária
de 2018, não deve priorizar a busca por alocação de recursos destinado especifi-
culpados, mas sim estar focado nos pro- camente para vistorias e até a criação de
blemas efetivos para se tirar lições, de programas perenes de manutenção pre-
maneira a prevenir eventos semelhantes ditiva, corretiva e rotineira. As recomen-
no futuro. De forma resumida, essa foi a dações incluíram até um debate sobre as-
principal conclusão de uma mesa-redon- pectos éticos e culturais da relação entre
da promovida pela ABECE e IBRACON* as várias instâncias da engenharia.
em fevereiro deste ano na Escola Politéc- “Essa mesa-redonda nos revelou uma
nica da Universidade de São Paulo. sinergia que eu diria histórica entre os
Denominada “Obras-de-arte (pontes e profissionais da engenharia e os repre-
viadutos) em São Paulo”, a mesa-redonda sentantes dos poderes públicos em to-
contou com palestras e exposições dos dos os níveis no tocante a forma de pre-
mais respeitados e experientes profissio- servar ao máximo as características das
nais da área de engenharia estrutural do nossas obras-de-arte”, constatou Vitor
país e atraiu a atenção de 150 pessoas Levy Castex Aly, titular da Secretaria de
entre especialistas da área de pontes Infraestrutura Urbana e Obras do muni-
e viadutos, engenheiros de estruturas, cípio de São Paulo. “Uma coisa nós que
acadêmicos, técnicos do setor público e atuamos na engenharia não podemos
privado, lideranças setoriais dos segmen- fazer é abaixar a cabeça e ficar com senti-
tos de engenharia e construção, além de mento de inferioridade. Esse acidente do
estudantes. viaduto na Marginal Pinheiros nos ensi-
Juntamente com aprofundadas análises nou várias lições para evitarmos repetir
técnicas sobre alguns colapsos registra- os problemas no futuro”, acrescentou.

30 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


Na mesma linha de comentários do se- com engenharia é mudar essa percep- numa situação bem pior que a de um mé-
cretário paulistano de Infraestrutura se- ção sobre o valor da nossa atividade. “A dico, pois o paciente (no caso, o viaduto)
guiu o engenheiro João Vendramini, pre- verdade é que nós não sabemos nos va- não fala, não reclama de dor, nem quan-
sidente da ABECE. “Esse acidente não foi lorizar”, arremata. do “apalpado”. E, na maioria das vezes,
um problema de engenharia, mas sim de o órgão que deu origem ao acidente foi
gestão”. No seu entendimento, todos os O EVENTO – A série de palestras e esmagado e a “autópsia” fica muito difí-
aspectos da discussão relacionada com apresentações da mesa-redonda teve cil. Aqui, no caso do viaduto da Marginal
o episódio do viaduto refletem a forma início com uma longa descrição do pro- Pinheiros, tivemos sorte, pois nem tudo
como a sociedade enxerga a atividade do cesso de inspeção, análise e diagnóstico ficou esmagado”, explica Stucchi. (Ver o
engenheiro hoje no Brasil. do caso do Viaduto T5 da Marginal Pi- detalhamento do projeto de recuperação
“Nós, engenheiros, precisamos fazer nheiros, feita pelo engenheiro Fernando do viaduto em artigo do engenheiro Stuc-
com que a sociedade tenha a exata no- Stucchi, que liderou a equipe encarrega- chi na página 22).
ção da nossa atividade. Hoje, quando o da do projeto de reposicionamento, re- Na sequência, o engenheiro Eduardo
cidadão faz um gesto banal de abrir sua forço e recuperação da obra-de-arte. No Barros Millen, ex-presidente e atual dire-
torneira, ele acha que uma espécie de início da longa e detalhada apresentação tor da Regional São Paulo da ABECE, tra-
mágica faz a água aparecer. A maioria com a descrição do que foi feito, Stuc- tou do tema Acidentes, Inspeção, Avaliação
não tem ideia de que em todas as fases chi salientou que muitas vezes definir o Técnica de Projeto (ATP), além da Ética na
do processo de captação, armazena- “diagnóstico” das causas do colapso não Engenharia Estrutural. Especificamente
mento e distribuição da água, a enge- é tão óbvio como parecia no início. em relação a ATP, salientou que a ferra-
nharia está atuando. Nós incorporamos “Muitas vezes não conseguimos en- menta pode reduzir em até 30% os riscos
isso em nosso dia a dia de uma forma contrar uma hipótese que explique cla- de acidentes relacionados com o projeto
mecânica e rotineira. O mesmo aconte- ramente o que ocorreu”, afirma. “Con- de uma obra. “Além disso, ATP represen-
ce com inúmeras outras coisas, como a seguimos apenas descrever alguma das ta garantia de segurança e vida útil da
economia de tempo que se tem ao fazer hipóteses que são capazes de explicar o estrutura, atendimento das normas de
um simples retorno numa alça em uma acidente, mas não temos como escolher desempenho, redução do prêmio de se-
rodovia”, conclui Vendramini, salientan- entre elas. Vale acrescentar que o enge- guro e ganhos no consumo de materiais”,
do que o papel de todos os envolvidos nheiro de estruturas nessa posição está acrescentou Millen, que também relem-

31
PONTES E ESTRUTUR AS | DEBATE

brou alguns acidentes recentes ocorridos obras-de-arte especiais; e no Rio de Ja- e da utilização de sistemas de gerencia-
no país. neiro, duas obras em pior estado foram mento de pontes”, diz Bittencourt.
O tema Prevenção de Acidentes e Danos reformadas após o levantamento (Paulo Ao final do encontro, o secretário Aly
em Construções de Concreto foi abordado de Frontim e Elevado do Joá). destacou o legado de uma ocorrência
pelo engenheiro Júlio Timerman, presi- Tendo por tema Sistema de Gerencia- como a do viaduto da Marginal Pinheiros.
dente do IBRACON. Tratando especifica- mento de Pontes, o engenheiro Túlio Bit- Para ele, o episódio deve criar a cultura
mente das inspeções, o palestrante infor- tencourt, diretor da ABECE e um dos da manutenção e incentivar que as admi-
mou que, logo que a obra é concluída, já fundadores do grupo brasileiro do IAB- nistrações possuam ou providenciem um
deve ser feita uma inspeção ou quando MAS (International Association for Bridge inventário das OAEs, criem programas de
ela for integrada a algum sistema de mo- Maintenance and Safety), detalhou em manutenção das OAEs e também um Sis-
nitoramento e acompanhamento viário. sua apresentação na mesa-redonda as tema de Gerenciamento das Informações
Igualmente deve ocorrer uma inspeção
todas as vezes em que houver altera-
ções, tais como alargamento, acréscimo
ECOS DA MESA-REDONDA
de comprimento, reforço ou mudança no
Algumas ações, propostas e medidas concretas para aprimo-
sistema estrutural.
rar a manutenção de pontes e viadutos discutidas no evento
Timerman explicou que são três os ti-
pos de inspeções recomendadas: a Ro- – Alocar recursos orçamentários para obras de manutenção nos níveis federal, es-
tineira, para se verificar a evolução de tadual e municipal;
anomalias já observadas; a Especial, feita – Realizar vistorias rotineiras, em intervalo não superior a um ano (ABNT NBR 9452/2016);
com uma periodicidade de cinco anos; e a – Definir programa permanente de manutenção com estrutura organizacional
Extraordinária, que é gerada por uma de- para planejamento e execução dos trabalhos;
manda não programadas, como impacto – Ter um manual de especificações e procedimentos padronizados para executar a
de veículos, eventos naturais como inun- manutenção;
dação e vendaval. Em todas as inspeções – Implantar Sistema de Gestão de Obras de Arte;
deve ser feito um relatório. “Na inspeção – Desenvolver sistemas eficientes de controle de altura de veículos que trafega por
extraordinária deve ser apresentada a sob as pontes e viadutos;
descrição da obra, identificação da ma- – Estudos internacionais estimam que o ideal é que se invista ao menos 2% do PIB
nifestação patológica, incluindo mapea- na manutenção da estrutura;
mento, documentação fotográfica e tera- – Inspeções, diagnósticos e recuperação de OAE devem ser realizados apenas por
pia recomendada”, informa o engenheiro. empresas ou profissionais especializados e contratados por critérios técnicos.
Após as ponderações de Timerman,
o vice-presidente de Gestão e Assuntos
Institucionais do Sinaenco – Sindicato ferramentas e as melhores práticas na relativas a essas obras-de-arte. “Mas
Nacional das Empresas de Arquitetura e gestão de manutenção de pontes e via- tem um tópico dentro de tudo isso que
Engenharia Consultiva, Sérgio Marques dutos. Lembrou que, frequentemente se me preocupa em particular. A perda de
Assumpção relatou alguns resultados associa o sistema de gerenciamento de profissionais experientes e capacitados
de um trabalho desenvolvido pela enti- pontes com os softwares utilizados nes- tecnicamente para atuar nessa área. Um
dade e intitulado Prazo de Validade Ven- sas atividades. “A existência de recursos recente levantamento que fizemos na se-
cido, para avaliação de pontes, viadutos computacionais para o correto gerencia- cretaria constatamos que 70% da força
e outras estruturas públicas que já foi mento de pontes não substitui os enge- de trabalho técnica da Prefeitura de São
realizado em 22 cidades brasileiras des- nheiros gestores de pontes, mas o opos- Paulo tem mais de 55 anos e prestes a
de 2005. “Em todas as cidades em que o to disso”, comentou Bittencourt. se aposentar. Como boa parte do histó-
estudo foi desenvolvido, os administra- O que ocorre, salientou, é que a metodo- rico das pontes e viadutos não está do-
dores públicos se sensibilizaram com a logia é capaz de produzir informações va- cumentado adequadamente, ele poderá
questão e fizeram investimentos na área, liosas para a consideração do engenheiro se perder junto com a aposentadoria dos
recuperando pontes e viadutos, embora gestor. “Esses recursos são especialmente profissionais”, observou o secretário.
que ainda de forma insuficiente”, observa necessários para a administração de gran-
Assumpção. des parques de obras, com considerável (*) Além da ABECE e do IBRACON, o even-
to foi promovido também pela EPUSP
Alguns resultados concretos decorren- volume de informações”, completou.
(Escola Politécnica da Universidade de
tes do trabalho do Sinaenco: em 2005 a Bittencourt avança sua abordagem en- São Paulo) e grupo brasileiro do IABMAS
Prefeitura de São Paulo ampliou a verba fatizando a questão crucial do convenci- (Brazilian Group – International Associa-
para manutenção de R$ 3 milhões inicial- mento das autoridades sobre a necessi- tion for Bridge Maintenance and Safety).
mente previstos, para R$ 25 milhões, re- dade de ações preventivas. “Justificar os Contou ainda com a participação de en-
tidades como a ABPE (Associação Brasi-
cuperando quatro pontes e viadutos; em investimentos na infraestrutura é mais
leira de Pontes e Estruturas), Prefeitura
2007 foi criada a Frente Baiana de Manu- fácil quando os benefícios são quantifica- do Município de São Paulo e Sinaenco
tenção, reunindo Sinaenco, Crea (BA) e dos. Para tal, precisamos conhecer a fun- (Sindicato Nacional das Empresas de Ar-
Prefeitura de Salvador para inspeção de do nossas obras, através dos registros quitetura e Engenharia Consultiva).

32 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


VALORIZ AÇÃO PROFISIONAL | REGISTRO DOS CONHECIMENTOS

NÃO HÁ FUTURO
SEM PASSADO

A ENGENHARIA ESTRUTURAL PRECISA CONTAR SUA HISTÓRIA, PARA


SERVIR DE REFERÊNCIA E ESTÍMULO AOS NOVOS PROFISSIONAIS QUE
ESTÃO CHEGANDO AO MERCADO

S
POR MONICA AGUIAR* abe-se que quem conta um conto A técnica pode se tornar estéril quando
aumenta um ponto. Antes do sur- ensinada fora de seu contexto histórico,
gimento da escrita, esse foi o mé- ainda mais nessa era de digitalização e
todo que garantiu a transmissão abstração acachapantes que agora vive-
de conhecimento entre gerações, e a tra- mos. As novas gerações digitais deveriam
dição oral foi responsável pelas histórias ser introduzidas à história da engenharia
maravilhosas que, transcritas mais tarde pré-digital e seus métodos e soluções
para os livros, encantam-nos até hoje. que serviram de embasamento ao co-
Os mitos gregos recontados e adaptados nhecimento do qual desfrutamos hoje e
às culturas que os sucederam são um que, no contínuo da história, frutificará
exemplo vivo da força de uma boa histó- no conhecimento de amanhã.
ria, confirmando que são as histórias do A história da engenharia estrutural bra-
passado que ancoram o presente e pro- sileira não tem recebido a atenção que
jetam o futuro. Mas o que isso significa merece. São muito poucos os trabalhos
no contexto profissional e acadêmico da acadêmicos e mesmo os livros que tratam
engenharia estrutural? do assunto, onde se destacam os escritos
A resposta para essa pergunta pode pelo mestre Augusto Carlos de Vasconce-
começar a surgir quando nos damos los. Quando contextualizada no âmbito
conta que nós, engenheiros estruturais da construção e seus interlocutores, prin-
brasileiros, não contamos nossa histó- cipalmente a arquitetura, essa história
ria. É importante frisar aqui, porém, que tende, inclusive, a desaparecer. E por que?
nosso árduo trabalho, materializado e Talvez porque exista a história e a historio-
registrado em projetos eventualmente grafia. A historiografia, como registro es-
repletos de complexidade, engenhosi- crito da história, estará sempre submetida
dade e criatividade é também uma parte aos filtros de quem a ela se dedica.
dessa história. Contudo, é apenas uma No Brasil o tema da historiografia da
pequena parcela de sua construção, na arquitetura começou a ganhar autono-
medida em que sua divulgação é restri- mia a partir dos anos 1980, com a conso-
(*) Professora de Engenheira Civil da Pontifí-
ta, sendo que sequer existe, na maioria lidação dos programas de pós-graduação
cia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-Rio). dos casos. dedicados à História da Arte e da Arqui-

33
VALORIZ AÇÃO PROFISIONAL | REGISTRO DOS CONHECIMENTOS

tetura, fortalecendo o debate crítico. Não o projeto do MES (Ministério da Educa- textos sobre a arquitetura moderna
há notícias sobre discussões a respeito ção e Saúde, projetado em 1936 por ele, brasileira. Novamente, não há textos
da historiografia relacionada à engenha- com consultoria de Le Corbusier). Por um dos engenheiros estruturais que par-
ria estrutural, que dirá discussões sobre lado, ao desconsiderar a contribuição da ticiparam daqueles projetos mencio-
o papel dos historiadores e seus filtros engenharia estrutural em seus textos, nando suas contribuições ou mesmo as
em nossa história. Costa pode ter contribuído para o ostra- especificidades característica daqueles
Já nas primeiras linhas do artigo The cismo em que se manteve a engenharia projetos estruturais. É possível obter
New Brutalism, de 1955, Reyner Banham, estrutural na história da arquitetura mo- registros dos projetos arquitetônicos,
importante crítico e historiador inglês, derna brasileira. Por outro lado, Emílio mas desconhece-se os projetos estru-
faz uma pergunta: “Qual tem sido a in- Baumgart deixou de escrever sobre o turais. Esse foi o modelo de historio-
fluência dos historiadores da arquitetu- assunto, dando também sua parcela de grafia vigente à época e assim tem sido,
ra contemporânea na história da arqui- contribuição. desde então.
tetura contemporânea”? Essa pergunta Mais tarde, o modelo historiográfico O dito popular “quem conta um conto
é um bom começo para a reflexão que adotado por Yves Bruand em sua tese aumenta um ponto” reflete essa questão,
se pretende fazer aqui. Reflexão sobre de doutorado de 1969, publicada e na medida em que esse conto foi conta-
a forma como é contada a história da traduzida em 1981 no livro Arquitetura do exclusivamente do ponto de vista da
arquitetura moderna brasileira e suas Contemporânea no Brasil, foi bastante arquitetura. Caso houvesse um ponto
consequências para a engenharia estru-
tural. A arquitetura moderna brasileira é
reconhecida internacionalmente, e para
sua implantação e desenvolvimento foi


fundamental a contribuição de nossa
engenharia estrutural.
Marcelo Puppi, em seu livro Por uma
História Não Moderna da Arquitetura Bra-
A construção da história se dá pelo fazer
sileira, atribui o modelo original de his- e pelo contar, e nesse segundo contexto
toriografia da arquitetura moderna no
Brasil à escrita de Lucio Costa, que se deixamos de atuar. Basta observar a pouca
expressou em artigos debatidos pela
mídia e pela comunidade acadêmica de ênfase dada ao ensino da história da
seu tempo. Segundo o autor, Costa, na
década de 1930, atribuía um papel cen-
engenharia para jovens que nela ingressam.
tral à técnica para o desenvolvimento Se assim é com a história da engenharia de
do que ele chamava então de “arquite-
tura contemporânea”, parecendo que um modo geral, que dirá o ensino de projetos
“o passado arquitetônico encontrava-se
à espera do concreto armado para, nos estruturais icônicos. Quanto teríamos a
tempos modernos, efetuar sua resolu-
ção dialética”. Essa abordagem serviu
aprender estudando projetos elaborados por
para que Costa justificasse sua atuação Emílio Baumgart, Joaquim Cardozo, Roberto
como arquiteto, procurando tornar ob-
soleto o ecletismo na arquitetura prati- Rossi Zuccolo, José Carlos de Figueiredo
cada até então.
No entanto, apesar de trazer a técnica Ferraz, Arthur Eugênio Jermann, Augusto
do concreto armado para o debate arqui-


tetônico, Costa associava o domínio des-
Carlos de Vasconcellos, Mário Franco ou
sa técnica à prática dos arquitetos. Assim Bruno Contarini, para citar apenas alguns
como Le Corbusier, ao contrapor a estéti-
ca do engenheiro à estética do arquiteto,
para recuperar o prestígio perdido pela
arquitetura durante a primeira revolução
industrial, Costa deixou de introduzir na
discussão brasileira a contribuição da en- similar ao adotado por Costa, e em seu de vista por parte da engenharia estru-
genharia estrutural envolvida nas solu- texto também são raras as menções à tural, firmando sua contribuição para o
ções que a nova arquitetura demandava. engenharia estrutural. Tal modelo de desenvolvimento da arquitetura moder-
Contribuição proveniente principalmen- historiografia manteve a disciplina, e na brasileira, este poderia ter se refleti-
te do trabalho de Emílio Baumgart, com consequentemente os nomes dos pró- do em sua historiografia, justamente por
quem Costa e sua equipe desenvolveram prios engenheiros estruturais, fora dos aumentar um ponto. Por um lado, a his-

34 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


tória pode sempre ser recontada, e, por jeto do Edifício Aqwa Corporate, cujo As boas soluções de projeto, sejam as
força dessa renovação submeter seu texto, escrito por Suely Bueno, foi publi- demandadas pelo contingenciamento
objeto de pesquisa a um novo exame. cado na Edição 6, de outubro de 2018, dos projetos arquitetônicos ou mesmo as
Por outro lado, porém, como recontar aqui na ESTRUTURA. Mas onde estão os negociadas com arquitetos que eventual-
essa história se, em nosso próprio cam- registros dos demais projetos que, hoje mente alteram seus próprios projetos
po de atuação deixamos de analisar, pu- considerados pouco relevantes podem, chegando a um termo arquitetônico-es-
blicar e com isso registrar nossos feitos no futuro, contribuir para o debate téc- trutural comum, deveriam gerar análi-
e contribuições? nico ou mesmo histórico? Podem haver ses que pudessem servir para consultas
É necessário que se faça distinção ótimas soluções ali que poderiam ser futuras. Consultas de cunho histórico
sobre o tipo de registro e de contribui- replicadas em outros projetos, além de e também técnico. Para isso as análises
ção que se menciona aqui. Pesquisas servirem como instrumentos pedagó- precisam ser publicadas. Poderíamos
sobre materiais e suas características, gicos para o ensino nas universidades. assim seguir o exemplo dado pelos pro-
novas metodologias de cálculo e di- O julgamento dessa história ficará para fissionais de arquitetura que, seja na
mensionamento, resultados de ensaios futuras gerações, que só poderão rea- formação acadêmica ou mesmo em sua
inovadores, debates sobre novos proce- lizá-lo na medida da disponibilidade prática de projetos, estudam projetos
dimentos normativos a serem adotados de informações registradas, e essa é a consagrados por seus pares em busca
e outros assuntos correlatos têm sido nossa obrigação. das boas soluções, sem com isso perder
amplamente divulgados e seu caráter de autonomia
debatidos em nossos con- e originalidade. O mesmo
gressos e publicações téc- se dá no campo da arte, no
nicas. Não é esse o caso. qual é bastante comum a
O que estamos deixan- reinterpretação da obra de
do de registrar em publi- um artista consagrado por
cações, de um modo ge- outros artistas que, por
ral, é o relato e análise de sua vez, geram a partir daí
projetos e suas soluções, suas próprias obras origi-
além de sua relação com nais, como fez Picasso ao
os projetos de arquitetura reinterpretar Manet e sua
que lhes deram origem. obra ‘’Dejeuner sur l´Her-
Por que não publicar cro- be’’, por exemplo (Figuras
quis de anteprojetos e os 1 e 2).
respectivos projetos finais É urgente que passemos
para que futuras gerações a escrever. Escrever muito.
possam estudar os cami- Publicar projetos e suas
nhos que levaram à me- boas soluções. Promover o
lhor solução? Poder-se-ia debate escrito entre pares,
FIG. 1 – EDUARD MANET: ‘’DEJEUNER SUR L´HERBE’’, 1863, MUSÉE D´ORSAY,
assim estimular um cam- por meio de análises des-
PARIS, FRANÇA. FONTE: WIKIMEDIA COMMONS
po de pesquisas sobre ses projetos, para que
engenharia estrutural possamos fazer disso
para além da técnica um hábito e assim ge-
especificamente, prin- rar conhecimento para
cipalmente no que diz as futuras gerações
respeito à sua evolu- passando a ser nossos
ção em paralelo com a próprios historiadores.
evolução da arquitetu- Nós contaremos a nos-
ra, principalmente ago- sa história.
ra com o aparecimento Somente escreven-
do parametricismo e o do, registrando e di-
desenvolvimento con- vulgando nossa histó-
junto de projetos e ar- ria, seja em projetos,
quitetura e estrutura. análise de projetos
Desnecessário di- ou mesmo análise de
zer que projetos de processos de projetos,
vulto, cuja relevância poderemos registrar
é incontestável são, o presente para que
sim, publicados em re- um dia possa se tornar
vistas especializadas, FIG. 2 – PABLO PICASSO: ‘’DEJEUNER SUR L´HERBE’’, 1962, passado e, a partir daí,
SKEPPSHOLMEN, STOCOLMO, SUÉCIA. FONTE: WIKIMEDIA COMMONS
como é o caso do pro- projetar o futuro.

35
BOAS PR ÁTICAS DE PROJE TO – ANÁLISE CRITERIOSA DA VIABILIDADE

SISTEMAS
CONSTRUTIVOS
ALTERNATIVOS
O PASSO A PASSO PARA A ANÁLISE DE VIABILIDADE COMPLETA

POR
AUGUSTO GUIMARÃES PEDREIRA DE FREITAS*
“25% DE ECONOMIA!” Vale aqui mais uma provocação: pode
JOSÉ AUGUSTO ÁVILA** Frequentemente recebemos e-mails parecer que esses blocos não servem e
RICARDO LEOPOLDO E SILVA FRANÇA*** mencionando que um sistema constru- que ninguém deveria comprar, mas não é
tivo alternativo irá proporcionar 25% de
economia!


Se isso fosse verdade, precisaria de
um marketing agressivo?
Como a informação circula muito ra-
pidamente no meio da construção civil, A viabilidade
com certeza todos já estariam adotando
esse sistema para não jogar fora uma técnica e
AUGUSTO GUIMARÃES
PEDREIRA DE FREITAS
possibilidade de lucro assim.
Um sistema construtivo pode propor-
econômica de um
cionar 25% ou mais de redução em de- sistema construtivo
terminado item, mas em compensação
encarecer muito mais outro item. variante em
Um exemplo bem simples para esse
JOSÉ AUGUSTO ÁVILA
entendimento: construção civil
Um fornecedor de blocos de vedação,
com produtos não certificados, oferece
é algo complexo
o produto dele 30% mais barato que a e que exige
concorrência. Diz que tem um sistema de
RICARDO LEOPOLDO E
SILVA FRANÇA produção mais simples e que isso permi- uma verificação
te que essa redução seja possível. Só não
(*) Augusto Guimarães Pedreira de Freitas – Ex-
-presidente da ABECE diz que a irregularidade do bloco exigirá completa, de
(**) José Augusto Ávila – Engenheiro especializa- um revestimento muito maior que o ne-
todos os sistemas


do em projetos estruturais – Diretor Adjunto
da ABECE cessário, resultando em maior consumo
(***) Ricardo Leopoldo e Silva França – Engenhei-
ro, professor de graduação e pós-graduação
de materiais de assentamento e acaba- envolvidos
da Escola Politécnica da USP e conselheiro
mento, com acréscimo de 80% nos cus-
da ABECE tos desses itens...

36 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


bem assim. Um construtor que faz casas radas, afinal as vigas (aqui eliminadas) e a As Vigas
térreas no interior do país e que não tem própria laje, tem outras funções que não As vigas, além de conduzirem os carre-
blocos de qualidade perto pode optar podem ser negligenciadas. gamentos verticais para os pilares, têm
por essa forma mais simples de produzir,
mesmo gastando mais argamassa, por-
que não tem problema de mão de obra


e a conta final é favorável a esse produto.
O objetivo deste artigo é propor critérios
a serem seguidos na análise de viabilidade
de sistemas construtivos alternativos para
A Estabilidade Global da
a estrutura de concreto. Nas diversas eta- Estrutura e a Resistência à Ação


pas de projeto, deve-se analisar o que pre-
cisa ser definindo para evitar surpresas e do Vento
prejuízos para a real viabilidade do sistema
e para o desenvolvimento do projeto.
Obviamente, a melhor etapa de proje-
to para se analisar e definir um sistema
construtivo alternativo é na etapa de
Definição do produto, mas nem sempre
essa análise é feita nesse momento. Pre- Inicialmente temos que entender como as seguintes funções:
tendemos mostrar também quais os pre- a resistência à ação do vento e a estabi- yy Ajudar no contraventamento da es-
juízos de uma decisão tardia no processo lidade global da estrutura são garantidas trutura, viabilizando a estabilidade
de desenvolvimento do projeto e no de- nos diversos modelos: global, quando ligadas aos pilares
sempenho da solução alternativa. Para conferir estabilidade à estrutura formando pórticos;
Usaremos, como exemplo nesta análi- temos 3 maneiras: yy Ajudar na redistribuição de esforços
se, a introdução de um sistema alternati- Pórticos de Pilares e Vigas: É a forma e conferir robustez à estrutura no
vo de Laje Plana Protendida numa cons- mais eficiente que confere rigidez e me- caso de situações adversas;
trutora acostumada a fazer estruturas nor deformação com seções menores de yy Arrematar vãos de portas e caixilhos
convencionais de pilares, vigas e lajes. pilares, conforme figura da direita na maioria das arquiteturas.
Vale ressaltar que as recomendações e Pilares Paredes Isolados: Funcionam As Lajes
conclusões apresentadas valem também basicamente como uma empena em As lajes também têm outras funções:
para o estudo de viabilidade de outros balanço com a deformação diretamente yy Compartimentação de fogo e acústi-
sistemas. proporcional à sua rigidez, conforme fi- co entre pavimentos;
gura da esquerda. yy Alojamento das tubulações de elé-
O SISTEMA CONSTRUTIVO A terceira maneira é uma combinação trica e algumas vezes de hidráulica
VARIANTE ANALISADO dos dois modelos, que é o que temos (quando sistema pex) na maioria
Estruturas convencionais são compos- normalmente em nossas estruturas. das construções;
tas por lajes, vigas e pilares, cada um com A Laje Plana sem vigas funciona basi- yy Acomodação das maiores furações
suas funções básicas de ajudar a levar os camente com pilares-parede isolados e para shafts e passagens de tubula-
carregamentos verticais para a fundação, tem uma pequena contribuição da laje ções.
ou seja, lajes recebem algumas vedações, para a estabilidade global e capacidade Assim, o sistema construtivo de Laje
além de revestimento e sobrecargas de resistente ao vento. Plana Protendida, ao eliminar as vigas,
serviço e transferem o carregamento Desta forma, as vigas e lajes tem outros precisa resolver as questões de:
para vigas. Estas, por sua vez transferem papéis na estrutura além de conduzir yy Estabilidade Global e capacidade re-
esse carregamento e mais o das veda- carregamentos... sistente ao vento sem a colaboração
ções, diretamente sobre elas, para os de vigas;
pilares. As vigas, associadas aos pilares,
formam também pórticos que são res-
ponsáveis por suportar a ação do vento e
garantir a estabilidade da estrutura.
Outro sistema, a Laje Plana Protendi-
da (“laje cogumelo” com protensão) se
caracteriza por não ter vigas (ou ter ape-
nas algumas), fazendo com que a laje seja
responsável por conduzir todo o carrega-
mento diretamente para os pilares.
Essa é a função básica, um tanto sim- FIG.1 – DEFORMADAS DA ESTRUTURA – PILARES PAREDES ISOLADOS E PÓRTICOS DE PILARES
plista, que pode conduzir a decisões er- E VIGAS

37
BOAS PR ÁTICAS DE PROJE TO – ANÁLISE CRITERIOSA DA VIABILIDADE

°° As lajes mais espessas podem yy Furos; tas não existirão, permitindo maior
contribuir para isso, desde que °° Novamente junto aos pilares onde flexibilidade arquitetônica;
corretamente dimensionadas e temos a punção e esforços de fle- yy Pensar na possibilidade de caixilhos
detalhadas (lembrando-se da limi- xão elevados, a possibilidade de mais altos que cheguem ao teto ou
tação em função da sua altura) furação fica bem comprometida. em vigas de borda para o arremate;
°° Os pilares, normalmente, precisam Ou seja, retirar as vigas não significa °° Ou ainda pensar numa fachada in-
ter seções maiores funcionando simplesmente “deixar a laje plana”. É pre- dustrializada:
como pilares-parede para garantir ciso analisar todas as “necessidades e – Em placas pré-moldadas;
a mesma eficiência dos pórticos consequências...” – Em steel frame
de vigas e pilares da estrutura con- Ao se projetar uma estrutura para laje yy Analisar o Piso a Piso em função de
vencional, especialmente para edi- plana protendida, é necessário: uma laje mais espessa:
fícios mais altos. yy Posicionar pilares mais espaçados °° Analisar ainda a possibilidade de
yy Robustez da Estrutura; para tirar proveito da protensão, usar um forro para retirar as insta-
°° A ausência de vigas obriga as lajes lembrando que vão maiores impac- lações da laje.
a transferir mais carregamentos tam no aumento de consumo de aço,
diretamente para os pilares. Essa seja de protensão, seja de armação


transferência de carregamentos frouxa;
elevados resulta num fenôme- yy Gerar um núcleo de pilares-parede
no estrutural caracterizado pela ligados com vigas e responsável pelo
punção que seria a ruptura da laje contraventamento principal da es- Projetando a
junto ao pilar, se não corretamen- trutura, permitindo que os demais
te dimensionada, por tensões ele- pilares passem a colaborar com res- estrutura pensando
vadas decorrentes da punção na
proximidade ao pilar;
ponsabilidade reduzida na estabili-
dade global, uma vez que não tere-
nas premissas do
°° Em função de ser uma ruptura mos outros pórticos na estrutura; sistema variante,
brusca, devem ser tomados cui- °° Pode-se ainda optar por introduzir
dados especiais de robustez, con- mais pilares paredes com ligações em muitos
forme a ABNT NBR 6118:2014, pre- mais rígidas com a laje fazendo
vendo armações de prevenção ao com que esta colabore mais na es- casos, teremos
colapso progressivo. tabilidade global.
uma estrutura


yy Arremate das portas e caixilhos; °° Vale ressaltar que não basta con-
°° Previsão de vergas sobre os vãos. seguir uma estrutura com carac- competitiva
yy Compartimentação; terísticas geométricas que atenda
°° A questão do incêndio exige um às necessidades da estabilidade
cuidado com cobrimentos da ar- global. É preciso armar esses ele-
mação protendida e espessuras mentos estruturais para os esfor-
maiores, conforme previsto na ços solicitantes e isso deve gerar Qual o melhor momento para analisar-
ABNT NBR 15200:2012. um consumo maior de armação. mos a viabilidade de um sistema constru-
yy Alojamento das tubulações; yy Posicionar pilares distantes de sha- tivo variante?
°° Normalmente fica mais simples, fts, onde os furos podem ser preju- Voltando ao nosso exemplo, onde a
mas junto aos pilares, a densidade diciais à punção; solução ideal passa por pilares-parede
de armação prejudica o caminha- yy Posicionar pilares sem se preocupar num núcleo e de pilares mais afastados
mento de tubulações. com alinhamento de vigas, já que es- e posicionados longe de shafts, obvia-
mente o melhor momento é na con-
cepção do produto, procurando passar


para a arquitetura os ganhos (menos
pilares e sem a necessidade de muitos

Não se pode analisar um sistema alinhamentos) e ônus (pilares maiores e


mais pilares-parede, posicionados lon-
variante de forma pontual.” É preciso ge de shafts).
Isso quer dizer que não podemos pen-
analisar todas as “necessidades e sar em um sistema variante depois da


concepção?
consequências... Não. Mas tenham certeza que os ga-
nhos não serão os mesmos.
Vamos analisar a introdução do siste-
ma em outras fases de projeto.

38 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


A análise de sistema
construtivo variante
depois do projeto legal
Vamos imaginar que o projeto legal,
conforme planta abaixo, foi feito, com-
patibilizado com uma estrutura conven-
cional e decidiu-se por estudar a variante
em laje plana protendida.


Quando a
viabilidade do
sistema construtivo FIG. 2 – ESTRUTURA ORIGINAL

variante é definida Reparem que nessa estrutura, para um


na concepção


edifício de 28 pisos, temos pórticos e pi-
lares-parede para garantir a estabilidade
do projeto global, conforme assinalados na figura a
seguir (numa análise na direção Y) A análise de um
arquitetônico O que precisa ser feito para se ter uma
Sistema Construtivo
e estrutural, análise completa de uma alternativa em
laje plana protendida que reduza o risco
variante não
os ganhos são de uma escolha errada e que se mante-
nha o desempenho da estrutura? pode se resumir
maximizados Vamos supor que retirando as vigas da
estrutura acima, possamos ter a estru- a uma planta do
e os riscos de tura modificada abaixo numa primeira
pavimento tipo na


incompatibilidades alternativa que, mesmo não sendo o me-


lhor lançamento para a laje plana proten-
nova solução
minimizados dida, permita uma redução “aparente” de
consumo. Conforme mencionado antes,
ao retirar as vigas, precisamos pensar em

como fica a estabilida-


de global, entre outros
pontos. Será que a es-
trutura a seguir mantém
a estabilidade global e a
capacidade resistente à
ação do vento da estru-
tura original?
Esta primeira alterna-
tiva estrutural em Laje
plana proposta tem 3
pilares paredes que se-
riam responsáveis por
todo o contraventa-
mento em Y da estrutu-
ra. Estes 3 pilares estão
destacados abaixo e se
mostraram insuficientes
após o processamento
FIG. 3 – PÓRTICOS EM “Y“ NA ESTRUTURA ORIGINAL da análise estrutural.

39
BOAS PR ÁTICAS DE PROJE TO – ANÁLISE CRITERIOSA DA VIABILIDADE

FIG. 4 – PRIMEIRA PROPOSTA EM LAJE PLANA, COM DEFICIÊNCIAS NA ESTABILIDADE GLOBAL E NA CAPACIDADE
RESISTENTE À AÇÃO DO VENTO


Passar a tarefa de analisar a estabili-
dade global para o projetista do sistema
variante, com todas as compatibilizações O projetista da estrutura deve sempre
com a arquitetura necessárias não é a
melhor alternativa. Como estamos ana-
estar envolvido no processo. Mesmo que
lisando o estudo num momento onde o exista um segundo projetista, responsável
projeto legal já foi definido, com certeza já
ocorreram diversas interações de compa- pelo projeto do sistema construtivo
tibilização com necessidades da arquite-
variante, é fundamental a participação do


tura e de instalações.
O projetista da estrutura original tem to-
das essas informações e poderá interagir
projetista da estrutura em análise
com o projetista da solução variante em

FIG. 5 – PILARES PAREDES RESPONSÁVEIS PELO CONTRAVENTAMENTO EM “Y” DA ESTRUTURA

40 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


Numa primeira
análise (Laje Plana
“Preliminar”), temos
uma estrutura que
se mostra muito van-
tajosa, com redução
significativa de área
de fôrma sem acrés-
cimo de concreto e
com consumo total
de aço equivalente,
considerando que o
aço de protensão é
mais caro.
No momento que
ajustamos a estrutu-
ra para o atendimen-
to às normas técni-
cas, estes resultados
não ficam tão bons,
FIG. 6 – ESTRUTURA PROPOSTA EM LAJE PLANA, ADEQUADA À ESTABILIDADE GLOBAL E COM CAPACIDADE RESISTENTE À com acréscimo signi-
AÇÃO DO VENTO
ficativo de volume de
concreto e consumo
busca de uma análise mais precisa da nova Em cima dessa nova estrutura deve-se total de aço e pequena redução de área
solução, além de verificar as necessidades verificar a viabilidade do sistema varian- de fôrma.
de adaptações para que o desempenho da te, levando-se novos índices, com as mes- Isso não quer dizer que a solução fi-
nova estrutura seja o mesmo da anterior. mas premissas e desempenho estrutural cou inviável. Precisa ser vista com uma
Na estrutura que estamos analisando, para as duas soluções propostas. análise sistêmica, em função da redu-
fazendo esta nova análise completa, ve- Se essa análise for negligenciada, po- ção da mão de obra (caso o custo não
rifica-se a necessidade de alguns ajustes deremos ter diversos problemas: seja vinculado ao volume de concreto)
(resultando em nova estrutura no pavi- yy Incompatibilidade de dimensão dos e ainda outros sistemas de acabamento
mento-tipo), tais como: elementos estruturais, sobretudo no e vedação.
yy Aumento de pilares embasamento onde as áreas comuns O importante é realizar a análise com-
yy Aumento da espessura da laje (de 18 e vagas podem ficar comprometidas pleta durante a concepção do PRODU-
para 20cm para atender a norma de yy Análise de custo pontual compro- TO, pois a viabilidade está vinculada a
incêndio) metida por pontos desfavoráveis na diversos sistemas e soluções que im-
yy Alteração no piso a piso em função análise global pactam desde as áreas internas até a so-
da espessura da laje ser maior que a yy Dificuldade de desenvolvimento da lução de fachada e caixilhos, passando
convencional sequência do projeto em função de pelas vedações.
yy Necessidade de criação de vergas informações desencontradas de um Finalizando, faz parte das boas práticas
nas alvenarias da fachada novo profissional sem o conheci- do projeto estrutural a postura proativa
yy Sem contar ajustes de ambientes e mento do histórico do projeto do projetista de estrutura em busca da
vagas no embasamento (não veri- Levantando os quantitativos para o melhor solução para seu cliente, desde
ficados) e mais algumas vigas que pavimento-tipo de forma bem simplis- que devidamente remunerado e na fase
consideramos necessária para a es- ta, temos: inicial do projeto.
tabilidade
Além dos itens acima, em
função de não existirem pór-
ticos em Y, se fez necessário
a introdução de diversos pi-
lares paredes para que a ri-
gidez em Y fosse adequada
para resistir aos esforços ho-
rizontais e atender aos requi-
sitos de estabilidade global.
O lançamento final dos novos
pilares parede resultou na
disposição Fig. 6:

41
ESTRUTUR AS ME TÁLICAS | ARROJO E TÉCNICA

AÇO E CONCRETO
VIABILIZAM
REVITALIZAÇÃO NO
CENTRO PAULISTANO
TRADICIONAL PRÉDIO DA MESBLA É TRANSFORMADO NO SESC 24 DE
MAIO E VIRA ATRAÇÃO GRAÇAS A PROJETO QUE COMBINOU CONCRETO
COM AÇO, PERMITINDO INCLUSIVE A INSTALAÇÃO DE UMA PISCINA DE 25
POR 25 NO TOPO DO EDIFÍCIO

C
POR JAIRO FRUCHTENGARTEN
onstruída no prédio onde fun- como uma unidade do SESC. Após o fe-
cionava a antiga loja de depar- chamento da loja em 1998, o SESC adqui-
tamentos Mesbla, no centro de riu o edifício em leilão e a seguir um pe-
São Paulo, na rua 24 de Maio, queno edifício ao lado, que foi demolido
junto da Dom José de Barros e inaugura- para permitir a construção de um edifício
da em 19 de agosto de 2017, a nova uni- anexo, de vinte andares, destinado a área
dade do SESC 24 de Maio possui 28.000 de serviços.
m2 de área construída, num edifício com- Algumas construções secundárias
posto por um subsolo em toda a área da existentes foram demolidas, resultando
edificação, dois subsolos parciais, térreo para aproveitamento o edifício principal
e treze pavimentos. em forma de U, com um vazio central que
Segundo os autores do projeto arquite- servia de fosso para ventilação interna e
tônico, Paulo Mendes da Rocha e a equi- onde havia uma cúpula de vidro para ilu-
pe do escritório de arquitetura MMBB, minação da loja.
“demonstrar as virtudes da vida futura da Para que o edifício da Mesbla passasse
cidade, enquanto reivindica o privilégio a contemplar o programa de uma nova
de ocupar lugar tão nobre de São Pau- unidade do SESC, foi necessário inicial-
lo – nas vizinhanças do Viaduto do Chá, mente fazer um amplo levantamento da
Teatro Municipal, Barão de Itapetininga, estrutura existente, das fundações e dos
Avenida São João, Praça da República – é edifícios vizinhos, de modo a permitir o
o objetivo principal deste projeto, que é estudo de interferências, a verificação
um excelente exemplo de transformação da adequação da estrutura para a nova
no patrimônio urbano construído”. utilização, assim como a elaboração do
O edifício da Mesbla foi construído em projeto de alguns reforços. Parte do 11º
1941 e possuía espaços amplos destina- pavimento foi executada em concreto
dos à circulação de pessoas, o que faci- moldado “in loco” mas apoiando-se nos
litou sua readequação para funcionar pilares existentes.

42 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


piscina. O dimensionamento dessas vigas
foi feito considerando-se a laje como mesa
colaborante, ou seja, usando conectores
de cisalhamento tipo “stud bolt” para a efe-
tivação de um sistema misto aço-concreto,
que implica em maior capacidade resisten-
te da viga e menor deformabilidade. O con-
junto formado pelas vigas e pela laje serve
também como travamento lateral para as
treliças metálicas.
Foram empregadas cerca de 60 tone-
ladas de aço para essa estrutura. Desse
modo, mesclando o uso de estrutura de
concreto armado e estrutura metálica
conforme a conveniência estrutural e os
requisitos da arquitetura, obteve-se uma
solução adequada para a região da pisci-
na, que é uma das maiores atrações do
SESC 24 de Maio.
Todos os andares do edifício podem ser
acessados por elevadores e também por
rampas. A estrutura metálica se faz pre-
sente também no grande fechamento de
vidro das rampas de acesso, por meio de
uma estrutura espacial em forma de treli-
ça, com altura de 43cm, fixada às vigas late-
rais das rampas ao longo de toda a altura.
Os elementos da treliça espacial são barras
redondas maciças de 16mm de diâmetro e
O grande desafio do projeto foi a ins- W360 diagonais, além de montantes por servem de apoio aos montantes do caixi-
talação de uma piscina de 25mx25m na perfis laminados tipo W200. lho a cada 3,15m. Foram empregadas nes-
cobertura. Para tanto, foi construída Os pisos em ambos os níveis são em con- sa estrutura 35 toneladas de aço.
no vazio central uma torre de concreto creto moldado “in loco” sobre laje pré-mol- Estruturas auxiliares como platafor-
suportada por quatro pilares de seção dada, apoiada em vigas laminadas W360 a mas para equipamentos, passarelas, etc.
circular, afastados de 15,5m em ambas cada 2,5m. Estas, por sua vez, são apoiadas também foram executadas em estrutura
as direções, que permitiu a ocupação nas treliças de periferia e nas paredes da de aço.
plena de todos os andares. O subsolo
foi escavado na região dessa nova edi-
ficação, o que permitiu a execução de
um teatro para 245 pessoas. A pisci-
na propriamente dita se apoia nesses
quatro pilares, sendo constituída por
uma estrutura em balanço dos pilares
circulares.
O solário da piscina projeta-se além da
área ocupada pela mesma, com um con-
torno externo de 35mx40m; o mesmo
acontece com o 12º piso, imediatamente
abaixo desse. Optou-se então pelo uso
de estrutura metálica para suportar esse
entorno da piscina e do 12º andar.
Aproveitando-se a diferença de altura
entre esses dois pavimentos, a estrutu-
ração foi feita por meio de treliças de pe-
riferia de 3,4m de altura e 35m ou 40m
de vão, apoiadas em pilares de concre-
to, com banzos constituídos por perfis
soldados tipo CS350 ou laminados tipo

43
CASE INTERNACIONAL | ERROS QUE ENSINAM

LIÇÕES TIRADAS DA
TRAGÉDIA ESCOCESA

PONTE SOBRE O RIO TAY, NA ESCÓCIA, SOFRE COLAPSO EM NOITE DE


TEMPESTADE, EM 1879, LEVA CONSIGO UM TREM E MATA 90 PESSOAS,
DEIXANDO LIÇÕES SOBRE A FORMA DE PROJETAR SEM LEVAR EM CONTA NOVAS
CIRCUNSTÂNCIAS

POR ANTONIO CARLOS REIS LARANJEIRAS


RESUMO
A crescente expansão urbana nas maiores áreas metropolitanas do México está
começando a ter um impacto negativo na forma com que as pessoas trabalham e
vivem. O desejo de estar mais perto do trabalho e das amenidades públicas resulta
da necessidade de construções mais altas em centros urbanos. Muitas cidades no
México estão vendo um aumento no número de edifícios altos, inclusive Monterrey, a
segunda maior cidade do país, em termos econômicos. A Torre Koi, um arranha-céu de
uso misto em Monterrey, com seus 279,5 metros de altura, se tornou o edifício mais
alto do México, é um exemplo recente dessa tendência.
Até um terremoto de pequena intensidade ter sido sentido em 2013, Monterrey era
considerada como uma região livre de abalos sísmicos. O código local de construção
em Monterrey não cobre o projeto de estruturas resistentes a terremotos, sem falar
do projeto sísmico de edifícios altos. A equipe de projeto consultou o Manual de Diseño
de Obras Civiles (Manual da Comissão Federal de Eletricidade - CFE) com relação aos
procedimentos relativos aos projetos de prevenção contra abalos sísmicos como uma
maneira prudente de abordar terremotos em potencial. Foi realizado um estudo com
o uso de um túnel de vento para o projeto do edifício. Este artigo vai abordar os proce-
dimentos do projeto empregado no sistema estrutural virtual do núcleo de concreto
de alta resistência utilizado no edifício mais alto do México.
Palavras-chave: Edifícios Altos; Projeto em Túnel de Vento; Sistema Estrutural de Estabili-
zação Virtual; Concreto de Alta Resistência.

A história está cheia de exemplos de confrontada com novas circunstâncias


casos em que a Engenharia evoluiu ao desfavoráveis.
aprender com seus erros, abandonando Em uma noite de grande tempestade
práticas equivocadas de projeto. No tex- com fortes ventos, no dia 28 de dezem-
to que se segue, é apresentado um caso bro de 1879, os vãos centrais de navega-
relevante que demonstra a ineficácia de ção da ponte sobre o rio Tay, em Dundee,
prática de projeto consagrada, quando Escócia, inaugurada há menos de dois

44 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


anos, entraram em colapso, levando con- O que houve de diferente com a estrutu- exemplo, defende a ideia de que a oscilação
sigo um trem de passageiros em tráfego ra da ponte Tay que fez com que a prática da ponte sob ação dos fortes ventos fez o
na ponte, naquele momento, com seis va- corrente se mostrasse inadequada e per- trem descarrilar, com o que se chocou, re-
gões e causando a morte de 90 pessoas. mitisse esse trágico acidente? (fotos 3 e 4). petidas vezes, lateralmente, sobre as vigas
Esse desastre é um dos mais famosos
colapsos de pontes e, ainda hoje, uma
das mais trágicas rupturas de estruturas
ocorridas na Grã-Bretanha.
A ponte Tay tinha comprimento de cerca
de 3.200 metros, dividido em 85 vãos, sen-
do considerada, na época, a ponte mais
longa no mundo. A superestrutura era
constituída de treliças metálicas de ferro
fundido (o aço não era ainda utilizado),
apoiada em torres também metálicas tre- FOTOS 3 E 4 – A PONTE TAY APÓS COLAPSO DOS VÃOS DO CANAL DE NAVEGAÇÃO (1879)
liçadas, apoiadas, por sua vez, em camada
rochosa, ver foto 01. Nos treze vãos sobre O que surpreendeu os analistas é que invertidas da superestrutura, potencializan-
o canal de navegação, as vigas treliçadas se demonstrou que a estrutura tinha ca- do as oscilações e induzindo a ruptura dos
eram invertidas, detalhe que se demons- pacidade suficiente para resistir as cargas pilares, conforme ilustram as figuras 1 e 2.
trou relevante na análise do acidente. de tráfego, apesar da diferença na gran-
deza dos vãos, pois, enquanto os viadutos
Crumlin e o Belah tinham vãos de 37 m e 18
m, respectivamente, os vãos de navegação
da ponte Tay, justamente os acidentados,
tiveram de ser aumentados para 75 me-
tros, a fim de reduzir custos, uma vez que a
camada rochosa estava em profundidade
maior do que a originalmente prevista.
FOTO 1 – A PRIMEIRA PONTE SOBRE O RIO TAY, A Comissão de inquérito (Court of In-
ESCÓCIA, COM A SUPERESTRUTURA E PILARES quiry) instalada, oficialmente, para identifi-
METÁLICOS, TRELIÇADOS, E OS VÃOS DE
car as razões do colapso da ponte concluiu
NAVEGAÇÃO COM VIGAS INVERTIDAS
que “A queda da ponte foi ocasionada pela
A ponte Tay foi projetada pelo eminen- insuficiência de contraventamentos e de suas
te engenheiro Sir Thomas Bouch, que ligações para resistir à força da ventania.” A
seguiu a prática corrente respectiva da Comissão de inquérito indicou que se os
época, ao adotar o mesmo sistema es- pilares treliçados e, particularmente, seus
trutural de vigas e pilares treliçados, já contraventamentos tivessem sido adequa-
FIGS. 1 E 2 – O MECANISMO DE COLAPSO
usado antes, com sucesso, na maioria damente construídos e sob manutenção, a DA PONTE TAY, SEGUNDO BILL DOW
das pontes, sendo exemplos o viaduto ponte poderia ter resistido à tempestade
Crumlin (1858), projeto de Kennard, que durante a noite, apesar de seu baixo fator O projetista Sir Thomas Bouch, sob o
veio a ser demolido em 1966, e o viaduto de segurança (4 a 5 eram os recomenda- imenso peso de suas responsabilidades
Belah (1860), projeto do próprio Bouch, dos nessa época). assumidas e das penosas acusações ofi-
demolido em 1963, ver foto 2. Avaliações da velocidade do vento sobre ciais, sucumbiu com menos de um ano
a ponte com base em dados de medições após o acidente. Entre sua defesa, pos-
em cidades vizinhas sugerem velocidade sivelmente, desponta o argumento de
média horária de cerca de 36 m/s (129 que “Fiz sempre assim e, até então, nada
km/h). Sir Thomas Bouch afirma ter con- tinha acontecido!”, em nada lhe valendo o
siderado pressões do vento de 20 libras registro de que a própria rainha Victoria,
por pé quadrado, que correspondem a 1 na inauguração, atravessou incólume a
kN/m2 (100 kgf/m²), valor que se adotava, ponte. Hoje, além dos escombros, res-
frequentemente, em nossos projetos, nos tam apenas os versos de McGonagall:
casos de ponte carregada, como é o caso,
pois passava um trem na hora do acidente. ’Twas about seven o’clock at night,
As opiniões são, no entanto, controver- And the wind it blew with all its might,
sas sobre as causas de origem do acidente And the rain came pouring down,
FOTO 2 – VIADUTO BELAH (1860), PROJETO e muitas teorias foram desenvolvidas para And the dark clouds seem’d to frown,
DO PRÓPRIO SIR BOUCH, COM VIGAS E essa explicação, não se chegando, até hoje, And the Demon of the air seem’d to say-
PILARES METÁLICOS, TRELIÇADOS a um consenso. O engenheiro Bill Dow, por “I’ll blow down the Bridge of Tay.”

45
O QUE ELES QUEREM DE NÓS | MAIOR INTER AÇÃO

COMUNICAÇÃO
É A ALMA DA OBRA

DIÁLOGO ENTRE O ENGENHEIRO DE CAMPO E O PROJETISTA


DEVE SER INICIADO NA FASE DE PLANEJAMENTO DA CONSTRUÇÃO
E DURAR ATÉ O CHURRASCO DE INAUGURAÇÃO DA OBRA

M
POR EDUARDO MAY ZAIDAN* eu primeiro impulso como es-
tudante de engenharia lá em
meados dos anos de 1970 foi
“ser calculista de concreto”.
Depois de muito tentar, consegui a pro-
messa de estágio num prestigiado escri-
tório que por problemas de espaço físico
estava à procura de uma sede maior. A
mudança e o estágio que nunca saiam,
me empurraram para uma construtora e
tomei a estrada das obras, para a sorte Construtibilidade
da reputação da classe dos projetistas. Se eu soubesse como fazer, escreve-
De lá para cá viajei na companhia de ria essa palavra com uma daquelas ilu-
inúmeras estruturas de concreto para minuras que iniciam as páginas de uma
edifícios de usos variados, ora fiscalizan- Bíblia antiga.
do, ora coordenando o time da produção, Como é difícil enfiar todas aquelas
muitas vezes discutindo o anteprojeto, barras, respeitar o recobrimento, o es-
outras tantas ajudando a resolver proble- paçamento, vencer os nós dos pilares
mas que inevitavelmente aparecem. com as vigas, sem falar nos “trepasses”,
Eu sempre me encanto, nas conversas numa forma que sempre parece menor
com alguns dos projetistas com os quais que o necessário. As tais das emendas
tenho a sorte de estar perto, com a enluvadas nas vigas com barras muito
busca de soluções, a ousadia, a pesqui- longas, que nunca dão certo porque o
(*) Engenheiro Civil formado pela turma de sa incessante, a inquietação para fazer processo acrescenta alguns centímetros
1974 da Fundação Armando Álvares Pen-
teado (FAAP), é diretor da RFM Construtora, melhor. Do ponto de vista da execução, no comprimento final e sobra aço ou fal-
possui MBA em Construção Civil pela Fun- acrescento alguns pontos que colhi aqui ta forma, como queiram. No papel fica
dação Getúlio Vargas (FGV-SP). Atualmente
é vice-presidente do Sindicato da Indústria e ali nas longas horas de reunião com a tão arrumadinho!
da Construção Civil do Estado de São Paulo turma do canteiro, procurando reduzir A turma do canteiro também dá graças
(SindusCon-SP) e foi presidente do Conselho
Consultivo do SindusCon-SP na gestão 2006-
a desnecessária distância entre eles e o a Deus se forem especificados materiais
2008 e diretor de Economia de 1994 a 2011. calculista. Vamos lá: de prateleira. Outro dia vieram correndo

46 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


com uma precisão danada de um ”Lenton pela Norma de Desempenho, este é de- Já na fase de execução, sempre será
Terminator” importado, que graças à pro- terminado pelo projetista e normalmente produtivo um diálogo entre o engenhei-
verbial agilidade na logística nacional leva- consta do projeto. Entretanto, informa- ro de campo e o projetista, que deve se
ria incertas semanas para estar disponí- ções claras quanto ao comportamento iniciar na fase de planejamento e ter-
vel. Fale de novo! Não ouvi direito: deveria esperado daquela estrutura serão sem- minar no churrasco de inauguração da
ter adquirido com mais antecedência, mas pre muito bem-vindas. obra. Perdemos esta intimidade com o
a armadura em “LO” só veio para a obra na tempo.
semana passada depois da última modifi- Comunicação Outro ponto de atrito é a maldita taxa
cação exigida pelo cliente. Com a esbeltez das estruturas, a velo- de armadura. Como toda média, ela é me-
cidade das obras e o emprego de concre- díocre e não deveria ser uma medida de
Desempenho tos cada vez mais resistentes, instruções desempenho nem do projetista nem da
Seria ótimo que as deformações em sobre o tempo de permanência do esco- estrutura. Provavelmente não serei bem
idades novas fossem mínimas e rápidas, ramento residual em lajes inferiores deve visto por essa afirmação, mas, o “merca-
pois com a velocidade exigida não é mais ser destacado. É claro que não é uma in- do” olha para ela, então uma informação
possível esperar muito, nem as absorver formação genérica, uma vez que vai de- prévia do que esperar dos consumos de
com os subsistemas que instalamos nos pender do ciclo, mas instruções mínimas aço e concreto para a fase de orçamento
edifícios. Fachadas unitizadas com mui- podem desde logo constar dos projetos é muito útil.
to vidro são especialmente suscetíveis e executivos para que os construtores ava- Terminando, fica uma homenagem
o gasto e a dificuldade com a reposição liem os custos com o aluguel dos equipa- para Nossa Senhora do Concreto, Pa-
das peças são enormes. Sabemos que mentos na fase de orçamento. droeira de todos nós.

47
NORMAS TÉCNICAS | ABNT – NBR 16475 - 2017

EFEITOS DE
SEGUNDA ORDEM E O
DIMENSIONAMENTO DE
PAINÉIS PRÉ-FABRICADOS
DE CONCRETO ARMADO
MÉTODO RACIONAL, RIGOROSO E SIMPLES DEVERIA SUBSTITUIR
EXPRESSÕES DA NORMA ABNT NBR 16.475

POR MARIO FRANCO E CARLOS FRANCO INTRODUÇÃO dades e submetido aos seguintes carre-
A Norma ABNT NBR 16475 – 2017 per- gamentos:
mite o dimensionamento de painéis verticais – pressão horizontal distribuída (ven-
pré-fabricados de concreto armado através to): p
de uma análise de segunda ordem pelo pro- – força vertical concentrada nas extre-
cesso P-∆. Apresenta também duas expres- midades do painel: P
sões aproximadas, empíricas, inspiradas em Supõe-se que este último carregamen-
Normas internacionais, a serem utilizadas to seja aplicado com excentricidade aci-
caso não seja feita aquele dimensionamento dental e igual em ambas as extremidades
MARIO FRANCO rigoroso; essas expressões, no entanto, po- de modo a introduzir no painel o momen-
dem levar a resultados incoerentes e fora da to Pe, constante ao longo da altura , com
realidade. Apresenta-se a seguir um método o sinal mais desfavorável. Seja ainda a a
de dimensionamento racional e simples que excentricidade no centro do painel devi-
permite levar em conta com rigor os efeitos da ao empenamento acidental. A forma
de segunda ordem, dispensando assim o desse empenamento é desconhecida;
emprego das expressões mencionadas que, as excentricidades a e e são definidas na
em nossa opinião, deveriam ser eliminadas Norma ABNT mencionada inicialmente.
daquela Norma e substituídas pelo método Sejam:
ora apresentado. Permaneceria, é claro, a – f1 a flecha no meio do vão devida ao
opção pelo processo P-∆. carregamento distribuído p de ven-
CARLOS FRANCO to;
Consideremos o painel vertical pré- – f2 a flecha no meio do vão devida ao
-fabricado de concreto armado da Fi- momento constante Pe.
g.1(a), de espessura t, largura b e altura – E o módulo de deformação do con-
, articulado fixo em ambas as extremi- creto, definido pela Norma ABNT

48 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


NBR 6118 (2) em função da resistência
fC28 .
– I o momento de inércia da seção
transversal bt, suposta constante e
fissurada em toda a altura1.

(1)

Temos:

(2)

(3)

O deslocamento horizontal inicial de


primeira ordem do centro do painel será,
portanto:

(4)

A esses deslocamentos horizontais w0 ,


FIG. 1
cujo máximo é w0m acrescentar-se-ão os
deslocamentos w devidos aos efeitos de
segunda ordem. Seja wm seu valor máxi-
mo, que ocorre na seção central do pai-
nel. O deslocamento horizontal final ao
longo da altura será w0 + w, com máximo
w0m + wm , como se indica na Fig. 1(b). Para
o que segue, ver ref.(3)
O momento externo de segunda or-
dem P(w0 + w) é equilibrado pelo momen-
to interno ∆M. Mas

(5)

resultando a equação diferencial dos FIG. 2 – COMPARAÇÃO ENTRE AS DEFORMADAS


deslocamentos de segunda ordem w:

(6)
– momento constante, com deforma- Pondo
da em arco de círculo abatido, valor
Assumiremos que a deformada de w máximo f2 . (10)
seja senoidal: sendo PE a carga de flambagem (ou car-
Podemos admitir, sem erro apreciável, ga de Euler) do painel;
(7) que a deformada de primeira ordem w0 ,
soma dessas três últimas, seja também
Os deslocamentos horizontais de pri- senoidal, e portanto uma curva homoté- (11)
meira ordem são definidos, como vimos, tica à de w (ver Fig. 2):
pela soma de três funções: Somando w0m a ambos os membros de
– empenamento, de forma desconhe- (8) (11) e reordenando:
cida, valor máximo a.
– carga distribuída, com deformada Substituindo (7) em (6) e derivando,
em polinômio do quarto grau em x, obtemos, para x= /2 (valores máximos
valor máximo f1 w0m . wm):

1 Hipótese a favor da segurança, pois efetiva- (12)


mente os trechos extremos do painel não es-
(9)
tarão fissurados, como se indica na Fig. 1(c). O
coeficiente de minoração 0,7 é definido pela
Norma ABNT NBR 6118:2014 (2) para pilares e
O polinômio do 4º grau e a senóide A expressão (12) define o coeficiente
paredes, em análises de segunda ordem. praticamente coincidem de amplificação gE que permite passar

49
NORMAS TÉCNICAS | ABNT – NBR 16475 - 2017

dos deslocamentos de primeira ordem


w0 para os finais w0 + w; ver a nota2:

(13)

(14)

Resulta:

(15) FIG. 3 – GRÁFICO gE (a)

Ver Tabela 1 e Fig. 3


excentricidade acidental no centro do pai- A determinação da armadura vertical
É razoável definir limites para a e gE Su- nel: a=0,02m necessária é efetuada utilizando o pro-
gerimos: excentricidades acidentais nas extremida- grama “FLEC”, escrito para calculadora
– painéis com uma única armadura des: e=0,02m HP-42S de acordo com a versão atual
vertical: a≤1/5 gE ≤1,25; da Norma ABNT NBR 6118(2). Os esforços
– painéis com armaduras verticais jun- Assumiremos por simplicidade e a fa- são introduzidos a nível característico,
to a ambas as faces: a≤1/4 gE ≤1,33; vor da segurança que o peso próprio G e internamente multiplicados por gf , de
a gE do painel inferior seja concentrado em acordo com aquela Norma.
seu topo, e não distribuído ao longo de Dados: fck = 4,000tf/m2; b = 2,50m; h =
0 0
seu eixo vertical x como é efetivamente. 0,10m; d = 0,05m; Nk = –6,00tf; Mk = 1,03tfm.
1/6 1.20
Com a notação das páginas anteriores, Resulta: As = 5,05cm2; A’s = 0.
1/5 1,25
temos, a nível de cálculo: Repetindo os cálculos assumindo seis
1/4 1,33
painéis superpostos em lugar de dois, tri-
1/2 2,00
plicando assim a força normal, triplicam
3/4 4,00
também os momentos extremos; gE au-
- -
- -
menta para 1,25, e os novos esforços são:
→1 → Nk = –18,00tf; Mk = 1,84tfm
Resulta: As = 7,28cm2; A’s = 0.
TABELA 1. VALORES DE gE EM FUNÇÃO DE a

EXEMPLO NUMÉRICO3.
Dimensionar o painel inferior de um w0m + wm = 0,020 + 0,008 + 0,002 = 0,030m
conjunto de dois painéis iguais superpos- (excentricidade total de primeira ordem)
tos, cada um com as seguintes caracterís- P = 1,4x3,00x2 = 8,40 tf Saída da impressora HP 42S
ticas, respeitando a notação da Fig.1:
largura b=2,50m, espessura t=0,10m, altura 1,07 (coeficiente de ampli- Conclusões. Foi apresentado um mé-
=4,80m ficação devido aos efeitos todo racional, rigoroso e simples para o
peso: G=2,50x0,10x4,80x2,5=3,00tf de segunda ordem) dimensionamento de painéis verticais de
resistência do concreto: fC28=40MPa≡ w0m + wm = 0,030 x 1,07 = 0,032m (excentri- concreto armado, que a nosso ver deveria
4.000tf/m² cidade final) substituir as expressões empíricas da Nor-
módulo de deformação do concreto4: ma ABNT NBR 16475(1) . O método pode ser
E=2.000.000 tf/m² Força normal de cálculo Nd no centro utilizado no dimensionamento à flexo-com-
pressão característica de vento: pk = 0,10tf/m² do painel: pressão, com efeitos de segunda ordem, de
Nd = –P = –8,440tf outras peças alongadas prismáticas (EI=
constante) em geral, e não apenas painéis.
2 Note-se a analogia formal de gE com o co- Momento fletor de cálculo Md no centro
nhecido coeficiente de instabilidade gZ dos
edifícios, definido pela Norma ABNT NBR
do painel: Referências.
0,10 x 2,50 x 4,802
6118 (2). Ambos são coeficientes de majo- M1 = 1,4 x 8
= 1,00ftm (vento); (1) ABNT NBR 16475:2017 - “Painéis de
ração que permitem considerar os efeitos
M2 = 8,40 x 0,020 = 0,17tfm (excentricida- parede de concreto pré-moldado - Re-
de segunda ordem, mas seus significados
físicos diferem: o parâmetro que governa des acidentais da carga axial nas extremi- quisitos e procedimentos”.
gE é o quociente de duas forças, o que go- dades do painel); (2) ABNT NBR 6118:2014 - “Projeto de es-
verna gZ é o quociente de dois momentos
de tombamento. M3 = 8,40 x 0,032 = 0,27tfm (segunda or- truturas de concreto - Procedimentos”.
3 Os autores têm utilizado as unidades técni- dem). (3) Marti, Peter, “Theory of Structures”,
cas tf e m durante sua vida profissional. São
as aqui utilizadas.
Md = 1,00 + 0,17 + 0,27 = 1,44tfm 2013 Ernst & Sohn GmbH & Co. KG.
4 A favor da segurança. pags. 457 e 458.

50 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


NOSSO CR AQUE | JOSÉ ROBERTO LEME ANDR ADE

ENGENHARIA
ESTRUTURAL
COMO VOCAÇÃO
EXERCENDO A PROFISSÃO DESDE O INÍCIO DOS ANOS 60, O ENGENHEIRO
CIVIL JOSÉ ROBERTO LEME ANDRADE PROJETOU A ESTRUTURA DE
CENTENAS DE OBRAS. NESSE PERÍODO TESTEMUNHOU OS MAIS DIVERSOS
AVANÇOS NA FORMA DE PROJETAR

V
ocacionado por engenharia ANDRADE – Nasci em Pirassununga e
estrutural desde o princípio com três anos de idade meus pais se
dos estudos na Escola de En- mudaram para São Carlos, onde estu-
genharia de São Carlos, con- dei e, aos 17 anos, em 1957, passei no
cluído no início da década de 1960, vestibular no qual, dos cerca de 400
o engenheiro José Roberto Leme An- inscritos, apenas 27 foram aprovados.
drade acredita que o bom profissio- Na primeira prova, de matemática, ob-
nal nasce da rigorosa observação das tive a terceira melhor nota. Porque esta
normas, de constante estudo e de uma introdução para explicar minha opção?
verificação dos cálculos em cada uma Para mim, a única chance de estudar
das etapas da obra. Esse último item em uma universidade era ser aprovado
ele considera decisivo para se evitar na Escola de Engenharia de São Carlos
erros nas obras. “Desenvolver os cál- (EESC), da USP, e então desde a 4ª série
culos “etapa a etapa” com verificação dediquei-me aos estudos com desta-
dos resultados em cada uma delas, que para as disciplinas de matemática,
além de uma verificação final rigoro- física e português, visando o vestibular.
sa são medidas que evitam erros nos Já no curso de graduação, optei por
projetos”, comenta o engenheiro. Ao engenharia civil com total dedicação
jovem que está entrando na profissão à engenharia estrutural, por vocação
ele recomenda: “preste bastante aten- e também pela facilidade prevista de
ção em tudo que estiver fazendo, se instalação de escritório de projetos es-
ficar com dúvidas, procure assistência truturais.
JOSÉ ROBERTO LEME ANDRADE de um profissional mais experiente.
Estude. Estude sempre para completar ABECE – Desde que o senhor se for-
sua formação”. Na sequência, o enge- mou, quais foram as mais importan-
nheiro fala um pouco de sua carreira à tes mudanças ocorridas na área de
revista ESTRUTURA. projetos?
ANDRADE – Atualmente projetar es-
ABECE – O que o levou a escolher en- truturas compreende, além do deta-
genharia como formação profissional? lhamento propriamente dito, todo um

51
NOSSO CR AQUE | JOSÉ ROBERTO LEME ANDR ADE

conjunto de trabalhos relacionados, ção, emprego em maior escala de pré- internacionalizados com adequação às
por exemplo: estudos preliminares, -moldados e protendidos. normas europeias.
interface com projetos de instalações, Além dessa obra, destaco ainda:
atendimento rigoroso às normas de de- ABECE – Como é possível conciliar a yy Instalação industrial para a Gerdau em
sempenho e em situação de incêndio, velocidade exigida hoje em dia, asso- Ouro Branco/MG – Foi desenvolvido
interação solo/estrutura e vários ou- ciada aos meios de interação quase projetos de fundações para obras de
tros, os mais diversos, que não são aqui imediato, ao tempo necessário à boa estrutura em concreto armado e me-
citados. Inicialmente do projeto estru- concepção e maturação de um proje- tálicas nas áreas de lingotamento con-
tural de um edifício constavam apenas to dentro do escritório? tínuo de tarugos. Construiu-se ainda
os desenhos de formas e das armações ANDRADE – Este é um tema cuja solu- vias de rolamento para ponte rolante,
dos pisos (vigas e lajes), pilares, escadas ção está ficando cada vez mais difícil. As capacidade 500tf, vão da ponte e vãos
e reservatórios, tudo realizado em pra- empresas contratantes dos projetos pre- das vias de rolamento da ordem de
zo de 20 a 30 dias com não mais de 20 cisam dar mais atenção aos prazos para 30m, para a GERDAU, em Ouro Bran-
a 30 desenhos. entrega e à programação do desenvolvi- co, MG
mento do projeto, bem como ao forneci- yy Garagens automáticas “Hercules” e
ABECE – Quais os avanços que o se- mento de dados, tais como arquitetura, “Curti” em São José do Rio Preto –
nhor testemunhou na forma de ela- processo construtivo e sondagens. (projetos das décadas 60/70 sem uti-
borar projetos? lização de programas de computador,
ANDRADE – Com os programas para cál- com 30 pavimentos bastante esbeltos
culo à disposição, os projetos estruturais com capacidade para 240 veículos). O
compreendendo concepção, análise, di- principal desafio dessa obra foi avaliar
mensionamento e detalhamento são de- adequadamente a ação do vento e de-


senvolvidos diretamente no computador. senvolver os cálculos necessários.
O engenheiro muitas vezes não faz as ve- yy Estações de Tratamento de Esgoto,
rificações por etapas do andamento dos em Belém, PA. - E.T.E.s Bengui 4, Ben-
cálculos e se satisfaz apenas com o resul- O atendimento gui 5, Coqueiro e IPASEP.
tado final. Por falta de experiência e sem yy Usina São Manuel, em São Manoel –
noção da ordem de grandeza dos resulta- rigoroso SP, para produção de açúcar e álcool,
dos podem passar falhas, que sem dúvi- capacidade de moagem de cana: 4 mi-
da seriam detectadas se houvesse a cita- às normas lhões de toneladas/ano.
da verificação por etapas com auxílio de
cálculos auxiliares para confrontar com
técnicas yy Conjunto Habitacional, com 27 torres
de 20 pavimentos, Taboão da Serra, SP.
os resultados. Esta minimiza Projeto completo, inclusive fundações
é uma das principais mudanças. A com- dos edifícios, em alvenaria estrutural e
putação usada de modo adequado é sem os riscos de laje tipo premoldadas em instalações


dúvida um dos principais avanços. do canteiro da obra. Área construída:
colapso 100.000m².
ABECE – Que aprimoramentos, em yy Retrofit Fábrica de Meias Lupo para
termos de conhecimento técnico, reuso como Shopping Center, na área
foram incorporados à engenharia de central de Araraquara, SP.
estrutura desde quando o senhor se yy São Caetano Prime, edifício comercial
formou? com lajes protendidas, 3 subsolos com
ANDRADE – Aprimoramento e maior grande desequilíbrio dos empuxos em
quantidade de normas técnicas e desen- cada lado do edifício, São Caetano, SP.
volvimento de programas específicos que ABECE – Poderia destacar as obras yy Grande variedade de edifícios residen-
atendem às mesmas. Maior variedade e mais marcantes nas quais atuou? ciais com 15 a 22 pavimentos em alve-
quantidade de referências bibliográficas. Pode detalhar os principais desafios naria estrutural de blocos de concreto.
vencidos durante a sua execução?
ABECE – A seu ver, quais as áreas da ANDRADE – Duas refinarias de açúcar ABECE – Considerando materiais,
engenharia onde houve maior evolu- em Homs, Síria – Foram feitos projetos normas técnicas, estudos de solo,
ção nas últimas décadas? das fundações e estruturas de concreto e entre outros quesitos envolvidos na
ANDRADE – Especificamente na área metálica. Foram construídos edifícios de engenharia estrutural, o que mais
de estruturas de concreto. Exemplos: produção, empacotamento e casa de for- evoluiu nas últimas décadas?
técnicas de execução, concreto de alto ça e caldeiras, com área total de 12.700 ANDRADE – Aprimoramento das nor-
desempenho, sistemas de formas, alve- m2. Os edifícios foram projetados com mas para o cálculo estrutural e para exe-
naria estrutural até para edifícios com fundação direta e preparo para ocorrên- cução das obras. Normas para produção
mais de 20 pavimentos, análise das es- cias de sismos, classe 3 (UBC/1997). Para e controle de materiais. Normas para es-
truturas ao longo do tempo de constru- viabilizar as licitações, os projetos foram truturas com pré-moldados e para situa-

52 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


ção de incêndio. Normas para projeto e análise quanto para detalhamento de ABECE – A seu ver, o que é mais im-
execução das fundações e muitas outras projetos, deixei a EESC – USP e passei a portante hoje para um jovem enge-
não citadas aqui. dedicar-me apenas ao escritório de cál- nheiro em termos de habilidade pro-
culo. Na época da minha graduação e fissional?
ABECE – Qual sua avaliação sobre o mais algumas décadas o aluno recebia ANDRADE – Ter confiança e certeza de
momento atual da engenharia es- uma formação geral multidisciplinar e ter completado com sucesso a parte ini-
trutural brasileira do ponto de vista estudava de verdade para ser aprova- cial de seu aprendizado. Ter disposição
técnico? Como estamos na compara- do. Não demorou muito para acontecer para ir completando seus conhecimen-
ção com a engenharia praticada em a massificação de ensino de engenharia. tos sempre que novas situações se apre-
outros países? Maior quantidade e pior qualidade dos sentem, por exemplo: novas normas,
ANDRADE – No Brasil estamos sempre alunos. Maior quantidade de faculdades novos programas de computador, novas
evoluindo e nos dedicando à melhoria da e falta de professores com formação tipologias das estruturas.
nossa qualidade técnica. No momento adequada. A dita formação multidiscipli-
atual podemos afirmar que muitos temas nar já não é a mesma e o aluno ficou mais ABECE – Ao receber um estagiário,
estão bem resolvidos e que está havendo interessado no computador e seus pro- quais características pessoais ou
progresso. Entretanto, tentar comparar habilidades analisa para antever se
com o que já existe em outros países é será ou não um bom engenheiro?
complicado, pois boa parte deles está em ANDRADE – No contato pessoal com o
situação muito mais avançada. É tarefa difí- jovem já se tem uma idéia das suas quali-
cil e não temos como tratar disto aqui. Por dades ou deficiências. Quanto ao seu fu-
exemplo: na ABNT NBR 6118-2014, item 5.3


turo, a primeira providência seria avaliar
é prescrita a “avaliação da conformidade seu desempenho na graduação. Notas
do projeto”, obrigatória, e temos poucas nas principais disciplinas – matemática,
notícias da contratação desta avaliação. resistência dos materiais, concreto, es-
No contato truturas metálicas, mecânica dos solos,
ABECE – Que análise faz de alguns epi-
sódios recentes envolvendo colapsos
com um sistemas estruturais. Se gosta de estu-
dar e estuda para aprender ou somen-
estruturais ocorridos no Brasil? estagiário já te para ser aprovado. Se tem facilidade
ANDRADE – O colapso é quase sempre em informática e aptidão para tratar dos
resultado da associação de um conjunto se tem ideia assuntos técnicos: normalização, biblio-
de fatores distintos, entre eles: falha de grafia, etc.
projeto e/ou da execução, deficiência de de suas Se em alguns destes quesitos deixou a
controle tecnológico, uso inadequado
qualidades desejar, mas no geral teve boa atuação,


com cargas adicionais, estado de conser- pode-se esperar um bom engenheiro,
vação da obra e muitos outros. Cada caso e deficiências que irá completar sua formação no es-
tem que ser tratado individualmente, e critório e no trabalho com projetos onde
não há como generalizar. O atendimen- aprenderá o que deixou de ser ensinado
to rigoroso às normas técnicas, incluin- na graduação.
do verificações periódicas do estado da
obra e seu desempenho deve contribuir ABECE – Relate um pouco do seu iní-
para minimizar os riscos de colapso. cio profissional ao sair da univer-
sidade. Recorde qual foi a primeira
ABECE – Como reduzir a possibilidade gramas do que nos livros, normas e aulas obra que projetou?
de erros nos projetos? teóricas. É claro que há exceções, temos ANDRADE – A primeira obra que recor-
ANDRADE – Com o uso de programas várias boas universidades, mas é neces- do com carinho, foi a da Santa Casa de
adequados, para cada caso, sem tentar sário reformular os métodos e conteúdos São Carlos, em 1965, com fundações
adaptar a entrada dos dados. Desenvol- do ensino. diretas e estrutura de concreto arma-
ver os cálculos “etapa a etapa” com ve- do. Imediatamente após a graduação
rificação dos resultados em cada etapa. ABECE – Que mensagem pode passar em 1962, fui contratado como assis-
Verificação final rigorosa, também dos a um jovem que está pensado em es- tente, em tempo parcial, nas aulas de
desenhos, memoriais e demais docu- colher engenharia como carreira pro- Resistência dos Materiais. Estava en-
mentos do projeto. fissional? tão com 22 anos. Não fiz estágios, pois
ANDRADE – Preste bastante atenção em já atuava no escritório de cálculo de
ABECE – Qual sua opinião sobre o es- tudo que estiver fazendo, se ficar com Miguel Carlos Stamato, meu professor
tágio atual do ensino de engenharia dúvidas, e havendo-as, procure assistên- de Estática e meu melhor mestre, que
no Brasil? cia de profissional mais experiente. Estu- passou a dedicar tempo integral na
ANDRADE – Em 1993, quando foi inten- de. Estude sempre para completar sua EESC e deixou o escritório sob minha
sificado o uso de programas tanto para formação. responsabilidade.

53
NORMAS TÉCNICAS | RECOMENDAÇÃO PUBLICADA

A ERA DA
FIXAÇÃO QUÍMICA
CHEGOU
RECOMENDAÇÃO PARA PROJETOS DE FIXAÇÕES ESTRUTURAIS
COM O USO DE CHUMBADORES QUÍMICOS É PUBLICADA E SE TORNA
REFERÊNCIA PARA FUTURA NORMA BRASILEIRA

A
introdução do uso de chum- ras a serem observadas em cada etapa
badores químicos modificou do processo.
definitivamente a forma de se Como uma entidade de classe formada
projetar e executar fixações por profissionais da área de estruturas
POR TIAGO GARCIA CARMONA* no Brasil, tanto em ligações aço/concre- com forte representação na cadeia cons-
WESLEY OLIVEIRA DO NASCIMENTO**
to, como em ligações concreto/concre- trutiva, a ABECE (Associação Brasileira de
to. Sua aplicação trouxe ainda versati- Engenharia e Consultoria Estrutural) tem
lidade aos projetos de recuperação de entre seus objetivos o desenvolvimento e
reforço estrutural, sendo um item pre- disseminação de tecnologia e boas práti-
sente em praticamente todas as obras cas construtivas no Brasil. A constatação
de médio a grande porte no território sistemática de erros construtivos, a falta
nacional. de critérios claros de projeto e até mes-
O Brasil tem acompanhado com êxito mo de acidentes envolvendo este tipo de
a evolução e inovação nos sistemas de fixação motivaram a criação, em 2016, de
TIAGO GARCIA CARMONA fixação com chumbadores químicos pelo um comitê nomeado de grupo de estudos
mundo. Novos materiais e equipamentos de fixações. A intenção foi elaborar, inicial-
são apresentados constantemente ao mente, uma recomendação técnica que
mercado por especialistas e empresas servirá de texto base para uma futura nor-
que pautam o desenvolvimento desta ma brasileira para o projeto de fixações.
tecnologia. As fixações com chumbado- Após um longo período de validações e
res químicos se arraigaram na indústria processos de revisão, em 25 de outubro
da construção, em todos tipos e tama- de 2018 no 21º Enece - Encontro Nacional
nhos de obras, devido a sua execução de Engenharia e Consultoria Estrutural,
rápida, limpa e racional. foi apresentada a primeira recomen-
WESLEY OLIVEIRA DO A elaboração de recomendações e dação técnica brasileira sobre o tema.
NASCIMENTO normas nacionais representam uma evo- O texto foi baseado nas disposições do
lução técnica fundamental em processos Tecnical Report TR 029 editado pela EOTA
construtivos que, em algumas de suas – European Organization for Technical As-
etapas, utilizam as fixações. Quando se sessment – Design of Bonded Anchors, com-
consolidam premissas técnicas median- plementado por itens do boletim 58 do
te um consenso entre os intervenientes FIB – International Federation for Structural
(*) Engenheiro e diretor da Carmona Soluções de (projetistas, fabricantes e aplicadores) se Concrete e pelo projeto de norma FprEN
Engenharia
(**) Engenheiro e coordenador de Engenharia da
evitam erros de especificação e execu- 1992-4:2015 do comitê técnico CEN/TC
Âncora Chumbadores ção, por meio da definição de regras cla- 250 – Structural Eurocodes.

54 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


SOBRE A Processos construtivos com respaldo nor- para verificações em serviço relaciona-
RECOMENDAÇÃO TÉCNICA mativo estabelecem requisitos mínimos dos com os deslocamentos da fixação.
de segurança e desempenho em serviço, Em seu capítulo final a recomendação
O objetivo da publicação é fornecer as elevando a qualidade final da construção apresenta procedimentos específicos para
principais recomendações para elaboração e protegendo a sociedade. dimensionamento de armações de reforço
de um projeto de fixações com fins exclusi- Objetivamente, as análises partem de que auxiliam na transmissão das cargas ao
vamente estruturais utilizando chumbado- uma configuração geométrica pré-es- interior do elemento de concreto.
res químicos. Por definição, caracteriza-se tabelecida onde são aplicados esforços É fundamental ressaltar que o projeto
por fixações para fins estruturais as situa- de cálculo que são transferidos a cada parte da premissa de que todos os cuida-
ções onde sua falha resulte em colapso total chumbador do grupo. São então realiza- dos executivos paro o bom desempenho
ou parcial da estrutura, risco a vida ou levem das verificações a esforços de tração e de do chumbador sejam rigorosamente indi-
a perdas materiais expressivas. força cortante que consideram perda de cados pelos fabricantes e seguidos pelos
Considerando que não existem nor- eficiência por efeitos de proximidade de instaladores. São cuidados como distân-
mas brasileiras para obtenção dos pa- borda, distância entre chumbadores, ex- cias mínimas, diâmetro e profundidade
râmetros necessários ao projeto das centricidades, presença de armações su- dos furos, mistura dos componentes,
fixações e dado a impossibilidade de ela- perficiais entre outros. O mesmo concei- temperatura de aplicação, limpeza dos
boração imediata de normas para estes to de segurança em estado limite, último furos, equipamento de perfuração, pra-
ensaios, optou-se pela adoção das nor- presente nas normas vigentes para o pro- zos de aplicação e tempo de cura.
mas e aprovações técnicas internacio- jeto de estruturas, é aplicado às fixações Por fim, destaca-se que a comunidade
nais como um passo inicial do processo por meio de coeficientes de segurança técnica deve empenhar-se em redigir e
de regulamentação no Brasil. Após esta específico que variam em função do tipo colocar em prática as normas técnicas
primeira etapa, serão criados grupos es- de falha analisado. nacionais favorecendo a disseminação
pecíficos de definição dos procedimentos O documento pauta de forma clara as do conhecimento e elevando a qualida-
nacionais para ensaio dos chumbadores. distinções necessárias ao se trabalhar de, segurança e durabilidade de nossas
O mesmo procedimento está sendo ado- em concreto fissurado e não fissurado, construções.
tado para fixações com chumbadores bem como os principais mecanismos de O grupo de estudos permanece ativo,
mecânicos pré e pós-instalados. falha a serem verificados (rupturas de neste momento estão elaborando uma
O Grupo de Estudos, formado pela Ân- cone, escorregamento, fendilhamento e recomendação técnica nacional para
cora Sistemas de Fixações, Carmona Solu- falha no concreto por alavanca). O efeito chumbadores mecânicos. A Recomen-
ções de Engenharia e outras 15 empresas, combinado de esforços de tração e força dação Técnica para Projetos de Fixações
contribui de forma decisiva na regulamen- cortante é objeto de verificação específi- Estruturais com o Uso de Chumbadores
tação da prática, definindo tipologias de ca para garantir a segurança do sistema. Químicos pode ser lida na íntegra em
materiais, situações recomendáveis de Além das verificações em Estado Limite http://www.abece.com.br/pdf/recomen-
aplicação e rotinas de cálculo/projeto. Último, o texto apresenta considerações dacoes_chumbadores_site.pdf

55
APRENDENDO COM OS ERROS | POUCA DISCUSSÃO ENTRE AS EQUIPES

INFLUÊNCIA DO ESTADO
LIMITE DE SERVIÇO NO
MODELO ESTRUTURAL
COMO A FALTA DE ENTENDIMENTO OU CONSIDERAÇÃO DO
COMPORTAMENTO GEOTÉCNICO DAS FUNDAÇÕES E DO ESTADO LIMITE
DE SERVIÇO PODE AFETAR AS PREMISSAS DE UM MODELO ESTRUTURAL

U
POR DAVID OLIVEIRA ma ponte de uma importante rante o projeto básico detalhado, verifi-
rodovia construída nos meados cou-se que as alas do muro tinham sido
da década de 90 foi projetada dimensionadas para a mesma carga im-
com vão único de aproximada- posta pela ponte e poderia desta forma
mente 32 metros de comprimento ven- ser adotado o mesmo conceito estrutu-
cido com vigas T de 1200mm de altura, ral, adicionando-se duas vigas T em cada
pré-fabricadas e protendidas. Essas vigas lado da ponte, ampliando-se as vigas cor-
eram simplesmente apoiadas em apare- tina e o tabuleiro, sem necessidade de
lhos elastoméricos, instalados em duas grandes alterações ou adições à estrutu-
vigas T invertido nos encontros da ponte, ra de contenção.
que também funcionavam como uma pe- No entanto, no início da construção, as
quena estrutura de contenção (cortina). seguintes observações puderam ser fei-
Um espaço de 50mm foi previsto entre o tas em campo:
fim das vigas T e a alma das vigas cortinas yy O encontro ‘A’ da ponte apresentava
no encontro. As vigas cortina (T inverti- um desnível indicando recalques de
do) nos encontros da ponte funcionavam 165 mm.
também como sapatas corridas apoiadas yy O encontro ‘B’ apresentava um des-
em uma estrutura de contenção em solo nível indicando recalques de 95 mm.
reforçado com geossiténtico cuja altura yy O encontro ‘A’ indicava movimento
variava de 8 a 11 metros. horizontal de 90 mm em direção ao
Essa rodovia precisava ser ampliada centro da ponte. O encontro ‘B’ in-
com duas novas faixas de rolamento dicava movimento horizontal de 10
a serem adicionadas à ponte, uma de mm em direção ao centro da pon-
cada lado. te. Deformações observadas nos
A premissa principal do projeto era am- aparelhos elastoméricos confirma-
pliar a ponte de forma tal que os novos vam os movimentos de que os en-
elementos estruturais deveriam ter com- contros se moveram na direção do
portamento semelhante aos existentes centro da ponte
com o objetivo de reduzir movimentos yy O espaço inicial de 50 mm entre
diferenciais nas juntas do tabuleiro. Du- as vigas cortinas e as vigas T, em

56 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


ambos os encontros, fechou-se na
parte superior (Figura 35.1), confir-
mando os movimentos observados,
i.e. 90 + 10 = 2 x 50 mm. Isso suge-
re que o encontro A provavelmente
moveu 50 mm horizontalmente até
apoiar-se lateralmente nas vigas
T que continuaram a se mover até
apoiar-se no encontro B.
yy As vigas cortinas encontravam-se
travadas e apoiadas nas vigas T alte-
rando o comportamento estrutural
da ponte. Graute de preenchimento
foi observado entre as vigas cortinas
e as vigas T indicando que os movi-
mentos acima foram inesperados.
yy Observações no muro de solo re-
forçado mostraram evidências do
deslocamento acima com rotação
na parte superior próxima da viga FIG. 35.1 – VIGA CORTINA NO ENCONTRO A (NOTAR ALMA DA VIGA CORTINA
cortina. ENCOSTANDO NA VIGA T)
As observações acima evidenciaram
que a ponte não mais trabalhava como ponsável pela ponte e a equipe de proje- mais para o problema acima, do ponto de
uma estrutura simplesmente apoiada to do muro de solo reforçado. vista de uma potencial rotação do muro,
com o modelo estrutural originalmente Esse problema é em parte oriundo da parte também relacionada à carga excên-
concebido, mas também de certa forma nossa educação como engenheiros onde trica aplicada às vigas cortinas.
travada lateralmente pelas vigas cortinas. existe grande ênfase no estudo das car-
Uma reavaliação do projeto de ampliação gas e tensões em estruturas, mas pouco
tornou-se necessária. em termos de deformações e seus efei-
COMO EVITAR E O QUE FOI
tos nas estruturas. FEITO PARA A AMPLIAÇÃO
AS CAUSAS Uma outra causa verificada no caso A maioria das normas que utilizam o
Verificações do projeto original do acima trata-se da dificuldade de compac- conceito de estados limites requerem
muro de contenção suportando as vigas tação do solo próximo aos elementos da a avaliação do estado limite de serviço.
cortinas confirmaram que a estrutura face onde os reforços de geossintéticos Isto torna-se ainda mais importante nos
foi adequadamente dimensionada para são ancorados. Ensaios de cone dinâmi- casos com estruturas flexíveis e poten-
as cargas verticais da ponte do ponto de co realizados no muro indicaram solos fo- cialmente sujeitas a grandes deforma-
vista de estabilidade global, segurança fos perto da face que contribuíram ainda ções. Um retro análise da construção da
contra um estado
limite último. No
entanto, houve
pouca preocupa-
ção quando ao
compor tamento
da estrutura em
serviço e como
isso poderia in-
fluenciar no com-
portamento es-
trutural da ponte,
mesmo sabendo-
-se do compor-
tamento flexível
da estrutura de
contenção. Houve
pouca discussão e
comunicação en-
tre o engenheiro
de estruturas res- FIG. 35.2 - RETRO ANÁLISE NUMÉRICA DAS DEFORMAÇÕES INDUZIDAS PELA PONTE ORIGINAL

57
APRENDENDO COM OS ERROS | POUCA DISCUSSÃO ENTRE AS EQUIPES

ponte (Figura 35.2) verificou que o nível


de deformações observado (165 mm de
movimento total para o encontro ‘A’ com
90 mm horizontal) poderia ser previsto,
não obstante certo grau de incerteza e
variabilidade.
Para a ampliação da ponte, foi mantido
o conceito e premissa inicial do projeto
onde buscava-se comportamento seme-
lhante entre os elementos estruturais
novos e existentes.
Uma análise criteriosa da sequência
construtiva com previsão das deforma-
ções da estrutura durante e pós constru-
ção e sua influência na distribuição das
tensões na estrutura foi realizada. A deci-
são foi promover o contato das novas vi-
gas T pré-moldadas com a nova extensão
das vigas cortinas através de aparelho
elastomérico horizontais e macacos tipo
“flat-jack” bem como somente promover
a costura da nova viga cortina com a exis-
tente após a estabilização das deforma- FIG. 35.3 - DETALHE DAS NOVAS VIGAS (DETALHE B - “FLAT-JACKS”)
ções previstas no modelo (Figura 35.3). O
muro de solo reforçado com geossiténti-
co foi também reforçado ainda mais com
grampos de solo para controle das defor-
mações (Figuras 35.4 e 35.5).
Toda a construção foi monitorada com
medida dos deslocamentos e o desem-
penho excedeu as expectativas de pro-
jeto. Os recalques após a construção do
tabuleiro (antes do tráfego) foi da ordem
de 15 mm, 60% do valor estimado duran-
te o projeto (25 mm).
O projeto de ampliação confirmou a so-
lução adotada, possível mesmo com uma
estrutura de contenção flexível, uma vez
que as deformações foram conhecidas.

FIG. 35.4 - REFORÇO COM


GRAMPOS DE SOLO (CONTROLE
DAS DEFORMAÇÕES)

FIG. 35.5 -
NOVAS VIGAS
T INSTALADAS
NAS DUAS
LATERAIS DA
PONTE (NOVA
VIGA CORTINA
AINDA NÃO
“COSTURADA”)

58 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


ARTIGO RE TRÔ | REVISTA 104 – 1983

LAJES COGUMELO
IRREGULARES
PROTENDIDAS
POR OSWADO M. HORTA
1 - INTRODUÇÃO 2 – A OPÇÃO PELA
Entende-se aqui por laje irregular a PROTENSÃO
que reúne as características de irregula- A opção pela protensão da laje se deu
Com forma de rememorar alguns ridade do formato e do posicionamento pela existência de vãos grandes (até 9m).
dos importantes temas tratados pela dos pilares. Laje de formato irregular é Até a faixa de 6m a 6,5m de vãos as lajes
predecessora da revista Estrutura, va- aquela cuja linha de contorno forma um cogumelo de concreto armado são uma
mos reeditar alguns artigos publicado
polígono irregular. Posicionamento irre- boa opção. Mas, acima desta faixa, são de-
no passado. A ideia é revisitar assuntos
gular dos pilares é aquele em que não saconselháveis em virtude de flechas ex-
e conceitos técnicos, de forma a que o
leitor possa ter uma noção da situação se. pode identificar um alinhamento cessivas que podem ocorrer. Estas flechas
existente no passado e também perce- definido, impossibilitando, assim, o es- decorrem não só das deformações elásti-
ber as alterações ocorridas ao longo do tabelecimento habitual em lajes cogu- cas devidas a pouca rigidez, como também
tempo. Vale observar que os conteúdos melo, de “faixas sobre pilares” e “faixas da deformação lenta do concreto.
técnicos já sofreram alterações signifi- centrais”. A deformação lenta é a deformação não
cativas ao longo do tempo. Neste artigo, pretende-se abordar al- elástica, que aumenta com o passar do
guns tópicos importantes para as lajes tempo sob a ação de cargas permanen-
cogumelo de um modo geral e, particu- tes. Suas causas estão na microestrutura
larmente, para as lajes cogumelo irregu- do concreto, com a evaporação da água
lares com protensão. Esta particulariza- não fixada quimicamente no gel de cimen-
ção dos conceitos gerais para as lajes to da matriz de argamassa (ver ref. 1 págs.
irregulares protendidas e a discussão de 22 a 35, vol. 1).
conceitos concernentes unicamente a Essas causas são influenciadas por uma
elas serão feitas principalmente através série de fatores, como o clima, a idade e a
da apresentação de um exemplo con- maturidade do concreto da estrutura quan-
creto: o projeto em concreto protendido do do início da ação das cargas, o que torna
da laje da fig. 1, que reúne as duas carac- a determinação precisa dos efeitos impossí-
terísticas de lajes irregulares. vel. As flechas decorrentes da deformação
Esta laje teve seu formato imposto lenta podem começar a ser sentidas de for-
pelo terreno em que se localiza, ocupa- ma _efetiva até 5 anos depois de acabada a
do integralmente. Destina-se a servir de estrutura e estaciônar até 1O anos depois.
piso a um edifício garagem, destinação Nas lajes cogumelo protendidas, es-
esta que ditou a locação e o afastamen- tes efeitos que podem se fazer sentir de
to dos pilares. A não existência de vigas forma indesejável nas lajes sem vigas de
nasceu da necessidade de um pé direito concreto armado são compensados pelas
baixo, que pudesse aproveitar ao máxi- contraflechas produzidas pelos momen-
mo o limitado gabarito da região em que tos interenos provocados pelas excentri-
se localiza o terreno. cidades dos cabos.

59
ARTIGO RE TRÔ | EDIÇÃO 106

3 – O EFEITO DO VENTO geral. Mas, em se tratando de lajes sem


De acordo com a NB 1 - 1978 (item 3.1.1 vigas, a decisão de se considerarem ou
- 3), só é obrigatória a consideração do não as forças do vento deve ser tomada
efeito do vento em estruturas com des- a partir da análise de cada situação par-
locabilidade dos nós, nas quais a altura ticular. O engenheiro projetista não deve
é maior do que quatro vezes a altura seja limitar-se a seguir cegamente os critérios
maior do que quatro vezes a largura, ou de consideração do vento na NB -1 - 1978,
em que haja menos de quatro filas de pi- pois devido à pequena rigidez das lajes
lares em alguma direção. Se a estrutura podem vir a ocorrer esforços problemáti-
recair em algum destes dois casos, o ven- cos para a estrutura.
to deverá ser considerado nas direções Mesmo o recurso à N B 599 - 1978 está
em que esta consideração se faz neces- limitado pelo seu item 1.1.1, que diz que
sár ia, da seguinte maneira: esta norma “não se aplica a edificações
1 – Através da NB 599 - 1978, “Forças de formas, dimensões ou localização fora
devidas ao vento em edificações”, do comum, casos em que estudos espe-
determina-se a força do vento ad- ciais devem ser feitos para determinar as FIG . 2 - MALHA DE ELEMENTOS COM APOIOS
vinda de sua velocidade e da confi- forças atuantes do vento e seus efeitos”. ASSINALADOS PARA TRECHO DA
guração aerodinâmica da estrutura. O item 112 amplia as restrições, impondo LAJE-EXEMPLO (VER FIG. 1)
2 – Avaliada a força do vento para efeito estudos especiais também para estrutu-
de projeto, determinam-se os ele- ras que possam ser submetidas a oscila- Deve-se, então, reforçar a armadura de
mentos resistentes nas direções em ções importantes, causadas pelo vento. flexão, sem, no entanto, se deixar de co-
que é necessária a consideração do No caso do exemplo deste artigo, não locar armadura vertical, destinada a com-
efeito do vento, tais como pórticos houve necessidade de se levar em conta os bater a punção. Esta armadura contra a
formados por pilares e vigas ou fai- efeitos do vento, visto que a estrutura está punção pode, nestes casos, ser calculada
xas de laje, ou “caixas de concreto” de bastante fora dos casos de necessidade de segundo o CEB - 1978, que considera os
elevadores e escadas, quando neces- consideração preconizados pela NB-1 - 1978 momentos nas ligações viga-pil ar.
sário. Então, procede-se ao cálculo (tem apenas 5 andares por imposição de ga- Nos casos como o do exemplo deste
hiperestático que determina os es- barito e possui mais de 4 fileiras de pilares artigo, em que os momentos de ligação
forços que, combinados com aqueles em todas as direções) e que, além disto, a com os pilares não são determinados
devidos aos outros carregamentos estrutura localiza-se em zona densamen- de maneira precisa, pode-se estimá-
(peso próprio, alvenaria·, sobrecarga, te urbanizada, o que normalmente atenua -los, de forma conservativa, como sen-
etc.), deverão ser considerados nos consideravelmente o vento incidente. do o próprio momento de engastamen-
dimensionamentos. to perfeito da faixa da laje ligada ao
Este é o procedimento que deve ser 4 – OBSERVAÇÕES SOBRE A pilar, ou de maneira menos conservati-
adotado em todas as estruturas de modo va, de acordo com o item 3.2.3.b da NB
PUNÇÃO 1 - 1978, onde:
A necessidade da consideração cui-
dadosa da punção e os procedimentos
a serem observados para os casos mais
comuns são bastante conhecidos. Para
estes casos, a NB-1 - 1978 é suficiente e
eficaz. No entanto, com relação aos ca- rinf = referido a parte inferior do pilar
sos de pilares de canto e de extremidade, rsup = refrido a parte superior do pilar
esta norma se omit e e, algumas vezes, rviga = referido a viga, neste caso a faixa
como no exemplo deste artigo, o empre- de laje
go deste tipo de pilar se faz necessário. Com relação à punção em lajes sem
Os estudos sobre pilares de canto e vigas, vêm sendo feitos estudos para de-
extremidade se encontram em um pon- terminar a colaboração da pretensão no
to em que ainda não foi possível o esta- combate à punção, mas no estágio em
belecimento de regras práticas precisas. que estes estudos se encontram é acon-
No entanto, pesquisas como as que vêm selhável desprezar-se esta colaboração
sendo levadas a cabo pela equipe enca- por medida de segurança.
beçada pelo Prof. Dante Martineli (ver 5 – O CÁLCULO DOS
Ref. 2) já vão chegando a algumas conclu-
sões práticas. Nos pilares de canto, as- ESFORÇOS
sim como nos de extremidade; segundo Existem duas maneiras de se chegar aos
estas pesquisas, a ruptura ocorre antes esforços em lajes sem vigas. A primeira de-
FIG. 1 - A LAJE-EXEMPLO por flexão que propriamente por punção. las é manual e consiste basicamente em

60 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


finitos capazes de analisar todos os tipos
de estrutura. No entanto, o sucesso no em-
prego de computadores vai depender da
forma como for analisada a estrutura pelo
engenheiro projetista. Além de existirem
várias formas de considerar a estrutura e
as ações nela incidentes, os programas cita-
dos oferecem diversas opções de entrada
de dados e saída de resultados. Portanto,
as escolhas nesta fase do projeto devem
ser feitas com cuidado para que se chegue
a resultados representativos da estrutura.
Independente do programa escolhido,
pode-se dividir, de maneira geral, as fases
para a determinação automática dos esfor-
ços em lajes cogumelo em: FIG. 4 - MAPA DE MOMENTOS NA
a – Lançamento da malha de elemen- DIREÇÃO “Y” PARA TRECHO DA LAJE-
FIG. 3 - QUADRANTES PARA tos] EXEMPLO (VER FIGS. 1 E 2)
SOBRECARREGAMENTO ALTERNADO b – Determinação dos apoios
c – Determinação das hipóteses de dos os conceitos acima para este projeto.
se calcular faixas de lajes como se fossem carregamento Quase todos os elementos são de forma-
vigas. Esta metodologia de cálculo pode to retangular, e suas dimensões foram
ser encontrada no item 3.3.2.11 da NB 1 5a – A MALHA DE ELEMENTOS conseqüência da imposição, considerada
- 1978, assim como em diversas fontes bi- O primeiro e fundamental passo para necessária, de existirem pelo menos qua-
bliográficas (ver por exemplo ref. 4, 5 e 6) determinação dos esforços através de um tro elementos entre cada dois pilares, o
e destina-se ao cálculo de lajes em que os programa baseado no método dos ele- que conseqüentemente proporcionou
pilares estão dispostos em filas ortogonais, mentos finitos é a determinação da malha um mínimo de quatro conjuntos de re-
que definem claramente faixas mais rígidas que representará a estrutura. A malha é sultados para cada vão entre dois pilares
sobre os apoios e faixas menos rígidas en- determinada através das coordenadas e assegurou a precisão suficiente para a
tre as faixas de apoio. Os esforços são cal- dos nós e da determinação dos elementos análise dos esforços pelo programa.
culados para estas faixas com a carga total que existirão entre eles (elementos de laje,
aplicada em cada direção e, depois, são elementos de viga etc. ). Os elementos de 5b – OS APOIOS
majorados ou minorados, de acordo com uma malha próximos uns dos outros não No programa empregado para calcular
os coeficientes que existem para os mo- devem ser de formatos nem de tamanhos os esforços na laje-exemplo, os apoios
mentos positivos e negativos das faixas de muito diferentes. De outra maneira, devi- são definidos juntamente com os demais
pi la res e das faixas internas. do às diferenças na rigidez dos elementos, dados geométricos da laje, através de
Como se pode ver, pela própria premissa podem ocorrer problemas quando da in-
básica da existência de linhas ortogonais de versão da matriz de rigidez da estrutura
pilares e formato retangular das lajes, a apli- pelo computador.
cação direta da rotina descrita no parágrafo Os elementos devem também existir em
anterior não é possível para as lajes irregu- número tal que o programa possa oferecer
lares. Para este tipo de laje, é mais indicado resultados em quantidade e precisão sufi-
o recurso a uma metodologia mais sofisti- cientes para o dimensionamento e detalha-
cada, com o emprego de programas basea- mento da armação. A divisão de uma laje
dos no método dos elementos finitos. Esta em elementos é uma discretização de um
é a melhor maneira de aliar a segurança todo contínuo. Assim, quanto maior for o
à economia no cálculo destas lajes. Pode- número de elementos, mais precisa será a
riam ser feitas adaptações e projeções do análise. Além disto, como os resultados são
método empregado para as lajes regulares fornecidos para cada elemento, o número
para se tentar chegar manualmente aos es- de elementos será também o número de
forços nas lajes irregulares, mas, nestes ca- conjuntos de resultados de que se disporá
sos, devido às inevitáveis imprecisões dos para as fases seguintes do cálculo. Deve-
resultados, ou se diminuiria a segurança da -se, porém, lembrar que um número maior
estrutura ou se desperdiçaria material. de elementos acarreta um custo mais ele-
As grandes empresas de computadores vado para a execução do programa.
para prestação de serviços atualmente A fig. 2, mostrando a malha de ele-
colocam à disposição dos usuários progra- mentos para uma parte da laje-exemplo, FIG. 5 - MAPA DE MOMENTOS NA DIREÇÃO “X”
mas baseados no método dos elementos ilustra a maneira como foram emprega- PARA TRECHO DA LAJA-EXEMPLO

61
ARTIGO RE TRÔ | EDIÇÃO 106

restrições e deslocamentos em nós da


malha de elementos. Para se criar um
apoio de primeiro gênero em um nó, res-
tringe-se o deslocamento vertical deste
nó, ou seja, impede-se que este nó se
desloque verticalmente. Se o apoio a ser
criado for de segundo gênero, restrin-
gem-se os deslocamentos vertical e ho-
rizontal do nó (x, y, ou ambos). Se o apoio
impuser engastamento em alguma dire-
ção·, restringem-se as rotações em torno
dos eixos correspondentes. Se um apoio
for extenso, como por exemplo os pilares
de elevadores, restringem-se os desloca-
mentos de quantos nós quantos forem
necessários para representá-los.
Na fig. 2, encontram-se assinalados
FIG. 6 – DIVISÃO DA LAJE-EXEMPLO EM FIG. 7 - DIVISÃO DA LAJE-EXEMPLO EM
com uma cruz os nós que tiveram algum
FAIXAS NA DIREÇÃO – X FAIXAS NA DIREÇÃO – Y
deslocamento restringido. Neste trecho
da laje só houve restrições a desloca-
mentos verticais. fase de tratamento destes resultados. Para porque as direções das tensões princi-
a laje-exemplo, esta fase se iniciou com a pais variam muito de uma região para
5c - AS HIPÓTESES DE confecção de mapas das envoltórias de outra, ou por outras razões construti-
CARREGAMENTO momentos. Os mapas consistem de plan- vas. Quando se recair neste último caso,
Com relação ao carregamento, os pro- tas com várias linhas ao longo das quais pode-se seguir os critérios de procedi-
gramas como o utilizado oferecem a pos- são escritos os mo­ mentos máximos para mento preconizados pelo prof. Jaime
sibilidade de definição de cargas diferen- todos os elementos por elas cortados. Mason na referência bibliográfica nº 3
tes para cada elemento, o que para lajes As linhas são traçadas nas direções em (Armaduras não coincidentes com as
de edifícios é muito útil, pois possibilita que interessa conhecer os momentos, ou direções principais. (Nota - A explicação
que se considere com bastante precisão seja, nas direções em que serão dimen- destes critérios deve ser procurada na
as cargas atuantes. Para a laje-exemplo sionadas e lançadas as armações. Estas bibliografia citada, já que demanda um
este recurso foi usado para compensar direções devem ser aproximadamente espaço que foge ãs dimensões pretendi-
em parte a não-consideração de cargas as direções das tensões principais para a das pera este artigo).
móveis (já que a laje é piso de um edifício maioria dos elementos. Isto é necessário, Nas figs. 4 e 5 podem ser observados
garagem). Isto foi feito dividindo-se a laje pois fora das direções principais de ten- os mapas de momentos para as duas di-
em quadrantes, como mostra a figura 3, são surgem tensões tangenciais de difícil reções escolhidas para a laje-exemplo,
e considerando-se para o dimensiona- tratamento. Além disso, a função As= f para o mesmo trecho cuja malha já foi
mento e o detalhamento a envoltória dos (M), área de aço em função do momen- mostrada na fig. 2.
seguintes casos de carregamento: to solicitante, não é uma função linear, já O mapeamento de momentos como
1 – peso próprio + sobrecarga para to- que as tensões do concreto e do aço em o ilustrado nas figs. 4 e 5 pode ser feito
dos os quadrantes. função da deformação também não são manualmente, mas já existem programas
2 – peso próprio para todos os qua- funções li neares. munidos de “ploters” que podem fazer
drantes + sobrecarga apenas para O programa que foi usado para a laje este trabalho automaticamente. No en-
os quadrantes pares. exemplo calcula orientação das tensões tanto, isto só deve ser feito após terem
3 – peso próprio para todos os qua- principais para todos os elementos. Os sido corretamente escolhidas as direçães
drantes + sobrecarga apenas para ângulos formados entre estas direções para o lançamento das armações.
os quadrantes ímpares. de saída dos resultados podem ser for-
necidos na listagem de saída. 6b - A DETERMINAÇÃO
6 - A ANALISE DOS DADOS Pode-se, assim, verificar se as dire- DAS FAIXAS
ções das tensões principais. (Com a la- A etapa seguinte à do mapeamento
O mapeamento dos esforços e a de- je-exemplo verificou-se que isto acon- dos momentos é a da determinação das
terminação das faixas para dimensiona- teceu para a maioria dos elementos). faixas para as quais se calculam e deta-
mento. Quando esta coincidência não ocorre, o lham as armações. Uma faixa é uma re-
que é comum em lajes irregulares, de- gião ao longo das direções escolhidas
6a - O MAPEAMENTO ve-se primeiramente tentar mudar as para o lançamento das armações, com
DOS ESFORÇOS direções de lançamento das armações. largura constante, que se caracteriza por
Depois de rodado o programa, de pos- Entretanto, na prática muitas vezes nâo se poder considerar para toda a sua lar-
se das listagens de resultados, passa-se à é possível se fazer esta mudança, ou gura apenas um diagrama de momentos

62 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


FIG. 8 - DIAGRAMA DE MOMENTOS PARA A FAIXA V12 TARGURA DA
FAIXA A 230 CML FIG. 9 – ARMAÇÃO PASSIVA

fletores. Para as lajes regulares, como já comportamento da seção da faixa no es- estas perdas, ao longo do cabo resul-
foi dito, existem dois tipos de faixas cla- tado limite último. Quando a armação de tante.
ramente definidas: as sobre pilares e as protensão não for suficiente para resistir 4 – Cálculo dos momentos hiperestáti-
internas a estas. ao momento atuante, acrescenta-se aço cos de protensão e combinação destes
Para as lajes irregulares, a determina- “doce” (aço para concreto armado) de com os momentos devidos no carrega-
ção das faixas deve ser feita de acordo maneira a igualar o momento resistente mento externo.
com o conceito enunciado acima, com o da seção ao momento atuante. Como 5 – Verificações no estado limite de uti-
auxílio dos mapas de momento. Com es- os momentos atuantes não obedecem a lização para os momentos combinados.
tes mapas, tendo-se uma visão geral dos diagramas “bem comportados”, acontece 6 – Verificação no estado limite último
diagramas, pode-se identificar as larguras com freqüência se dimensionar a arma- e cálculo da armação passiva quando
transversais à direção dos diagramas nas ção de uma faixa para um momento alto necessário.
quais estes não sofrem variações signifi- que ocorre poucas vezes para o resto da A fig. 9 mostra as configurações das
cativas. As figs. 6 e 7 mostram a divisão da faixa. O diagrama da V 12 mostrado na armações passiva e ativa para a V 12 de-
laje-exemplo em faixas. Pode-se observar, fig. 8 ilustra bem esta situação. Para uma pois de aplicada a rotina de cálculo acima
por exemplo, que entre as faixas V 10 e V faixa como esta, se houver necessidade descrita. Note-se que só foi necessária
13 houve necessidade de criação de duas de acréscimo de armação frouxa, isto a colocação da armadura passiva para
outras faixas: uma que levasse em conta o ocorrerá apenas uma vez, já que para os combater o momento máximo. Para com-
pilar da V 12 e outra em que não houvesse outros momentos, muito menores que bater os outros momentos, bem meno-
a presença deste pilar. aquele que determinou a área de aço res do que o máximo, a armação proten-
protendido, poder-se-á sempre aumen- dida foi suficiente.
7 - O CÁLCULO DAS tar a excentricidade.

ARMAÇÕES
O mesmo raciocínio pode também 8 - BIBLIOGRAFIA
ser aplicado para justificar a opção pela
O dimensionamento da armação pro- protensão parcial: como os momentos 1 – CONSTRUÇÕES DE CONCRETO por F.
tendida para uma faixa é feito para o seu atuantes variam muito, a protensão par- Leonhardt e E. Monning; 19 e 39 vol u­
momento máximo. No ponto em que cial ocorre apenas para alguns pontos, mes. Editora lnterciência, Rio de Janeiro
este momento ocorre, impõe-se a excen- pois para os outros podem ser aumen- 1977.
tricidade máxima possível e calcula-se a tadas as excentricidades de modo a não 2 – RESULTADOS EXPERIMENTAIS SOBRE
área de aço necessária. Para o resto da haver tração no concreto. A RUÍNA DAS LIGAÇÕES LAJE-PILAR EM
faixa, sabendo-se a área de aço protendi- Apenas, se a protensão parcial for ado- CANTOS E BORDAS DE LAJES-COGU-
do existente, determinam-se as excentri- tada, aconselha-se o emprego do limite MELO por Dante A. O. Martinelli T.
cidades necessárias para os momentos de tensão trativa no concreto ditado pelo Takeya e outros da Escola de Engenha-
que ocorrem em cada ponto. CEB - FIB, pois o limite da atual NB-116 ria de São Carlos da Universidade de S.
Na fig. 8 está representado o diagra- (nova NB-116 está sendo elaborada) é de Paulo, São Carlos 1982.
ma de momentos da faixa V 12. Pode-se maneira geral considerado muito alto. 3 – CONCRETO ARMADO E PROTENDI-
observar que a variação dos momentos Armação protendida para a faixa DO por Jayme Mason Livros Técnicos e
máximos e mínimos ao longo do diagra- V12=2,70 cm2/m Científicos Editora Rio de Janeiro 1976.
ma é muito acentuada. Esta constatação Aço CP 190-RB 4 – DISEÑO DE CONCRETO PREESFOR-
pode ser estendida às lajes irregulares Concreto fck=225 kgf/cm2 ZADO por T. Y. Lin. Compafiia Editorial
de uma maneira geral: devido ao fato Continental, México 1981.
de numa mesma faixa poderem existir Para a laje-exemplo, a rotina de cálculo 5 – HORMIGÓN ARMADO por P. J. Mon-
tanto trechos mais rígidos (sobre pila- empregada para cada faixa foi, então, a toya, A. G. Meseguer e F. M. Cabré Edi-
res) quanto trechos menos rígidos, os seguinte: torial Gustavo Gili, Barcelona 1979.
diagramas apresentam com freqüência 1 – Pré-dimensionamento da armação 6 – NOVO CURSO PRÁTICO DE CONCRE-
grandes variações. Em virtude disto, de protensão, a partir do estado limite TO ARMADO. 49 Volume, por Aderson
aconselha-se, para evitar desperdício de utilização, para o maior momento da Moreira da Rocha - Editora Científica
de aço, que o dimensionamento do con- faixa, com tensão trativa admissível no Rio de Janeiro, 1979.
creto protendido para este tipo de laje concreto de 15 kgf/cm2. 7 – CONCRETO ARMADO E PROTENDIDO,
seja feito a partir do estado limite de uti- 2 – Determinação das excentricidades por Hubert Rusch Editora Campus Rio
lização, e que a protensão seja parcial (o para os outros momentos ao longo da de Janeiro, 1981.
que significa permitir tensões trativas no faixa, sempre que possível sem permitir 8 – HORMIGON PRETENSADO, por F.
concreto). tração no concreto. Leonhardt. Instituto Eduardo Torro-
Calculando-se pelo estado limite de 3 – Cálculo das perdas imediatas e len- ja de la Construccion y dei Cernente,
utilização, deve-se sempre verificar o tas e determinação das forças, deduzidas Madri 1977.

63
NOTAS E E VENTOS

ABECE PROMOVERÁ CICLO DE


PALESTRAS NO RIO

C
om o objetivo de proporcionar mas abordados. O evento tem início com Fortes da Silva, vice-presidente de Tec-
a projetistas, construtores, in- a palestra Boas Práticas de Projeto Visando nologia e Qualidade da ABECE; As Impor-
corporadores e acadêmicos da Durabilidade e Vida Útil, a cargo de Carlos tantes Prescrições das Normas de Desempe-
área de engenharia um ciclo de Britez, pós-doutorando em Engenharia nho e das Normas de Incêndio, que ficará
palestras sobre temas voltados aos cui- Civil pela POLI-USP e professor do Pro- a cargo do presidente da ABECE, João
dados sobre a elaboração de projetos grama de Educação Continuada da POLI; Alberto de Abreu Vendramini; Projetos
seguros e dentro das normas técnicas, Considerações sobre Ações de Vento para de Lajes Submetidas a Subpressão, a ser
a ABECE, em parceria com sua regional Projeto de Edifícios Altos na Visão do Proje- proferida por Justino Vieira, professor
carioca, promoverá, no dia 6 de junho de tista, a ser proferida pelo engenheiro Au- por cerca de 40 anos na Engenhara Civil
2019, no Rio de Janeiro, o evento Rio de gusto Guimarães Pedreira de Freitas, da Universidade Federal Fluminense; e,
Janeiro nas Alturas. ex-presidente da ABECE; Modelo Conside- por fim, o engenheiro Cesar Pinto fala
Serão seis palestras proferidas pelos rando a Rigidez mais Real dos Apois – In- sobre Concepção de Projetos de Edifícios
mais respeitados especialistas nos te- teração Solo Estrutura, por Luiz Aurélio Relevantes.

EVENTO HISTÓRICO RECORDA OS DESAFIOS


DA CONSTRUÇÃO DA PONTE RIO-NITERÓI

E
m um encontro histórico, os jeto estrutural; Bruno Contarini, que pessoas, entre estudantes de enge-
principais profissionais que par- comandou a construção da ponte; Ro- nharia das principais universidades de
ticiparam do projeto daquela naldo Carvalho Battista, que cuidou Brasília, professores, pesquisadores,
que, até então, era a segunda dos estudos técnico-científicos para consultores e engenheiros de diversos
maior ponte do mundo, a Ponte Rio- os ajustes estruturais necessários ao estados, além de representantes de ór-
-Niterói, recordaram e debateram os melhor comportamento dinâmico do gãos públicos. Em todas as apresenta-
principais desafios enfrentados duran- vão central; além de Carlos Henrique ções, foi dada uma ênfase nos aspectos
te as fases de projeto e construção da Siqueira, que detalhou o programa de técnicos da obra, muito deles utilizados
obra. O evento, organizado pela ABE- manutenção da obra. pela primeira vez no Brasil, atentando
CE, foi promovido em Brasília, no dia No total, o workshop, que durou o dia para algumas pesquisas desenvolvidas
21 de março, e reuniu: Ernani Diaz, todo e foi realizado no Sinduscon-DF, com o concreto submerso do trecho
responsável pela elaboração do pro- em Brasília, atraiu a atenção de 130 sobre a Bahia de Guanabara.

SEMINÁRIO DEBATEU PARÂMETROS DO USO


DE CONCRETO COM FIBRAS

P
or iniciativa da ABECE e de ou- distribuidores de fibras. Os parâmetros para subsidiar a normalização brasilei-
tras entidades do setor, um gru- vêm sendo estudados pelo CT 303 – ra sobre reforço estrutural, armadura
po de profissionais da área de Comitê Técnico IBRACON/ABECE – Uso não metálica e concreto reforçado com
engenharia debateram, no final de Materiais Não-Convencionais para fibras, fortalecendo a representação do
de março, no Rio de Janeiro, os parâme- Estruturas de Concreto desde 2015, país no plano internacional de normas,
tros e as medidas de controle do uso quando foi criado. especialmente no âmbito do ISO/TC71/
de concreto reforçado com fibras em O principal objetivo do CT 303 é pro- SC6, e elaborando práticas recomenda-
obras. O Seminário de Concreto com Fi- mover a integração da área de proje- das para serem publicadas pelo IBRA-
bras reuniu projetistas de estruturas e tos com os diversos segmentos que CON e pela ABECE, visando promover
de pisos de concreto, especificadores, utilizam materiais não convencionais uma constante atualização técnica dos
contratantes, construtoras, executo- para reforço de estruturas de concreto. profissionais da área.
res, acadêmicos, além de fabricantes e Além disso, realiza trabalhos técnicos

64 RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2019


PRIVILEGIANDO A TÉCNICA
SERÁ O TEMA DO ENECE 2019

A
edição deste ano do ENECE legiando a Técnica”. Realizado anual- tecnológicas que influenciam a rotina
(Encontro Nacional de En- mente desde 1998, o evento é o mais de trabalho do segmento. O evento
genharia e Consultoria Es- concorrido do segmento e reúne pro- também se tornou o ponto de encontro
trutural), agendado para o fissionais da área de projetos estrutu- de lideranças da área de engenharia e
dia 7 de novembro de 2019, em São rais, construtores, estudantes e demais nele é realizada a tradicional premiação
Paulo, terá como tema central “Privi- interessados em torno das inovações das obras mais significativas do ano.

A CONTRIBUIÇÃO BRASILEIRA PARA A


ELABORAÇÃO DO CÓDIGO MODELO 2020 DA FIB

C
om uma participação mais ativa na, pelo aço ou pelo concreto, o fator era Na avaliação de Stucchi, o texto da re-
no capítulo sobre Projeto e Ava- o mesmo”, explica Stucchi. visão está começando a aparecer e sua
liação da Comissão 10 encarre- O engenheiro, que é o líder da comis- intenção é programar mais uma reunião
gada de desenvolver a versão são brasileira encarregada de contribuir da comissão brasileira. “A ideia é que a
2020 do Código Modelo da fib (Federação com a revisão do Model Code 2020, en- comissão brasileira vá acompanhando e
Internacional de Concreto), o engenheiro fatizou que não se pode abandonar os comentando o texto. Para tanto, existe
Fernando Stucchi acaba de retornar de critérios de ruína e substituí-los pelo uma divisão dos trabalhos envolvendo
um encontro da entidade, realizado em ponto em que o programa não conse- vários profissionais, cada um dentro de
Lausanne, na Suíça, nos dias 12 e 13 de gue mais convergir. “É fundamental que sua especialidade”, complementou. No
abril, na qual foram analisados diversos o programa saiba identificar o modo de plano internacional, a Comissão 10 da fib
pontos relacionados com a discussão do ruína, o que ainda não é possível”, escla- tem realizado de três a quatro reuniões
Model Code 2020. “O principal foco do rece. Stucchi disse ainda que procurou por ano, desde 2017. As próximas estão
nosso voto foi a crítica do “Fator de Re- chamar a atenção para se deixar uma agendadas para Krakow (Polônia), dias
sistência Global”, que havia sido definido “porta aberta para a inovação, mas com 23 e 24 de maio; Lausanne, nos dias 4 e
sem levar em conta o Modo de Ruptura, cuidado para não perdermos elementos 5 de outubro; e Tokyo, nos dias 13 e 14
isto é, independentemente do modo ruí- essenciais”. de dezembro.

TESES E DISSERTAÇÕES

ANÁLISE ESTRUTURAL DE EDIFÍCIOS DE PAREDES DE


CONCRETO COM A INCORPORAÇÃO DA INTERAÇÃO
SOLO-ESTRUTURA E DAS AÇÕES EVOLUTIVAS

T
ese defendida por Rômulo da por ações evolutivas, objetivando da ISE na estrutura têm uma maior
da Silva Farias no Depar- obter resultados mais condizentes dependência da rigidez relativa es-
tamento de Engenharia de com a estrutura real. A investigação é trutura-solo. Deste modo, é proposto
Estruturas da Escola de En- realizada mediante simulação numé- um coeficiente específico de rigidez
genharia de São Carlos-USP. O tra- rica utilizando o Método dos Elemen- relativa estrutura-solo para edifícios
balho investiga a interação solo-es- tos Finitos (MEF) por meio do pacote de paredes de concreto. Orientador:
trutura (ISE) em edifícios de paredes computacional DIANA®. A tipologia Marcio Roberto Silva Corrêa.
de concreto apoiados em fundação do modelo numérico é baseada em ht t p: // w w w.te s e s .usp.b r/ te s e s /
do tipo radier. Considera a sequência um conjunto de edifícios já construí- disponiveis/18/18134/tde-19022019-
construtiva da edificação, denomina- dos. O estudo indica que os efeitos 104219/pt-br.php

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RE VISTA ESTRUTUR A | MAIO • 2018 66
RESPOSTAS
1 – Concreto estrutural fck ≥ 15 mpa: Comentário: segundo o item J.9.A do anexo J da Comentário: segundo a tabela 7.2 da ABNT
Comentário: segundo o item J.9.D do ane- ABNT NBR 6122:2010, o concreto deve possuir “con- NBR 6118:2014, o menor cobrimento nominal da
xo J da ABNT NBR 6122:2010, o concreto deve sumo mínimo de cimento não inferior a 300 kg/m3”. armadura para elementos estrutruais em contato
possuir classe de resistência de no mínimo C20 4 – Altura da base do tubulão de 2,50m: com o solo deve ser de 30mm.
(resistência característica à compressão de 20 Comentário: segundo o item 8.2.2.6.1 da 7 – Falta de armadura na ligação bloco/tu-
MPA aos 28 dias). ABNT NBR 6122:2010, “os tubulões devem ser bulão:
2 – Diâmetro do fuste do tubulão igual a dimensionados de maneira que as bases não te- Comentário: segundo a tabela 4 do item 8.6.3
50cm: nham alturas superiores a 1,8 m” da ABNT NBR 6122:2010, é obrigatória a utilização
Comentário: segundo o item 18.6.21.G da por- 5 – Tubulão sem rodapé na base: de armaduras na ligação da estaca com o bloco.
taria do ministério do trabalho e emprego – MET Comentário: segundo o item 8.2.2.6.1 da ABNT OBSERVAÇÃO: como se trata de um exem-
nº 644 de 09.05.2013, “o diâmetro mínimo para NBR 6122:2010, “havendo base alargada, esta deve plo e não um projeto completo, diversos ou-
escavação de tubulões a céu aberto é de 0,80m”, ter a forma de tronco de cone (com base circular tros itens (carimbo, notas mais completas,
porém o item 18.6.21.H desta mesma portaria per- ou de falsa elipse), superpondo a um cilindro de no legendas, etc.) e desenhos (cortes, detalhes
mite que seja de 0,70m perante justificativa técnica mínimo 20cm de altrua, denominado rodapé...” construtivos, etc.) devem fazer parte de um
do engenheiro responsável pela fundação. 6 – Cobrimento da armadura do bloco igual projeto estrutural adequado às normas téc-
3 – Consumo de cimento igual a 150kg/m3: a 15mm: nicas.
VICE-PRESIDENTE DE MARKETING DA ABECE
POR LEONARDO BRAGA PASSOS
DESCUBRA AS FALHAS
JOGO DE SE TE ERROS

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